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06 CULTIVO
AVENTURA
E PREDAÇÃO
Texto de José Augusto Pádua
A viagem ao Brasil, pinturas de Marianne North
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A quarta variável, por fim, deve ser vista como um fator subjacente a todas as
dinâmicas descritas nos parágrafos anteriores: a ideia de que a terra era #0
“para gastar e arruinar, não para proteger ciosamente”. Tal imagem deve ser
considera à luz da mentalidade ambígua implantada pelo colonialismo
europeu frente ao mundo natural no Brasil – uma mentalidade que, em suas
complexas manifestações, calcou-se ao mesmo tempo no elogio retórico e
no desprezo prático. A cultura luso-brasileira não se cansou de louvar a
riqueza e a fertilidade dessas terras, que enunciavam a perspectiva de uma
produção econômica relativamente fácil e abundante.
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O nome do Brasil
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Até o final do século XVIII, foram muito poucas as vozes que se
manifestaram contra a destruição do mundo natural que vinha se
processando no Brasil. Os atores sociais dominantes na colônia
encontravam sua unidade na promoção do modelo de ocupação que
produzia tal destruição. Esse modelo organizava o modo de apropriação da
fatia do território submetida à ocupação colonial, garantindo para as elites
locais os benefícios sociais e econômicos possíveis no contexto do sistema
colonial.
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É provável que esse texto tenha sido a primeira explicitação escrita sobre o
caráter destrutivo da economia colonial, uma espécie de antecipação das
críticas mais sistemáticas que começaram a ser feitas no final do século
seguinte. A postura usufrutuária e destruidora, denunciada por frei Salvador,
estava associada à falta de cuidado com o espaço comum, configurando uma
mentalidade egoísta e autorreferida por parte dos proprietários. Nessa
terra, dizia ele, “nenhum homem… é repúblico, nem zela ou trata do bem
comum, senão cada um do bem particular”. Os espaços coletivos – as fontes,
pontes e caminhos –eram uma verdadeira “piedade”, já que os colonos não
construíam esse tipo de benfeitoria, ainda que “bebam água suja e se
molhem ao passar os rios ou se orvalhem pelos caminhos”. E todo esse
desprezo derivava de uma mesma lógica: o fato de “não tratarem do que cá
há de ficar, senão do que hão de levar para o reino”. O sentido de
responsabilidade pelo espaço coletivo estava pouco presente na sociedade
em formação na America Portuguesa.
anos, por lhes parecer que é muita a demora: porque se ajunta a isso o
cuidar cada um deles que logo em breve tempo se hão de embarcar para o
Reino, e que lá hão de ir morrer… Não há homem em todo este estado que
procure nem se disponha a plantar árvores frutíferas, nem fazer as
benfeitorias acerca das plantas, que se fazem em Portugal… E daqui nasce
haver carestia e falta destas cousas, e o não vermos no Brasil quintas,
pomares e jardins.”
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primeiros séculos. Isso não significa dizer que da natureza pouco se falou.
Os escritores coloniais perceberam, desde os primórdios da ocupação
europeia, que a descrição das riquezas naturais do Brasil, muitas vezes com
um certo exagero, era a principal estratégia para criar uma imagem atraente
da nova terra. Esse discurso vai estar presente já em Pero Vaz de Caminha,
com a sua terra “onde as águas são muitas, infindas” e onde existe um
camarão “como em nenhum tempo vi tamanho.” Ou então em Gabriel Soares
de Souza, no seu Tratado descritivo do Brasil, de 1587, onde o abacaxi é
apresentado como sendo “tão suave que nenhuma fruta da Espanha lhe
chega na formosura, no sabor e no cheiro”.
É possível encontrar nesse tipo de citação, assim como em várias outras que
poderiam ser mencionadas, as origens de uma verdadeira “tradição edênica”
na cultura brasileira. Um discurso que fincou raízes profundas, tanto nas
suas expressões populares quanto eruditas. O que surpreende, no entanto, é
constatar a convivência no Brasil desse duplo movimento: uma rica tradição
de simpatia cultural e elogio laudatório da natureza, de um lado, e, do outro,
uma história de contínua agressão contra as suas principais manifestações.
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Como citar
PÁDUA, José Augusto. Aventura e predação. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, n. 6, p. 24-29, abr.
2013.
PISEAGRAMA.ORG
ISSN 2179-4421
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