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intervenções arqueológicas
Mónica Salgado1
“Aos 8 de Maio de 1762, pelas sette horas e meia da tarde, tempo em que todo
este reino de Portugal estava bloqueado em roda pelas armas hespanholas,
esta provincia invadida, e cercada esta cidade por um exercito de 30 mil
homens, estando a atirar a artilharia do castello e Rebolins ao sobredito
exercito inimigo, logo que descarregou um canhão mais contiguo à torre
grande, passados quatro ou cinco minutos, arrebentou o armazém da
pólvora, arruinando quasi todo o castello, e fazendo duas brexas exteriores,
uma para a parte norte, por onde cabião onze homens, e outra para a do
meio dia, em correspondência, por onde cabião nove, arruinando também a
melhor parte do castello para oriente, que entrava para a cidade, e metade
da torre grande, dando em terra com todo o edifício e oficinas que dentro
delle havia, em cujas ruinas falleceo muita gente, que mais della se não
pode averiguar quem era, por se acharem queimados do fogo que alimentou
com mais de mil e quinhentas arrobas de pólvora.” Alves, (2000)
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O castelo possui um terreiro, primitiva praça de armas e, no centro, tem um poço
com acesso por escadas (72), e protegidas por gradeamento metálico. A Torre edificada
no reinado de D. João I não tem uma das paredes e as abóbadas da mesma só se definem
na sua zona de arranque. Ainda “subsistem extensos panos de muralha, com aparelho
incertum, que rodeiam o núcleo antigo da cidade, com caminho de ronda e rasgadas por
portas de arco ligeiramente quebrado: Portas da Senhora do Amparo, Falsa e Postigo,
uma delas protegida por matacães. A primeira, é em arco apontado, assente em impostas
salientes, moldurado por aduela, protegida por duas cubelos quadrados e intradorso
em arco de volta perfeita com moldura; aqui, surge uma pintura alusiva à Senhora do
Amparo. Nas muralhas, rasgam-se várias seteiras e possui duas escadas de acesso ao
caminho de ronda, encravadas nas faces dos muros. Possui um terreiro, primitiva praça
de armas e, no centro, tem um poço com acesso por escadas, actualmente obstruídas e
protegidas por gradeamento metálico. A cidade mostra traçado octogonal tendo como
eixo o Largo de D. João III, Rua da Costanilha e atravessada pela Rua do Abade de
Baçal. No canto S. situa-se a Sé de Miranda e Paços Episcopais. (…) A cantaria nesta
zona vai desaparecendo deixando à vista o material de enchimento, tendo os muros cerca
de 2 metros de espessura. A abóbada de parte indeterminada do castelo só existe na sua
zona de arranque, tendo caído recentemente algumas cantarias, com porta a nível térreo
e, superiormente, uma seteira.” Jana (1994) e Costa (2001)
Uma das particularidades da vila medieval era a existência de uma couraça (ainda
desenhada por Duarte d’Armas nos inícios do século XVI), que protegia o acesso dos
moradores ao rio, estrutura desmantelada durante a época moderna.
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inadequada e D. Afonso III iniciou uma política distinta, que teve na fundação de novas
vilas urbanas a sua face mais visível Gomes (1993). No território de Miranda do Douro,
a nova vila foi fundada por D. Dinis em 1286, culminando, desta forma, a transferência
de poder do antigo castelo de Algoso, cabeça-de-terra até essa data Teixeira (2004:182).
Apesar desta alteração, o novo modelo organizativo não dispensava a edificação de
estruturas militares.
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• 1213 - Miranda é restituída a Portugal por Afonso IX de Leão;
• 1217 - D. Afonso II confirma o foral;
• 1286 - D. Dinis concede foral e processam-se obras na mesma;
• 1294 / 1299 - D. Dinis manda reedificar o castelo;
• 1325 - elevação à categoria de vila;
• 1371 - Miranda é restituída após o Tratado de Évora;
• 1383 – melhoramento das muralhas e concessão da praça a Pedro Homem de
Távora;
• 1400 - o Mestre de Alcântara põe cerco à Praça;
• 1408 - conversão da vila em couto de homiziados;
• 1449, 28 junho - o castelo de Bragança, conjuntamente com o da cidade, o castelo
de Outeiro e Miranda e outras terras foram doadas por juro e herdade por D.
Afonso V ao I Duque de Bragança;
• séc 16 – desenho e de Duarte de Armas, mostrando planta quadrangular irregular,
adaptando-se ao terreno, composta pelo castelo, muralha que envolvia a povoação
e barbacã; torre de menagem quadrangular, formando com mais quatro torres
poligonais, praça de armas, no centro da qual se situa o poço, considerado como
muito bom; portas protegidas por torres laterais;
• 1510 - D. Manuel outorga foral novo;
• 1540 - a bula papal “Pro Excellente Apostolicae” transforma a vila em diocese;
• 1545 - D. João III eleva Miranda a cidade;
• 1646 - Intervenção das tropas na guerra da Restauração;
• 1664 - D. João IV manda reedificar o castelo preparado para usos de artilharia;
• 1710 - o castelo cai nas mãos de Castela;
• 1746 - obras dirigidas por Luís Xavier Bernardo;
• 1762 - explosão do paiol de munições, com cerca de 1500 arrobas de pólvora,
destrói grande parte da cidadela, levando à queda da praça, ao fim de três meses;
• 1804, 28 de dezembro - informação de que a Província de Trás-os-Montes não
tinha praça, forte ou fortaleza ou artilharia alguma de préstimo, devido à invasão
espanhola de 1762 ter arruinado a Praça de Chaves, a de Bragança e a de Miranda,
assim como alguns castelos;
• 1861, 23 de setembro - circular do Ministro da Guerra sobre a situação das
fortificações da Província; e a 5 Outubro - em resposta, informa-se que nesta
divisão militar não existia praça, forte ou castelo, porém uns troços de antigas obras
permanentes cujo estado de abandono atestava em absoluto a sua inutilidade; em
caso de guerra, poderiam resistir a simples golpes de mão, o Forte de São Neutel
e os fragmentos das muralhas de Chaves e Praça de Miranda do Douro, auxiliadas
por meio de cortaduras e outras obras de fortificação.
Intervenções realizadas:
DGEMN:
• 1946 / 1947 / 1948 / 1949 - restauro das muralhas;
• 1950 - apeamento de partes em derrocada e fechamento de juntas;
• 1968 - Reparação de cantarias derrubadas na porta S.;
• 1971 - consolidação de parede do antigo paiol junto à torre;
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• 1973 - consolidação do troço de muralha junto ao Paiol;
• 1981 - beneficiações diversas.
Mário Barroca defende a existência de uma fase construtiva Proto românica (meados
do século XI), na qual se opta por uma regularização do aparelho construtivo, evitando o
uso de silhares com cotovelos muito pronunciados. Este tipo de aparelho de construção
apresenta uma crescente “profissionalização” dos estaleiros, iniciando-se a separação
de pedreiro talhante de pedreiro assentador. A nível arquitetónico, os castelos iniciam
a adoção de torreões a flanquear os seus muros. Assim, de acordo com a tipologia dos
muros, Mário Barroca defende a existência de um burgo primitivo (Século IX a finais XII),
que ocupava a a área compreendida entre a Rua da Costanilha e o Castelo. “No entanto,
atendendo ao que se conhece do ritmo da Reconquista Cristã, a presúria de Miranda
deverá ter ocorrido nos finais do Séc. IX ou inícios do Séc. X, depois de 868-872 (presúrias
de Porto e Chaves) e antes de 893 (presúria de Zamora). Na ausência de elementos mais
seguros, diríamos que a conquista deverá ter ocorrido próximo da tomada de Zamora,
da qual não pode ser dissociada. A muralha de Miranda do Douro é, obviamente, muito
posterior a estes remotos tempos, fruto da reconstrução de D. Dinis e das remodelações
de D. João I e de monarcas posteriores. No entanto, junto da Porta Oeste, que dá acesso
à Rua da Costanilha, uma das ruas com maior número de casas medievais e manuelinas
de Miranda do Douro, encontramos um troço de muralha com características muito
arcaicas. A reforma de D. Dinis alterou o sistema defensivo da Porta, reconstruindo-a
integralmente e dotando-a de duas possantes torres de planta quadrada. Mas à esquerda
das torres e da Porta, preserva-se reaproveitado um pano de muralha que pertencia a
um sistema defensivo mais antigo, que foi quase integralmente eliminado pela reforma
dionisina. Esse troço de muralha apresenta aparelho não-isódomo, com rolhas e cunhas,
denunciando a técnica construtiva pré ou proto-românica, podendo ser atribuído ao Séc.
XI. Apesar de, tecnicamente, contrastar muito com toda a restante muralha de Miranda,
este troço chegou até hoje inédito, passando despercebido ao olhar dos investigadores.”
Barroca (2008-2009).
Tal, como Mário Barroca, também, Ernesto Vaz defende a existência de uma
fortificação fundada durante os séculos IX-XI, aquando da Reconquista Cristã. Esta
fortificação albergaria uma população mais ganadeira e pastoril que agrícola, que se
refugiaria ali apenas nas alturas de maior ofensiva cristã pelo controlo do vale do Douro.
Na época de D. Dinis, são, adossadas, a esta fortificações novas estruturas, construídas em
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opus vittatum mixtum. Nesta obra, Ernesto Vaz analisa as alterações do sistema defensivo
da cidade de Miranda do Douro. Salienta-se a fase de aumento do perímetro amuralhado
nos finais do século XVI, necessário pela edificação da Sé e do Paço Episcopal. E, nesta
intervenção, é aberta mais uma porta. Vaz (2008).
Intervenções Arqueológicas
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Em 2005, numa intervenção arqueológica, a Nordeste do castelo, foi possível aferir
restos de uma das duas torres pertencente às Portas de Cima, Portas de Santo António,
parte de uma calçada e restos da barbacã, primeiro reduto de defesa no século XVI.
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Figuras 10 e 11 – Visualização do poço,
perspetiva limite inferior para o limite superior e do limite superior para o limite inferior.
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Fig. 14 - Interpretação das estruturas exumadas de acordo com o desenho de Duarte de Armas
e a imagem atual.
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Figuras 16 e 17 – Cornija e fecho de abóbada de canhão. Crédito: ERA, Arqueologia S.A.
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Fig. 19 - Pormenor “Planta da
Cidade de Míranda”, Portugal.
1640.
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Fig. 22 - Vista geral da Porta Moderna após o seu restauro.
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Muitas das obras foram, pois, financiadas pelo clero, o qual inclusive, pagava a
soldados, como expressa o documento 174 de 17 de junho de 1648:
“Nos o deão e cabido desta santa See de Miranda «sede episcopale vacante.»
Pela presente ordenamos e mandamos ao R. do coniguo Domingos Pires
Urbano que do dinheiro que lhe mandarmos entregar das rendas episcopais
faça pagamentos aos soldados que vem a esta cidade socorre-la por termos
noticia certa que o enemiguo faz preparação para entrar nesta terra com
declaração que os pagamentos se farão por Nicolau Moreyra que serve de
escrivão da vedoria fasendo pur lista na forma costumada nos livros da
dita vedoria o qual socorro mandamos fazer por não aver dinheiro de Sua
Magestade e a praça estar muito falta de gente muy arriscada se se não meter
gente nella e neste livro se não fara pagamento aos clérigos mandamos chamar
de fora só soldados que d’alem parte do rol de Miranda vierão do Alemtejo
porque a estes mandaremos pagar em outro livro em que escrevera o escrivão
Manuel Pires como constara do dito livro se se fizeram os tais pagamentos.”
(Alves, 2000: Tomo IV, 502)
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Entre 1640 e 1700, terão sido estas as estruturas erigidas. Numa fotografia aérea
de 1965, podemos interpretar o que poderiam ter sido revelins edificados nessa barreira
cronológica.
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Fig. 25 –Plano de la Plaza de Miranda e Su Castillo conforme se hallo despues de haverse bolado
este el 8 de mayo de 1762, haviendo tomado possesion por la brecha las tropas de S. M. mandadas
por el ex.mo Senhor Marques de Sarria, el dia 9 de dicho mês, y la muralla quedando oy demolida
enteramente. Arquivo Geral de Simancas, cota: MPD_58_077. Na área do retângulo amarelo é
definido o Hornaveque. Adaptado por Mónica Salgado.
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Fig. 27 – Plano del Castillo o Casa fuerte de los Duques de Tabara situado a la parte del Norte, y
en su extremo elevado de la Ciudad en el que (y por la Vista que le acompaña) se manifiestan las
Ruinas, y Brechas que hizo el haverse Volado un Almacen de Polvora en el dia 8 del presente con
lo demas que instruie la Explicacion... Dn Antonio Gaver 11 de Mayo de 1762. Fonte: Biblioteca
Nacional de Espanha. O círculo preto representa as duas portas existentes.
Adaptado por Mónica Salgado.
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Fig. 29 – Estrutura defensiva de inícios do século XVIII – Hornaveque,
incluindo uma segunda porta.
Fig. 30 - Planta
Topográfica da Praça
de Miranda, elaborada
pelo Sargento Mor de
Infantaria com exercício
de Engenheiro José
Champalimaud de Nussane,
Março de 1780. Gabinete
de Estudos Arqueológicos
de Engenharia Militar
(GEAEM) Cota: 3108-2-
21-30.
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Esta planta também descreve o estado da cidade:
“Com esta Praça além de ser a sua situação tão mal fortificada, se acha
dominada (arruinada) por diferentes partes, assim (afim) de Hespanha,
como de Portugal, nem nunca deve terrapleno, nem Baluartes: não (admite)
estabelecer nella Baterias , e por esta causa não pode no estado antigo
quaterlar sítio algum: e só merece (carece) agora para conservar hum
Destacamento, e evitar huma evazão repentina, ser fechada de hum muro feito
como o antigo , e bastante que o dito muro seja feito de pedra grossa e barro
sobre os alicerces antigos, que são de pedra e cal, por não ter terrapleno
4´ puxe as Muralhas: os seus Parapeitos serão também executados com cal,
seguindo em tudo o Perfil junto, coagmentando os muros a Dita Praça, os
cinco Baluartes projetados na Planta.”
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Sistema de Informação para Documentação Cartográfica: o espólio da Engenharia
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