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Apontamentos de leituras para o teste de Cortes (6/12)

De forma a elaborar este guia, foram consultados livros elencados no início de cada uma das
temáticas abordadas.

A Itinerância

GOMES, Rita Costa


A Corte dos Reis de Portugal no Final da Idade Média

“A itinerância”- pp. 241-255


Segundo algumas correntes, a itinerância possuía maioritariamente um cariz económico,
expressando também uma determinada dependência do soberano aos recursos que as diversas localidades
do reino poderiam fornecer. Assim, os reis, quando se encontravam em deslocações pelo reino
consumiam os recursos das diversas localidades. As sociedades medievais concediam à presença e à
assistência do rei uma alargada importância, sendo a mobilidade régia algo definidor da condição da
realeza (p. 244). Nas suas deslocações, o rei fazia-se acompanhar, além de eventualmente da sua família,
de membros pertencentes à Chancelaria para dar resposta a pedidos de habitantes de outros concelhos do
reino e elaborar diplomas régios, bem como membros da Casa da Suplicação, o principal tribunal do
reino, assegurando assim a proximidade às instâncias judiciais. As deslocações da família régia e da sua
corte revelavam assim uma relação próxima régia e o poder concelhio.
Entre os séculos XIV e XV, a itinerância implicou os distintos espaços do reino. A presença dos
monarca verificou-se em praticamente todas as regiões do reino, no entanto em zonas menos povoadas
como a costa alentejana e a Beira Baixa essa presença era quase nula. No entanto, a maior “densidade” de
presenças régias não se verifica nas zonas com mais habitantes (Entre-Douro e Minho e Beira), mas sim
na zona centro e no litoral. Lisboa torna-se a partir do século XIII na localidade mais importante e
visitada da Idade Média, sendo seguida por Santarém, uma importante região agrícola e Évora, quer na
duração das estadias, quer no número de visitas. Cidades como Rio Maior, Torres Novas, Óbidos e Leiria
também se tornavam conhecidas por serem polos atrativos da realeza, bem como o Bombarral e a Arruda
dos Vinhos, já no século XV. Sintra também se apresenta como amplamente visitada pelos monarcas
quatrocentistas, em muito contribuído pela sua beleza natural e clima ameno. Junto a Coimbra e ao
Mondego, destacam-se Montemor-o-Velho e Tentúgal. A itinerância do rei é um facto complexo pela:
- tendencial redução da amplitude dos seus percursos à escala global;
- predomínio da região centro-litoral do reino;
- pela atração relativamente aos núcleos urbanos;
- cariz sazonal das estadias nos lugares significativos.
Motivos importantes das deslocações da corte, além de motivos políticos são viagens de ócio.
A mobilidade da corte exigia um conjunto de requisitos materiais, com destaque para as
residências, sendo um fator decisivo para quando o monarca se decidia a deslocar a algum local. Estas
residências não eram necessariamente propriedade do rei. Muitas vezes, os reis faziam-se alojar nos
mosteiros e conventos. As residências régias que eram atualmente possuídas pelo rei situavam-se
maioritariamente em Santarém, e em zonas periurbanas como Benfica ou Lumiar, ou em zonas de
charneca e/ou de bosque, onde se desenvolviam atividades como caças e montarias. Estas edificações
tinham o nome genérico de “paço”.

Palácio Nacional de Sintra

CORREIA, Ana Maria de Arez Romão e Brito


Palácio Nacional de Sintra

Durante o período da Reconquista cristã, Sintra é entregue a D. Afonso Henriques em 1147,


sendo que em 1154, o monarca outorga à vila a Carta de Foral, de forma a promover inclusão económica
e social aos habitantes da região. 1281 é uma das primeiras datas em que se faz referência ao Paço: num
documento dirigido aos mouros de Colares, vila próxima de Sintra, D. Dinis ordena que estes renovem as
casas reais ali existentes. Quando D. João é aclamado rei de Portugal em 1385, é empreendido um projeto
remodelador da Alcáçova, contratando o arquiteto João Garcia de Toledo, que terá sido o autor por detrás
da realização das duas colossais chaminés, sendo, segundo fontes como o Livro das Fortalezas de Duarte
de Armas e segundo a Genealogia do Infante D. Fernando de Portugal, de António da Holanda, uma
construção monumental, e apreciada pelos primeiros monarcas da Dinastia de Avis (1385-1580) como
paço de veraneio, devido a poderem realizar-se atividades como as caçadas e à existência de fontes de
água fresca.
O palácio é fortemente marcado pelo estilo mudéjar, que combina elementos da arte cristã e
muçulmana, combinando estilos como o gótico e o manuelino. Praticamente todos os reis e rainhas de
Portugal habitaram o Palácio Nacional por períodos mais ou menos prolongados, deixando marcas desses
períodos, sendo que o traçado atual do edifício resulta das campanhas de D. Dinis, D. João I, D. Manuel I
e D. João III. Na altura da redação do documento de D. Dinis, o paço era apenas composto pela parte
mais alta e uma capela dedicada ao Espírito Santo. Sintra e as suas dependências são entregues por D.
Dinis à sua mulher, a Rainha Santa Isabel, sendo património da casa das rainhas, numa prática constante.
D. João I, fundador da Dinastia de Avis cria sala opulentas para se afirmar como o fundador
desta nova dinastia, criando a Sala do Cisne, criando a cozinha e as duas gigantes chaminés cónicas. Com
D. Manuel I, o Palácio é dotado de novos elementos decorativos, como os azulejos hispano-mouriscos,
criando também a Sala dos Brasões, cuja cúpula contém as armas de D. Manuel, dos filhos e de 72
famílias nobres, tornando-se num dos mais grandiosos palácios de Portugal. Durante o reinado de D. João
III (1521-1557), é construído um novo Paço, conectando os aposentos principais, a sul, com a ala
noroeste do Palácio, onde se encontrava a Sala dos Brasões e os aposentos da sua mulher, D. Catarina de
Áustria, tornando-se também num dos espaços preferidos do rei D. Sebastião.
Já em tempos da Dinastia de Bragança (1640-1910), o palácio real viveu um episódio sombrio.
Afonso VI é encarcerado num quarto neste palácio, por conspiração do seu irmão. Neste espaço, ele viveu
durante 9 longos anos. A última residente do Palácio de Sintra foi a rainha Maria Pia, viúva de D. Luís I,
antes de partir para o exílio em 1910. Destacam-se no palácio:
- Sala dos Brasões, uma das mais importantes salas heráldicas da Europa;
- Sala dos Cisnes, destinada a receber comitivas e a celebrar banquetes;
- Sala das Pegas, onde eram recebidos os notáveis e estrangeiros embaixadores. Terá sido nesta
sala que D. Sebastião ouviu Camões declamar Os Lusíadas;
- Sala Árabe, provável quarto de D. João I;
- Sala Chinesa, ou do Pagode, onde estaria um monumental pagode da Dinastia Qing;
- Quarto de D. Sebastião, quarto onde o rei dormiria durante as suas estadias por Sintra;
- Quarto-Prisão de D. Afonso VI, onde o rei foi encarcerado pelo seu irmão, D. Pedro II, sendo
o único compartimento com um gradeamento de ferro na janela;
- Capela Palatina, fundada por D. Dinis, em devoção ao Espírito Santo;
- Cozinha, de dimensões grandes para banquetes de peças de caça grossa, com duas chaminés
com cerca de 33 metros de altura.

A entrada de D. Catarina de Áustria: itinerário, poder, festa e simbolismo

JORDAN, Annemarie
Catarina de Áustria- A Rainha Colecionadora

Catarina de Áustria nasce em janeiro de 1507, em Torquemada, Espanha. Até ao momento em


que é feita noiva de D. João III de Portugal, no ano de 1524, Catarina viveu isolada dos seus irmãos, que
viviam nos Países Baixos, sendo um dos mais notáveis o seu irmão Carlos V. Catarina passou a sua
infância perto de Valhadolid, com a sua mãe, Joana de Castela, também conhecida como Joana, a Louca,
mas que positivamente influenciou a educação da sua filha.
Em 1524, Catarina parte para Portugal para se casar com D. João III, Catarina leva parte da
biblioteca da sua mãe consigo, sendo que na corte em Lisboa, Catarina continua a cultivar o seu gosto
humanístico e pelo classicismo. D. Catarina de Áustria era também uma ávida colecionadora, bem como
apreciadora de música, existindo diversos instrumentos, o que também comprova o talento que a rainha
tinha.
É no ano de 1525 que D. Catarina de Áustria chega a Portugal. É na região de Caia, junto à
fronteira em Badajoz que D. Catarina é entregue aos cortesãos portugueses como a próxima rainha de
Portugal, seguindo depois para o palácio real de Almeirim, onde se realizam as celebrações e os festejos.
No momento da entrega da futura rainha, esta torna-se “sujeita” aos protocolos, à etiqueta, ao cerimonial
e às responsabilidades do novo reino. Em Burgos, foi realizado o casamento por procuração, no dia 8 de
julho de 1524, e em Tordesilhas, no mês de novembro, Carlos V e Catarina preparam o enxoval da noiva.
Em agosto de 1524, D. João III anuncia o casamento na corte e depois nos municípios. Em 1525, D.
Catarina chega a Badajoz, e o rei enviou os seus irmãos, D. Luís e D. Fernando para aguardarem a
chegada de D, Catarina, enquanto o rei se encontrava no Crato. Procedeu-se ao ritual do beija mão.
Durante 6 dias, D. Catarina ficou em Badajoz, sendo realizados saraus de dança, nos quais D. João III foi
autorizado pela rainha a dançar com as damas presentes, sendo também encenados jogos com cavaleiros.
O séquito da rainha era composto por 7 damas e 7 criadas de quarto, vestidas como a rainha, de forma
magnifica, à maneira de Habsburgo. A música também era importante, vindo quatro tocadores de
charamela, seis trombeteiros e quatro atabaleiros. No dia da entrega, a rainha viajou numa liteira de
veludo negro, conduzida por duas mulas e seguida de uma vaca coberta com panos de ouro. De forma a
preservar a sua identidade, D. Catarina de Áustria conjuga os trajes portugueses e espanhóis. É então
efetuado a entrega, sendo a rainha entregue ao irmão de D. João III, D. Luís. A viagem continua para
Elvas, local onde passou a noite. Na Igreja de São Francisco, o rei e a rainha foram ouvir a missa, sendo
que após o casamento se realizaram touradas na cidade de Estremoz. A rainha era assim a soberana do
reino, a única com legitimidade de direito para dar um herdeiro varão ao rei. A função principal era a
procriação, mas também tinha um papel importante sendo símbolo do reino, da linhagem e da Casa Real.
As festas da corte no período Filipino (1580-1640)

PAIVA, José Pedro


“As festas de corte em Portugal no período Filipino (1580-1640)” in Revista de Hhistória
da Sociedade e da Cultura

Entre 1580 e 1640, Portugal encontrou-se sob o domínio filipino, devido à morte, sem
descendência, de D. Sebastião. Em 1581, no dia 16 de abril, D. Filipe II é jurado em Tomar, sendo o
modelo inspirador o do levantamento de D. João III, em 1521. O rei encontrava-se no Convento de Cristo
em Tomar, e dirige-se para um pátio com alguns músicos, acompanhado de um cortejo, onde se
encontravam os diversos oficiais do reino: condestável, o alferes-mor, arautos e passavantes. Ao chegar
ao recinto, Filipe sentou-se no trono e o camareiro entregou-lhe o cetro, tendo à direita um estrado mais
elevado, estava o alferes com a bandeira real. É efetuado o juramento do rei aos seus vassalos, e estes
juram-no também. É feito o beija-mão, e D. Filipe recolhe-se para os seus aposentos, comprovando um
codificado cerimonial. Em 1619, D. Filipe III vem a Lisboa, e sucedem-se várias festas e cerimónias,
existindo uma “necessidade” de fixar a corte em Lisboa: a dos instrumentos (vestuário, cadeiras…), os
símbolos, e as cerimónias que concretizas estas práticas rituais: as entradas, a reunião das cortes, o
juramento do rei, as audiências régias, a ida do rei à casa da Suplicação, as refeições, a presença do rei
num auto de fé em Évora, a assistência da procissão do Corpus Christi em Lisboa… De todas estas
cerimónias, as que por vezes são mais ricamente detalhadas foram as entradas, que se inovaram desde os
tempos antigos, como a edificação de arcos de triunfo, magnânimos e complexificados, com ricos
programas iconográficos. A primeira incursão filipina em Portugal ocorre em Elvas, na qual Filipe I
entrava pela porta nobre que se encontrava revestida por um arco triunfal. O rei montava a cavalo, sendo
acompanhado por nobres, mas também oficiais de justiça. O cortejo parava na Igreja, na qual o rei beijava
o Santo Lenho (na liturgia, o Santo Lenho é um fragmento da cruz onde Cristo foi crucificado), e
terminava com a chegada ao paço. Durante este percurso até ao paço, a população dançava e cantava,
sendo que à noite, estas festas se intensificavam, com danças e mascaradas.

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