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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 7.

476 RIO DE JANEIRO

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


REQTE.(S) : ASSOCIACAO BRASILEIRA DA INDUSTRIA DE
AGUAS MINERAIS
ADV.(A/S) : MARINA DE ARAUJO LOPES
ADV.(A/S) : CARLOS ROBERTO DE SIQUEIRA CASTRO
ADV.(A/S) : DANIELA SOARES DOMINGUES
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
ADV.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DA ASSEMBLEIA
LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO

DECISÃO

Trata-se de Ação Direta de Inconstitucionalidade, com pedido de


medida cautelar, proposta pela Associação Brasileira da Indústria de
Águas Minerais – ABINAM, tendo por objeto a expressão “localizados no
Estado do Rio de Janeiro”, contida no art. 22, parágrafo único, I, da Lei
2.657/1996, com as alterações promovidas pela Lei Estadual 9.428/2021,
que dispõe:

Art. 22. Ficam sujeitas ao regime de substituição tributária


as operações com as mercadorias listadas no Anexo Único.
Parágrafo único. No que se refere às mercadorias listadas
nos números 03, 39, 40 e 72 do anexo único desta lei:
I – fica suspensa a aplicação do regime de substituição
tributária nas operações de saída interna de água mineral ou
potável envasada, leite, laticínios e correlatos, vinhos, vinhos
espumosos nacionais, espumantes, filtrados doces, sangria,
sidras, cavas, champagnes, proseccos, cachaça, aguardente e
outras bebidas destiladas ou fermentadas, quando produzidos
por cachaçarias, alambiques ou por estabelecimentos industriais
localizados no Estado do Rio de Janeiro.

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ADI 7476 / RJ

[…]
ITEM MERCADORIA
1 AÇÚCAR;
2 ÁGUA ADICIONADA DE AÇÚCAR
OU DE OUTROS EDULCORANTES
OU AROMATIZANTES;
3 ÁGUA MINERAL (GASOSA OU
NÃO), NATURAL OU POTÁVEL
ENVASADA;

Inicialmente, a entidade alega sua legitimidade ativa para a


propositura da ação direta, afirmando ser entidade de classe de âmbito
nacional, bem assim a existência de pertinência temática entre os
objetivos estatutários e as normas impugnadas.
No mérito, afirma que, antes da edição da Lei Estadual 9.428/21, as
mercadorias listadas nos itens 03, 39, 40 e 72 do Anexo Único do
Regulamento do ICMS (Decreto 27.427/2000) submetiam-se à substituição
tributária, de modo que “todas as empresas industriais se encontravam
obrigadas, na qualidade de sujeito passivo por substituição, a recolher não
somente o ICMS incidente sobre a sua própria operação, mas também de reter e
recolher o ICMS-ST referente a toda a cadeia de circulação até o consumidor
final”.
Com a edição da Lei 9.428/2021, todavia, o Estado teria passado a
adotar dois regimes tributários nas circulações internas com as referidas
mercadorias, pois, quando produzidas por indústrias sediadas no Rio de
Janeiro, “ocorrerá o destaque e recolhimento apenas do ICMS normal, incidente
sobre a operação própria, tendo como base de cálculo o valor negocial”, e,
quando não produzidas por indústrias lá sediadas, “ocorrerá o destaque e
recolhimento do ICMS normal, incidente sobre a operação própria, tendo como
base de cálculo o valor negocial, bem como a retenção de recolhimento do ICMS-
ST devido em relação às operações futuras até o consumidor final”.
Narra que, em consonância com a regulamentação veiculada pelo
Decreto 48.039/2022, que disciplinou a matéria disposta na Lei 9.428/2021,
a suspensão da aplicação do regime de substituição tributária seria

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ADI 7476 / RJ

aplicável às mercadorias produzidas “ou não” no Estado do Rio de


Janeiro, mas que, em julgamento da Representação de
Inconstitucionalidade, o Tribunal de Justiça local reconheceu a
inconstitucionalidade da expressão “ou não”, por considerar que “o citado
decreto extrapolou o seu poder regulamentar, ao repetir exatamente o disposto na
lei estadual, contudo, com a alteração do final de seus termos”.
Nesse contexto, argumenta que a norma questionada “acaba por
conferir condições distintas, relativas à substituição tributária, para
estabelecimentos industriais que se encontram em situação equivalente,
baseando-se, tão somente, na procedência da produção da mercadoria”, do que
decorreriam violações ao pacto federativo e aos princípios da isonomia,
da não discriminação baseada em procedência ou destino, da
razoabilidade, da segurança jurídica, da propriedade privada, da livre
iniciativa e da livre concorrência.
Requer a concessão de medida cautelar para suspender a expressão
“localizados no Estado do Rio de Janeiro”, constante do art. 22, parágrafo
único, I, da Lei 2.657/1996, com as alterações promovidas pela Lei
Estadual 9.428/2021, a ser confirmada em julgamento de mérito.
É o relatório.
DECIDO.

A presente Ação Direta de Inconstitucionalidade não reúne as


condições processuais indispensáveis ao seu conhecimento, pois a
requerente carece de legitimidade ativa para postular em desfavor da
validade constitucional dos dispositivos questionados.
A Constituição de 1988, alterando uma tradição em nosso direito
constitucional, ampliou a legitimidade para a propositura da Ação Direta
de Inconstitucionalidade, transformando-a em legitimação concorrente.
Até então, somente o Procurador-Geral da República dispunha de
legitimidade para deflagrar o controle abstrato de constitucionalidade de
leis. Pela nova sistemática, a despeito do alargamento do rol de
legitimados, esta CORTE exige, para alguns deles, a presença de
requisitos adicionais para a plena caracterização de sua legitimidade.

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ADI 7476 / RJ

Nesta linha, a jurisprudência do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


consolidou o entendimento de que a legitimidade para o ajuizamento das
ações do controle concentrado de constitucionalidade por parte de
confederações sindicais e entidades de classe (art. 103, IX, da CF, c/c art.
2º, IX, da Lei 9.868/1999) pressupõe: (a) caracterização como entidade de
classe ou sindical, decorrente da representação de categoria empresarial
ou profissional (ADI 4294 AgR, Rel. Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, DJe
de 5/9/2016); (b) a abrangência ampla desse vínculo de representação,
exigindo-se que a entidade represente toda a respectiva categoria, e não
apenas fração dela (ADI 5320 AgR, Rel. Min. CELSO DE MELLO,
Tribunal Pleno, DJe de 7/12/2015); (c) a pertinência temática entre as
finalidades institucionais da entidade e o objeto da impugnação (ADI
4722 AgR, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, DJe de 15/2/2017); e
(d) o caráter nacional da representatividade, aferida pela demonstração
da presença da entidade em pelo menos 9 (nove) estados brasileiros (ADI
4230 AgR, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, DJe de 14/9/2011).
Sob esse enfoque, a requerente carece de legitimidade para a
propositura desta ação de controle concentrado de constitucionalidade,
pois não logrou demonstrar a abrangência nacional de sua
representatividade, em conformidade com o critério definido pela
jurisprudência da CORTE.
De fato, embora exista previsão estatutária indicando a atuação da
entidade na defesa dos interesses “da indústria de água mineral, potável de
mesa, água natural, água envasada e do termalismo, bem como de todo o ciclo
produtivo no âmbito da legislação em vigor” (art. 2º, a, do Estatuto Social –
doc. 17), a análise dos documentos juntados aos autos não comprova sua
atuação em âmbito nacional, não se prestando, para tanto, a mera
declaração formal realizada pela própria requerente, tampouco a simples
indicação numérica de pretensos associados distribuídos entre os entes da
Federação (doc. 3).
Nesse sentido, entre outras: ADI 6571 AgR, Rel. Min. ALEXANDRE
DE MORAES, Tribunal Pleno, DJe de 26/04/2021; ADI 6750 ED, Rel. Min.
ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, DJe de 10/09/2021; ADI 5524

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ADI 7476 / RJ

AgR, Rel. Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, DJe de 31/08/2020; ADC 76,
Rel. Min. ROSA WEBER, Tribunal Pleno, DJe de 28/01/2022; ADI 5061
AgR, Rel. Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, DJe de 07/08/2018, esta última
assim ementada:

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. […] AÇÃO PROPOSTA POR
ASSOCIAÇÃO QUE REPRESENTA MERO SEGMENTO DA
ATIVIDADE INDUSTRIAL. AUSÊNCIA DE
DEMONSTRAÇÃO DE REPRESENTATIVIDADE EM PELO
MENOS NOVE ESTADOS-MEMBROS DA FEDERAÇÃO AO
TEMPO DA PROPOSITURA DA AÇÃO. NORMA
IMPUGNADA CUJA REPERCUSSÃO NÃO SE RESTRINGE À
ESFERA JURÍDICA DOS ASSOCIADOS DA REQUERENTE.
ENTIDADE QUE NÃO SE INCLUI NO ROL TAXATIVO DE
LEGITIMADOS À PROPOSITURA DAS AÇÕES DE
CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE.
ARTIGO 103, IX, DA CONSTITUIÇÃO. ILEGITIMIDADE
ATIVA AD CAUSAM. AGRAVO NÃO PROVIDO. […] 2. Esta
Corte construiu três condicionantes procedimentais para a
atuação das “entidades de classe de âmbito nacional” em sede
de controle concentrado de constitucionalidade, a saber: a)
homogeneidade entre os membros integrantes da entidade,
sejam eles pessoas físicas ou jurídicas; b) representatividade da
“categoria” em sua totalidade e comprovação do “caráter
nacional” da entidade, pela presença efetiva de associados –
pessoas físicas e/ou jurídicas – em, pelo menos, nove estados-
membros; e c) pertinência temática entre os objetivos
institucionais/estatutários da entidade postulante e a norma
objeto da impugnação. Precedentes. […] 4. A requerente não
comprovou seu caráter nacional, pois não demonstrou efetiva
representatividade em pelo menos nove estados-membros da
Federação ao tempo da propositura da ação. Requisito cuja
satisfação não decorre da mera declaração formal realizada pela
própria requerente. Precedentes. […] 6. Agravo não provido.

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ADI 7476 / RJ

Ante o exposto, JULGO EXTINTO o processo, sem resolução de


mérito, com base no art. 21, IX, do Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal e no art. 485, VI, do Código de Processo Civil.
Publique-se.
Brasília, 25 de outubro de 2023.

Ministro ALEXANDRE DE MORAES


Relator
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