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O Estado moderno tem com uma das suas prerrogativas conceder no sentido de
transferir à iniciativa privada alguns setores da economia que não lhe interessam a administração e
controle das atividades,alegando que certos ramos não apresentam lucros consideráveis ou não são
estratégicos para a economia.
No Brasil a partir da abertura econômica dos 90 iniciada pelo governo Collor,verificou-
se um intenso processo de privatizações e concessões. O endividamento brasileiro oriundos da
década de 80 dava seus frutos na década posterior,o Estado nacional não tinha mais condições de
investir em obras de infra-estruturas por causa do endividamento e sua deficiência no planejamento
territorial acentuava-se. A solução imediata era passar para as “mãos” de particulares o controle de
atividades do setor secundária e terciário,pois o orçamento financeiro do Estado agora estava
limitado.
Com essa série de concessões dada a iniciativa privada cabe a essa o papel de organizar
o espaço sob seus interesses,já que o Estado limitou a planejar e organizar o espaço com o modelo
neoliberal de economia. Com a mundialização do capital,os espaços necessitam-se reorganizar
espacialmente e reestruturar a produção para ter competitividade internacional,essa nova dinâmica
suscita uma maior velocidade nas trocas e circulação do capitais. (CHESNAIS,1996) Este seleciona
novos espaços com potencial para acumulação,e marginaliza os espaços que não conseguem
modernizar-se para atender a demanda ditada pela escala global. (SANTOS,1988)
O processo de concessões implicará nas interações espaciais,principalmente nas
interações espaciais regionais,causando colapsos na distribuição de mercadorias e capitais que
suscita na perda da possibilidade de acumulação local. Em consequência disso,as cidades
interioranas ou pequenas tem dificuldades em desenvolver-se,devido as desvantagens
concorrenciais.(SILVEIRA,2008)Esse entrave segrega os espaços,pois o grande capital que realiza
transações internacionais materializado nas multinacionais e bancos,consegue facilmente rompe-
lo,devido ao grande volume de capital que esses retem,dinamizando assim seus fluxos até o destino
final. Já o capital local fica impedido muitas de participar das movimentações e empreendimentos
regionais,o entrave causando pelas concessões alimenta às desigualdades regionais. Em vez de
promover interações espaciais mais intensas para diminuir as disparidades e mobilidades sociais,as
concessões apenas afirmam o caráter elitista do “capital maior” de segregar os territórios em
benefícios de uma minoria detentora dele.
Um caso clássico de concessão portuária concedida a iniciativa privada aconteceu em
Imbituba em 1941,naquela época o presidente da república Getúlio Vargas dá a Companhia Docas
de Imbituba a permissão para explorar comercialmente o porto no período de 70 anos,a concessão
vence agora em 2012. Esse fato é inusitado no país,um porto público sendo administrado por
empresários locais, hoje em dia quando se fala na velha autoridade portuária privada remete-se ao
caso de Imbituba que se perpetua até os dias atuais.
Só voltando a década de 1940,para entendermos porque naquelas circunstâncias foi
dada essa concessão,já que conceder portos públicos a administração particular não era comum no
país. Com a descoberta em 1870 do “ouro negro” na região de Criciúma,incentivos do governo
federal foram dados a extração desse minério,porém inicialmente a exploração não vingo,só com a
criação da Companhia Mineral Barro Branco que as atividades mineradoras começaram a funcionar
paulatinamente.(HERZMANN,2005)
Com a construção da Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina(1884) a viabilidade para
escoar a produção mineral da região sul até o litoral estava garantida. A cidade de Imbituba por estar
localizada próxima a região mineradora (112 km de distância),e apresentar um promontório rochoso
propiciando a formação de uma baía,foi escolhida pelo poder público para receber a construção de
um porto equipado para operar o transporte do carvão até Volta Redonda,sede da CSN.
A cidade no começo do século passado era constituída por vilas de pescadores de base
cultural açoriana,a economia girava em torno da fabricação de azulejos(ICISA),exportação de
farinha de mandioca e óleo de baleia para o Rio de Janeiro. Já existia o porto,porém com condições
técnicas limitadas para receber navios de grande calado.
A construção do porto Henrique Lage,empresário carioca precursor do desenvolvimento
local,foi iniciada em 1919 e teve seu término nos anos posteriores.Com a finalização das obras do
cais e melhoramento das infra-estruturas adjacentes ao porto,criava-se uma possibilidade de
integração dos municípios sul catarinenses para dinamização das suas economias,criado a partir da
exploração do carvão mineral. Vários territórios anteriormente que apresentavam pouca viabilidade
na obtenção de capital agora passam a integrar o circuito espacial de produção, caracterizando
assim um efeito multiplicador.
Os capitais agora nasciam debaixo da terra com incentivos governamentais,contando
com inúmeros mineradores das cidades vizinhas as minas,a ferrovia Dona Tereza Cristina
construída com recursos ingleses tem o papel de transportar o minério até o porto H.L.,aperfeiçoado
para receber esse tipo de carga.Esse complexo regional constitua estratégico para o
desenvolvimento nacional,embora medidas protecionistas foram tomadas pelo governo nacional
para proteger o carvão do Sul do Estado de SC,já que sua qualidade era questionável.A Oferta de
carvão de ingleses e estadunidenses desafiava a competitividade com o carvão catarinense,por isso
medidas nacionalistas foram tomadas durante o governo Vargas para proteger esse minério.
Depois desse recorte temático e temporal,situando-o com a própria história do porto e
sua área de atuação,fica mais fácil entendermos porque foi dada uma concessão de um porto público
à administração privada em 1941.É do interesse do poder público no país administrar os portos,já
que as trocas comerciais são importantes para a absorção de recursos financeiros,terminais de
cargas pequenos ou portos que não são estratégicos,esses sim são repassados à particulares,porém
esse não era o caso de Imbituba,pois esse porto catarinense era importante para o desenvolvimento
do país,já que operava com uma commodite.
O discurso central é porque foi dada essa concessão exclusivamente a esse porto,sabe-se
que é importante o controle do poder público sob esses fixos,pois são estratégicos para o
país,devido ao modal marítimo(longo curso) fazer quase a totalidade das trocas com o exterior.Nos
dias atuais só dar-se uma concessão há um porto por dois motivos,ou é um terminal pequeno ou o
porto não é importante para os planos da União.
O porto de Imbituba em 1941 era importante para o desenvolvimento nacional,pois o
país estava num período de substituições de importações,as indústrias brasileiras estavam se
fortalecendo nesse período,o carvão mineral era a principal fonte energética mundial e esse porto
era especializado no carregamento de carvão mineral,que era explorado na região carbonífera de
Criciúma com destino final a CSN,no Vale do Aço.
A concessão do porto foi dada a CDI porque o então presidente da república Getúlio
Vargas(1941) era amigo de Henrique Lage,audacioso empresário carioca que realizou investimentos
pesados no região sul de Santa Catarina.Essa parceria rendeu acumulação de capitais e impulsionou
a região minerada e sua hinterlândia,contribuindo para a diversificação das atividades indústrias,
gerada a partir do excedente do capital vindo das minas.
As mudanças decorrentes da crise do carvão causaram uma reestruturação das infra-
estruturas no município,anteriormente o modal ferroviário era o mais utilizado e eficiente.Com a
diversificação de cargas que o porto sofreu com o início da abertura econômica,a malha rodoviária
foi acionada para escoar a demanda existente.E com a ampliação dos berços de atracação
atualmente,o porto movimentará maiores fluxos nos próximos anos,o planejamento torna-se
essencial.
A curto prazo a fluidez no território imbitubense será comprometida,pois a infra-
estruturas existentes,principalmente a rodovia M.K.B apresenta um excesso de trafego
diária,causado principalmente pelo aumento do número de veículos de pequeno porte. Esse é o
principal acesso da BR-101 até a entrada do porto,diferentes veículos utilizam essa via para chegar
ao centro da cidade,dificultando a fluidez desses veículos com cargas pesadas.A duplicação dessa
rodovia é necessária para resolver esse gargalo infra-estrutural,que atrapalha não apenas as
operações no porto,mas sim a mobilidade das pessoas que precisam dessa via do município.
A Ferrovia Litorânea é um projeto audacioso integrando a costa litorânea
longitudinalmente, ligando os portos de São Francisco do Sul e Imbituba. Esse obra tem dois viés
positivos importantes: proporcionar um transporte barato e descongestionar a BR-101 e os acessos
portuários,trazendo competitividade para a produção catarinense,mas para isso o modal ferroviário
tem que estar conectado territorialmente entre si e com os outros moldais de transportes.
Referências Bibliográficas
COCCO,Rodrigo Giraldi;Silveira,Márcio Rogério.Interações Espaciais,Transporte
Público e Estruturação do Espaço Urbano.
SILVEIRA,Márcio Rogério.Reestruturação dos sistemas de movimento e da
logística e seus impactos regionais e urbanos no território paulista.
SILVEIRA.Márcio Rogério.Transporte ferroviário no Brasil:da reestruturação da
década de 1990 às Parcerias Público-Privadas.
SILVEIRA.Márcio Rogério.Logística,sistema de movimento,fluxos econômicos e
interações espaciais no território paulista:uma abordagem para a geografia dos transportes e
circulação.
CHESNAIS,François.A mundialização do Capital.In: Serviços,”nova fronteira”
para a mundialização do capital.São Paulo:Ed. Xamã,1996.
HERZMANN,Gabriel.As transformações no porto de Imbituba e seus reflexos
urbano-regionais. Monografia submetida ao Departamento de Ciências Econômicas.
Florianópolis:UFSC,2005.104f.
SANTOS,Milton.Metamorfoses do espaço habitado.São Paulo:Ed.Hucitec,1988.