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Perguntas resolvidas de exames de história do direto

História do Direito (Universidade Catolica Portuguesa)

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PERGUNTAS HISTÓRIA DO DIREITO

1 – O renascimento do Direito Romano justinianeu na Idade Média.

Estamos perante um ciclo da história portuguesa relacionada com o


movimento da revitalização intensa do direito romano justinianeu, que se inicia
em Itália, ainda durante o século XI, mas se desenvolve a partir da centúria
imediata. Marco relevante no trânsito da alta para a baixa Idade Média, esse
novo interesse teórico e prático pelas coletâneas do Corpus iuris Civilis
transformou-se num autêntico fenómeno dos Estados da Europa Ocidental.
Recebe o nome consagrado de “renascimento do direito romano”.
Note-se que não se trata de uma designação inteiramente pacífica. Na
verdade, a palavra “renascimento” inculca a ideia de que o direito romano
justinianeu tenha deixado, em absoluto, de ser estudado e aplicado. Ora, isso
jamais se verificou.
A restauração do Império do Ocidente, o chamado Sacro Império
Romano-Germânico, que aí encontrava o seu sistema jurídico. Sob a égide da
Igreja, operou-se, não só essa renovação política, mas também a aplicação do
direito das coletâneas justinianeias às matérias temporais. A seguir à morte de
Carlos Magno, todavia, agudizaram-se as relações entre o Papado e o Império.
Rompe a grande querela que encheu a época e de que constituem aspetos
velados as contrvérsias a respeito do problema do Estado, da sua função social
e das formas de governo, do problema da Igreja e da respetiva orgânica
interna. Procurava-se no direito justinianeu apoio para o robustecimento da
posição imperial, a que não era mesmo estranho um desejo de predomínio
sobre os soberanos dos restantes Reinos.
O verdadeiro renascimento do direto romano, isto é, o estudo
sistemático e a divulgação da ocre jurídica justinianeia, inicia-se apenas no séc.
XII, com a Escola de Bolonha. Esta escola recebe também o nome de Escola
dos Glossadores e os seus começos situam-se pelos fins do séc. XI e começos
do séc. XII.
O principal instrumento de trabalho dos juristas pertencentes a esta
escola foi a glosa, que consistia num processo de exegese textual já antes
utilizado em domínios culturais estranhos ao direito.
Cifravam-se, de início, num pequeno esclarecimento imediato, geralmente
numa simples palavra ou expressão, com a finalidade de tornar inteligível
algum passo com interpretação duvidosa. Eram notas tão breves que se
inseriam entre as linhas dos manuscritos que continham as normas analisadas,
e por isso mesmo, denominavam-se glosas interlineares.
Com o tempo, as interpretações tornaram-se mais coompletas. Passaram a
referir-se não só a um preceito, mas sim a todo um título. Neste sentido,
escreviam-se na margem do texto e daí adveio a designação de glosas
marginais, que chegaram a formar uma exposição sistemática (“apparatus”).
Pelo segundo quartel do séc. XIII, Acúrsio, procedeu a uma seleção das
glosas anteriores relativas a todas as partes do Corpus Iuris Civilis,
apresentando as opiniões discordantes mais credenciadas. Deste modo, surge
a chamada Glosa Ordinária, Magna Carta ou apenas Glosa, que encerra o
legado científico acumulado por gerações sucessivas de juristas. Abrange
96940 glosas.

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A importância que a Glosa de Acúrsio alcançou reflete-se no facto de ser


aplicada nos tribunais dos países do ocidente europeu ao lado das dispoições
do Corpus Iuris Civilis. Em Portugal, constituiu fonte subsidiária de direito, na
época das ordenações.
Com a Magna Glosa terminou um ciclo da ciência do direito. A segunda
metade do séc. XIII é como que um período de transição para a nova
metodologia que se inicia no séc. XIV. Os juristas desse ciclo intermédio
receberam a designação de pós-acursianos. A sua atividade caracteriza-se por
se encontrar especialmente receptiva às exigências práticas. Um dos aspetos
salientes foi o aparecimento do tratado ou exposição sistemática como nova
forma de literatura jurídica.
Como já foi supramencionado, no séc. XIV desenvolveu-se uma nova
metodología jurídica. Corresponde à Escola dos comentadores, assim
chamada porque os seus representantes utilizavam o comentário como
instrumento de trabalho característico, à semelhança do que ocorrerem com os
Glossadores a respeito da glosa.
É essa a denominação para que continuamos a propender, embora
também outras se justifiquem: as de Escola Escolástica e Escola Bartolista,
tendo em atenção, respetivamente, a sua matriz científica, com precedentes
nas esferas teológico-filosóficas, e o jurista mais representativo, Bártolo de
Sassoferrato. Este comentador destacou-se pela sua extensa produtividade
bem como pela influência que exerceu, é o jurisconsulto que simboliza o séc.
XIV. Os comentários de Bártolo adquiriram prestígio generalizado, inclusive,
tornaram-se fonte subsidiária no ordenamento jurídico de vários países
europeus. Em Portugal, por exemplo, as Ordenações minaram a sua aplicação
supletiva ao lado da Glosa de Acúrsio.

2 – As Constituições portuguesas do séc. XIX

Como nota introdutória é de se referir que nas origens do


constitucionalismo português encontra-se uma profunda influência da Revolução
Francesa. Com efeito, no contexto das Guerras Napoleónicas, em particular da
Guerra Peninsular por ocasião das Invasões Francesas, chegaram à Península
Ibérica os ideais da Revolução Francesa – “Liberdade, Igualdade e
Fraternidade”, bem como os princípios da Declaração Universal dos Direitos do
Homem e do Cidadão (direitos fundamentais), e da limitação do poder nas suas
diversas versões ao longo das sucessivas Constituições adoptadas em França.
A 1ª Constitução Portuguesa é a Constituição de 1822, também
denominada como Constituição vintista ou liberal, aprovada pelas Cortes
Gerais da Nação Portuguesa.
Esta Constituição surge no contexto da Revolução Liberal de 1820, um
movimento de base militar e maçónico, cujo principal propósito era reimplantar
plenamente a soberania nacional, pôr termo ao período da proteção inglesa e
restabelecer a exclusividade do comércio com as colónias, nomeadamente o
Brasil.
A Constituição de 1822 é de inspiração iluminista e racionalista, assente
sobre uma legitimidade democrática e centrada nas liberdades individuais.
Importa, contudo, ressalvar que esta legitimidade democrática deve ser
interpretada de acordo com as regras da época, ou seja, num modelo de

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sociedade que ainda tinha escravatura, que não reconhecia o direito de


sufrágio das mulheres e que também não reconhecia a cidadania aos filhos
ilegítimos. Também o catálogo de direitos e deveres individuais era limitado,
essencialmente centrado nas liberdades individuais, como era característico do
liberalismo individualista.
Ainda como marcas desta Constituição podemos destacar: o
reconhecimento de uma religião oficial da nação; a atribuição,em exclusivo,do
poder legislativo às Cortes; o reconhecimento de que a autoridade do Rei
provinha da Nação; a existência de um Conselho de Estado para
aconselhamento do Rei (referendas ministeriais); a autonomia do poder judicial,
embora com graus distintos de independência e, finalmente, a promoção do
ensino e da alfabetização da população.
Apesar das muitas inovações e do carácter moderado das modificações
introduzidas por esta Constituição, a instabilidade política vivida à época
justificou a sua curta vigência (1822-1823).

Não obstante D. João VI ter jurado a Constituição de 1822, quer a sua


mulher, quer o sei filho D. Miguel, nunca se conformaram com esta limitação do
poder soberano do Rei.
Isto explica que em 1823 tenha tido lugar uma investida dos partidários
absolutistas, liderada pelo infante D. Miguel a partir de VFX, conhecida como a
Vilafrancada, que, contudo, não foi bem sucedida, pois D. João VI acabaria por
dominar a revolta, mas sem com isso evitar a revogação da Constituição e a
restauração do regime anterior. Apesar deste retrocesso, D. João VI prometera
a elaboração de uma nova Constituição.
Entretanto, com a morte de D. João VI, D.Pedro IV, que nessa data já
havia proclamado a independência do Brasil, dotado aquele território de uma
Constituição e tinha feito designar Imperador do mesmo, é coroado Rei e,
sendo partidário de uma boa parte do ideário liberal, outorga ao Reino a Carta
Constitucional de 1826.
A Carta Constitucional é um documento substancialmente diferente da
Constituição de 1822, porque fundado na legitimidade monárquica. Quer isto
dizer que a sua legitimação partia do Rei e do poder, o qual assentia em
autolimitá-lo através do reconhecimento de competências de outras entidades
que o coadjuvavam, sendo posteriormente jurado pelas “Três Ordens do
Estado” (clero, nobreza e povo). O espírito da Carta Constitucional era, assim,
bastante distante do de uma Constituição liberal, em especial no domínio do
exercício do poder legislativo, pois, não obstante este ser atribuído às Cortes, o
Rei reservava-se um “poder de sanção”, ou seja, os actos aprovados pelas
Cortes só teriam força de lei após um acto do Rei.
Uma das principais características da Carta Constitucional foi o
aparecimento do poder moderador, que se caracterizava por congregar no Rei,
enquanto Chefe Supremo da Nação, o poder de velar pela manutenção da
independência, equilíbrio e harmonia dos demais poderes políticos.
Outra das marcas mais identitárias da Carta Constitucional foi a
instituição de um sistema bicameral, sendo as Cortes Gerais compostas pelos
membros das Câmaras de pares e dos deputados.
Ainda em relação ao processo legislativo, cumpre sublinhar que o poder
de iniciativa legislativa cabia a qualquer das Câmaras, e ao poder executivo era

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reconhecida a prerrogativa de apresentar propostas que, posteriormente,


mediante exame da Câmara dos Deputados, tomariam a forma de projetos de
lei e os diplomas aprovados por estas eram submetidos a sanção do rei, o qual
dava ou denegava a mesma. Se fosse negada a sanção, esta denegação teria
um efeito absoluto, no caso de consentimento, o diploma era promulgado pelo
Rei, referendado pelo Secretário de Estado, selado e arquivado na Torre do
Tombo, sendo remetidos exemplares para publicação em Câmaras do reino,
Tribunais e outros lugares.

A partir de de 1836 manteve-se um clima de “guerra civil” entre


“Setembristas” (que se apresentavam como radicais, invocando a soberania
nacional, apesar de não comungarem necessariamente de uma ideologia
republicana, limtando-se a “cercar a monarquia de um conjunto de instituições
republicanas”) e “Cartistas” (que se apresentavam como conservadores,
invocando a “liberdade legal” e o respeito pelos vertidos na Carta, ou seja, um
parlamento representativo com poderes plenos, mas um Governo liderado pelo
Rei), embora estes não fossem, também, em si, grupos homogéneos, antes se
subdividindo em diversas fações.
Este clima de instabilidade política explica o carácter pactuado da
Constituição de 1838, que tentaria satisfazer os anseios dos liberais naciolistas
e dos monárquicos, mas que acabou por não agradar verdadeiramente a
ninguém. Logo no preâmbulo fica claro o referido compromisso, apresentando-
se esta Constituição como um “produto” das Cortes Constituintes, aceite e
jurada pela Monarca, Rainha D. Maria II.
Entre as principais características da Constituição de 1838 contam-se: o
“regresso” de um catálogo de direitos e garantias dos portugueses na parte
inicial do documento, com a consagração de novos direitos; a substituição da
Câmara dos Pares por uma Câmara de Senadores,com funções judiciais e, por
último, a consagração do princípio da separação de poderes e a atribuição do
poder executivo ao Rei, que perde o poder moderador.
Apesar da ambição compromissória deste documento, ele não foi
suficiente para acalmar o clima de permanente instabilidade política que se
vivia e que, em grande medida, era uma consequência dos partidos políticos e
dos Governos serem liderados por membros do exército e por representantes
da moçonaria.
Assim se compreende que esta Constituição tenha entrado em vigor em
1838 e tenha sido revogada pela reposição da vigência da Carta, em 1842,
após o golpe de Estado de Costa Cabral, que introduziu em Portugal um
sistema centralizado de Governo e de Administração.

3 – A atividade de compilação de Fontes Romanas na Época Pós- Clássica


(séc. IV-séc. VI)

O Direito Romano perde a sua base jurisprudencial e a autoridade do


jurisprudente é substituída pelo imperium (poder máximo) do imperador que
legisla e administra a Justiça. O direito é, portanto, produto da política.
É a partir de Constantino, contudo, que o direito passa a estar nas
constituições imperiais que passam a ser leges generales dirigidas ao Senado.
Os conteúdos jurisprudenciais foram progressivamente normatizados e
aprovados pelo imperador. O objetivo de Constantino seria criar uma

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compilação de direito que tivesse solução para tudo. Para isso, era necessário
dividir as fontes em duas grandes áreas: Constituições imperiais de
imperadores anteriores (leges) e a jurisprudência romana e editos dos
magistrados, bem como legislação da República (iura/ius).
A iurisprudentia desaparece como fonte de direito e os juízes, integrados
na administração hierarquizada do imperador passam a ser “aplicadores do
direito das leis”.
O Codex Gregorianus (292 d.c) é a primeira coleção de textos rescritos,
compilados por Gregório. Este Código gerava grande confusão no que tocava a
invocar leis para fundamentar soluções perante o juiz e pior que isso eram as
tentativas de citar as opiniões dos jurisprudentes antigos. Os jurisprudentes
desta época eram-no unicamente de nome, pois não tinham nem
independência, nem cultura, nem romanidade para interpretar os textos dos
jurisprudentes clássicos. Esta solução aumentava, portanto, a subjetividade
decisória e o arbítrio judicial.
O Codex Hermogenianus (294 d.c) foi uma coleção de leis romanas
compiladas por Hermogeniano. Este Código abrangia uma variedade de temas
legais, incluindo direito civil, direito penal e direito administrativo. A compilação
foi feita com base em constituições imperiais e respostas a consultas legais, e
buscava fornecer uma referência útil para estudantes de direito e juristas da
época.
A Constituição do Imperador Valentiniano III (426 d.c) é uma constituição
imperial que vinha proibir citações como as do Código Gregoriano. Continha
uma instrução clara destinada aos juízes para não aceitarem senão a opinião
do jurisconsulto original e não os comentários críticos nas alegações dos
advogados. Apresentava assim um caráter geral e integral com força de lei. É a
primeira que disciplina e hierarquiza legalmente as fontes de direito na
perspetiva do seu uso pelos juízes.
A Lei das Citações parte do texto que tratava de assuntos de iura. Fixava
os 5 jurisprudentes que podiam ser citados perante o juiz com plena autoridade:
Papiniano, Paulo, Ulpiano, Modestino e Gaio. Em caso de discordância sobre
um assunto entre os 5 autores, o juiz deveria seguir um critério quantitativo
resolvendo pelo maior no de opiniões idênticas. Em caso de empate, deveria
seguir a opinião de Papiniano.
O Código Teodosiano (429 d.c) é a primeira codificação oficial de leges.
Foi revogado no Oriente pelo Código de Justiniano, mas a sua vigência no
Ocidente prolongou-se até ao Breviário de Alarico.
No ano 527 d.c , Justiniano I, Imperador Bizantino (Oriente), sentiu a
necessidade de ultimar uma fonte que continha todo o Direito vigente, pois o
Direito estava muito disperso e ele pretendia restaurar a unidade do Império e a
grandeza de Roma pelas vias política, religiosa, militar e jurídica. Preocupado
com a segurança jurídica e com vista a dar a conhecer o Direito a todas as
pessoas, o Imperador Justiniano manda compilar, numa só obra, todo o Direito
que se encontrava em vigor com o fim de nesta comtemplar todos os
problemas jurídicos e dar uma solução a tudo: o Código de Justiniano que,
mais tarde, viria a ser conhecido por Corpus Iuris Civilis. Diz-se que o mesma
foi compilado em cinco anos, porém, há dúvidas de que uma obra destas tenha
sido acabada em tão pouco tempo.

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Divide o Direito em dois: leges (compilaçõesimperiais) e iura (fontes de


Direito do tempo da República, sobretud o jurisprudência e editos dos pretores
e outra legislação antiga).
Esta obra viria a conter tudo, desde doutrina, costumes, e jurisprudência.
No entanto, quando Justiniano faleceu, este vê um insucesso prático da sua
obra, que só viria a ter uma grande importância cinco séculos mais tarde, com
o renascimento do Direito romano na Europa. A obra era Direito vigente, mas
não era Direito aplicado, pois Justiniano foi um Dominus Imperator do Oriente
politicamente muito contestado (tanto as pessoas como os próprios aplicadores
do Direito, ofereceram alguma resistência à sua obra), mas teve a ambição de
mandar fazer uma compilação onde se pudesse encontrar a solução para
qualquer problema jurídico, e isso resultou na maior e mais completa
compilação de fontes de Direito Romano da História.
Assim, apesar do Código de Justiniano ter revogado o Código
Teodosiano, este continuou a aplicar-se, apesar de não ser suposto. O Código
Justiniano , juntamente com a assimilação cultural, foram dois fatores que
levaram à sobrevivência do Direito romano.
O Código de Justiniano compreende as seguintes partes, que não mais
são do que unidade compilatórias:
O Digesto – compilação de fragmentos extraídos de obras dos principais
jurisconsultos clássicos. Foi a compilação de iura (soluções jurídicas que
vinham do passado, as fontes romanas mais antigas, desde o tempo da
República e do início do Principado - obras dos jurisconsultos, legislação mais
antiga da República e opinião dos Pretores). Continha desde mores
(costumes), legislação e respostas dos jurisconsultos (doutrina). Este foi o
trabalho mais difícil, pois, para além de ser bastante extenso, havia várias
contradições e era necessário adequar o Direito antigo ao Direito atual.
O Codex – compilação de leges, ou seja, das fontes de Direito mais modernas,
que compreendiam as Constituições Imperiais (normas gerais e abstratas
emitidas pelos Imperadores). Incluiu a 2ª fase do Principado e o Dominado. É o
Direito novo (Ius Novus).
As Institutas – síntese do Digesto. Constituíam um manual de estudo de Direito
Romano destinado a estudantes de Direito. Era um manual vinculativo que se
aplicava aos casos concretos.
As Novelas (novellae constitutiones) – constituições imperiais promulgadas
depois do Código. Depois de terminado o Código, havia a proibição de invocar
qualquer regra que nele não estivesse prevista, contudo, Justiniano reservou-
se a si a faculdade de fazer novas leis. Prática compilatória por juristas
particulares depois da morte de Justiniano.

4 – Iluminismo e Direito

Uma linha de pensamento que muito influenciou as reformas no ciclo


pombalino foi o Iluminismo.
Quanto à generalidade da Europa, trata-se de um período que abrange
todo o séc. XVIII. Do ponto de vista político, o Iluminismo desenvolveu-se sob a
égide das monarquias absolutas que configuraram o Despotismo Esclarecido
(assenta no ideal de rei filósofo enquanto rei iluminado), como é o exemplo do

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reinado de Frederico II da Prússia. Em Portugal, corresponde apenas aos


reinados de D.José e de D.Maria I.
O Iluminismo foi um período marcado pelo antropocentrismo, sendo o
Homem o centro do universo. Assiste-se a uma hipertrofia da razão e do
racionalismo. Assim aconteceu, quer acerca das áreas científico-naturais, quer
relativamente à filosofia especulativa e à cultura, quer nos domínios ético,
social, económico, político e jurídico. Verifica-se o desenvolvimento de um
sistema naturalístico das ciências de espírito. Em suma, alicerça-se na
natureza e tem a sua validade aferida pela razão do indivíduo humano, ou seja,
por uma razão subjetiva e crítica.
Sinais peculiares apresentou o Iluminismo nos países marcadamente
católicos, como Espanha e Portugal, mas tendo como centro de irradiação a
Itália. Também aqui se registaram as influências do racionalismo e da filosofia
moderna, assistindo-se à renovação da atividade científica, a inovações
pedagógicas, a certa difusão do espírito laico, à reforma das instituições sociais
e políticas.
Foi este “Iluminismo italiano” que Verney transmitiu à mentalidade
portuguesa. Porém, as suas sugestões não encontraram eco imediato,
começando a estarem presentes nas grandes transformações relativas ao
direito e à ciência jurídica efetuadas sob o governo do Marquês de Pombal.
Neste âmbito é importante mencionar a relevância das providências
adotadas nos planos da ciência do direito, enquanto voltada para a
interpretação, integração e aplicação das normas jurídicas, e da formação de
juristas. Estes foram atendidos, respetivamente, pela chamada Lei da Boa
Razão e pela reforma da Universidade, consubstanciada nos Estatutos Novos.
A Lei da Boa Razão trata-se da Lei de 18 de Agosto de 1769,
inicialmente identificada como os restantes diplomas da época, pela simples
data. Só no séc. XIX receberia o primeiro nome mencionado, ficando assim
conhecida para o futuro. O “crisma” justifica-se, dado o apelo que nos seus
preceitos se faz insistentemente à “boa razão”, ou seja, à “recta ratio”
jusnaturalista. Representava ela o dogma supremo da atividade interpretativa e
integrativa, estivesse cristalizada nos textos romanos, no direito das gentes ou
nas obras jurídicas e lei positivas das nações estrangeiras.
O referido diploma prosseguiu objetivos amplos. Visou, não apenas
impedir irregularidades em matéria de assentos e quanto à utilização do direito
subsidiário, mas também fixar normas precisas sobre a validade do costume e
os elementos a que o itérprete podia recorrer para o preenchimento de lacunas.
Em 1772, os Estatutos da Universidade fixaram um conjunto de regras
destinadas a aferir a boa razão dos textos romanos.

5 – Lei de 18 de Agosto de 1769 (L. Boa Razão)

A Lei da Boa Razão trata-se da Lei de 18 de Agosto de 1769,


inicialmente identificada como os restantes diplomas da época, pela simples
data. Só no séc. XIX receberia o primeiro nome mencionado, ficando assim
conhecida para o futuro. O “crisma” justifica-se, dado o apelo que nos seus
preceitos se faz insistentemente à “boa razão”, ou seja, à “recta ratio”
jusnaturalista. Representava ela o dogma supremo da atividade interpretativa e

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integrativa, estivesse cristalizada nos textos romanos, no direito das gentes ou


nas obras jurídicas e lei positivas das nações estrangeiras.
O referido diploma prosseguiu objetivos amplos. Visou, não apenas
impedir irregularidades em matéria de assentos e quanto à utilização do direito
subsidiário, mas também fixar normas precisas sobre a validade do costume e
os elementos a que o intérprete podia recorrer para o preenchimento de
lacunas.
Esta Lei consagrou que os diferendos submetido a apreciação dos
tribunais devia ser julgados, antes de tudo, pelas leis pátrias e pelos estilos da
Corte; conferiu autoridade exclusiva aos assentos da Casa da Suplicação, que
era o tribunal supremo do Reino; também estatui-se expressamente sobre o
costume, na medida em que, para que este fosse fonte de direito teria de ser
conforme à boa razão, não contrário à lei e teria de ter mais de 100 anos de
existência; estabeleceu que quando houvessem casos omissos caberia então
recurso ao direito subsidiário; estipulou que a aplicação do direito canónico é
relegada para os tribunais eclesiásticos; e, finalmente, proibiu que as glosas de
Acúrsio e as opiniões de Bártolo fossem alegadas e aplicadas em juízo.

6 – Humanismo e Direito

Antes de considerarmos o pensamento jurídico português da para


matime a feição mental dos nossos jurisconsultos e o panorama do ensino
universitário do direito, impõe-se fazer referência o contributo que o
Humanismo e a Renascença trouxeram para a evolução dos estudos
romanísticos e canonísticos.
É sabido que o Humanismo e a Renascença constituem dois fenómenos
marcantes da evolução do espírito europeu. À restauração erudita dos textos
da antiguidade clássica, seguiram-se transformações gerais nos campos das
artes, das ciências, da cultura e da filosofia. Estiveram subjacentes motivos
políticos, religiosos, sociais e económicos. Despontam ou acentuam-se, então,
algumas das ideias e estruturas que os tempos ulteriores haveriam de
prosseguir e consolidar.
No âmbito do humanismo renascentista inclui-se, tembém, uma natural
revisão crítica da ciência do direito. Essa nova mentalidade enforma a
orientação da chamada Escola dos Jurisconsultos Humanistas.
A eclosão desta nova directriz do pensamento jurídico pende se a dois
factos essenciais. Um deles foi o progreso do humanismo renascentista, o
outro consistiu na decadência, verificada durante a segunda netade do século
XV, da obra dos Comentadores.
Assim, surgiu o humanísmo jurídico quinhentista. Começou a encarar-se
o direito romano como uma das várias manifestações da cultura clássica.
Foram os juristas desta escola os iniciadores do estudo crítico das fontes
romanas, os primeiros que procuraram detectar as interpolações nos textos
justinianeus.
O humanismo jurídico desenvolveu-se, de facto, sob diversas
tendências: desde a filológico-críticas, orientadas para o estudo e reconstrução
dos textos clássicos, até à que reivindicava a liberdade e autonomia do jurista
na exegese da lei, portanto, perante a opinão comum ou interpretação mais
aceite.

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Por último, considera-se que a época de Cujácio (1522/1590) como a do


apogeu da Escola Humanista.

7 – As Fontes Romano-Germânicas, em especial o Código Visigótico

Apenas se conhecem, do Reino Visigodo, três textos legais completos e


com elementos seguros sobre a autoria e a data: o Breviário de Alarico (506), a
Lei de Teudis (546) e o Código Visigótico, nas suas versões de Recesvindo
(654) e de Ervígio (681).
As restantes fontes normativas encontram-se incompletas e não contêm
indicações precisas que permitam a sua atribuição líquida aos Visigodos e, às
vezes, até uma definição inequívoca da respectiva natureza. Porém, a crítica
histórica não as coloca no mesmo plano, pois a respeito de algumas delas
existem menores dúvidas. Assim sucede com o Código de Eurico e o Código
Revisto de Leovigildo.
O Código Euriciano, promulgado pelo rei Eurico, à volta de 475,
constituiu a primeira coletânea sistemática de direito visigótico. Trata-se de
uma fonte tradicionalmente enquadrada na categoria das leis dos bárbaros
(“leges barbarorum"). Mas é de todas elas a que mais se ocupa do direito
privado. Além disso, a reconstituição que a moderna crítica histórica fez do
Código de Eurico mostra a sua larga recetividade ao direito romano vulgar. O
que não causa estranheza, dado o grau de civilização adquirido pelos
Visigodos e a possível intervenção nos trabalhos legislativos de pessoas
conhecedoras do direito romano.

Como referi, existe o texto completo do Breviário Alariciano ou Lei


Romana dos Visigodos ("Lex Romana Visigothorum"), que Alarico II sancionou
em 506. Pertence, pois, à categoria das leis romanas dos bárbaros (*leges
romanae barbarorum"). Consiste numa seleção de fontes romanas, quer dizer,
de "iura" e de "leges". A parte de "iura" é integrada, sobretudo, por duas obras
de carácter elementar: o Epitome de Gaio e as Sentenças atribuídas a Paulo.
Há, ainda, disposições dos Códigos Gregoriano e Hermogeniano, incluídas nos
"jura" por serem constituições imperiais mais antigas, e um fragmento de
Papiniano, talvez porque gozava de um prestígio muito notório.
Tem importância a interpretação do Breviario. Na verdade, sempre que
se entendeu necessário, os excertos dos "iura" e das "leges" foram
acompanhados de interpretações. Cifram-se em pequenos comentários
destinados a esclarecer o conteúdo dos fragmentos transcritos, mas que,
algumas vezes, chegam ao ponto de modificar completamente o preceito
interpretado.

Depois do Breviário de Alarico, conhece-se um diploma promulgado pelo


rei Teudis, em 546, a denominada Lei de Teudis, que se destinou a reprimir
abusos cometidos na cobrança das custas judiciais. Porém, o Código Revisto
de Leovigildo significa a grande coletânea que se segue cronologicamente ao
Breviário.
Desconhece-se o texto original deste Código Revisto. Só podemos
reconstituí-lo através dos preceitos que dele passaram ao Código Visigótico de
654, sob a epígrafe de leis antigas.

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O Código Visigótico surgiu por antonomásia. A sua promulgação ocorreu


em 654. Deve observar-se que, além desta primeira versão, a chamada forma
recesvindiana, o Código Visigótico teve outras duas: a forma ervigiana e a
forma vulgata.
Dá-se o nome de forma vulgata do Codigo Visigótico a um conjunto de
manuscritos de épocas muito diversas, que vão desde a última fase da
dominação visigótica até à Reconquista. Trata de revisões não oficiais, mas de
origem privada, da autoria de juristas e práticos do direito anónimos, que
tomam por base a forma ervigiana, introduzindo-lhe modificações e
acrescentos diversos.
Quanto à natureza intrínseca das suas disposições, o Código Visigótico
pode considerar-se um produto do cruzamento de trés correntes jurídicas:
romana, germânica e canónica. A que maior influência exerceu foi a romana.
Discute-se sobre se os juristas e legisladores visigodos conheceram e
utilizaram as fontes justinianeias. Ainda que se responda de modo afirmativo,
nunca se poderá encontrar no Código Visigótico mais do que uma influência
muito diminuta do direito justinianeu. O direito romano que o influenciou foi o
antejustinianeu, quer dizer, o contido nas "leges" e nos "iura" anteriores às
coletâneas do Corpus Iuris Civilis.
O Código Visigótico está sistematizado em doze livros, que se
subdividem em títulos, integrados por leis. Aproximadamente, três quintas
partes destas leis são encimadas pelas palavras "antiqua" ou "antiqua
emendata". As restantes apresentam-se com o nome do monarca que as
estabeleceu ou alterou.

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