Você está na página 1de 32

Arqueologia

Medieval
Aula 4

Arqueologia Medieval Portuguesa


3.1. Povoamento, Territórios e Paisagens
3.1. Povoamento, Territórios e Paisagens

3.1.1. O mundo urbano: cidades e vilas medievais


3.1.2. O mundo rural e a formação da paisagem agrária: : castra, villae, casais, lugares
e aldeias; ecossistemas, tipologias de explorações agrícolas e construções
especializadas
3.1.3. Comunicações: vias, pontes e estabelecimentos correlacionados
3.1.4. O domínio do território: o fenómeno do encastelamento
3.1.5. A organização territorial: dioceses, condados, terras, paróquias e freguesias
O estudo do mundo rural medieval inscreve-se no âmbito do
arqueologia do povoamento ou da paisagem e exige a manipulação de
fontes diversificadas de informação:

Informação e estudos
complementares Estudos arqueológicos

• Cartografia (atual e histórica) • Prospeções


• Fotografia aérea • Sondagens e escavações
• Registos cadastrais
• Toponímia Os resultados permitem realizar tantos
• Geomorfologia estudos quanto a diversidade,
quantidade e qualidade dos dados
• Pedologia obtidos o permitir
• Palinologia
Alguns conceitos sobre arqueologia do povoamento

Território

Habitat rural

Morfologia agrária

Sistema de culturas

Estrutura agrária
Território

extensão de terreno com características individualizantes do


ponto de vista agronómico e cultural, possuindo:

• qualidades físicas (relevo, clima, exposição solar, solos);


• e qualidades culturais (tecnologias: irrigação, drenagens,
terraços)
Habitat rural
modo de organização dos povoados rurais, num determinado
território. Pode ser disperso, concentrado (ou misto).
Morfologia agrária

Desenho ou
configuração das
parcelas, dos
caminhos e da
disposição relativa
dos campos,
bosques e
pastagens.

Pode configurar
formas diversas
(ortogonal, radial,
concêntrica, etc.)
Sistema de culturas

associação de plantas
escolhidas por uma
sociedade rural para
cultivo, dependendo
das características dos
solos e do clima, da
técnica utilizada, da
tecnologia disponível,
do nível de rendimento
pretendido
Habitat e morfologia agrária: esqueleto da paisagem, revelando o plano de
ordenamento do território. Esse plano reveste uma identidade histórica, é estável ,
permanecendo inalterado durante séculos
A estrutura agrária, enquanto conjunto de laços duráveis e profundos entre o ser
humano e o solo, expressos na paisagem rural, traduz a forma de ocupação do
solo e a organização do território, sendo o resultado do
habitat + morfologia agrária + sistema de culturas
Conhece importantes variantes regionais
Estruturas agrárias dominantes

Openfield (campos abertos) – predomínio dos campos alongados, limitados por


caminhos, associados geralmente a povoados concentrados
Estruturas agrárias dominantes

Bocage (campos fechados) – predomínio de


pequenos campos, de formas irregulares,
sempre delimitados por muros, sebes de
arbustos ou alinhamentos de árvores,
associados a uma densa rede de caminhos
vicinais e a um povoamento disperso,
reservando-se algumas áreas comuns para
matos e para a pastorícia
Habitat misto
Fatores condicionantes da estrutura agrária

Agronómicos
Sociológicos
Demográficos
Económicos

Tecnológicos
Fatores condicionantes da estrutura agrária
Agronómicos
clima e solo interferem no sistema de culturas

Sociológicos
• Tipo de organização social:
• exploração familiar produz paisagens variadas e irregulares, sem
investimento em estruturas coletivas;
• exploração comunitária produz paisagens regulares, esquemáticas e
monótonas, com maiores investimentos em equipamentos coletivos;

• Tipo de propiedade do solo:


• propriedade individual produz parcelas pequenas;
• propriedade senhorial produz grandes domínios;
• propriedade coletiva produz parcelas maiores regulares;
• propriedade do estado produz grandes parcelas, geralmente sob a
forma de reservas florestais.
Fatores condicionantes da estrutura agrária

Demográficos
• crescimento populacional determina a expansão da área
agrícola, através de arroteamentos, ou alteração do sistema
de culturas;
• diminuição da população traduz-se em redução da área
agrícola e aumento da floresta

Económicos
• produção para autossuficiência assente na policultura;
• produção de mercado, para abastecimento urbano,
privilegia a monocultura extensiva
Fatores condicionantes da estrutura agrária
Tecnológicos

• Técnicas agrológicas (procuram aumento produção sem desgaste dos solos):


• rotação cultivo pleno/pousio pleno,
• afolhamento bienal e trienal,
• lavra com desenvolvimento pleno da charrua,
• irrigação,
• seleção de sementes e
• adubação orgânica por estrumação,
• queimada, etc.

• Técnicas instrumentais (procuram mais eficácia com menos esforço em menos


tempo):
• Utensílios, instrumentos e máquinas,
• Charrua de arado com aiveca, grade e atrelagem em fila.
paisagem agrária medieval era perfeitamente organizada

Tipos de povoamento Construções especializadas na


explotação e articulação da
castra paisagem

villae Moinhos

casais Azenhas

lugares Açudes e pesqueiras

Aldeias Terraças

explorações agrícolas pequenas

explorações médias e grandes (mosteiros)


Mosteiro de Tibães

Fundado no século XI, o


mosteiro foi instituído,
no século XVI, Casa-Mãe
da “Congregação dos
Monges Negros de S. Bento
do Reino de Portugal”, vindo
a ser encerrado em 1833-34,
no quadro da extinção geral
das ordens religiosas em
Portugal.
Couto de Tibães
3.1. Povoamento, Territórios e Paisagens

3.1.1. O mundo urbano: cidades e vilas medievais


3.1.2. O mundo rural e a formação da paisagem agrária: castra, villae,
casais, lugares e aldeias; ecossistemas, tipologias de explorações agrícolas
e construções especializadas
3.1.3. Comunicações: vias, pontes e estabelecimentos correlacionados
3.1.4. O domínio do território: o fenómeno do encastelamento
3.1.5. A organização territorial: dioceses, condados, terras, paróquias e
freguesias
O estudo dos caminhos medievais é importante para o conhecimento
da ocupação do espaço e do ordenamento dos territórios e para a
compreensão dos processos de construção das paisagens.

A Idade Média é uma época de constante circulação de pessoas

conflitos militares

caráter ambulante do comércio e


feiras

itinerância das cortes

hábitos de peregrinar
O estudo da rede viária medieval de ter por base estudos monográficos regionais

Definir traçados das diferentes


redes e sua hierarquização

nacional
inter-regional
regional
local

é necessário ter em conta


a rede viária anterior (romana)
a rede viária posterior (moderna)

os caminhos revelam uma longa permanência, mesmo quando caem em desuso ou diminui a
sua importância
Traçados e importância relativa dos caminhos
Fontes de informação onomástica e toponímia
Na documentação medieval identificam-se os nomes via, carraria, vereda, strata e
caminum, que parecem corresponder a vias diferentes nas características construtivas e na
sua função.

via e strata parecem corresponder a caminhos largos e bem estruturados, aparecendo


muitas vezes a designar antigas vias romanas

a palavra carraria muito frequente no Entre Douro e Minho, designa caminhos onde
circulavam carros, supondo pavimentos, pelo menos nas zonas mais lamacentas. Tanto
pode aplicar-se a antigas vias romanas inter-regionais, como a simples ligações locais
Os vocábulos que designam os caminhos aparecem com frequência associados a
adjetivos que permitem estabelecer

1. o seu estatuto jurídico, como stratam publicam

2. a sua importância, como strata maiore ou stratam parvam

3. A sua cronologia, como carraria antiquam, via vetera ou strata mauriscam

(esta última no caso do Norte de Portugal, porque no Sul poderá referir-se a uma
estrada mandada construir pelos árabes)
Valongo Segóvia
Na documentação e na toponímia importa prestar especial atenção às referências a
‘estalagem’, ‘albergaria’, ‘pousa’, ‘venda’ ou ‘pousada’, porque se referem a
estabelecimentos de apoio aos viajantes, sinalizando a passagem de uma via
importante

É na Idade Média que se desenvolve especialmente a assistência aos viajantes,


considerada então como obra de misericórdia, associada ao apoio aos peregrinos

Estalagem medieval-Amarante
Inicialmente chamadas ‘albergarias’
ou ‘hospitais’, onde se proporcionava

dormida,
alimentação,
tratamento sanitário
e outros serviços,

estes estabelecimentos começaram a


especializar-se, reservando-se uns

ao atendimento de viajantes
e outros
ao acolhimento de doentes (caso particular
das gafarias, sempre localizadas à margem
das estradas principais) e de pobres

Nos séculos XIV e XV, surge a estalagem, já não por caridade e mas associada à viação
Os caminhos, embora sejam construções artificiais realizadas para
satisfazer os interesses de uma população, não deixam de ser
fortemente condicionados, nos seus traçados, pelo meio físico

O parcelamento agrícola e a sua relação com os traçados dos


caminhos fornecem igualmente indicações importantes para a
compreensão da

organização da estrutura agrária e


da evolução da estrutura territorial na longa duração

O conhecimento dos principais centros de comércio (feiras, mercados


e portos de mar), proporcionam informação sobre a rede viária, já
que existe uma estreita relação entre o desenvolvimento do comércio
e a estruturação dos caminhos

Você também pode gostar