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Arqueologia

Medieval
Aula 5

U3. Arqueologia Medieval Portuguesa

3.1. Povoamento, Territórios e Paisagens


3.1. Povoamento, Territórios e Paisagens

3.1.1. O mundo urbano: cidades e vilas medievais


3.1.2. O mundo rural e a formação da paisagem agrária: : castra, villae,
casais, lugares e aldeias; ecossistemas, tipologias de explorações agrícolas e
construções especializadas
3.1.3. Comunicações: vias, pontes e estabelecimentos correlacionados
3.1.4. O domínio do território: o fenómeno do encastelamento

3.1.5. A organização territorial: dioceses, condados, terras, paróquias e freguesias


O estudo dos castelos é “(…) uma boa prova de peritagem para
caracterizar o nosso feudalismo e um tema essencial para o
conhecimento das estruturas que possibilitaram a reconquista, o
aparecimento da ideia da independência do condado portucalense, e sua
alicerçação [sic]. O seu estudo é ainda imprescindível para o
conhecimento do clima social, guerra-paz, e também para o da ocupação
do solo, organização do território e dos espaços, e das linhas viárias. (…)

(…) O estudo do ‘capital fenómeno’ do ‘incastellamento’ (…) é algo de


absolutamente necessário não só para compreender como as
populações se defenderam contra as piratarias, razias e invasões
como também para se saber como se foi organizando, administrativa,
judicial e estrategicamente o território dos estados. O seu
conhecimento é ainda essencial para se entender o nascimento, a
evolução e as características do sistema feudal, local, e como se fez a
afirmação, a ascensão ou a queda das diversas famílias nobres,
regionais.” (…)

Carlos Alberto Ferreira de Almeida – Castelologia Medieval de Entre-Douro-e-Minho


Porto, 1978: 1 e 24
Fenómeno
indissociável
do processo
expansão
asturo-leonês (séc.
IX)
Reconquista

Organização militar
local e/ou privada

Suporta o
desenvolvimento da
sociedade Feudal

Defesa contra Árabes


e incursões
normandas
Castelos, Torres e Fortificações

“O castelo (esse símbolo da sociedade feudal) é uma inovação arquitectónica


que a Idade Média introduziu na nossa paisagem. Já anteriormente havia
estruturas defensivas, como os povoados fortificados, de que são exemplo os
castros. A inovação está no facto de os castelos serem estruturas
arquitectónicas exclusivamente militares, concebidas para albergar
pequenas guarnições de soldados. O seu aparecimento prende-se com a
história política do nosso país, feita de avanços e de recuos, próprios do
processo de reconquista de territórios aos muçulmanos. Nesses tempos de
indefinição e de instabilidade, os castelos desempenharam um papel
fundamental na defesa das zonas conquistadas e foram também polos de
dinamização e de desenvolvimento, possibilitando o povoamento dessas
regiões.”

João Gouveia Monteiro e Maria Leonor Pontes – Castelos Portugueses


Lisboa, 2002, p.5
Castelos, Torres e Fortificações

“A origem do castelo, [...] enquanto estrutura muralhada definindo


pequeno espaço onde se concentra uma guarnição de soldados, deve
procurar-se nos primórdios do rpocesso da Reconquista Cristã,
encetado por D. Afonso I das Astúrias a partir do meados do século
VIII.”

Mario Jorge Barroca – Do Castelo da Reconsquista ao Castelo Românico (Séc.


IX a XII)
1990, p.5
Tipologias de castelos

Séculos

V - VI - VII - VIII - IX - X - XI - XII - XIII - XIV - XV

Recintos fortificados tipo ‘castro’

Castelos ‘roqueiros’

Castelos condais

Motas

Castelos românicos

Castelos góticos
Admite-se a ocupação de povoações fortificadas tipo ‘castro’ durante os
séculos VI a XI, muitas das quais se citam na documentação do século XI
com um inequívoco sentido de subordinação administrativa

castro / castelocastro / castelo de Vieira


de Rossas
A designação castelo reserva-se às edificações com
exclusiva função militar, parte das quais se mantiveram
ou ascenderam, a partir do século XII, a sedes dos novos
territórios fixados com a afirmação do condado
portucalense e posterior criação do reino de Portugal.
Os castelos ‘roqueiros’

Nos finais do século IX e durante todo o século X


surgem, entre o Minho e o Mondego, os
primeiros castelos, dotados de uma pequena
cerca, sem torreões, também sem cisterna,
estrategicamente implantados quer em pequenos
outeiros quer no topo de montes proeminentes,
servindo para abrigar temporariamente as
populações e os seus bens ou apenas uma
pequena guarnição em caso de conflito. São os
chamados castelos “roqueiros”.

A construção tirava o máximo partido das


condições naturais de defesa, ora elevando-se
muros de alvenaria grosseira de pedra miúda e
terra, ora de alvenaria ciclópica, fechando os
espaços entre os grandes batólitos de rocha dos
montes.
Os castelos condais

Nesse período distingue-se a categoria


dos mais raros castelos de iniciativa
condal, como os de Guimarães, de
Lanhoso e de Trancoso, em que se
destaca a superior qualidade
arquitetónica da fortificação (de clara
inspiração califal), que para além da
pequena cerca, já com torreões, incluía
uma robusta torre de base sub-
quadrangular, uma e outra erguidas com
sólido aparelho de cantaria montada em
fiadas horizontais irregulares.
Os castelos condais

a partir do século XII, a palavra ‘castelum’ parece reservar-se às


novas e maiores fortificações, sedes das ‘Terras’ e ‘Julgados’,
materializando o forte movimento de hierarquização que
acompanha o reordenamento do povoamento a partir de finais do
século XI, com as Civitates a darem lugar às Terras, no interior das
quais não existia mais nenhuma estrutura militar para além da que
correspondia à sede do território.
As motas

Referenciadas na documentação dos séculos XI e XII com a


designação comum de ‘mamola’, ligadas a senhores locais, as motas
são uma estrutura fortificada muito particular, formada por uma
elevação artificial de terra e pedra miúda, geralmente com forma
circular e elevação cónica, no topo da qual se levantaria uma torre
de madeira, com fosso e talude circundantes.

Surgem na Normandia nos finais do século X, difundindo-se por


toda a Europa ocidental nos séculos seguintes. Em Portugal apenas
está arqueologicamente identificada a Mota de Eiró, Cabeceiras de
Basto.
Os castelos românicos

No decurso do século XII desenvolve-se o modelo de castelo de


arquitetura românica, que se realiza nos castelos cabeça-de-terra,
dando satisfação à afirmação de dois conceitos principais:

• o de defesa passiva, que impunha a capacidade de as


fortificações resistirem aos cercos através da elevação e
espessamento dos muros, agora integralmente petrificados;

• o do princípio de comando, que consiste em ordenar os


dispositivos defensivos da periferia para o centro, princípio
realizado com a construção de elevadas torres de menagem ao
centro das fortificações, aí se localizando o centro de controle de
todo o castelo.
O castelo românico é uma construção
em pedra, composta por uma muralha
de elevação vertical, exteriormente
reforçada por torreões
quadrangulares. Circuitava um pátio,
ao centro do qual se elevava uma
poderosa torre.
As paredes são de dupla face
construída em aparelho pseudo
isódomo de cantaria e miolo de
cascalho ou blocos e terra
argamassada.
A introdução e difusão deste modelo
de castelo deve-se especialmente à
Ordem do Templo, em particular sob o
mestrado de Gualdim Pais.
Castelo Melgaço
Os castelos góticos

Na segunda metade do século XIII e durante todo o século XIV introduzem-se e


difundem-se, por iniciativa de Afonso III, importantes inovações arquitetónicas
góticas de inspiração francesa, que conheceram, sob o reinado de D. Dinis, uma
aplicação generalizada nas edificações e reformas de inúmeros castelos, em
especial os que defendiam a fronteira terrestre fixada no tratado de Alcañices
(1279).

Na transição do séculos XIV para o XV, diversos castelos adquirem uma função
residencial, transformando-se em paços senhoriais, construindo-se lareiras e
chaminés, rasgando-se janelas mais amplas e acrescentando-se varandas
alpendradas, tipo loggiae.
As renovações arquitetónicas resultaram
sobretudo da assimilação do conceito de
defesa ativa, o qual determinou:

• o flanqueamento das portas principais


com torreões;
• a multiplicação de torres adossadas às
muralhas;
• a adoção de cubelos redondos;
• alargamento dos adarves e redução do
espaço das abertas;
• disseminação de seteiras nas ameias;
• torres de menagem de maior dimensão e
deslocadas para junto do pano de
muralha;
• petrificação dos hurdícios,
transformando-os em balcões com
matacães.

Montemor o Velho Sabugal


O processo de encastelamento cristão, que se
desenvolveu especialmente no espaço compreendido
entre os rios Lima e Mondego, contrapôs-se ao
processo de encastelamento muçulmano a sul do
Mondego.
3.1. Povoamento, Territórios e Paisagens

3.1.1. O mundo urbano: cidades e vilas medievais


3.1.2. O mundo rural e a formação da paisagem agrária: : castra,
villae, casais, lugares e aldeias; ecossistemas, tipologias de
explorações agrícolas e construções especializadas
3.1.3. Comunicações: vias, pontes e estabelecimentos correlacionados
3.1.4. O domínio do território: o fenómeno do encastelamento
3.1.5. A organização territorial: dioceses, condados, terras, paróquias e
freguesias
Organização sueva e visigoda revela continuidade do sistema
romano e sobreposição entre administração civil e eclesiástica
civitas / castella tutiora ou castra / villae / vici e ecllesia / pagi
Castelos da
civitas de
Anegia

séculos IX-X: comitates / territoria / civitates


séculos XI-XII: terras e concelhos (+ coutos + honras) / collatione = parochia =
freguesia
Arquidiocese / diocese / arcediagado (= terra) / paróquia (= freguesia)
Terras
Dioceses
Organização territorial
árabe:

kuvar (várias medina +


qaria)
A Sul,
domínio da organização concelhia

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