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TÍTULO: Aspectos jurídicos acerca do abandono afetivo: a responsabilidade civil e o

dever de cuidado.

RESUMO

Este trabalho abordar a questão do abandono afetivo dos genitores em relação aos seus
filhos menores. Aqueles são os titulares do poder familiar e apresentam direitos e
obrigações previstos pelo ordenamento jurídico, sendo os pais os responsáveis de suprir
as necessidades básicas da criança e do adolescente tanto no aspecto material como
imaterial. Diante disso, os deveres dos genitores abrangem também a questão afetiva,
como cuidado, educação, criação, assistência, companhia e convivência. Assim, é a
partir da conduta omissiva dos genitores quanto há essas atribuições que haverá a
possibilidade da caracterização da responsabilidade civil. A condenação do genitor
ocorre, especificamente, diante dos critérios jurídicos estabelecidos pelo vínculo da
filiação e da parentalidade. Destarte, utilizar-se-á o método dedutivo através pesquisas
bibliográficas com analise da lei, doutrina e jurisprudência. Em vista disso, constatar-se-
á os pressupostos da indenização, bem como será desvinculado o conceito de afeto em
relação ao seu aspecto sentimental. Ademais, será verificado que os operadores
jurídicos ainda fazem uma relação do afeto com essa questão.

Palavras-chave: Constitucionalização do Direito Civil. Direito das Famílias. Abandono


afetivo. Responsabilidade Civil.
Considerações iniciais

Os assuntos contemporâneos exige uma interpretação dos civilistas conforme


os princípios constitucionais. É neste contexto que entra em cena a constitucionalização
do direito civil, a qual possibilitou uma integração do direito privado ao direito público.
A Constituição da República Federativa de 1988 passou a regular às normas jurídicas
das relações privadas e possibilitou uma maior eficácia para esta esfera jurídica.
Outrossim, a tutela da proteção integral dos direitos fundamentais instituiu
princípios norteadores as entidades familiares, inclusive propiciou o surgimento do
princípio da afetividade. Este princípio sofreu mudanças significativas a fim de
assegurar o melhor interesse da criança e do adolescente, tendo em vista a mudança de
perspectiva social do conceito de família.
A questão do abandono afetivo, por sua vez, será analisada no âmbito do
ordenamento jurídico brasileiro, sendo que os pais tem o dever de zelar pelos interesses
dos seus filhos menores no aspecto material e imaterial. Este consiste no dever de
cuidado dos pais em relação aos filhos menores. A temática será abordada nos termos
da norma jurídica, inclusive a mudança de paradigma introduzida pela
Constitucionalização do Direito das Famílias.
Tendo em vista que a questão do abandono afetivo é uma temática controversa,
o trabalho não visa esgotar o tema, entretanto tem o intuito de apontar alguns
posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais em relação à temática.
A fim de melhor explorar o tema, utilizar-se-á o método dedutivo através de
pesquisas bibliográficas para verificar como a questão é tratada no âmbito jurídico, bem
como as distorções que ocorrem com o significado do afeto na aplicação do
ressarcimento por abandono afetivo. Há diversas indagações1 no mundo jurídico sobre o
sentido do afeto, uma delas consiste em referenciar este enquanto dever familiar do
sentimento denominado amor. À vista disso, será desvinculada tal associação, pois este
aspecto não é tutelado pelo direito.

1
Breno Mendes Forel Muniz Vianna levantou algumas indagações a respeito do afeto: “Será mesmo
necessária a presença do afeto para que enxergue uma entidade familiar? Mas seria o afeto um valor
jurídico? Ou um princípio jurídico? Ou talvez somente um valor trazido para o mundo jurídico?”
VIANNA, Breno Mendes Forel Muniz. Responsabilidade Civil Parental. In: TEIXEIRA, Ana Carolina
Brochado; RIBEIRO, Gustavo Pereira Leite (Coord). Manual de Direito das famílias e das sucessões.
Belo Horizonte: Del Rey: Mandamentos, 2008. p. 454
Para tanto, iniciar-se-á a discussão a partir da constitucionalização do direito
civil e do direito de família, bem como os princípios constitucionais que tutela o Direito
das Famílias, apresentando as leis e os desdobramentos dos seus efeitos jurídicos.
Também serão discutidas questões direcionadas à relação de parentalidade, de filiação,
e do poder familiar a fim de verificar a existência de uma obrigação prévia para a
possível aplicação dos preceitos da indenização por danos morais.
Posteriormente, realizar-se-á uma exposição sobre os pressupostos necessários
para caracterizar a responsabilidade civil. Por fim, analisar-se-á os precedentes
jurisprudenciais sobre a temática. Embora, existem algumas barreiras para serem
quebradas em relação à aplicação da reparação de danos por abandono afetivo no que
tange ao real significado do afeto, há entendimento na jurisprudência favorável à
condenação do genitor por abandono afetivo dos filhos menores.

Considerações finais

Pelo exposto, verifica-se que tanto o principio da afetividade como da


dignidade da pessoa humana são tutelados pelo Estado em diversos dispositivos na
norma jurídica. Ademais, é em decorrência da parentalidade e do poder familiar que os
pais têm o dever de cuidado em relação aos filhos menores. O Estado passa a interferir
no núcleo familiar quando há violação desse dever, com o intuito de resguarda o pleno
desenvolvimento da criança e do adolescente.
O instituto da responsabilidade civil em relação ao abandono afetivo dos pais
aos filhos menores visa tutelar à dignidade da pessoa humana e à personalidade do
indivíduo. Para tanto, é necessário à caracterização dos pressupostos de tal instituto
(conduta humana, culpa, dano e nexo de causalidade) para a possível reparação por
danos morais.
Esses pressupostos devem ser analisados diante de um caso concreto, a fim de
verificar se o genitor descumpriu com suas obrigações imateriais decorrente do vínculo
de parentesco e do poder familiar. Sendo comprovada a negligência, omissão, por parte
dos genitores, estes poderão ser responsabilizados civilmente em decorrência do
descumprimento do dever de cuidado em relação à afetividade e as consequências que
geraram na vida do filho.
Diante dos precedentes jurisprudências exposto no trabalho, a jurisprudência
do STJ rompeu alguns paradigmas sobre a questão do afeto, bem como se manifestou
favorável à condenação do genitor por abandono afetivo. Em tal decisão o afeto foi
relacionado ao dever de cuidado, à proteção da dignidade da pessoa humana e da
personalidade do individuo. Sendo, portanto, desvinculado do seu aspecto sentimental.
Todavia, embora houve uma quebra de paradigma com a decisão do STJ, ainda
ocorre controvérsias sobre o real significado do afeto no âmbito jurídico. Por
conseguinte, isso exige uma atenção maior dos operadores jurídicos ao analisar o caso
concreto conforme a legislação para assegurar os direitos fundamentais da criança e do
adolescente.
O direito não tem como medir se os pais amaram o seu filho, muito menos
impor aos pais este sentimento. O afeto decorre do conteúdo do poder familiar como o
convívio, cuidado, educação, assistência, criação e companhia, entre outros. Além da
proteção dada à tutela da personalidade e aos princípios da afetividade e da dignidade da
pessoa humana. Assim, a análise deve ser realizada com base nesses preceitos que são
tutelados pelo ordenamento jurídico.

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