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CENTRO UNIVERSITÁRIO OCTÁVIO BASTOS – UNIFEOB

CURSO DE DIREITO
1º Módulo A

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

“AMOR COMO VALOR JURÍDICO”

Ana Carolina Frischmann


Angélica Morioka Gonçalves Mauch
Isabela Cristina Leite
Larissa Leopoldino da Silva
Samuel de Paiva Mucin

São João da Boa Vista, 30 de março de 2016


1. Amor como valor jurídico

O amor possui diferentes intensidades e modalidades, desde simpatia até uma paixão,
podendo passar por diversas relações capazes de criar uma ligação emocional entre dois seres. É um
valor que engloba um campo muito vasto de significados e aplicações, complexo na área humana e
tão complexo, ou mais ainda, na área jurídica. O amor traduz um fim a ser atingido, um valor a ser
realizado intersubjetivamente.
O afeto em sua forma mais pura e positiva é o amor. O amor faz dos indivíduos seres
humanos. É o valor que une as pessoas e gera a solidariedade, capaz de construir dignamente uma
sociedade mais igualitária, harmônica e que preza pelo bem estar entre seus participantes.
Segundo SILVIO DE MACEDO:
“(...) O amor é um valor vital, estético, metafísico, ético, social, jurídico como
consequência. O sistema jurídico, aberto, permite certa permeabilidade do amor. Daí se
caracterizar também como valor jurídico. Se o amor pode sacudir as estruturas sociais e
se estas só mantêm estabilidade pelo Direito, então amor e Direito se aglutinam no
sistema jurídico, formando o valor jurídico. Polivalente e tocando os diversos níveis da
escala axiológica, o AMOR é idôneo para tocar e sensibilizar as demais estruturas
sociais, a heterorrealização social, onde se aperfeiçoa e se realiza, instaurando a ordem
não apenas jurídica mas metajurídica. Grandes contatos do direito com o amor, em
determinadas circunstâncias históricas e individuais, mostram não só a subjetividade
mas a objetividade da fé, da esperança e do amor no plano das realizações sociais, daí
não se justificando a não-inclusão do amor como valor social, ao lado dos demais
valores.” (‘Curso de Axiologia Jurídica’. RJ: Forense, 1986, p. 93)
O amor é algo que o homem sempre busca mesmo que inconscientemente. É um valor que
rege sua existência. Seja o amor entre duas pessoas desconhecidas ou entre familiares, é um valor
que influencia muitas decisões particulares que podem refletir no convívio social do indivíduo. A
partir do momento que o amor tem a capacidade de definir ações, interesses, influenciar nas atitudes
e vontades de uma pessoa e estas influenciarem no mundo ao seu redor (a sociedade), o amor deve
ser tratado como valor jurídico.
O amor, tanto para o ser humano como para a sociedade organizada, é muito importante. Na
expressão de Guilherme Assis de Almeida, “o amor deve ser a mais estimada de todas as coisas
existentes”. Esclareça-se que o amor, assim como os outros valores, é uma coisa, mas não algo
concreto, palpável. Por sua própria natureza é inexaurível, jamais se esgota, sempre podemos amar
mais e melhor.
O Supremo Tribunal Federal utilizou do valor jurídico do amor e do afeto em uma decisão
sobre união estável homoafetiva ser transformada em matrimônio. Os Ministros da Suprema Corte
entenderam que a expressão “entre o homem e a mulher”, constante no § 3º do art. 226 da
Constituição Federal, é discriminatória, porque existentes, possíveis e válidas as uniões entre
homem e homem bem como entre mulher e mulher, não parece cabível manter a constitucionalidade
das demais regras vigentes no ordenamento jurídico brasileiro que estabeleçam essa discriminação,
verdadeira segregação de alguns institutos a apenas alguma espécie de seres humanos (os
heterossexuais). Esta decisão tratou, acima de tudo, do reconhecimento do amor como valor jurídico
extremamente importante, e fundante das sociedades humanas. E se o amor é não apenas um valor
jurídico, como também a causa de todos os direitos e da própria convivência humana, não há razão
para indeferir o pedido ora formulado, baseado justamente nesse valor, tão raro nos dias atuais.
É desafio do Direito mensurar, proteger e instrumentalizar os valores intangíveis como é o
caso do amor. A própria Constituição Federal definiu a dignidade da pessoa humana como um valor.
E não há nada tão intangível quanto a dignidade. O amor pode valer mais para um indivíduo do que
para o outro. Como mensurar qual indivíduo sente mais amor por alguma coisa que esteja em
disputa judicial? Como mensurar quem é melhor para manter a guarda de uma criança quando
ambos os responsáveis demonstram as mesmas qualidades e demonstram o mesmo amor? E não
podemos dizer que o amor de mãe se sobressai pois hoje temos casais do mesmo sexo que adotam
crianças e passam por processo de divórcio. O amor se tornou algo com o qual o Direito precisa
trabalhar sem conflitar leis.

2. As diversas formas de Amor

O amor existe em diversos tipos e pode ser por uma pessoa, um objeto, um trabalho, um ideal
entre outros mais. O amor é considerado como uma das maiores conquistas do ser humano e
compreende diversidades como, por exemplo, afeição, compaixão, misericórdia, paixão, querer
bem, satisfação, desejo, entre outras. A forma mais comum de entendimento do amor, no entanto,
está na relação de tratamento entre uma pessoa para com outra ou para com um objeto ou animal.
O amor é um importante e intenso sentimento do ser humano que, partindo de sua
insuficiência, busca por necessidade o encontro e a união com o outro.

2.1. Amor paterno-filial


É o amor dos pais para com os filhos. Uma criança quando nasce não sabe o que é amor. Ela
passa a entender e a sentir isto conforme cresce e o recebe de seus pais. Somente com estas
experiências esta pessoa se desenvolverá e será capaz de amar e transmitir estes valores a outros
indivíduos.

2.2. Amor fraterno


É o amor entre os irmãos. É o amor que cria na pessoa uma responsabilidade, um cuidado
para com o outro, proteção, respeito, desejo de melhorar a vida do outro. É o amor entre iguais,
sejam irmãos de sangue ou indivíduos de um mesmo grupo com os mesmos ideias.

2.3. Amor de mãe


É um amor incondicional que permite a uma criança sobreviver em seus primeiros anos de
vida. É usado comumente para expressar um amor que não mede esforços, nobre e intenso. É o
amor que permite à criança sentir que foi bom ter nascido, que a faz ter amor à vida e não apenas o
desejo de permanecer viva.

2.4. Amor erótico


É o amor que faz parte do ser. Através dele que se busca a continuação da espécie. Não deve
ser considerado apenas como o impulso sexual de uma natureza animal. Isso seria colocar um
sentimento, um valor, equiparado apenas a um instinto e impulso do ser.

2.5. Amor próprio


É muitas vezes confundido com o egoísmo. O amor próprio é a capacidade de um ser amar a
si mesmo, da forma que é, da maneira que está, desenvolvendo assim a habilidade de poder amar e
se relacionar com tudo o que o cerca (a sociedade).

2.6. Amor a Deus


É a forma religiosa do amor. Possibilita ao ser humano superar o estado de ansiedade causado
pela separação que o persegue desde o início da vida que é a separação do ventre materno. É o amor
a uma entidade que possui extrema importância ao indivíduo, dando conforto e paz ao mesmo.
3. O amor nas relações do Direito de Família

Na seara do Direito de Família, o amor é encontrado com maior ênfase e implica uma série de
consequências, ajustes e desajustes dos indivíduos, exatamente porque é dentro desta unidade
coletiva que o ser humano começa seu desenvolvimento e seu futuro encontro com um grupo maior
que é a sociedade.
O amor é um dos elementos que caracterizam a família, sendo ponto de partida e final das
relações familiares, o que não afasta a razão. Tanto a afetividade quanto a razão podem conviver de
forma harmônica, pois estão ligadas à natureza humana. A razão permite equipar materialmente o
mundo, já a afeição incentiva o amor, numa outra lógica capaz de dar continuidade a nossa
existência. É o amor que une as pessoas.
Elevar o amor a valor jurídico demonstra grande evolução no Direito da Família. Este valor
passou a ser relevante nas resoluções de conflitos existentes nesta seara familiar. O amor trata-se de
um fato jurídico pois permite o estabelecimento de relações entre as pessoas. Ele constitui relações
jurídicas (famílias monas parentais, homo afetivas, relação de filiação oriunda da adoção), modifica
(de namoro para casamento) e extingue (destituição do poder familiar, instituição da filiação afetiva
em detrimento da biológica, etc.).
Na seara jurídica moderna, o afeto está inserido no rol de direitos da personalidade e foi
paulatinamente sendo reconhecido como valor jurídico, decorrente dos princípios da solidariedade e
da dignidade da pessoa humana.
Apesar de o amor e o afeto não estarem tutelados de forma expressa, eles podem ser
visualizados nas seguintes disposições: na igualdade dos filhos, independentemente da origem (art.
227, § 6º da Constituição Federal); na adoção; no reconhecimento da união estável (§ 3º do art. 226
da Constituição Federal); na família mono parental (§ 4º, art. 226 da Constituição Federal); na
família homo afetiva (art. 2º da Lei nº.11.340/2006); na liberdade de decisão sobre planejamento
familiar (§ 7º, art. 226 da Constituição Federal); no exercício da paternidade responsável, fundada
na assistência afetiva, moral, intelectual e material da prole (arts. 244 e seguintes do CP e 22 e
seguintes do ECA); nas sanções para o descumprimento dos deveres inerentes ao poder familiar
(art. 22, Lei 8.069/1990); na impossibilidade de perda do bem de família para conservação da
unidade familiar (art. 1º, da Lei 8.009/1990); na previsão no Código Penal dos crimes contra a
assistência familiar (art. 244 e seguinte, CP); na garantia de que, na colocação de menor em família
substituta, a afetividade será considerada, a fim de evitar ou minorar as consequências decorrentes
da medida (§ 3º do art. 28 da Lei 8.069/1990); no dever dos filhos maiores em ajudar e amparar os
pais na velhice, carência ou enfermidade (art. 229, Constituição Federal), dentre outros. Assim,
denota-se que o afeto constitui valor fundamental no ordenamento e deve ser observado na
aplicação da lei.

4. Conclusão

O amor, apesar de não ser definido expressamente nas leis como valor jurídico, passou a ser
considerado nas decisões judiciais principalmente quando o assunto é família. A dignidade da
pessoa humana está ligada a este valor que, de forma subjetiva, deve ser levado em consideração na
operação do Direito. Importante ressaltar que a lei deve prevalecer mas sua interpretação pode ser
baseada no valor de amor e afetividade tão presentes na vida de cada ser humano desde seu
nascimento e adquirida personalidade jurídica até sua morte, sendo responsável por suas ações em
sociedade.
5. Referências Bibliográficas

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