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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 00ª UNIDADE

DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA CIDADE.

Ação de Cobrança
Processo nº. 445577-99.2222.10.07.0001
Autora: Escola Particular Delta S/C Ltda
Ré: Bianca das Quantas

BIANCA DAS QUANTAS, menor, ora assistida por seu


pai (CPC, art. 71), FULANO DAS QUANTAS, divorciado, autônomo, residente e
domiciliado na Rua Xista, nº. 000, em Cidade (PP), endereço eletrônico
fulano@quantas.com.br, vem o devido respeito a Vossa Excelência, por
intermédio de seu patrono que ao final subscreve -- instrumento procuratório
acostado - causídico inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Estado,
sob o nº. 112233, com seu escritório profissional consignado no mandato
acostado, o qual, em atendimento aos ditames contidos no art. 77, inc. V c/c art.
287, caput, um e outro do CPC, indica-o para as intimações necessárias, para ,
com supedâneo no art. 335 e segs. da Legislação Adjetiva Civil c/c art. 30 e 31,
ambos da Lei dos Juizados Especiais, ofertar a presente
CONTESTAÇÃO
c/c
PEDIDO CONTRAPOSTO,
em face de Ação de Cobrança aforada por ESCOLA PARTICULAR DELTA S/C
LTDA, já qualificada na peça exordial, em razão das justificativas de ordem fática
e de direito, abaixo estipuladas.

INTROITO

( a ) Benefícios da justiça gratuita (CPC, art. 98, caput)

A Promovida não tem condições de arcar com as


despesas do processo. Os recursos financeiros, seus e de seu pai (ora assistente),
são insuficientes..
Dessarte, formula pleito de gratuidade da justiça, o que faz
por declaração de seu patrono, sob a égide do art. 99, § 4º c/c 105, in fine, ambos
do CPC, quando tal prerrogativa se encontra inserta no instrumento procuratório
acostado.

1 - REBATE AO QUADRO FÁTICO (CPC, art. 341)


Os acontecimentos, evidenciados na peça vestibular,
foram grosseiramente distorcidos.
Em verdade, a Ré, adolescente de 16 anos de idade, faz parte
do quadro de alunos da Ré, cursando, nesta ocasião, o 9º ano do ensino
fundamental. (doc. 01)
Até o mês próximo passado, frise-se, sobremodo na
qualidade de representante financeiro na relação contratual em apreço, o pai
(assistente) pagou as mensalidades com a mais completa exação, como se
depreendem dos comprovantes de quitações anexos. (docs. 03/09)

A outro turno, a Autora revela cobrança de


mensalidades referentes aos meses de fevereiro, março, deste anos. Todavia,
nesse período, de dois meses contínuos, entre 00/11/2222 até 22/11/0000,
sequer houve aulas, como se depreende da prova anexa. (docs. 10/16)

Não fosse isso suficiente, é preciso notar que, já com


respeito ao período de aulas de 00/22/1111, até a data de 00/44/5555, existiu,
tão-só, aulas pelo sistema virtual (EAD). É dizer, a Demandada não contratou
essa modalidade de prestação de serviços, notoriamente conhecida por ser menos
eficaz nos resultados dos estudos. Demais disso, o sistema de informática da Ré,
sobremaneira nesse tempo, foi demasiadamente lento e, por isso, poucos alunos
conseguiram, de fato, ter as aulas acertadas.

Desse modo, o caso em análise merece uma profunda e


apropriada investigação probatória, notadamente quanto à concessão das aulas,
como ajustadas contratual.
2 - DO DIREITO

2.1. Exceção de contrato não cumprido (CC, art. 476)

É sabido que o contratante que descumpre a obrigação


acertada não pode impor ao outro adimplemento da sua obrigação, notadamente
quando a interdependência e a causalidade entre ambas é manifesta.
Nesse compasso, vê-se que a exceção de contrato não
cumprido constitui postulado contratual que encontra guarda no ditames fixados
no Código Civil, ad litteram:

Art. 476 - Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida
a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.

Por isso, sempre que o contraente é acionado judicialmente


a compelir-se a obrigação, faculta-se invocar-se a cláusula exceptio non adimpleti
contractus, se acaso a prestação do outro contratante não esteja adimplida.
Não se perca de vista, afinal, o que revela, no ponto, a
jurisprudência pátria:

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS. INSTITUIÇÃO DE ENSINO


QUE OFERECE O PROGRAMA UNIESP PAGA. PAGAMENTO DAS
PARCELAS DO FINANCIAMENTO ESTUDANTIL (FIES). ALUNOS QUE NÃO
CUMPRIRAM INTEGRALMENTE SUAS OBRIGAÇÕES. RÉS QUE NÃO
PODEM SER COMPELIDAS A ARCAR COM O FINANCIAMENTO.
PRINCÍPIO DO PACTA SUNT SERVANDA. SENTENÇA MANTIDA.
RECURSOS IMPROVIDOS.
Inadimplente com a obrigação assumida, o aluno não pode exigir da ré o
cumprimento de sua parte no pacto. A reciprocidade de obrigações é da essência
das transações bilaterais. Dela resulta a exceção de contrato não cumprido em
virtude da qual não pode o contratante que não cumpriu o prometido exigir o
adimplemento da obrigação do outro [ ... ]

Com esse enfoque de entendimento, apraz trazer à colação o


magistério de Arnoldo Rizzardo, verbo ad verbum:

“Acrescentava Antônio Chaves: “Mas a verdade é que numerosas causas ou


circunstâncias podem incidir sobre o cumprimento das obrigações avençadas,
desviando-as do seu cumprimento normal: acontecimentos alheios à vontade
dos contratantes, e imprevisíveis, como a incapacidade superveniente, a
falência, a morte de um dos contratantes, ou decorrentes de seu próprio
assentimento mútuo em desfazer o combinado, ou ainda em decorrência de uma
expressa disposição de lei etc”.
Se ambas as partes encontram-se inadimplentes, faltando ao mesmo tempo com
a obrigação, levando a verificar-se a mora simultânea, o mais correto é
decretar-se a resolução do contrato por culpa de ambas, e não concedendo as
perdas e danos. Nestas circunstâncias, eliminam-se ambas as moras. Em
princípio, porém, não cabe olvidar o exame do inadimplemento quantitativo, ou
da maior carga da inadimplência, com repercussão nas perdas e danos. Apenas
aquele a quem se tornou inútil a prestação está autorizado a pedir a dissolução
da relação contratual. De outro lado, ainda quanto à mora simultânea, àquele
a quem se exige o cumprimento em primeiro lugar, não se garante o direito de
pedir a resolução por incumprimento do outro. Entendimento que se encontra
na jurisprudência [ ... ]

3 – PEDIDO CONTRAPOSTO

I - RESENHA FÁTICA
A Ré, adolescente de 16 anos de idade, faz parte do
quadro de alunos da Autora, cursando, nesta ocasião, o 9º ano do ensino
fundamental. (doc. 01)
Até o mês próximo passado, frise-se, sobremodo na
qualidade de representante financeiro na relação contratual em apreço, o pai
(assistente) pagou as mensalidades com a mais completa exação, como se
depreendem dos comprovantes de quitações anexos. (docs. 03/09)
Diga-se, mais, que esse trabalha como profissional
autônomo, desde 01/00/2222, pontualmente na qualidade de motorista de
aplicativos (docs. 10/11).

Contudo, inquestionavelmente visto como evento


inesperado, à luz da Lei (CC, art. 317 c/c 478 e Art. 6º, inc. V, do CDC), foi, assim
como para grande parte da Nação, atingido pelos efeitos financeiros
do coronavírus (COVID-19).

Esse episódio, frise-se, segundo prevê, inclusive, a


Legislação Adjetiva Civil, é fato que independe de provas, sobremodo suas
nefastas consequências, financeiras e de saúde pública. (CPC, art. 374, inc. I)

Noutro giro, oportuno ressaltar que, com a ordem de


fechamento de bares, restaurantes, comércios e shoppings, originária do
Excelentíssimo Governador do Estado, na data de 00/11/2222, estendida até
22/11/0000, a circulação de pessoas (passageiros) caiu drasticamente. (doc. 12)
Até mesmo com o confinamento social, mensurado pela Organização Mundial de
Saúde, bem assim pelo Governo Federal, obviamente contribuiu para esse
desiderato.

Não se perca de vista, ainda, que o Senado Federal, em


20 de março de 2020, decretou estado de calamidade pública.

A propósito, inúmeras vezes se viu, nesse trágico


período, apelo de governantes no sentido de “todos arquem com sua parcela de
sacrifício”.

Cai bem trazer à colação, nessas pegadas, o


entendimento fixado pelo Superior Tribunal de Justiça, no emblemático caso do
excessiva variação cambial, acontecida em 1999.

Naquela ocasião, a Corte da Cidadania decidira que os


prejuízos, decorrentes da imprevisível e brusca variação cambial, deveriam ser
divididos, em parcelas iguais, pelas partes contratantes. Assim, as prestações,
vencidas a partir de 19 de janeiro de 1999, foram reajustadas pela metade da
variação cambial verificada à época. A outra metade, foi arcada pelas empresas
de leasing.

No ponto, tocante à onerosidade expressiva das


prestações, digna de aplausos este trecho do voto do Ministro Aldir Passarinho
Júnior (RESP 472.594), verbis:

"Não parece, pois, razoável que estando autorizada a arrendadora a contratar pela
variação cambial e assim acordando o mutuário, tenha de arcar com o ônus
integral, já que igualmente vítima da drástica desvalorização do Real. Que há
onerosidade excessiva, sem dúvida ela existe, porém não propriamente da
cláusula em si, que é legal, mas das circunstâncias que advieram a partir de certo
momento, quando em curso a relação obrigacional.. “
Sem dúvida, os casos se assemelham e a orientação do
Judiciário, certamente, deve ser similar àquela, antes tomada pelo STJ.

Em arremate, nas linhas fáticas, ressalva-se, de já, que


a Autora almeja manter a relação contratual (CC, art. 317). Nada obstante, haja
vista a média de remuneração diária de seu pai, com as corridas, compreendendo-
se da suspensão das atividades comerciais (00/11/2222), até esta data, pretende-
se a suspensão dos pagamentos mensais, por seis (6) meses, bem assim a redução
do valor das parcelas, à razão de 50% (cinquenta por cento), quanto ao período
de ensino à distância (EAD).
HOC IPSUM EST

II – NO ÂMAGO DO PEDIDO CONTRAPOSTO

a) REAJUSTAMENTO DO PREÇO DA PARCELA E PRAZOS


CONTRATUAIS

O Código Civil, em seu art. 421, reza que “a liberdade de


contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. “ Isso
significa, sobretudo, que o contrato deixa de ser apenas instrumento de realização
da autonomia privada, para desempenhar uma função social.

A orientação nas relações de crédito, até hoje tem sido


pensada com base no acordo de vontade. No entanto, em face do que reza a Lei
Substantiva vigente, não devemos ater-nos não mais no consentimento, mas no
interesse social protegido.

Acerca do tema em vertente, convém ressaltar o


magistério de Paulo Lôbo:

“O princípio da função social determina que os interesses individuais das partes


do contrato sejam exercidos em conformidade com os interesses sociais, sempre
que estes se apresentem. Não pode haver conflito entre eles, pois os interesses
sociais são prevalecentes. Qualquer contrato repercute no ambiente social, ao
promover peculiar e determinado ordenamento de conduta e ao ampliar o
tráfico jurídico.
A função exclusivamente individual do contrato é incompatível com o Estado
social, caracterizado, sob o ponto de vista do direito, pela tutela explícita da
ordem econômica e social, na Constituição. O art. 170 da Constituição brasileira
estabelece que toda a atividade econômica – e o contrato é o instrumento dela –
está submetida à primazia da justiça social. Não basta a justiça comutativa.
Enquanto houver ordem econômica e social haverá Estado social; enquanto
houver Estado social haverá função social do contrato [ ... ]
(sublinhamos)

Com o mesmíssimo entendimento, professa Paulo


Nader que:
“A função social do contrato que os acordos de vontade guardem sintonia com
os interesses da sociedade, impedindo o abuso de direito. A validade dos
contrato não requer apenas o cumprimento dos requisitos constantes do art.
104, da Lei Civil. Além do atendimento a estes requisitos gerais é indispensável
a observância dos princípios de socialidade, que e afinam com os valores de
justiça e de progresso da sociedade [ ... ]

Nesse rumo, ainda, o Autor pede vênia para transcrever


as lapidares considerações de Caio Mário da Silva Pereira:

“Considerando o Código que o regime da livre iniciativa, dominante na


economia do País, assenta em termos do direito do contrato, na liberdade de
contratar, enuncia regra contida no art. 421, de subordinação dela à sua função
social, com prevalência dos princípios condizentes com a ordem pública, e
atentando a que o contrato não deve atentar contrato o conceito de justiça
comutativa. Partindo de que o direito de propriedade deve ser exercido tendo
como limite o desempenho de deveres compatíveis com sua função social,
assegurada na Constituição da República, o Código estabelece que a liberdade
não pode divorciar-se daquela função. Dentro nesta concepção, o Código
consagra a rescisão do contrato lesivo, anula o celebrado em estado de perigo,
combate o o enriquecimento sem causa, admite a resolução por onerosidade
excessiva, disciplina a redução de cláusula penal excessiva [ ... ]

Não devemos olvidar, no mesmo sentido, mais, o


magistério de Washington de Barros Monteiro:

“O contrato não mais é visto pelo prisma individualista de utilidade para os


contratantes, mas no sentido social de utilidade para a comunidade; assim,
pode ser vedado o contrato que não busca esse fim [ ... ]

É necessário não perder de vista o entendimento


jurisprudencial:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REVISÃO CONTRATUAL. CÓDIGO DE


DEFESA DO CONSUMIDOR. APLICAÇÃO. TARIFA DE GRAVAME.
COBRANÇA. ILEGALIDADE. REGISTRO DE CONTRATO. ONEROSIDADE
EXCESSIVA. INOCORRÊNCIA. COBRANÇA. LEGALIDADE. SEGURO
PROTEÇÃO FINANCEIRA. COBRANÇA. LEGALIDADE. ÔNUS
SUCUMBENCIAIS. SUCUMBÊNCIA MÍNIMA.
É possível a revisão de contratos bancários, independentemente da ocorrência de
fato imprevisível e inevitável, desde que haja demonstração de desequilíbrio entre
as obrigações assumidas pelas partes contratantes (fornecedor e consumidor),
conforme previsão do art. 6º, V, do CDC. As tarifas relacionadas à despesa com o
registro do pré-gravame, podem ser cobradas em contratos, que envolvam
contratos com instituições financeiras, celebrados antes de 25/02/2011, data de
entrada em vigor da Res. -CMN 3.954/2011, ressalvado o controle da onerosidade
excessiva (STJ, RESP nº 1.639.259/SP, julgado sob a ótica de recurso repetitivo)..
A cobrança de seguro, em contratos envolvendo instituições financeiras, não é
permitida, se o consumidor foi compelido a contratar tal seguro com o próprio
banco ou com a seguradora por este indicada (STJ, RESP nº 1.639.259/SP,
julgado sob a ótica de recurso repetitivo).. A cobrança de seguro, em contratos
envolvendo instituições financeiras, apenas não é permitida se o consumidor foi
compelido a contratar tal seguro com o próprio banco ou com a seguradora por
este indicada (STJ, RESP nº 1.639.259/SP, julgado sob a ótica de recurso
repetitivo).. Se um litigante sucumbir em parte mínima do pedido, o outro
responderá, por inteiro, pelas despesas e pelos honorários (CPC, art. 86,
parágrafo único). [ ... ]

APELAÇÃO CÍVEL. CONSUMIDOR, CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.


RESCISÃO CONTRATUAL. CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E
VENDA DE IMÓVEL. RESILIÇÃO. ADQUIRENTE COMPRADOR.
CLÁUSULA PENAL. ONEROSIDADE EXCESSIVA. ABUSIVIDADE
RECONHECIDA NA SENTENÇA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
SENTENÇA MANTIDA.
1. A cláusula contratual que acarreta uma penalidade manifestamente excessiva
para a parte consumidora se caracteriza como prática abusiva, impondo-se a
exclusão do percentual desproporcional, nos termos do artigo 51, IV, §1º, III do
CDC. 2. A redução efetuada pelo Juízo originário, referente ao valor fixado na
cláusula contratual a título de retenção, atende aos interesses do fornecedor de
indenizá-lo de eventuais despesas decorrentes do distrato, evita seu
enriquecimento sem causa, haja vista que poderá renegociar o bem, impede o
desequilíbrio contratual e encontra amparo nos artigos 6º, V, c/c, 51, IV, § 1º, III,
do CDC e 413 do CC. 3. RECURSO CONHECIDO e DESPROVIDO. [ ... ]

APELAÇÃO CÍVEL.
Compra e Venda de Imóvel. Ação de obrigação de fazer C.C. Declaratória de
exigibilidade de multa ajuizada pela promitente vendedora. Cumprimento da
obrigação no curso da demanda. Parcial procedência para condenar a
compradora na multa contratual pelo atraso na escrituração dos contratos de
venda e compra. PRELIMINARES DE NULIDADE DA SENTENÇA Pleito de
desentranhamento de réplica apócrifa. Descabimento. Petição assinada
digitalmente pelo patrono do autor, nos termos do Artigo 2º da Lei Federal nº
11.419 de 2006. Validade. Alegada preclusão consumativa da juntada de
documento essencial, consoante o disposto no artigo 435 do CPC. Descabimento.
Autora que justificou ter tido conhecimento do e-mail juntado apenas após o
ajuizamento da demanda. Ademais, não houve prejuízo à defesa, que pode se
manifestar nos autos por diversas vezes após a juntada. Sem prejuízo, não há
nulidade. Exegese do artigo 282, §2º do CPC. Cerceamento de defesa.
Inocorrência. Matéria discutida eminentemente de direito e de prova
documental. Prescindibilidade de prova oral. Princípio do livre convencimento
motivado (art. 370, do CPC). Possibilidade de indeferimento de provas quando
presente condição suficiente a embasar o deslinde da causa. Ausência de
fundamentação da sentença. Mero inconformismo. Preenchimento dos requisitos
do artigo 489, do CPC e art. 93, IX da CF. Preliminar afastada. MÉRITO Mora na
escrituração configurada. Compradora que foi notificada extrajudicialmente na
obrigação de fazer, restando inerte. Cláusula contratual expressa de multa diária
para o caso de não comparecimento na data aprazada para a lavratura das
escrituras. Inaplicabilidade do CDC. Impossibilidade de declaração de
abusividade da multa contratual com base no artigo 51 do CDC. Objeto adquirido
com claro intuito de exploração econômica. Compradora que não se enquadra no
conceito de consumidor previsto no Artigo 2º do CDC, eis que adquiriu 10
unidades autônomas. Hipótese de destinatário final do bem não configurada.
Análise da lide que deve ocorrer sob o prisma do Código Civil e do direito
obrigacional. Onerosidade excessiva. Artigo 317 do Código Civil. Configuração.
Vendedora que restou inerte em longo período até cobrar o implemento da
obrigação de fazer assumida pela parte contrária, resultando em multa
exorbitante, que representa cerca de 22% do valor de cada um dos dez contratos
firmados. Situação imprevisível apta a ensejar a revisão contratual. Natureza e a
finalidade da obrigação que não importou em comprovados prejuízos à
vendedora. Redução equitativa da multa que se impõe. Exegese do artigo 413 do
Código Civil. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO para reduzir
equitativamente a penalidade prevista na cláusula nona dos contratos firmados
entre as partes para o importe único de 2% sobre o preço de venda, corrigidos
pelos índices pactuados, a incidir em cada um dos contratos firmados [ ... ]

A própria Constituição Federal traz em seu bojo, como


um dos fundamentos da República, o valor social da livre iniciativa.(CF, art. 1º,
IV) Desse modo, o contrato – frise-se, qualquer contrato – tem importância para
toda a sociedade.

O contrato, de outro bordo, além de instrumento para


realização dos interesses particulares, igualmente é um mecanismo que vem a
promover um dos objetivos da ordem jurídico-constitucional.

De toda conveniência, nesse compasso, que o


Magistrado empreenda todos os esforços para preservar os interesses sociais,
sobretudo com a manutenção do contrato, assim querendo uma ou ambas as
partes.

Dessa maneira, encontra-se imerso no Código Civil


comando possibilitando ao Juiz, no caso concreto, apreciar o fato narrado e, em
consequência, manter a relação entabulada, sobremodo diante de circunstâncias
adversas a uma delas.

CÓDIGO CIVIL
Art. 317 – Quando por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta
entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o
juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quando possível, o
valor real da prestação.
( destacamos )

Acerca do tema em liça, é altamente ilustrativo


transcrever o que professam Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho:

“Aliás, podendo-se o mais (a resolução), pode-se o menos (a revisão), por


inegável razão de justiça.
Tal entendimento, inclusive, parece-nos respaldado por uma previsão específica
de aplicação de tal teoria, em relação ao pagamento da prestação devida pro
força da relação jurídica obrigacional.
Trata-se do art. 317 do CC-02, sem equivalente na codificação anterior, que
estabelece [ ... ]

A expressão ´motivos imprevisíveis´, contida nas


disposições do art. 317 da Legislação Substantiva Civil, foi debatida na I Jornada
do STJ sobre o código civil, em que se chegou a uma conclusão que:

“ A interpretação da expressão ´motivos imprevisíveis´, constante do CC 317,


deve abarcar tanto causas de desproporção não previsíveis como também causas
previsíveis, mas de resultados imprevisíveis” ( nº. 17 )
( os destaques são nossos )

Aplicável, também à hipótese, o que rege a lei consumerista.

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:


...
V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem
excessivamente onerosas.

São oportunas as palavras de Ezequiel Morais, quando leciona


que:

“Cuida-se do que a doutrina denomina de ‘Direitos do consumidor endividado’,


ou seja, situação na qual por meio de uma (ou várias) operação de crédito
(normalmente bancária), o consumidor obtém empréstimo para financiar a
aquisição de bens ou fornecimento de serviços, com o objetivo de atender suas
necessidades pessoais ou familiares, mas seja por fatores alheios a sua vontade
(superendividamento passivo), ou seja pelo abuso na utilização do crédito
(superenvidamento ativo).

(...)

As situações envolvendo a temática devem ser consideradas em dois âmbitos:


a) prevenção para que o crédito seja concedido ao consumidor adequadamente
informado (arts. 6, I, II, III, IV; 36, 39, IV, do CDC); b) proteção voltada a
conferir meios adequados ao devedor não profissional de boa-fé (subjetiva), a
oportunidade de organizar sua vida financeira deficitária, proporcionando
meios legais de evitar sua ruína (arts. 6, V, VII, VIII, 42, parágrafo único, 43;
46, 47, 48, 51, II, IV, VIII, IX a XIII; 54, 52 do CDC, e art. 745-A do CPC).
Concretamente, pode-se pensar em conferir-se ao consumidor o parcelamento
da dívida, redução de juros e outros encargos, a exemplo do que ocorre com a
Lei de Recuperação Judicial voltada exclusivamente para a figura da falência
da empresa [ ... ]
(os destaques são nossos)
Desse modo, à luz dos fundamentos acima transcritos, temos
que é conveniente e legal a manutenção do contrato de financiamento em espécie,
assim como o redimensionamento das parcelas convencionadas.

b) ASPECTOS PROCESSUAIS – ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

Na hipótese, tem-se que a Promovente é detentora dos


requisitos insertos no art. 300 do Estatuto de Ritos, quais sejam:

( i ) a verossimilhança das alegações

Com a cópia do contrato de prestação de serviços de


autônomo, a relação contratual envolvendo menor, a queda das percepções
financeiras diárias do representante financeiro do pacto, a decretação do estado
de calamidade pública, presencia-se, de logo, a situação anômala e imprevisível,
que reclama a prestação jurisdicional.

( ii ) fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação

Como se fez relevar, há a notória possibilidade da


menor não mais poder frequentar às aulas, prosseguir com seus estudos.

Incide, com isso, sem dúvida, o que registra o CPC, ad


litteram:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo.

( iii ) prova inequívoca

Há “prova inequívoca” da expressiva onerosidade,


mormente do quanto se extraem dos documentos colacionados com a exordial.

Desse modo, à guisa de sumariedade de cognição, os


elementos probatórios revelam circunstâncias de que o direito muito
provavelmente existe.

No ponto, oportuna a lembrança de José Miguel Garcia


Medina:

“. . . sob outro ponto de vista, contudo, essa probabilidade é vista como requisito,
no sentido de que a parte deve demonstrar, no mínimo, que o direito afirmado
é provável (e mais se exigirá, no sentido de se demonstrar que tal direito muito
provavelmente existe, quanto menor for o grau de periculum [ .... ]
(itálicos do texto original)
Ademais, a medida em liça é completamente reversível,
máxime quando a Autora, se vencedora, poderá promover a cobrança judicial e,
até mesmo, a inserir o nome daquele junto aos cadastros restritivos.
( ... )

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