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Aproximação à fortificação manuelina e

joanina em Évora
Rui Carita
Universidade da Madeira

Introdução

A fortificação renascentista em Portugal surge com a crescente


utilização da artilharia e com a divulgação da tratadística internacional
relacionada com toda essa problemática. Pode-se então caracterizar a
conceção da nova arquitetura militar, pelo recurso a conceitos mais
teóricos e à matemática, tudo ultrapassando assim a configuração
tradicional até então utilizada pela arquitetura medieval,
essencialmente prática e construída em altura. Embora ainda do
domínio dos mestre-de-obras reais, os mesmos vão adapta-se
progressivamente aos novos conceitos táticos, especialmente
divulgados a partir de Itália, mas que ganham especiais configurações
nos reinos ibéricos e nos seus domínios ultramarinos. Desde os inícios
e meados do século XIV que os altos muros se haviam começado a
confrontar negativamente com a utilização dos engenhos
pirobalísticos, não resistindo à maior parte dos assédios, pelo que nos
alvores do renascimento foram objeto de inúmeros estudos e
inovações, que a imprensa e a circulação destes técnicos pelo espaço Bombarda e castelo de Pinhel.
alargado dos impérios ibéricos divulgaram exponencialmente.
A artilharia tinha começado a ser utilizada quase um século
antes, mas só com a sua divulgação ao longo do século XIV se
começou a compreender a necessidade de adaptar em Portugal as
construções para poderem resistir aos novos meios de combate. Desde
D. Afonso V que se importava armamento pesado, especialmente da
Flandres, como ficou patente nas tapeçarias de Pastraña (PIMENTEL e
GEENS, 2010), por exemplo e, com D. João II começam a testar-se em
Portugal a utilização das novas armas de fogo, inclusivamente
embarcadas, fazendo-se experiências nas barras de Setúbal e de
Lisboa.
As primeiras experiências de novas construções foram levadas a
efeito nas barras de Lisboa e de Setúbal, ao longo das respetivas
margens, passando depois para as fortalezas da raia com Castela, como
na fronteira do Coa e depois em Trás-os-Montes. Após a perfeita Trom montado sobre reparo e com
definição dos interesses territoriais dos dois reinos e com as longas mantelete, 1475 (c.)
estadias da corte de D. Manuel no Alentejo, progressivamente vão

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surgir uma série de inovadoras obras de arquitetura nesse
espaço, fruto não só de uma nova maneira de entender a
arquitetura militar renascentista, mas também do estágio
de quase todos esses novos arquitetos nas campanhas de
obras do norte de África.
Nas décadas anteriores e, pelo menos a partir de
1488, assistia-se já a uma grande campanha de obras em
muitas das fortalezas da raia, parecendo datar desses anos
a construção de barbacãs mais baixas e assentes em
sapatas, como se reconhece no Livro das Fortalezas de
Duarte de Armas, de 1508, onde o autor refere algumas
dessas obras ainda em curso, como o caso da nova barbacã
de Almeida (ARMAS, 1997, 72 v. e 73). O sentido geral medieval com a construção de grandes torres de
menagem ainda se mantém, mas a progressiva disseminação de cortinas de muralhas assentes em
sapatas e dotadas de troneiras evidencia a divulgação do armamento pirobalístico.
No final do reinado de D. João II e, muito
especialmente ao longo do de D. Manuel,
implementam-se as novas fundições de Lisboa,
modelos no reinado seguinte exportados para a Índia,
Ceilão e, depois, para Macau. Para estas fundições
são contratados artífices estrangeiros, alemães,
flamengos e outros, passando a fundir as bocas-de-
fogo já não em partes, como a maior parte havia sido
até então, mas como uma peça inteira, incluindo boca, bolada, reforços, munhões, culatra, etc., pelo que
as novas armas se passam a designar por peças de artilharia.

Os irmãos Arruda

A família Arruda dos mestres das obras reais parece descender de João de Arruda, mestre do
mosteiro da Batalha, que em 1485 se desloca a Beja para avaliar umas casas para ampliação do paço da
infanta D. Beatriz, mãe de D. Manuel, anexo ao convento da Conceição daquela cidade (VITERBO, 1988,
I, 65). Diogo de Arruda (c. 1470-1531) aparece, entre 1508 e 1510, como o mestre do baluarte do Paço da
Ribeira, erguido por ordem de D. Manuel em Lisboa, na
área à margem direita do rio Tejo e cujo controlo das
obras estava entregue a Bartolomeu de Paiva, o Amo,
assim chamado porque casado com Isabel de Abreu, que
fora ama-de-leite do príncipe D. João, futuro rei D. João
III. Este baluarte era o remate do então palácio real e
possuía uma torre fortificada decorada com as armas do
soberano, o que mais tarde seria repetido na Torre de
São Vicente a par de Belém, erguida entre 1514 e 1519
pelo seu irmão Francisco de Arruda (c. 1475-1547).
O mestre Diogo de Arruda foi um dos grandes
nomes associados às remodelações manuelinas, pelo
menos desde 1510 (IAN/TT, CC, III, 4-16), sendo depois mestre do Convento de Cristo, do Alentejo, paços
reais de Évora, etc. Entre 1512 e 1514 estava com o irmão à frente de quase 150 homens a trabalharem

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nas muralhas de Safim, muitos dos quais de Tomar (VITERBO,
ibidem, 48). Em finais de 1513 passavam para a praça-forte de
Azamor, cujo primeiro projeto era de Francisco Danzinho ( DIAS,
2008, 97), onde desempenharam funções idênticas, levantando o
castelo novo, os baluartes e reforçando as muralhas, aí estando
até meados de 1516, dirigindo um conjunto também de cerca de
150 homens. Entretanto, em março de 1514 encontravam-se em
Mazagão, onde haveriam de dirigir idêntica campanha (VITERBO,
ibidem, 48-49), hoje parcialmente entaipada pela quase total
reforma operada em 1541 por Benedito de Ravena (c. 1485-1556) e
Miguel de Arruda (c. 1500-1563), o último, filho de Francisco de
Arruda.
Os elementos de fortificação utilizados pelos irmãos
Arruda no Norte de África são hoje claramente identificados na
presença de fortes baluartes redondos assentes em largas sapatas
e com canhoneiras baixas para artilharia pesada, ligados por
muros com idênticas sapatas. As canhoneiras médias parecem ter
sido para ser utilizadas por artilharia mais ligeira, ou de maior
alcance, como algumas colubrinas de longos e finos tubos. As
esplanadas superiores eram igualmente dotadas de canhoneiras,
podendo em alguns casos, como em Azamor, no baluarte de São Torreão de Safim, 1510 (c.)
Cristóvão e no do Raio, ainda utilizarem mata-cães de inspiração
claramente medieval, mas perfeitamente justificável à época no Norte de África, mas o que viria a
mudar poucos anos depois.
Algumas fortificações castelhanas, como os castelos de Villalpando e Berlanga-de-Duero
apresentam, tal como depois, o castelo artilheiro de Vila Viçosa, torreões (torrioni) baixos e maciços
nos ângulos dos muros, em acordo com o tratado de Albrecht Dürer, publicado em alemão ( 1527) e
traduzido para o latim em Paris (1535). Este tratado teria sido traduzido para português por Isidoro de
Almeida, mas que a ter concluído o mesmo, não chegou a ser editado. Somente a partir da década de 40
do século XVI é que a superioridade do baluarte poligonal foi reconhecida internacionalmente, e os
torreões foram mais ou menos suplantados.
Francisco de Arruda poderia estar desde finais desse ano de
1514 em Lisboa, onde deveria ter iniciado a Torre de São Vicente e
par de Belém, coordenando um conjunto de mestres do convento
dos Jerónimos, havendo pagamentos seus, pelo menos, de 2 de
outubro de 1516 (IAN/TT, CC, III, 6-35). O assentar de uma das
guaritas da Torre de Belém num rinoceronte é bem indicativo do
espanto que esse animal provocou entre os portugueses na época.
O pintor Albrech Dürer (1471-1528) solicitou, inclusivamente um
desenho do estranho animal, que teria sido feito por António de
Holanda, divulgado depois em gravura por toda a Europa e que
conheceu inúmeras edições e versões (eds. 1515, etc.).
De volta a Portugal, Diogo parece ter-se fixado em Évora, o
mesmo acontecendo ao irmão, que ali deixou propriedades, mas
circulando constantemente pelo país, tendo estado em meados de
1520 a visitar e inspecionar as obras do convento de Santa Clara de

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Estremoz, pelo que se lhe pagou, em novembro, por 14 dias, a
70 reais cada, 980 reais, os quais foram recebidos pelo pedreiro
Pero Rodrigues, da mesma vila, em seu nome (IAN/TT, CC, II, 92-
103). No ano seguinte, a 11 de maio seria nomeado por D.
Manuel, mestre das obras reais do Alentejo (Ib., Chanc. D. Manuel
I, 18, 112 v.) e, a 17 de agosto, medidor de todas as obras do
reino (Ibidem, 113 v.), embora, pelo menos desde 6 de julho desse
ano que desempenhava essa função, assim sendo nomeado pelo
vedor das obras da “casa do cobre” (Ib., CC, II, 27-24).
Nos anos seguintes manteria essa atividade, aparecendo
em março de 1522 a medir as obras do convento do Espinheiro
de Évora (Ib., II, 97-86) e sendo, em 28 de janeiro de 1525, já por
D. João III, nomeado mestre dos novos paços reais da mesma
cidade de Évora, dado o falecimento do mestre Martim
Lourenço (Ib., Chanc. D. João III, 18, 49 v.). Nesse mesmo ano seria
enviado à vila dos Alfaiates para medir obras ( Ib., CC, I, 32-27) e,
em 1529, voltaria a ser enviado ao Norte de África para
inspecionar as fortalezas, na companhia do engenheiro Duarte
Coelho, que andara muito tempo por Itália e de João de Castilho Torreão de Vila Viçosa, 1525 (c.)
(c. 1470-1552). Esta informação é de frei Luís de Sousa, citada
por Viterbo (I, 1988, 54), mas que não coincide com a carta enviada a António da Silveira, capitão de
Arzila, onde somente são referidos Duarte Coelho e João de Castilho (IAN/TT, Ib., 215-216).
O mestre Diogo de Arruda ainda aparece referido em 1530 em Setúbal, a medir e avaliar as obras
que Gil Fernandes ali executara e, em maio, em Coimbra, para examinar as obras do mosteiro de Santa
Cruz e sobre as mesmas dar a sua informação ( VITERBO, 1988, I, 54). Faleceu nos primeiros meses de
1531, pois a 10 de maio era o seu irmão Francisco de Arruda nomeado para lhe suceder no cargo de
mestre-das-obras do paço de Évora e medidor de todas as obras do reino (IAN/TT, Chanc. D. João III, 9, 37
v. e 44 v). Francisco de Arruda faleceria a 30 de novembro de 1547, sendo no ano seguinte nomeado para
o substituir o seu genro Diogo de Torralva (1500-1566), que seguiria idêntico trajeto profissional do
sogro e, inclusivamente a intervir em obras iniciadas pelo mesmo.

O castelo manuelino de Évora

O castelo novo de Évora, ou castelo real, foi mandado levantar por D. Manuel, em 1518, tendo o
projeto sido entregue a Diogo de Arruda (PEREIRA, 1989, 21), embora não conheçamos documentação
coeva comprovativa que taxativamente o indique. No entanto, tendo os irmãos Arruda participado nas
campanhas de obras de Safim, Azamor e Mazagão, tal como no ano anterior, 1517, na execução do
projeto do castelo artilheiro de Vila Viçosa, parecem não restar quaisquer dúvidas na direção e execução
do novo grande projeto real de Évora.
O conjunto imponente de planta quadrada, com quatro torres quadrangulares nos cantos, seguindo
o modelo renascentista de planta centrada que se desenvolve em redor de um pátio também quadrado,
denota uma clara influência das fortalezas senhoriais italianas deste período. As proporções
harmoniosas do edifício refletem-se num claro equilíbrio de volumes, em que o aspeto robusto próprio
da fortaleza e do quadrilátero por ela formado se atenuam pela elevação dos alçados, e pela fenestração
ampla, disposta regularmente, embora não saibamos como era originalmente, pois que não temos
qualquer registo iconográfico dos alçados.

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É possível encontrar alguns paralelismos, ao nível da
planta, apesar das alterações sofridas, com o Castelo de Évora
Monte, da autoria do mesmo arquiteto, embora de alguns anos
depois e mais um palácio ou pavilhão de caça que uma
fortaleza. A comparação é algo abusiva, se estabelecida com o
castelo artilheiro de Vila Viçosa, em princípio, planeado um
ano antes, por 1517 e mais de acordo com os baluartes
levantados pelos dois irmãos nas praças de Duquela: Safim,
Azamor e a primitiva fortaleza de Mazagão. A opção pelos
torreões quadrados não foi seguida pelos irmãos Arruda nas
suas restantes obras até então e também não o seria, depois na
reconstrução do castelo de Évora Monte. O impacto visual do
castelo real de Évora também era muito maior, por certo,
diferenciando assim as obras reais das ducais.
O desenho geral do Castelo Artilheiro de Vila Viçosa,
dada a sua semelhança com os de Leonardo da Vinci (1452-
1519), de 1490 e 1504, tem sido alvitrado tendo tido a
participação Benedito de Ravena (1485 - 1556). Este engenheiro
italiano, trabalhou em Pamplona entre 1517 e 1522, e depois,
por volta de 1526, sob as ordens do condestável de Castela,
Inigo Fernández de Velasco, 2.º duque de Frias ( fal. 1528), sogro
de D. Jaime de Bragança. É possível assim que Benedetto da
Planta de Miguel Luís Jacob, 1737
Ravenna tendo estado ao serviço do genro do condestável de
Castela, D. Jaime, quarto duque de Bragança ( 1479-1532), tenha
fornecido o desenho inspirado em Da Vinci para o Castelo Artilheiro
de Vila Viçosa, que segue de perto os seus desenhos feitos por 1490 e
por 1504.
A primeira fase do castelo real de Évora estaria pronta em 1525,
quando foram feitas cartas de quitação com os vedores da obra, os
fidalgos cavaleiros Jorge de Paiva e Pero Álvares de Faria, onde se
refere terem sido gastos nos trabalhos 954.213 reais, provenientes dos
rendimentos da casa real, da casa da Mina e do almoxarifado da cidade
de Évora (ESPANCA, 1966, 15). É provável que o conjunto ainda tenha
sofrido alterações no final da vida de Francisco de Arruda, falecido em
1547 ou, mais provavelmente, com o seu genro Diogo de Torralva
(1500-1566), na construção das torretas vincadamente renascentistas que
encimam as escadas dos baluartes, visíveis do pátio interior e dotadas
interiormente de elegantes escadas de caracol. Estas torretas começam
a aparecer em obras de João de Ruão e de João de Castilho, como o
caso do claustro principal de Tomar, iniciado por 1550, mas refeito
após a morte de Castilho, em 1566, por Diogo de Torralva. No entanto,
na planta Miguel Luís Jacob do castelo real antes da intervenção não
figuram essas escadas, pelo que parecem ser assim da campanha de
obras do século XVIII.
O conjunto viria a sofrer sucessivas campanhas de obras entre
1577 e 1579, de 1580 a 1582 e ainda em 1639 e 1640, antes da sua
Quartel das Esquadras, reforma de 1737 a 1767
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total reformulação em 1737. Nos finais do século XVI e no XVII trabalharam ali os oficiais de pedraria
Mateus Neto, mestre do cano da Água de Prata, Brás Godinho, Francisco Gil e Luís Gomes (ESPANCA,
ibidem). Ao longo dos anos seguintes aparece referenciado em algumas plantas gerais das propostas
barrocas para a fortificação de Évora, curiosamente só apresentando em algumas os baluartes virados
para fora da cidade, mas o que nos parece simplificação do copiador do desenho. Na planta de Nicolau
de Langres (c. 1610-1665), a mais antiga, datável de 1659, aparece com os quatro baluartes (BNP,
cartografia, cod. 7445), simplificado depois nos desenhos seguintes ( GEAEM, 1809 1A/15A/21) e nas
gravuras.
A planta de Miguel Luís Jacob (c. 1710-1771), de 1737, apresenta o castelo real como o
conhecemos hoje para o lado de fora da cidade, com dois torreões gémeos, mas com os torreões para a
cidade de tamanhos diferentes. O engenheiro Jacob iria optar pela sua uniformização pelo torreão de
maiores dimensões, com um corpo edificado intermédio de maiores dimensões, o que retirou
protagonismo aos mesmos, pelo menos ao nível da planta.

A reforma de Miguel Luís Jacob

Data 8 de janeiro de 1736 a


criação por D. João V do Regimento de
Dragões de Évora e de 1737, o projeto
de adaptação do edifício do velho
castelo real pelo capitão engenheiro
Miguel Luís Jacob (c. 1710-1771), que
passa depois a dirigir a obra. As obras
decorriam conforme previstas
inicialmente em 1759, mas são
suspensas devido à guerra com
Espanha, recomeçando entre 1760 e
1762, com prováveis alterações ao
projeto inicial. Data de 1772 a
conclusão das cavalariças e, durante o
reinado de D. Maria I, a partir de 1795,
inicia-se a conclusão dos trabalhos,
mas que se prolongam até ao século seguinte. A conclusão
dos trabalhos e a ocupação do edifício pelo Regimento de
Dragões só veio a efetivar-se em 1807.
A fachada principal reflete, nos elementos ornamentais
e ritmo de vãos, as obras efetuadas no período de Dona
Maria, especialmente no coroamento do corpo central por
frontão de arco abatido e não como o triangular planeado por
Jacob. No interior subsistem algumas pinturas murais
neoclássicas, sendo as da biblioteca de inferior qualidade,
evidenciando alguma pobreza decorativa e capacidade de
adaptar e conceber uma decoração para este espaço
(CAETANO, Joaquim, 2008).

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Conclusões

O património militar edificado português dos inícios e


meados do século XVI ganhou uma enorme qualidade com os
irmão Diogo e Francisco de Arruda, como depois com o
homónimo Diogo de Arruda, em princípio filho de Francisco,
especialmente após a passagem por Portugal de diversos
especialistas italianos, mas onde o último já trocaria impressões
com os mesmos em pé de igualdade. Devem-se a estes homens,
por exemplo, a célebre cisterna de Mazagão, hoje em El Jadida,
Marrocos, o primeiro monumento português a fazer parte da lista
da UNESCO. Se as fortificações portuguesas ultramarinas das
primeiras décadas do século possuem já abundantes estudos, fruto
de contingências políticas várias, o mesmo não acontece com as
continentais, muito menos estudadas.
O castelo real de Évora é uma obra notável e grandiosa de
arquitetura militar renascentista, levantada a partir de 1518 e que,
como obra real, se destaca pelas suas avantajadas proporções, que
teriam sido ímpares na sua época. Assim, embora fortemente
intervencionada
no século XVIII
mantém quase intocáveis as bases dos enormes torreões
renascentistas, outrora virados ao exterior da cidade.
Estes torreões assentam em importante sapata e são
marcados na base por grosso cordão torso de cantaria
esculpida e relevada, mantendo também as primitivas
canhoneiras manuelinas, tendo a reforma do século
XVIII somente acrescentado os andares superiores.
Deveriam ser superiormente rematados por merlões e
canhoneiras semelhantes às do castelo artilheiro de Vila
Viçosa, mas que não sobreviveram àquela reforma
barroca e neoclássica. Encontrando-se ainda ao serviço
das forças armadas e integrados no baluarte seiscentista
do Picadeiro, o que lhes permitiu, muito provavelmente
a sobrevivência até aos dias de hoje, apresentam pouca
visibilidade exterior e quase passam despercebidos a
quem contorna a cintura fortificada da cidade.

Cronologia do Castelo Manuelino de Évora

1517 – início das obras sob projeto e direção de


Diogo de Arruda; 1525 – finalização da primeira
campanha de obras com a quitação dos vedores da obra, os cavaleiros Jorge de Paiva e Pero Álvares de
Faria, tendo-se aplicado nos trabalhos 954.231 reais das rendas da casa real, da casa da Mina e do
almoxarifado de Évora; 1577 - 1580 - sofre obras importantes com vista à sua adaptação a depósito do
Celeiro Comum, criado no reinado de D. Sebastião; 1639-1640 – novas obras de adaptação do castelo

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novo de Évora; 1736, 8 jan. - criação por Dom João V do Regimento de Dragões de Évora; 1737 –
projeto de adaptação do edifício pelo capitão engenheiro Miguel Luís Jacob, que passa a dirigir a obra;
1759 - as obras decorrem conforme previstas, mas são suspensas devido à guerra com Espanha, 1760-
1762 – prováveis alterações ao projeto inicial; 1772 - conclusão das cavalariças; 1795 - durante o
reinado de D. Maria I, inicia-se a conclusão dos trabalhos, que se prolongam até ao século seguinte;
1807 - conclusão dos trabalhos e ocupação do edifício pelo Regimento de Dragões; Séc. 19 - construção
do antigo picadeiro, atual ginásio; realização das pinturas murais; 1940 - o Regimento dos Dragões é
substituído pelo Regimento de Infantaria número 16 (RI 16); 1992 – instalação da sede do Quartel
General da Região Militar Sul; Séc. 20 - reforço da cobertura do ginásio com arcos de betão; 2002, 07
ago. - Proposta de classificação pelo Quartel-General da Região Militar Sul; 2002, 23 out. - Proposta de
abertura do Processo de classificação pelo IPPAR/DR Évora; 2002, 25 out. - Despacho de abertura do
Processo de classificação pelo vice-presidente do
IPPAR; 2004, 20 dez. - Proposta da DR Évora
para a classificação como IIP - Imóvel de
Interesse Público; 2007, 12 dez. - Parecer do
Conselho Consultivo do IGESPAR a propor que
se estude a eventual classificação autónoma
como MN - Monumento Nacional; 2008, 09 set. -
Proposta DRC Alentejo para a classificação
como MN; 2010, 23 mar. - Parecer favorável à
classificação pelo Conselho Consultivo do
IGESPAR; 2011, 23 maio - Despacho de
arquivamento do Diretor do IGESPAR, por
superveniência da classificação como MN do
Centro Histórico de Évora, por força da inscrição
na Lista do Património Mundial da UNESCO,
que abrange o imóvel.

Bibliografia:
ARMAS, Duarte de, Livro das Fortalezas, fac-simile do Ms. 159 da Casa Forte, com introdução
de Manuel da Silva Castelo Branco, Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo e INAPA, 1997;
DIAS, Pedro, A Arquitectura dos Portugueses em Marrocos, 1415-1769, Lisboa e Rabat, Portugal
Telecom, 2000 e Norte de África, vol. 1 da coleção Arte de Portugal no Mundo, Lisboa, Público, dez.
2008; CAETANO, Joaquim, ficha do Quartel das Esquadras de Évora, in www.monumentos.pt, 2008;
CONCEIÇÃO, Margarida Tavares da, “Os desenhos do engenheiro militar Miguel Luís Jacob e a
cartografia das praças de guerra no século XVIII”, com. IV Simpósio Luso-Brasileiro de Cartografia
Histórica, Porto, 9 a 12 de novembro de 2011; ESPANCA, Túlio, Fortificações e Alcaidarias de Évora,
A Cidade de Évora, nº 9-10, Évora, 1945; ibidem, Inventário Artístico de Portugal - Concelho de
Évora, Vol.7, Lisboa, 1966; LIMA, Miguel Pedroso de, O Recinto Amuralhado de Évora, 1996;
PEREIRA, Paulo, Evoramonte: a Fortaleza, Lisboa, 1989; PIMENTEL, António Filipe e GEENS,
Catherine, A Invenção da Glória. D. Afonso V e as tapeçarias de Pastrana, catálogo de exposição com
coordenação de José Alberto Seabra Carvalho e Teresa Pacheco Pereira, Lisboa, Museu Nacional de
Arte Antiga, maio de 2010; VITERBO, Francisco Marques de Sousa, Dicionário Histórico e
Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses, com introdução de Pedro Dias,
3 vols., Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, maio de 1988;

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