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História Regional

(Rondônia)

Marco Antônio Domingues Teixeira


&
Dante Ribeiro da Fonseca

Professores do Departamento de História


da Universidade Federal de Rondônia
ii

Direitos autorais 1998 de Marco Antônio Domingues Teixeira e


Dante Ribeiro da Fonseca.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 5988 de


14/12/73. Nenhuma parte desse livro, sem autorização prévia por
escrito de ambos os autores, poderá ser reproduzid a ou
transmitida sejam quais forem os meios empregados:
eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer
outros.

ISBN ________________

Capa: Encontro no rio Madeira entre engenheiros da ferrovia e


Caripunas nos anos de 1870.

Ficha Catalográfica.

T266h Teixeira, Marco Antônio Domingues.


História Regional/Marco Antônio Domingues
Teixeira, Dante Ribeiro da Fonseca. Porto
Velho, Rondoniana, 1998.
241 p.

1. Amazônia legal - História. 2 Rondônia -


História. I. Fonseca, Dante Ribeiro II. Título
CDU: 981.13
Prefácio

“História Regional” é uma obra ímpar no cenário das Letras


Rondonienses, um marco pioneiro em seu gênero, dado que nada antes
existia, em termos de trabalho didático, sobre a nossa história.
Os autores, Marco Antônio Domingues Teixeira e Dante Ribeiro
da Fonseca, empreenderam minuciosa pesquisa histórica, abordando,
inicialmente, os grupos indígenas, elementos marcantes na formação
das matrizes culturais rondonienses. A conquista desencadeou a
migração de populações indígenas, que afluíram da costa para a bacia
do Madeira, fugindo à pressão do colonizador. Ocorreram também
migrações interioranas, de modo que, quando os primeiros
colonizadores chegaram à essa região, a área já estava povoada, por
inúmeras comunidades indígenas. D esses grupos, a maior parte era
Tupi, Tupi-Kawahib e Taxapakura, quanto à classificação lingüística.
Muitos grupos sucumbiram a presença do colonizador, chegando à
extinção. Outros grupos passaram pelas várias etapas de contato,
vivendo ainda hoje, segundo o antropólogo Darcy Ribeiro, isolados, em
contatos intermitentes, em contato permanente ou integrados. Todos os
grupos indígenas estão, de uma forma ou de outra, passando por
processos de aculturação. Quando um grupo indígena entra em contato
com a sociedade nacional, começa a sofrer uma série de modificações
endógenas, que respondem às transformações exógenas, resultantes
do processo colonizador.
Rondônia, longínqua e bravia, nasceu sobre o influxo da cultura
que desde os primórdios Portugal esforçou -se para implantar na sua
colônia. Em 1778, por aqui andou o célebre naturalista baiano, formado
em Lisboa, Alexandre Rodrigues Ferreira. Promovendo estudos nas
áreas da antropologia, da botânica e da zoologia, autor de “Viagem
Filosófica” elegeu o homem nativ o e o mestiço como elementos
humanos de uma cultura evidentemente nacional, uma vez que os
homens fixados no litoral brasileiro estavam perdendo, como já
perderam, o contato diuturno com suas raízes. Isso acontecia no século
XVIII, quando a antropologia cu ltural engatinhava. Por aqui passaram
outros viajantes e cientistas ilustres, como Severiano da Fonseca e o
padre Jesualdo Machetti, que deixaram livros sobre a região.
Os autores nos fornecem uma visão da penetração dessa região,
por parte dos colonizado res, a partir do século XVII, obedecendo a
determinantes econômicos da metrópole, quando do Brasil -Colônia; do
Império e da República, quando do Brasil independente; que
respondiam sempre aos anseios do mercado externo. Assim é que as
primeiras expedições foram impulsionadas pela procura de produtos
tropicais, que por volta do século XVIII, tinham mercado certo na
Europa. Além da procura de drogas: o ouro, a exploração da terra e
escravização de índios.
Nos séculos XVII e XVIII, a Igreja, através das missõ es religiosas
desempenhou um papel fundamental, uma vez que precedia à entrada
do colonizador, visando a catequese dos índios, atingia as regiões mais
remotas. Muitas missões foram estabelecidas no Madeira, dentre elas,
a dos Tupinambaranas, a de Irurí, a dos Abacaxis, a de Santo Antônio
ii

das Cachoeiras, a de Sapucaiaoroca e outras mais. Assinalam ainda os


autores, a assistência dos missionários espanhóis aos índios do
Guaporé no século XVIII, fato que resultou na ocupação estratégica do
colonizador portuguê s, para assegurar o território foi construído do
Forte Príncipe da Beira, patrimônio histórico de Rondônia.
As pesquisas bibliográficas registram sobre uma cidade perdida,
erguida em 1775, no rio Madeira. Marco Antônio Domingues Teixeira e
Dante Ribeiro d a Fonseca falam sobre Balsemão, vilarejo que os
portugueses construíram para dar garantia de desenvolvimento aos
seus habitantes. Existia lá quase uma dúzia de prédios públicos e
particulares e parece ter sido logo abandonada, ou seu povo poderia ter
sido dizimado por índios ou doenças. O pesquisador da História
Regional, Desembargador Hélio da Fonseca, descobriu num arquivo do
Ministério das Relações Exteriores uma planta da cidade. Se existir
alguma edificação, alguma pedra dessa cidade, Balsemão seria, a o
lado do Forte Príncipe da Beira, outro monumento da História de
Rondônia. A procura do ouro e a conseqüente ocupação estratégica das
áreas das minas, bem como a efetivação dos tratados de limites, foram
os últimos principais determinantes que impulsionar am a ocupação
portuguesa na região antes do século XIX.
Uma vez fundada Vila Bela e Cuiabá, o objetivo principal residia
em estabelecer uma via de comunicação rápida e efetiva através dos
rios Guaporé, Mamoré e Madeira. Essa rota permitiu a ligação entre
esses dois locais com Belém do Pará e a metrópole, além de assegurar
a presença portuguesa, devido à vizinhança com os territórios da
colônia espanhola. Com a exaustão da exploração mineral a
colonização européia na região entrou em decadência Essa ocupaçã o,
e o sentido predatório que a caracterizou, desorganizou e mesmo
extinguiu drasticamente grande parte da população indígena.
Foi a borracha, no século XIX, o principal determinante
econômico para a ocupação da área. Entretanto, com uma
característica: a presença dos nordestinos e “peruanos” como
seringueiros. Inicia -se também um novo ciclo de hostilidades
interétnicas. Um exemplo concreto dessa nova arremetida do branco é
o rio Madeira. Severiano da Fonseca, em 1875, passa por esse trecho e
registra um panorama detalhado da região: “...29 barracas e 277
trabalhadores dedicados à extração da borracha.” Com esse novo tipo
de atividade a navegação do Madeira, que entrara em declínio e fora
alvo das hostilidades dos Mura e Munduruku no século anterior, foi
reativada. Em 1878, tenta -se a construção de um caminho, junto às
cachoeiras do Mamoré e Madeira, que deveria alcançar o território
boliviano. Este empreendimento é significativo pois, além de toda a
movimentação que produziu ao longo do rio, é a primeira te ntativa
concreta de desbravar essa região em grande escala. Fato que dá
origem a inúmeros confrontos entre indígenas e brancos. Contudo, a
empresa construtora não teve vida prolongada, devido ao clima, às
doenças e aos contínuos ataques dos silvícolas, e a construção é
abandonada.
A preocupação com as fronteiras e a segurança nacional, bem
como a comercialização da borracha, redundaram em dois fatos
iii

históricos contemporâneos da maior importância para Rondônia: a


Comissão Rondon, que seria responsável pela exploração e o
levantamento científico de grande parte da área e pela inovação no
tratamento com os índios, e a construção da Estrada de Ferro Madeira -
Mamoré, responsável por uma intensa migração de trabalhadores
estrangeiros, além da criação de inúmeras v ilas e cidades.
A importância fundamental da ferrovia na formação histórica,
social e geo-econômica e na formação geopolítica do Estado de
Rondônia é abordada pelos autores. O “todo cultural” da EFMM
transcende em muito a sua condição inicial de meio de t ransporte, que,
já à época, representava uma conexão intermodal ao atendimento das
necessidades de escoamento de produtos extrativistas; este, por si só,
a constituir um complexo natural e a desafiar a obra humana. Uma vez
construída, instalada no territór io com seus assentamentos humanos,
inexoravelmente, gerou um processo que, mesmo após o duro golpe da
desativação e suas conseqüências, permanece latente, como que
aguardando apenas o lógico e justo reconhecimento de que foi e é, uma
solução correta e coer ente com as necessidades características da
região.
Destacam, ainda, os autores, o trabalho dos migrantes do Caribe,
na ferrovia, presença marcante na configuração social da região, os
barbadianos e granadinos aqui permaneceram com suas famílias,
totalmente integrados a terra que escolheram para viver. Os seus
descendentes são inúmeros e em Porto Velho residem quatorze
famílias. São os Allen, Alleyne, Banfield, Blackman, Denis, Holder,
Johnson, Julien, Maloney, Rivero, Schockness, Tommy, W inte e W iles.
Posteriormente, o desaquecimento do sistema econômico
baseado na borracha levaria a região novamente ao ostracismo. A lenta
colonização desta área interiorana foi acelerada, destacam os autores,
com a criação dos Territórios Federais, dentre eles o do Guapor é.
Entidades federais que se constituíram no meio hábil para penetrar
rápido e fundo no organismo Amazônico, levantando as causas da sua
apatia e da sua marginalização no processo civilizatório do Brasil. A
criação dos Territórios Federais constitui um esb oço de reação contra a
mentalidade que admitia o determinismo geográfico como regra
imutável, segundo a qual, as sociedades humanas estão, em grande
medida, subordinadas às condições do meio ambiente natural sem
oportunidade de evolução, tal sua inferiorid ade e incapacidade de
assimilação cultural.
A criação dos Territórios Federais permitiu uma maior mobilidade
social dentro de uma hierarquia específica e seletiva de valores,
negando o estereótipo generalizado, que representava uma atitude
preconceituosa do Brasil desenvolvido em relação à terra e ao povo
amazônico.
Instrumento de valorização econômica, social e política, o
Território Federal do Guaporé, contribuiu de forma decisiva na mudança
dos elementos tradicionalmente ambientais e serviu como fator de
desenvolvimento, que se superpôs aos limites dos padrões das
atividades comunitárias, erigidas às margens dos rios Madeira,
Mamoré, Guaporé, Machado e outros, valorizando o homem da ribeira e
iv

dos barrancos, que deixou de ser um cidadão de segunda classe no


corpo da cidadania brasileira.
Ainda na metade desse século, a ocupação da região se
caracterizou pela descoberta de minérios, sobretudo a cassiterita, que
impulsionaria novas levas de migrantes. A partir dos anos 60, as
importantes mudanças políticas com relação ao desenvolvimento da
Amazônia seriam responsáveis pelo processo histórico que transformou
Rondônia no maior pólo de atração de migrantes de todo o país,
modificando também o caráter de sua economia básica, de extrativista,
para agrícola.
Quando em 1980 o Território Federal de Rondônia ascendeu à
condição de Estado Federado, houve o reconhecimento do acerto da
sua criação, pois implícito no conceito da comunidade, a combinação
de forças e a aliança de objetivos, se fixaram em interesses mais
amplos e mais coordenados, com direções próprias que desencadearam
o processo de transformação.
Ao concluir a leitura atenta de História Regional, constatei em
toda a obra o patriotismo dos autores. Ninguém deixará a leitura desse
livro sem se sentir mais amazônida, mais brasileiro. Constatei, também,
que poucos têm conseguido o manejo do método histórico como Marco
Antônio Domingues Teixeira e Dante Ribeiro da Fonseca. O rigor na
crítica das fontes e a precisão perfeita nas informações, são
admiráveis. Os autores, comprovaram o que Cícero já dizia: “ Aos
homens são necessárias muitas qualidades, porém duas mais são
necessárias ao historiador: primeiro, a de dizer sempre o que sabe que
é verdade; segundo, a de não dizer jamais o que sabe que não é
verdade.”
Por fim, trata-se de um livro que não pode faltar na estante do
estudioso comprometido com a multifacetada vivência na Amazônia, e
que deve ser lido e relido por quantos apreciam a sondagem desse
mundo verde onde indígenas, brancos e negros, construíram a nossa
história. É uma obra imprescindível nas aulas de História Regional nos
ensinos de 2 o . e 3 o . graus. Os autores prestaram um valioso serviço à
cultura de Rondônia.

Porto Velho, 29 de setembro de 1998.

Yêda Pinheiro Borzacov.


Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia.
v

Apresentação.

O trabalho que ora apresentamos foi elaborado com a finalidade


de ser utilizados nas classes de sala de aula do ensino fundamental e
do ensino médio, para vestibulares e concursos. Esta obra consiste em
uma versão simplificada de uma obra maior, ainda não publicada em
sua totalidade, em que os autores reuniram suas pesquisas, algumas já
publicadas em revistas universitárias sob a forma de artigos. A atual
versão didática se propõe a ser uma manual que professores e alunos
possam trabalhar, no sentido de uma maior compreensão da história de
Rondônia.
A proposta dos conteúdos agrega à análise macro -histórica
elementos que, até pouco tempo, eram desprezados como objeto do
conhecimento histórico. Nesse sentido a nossa proposta tenta
compreender a história não apenas a partir da ação unilateral do
Estado, através dos chamados “grandes personagens”, ou seja, os
generais, reis, diplomatas e políticos mas como um processo dialéti co,
conflituoso, em que os agentes da camadas populares atuam em
importantes papéis. Especificamente, em se tratando da história da
Amazônia, a ênfase deve ser dada ao processo de conquista e
colonização. A duas palavras não se apresentam de forma casual, por
muito tempo os fenômenos aos quais se referem foram tratados como
descobrimento e ocupação ou povoamento. O fato porém é que o
processo histórico pelo qual passou a Amazônia a partir do século XVII
constituiu-se em um processo de conquista, no qual os europeus
entraram em guerra contra as populações nativas, conquistando seus
territórios, escravizando -as, ou exterminando -as. Não se pode portanto
estudar a Amazônia sem observar o processo, a que foram submetidas
suas populações nativas, que já povoavam e sse espaço. Trata -se,
portanto de perceber a história como vida apresentando -a sem o mofo
com que muitas vezes é relatada, sem o cheiro do mofo e dos papéis
velhos, percebendo -a naquilo que ela possui de mais universal e útil ao
conhecimento da humanidade.
História Regional é um título polêmico. A primeira pergunta que
ocorreria a um leitor atento seria: o que é uma região? Certamente,
Rondônia, como espaço, é uma construção de determinados agentes
históricos. Destarte acompanhamos a construção de uma dete rminada
identidade geo-política, a partir do ponto de vista do colonialismo
português. À área dos rios Madeira, Mamoré e Mamoré é atribuída uma
certa unidade em face do papel que desempenhou na conquista de
parte das regiões Norte e Centro -Oeste. Contudo, os fenômenos
históricos que ali se passaram extrapolaram, em sua dinamicidade, as
fronteiras e limites estabelecidos pelo Estado. Dessa forma,
procuramos perceber o processo histórico em Rondônia sem perder de
vista sua conexão mais global.
Os capítulos do livro possuem um resumo geral, e as unidades
têm sempre ao final uma bateria de cinco exercícios para melhor
fixação do conteúdos. A cronologia que segue após o último capítulo
destina-se a ajudar o estudante a se situar pois, o tratamento dado às
unidades nem sempre tornou possível, e às vezes mesmo tornou
vi

desaconselhável, uma análise linear. Após a cronologia serão


encontrados exercícios relativos a todos os capítulos. As repostas para
todos os exercícios do livros foram colocadas na parte final, no
gabarito.
Devemos expressar nossos agradecimentos a algumas pessoas:
aos professores Apolônio e Miriam Teixeira, Marizélia e Zilá Fonseca,
pelo auxílio e estímulo dado à elaboração desse trabalho; a Rosemary
Gannon, que é mais que uma livreira, pois sem suas pesquisas não
teríamos encontrado muitas das fontes aqui utilizadas; a professora
Yêda Pinheiro Borzacov, que leu e apresentou valiosas sugestões.
Apesar do auxílio prestado por essas pessoas os autores assumem
inteira responsabilidade pelas possíveis imp erfeições encontradas no
trabalho. Finalmente, dedicamos esse livro, um esforço modesto de
contribuir com o processo educativo, a todos os professores e
estudantes do estado de Rondônia. São eles, mais do que ninguém,
que sofrem as conseqüências de viverem em um país onde,
infelizmente, muito pouco apoio se dá à educação.

Porto Velho, 29 de setembro de 1998.

Marco Antônio Domingues Teixeira.


Dante Ribeiro da Fonseca.
vii

ÍNDICE

Prefácio.

Apresentação.

Capítulo 1: A conquista e colonização da Amazônia e a submissão


do indígena.
Os primeiros contatos entre os indígenas e o colonizador.
A legislação colonial e a submissão do indígena.
A população indígena dos vales dos rios Madeira e Guaporé.
O indígena, o povoamento e a colonização.

Capítulo 2: A exploraçã o, conquista e ocupação da Amazônia no


contexto do antigo regime.
O espaço natural.
A exploração, as visões e o imaginário do conquistador na Amazônia.
Os tratados de limites da Amazônia no período colonial.
A diplomacia ibérica e a conformação das frontei ras da Amazônia
colonial.
A colonização da Amazônia: missionários, europeus e militares em
conflito.
A colonização da região do Madeira/Guaporé.
A defesa das fronteiras: destacamentos e fortificações.

Capítulo 3: O mercantilismo e as políticas de coloniza ção dos vales


do Madeira e do Guaporé.
A colonização do Vale do Guaporé e a fundação de Vila Bela da
Santíssima Trindade.
A mineração.
A agropecuária.
O comércio e as rotas fluviais.
A Companhia de Comércio do Grão -Pará e Maranhão.

Capítulo 4: A sociedade colonial guaporeana, aspectos do


cotidiano, a escravidão e a resistência escrava.
A sociedade colonial no Vale do Guaporé.
Negros, índios. europeus e mestiços: as políticas de ocupação e defesa
do território e as relações de poder e submissão.
Doenças e epidemias.
Aspectos da escravidão: a organização do trabalho, as ocupações e a
família.
A resistência escrava.
A crise do sistema colonial e o abandono dos vales do Madeira e
Guaporé.

Capítulo 5: As pressões internacionais sobre a Amazônia brasileira.


O imperialismo: as propostas de internacionalização da Amazônia e o
etnocentrismo dos viajantes.
viii

A navegação no rio Madeira e a abertura do rio Amazonas à navegação


internacional.
Limites e fronteiras: o Tratado de Ayacucho (1867).
A abertura do Amazonas à navegação estrangeira.

Capítulo 6: A exploração e colonização do oeste amazônico.


O primeiro ciclo da borracha.
A exploração e colonização do Oeste Amazônico.
Colonização brasileira do Madeira.
A colonização boliviana do Madeira, o Noroeste Boliviano e a emp resa
Suárez & Hermanos.

Capítulo 7: O processo de ocupação e expropriação indígena na


área do Beni.
O indígena na Bolívia: apropriação, submissão e resistência.
A legislação indígena e o recrutamento de trabalhadores na Bolívia.

Capítulo 8: Mão de obra p ara os seringais do alto Madeira.


A obtenção da mão -de-obra para os seringais e o mecanismo de
expropriação do trabalhador direto.
A mão-de-obra indígena no período áureo da borracha.

Capítulo 9: A questão acreana e a construção da E.F.M.M.


Os antecedentes e a Rebelião Acreana.
Anexação do Acre ao Brasil.
Percival Farquhar.
A construção da EFMM.
A força de trabalho.
Porto Velho.
Guajará-Mirim.
A comissão Rondon e a linha telegráfica.

Capítulo 10: O Território Federal do Guaporé.


Aluízio Ferreira: a intervenção e a nacionalização da EFMM.
Precedentes da criação do Território Federal do Guaporé.
A guerra pela borracha.
A criação do Território Federal do Guaporé.
A política no Território Federal do Guaporé.
Os garimpos de cassiterita e pedras preciosas.
A abertura da BR-364.

Capítulo 11: A criação do Estado de Rondônia.


A colonização recente
Os garimpos de ouro do rio Madeira.
A criação do Estado de Rondônia.

Exercícios de fixação.
Cronologia.
Gabaritos.
Obras consultadas.
ix
Capítulo 1
A conquista e coloni zação da Amazônia e a submissão do indígena.

Os primeiros contatos entre os indígenas e o colonizador.

As pessoas comumente pensam no índio como “um outro povo”,


diferente dos “brancos e civilizados”, mas os povos indígenas
constituem-se em um conjunto diversificado de culturas, cuja única
identidade inquestionável reside no fato de ocuparem a América, antes
da chegada do europeu. Apenas falando no aspecto político, nesse
primeiro contato, os conquistadores ibéricos encontraram povos que
viviam sob o governo de um monarca, como os incas e povos que
viviam ainda em pequenas sociedades sem o governo centralizado,
como os tupinambás. Assim, viviam esses povos sob variados padrões
de relações sociais como também estavam em diferentes estágios de
domínio das técnicas para a produção de seu sustento.
Onde hoje é a região Norte do Brasil, na área dos estados do
Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Pará e Tocantins
existiam inúmeros povos indígenas nômades e sedentários, todos
praticavam a agricultura mas os primeiros somente ocasionalmente
produziam excedentes para trocas com outros grupos e os últimos
produziam artefatos para o comércio como a cerâmica e tecidos de
algodão, havendo mesmo entre eles a divisão do trabalho. A
organização política desses povos comportava formas complexas como:
chefaturas guerreiras e expansionistas sustentadas por impostos, e
grupos com sistemas de liderança mais simples. Os Omágua possuíam
uma estrutura política que congregava várias aldeias e suas chefias
sob a liderança de um a chefia superior. Os grupos indígenas da
América comunicavam -se em várias línguas, muitas delas ainda
encontradas entre os indígenas da Amazônia Brasileira e distribuíam -se
entre os troncos lingüísticos tupi, aruak, karib, tucano, pano e jê.
O indígena da Amazônia era um ser perfeitamente integrado ao
seu meio, vivia da caça da pesca e da agricultura, que dominava de
forma suficiente e econômica: conhecia os terrenos mais férteis (as
várzeas) e plantava nas épocas de vazante dos rios a mandioca, o
milho, o algodão, o tabaco, certas árvores frutíferas e outros vegetais.
Ao entrar em contato com os indígenas da Amazônia, os portugueses
observaram que determinados povos indígenas já apresentavam
características expansionistas, expulsando ou dominando grupos m ais
fracos. Observaram, também, alianças políticas para defesa comum de
grupos ameaçados. O avanço europeu sobre o litoral do Brasil, no
século XVI, fizera com que alguns povos indígenas daquela área
migrassem para o interior, fugindo ao conquistador, entr ando na
Amazônia em disputa pelo controle de territórios.
Os primeiros contatos dos ameríndios com os colonizadores
iniciaram um processo de alteração violenta no desenvolvimento
demográfico e cultural dessas populações nativas que em algumas
regiões, como a Amazônia, dura até hoje. Na América do Sul os
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espanhóis encontraram um império bastante desenvolvido, o Império


Inca, cujo território se estendia do Equador até o Chile e era controlado
de sua sede no Peru pelo monarca (denominado Inca, que significa
filho do sol) auxiliado por um vasto aparelho burocrático e militar.
Francisco Pizarro (c. 1475 - 1541), o conquistador do Império Inca,
mandou executar o seu último soberano Atahualpa (c. 1500 - 1533)
desarticulando toda a estrutura política, econômica e s ocial ao colocar-
se no governo, em nome do rei da Espanha, daquele império.
Os espanhóis abalaram a estrutura social incaica ao abolirem o
direito comunal à propriedade da terra, mas souberam aproveitar -se
das formas de exploração do trabalho já utilizadas entre aqueles povos.
Os adelantados, aqueles espanhóis que primeiro conquistavam o
território aos indígenas, adquiriam o direito às encomiendas e o
controle da população dominada. Os encomenderos adquiriam direitos
e deveres semelhantes àqueles que exerci am os caciques nos tempos
incaicos, chamados curacas ou hilatacas, ou seja, de mediadores do
poder do Inca frente a base social. A encomienda era a sujeição de
uma população nativa ao conquistador, em nome do rei e pressupunha
alguns serviços dessa populaç ão para o Estado, a Igreja e o
encomendero. Os mitayos, por exemplo, consistiam na utilização
desses indígenas nas minas, na construção de obras públicas e
edificações para o senhorio, o clero e o rei; os yanaconas consistiam
no recrutamento forçado do ind ígena para o serviço doméstico do
senhorio.
Na Amazônia, o estabelecimento do primeiro núcleo colonial
português no início do século XVII, o forte do Presépio, que daria
origem a Belém do Pará, destinava -se a garantir a posse de um
território ameaçado por estrangeiros, que ali estabeleceram feitorias.
No século seguinte era premente o controle dos rios, entre eles o
Madeira e o Guaporé, que se situavam no oeste amazônico, tanto para
garantir fronteiras contra os espanhóis como para manter as
importantes rotas fluviais do comércio colonial e internacional. Haviam
ainda os grupos indígenas que reagiam bravamente contra esse
avanço, os quais era necessário expulsar e manter afastados das novas
áreas de colonização.
Assim, iniciou o português o processo de “aman samento”. Era,
predominantemente, o indígena “amansado” que colaborava tanto nas
expedições que devassaram a Amazônia, a partir do século XVII,
quanto como trabalhador direto nos estabelecimentos agrícolas e
extrativistas coloniais. A serviço do colono par ticular, do missionário,
mas também sujeito ao aparelho burocrático e militar do Estado
Português, construíram fortificações, abrindo estradas, nos
destacamentos militares que garantiam as rotas de comércio, nos
estaleiros e pesqueiros reais. Havia três fo rmas de sujeição do
indígena: os descimentos, os resgates e as guerras justas. Os
indígenas descidos situavam -se como livres, embora a liberdade fosse
apenas formal. Os indígenas resgatados e provenientes de guerras
justas eram legalmente escravizados. Os descimentos consistiam em
expedições que entravam em contato com os grupos indígenas com o
objetivo de convencê -los a “descerem”, ou seja, saírem de seus
12

territórios tradicionais para situarem -se em missões próximas aos


núcleos coloniais. Os resgates eram feitos por meio de expedições dos
colonos, que entravam em contatos com certos grupos tribais,
praticando o escambo de mercadorias por prisioneiros de guerras inter -
tribais. Os resgatados eram chamados índios de corda porque, segundo
os portugueses, ficava m amarrados nas aldeias de seus captores.

Classificação lingüística das línguas indígenas faladas no Brasil


Tronco Família
Tupi Tupi -Guaraní, Mundurukú,, Juruna, Arikêm, Tuparí,
Ramarâma, Mondé.
Macro-jê Jê, Maxakalí, Karirí, Borôro.
Aruak Aruak e Arawá.
Nãoclassificado Karíb, Makú, Yanoâma, Tukâno, Mura,
Pâno, Txapakúra, Nhambikuára, Guaikurú

Fonte: Melatti, 199 3.

Exercícios.

1. Sobre os Ameríndios à época da conquista podemos afirmar que:


a) constituíam-se em um só povo sedentário e produtor de excedentes
agrícolas para o mercado.
b) apresentavam -se como uma multiplicidade de povos com línguas e
culturas diferentes.
c) possuíam um padrão de relações sociais bastante homogêneo.
d) compunham-se todos de pequenas sociedades sedentárias isoladas
entre si.

2. Os indígenas da Amazônia viviam em sua maioria em áreas:


a) de montanhas.
b) de terra firme.
c) de várzea.
d) nas ilhas.

3. Quanto aos incas pode-se afirmar que:


a) constituíam-se de um povo nômade, e pouco desenvolvido.
b) possuíam vários monarcas independentes.
c) constituíam um império governado por um monarca.
d) viviam em sistema de propriedade particular, semelhante ao
europeu.

4. Sobre as práticas de “amansamento” do ameríndio é certo que:


a) visavam sobretudo fornecer mão -de-obra escrava para os
portugueses.
b) tinham por objetivo beneficiar o indígena, tirando -o do estado de
miséria em que vivia.
c) ao resgatar o prisioneiro indígena o colono prete ndia somente salvar
sua vida.
13

d) os descimentos salvavam os indígenas da escravização de seus


inimigos tribais.

5. Os indígenas descidos eram considerados:


a) escravos por determinado tempo.
b) escravos para toda a vida.
c) livres enquanto estivesse na missão.
d) livre sem qualquer condição.X

A legislação colonial e a submissão do indígena.

Desde antes do assentamento do primeiro núcleo colonial


português no rio Amazonas, a metrópole preocupou -se com o papel do
indígena na nova sociedade americana. Essa preocupação con tinuou
durante todo o período colonial. Já no início do século XVII, o Alvará de
30 de julho de 1609 declarava o direito do indígena à liberdade
absoluta. No final do século, uma nova lei, de 01 de abril de 1680,
revelou a necessidade de o Estado declarar aos colonos a mesma
condição para o indígena.
O que houve, no espaço de 71 anos entre a publicação dessas
duas leis, que obrigou a monarquia portuguesa a reafirmar, através de
instrumentos legais, o mesmo princípio? No início da colonização da
Amazônia as atividades agrícolas, pecuárias, artesanais e de coleta das
drogas do sertão eram executadas totalmente pela mão -de-obra
indígena. Dada a importância dessa mão -de-obra, conflitos entre
colonos, missionários, governo colonial e metropolitano surgiam quando
o tema tratava do seu aprisionamento e utilização como força de
trabalho.
Desde o século XVI decretos reais e bulas papais repetiam as
afirmações sobre a humanidade e o direito à liberdade dos indígenas
americanos, apesar de o teor desses documentos varia r entre o direito
à liberdade absoluta ou condicionada. Mais que isso, reconhecia a
legislação do século XVII que os indígenas do Maranhão e Grão -Pará
eram os “primários e naturais senhores da terra” e tornava -os, de
direito, súditos ao definir que deveria m ser tratados com base na Lei de
12 de setembro de 1653, governados pelas autoridades da
administração pública colonial, segundo o princípio da justiça secular.
Dois anos após a publicação da Lei de 1609, surgiu uma nova
legislação. Através da Lei de 10 d e setembro de 1611, a coroa
portuguesa instituiu o regime de capitães de aldeia que, na realidade,
permitiu dar uma aparência legal à escravização do índio, na medida
em que se permitia entregá -lo ao controle do colono, com garantias
apenas formais sobre o seu tratamento. Pela Lei de 1611, era o capitão
de aldeia que repartia os indígenas descidos, destinando -os a trabalhar
para os colonos, missionários ou para o serviço do Estado.
Os descimentos, depois de 1611, passaram a ser escoltados por
militares e o comandante da escolta era o capitão de aldeia. Os
capitães de aldeia que deviam zelar pela integridade do indígena foram
os seus maiores exploradores, utilizando -os nos estabelecimentos
14

agrícolas, de açúcar, algodão e fumo, na coleta das drogas do sertão,


no trabalho de corte da madeira, nas construções e no transporte de
produtos. Os índios resgatados eram denominados, na legislação de
1611, índios de corda e o europeu que o adquiria em troca de
mercadorias era, então, considerado seu salvador, podendo det ê-lo
como escravo durante o prazo de dez anos. Contudo, em 1626, dez
anos após o estabelecimento português na Amazônia, quando deveriam
ser libertados os primeiros indígenas resgatados, a legislação foi
mudada permitindo -se a escravização desses indígenas por toda a vida.
Os jesuítas adquiriram com a publicação da Lei de 9 de abril de
1655 o direito de autorizar e dirigir as tropas de resgates e as guerras
justas. Essa legislação gerou a insatisfação dos colonos que, em 1661,
revoltaram-se contra os mission ários. Em 1680, esses clérigos
retornaram e passaram a controlar as aldeias de repartição, acirrando
novamente a fúria dos colonos. A tentativa de introdução do negro
africano como escravo na Amazônia, através da Companhia. de
Comercio do Maranhão e Grão -Pará, foi adotada pelo governo
português, a conselho do padre Antônio Vieira e visava diminuir o peso
da mão-de-obra indígena na economia daquela parte da colônia. O
custo da mão-de-obra escrava, proibitivo para a maioria dos colonos,
somado ao controle dos repartimentos pelos missionários jesuítas,
provocou outra revolta, a dos Beckman, iniciada no Maranhão e que
resultou em nova expulsão dos jesuítas. A escassez de capitais na
Amazônia impossibilitou a exportação do negro como opção viável de
suprimento de mão-de-obra em escala suficiente para atender às
necessidades mais gerais da economia.
Em 21 de dezembro de 1686, uma nova lei foi aprovada: o
Regimento das Missões, mantendo as aldeias de repartimento e
retornando o controle dos índios aldeados aos jesuí tas. Contudo, a
tarefa de repartição dos índios deveria ser feita por um conselho do
qual fazia parte o Superior da Missões, o Governador e dois oficiais da
Câmara. Manteve ainda o princípio das guerras justas e das tropas de
resgate, permitindo que partic ulares a realizassem, desde que 20% dos
cativos tornassem propriedade da coroa e criando inclusive um fundo
para financiar essas expedições. Os descimentos, guerras justas e
tropas de resgate passaram ao controle da Junta das Missões que as
aprovava. Essas medidas revelam a preocupação da coroa com o
desperdício do recurso humano indígena e, como as demais, resultaram
em interesses contrariados. Na realidade restabeleceram o monopólio
do trabalho indígena aos missionários, conduzindo a uma nova
insurreição dos colonos. Acusando os missionários de não procederem
aos repartimentos e de utilizarem a nova legislação em benefício
próprio, ou seja, de reterem os indígenas apenas em seus rendosos
estabelecimentos os colonos passaram a atacar os aldeamentos
missionários para roubar os indígenas. Os missionários das três ordens
que atuavam na Amazônia (carmelitas, capuchinhos e jesuítas), que
eram considerados funcionários da coroa portuguesa e recebiam a
côngrua, uma espécie de salário pelos seus serviços de domestic ação
do indígena, entraram também em confronto. Julgavam os capuchinhos
e os carmelitas que os jesuítas haviam sido aquinhoados com as áreas
15

de maior população indígena e sentindo -se prejudicados recorreram


inclusive ao confronto armado.
Os documentos da é poca revelam que algumas ordens
missionárias não foram executoras fiéis da política metropolitana para o
indígena. Alguns missionários chegavam mesmo a vender aos que
partiam em expedições para a escravização dos nativos, certificados
em branco que declara vam ser os indígenas aprisionados na forma da
lei. Já em meados do século XVII os missionários possuíam vasta
fortuna que incluía fazendas de criação de gado, estabelecimentos
agrícolas e engenhos e a maior riqueza daquela terra, um vasto
contingente de trabalhadores indígenas.
A demanda de mão -de-obra cresceu ainda mais por volta de 1720,
quando uma epidemia grassou entre os indígenas escravizados do
Grão-Pará, em Belém e regiões vizinhas. Nesse momento, iniciava -se o
boom do cacau que iria durar todo o sé culo XVIII, aumentando a
demanda de mão-de-obra e, conseqüentemente, as entradas para a
busca de índios. A intensificação dessas buscas no rio Negro, Japurá e
Branco explica-se em função do controle desses rios pelos membros da
Ordem Carmelitana que, ao co ntrário dos Jesuítas, eram bem mais
flexíveis em sua participação, direta ou indireta, no negócio de
escravos.
Quando o Marquês de Pombal (Sebastião José de Carvalho e
Melo) tornou-se ministro do rei português D. José I, delineou -se uma
nova política para a Amazônia. Seu atos relativos à região
demonstravam claramente a estratégia de lusitanizar e garantir maior
subordinação da economia amazônica aos interesse comerciais
metropolitanos. Dentre várias medidas, Pombal modificou a política
indígena; expulsou e confiscou os bens dos jesuítas; estimulou
imigração de negros e açorianos para a colonização, criou uma
companhia com monopólio do comércio e reformulou a máquina
administrativa local. A importância da Amazônia para a política de
Pombal revela-se ainda quando nomeou Francisco Xavier de Mendonça
Furtado, seu meio irmão, para governar o Grão Pará entre 1751 a 1759.
A divulgação dessa nova política indigenista foi cercada de todos
os cuidados, revelando o temor antevisto pelas autoridades
metropolitanas e coloniais em relação as possíveis reações contrárias
dos colonos. Assim, entre a promulgação dos alvarás régios de 1755 e
sua publicação, dois anos depois, medidas foram tomadas para fazer
face às possíveis rebeliões dos colonos e missionários do Grão Pará e
Maranhão.
Publicado em 1757, o Diretório que se deve observar nas
povoações dos índios do Pará e Maranhão enquanto sua majestade não
mandar o contrário (Diretório dos Índios) representava uma enfática
intervenção da coroa na questão do indígena. O interess e reiterado de
tornar o indígena súdito com plenos direitos, como os luso -brasileiros,
assumiu no discurso colonial duas vertentes: a primeira assegurou a
liberdade do indígena e a segunda indicou sua aculturação. As duas
vertentes resultariam na transform ação do indígena em verdadeiro
súdito do monarca português, igualado legalmente e para todos os
efeitos aos luso-brasileiros. Para melhor subordinar os indígenas aos
16

interesses da coroa, os missionários foram afastados da administração


das aldeias, que foram entregues à administração de um Diretor leigo,
que ficava responsável também pelos descimentos.
Contudo, não era dado ao indígena decidir se queria ou não
trabalhar. Antecipando -se ao retorno do indígena aos seus costumes
com relação ao trabalho, costum es considerados pelos colonos,
missionários e autoridades coloniais como ociosidade e vadiagem, o
Capitão-General Mendonça Furtado promulgou, em 1754, um bando
confirmado na carta real de 1755. Nesse bando estipulava -se que os
indígenas que estivessem sem ocupação fossem cedidos aos colonos
que os remunerariam.
A reação dos colonos às medidas propugnadas pelo Diretório veio
conforme foi prevista pelas autoridade do governo. Além dos protestos
formais, os colonos conspiraram no sentido de entregar o Grão -Pará ao
monarca francês, desde que esse se comprometesse a manter a
escravidão indígena naquela região. Doze anos após a publicação do
Diretório, ainda era possível observar a prática corriqueira da
escravização do indígena, realizada inclusive pelos próprios diretores
que maltratavam e exploravam brutalmente, em benefício próprio, os
indígenas sob sua responsabilidade.
A Carta Régia de 12 de maio de 1798 extinguiu o Diretório e
tornou obrigatório por determinado tempo o serviço do indígena no
Corpo de Milícias e no Corpo de Trabalhadores. Quanto aos colonos
dava-lhes a liberdade de estabelecerem -se nas áreas ainda sob o
domínio do indígena, bastando apenas informar às autoridades sua
intenção. Os descimentos promovidos pelos colonos, o comércio direto
desses com os indígenas e a contratação dos trabalhadores, desde que
estivessem livres do período de serviço para a coroa,. também eram
atividades permitidas.
Esse estatuto vigorou até a independência, tornando -se mais
rigoroso para o nativo ao longo do tempo. Em 1808 e 1809, novas leis
ampliaram a permissão aos colonos para capturarem indígenas. Enfim,
adotou-se uma permissividade quase absoluta para os padrões das
legislações anteriores, ao entregar, na prática, o arbítrio sobre o
destino das populações nativas ao colono, que poderia avançar sobre o
território em verdadeiras guerras de conquista e escravização ou
estimular as guerras inter -tribais para estabelecer a compra de
prisioneiros.
Com a independência do Brasil reuniu -se a Assembléia
Constituinte dentro d a qual foi criada uma Comissão de Colonização,
Catequese e Civilização dos Índios. O Ato Adicional de 1834 atribuiu às
Assembléias Provinciais a responsabilidade de promover a catequese e
civilização dos indígenas. Contudo, no Grão -Pará, era tarde para
quaisquer iniciativas que visassem a resolver o problema do
trabalhador. O descaso da elite nacional e local para com a situação do
índio e seus descendentes na Amazônia e o aviltamento crescente do
trabalhador, ou seja, do indígena, do negro e do mestiço, re sultou num
dos maiores levantes populares que há notícia na Amazônia e no Brasil,
a Cabanagem. Nesse movimento, que eclodiu em 1835, na Província do
Grão Pará, índios aldeados, tapuios, mestiços e negros levantaram -se
17

em revolta contra “tudo aquilo que era branco” ou seja toda a miséria e
dizimação a eles imposta pelo europeu e seus sucessores. Essa
violenta contestação que durou dez anos, foi violentamente reprimida e
os cabanos derrotados, restando do movimento um saldo aproximado
de 40.000 mortos.
No período da Regência foram revogados os atos de 1808 e 1809
que permitiam a guerra justa a determinados grupos e a escravização
de seu membros. Em 1843 o governo, tentando dar conseqüência ao
ato adicional à constituição que atribuía ao governo e à Assembléia
Geral ações para catequizar e civilizar os indígenas, aprovou a Lei n o .
317 que, entre outras providências, autorizou aos padres capuchinhos
os afazeres de catequese. A regulamentação dessa lei distribuiu a
responsabilidade entre o diretor de missões e os clérigos. O diretor da
missão teria, entre outras, as atribuições de introduzir o indígena em
um ofício e fiscalizar os contratos de prestação de serviço.
Apesar de o índio ser considerado incapaz e sujeito à proteção
legal, estava sujeito ao serviço das a ldeias e ao serviço público e
militar. Poderia sofrer a penalidade de prisão de até oito dias a critério
do diretor e ser entregue a justiça, ou seja, responder penalmente por
suas faltas. Durante o início do período republicano pouca coisa
mudou. Como no império a constituição não fazia menção ao indígena e
no código civil eram considerados como incapazes a certos atos e a
maneira de praticá -los e portanto sujeitos à tutela do Estado.

Exercícios.

1. Sobre a legislação colonial portuguesa que tratava da q uestão


indígena no Brasil podemos afirmar que o indígena era considerado:
a) um elemento livre sem restrições.
b) livre em algumas situações.
c) sempre sujeito à escravidão.
d) sujeito à escravidão apenas quando não aceitasse a fé católica.

2. A legislação de 1611 dotava os Capitães de Aldeia de várias


atribuições com relação ao indígena, exceto:
a) entregá-lo ao controle do colono.
b) repartir os indígenas descidos.
c) comandar as tropas de descimento.
d) manter os indígenas em suas aldeias originais.

3. Os atritos entre os colono s e os missionários resultavam:


a) do mal tratamento que os missionários davam aos indígenas.
b) da possibilidade de falta de mão -de-obra com os descimentos.
c) dos privilégios que várias leis deram aos missionários.
d) da impossibilidade de os missionários dirigirem as aldeias de
repartição.

4. Na Amazônia não foi possível substituir, em grande escala, a mão -


de-obra indígena pelo negro africano porque:
a) o negro africano era mais rebelde e fujão.
18

b) o escravo africano possuía um preço mais alto que o indígena.


c) o indígena como mão-de-obra era mais dócil e dedicado.
d) havia muita dificuldade em capturar escravos indígenas.

5. Já no final do século XVII, uma outra lei referente ao indígena foi


aprovada, nela constava que:
a) os jesuítas participavam da Junta das Missões que controla va os
repartimentos, aprovava e participava das tropas de resgate, guerras
justas e descimentos.
b) os funcionários da coroa decidiriam exclusivamente sobre todas as
ações que tivessem relação com o indígena.
c) o governo não teria nenhum direito sobre os nativo s capturados.
d) os indígenas não poderiam trabalhar para os colonos, mas apenas
para os missionários.

A população indígena dos vales do rio Madeira e Guaporé.

Na região dos rios Madeira, Mamoré e Guaporé e nos seus


tributários, o português encontrou dois t ipos de grupos indígenas: os
habitantes antigos e povos que para lá migraram, em fuga do avanço
europeu ou do expansionismo territorial de nações indígenas mais
fortes. Desses povos que migraram possivelmente os Tupi foram os
primeiros a atingir a bacia de ste rio. Vinham recuando de suas
povoações que, até o século XVI, estendiam -se da foz do Amazonas
até o sul de São Paulo.
Os Tupinambarana, descobertos em 1639 pelo padre Acuña no rio
Amazonas, na ilha de mesmo nome próximo à foz do Madeira, eram
descendentes dos Tupinambá de Pernambuco. Posteriormente, outros
grupos migrariam para aquela região, provocando guerras inter -tribais
pelo controle do território. Dentre os moradores antigos do Madeira
encontraram os Torá, Mura e Matanawí. Quanto aos Mura é necess ários
esclarecer que enquanto alguns autores acreditam que o Madeira tenha
sido o seu antigo núcleo de povoação, outros defendem a hipótese de
que esses indígenas tenham migrado do Peru, fugindo ao domínio
espanhol.
No final do século XVIII, alguns grupos indígenas do Tapajós
começaram a entrar em contato com o colonizador. Conhecidos como
Kawahib, eram uma nação que se subdividia em vários grupos, dentre
eles os Parintintin. Esses Kawahib foram ferozmente perseguidos pelos
Munduruku e, expulsos de seus te rritórios, subdividiram -se em vários
grupos que se espalharam na região situada entre os rios São Manoel e
Madeira. Os Tupí-Kawahib, após a dispersão provocada pelos Mura,
situaram-se no rio Branco, afluente do Roosevelt e depois ampliaram
seu território até o Ji-Paraná e seus afluentes. Os Kawahib foram
encontrados até o final do século XIX no campo dos Parecis, entre a
foz do Arinos e Juruena. Nessa mesma época o baixo e médio Mamoré
foi objeto da migração de outro grupo indígena, os Txapakura. Viviam
originalmente no curso do médio e alto rio Blanco (Baures), na área em
torno do lago Chitiopa e parte de Concepción de Chiquitos (Bolívia). Os
19

Txapakura foram dominados pelos europeus no início do século XVII e


reduzidos aos aldeamentos dos colonizadores. Alg uns grupos
penetraram a América Portuguesa. Desses, os Urupá e Jarú pertencem
a família lingüística Txapakura e entraram em contato com os
portugueses no início do século XVIII.
A nação que mais ferozmente reagiu ao avanço português na área
do Madeira no século XVIII foi a Mura. Essa nação uma população
espalhada, antes do século XVIII, em uma enorme área que
compreende os rios Madeira, Negro, Solimões e Japurá. Teria ocorrido
que por força da guerra movida contra essa nação, no século XVIII,
houve um rápido decréscimo da sua população e a concentração de seu
território no rio Madeira. Inimigos tribais ao tempo da penetração
portuguesa, primitivamente a agressividade dos Mura e dos Munduruku
dirigiu-se ao elemento colonizador que ao longo do tempo aprendeu
utilizar a rivalidade entre as dois grupos em benefício próprio. A luta
simultânea contra o europeu e os Munduruku e diversas epidemias
ocasionaram uma enorme mortandade entre os Muras. O golpe final
veio com a aliança entre os Munduruku e os portugueses n o final do
século XVIII. Alguns grupos Mura pediram a paz em 1786 e durante
algum tempo estiveram pacificados, habitando algumas aldeias ao
longo do Madeira e na foz de seus afluentes. Contudo, provavelmente
em razão das agressões dos civilizados, voltaram a atacar e depredar
na área do Madeira.
Os Munduruku foram também um grupo guerreiro cujo
expansionismo encontrou obstáculo na penetração portuguesa na
Amazônia. Os europeus passaram a realizar expedições punitivas
contra esse grupo até que, no final do século XVIII, os Munduruku
abandonaram os territórios que haviam ocupado recuando para os rios
Canumã e seus tributários e para o rio Caruru, tributário do Tapajós.
No final do século XIX, o Madeira era ainda fartamente habitado
por várias nações indígena s. Em 1872, existiam no Madeira várias
áreas ainda sob domínio dos indígenas. Na margem direita, em um
pequeno trecho do rio Marmelos, havia o território dos Mura; o rio
Machado e seus afluentes era região dos Parintintin; o rio Preto
pertencia aos Iurá e Arara; o rio Jamarí era território dos Jacanga -
Piranga, Urutucurú, Urapa -Manaca; na margem esquerda da cachoeira
do Macaco ficavam os Apama, além dos índios já aldeados como os
Karipuna situados na cachoeira de Morrinhos.
O descobrimento das lavras do Mato Grosso e Cuiabá propiciou
uma intensa migração de paulistas, mineiros, goianos e outros
habitantes da colônia para a região. Esse processo migratório, marcado
pela ousadia, bravura e ganância, esteve associado também à contínua
busca de braços cativos dos indígenas da região para o trabalho das
minas, lavouras e para o comércio humano de diversas praças
coloniais.
Entre os grupos preferidos pelos sertanistas e apresadores estão
os Borôro e os Pareci, que eram considerados de maior docilidade,
mais fácil adaptação aos hábitos e costumes da sociedade colonial
mercantilista que ia sendo implantada nos confins do Guaporé. No
entanto, a escravidão do indígena não era feita sem grande resistência
20

dos mesmos, cabendo especial destaque aos inúmeros transtornos e


tragédias produzidos pelos Payaguá, Kabixi e Kayapó aos mineiros e às
autoridades coloniais.
O comércio de indígenas, mesmo proibido, era praticado, às
vezes burlando-se as autoridades. Deve -se ressaltar que a
precariedade do tráfico negreiro para a Amazôni a em geral e para o
Guaporé em particular provocou a abertura de precedentes para que o
recurso da mão-de-obra indígena fosse ainda largamente empregado.
Contudo, não se pode dizer que houve uma substituição da escravidão
indígena pela africana, pois as du as ocorreram ao mesmo tempo. O que
se percebe é que, na região guaporeana, ao contrário do Madeira e de
outras áreas da Amazônia; a escravidão de negros tomou um vulto
muito maior, fazendo com que os números de escravos indígenas
fossem percentualmente mín imos.

Exercícios.

1. Ao entrar em contato com os indígenas no Amazonas os portugueses


observaram que:
a) esses grupos não haviam ainda entrado em contato com o europeu.
b) alguns desses grupos já haviam entrado em contato e, inclusive,
negociavam com os europe us.
c) esses grupos indígenas permitiam o fácil avanço dos colonizadores.
d) a navegação para o interior era tranqüilamente permitida pelos
originais moradores daqueles rios.

2. Na região do Madeira/Mamoré/Guaporé os grupos indígenas


encontrados pelos europeus era m:
a) todos tradicionais moradores da região.
b) todos compostos por migrações recentes.
c) alguns habitantes antigos e outros compostos por migrantes.
d) uma série de povos trazidos com os europeus.

3. A migração provocava, entre os indígenas, a disputa pelos territ órios


e podemos afirmar que os indígenas migravam:
a) fugindo ao contato com o conquistador.
b) em busca de terras mais férteis para expansão de seus excedentes
comercializáveis.
c) em busca de territórios ricos em ouro e pedras preciosas.
d) à procura do Eldorado.

4. Dentre os motivos da ocupação da região guaporeana podemos


destacar:
a) principalmente do extrativismo vegetal.
b) o aldeamento dos Payaguá e Kabixi.
c) a atividade de mineração.
d) as guerras justas.
21

5. Dentre as causas da dificuldade dos colonos em adotarem o esc ravo


africano como força de trabalho predominante na região de mineração
pode-se destacar:
a) a oposição dos indígenas ao negro.
b) a inaptidão do africano à vida naquela região tropical.
c) o desconhecimento das técnicas de mineração.
d) o elevado custo dessa mão -de-obra em relação ao indígena.

O indígena, o povoamento e a colonização.

Durante o século XIX e séculos seguintes, continuou o trabalho


de conquista e ocupação dos territórios indígenas na área hoje
pertencente ao Estado de Rondônia. Simultaneamente, o ap resamento
do indígena e sua escravização também continuaram sendo práticas
comuns. Até aproximadamente 1860, a economia amazônica estava em
crise. Com a queda nas exportações do cacau e outros produtos
denominados drogas do sertão iniciou -se um daqueles pe ríodos de
estagnação econômica que ciclicamente atingem a economia
amazônica. A borracha já era exportada porém em pequenas
quantidades. A partir de meados do século XIX, inicia a crescer sua
demanda, com o crescimento da produção novas áreas de extrativis mo
foram incorporadas, resultando no avanço para os afluentes do
Amazonas mais a oeste. Esse período foi chamado 1 o . Ciclo da
Borracha e durou até a segunda década do século XX. Durante esse
ciclo, o avanço sobre os seringais nativos do Madeira, Mamoré e
Guaporé, Purus, Juruá e pelos afluentes desses rios encontrou grupos
indígenas nativos ou remanescentes do contato com o que europeu nos
séculos anteriores que haviam se internado naqueles sertões em fuga
para escapar à dizimação.
Os remanescentes das maio res nações indígenas, ainda não
amansados, continuaram a atacar o colonizador e a guerrear entre si.
Entre 1870 e 1874, os Munduruku atacaram os Mura e os Parintintin no
rio Madeira. A partir desse ano iniciam a escassear as notícias de
ataques dos Mura. A o contrário, os Parintintin são constantemente
citados. Em 1867, atacam no alto Madeira os membros da expedição
Keller, a qual deslocara -se para o Madeira a fim de estudar as
viabilidades de superação do trecho encachoeirado. Em 1876,
assaltaram uma embarc ação e mataram toda sua tripulação, sendo
objeto de uma expedição punitiva (guerra justa) em que morreram três
indígenas e foram aprisionadas duas mulheres e cinco crianças.
Severiano da Fonseca relatou em 1878 que os Parintintin eram, nessa
época, os piores inimigos do colonizador no Madeira, assaltando os
seringais e sendo temidos pelos seus ataques. Os Munduruku, após
colaborarem com a repressão aos Mura, foram ocupados na economia
extrativista, restando, após trinta ou quarenta anos, poucos
remanescentes desses grupos em três aldeamentos oficiais no Tapajós:
as aldeias de Santa Cruz, Cory e Ixituba. Tornados tapuios, com todas
as conseqüências que essa processo traz, estavam a serviço do
22

colonizador, entregues à embriaguez e constantemente endividados


ante aos donos dos barracões ou regatões.
Os Arara ainda eram bastante numerosos no Madeira durante
meados do século XIX. Tendo recuado para o trecho encachoeirado
desse rio, viviam ainda em guerra com os grupos remanescentes da
nação Mura. Esses últimos fo ram definitivamente dominados, somente
após a segunda metade do século XIX, tendo sido identificados com a
cabanagem foram objetos de intensa perseguição. Alguns grupos Arara
estavam já submetidos, vivendo em aldeamentos no Alto Aripuanã,
próximos a outros grupos indígenas: Hiauareti -Tapué, Anera-Tapuí e
Matanaú. Alguns Karipuna estavam já estabelecidos em aldeias
situadas na cachoeira de Morrinhos, no alto Madeira, em 1872.
Prestavam serviços ocasionais ao colonizador como remeiros ou
carregadores no traba lho de sirga, carga e descarga das embarcações
para contornar as cachoeiras. Em 1878, Neville Craig se refere a eles
como preguiçosos e ladrões.
Com a queda das exportações da borracha arrefeceu o genocídio.
Essa situação porém continuou por pouco tempo. C om a Segunda
Guerra Mundial cresceu o interesse norte -americano em reativar a
produção da borracha amazônica, iniciando um período que se costuma
chamar 2 o . Ciclo da Borracha. A intensa migração para a Amazônia,
que em curto período destinava -se a satisfazer as pretensões norte -
americanas, fez aumentar de intensidade a guerra sem tréguas
promovida contra esses povos.
Notícias da continuidade desse fenômeno prosseguiram mesmo
após o final do curto 2 o . Ciclo da Borracha. A partir de meados do
século atual, a descoberta e exploração em território rondoniense de
vários minerais e a intensa migração de colonos à procura de terras
para a agricultura deu motivo a novas chacinas. A abertura da BR -364,
na década de 60, facilitou o processo de ocupação das áreas ao lo ngo
de seu leito. Essas terras eram habitadas por diversos povos indígenas,
vítimas de grileiros e posseiros que, a exemplo dos portugueses no
século XVII, pretendiam tornar “limpas” aquelas áreas, ou seja
afugentar o indígena mais para o interior, ocupand o seu território. O
grande surto migratório da década de 70 em diante completou o quadro
de desolação.
Apesar desses variados processos que ocasionam a destruição do
indígena em vários aspectos, esses povos têm realizado uma heróica
luta de sobrevivência. Um recente levantamento, ainda que incompleto,
em virtude das lacunas de informação existentes sobre as populações
indígena que vivem no Brasil, indica a existência de inúmeros grupos
dentro dos limites do Estado de Rondônia. Considerando -se a
Amazônia é espantoso observar que muitos desses povos combatem o
colonizador desde o século XVII e ainda possuem remanescentes como
os Torá, os Mura e os Omágua entre outros.
Dos 24 grupos indígenas contatados existentes em Rondônia, há
informações sobre a população de apenas 10 grupos e totalizam
aproximadamente 3.948 pessoas. Entre esses grupos encontram -se,
alguns entre Rondônia e o Amazonas, ou Mato Grosso os seguintes:
Cinta Larga, Kaxarari, Karipuna, Pakaas Nova, Suruí e Nhambikwara,
23

além dos já citados. Esses grupos indígenas têm assimilado formas de


organização, com estatuto e registro em cartório, que lhes permitem
penetrar, com eficácia, no mundo do homem branco de maneira a
reivindicar, com sucesso, suas aspirações. Em Rondônia pode -se citar
várias dessas o rganizações dos grupos indígenas: a Organização
Metairelá do Povo Indígena Suruí (OMPIS), a Organização Tamaré do
Povo Cinta Larga (OTPICL) e a Akot Pytyanipá Associação Karitiana
(AKOT). Existe também em Rondônia uma associação que articula os
vários povos indígenas do estado entre si, a Coordenação da União das
Nações e Povos Indígenas de Rondônia, Norte do Mato Grosso e Sul do
Amazonas (CUNPIR). Há também organizações não governamentais de
apoio ao indígena como o Conselho Indigenista Missionário de
Rondônia (CIMI/RO).

Exercícios.

1. A intensificação da ocupação dos principais rios que se situam


dentro do espaço de Rondônia durante o século XIX pode ser explicada
por:
a) o aumento da procura da borracha como matéria -prima.
b) uma bem montada estratégia de ocu pação por parte do governo.
c) durante o século XIX não houve intensificação da ocupação.
d) o extrativismo do cacau e do café nativo.

2. Durante a 2 a . Guerra Mundial podemos apontar como um importante


fator explicativo do novo surto de ocupação do futuro estad o de
Rondônia:
a) a fuga de brasileiros do litoral para o interior, temendo a invasão
alemã.
b) o interesse norte -americano na ocupação estratégica da região.
c) o interesse norte -americano em aumentar a produção da borracha
amazônica.
d) o estabelecimento de indústri as de borracha no sul do Brasil.

3. No início do século XIX, podemos afirmar que a povoação não


indígena do Vale do Madeira/Guaporé encontrava -se:
a) já amplamente solidificada possuindo mesmo suficientes núcleos
urbanos em toda sua extensão.
b) sob predomínio exclusivo dos seringais não havendo nenhum núcleo
urbano.
c) afora alguns aldeamentos de missionários ou do governo e de
poucos núcleos urbanos o estado geral era de abandono.
d) somente indígenas não amansados habitavam aquela região.

4. Na segunda metade do s éculo XIX inicia a crescer a produção de


borracha que a par das demais atividades econômicas da região
utilizava naquele momento, predominantemente:
a) o trabalho do migrante europeu e nordestino.
b) a mão-de-obra escrava, liberta apenas em 1888.
c) a mão-de-obra indígena.
24

d) o trabalho do migrante nordestino.

5. Sobre os indígenas ainda vivendo em sua situação original pode -se


dizer:
a) não mais representavam preocupação para o colono.
b) colaboravam no processo de colonização.
c) que apesar da sua dizimação continuaram, até o final do século XIX,
a combater o colono e a guerrearem entre si.
d) foram bem sucedidos em defender seus territórios.

Em resumo.

 Os indígenas que ocupavam o território brasileiro antes da chegada o


europeu constituíam -se em um conjunto de culturas diversif icadas. Com
a penetração do colonizador português na Amazônia, a partir do início
do século XVII, muitos grupos migraram para o interior fugindo ao
contato com o colonizador, entrando em guerra pela disputa de
territórios com grupos já estabelecidos naquel as regiões.
 Os espanhóis desarticularam a estrutura social do Império Inca, mas
souberam aproveitar-se das formas de exploração do trabalho já
utilizadas entre aqueles povos. Os adelantados, adquiriam o direito às
encomiendas e o controle da população domi nada.
 Na América portuguesa não foi encontrado um império unificado
como o Inca, mas vários povos com línguas e culturas bastante
diversificadas entre si. Contudo, como na América espanhola, faltava
ao colonizador braços para o trabalho e homens para defen der as
fronteiras.
 O descimento consistia em convencer os indígenas a “descerem”, ou
seja, saírem de seus territórios tradicionais para situarem -se em
missões. O resgate era a troca de mercadorias européias por
prisioneiros de guerras inter -tribais.
 A legislação colonial do século XVII considerava o indígena livre,
porém sob determinadas condições que permitiam, de fato sua
escravização. As diversas alterações da legislação sobre o indígena no
século XVII devem ser entendidas como tentativas do governo
português de manter sob o seu controle uma vasta população nativa,
cujo interesse do estado era transformar em súditos.
 A tentativa de substituição da mão -de-obra indígena pelo escravo
africano não prosperou na Amazônia porque o preço do escravo negro
era muito superior ao do escravo indígena, tornando -se inacessível ou
pouco interessante para os colonos.
 O avanço colonizador sobre a Amazônia provocava o deslocamento
dos vários grupos indígenas (Tupi, Tupi -Kawahib, Parintintin,
Munduruku, Mura e Txapakura) cada vez mais para a região do
Madeira/Guaporé, provocando guerras inter -tribais pelo controle do
território.
 A ocupação efetiva da região do rio Guaporé iniciou -se com o
descobrimento de ouro, que atraiu migrantes de outras regiões da
colônia. A escravização do indígena precedeu à própria descoberta do
ouro e, apesar de ser amplamente restringida, continuou sendo
25

praticada. O nativo (Borôro e Pareci) era capturado tanto para a


utilização como mão -de-obra nas lavras, minas e faisqueiras como na
lavoura e objeto de comércio em outras praças coloniais, outros
grupos como os Payaguá, Kabixi e Kayapó resistiram intensamente à
submissão atacando as povoações coloniais.
 O primeiro ciclo da borracha tirou a Amazônia da letargia econômica
em que havia caído no final do século XVIII. Em busca de novas áreas
de seringais nativos, grupos de seringueiros passaram a penetrar
regiões ainda não colonizadas do Madeira, Mamoré e Guaporé e seus
afluentes. A força de trabalho indígena continuou, durante esse
período, a participar significativamente da economia amazônica, seja
no extrativismo, na atividade de transporte ou na lavoura. Os indígenas
amansado foram entregues às diretorias de índios, cujos dirigentes
exploravam cruelmente o trabalho desse elemento, visando dele extrair
o maior ganho possível. Eram ainda os nativos vendidos ou trocados
dentro da região, havendo também casos de contrabando de indígenas
que eram objetos de escambo
 Durante a 2 a . Guerra, a intensa migração nordestina destinada a
satisfazer o novo crescimento da demanda de borracha, para o
mercado norte-americano, intensificou a ocupação dos territórios
indígenas do Madeira/Mamoré/Guaporé. Nas décadas seguintes a
descoberta de metais e pedras preciosas, de cassiterita e a abertura da
BR-364 fez com que os terri tórios indígenas fossem ocupados por
grileiros e posseiros que promoviam massacres para afugentar os
nativos dessas áreas.
 Apesar de todo esse processo de destruição das populações nativas
restam ainda na Amazônia mais de duas centenas de etnias que vivem
sob a jurisdição de quatro países diferentes.
26

Capítulo 2
A exploração, conquista e ocupação da Amazônia no contexto do
antigo regime.

O espaço Natural

A Amazônia é um extenso conjunto de terras da América do Sul,


situada no centro norte do sub -continente, abrangendo terras do Brasil,
Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. O
território brasileiro corresponde a mais de 50% do total da região
geográfica da Amazônia, abrangendo terras do Pará, Maranhão,
Amazonas, Tocantins, Mato G rosso, Rondônia, Acre, Amapá e Roraima.
A notável região caracteriza -se por sua extensa planície sedimentar
aluvial, coberta pela densa floresta equatorial e irrigada pela maior
bacia hidrográfica do mundo, a bacia amazônica, que empresta seu
nome à região.
Os terrenos, de base sedimentar, são dispostos em tabuleiros que
descem em direção ao rio Amazonas. Os limites ao sul correspondem
ao Planalto Central; ao norte encontra -se o Planalto das Guianas; a
oeste situam-se os contrafortes Andinos e a leste os l imites são o
Planalto do Nordeste e o Oceano Atlântico. As terras de baixas
altitudes e muito próximas ao Equador são marcadas pela presença do
clima equatorial-úmido, diferenciando -se em zonas de acordo com a
maior ou menor distribuição das chuvas. Na med ida em que os terrenos
possuem altitudes mais elevadas, observa -se a mudança progressiva
do clima que, no Planalto Central e no Planalto das Guianas, é do tipo
tropical. Por sua vez, a floresta latifoliada, hidrófila e perenefólia,
chamada por Alexandre Vo n Humboldt “Hiléia Amazônica”, a floresta
por excelência, domina mais de dois terços da região, sendo
substituída em determinadas áreas por variações como a floresta
subcaducifolia e nos limites dos planaltos pelo aparecimento dos
campos e cerrados. Os rio s, de grande volume em sua maior parte,
nascem nas regiões altas e apresentam regimes mistos, predominando
nos afluentes da margem direita do Amazonas as cheias em
dezembro/março, enquanto que nos da margem esquerda as cheias
ocorrem entre maio/outubro. Na planície, esses rios se transformam em
grandes “caminhos das águas” e constituíram -se no meio natural de
penetração dos colonizadores.
Inseridas na Região Amazônica estão as sub -regiões dos vales do
Guaporé e Madeira. As extensões guaporeanas abrangem te rras hoje
pertencentes ao Mato Grosso, Rondônia e Bolívia. Já o Vale do Madeira
com seus 1.244.500 quilômetros quadrados abrange terras
pertencentes à Bolívia, a Rondônia e o Amazonas, possuindo um total
de 90 afluentes.
O meio físico do Vale do Guaporé é notável. O relevo da região é
constituído por uma extensa base sedimentar, na qual destacam -se as
Serras dos Parecis e Pacaás Novos. Paralelamente às chapadas, o vale
do rio Guaporé possui uma topografia de rara beleza, marcada pela
27

presença de planícies o nduladas e alagadiças, onde se multiplicam as


praias de areias muito finas e brancas. O rio Guaporé, que nasce na
extremidade setentrional da Serra dos Parecis em Mato Grosso, forma
uma sub-bacia hidrográfica, que se integra à grande bacia amazônica
através da união do Guaporé com o Mamoré, que é um dos formadores
do Madeira, um dos grandes afluentes do Amazonas pela margem
direita. Nascendo em uma altitude de 1.800 m, o Guaporé tem um curso
total de 1.716 Km, sendo que desse total, 1.500 Km são plenamente
navegáveis. Em suas nascentes, o minério de ferro é tão comum que
cobre suas águas de vermelho, dando -lhes um sabor típico. O alto
Guaporé é marcado pela presença de inúmeras cachoeiras, o que
inviabilizou seu total reconhecimento até 1789. A parte navegáv el vai
da foz até a confluência com o rio Alegre (margem esquerda).
O clima da região é do tipo quente e úmido, sofrendo variações
em função da altitude. As poucas alterações de temperatura ocorrem
nos meses de junho, julho e agosto e recebem o nome de fr iagem,
sendo responsáveis por repentinos problemas para a população, desde
o início dos processos de ocupação e colonização.
Nas regiões de baixas altitudes da planície do Guaporé ocorrem
as temperaturas mais elevadas com médias em torno de 26º C e
máximas superiores a 40º C. Nas chapadas, as médias térmicas ficam
em torno de 24º C, enquanto as máximas não ultrapassam 36º C.
Durante o fenômeno da friagem, as massas frias de anti -ciclones
antárticos, oriundos da Patagônia, podem provocar quedas súbitas de
temperatura que podem chegar entre 12º C e 0º C, mantendo -se assim
por alguns dias.
A cobertura vegetal apresenta uma formação exótica e
diversificada, compreendendo extensas áreas de floresta subcaducifólia
no vale do alto Guaporé, que se caracteriza por ser uma região de
transição dos domínios amazônicos para os domínios do centro -oeste,
onde prevalecem os cerrados e os campos arbustivos. No baixo
Guaporé, a floresta ganha ímpeto, caracterizando -se como uma
vegetação típica da floresta equatorial amazônic a.
O relevo do Vale do Madeira caracteriza -se pela presença
preponderante da grande planície amazônica com grandes extensões
inundáveis durante a estação das chuvas que vai de novembro a março.
O vale do alto Madeira possui um relevo mais acidentado. A pa rtir da
cachoeira de Santo Antônio os terrenos elevam -se até atingir as
encostas das serras dos Pacaás Novos e Parecis. O clima do tipo sub -
equatorial é marcado por altas temperaturas e índices pluviométricos
superiores a 2.000 milímetros anuais. O fenômen o da friagem, mais
acentuado no Vale do Guaporé, ocorre também no Vale do Madeira. A
vegetação apresenta uma formação típica da floresta equatorial
perenifolia, subcaducifólia e latifoliada.

Exercícios.

1. Dentre os países que participam do extenso conju nto de terras que


compõe a Amazônia não podemos destacar:
a) Bolívia, Guiana e Suriname.
28

b) Chile, Argentina e Paraguai.


c) Colômbia, Guiana e Peru.
d) Venezuela, Colômbia e Bolívia.
e) Equador, Suriname e Colômbia.

2. A Amazônia abrange terras de vários estados brasile iros, dentre eles


não podemos citar:
a) Rondônia.
b) Minas Gerais.
c) Mato Grosso.
d) Amazonas.
e) Acre.

3. Compõe o relevo do Vale do Guaporé:


a) a Serra de Ibiapina.
b) a Serra dos Órgãos.
c) a Serra dos Parecis.
d) a Chapada dos Guimarães.
e) os Montes Ilimani.

4. No relevo do vale do rio Madeira predomina:


a) os terrenos montanhosos.
b) a planície amazônica.
c) rios de pequeno porte.
d) os altiplanos.

5. O clima da região Amazônica é do tipo:


a) temperado.
b) frio e úmido.
c) seco e frio.
d) quente e úmido.
e) N.R.A.

A exploração, as visões e o imaginário do conquistador na


Amazônia.

A grande expressividade territorial da Amazônia, que só no Brasil


abrange 3.581.180 Km² (perfazendo 42,07% do território nacional)
contrasta evidentemente com um verdadeiro vazio demográfico, uma
região subpovoada onde a vida d as populações, bem como os
processos de conquista e colonização estiveram sempre intimamente
vinculados aos grandes rios. A conquista e a colonização da região
amazônica foi motivada por fatores de ordens diversas, prevalecendo
sempre a busca contínua de r iquezas minerais, vegetais e a
consolidação de uma base de produção mercantilista que garantisse
lucros imediatos às metrópoles.
Durante os séculos XVI e XVII, vários foram os exploradores que
percorreram os rios da Amazônia: Vicente Yañez Pinzón (c. 1460 -
c.1523), descobriu a foz do Amazonas em 1500, batizando -o de Santa
29

Maria do Mar Dulce. Em 1541, Francisco Orellana (c.1490 -1546) desceu


o curso do grande rio desde os Andes até o Atlântico, fato que foi
repetido entre 1559/1561 por Pedro de Ursúa (1526 -1561) e Lope de
Aguirre (1518-1561) que, numa trágica e desvairada aventura tiveram
seus nomes perpetuamente associados ao fracasso, ao crime, à traição
e a morte. Respondendo à ameaça de ocupação dos espanhóis, partiu
de Belém no ano de 1637 a expedição de Pedro Teixeira (m. em 1641)
navegou o Amazonas, rio acima, saindo do forte do Presépio. contando
com 40 canoas, 7 canoas grandes, 70 soldados e 1.200 índios. Essa
expedição durou um ano e fez as primeiras demarcações portuguesas
da bacia amazônica.
A história da exploração e ocupação territorial dos vales do
Madeira e do Guaporé remonta ao século XVII. A expedição mais antiga
ao Madeira, de que se tem conhecimento, foi a de Raposo Tavares
(c.1598-1658), que partiu de São Paulo em 1647 e, dirigindo -se ao
Mato Grosso, atingiu os rios Guaporé e através dele o Mamoré
continuando a navegar até encontrar o Madeira, venceu os obstáculos
naturais deste rio, atingindo o rio Amazonas chegando a Belém em
1650. A bandeira de Raposo Tavares está inserida no ciclo do
bandeirismo apresador. A partir do planalto de Piratininga (São Paulo),
bandeirantes devassavam o interior da colônia, dentro e além das
fronteiras coloniais, na busca de indígenas e riquezas minerais e dessa
forma marcavam a presença portuguesa nessas regiões .
Em 1722, organizou -se no Pará a bandeira comandada por
Francisco de Melo Palheta (c. 1670 -?), que partiu de Belém em 1723,
navegando pelos rios Madeira, Mamoré e Guaporé e atingindo as
missões espanholas de Santa Cruz de Cajubava e São Miguel. A
intenção dos portugueses em firmar posição em território mais a oeste
do que aquele estabelecido pelo Tratado de Tordesilhas transparece no
contato que estabeleceram com os jesuítas em território espanhol. Num
gesto admirável de audácia, Palheta, ao se despedir d os espanhóis,
alertou aos seus anfitriões que não ultrapassassem para baixo da boca
dos rios Guaporé e Mamoré, pois que pertenciam ao rei de Portugal
Em 1742, Manuel Félix de Lima, minerador falido em Mato
Grosso, decidiu organizar uma expedição para expl orar a existência de
ouro e comerciar com os espanhóis. Contrariando o Alvará Régio de
1733, que proibia a navegação pelo Madeira, navegou por esse rio e
pelo rio Guaporé de onde entrou no Baure encontrando a missão
espanhola de São Miguel. Saindo deste en trou pelo rio Itonama (ou
Ubaí) onde encontrou a missão de Santa Maria Madalena. Não obtendo
a boa disposição dos jesuítas em comerciarem, tomou o rumo do
Mamoré, Madeira e Amazonas. Embora preso ao chegar a Belém, por
desrespeitar a proibição régia à nave gação do Madeira, a viagem de
Félix de Lima mostrou à coroa portuguesa que a navegação pelo
Madeira tornava mais segura e eficiente a ligação entre as minas do
Guaporé e o Grão Pará.
Charles Marie de La Condamine (1701 -1774) foi enviado como
chefe de uma expedição da Academia de Ciências de Paris que, na
América espanhola, mediria o arco do meridiano do Equador.
Permaneceu o cientista no atual Equador entre 1737 e 1743 e, no
30

retorno, navegou o Amazonas em todo seu curso da nascente à


embocadura, tomando co nhecimento da borracha e descobrindo a
ligação entre os rios Negro e Orinoco. Entre os anos de 1783 e 1792,
percorreu as capitanias do Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso e
Cuiabá a expedição científica liderada por Alexandre Rodrigues Ferreira
(1756-1815). Na Amazônia marcada pelas reformas pombalinas, essa
expedição resultou de um projeto congregador de interesses políticos e
econômicos da metrópole recolhendo nessa ‘Viagem Filosófica” um rico
acervo em diversas áreas da ciência, da antropologia à botânica e
zoologia.
Apesar de várias expedições científicas, predominaram, nos
primeiros séculos da conquista, as expedições de reconhecimento e
busca de riquezas fabulosas. Entre o paraíso associado ao Eldorado e
os conquistadores desejosos de riquezas, juventud e e venturas,
interpunha-se a grande floresta e o meio hostil com seus rios ,
cachoeiras, insetos, índios, feras e doenças tropicais. A esse conjunto
de fatores e a essa nova visão, nem paraíso nem inferno, impunha -se a
necessidade da colonização, a implan tação do espaço civilizado e
cristão, que possibilitaria a obtenção de riquezas, a expansão da fé e a
grandeza do Estado e do rei.
Urgia definir-se os espaços, mesmo em meio às adversidades. A
condição de mergulho nesse mundo tropical e insalubre era
fundamental para se processar a empreitada Colonizadora. Os limites
de Tordesilhas (1494) não mais estavam sendo respeitados. A terra de
fato pertencente a ninguém e de direito à Espanha aguardava por
aqueles que estivessem aptos a explorá -la.
Nesse contexto, f ormularam-se diversas “visões” dos
descobridores, exploradores e colonizadores que justificaram e
promoveram a empreitada colonial. Seduzidos por lendas, por
narrativas de riqueza e crenças em mitos cujas origens remontariam ao
período medieval, militares, religiosos e aventureiros percorreram
obstinados, os caminhos da ilusão, construindo um espaço colonial real
a partir de um fabuloso imaginário que os impulsionava. Relatos feitos
pelos nativos aos primeiros exploradores davam conta da existência de
riquezas fabulosas, de regiões edênicas e do legendário Eldorado. O
que se buscava, na realidade, era aquilo que povoava as funções
mentais dos viajantes e cronistas.
O fascínio desses relatos dos cronistas jamais se esgotava,
confundindo-se com as lendas ouvi das ou obtidas pela força e pela
tortura feita aos habitantes naturais da terra. Ao conjunto de
especulações, somavam -se a fusão das crenças cristãs com os relatos
pagãos, o espanto, o êxtase e o entusiasmo pelo encontro desses
viajantes com o desconhecido que lhes descortinava um mundo verde,
com uma só estação, sem invernos, com rios gigantescos e perenes e
onde abundavam as frutas, a carne, os peixes e as aves. As imagens
desse paraíso acompanharam os descobridores e exploradores.
Maravilhas e monstruos idades povoam essa terra fantástica, esse
novo Éden sem conflitar uns com os outros, pois a própria concepção
da época estabelece entre ambas a harmonia, uma vez que o
monstruoso surge e é criado para a honra e glória de Deus, sendo
31

encarado de forma espec ífica pela ortodoxia escolástica católica


apenas como um fenômeno que se opõe à generalidade dos casos, mas
não à natureza concebida como totalidade, podendo assim existir em
todos os níveis (Humano, Animal, Vegetal, e Mineral) da criação,
distinguindo-se por seu aspecto não comum que o afasta do curso
habitual da natureza, desviando -lhe a forma, sem ser contudo
necessário que perca a beleza pois sua própria existência e diversidade
confirma a beleza da obra divina. Paralelamente a essa visão
paradisíaca encontra-se a crença de que a Amazônia abrigaria
fantásticos tesouros, que por si só proporcionariam riquezas sem fim,
honra e glória aos que os encontrassem.
A busca de riquezas, objetivo concreto de todos os
descobrimentos e, mais tarde, da vasta empreitad a colonial, levou os
colonizadores a desastrosas aventuras de vida e morte no interior do
vasto mundo da floresta e dos rios amazônicos. Nestas regiões,
acreditavam estar situado o Eldorado, escondido sob a densidade da
floresta, protegido por guerreiros t emíveis e cercado por criaturas
maravilhosas.
Tais impressões são comuns nas crônicas dos descobridores do
Amazonas e revestem -se, ainda, dos antigos conceitos e idéias dos
grandes viajantes e exploradores do oriente no final do período
medieval. A essa visão idílica corresponde uma visão oposta, também
apresentada pelos cronistas, que ressaltam o heroísmo de suas
expedições, os terrores infundidos por uma natureza que então poderia
esconder tramas infernais, onde em nome do Rei e da Cruz as vidas
cristãs se perderiam numa luta desigual pela evangelização e
civilização dos povos.
A decepção nas buscas de riquezas, as tragédias vividas pelos
viajantes, as hostilidades ambientais e dificuldades de toda ordem
proporcionavam, então, uma nova leitura da Amazônia . Charles Marie
de La Condamine ressalta que a desilusão pelas buscas infrutíferas
feitas a partir de: “tantos testemunhos, e respeitáveis todos, não
permitem duvidar da verdade de tais fatos: contudo o rio, o lago, a mina
de ouro, o marco e mesmo a Aldeia D’ouro atestada pelo depoimento de
tantos, tudo desapareceu como um palácio encantado, e nos sítios
indicados se perdeu até a memória. ”

Exercícios.

1. Dentre os primeiros exploradores do rio Amazonas não podemos


citar:
a) Francisco Orellana e Pedro de Úrsu a.
b) Lope de Aguirre e Pedro Teixeira.
c) Francisco Pizarro e Hernan Cortez.
d) Pedro de Úrsua e Lope de Aguirre.
e) Francisco Orellana e Pedro Teixeira.

2. A expedição chefiada por Pedro Teixeira tinha como objetivo:


a) o apresamento de indígenas.
b) a busca de metais preci osos.
32

c) responder a ameaça espanhola sobre os territórios coloniais


portugueses.
d) estabelecer missões jesuíticas no curso do alto Amazonas.
e) demarcar as fronteiras coloniais.

3. A expedição organizada em 1742 por Manuel Félix de Lima, que


navegou os rios Guap oré e Madeira, pretendia:
a) desrespeitar o Alvará Régio de 1733.
b) expulsar os jesuítas das missões espanholas.
c) fundar a missão de Santa Maria Madalena.
d) atingir a cidade de Quito.
e) comerciar com os espanhóis.

4. A expedição chefiada por Charles Marie de La Con damine pretendia


medir o arco do meridiano do equador, contudo teve como resultado
divulgar na Europa um produto da floresta, que viria a ser importante
para a economia amazônica, esse produto era:
a) a borracha.
b) o guaraná.
c) a quina.
d) o ouro.
e) o cupuaçu.

5. No primeiro século de conquista predominaram entre os cronistas as


visões espetaculares da Amazônia, baseados nos relatos dos indígenas
e fundidos com crenças européias surgiram vários mitos sobre a região,
dentre esses mitos não podemos citar:
a) a existência terrena do Olimpo.
b) um lugar chamado El Dorado.
c) o paraíso cristão.
d) a civilização Inca.
e) N.R.A.

Os tratados de limites da Amazônia no período colonial.

A expansão marítima e comercial portuguesa, ocorrida durante o


século XV, resultou na descoberta de novos caminhos para os distantes
mercados asiáticos, fornecedores de produtos para os mercados
europeus. Após o contorno da costa da África e o estabelecimento de
feitorias ao longo do caminho marítimo para as Índias, Portugal e
Espanha, as duas maiores potênci as navais da época, procuraram
garantir a posse de territórios apenas supostos à oeste do Atlântico.
Antes mesmo do descobrimento da América (1492), Portugal e
Espanha procuraram garantir direitos sobre possíveis territórios a
serem descobertos naquele oc eano. Já em 1479, as duas potências
firmaram o Tratado de Alcáçovas, confirmado pelo Papa Sisto IV (1414 -
1484) em 1481, estipulando que a Portugal pertenceriam todas as
terras descobertas a oeste das ilhas Canárias para baixo, ficando a
outra parte sob o d omínio da Espanha.
33

Em 1493, o Papa Alexandre VI (1431 -1503) promulgou a Bula


Inter Coetera, determinando que todas as terras descobertas a partir de
cem léguas (660 Km) a oeste das ilhas Açores e Cabo Verde
pertenceriam à Espanha. Embora não se soubesse à época, a Portugal
corresponderia apenas um pequeno trecho do Brasil atual, a parte mais
avançada, em direção ao litoral, de alguns dos atuais estados do
nordeste.
Portugal, garantindo nesses tratados as terras que fossem
descobertas a leste das linhas de fronteira teria o controle do comércio
com o oriente, através da costa da África. Contudo, suspeitando que
muito pouca terra teria de quinhão no Novo Mundo, procurou negociar
outro tratado com a Espanha. Assim, em 1494, quando reinava em
Portugal D. João II (1455-1495), foi firmado o Tratado de Tordesilhas.
Como os tratados e bulas anteriores, os limites eram fixados não por
marcos naturais, acidentes geográficos tais como rios e montanhas, e
sim por uma linha geodésica, ou seja uma linha imaginária tirada a
partir de uma paralela ou meridiano. Nesse tratado, o desconhecimento
do território da América recém -descoberta: extensão, rios, e outras
particularidades da área, que permitisse um acordo de divisão territorial
mais preciso, conduziu à opção do estabel ecimento da fronteira através
do meridiano de Tordesilhas.
Pertenceriam a Portugal todas as terras encontradas até a
distância de 370 léguas (2.442 Km) a oeste de Cabo Verde, ponto
através do qual passava o meridiano separando as duas possessões;
todas as terras mais para oeste dessa linha pertenceriam à Espanha. A
linha de Tordesilhas, no Brasil, passaria ao norte pelas proximidades
de onde hoje é a cidade de Belém (Pará) e ao sul próxima à atual
localidade de Laguna, ou seja, toda a Amazônia seria territó rio
espanhol. Descoberto o Brasil em 1500, os portugueses começam a
avançar pela via do Amazonas sobre terras situadas muito mais a oeste
do meridiano de Tordesilhas.
Em 11 de abril de 1713, a França assina com Portugal o primeiro
tratado de Utrecht, confi nando suas fronteiras ao norte da América do
Sul ao Oiapoque passou o Amapá definitivamente ao domínio
português. A Espanha, por sua vez, assinou o mesmo tratado, o que
representava uma vitória para Lisboa, na medida em que facilitava a
penetração portugue sa além das terras à oeste de Tordesilhas pois
garantia aos portugueses a foz do rio Amazonas, de fundamental
importância para a penetração lusitana para o interior, rumo às
possessões espanholas do norte.
No entanto continuaram os conflitos em relação às regiões
platinas. Em 06 de fevereiro de 1715 foi assinado o segundo tratado de
Utrecht entre Portugal e Espanha que devolveu a Colônia de
Sacramento ao domínio Português. Não se definiram, no entanto, as
questões relativas ao extremo oeste, para onde conve rgiam novos
grupos sertanistas, missionários, mineradores e bandeirantes. Esse
novo foco de tensão expandia -se até às margens do rio Guaporé,
impulsionado pelas descobertas de jazidas auríferas, lavras e
faisqueiras.
34

Após prolongada discussão, foi firmado, em 13 de janeiro de


1750, o Tratado de Limites, conhecido como Tratado de Madrid,
ratificado em 08 de janeiro por Sua Majestade Católica e a 26 de
janeiro pelo Fidelíssimo Monarca de Portugal Pelas cláusulas do
Tratado ficava estabelecido que haveria paz permanente entre os
súditos de ambos os reinos, mesmo que essa paz fosse violada na
Península. Caberia à Espanha a posse da Colônia e a Portugal os Sete
Povos, sendo transferidas para o lado castelhano as missões Guarani
da região.
Resultante do avanço por tuguês para oeste de Tordesilhas,
prevaleceu no tratado o princípio do Uti Possidetis de Facto ,
respeitando-se a posse mansa e pacífica ou a ocupação real, o que
tornou possível fixar a linha de fronteira, no tocante ao extremo oeste e
norte, a partir dos cursos dos rios Guaporé e Mamoré, seguindo até o
curso médio do Madeira, próximo à atual cidade de Humaitá, de onde
continuaria através de uma linha geodésica até as nascentes do Javari
e deste rio subiria até o Solimões e daí até a boca do Japurá, ficando
as margens orientais sob o domínio da colônia portuguesa.
Mapa
D. José I (1714 -1777), sucessor de D. João V, signatário do
Tratado de Madri, recusou -se a entregar a Colônia de Sacramento à
Espanha, conforme previsto no referido tratado, e o fato de os
Guaranis levantarem -se em rebelião, recusando -se a se passarem ao
domínio português, resultou no acordo de El Pardo (1761), que
suspendeu o Tratado de Madri.
O Tratado de Santo Idelfonso (1777) determinou novamente que a
fronteira, tal como no Tratado de Ma dri, fosse pelos rios Guaporé e
Mamoré até o ponto médio do Madeira, seguindo dali por uma linha até
encontrar a margem oriental do Javarí sem que houvesse, no espaço de
tempo entre os três tratados, qualquer conhecimento adicional a
respeito das nascentes daquele rio. Quanto ao Madeira o tratado
considerou que nascia da confluência do Guaporé com o Mamoré.

Exercícios.

1. Antes mesmo da chegada dos europeus à América, Portugal e


Espanha trataram de dividir territórios apenas supostos a oeste do
Atlântico. Esses acordos, baseados em bulas e tratados,
caracterizavam-se:
a) pela precisão e conhecimento prévio do território.
b) pela equidade com que foram estabelecidos.
c) por dividir a fronteira a partir de algumas léguas de acidentes
geográficos conhecidos.
d) por garantir as aspirações de outras potências ao Novo Mundo.
e) N.R.A.

2. O Tratado de Tordesilhas foi firmado em:


a) 1750.
b) 1867.
c) 1769.
35

d) 1494.
e) 1500.

3. Uma das conseqüências do Tratado de Utrecht foi:


a) o Amapá passou definitivamente a integrar o território português.
b) estabeleceu-se definitivamente as fronteiras entre Portugal e
Espanha.
c) permitiu a criação da capitania de São José do Rio Negro.
d) pacificou os conflitos de fronteiras no Mato Grosso.
e) determinou definitivamente a nascente do Madeira.

4. O princípio do uti possid etis de facto, que norteou o Tratado de


Madri, significava:
a) que os territórios coloniais poderiam ser vendidos ou repartidos entre
as potências.
b) garantir aos contratantes os territórios já ocupados por seus colonos.
c) dividir o território com base nos tratad os anteriores.
d) garantir o direito legal dos contratantes aos seus territórios.
e) N.R.A.

5. O tratado de Santo Idelfonso foi firmado em:


a) 1750.
b) 1769.
c) 1777.
d) 1567.
e) 1801.

A Diplomacia ibérica e a conformação das fronteiras da Amazônia


colonial.

As fortes tensões entre Portugal e Espanha nos séculos XVII -


XVIII vinculam-se às questões dinásticas, à ruptura da União Ibérica e,
sobretudo, à disputa das regiões coloniais, como a costa setentrional
da Ribeira do Prata, na região da colônia do Sacramento, onde a
presença de fortificação portuguesa era considerada uma ameaça e
uma possibilidade muito concreta para a conquista da margem sul do
rio da Prata. Ainda existiam, também, os desagrados motivados pela
vigorosa expansão portuguesa no norte, na região do Amazonas e o
processo de expansão lusa para as terras centrais na região do
Guaporé. Não sem razão, a Espanha temia pelas suas posses e
integridade dos vice -reinados do Alto Peru e Nova Granada (atual
Colômbia). Essa disputa que tinha início no estuário do Prata,
prolongava-se pelo rio Paraguai e atingia o Guaporé e, através deste, a
bacia amazônica. Ao expandir -se para o oeste, os portugueses
procuravam metais preciosos e, encontram, porém, outras riquezas
naturais, algumas desconhecidas na Europa, iniciando o ciclo d as
drogas do sertão, que fixou desde o início o destino extrativista da
região Amazônica.
36

Essas tensões territoriais eram intensificadas, ainda, devido a


questões européias, dentre as quais figurava a sucessão do trono
espanhol, que, com a morte do último representante da Casa de Áustria
na Espanha, Carlos II (1661 -1700), passaria ao Bourbon Felipe V
(1683-1746), neto do francês Luís XIV (1638 -1715). A questão dinástica
levou a um antagonismo entre Portugal e Espanha, pois o Estado
Português apoiou as prete nsões da Inglaterra de elevar o arquiduque
Carlos da Áustria ao trono hispânico. As conseqüências imediatas
desse fato tiveram reflexos na América, gerando -se atritos fronteiriços
nas regiões ao norte, com os territórios franceses e no centro sul, nas
fronteiras com territórios castelhanos. Com o antigo apoio português à
França, a tensão regional ganharia rumo diplomático, evitando -se o
confronto bélico a partir de 1700, quando pelo Tratado Provisional
determinou-se a demolição dos fortes de Araguari e Mac apá,
permitindo aos franceses o livre acesso à região. No ano de 1701, a
Espanha assegurava a Portugal o direito às terras platinas da Colônia.
No entanto, o desenrolar da Guerra da Sucessão Espanhola levaria
Portugal a romper com os franceses e a operar e m prol das pretensões
inglesas, o que, de imediato, levou os castelhanos de Buenos Aires a
invadir as terras da Colônia em 1705.
As soluções das questões coloniais estariam agora ligadas à
solução da sucessão dinástica na Europa. Reunidas as partes em
questão na cidade de Utrecht, definiu -se como legítimas as pretensões
de Felipe de Bourbon, que assumiu o trono espanhol com o nome de
Felipe V.
Ao longo de mais de 200 anos após a descoberta do Brasil, os
portugueses haviam penetrado na região Amazônica de t al maneira que
conheciam-na melhor que os espanhóis. Os principais afluentes
daquele rio: Tocantins, Tapajós, Madeira, Purus e Juruá tornaram -se,
ainda que de forma incipiente, por eles conhecidos.
A tensão torna a atingir níveis dramáticos em 1735, mas a
intervenção diplomática francesa impede que as desavenças
encaminhem-se para um confronto bélico, impondo em 1737 um
armistício, que não impede a continuidade do avanço português pelo
oeste, na Amazônia ou no sul, na região do Rio Grande. Portugal,
objetivando dar continuidade ao processo expansionista, ordena então
um detalhado inquérito sobre as regiões fronteiriças, suas
possibilidades econômicas, formações geofísicas e possibilidades de
defesa.
É neste contexto que podemos situar a bandeira fluvial de
Francisco Melo Palheta e a viagem de Félix de Lima. Portugal
preocupava-se, de imediato, em consolidar suas posições e ampliar
ainda mais o processo expansionista. As constantes expedições de
sertanistas e bandeirantes, bem como a ininterrupta movimentação de
grupos populacionais na busca incessante pelo ouro possibilitavam ao
Estado Português uma ampliação substancialmente considerável de
seus territórios na América do Sul.
Com a morte de Felipe V, em 09 de julho de 1746, a situação de
Portugal sofre sens ível melhoria no âmbito diplomático espanhol.
Fernando VI (1713 -1759), o novo rei, casara -se com a infanta
37

portuguesa D. Maria Bárbara de Bragança, filha do rei Dom João V


(1689-1750), levando ao fim a hostilidade acentuada de Felipe V e
Isabel de Farnésio contra a monarquia portuguesa. Nestas
circunstâncias, agora favoráveis, surgiram as condições necessárias
para um entendimento diplomático entre os dois países. As
negociações foram encaminhadas por Dom José Carvajal y Lancaster e
por Alexandre de Gusmão 1695-1753), que representavam
respectivamente Espanha e Portugal
Ao mesmo tempo em que na Europa se discutiam as cláusulas do
Tratado de Madrid, a Coroa Portuguesa, internamente, procedia as
deliberações que levariam à criação da Capitania de Mato Grosso em
09 de maio de 1748, ficando os objetivos de defesa, estratégia militar e
implementação do povoamento e da produção de ouro a cargo do
primeiro governante, o Capitão -General D. Antônio Rolim de Moura. A
preocupação das autoridades coloniais e metropolita nas na região
detinha-se, portanto, em duas questões específicas: garantir a posse
através de uma efetiva política de defesa e conter o avanço de grupos
missionários castelhanos que tentassem se estabelecer nas margens
portuguesas do Mamoré e do Guaporé. É portanto, neste contexto que
se inicia o processo de colonização e povoamento de Mato Grosso,
quando em 1751, D. Rolim de Moura, através de uma ordem régia inicia
a construção de Vila Bela da Santíssima Trindade.
Apesar da desconfiança em relação à Espan ha dessa forma
manifestada por Portugal, o tratado de Madri permitiu um relativo alívio
das tensões entre as metrópoles, bem como definiu condições para
uma convivência parcialmente pacífica nas novas áreas fronteiriças.
Um segundo aspeto que vale ressalta r é que o tratado substituiu uma
fronteira anterior toda baseada em uma linha imaginária, por uma
fronteira física, o que revelava um conhecimento do terreno que
possibilitava a demarcação através dos acidentes geográficos, rios,
montanhas, etc., com exceç ão da linha do Madeira ao Javarí, indefinida
até o início do século XX. Destaque -se ainda a importância dada pela
historiografia brasileira a este tratado, no qual se delimitou, em grande
parte, o território nacional tal como hoje existente. Contudo, cabe
colocar em relevo algumas indefinições desses limites cujas
conseqüências para a formação histórica de duas das atuais unidades
da federação (Rondônia e Acre) são da maior importância.
A região entre o Madeira e o Javari era quase que totalmente
desconhecida e havia o problema da desinteligência e ignorância em
relação às nascentes desses rios. Até o século XIX não havia consenso
sobre as nascentes do Madeira e, quanto às do Javari, não se sabia
sequer onde ficavam. Alguns afirmavam que o Madeira nascia da
confluência do Guaporé com o Mamoré, outros que a nascente era mais
ao sul na confluência do Mamoré com o Beni.
Claro está que a aceitação de qualquer uma das posições faria
com que necessariamente o ponto médio do Madeira ficasse mais ao
norte ou mais a o sul. Um cronista que participou da expedição de
Palheta, que partiu de Belém em novembro de 1722, retornando àquela
cidade em setembro do ano seguinte, descreve que do Amazonas a
38

expedição entrou pelo rio Madeira e esclarece tratar -se do mesmo rio
que os espanhóis denominavam Venes ou Beni.
Apesar do comum acordo entre as duas coroas quanto à nascente
do Madeira, havia a possibilidade da revisão da fronteira. Em 1782, o
jesuíta Karl Hirschko enviou através do embaixador espanhol em Viena
um Memorial ao Rei de Espanha. O jesuíta, que havia sido encarregado
pelo vice-rei espanhol D. José Manso de assistir junto aos portugueses
a demarcação de fronteiras resultantes do Tratado de 1750, afirmou
que o rio Mamoré era o mesmo que os portugueses chamavam de
Madeira. Apesar da afirmação ser contrária ao acordado no tratado de
1777, o memorial foi considerado pela corte espanhola como uma
valiosa contribuição e enviado para a instrução dos membros da Junta
Espanhola de Limites com Portugal

Exercícios.

1. A expedição de Francisco de Melo Palheta pode ser situada dentro


do seguinte contexto:
a) foi uma expedição de caráter comercial.
b) foi uma expedição com objetivos exploratórios.
c) visava consolidar e ampliar as conquistas portuguesas.
d) tinha por objetivo o conhecimento da s cachoeiras do rio Madeira.
e) pretendia demarcar as fronteiras do norte do Brasil.

2. A capitania do Mato Grosso foi criada em:


a) 9 de maio de 1748.
b) 10 de outubro de 1825.
c) 9 de maio de 1848.
d) 10 de outubro de 1725.
e) 14 de janeiro de 1801.

3. O primeiro Capitão -General da capitania do Mato Grosso foi:


a) D. José de Albuquerque Melo Pereira e Cáceres.
b) D. Antônio Rolim de Moura.
c) D. Ricardo Franco de Almeida Serra.
d) D. Francisco de Melo Palheta.
e) D. Espiridião Marques.

4. A cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade, pri meira capital de


Mato Grosso, teve sua construção iniciada em:
a) 1743.
b) 1750.
c) 1749.
d) 1751.
e) 1851.

5. Podemos atribuir como elemento explicativo das dificuldades de


estabelecimento das fronteiras coloniais na Região Amazônica, durante
o século XVIII, o seguinte fato:
a) desinteresse de Espanha e Portugal pela região.
39

b) total ausência de tratados de limites entre Espanha e Portugal


durante aquele século.
c) oposição dos colonos ao estabelecimento de fronteiras.
d) conhecimento impreciso do território.
e) N.R.A.

A colonização da Amazônia: missionários, europeus e militares em


conflito.

No final do século XVI, europeus de origem holandesa, inglesa e


francesa navegaram pelos rios da Amazônia, tentando fixar núcleos de
povoamento e colonização. Em 1559, os holandeses estabelecer am
fortificações no encontro das águas do Xingu com o Amazonas. Os
fortes de Orange e Nassau serviam de base para o contato e comércio
com indígenas, bem como para que se desse início ao plantio de cana -
de-açúcar e tabaco. Em 1610, o inglês Thomas Roe fund ou núcleos de
colonização próximos à foz do Amazonas. Por volta de 1620, já se
encontravam núcleos holandeses na ilha de Porcos, ingleses entre os
rios Jari e Paru, holandeses nos rios Gurupá e Xingu e franceses no
Maranhão. Tal situação motivou a interven ção dos portugueses que,
entre 1612-1615, lutaram contra a presença francesa no Maranhão.
Vitorioso sobre os franceses, Francisco Caldeira Castelo de
Branco (m. em 1619) fundou, na baía de Guajará, em 12 de janeiro de
1616, o forte do Presépio, a partir do qual surgiu a cidade de Santa
Maria de Belém do Grão -Pará. Portugal, então sob o domínio da União
Ibérica (1580-1640), atuou decisivamente na expulsão dos demais
europeus do vale do Amazonas, cabendo especial destaque a atuação
de Pedro Teixeira, que cons olidou a presença portuguesa na região.
A partir de uma busca tão áspera mas com obstinada fixação na
idéia de grandes tesouros, as metrópoles ibéricas, agora unidas sob a
dominação da Espanha, iniciam um grande esforço para manter a
integridade de suas p osses territoriais. As ameaças estrangeiras
constituíram-se em importante motivo para que se ampliassem os
esforços colonizadores. No entanto, a Espanha estava por demais
envolvida com as colônias andinas, platinas e mexicanas. Caberia ao
Estado Português a tarefa de resguardar, em benefício da União
Ibérica, o vale do Amazonas. Pelo Tratado de Tordesilhas quase todo o
conjunto da atual região norte do Brasil ficava sob o domínio espanhol.
No entanto, a partir de meados do século XVII, os portugueses fixar am
aí sua presença.
Com a criação do Estado do Maranhão e Grão -Pará em 1624 pelo
rei Felipe IV (1605 -1665), monarca da Espanha entre 1621 e 1665 que
governou também Portugal entre 1621 e 1640 durante do Período da
União Ibérica, foram lançadas as bases da conquista e povoamento da
costa e do extremo norte pelos luso -brasileiros. Tendo em vista o
aprofundamento da ocupação, a Coroa instituiu algumas capitanias na
região como Cametá, Gurupará e Cabo do Norte. Em léguas de terras e
costa, contava-se, por volta de 1637, a presença de 1400 a 1500
homens brancos na região.
40

Em seu relato (Novo descobrimento do grande rio Amazonas), o


padre Cristóbal Acuña (1597 -1675), cronista da viagem de Pedro
Teixeira, fala dos grandes núcleos de colonizadores existentes na
região: Belém, onde existia um grande castelo para sua defesa;
Cametá: decadente e que em décadas passadas fora famosa por seus
muitos moradores; Curupatuba e o forte do Desterro localizado na foz
do rio Genipapo, com 30 soldados e algumas peças de artilharia .
A necessidade de imprimir à Amazônia os símbolos da
colonização ibérica possibilitaram a expedição de Pedro Teixeira. As
autoridades hispânicas em Quito e Lima, no entanto, não se sentiam
tranqüilas com essa aventura portuguesa por uma tão vasta e rica
região até então unicamente reservada à Espanha.
A frágil aliança entre as duas potências estava próxima de seu
fim. Mesmo com a União Ibérica, Portugal e Espanha mantiveram -se
sempre como nações distintas. Nesse momento (1638), embora pelo
Tratado de Tord esilhas a Amazônia fosse espanhola, os portugueses
expulsaram os estrangeiros que haviam se instalado com sucesso em
terras coloniais espanholas. Os relatos, tanto dos cronistas Rojas e
Acuña, quanto os do próprio Pedro Teixeira deixaram clara a
necessidade de se iniciar imediatamente o aproveitamento colonial da
região, inserindo -a no contexto de uma economia mercantilista, uma
vez que suas terras eram férteis, ricas em recursos minerais, caça,
pesca e estavam densamente povoadas por indígenas que, a part ir de
um trabalho missionário, poderiam vir a ser eficientes vassalos de Sua
Majestade.
Estabelecidos os marcos da posse portuguesa no Amazonas por
Pedro Teixeira, a exploração e ocupação continuou pelos séculos XVII
e XVIII, cabendo aos missionários jesu ítas, mercedários, carmelitas e
franciscanos a função de catequese, pacificação e fixação do indígena
em aldeamentos. A atuação dessas ordens e congregações religiosas
foi regida pelo Regimento das Missões, datado de 1686. Esse
instrumento jurídico buscava estabelecer as bases de uma atuação
catequética harmonizada com o processo colonizador, fixando o caráter
interdependente das duas atuações. Reinando em Portugal Dom Pedro
II (1667-1706), a atuação dos missionários foi extremamente
favorecida.
Pela Carta Régia de 19 de março de 1693, o território da
Amazônia foi dividido entre as diversas instituições religiosas que
atuavam na região. Coube aos jesuítas a catequese no distrito sul do
rio Amazonas até os limites com as colônias espanholas, incluindo -se o
Vale do Guaporé; ainda atuariam no vale do rio Negro e em todo o
trecho entre o Urubu e o Negro. Essas determinações foram alteradas
pela Carta Régia de 29 de novembro de 1694, que reformava a anterior
e estabelecia como área de catequese dos carmelitas o r io Negro,
entregando o Urubu aos mercedários e a margem esquerda do
Amazonas até o Urubu aos religiosos da Piedade e de Santo Antônio.

Exercícios.
41

1. Mesmo antes dos portugueses outros povos se estabeleceram no rio


Amazonas, entre eles:
a) os ingleses que se estabeleceram no encontro das águas do Xingu
com o Amazonas, em 1559.
b) os franceses que, na Amazônia, tentaram criar a França Antártida,
em 1517.
c) os holandeses que se estabeleceram no encontro das águas do
Xingu com o Amazonas, em 1559.
d) os espanhóis que criaram fortificação no baixo Amazonas, a partir de
1564.
e) N.R.A.

2. O primeiro estabelecimento português no Amazonas foi:


a) o forte Príncipe da Beira, em 1763.
b) o forte de Coímbra, em 1654.
c) o forte de Natal, em 1563.
d) o forte do Presépio, em 1616.
e) N.R.A.

3. O Estado do Maranhão e Grão -Pará foi criado em:


a) 1623.
b) 1624.
c) 1625.
d) 1627.
e) 1626.

4. As ordens religiosas que atuavam na Amazônia colonial eram:


a) livres para agirem.
b) tinham sua atuação regulada pelo estado português.
c) vinculadas e subordinadas diretamente ao papa.
d) submetida aos conselhos coloniais.
e) N.R.A.

5. Quanto a atuação das ordens religiosas, a Carta Régia de 1693


determinava:
a) a determinação de áreas específicas de catequese para cada ordem.
b) a expulsão dos jesuítas da Amazônia.
c) o restabelecimento do direito de padroado.
d) a criação do conselho jesuítico.
e) a predominância dos mercedários.

A colonização da região do Madeira/Guaporé.

A fixação de núcleos de povoamento coloniais iniciou -se no


Madeira com o estabelecimento de missões religiosas, para a
catequese e pacificação de indígenas pelos jesuítas. Dentre os vultos
da Companhia de Jesus, na região do Madeira, destaca -se o padre
João de Sampaio que, em 1728, fundou entre a cachoeira de Santo
Antônio e a foz do Jamarí um núcleo de aldeamento, que foi
42

impiedosamente massacrado pelos Mura, considerados então o terror


daquele rio. No entanto a presença jesuítica no Vale do Madeira é
mais antiga. Entre 1669 -1672 os padres Manoel Pires e Garzoni
fundaram uma aldeia Tupinambarana na foz do Madeira, dando origem
à localidade de Parintins. Na medida em que a catequese ia se
dinamizando ao longo do rio, as possibilidades de desenvolvimento de
atividades econômicas iam se apresentando. A região era riquíssima
em drogas do sertão e sobretudo em cacau.
A penetração dos sertan istas, coletores e bandeirantes pelos
vales do Madeira e Guaporé foi marcada pela forte hostilidade dos
Mura e dos Torá habitantes da Mundurucânia. Coube ao Capitão -mor
do Pará, João de Barros Guerra, o combate aos Torá, que foram se
estabelecer na desembo cadura do Mayci. No entanto, dificuldades de
toda ordem ainda inviabilizariam a ocupação colonial da região do
Madeira/Guaporé, de onde chegavam notícias da presença de povos
estrangeiros como os castelhanos, que fundavam missões
principalmente ao longo do Guaporé. Por esse motivo, organizou -se no
Pará uma bandeira fluvial que deveria percorrer todo o Vale do Madeira
até suas vertentes. O comando dessa expedição foi entregue a
Francisco de Mello Palheta, então Sargento -Mor, que partiu de Belém
em 11 de novembro de 1722 e atingiu as missões espanholas de Santa
Cruz de Cajubava, no Mamoré e São Miguel, no Guaporé.
A expedição de Palheta evidenciava o avanço das missões
jesuíticas castelhanas ao longo do Guaporé, já muito próximas às
minas de Mato Grosso, o que representava um grande mal -estar para
as autoridades coloniais lusitanas. O contrabando do ouro das minas
de Mato Grosso era uma das possibilidades mais evidentes. Por outro
lado, ao avançar pelos vales do Guaporé, Mamoré e Madeira, os
castelhanos ameaçavam a própria soberania e o controle português
sobre a bacia amazônica. Diante de tais possibilidades a Coroa
Portuguesa tomou a drástica medida de proibir completamente a
navegação pelo Madeira, através do Alvará de 27 de outubro de 1733.
Nessa época, projetos de uma intensa colonização na região
ainda não eram cogitados. Marcada pela insalubridade, pela hostilidade
dos Mura e pela dificuldade de navegação, devido às inúmeras
cachoeiras, a região permaneceu longo tempo como um vazio
demográfico colonial, oc asionalmente visitado por coletores e
compradores das “drogas do sertão” além de sertanistas e
bandeirantes que, em busca de riquezas naturais, complementavam a
renda de suas empreitadas com a preação e venda de indígenas.
Alguns núcleos de colonização de iniciativa do governo colonial e
mesmo os destacamentos militares e fiscais foram criados no século
XVIII. O primeiro governador do Mato Grosso, o Conde D. Antônio
Rolim de Moura, ordenou ao juiz de fora Teotônio Gusmão, em 1759, a
fundação do povoado de N ossa Senhora da Boa Viagem do Salto
Grande do Rio Madeira, na cachoeira que hoje leva o seu nome. Já no
final do século, o governo colonial elaborou um plano com o intuito de
facilitar a navegação no rio Madeira, manter maior controle sobre o
recolhimento dos quintos (impostos) devidos à coroa e defesa contra os
ataques dos indígenas. A execução desse plano fez surgir no rio
43

Madeira, na última década do século XVIII, os povoados de São João


do Crato e São José do Montenegro, este último um posto militar
avançado do Forte Príncipe da Beira no salto do Ribeirão povoado por
índios aldeados e escravos da Coroa. Esse destacamento, situado no
trecho encachoeirado tinha por objetivo principal o apoio à navegação
do Madeira e recolhimento também dos quintos do ouro devido à Coroa.
Coube ao governador Luiz Pinto Souza Coutinho a fundação, no rio
Madeira, do povoado do Balsemão, em 1768.
A descoberta do ouro no Vale do Guaporé em 1734, pelos irmãos
Arthur e Fernando Paes Barros, atraiu milhares de aventureiros para a
região levando a Coroa Portuguesa a criar, em 1748, a capitania de
Mato Grosso e Cuiabá, que abrangia a maior parte das terras que hoje
integram o Estado de Rondônia. Em 1743, os jesuítas espanhóis em
uma ousada investida contra a margem direita do Guaporé, nas
proximidades da confluência com o rio São Miguel, fundaram Santa
Rosa, uma missão que refletia o caráter contra -ofensivo e
expansionista da colônia espanhola.
Coube ao padre Athanásio Theodoro iniciar as atividades
catequéticas, apoiado por índios já pertencentes às missões de Mojos
e Chiquitos. O local de Santa Rosa ficava a aproximadamente 100 Km
acima da confluência do Guaporé com o Mamoré. Essa missão
sobreviveu em mãos dos padres castelhanos até 1754, quando então
passou ao domínio português, sen do os índios transferidos para uma
nova missão na margem esquerda, a poucos quilômetros de distância
da que se chamou Santa Rosa Velha. Duas outras missões foram
fundadas na margem direita do Guaporé pelos jesuítas de Castela: São
Miguel e São Simão. A pre ocupação dos portugueses era visível, pois a
ocupação da margem oriental representava uma grave ofensiva rumo às
minas de Mato Grosso.
Os receios das autoridades coloniais portuguesas tinham
fundamento, o próprio mapa que haveria de servir para a delimita ção
do Tratado de Madrid situava Santa Rosa na margem portuguesa do
Guaporé. Ademais, o próprio Vice Rei do Peru, o marquês de
Castelfuerte, havia concedido aos Mojo, em 1724, armas de fogo após
a visita de Francisco Palheta à região. O temor português se
completava com a confirmação da presença de índios das províncias
de Mojos e Chiquitos nas margens do baixo Madeira, a
aproximadamente 100 léguas das missões onde iam à busca de cacau
e drogas do sertão.
Santa Rosa, São Miguel e São Simão revelavam em seu trabalho
catequético a pretensão hispânica à margem direita do Guaporé, uma
vez que, embora não houvesse ainda um efetivo povoamento português
na região, entendia -se que o território que se ia ocupando pertencia à
colônia portuguesa, mesmo que ainda não s e houvesse assinado o
Tratado de Madrid. A presença dos padres jesuítas espanhóis era vista
como uma violação à soberania portuguesa, fonte de tensões e
animosidades e sua expulsão deveria ser completada com a fixação de
missionários portugueses capazes de aglutinar indígenas em missões
pertencentes ao governo português. Tornava -se necessária a
catequese portuguesa, o povoamento das regiões fronteiriças e a
44

expulsão dos espanhóis da margem direita do Guaporé. Para garantir


seu domínio sobre a região foi cri ado o distrito de Pouso Alegre, pela
Provisão de 1743 que, anulada pela Provisão Régia de 1746, elevava
Pouso Alegre à categoria de município com o nome de Vila Bela da
Santíssima Trindade, embora o ato nunca tivesse se concretizado até a
chegada de Rolim de Moura.
Por outro lado, o Senado da Câmara de Mato Grosso instava a
requerer à Coroa Portuguesa o envio de missionários jesuítas para a
região, a fim de se estabelecer uma contra ofensiva aos planos dos
jesuítas espanhóis. Dessa forma, foram mandados, ju ntamente com D.
Rolim de Moura, dois sacerdotes inacianos, ficando um deles, o padre
Estevão de Castro, em Santo Antônio do Madeira, em 1751 e outro
dirigindo-se para o Guaporé, com o Capitão -General. Esse jesuíta
chamado padre Agostinho Lourenço foi desig nado por Rolim de Moura
para fundar uma missão no local denominado Casa Redonda, no local
da desembocadura do Corumbiara com o Guaporé, em terras da
margem espanhola.
Essa missão foi transferida para a margem direita , situando -se
próxima ao rio Mequens, r ecebendo o nome de São José, mas nunca
chegou a prosperar, atacada por febres e epidemias que
constantemente dizimavam sua população. No entanto, essa foi a única
missão portuguesa no Guaporé, embora o próprio Estado reconhecesse
sua valia e afirmasse enf aticamente o desejo de que fossem fundadas
novas aldeias para a catequese do gentio e fixação de povoados na
fronteira.

Exercícios.

1. As primeiras tentativas de estabelecimento de missões religiosas no


rio Madeira couberam aos padres da ordem:
a) de Nossa Senhora da Piedade.
b) de Nossa Senhora das Mercês.
c) de Santo Antônio.
d) da Companhia de Jesus.
e) da Ordem de São Francisco.

2. O aldeamento jesuítico fundado em finais do século XVII na ilha de


Tupinambarana representou o marco inicial da colonização do Madeira.
Naquela ilha viria a surgir a atual localidade de:
a) Borba.
b) Humaitá.
c) Manicoré.
d) Parintins.
e) Calama.

3. A fundação do povoado de Nossa Senhora da Boa Viagem do Salto


Grande do Rio Madeira, em 1759, foi ordenada por:
a) Teotônio de Gusmão.
b) Alexandre de Gusmão.
c) Francisco de Melo Palheta.
45

d) Manuel Pires.
e) Antônio Rolim de Moura.

4. O estabelecimento dos núcleos coloniais de São João do Crato e


São José do Montenegro, no final do século XVIII, representou:
a) a tentativa dos colonos de conquistarem o Madeira por iniciativ a
própria.
b) o interesse da coroa em manter maior controle sobre o recolhimento
de impostos.
c) o sucesso da iniciativa missionária na região do Madeira.
d) um perigoso precedente de estabelecimento colonial espanhol na
América Portuguesa.
e) N.R.A.

5. Na margem direita do Guaporé foram criadas várias missões:


a) espanholas, como a de Santo Antônio.
b) portuguesas, como a de São Miguel.
c) espanholas, como a de São Simão.
d) espanholas, como a de Santa Rosa.
e) N.R.A.

A defesa das fronteiras: destacamentos e fortificações.

O litígio entre as metrópoles ibéricas refletia -se no cotidiano das


regiões fronteiriças de suas colônias na América do Sul. Esses
conflitos ainda demorariam muito a ser resolvidos, apesar da
assinatura do Tratado de Madrid entre Portugal e Espanha em 1750.
Na região do rio Guaporé, iriam perdurar até meados da década de
1770, levando os então governadores da capitania de Mato Grosso a
uma ocupação militar das áreas fronteiriças.
Para tornar mais eficiente a guarda das fronteiras num momento
de graves tensões entre Espanha e Portugal Capitão -General Rolim de
Moura criou uma Companhia de Dragões e fundou a Guarda de Santa
Rosa Velha, no Guaporé Rondoniense, próximo à barra do Mamoré, no
“flanco da cachoeira que nessa paragem encrespava as águas do
Guaporé, apenas deixando estreito canal, encostado à nossa
margem.”. A guarnição inicial contava com um alferes, dois cabos de
esquadra, vinte e três soldados, dez soldados pedestres, um cirurgião,
quatro agregados e dezoito escravos. Em seus arredores
estabeleceram-se índios em um total de aproximadamente setenta,
procedentes das missões espanholas de Santa Rosa e São Miguel.
Essa povoação foi transformada, em 1760, no Forte de Nossa Senhora
da Conceição e Rolim de Moura procedeu ainda a criação de uma tropa
auxiliar à guard a fronteiriça, composta por sertanistas, mestiços,
negros e escravos.
O Forte da Conceição foi remodelado em 1765 -66, passando a
contar com um aumento da guarda a partir da chegada de mais cem
soldados, vindos do Pará e melhoria dos armamentos que passaram a
incluir mais seis canhões. Essas reformas se realizaram durante o
46

governo do segundo Capitão -General, João Pedro da Câmara, que


durou de 1765 a 1768, quando assumiu o poder Dom Luís Pinto de
Souza Coutinho (1768 -1771), que fundou o povoado de Balsemão n a
cachoeira do Girau, no rio Madeira, reunindo um total de 151 pessoas
ali residentes. Esse governador mudou o nome do forte para Bragança
e ordenou a abertura de uma estrada que estabeleceria uma ligação
terrestre com Vila Bela com um percurso total de 18 5 léguas. Garantia -
se, dessa forma, o abastecimento do Forte de Bragança mesmo em
situações em que a navegação pelo Guaporé fosse inviável devido aos
constantes conflitos com a colônia castelhana. Souza Coutinho criou
também a Legião dos Auxiliares ou Legi ão de Cuiabá, composta por um
Estado-Maior de 6 militares, 2 companhias de granadeiros de 160
homens, 4 companhias de fuzileiros de 280 homens, 1 companhia de
caçadores de 50 homens e 1 companhia de cavaleiros de 50 homens.
A consolidação da política de gu arda e defesa das fronteiras do
Vale do Guaporé se daria com o projeto do Marquês de Pombal de
erigir em algum ponto do Guaporé uma grande fortificação. A
manutenção das posses territoriais, a qualquer custo, deveria nortear a
ação do quarto Capitão -General, Dom Luís de Albuquerque de Melo
Pereira e Cárceres, que governou a capitania de Mato Grosso entre
1772 e 1789, construindo o Real Forte Príncipe da Beira, cujas obras
foram iniciadas em 1776 e dadas por concluídas em 1783, embora o
forte nunca tenha sido realmente terminado.
As plantas da fortificação foram elaboradas por Domingos
Sambucetti, um dos engenheiros contratados em Portugal para a
demarcação dos limites norte e oeste da colônia portuguesa. Aprovada
a obra pela corte de Lisboa, deu -se o início da construção a partir da
escolha de um local situado às margens do Guaporé, na mesma
localidade do antigo Forte de Bragança, que fora destruído por uma
enchente, em 1771. A localização exata foi 12º25’47” de latitude sul e
21º17’17” longitude oeste em um a área de terras firmes, livre do
alcance das enchentes e no dizer do Engenheiro e Sargento -Mor
Ricardo Franco de Almeida Serra “ estratégico por excelência .”

Mapa da Cadeia de Fortificações das Fronteiras Norte e Oeste da


Colônia Brasileira.

A construção apresentava um formato quadrangular com 119, 5 m


de lado, circundada por um foço de 2 m de profundidade e em cada
ângulo um baluarte com guarita e 14 canhoneiras. Sua construção foi
marcada pela falta de material, trabalhadores qualificados, epidemias e
fomes. O próprio autor do projeto morreu de malária em 1780 e foi
substituído pelo Sargento -Mor Ricardo Franco de Almeida Serra, que
mais, tarde construiu também o Forte de Coimbra.
José Pinheiro de Lacerda, em carta datada de 1780 e endereçada
ao governador Luís de Albuquerque informava que trabalhavam nas
obras 378 operários, sendo 157 trabalhadores livres, 67 escravos da
coroa e 154 escravos de particulares. O forte era habitado por um total
de 795 pessoas entre homens e mulheres. Se considerarmos este to tal
e o compararmos ao número de trabalhadores fornecido pela carta de
47

José Pinheiro Lacerda, verificaremos que quase 50% do total dos


habitantes esteve envolvido com os trabalhos de construção. Ao seu
redor, desenvolveu -se uma área de cultivo de frutos, m andioca e
criação de gado bovino, que nunca chegou a prosperar.
As enormes extensões de Mato Grosso passariam
progressivamente a contar com um sistema de guarda e defesa das
fronteiras que atingiria seu ponto de maior desenvolvimento com a
construção das grandes fortificações como o Príncipe da Beira no
Guaporé e o forte de Coimbra às margens do Paraguai, para onde se
deslocaram as tensões fronteiriças no século XIX. Por outro lado o
recurso para se atrair povoadores ligava -se aos achados auríferos,
incentivos fiscais e ao perdão de dívidas e crimes e comutação de
sentenças capitais em obrigação de residência nas minas de Mato
Grosso.
Além de contribuir com a própria participação, a população
deveria fornecer armas, munições, suprimentos de víveres, escravos ,
animais de carga, tração e montaria, bem como colaborar com o
pagamento de tributos extraordinários, destinados à manutenção do
empreendimento militar. As tensões fronteiriças prolongam -se por toda
a segunda metade do século XVIII no Vale do Guaporé, aci rrando-se a
partir da anulação do Tratado de Madrid em 1761. No entanto, em Mato
Grosso, fazia valer pelas armas, pela colonização e pela formação de
contingentes militares a soberania portuguesa sobre a margem direita
do Guaporé.
Capitães Generais do Mato Grosso
Nome Posse
Antônio Rolim de Moura Tavares, 1751.
João Pedro da Câmara, 1765.
Luiz Pinto de Souza Coutinho, 1769.
Luiz de Albuquerque de Mello Pereira e Cárceres, 1772.
João de Albuquerque de Mello Pereira e Cárceres, 1789.
Caetano Pinto de Miranda Montenegro, 1796.
Manuel Carlos de Abreu e Menezes, 1804.
João Carlos D’Oeynhausen Gravenburg, 1806.
Francisco de Paula Magessi Tavares de Carvalho, 1819.

Exercícios.

1. A insegurança de Portugal e Espanha quan to à manutenção de seus


territórios resultou em iniciativas de defesa fronteiriça, entre elas, uma
no rio Guaporé próximo à barra do Mamoré estabelecida por ordem de
Rolim de Moura, foi denominada:
a) Forte do Presépio.
b) Forte Príncipe da Beira.
c) Guarda de Santa Rosa Velha.
d) Guarda de São Simão.
e) N.R.A.
48

2. O Real Forte Príncipe da Beira foi construído durante o governo do


Capitão-General:
a) Antônio Rolim de Moura.
b) Luiz de Souza Coutinho.
c) Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres.
d) João Pedro da Câmara.
e) N.R.A.

3. Para construir o Real Forte Príncipe da Beira, o governo português


contou:
a) apenas com recursos próprios.
b) o forte foi construído pela população guaporeana.
c) com o auxílio espanhol.
d) a população colaborou fornecendo trabalhadores, gêneros e pagando
tributos extraordinários.
e) N.R.A.

4. A política de atração de colonos para a fronteira guaporeana visava


melhor garantir aquela fronteira. Dentre os elementos dessa política
podemos assinalar:
a) um bem montado plano de colonização para o setor agropecuário.
b) incentivos fiscais e perdão de dívidas e crimes àqueles que
optassem por fixar-se na região.
c) o financiamento do estado à colonização.
d) o investimento substancial na migração de elementos metropolitanos
para a região.
e) N.R.A.

5. A construção do Forte Príncipe da Beir a fazia parte de um amplo


projeto de defesa de fronteiras elaborado pelo ministro português:
a) Marquês de Pombal.
b) Luiz Melo Pereira e Cáceres.
c) Souza Coutinho.
d) Almeida Serra.
e) Domingos Sambucetti.

Em resumo.

 A Amazônia compreende terras do Brasil, Bolívia, C olômbia,


Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela
 No Brasil a Amazônia compreende s terras do Pará, Maranhão,
Amazonas, Tocantins, Mato Grosso, Rondônia, Acre, Amapá e
Roraima
 Durante o século XVI vários europeus exploraram o rio Amazonas,
entre eles Francisco Orellana, Pedro de Úrsua, Lope de Aguirre,
Pedro Teixeira.
 Atribui-se a primeira exploração do rio Madeira ao bandeirante
Raposo Tavares que partindo de São Paulo atingiu Belém em 1650.
49

Contudo, outras expedições exploraram posteriormente aquele ri o:


Francisco de Melo Palheta em 1723 e Manuel Félix de Lima em 1742.
 As crônicas das primeiras expedições ao Amazonas estão carregadas
de visões imaginárias e fantasias a respeito do meio natural, as
plantas, os animais, indígenas e seus mitos muitos deles misturados
às concepções do imaginário europeu pelo próprios cronistas.
 O estabelecimento dos limites territoriais entre a Espanha e Portugal
foi um processo longo e marcado por questões dinásticas que
afetaram as potências ibéricas, dificultando os trata dos.
 Na Amazônia esses tratados eram dificultados ainda pelo
desconhecimento do território, e pelo expansionismo português, o
que conduzia a freqüentes correções dos acordos.
 Portugal, desde o século XVII iniciou por estabelecer uma cadeia de
fortificações na fronteira norte e oeste, concluída no século XVIII
esses fortes, como o Príncipe da Beira, o Forte de Coímbra e o Forte
de Macapá, formaram o cinturão defensivo interno da colônia.
 A descoberta do ouro no Mato Grosso e do cacau nativo na Amazônia
iniciaram um período de agressiva ocupação daqueles territórios,
vindo de encontro aos interesses expansionista da coroa portuguesa.
 No rio Madeira, a primeira tentativa de estabelecimento de um núcleo
de povoamento colonial data do século XVII, com a fundação de uma
missão na foz do rio Madeira, na ilha de Tupinambarana.
Posteriormente outras tentativas foram feitas, inclusive na região do
alto Madeira obtendo pouco sucesso. Contudo, no final do século
XVIII algumas dessas povoações, poucas, conseguiram subsist ir no
curso daquele rio.
50

Capítulo 3
O mercantilismo e as políticas de colonização dos vales do Madeira
e do Guaporé.

A colonização do Vale do Guaporé e a fundação de Vila Bela da


Santíssima Trindade.

A conquista e posse da região guaporeana, uma terra limítrofe


entre a planície e o planalto, entre a floresta e o cerrado, entre a
colônia portuguesa e a espanhola, divisora das grandes bacias
hidrográficas Platina e Amazônica, iniciou -se anteriormente à
assinatura do Tratado de Madrid, num vasto empenho d e missionários,
sertanistas, mineradores e aventureiros, procedentes tanto do norte, da
cidade de Belém, quanto da capitania de São Paulo.
Nessas paragens remotas, verdadeira periferia dos núcleos
coloniais, as alternativas para enriquecimento situavam -se entre os
atrativos das lavras e faisqueiras e a preação de índios. Nunca se
observou uma preocupação sistematizada em dotar a região de uma
forte produção agrícola, capaz de assentar definitivamente a população
e criar condições de reprodução dos modelos c lássicos de plantation
mercantilista como no Nordeste ou no Sudeste. A uma produção de
riquezas sempre instável e incerta correspondeu um modelo de
colonização flutuante e incerto, direcionado sempre pelo fator de
descoberta de novas lavras.
Sendo essa uma região de acirrada disputa, o recurso encontrado
pelo Estado Português foi a implantação de um núcleo urbano
administrativo, formado a partir da criação da Capitania de Mato
Grosso, bem como a instalação de um aparato militar capaz de inibir as
pretensões espanholas de violação às cláusulas do Tratado de 1750.
Desmembrada da Capitania de São Paulo pelo Alvará Régio de 09 de
maio de 1748, ficava criada a Capitania de Mato Grosso, num momento
em que as minas de Cuiabá passavam por uma grave decadência em
sua produção, o que contribuiu para uma migração maciça dos
habitantes de Bom Jesus de Cuiabá e arredores, rumo às minas de
Mato Grosso e a nova vila que seria fundada com a chegada de D.
Antônio Rolim de Moura.
A posse definitiva da região só seria garantida a partir da
efetivação do princípio defendido por Alexandre de Gusmão, o uti
possidetis. (A posse da terra é garantida a quem a ocupa). Ao se criar
a Capitania de Mato Grosso, tinha -se a clara necessidade de se
aparelhar as fronteiras com recursos humanos , bélicos e uma rota
comercial. A fronteira oeste vivia permanentemente em estado de
tensão, pois de sua defesa dependia a garantia de integridade das
minas de Cuiabá, das Minas Gerais e da própria calha amazônica.
Partindo dessa premissa, foram desenvolvi das políticas de
colonização, defesa e fortificações.
Para dar início a uma efetiva política de colonização, o Estado
Português determinou a fundação de uma vila, capital e sede
51

administrativa da Capitania do Mato Grosso, que deveria estar situada


às margens do rio Guaporé. As minas de Mato Grosso, então no auge
de sua produção, já haviam levado os mineradores ao estabelecimento
de alguns núcleos colonizadores como São Francisco Xavier, Jauru,
Santa Ana e Pouso Alegre.
Vila Bela da Santíssima Trindade, fund ada pelo primeiro
governador, Dom Antônio Rolim de Moura, atendia aos imperativos
políticos-administrativos do Estado Português, uma vez que plasmava
definitivamente a presença colonial portuguesa na região, inibindo as
expectativas de avanço dos vizinhos castelhanos. A nova capital
tornava-se, desde a sua fundação, um ponto visceral na política
fronteiriça colonial de Portugal e Espanha. Era o posto mais avançado
no conjunto do território colonial português. Sua posição estratégica
garantia-lhe fácil acesso à bacia amazônica através do Guaporé e, por
essa via, ligava-se as minas do Mato Grosso ao Grão -Pará e ao Porto
de Belém. Facilitado também ficaria o acesso à bacia platina pois
através do trajeto Vila Bela - Vila Maria (Cárceres) ou Vila Bela -
Cuiabá, estabelecia-se ligação com os rios Paraguai -Cuiabá-Taquari-
Pardo-Paraná-Tietê, atingindo -se São Paulo (embora o trajeto fosse
mais difícil do que o do Guaporé -Amazonas).
Em todo esse território vibravam as tensões fronteiriças entre as
colônias portuguesa e espanhola. Embora revestida de grande
importância política, a criação de Vila Bela representa também um ato
arrojado de dimensões econômicas, pois estabelece um controle
definitivo sobre a produção de ouro e diamantes das minas de Mato
Grosso, inibindo o c ontrabando e fixando uma rota comercial de
grandes dimensões através do Madeira e Guaporé, a partir da
instalação da Companhia de Comércio do Grão -Pará, bem como
garante a regularidade no abastecimento de escravos para as minas de
Mato Grosso.
Em janeiro de 1752, D. Rolim de Moura chegou ao Guaporé e
procedeu o reconhecimento dos sítios do local, buscando o melhor
lugar para a fundação da Vila. Em suas correspondências, o
governador Rolim de Moura apresenta as vantagens do sítio de Pouso
Alegre, uma região de águas salobras e abundantes, com muita lenha e
pasto para o gado, terra fértil e de muita madeira de boa qualidade,
ótima posição estratégica, que facilitaria a defesa militar em caso de
ataques, abundância de peixe e caça e uma topografia plana, além d e
possuir um clima mais quente e constante do que os das chapadas,
que eram mais frios e propensos a pleurisias e febres catarrais e, por
fim, a grande proximidade com os sítios auríferos, lavras e faisqueiras.
Contudo, o governador desconhecia as condiçõe s ambientais da
região. Mesmo tendo sido informado sobre as inundações pelos
habitantes do Vale do Guaporé, o Capitão -General obstinado e
insolentemente manteve sua decisão de fundar a vila em uma área de
terras baixas, infestadas de malária e continuament e sujeita a
inundações e com um lençol freático aflorante. A nova vila foi erigida
em 19 de março de 1752, mudando -se no ano seguinte após a violenta
enchente que destruiu as construções. Contudo, mesmo com a
52

mudança para terras um pouco mais altas, as enc hentes ainda


chegavam a algumas de sua ruas.
Os edifícios públicos tinham uma construção mais elaborada.
Neles residia o poder e a grandeza desse Estado que ampliava seu
domínio e garantia a seus súditos a ordem, a prosperidade e a lei, nas
terras recentemente conquistadas. Todo o material vinha de fora,
desde a cal e a pedra canga, até as telhas e material para
revestimentos. As obras de construção foram interrompidas diversas
vezes devido a epidemias, falta de materiais que demoravam a chegar,
falta de ouro na Provedoria da Capitania, carência de mão -de-obra e
dificuldades no abastecimento.
Alguns problemas recebiam socorro de forma mais rápida, como
a transferência de recursos (ouro) da Provedoria de Goiás para a de
Mato Grosso, enviando nos primeiros an os de fundação de Vila Bela
entre 6 e 10 arrobas de ouro/ano para dar continuidade às obras da
fronteira. As obras públicas eram custeadas pelo governo que também
concedia subsídios aos particulares, isentando -os de impostos,
permitindo o uso de escravos d e mortos ou de ausentes e abrandando
o código de obras. Ao final do primeiro ano, após o início da
construção, a vila contava com alguns edifícios prontos ou em fase de
acabamento. Os prédios públicos não continham a grandiosidade
barroca típica dos edifíc ios das Minas Gerais, do nordeste açucareiro,
mas atestavam em suas linhas elegantes o esforço do governo colonial
em fixar ali sua presença.
No entanto, para que a posse de toda a região guaporeana fosse
assegurada, bem como ficasse garantida a implantaçã o de um circuito
comercial pela rede hidrográfica do Guaporé -Madeira-Amazonas e
ainda se promovesse uma retração do contrabando do ouro de Mato
Grosso, pela rede fluvial, tornava -se indispensável aparelhar a
capitania com um sistema de fortificações e um c ontingente militar que
completassem o projeto de assentamento do aparato administrativo
colonial na região.
A aplicação indulgente da lei, a tolerância governamental e a
ambigüidade do poder local, no tocante a arrecadação e ao
cumprimento das normas e das convenções, constituía -se numa
perfeita estratégia do poder colonial, que conformada pelo poder
metropolitano buscava concretizar a estabilidade da posse territorial
através do colonização do Vale do Guaporé e de sua capital Vila Bela.
A estratégia de dom inação colonial de áreas limites aparece
claramente em Vila Bela, fundada na liberalização do ordenamento
jurídico, na aplicação tolerante e indulgente da lei pela autoridade
colonial.

Exercícios.

1. Foi a primeira capital de Mato Grosso, fundada em 1752 :


a) Vila Bela.
b) Cuiabá.
c) São Luís de Cárceres.
d) Vila Boa.
53

e) Vila Rica.

2. A posse portuguesa da margem direita do rio Guaporé foi garantida


com base no princípio do uti possidetis (a terra pertence a quem a
ocupa), defendido por Alexandre de Gusmão no Tratado de :
a) Ayacucho.
b) Santo Ildefonso.
c) Badajós.
d) El Pardo.
e) Madrid.

3. A descoberta do ouro e a fixação da fronteira oeste do Brasil na


margem direita do rio Guaporé levou Portugal a criar em 1748 a
Capitania do Mato Grosso e Cuiabá, que teve como primeiro
governador:
a) Rolim de Moura.
b) João Carlos D’Oeynhausen.
c) João Pedro da Câmara.
d) Caetano Pinto Miranda Montenegro.
e) Luís de Albuquerque.

4. Qual dos fatores abaixo não explica a construção de Vila Bela no


Guaporé.
a) A necessidade de consolidação da posse portuguesa da regi ão
através da confirmação do princípio do u ti possidetis.
b) A abundância do ouro nas lavras do Guaporé.
c) A necessidade de controle militar e guarda das fronteiras.
d) O extrativismo da borracha.
e) A necessidade de impedir a ameaça da expansão espanhola na
margem oriental do rio Guaporé.

5. Quais as medidas tomadas por Rolim de Moura para fixar a


colonização portuguesa na região do Guaporé:
R.

A Mineração.

As descobertas de veios e aluviões auríferos datam ainda da


primeira metade do século XVIII, caben do aos irmãos Fernando e
Arthur Paes de Barros, notórios sertanistas e preadores de índios,
54

naturais de Sorocaba, os primeiros descobrimentos em 1734, nos locais


que foram chamados arraiais de Santana e São Francisco Xavier. Por
essa ocasião a produção das lavras e faisqueiras de Cuiabá já estavam
em visível decadência, o que de fato motivou a formação de bandeiras
e entradas de sertanistas pelos campos de Mato Grosso, que recebeu
este nome devido às densas florestas onde correm os rios Jauru e
Guaporé, em cujas terras se abrigavam os indígenas Pareci.
As descobertas, conforme relata o Barão de Melgaço (Augusto
João Manuel Leverger-1802-1880) foram acompanhadas por
providências do governo da Capitania de São Paulo no sentido de
eliminar, através de uma “gue rra justa” os índios Payaguá, que, em
inúmeras incursões pelos sertões, provocavam morte, terror e pânico
entre a população de Cuiabá e Mato Grosso. Ordenada a guerra contra
os Payaguá, observou -se também a quase dizimação dos Pareci, que
passaram a ser ut ilizados como mão -de-obra cativa nos trabalhos de
extração mineral. A conquista do território ao nativo tornava
imprescindível para a criação de condições de fixação de populações
coloniais nas novas áreas de mineração.
Assim, a Provisão de 6 de março de 1 732, editada pelo governo
português, contra os nativos Payaguá, passou a oferecer condições
para a ocupação de novos sítios de mineração descobertos em 1734.
Coube ao Tenente Mestre de Campo General Manuel Reis de Carvalho
o comando da empreitada, que com uma milícia de 842 soldados
aprisionou 266 índios e matou cerca de 600 outros. A exploração do
ouro em Mato Grosso levou os mineiros e faiscadores para as regiões
ribeirinhas ao Guaporé, onde foi fundado o arraial de Pouso Alegre.
A produção se realizava a través da exploração das lavras, que
eram estabelecimentos de algum vulto e dispunham de alguns
instrumentos, sendo o trabalho dirigido por um feitor que empregava
principalmente mão -de-obra de escravos negros ou indígenas. Seria
possível explorar também a s faisqueiras, onde a produção era intensa e
efêmera, feita individualmente por faiscadores nômades, que às vezes
se juntavam em grande número em região franqueada, onde cada um
trabalhava por conta própria. Havia também dentre esses faiscadores
grande quantidade de escravos que deveriam entregar cotas fixas a
seus senhores.
Os recursos técnicos utilizados nas empreitadas mineradoras
eram rudimentares e apresentaram pouca evolução ao longo do século
XVII. O baixo desenvolvimento técnico levava a uma grande perda no
processo de extração do minério e a um uso elevado de trabalhadores
escravos. Para o trabalho de extração eram utilizadas a alavanca, o
almocafre, a marreta, carumbé e batéias. O “ serviço de talho aberto ”
correspondia à lavagem do cascalho, o que tornava necessária a
existência de água corrente acima da lavra para que fosse desviado até
o local de mineração, num trabalho difícil, oneroso e que exigia mão -
de-obra especializada, de difícil obtenção no Vale do Guaporé. Esse
baixo nível técnico import ava sempre em grandes perdas na produção,
ao que se acrescentava o rápido esgotamento das jazidas e faisqueiras,
levando a produção a constantes oscilações e condicionando -a à
constante renovação dos achados e à facilidade de sua exploração.
55

A produção inconstante levava a um constante movimento das


massas populacionais, cuja presença estava sempre vinculada à
abundância do metal precioso, imprescindível para a garantia da
manutenção da política colonial e da colonização na região,
constituindo-se no verdadeiro agente motor da vida econômica local e
por extensão em elemento básico, definidor das políticas sociais e
territoriais.
O rápido esgotamento das faisqueiras era remediado pelos
sucessivos “achados” de outras tantas durante o século XVIII. A
fantasiosa idéia de enriquecimento fácil e rápido renovava os sonhos
dos mitos do Eldorado e do Lago do Ouro, promovendo uma rotineira
mudança das povoações de um sítio de garimpo para outro. A principal
conseqüência dessa situação a médio e longo prazo foi, no en tanto, a
fragilidade da agropecuária local.
A produção do ouro foi, desta forma, a força que impulsionou a
vida colonial no Vale do Guaporé. Os Campos D’Ouro, como eram
conhecidas as minas do Vale do Guaporé no Pará e na Metrópole,
produziram uma impressi onante quantidade desse metal. O trabalho
nas minas, lavras e faisqueiras era altamente insalubre, provocando um
rápido desgaste dos trabalhadores e levando à necessidade constante
de rápida reposição da mão -de-obra. Os escravos eram os mais
atingidos por essa situação. Empregava -se um grande esforço nos
trabalhos de construção de tanques, açudes e córregos para a
realização dos trabalhos de mineração. No entanto, o rápido
esgotamento dessas faisqueiras provocava um crônico endividamento
dos proprietários, sobretudo a partir do último quartel do século XVIII e
nas primeiras décadas do século XIX.
Vários problemas com os trabalhadores nas regiões, levaram a
administração colonial a tomar medidas extremas. A necessidade de
reposição da mão -de-obra era constante, mas era muito limitada a
capacidade do Estado em socorrer os mineiros, por isso os
governadores adotavam posturas de relativa transigência em relação à
propriedade de escravos, permitindo aos proprietários utilizarem -se da
escravatura dos mortos e aus entes, evitando-se assim a interrupção ou
paralisação dos trabalhos.
Ainda, buscando -se alternativa para manter o abastecimento de
mão-de-obra para as minas, os governos coloniais tentaram sensibilizar
as autoridades portuguesas para a necessidade de intr odução de
portugueses na região, explorando -se a fantasiosa idéia da riqueza fácil
e facilitando-se a estes a compra de escravos. A migração desses
grupos deveria, segundo os governadores, ser estimulada mas também
controlada para que se evitasse um número de habitantes superior às
capacidades de abastecimento de gêneros alimentícios da região.
À produção das minas do Guaporé entrou em decadência nos
últimos trinta anos do século XVIII. O esgotamento das jazidas ou
mesmo a extrema redução de sua produção nã o foi acompanhado por
adaptação e reordenação das forças produtivas, como aconteceu em
outras regiões como Cuiabá, Goiás e Minas Gerais. Com o declínio das
lavras do Guaporé, a região não atraiu recursos nem estímulos para a
fixação de uma prática agropas toril voltada para a exportação, tendo
56

concorrido para isso o seu isolamento geográfico, sua fama de região


insalubre e mesmo o desinteresse dos Capitães -Generais, que a partir
do final do século XVIII passam longos períodos ausentes da região e
manifestam clara preferência por Cuiabá.
O contrabando, no entanto, impulsionou parcialmente a economia
regional, tornando -se uma estratégia possível numa região fronteiriça
onde as severas leis coloniais inviabilizavam o intercâmbio regular e
legalizado entre as d uas colônias. Foi justamente através dessa prática
e a conseqüente obtenção da prata que se conseguiu garantir alguma
condição de barganha entre o Vale do Guaporé e os grandes centros de
poder colonial, o que não foi suficiente para criar condições de
superação da crise provocada pela decadência da mineração. Esse
quadro sombrio agravou -se sobremaneira ao longo das primeiras
décadas do século XIX. A região passou então por um intenso processo
de descolonização, que se ampliou na medida em que os focos da
tensão fronteiriça deslocaram -se progressivamente para o vale do
Paraguai. Aos poucos, mas ininterruptamente, a decadência foi -se
instalando, até que, com a transferência da capital para Cuiabá, o Vale
do Guaporé passou a ser uma região notoriamente esquecid a, povoada
somente pelos negros, descendentes de escravos que ali
permaneceram.

Exercícios.

1. Os irmãos Fernando e Arthur Paes de Barros descobriram as


primeiras jazidas de ouro no Guaporé em 1734 nos arraiais de:
a) Girau e Santo Antônio.
b) Santana e São Francisco Xavier.
c) Vila Bela e Vila Boa.
d) Cuiabá e São Luís.
e) Forte Príncipe e Balsemão.

2. Medida tomada pelo governo colonial em 1732 para facilitar a


ocupação das áreas de mineração no Mato Grosso:
a) doação de sesmarias no Vale do Madeira.
b) guerra aos índios P ayaguá.
c) combate ao comércio de escravos indígenas.
d) cartas de alforria aos escravos que descobrissem novas lavras.
e) N.D.A

3. Qual a importância do ouro para a colonização do Vale do Guaporé?


R.
57

4. Quando e porque o ouro do Guaporé entrou em decadênci a?


R.

5. Quais as conseqüências da crise da mineração no Guaporé?


R.

A Agropecuária.

Paralelamente ao desenvolvimento das atividades de mineração,


instalou-se no Vale do Guaporé a lavoura de subsistência, voltada
exclusivamente para as n ecessidades mais prementes da população
regional e ocasionalmente ligada a uma precária exportação de alguns
gêneros para o Pará ou para a colônia castelhana, vizinha da margem
esquerda do Guaporé, através do contrabando. A agricultura nunca
conseguiu desenvolver-se plenamente na região do Guaporé Português,
sendo considerada sempre uma atividade intrínseca à mineração e não
chegando a atender inteiramente às necessidades do consumo local,
embora o conjunto de suas terras fosse fértil e produtiva. A formaçã o
de roças que garantissem uma base mínima de sustento alimentar era
parte integrante das diretrizes da política colonial regional.
A obsessiva preocupação com as lavras e faisqueiras deixavam
em planos secundários a produção de gêneros, mas fatores como
secas, pestes de ratos, inundações ou pragas de insetos são relatadas
por todos os cronistas e viajantes que passaram pela região e
atestaram sua carência de alimentos. A carestia atingia níveis
insuportáveis. As terras eram férteis e garantiam produção a níveis
muito satisfatórios. O meio oferecia consideráveis dificuldades,
exigindo uma grande disponibilidade de mão -de-obra e recursos, o que
58

não era viável nestas regiões de garimpo. Os custos dessa produção de


roças eram altos e cumulativos, além de que o retorno era altamente
incerto, bastando o surgimento de um novo importante achado para que
se perdesse todo o cultivo. A alternativa das roças surgia com maiores
atrativos para a fundação dos engenhos, embora as sesmarias doadas
pelos governos no Vale do Guaporé estivessem obrigadas ao cultivo
das roças e à criação de gado.
A produção assumiu características próprias e ligava -se
primordialmente ao mercado regional, sendo na maior parte das vezes
encarada como uma atividade a mais, desenvolvida por fazendei ros que
também eram proprietários de lavras e buscavam diversificar seus
negócios, obtendo lucros nos garimpos com atividades complementares
que podiam ou não assumir características de grande vulto. Como não
estava voltada para a exportação, a produção du rante o período
colonial, não garantiu a expansão interna dos negócios, pois o
proprietário era ainda obrigado a importar ferramentas, escravos e
outros produtos. As técnicas de produção eram bastante rudimentares
possibilitando uma produtividade baixa e i nsuficiente.
O desenvolvimento da pecuária, por seu lado, esteve sempre
intimamente ligado à questão da dispensa de direitos da entrada do
gado na região e aos interesses externos das regiões tradicionalmente
pecuaristas de onde provinha a maior parte da c arne consumida. Esse
comércio interessava principalmente aos paulistas que introduziam na
área de Vila Bela o gado bovino e o muar, a partir de sua obtenção nos
campos do Sul e do vale do São Francisco (através da rota do Goiás).
O abastecimento precário l evava, entretanto, ao estabelecimento do
contrabando com os espanhóis das missões da margem esquerda do
Guaporé, o que, por sua vez, concorria para a saída clandestina de
ouro da capitania e da colônia portuguesa. A preocupação das
autoridades situava -se entre os campos diversos. Por um lado era
necessário coibir o contrabando com os castelhanos e para tanto seria
necessário assegurar um abastecimento regular de carne ao Vale do
Guaporé. Por outro, era indesejável que a atividade crescesse a ponto
de comprometer o abastecimento de mão -de-obra para a mineração,
numa região onde o número de habitantes sempre esteve muito abaixo
do desejado.
Na segunda metade do século XVIII a pecuária ganhou algum
impulso, havendo inúmeros pedidos de concessão de sesmarias par a
fins pecuaristas. A maior fazenda de gado da região foi Casalvasco,
fundada pelo governador Luís de Albuquerque de Mello Pereira e
Cárceres. O próprio governador Luiz de Albuquerque reconhecia que
regiões isoladas como o Forte Príncipe da Beira necessita vam de um
abastecimento mais regularizado.
O trabalho pecuarista era realizado tanto por indígenas quanto
por negros e embora fosse reduzido o número de peões necessários à
lida direta com os rebanhos, o número de trabalhadores desviados da
mineração tendia a aumentar, em função da construção de cercas,
currais, edifícios residenciais, formação e manutenção de pastagens e
outras tarefas ligadas ao setor. Assim a pecuária funcionou também
como uma atividade acessória ao processo de ocupação e manutenção
59

das lavras e fronteiras, dando margens ao estabelecimento de enormes


latifúndios. Daí conclui -se que, de expressão limitada às atividades
agropastoris do Vale do Guaporé colonial estiveram sempre
subordinadas aos interesses da mineração. Perpetuava -se assim uma
situação de abastecimento insuficiente e conseqüente dependência de
importações a preços elevadíssimos, o que em última análise importava
num quadro de fome, escassez e subnutrição.

Exercícios.

1. Quais as características da agropecuária no Vale do Gua poré


Colonial?
R.

2. Por que Luís de Albuquerque fundou a grande fazenda de gado de


Casalvasco?
R.

3. Quem realizava os trabalhos agropecuaristas locais?


R.

4. De onde provinha a carne bovina e as bestas de cargas utilizadas no


Vale do Guaporé?
R.
60

5. Caracterizou a agropecuária do Vale do Guaporé no século XVIII:


a) cultivo voltado para a exportação de produtos como café, açúcar e
cacau.
b) exportação de carne salgada para Belém, Santa Cruz e Cuiabá.
c) lavouras de plantation
d) culturas de subsistência, insuficientes para atender o consumo local.
e) utilização inexpressiva do trabalho escravo.

O comércio e as rotas fluviais.

O comércio constituiu -se como principal fonte de abastecimento


para o Vale do Guaporé no período colonial. Internamen te a produção
agrícola de subsistência abastecia a região de gêneros de necessidade
imediata como o milho, a mandioca, o feijão e hortaliças. No entanto os
demais produtos vinham de fora, através de rotas estabelecidas entre
São Paulo-Cuiabá-Vila Bela, Bahia-Vila Boa de Goiás-Cuiabá-Vila Bela
e finalmente Belém do Pará -Vila Bela, através do roteiro fluvial do
Amazonas-Madeira-Mamoré e Guaporé. Entre os produtos trazidos por
terra, através das rotas sertanistas, ou pelos rios, através das rotas
monçoeiras estavam: escravos, tecidos, utensílios domésticos, armas e
munições, gêneros alimentícios como sal, açúcar, vinhos, queijos e
carnes, papel, materiais para construção, objetos para culto e
celebrações religiosas, objetos para mineração e muitos outros.
As rotas monçoeiras.
A característica maior desse comércio foi sempre a
interdependência com a produção de ouro. As rotas comerciais foram
tanto mais ativas quanto maior foi a produção de ouro, e decaíram na
medida em que o ouro se tornou escasso. No entanto um outro fator
determinante para o abastecimento local através do comércio
monçoeiro e sertanista foi a questão da política fronteiriça, que
requisitava a franquia de um roteiro fluvial suficientemente estruturado
para garantir o abastecimento bélico, de gên eros alimentícios,
medicinais e recursos humanos para os trabalhos e defesa local.
Assim, ao se estruturarem os roteiros comerciais do Vale do Guaporé
com o restante da colônia teve -se em mente a importância da
manutenção da produção aurífera como elemento indispensável para
manter o abastecimento local que garantiria por sua vez a guarda
eficiente das fronteiras.
Nos primeiros anos, após a descoberta das minas do Vale do
Guaporé o comércio se realizava sempre pelas rotas que ligavam a
região guaporeana a C uiabá e esta a São Paulo e Rio de Janeiro. A
primeira constatação que se faz neste caso é a precariedade do
61

abastecimento. A falta de gêneros, mesmo os de primeira necessidade


era uma possibilidade muito real. Aos curtos períodos de euforia
correspondentes à chegada de uma monção ou de uma tropa sertanista
sucediam-se longos períodos de crise e desabastecimento, com
catástrofes como a fome e o conseqüente aumento das epidemias. A
inconstância do abastecimento era motivada por fatores diversos como
ataques indígenas, naufrágios, excesso de chuvas, secas, epidemias,
crise na produção aurífera ou mesmo práticas de especulação.
Justificando-se, a partir do elevado custo de todo tipo de gêneros
e dos constantes períodos de desabastecimento, o governador Rolim de
Moura passou a pleitear a abertura da rota fluvial Guaporé -Mamoré-
Madeira e Amazonas, que ligaria Vila Bela da Santíssima Trindade a
Belém do Pará. Ao pretenderem a ligação comercial com o Pará,
através da rota fluvial do Guaporé -Madeira e Amazonas, as aut oridades
coloniais e metropolitanas tinham em mente não só aliviar o auto custo
de manutenção do abastecimento praticado até então através de
Cuiabá, mas sobretudo facilitar o escoamento do ouro por um roteiro
mais seguro, reduzindo as possibilidades de se u contrabando pelas
rotas terrestres para São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Mesmo
enquanto esteve legalmente proibida, a prática clandestina desse
roteiro era de conhecimento e anuência das autoridades coloniais.
A abertura da rota das monções do norte fo i fruto da permanente
insistência das autoridades coloniais do Pará e sobretudo de Mato
Grosso. Assim, pela Provisão de 14 de novembro de 1752, conhecida
em Mato Grosso somente em 1754 ficava permitida e franqueada a
navegação pelos vales do Guaporé, Madei ra e Amazonas,
estabelecendo-se ligação comercial entre Vila Bela e Belém do Pará,
proibindo-se a comunicação entre as duas capitanias por qualquer outro
caminho fluvial que não fosse a rota do Madeira. Esse trajeto até então
interditado por temor de uma e xpansão castelhana por territórios
coloniais portugueses era agora franqueado, entre outros motivos, para
que se inviabilizassem tentativas de contrabando de ouro de Mato
Grosso com a colônia castelhana, bem como suas ações expansionistas
e o comércio clan destino, realizados entre os colonos de Mato Grosso e
as missões da margem esquerda do Guaporé.
A abertura da rota fluvial do Madeira deveria ser consolidada com
a fundação de arraiais ao longo de alguns pontos estratégicos que
garantiriam apoio aos comboi eiros bem como a fiscalização de suas
cargas. As medidas de prevenção ao contrabando e proteção das
fronteiras e rotas fluviais seriam completadas com a criação de
destacamentos militares e fortificações. Baseando -se nestas premissas
surgiram os arraiais de Santo Antônio das Cachoeiras do Rio Madeira,
a partir de uma missão jesuítica, o povoado de Nossa Senhora da Boa
Viagem do Salto Grande, fundado pelo Juiz de Fora Teotônio Gusmão,
na cachoeira que hoje leva o seu nome e o arraial do Balsemão,
localizado na cachoeira do Girau.
O estabelecimento da rota do Madeira levantou protestos por
parte da alfândega do Rio de Janeiro que alegava que sofreria graves
prejuízos sobre os direitos de entrada dos produtos, mercadorias e
escravos para São Paulo e daí para o Mato Grosso. Entretanto, a
62

Capitania do Mato Grosso obteve a permissão régia e passou a ser um


atraente mercado consumidor para os comerciantes de Belém do Pará.
Após ser franqueada a navegação pelo Madeira o governo estabeleceu
permanentemente sua presen ça, incluindo em todos os comboios
embarcações da Coroa.

Exercícios.

1. Quais as características do comércio praticado no Guaporé colonial?


R.

2. Como eram organizadas as rotas comerciais?


R.

3. Que tipo de roteiro foi o mais utilizado?


R.

4. Quando foi liberada a navegação pelo Madeira? Porque?


R.
63

5. Marque verdadeiro ou falso:


( ) A abertura da navegação no rio Madeira foi uma medida tomada pela
Companhia de Comércio do Grão Pará e Maranhão.
( ) Mato Grosso escoava, através do ri o Madeira, toda sua produção
agrícola e de manufaturados.
( ) O contrabando e os ataques castelhanos atemorizavam os dirigentes
portugueses e foram considerados causas para a interdição da
navegação no Vale do Madeira.
( ) A alfândega do Rio de Janeiro pos icionou-se contra a abertura da
rota do Madeira alegando prejuízos sobre os preços dos produtos.

A Companhia de Comércio do Grão -Pará e Maranhão.

A empreitada das monções eram penosas e marcadas sempre por


grandes riscos. Além das enormes distâncias a se rem vencidas os
comboios enfrentavam ainda obstáculos naturais como as 20
cachoeiras do Madeira e Mamoré; ataques de nações indígenas hostis
como os Mura e os Mundurucu, que lutavam contra a invasão de suas
terras pelos navegadores, a escassez de alimentos e a fome. Em terra
os perigos não eram menores: cobras, pragas de insetos, animais
peçonhentos, formigas, onças e plantas de espinhos venenosos. Nos
banhos de asseio corria -se o risco de ataques de piranhas, jaús,
jacarés, piraíbas, candirús, sucuris e ar raias com ferrões venenosos.
Na água, além do perigo das cachoeiras, haviam os gigantescos
troncos de árvores (que deram nome ao rio Madeira), cujo choque com
as embarcações provocava danos, naufrágios e mortes. Por fim,
salientamos ainda o perigo das doen ças tropicais, típicas da região,
como a malária, o tifo, a febre -amarela e a lashimoniose. Além de todos
esses perigos reais o desconhecido povoava de fantasias e seres
fantásticos o imaginário dos viajantes, reforçando superstições, mitos e
crendices, contribuindo para aumentar o grau de tensão das viagens.
Esse conjunto de fatores, tanto reais quanto imaginários
mantinham as tripulações sobressaltadas e inquietas. Levava -se um
ano e meio a dois anos e meio para se realizar uma viagem de ida e
volta entre Vila Bela e Belém do Pará. O trecho encachoeirado requeria
o trabalho de 100 a 120 homens para sirgar as embarcações ou mesmo
arrastá-las por terra, o que provocava estragos nos cascos e
retardamento na viagem, interrompida para consertos e reparos. Na
maior parte das vezes as embarcações deveriam ser esvaziadas e sua
carga levada pelos participantes, por picadas e trilhas nas margens dos
rios. Das vinte cachoeiras, somente umas poucas eram atravessadas a
remo.
As embarcações utilizadas eram chamadas igar ités e tinham
capacidade para o transporte 1000 a 2000 arrobas (15.000 a 30.000
quilogramas) de cargas, além de possuírem velame. Para se defender
dos perigos, eram dotadas de peças de artilharia na popa e na proa.
Rolim de Moura ainda adaptou -lhes bacamartes, foices e chuços de
64

ferro, para protegê -las das abordagens de indígenas, quilombolas,


castelhanos ou salteadores. A despeito de todas essas dificuldades
observadas, o comércio que se estabeleceu entre Vila Bela e Belém do
Pará foi enormemente rentável. No período áureo das lavras mato -
grossenses, entre 1760 e 1780, registravam -se a chegada de duas
monções por ano no vale o Guaporé. Esse comércio foi intensificado
com a criação da Companhia do Grão -Pará e Maranhão, que integrou o
Vale do Guaporé e as min as de Mato Grosso ao mercantilismo colonial.
Criada pelo Alvará Régio de junho 1775, a Companhia de
Comércio do Grão -Pará e Maranhão deveria atender às necessidades
de desenvolvimento geral da parte norte da colônia, através da
atividade comercial e garant ir a sua integridade territorial. A Companhia
promovia mais do que o mero abastecimento, a canalização de toda a
produção de drogas do sertão e principalmente do ouro retirado das
minas do Mato Grosso, pois por ordem da Secretaria de Estado em
Lisboa, toda a produção das lavras seria escoada pela rota do Madeira.
Dessa forma fortalecia -se a presença do Estado Colonial na região
fronteiriça, estimulava -se o colonização e a exploração do ouro através
do abastecimento mais barato e mais regular, efetuado pela companhia
e proporcionavam -se maiores lucros à praça de Belém e à Alfândega
Real.
O abastecimento, embora mais barato e regular do que o
anteriormente feito pelas rotas de São Paulo e Rio de Janeiro, sempre
foi considerado insuficiente, quer pela população , quer pelas
autoridades de Mato Grosso. Esse fato se agravava sobremaneira no
tocante ao abastecimento de mão -de-obra escrava. A demanda
comercial era sustentada, principalmente, pelos mineiros e pelos
governos. Ambos os segmentos não conseguiam assegurar seus
pagamentos, premidos por dívidas provenientes de gastos públicos
imprescindíveis (no caso do governo) ou, no caso dos mineiros,
esmagados pelo alto custo dos escravos, sua baixa produtividade e
rápida invalidez e instabilidade das lavras. Dessa forma , as dívidas
cresciam e rolavam, como mostram os balanços das Companhia do
Grão-Pará e Maranhão. Esse endividamento aumentava a dependência
do comércio monçoeiro e limitava as oportunidades de acúmulos
internos, o que, em última análise, impedia o crescime nto da capitania
e a diversificação das atividades produtivas.
Com a extinção da Companhia do Grão -Pará e Maranhão em
1778, o fornecimento de artigos e escravos sofreu uma brusca e
repentina redução, obrigando os comerciantes a rearticularem seus
roteiros e elevando ainda mais os já elevadíssimos preços praticados.
Nas primeiras décadas do século XIX, a rota comercial do Madeira já se
encontrava em profunda decadência, terminando por extinguir -se em
meados desse mesmo século. O abastecimento cada vez mais p recário
e esporádico passava a ser feito novamente através das rotas do Rio
de Janeiro e São Paulo e por intermédio de Cuiabá.
A questão da decadência da navegação pela rota do Madeira liga -
se primordialmente ao fato da decadência das próprias minas do Mat o
Grosso, principalmente as do Vale do Guaporé, o que provocou um
crescente endividamento da Capitania, junto à Companhia de Comércio
65

do Grão-Pará. A rota do Madeira atendeu, primordialmente, aos


interesses da política do Marquês de Pombal, constituindo -se com as
idéias de solidificação do fisco do ouro e do aparelhamento estratégico -
militar, para a defesa de fronteiras num dos elementos que garantiu à
empresa mercantilista portuguesa a plena exploração das riquezas
produzidas nas capitanias da Amazônia. A decadência da produção
aurífera que gerou uma grande crise econômica e financeira na região e
a mudança das políticas diplomáticas e fronteiriças sob o reinado de D.
Maria I (1734-1816) e D. João VI (1767 -1826) tiveram, portanto, efeitos
decisivos sobre o quadro de crise geral que se instaurava no Vale do
Guaporé e em todo o Mato Grosso o que, combinado com a desativação
da Companhia, terminou por inviabilizar a manutenção da rota
comercial Amazonas-Madeira-Guaporé.

Exercícios.

1. São dificuldades percebidas para a navegação no circuito fluvial


Madeira, Mamoré e Guaporé; exceto:
a) as cachoeiras e as doenças tropicais.
b) o ataque de insetos e de índios.
c) os naufrágios e o choque das embarcações contra troncos no rio
Madeira.
d) a pouca rentabilidade do comércio.
e) os ataques de peixes e animais ferozes.

2. As embarcações utilizadas pela Companhia do Grão -Pará para


navegar pelo Madeira eram:
a) chatas.
b) gaiolas.
c) vapores.
d) pirogas.
e) igarités.

3. Redija um texto explicando o funcionamento da navegação comercial


pelos vales do Madeira e Guaporé no período colonial.
Texto:

4. Qual a importância do comércio fluvial para as regiões do Madeira e


do Guaporé no período colonial?
R:
66

5. A quem beneficiava o comércio fluvial realizado pela rota monçoeira


do norte?
R.

Em resumo.

 A mineração promoveu a colonização do extremo -oeste do Brasil,


gerando conflitos e disputas pela posse das terras do Vale do Guaporé
entre Portugal e Espanha.
 A crise da mineração em Cuiabá levou os irmãos Fernando e Arthur
Paes de Barros a explorar e descobrir a existência de novas jazidas no
Vale do Guaporé na década de 1730.
 Coube ao Estado Colonialista Português a instalação das bases de
um projeto de colonização da região. Em 1748 criou -se a Capitania do
Mato Grosso e Cuiabá. Em 1750 foi assinado o Tratado de Madrid.
 O primeiro governador foi o Capitão -General D. Antônio Rolim de
Moura, que fundou a capital Vila Bela em 1752, o Forte de Nossa
Senhora da Conceição e estimulou a colonização local trazendo
escravos, criando companhias mi litares e fundando núcleos
colonizadores no rio Madeira, como o povoado de Nossa Senhora da
Boa Viagem do Salto Grande do Rio Madeira fundado em 1759 pelo
Juiz-de-Fora Teotônio Gusmão na cachoeira que hoje se chama
Teotônio.
 A agropecuária foi sempre uma a tividade secundária no Vale do
Guaporé. Sua prática esteve subordinada aos interesses da mineração
e da política militar fronteiriça. A maior fazenda de gado da região foi
Casalvasco, fundada pelo governador Luís de Albuquerque de Mello
Pereira e Cárceres. Para os trabalhos agropecuaristas locais utilizava -
se a mesma mão-de-obra escrava das minas e o rendimento baixo da
produção expunha a região a perigos e surtos de fome.
 O comércio foi intensamente praticado e a Capitania importava quase
tudo o que consum ia, desde escravos, até tecidos, utensílios,
alimentos, etc. As rotas comerciais eram estabelecidas através da
navegação fluvial (rotas monçoeiras do sul ou do norte) e por terra
67

(rotas sertanistas) quando se viajava com as mercadorias em lombo de


burro.
 A Companhia de Comércio do Grão -Pará e Maranhão monopolizou as
atividades comerciais entre 1756 e 1777, através da rota monçoeira do
norte (navegando -se pelos rios Madeira, Guaporé e Amazonas).
Transportava gêneros alimentícios, escravos, tecidos, mobiliár io,
objetos de culto religioso, armas, jóias, remédios. Levava o ouro, as
drogas do sertão e objetos obtidos no contrabando com os vizinhos
colonos espanhóis da margem esquerda do Guaporé.
68

Capítulo 4
A sociedade colonial guaporeana, aspectos do cotidian o, a
escravidão e a resistência escrava.

A sociedade colonial no Vale do Guaporé.

A vocação para se tornar abrigo dos indesejáveis e depósito dos


proscritos do sistema se perpetuaria na região a partir do século XVIII
em diante. Tanto os governos colonia is, quanto os governos
monárquicos e mesmo os republicanos tratariam a área guaporeana e o
Vale do Madeira como uma prisão sem paredes nem grades, onde os
desclassificados poderiam, finalmente, servir de alguma utilidade para
o poder. Brancos endividados o u criminosos de outras regiões viriam a
ser, no Vale do Guaporé, a elite dos colonizadores e, excluindo -se os
cargos de primeiro escalão da administração pública e funções
clericais, passariam a ocupar os principais postos e cargos da
sociedade e do poder locais.
Já o conjunto anônimo dos trabalhadores comuns era constituído
predominantemente de indigentes de outras áreas, prevalecendo aí
uma população negra ou mestiça. O governador Rolim de Moura
ressalta, em vários pontos de sua correspondência, o percent ual ínfimo
de brancos que existia na região, evidenciando ainda o percentual
expressivo de negros e mulatos. Destaca, também, a sub -colonização,
a constante necessidade de se fazer adentrar na região um maior
contingente de colonos, as dificuldades imposta s pelo abastecimento
precário e pelo meio hostil e as constantes ameaças castelhanas. Essa
carência de recursos humanos era ampliada pela distância dos demais
centros coloniais e pelas dificuldades de se garantir o abastecimento.
A precariedade da situação exigia das autoridades a utilização de
todos os habitantes da Capitania em ocasiões onde fossem
necessárias a atuação militar.
Acreditava-se em meados do século XVIII que as riquezas das
minas do Vale do Guaporé eram suficientemente abundantes para
garantir sua prosperidade, a da Capitania e de parte das sempre
crescentes necessidades do Estado Português. Essa prosperidade
deveria ser construída a partir do estabelecimento de uma população
fixa, produtora de riquezas e que espelhasse os padrões sociais do s
demais núcleos coloniais, formando uma sociedade de ordens ou
estados alicerçada sobretudo na prática do escravismo.
Em Vila Bela e no Vale do Guaporé as distinções sociais cavavam
verdadeiros abismos entre os seguimentos da sociedade, embora sua
constituição fosse marcada predominantemente por excluídos sociais
(pobres e miseráveis) de diversos pontos da colônia, incluindo -se aí
brancos pobres, endividados ou culpados junto á justiça; forros negros
ou mestiços, indígenas e escravos.
A política desenvolvida pelos governadores, a partir de Rolim de
Moura permitia aos brancos, mamelucos e mestiços de cor mais clara a
reconquista de um status social, que seria impossível de se obter em
69

outras regiões da colônia. a concessão do “privilégio de couto” (ação de


resguardar-se das penalidades judiciais) e o perdão das dívidas junto à
justiça era um instrumento destinado a atrair habitantes para a região,
notadamente entre os setores mais desclassificados da sociedade.
Mesmo assim é interessante observar, que a esc assez absoluta de
brancos para a constituição da elite social da região levou o governo a
aproveitar os poucos brancos e mestiços claros da melhor forma
possível.
Longe de ser apenas uma mera venda de cargos, títulos e
honrarias, a redefinição do status social desses brancos os
transformavam em homens bons, aptos a participar da vida pública do
Vale do Guaporé, e úteis ao sistema que os governava e com novo
prestígio diante da imensa maioria negra ou de mestiçagem escura.
Paralelamente a essa minoria branc a que foi se transformando na elite
social da região, observa -se uma imensa maioria de mestiços, negros e
índios, que integraram os patamares mais baixos da sociedade,
preenchendo as lacunas sociais desde a condição de escravos até a de
pequenos e médios f uncionários públicos (como os membros da
Companhia dos Homens Pardos e a dos Pedestres) ou ainda como
pequenos comerciantes, faiscadores, lavradores e comboieiros.
A sociedade guaporeana formava -se a partir de uma complexa
gama de extratos sociais, tendo ao topo a elite branca encabeçada
pelos governantes e seus auxiliares diretos, além dos ricos
proprietários de lavras, sesmarias e grandes comércios. As camadas
medianas compunham -se de pequenos e médios comerciantes,
proprietários de plantéis reduzidos de escravos e donos de pequenas
lavras. A seguir encontravam -se os homens pobres livres, geralmente
trabalhando como autônomos em regiões de mineração franqueadas a
todos, ou ainda cultivando pequenas roças ou mesmo integrando
expedições sertanistas para bus ca de ouro e índios. Por fim, na base
da pirâmide social encontravam -se os escravos tanto índios quanto
negros.

Exercícios.

1. Como se constituiu a sociedade colonial do Vale do Guaporé?


R.

2. Que política foi adotada pelo governo colonial para atrais habitantes
para a região?
R.
70

3. Como era organizada a pirâmide social do Vale do Guaporé colonial?


R.

Marque a alternativa correta:


4. Não integrou a sociedade colonial guaporeana:
a) o clero católico.
b) uma elite militar branca.
c) os escravos africanos.
d) uma burguesia industrial e mercantil.
e) um grupo de exilados vindos de outras partes da colônia em troca do
perdão de seus crimes

5. Formavam a base da população colonial guaporeana, exceto:


a) escravos e pobres livres.
b) portugueses que administra vam a colônia.
c) índios e caburés escravizados ou livres.
d) comerciantes de Belém e Lisboa, senhores de engenho e de minas
e) militares e missionários religiosos.

Negros, índios. europeus e mestiços: as políticas de ocupação e


defesa do território e as relações de poder e submissão.

O Vale do Guaporé abrigou no período colonial uma sociedade


mercantilista e escravocrata. A maior distinção social assentava -se
sobre a condição livre/escravo, o que caracterizava a posição do
indivíduo perante o ordenamento jurídic o: pessoa ou propriedade,
cabendo a uns o direito à cidadania e a outros não. As distinções entre
senhores e escravos atingiram toda a sociedade, permeando os mais
variados segmentos sociais e atingindo todos os aspectos da vida
comum. Essa dicotomia exter iorizava-se nas relações raciais
negro/branco, adquirindo nuances variáveis, como as próprias
gradações de cor que estabeleciam. As relações de poder e submissão
entre senhores e escravos davam -se diretamente no convívio diário,
71

havendo poucas intervenções do poder colonial na prática cotidiana


dessas relações.
A elite guaporeana formou -se a partir de sertanistas e
aventureiros, que contemplados pela sorte ou obcecados pelo sonho do
ouro e da riqueza aventuraram -se pelos sertões em busca de índios e
jazidas auríferas. Aos que descobriam tais riquezas era passado o
título de guarda-mor das minas descobertas e “ receberia um hábito das
Ordens militares com tença de 50.000 réis.” Vencer indígenas hostis,
aprisioná-los e escravizá -los era uma forma de se adquir ir prestígio,
honras e cargos. Aos descobridores de lavras e faisqueiras reservava -
se ainda a partilha das terras, garantindo -lhes os melhores sítios. A
descoberta das lavras e a tomada de posse das mesmas por uma
reduzida porcentagem de mineiros, através de requerimentos feitos ao
Estado, com base em serviços prestados ao governo local (combate a
indígenas como os Kayapó e Payaguá), relevantes serviços nas lutas
de fronteira, ou à própria Metrópole (informações sobre veios, rotas de
navegação e serviços de espionagem), levaram a formação de algumas
poucas e gigantescas fortunas na região.
As ocupações políticas também davam prestígio e possibilitavam
a ascensão social. Integrar a Câmara do Senado era uma oportunidade
de aproximação dos habitantes locais com as elites portuguesas no
exercício do poder, conferia prestígio e nobreza, aumentando as
chances de bons negócios e de bons conhecimentos. Ser nomeado um
militar de alta patente também era sinal de status, e mesmo pertencer
às irmandades religiosas poderi a conferir prestígio e regalias.
A posse de grandes fortunas implicava em estratégias de
multiplicação de investimentos, diversificação de atividades e posses.
Assim era-se ao mesmo tempo senhor de lavras, comerciante ligado às
rotas monçoeiras, agriculto r e pecuarista, voltado tanto para a
exportação quanto para a subsistência. A instabilidade das lavras
exigia a diversificação das atividades a fim de se garantir o patrimônio.
A grandiosidade e o fausto vivido pelas elites do Vale do Guaporé
são bastante evidentes. As festas eram então marcadas pela grande
suntuosidade proporcionada pelo ouro, que possibilitava às elites suas
ricas vestimentas de seda e o conforto de um mobiliário luxuoso. Todo
esse esplendor foi regulado pela intensidade da produção do o uro, pela
regularidade do comércio monçoeiro com o Pará e pela manutenção da
política de fronteiras. Ao decaírem os pilares de sua sustentação as
elites de Vila Bela e de todo o Vale do Guaporé procuraram os rumos
de Cuiabá que desde os finais do século XV III já suplantava Vila Bela
em riqueza e desenvolvimento.
Quanto às camadas populares onde predominavam mestiços de
todos os tipos prevaleceram os pequenos proprietários que cultivavam
pequenas roças de subsistência, pequenos comerciantes que
revendiam produtos oriundos das monções e que terminaram
constituindo os grupos de mascates, os sertanistas preadores de
índios, os aventureiros e uma infinidade de pobres livres itinerantes que
vagueavam de um arraial para outro ao sabor da produção das lavras.
Esse mesmo segmento de livres pobres era considerado ainda um
estorvo e um prejuízo, pois, situados à margem do processo produtivo,
72

transformavam-se em um problema social e um ônus para o Estado,


que no objetivo de adequá -los à realidade da produção mercantilis ta
recorria e legitimava o uso da força e da coerção..
A grande massa popular anônima era utilizada basicamente para
todo tipo de serviços. Considerada inútil e marginalizada pelo sistema,
a ela coube parte considerável do ônus da conquista, posse,
manutenção e produção da Capitania. Assim Dom Antônio Rolim de
Moura criou em 07 de fevereiro de 1755 uma esquadra de pedestres,
adidos à Companhia de Dragões. Essa esquadra compunha -se do
segmento mais baixo dos homens livres da região. Trabalhadores
especializados integram o reverso do grupo de homens livres pobres.
Em geral tinham uma vida bem mais cômoda do que os demais e
adequavam-se com exatidão às exigências do sistema, sendo
imprescindíveis a qualquer núcleo de colonização e trabalho.
Sendo a população guaporeana um conjunto humano
predominantemente masculino, mestiço ou negro, é natural que a
região tenha sido notavelmente marcada por um elevado índice de
criminalidade e violências de toda ordem, como aliás é típico das
regiões de mineração e de frontei ra. Os desatinos se multiplicavam e
as autoridades, embora se empenhassem em reprimir aquilo que
consideravam como contravenção, jamais conseguiram conter a
impetuosidade dos aventureiros e mineiros do Guaporé. Os crimes das
elites ligam-se à corrupção e e xploração, não havendo registros nas
Correspondências dos Capitães -Generais ou nas Crônicas e Memórias
de crimes comuns. Poucos eram os limites impostos às autoridades; os
acontecimentos de menor relevância, que não envolviam perdas para o
Estado eram esca moteados, ignorados ou perdoados.

Exercícios.

1. Como era formada a elite social guaporeana?


R.

2. Que tipo de atividades econômicas esta elite desenvolveu?


R.
73

3. Como viviam as camadas populares pobres e livres desse período?

4. Marque V ou F.
( ) As camadas populares livres não foram aproveitadas pelo regime
colonial no Guaporé.
( ) Os donos de lavras e mineiros formavam a base da sociedade local.
( ) O trabalho escravo indígena foi muito utilizado no Guaporé colonial.
( ) A comutação das penas e o perdão dos crimes foram instrumentos
utilizados pelo poder colonial para garantir o povoamento do Guaporé
colonial.

5. Assinale a alternativa adequada.


Desenvolveu o povoamento da região guaporeana e criou a esquadra
militar dos pedestres, c onstituída por homens livres muito pobres:
a) Luís de Albuquerque.
b) Rolim de Moura.
c) Pascoal Moreira Cabral.
d) Luís Pinto Souza Coutinho.
e) João Pedro da Câmara.

Doenças e epidemias.

O cotidiano da população guaporeana foi marcado também pela


elevadíssima quantidade de doenças e epidemias. A morte era uma
possibilidade sempre muito real e próxima em toda a região, chamada
por Rolim de Moura de “ O terror da América”. A Malária (malárias),
maculos ou corruções, febres catarrais, pneumonias, diarréias
sanguinolentas, tuberculose, febre amarela, tifo e cólera foram as
grandes causadoras de morte e terror entre os habitantes do Guaporé,
ajudando a consolidar a triste fama da região, de ser uma sepultura a
céu aberto. O pavor provocado pelas doenças era manipulado
politicamente, principalmente durante o século XIX. De Cuiabá os
Capitães-Generais expressavam seu horror à grande incidência de
doenças das minas do Vale do Guaporé.
Embora fossem duramente atingidos pelas doenças regionais, os
brancos por estarem menos expos tos a adversidade ambiental eram
relativamente menos vulneráveis às endemias. As doenças, além do
ônus grave à saúde e à vida, constituíam -se em sérios problemas para
74

a administração colonial. Em uma região tão infectada por males


tropicais como o Vale do Guaporé, o ritmo dos trabalhos e da produção
em geral era seriamente comprometido pelo surgimento e dispersão dos
surtos epidêmicos dentre os quais as malária eram as mais comuns.
Paralelamente a estes surtos epidêmicos “menores” e de
conseqüências menos t rágicas para o conjunto da população, tinha -se
ainda as grandes endemias, que vitimavam a muitos como a de 1758
marcada por violentos cursos de sangue e tosses ou a de 1814, quando
a varíola varreu o Forte Príncipe da Beira, levando o governo a tomar
medidas para evitar o alastramento do mal. Epidemias de bexiga,
sarampo, verminoses flagelavam a população e aumentavam os índices
de mortalidade da região.
A esse conjunto é importante acrescentar a questão das péssimas
condições sanitárias que se tornavam ai nda piores nos picos das
enchentes entre março e abril. As pragas e epidemias completavam -se
com os mosquitos que, em algumas épocas, também tornavam
impossível o trabalho e levavam ao desespero as populações. No
“Diário de navegação pelo rio Madeira”, exp edição comandada por
Francisco Mello Palheta, há referência a uma praga de piuns junto às
cocheiras do Madeira que impedia a realização dos trabalhos.
Os ciclos das doenças e as sucessões epidêmicas mantinham as
populações sob a constante ameaça de treme ndas fatalidades. Pouco
se sabe sobre os modos de combatê -las utilizados pelos mineiros,
militares e autoridades do século XVIII e princípio do século XIX. O
Barão de Melgaço fala da existência de um médico francês na região de
Pedras, em 1751, de nome Jea n Baptiste Andrileu que já atuava na
região há quase 10 anos.
Os tratamentos eram normalmente feitos à base dos
conhecimentos da medicina popular, utilizando -se muito do saber índio
e africano. No entanto, algumas doenças eram tratadas com produtos
da farmacopéia da Europa. Para a sífilis utilizava -se o mercúrio, já para
as malária o remédio empregado desde o século XVIII era o quinino,
extraído da Árvore da Quina, descoberto na Capitania no governo de
Caetano Pinto de Miranda Montenegro em 1798. O maculo era tratado
com um preparado de erva -de-bicho, limão, pólvora pimenta e cachaça.
Para as doenças pulmonares, febres catarrais e pleurisias o remédio
mais utilizado era a aguardente.
Ao romper o século XIX, a região do Guaporé registrava todo tipo
de problemas para sua manutenção. Entre esses problemas a questão
da descolonização e do alto índice de mortalidade figuravam como
muito preocupantes. Buscando reverter o quadro caótico da saúde local
o governador João Carlos D’Oeynhausen Gravenburg mandou criar e m
15 de agosto uma Aula de Anatomia e Cirurgia em Vila Bela, festejando
dessa forma a chegada da Família Real ao Brasil. O projeto de
Oeynhausen, no entanto, não foi adiante.

Exercícios.

1. Que tipos de doenças foram mais comuns na região guaporeana?


R.
75

2. Em seu conjunto o que essas doenças refletem?


R.

3. Quando as doenças se tornaram mais intensas?


R.

4. Como eram realizados os tratamentos?


R.

5. Qual foi a doença mais comum do Guaporé Colonial?


a) maculo.
b) tifo.
c) febre-amarela.
d) malária.
e) pneumonia.
76

Aspectos da escravidão: a organização do trabalho, as ocupações e


a família.

Os trabalhos dos escravos nas grandes sesmarias, lavras e


faisqueiras, era controlado por feitores que intermediavam as relações
entre os senhores e os cativos . Esses feitores eram investidos de
grande autoridade e poder e não raro eram oriundos da própria
escravaria, sendo em grande parte das vezes mulatos, pardos ou
negros. Na figura do feitor de escravos repousou a autoridade e
disciplina do trabalho nas médi as e grandes propriedades. Foi através
dele que se tornou possível ao grande proprietário a manutenção de
sua imagem distante e patriarcal, que pairava acima dos confrontos e
conflitos cotidianos, comuns ao meio e que decidia as grandes
questões de forma e qüidistante.
Entre os pequenos proprietários de escravos inexistiu a figura do
feitor e, na maior parte das vezes, as relações entre o senhor e seus
cativos foram mais próximas, o que permitia uma melhor condição de
vida para os escravos. Isso no entanto n ão impedia que fossem
utilizados os diversos recursos disponíveis para a coerção e imposição
da vontade desses pequenos proprietários sobre seus reduzidos
plantéis.
Relativamente ao trabalho escravo, no Mato Grosso em geral e
especificamente no Vale do Gu aporé, é necessário salientar ainda a
questão dos Pretos Del -Rey, um numeroso plantel de escravos
pertencentes ao Estado Português, adquirido pelos governadores da
Capitania em épocas e situações diversas com o objetivo de tocar
obras públicas e servir aos mais diversos propósitos, incluindo -se
mesmo a atividade militar em momentos de forte tensão fronteiriça,
cultivo de sesmarias, trabalhos nas lavras, pastoreio e criação de gado,
fabricação de pólvora e muitos outros serviços. A escravaria Del -Rey
nunca foi considerada suficiente ou satisfatória, o que sempre obrigou
o Estado a recorrer aos escravos de particulares, que eram alugados
para a realização de diversos trabalhos, como na construção do forte
Príncipe da Beira.
O trabalho escravo era requisitado m esmo para fins militares. Em
1752, o governador Rolim de Moura criou uma Companhia de Homens
Pretos, preparando -se para uma possível guerra contra os vizinhos
castelhanos. Já o Barão de Melgaço ressalta que durante a situação de
guerra entre Portugal e Esp anha em 1763, o Capitão -General Antônio
Rolim de Moura organizou uma tropa com “ o número pouco mais ou
menos de quinhentos homens, sendo a maior parte escravos e entrando
também carijós, muitos de uns e outros sem armas de fogo .”
Constituindo-se o escravo em um bem de grande valor e custo
elevado, em meio a uma economia predominantemente instável, é
notável a sua utilização em guerras, onde poderia morrer, fugir, ferir -se
ou tornar-se um inválido para o trabalho. Além de todos esses fatores,
a participação de escravos em campanhas militares ressalta,
conseqüentemente, o seu afastamento de toda e qualquer atividade
economicamente produtiva, tornando -o um bem ainda mais caro. No
77

entanto a escassez de população, as constantes ameaças estrangeiras


ou de indígenas hostis e a força da política de defesa fronteiriça foram
argumentos suficientemente eficazes para permitir e estimular a
utilização de negros escravos, também nesse ramo de atividades.
Sobre a escravidão no Vale do Guaporé é necessário ainda
abordar os temas da constituição da família escrava, seu lazer e sua
religião no contexto da escravidão colonial entre a segunda metade do
século XVIII e a primeira do século XIX. A família escrava, no Vale do
Guaporé, estruturou -se em seus aspectos mais gerais a part ir do
modelo tradicional da família cristã portuguesa, mas buscando adaptar -
se às circunstâncias e dificuldades locais, onde problemas graves como
a desproporcionalidade do número entre homens e mulheres da região
eram muito evidentes. O desequilíbrio entr e os sexos motivava a busca
de soluções alternativas que amenizassem o problema e permitissem
aos escravos a formação de uniões estáveis, raras e pouco
mencionadas na documentação referente ao século XVIII, no Vale do
Guaporé. Mesmo utilizando -se de mulheres indígenas e mestiças, a
desproporção e o desequilíbrio entre os sexos era tão elevado que a
maior parte da escravaria ficava sem poder contar com a proteção, o
amparo e o socorro que o grupo familial poderia oferecer.
A religião dos escravos do Guaporé , como de todo o restante da
colônia, foi o catolicismo imposto pelo colonizador. Foi através do
próprio cristianismo que a escravidão foi legitimada. Constituindo -se em
uma religião de obrigações formalistas, o catolicismo colonial pregou os
alicerces da ordem senhorial e da dominação escravocrata, onde a
caridade paternalista é ditada pelo signo do temor e onde a aceitação
pacífica do sofrimento e da miséria são traduções da penitência, que
salva e assemelha ao próprio Cristo.
As exterioridades do catolic ismo eram impostas aos escravos, que
no mais das vezes mesclavam -nas com práticas religiosas étnicas
oriundas da África e de culturas ameríndias. O catolicismo imposto aos
escravos uniu-se a um conjunto de práticas ritualísticas e mágico -
divinatórias de origem afro-indígena, que multifacetava a prática da
religião entre os escravos e também entre os segmentos mais baixos da
população livre, predominantemente mestiça ou negra. Essa religião
sincrética organizou -se a partir dos moldes do catolicismo popular,
praticado em toda a colônia e que no Guaporé foi intensamente
marcado pelo culto de São Benedito, o santo preto dos pretos.
Vítimas de abusos de toda sorte, vivendo no Vale do Guaporé, um
verdadeiro inferno, sujeitados a maus tratos, castigos e suplícios,
perseguidos e mortos ou vendidos pelos indígenas aos castelhanos, os
negros do Guaporé buscavam também por formas diversas escapar às
angústias do cativeiro que os atormentava. Suas atitudes em busca de
melhores condições de vida, chegavam à medidas de re beldia que
exigiam extrema coragem e vigor. Os escravos do Vale do Guaporé
construíram assim uma história de lutas e resistência à escravidão, que
deixou marcas na colonização desse rio, perceptíveis até os dias
atuais.

Exercícios.
78

1. Qual o papel dos fe itores na sociedade escravista?


R.

2. O que eram os pretos Del -Rey?


R.

3. Como constituía -se a família escrava no Guaporé?


R.

4. Como era a religião desses escravos?


R.

5. Não se vincula à escravidão guaporeana:


a) escravidão mais int ensa durante o ciclo da borracha no século XIX.
b) negros eram o contigente mais numeroso da população.
c) iniciou-se com a exploração do ouro.
d) quilombos formavam a base da rebeldia escrava.
79

e) fugas constantes, facilitadas pela proximidade com as fronteiras..

A resistência escrava.

No Vale do Guaporé, durante a segunda metade do século XVIII,


foram comuns as fugas de escravos e o seu ajuntamento em quilombos,
alguns dos quais resistiram, por longos períodos, como é o caso do
Quariterê (ou Piolho), que se manteve ativo por quase meia década,
desde sua fundação em 1752, até seu total extermínio em 1795. A
resistência negra ao cativeiro assumiu, em Mato Grosso, o caráter de
atos individuais de violência e inconformismo, da redução do ritmo dos
trabalhos de forma in tencional, aproveitando -se de fatores ambientais e
físicos, como as doenças e pragas naturais e a insubordinação pura e
simples. De qualquer forma, durante o século XVIII, o temor das
insurreições escravas tomou corpo na colônia do Brasil e não passou
despercebido em Mato Grosso, onde embora não se tenham registrado
levantes da escravatura, pairava o medo de que tal fato pudesse vir a
acontecer. Medidas restritivas eram constantemente tomadas,
procurando combater as possibilidades de rebelião, motins ou
simplesmente desordens de escravos.
Além da prática de inúmeros crimes e contravenções, os escravos
do Guaporé buscaram nas fugas a maneira mais imediata e eficaz de se
libertarem do domínio do cativeiro. No Vale do Guaporé, as fugas eram
multiplicadas pela a tração exercida pelas fronteiras. Aproveitando -se
das constantes divergências entre as coroas de Portugal e Espanha e
da inevitável tensão fronteiriça reinante na região, muitos escravos
buscavam a liberdade, fugindo para a vizinha colônia castelhana,
muitas vezes contando com a colaboração clandestina dos próprios
castelhanos, que lhes ofereciam couto e proteção e deles obtinham
informações quanto ao sistema de defesa e guarda das fronteiras e
mesmo os utilizavam para o desenvolvimento de técnicas para cul tivo
da cana-de-açúcar e o algodão. Bandos e Alvarás expedidos pelas
autoridades coloniais puniam com 400 açoites no pelourinho, o escravo
capturado após a fuga ou com a marcação em ferro quente e, em caso
de reincidência, a amputação de uma das orelhas.
A devolução dos negros foragidos para os domínios castelhanos
foi um problema vivido por todas as autoridades coloniais da Capitania
de Mato Grosso que, invariavelmente, se viam às voltas com delicadas
questões diplomáticas que obstaculizavam as remessas d e escravos
mato-grossenses que viviam nos domínios coloniais dos Reis
Católicos. Como mecanismo da resistência, as fugas se completavam
com a formação de quilombos, que se configuravam na face mais
concretamente estudada dos processos de resistência ao ca tiveiro.
Exercícios.

1. Foi o principal quilombo do Vale do Guaporé:


a) Mutuca.
b) Cidade Maravilhosa.
c) Serra da Barriga.
80

d) Piolho.
e) Palmares
f) N.D.A.

2. Quais as formas de resistência adotadas pelos escravos no Vale do


Guaporé?
R.

3. Que tipos de castigos era m aplicados aos fugitivos?


R.

4. Que fatores facilitavam a fuga dos escravos?


R.

5. Não pode ser considerado fato ligado à resistência escrava no Vale


do Guaporé:
a) a fuga de escravos para a colônia espanhola.
b) o suicídio e os crimes contra os senhores.
c) a formação de quilombos.
d) as revoltas armadas de escravos.
e) a negociação com os senhores e os feitores.

A crise do sistema colonial e o abandono dos vales do Madeira e


Guaporé.
81

Ao romper o século XIX, Vila Bela e todo o Vale do Guaporé


mergulharam em um profundo estado de decadência e abandono.
Progressivamente a cidade e a região tornaram -se letárgicas e
incapazes de reagir à intensa crise oriunda de fatores diversos. À
precariedade sem solução de toda a região, os senhores donos de
escravos responderam com sua retirada para áreas mais prósperas, nas
proximidades de Cuiabá. O próprio poder colonial só se manteve no
Vale do Guaporé durante as primeiras décadas do século XIX. Na
realidade os Capitães -Generais passavam muito pouco tempo em Vila
Bela. A região, aos poucos, transformou -se em uma única e última
herança deixada aos negros pelo poder senhorial, que se retirava, em
definitivo, do insalubre Vale do Guaporé.
Por outro lado, as enormes dificuldades ambientais e a presença
constante de socieda des indígenas hostis inviabilizaram as poucas
tentativas feitas pelos capitães generais do Mato Grosso, de
estabelecer bases de colonização, postos militares e fiscais, ao longo
do vale do alto Madeira. A extinção da Companhia de Comércio do
Grão Pará e Maranhão acelerou o processo de decadência dos vales do
Madeira e Guaporé, na medida em que a atividade mercantil voltou -se,
principalmente para as rotas sertanistas do centro -sul da colônia e,
posteriormente, do império. Outro fator importante para a compre ensão
desse processo de decadência está na expulsão da Companhia de
Jesus da região, o que implicou no abandono das atividades
catequéticas e missionárias, que na Amazônia foram, tradicionalmente,
pólos de formação dos centros coloniais. Os vales do Madeir a e do
Guaporé, abandonados pelos jesuítas, ficaram entregues à colonização
de iniciativa dos particulares, dedicados ao decadente extrativismo do
cacau e das drogas do sertão.
O deslocamento das tensões fronteiriças para o vale do Paraguai e a
quebra da atividade mineradora definiram o quadro de desinteresse
pelas regiões do Guaporé e do Madeira, estabelecendo uma contínua
retirada de efetivos e recursos.
A insuficiência de colonos nas regiões de Guaporé e do Madeira
foi constantemente registrada pelas a utoridades governamentais. Essa
situação fica evidenciada na atitude do governador João de
Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, que alforriou os quilombolas
aprisionados pela bandeira de Francisco Pedro de Mello, ordenando -
lhes a fundação da aldeia da C arlota, batizando -os e estabelecendo
com eles a relação de compadrio e doando -lhes sementes, mudas,
ferramentas e animais, que garantissem a consolidação do povoamento
da Carlota
Já em 1825, a região era conhecida por suas ruínas e pelo
abandono do povoamento europeu. Ao longo de todo o século XIX e
durante a maior parte do século XX, o Vale do Guaporé caracterizou -se
como uma região erma, habitada somente por grupos indígenas e
negros. Ocasionalmente o vale foi visitado por expedições científicas e
exploradores que ressaltaram seu abandono e precariedade. Quanto ao
Vale do Madeira o desenvolvimento das atividades extrativistas ligadas
à borracha determinaram um novo período de prosperidade e
colonização.
82

Presidentes da Província do Mato Grosso durante o Im pério.


Posse Nome.
1825 - José Saturnino da Costa Pereira.
1831 - Antônio Corrêa de Costa.
1834 - Antônio Pedro de Alencastro.
1836 - José Antônio Pimenta Bueno.
1838 - Estevão Ribeiro de Rezende.
1840 - José da Silva Guimarães.
1843 - Zeferino Pimentel Moreira Freire.
1844 - Ricardo José Gomes Jardim.
1847 - João Cipriano Soares.
1848 - Joaquim José de Oliveira.
1849 - João José da Costa Pimentel.
1851 - Augusto João Manoel Leverger (Barão de Melgaço).
1858 - Joaquim Raimundo de Lamare.
1859 - Antônio Pedro de Alencastro.
1862 - Herculano Ferreira Pena.
1863 - Alexandre Manuel Albino de Carvalho.
1865 - Augusto João Manoel Leverger (Barão de Melgaço).
1867 - José Vieira Couto de Magalhães.
1869 - Augusto João Manoel Leverger (Barão de Melgaço).
1870 - Francisco Antônio Raposo.
1871 - Francisco José Cardoso Júnior.
1872 - José de Miranda da Silva Reis.
1875 - Hermes Ernesto da Fonseca.
1878 - João José Pedrosa.
1879 - Rufino Enéas Gustavo Galvão (Barão de Maracaju).
1881 - José Maria de Alencastro.
1883 - Manoel de Almeida Gama Lobo D’Eça (Barão de Batovi).
1884 - Floriano Peixoto.
1885 - Joaquim Galdino Pimentel.
1887 - Álvaro Rodovalho Marcondes dos Reis.
1887 - Francisco Rafael de Mello Rego.
1889 - Antônio Heculano de Souza Bandeira.
1889 - Ernesto Augusto da Cunha Matos.

Exercícios.

1. Quais eram as bases da política colonial portuguesa no Guaporé?


R.
83

2. Porque a sociedade guaporeana entrou em decadência?


R.

3. Foi fato que caracterizou a política colonial guaporeana:


a) a expulsão dos jesuítas, que arruinou as missões portuguesas da
região.
b) o reduzido número de escravos africanos.
c) o grande crescimento do povoado do Forte Príncipe da Beira no
século XIX.
d) o fim do comércio fluvial no século XVIII.
e) a perda de território para os espanhóis em 175 9.

4. Contribuiu para a decadência da região guaporeana:


a) o ciclo da mineração.
b) o ciclo da borracha.
c) o ciclo das drogas do sertão.
d) a insalubridade ambiental.
e) a abolição da escravidão.

5. Qual a importância do trabalho escravo para o Vale do Guaporé?


R.
84

Em resumo.

 A sociedade colonial guaporeana constituía -se de uma reduzida elite


branca reaproveitada de outras regiões coloniais do Brasil. A essa
pequena parcela da sociedade foi destinada a posse das minas e lavras
e os altos cargos públicos da ad ministração colonial. Eram padres,
funcionários públicos, militares e comerciantes. Possuíam grandes
propriedades rurais e escravos.
 Os mestiços eram aproveitados pelo sistema colonial local de acordo
com a cor da pele. Quanto mais claros, melhor a sua sit uação social.
Foram soldados, pequenos comerciantes e proprietários de terras e
escravos, além de funcionários de baixo escalão.
 Os índios sofreram violentos massacres promovidos por aventureiros
e exploradores, mas sua utilização como escravos no Vale do Guaporé
foi sempre muito reduzida. O Estado Português e a Igreja Católica
fundaram diversas missões jesuítas para sua catequese e
aproveitamento econômico nos vales do Guaporé e Madeira.
 A preocupação com a guarda militar das fronteiras foi sempre um
ponto vital da política colonial portuguesa na região. Sempre foi
mantido um importante contigente militar na área fronteiriça para
prevenir invasões dos espanhóis ou tentativa de conquista de novos
territórios. O Forte Príncipe da Beira, construído entre 1776 e 1783, foi
o principal marco dessa política militar. Sua construção ocorreu no
governo de Luís de Albuquerque de Mello Pereira e Cárceres.
 As doenças tropicais (malária, febre tifo, febre amarela. Pneumonias,
maculo, etc.) foram o terrores da região e era m responsáveis por
numerosas baixas entre trabalhadores, autoridades, militares e
escravos. Vez por outra o Vale do Guaporé foi assolado por grandes
epidemias de varíola, tifo, sarampo, etc. A falta de uma infra -estrutura
sanitária mínima, de remédios e de boa alimentação e higiene foram as
causadoras desses graves problemas.
 A escravidão africana impulsionou a economia regional, a
colonização e o estabelecimento dos portugueses na região. Os negros
eram utilizados em todos os tipos de trabalho. A resistênc ia à
escravidão foi mais expressiva na formação dos quilombos do Guaporé,
dos quais o mais notável foi o do Quariterê ou Piolho, governado pela
rainha Tereza de Benguela.
 A repressão aos quilombos foi realizada por grupos militares em 1770
e 1795. Os preso s sofreram penas de suplício e exposição pública e
posteriormente foram utilizados na política de povoamento portuguesa
da terra, fundando a aldeia da Carlota.
 A crise da mineração, o deslocamento dos focos de tensão fronteiriça
militar do Vale do Guaporé para o Vale do Paraguai e a má fama de
insalubridade das regiões do Guaporé e do Madeira determinaram sua
decadência e abandono no início do século XIX, Somente os negros
permaneceram no Vale do Guaporé e garantiram a posse territorial
fixada no século an terior.
85

Capítulo 5
As pressões internacionais sobre a Amazônia brasileira.

O imperialismo: as propostas de internacionalização da Amazônia e


o etnocentrismo dos viajantes.

A expansão do capitalismo industrial e financeiro mundial, a partir


do século XIX, levou a uma crescente adoção das práticas e políticas
imperialistas que, promovidas pelas grandes potências da Europa, o
Japão e os USA, tiveram como alvo os territórios da África, Ásia,
Oceania e América Latina. Em meados do século passado, os avanços
na tecnologia, nos transportes e nos meios de produção, ocasionaram o
surgimento de gigantescas corporações que resultaram da fusão entre
o capital financeiro e o capital industrial. O avanço desse processo de
concentração de capitais culminou com a criaç ão de trustes, cartéis e,
mais tarde, para fugir às legislações antitruste, holdings. Essas
corporações visavam à obtenção de contratos privilegiados, quanto ao
monopólio de determinados mercados, contando, para esse intento,
com a colaboração da diplomaci a e, freqüentemente, quando esta
falhava, do exército de seus países, além da prática do dumping para
eliminar os concorrentes.
Os investimentos do capital monopolista na Amazônia resultaram
no controle de importantes concessões de serviços públicos, como
portos e navegação, além da exclusividade nas operações de
exportação da matéria -prima, o que dava às casas exportadoras uma
ampla margem de controle dos preços da goma elástica. É interessante
observar os aspectos político e militar desse processo, na me dida em
que forjaram determinada mentalidade que, de forma bem precisa,
migrou para a Amazônia, juntamente com capitais e técnicos
estrangeiros. Essa mentalidade desenvolveu -se a partir da forma mais
extremada do imperialismo, efetivada na África e no Orie nte,
particularmente na China. Ao final do século XIX, uma série de
doutrinas expansionista e seus corolários desenvolveram a noção de
um certo “Destino Manifesto”, a ser realizado pelos Estados Unidos.
Basicamente, a doutrina do destino manifesto parte da idéia de que
certos países possuiriam atributos, raciais, geopolíticos e/ou
econômicos, que os tornariam superiores aos demais. Esses atributos
justificariam seu domínio sobre os países “inferiores”, com o objetivo de
expansão e defesa. Por outro lado os países dominados ou sob a
esfera de influência dessas potências, têm a lucrar, com o
desenvolvimento econômico e social trazidos com o domínio
estrangeiro.
As pretensões de estrangeiros, não somente sobre a navegação,
mas também sobre o destino e a explor ação do vale do Amazonas
criaram, ao longo de todo o século XIX, sérias desconfianças por parte
do Governo Imperial. Chegando mesmo D. Pedro II (1825 -1891) a
registrar, em seu diário pessoal de 1862, receio em relação às
pretensões dos E.U.A sobre o Amazon as. As desconfianças do governo
86

imperial foram herdadas pelo governo republicano e são de


fundamental importância para a compreensão da Questão Acreana.
Uma série de viajantes estrangeiros que correram o vale, desde o
período colonial, descreveram de forma apaixonada e idealizada as
potencialidades da terra. No século XIX podemos citar: W illiam H.
Edwards (1822-1909), um naturalista norte -americano que desembarcou
na Amazônia em 1846 e o naturalista inglês Richard Spruce (1817 -
1893), que desembarcou no Bras il em 1849 e permaneceu na Amazônia
até 1864. De uma maneira geral, as conclusões são as mesmas: a terra
era naturalmente dadivosa, porém pobre e despovoada, apenas em
razão da indolência de seus povoadores. A solução então seria
entregar aquela terra ao g ênio operoso do europeu ou do anglo -saxão
para transformá-la em um paraíso de fartura e prosperidade.
Havia também aqueles que viam de maneira negativa, tanto os
dotes naturais da terra, como os de sua população, estabelecendo
comparações pouco lisonjeiras entre a natureza Européia e a
Americana. Esse era o caso do Conde Joseph -Arthur de Gobineu (1816 -
1882), embaixador da França no Brasil entre abril de 1869 e maio de
1870, que se julgou também habilitado a emitir opiniões sobre a terra, a
cultura, a nature za e o homem tropical. O conde, autor de um trabalho
intitulado “Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas” (1853 -
1855), descreveu nesse trabalho a natureza do país: cheio de insetos e
seres rastejantes, constituído por um povo de malandros e ociosos,
composto de mestiços de todo o tipo, no qual era impossível ver a
pureza do sangue europeu. Exceto a família real, evidentemente, eram
os brasileiros a ralé do gênero humano.

Exercícios.

1. Que regiões foram os grandes alvos do imperialismo euro -americano


na 2ª metade do século XIX? O que de pretendia?
R.

2. Que tipos de “visões” os exploradores emitiram sobre a América


tropical entre os séculos XVII e XVIII?
R.
87

3. Que doutrinas imperialistas orientaram o governo norte -americano


em suas relações com a América Latina?
R.

4. A teoria sobre a inferioridade dos povos das zonas tropicais de


Gobineau baseia -se na idéia de que o clima e a natureza prejudicam a
espécie humana. Que conseqüência essas idéias tiveram no século
XX?
R.

5. O que defenderam os norte -americanos interessados em explorar as


riquezas da Amazônia Boliviana em 1853?
R.

A navegação no Madeira e a abertura do Amazonas à navegação


internacional.

Durante praticamente todo o século XIX a navegação, pelo trecho


encachoeirado do rio, foi realizada por bolivianos, tanto para a
exportação e importação dos gêneros necessários à indústria
extrativista, quanto para o escoamento de produtos agrícolas e
88

pecuários provenientes do Beni. A quina ou cascarilha, provi nha da


província de Caupolican, de onde o produto era transportado até Reyes
e Yacuma, e daí até o rio Mamoré, seguindo para o Madeira. Apesar de
a Bolívia exportar a maior parte de sua produção pelo oceano Pacífico,
a via do Madeira era de fundamental imp ortância para o comércio do
noroeste boliviano, pois o Atlântico estava mais próximo dela. Até o
último quartel do século XIX o porto mais próximo do Madeira, onde se
encontrava linha regular de vapor, era o de Serpa (Itacoatiara), na foz
desse rio, para o nde os produtos das regiões do Beni e do alto Madeira
eram transportados, em embarcações movidas a remo. Descia pelo
Madeira, em direção a Itacoatiara, a produção extrativa e agropecuária
do Beni, embarcada em batelões, que depois retornavam com produtos
industrializados, vergalhões, ferramentas, armas e munições, bebidas,
atavios.
Em 1864, desceram por esse rio, provenientes do Beni, 70 canoas
com produtos (cacau, charutos, charque, couros, graxa e gado em pé)
que se destinavam à exportação pelo porto de B elém e ao consumo
interno da Amazônia brasileira. No ano seguinte o número de canoas
subiu para 98. Dessa forma, era interesse dos habitantes do noroeste
boliviano o estabelecimento de linhas de navegação à vapor pelo
Madeira, e uma solução, estrada ou can al, que resolvesse o problema
da travessia do trecho encachoeirado desse rio, que beneficiaria, além
do Beni, a ampla região de Santa Cruz e Cochabamba. À província do
Amazonas interessava estimular esse comércio por razões fiscais. A
questão da livre nave gação no rio Amazonas e seus afluentes, assim
como a resolução do problema do trânsito entre o alto Madeira e o
Mamoré era o centro das preocupações dos empresários ligados à
indústria extrativa, de políticos e do governo imperial. Em face da
descapitalização da economia regional, a proposta mais
freqüentemente feita era a de atrair o capital estrangeiro para o setor
dos transportes.
A partir do início da segunda metade do século XIX, o governo
norte-americano manifestou interesse em abrir a Amazônia aos ca pitais
daquele país, particularmente no setor da navegação fluvial, cuja
exploração por navios de bandeira estrangeira era proibida pelo
governo imperial. Em 1849, o representante norte -americano no Brasil
apresentou ao governo imperial um projeto de abert ura do rio
Amazonas à navegação internacional, recusado pelo governo em nota
de 22 de abril de 1851. As primeiras investidas das companhias de
navegação, para revogar essa proibição, também foram mal sucedidas.
Assim, o governo imperial recusou autorização para que a Amazon
Steam Navigation Co. Ltd. operasse no vale Amazônico, fato que
resultou em imediata reação da parte contrariada. Alegou o governo
dos Estados Unidos que a posição brasileira era representativa da
política de isolamento, semelhante à chin esa, sendo contrária aos
interesses da humanidade, na medida em que a abertura da Amazônia
ao capital estrangeiro viria trazer a civilização, sem nenhum perigo para
a soberania nacional.
O governo brasileiro pensava exatamente o contrário, ou seja,
que se repetisse no Brasil o que ocorreu na China, ao final da Guerra
89

do Ópio. Reforçava o temor do governo imperial o fato de que, nos


Estados Unidos, um oficial da marinha norte -americana, Matthew
Fontaine Maury (1806 -1873), movia intensa campanha através de
artigos publicados em jornais, sob o pseudônimo de Inca, e mesmo em
um memorial (The Amazon and the Atlantic slopes - O Amazonas e a
rota do Atlântico) em 1853 endereçado ao seu governo, sustentando
que as riquezas naturais da Amazônia mereciam ser explorada s pela
civilização, através da conquista científica, econômica e política. A
recusa do governo imperial às pretensões da Amazon Steam Navigation
Co. Ltd., deu motivo para a campanha de Maury crescer em
intensidade, do que resultou em denúncia secreta envia da pelo
representante brasileiro em W ashington, Teixeira de Melo, ao ministro
das relações exteriores daquele país, considerando o fato uma ameaça
à soberania brasileira.
A política, baseada no temor de uma agressão á integridade
territorial nacional, levada adiante pela chancelaria brasileira fazia
sentido. Eram os norte -americanos com suas doutrinas Monroe e do
Destino Manifesto que se sentiam os mais autorizados a interferirem na
soberania dos países do continente americano, repelindo quaisquer
pretensões européias.
Em 1851, os Tenentes W illiam Lewis Herndon (1813 - 1857) e
Lardner Gibbon, da marinha norte -americana, viajaram pelo rio
Amazonas entre 1851 e 1852 para investigar as possibilidades de
utilizar a região para transmigrar a escravidão de seu paí s para a
Amazônia. Em um ano de expedição, pouco se conseguiu coletar em
termos de informações sobre o potencial agrícola e a transmigração em
massa de fazendeiros do sul dos E.U.A, e seus escravos, para o vale,
contudo o relato da viagem (Exploration of t he Valey of the Amazon -
Exploração do vale do Amazonas) despertou interesse suficiente para a
realização de outras expedições ao Amazonas.
Um novo complicador veio à adicionar -se a situação quando, em
27 de janeiro de 1853, o presidente boliviano Manuel Isidoro Belzu
(1808-1865) negociou com os norte -americanos o translado dos negros
recém libertos para o norte amazônico e abriu os rios do noroeste
boliviano à navegação internacional oferecendo, a título de estímulo,
concessões de terras, a quem quisesse explorar àquela região. Em 15
de abril daquele mesmo ano o governo peruano permite a navegação de
navios estrangeiros em seus rios. O resultado da negociação estimulou
tentativas mais agressivas sob a forma de expedições. Naquele mesmo
ano anunciava-se, em Nova Iorque, uma nova expedição de exploração
do rio Amazonas, comandada por um certo Tenente Porter. De forma
bastante agressiva os expedicionários alegavam que o controle desse
rio pelo Brasil, não lhe dava o direito de impedir a livre navegação dos
navios dos países vizinhos em direção ao oceano Atlântico.
Em notícia publicada no New York Times, de 4 de agosto de 1853,
os expedicionários expuseram seus pontos de vista: foram convidados
por nações, cujos afluentes desembocavam no rio Amazonas, a subirem
aquele rio e comerciar com esses países. Pretendiam defender o direito
das nações vizinhas ao Brasil à livre navegação do Amazonas.
Afirmavam o ponto de vista que, caso o Brasil tentasse impedir o
90

intento da expedição, esta teria o direito de reagir, bem c omo de ser


protegida pelos E.U.A. O acento ameaçador dessas declarações e a
publicidade dada ao assunto, fizeram com que o Departamento de
Estado norte-americano se manifestasse, desautorizando os porta
vozes da expedição.
A resposta foi clara: o Brasil nã o permitiria a livre navegação no
vale do Amazonas, porque temia o expansionismo norte -americano, a
recente questão da propriedade do território do istmo do Panamá, por
onde passava uma ferrovia norte -americana, deixava clara sua intenção
de apropriar-se daquele território, temendo o governo brasileiro uma
ação de igual teor no Amazonas.
Como medida preventiva, e firmando uma posição sobre o
assunto, o governo brasileiro decretou a monopolização da navegação
no Amazonas. Em 1852, tendo aceitado uma oferta d e subsídio
financeiro de 160 contos de réis e o monopólio, com duração de 30
anos, da exploração da navegação no rio Amazonas feita pelo governo,
Irineu Evangelista de Souza, Visconde e Barão de Mauá (1813 -1889)
fundou a Companhia de Navegação e Comércio d o Amazonas, com
parte do capital investido pelo próprio Barão e o restante obtido através
de subscrição das ações pelos comerciantes de Belém e Manaus. O
primeiro vapor ligou Belém a Manaus naquele mesmo ano. Foi esse o
meio encontrado pelo governo para re agir às pressões estrangeiras e
proteger sua soberania territorial.

Exercícios.

1. Viajou pelo Vale do Amazonas entre 1851 e 1852 investigando as


possibilidades de trazer para a Amazônia os negros escravos dos
E.U.A:
a) Tenente Lardner Gibbon.
b) Louis Agassis.
c) Richard Spruce.
d) Matthew Fontaine Maury.
e) Thayer.

2. Qual o projeto do norte -americano Matthew Fontaine Maury para a


Amazônia?
R.

3. Companhia fundada por Mauá em 1852 para monopolizar a


navegação a vapor pelo rio Amazonas:
a) Amazon Steam Navigatio n.
91

b) Companhia de Comércio e Navegação do Amazonas.


c) Companhia de navegação fluvial do Pará.
d) Amazon Company Navigation.
e) Companhia de navegação do Alto Amazonas.

4. Qual a importância do rio Madeira para a Bolívia no século XIX?


R.

5. Como eram feito s os transportes de carga pelo rio Madeira?


R.

Limites e fronteiras: o Tratado de Ayacucho (1867)

Até os anos 60 do século passado, a se tomar como base os


limites estabelecidos pelos tratados de Madri e de Santo Ildefonso, a
fronteira do Brasil com a Bolívia, correria do ponto médio do rio
Madeira, próximo onde hoje é cidade de Humaitá, até a nascente do rio
Javarí. Descendo o rio Madeira, até Humaitá, todo o lado esquerdo
pertenceria à Bolívia, o que incluiria parte do Amazonas e todo o atual
Estado do Acre. Contudo dois fatores devem ser lembrados:
primeiramente que, por essa época, ainda não havia sido descoberta a
nascente do Javarí, não se sabendo precisamente, onde devia situar -se
a linha de fronteira; em segundo lugar era uma região pratica mente
despovoada por cidadãos de ambos os países. Essa situação iniciou a
mudar com o aumento do interesse internacional pelo látex a partir de
meados do século XIX.
Com a Bolívia, assim como os demais países latino -americanos, o
Brasil sempre encontrou d ificuldade em estabelecer tratados de limites,
em função da instabilidade política que esses países atravessavam.
Quarteladas e Golpes de Estado faziam com que esses governos
mudassem, constantemente, sua orientação, quanto a política externa,
pondo a perder o trabalho de longas negociações, até que, em 1867 foi
assinado o Tratado de Amizade, Limites, Navegação, Comércio e
92

Extradição entre Bolívia e Brasil. Conhecido também como Tratado de


Ayacucho, e como Tratado Muñoz -Netto, sobrenome dos ministros
representantes dos países signatários do tratado: Mariano Donato
Muñoz, Ministro das Relações Exteriores da Bolívia e Felipe Lopez
Netto, Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário do Brasil, fez
recuar a fronteira em benefício do Brasil.
O presidente, à época do Tratado de Ayacucho, General Mariano
Melgarejo (1818-1871), chegou ao poder após destituir seu antecessor
durante o desenrolar da campanha eleitoral. Seu período de governo foi
caracterizado por grande prosperidade, em conseqüência da descoberta
de novas jazidas de prata, de guano e salitre. O potencial desses
recursos naturais atraiu o capital estrangeiro, ao qual Melgarejo, para
resolver rapidamente o problema do crescente endividamento do
Estado, fez exorbitantes concessões. A elite da prata, concentrada no
Potosí, aceitava todas as concessões de Melgarejo, desde que o
Altiplano ficasse reservado às suas próprias inversões. A região do alto
Madeira, apesar de ser naquela época povoada predominantemente por
bolivianos, que se dedicavam à explora ção da goma elástica, passou,
por força do tratado de 1867, a pertencer ao Brasil. É compreensível,
contudo, a facilidade com que foi firmado o tratado de 1867: nem o
governo boliviano, nem a elite política e econômica que o apoiava,
tinham interesses no noroeste do país, a região que hoje compreende
os departamentos de Pando e Beni.
A Bolívia perdeu algo mais importante que o território, perdeu um
porto fluvial que, após as cachoeiras, pela via Madeira -Amazonas
chegasse sem obstáculos ao Atlântico, isto porque renunciou de
participar da margem esquerda do rio Madeira, de condomínio entre os
dois países, das suas nascentes até o seu ponto médio, quando
permitiu que a linha de fronteira passasse a situar -se em Villa Bella.
Por paradoxal que possa parecer, a navegação do Madeira continuava
importante para o comércio com o noroeste boliviano, conforme revelam
os termos do tratado. De 30 artigos que contém o documento: 1 declara
paz entre as partes contratantes, apenas 5 tratam de limites, 8 versam
sobre extradição e a maior parte, 16 artigos, sobre comércio e
navegação.
Da mesma maneira evidenciam esses dezesseis artigos os
temores e cuidados do governo imperial com relação à liberdade de
navegação. No 6 o . e 7 o . artigos declara reciprocamente livre o comércio
e a navegação mercante, com isenção de impostos, nos rios que,
passando pela nova fronteira, vão desembocar no Oceano Atlântico,
ressalvando porém que o privilégio é apenas para navios de bandeira
brasileira ou boliviana. O artigo 8 o . revela precauções, e m caso de o
Brasil conceder a abertura da navegação do Madeira aos navios de
bandeira estrangeira. Prevê o referido que, se houvesse tal concessão,
continuaria o monopólio da navegação, previsto nos artigos anteriores,
de Santo Antônio para cima, ou seja, desse ponto em direção à
fronteira toda a mercadoria, mesmo estrangeira, deveria ser
transportada por súditos e embarcações de um dos dois países. A
ressalva pode ser entendida como uma forma de, futuramente, impedir
o comércio direto da Bolívia com embarc ações estrangeiras, pela via
93

Madeira/Amazonas, tal como vinha pretendendo desde 1853 (Belzu),


derrubando a proibição brasileira à navegação internacional naqueles
rios.
Esse último artigo era de fato meramente preventivo. O trecho de
Santo Antônio para ci ma é todo encachoeirado, sendo impossível nele o
trânsito de navios. O comércio por essa parte era todo feito por canoas
e batelões. É inteligível, contudo, porque já havia, na época, estudos
para solucionar a dificuldade de trânsito através do trecho
encachoeirado. Dentre esses estudos, um que previa a construção de
um canal que tornasse possível a navegação de navios de grande
calado. As franquias comerciais e fiscais, estabelecidas nos artigos 7 o .
e 8 o ., em favor da Bolívia, somente valeriam, para toda e xtensão do rio
Madeira, às embarcações de bandeira boliviana. No caso de prevalecer
a opção pelo canal, as mesmas franquias valeriam, para os navios
estrangeiros mesmo que transportando mercadorias bolivianas,
somente no trecho do rio Madeira que vai de su a foz até Santo Antônio,
não valendo, daquele trecho em diante.

Exercícios.

1. Tomando por base os tratados de Madrid e de Santo Ildefonso as


fronteiras entre Brasil e Bolívia, nas áreas do atual estado de Rondônia
situariam em quais pontos?
R.

2. Que problemas justificavam a indefinição das fronteiras amazônicas


no século XIX?
R.

3. Que tipos de populações predominavam no alto Madeira até a 2ª


metade do século XIX?
R.
94

4. O que foi o Tratado de Ayacucho?


R.

5. Assinaram o tra tado de Ayacucho em 1867:


a) Barão do Rio Branco e Melgarejo.
b) D. Pedro II e Melgarejo.
c) Donato Munhoz e Felipe Lopez Neto.
d) D. Pedro II e Belzu.
e) Belzu e Herndon.

A abertura do Amazonas à navegação estrangeira.

A questão da navegação internacional, no rio Amaz onas e seus


afluentes, não cessou depois da criação das companhias de navegação
nacionais. Vários segmentos, nacionais aliavam -se ao interesse do
capital internacional no sentido de obter a liberação do governo
brasileiro. Havia, mesmo no congresso naciona l, uma bancada de
deputados adeptos e defensores ardorosos do livre cambismo que se
opunham ao monopólio dado pelo estado à companhia de navegação de
Mauá. Cedendo às pressões dos livre -cambistas, foi revogado no ano
seguinte o monopólio concedido a Mauá, ocasionando, nos anos de
1860, o surgimento de mais duas companhias de navegação, formadas
por capitais nacionais: a Companhia Fluvial Paraense e a Companhia
Fluvial do Alto Amazonas.
Ao mesmo tempo, a luta continuava sendo travada, também, ao
nível da ideologia e da propaganda. Em 1865 foi a vez da expedição
Thayer, chefiada por um renomado naturalista suíço, Louis Agassiz
(1807-1873) e endossada pelo governo dos E.U.ª Uma participante do
evento Elizabeth Cary Agassiz (1822 -1907), esposa do Sr. Agassiz,
defendeu que, para melhor proveito dos recursos da Amazônia, seria
necessária sua internacionalização, para que a explorasse uma
população mais operosa que os amazônidas.
Em 1872 foi, finalmente, aberto o Amazonas à navegação
internacional. Em 1874 a Amazon Steam Navigation Company comprou
95

as três empresas de navegação que operavam na bacia Amazônica,


monopolizando o transporte fluvial na região, inclusive até Santo
Antônio, esse último percurso subsidiado pelo governo provincial.
Curiosamente, ao contrário do que ocorreu em 1852 com a companhia
de navegação de Mauá, o subsídio estatal e o monopólio de fato da
Amazon Steam Navigation Company sobre a navegação no Amazonas
não causou protestos dos livres -cambistas. Em 1875 o Madeira já era
navegado, irregularm ente, por vapores particulares de diversos
calados, em busca da goma elástica. Vinte anos depois, um número
considerável de navios particulares e fretados, respondiam à demanda
de transporte até Santo Antônio. O aumento da navegação de
embarcações, movidas à vapor, no Madeira, justifica -se em função do
crescimento da importância da produção do látex na Amazônia
Ocidental. O porto de Manaus, que durante a maior parte do século
XIX, havia mantido uma posição secundária na atividade exportadora,
em relação ao porto de Belém, cresceu em importância, superando -o no
volume de exportações. Dado o volume de produção e o valor da
borracha produzida no Madeira, o interesse pela exploração na
navegação daquele rio continuou. Ainda em 1907 continuava a Amazon
Steam Navigation Co. provendo o transporte na região. A sexta linha
fazia o percurso de Belém a Santo Antônio, com parada nas localidades
mais importantes do Madeira.

Exercícios.

1. O que é o livre cambismo?


R.

2. Quais as companhias de navegação fluvial que passaram a concorrer


com Mauá nos serviços de navegação a vapor no Amazonas?
R.

3. Quais os efeitos da abertura da navegação do Amazonas aos navios


estrangeiros?
96

R.

4. Qual era a situação da navegação pelo rio Madeira no início do


século XX?
R.

5. Defendeu a internacionalização da Amazônia:


a) Oswaldo Cruz.
b) Visconde do Rio Branco.
c) D. Pedro II.
d) Barão de Mauá.
e) Elizabeth Agassiz.

Em resumo.

 As necessidades de novos mercados produtores de matérias -primas,


produtos tropicais e combu stíveis levaram os E.U.A., a Europa e o
Japão a adoção de políticas imperialistas que foram responsáveis pelo
neocolonialismo na África, Ásia. Oceania e parte da América Latina.
 Progressivamente consolidou -se uma relação de desigualdade e de
dependência econômica, onde as regiões tropicais eram sempre
submetidas aos interesses capitalistas das grandes potências.
 Na Amazônia o imperialismo foi praticado principalmente por ingleses
e norte-americanos que controlaram setores importantes e estratégicos
da economia como a comercialização do látex e a navegação fluvial.
 Viajantes e exploradores estrangeiros que percorreram as vastidões
amazônicas manifestaram seu interesse pela internacionalização da
região e a sua exploração controlada por europeus e norte -americanos.
Dentre esses viajantes citam -se W illiam H. Edwards, Richard Spruce,
Louis Agassis, Henry Bates, W allace e outros.
 A produção econômica do noroeste boliviano (quinino, charutos,
cacau, borracha, charque e gado) era remetida para os portos do
Atlântico através da rota fluvial do Madeira. Navegava -se pelo Beni,
Mamoré, Madeira e Amazonas. Algumas localidades bolivianas e
97

brasileiras tornaram -se importantes portos de embarque e desembarque


dos produtos que saiam ou eram levados para a Bolívia. Dentre essa s
localidades destacaram -se Itacoatiara, Borba, Santo Antônio, São João
do Crato, Guayaramerín, Cachuela Esperanza e Villa Bella.
 A política de países como a Bolívia e os E.U.A. levaram o governo
imperial de D. Pedro II a entregar, em 1852, o monopólio da
navegação a vapor pela Amazônia ao Visconde de Mauá, Irineu
Evangelista de Souza, que fundou a Companhia de Navegação e
Comércio do Amazonas.
 Em 1867 Brasil e Bolívia assinaram o Tratado de Ayacucho versando
sobre amizade, comércio, limites, fronteiras, e xtradição e navegação.
Por este tratado, a região do alto Madeira, que era habitada
primordialmente por bolivianos, passou a pertencer ao Brasil.
 A bancada parlamentar livre -cambista do 2° Reinado passou a
defender a internacionalização da navegação pelo r ios da Amazônia,
aliando-se aos interesses do capital internacional. O monopólio
concedido por D. Pedro II a Mauá foi revogado em 1854 e em 1860 já
existiram outras duas companhias de navegação operando na região: a
Companhia Fluvial Paraense e a Fluvial d o Alto Amazonas.
 Em 1867 a navegação fluvial foi internacionalizada e parte dos rios
da Amazônia passaram a ser navegados por navios de bandeira
estrangeira. Em 1874 a companhia norte -americana Amazon Steam
Navigation monopolizava o transporte fluvial ama zônico e seus vapores
chegavam até Santo Antônio do Rio Madeira onde eram embarcadas as
cargas provenientes do noroeste boliviano, do Guaporé e do Mamoré
brasileiros.
98

Capítulo 6
A exploração e colonização do oeste amazônico.

O primeiro ciclo da borrach a.

Desde os primeiros contatos com os nativos da Amazônia, os


europeus tomaram conhecimento do proveito do látex através dos
indígenas Omágua, que o utilizavam para a fabricação de vários
artefatos, mesmo antes do descobrimento da América. Mas até o
princípio do século XIX, esse produto era utilizado em pequena escala
na Europa, basicamente como borracha de apagar (rubber em inglês) e
ainda, sob forma de outros utensílios como: bombas de sucção, bolas e
botas, esses últimos exportados sob a forma de manuf aturados que
eram produzidos em Belém no início daquele século.
Até a metade do século XIX, a exploração desse produto estava
concentrada nas proximidades de Belém e nas ilhas da foz do rio
Amazonas, particularmente na ilha de Marajó. Apesar de ser extraíd a
em toda a Amazônia nesse período, a produção da borracha revestia -se
de pouca importância no conjunto da economia local. Duas
características naturais do produto constituíam -se em entraves para o
aumento de sua demanda em escala industrial: a pouca resis tência ao
calor, que tornava os manufaturados de borracha moles e pegajosos, e
o excessivo enrijecimento, quando exposta a baixa temperatura. A
descoberta do processo de vulcanização da borracha feita por Charles
Goodyear (1800-1860) em 1839, e o advento d o automóvel e da
bicicleta, que têm pneumáticos de borracha entre seus componentes, a
demanda de látex, pelos centros industriais europeus e norte -
americanos, cresceu enormemente.
Assim, algumas pré -condições naturais e históricas tornavam o
vale do Amazonas um fornecedor privilegiado da goma elástica tais
como: abundância natural das árvores, qualidade e produtividade e uma
secular tradição extrativista. Certas condições sociais e econômicas
deveriam ser cristalizadas, para atender em quantidade suficiente , ao
aumento da demanda industrial. Tais requisitos a serem preenchidos
pela região relacionavam -se à disponibilidade de capitais que
permitissem o aumento da produção. Esses capitais seriam investidos
na abertura de novas áreas produtoras, no financiament o de novos
seringais, no recrutamento de mão -de-obra e no setor dos transportes.
No início da exploração comercial da borracha na Amazônia, os capitais
necessários ao processo extrativo eram inexpressivos, podendo ser
obtidos dentro do país ou mesmo dentro da Região Norte, mas o
enorme crescimento da procura pelo produto no mercado internacional
tornou impossível aos capitais nacionais a inversão em escala
suficiente para atender à demanda.
Em função da exigüidade dos capitais nacionais, prontamente
foram atraídos os capitais estrangeiros que, com o passar do tempo,
obtiveram o controle do processo produtivo, financiando as
importações, o capital de giro e, freqüentemente os governos locais.
99

Dessa dinâmica resultou que, já em 1910, o endividamento absorvia


aproximadamente 25% da renda intra -regional da Amazônia, que era
gasto com o serviço do capital estrangeiro. A renda regional naquele
ano totalizou, em mil réis, $485.833. Desse montante, $120.283 eram
destinados ao pagamentos dos juros e parcelas dos empré stimos
contraídos junto ao capital exterior. Destarte, nas últimas décadas do
século XIX, capitais estrangeiros controlavam a navegação fluvial
através das firmas Amazon Steam Navigation Co. Ltd. e Amazon River
Steam Navigation Co. Ltd., ambas de capital i nglês. O capital
estrangeiro controlava também vastos seringais e os portos de Belém e
Manaus, por ele construídos e recebidos como concessões dos
governos locais. Os maiores mercados consumidores do látex eram a
Inglaterra e os Estados Unidos, países que mais investiam na
Amazônia.
A parte do financiamento direto à produção funcionava da
seguinte maneira: as casas aviadoras, em geral pertencentes a
brasileiros ou portugueses, cuidavam da importação dos produtos
necessários à manutenção dos seringais, abrin do créditos para o
abastecimento dos seringalistas, créditos esses pagos com a própria
produção. Apesar da existência de alguns regatões, que navegavam
pelos rios amazônicos, trocando diretamente nos seringais os
aviamentos pela borracha e também de alguns seringalistas que
negociavam sua produção diretamente com as casas exportadoras, a
maior parte da comercialização do produto era realizada entre os
seringalistas e as firmas aviadoras, através do sistema dominante de
crédito e aviamento.
Essas casas aviad oras, por sua vez, eram financiadas pelo capital
estrangeiro, especialmente inglês e norte -americano, e pagavam os
empréstimos com a própria borracha. Essa é a razão pela qual as casas
exportadoras monopolizavam o comércio de exportação da borracha,
comprada das casas aviadoras, impondo os preços em razão desse
monopólio. Assim, a obtenção da borracha para a exportação era feita
através da presença das grandes companhias de capital transnacional,
com filiais nas grandes cidades da Amazônia.
O monopólio da e xportação efetuado pelas casas exportadoras
européias e norte -americanas resultava no controle dos preços da
goma elástica, gerando descontentamento das casas aviadoras. O
capital regional, representado pelas casas importadoras, fez algumas
tentativas para abolir esse monopólio da exportação, todas
fracassadas. O controle do comércio de exportação da borracha na
Amazônia pelo capital estrangeiro deve ser entendido, historicamente,
dentro do contexto do período imperialista. O capital monopolista
implantava suas indústrias nos países periféricos, monopolizando a
oferta ao mercado consumidor e controlando o comércio das matérias
primas desses países.
A queda nos preços da borracha, a partir de 1912, fez com que
todo esse surto de exploração fosse estancado. A riqueza produzida em
décadas não fora invertida em qualquer atividade, que permitisse o
fortalecimento econômico da região. Findo o auge do extrativismo, a
região do Madeira entrou em colapso, com alguns sinais de
100

recuperação da atividade econômica, duran te a primeira e segunda


guerras.

Exercícios.

1. Não faz parte da economia amazônica durante a segunda metade do


século XIX e princípios do século XX:
a) a extração do látex.
b) o controle da produção pelo capital estrangeiro.
c) a submissão dos seringueiros ao ba rracão.
d) o cultivo sistematizado das seringueiras.
e) a decadência das atividades agropastoris

2. São rios do oeste amazônico explorados por seringueiros


nordestinos:
a) Madeira, Paraguai e Jamari.
b) Purus, Xingu e Tocantins.
c) Tapajós, Nhamundá e Negro.
d) Juruá, Purus e Pardo.
e) Purus, Juruá e Madeira.

3. Relacione as colunas.
(1) Alexander W ickham ( ) processo de vulcanização.
(2) Charles Goodyear ( ) contrabandeou sementes de
seringueira para a Inglaterra.
(3) La Condamine ( ) aperfeiçoou o processo de
impermeabilização da borracha.
(4) Philipp Von Martius ( ) naturalista austríaco que estudou a
Amazônia no século XIX.
(5) Macintoch ( )classificou a seringueira.

4. Marque V ou F.
( ) A única árvore a produzir o lá tex, utilizado para a fabricação da
borracha, é a seringueira.
( ) O extrativismo da borracha promoveu a anexação de novos
territórios pelo Brasil em fins do século XIX e princípios do século XX.
( ) O controle do comércio da borracha esteve sempre ligado ao capital
imperialista europeu e norte -americano.
( ) As casas aviadoras não trabalhavam com o financiamento da
produção da borracha.

5. Que fatos explicam a crise da borracha na Amazônia a partir de


1912?
R.
101

A exploração e colonização do Oeste Amazônico.

No século XVIII, o padre João Daniel (Tesouro descoberto no rio


Amazonas) constatava a inexistência de qualquer núcleo de
povoamento, seja de brancos ou índios mansos, entre o Madeira e o
Javarí. Apesar dos esforços de colonização nas décadas posteriores,
ainda em 1866, , exceto as imediações do Pará, o que havia na
Amazônia era o “deserto”. No entanto, passadas algumas décadas,
aquela região encontrava -se ocupada como nunca o fora antes. Manaus
surgiu como uma moderna cidade, não com tanta rap idez, mas
acompanhando o avanço do surto extrativista. Aumentou também a
colonização dos rios Purus, Juruá e Madeira.
Com o crescimento da demanda internacional de goma elástica,
intensificou-se a exploração, que aliada às formas predatórias de
extração, que matavam em pouco tempo a hévea, exauriram as zonas
iniciais de produção do látex. Assim, novas áreas de extração tiveram
que ser incorporadas, não somente para substituir as áreas esgotadas,
mais próximas das capitais de Belém e Manaus, como também par a
aumentar a produção. Em conseqüência desse processo, houve um
avanço sobre os seringais nativos das regiões interiores, dos rios
próximos a Belém para os rios Tapajós, Madeira, Purus, Juruá e à
região do Acre, ainda quando pertencente a Bolívia. Na Amazô nia, as
regiões do Acre e do Madeira detinham não somente as maiores
reservas do produto como também foi nelas onde se passou a extrair, o
látex de melhor qualidade.
Ao processo de ocupação de novas áreas antecedeu a ação do
estado, no sentido de melhor e xplorar e reconhecer a bacia hidrográfica
composta pelos afluentes do alto Amazonas. A província do Amazonas
foi criada em setembro de 1850, tendo como capital a cidade de
Manaus, desmembrada da província do Grão -Pará, compreendendo a
área da antiga capita nia de São José do Rio Negro. O deputado João
Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha foi nomeado seu presidente,
tomando posse em janeiro de 1852. Ao assumir o governo em Manaus
no mês de dezembro do ano seguinte, ocupou -se, entre outras tarefas,
de estabelecer uma rota de ligação mais fácil para o Mato Grosso, pois
nas rotas tradicionais, pelo Madeira e pelo Tapajós, existiam saltos e
cachoeiras que tornavam difícil a navegação. A partir de seu governo,
uma série de expedições exploraram e deram conhecimen to mais exato
da bacia hidrográfica da Amazônia Ocidental. Os presidentes que o
sucederam no governo da província, seguiram seu exemplo.
Expedições de reconhecimento foram enviadas aos principais
rios, com o objetivo de estabelecer uma rota com melhores c ondições
de navegabilidade: uma expedição dirigiu -se ao rio Abacaxis,
procurando uma saída para o Arinos; uma segunda explorou o Purus,
procurando comunicação com o Beni; e outra expedição foi observar as
102

condições de navegabilidade do Juruá. Em 1860, nova expedição, como


as anteriores, também patrocinada pelo Governo do Amazonas,
chefiada por Manuel Urbano da Encarnação, um sertanista de origem
indígena Mura e grande conhecedor da região, descobriu o rio Acre
(Aquiri).
O governo do Amazonas não estava só, no seu interesse em
conhecer a hidrografia da região. Entre 1861 e 1865, W illiam
Chandless, chefiando uma comissão da Sociedade Geográfica de
Londres, auxiliado por Manuel Urbano da Encarnação aproximou -se das
cabeceiras do Purus e explorou o rio Acre em t oda sua extensão
navegável, observando ali, somente a existência de indígenas.
Chandless investiu também sobre o Alto Juruá, já conhecido desde
1857, e navegou por um de seus afluentes, o Liberdade. Contudo, sua
expedição ficou impedida de avançar, sofrend o violentos ataques dos
índios Nauá, recuou.
Nesse entretempo, em 1864, uma expedição saiu de Manaus com
a intenção de devassar o Ituxí (Iquirí) que, supunha -se, ligava-se ao
Madeira. Essa expedição entrou pelo rio Mucuim indo parar realmente
no Madeira, porém no Salto do Teotônio, o segundo acidente dos vinte
e dois existente até o Beni/Mamoré. Nesse mesmo ano, mais de cem
anos depois do Tratado de Madri, ainda se mantinha a antiga
controvérsia sobre a nascente do Madeira. Para esclarecer a dúvida,
outra expedição do Amazonas foi pesquisar se o Beni era afluente ou o
verdadeiro tronco do Madeira, concluindo que o Beni, juntamente com o
Mamoré e o Guaporé eram os formadores do Madeira.
Em 1878, o Coronel Antônio R. Pereira Lábrea formou uma
expedição que, partindo da barraca Maravilha, no rio Madre de Dios,
cruzou o sertão entre o Madeira e o Purus, chegando, após dezenove
dias de viagem, à barraca Flor de Ouro, no rio Acre. Expedições
posteriores descobriram a comunicação entre o rio Tahuamanu,
afluente de Madeira, com o Alto Acre.
Ao mesmo tempo novos seringais eram organizados,
aproximando-se cada vez mais até adentrar em território boliviano e
ocupando cada vez mais mão -de-obra de fora da província. O
extrativismo predatório provocava a exaustão das ser ingueiras,
forçando a migração de populações inteiras de Cametá, Santarém,
Óbidos e outros lugares do Pará, para o Purus, Juruá, Solimões,
Autazes e Madeira, onde, passando as fronteiras do Amazonas,
iniciaram a explorar seringais no Mato Grosso.
Assim, em 1852, estabeleceu -se no Purus o pernambucano
Manuel Nicolau da Conceição, trazendo escravos e trabalhadores,
recrutados no baixo Amazonas e rio Negro. Em 1862, José Manuel da
Rocha Tury recrutou maranhenses e fundou, às margens do Solimões,
o povoado de Codajás. Em 1869, chegaram os primeiros cearenses,
recrutados por um seringalista que se fixou no Baixo Purus. Em 1871,
foi fundado o povoado de Lábrea com uma leva de imigrantes
maranhenses. Ao mesmo tempo em que os rios do Acre eram
explorados e povoados por brasileiros, estabeleciam -se as
comunicações fluviais por meio de vapores.
103

A indefinição de fronteiras, bem como determinadas facilidades


hidrográficas, definiram os rumos do colonização brasileira e boliviana
na fronteira oeste. Limitações geográfic as: a dificuldade de
deslocamento dos Andes até o Amazonas e o fato do Acre estar isolado
do sistema hidrográfico boliviano, tornavam difícil aos bolivianos o
acesso àquela parte do seu país. O acesso à região do Acre era mais
fácil para os brasileiros, qu e controlavam a embocadura do Amazonas,.
Para os brasileiros, penetrando pelo Purus descortinava -se uma
via de acesso desimpedida de acidentes naturais para aquele rio.
Assim, as expedições de reconhecimento promovidas pela Província do
Amazonas revelaram, nos afluentes do alto Amazonas, uma área rica
em seringueiras e habitadas apenas por índios, despertando a cobiça e
o espírito empreendedor que fez com que, durante os anos próximos a
1880, os brasileiros ocupassem a área do Alto Purús, Yaco, Alto Juruá
e Tarauacá.

Exercícios.

Responda utilizando os dados abaixo:


(1) se todas as alternativas forem verdadeiras.
(2) se todas as alternativas forem falsas.
(3) se somente as alternativas I e II forem verdadeiras.
(4) se somente as alternativas II e III forem verdadeiras.
(5) se somente as alternativas I e III forem verdadeiras.

1. ( )
I. A província do Amazonas foi criada em 1850 e Tenreiro Aranha foi
seu primeiro governante Amazonas.
II. O rio Acre (Aquiri) foi explorado pelo sertanista Mura Manoel Urbano
da Encarnação.
III. A exploração do s rios e sertões do oeste amazônico buscava
oferecer subsídios para a definição das fronteiras.

2. ( )
I. As maiores reservas de látex da Amazônia sempre se localizaram nos
rios Tocantins e Xingu.
II. Nos rios Juruá, Madeira e Purus a borracha era considerada boa e
de alta qualidade.
III. A margem esquerda do Madeira, até as proximidades de Humaitá
pertenceu ao Peru até 1867.

3. ( )
I. Manaus ergueu-se como uma moderna cidade no século XIX, em
função da borracha.
II. No século XVIII foram descobertos inúmeros núcleos de colon ização
européia no território entre os rios Madeira e Javari.
III. O povoado de Lábrea foi fundado em 1871 com uma leva de
migrantes maranhenses.
104

4. Quais os resultados obtidos pelas expedições que exploraram o


oeste amazônico?
R.

5. Que áreas foram o cupadas nos anos de 1880 no oeste amazônico


por seringueiros brasileiros?
R.

A colonização brasileira do Madeira.

A ocupação e colonização da região dos vales dos rios Madeira,


Mamoré e Guaporé foi foco de preocupação dos governos do Brasil,
desde o período colonial, em função de ser uma região de fronteira
estratégica, tanto no que se refere às relações com as nações vizinhas,
quanto ao comércio entre o Mato Grosso e o Pará. Ao contrário da
região do Acre, a região do Madeira -Mamoré-Guaporé já era
suficientemente bem conhecida desde o século XVIII.
Durante o período colonial foram feitas várias tentativas de
colonização da região do Madeira e do Guaporé rondoniense,
particularmente no século XVIII, quando esses rios passaram a ser
importantes vias de ligação para o rio Amazonas, através da qual se
realizava o comércio entre Belém do Pará e as minas de Mato Grosso.
Além da importância comercial da rota, esses povoados tinham por
objetivo garantir a posse territorial e a integridade das fronteiras,
delimitadas pelos tratados de limites. Contudo, o Madeira manteve -se
esparsamente povoado pelo europeu. As tentativas de colonização
concentraram-se da região das cachoeiras para baixo, conseguindo,
finalmente, algum sucesso no médio Madeira. Os motivos pa ra o
fracasso da empresa colonizadora do Madeira encontram explicação
mais comum na ferocidade dos indígenas. As povoações de Borba e
Itacoatiara (no rio Amazonas, próximo à foz do Madeira) mudaram de
local várias vezes no século XVIII em função dos ataque s dos Mura.
105

Uma outra explicação diz respeito à insalubridade da região, que teria


sido responsável pelo insucesso, entre outros núcleos, da primeira
tentativa de estabelecimento da povoação de São João do Crato.
No entanto, com o declínio da mineração no Mato Grosso, a
região do Madeira -Mamoré-Guaporé se despovoou e entrou em
decadência, ficando abandonada até meados do século XIX. A partir de
meados do século XIX e durante todo o primeiro ciclo da borracha, a
oportunidade de colonização permanente da regi ão do Guaporé e do
Madeira viria concretizar -se e as margens dos rios Madeira, Ji -Paraná,
Machado, Mamoré e Guaporé foram ocupadas por grupos isolados de
seringueiros. Os brasileiros, em busca da goma elástica, ocuparam a
região boliviana do Acre, pela via do Amazonas, Purus e Juruá. Essa
ocupação foi facilitada por alguns fatores que valem ser ressaltados: a
indefinição de fronteiras, a existência de grandes áreas ainda abertas à
colonização e a facilidade para os brasileiros em navegarem até aquele
território colaboravam com a sua ocupação. No caso do alto Madeira a
situação se invertia: para os bolivianos mais fácil era o acesso à região
através dos rios Orton, Madre de Dios e Beni, embora obstaculizados
por acidentes naturais. Assim, foram ocupando os se ringais nativos do
Madeira e seus afluentes: o Mutum -Paraná, o Jaci-Paraná, o Jamarí e o
Ji-Paraná. Os núcleos de colonização, seringais e povoações, de
propriedade e com população migrada da Bolívia, particularmente da
região do Beni, eram exclusivos no t recho encachoeirado e
predominantes em seu curso médio. Os seringais bolivianos estendiam -
se porém até o baixo Madeira, onde conviviam com os seringais
pertencentes aos brasileiros.
Alguns núcleos de colonização de iniciativa do governo colonial e
mesmo os destacamentos militares e fiscais revitalizaram -se no
transcorrer do século XIX, tornando -se povoações de certa importância.
São João do Crato, criado no final do século XVIII foi, em 1802,
transferido para um trecho entre as embocaduras dos rios Baetas e
Arara, próximo aos igarapés Maguarani e Purus, e depois de várias
outras mudanças de lugar conseguiu fixar -se, tornando-se um núcleo de
povoamento de certa importância. Já em 1866, entre a cachoeira de
Santo Antônio e a foz do Madeira as povoações mais im portantes eram
Crato e Borba. Borba e Itacoatiara (Serpa), povoados fundados também
no período colonial, eram em 1862 os maiores portos de exportação da
província do Amazonas, superando ambos a Manaus. Tavares Bastos
dá notícia de uma população de 8.862 ha bitantes no Vale do Madeira,
assim distribuídos: em Borba 2.335 habitantes, no Crato 5.998, em
Canuma 529 e algumas praças em Santo Antônio. Em 1886 a população
total do Vale do Madeira era pouco superior a 40.000, habitantes e em
1895 a região já contava com 70.000 habitantes, sendo dignos de nota,
nessa época, apenas Manicoré e Borba como centros de colonização.
Dos novos seringais vieram a surgir povoações que são hoje
cidades à beira do Madeira. Em 1869 instalou -se, próximo ao igarapé
do Mirari, o come ndador José Francisco Monteiro, abrindo aí um
seringal Sendo atacado freqüentemente pelos Parintintin o seringalista
desceu o rio e, na margem esquerda, a duas milhas do Crato fundou
Humaitá. Antes mesmo de Humaitá, foi criada a povoação de Manicoré
106

na margem direita do Madeira, entre os rios Manicoré e Mataurá e


tornada comarca em 1878. As margens do Manicoré também estavam,
em 1878, ocupadas por vários seringais e aldeamentos de indígenas
Mura, Turá e Genipapo, já domesticados. Entre a cachoeira de Santo
Antônio e a foz do Ji -Paraná vários seringais já existiam, em geral na
foz de rios ou igarapés.
Na cachoeira de Santo Antônio, à margem direita, surgiu no
século XIX a povoação de Santo Antônio do Rio Madeira,
posteriormente vila e cabeça do município de Santo Antônio,
pertencente à província de Mato Grosso. Como as demais povoações
do Madeira, surgiu também em função da atividade extrativista. Era o
ponto de embarque e desembarque para quem se dirigia a Belém ou
Manaus ou subindo o rio em direção ao Mato Grosso e à Bolívia.
Dependendo do caso, iniciava ou terminava naquela povoação o trecho
encachoeirado do rio.
Sendo um entreposto comercial, um ponto de passagem e
descanso em uma região agreste, sua população fixa era minúscula,
poucas famílias ali resid iam permanentemente, embora a aglomeração
humana fosse significativa para os padrões do Madeira. Aventureiros,
remadores, comerciantes e seringalistas da grande área de influência
dos rios Beni, Madre de Dios, Guaporé e Mamoré, querendo mais
facilmente receber ou despachar suas mercadorias para os mercados
da Europa e dos Estados Unidos, pela via de Belém e Manaus, tinham
que passar por Santo Antônio. Com o estabelecimento da navegação a
vapor, uma linha regular passou a suprir regularmente a localidade,
além de vapores particulares, e era de Santo Antônio que as
mercadorias passavam dos batelões para os navios, ou vice -versa.
Na última década do século XIX a povoação teve alguma
prosperidade. Santo Antônio era um entreposto que parecia ter um
futuro promissor. Crescia a produção da borracha, vapores que até
poucas décadas não chegavam naquela localidade atracavam agora em
profusão. Vários seringalistas estabeleceram ali seus negócios,
barracões para o estoque da borracha e dos aviamentos, e mesmo
residência. O povoado fora elevado à categoria de vila e tudo indicava
que seria aquela uma das cidades mais importantes do Madeira. No
início do século XX, entre 1907 e 1912, finalmente, foi construída a
ferrovia, que contornou o trecho encachoeirado do Madeira. C ontudo, a
firma construtora a Madeira -Mamoré Railway Company, estabeleceu
que o ponto inicial da ferrovia distaria sete quilômetros rio abaixo e
surgiu então um novo núcleo de povoação, a cidade de Porto Velho. O
ponto final da ferrovia seria Guajará -Mirim a qual, nos idos de 1890,
não era sequer uma pequena povoação, após a construção da ferrovia
surgiu em torno da estação a cidade.
Como conseqüência da criação de Porto Velho, o movimento de
carga e descarga próximo ao trecho encachoeirado centralizou -se cada
vez mais naquela cidade. Santo Antônio, foi sendo pouco a pouco
despovoado. Durante alguns anos, ainda, os vapores da Amazon Steam
Navigation Co. fariam seu movimento de carga em Santo Antônio. Com
o abandono da vila, as casas foram transformando -se em ruínas e o
movimento portuário passou definitivamente para Porto Velho.
107

Exercícios.

1. Como desenvolveu o processo de colonização dos vales dos rios


Guaporé e Madeira no século XIX?
R.

2. Quais os vales hidrográficos rondonienses mais famosos por sua


produção de borracha?
R.

3. Como surgiu e qual a localização de Santo Antônio?


R.

4. Qual o motivo do crescimento de Santo Antônio no final do século


XIX?
R.
108

5. Que fatores explicam a decadência de Santo Antônio?


R.

Colonização boliviana do Madeira, o noroeste boliviano e a


empresa Suárez & Hermanos.

O início do processo de ocupação do Madeira pelos seringalistas


bolivianos dá-se por volta da década de 1860, essa ocupação se
estenderia por todo o rio até a últim a década do século XIX. O
extrativismo da quina no Beni e outras regiões bolivianas, estendia
também o contato daquela região com o Madeira. Enquanto que no
Madeira, bolivianos já exploravam a seringa, a quina explorada no Beni
era escoada por esse rio. Ba telões, impulsionados por indígenas
bolivianos, escoavam, até Santo Antônio do Madeira, a produção que
antes chegava ao Mamoré, vinda da província de Caupolican através de
Reyes e Santa Cruz de Yacuma.
A quina era o principal produto de exportação do noroe ste
boliviano até que, em torno de 1870, intensificou -se a concorrência da
quina produzida nas plantações inglesas da Ásia e África com o produto
boliviano. A concorrência resultou do contrabando de sementes de
quina do Peru efetuado em 1840 pelo súdito in glês Clements Markham.
Desse modo, a extração da goma elástica como produção alternativa do
Beni iniciou naquele período e se intensificou a partir de 1878, quando
os preços da quina entraram em queda vertiginosa em face do aumento
da produção das colônias inglesas. A seringa tornou -se um substituto
imediato para o setor extrativista beniano, sendo encontrada na área de
Caupolican e em vários rios da Amazônia boliviana, inclusive no próprio
Beni. O sistema de aviamento, ou habilito como é chamado na Bolívia ,
foi o arranjo que permitiu o acesso ao capital inicial com que os
seringalistas pioneiros naquele rio iniciaram o corte da hévea. Já nesse
momento, a empresa Suárez & Hermanos desponta como a principal
aviadora do empreendimento, vindo a tornar -se, durante o auge do
primeiro ciclo da borracha, no maior potentado econômico da região. O
poder econômico dessa firma, que utilizava -se do Madeira como artéria
principal de comércio, se fez sentir inclusive em Belém e Manaus,
através de suas filiais.
Nas décadas posteriores a 1870, os seringalistas bolivianos, que
estavam instalados no Madeira, iniciaram seu retorno ao Beni, para ali
continuarem sua atividade extrativista. Contudo, apesar do declínio da
hegemonia boliviana no Madeira, ao final do século XIX, há no tícias de
109

seringalistas bolivianos que, nessa época, ainda estavam se


estabelecendo naquele rio. Esse retorno dos seringalistas ao território
bolivianos durou alguns anos, deixando como marca do pioneirismo, em
território brasileiro, o nome de várias local idades do rio Madeira.
A maior e mais próspera povoação boliviana nesse rio era Jumas,
um aldeamento localizado entre Crato e Humaitá, habitado por
aproximadamente 180 homens e 90 mulheres, que falavam um dialeto
que não era nem o português nem o espanhol , provavelmente algum
dialeto dos indígenas mojenhos. Nesse povoado, produzia -se gêneros
de subsistência: bananas, macaxeira, arroz; produtos extrativos como a
castanha do Pará; além da cana de açúcar, que era transformada em
caldo do qual se produzia agua rdente em uma usina da própria
localidade. Embora, no declinar do século XIX, o Barão de Marajó, ao
citar povoações de alguma importância naquele rio, ainda indicasse
nessa categoria Jumas, as demais povoações ou eram seringais
brasileiros ou missões relig iosas, com exceção apenas de Santo
Antônio, vila brasileira povoada por bolivianos. A influência boliviana
declinava no Madeira e as povoações mais movimentadas daquele rio
eram aquelas fundadas pelos portugueses ou brasileiros.
Não é possível analisar a influência da colonização boliviana
sobre o Madeira sem se referir a família Suárez, embora sua
penetração naquele rio possa ser considerada tardia. Nos anos ao
redor de 1877, quando o alto Madeira estava sendo explorado e
povoado por bolivianos, D. Nicolá s Suárez Callaú administrava uma
casa aviadora instalada por seu irmão Francisco em Reyes. A firma,
denominada Suárez Hermanos, era composta por vários irmãos, que
praticamente monopolizavam o ramo do aviamento dos seringais e a
exportação da goma elástica produzida no Beni. Posteriormente, D.
Francisco passou a representar a firma em Londres, providenciando o
envio das mercadorias para D. Nicolás, que despachava os
carregamentos de goma para a Europa.
Em 1880, esses irmãos decidiram transferir a matriz da firma uma
localidade próxima ao Madeira, no Beni, iniciando por dominar, além do
setor de importação e exportação, uma imensa área de seringais. Em
1881, a firma Suárez fundou a povoação de Cachuela Esperanza,
matriz de seus negócios no Beni. A partir des se ano, a firma Suárez &
Hermanos vai se constituir na mais poderosa empresa de capital
regional a operar no ramo do extrativismo do látex. Essa firma dominou,
ao longo do tempo, 16 milhões de acres de seringais; estendeu suas
filiais até as praças de Belé m, Manaus e Londres; controlou o circuito
da importação dos aviamentos para sua área de influência e, mais
espantoso, conseguiu burlar o monopólio das companhias européias e
norte-americanas, exportando diretamente para aqueles países. Em
1896, a vila come rcial projetada por Suárez & Hermanos, Cachuela
Esperanza, estava em pleno desenvolvimento com edifícios de
residência para o pessoal administrativo e braçal, este último composto
por indígenas mojenhos, edificações para os depósitos de mercadorias
e uma pequena ferrovia para contornar a cachoeira de onde a
localidade tirara seu nome.
110

Em 1892, foi criado o departamento do Beni ,o que facilitou a sua


invasão pelos comerciantes de origem espanhola do altiplano
(carayanas). Esses comerciantes iniciaram por so licitar o registro de
terras indígenas e a acelerar o processo de exploração da mão -de-obra
local. Em 1894 foi fundada a povoação de Riberalta, atual capital do
departamento de Pando. A área, compreendida pelas localidades de
Riberalta, Guayaramerín, Cachu ela Esperanza e Baures, era o pólo
dinâmico da economia do noroeste boliviano nessa época. Essas
localidades, constituíam -se como núcleos comerciais de despacho e
recebimento de mercadorias para os seringais.
Baures contava então com uma população estimada de 5500
pessoas, sendo a maioria indígenas, fora os elementos em trânsito
ocupados no transporte das mercadorias. Na última década do século
XIX, viviam nessa localidade muitos seringalistas que durante as
década anteriores haviam se dedicado à extração d a goma elástica no
Madeira. Jose Coímbra cita alguns: Pastor Oyola, que dominara a
região entre Santo Antônio e Morrinhos, Balvino Franco, Rafael Ruiz,
Manuel José Justiniano, Benigno Vaca Moreno, Manuel Ruiz, Fernando
y Arístides Antelo, Urbano Melgar e J osé Manuel Martínez.
Já a capital do Beni, Trinidad, vivia um estado de decadência e
esvaziamento populacional. Com sua economia baseada na agricultura
e, principalmente, na pecuária, sofreu o impacto da volumosa migração
de mão-de-obra, para a atividade extratora. Em 1887, sofrera essa
capital uma rebelião indígena, que ocasionou a fuga da mão -de-obra
para as margens do rio Sécure, onde resistiu às tentativas de
dominação dos fazendeiros trinitários.
No final do século XIX, já se tem notícias de povoamen to
brasileiro rio acima, além das cachoeiras dos Madeira. Nos anos 90
daquele século, há referências ao povoado de Vila Murtinho, situada no
rio Mamoré, quase em sua junção com o Beni, em frente ao povoado
boliviano de Villa Bella, que contava com a popula ção de 800
habitantes, muito significativa para a época. A então nascente
povoação brasileira se abastecia na Bolívia. Mesmo sendo Vila
Murtinho um núcleo de povoação habitado por brasileiros, a sua maior
propriedade pertencia a um boliviano. Tratava -se de Gran Cruz,
pertencente a D. Perez de Velasco, que viria a ser o primeiro vice -
presidente da Bolívia durante o conflito no Acre.
Por volta de 1896 não existia o povoado brasileiro de Guajará -
Mirim, no rio Mamoré, cercanias da cachoeira de mesmo nome, embo ra
já houvessem seringais pertencentes aos brasileiros naquele local.
Contudo, na margem oposta existia a povoação boliviana de
Guayaramerím habitada pelos seringalistas bolivianos Manuel e
Memesio Jordán e Leonor de Castro. Na povoação propriamente dita, a
população estimada, em 1903, era de 20 habitantes ocupados nas
atividades de transporte de mercadorias entre Trinidad, Villa Bella e
Riberalta. A influência de Suárez Hermanos ainda se mantinha firme na
região e, no Madeira, continuavam a manter depósito s e empregados
na vila de Santo Antônio.

Exercícios.
111

1. Faça um breve texto sobre a presença boliviana no Vale do Madeira


no século XIX.

2. Que motivo levou os seringalistas bolivianos a ocupar o Vale do


Madeira?
R.

3. Caracterize o povoad o de Jumas.


R.

4. Quando se define o povoamento brasileiro nos vales do alto


Madeira?
R.

5. Qual o seringal do rio Mamoré que pertencia ao futuro vice -


presidente boliviano Dom Perez Velasco?
a) Santo Antônio.
112

b) Aliança.
c) Três Irmãos.
d) Gran Cruz.
e) Concepción de Morrinhos.

Em resumo.

 A borracha já era utilizada pelos indígenas desde períodos anteriores


a conquista ibérica. Cristóvão Colombo levou exemplares de bolas de
borracha fabricadas pelos indígenas da América Central para a
Espanha, no século XVI.
 No século XVIII, Charles Marie de La Condamine denominou Hévea
brasiliensis a árvore que produzia o látex na Amazônia. No princípio do
século XIX já se exportavam produtos emborrachados de Belém para a
Europa e EUA. No entanto, só com a descoberta d o processo de
vulcanização e do aperfeiçoamento das técnicas de impermeabilização,
feitos por Charles Goodyear e Macintoch, é que a borracha conquistou
os mercados mundiais.
 A exploração do látex levou à formação de vastos seringais, que
passavam a pertencer a latifundiários, mais tarde chamados
seringalistas ou coronéis de barranco. Os trabalhadores eram os
seringueiros, que podiam ser nativos (mansos) ou nordestinos (brabos).
O regime de trabalho estruturava -se na dependência entre o
trabalhador e o proprietário através de um sistema de crédito/dívida
conhecido como regime do toco ou do barracão.
 A produção era financiada (aviada) pela casas de aviamento de
Belém e Manaus. A maior parte do lucro ficou com as grande empresas
estrangeiras e com grupos de avi amento nacionais.
 Na década de 1870, o inglês Alexander W ickham contrabandeou
sementes de seringueira, que foram cultivadas em Kew Garden, em
Londres e de lá foram levadas para a Malásia. A produção asiática
derrubou a produção amazônica entre 1912 e 1913.
 Seringueiros nordestinos promoveram a interiorização da exploração
da borracha pelo oeste amazônico, desbravando os vales dos rios
Juruá, Purus, Acre, Madeira e Javari. Este fato levou a problemas
diplomáticos entre Peru, Bolívia e Brasil.
 As disputas territoriais entre o Brasil e a Bolívia, levaram esses
países a formar equipes de exploração e estudos das nascentes dos
rios fronteiriços, numa tentativa de ser estabelecerem suas fronteiras..
Ao mesmo tempo, formavam -se novos seringais pertencentes a
brasileiros em áreas de fronteiras ainda incertas como os rios Purus,
Juruá, Acre.
 Os vales do Madeira, Mamoré e Guaporé já eram bem conhecidos
desde o século XVIII. A borracha já era explorada nestes rios por
seringueiros bolivianos. Com o aumento da demanda n a segunda
metade do século XIX, a região foi invadida por seringueiros brasileiros,
que ocuparam também o Acre, boliviano. O povoamento realizado por
seringueiros no Vale do Madeira foi expressivo, mas levou a inúmeros
conflitos com as populações indígenas da região.
113

 Missões, povoações militares, povoações portuárias, seringais e


antigos núcleos de populações coloniais como Borba e Manicoré foram
as bases de exploração e colonização do Vale do Madeira. No entanto,
o trecho encachoeirado era ainda uma região adversa e hostil aos
exploradores.
 A Vila de Santo Antônio do Madeira foi um povoado estruturado no
século XIX, servindo como entreposto fiscal e comercial para as cargas
que subiam ou desciam o Madeira, vindas da Bolívia, de Serpa ou do
Mato Grosso. Com as tentativas de construção da EFMM, Santo Antônio
viveu um breve período de prosperidade. No entanto, o povoado decaiu
com o crescimento de Porto Velho.
 Grandes proprietários bolivianos controlaram extensos seringais no
Madeira. Dentre eles destacaram -se a empresa Suárez & Hemanos, D.
Ramon, D. Inácio Arauz, D. Pastor Oyola e Santos Mercado. Nos
seringais bolivianos eram freqüentes as grandes lavouras de
subsistência de arroz, macaxeira, bananas, café e cana -de-açúcar.
 No final do século XIX, já se tinha notícias de ocupação brasileira
nas terras do alto Madeira. Na década de 1890 a povoação de Vila
Murtinho no Mamoré situava -se em frente ao povoado boliviano de Vila
Bela.
 A firma boliviana Suárez e Hermanos monopolizou o comércio de
látex e os aviamentos dos seringais do Beni e a partir da década de
1880, avançou pelo seringais do Madeira dominando uma área de 16
milhões de acres de terra, exportando borracha diretamente para a
Europa.
 A fundação do departamento do Beni (1892) facilitou a atividade dos
comerciantes de origem espanhola, provenientes do Altiplano andino,
que passaram a dominar as terras indígenas e a explorar seu trabalho.
 Formaram-se diversos núcleos de povoamento e exploração como
Baures, Guayaramerín, Cachuela Esperanza e Riberalta. A mão -de-obra
tradicionalmente empregada nas lavouras e pecuária foi sendo
progressivamente transferida para o extrativismo da quina e depois, da
borracha.
114

Capítulo 7
O processo de ocupação e expropriação indígena na área do Beni.

O indígena na Bolívia: ap ropriação submissão e resistência

No noroeste boliviano, durante o século XIX, a intensificação do


processo de exploração da mão -de-obra indígena, como no Brasil,
ocorreu pari passu com a ocupação de seus territórios. Contudo, a
história do processo de o cupação da terras e exploração do trabalho
indígena, na Bolívia, nesse momento, contém, em relação ao Brasil,
algumas peculiaridades. Durante o período colonial todos os indígenas,
do sexo masculino, com idade entre 18 e 50 anos, eram obrigados a
pagar um tributo. Esses tributos chegavam a participar em 25% da
renda da coroa. No transcorrer do processo de independência da
Bolívia, Simon Bolívar promulgou, entre 1824 e 1825, decretos que
aboliam o recolhimento de tributos sobre os indígenas.
A assembléia nacional, daquele país, ratificou esses decretos
mas, imediatamente após, percebeu que a aceitação dessa nova norma
colocaria em dificuldades a fazenda nacional, restabelecendo de pronto
o tributo, que passou a representar 60% do recolhimento fiscal na
Bolívia. Apesar de representar um pesado fardo, a carga tributária
contribuiu para a conservação da terra em posse do indígena, contra a
ameaça dos brancos. A decadente atividade mineradora não satisfazia
às necessidades de ingressos fiscais e, assim, também con trariando os
decretos de Bolívar, que colocavam em dúvida o direito do indígena
sobre sua terra ancestral, a assembléia nacional, ratificou, como
legítimo, o governo comunal dos indígenas e seus títulos de
propriedade da terra. Tratava -se, portanto, de garantir a atividade
agropastoril, importante fonte de ingressos fiscais, para a manutenção
do governo boliviano, naquele momento.
Em 1831, durante o governo de Andrés de Santa Cruz (1792 -
1865), foram restabelecidos os direitos às terras comunais dos
indígenas bolivianos. Contudo, esses direitos não valiam para as terras
do noroeste boliviano, de Mojos, Yucararés e Chiquitos, abertas à
colonização de todo aquele que desejasse estabelecer fazendas, ou
explorar a indústria extrativista. No entendimento do gover no, aquelas
terras não possuíam proprietários e, portanto, pertencia ao governo o
direito de dispor delas. Desconhecia, dessa forma, o direito às terras
pelos grupos indígenas daquela região.
Em 1851, foi abolida a obrigação de todo indígena estar submiss o
a um patrão. Essa instituição, remanescente dos direitos dos
adelantados, primevos colonizadores brancos na América Espanhola,
chamada, na época colonial, de encomienda, subordinava, como se viu,
o trabalho indígena ao colonizador, em troca de sua “educa ção” e
“proteção”. A partir dos anos 60 do século XIX, com o aumento da
produção mineral na região andina e o conseqüente crescimento dos
mercados urbanos, decresceu a importância dos tributos indígenas,
como fonte de ingressos governamentais. Com a ascens ão ao poder do
115

General Mariano Melgarejo, em 1864, a elite mineradora andina tomou


o poder naquele país, passando, então, a dominar as políticas livre
cambistas. O decreto de 1866, novamente, colocou em risco a
propriedade comunal das terras, intensificand o-se então a ocupação da
propriedade indígena por grupos de imigrantes brancos (carayanas),
que se dirigiram ao Beni para desenvolver a agricultura comercial. As
medidas legais, da década de 1880, permitiram amplas concessões de
terras, na região do Beni, e ao mesmo tempo aboliram o imposto
indígena.
A conquista do Beni, e o domínio do indígena mojenho pelo
colonizador, é um episódio que se repete, basicamente, como nas
demais regiões da América do Sul. O acirramento de antipatias entre os
grupos de nativos, e os demais instrumentos de cooptação, visando
colocar o indígena a serviço da tarefa colonialista, são componentes
comuns, tanto na América Espanhola como na América Portuguesa.
Contudo, o domínio das nações indígenas, apesar de ser exercido de
forma violenta, visando garantir a sujeição do trabalhador às atividades
produtivas determinadas pelo colonizador, não era definitivo. Durante o
século XIX vários levantes foram promovidos pelos indígenas do Beni.
Já no início do século, em 1811, os trinitários e demais povos de
fala mojenha, liderados por um indígena denominado Pedro Ignacio
Muíba, iniciaram um movimento contra os colonizadores brancos. Os
colonizadores (carayanas) com o auxílio dos Canichana, liderados pelo
cacique Juan Maraza, reprimem violent amente a revolta. Ao final da
repressão, Juan Maraza recebeu, das autoridades coloniais, uma série
de privilégios, como prêmio pela sua cooperação. Os Canichana, eram
aliados antigos dos espanhóis e, desde o período colonial, haviam
colaborado no esforço m ilitar de domínio territorial e controle de
fronteiras. Anos depois, em 1822, o governador Francisco Javier de
Velasco, revogou todos os privilégios dados ao cacique, Maraza,
insatisfeito, dirigiu -se a Trinidad, com a intenção de reclamar o retorno
dos privilégios. Ao entrevistar -se com Velasco, no palácio do governo,
Maraza foi assassinado. Os canichanas do pueblo de San Pedro,
profundamente ofendidos com o ato do governador, tomaram Trinidad
mataram o governador, e seus assistentes, e incendiaram o paláci o do
governo.
Muitas vezes, a fundação de novos pueblos indígenas em regiões
afastadas, para escapar à exploração do colono, provoca o conflito. Em
1842, um grupo de indígenas se instala na região entre os rios Sécure
e o Mamoré, fundando a povoação de Tri nidadcito. Durante a década
seguinte acentua -se o processo de evasão. O endividamento, junto ao
colonizador, e a conseqüente perda de sua propriedade, que o faz
tornar-se peão nas hacienda , intensifica esse processo. Há notícia de
uma rebelião indígena, em 1855, na povoação de San Ignacio de Mojos,
em que foi executado o corregedor local.
Em 1877, um novo processo de resistência, de maiores
proporções, faz crescer as povoações, surgidas com o recuo do
indígena beniano. Um líder messiânico, Andrés Guayocho, prega, entre
os indígenas, a existência de uma terra de liberdade e abundância,
longe do domínio do colonizador. Sua pregação tem larga aceitação, e
116

a população indígena passa a abandonar as fazendas e mesmo a


capital do Beni, Trinidad, dirigindo -se para o povoado de San Lorenzo.
Apesar de pacífico, o ato de revolta indígena foi respondido com
violência, as autoridades de Trinidad, preocupadas com o êxodo da
mão-de-obra, enviaram uma expedição, para reprimir o movimento e
fazer os indígenas retornarem aos t rabalhos nas fazendas. Os
revoltosos, combateram a expedição de Trinidad nas proximidades da
povoação de Trinidadcito e, apesar de alguns povoados terem sido
destruídos e sua população enviada à Trinidad, o povoado de San
Lorenzo conseguiu resistir, vivend o ali os indígenas livres da
exploração do colonizador até a segunda década do século XX. Na
maior parte das vezes, porém, após verem suas terras invadidas por
esses comerciantes, os indígenas eram subjugados, ou recrutados por
feitores, e enviados ao trab alho semi-escravo nas fazendas ou
estabelecimentos extrativistas.

Exercícios.

1. É forma apropriação compulsória do trabalho indígena, comum na


América no período pré -colonial e colonial:
a) colonato e precarium.
b) beneficium.
c) comitatus.
d) encomienda.
e) patrocinium.

2. Liderou o movimento rebelde em 1811 dos indígenas trimitários


contra os colonizadores brancos (carayanas):
a) Francisco Javier.
b) Pedro Ignácio Muíba.
c) Juan Maraza.
d) Andrés Guayocho.
e) Emiliano Zapata.

3. Pregador messiânico que conduziu uma resistência pa cífica dos


indígenas do Beni, em 1877, levando -os a abandonar Trindad, em
busca de uma nova terra de liberdade, San Lorenzo:
a) Diego Arauz.
b) Pastor Oyola.
c) Andrés Guayocho.
d) Pedro Muíba.
e) Juan Maraza.

4. Que fatores levaram os indígenas benianos a se revoltarem contra


os carayanas no século XIX?
R.
117

5. Que fato resultou na sublevação dos Canichana contra as


autoridades espanholas em 1842?
a) a revogação dos privilégios dados ao seu cacique e seu posterior
assassinato.
b) a colonização dos elementos de origem e spanhola no Beni.
c) sua colaboração no esforço militar para dominar os demais grupos
indígenas.
d) a fundação do povoado de São Pedro.

A legislação indígena e o recrutamento de trabalhadores na Bolívia.

As formas de recrutamento, do indígena no Beni, para o trabalho


no setor extrativista, eram muito semelhante àquelas utilizadas no
Brasil. O recrutamento formal, consistia em convencer o indígena a
trabalhar: como remeiro dos batelões, que levavam e traziam
mercadorias pelo trecho encachoeirado do Madeira, ou como extrator,
nos seringais pertencentes aos bolivianos, naquela região. Fazia parte,
do acordo entre o agente recrutador e o trabalhador, o adiantamento
das despesas de deslocamento e, no local do trabalho, outro
adiantamento, composto por gêneros, neces sários ao início da
produção como: ferramentas, armas, alimentos e vestuário. Esse
processo de obtenção da mão -de-obra, que no Brasil é conhecido por
recrutamento, tem, na América Espanhola, vários nomes como:
concertage (no Peru) e enganche (na Bolívia). Algumas vezes, era o
próprio cacique indígena que ficava responsável pela contratação de
trabalhadores, para a atividade gomífera. Apesar das diferentes
denominações, o acordo, pelo qual se recrutava o trabalhador,
representava o início de uma nova forma d e exploração da mão -de-
obra. Essa nova forma de exploração era diferente, daquelas
conhecidas desde o início da colonização, pois as despesas iniciais
com o extrator, resultavam no endividamento, através da
compulsoriedade do abastecimento do seringueiro n o barracão
(armazém) do dono do seringal, e da majoração dos preços dos
produtos.
O enganche era realizado também a custa de coerção física, por
parte de bolivianos que: ou possuíam seringais no Brasil, ou eram
contratados, para atrair os indígenas a esse s seringais. Cite -se como
exemplo, Dom Fermin Merizalde prefeito do Beni (o equivalente a
governador de estado no Brasil), que elaborou um relatório e o enviou
ao governo de La Paz, dando notícia que outro prefeito, que o
antecedeu, executou um massacre de indígenas, na praça central da
capital daquele departamento (Trinidad), e depois mandou 250 dos
sobreviventes para um seringal, de sua propriedade, no Brasil. Havia,
também, o caso da contratação do indígena aculturado e sua posterior
118

venda no país vizinh o. No caso dos grupos bravios, era utilizado o


recurso do combate e escravização. Respondendo à reação dos
indígenas, à invasão de seus territórios, o colono utilizava -se do terror,
massacres e mutilações eram instrumentos de intimidação.
Estima-se que já em 1858, somente no alto Madeira, havia uma
população de cinco mil pessoas. Essa população, cresceu muito após
os anos 60. Certamente, contribuiu para esse crescimento o elemento
indígena boliviano. Esse movimento populacional, de tão intenso,
tornou-se motivo de preocupações. Denúncias, contra o abuso do
transporte indiscriminado de indígenas para os seringais do Madeira,
foram levadas ao público pela imprensa, causando certa comoção na
Bolívia. O governo de La Paz, ciente do problema, preocupou -se, não
com as crueldades cometidas, mas com a descolonização da região
beniana, emitindo, em 1882, uma ordem de governo, que enviou ao
prefeito do Beni, mandando impedir o tráfico, sob o risco de ser
despovoada aquela região, já então a menos povoada da Bolívia.
Algumas evidências, demonstram a forte preocupação do governo
boliviano, em defender os interesses econômicos, localizados dentro de
seu território, ou seja, dentro do Beni. Por um lado, alertado para o
perigo do despovoamento e, conseqüentemente, da escass ez da mão-
de-obra, que migrava para os seringais no Brasil, o governo boliviano
proibiu o seu recrutamento, para o trabalho nos seringais brasileiros, o
que dificultou, aos seringalistas bolivianos situados no Madeira, a
obtenção de trabalhadores. Por outr o lado, a mesma lei evidencia a
importância da navegação da via Madeira -Amazonas, ao permitir, e
mesmo facilitar, o recrutamento de trabalhadores para aquele setor.
A Lei de 24 de novembro de 1883, orientada por um livre
cambismo completamente favorável à queles que exploravam a força de
trabalho indígena, tornou livres os contratos de recrutamento,
particularmente, aqueles relativos ao abastecimento de remeiros, para
a via Madeira-Amazonas. Ao contrário de abolir o enganche, a
legislação tendia a fortalece -lo. Apesar de, formalmente, a legislação
de 1883 defender o trabalhador indígena, ao considerar o aviamento
como uma simples dívida, que não sujeitava o trabalhador; proibir os
castigos físicos e ao limitar o contrato de trabalho, ao período de oito
meses, o processo de endividamento, e o poder de coerção dos
seringalistas, permitiam que o extrator ficasse sujeito, por período
indeterminado, sob o argumento formal da obrigação de pagar sua
dívida. Assim, a realidade do isolamento e da ausência do estado, n as
remotas regiões extrativistas, tornavam essa legislação letra morta. Nos
anos seguintes, ampliou -se o arcabouço legal que, formalmente,
protegia o indígena da exploração patronal. Em 1895, surge nova
legislação, liberando o seringueiro para abastecer -se fora do barracão
e impedindo a vinculação, do produto da extração do seringueiro, ao
adiantamento, em gêneros. No ano seguinte, outra legislação
estabelece, de forma contraditória, a matrícula do contratado ante um
tabelião.
As transformações legais, rela tivas ao trabalho do indígena,
ocorridas na Bolívia, durante o período áureo do extrativismo da
borracha, satisfaziam, plenamente, à demanda de mão -de-obra do
119

setor. Contudo, tendiam a defender os interesses econômicos


estabelecidos dentro de suas fronteir as. A intensificação da exploração
da goma elástica, no noroeste boliviano, a partir da década de 70 e o
seu surto, nos anos 80 do século XIX, aumentaram a demanda, de mão -
de-obra indígena, dentro do Beni e as medidas legais, aprovadas pelo
governo daquele país, vieram a dificultar o recrutamento, que vinham
fazendo os seringalistas do Madeira desde os anos 60.

Exercícios.

1. Como se realizavam os enganches?


R.
2. Que conseqüências teve o enganche de indígenas benianos para os
seringais do Madeira?
R.
3. Sistema de recrutamento de trabalhadores indígenas bolivianos feito
por agentes contratadores:
a) barracão.
b) toco.
c) concertage.
d) enganches.
e) aviamento.

4. Sobre a lei boliviana de 24 de novembro de 1883, que tratava do


indígena beniano, podemos dizer que
a) contrariava os interesses do setor de transporte no trecho
encachoeirado do rio Madeira.
b) regulava os contratos de recrutamento de trabalhadores.
c) considerava o aviamento uma simples dívida.
d) permitia castigar fisicamente os trabalhadores indígenas.
e) permitia que o contrato de trabalho do indígena fosse por tempo
indeterminado.

5. Sobre as transformações legais relativas ao trabalho indígena no


noroeste boliviano podemos dizer que:
a) tendiam a proteger os interesses econômicos do noroeste, na medida
em que dificultava a transferência de mão -de-obra indígena para o
Madeira.
b) visavam apenas regular os contratos de trabalho, na medida em que
havia uma oferta ilimitada de mão -de-obra.
c) surgiu com o crescimento da exploração da quina.
d) foi uma resposta ao crescente surto de ind ustrialização daquela
região.
e) facilitava os contratos de trabalho para o setor extrativista localizado
no Brasil.

Em resumo.

 A mão-de-obra indígena foi largamente utilizada pelos europeus na


América Espanhola desde o período colonial. No noroeste bolivia no,
120

durante o século XIX, intensificou -se a exploração dessa mão -de-obra,


na medida em que ocorreu a ocupação daquelas terras.
 Em 1831, durante o governo de Andrés de Santa Cruz foram
restabelecidos os direitos às terras comunais dos indígenas bolivianos
do altiplano. O mesmo direito não foi estendido às terras pertencentes
aos indígenas das terras baixas: Mojos, Yucararés e Chiquitos.
 Em 1851, foi abolida a encomienda e em 1864, com a ascensão do
General Melgarejo ao poder instalou -se uma política livre -cambista que
permitiu a ocupação das terras indígenas do Beni por grupos de
imigrantes brancos (carayanas).
 Os indígenas pagavam pesados tributos pela posse comunal de suas
terras. Esse tributo chegou a representar 60% da arrecadação do
governo boliviano. Co m a instalação do livre -cambismo e do direito de
se explorar e ocupar as terras indígenas esse imposto foi abolido na
década de 1880.
 A extração do látex nos seringais do alto Madeira, durante a 2ª
metade do século XIX foi feita principalmente por indígena s mojenhos.
Durante o século XIX ocorreram diversos levantes de indígenas do Beni
contra a dominação dos colonizadores. A resistência indígena implicou
em atos de rebelião armada fugas e alianças com colonizadores para o
combate contra outros povos indígen as. Na maior parte das vezes, os
indígenas eram subjugados e submetidos ao trabalho semi -escravo.
 A obtenção de trabalhadores para o alto Madeira ficava a cargo de
agentes recrutados. O processo de recrutamento chamava -se
enganche. O trabalhador recebia ad iantamento das despesas de
deslocamento e os gêneros necessários ao início da produção ( esse
processo é conhecido como aviamento no Brasil e na Bolívia chama -se
habilito). O enganche podia ocorrer de forma violenta e através da
prevaricação. Ocorria també m o caso de contratação de indígenas
aculturados e sua posterior venda no país vizinho.
 O habilito ou aviamento submetia o trabalhador ao patrão, enquanto
não fosse liquidada a dívida para com o barracão.
 O processo de enganche de indígenas benianos destin ados ao
Madeira chegou a ameaçar de despovoamento a região do Beni, o que
levou o governo boliviano a tomar providências. No entanto o
isolamento da região sempre dificultou a ação do Estado e facilitou a
exploração do trabalhador por parte dos grandes pro prietários e dos
agentes contratadores.
 Durante o século XIX e o seguinte continuou a ocupação dos
territórios indígenas que hoje compõem o estado de Rondônia.
 A intensificação da ocupação dessa região ocorreu em função da
busca de novos seringais nativos.
 No Madeira esse avanço encontrou nativos remanescentes da fuga
para o interior, ocorrida nos séculos anteriores.
 Como nos séculos anteriores o processo constitui -se pela reação do
nativo, e massacres e retaliações dos colonos.
 Durante a 2 a . Guerra a inten sa migração nordestina destinada a
satisfazer o novo crescimento da demanda de borracha para o mercado
norte-americano aumentou a ocupação dos territórios indígenas do
Madeira/Mamoré/Guaporé.
121

 Nas décadas seguintes a descoberta de metais e pedras preciosas,


de cassiterita e a abertura da BR -364 fez com que os territórios
indígenas fossem ocupados por grileiros e posseiros que promoviam
massacres para afugentar os nativos dessas áreas.
 Apesar de todo esse processo de destruição das populações nativas,
restam ainda na Amazônia mais de duas centenas de etnias que vivem
sob a jurisdição de quatro países diferentes.
 Práticas comuns no passado continuaram a fazer parte do cotidiano
da destruição material ou espiritual das culturas indígenas, como por
exemplo a denominação que os agentes do governo atribuem aos povos
contatados.
 Povos como os Omágua, Torá e Mura que são objetos da destruição
do conquistador desde o século XVI ainda sobrevivem em reservas
indígenas da Amazônia. Muitos dos remanescentes desses grupos
vivem já desaldeados, ou seja, nas cidades ou no campo.
122

Capítulo 8
Mão de obra para os seringais do alto Madeira

A obtenção da mão-de-obra para os seringais e o mecanismo de


expropriação do trabalhador direto.

Durante a segunda metade do século XIX, e m duas regiões


distintas do Brasil, o norte e o sul, havia, simultaneamente, forte
demanda de mão-de-obra. O crescimento da demanda do látex, nos
países que consumiam essa matéria -prima em suas indústrias,
estimulou o aumento da produção extrativa, o que f ez aumentar,
enormemente, a procura por mão -de-obra na região amazônica. Nos
estados do sudeste, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, firmava -
se a lavoura de café, monocultura que substituiu a decadente produção
do açúcar como maior produto de exporta ção brasileiro.
Contudo, a ampliação das áreas de monocultura cafeeira
dependia da força de trabalho do escravo negro, que naquele momento
sofria as restrições resultantes da pressão da Inglaterra, para que o
Brasil extinguisse o trabalho escravo. O govern o brasileiro,
gradualmente, aprovou leis que dificultavam o aumento do número de
escravos nas fazendas. A abolição do tráfico, a lei que tornava livres os
escravos nascidos após sua promulgação (Lei do Ventre Livre), a lei
que tornava livres os escravos qu e atingissem sessenta anos (Lei dos
Sexagenários) e, finalmente, na abolição da escravidão, forçaram à
elite cafeeira à busca de soluções para o problema da mão -de-obra. Os
efeitos das restrições, à ampliação do plantel de escravos foi,
primeiramente, suprido pela compra de escravos das regiões
açucareiras do nordeste. Com a abolição, o estímulo à imigração de
europeus foi o meio de suprir a necessidade dos cafezais.
Na Amazônia, a crescente demanda de trabalhadores, resultante
do aumento da procura extern a pela goma elástica, foi resolvida em
parte, inicialmente, pela migração intra -regional. Para as novas áreas
extrativistas do oeste amazônico, deslocaram -se as populações dos
antigos núcleos de colonização. Esse processo migratório, atingiu
proporções que chegaram a preocupar as autoridades do Pará, com a
perspectiva de descolonização daquelas regiões.
Mas o deslocamento de mão -de-obra das regiões tradicionais,
para as novas áreas extrativistas da Amazônia, não foi suficiente para
atender ao aumento de p rodução, à altura das necessidades do
mercado. Assim, o apresamento do índio continuou e até aumentou, no
último quartel do século XIX. Esses indígenas eram obrigados, pelos
donos dos seringais, à coleta do látex e de outros produtos da floresta.
Contudo, seu apresamento tornava -se cada vez mais difícil e era
insuficiente, para a demanda dos seringais.
Apesar de o movimento de nordestinos em direção à Amazônia,
para trabalharem nos seringais, datar das primeiras décadas do século
XIX, intensificou -se, com o aumento da demanda da matéria -prima e
com a pior seca do século (1879/80). Enquanto os cafezais do Sudeste
123

foram abastecidos com trabalhadores europeus, os seringais da


Amazônia receberam trabalhadores nordestinos, que para lá migraram,
de forma espontân ea ou induzida, com a ajuda de deslocamento
fornecida pelo Governo Brasileiro, principalmente em função de fortes
secas que assolaram o nordeste no final do século passado.
Resolvida a questão do abastecimento de mão -de-obra para o
crescente setor extrati vista, resta examinar o mecanismo de exploração
dessa mão-de-obra. A queda da produção regional de alimentos,
simultaneamente ao aumento da demanda de produtos primários, é
ocorrência típica das regiões monocultoras e de extrativismo intensivo,
e foi um dos maiores problemas na região amazônica. Destarte, o
desabastecimento, no auge do primeiro ciclo da borracha, foi a
culminância do crescimento, ao longo de várias décadas do século XIX,
do aumento da demanda de matéria -prima. Há, porém, no caso da
borracha, um elemento que não pode ser ignorado, pois se vincula
intimamente à questão do desabastecimento: o aumento da demanda
externa ocorreu, simultaneamente, com o processo de intensificação da
exploração da mão -de-obra. Essa dinâmica é comum também nas áreas
monocultoras, contudo resultou, na Amazônia, no aperfeiçoamento e
domínio de uma forma típica de apropriação do excedente do trabalho,
conhecido como sistema do barracão.
O fenômeno pode ser simplificado da seguinte forma: um motor
externo à região, o aum ento da demanda de matéria -prima, faz com que
o seringalista exija que o seringueiro dedique, crescentemente, seu
tempo na extração; o seringueiro, gradualmente, vai abandonando a
lavoura de subsistência e passa a adquirir, cada vez mais, produtos no
barracão do seringalista; a produção aumenta e o seringalista, em face
da crescente dependência do seringueiro em abastecer -se no barracão,
majora os preços. Como conseqüência dessa majoração, a produção do
seringueiro nunca é suficiente para liquidar as dívida s. Acrescente-se
que o preço pago pela borracha extraída pelo seringueiro é manipulado
pelo seringalista. Assim, a resultante final é que o produtor direto fica
preso ao seringalista pela dívida, prisão evidentemente garantida, não
pela honra ao compromiss o, mas por mecanismos de coerção física.
Dois pressupostos necessários ao esquema da borracha estão
satisfeitos, aumentou -se a produção e garantiu -se a continuidade do
processo de extração, ao prender o extrator à produção através do
endividamento. Uma ter ceira conseqüência, não menos importante, é
que se garantiu também, pelo mesmo processo, o aumento do
excedente apropriado pelo seringalista.
Ao contrário do conhecimento comum, o abastecimento de
gêneros alimentícios não provinha todo de áreas externas à região
extrativista, mas havia um setor econômico interno dedicado à
produção de alimentos, o que permitia estabelecer uma estratégia de
aquisição dos produtos, destinados ao abastecimento das regiões
produtoras da borracha, vinculada a diversos fatores ec onômicos e
geográficos. Por exemplo: nas regiões mais próximas às nascentes dos
afluentes do alto Amazonas e, particularmente, no alto Madeira, em
função do seu trecho acidentado, onde o abastecimento externo de
produtos do Pará e do exterior era mais prec ário por causa das
124

distâncias, antes do estabelecimento das linhas de navegação à vapor,


procurava-se a região produtora de alimentos mais próximas, não
necessáriamente dentro do país. Assim é que, o abastecimento do
trecho encachoeirado, e talvez de boa p arte do alto e médio Madeira,
por volta de 1868, era feito com gêneros produzidos nos departamentos
bolivianos de Pando e Beni. Produtos da agricultura e pecuária,
queijos, gado, couros e aguardente daquela região rica em planícies,
eram comprados ou até m esmo trocados por indígenas escravizados
pelos brasileiros que atravessavam a fronteira para esse fim.

Exercícios.

1. Como era feito o abastecimento dos seringais do Madeira?


R.

2. Como funcionou o sistema de barracão?


R.

3. Como eram realizados os trabalhos nos dois grande centros


produtores do Brasil na segunda metade do século XIX?
R.

4. A partir de que período passa a predominar o uso da mão -de-obra


nordestina nos seringais amazônicos?
R.
125

5. Que conseqüências teve a entrada dos nordestinos na Amazônia?


R.

A mão-de-obra indígena no período áureo da borracha.

A partir da segunda metade do século XIX, a Amazônia inicia a


sair da letargia econômica, que sempre caracterizou os períodos que
intermediaram os gran des surtos extrativistas daquela região. O
crescimento da demanda de matéria -prima, para a indústria da borracha
da Europa e E.U.A., intensificou a necessidade de mão -de-obra na
região, tornando mais difícil a manutenção da liberdade do indígena.
Dois processos simultâneos ocorreram então: a ampliação da
conquista, sobre as áreas ainda de domínio indígena, com a abertura
de novos seringais, que iniciavam por espalhar -se pelos rios mais
remotos da Amazônia; e a intensificação do combate ao indígena, tanto
para expulsá-lo das mediações das novas áreas de extrativismo, como
para escravizá-lo ao seringal. Tanto o indígena do território boliviano
como aqueles do território brasileiro foram vitimados por esse surto
extrativista.
Ao realizar a segunda tentativa, d e construção da ferrovia
Madeira-Mamoré (1878), que contornaria o trecho encachoeirado do rio
Madeira, facilitando o comércio com o Noroeste boliviano, os norte -
americanos encontraram a região do alto Madeira, ocupada por
bolivianos que praticavam o extrat ivismo do látex. A expedição, serviu -
se de remadores indígenas, provenientes da Bolívia, e os contatos, no
trecho encachoeirado do Madeira foi, com exceção dos trabalhadores
recrutados nos E.U.A, quase que exclusivamente, com bolivianos. Essa
mão-de-obra era, à época da expedição, indispensável no Madeira,
além de remar esses indígenas se encarregavam de todo o trabalho
126

braçal: carregar as mercadorias e arrastar as embarcações por terra,


para contornar os acidentes do rio; levantar os acampamentos, cozinhar
e servir as refeições. Em Santo Antônio, era esse indígena também a
força de trabalho predominante, conduzindo os fardos, dos vapores até
as canoas que seguiam rio acima, pelo trecho encachoeirado, ou vice -
versa. Eram, também, os construtores das edificaç ões da promissora
vila e moradores de sua periferia.
Os administradores públicos do Beni, tinham poder para recrutar
esses indígenas, e enviá -los ao Madeira. A remuneração desses nativos
era irrisória: um pequeno salário ou o pagamento em tecidos, roupas e
armas. Como no Beni, o indígena que migrava para o Madeira, estava
sujeito ao abusos e maltratos por parte dos patrões. Os maltratos ao
indígena transportado, pelo artifício do engodo ou pela força, contavam
com a colaboração, ou conivência, das autorida des brasileiras,
interessadas em manter a produção da borracha à pleno vapor o que
não ocorreria, sem o concurso de uma mão -de-obra extremamente
submissa à exploração. Em 1878, o presidente da província do
Amazonas subiu o Madeira, chegando até Santo Antôn io, onde teve
notícias do tratamento cruel dado aos trabalhadores, principalmente os
indígenas. Tais castigos, eram perpetrados mesmo em Santo Antônio.
As autoridades, não somente ficavam indiferentes às agressões como
freqüentemente auxiliavam os seringal istas a capturar o trabalhador
que fosse embora do seu posto de trabalho.
Outras possibilidades de obtenção de trabalhadores eram
sugeridas. Em 1866, Tavares Bastos considerava viável a absorção de
imigrantes ilhéus, espanhóis e portugueses, supunha mesmo a
Amazônia como espaço privilegiado, no Brasil, para a imigração norte -
americana. Contudo era o indígena a opção imediata. Já Na segunda
metade do século XIX Pimenta Bueno (1803 -1878) declarava a
dificuldade em fazer valer as normas imperiais, relativas à propriedade
fundiária, em vista do pouco valor da terra em relação à mão -de-obra.
Nas décadas seguintes, a situação continuava semelhante. Em 1866,
Tavares Bastos denunciou a ação de brasileiros na captura dos
indígenas Miranha, que viviam nos rios Japurá e Içá, no território de
Nova Granada..
Assim, apesar dos projetos de arregimentação de trabalhadores
estrangeiros, o braço indígena continuou a predominar no extrativismo
da goma elástica, até o último quartel do século XIX, quando a grande
seca no Ceará propiciou condições para a arregimentação de
nordestinos, para os seringais do Madeira e do Purus. Contudo, mesmo
durante o período áureo, situado entre 1880 e 1912, o braço indígena
continuou sendo largamente usado, nas várias atividades da indústria
extrativista. A grande migração nordestina, a partir do ano de 1879, deu
à população amazônica a sua feição final.

Exercícios.

1. Qual o fator que provocou o aumento da demanda de mão -de-obra


na Amazônia após a segunda metade do século XIX?
a) a letargia econôm ica em que se encontrava a Amazônia.
127

b) o estabelecimento de indústrias de pneumáticos na região.


c) a conquista de novas áreas indígenas.
d) o crescimento da demanda de borracha pelo mercado internacional.
e) a abertura do noroeste boliviano à navegação.

2. Em 1866 denunciou a ação de brasileiros na captura dos indígenas


Miranha, que viviam nos rios Japurá, no território de Nova Granada,:
a) Jonatas Pedrosa.
b) Tenreiro Aranha.
c) José de Alencar.
d) Plácido de Castro.
e) Tavares Bastos.

3. Qual era a posição das autoridades brasi leiras no alto Madeira em


relação aos maltratos dispensados aos indígenas?
R.

4. Para resolver a questão da demanda de mão -de-obra no Vale


Amazônico Tavares Bastos sugeriu:
a) a intensificação do apresamento do indígena.
b) a adoção do trabalhador escra vo.
c) o estabelecimento de relações de trabalho servis.
d) a absorção de trabalhadores de outros países.
e) a libertação dos escravos negros do sul do país e sua transmigração
para a Amazônia.

5. Que fator propiciou o abundante abastecimento de mão -de-obra não


indígena para a Amazônia?
a) o recrutamento de trabalhadores no noroeste boliviano.
b) a vinda de um enorme contingente de trabalhadores europeus.
c) a grande migração nordestina a partir de 1879.
d) a compra de escravos negros.
e) a oferta de salários atraentes no setor e xtrativista.

Em resumo.

 O crescimento da procura pela borracha amazônica durante a


segunda metade do século XIX levou a uma crescente exploração da
reduzida e insuficiente mão -de-obra local. Caboclos e tapuios eram
recrutados, muitas vezes violentamente para o trabalho nos seringais.
128

 Como disponibilidade de mão -de-obra era insuficiente, utilizou -se


largamente da escravização e comercialização de indígenas capturados
ou comprados pelos regatões para o trabalho nos seringais: A
utilização da mão -de-obra nordestina na Amazônia já era observada
desde as primeiras décadas do século XIX, no entanto ela ganhou
maior relevância a partir da grande seca que flagelou o Nordeste entre
1877 e 1879.
 Os nordestinos penetraram nos seringais acreanos, então
pertencentes à Bolívia e calculou -se que em 1900 já existiam 60.000
brasileiros no Acre. Por outro lado era intensa a presença de
seringueiros bolivianos no alto Madeira.
 Durante muitos anos, os seringais do Madeira possuíam lavouras e
gado para seu próprio sustento. Con tudo o aumento da demanda pela
borracha, fez com que os trabalhos agrícolas fossem abandonados,
passando-se a importar tudo de outras regiões ou de outros países. Ao
redor de Belém e nas zonas de extrativismo já esgotados, floresceu a
atividade agrícola qu e forneceu os gêneros necessários aos seringais,
os produtos industrializados vinham, principalmente, da Europa e dos
EUA.
 Nos seringais o sistema de aviamento ou barracão concedia crédito
ao trabalhador que deveria pagar suas dívidas com produção. Dessa
forma manteve-se sempre o trabalhador endividado e preso ao seringal
 O auge do desabastecimento dos seringais ocorreu entre 1880 e
1915, o que corresponde ao período áureo da extração da borracha no
Brasil.
 No Vale do Madeira os seringais empregaram largame nte a mão-de-
obra boliviana. No entanto os trabalhos desses indígenas do Beni eram
utilizados mesmo em Manaus, Serpa, Manicoré e Humaitá. Preferia -se
o indígena boliviano ao brasileiro, pois ele era considerado mais dócil,
higiênico e trabalhador.
 A mão-de-obra indígena (brasileira e boliviana) foi largamente
utilizada nos seringais brasileiros mesmo durante o século XX.
129

Presidentes da Província do Amazonas durante o Império.


Posse - Nome.
1852 - João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha.
1853 - Herculano Ferreira Pena.
1856 - João Pedro Dias Vieira.
1857 - Ângelo Tomás do Amaral.
1857 - Francisco José Furtado.
1860 - Manuel Clementino Carneiro da Cunha.
1863 - Sinval Odorico de Moura.
1864 - Adolfo de Barros Cavalcânti de Albuquerque de Lacerda.
1865 - Antônio Epaminondas de Mello.
1867 - José Coelho da Gama Abreu.
1868 - Jacinto Pereira Rego.
1868 - João W ilkens de Matos.
1870 - José de Miranda da Silva Reis.
1872 - Domingos Monteiro Peixoto.
1875 - Antônio dos Passos Miranda.
1876 - Domingos Jaci Monteiro.
1877 - Agesilau Pereira da Silva.
1878 - Inocencio Eustaquio Ferreira de Araújo.
1879 - José Clarindo de Queirós.
1880 - Sátyro de Oliveira Dias.
1881 - Alarico José Furtado.
1882 - José Lustosa da Cunha Paranaguá.
1884 - Theodoreto Carlos de Faria Sout o.
1884 - José Jansen Ferreira Júnior.
1885 - Ernesto Adolpho Vasconcellos Chaves.
1887 - Conrado Jacob de Niemeyer.
1888 - Francisco Antônio Pimenta Bueno.
1888 - Joaquim Cardoso de Andrade.
1889 - Joaquim de Oliveira Machado.
1889 - Manuel Francisco Mach ado.
130

Capítulo 9
A questão Acreana e a construção da E.F.M.M.

Os antecedentes e a Rebelião Acreana.

Na virada do século XIX os rios da Amazônia Ocidental estavam


sendo intensamente ocupados. Os seringais produziam enormes
quantidades da goma elástica para a exportação e os nordestinos
continuavam chegando para abastecer de mão -de-obra o mercado. No
Madeira, avançava a população brasileira sobre trechos que antes eram
habitados quase que exclusivamente por bolivianos. No Acre, região
reconhecida pela diplomacia brasileira do império e início da república
como inquestionavelmente boliviana, o avanço brasileiro sobre os
seringais iniciava a ocasionar conflitos.
A conjunção de vários fatores vieram a resultar na rebelião dos
brasileiros que ocuparam a regiã o do Acre, contra a soberania territorial
boliviana. Era o Acre então a maior região produtora da goma elástica
do mundo; a borracha dali exportada era produzida por uma população
maioritariamente brasileira. Apesar de o governo brasileiro ter
reconhecido no Tratado de Ayacucho (1867) os direitos da Bolívia sobre
aquela região, não haviam marcos de fronteira naquele setor que
permitissem o estabelecimento das lindes, restando dúvidas em relação
ao final do território brasileiro e início do território bolivi ano. O controle
quase nulo daquele espaço de fronteiras pelo governo boliviano
permitiu ao Estado do Amazonas estabelecer ali sua jurisdição,
inclusive e principalmente no que se refere a cobrança de impostos,
resultando daí que, apesar do território perte ncer à Bolívia parte dele
era regulado por leis brasileiras. A tentativa de controle daquele espaço
pelo governo boliviano, no final do século, gerou atritos entre os
funcionários do governo daquele país e a população brasileira ali
residente. A ação do go verno boliviano contrariou também os interesses
fiscais dos estados do Pará e Amazonas e os interesses comerciais das
casas aviadoras daqueles estados, que passaram a apoiar as
aspirações separatistas dos acreanos.
Somente alguns anos após à assinatura do Tratado de Ayacucho,
os governos do Brasil e da Bolívia tomaram a iniciativa que permitiria o
estabelecimento dos marcos da fronteira. A comissão, chefiada em
1874 pelo Barão de Tefé (1837 -1931), para estabelecer os limites entre
o Brasil e o Peru, não co nseguiu chegar às nascentes do Javari. Em
1877, reuniu-se uma comissão brasileiro -boliviana para, a partir da
junção do Beni com o Mamoré (Villa Bella) fincar os marcos de limites
no rio Madeira. O marco foi erigido na cachoeira do Madeira, próximo
àquela localidade e daí seguiria para a nascente do Javari, quando
fosse descoberta.
Em 1895 os ministros da relações exteriores da Bolívia, Frederico
Diez Medina, e do Brasil, Carlos Augusto de Carvalho, assinaram um
protocolo onde a Bolívia aceitava as conclus ões da comissão brasileiro -
peruana sobre a nascente do Javari. No mesmo ano formou -se uma
131

comissão mista para dar prosseguimento as demarcações. O Coronel


Gregório Taumaturgo de Azevedo (1851 -1921), que dirigia o grupo
brasileiro de demarcação, supondo que a nascente do Javari estava
situada mais ao sul, discordou do referido protocolo. Voltando ao Rio
de Janeiro o Coronel expôs à opinião pública seus argumentos.
Segundo ele, a aceitação da decisão da comissão mista implicaria em
que o Brasil perderia o rio Acre, Yaco, alguns afluentes do Juruá, talvez
do Jutaí e do Javari, justamente a região que fornecia a maior
quantidade de borracha naquela zona. Premido pela opinião pública o
chanceler Dionísio Cerqueira (1847 -1910) suspendeu a demarcação,
determinando que se verificasse a exata nascente do Javari.
Finalmente, no ano seguinte, a comissão mista brasileiro -
boliviana reuniu-se em Caquetá, na margem direita do rio Acre, fixando
ali o primeiro marco daquela comissão. Em 1898 Dionísio Cerqueira
autorizou a criação de uma alfândega boliviana em Porto Acre, e
informou ao Governador do Amazonas, Ramalho Júnior., que o aceite
para a criação de uma alfândega boliviana no rio Acre justificava -se por
ser o território incontestavelmente boliviano.
Mantendo-se ainda incógnita a nascente do Javari, Brasil e
Bolívia subscreveram em 1899 um novo acordo determinando a sua
descoberta. Por este acordo concordava o Brasil com o
estabelecimento de uma aduana em Puerto Alonso, no rio Acre,
comprometendo-se a Bolívia a recuar a alfândega, se estivesse em
território brasileiro, quando se definisse finalmente os limites entre os
dois países. Nesse mesmo ano surgiu "O Rio Acre", de autoria de
Serzedelo Corrêa (1858 -1932), político paraense e deputado por aquele
Estado na Câmara Fede ral. No livro Serzedelo sustentava a
interpretação, conveniente aos interesses de Belém e Manaus mas
absurda considerando -se o sentido do Tratado de 1867, de que a partir
da nascente do Madeira a fronteira correria paralela à latitude 10 o 20’
até o ponto em que encontrasse o meridiano que passa pela nascente
do Javari.
Tanto a interpretação do Coronel Taumaturgo quanto a do
Deputado Serzedelo Corrêa baseavam -se em suposições. Apesar de
ser uma interpretação conveniente aos interesses territoriais nacionais
era equivocada. O tratado de 1867 não deixava margem à dúvidas pois
determinava que da nascente do Madeira: ". para oeste seguirá a
fronteira por uma paralela tirada de sua margem esquerda, na latitude
10o 20’ até encontrar as nascentes do Javary ."
Porém continha uma salvaguarda: ". se o Javary tiver suas nascentes ao
norte daquela linha leste -oeste partirá a fronteira, desde a mesma
latitude, por uma reta a buscar a origem principal do Javary ."
As condições para a rebelião da população brasileira na zona d o
rio Acre estavam colocadas: o estabelecimento da aduana foi o estopim
da primeira revolta e a interpretação de Serzedelo Corrêa foi o seu
argumento de justificação. Situada entre os seringais Riosinho e
Caquetá, a alfândega de Puerto Alonso vinha facilit ar a coleta de
impostos pelas autoridades bolivianas, ação de difícil execução na
aduana de Villa Bella, no rio Beni pouco abaixo de sua confluência com
o Mamoré, em função da distância da principal zona de produção
132

gomífera, o Acre. A instalação do Delega do Nacional Boliviano em


Puerto Alonso, em 1899, acompanhado de um contingente militar de 40
homens, fez cessar a autoridade do Superintendente e do Juiz de
Direito da Comarca de Floriano Peixoto, autoridades ali instaladas pelo
Governo do Amazonas.
Os habitantes da região do Acre que viveram livres de impostos
tinham agora que se entender com a fiscalização boliviana. Além disso
a criação da aduana de Puerto Alonso resultava em que o Estado do
Amazonas, que havia estendido sua jurisdição sobre aquela área,
perderia rendas derivadas do escoamento da produção gomífera do
Acre.
Em 1899, alguns meses após instalada a alfândega boliviana,
iniciou-se a primeira tentativa separatista, conspirada no seringal
Caquetá, de Joaquim Vítor. José de Carvalho, que fora Se cretário do
Superintendente do Estado do Amazonas em Floriano Peixoto (Acre),
dirigiu-se a Puerto Alonso e intimou os funcionários bolivianos a saírem
do território do Acre. O embaixador boliviano no Rio de Janeiro, D. Luiz
Salinas y Vega, enviou ao Acre u m aviso de guerra para desalojar os
sediciosos.
Contudo um incidente veio a precipitar o recrudescimento da
rebelião dos brasileiros no Acre. Paralelamente à instalação da
alfândega boliviana, D. José Paravicini entabulava um acordo com o
governo dos E.U.A. No mesmo ano da instalação da alfândega em
Puerto Alonso, foi entregue a um funcionário do consulado da Bolívia
em Belém um documento para ser vertido para o inglês. Tratava -se da
minuta de acordo diplomático assinada pelo cônsul da Bolívia no Pará
(Luiz Trucco), pelo ministro da República da Bolívia e Enviado
Plenipotenciário (José Paravicini) e pelo cônsul dos EUA (Kennedy). O
documento previa a gestão do governo norte -americano junto ao
governo brasileiro para que este reconhecesse os direitos da Bolí via
aos territórios do Acre, Purus e Iaco, ocupados segundo o acordo de
1867. O mais grave porém é que os E.U.A comprometiam -se a apoiar a
Bolívia, em caso de guerra com o Brasil.
Luiz Galvez Rodrigues de Arias, um espanhol que era funcionário
do consulado da Bolívia em Belém, ciente das conseqüências desse
acordo para Manaus, dirigiu -se àquela capital. onde informou ao
presidente da província sobre os termos da minuta. Galvez então,
apoiado oficiosamente pelo presidente da província do Amazonas,
dirigiu-se ao Acre com armas, munições e 1.000 contos de réis.
Chegando ao Acre assumiu a liderança do movimento e proclamou a
República Independente do Acre, que tinha como limites setores dos
rios Juruá, Purus, Acre e Beni.
Alguns dirigentes revolucionários, dent re eles Galvez, o líder dos
rebeldes, julgavam que o Acre poderia ser um estado independente,
dada a distância em que se encontrava dos poderes centrais, tanto do
Brasil como da Bolívia. Essa pretensão contava com a oposição do
comércio de Belém e Manaus, que naquele momento temiam que o
movimento separatista viesse a prejudicar seus interesses na região; os
governos do Brasil e da Bolívia e também alguns seringalistas que,
opondo-se a esse intento, formaram uma Comissão Garantidora dos
133

Direitos Brasileiros , recusando-se a aderir ao movimento. A crescente


oposição resultou que Galvez publicasse um decreto de estado de sitio
e ordem de prisão dos elementos contrários ao Estado Independente.
A insatisfação em relação a Galvez foi crescendo até que, em
dezembro do mesmo ano, o Coronel Antônio de Souza Braga
proprietário dos seringais, Riosinho e Benfica, foi aclamado e
empossado no governo e Galvez deposto e ordenada sua prisão. O
aparente despreparo e a falta de vontade de Antônio Braga de
continuar na chefia do governo, fizeram com que Hipólito Moreira,
Joaquim Vítor e Rodrigo de Carvalho articulassem o retorno de Galvez
ao poder, o que ocorreu pacificamente um mês depois de sua
deposição. Contudo, o Estado Independente do Acre vivia seus últimos
momentos. No mês de março de 1900 chegou ao Acre uma força
expedicionária do Exército enviada pelo Governo Brasileiro, extinguiu o
Estado Independente, prendendo Galvez, conduzindo -o a Manaus.
Contudo, as aspirações separatistas permaneciam. Articulava -se
um novo governo rebelde sob a presidência de Gentil T. Norberto ao
mesmo tempo em que foi organizado em Manaus um grupo de apoio,
autodenominado Expedição Floriano Peixoto. Chegando ao Acre, esse
grupo, logo no primeiro combate contra os bolivianos, os
expedicionários foram fragorosamente derrotados abandonando
diversos armamentos leves, munição e ainda um canhão e uma
metralhadora. Quanto ao governo independente, no dia 4 de janeiro o
vapor Rio Afuá atracou em Riosinho, onde se defendia a guarnição
boliviana, levando a proposta de rendição dos chefes revoltosos, sob a
condição de anistia geral. Com o aceite do Ministro da Guerra
boliviano, que comandava a guarnição, o vapor retornou a Empresa.
Informados da aceitação os rebeldes assinaram o documento de
rendição.

Exercícios.

1. Dentre os fatores que vieram a resultar na rebelião dos acreanos não


podemos destacar:
a) o Acre era uma das maiores regiões produtoras de borracha do
mundo.
b) a borracha era produzida na região do Acre por uma população
predominantemente boliviana.
c) os marcos de limites entre o Brasil e a Bolívia eram inequívocos.
d) o governo boliviano havia estabelecido uma vigorosa política de
colonização na região.

2. A qual dos fatores abaixo pode ser atribuído o fato de que em 1899
não haviam sido estabelecidas clar amente as fronteiras entre os dois
países na região do Acre?
a) O desinteresse do governo brasileiro em estabelecer definitivamente
a fronteira naquela região.
b) Aos golpes de estado na Bolívia que impediam o assentamento dos
marcos de fronteira.
c) A invasão de seringueiros brasileiros no Acre.
134

d) A incógnita quanto a nascente do rio Javari.

3. Motivou a ação de Galvez no Acre:


a) o contrato de arrendamento com o Bolivian Syndicate.
b) a minuta de acordo diplomático entre o Brasil e os EUA.
c) a expedição militar comandada p elo General Pando.
d) a expedição do Tenente Porter.

4. Explique os resultados do estabelecimento da aduana em Puerto


Alonso?
R.

5. Qual era o teor da minuta de acordo diplomático entre os EUA e a


Bolívia elaborada em 1899?
R.

A anexação do Ac re ao Brasil.

Entre 1892 e 1898 o Coronel José Manuel Pando, presidente da


Bolívia durante o conflito do Acre, comandou uma expedição ao
Território de Colônias para explorá -lo. Retornando a La Paz Pando
alertou ao governo de seu país quanto ao perigo que a penetração
brasileira representava para o noroeste boliviano, cuja ocupação e
integração passou a ser motivo de constante preocupação para aquele
governo. No entanto a solução para o problema encontrava vários
obstáculos: havia a dificuldade de acesso à região a partir dos Andes;
do pouco excedente populacional, concentrado na região andina; e da
pouca disponibilidade de recursos para aplicar na área, dado que a
elite econômica da Bolívia continuava vinculada ao setor minerador.
A solução encontrada para superar o isolamento da região
foi encontrar um grupo de capitalistas que, consorciados, pudessem ali
investir criando condições para sua efetiva colonização. A concessão,
nos moldes daquela que seria oferecida ao Bolivian Sindicate, chegou a
135

ser oferecida a um grupo de industriais e capitalistas brasileiros, e o


representante desse grupo, o Coronel Rogério Guanabara reuniu -se
com autoridades bolivianas, em julho de 1900, no rio Orton. O projeto
porém não foi aprovado pelo governo Boliviano. Dessa forma, e m 11 de
junho de 1901 foi firmado em Londres o contrato de arrendamento do
Acre, sendo signatários o ministro plenipotenciário da Bolívia, e o
representante do Bolivian Syndicate of New York City. Curiosamente a
presidência do truste foi dada ao primo do p residente Theodore
Roosevelt, então presidente norte -americano. Pelo contrato foi admitido
ao Bolivian Syndicate poderes absolutos de administração fiscal e
policial, monopólio da exploração econômica do território e, inclusive,
poderes para manter exércit o e pequena esquadra. Dentro da Bolívia
haviam temores de que, aproveitando -se dessa larga concessão de
terras e dos privilégios concedidos, os norte -americanos pudessem
futuramente agredir a sua soberania territorial. Os termos do contrato
com o Bolivian Syndicate foram motivo de acaloradas discussões,
dentro do congresso daquele país, que resultaram na alteração de
algumas de suas partes.
A notícia do contrato de arrendamento da região acreana foi
recebida com preocupação pelos brasileiros ali residentes, entre eles
um gaúcho José Plácido de Castro (1873 -1908) que trabalhava na
demarcação de seringais. Ao receber um pacote de jornais de La Paz
que traziam a íntegra do contrato entre o Governo boliviano e o Bolivian
Syndicate, além da notícia de aprovação d o contrato pelo congresso
boliviano, supôs que aquele seria um precedente perigoso na medida
em que abriria caminho para futuras intervenções norte -americanas na
Amazônia, podendo resultar inclusive em ofensa à soberania brasileira.
Não estava destituído d e razões, a concessão ao Bolivian Syndicate
criaria uma situação perigosa, se considerados os fatos recentes. O
incidente de 1850, o protocolo de 1899, que motivou a ação de Galvez,
e a recente intervenção dos EUA em Cuba, que culminaram com a
anexação das Filipinas, de Guam e de Porto Rico permitiam tais
previsões, aliás confirmadas pelas ações militares do governo dos EUA
na América Central e do Sul após o ano de 1901. Aliado à população
brasileira residente na região do Acre, Plácido de Castro proclamou a
República Independente do Acre, o que significou declarar guerra à
Bolívia. Após derrotar as poucas e mal abastecidas tropas bolivianas
aquarteladas naquela região efetivou -se o domínio rebelde.
Quando o governo brasileiro se manifestou publicamente a
respeito do assunto pela primeira vez, através do Ministro dos Negócios
Exteriores, o barão do Rio Branco (1845 -1912), demonstrou
preocupação semelhante a de Plácido de Castro. Assim é que, em 24
de janeiro de 1903, o barão do Rio Branco enviou circular tele gráfica
dirigida aos jornais de La Paz. Afirmava que a concessão era uma
monstruosidade legal porque implicava na alienação parcial da
soberania do estado sobre um pedaço do território boliviano a uma
companhia estrangeira sem personalidade internacional. Ressaltou que
a região era habitada unicamente por brasileiros. A chancelaria
brasileira mudou repentinamente sua posição quanto ao fato de ser
aquele território inquestionavelmente boliviano, e passou a considerá -lo
136

área em litígio entre as duas nações. A lém da desconfiança quanto à


concessão, essa mudança pode ser entendida em função das pressões
da população brasileira por autonomia e dos interesses fiscais e
comerciais brasileiros no Acre.
O governo brasileiro soube bem explorar o contrato de concessão
no sentido de articular aliados potenciais, pois a possibilidade do
estabelecimento de um enclave imperialista na Amazônia era
considerada perigosa, particularmente para o Peru que seria seu
vizinho. Um protesto formal foi enviado ao governo de La Paz em
agosto de 1902, atitude reforçada pela retirada do cônsul brasileiro em
Puerto Alonso e pelo embargo de mercadorias da ou para a Bolívia,
pela via do Amazonas. Esse embargo embaraçava as atividades do
sindicato pois esse era o acesso mais rápido via oceano para a área da
concessão, ficando os equipamentos destinados à instalação do
sindicato retidos no porto de Belém. As atitudes do governo brasileiro
foram apoiadas pela maioria dos governos latino -americanos.
Contrariamente, representantes da Inglaterra, F rança, Alemanha, Suíça
e E.U.A protestaram contra os prejuízos causados pelo embargo. Os
comerciantes de Belém, que até então não apoiavam as tentativas de
rebelião no Acre, passaram a incitar a opinião pública, chegando
mesmo três das maiores casas aviado ras de Belém a enviar seus
reclamos ao Presidente Rodrigues Alves.
A reação contrária que o contrato despertara na maioria dos
vizinhos latino-americanos fez com que a Bolívia propusesse ao
sindicato a rescisão do contrato, que foi terminantemente recusad a sob
o argumento de que o prazo para o início dos trabalhos da concessão
ainda não havia esgotado. Recusada a proposta brasileira de comprar o
Acre o governo boliviano enviou, desde La Paz até a região do Acre,
um contingente de 1.100 homens comandados pe lo próprio presidente
da república o General. Pando. O Brasil também enviou tropas ao Acre
e dessa maneira visualizava -se um conflito internacional, não se
descartando, inclusive, a participação do Peru, aliado ao Brasil.
Em 26 de fevereiro de 1903 o gove rno brasileiro comprou por
110.000 libras os direitos, interesses e ações do Bolivian Syndicate. Na
verdade a compra foi mais uma satisfação dada aos países que tinham
interesse na empresa, os E.U.A e a Inglaterra. Isto porque o acordo
com a Bolívia proibia ao concessionário a transferência da concessão a
outro governo. Além disso, faltavam apenas oito dias para o contrato
caducar por não cumprimento, dado o embargo exercido desde o porto
do Pará, também em fevereiro de 1903 o embargo sobre a navegação
estrangeira no Amazonas foi suspenso. O que o Brasil fez na verdade
foi indenizar o sindicatos por perdas estimadas, embora formalmente
tenha comprado e posteriormente dissolvido a empresa.
O fato é que o conflito foi resolvido pelos dois países por via
diplomática. Em maio de 1903 o governo brasileiro, através do decreto
no. 4832, assinado pelo presidente Rodrigues Alves (1848 -1919),
autorizou a abertura de crédito extraordinário no valor de
2.366:270$2200 para ser convertida, ao câmbio da época, em 114.000
libras esterlinas destinadas a indenização ao Bolivian Sindicante. A
Bolívia, por sua vez, também indenizou o sindicato. Em 17 de novembro
137

do mesmo ano foi assinado o Tratado de Petrópolis, entre o Brasil e a


Bolívia, no qual este último país renunciava aos direitos sobre o
território em litígio mediante o pagamento, pelo beneficiário, de uma
indenização de 2.000.000 de libras esterlinas. O artigo VII daquele
tratado obrigava ao Brasil a construir uma ferrovia que contornasse o
trecho encachoeirado do rio Mad eira, exigência do governo boliviano
para que fossem sanados os problemas de transporte naquela área.
Essa ferrovia teria seus extremos em Santo Antônio, no rio Madeira e
em Guajará-Mirim, no rio Mamoré, com um ramal até Vila Murtinho,
próximo à confluência do Beni com o Mamoré, para facilitar o transporte
de mercadorias de Villa Bella (Bolívia). Ainda, no que tange ao espaço
que hoje ocupa o estado de Rondônia, o delta do Madeira, formado
pelos rios Beni e Mamoré retornou ao território da Bolívia.
Curiosamente, não se encontrou registros de interferência norte -
americana nos moldes previstos pela minuta de 1899. É possível que
por essa época os Estados Unidos, ocupado por inúmeras intervenções
na América Central, não estivesse disponível para tratar com mais
cuidado dos interesses do Bolivian Syndicate.

Exercícios.

1. A Bolívia, apesar de alertada desde o final do século dos perigos


que a penetração brasileira representavam para sua soberania
territorial, encontrava dificuldades para colonizar a região do A cre.
Dentre essas dificuldades não podemos assinalar:
a) a dificuldade de acesso à região a partir dos Andes.
b) o pouco excedente populacional, concentrado na região andina.
c) a insuficiência de recursos para aplicar na área.
d) a ação dos brasileiros que impediam a efetivação da colonização
boliviana do Acre desde 1860.

2. Através do contrato de arrendamento da região do Acre, estabelecido


com o Bolivian Sindicante, a Bolívia não concedia:
a) poderes de administração fiscal.
b) monopólio da exploração econômica.
c) poderes para manter exército e pequena esquadra.
d) poderes para legislar em matéria fiscal e criminal.

3. O contrato de arrendamento da região do Acre provocou:


a) uma nova insurreição de brasileiros na região liderados por Plácido
de Castro.
b) uma reação de tranqüilidade do governo brasileiro através de seu
chanceler o Barão do Rio Branco.
c) a insurreição acreana liderada por Galvez.
d) um telegrama do governo brasileiro parabenizando o governo
boliviano.

4. A posição do governo brasileiro o isolou de seus demais vizinhos


sul-americanos?
R.
138

5. Como o governo brasileiro resolveu a questão com o Bolivian


Syndicate?
R.

Percival Farquhar.

Apesar de várias tentativas de construir a ferrovia que


contornasse o trecho encachoeirado do rio Madeira, anteriores ao
Tratado de Petrópolis, a última e bem sucedida empresa da construção
iniciou em 1907. Entrou em cena nesse momento uma figura, cujo perfil
de empreendedor que concluiu a tarefa, assim como sua atividade
empresarial dentro e fora do Brasil, representa bem a época em que
viveu.
Percival Farquhar (1864 -1953), filho de um importante industrial
norte-americano, foi desde cedo preparado para ser um homem de
negócios. Cursou Engenharia na prestigiosa universidade de Yale onde,
mais importante que o diploma, estabeleceu laços de amizade junto aos
filhos e sucessores da elite empresarial de seu país, amizades estas
que se demonstrariam importantes para seus investimento no futuro.
Em 1898, com o término da guerra hispano -americana (independência
de Cuba), Farquhar, como o utros, dirigiu-se àquele país, ávido por
obter concessões, as quais efetivamente obteve, na área de transporte
(bondes) e de energia elétrica. Participou também de empreendimentos
ferroviários em Cuba e na Guatemala.
Com as relações que Farquhar possuía n as finanças
internacionais conseguia promover a fusão de capitais, para explorar
suas concessões monopolistas, obtidas junto aos governos estrangeiros
através da pressão ou da influência política. Em 1904, incorporou no
Brasil a Rio de Janeiro Light and Po wer, parte de uma série de
iniciativas que culminaram com a obtenção do controle acionário de
empresas de energia elétrica, bondes e serviços de telefonia no Rio de
139

Janeiro, São Paulo e Salvador. Na Amazônia, obteve Farquhar, em


1905, concessão do governo para obras no porto de Belém; em 1909
formou a Companhia de Navegação do Amazonas que ocupou o lugar
da Amazon River Steam Navigation Co. Ltd.; em 1911 fundou a Amazon
Land & Colonization Co. que recebeu no mesmo ano de sua fundação,
após uma visita de Far quhar a Belém, uma concessão de 60.000
quilômetros quadrados de terras, onde hoje fica o estado do Amapá. A
concessão para a construção da ferrovia Madeira -Mamoré foi adquirida
por compra, ao Engenheiro Joaquim Catramby, em 1907. No mesmo
ano foi iniciada a construção da ferrovia.
Por volta de 1912 o grupo Farquhar controlava, em todo o Brasil,
companhias que exploravam concessões de portos, ferrovias, bondes,
iluminação e energia elétrica, gás, serrarias, fazendas de gado,
frigoríficos e hotéis. Tal apeti te empresarial impulsionou uma forte
campanha nacionalista, que explorava o temor do controle da economia
nacional pelo capital estrangeiro. As campanhas em jornais, nas quais
participaram, entre outros, Alberto Torres (1865 -1917), fortaleceram o
movimento em prol da estatização das ferrovias e da lei antitruste, além
de incrementar o receio em relação ao “imperialismo ianque”.

Exercícios.

1. Que tipo de negócio tinha Farquhar no Brasil em 1912?


R.

2. Em quais estados situavam -se os negócios do trus te de Farquhar?


R.

3. Qual a firma fundada por Farquhar para a construção da EFMM?


R.
140

4. Qual a empreiteira contratada para dar início às obras da EFMM?


R.

5. Qual o significado da presença de Farquhar na economia nacional no


início do século?
R.

A construção da EFMM.

No final do século XIX, a Bolívia buscava ansiosamente uma


alternativa para a perda de seus territórios marítimos da costa do
Pacífico para o Chile, a fim de ter como escoar sua produção para os
países compradores. No noroeste boliviano, o rio Madeira era uma
alternativa que já estava sendo usada como corredor de importação e
exportação. Navegando pelos rios Beni e Madre de Dios, pertencentes
ao território boliviano, e Guaporé e Mamoré, na fronteira desse país
com o Brasil, atingia -se o Madeira e, superando seu trecho
encachoeirado, navegava -se em direção ao rio Amazonas e daí ao
Oceano Atlântico.
O inconveniente em superar as quedas d’água, que ocasionava
perdas humanas e materiais, conduziu à discussão de propostas que
viessem a facilitar o transporte naquele trecho do rio. Assim, Quentin
Quevedo, que desceu o Madeira em 1861 a serviço do governo
boliviano, sugeriu a sua canalização ou a construção de ferrovia entre
as cachoeiras de Guajará -Mirim e Santo Antônio. Também o Engenheiro
João Martins da Silva Coutinho que sugeriu ao governo da província do
141

Amazonas a construção de uma ferrovia que ligasse o Madeira ao


Mamoré.
Em função de necessidades diversas, tanto do Brasil quanto
da Bolívia, foi criada em 1871, sob a direção de George Earl Church, a
Madeira-Mamoré Railway Co. Ltd., sendo que a primeira equipe de
engenheiros aportou em Santo Antônio em 1873. Dificuldades diversas
ocasionaram a desistência da empreitada de construção da ferrovia
pela empresa inglesa Public W orks, firma construtora contratada por
Church, em 1877. Naquele mesmo ano foi contratada a firma norte -
americana P. & T. Collins, da Filadélfia, que contratou serviços de
trabalhadores especializados e não especializados, de diversas partes
do mundo, enviando -os para Santo Antônio. No entanto, devido a
diversos fatores, a empreiteira Collins faliu em 1881, após ter
assentado apenas 7 Km de ferrovia.
As duas comissões enviadas pelo governo imperial, uma em 1883,
comandada pelo Engenheiro Car los Morsing que ficou em Santo
Antônio durante seis meses e outra em 1884 comandada pelo
Engenheiro Júlio Pinkas, terminaram também desastrosamente.
A questão do Acre (1899 -1902), que foi resolvida com a assinatura
do Tratado de Petrópolis, entre Brasil e Bolívia (17/1/1903), retornou à
discussão sobre a viabilização da construção da ferrovia Madeira -
Mamoré. As obras foram reiniciadas em 1907, após a concessão para a
construção da ferrovia ter sido vendida pelo Engenheiro Joaquim
Catramby para o norte -americano Percival Farquhar, que fundou a
Madeira-Mamoré Railway Co., subsidiária da Brasil Railway Co. Em
1907 chega a Santo Antônio a empreiteira May, Jekyll & Randolph Co.
Ltd. que deu início as obras concluindo -as em 1912.

Exercícios.

1. Porque a Madeira -Mamoré Railway Co modificou o projeto de


construção da ferrovia, iniciando as obras em Porto Velho?
R.

2. A quem coube a construção da EFMM em 1905?


R.
142

3. Qual a empreiteira encarregada da obra?


R.

4. Que privilégios a empresa de Far quhar recebeu para construir a


EFMM?
R.

5. Porque o governo assumiu a responsabilidade de construir a EFMM?


R.

A força de trabalho.

Para que fosse construída uma ferrovia em plena selva, eram


necessários trabalhadores. Na Amazônia do aug e do ciclo da borracha,
todo o insuficiente volume de mão -de-obra estava alocado na produção
do látex. A expansão das zonas de produção era abastecida pela
exploração do silvícola e pelo aliciamento de mão -de-obra em outras
regiões do Brasil, principalment e do nordeste que, na Amazônia, preso
ao endividamento, se via impossibilitado de escolher outra ocupação.
Esses fatores dificultavam o recrutamento local de um contingente de
trabalhadores que fosse suficiente para a construção da ferrovia e
também impossibilitava um fluxo constante de trabalhadores durante
143

toda a fase da construção, para repor as baixas ocasionadas por


ataques de indígenas, feras, acidentes de trabalho e, principalmente,
pelas doenças epidêmicas da região, previsíveis em face das tentativ as
anteriores de construção da ferrovia.
Para reunir o contingente humano necessário à construção da
ferrovia foram recrutados trabalhadores nacionais e estrangeiros que,
além de atuarem na construção da Estrada de Ferro Madeira -Mamoré,
foram utilizados ta mbém em diversas outras circunstâncias: nos
seringais, na construção da linha telegráfica Mato Grosso/Amazonas e
na demarcação territorial do atual estado de Rondônia.
O grupo de Farquhar tentou, inicialmente, a “importação” (assim
era chamado o processo d e captação de mão -de-obra) de trabalhadores
espanhóis que haviam servido à construção das estradas de ferro em
Cuba, onde algumas concessões pertenciam a esse mesmo grupo.
Contudo a divulgação dos perigos e da insalubridade da região da
Madeira-Mamoré teria afugentado esses primeiros trabalhadores.
Então, um certo Capitão W alter Dudley propôs a idéia de aliciar
nativos das colônias inglesas da América Central. A vantagem da
atração desse tipo de mão -de-obra estava em que muitos já haviam
adquirido experiênc ia na construção de ferrovias e do canal do
Panamá, em sua região de origem. Em segundo lugar, as perspetivas
de absorção da força de trabalho nessas colônias eram poucas, em
face de problemas econômicos ali existentes.
Durante a primeira fase da construçã o da ferrovia, ainda no
século XIX, já se registram a presença dos barbadianos, entre os quase
mil trabalhadores que embarcaram rumo às selvas de Santo Antônio do
Rio Madeira. A presença maciça desses grupos negros caribenhos só
se tornou uma força de expr essivo destaque nos trabalhos da ferrovia a
partir do século XX. Esses operários já haviam sido utilizados, com
extremo sucesso, em outra empreitada de grandes dimensões, a
construção do Canal do Panamá. Sua experiência em um ambiente
tropical hostil, como as selvas panamenhas, aliadas a seu vigor físico e
ritmo altamente disciplinado fizeram deles elementos chave do
empreendimento.
Além desses, várias outras nacionalidades se fizeram representar
no contingente de trabalhadores da ferrovia como: italianos, norte-
americanos, ingleses, gregos, hindus, espanhóis, portugueses,
recriando na Amazônia o mito bíblico de uma nova babel do
imperialismo. Contudo, parece ter predominado nesse conjunto de
operários os caribenhos. Procedentes de diversas nacionalidades
centro-americanas, Barbados, Trinidad, Jamaica, Santa Lúcia,
Martinica, São Vicente, Guianas, Granadas e outras ilhas das Antilhas,
esses negros, de formação protestante e idioma inglês eram, de forma
geral denominados “barbadianos”.
É muito comum também enc ontrar-se a sugestão de que esses
trabalhadores caribenhos foram preferidos aos demais por demonstrar
resistência ao contágio de determinadas doenças tropicais, como a
malária. Essa hipótese é bastante discutível dado que as informações e
estatísticas referentes a mortandade de trabalhadores na E.F.M.M. são
escassas e contraditórias. Contudo, a se acreditar em certas
144

informações, conclui-se que a taxa de óbitos entre os trabalhadores


barbadianos não era menor que a mortandade dos trabalhadores das
demais nacionalidades. Dos óbitos ocorridos entre o trabalhadores
durante a construção da ferrovia 60% era de barbadianos.
Esse último dado é uma evidência do predomínio desses
trabalhadores no contingente que construiu a ferrovia. Manuel
Rodrigues Ferreira (A ferr ovia do diabo) informa a seguinte composição
dos “importados” durante o ano de 1910: 1636 brasileiros e
portugueses, 2211 antilhanos e barbadianos, 1450 espanhóis mais 299
pessoas de nacionalidade desconhecida totalizando 5596 trabalhadores
não qualificados. A predominância dos barbadianos sobre as demais
nacionalidades confere com as informações tradicionais, contudo não
apresenta dados sobre os demais anos de construção. Conforme o
mesmo autor a M.M.R.C.L recrutou, entre os anos de 1907 e 1912,
21.783 trabalhadores de várias partes do mundo. Em 1907, ano do
início da construção, a ferrovia importou 446 e no ano seguinte 2.450
trabalhadores, mas não discrimina a nacionalidade dos mesmos. Em
1910 a força de trabalho de origem antilhana correspondeu a
aproximadamente um terço do total, percentual significativo que reforça
a idéia da predominância desse trabalhador, dentre os importados pela
ferrovia.
Contudo, a comparação entre o número de trabalhadores
importados pela “Company” e os registros do Hospital da C andelária, a
partir de 1909, permitem algumas conclusões. Naquele ano foram
importadas 4.500 pessoas mas em dezembro daquele ano a construtora
ocupava apenas 2.270 funcionários. No ano seguinte, foram importados
6090 homens, dos quais 36,31% eram antilhano s, e em dezembro
daquele ano estavam registrados 3900 empregados. Em 1912 a
companhia introduziu em Porto Velho 5.664 homens, estando a serviço
em dezembro daquele ano 3.600 homens, não havendo dados para
1912.
Salvo a obtenção de novas informações a esse respeito, a
conclusão que se impõe é que nem todos os trabalhadores aliciados
eram absorvidos pela ferrovia. É possível que muitos ao chegarem a
Porto Velho sabendo das histórias dos perigos e das mortes,
preferissem não se ocupar da construção, retornando ou sendo
absorvidos por outras atividades de trabalho. Nos seringais talvez, pois
a população registrada de Porto Velho em 1912 foi de 800 pessoas,
muito pouco para um número tão grande de imigrantes, mesmo
considerando que boa parte dos trabalhadores par tiu com o final da
construção da ferrovia e que a parte restante pudesse estar espalhada
em localidades ao longo de seus trilhos.
Para a região se deslocaram contigentes de trabalhadores, que
organizaram ao longo do eixo da ferrovia, novos núcleos de colon ização
e produção, enfrentando as adversidades ambientais típicas das
florestas equatoriais.
Em meio à euforia da borracha contigentes de operários
construíram um dos maiores marcos da modernidade da Amazônia. A
legendária Madeira -Mamoré, que interligava o s trechos encachoeirados
do Madeira ao Mamoré, deveria ser um símbolo. Como representação
145

máxima da tecnologia e da civilização, ela deveria estabelecer e


viabilizar as práticas do capitalismo nos ermos do extremo sertão
oeste, em pleno mundo encharcado da Amazônia. Palco de um
espetáculo audacioso e ao mesmo tempo trágico, os trilhos da E.F.M.M.
repousaram sobre as vidas de milhares de operários, que em suas
obras vieram trabalhar.

Exercícios.

1. Que papel desempenharam os barbadianos na construção da EF MM?


R.

2. Quem eram os barbadianos?


R.

3. O que explica o elevado número de trabalhadores “importados”


anualmente para a construção da EFMM?
R.

4. Que tipos de trabalhadores atuaram na construção da EFMM?


R.
146

5. Como se procuro u resolver a questão da alta letalidade ambiental


sobre o contigente humano que trabalhou na EFMM?
R.

Porto Velho.

Em 1907 a Madeira -Mamoré Railway Company, que então detinha


a concessão para a construção da ferrovia determinou, contrariando as
tentativas anteriores e o estipulado na cláusula VII do Tratado de
Petrópolis, que o empreendimento não teria seu ponto inicial em Santo
Antônio do Rio Madeira, situado então no estado de Mato Grosso, mas
em um ponto situado alguns quilômetros rio abaixo, denominado Porto
Velho, situado no estado do Amazonas.
A origem, portanto, da cidade de Porto Velho está em um
empreendimento industrial, de grande vulto para a época e espantoso
pela dificuldade de sua execução. Contudo, essa origem detém certa
singularidade: a companhia quando para esse local se transferiu,
encontrou apenas a mata e, assim, construiu uma verdadeira cidade.
Além das edificações de uso propriamente industrial foram construídas
residências, alojamentos, usina de geração de eletricidade, si stema de
telefonia, captação de água, hospital, porto fluvial, armazém para o
abastecimento dos funcionários, lavanderia e até uma fábrica de
biscoitos e outra de gelo.
Precedendo à primeira área residencial da cidade, o pátio da
ferrovia, com suas casas p ara o pessoal qualificado separadas dos
demais funcionários e trabalhadores braçais e mesmo um “bairro”, o
Alto do Bode, iniciou a surgir, uma outra cidade. Para além da linha que
dividia o território da ferrovia do restante da urbe, significativamente
denominada Avenida Divisória, surgiram as primeiras áreas residenciais
e comerciais. Onde hoje é a Jônatas Pedrosa surgiu a Rua da Palha,
constituída de edificações de material precário, cobertas com palha,
que aglutinou aqueles que não eram funcionários da f errovia e
pequenos comerciantes. Ao redor surgiu o que hoje é o centro da
cidade e, com o tempo, seus primeiros bairros: Baixa União (Triângulo),
Mocambo e Favela, mais tarde o Caiari, a Arigolândia e o Olaria.
147

Em 1914, dois anos após a conclusão da ferrov ia, foi criado


município de Porto Velho através da Lei no. 757 sancionada pelo
governador do estado do Amazonas Jonathas de Freitas Pedrosa.
Contudo, a “cidade” situada dentro do município era na verdade
composta por toda a infra -estrutura criada pela admi nistração da
ferrovia.
Em 1915, chegou a Porto Velho e tomou posse, no cargo de
intendente municipal o Major de Engenharia do Exército Fernando
Guapindaia. Desse período até 1924, o governo municipal foi exercido
por superintendentes, e o Poder Legislativ o pelo Conselho Municipal,
composto por intendentes. A partir de 1924, com o estabelecimento do
governo revolucionário no Amazonas, o município de Porto Velho deixa
de ter seu poder legislativo, situação que se mantém com a Revolução
de 30 e prolonga -se até 1969, quando os municípios dos territórios
federais passam a possuir Câmaras de Vereadores.

Exercícios.

1. Quais as origens de Porto Velho?


R.

2. Como era Porto Velho entre 1907 e 1912?


R.

3. Quais as primeiras áreas residenciais de Porto V elho?


R.
148

4. O que caracterizou a “cidade ferroviária” entre 1907 e 1931?


R.

5. Quando Porto Velho foi elevada a município?


R.

Guajará-Mirim.

Até os anos finais do século XIX, Guajará -Mirim constituía -se


apenas de alguns seringais, s em nenhuma povoação que chamasse a
atenção. Com a construção da Ferrovia Madeira -Mamoré teve início a
formação de um núcleo urbano a partir do ponto final da estrada de
ferro. A região tinha seus seringais explorados pela Guaporé Rubber
Company, então gere nciada pelo Coronel Paulo Saldanha.
Dentre os principais seringais locais destacavam -se o Rodrigues
Alves, Santa Cruz e o Renascença. Os seringueiros viviam da coleta do
látex e de um reduzido comércio com a vizinha povoação boliviana de
Guayaramerím. Os indígenas que moravam na região representavam
uma constante ameaça e impedimento ao trabalho dos seringueiros.
Dentre eles destacaram -se os Pacaás Novos.
Em 8 de outubro de 1912, foi instalado um posto fiscal em
Guajará-Mirim, administrado pelo guarda Manoe l Tibúrcio Dutra. O
município foi criado em 1928, pela Lei nº 991, assinada pelo presidente
do estado do Mato Grosso, Mário Correia da Costa. A instalação do
município ocorreu em 10 de abril de 1929, tendo como 1º Intendente
nomeado, Manoel Boucinhas de Me nezes.
Segundo viajantes que por Guajará -Mirim passaram na década de
20, essa cidade não diferia muito de Porto Velho em sua origem. Ao
lado planejado das residências e escritórios da ferrovia surgiu um
núcleo de povoamento com edificações improvisadas. Situação curiosa
da de Guajará-Mirim, semelhante a de Santo Antônio do Rio Madeira.
149

Pertencente ao estado do Mato Grosso comunicava -se mais


intensamente com Porto Velho no estado do Amazonas, com a Bolívia
através de Guayaramerím e com Vila Bela no Mato G rosso.
Determinava essa proximidade a ferrovia e os rios Guaporé e Mamoré,
do mesmo modo que Vila Bela comunicava -se mais intensamente com
Guajará-Mirim e Porto Velho que com a capital do Mato Grosso. O
difícil acesso por terra até Cuiabá encontrava sucedâ neo na navegação
do Guaporé e Mamoré. Assim Vila Bela, a capital do Mato Grosso até
1820, possuía maior vínculos com Guajará -Mirim que com Cuiabá.
Guajará-Mirim era servida por algumas dezenas de embarcações
de bandeira nacional e boliviana. Vapores de ro da na popa, lanchas a
hélice além de outros tipos de embarcação faziam o percurso de 8 a 15
dias pelo Guaporé até Vila Bela e pelo Mamoré até a capital do Beni,
Trinidad. Em 1931 um antigo administrador dos seringais da Guaporé
Rubber e da Júlio Muller, o Coronel Paulo Cordeiro da Cruz Saldanha,
criou a Empresa de navegação dos rios Mamoré e Guaporé que,
subvencionada pelo governo federal, passou a servir o trajeto para Vila
Bela e o Forte Príncipe da Beira. Em 1943 essa empresa foi comprada
pelo governo federal, transformando -se no Serviço de Navegação do
Guaporé.
Nas primeiras décadas desse século possuía Guajará -Mirim um
comércio regular de bens e serviços para atender à população além de
diversos órgãos públicos. Delegacia de polícia com efetivo de 10 p raças
e um sargento da força estadual, coletoria, posto fiscal, telégrafo e
correio, escolas, cinema, dezenas de casas comerciais e uma
população em torno de 1500 pessoas. Essa população, como em Porto
Velho, era composta por elementos das mais diversas na cionalidades:
gregos, turcos, japoneses, espanhóis, barbadianos, portugueses,
ingleses, americanos, franceses.
Ressentiam-se as autoridades de Guajará -Mirim nessa época da
ausência de um contingente militar para guarnecer a fronteira, o Forte
Príncipe da Beira encontrava -se em ruínas. Guayaramerín, fronteiro,
apesar de uma população estimada em 400 pessoas possuía um quartel
com 100 praças e os oficiais, além de uma capitania do porto. Esta
situação foi resolvida durante o período Vargas quando em 1932 for am
criados os Contigentes Especiais de Fronteira em Porto Velho, Guajará -
Mirim e Forte Príncipe da Beira subordinados a inspetoria do Capitão
Aluízio Pinheiro Ferreira.

Exercícios.

1. Qual a localização e a que estado pertencia Guajará -Mirim em 1928?


R.
2. Como era a região em 1912?
R.
3. Quando foi criado o município de Guajará -Mirim?
R.
4. A Empresa de Navegação dos Rio Mamoré e Guaporé ligava
Guajará-Mirim às seguintes localidades:
a) Vila Bela e Porto Velho.
150

b) Porto Velho e Forte Príncipe da Beira.


c) Forte Príncipe da Beira e Vila Murtinho.
d) Vila Murtinho e Porto Velho.
e) Forte Príncipe da Beira e Vila Bela.

5. Os contingente especiais de fronteira foram criados em:


a) 1942.
b) 1932.
c) 1922.
d) 1912.
e) 1952.

A comissão Rondon e a linha telegráfica.

A Comissão das Linhas Telegráf icas e Estratégicas do Mato


Grosso ao Amazonas (1907) também denominada Comissão Rondon é
de fundamental importância para o entendimento das origens e
formação do Território Federal do Guaporé. Muitos dos municípios que
viriam a surgir mais de meio século após a construção da ferrovia,
vinculam-se aos trabalhos realizados pela Comissão Rondon que
influenciou também, de forma incisiva nas políticas adotadas pelo
Governo Federal em relação à questão indígena.
A abertura da linha telegráfica que ligaria os ser tões do Mato
Grosso ao Amazonas, foi uma obra de grandes proporções que se
destinava a tirar do isolamento as regiões do extremo oeste e Norte do
país. Tornava-se imprescindível romper os grandes “vazios” do Brasil,
incorporando-os à civilização. Paralelam ente a construção de ferrovias,
o telégrafo deveria ser um instrumento de modernidade, capaz de
assegurar a chegada do progresso e de estabelecer a civilização nos
confins mais isolados do país. Desta forma assegurava -se o
estabelecimento de núcleos de pov oamento, garantia-se a segurança
das fronteiras e procedia -se a uma política que possibilitaria, ao longo
do tempo, a integração dos indígenas e tapuios à sociedade brasileira,
tornando-os “civilizados e úteis”.
A construção da linha telegráfica tem seus p rimórdios ligados ao
Império. D. Pedro II deu início a construção de uma linha telegráfica em
1880 que ligaria a cidade de Franca, em São Paulo, a Cuiabá, no Mato
Grosso. A obra foi dirigida pelo militar Cunha Matos.
Cândido Mariano da Silva Rondon, cuja f igura o nome do Estado
de Rondônia homenageia, nasceu na localidade de Mimoso, atual
município de Barão de Melgaço, no estado de Mato Grosso, a 5 de maio
de 1865. Órfão, ainda criança, Rondon foi educado por familiares e
diplomou-se no Liceu Cuiabano, como professor aos 16 anos de idade,
sendo, no entanto, impedido de assumir o magistério devido a sua
pouca idade. Partiu então para o Rio de Janeiro em 1881, onde
assentou praça no exército. Em 1885 matriculou -se na Escola Militar da
Praia Vermelha onde concl uiu sua preparação para Oficial do Exército
em 1889. Nesse mesmo ano foi nomeado ajudante da Comissão
Telegráfica de Cuiabá ao Araguaia. Sua atuação na construção de
151

linhas telegráficas ligando o Centro -Oeste a São Paulo o levou a


trabalhar com o Tenente C oronel Gomes Carneiro e o Coronel Ewerton
Quadros (Franca -Araguaiana ). Mais tarde trabalhou no trecho
Araguaiana-Cuiabá ao lado do Tenente Coronel Gomes Carneiro.
A partir de 1900, Rondon chefiou os trabalhos de abertura da
linha telegráfica ligando São L ourenço a Itiquira, Coxim e Aquidauana.
Essa obra foi concluída em 1903. De Aquidauana, Rondon rumou para
Corumbá e Coimbra. Após relevantes serviços prestados na construção
e manutenção das linhas telegráficas do oeste brasileiro, foi
encarregado pelo pre sidente Afonso Pena, em 1907, de chefiar uma
nova comissão, que ligaria por linha telegráfica Cuiabá ao Amazonas.
Naquela época já havia o telégrafo ligando o Rio de Janeiro (então
capital da República) a Cuiabá. Decidiu então o governo federal
estender os fios do telégrafo até a localidade de Santo Antônio do Rio
Madeira e ao Acre. A tarefa foi realizada em três etapas nos anos de
1907, 1908 e 1909, concomitantemente, portanto, à construção da
ferrovia.
Os trabalhos realizados pela Comissão das Linhas Tele gráficas
do Mato Grosso ao Amazonas tinham uma natureza braçal e requeriam
ritmo, ordem e disciplina militares. O contigente de trabalhadores era
formado por civis e militares. Grande parcela desse contigente era
arregimentado de forma violenta através de prisões e degredos. Foi
esse o caso dos marinheiros envolvidos na Revolta da Chibata em
1910, colocados pelo Capitão Matos Costa para servir nos trabalhos da
linha telegráfica. A coerção e a violência física eram utilizadas para
evitar as fugas e manter em ritmo acelerado os trabalhos.
Esse contigente de trabalhadores da linha telegráfica, foi vítima
ainda da malária, febre amarela, ataques indígenas e carência de
alimentos. Para atender as vítimas de doenças tropicais, acidentes e
ataques indígenas as fre ntes de trabalho contavam com a atuação de
médicos como o Doutor Joaquim Tanajura. Os trabalhos foram
realizados através da abertura de 3 seções encarregadas da construção
da linha telegráfica:
a) um ramal partiria de São Luís de Cárceres até atingir a cidade de
Mato Grosso ( antiga Vila Bela da Santíssima Trindade );
b) a linha tronco ligaria Cuiabá a Santo Antônio do Madeira;
c) essa seção realizaria trabalhos de exploração e reconhecimento da
região.
Os trabalhos foram realizados em ritmo acelerado. Entre os anos
de 1907 a 1915 foram construídos 2270 Km de linhas telegráficas com
um total de 28 estações. A abertura dos picadões era feita
manualmente ao longo de toda a linha, variando sua largura de 6 a 100
metros. A importância da obra é imensurável, pois fixou nú cleos de
povoamento na região que mais tarde viria a ser Rondônia, como:
Vilhena, Pimenta Bueno e Jarú. A partir do traçado da linha telegráfica,
o etnólogo Roquette -Pinto propôs a construção de uma rodovia. Seu
sonho viria a se concretizar na segunda meta de do século XX, com a
abertura da BR-364. Deve-se ressaltar ainda, a importância dos
estudos e trabalhos desenvolvidos pela Comissão Rondon nas áreas de
botânica, zoologia, mineralogia e geografia.
152

Em 1913, Rondon participou de uma expedição pelos sertões do


extremo oeste e da Amazônia brasileira juntamente com o ex -
presidente dos EUA Theodore Roosevelt. A expedição Roosevelt -
Rondon desenvolveu estudos zoobotânicos, geográficos, etnológicos e
promoveu a exploração de vasta extensão de territórios que hoje
integram o Estado de Rondônia. Esta expedição explorou o rio da
Dúvida em toda sua extensão, denominando -o rio Roosevelt em
homenagem ao ex-presidente norte-americano. Ao escrever os relatos
de sua viagem à selvas do Brasil, Roosevelt exaltou o caráter e a
personalidade de Rondon, considerando -o um brilhante oficial e um
cidadão ilustre além de grande explorador e sertanista.
À Comissão Rondon, atribuía -se também as funções de
exploração etnológica e antropológica. Em seu avanço sobre os sertões
do oeste pacificou várias tribos. Dentre as populações contactadas por
Rondon durante a abertura da linha telegráfica encontravam -se:
a) Parecis, destacando -se três grupos, Caxiniti, Uimaré e Cazarini
(estes últimos habitando as cabeceiras dos rios Juruena, Jauru,
Guaporé, Cabaçal e Juba);
b) Nhambiqwara, chamados de Uaikoakore pelos Parecis.
Dividiam-se em diversos grupos, Congorê, Nenê, Uaindezês,
Anezêse, Iquê, Mamaindê, Tomá -Indê, Malondê, Nova -Itê, Iaiá;
c) Kepiquiri-Uat, habitavam o vale do rio Pimenta Bueno e. em
seu grupo destacavam -se Charamein, Uapurutá, Bicop -Vat e
Baxe-Pit;
d) Arikeme, localizados no vale do rio Jamarí, foram perseguidos
por bolivianos e brasileiros e migraram para as cabeceiras do
rio Madeira.
Um importante resultado dessa comissão foi a criação do Se rviço
de Proteção ao Índio e Localização dos Trabalhadores Nacionais
(SPILTN) através do Decreto 8.072 de 20 de julho de 1910, assinado
pelo presidente Nilo Peçanha (1867 -1924). O SPILTN ficou subordinado
ao Ministério da Agricultura.
Caberia ao Estado, at ravés do SPI o exercício de ação
civilizadora e de proteção aos índios, caipiras, bugres e tapuios. O
Estado deveria promover a sua reabilitação social, moral e mental,
dando-lhes condições de instalarem -se junto aos postos telegráficos e
estabelecimentos agrícolas. Essa expressão positivista de agir e pensar
incluía ainda a obrigatoriedade por parte do Estado de impedir os
massacres contra as populações indígenas e caipiras, bem como a
demarcação das terras pertencentes aos índios.

Exercícios.

1. Relacione as colunas.
1) Rondon ( ) liderou a construção da linha
telegráfica Mato Grosso -Amazonas.
2) Joaquim Tanajura ( ) médico da Comissão Rondon.
3) Gomes Carneiro ( ) linha telegráfica Araguaiana -Cuiabá.
4) Matos Costa ( ) colocou os marinheiros da Revolta da
Chibata para trabalhar na Comissão
153

Rondon.
5) Afonso Pena ( ) ordenou a construção da linha
telegráfica MT -AM

2. Participou com a expedição Rondon da exploração do rio da Dúvida:


a) Roosevelt.
b) Church.
c) Farquhar.
d) Collins.
e) Lovelace

3. A criação do SPILTN através do decreto 8072 de 20 -07-1910 deu-se


no governo de:
a) W ashington Luís.
b) Campos Sales.
c) Afonso Pena.
d) Hermes da Fonseca.
e) Nilo Peçanha.

4. Cite 3 objetivos do SPILTN:


R.

5. Redija um pequeno texto (10 linhas) sobre a impor tância da obra de


Rondon:

Em resumo.

 As primeiras notícias sobre o estudo para contornar as cachoeiras


dos rios Madeira e Mamoré a fim de possibilitar a dinamização do
comércio e a colonização da região, no século XIX, partiram da Bolívia.
Quentin Quevedo realizou estudos em 1861 e o engenheiro brasileiro
João Martins da Silva Coutinho, a serviço do governo do Amazonas
154

também realizou estudos sobre o aproveitamento da navegação e dos


transportes na região.
 Em 1871 o coronel norte -americano George Earl Church fundou a
empresa Madeira -Mamoré Railway Co. LTD e assinou contrato com a
empresa inglesa Public W orks para dar início às obras da ferrovia.
Church havia obtido condições para construir a EFMM, a partir de um
empréstimo de 2000.000,00 libras e sterlinas feito pelo governo
boliviano junto aos bancos de Londres. Os primeiros engenheiros
ingleses chegaram a Santo Antônio em 1873, mas a Publica W orks foi
batida pela insalubridade ambiental, retirando -se da região e
processando o Coronel Church.
 O contrato foi passado para a firma Dorsay & Caldwel que não
conseguiu dar prosseguimento às obras e repassou seus direitos
contratuais à empreiteira Londrina Reed Bros. & Co, que não deu
continuidade às obras e também processou a Madeira Mamoré Co.
 Em 1877 Church assinou novo contrato com a firma norte -americana
P & T Collins, que enviou operários e engenheiros para o vale do alto
Madeira. Em janeiro de 1878 partiu de Filadélfia o vapor Mercedita e
em 29 do mesmo mês o vapor Metrópolis naufragou com uma grande
carga de gêneros, material ferroviário e passageiros destinados aos
trabalhos da EFMM.
 Em 1867 o governo imperial do Brasil enviou para o Vale do Madeira
os engenheiros alemães Franz e Joseph Keller, que fizeram estudos
preliminares sobre a topografia da região e sugeriram a construção de
uma ferrovia para contornar o problema das cachoeiras.
 A adversidade ambiental, os ataques de índios, animais ferozes,
doenças e os acidentes dizimaram mais de 400 trabalhadores. Em 1881
a empreiteira Collins faliu após ter assentado apenas 7 Km de trilhos.
 Entre 1883 e 1884 o governo imperial enviou para a região as
comissões Morsing e Júlio Pinkas para a conclusão dos trabalhos
topográficos. Ambas retiraram -se dos vales do Madeira e Mamoré
batidas pelas adversidades amb ientais.
 O tratado de Petrópolis que resolveu a questão do Acre, impôs ao
Brasil a Construção da EFMM. A concessão dada a Joaquim Catramby
foi repassada ao grupo Percival Farquhar e as obras foram iniciadas em
1907 pela empreiteira May & Jekill ( mais tard e May, Jekill & Randolph
Co Ltd) que iniciou a construção da ferrovia 7 Km abaixo de Santo
Antônio, dando origem ao povoado de Porto Velho.
 Trabalharam nas obras aproximadamente 22.000 operários e devido
aos problemas de insalubridade, morbidade e elevad a incidência de
morte nos campos de trabalho, a firma construtora edificou o hospital
da Candelária (1907 -1931). As obras foram tocadas por operários de
diversas nacionalidades e a ferrovia foi concluída em 1912, quando o
negócio da borracha na Amazônia en trava em colapso.
 O povoado de Porto Velho surgiu a partir do pátio ferroviário da
Madeira Mamoré em 1907. Contava com água tratada, luz elétrica,
jornal em inglês, fábricas de gelo e biscoito, além do moderno hospital
da Candelária. O povoado de Porto Vel ho foi elevado a município em
1914 e seu primeiro superintendente foi o Major Guapindaia que entrou
em atritos com a administração norte -americana da ferrovia.
155

 Os primeiros bairros de Porto Velho foram o Triângulo, o Mocambo, o


Centro e mais tarde o Caia ri, a Arigolândia e o Olaria. A cidade era
atravessada pela linha divisória (atual Presidente Dutra) que separava
os terrenos da ferrovia dos terrenos da municipalidade.
 Guajará-Mirim surgiu como estação terminal da EFMM. O lado
boliviano do Mamoré já exis tia desde o século XIX, o povoado de
Guayaramerím. Em 1902 foi instalado em posto fiscal em Guajará -Mirim
administrado pela guarda Manoel Tibúcio Dutra. O município foi criado
em 1928 pelo governo de Mato Grosso e teve como primeiro intendente
e senhor Manoel Boucinhas de Menezes.
 A comissão Rondon (1907 -1915) desenvolveu trabalhos de abertura
de picadas na floresta e levantamento de terrenos da região entre
Cuiabá, São Luís de Cáceres, Vila Bela e Santo Antônio. A linha
telegráfica instalada entre Santo Antônio e Cuiabá requereu o esforço
de centenas de trabalhadores que foram remetidos para as selvas da
região.
 Os trabalhos da comissão Rondon produziram consideráveis estudos
sobre a geografia, pedologia, mineralogia, botânica e zoologia da
região. Nos campos de antropologia e etnologia foram contatados
dezenas de povos indígenas.
 Em 1910 foi criado SPILTN tendo como diretor o General Rondon.
Dentre os objetivos de Rondon figuravam a proteção às terras
indígenas, o aculturamento dos indígenas e caipira s e a sua integração
à sociedade civilizada, tornando -as úteis ao estado.
156

Capítulo 10
O Território Federal do Guaporé.

Aluízio Ferreira: a intervenção e a nacionalização da EFMM.

No processo de criação do Território Federal do Guaporé,


destaca-se a figura de Aluízio Ferreira, um dos patronos e principal
defensor da idéia . Formado oficial pela Escola Militar de Realengo, no
Rio de Janeiro, foi contemporâneo da geração de jovens militares, os
tenentes, que opondo -se às práticas políticas da República Ve lha: o
domínio das oligarquias, a política do café com leite, o coronelismo e o
voto de cabresto fomentaram um movimento que ficou conhecido como
Tenentismo. Com o fracasso da Revolução de 1924 no Amazonas,
alguns revolucionários internaram -se nos sertões da região para não se
entregarem às forças legalistas. O Tenente Aluízio Ferreira fugiu para o
Vale do Guaporé, onde em Guajará -Mirim, passou a exercer atividades
no seringal Laranjeira, de propriedade de Américo Cassara. Nesse
seringal, o Tenente Aluízio trabalhou durante algum tempo na coleta da
seringa, na preparação das pelas e na administração do barracão.
Aproveitando a oportunidade que se oferecia, Aluízio Ferreira, um
descendente dos índios Caetés, iniciou estudos sobre os indígenas
regionais, notad amente os Makurape da região entre os rios
Corumbiara e Branco. No ano de 1928 apresentou -se às autoridades
militares em Belém do Pará.
Ficou preso por sete meses, sendo julgado e absolvido. Da prisão
escreveu ao General Rondon, expondo o resultado de suas pesquisas
sobre os indígenas do Guaporé e ao ser libertado encontrou -se com
esse sertanista que o convidou para assumir a subchefia do posto
telegráfico de Santo Antônio do Rio Madeira, tornado município de Mato
Grosso em 1908, cuja chefia pertencia ao Te nente Emanuel Amarante.
Tendo já servido como militar no Norte e no Centro -Oeste e participado
da revolução de 1924, em 1930 estava integrado a vida política da
região, tendo contato através de suas atividades com os centros
urbanos de Belém e de Manaus. C om a eclosão da Revolução de 1930,
Aluízio Ferreira seguiu para Belém onde estava sendo cogitado para
interventor do estado do Pará. Contudo, foi preterido pelo Tenente
Joaquim Barata que assumiu o cargo. Aluízio retornou a Santo Antônio
e a chefia do post o telegráfico cujas atribuições o obrigavam a
percorrer constantemente os rios e sertões da região que viria a ser
Rondônia.
Seu passado como revolucionário, ligado ao movimento
tenentista, dava-lhe credenciais junto ao governo provisório de Getúlio
Vargas. De sua condição de líder revolucionário ligado ao movimento
vitorioso de 1930, valeu -se Aluízio para fazer a defesa do General
Rondon, então acusado de corrupção administrativa por lideranças de
revolucionários do porte de Juarez Távora (1898 -1975) que, como
Aluízio, era ex-aluno da Escola Militar de Realengo. Da mesma
maneira, valendo -se de sua condição de revolucionário o Tenente
157

Aluízio conseguiu impedir a derrubada dos postes da linha telegráfica


Cuiabá/Porto Velho/Guajará -Mirim.
A crise da borracha aliada a um longo período de crise do
capitalismo internacional, iniciado com a quebra da Bolsa de Nova
Yorque em 1929, refletia -se vivamente nas condições de
operacionalidade da EFMM. Os problemas enfrentados pela ferrovia
levaram seus administradores in gleses a iniciar um processo de
dispensa de inúmeros trabalhadores em 1930, o que ocasionou uma
intensa agitação popular em Porto Velho. Tal situação obrigou o
governo revolucionário do Amazonas a tomar medidas, levando seu
representante em Porto Velho a i ntervir, em nome dos interesses
nacionais, na Madeira Mamoré Railway Company. Aluízio comprometeu -
se, em nome do Governo Nacional, a contribuir com trinta contos de
réis mensais para salvar a Companhia de uma crise ainda maior. Pela
primeira vez a administ ração estrangeira da EFMM defrontava -se com
uma autoridade nacional interessada em preservar os interesses dos
trabalhadores e do próprio estado.
Com o desenvolvimento da recessão econômica advinda da Crise
de 1929, a situação da EFMM não sofreu nenhum alí vio, ao contrário,
agravou-se e, em 1931, levou a direção da empresa a solicitar ao
governo revolucionário a adoção de medidas que permitissem continuar
o seu funcionamento. Os déficits contínuos levaram a administração da
ferrovia a dirigir à justiça a um requerimento de citação ao governo
brasileiro para que recebesse o acervo da ferrovia.
A suspensão do tráfego nas linhas da EFMM, antes do término do
prazo determinado pela justiça, com base na petição da administração
da ferrovia, possibilitou a interven ção da União sobre a EFMM, de modo
a garantir a normalização de seu funcionamento. O transtorno que
causaria essa decisão à população e à economia local foram antevistos
por agentes do governo federal. Aluízio Ferreira comunicou -se com o
Ministro da Viação , José Américo de Almeida, que lhe deu liberdade
para agir. Ato contínuo ocupou as instalações da ferrovia, dando início
ao processo de intervenção, que foi concretizado em 10 de julho de
1931, através do Decreto Lei, nº. 20.200, assinado pelo Presidente d a
República Getúlio Vargas.
A nacionalização da ferrovia é uma evidência do real motivo pelo
qual o imperialismo investe em países periféricos, o lucro apenas.
Coincidentemente com o término da construção da ferrovia, entraram
em queda as exportações da bo rracha amazônica, em face da
concorrência do látex produzido na Ásia, entrando a região em um novo
período de estagnação econômica. Conseqüentemente, caiu o
faturamento da companhia ferroviária que, gradativamente, foi
perdendo o interesse pelo empreendime nto. Não tendo como retorno o
lucro considerado satisfatório, a administração da ferrovia
desinteressou-se do papel de agente civilizador, tão defendido por
gente como Maury, e ordenou a suspensão do tráfego em 1931.
O contrato com a Madeira Mamoré Railway Company foi
rescindido através do Decreto n o . 1547 de 5 de abril de 1937, sendo a
ferrovia estatizada pelo presidente Getúlio Vargas. Dessa forma
garantiu-se a continuidade dos serviços prestados pela EFMM até 1972.
158

A administração da ferrovia continuava sendo uma espécie de


governo informal em sua área de influência, ou seja, em partes dos
vales do Madeira e do Mamoré/Guaporé. Assim as preocupações do
novo diretor da ferrovia extrapolavam, em muito, a tarefa de dirigir um
simples empreendimento ferroviári o. Além de iniciativas que se
confundiam com aquelas próprias da municipalidade, a administração
da ferrovia, Aluízio passou a ocupar -se de certas estratégias que
garantiriam a segurança e facilitariam o contato da região com o
restante do país. Exemplo de ssas iniciativas foi a exposição de motivos
enviada por ele ao Ministro da Guerra, cujas considerações foram
aceitas resultando no Aviso Ministerial de 23 de setembro de 1932, que
criava três contingentes militares de fronteira sediados respectivamente
em Porto Velho, Guajará -Mirim e no Forte Príncipe da Beira. Uma outra
iniciativa que se revelaria importante para o futuro do estado consistiu
em principiar a abertura da rodovia Cuiabá/Porto Velho. Contando com
sobras de verbas do DNOCS (Departamento Naciona l de Obras Contra
a Seca) e alguns homens sem o auxílio de maquinário abriu alguns
quilômetros dessa estrada que viria a ser concluída apenas na década
de 1960.
A extensa obra política e administrativa de Aluízio Ferreira levou -
o a ser o primeiro governado r do recém criado Território Federal do
Guaporé, cargo que ocupou até 1946. Seu grande conhecimento sobre
a região o levou a propor políticas desenvolvimentistas e de segurança
que garantiriam a prosperidade e a integração da região ao restante do
país. Considerava que os problemas locais advinham de três
circunstâncias específicas:
a) a distância e o isolamento regional devido à precariedade dos
meios de transporte e comunicação;
b) os baixos índices demográficos que dificultavam a
implementação de políticas ec onômicas e desenvolvimentistas;
c) o precário rendimento do trabalho humano na região, devido a
circunstâncias naturais como a hostilidade ambiental e a
ausência de condições materiais satisfatórias para o exercício
das atividades.
A participação de Aluízio Ferreira foi decisiva para a criação do
Território Federal do Guaporé, em específico, e dos demais Territórios
Federais em geral. Além de ser o primeiro governador do Território
Federal do Guaporé, Aluízio foi também eleito Deputado Federal pelo
mesmo Território por três vezes, em 1946, 1950 e 1958.

Exercícios.

1. É correto afirmar sobre o processo de nacionalização da EFMM.


a) Foi obra do regime militar que promoveu a intervenção na ferrovia
através do 5º BEC.
b) Ocorreu após o término do contrato assinado ent re Farquhar e o
governo do Brasil.
c) Foi um ato promovido por Aluízio Ferreira, após a criação do
Território Federal do Guaporé.
159

d) Aconteceu após a crise do capitalismo liberal (1929), durante o início


do governo Vargas, em 1931.
e) Foi uma medida adotada pelo go verno de Hermes da Fonseca.

2. Não é característico das propostas dos tenentes dos movimentos de


1918 a 1924:
a) voto secreto.
b) urbanização e industrialização.
c) combate ao poder das oligarquias rurais.
d) reorganização da economia nacional.
e) preservação dos intere sses das oligarquias.

3. São fatos relativos à obra administrativa de Aluízio Ferreira; exceto:


a) intervenção na EFMM em 1930.
b) administração da EFMM a partir de 1931.
c) principiou a abertura de uma rodovia no sentido Porto Velho Cuiabá.
d) proposta de criação do s contingentes militares de fronteira em Porto
Velho e Forte Príncipe da Beira.
e) criação do município de Porto Velho.

4. Que fatores eram considerados por Aluízio Ferreira como


responsáveis pelos problemas que impediam o desenvolvimento
regional?
R.

5. A obra político -administrativa de Aluízio Ferreira atinge seu ponto


máximo quando?
R.

Precedentes da criação do Território Federal do Guaporé.


160

A preocupação dos governos republicanos com a ocupação e


colonização da Amazônia agravou -se durante a década de 30. A queda
das exportações da borracha fizera com que a região entrasse em
letargia econômica, fenômeno que repetia mais uma vez o ocorrido em
épocas passadas, ao final dos surtos extrativistas. Continuava portanto
atual o problema da ocu pação da região, particularmente de seus
extremos fronteiriços aos norte e ao extremo oeste.
O desmembramento do território brasileiro ocorreu por etapas. A
maior parte da área que hoje compõe o Estado de Rondônia passou a
fazer parte da Capitania de Mato Grosso quando essa foi criada em
1748. O restante do território, uma área de aproximadamente 12% das
terras que hoje integram o estado, pertencia à Capitania de São José
do Rio Negro, mais tarde província do Amazonas. Em 1763, quando o
Brasil foi dividido em dois estados, o Estado do Maranhão e o Estado
do Brasil, cada qual subdividido em capitanias a área de Rondônia
continuou pertencendo à Capitania do Mato Grosso, que pertencia ao
Estado do Brasil. As terras rondonienses que integravam o Amazonas,
pertenciam ao Estado do Maranhão e Grão -Pará. A reunificação dos
estados do Brasil e Maranhão e Grão -Pará foi realizada pelo Marquês
de Pombal que criou a Capitania de São José do Rio Negro em 1755,
desmembrando-a da Capitania do Grão -Pará.
Com a independência , muitas das capitanias tornaram -se
províncias, cujos presidentes eram nomeados pelo imperador. A área
da Capitania do Rio Negro ficou anexada à Província do Grão -Pará.
Apesar dos desejos de autonomia da Capitania do Rio Negro
reportarem-se ao século XVIII , foi a indicação feita em 1844 pelo
Deputado Tenreiro Aranha à Assembléia Legislativa do Pará para que
encaminhasse a Assembléia Geral uma proposta para a elevação do
Rio Negro, então comarca do Grão Pará, à categoria de província, que
surtiu resultado. E m 1850 foi criada a Província do Amazonas.
Por essa época existiam propostas para o desmembramento de
áreas do Amazonas e do Mato Grosso para a criação de novas
províncias. O isolamento em relação às capitais dificultava a tomada de
decisões e a execução de ações que viessem promover o
desenvolvimentos dessas áreas mais afastadas. Esse é o caso da
região encachoeirada do Madeira e dos vales dos rios Mamoré e
Guaporé. Essa parte do alto Madeira e dos demais rios, que pertenciam
administrativamente ao Mato G rosso apesar de possuir um contato mais
fácil e rápido com o Amazonas e mesmo de ser assistida por aquela
província ficava, via de regra, abandonada, desassistida.
Ao mesmo tempo em que estava sendo discutida a proposta de
elevação da Capitania do Rio Neg ro ao status de província, outros
projetos de aspecto mais amplos visavam reorganizar a divisão
administrativa regional. Em 1849 o Visconde de Porto Seguro,
Francisco Adolfo de Varnhagen (1810 -1878), apresentou uma dessas
propostas. Exceto a região do Acre , que nessa época ainda pertencia a
Bolívia, o Projeto de Varnhagen propunha, a criação de vários
territórios que viriam a ser formados no século XX, com diferenças de
nomes e de limites. Aproximadamente nos limites do atual Estado do
Roraima o projeto pre via a criação de uma província denominada Rio
161

Negro, da mesma maneira onde hoje se situa o Estado do Amapá seria


criada a província do Novo Pihauy.
No século XX seguiram -se outros projetos que denotavam
preocupações com a ocupação do extremo norte e noro este do país. Os
projetos Backheuser, um primeiro esboço ampliado daquilo que viria a
ser o Território do Guaporé seria formado, em sua maior parte, por
terras do atual estado do Amazonas e em menor proporção das terras
do Mato Grosso, que hoje integram 88 % da área do Estado de
Rondônia. O rio Mamoré e parte do Guaporé constituíram -se na
fronteira natural entre as terras pertencentes a Província do Madeira e
os vizinhos territórios pertencentes à Bolívia. Também o Projeto de
Fausto de Souza, apresentado em 1880 previa a criação de uma
Província do Madeira. Diversos projetos seguiram -se a esses até a
virada do século.
Outros planos, a saber: Segadas Viana, Machado Guimarães,
Juarez Távora e da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro
ocuparam-se também da criação de territórios na região do Madeira,
embora a área do que seria o Território do Guaporé não tenha
coincidido com as propostas desses projetos. Por exemplo, no Projeto
Segadas Viana propunha -se a criação de dois estados, o do Guaporé e
do Jamarí; o Pro jeto Juarez Távora criava dois estados: o do Guaporé e
o do Madeira e o de Teixeira de Freitas: três estados Guaporé, Mamoré
e Madeira. Em todos esses projetos situava -se a área do antigo
Território Federal do Guaporé.
Com a resolução da questão do Acre, criou-se naquela área o
Território Federal do Acre organizado através da Lei 1.181 de 25 de
fevereiro de 1904 e do Decreto 5.188 de 7 de abril do mesmo ano,
constituindo-o em três departamentos administrativos: o do Alto Acre, o
do Alto Purus e o do Alto J uruá, cujos prefeitos eram escolhidos e
nomeados pelo presidente da república.
Como foi visto, a Comissão Rondon havia integrado em seus
efetivos também civis. Um dos grandes colaboradores de Rondon em
seus trabalhos de abertura da linha telegráfica, foi o médico Roquette -
Pinto, que se entusiasmou com tudo aquilo que observou de potencial
na região e com a liderança exercida por Rondon. Quando, em 1915,
proferiu uma palestra no Museu Nacional do Rio de Janeiro, atribuiu à
região situada entre o Madeira e o Juruena o nome de Rondônia,
reafirmando sua posição em artigo publicado no ano seguinte na
Revista do Brasil. Mais do que isso, Roquette -Pinto anteviu uma
solução para os graves problemas de comunicação entre a área
banhada pelos seus maiores rios e o restante dessa região e supôs que
uma estrada que seguisse o traçado da linha telegráfica seria de
fundamental importância, pois integraria definitivamente a região ao
restante do país.
Ao iniciar a década de 40, alguns elementos da maior importância
para a criação de uma unidade político -administrativa na região já
estavam postos. Existia já idéia de uma região, conforme a proposta
por Roquette-Pinto, e de uma unidade político -administrativa,
razoavelmente amadurecida através de uma discussão quase secular,
inclusive ao nível do parlamento. Com a nacionalização da ferrovia uma
162

certa unidade de ação fora obtida, pois passara a empresa a ser


propriedade pública, ocasionando inclusive a realização da visão de
Roquette-Pinto, iniciando -se a abertura da rodovia Br -364. Contudo, foi
a batalha da borracha que, reativando a economia da região através de
maciços investimentos destinados ao aumentos da produção gomífera,
fez aumentar o interesse do governo pela idéia de criação de
territórios.

Exercícios.

1. Cite 3 projetos que previam a criação de territórios no Brasil nos


séculos XIX e XX.
R.

2. Quais os fatores que antecederam a criação do Território Federal do


Guaporé?
R.

3. Quais os municípios pertencentes ao Território Federal do Guaporé


em 1943?
R.

4. Como eram os limites do Território em 1943?


R.
163

5. O Território Federal do Acre foi criado em:


a) 1804.
b) 1904.
c) 1914.
d) 1924.
e) 1934.

A guerra pela borracha.

Durante as décadas de 1920 e 1930, a borracha amazônica


perdeu preço devido À concorrênc ia da produção da Malásia. Os
seringais caíram no abandono e grandes fortunas desapareceram. A
ausência de investimentos em outra áreas da economia levou a
Amazônia a mergulhar em profundo estado de decadência. Nos
seringais a produção encontrava -se paralisada ou reduzida a níveis
ínfimos. Os seringueiros abandonavam suas colocações em busca de
outras atividades que lhes permitissem a sobrevivência. Essa situação
perduraria até início dos anos de 1940.
Como resultado do corte do abastecimento de borracha d a
Malásia, cujos seringais caíram nas mãos dos japoneses, os norte -
americanos passaram a ter como única alternativa para o
abastecimento de suas indústrias a borracha da Amazônia. Como as
regiões produtoras responsáveis por 97% do suprimento de borracha
para os E.U.A ficaram impossibilitadas de fornecer o produto, os norte -
americanos implementaram um plano, previamente elaborado,
destinado a reativar a exploração da borracha amazônica, que supriria
regularmente a demanda dessa matéria -prima para as industri as
daquele país. Em 1942 foram assinados os Acordos de W ashington,
visando o esforço conjunto dos governos do Brasil e dos EUA para o
aumento da produção da borracha amazônica e seu fornecimento às
indústrias norte-americanas.
Foram criados no Brasil vári os órgãos cujos objetivos ligavam -se
à captação de mão -de-obra, melhoria da infra estrutura de transportes,
financiamento e abastecimento dos seringais e comercialização do
produto. Como resultado desses novos investimentos o futuro território,
passou por um curto período de prosperidade. Dado o novo surto de
exportação da borracha a iniciativa governamental se fez novamente
presente na região de tal maneira que não se pode desvincular a
decisão de criar o Território Federal do Guaporé e os outros territóri os
dos interesses manifestos nos acordos de W ashington.
Esses acordos previam iniciativas destinadas mesmo a interferir
nas tradicionais relações de produção estabelecidas no sistema
164

extrativista. Essas medidas pretendiam eliminar o sistema de barracão


e aviamento. O governo, para quebrar o monopólio das casas
aviadoras, criou o Banco da Borracha S/A, que financiava o seringalista
em troca da exclusividade na comercialização de seu produto. Dessa
forma mantinha o controle sobre preços e estoques. A elimina ção do
intermediário, o aviador, foi iniciativa seguida com o maior interesse
pelos norte-americanos pois garantiria uma maior segurança no
abastecimento desse produto estratégico.
A criação do Banco da Borracha não foi iniciativa única da
intervenção estatal no sistema extrativista da Amazônia. Fazia parte de
um complexo de iniciativas que abrangiam, inclusive o abastecimento
aos seringalistas de produtos exportados pelo governo norte -americano
diretamente para a Amazônia pela Rubber Development Corporati on e
distribuídos internamente pela Superintendência de Abastecimento do
Vale Amazônico - SAVA.
Assim, várias iniciativas simultâneas intentavam acabar com o
sistema de aviamento e de barracão, intimamente ligados. Oficialmente
pretendiam as autoridades br asileiras e norte -americanas estabelecer
um sistema mais moderno de relações extrativistas, via regulamentação
das relações de trabalho e barateamento dos preços dos aviamentos
para os seringueiros, livrando -os do endividamento. Para isso
exportavam direta mente os gêneros necessários aos seringais que
ficavam acessíveis aos seringalistas, em troca de um valor bem menor
do que aqueles fornecidos pelo aviador. Com o financiamento do Banco
da Borracha o seringalista comprava esses produtos à SAVA, uma
forma de financiamento tradicional na agricultura, mas totalmente nova
no extrativismo. Esperava -se que dessa forma os produtos chegassem
ao extrator com preços menores, evitando o endividamento.
Para regularizar a situação trabalhista do seringueiro foi criado
um contrato padrão de trabalho destinado a regulamentar suas
atividades de extração nos seringais. Essa contrato tentava
compatibilizar alguns direitos dos extratores em face das formas
tradicionais de exploração da força de trabalho nos seringais, a
exemplo do trabalhadores urbanos que obtiveram, com a Consolidação
das Leis do Trabalho certas garantias. No entanto as tentativas
governamentais de regulamentar e regularizar a situação dos
trabalhadores nos seringais fracassou. Continuaram a vigorar as
antigas práticas de exploração dos seringueiros, através de sua
vinculação ao barracão. Quanto aos aviamentos para o seringueiro,
começaram a ficar mais caros ainda. Essas duas medidas não deram
certo porque o endividamento do extrator fazia parte da lógica do
sistema extrativista, era ele que sujeitava o extrator ao trabalho.
O fracasso de algumas medidas tomadas no período explica -se
em parte pela falta de combinação da ação dos órgãos governamentais.
Assim, os investimentos na Amazônia durante o período da Gue rra
foram caracterizados por um desencontro de decisões entre os órgãos
envolvidos, tanto do lado norte -americano quanto do lado brasileiro.
Explica-se, dado o caráter de urgência das medidas previstas nos
acordos, diversos órgãos foram criados para execut á-las, ocorrendo
muitas vezes a duplicidade de atribuições, ou seja, a existência de dois
165

setores encarregados da mesma atividade. Além disso as ações não


eram coordenadas. A CAETA (Comissão Administrativa de
Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia ) trabalhava sem
comunicação com a SAVA. Ocorria então que quando os trabalhadores
chegavam à Amazônia não havia certeza quanto a disponibilidade de
alojamentos e alimentação para esses migrantes que se destinavam
aos seringais. Não havia também uma ação c oordenada com o SNAPP
(Serviço de Navegação e Administração dos Portos do Pará) e
freqüentemente ocorria que os migrantes chegavam por ocasião da
seca quando os navios ficavam impossibilitados de chegarem aos
seringais. A burocracia estatal não atentava se quer para a época certa
de assentar os trabalhadores para o corte da seringa.
Quanto ao recrutamento e deslocamento dos trabalhadores para a
Amazônia, em sua maior parte do nordeste, os resultados foram
catastróficos. Não foi ainda determinado precisament e o número de
trabalhadores e dependentes recrutados e enviados para os seringais.
Com base em depoimentos dados ao Congresso Nacional após a
guerra, estimou-se que durante o período migraram para a Amazônia
52000 pessoas somando -se aí os dependentes dos t rabalhadores. Já
um relatório da SEMTA, de 1945, totalizava 24300 trabalhadores e seus
dependentes, encaminhados para a Amazônia entre outubro de 1943 e
abril de 1945. Os dados disponíveis permitem visualizar, mesmo que
grosseiramente, a dimensão quantitat iva desse fenômeno, uma
diáspora nordestina no dizer do ilustre historiador amazônico Samuel
Benchimol.
Assim, em uma relação de 1942, elaborada pela SEMTA há um
total 4050 trabalhadores enviados para a Amazônia. Desse total 1013
(25,01%) foram enviados p ara diversas localidades do rio Madeira, a
maior parte, 985 (24,32 %) para Porto Velho, certamente para a
distribuição nos seringais rio acima. Uma outra relação informa o
número de trabalhadores enviados do nordeste, entre outubro de 1943
e setembro de 19 45, para o porto de Belém, totalizando 15611 pessoas.
Desse total, 9875 (63,2%) foram enviados para Manaus, de onde
seriam redistribuídos. 376 (2,3%) pessoas foram enviadas diretamente
para Porto Velho e os 5360 (34,5%) foram distribuídos para várias
localidades. Dos trabalhadores enviados para Manaus, 2345 (23,7%)
foram enviados para Porto Velho. 172 (1,7%) retornaram aos seus
estados de origem e o restante foi distribuído no Amazonas e para os
seringais em outros estados.
O estado do Nordeste que mais co ntribuiu com trabalhadores para
o esforço de guerra foi o Ceará. Outros estados do nordeste também
contribuíram, destacando -se o Rio Grande do Norte, a Paraíba e a
Bahia. Uma relação da SEMTA discriminando a origem dos
trabalhadores arregimentados, totaliz ando 15105 pessoas permite -nos
dimensionar o impacto da arregimentação nesses estados. A maior
parte era proveniente do Ceará 7430 (49,19%), em segundo lugar
vinham os migrantes da Paraíba, 4488 (29,71%), outro contingente
provinha do Rio Grande do Norte, 2263 (14,98%) e uma outra parte 924
(6,11%) da Bahia. Haviam também trabalhadores arregimentados em
166

outros estados, inclusive do Sul do país e também, em menor número,


trabalhadores que vinham por conta própria.
Mesmo com as medidas de higienização e sane amento tomadas
pelo governo, para diminuir a incidência de doenças tropicais, o custo
pago em vidas humanas para o sucesso do empreendimento foi
elevado. Ao final da guerra muitos dos trabalhadores arregimentados
foram recambiados aos seus estados de orige m, em lamentável estado
de saúde. Um relatório de 1945 no qual constam as doenças contraídas
por esses trabalhadores, recambiados para seus estados pelo porto de
Belém, permite-nos observar os motivos do retorno. Das 2160 pessoas
a maior parte 1195 (55,32% ) voltaram por motivo de saúde. O principal
deles, a malária: 804 (37,22%) seguida de anemia palúdica: 138
(6,39%) e outras doenças como polinevrite, debilidade mental, doenças
venéreas, tuberculose e outras: 253 (11,71%). Dos 965 restante
(44,67%) foram remanejados por outros motivos, entre eles 712 (32,96)
considerados desajustados economicamente, indivíduos não adaptados
ao sistema de barracão, e outros por viuvez: 50 (2,31%). Uma
Comissão de Inquérito levada a efeito pelo Congresso Nacional
calculou em milhares o número de óbitos nos seringais durante este
período.
Tentou-se ainda durante a 2 ª Grande Guerra (1939 -1945) a
implantação de núcleos de colonização, baseados na agricultura,
visando minorar o problema do abastecimento interno. No entanto, a
economia do território continuou sendo vinculada ao setor extrativista.
Com a reativação do abastecimento da borracha asiática, caíram
novamente as exportações do látex amazônico e, apesar dos capitais
dispendidos na região Amazônica durante a Guerra, ao fin al desta, a
região retornou à situação anterior, agravada ainda pela descoberta da
borracha sintética feita por alemães e americanos.

Exercícios.

1. O que eram e o que previam os “Acordos de W ashington” de 1942?


R.

2. Não é fato ligado ao novo surto extrativista da borracha na Amazônia


1942-1945:
a) a criação do Banco da Borracha.
b) a criação da SAVA.
c) a atuação da Rubber Development Corporation.
d) a atuação dos Soldados da Borracha.
e) o escândalo de Putumayo.
167

3. Foi conseqüência do surto extrativista do látex entre 1942 a 1945:


a) a criação da Zona Franca de Manaus.
b) o fim do sistema de barracão.
c) a criação de órgãos públicos como o SNAPP, a SAVA e a CAETA.
d) a crise da borracha na Malásia.
e) a construção da Fordlândia.

4. Por que a Europa e os EUA voltaram a co mprar borracha da


Amazônia entre 1942 -1945?
R.

5. De onde provinham esses grupos de trabalhadores e como chegavam


a Amazônia?
R.

A criação do Território Federal do Guaporé.

Em 1940 Getúlio Vargas visitou Porto Velho, quando foi


recepcionado por Aluízio Ferreira, de modo a influenciar o presidente a
transformar a região em Território. Com a implementação dos Acordos
de W ashington, um novo surto migratório veio a aumentar a população
da área, que viria a ser o Território Federal do Guaporé. A intensa
busca pela borracha, trouxe consideráveis contigentes de trabalhadores
oriundos, sobretudo, da região Nordeste do país para os vales do
Madeira, Mamoré e Guaporé e seus afluentes afim de atuarem na
coleta do látex.
Em 1943 através do Decreto -Lei 5.812 de 13 de setembro foi
criado o Território Federal do Guaporé. Compunha -se de partes
desmembradas dos estados do Amazonas e do Mato Grosso. Seus
limites passavam pelo rio Purus, em sua parte norte, o que o tornava
maior do que é atualmente. Criado o território, foram definidos seus
municípios pelo Decreto -Lei 5.839, de 21 de setembro do mesmo ano.
168

Foram criados quatro municípios: Lábrea, formado por partes dos


municípios de Lábrea e Canutama, no estado do Amazonas; Porto
Velho que pertencia ao Estado do Amazonas e manteve sua área
municipal tornando -se a capital do Território; Alto Madeira,
compreendendo parte do antigo município de Santo Antônio,
pertencente ao Mato Grosso; Guajará -Mirim, compreendendo partes dos
municípios de Guajará -Mirim e da Cidad e de Mato Grosso (atual Vila
Bela), ambos pertencentes também ao estado de Mato Grosso.
Apesar da quase secular discussão e de inúmeras propostas para
a criação de novas províncias ou estados na Amazônia, a criação do
Território Federal do Guaporé apresent ou dificuldades já anteriormente
sentidas, no tocante à questão de demarcação de seus limites. Por
exemplo, antes mesmo da criação do Território do Guaporé a
comunicação entre Santo Antônio do Rio Madeira, pertencente ao
Estado do Mato Grosso, era feita de forma mais eficiente com Manaus,
no Estado do Amazonas, do que com a capital de Mato Grosso, Cuiabá.
Concorria para essa situação a dificuldade de transporte por via fluvial,
devido a presença das inúmeras cachoeiras do Madeira que se
interpunham entre Sa nto Antônio e Vila Bela. Além dessa primeira
dificuldade pairava ainda a insegurança quanto ao transporte terrestre
entre Vila Bela e Cuiabá.
Da mesma maneira, a inclusão do município de Lábrea, na área
do Território do Guaporé, revelou -se problemática. Ap esar de ser
interpretada como uma intenção por parte do governo federal de
interligar os cursos médios do Purus com o Madeira, o que ocorreu de
fato foi seu isolamento em relação a Porto Velho. Assim, apesar da
proximidade em linha reta até Porto Velho, 19 0 quilômetros, a
inexistência de estrada fazia com que os habitantes de Lábrea, para
comunicarem-se com a capital do seu território tivessem que percorrer
o rio Purus até sua foz no Amazonas e deste até a foz do Madeira e daí
navegar pelo Madeira até Porto Velho, percorrendo 2.500 quilômetros
de rios.
Essa situação foi corrigida nos dois anos seguintes à criação do
Território do Guaporé. Os Decretos n o . 6.550 de 31 de maio de 1944 e
7.470 17 de abril de 1945 visavam a ajustar em moldes mais realísticos
a área do território e o desmembramento dos seus municípios. O
primeiro recuou ao norte os limites do Purus para a confluência do
Maici com o Madeira, o segundo fixou uma nova divisão político
administrativa. A conseqüência desse decreto foi o retorno do munic ípio
de Lábrea à jurisdição Estado do Amazonas. A evidente decadência do
município de Santo Antônio ocasionou sua extinção e anexação ao
município de Porto Velho. Restaram então dois municípios no território:
o de Porto Velho, que continuou sediando a capi tal, com uma extensão
de 154.097 quilômetros quadrados subdividido nos distritos de Porto
Velho, Abunã (ex-Presidente Marques), Ariquemes, Calama, Jaci -
Paraná (ex-Generoso Ponce) e Rondônia (ex -Presidente Pena)
totalizando seis distritos; o município de Gu ajará-Mirim com uma
extensão de 88.947 quilômetros quadrados, subdivididos nos distritos
de Guajará-Mirim, Pedras Negras e Príncipe da Beira.
169

Quando da criação do Território do Guaporé vários outros nomes


foram sugeridos: Guaporé e Mamoré mas haviam aquele s que
defendiam o nome Rondônia como forma de homenagear Cândido
Mariano da Silva Rondon. Aluízio Ferreira, foi um dos mais ardentes
defensores dessa homenagem. Contudo, o homenageado ao saber da
intenção de seus admiradores declinou da honraria, foi escol hida então
a denominação de Território Federal do Guaporé. A idéia de
homenagear Rondon entretanto não foi esquecida, em 1956 o deputado
federal Áureo Melo, membro da bancada do PTB (Partido Trabalhista
Brasileiro) do Amazonas e natural de Abunã, propôs a modificação do
nome do território para Território Federal de Rondônia. A proposta foi
concretizada quando o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira
assinou a Lei n o . 2.731 em 17 de fevereiro de 1956.

Exercícios.

1. Quando e porque foi criado o Territ ório Federal do Guaporé?


R.

2. A quem caberia o exercício do governo do Território Federal do


Guaporé?
R.

3. Quando o Território Federal do Guaporé passou a se chamar


Rondônia?
R.
170

4. De que estados foram desmembradas áreas para a criação do


Território Federal do Guaporé?
R.

5. O que aconteceu com a EFMM após a criação do Território Federal


do Guaporé?
R.

Governadores do Território Federal do Guaporé


Posse Nome Exoneração
1943 (01/11) Aluízio Pinheiro Ferreira 1946 (07/02).
1946 (07/02) Joaquim Vicente Rondon 1947 (31/10).
1947 (31/10) Frederico Trotta 1948 (09/06).
1948 (09/06) Joaquim de Araújo Lima 1951 (22/02).
1951 (22/02) Petrônio Barcelos 1952 (07/02).
1952 (07/02) Jesu s Burlamaqui Hosannah 1953 (18 -11).
1953 (18/11) Ênio dos Santos Pinheiro 1954 (13/09). Primeiro mandato.
1954 (13/09) Paulo Nunes Leal 1955 (05/04) Primeiro mandato.
1955 (05/04) José Ribamar de Miranda 1956 (14/10).

A política no Território do Guaporé.

Antes mesmo da criação do Território Federal do Guaporé o poder


político, entendido de forma mais ampla, na região da Madeira -Mamoré,
era de certa forma, dividido entre os prefeitos e a administração da
ferrovia. Com a nacionalização da EFMM, esse poder passou a ser
exercido através de um contato direto do administrador da ferrovia com
o governo federal, tornando -se aquele o elemento mais dinâmico a
carrear os recursos e a tomar as iniciativas necessárias ao
desenvolvimento da região. Dessa forma, não sur preende o fato de que
o primeiro governador do território tenha sido exatamente o primeiro
diretor brasileiro da ferrovia, o Major Aluízio Pinheiro Ferreira.
171

Com a criação do Território, esse poder concentrou -se


excessivamente na figura do governador nome ado. Vivia-se o período
ditatorial do Estado Novo, onde o poder era exercido de forma
absolutamente centralizada e alheia às práticas democráticas. O
Decreto-Lei número 5839 de 21 de setembro de 1943, dispôs sobre a
administração territorial de tal maneira que as decisões políticas
dividiam-se entre o Ministério do Interior e o governador do Território.
Dessa forma o governador e o secretário geral, que era encarregado de
auxiliar o governador e substituí -lo eventualmente, eram nomeados ou
demitidos em qualquer tempo segundo a vontade do presidente da
República. Os assuntos referentes ao Território, eram tratados
diretamente com os Ministros de Estados e demais autoridades federais
e o seu orçamento anual era aprovado pelo Ministro da Justiça e
Negócios Interiores.
Na medida em que prestava contas de seus atos apenas ao poder
público federal, o Governador era, dentro do Território, absoluto. Cabia
a ele nomear e demitir livremente os prefeitos dos municípios assim
como aprovar ou não os decretos -leis baixados por esses. Não havia,
portanto, democracia no governo do Território. Nada de eleições,
exceto para deputado federal, nem de poder legislativo ao nível
municipal e estadual, para fiscalizar os atos do poder executivo e
aprovar as leis. Apesar de vários pa rtidos políticos estarem
representados, a política no território nesse período ficou polarizada
entre os aliados e seguidores de Aluízio Ferreira, denominados
cutubas, e a oposição liderada por Joaquim Vicente Rondon, cujos
seguidores eram chamados peles -curtas. Nas eleições de 1946 o
Território elegeu seu primeiro deputado federal, Aluízio Ferreira reeleito
nas eleições de 1950.
Nesse período governava o Território o Coronel Joaquim Vicente
Rondon que, liderando a oposição derrotou Aluízio Ferreira no ple ito de
1954 tornando-se o terceiro Deputado Federal do Território. Em 1958
Aluízio Ferreira voltou a representar Rondônia na Câmara dos
Deputados e no seu último ano de mandato, antes de despedir -se da
vida pública, elaborou o projeto de Lei n o . 4.821 no qual propunha a
elevação dos territórios do Amapá, Rio Branco e Rondônia à condição
de Estados. Certamente essa última iniciativa da vida parlamentar de
Aluízio Ferreira foi inspirada no projeto do Deputado acreano José
Guiomard dos Santos que, transformado na Lei n o . 4.069 de 12 de
junho de 1962 elevou o Acre à categoria de Estado.
Em 1969 foi assinado pelo Presidente Costa e Silva o Decreto n o .
411 que aumentou a autonomia dos governos territoriais e permitindo
ao eleitorado local fazer -se representar na vida política interna. Se o
cargo de governador continuava a ser exercido através de nomeação
exclusiva feita pelo Presidente da República foi por outro lado criado o
Conselho Territorial. Este Conselho constituía -se em uma espécie de
arremedo de Assembléi a Legislativa pois não possuía
representatividade junto à base eleitoral do Território porque era
formado através de indicações, excluindo -se a possibilidade do voto
direto. Dois membros eram indicados pelo Ministro do Interior; um era
indicado pelo órgão de desenvolvimento regional atuante na área, outro
172

era indicado pelo Governador do Território e dois eram indicados pelo


Ministro de Estado a partir de uma lista com três nomes que era
elaborada pelas Câmaras Municipais.
Dentre as competências do Conselho Territorial encontramos os
termos opinar, sugerir e solicitar ao governador, em apenas duas
dessas competências o Conselho realmente decidia: aprovar os
critérios de contratação de terceiros para prestarem serviços técnicos e
especializados e representar a o Ministério do Interior contra atos do
governador, seus secretários e prefeitos.
Os prefeitos municipais também continuaram a ser nomeados e
demitidos pelo governador. A modificação mais importante trazida pelo
Decreto-Lei 411, foi a criação das Câmaras Municipais, cujos recursos
contra os atos dos prefeitos deveriam ser encaminhados ao Conselho
Territorial. Em 13 de outubro de 1969 fixou -se através do Decreto -Lei
n o . 961 o número de vereadores para os municípios dos Territórios
Federais ficando estipulad o que Guajará-Mirim possuiria cinco
vereadores e Porto Velho nove vereadores.

Exercícios.

1. Quem eram os Cutubas e os Pele -Curtas?


R.
2. O Território Federal do Guaporé foi criado em:
a) 1943.
b) 1933.
c) 1913.
d) 1923.
e) 1893.

3. O governador e o secretário geral do t erritório eram:


a) eleitos democraticamente.
b) escolhidos e nomeados pelo presidente da república.
c) eleito por um colégio eleitoral composto de seringalistas e
funcionários públicos.
d) nomeados dentre aqueles do quadro de carreira do exército.
e) pessoas antigas na região.

4. Os prefeitos dos municípios dos territórios eram:


a) eleitos pelos cidadãos.
b) nomeados pelo presidente da república.
c) eleitos por um colégio eleitoral.
d) pessoas que portassem curso superior.
e) nomeados livremente pelo governador do território.

5. Os atos do poder executivo no território eram aprovados:


a) pelos prefeitos.
b) pela Assembléia Legislativa.
c) pelo poder público ao nível federal.
d) pelo conselho territorial.
e) pelo ministro do planejamento.
173

Governadores do Território Federal de Rondônia.


Posse Nome Exoneração
1956 (14/10) Jayme Araújo dos Santos 1956 (06/11).
1958 (06/11) Paulo Nunes Leal 1961 (18/03). Primeiro mandato.
1961 (18/03) Abelardo Alvarenga Mafra 1967 (08/09). Primeiro
mandato.
1961 (13/09) Ênio dos Sant os Pinheiro 1962 (03/07). Primeiro mandato.
1962 (12/12) W adih Darwich Zacharias 1963 (27/07).
1963 (27/07) Ari Marcos da Silva1963 (14/10).
1963 (14/10) Paulo Eugênio Pinto Guedes 1964 (27/01).
1964 (27/01) Abelardo Alvarenga Mafra 1964 (06/04). Primeiro
mandato.
1964(24/04) José Manoel Lutz da Cunha Menezes 1965 (29/03).
1965 (29/03) João Carlos dos Santos Mader 1967 (10/04).
1967 (10/04l) Flávio Assumpção Cardoso 1967 (30/11).
1967 (30/11) José Campedelli 1969 (13/02).
1969 (13/02) João Carlos Marques H enrique Neto 1972 (31/10).
Primeiro mandato.
1972 (31/10) Theodorico Gahyva 1974 (23/04).
1974 (23/04) João Carlos Marques Henrique Neto 1975 (20/05) Primeiro
mandato.
1975 (20/05) Humberto da Silva Guedes 1979 (20/03).
1979 (20/03) Jorge Teixeira de Olive ira 1981 (22/12). Seu primeiro
governo em Rondônia.

Os garimpos de cassiterita e pedras preciosas.

Para entendermos as implicações sociais políticas e econômicas


das atividades de garimpagem e mineração no Território Federal de
Rondônia, seria necessário termos uma idéia de sua escala. No
entanto, a atividade de garimpagem dificulta extremamente uma
abordagem estatística que possibilite a compreensão de toda a sua
extensão. Os dados disponíveis acerca do número de garimpeiros e da
produção contida, são se mpre estimativas mais ou menos aproximadas,
sendo que em muitos casos não passam de suposições, algumas vezes,
grosseiras. Para esta situação contribuem a mobilidade dos garimpeiros
e a precariedade dos sistemas de fiscalização e tributação.
Em 1951 foi descoberto diamante no rio Machado, também
denominado Ji-Paraná, em cujas margens existia um posto telegráfico,
construído pela Comissão Rondon e pequena povoação denominada
Vila de Rondônia, hoje município de Ji -Paraná, provocando um fluxo de
garimpeiros para a região. Em 1955 foi descoberta a cassiterita nas
terras do Sr. Joaquim Rocha, seringalista do rio Machadinho, afluente
do Ji-Paraná. No ano de 1956 esse seringalista iniciou a exploração da
cassiterita em suas terras, seguido pelo seringalista Moaci r Mota. Os
dois foram até 1959 os únicos a explorarem a cassiterita em Rondônia.
A cassiterita é matéria -prima para a produção do estanho. É
relativamente rara na natureza e crescentemente utilizada na indústria,
174

sendo por isso considerada material estrat égico. Nessa época o


transporte da cassiterita do rio Machadinho, era feito através de via
fluvial até Porto Velho e durava quarenta dias. A finalização da
abertura da rodovia que ligaria o vale do Machadinho a Porto Velho e o
apoio do governo às pesquisas do subsolo e financiamento à produção
eram as maiores aspirações dos produtores.
A partir do início da década de 60 começou uma nova onda
migratória, composta por garimpeiros, em busca da cassiterita,
reaquecendo a economia do Território. A importância d o extrativismo
mineral fez com que o governo federal criasse a Província Estanífera de
Rondônia, que abrangia também parte do Acre, Amazonas e Mato
Grosso.
Em 1970, através de portaria, o Ministro das Minas e Energia
proibiu a garimpagem manual, sob o arg umento de ser predatória, uma
vez que, parte da cassiterita se perdia no processo de extração manual
realizado pelos garimpeiros, o que levou a economia do Território a
entrar novamente em colapso. Somente empresas com capitais
suficientes para mecanizar a produção poderiam explorar o minério.
Calculava-se em dez mil o número de pessoas ligadas diretamente a
garimpagem, e trinta mil indiretamente, para uma população de cem mil
habitantes.
O exército foi encarregado de “reunir” os garimpeiros e
encaminhá-los aos aviões da FAB, de onde seriam “despejados” em
outras regiões do país. A proibição causou falências no comércio e um
enorme desemprego. A arrecadação caiu 70% e o Brasil passou a
importar o estanho que anteriormente exportava. A partir dessa portaria
vários grupos multinacionais reforçaram sua atuação no Território,
monopolizando a exploração da cassiterita, que antes era o meio de
sustento de muitos trabalhadores. A FUNAI autorizou oficialmente a
exploração em áreas indígenas, o que causou muitas morte s, dos
indígenas evidentemente. Os antigos seringalistas passaram a receber
royalties pela exploração de suas terras.
O fechamento do garimpo manual trouxe como conseqüências a
desestruturação da economia regional e o fortalecimento da oposição
política encabeçada pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro)
contra a situação governista, liderada pela a ARENA (Aliança
Renovadora Nacional). Dentre os grupos econômicos transnacionais
beneficiados pela proibição do garimpo manual de cassiterita
destacam-se: Brumadinho, Patino, Brascan e Paranapanema.

Exercícios.

1. Como se descobriu a cassiterita em Rondônia?


R.
2. Quais as transformações promovidas pelos garimpos de cassiterita
na região?
R.
3. Porque foi proibido o garimpo manual de cassiterita em 1970?
R.
175

4. De imediato, a conseqüência da proibição do garimpo manual em


Rondônia provocou:
a) um aumento na produção da cassiterita estimado em 70%.
b) um aumento no nível de emprego no território.
c) o estímulo nas transações comerciais.
d) uma queda na arrecadação do terri tório estimada em 70%.
e) o aumento das exportações brasileiras.

5. A FUNAI autorizou a exploração da cassiterita em áreas indígenas no


que resultou:
a) na melhoria da qualidade de vida dos povos indígenas ali
estabelecidos.
b) conflito e morte entre os indígenas.
c) maior controle do estado sobre as reservas.
d) a absorção dos indígenas na atividade extrativista.
e) N.R.A.

A abertura da BR-364.

A rodovia imaginada por Roquette -Pinto em 1916, tornou -se


realidade no período em que era presidente Juscelino Kubitschek e
governava o Território o Coronel Paulo Nunes Leal. Sua primeira
tentativa de construção foi iniciada por Aluízio Ferreira em 1934, com o
nome da Rodovia Amazonas -Mato Grosso, cujo trajeto deveria seguir o
percurso paralelo à linha telegráfica instalada pela Comi ssão Rondon.
Essa tentativa foi paralisada em 1945.
No dia 15 de março de 1960 o Presidente da República criou,
através do Decreto n o . 47.933 a Comissão Especial de Construção da
Rodovia Brasília -Acre, cujo diretor geral determinou que as obras
fossem concluídas no dia 10 de dezembro daquele ano, entretanto a
rodovia foi inaugurada em 13 de janeiro de 1961. Com a construção da
rodovia, as condições para o povoamento do estado estavam dadas,
revelando-se ainda uma iniciativa importante não somente para
Rondônia, mas também para os estados vizinhos, cuja ligação por terra
com o Centro-Sul do país tornou -se possível.
A construção da BR-364 esteve a cargo da empreiteira Camargo
Correia e estendeu -se dentro do Território Federal de Rondônia no
sentido Sudeste-Noroeste. A partir de 1966, ficou completada a ligação
entre Cuiabá e Porto Velho, através dos trabalhos realizados pelo 5º
Batalhão de Engenharia e Construção, incumbido pelo governo militar
de concluir a construção da Rodovia Brasília -Acre, de mantê-la em
condições satisfatórias de tráfego e de extinguir a legendária EFMM,
considerada então, obsoleta e antieconômica. A chegada do 5º BEC
trouxe visíveis transformações para o Território e para a cidade de
Porto Velho. Dentre estas medidas destaca -se o despejo dos
moradores do bairro da Baixa da União para o recém -criado bairro da
Liberdade. Seus trabalhos de manutenção da BR -364 foram
fundamentais para garantir o abastecimento da cidade e do Território
durante as décadas de 1960 e 1970. Notável também foi o t rabalho
176

desenvolvido pelo 5º BEC para a construção do trecho rodoviário que


ligaria Porto Velho a Guajará -Mirim.
A pavimentação da BR-364 foi obra tanto do 5º BEC quanto de
construtoras civis como a Andrade Gutierrez. Ao todo foram assinados
dezenove contratos para a pavimentação da BR -364, no trecho que vai
de Cárceres no Mato Grosso, a Ariquemes em Rondônia. Cinco destes
contratos foram assinados com empresas de consultoria e quatorze
com empreiteiras. As obras foram concluídas em 1984, durante o
governo do Coronel Jorge Teixeira de Oliveira e sob a presidência do
General João Batista Figueiredo.

Exercícios.

1. Como se deu a abertura da BR -364?


R.

2. Qual a importância da BR -364?


R.

3. Quando e como se deu a pavimentação da BR -364?


R.

4. Qual o papel do 5º BEC na manutenção da rodovia?


R.
177

5. Durante a abertura da rodovia BR -364 era presidente da república:


a) Jânio Quadros.
b) Juscelino Kubitschek.
c) Aluizio Ferreira.
d) Eurico Gaspar Dutra.
e) João Figueiredo

Em resumo.

 Durante as décadas de 1920 e 1930 a borracha amazônica perdeu


preço em função da concorrência da borracha inglesa produzida pela
Malásia. Os seringais amazônicos entraram em decadência e foram
abandonados. Mesmo o gigantesco projeto do empresário norte-
americano Henry Ford, a Fordlândia, localizada no Pará, faliu. Perdeu -
se um investimento de US$15000.000,00 e 3,5 milhões de pés de
seringueira.
 Com a Segunda Guerra Mundial, os seringueiros da Malásia caíram
em poder dos japoneses e os aliados voltaram a comprar borracha da
Amazônia, implementando através dos Acordos de W ashington (1942)
um programa denominado Guerra pela borracha. Recrutou -se mão-de-
obra nordestina e procedeu -se a uma sanitarização parcial de algumas
regiões da Amazônia. Foram criados o Banco da Borracha, a Rubber
Development Corporation e a Superintendência de Abastecimento do
Vale Amazônico, que objetivaram quebrar o monopólio das casas
aviadoras. Contudo não se conseguiu destruir o sistema de barracão.*
 Com o término da guerra os seringais amazônicos novam ente caíram
em decadência, sobretudo após a invenção da borracha sintética por
alemães e norte-americanos.
 Durante as décadas de 1930 e 1940 tentou -se também a implantação
de núcleos de colonização agrícola na Amazônia. O Capitão Aluízio
Ferreira criou as colônias de IATA, Poço Doce, nos vales do Madeira e
Mamoré. Essas colônias deveriam reduzir os graves problemas de
desabastecimento da região.
 A criação do Território Federal do Guaporé ocorreu em 13 -09-1943
através do Decreto -Lei n º 5812, assinado pelo presidente Getúlio
Vargas. O primeiro governador foi o Major Aluízio Ferreira, que já havia
se destacado como uma liderança regional durante os períodos em que
chefiou a Estação telegráfica de Santo Antônio e na direção da EFMM.
 Originariamente o territóri o contava com 04 municípios: Lábrea, Porto
Velho, Santo Antônio e Guajará -Mirim.
178

 O Decreto-Lei nº 6550 (1944) e 7.470 (1945) reajustaram o mapa do


território do Guaporé que passou a ter a forma atual e reduziram o
número de municípios a 02. Lábrea foi devo lvida ao Amazonas e Santo
Antônio foi extinto.
 Após deixar o governo o Coronel Aluízio Ferreira ocupou o cargo de
deputado federal e liderou um grupo político local denominado
“cutubas” (situação) que tinha como opositores os “peles - curtas”.
 Os garimpos de pedras preciosas e cassiterita promoveram novos
surtos migratórios para o território, que em 1956 passou a se chamar
Rondônia. Os garimpos manuais de cassiterita foram fechados por uma
portaria do Ministério das Minas e Energia em 1970. Permitiu -se
somente o garimpo mecanizado, o que levou à instalação de grandes
empresas mineradoras em Rondônia, tais como: Brumado, Brumadinho,
Bracan, Paranapanema.
 A abertura da Br 029, mais tarde chamada BR -364 ocorreu no
governo do presidente Juscelino Kubitscheck. G overnava o território de
Rondônia o Coronel Paulo Leal. A abertura da BR -364 foi realizada em
1960 e para manter as condições de tráfego criou -se o 5º BEC que se
instalou em Rondônia em 1966.
 Ao 5º BEC coube ainda extinguir a EFMM e abrir uma rodovia que
ligasse Porto Velho a Guajará -Mirim.
 A BR-364 impulsionou um novo e definitivo surto migratório para a
região baseado na agricultura, o que possibilitou a criação de diversos
municípios que hoje integram o Estado de Rondônia.
179

Capítulo 11
A criação do Estado de Rondônia.

A colonização recente.

O surto decisivo para o colonização permanente do Estado,


ocorreu a partir da década de 70. Com o grande fluxo migratório dessa
década, o município de Porto Velho começou a bater sucessivos
recordes de cresciment o culminando com uma autentica explosão de
expansão urbana na década de 80. Antigos núcleos de colonização
cresceram e novos núcleos surgiram.
A pavimentação da BR-364 teve o mérito de colocar um fim ao
relativo isolamento rodoviário do Estado em relação às demais regiões
do país, facilitando o movimento migratório. Em Porto Velho, como
conseqüência desse fenômeno, o crescimento populacional assumiu
grandes proporções atingindo, em 1991, um percentual de crescimento
de 467% em relação à população existente em 1980, infinitamente
superior as taxas de crescimento de metrópoles como São Paulo, Rio
de Janeiro ou Belo Horizonte.
Contudo o fluxo migratório da década de 1970, possui
características diferentes dos anteriores. Até esse período, os fluxos
migratórios ocorreram em função da busca de riquezas naturais,
portanto os migrantes são extratores, seringueiros e mineradores. Estes
últimos, marcadamente nômades. A partir desse momento, a migração
ocorre em torno da busca de terras para a agricultura. São pequen os
agricultores com suas famílias que procuram Rondônia na esperança de
ter acesso à terra, portanto caracteristicamente sedentários. A maior
taxa média geométrica de incremento da população do Território, é
desse período (70/80), superior à de qualquer ou tra unidade federada.
Um indicativo de que o fluxo migratório, nessa década, é principalmente
de camponeses em busca de terras é a queda do percentual da
população urbana: de 53.63% em 1970 para 46.54% em 1980.
Durante a década de 1980 e até aproximadamen te sua a metade
da continua intenso o fluxo migratório para Rondônia, em 1986 o
percentual de crescimento ainda é alto (91.74%), tanto se comparado
aos períodos anteriores, como se comparado ao nacional (21.15%) e
regional (50.17%). Deve -se ressaltar que e ssa foi a década de maior
incremento populacional da região Norte, que cresceu a uma taxa
média geométrica de 5.19%, maior que a do período anterior que já
havia sido também a maior dentre todas as regiões do país.
Nos territórios federais, as terras eram de propriedade da União e
definidas como devolutas federais. Por volta de 1970 o INCRA iniciou
os primeiros projetos de colonização: o Projeto Ouro Preto (a 330 km
de Porto Velho), Projeto Ji -Paraná, Projeto Sidney Girão, Vilhena e
Burareiro. Os migrante s vinham para Rondônia confiantes nesses
projetos, chegando à razão de três mil famílias por ano. O INCRA não
conseguiu efetuar o assentamento sequer de 1/3 dessas famílias,
justificando-se pela falta de verbas para esses projetos. Ocorre que a
180

maior parte dessas verbas foi alocada para a área da Tranzamazônica


onde o fluxo migratório era bem menor. Os problemas sociais
resultantes desse processo foram catastróficos.
Grandes grupos agro -industriais do Centro -Sul tentavam grilar as
terras, resultando em con flitos violentos com os posseiros. Esses
grupos mantinham esquadrões armados para expulsar ou mesmo
eliminar posseiros situados em terras que consideravam suas.
Acrescente-se ainda a confusão em torno dos documentos de
propriedade, alguns datados do início do século, e a imprecisão na
demarcação das terras facilitando -se a arrogância a pretendidos
direitos a desorganização e corrupção da máquina administrativa.
Inicialmente, a ocupação da terra ocorreu por iniciativa de
particulares que a loteavam e vendia m aos imigrantes. Contudo, a
propriedade dessas terras eram duvidosas o que provocou problemas
sociais. Com o passar do tempo, os migrantes passaram a invadir as
terras disponíveis o que levou a intervenção do INCRA, criando
Projetos de Colonização.
O INCRA, ao regularizar a posse espontânea da terra não
conseguiu controlar o problema das invasões. Assim é que, apesar da
queda do fluxo migratório a partir de meados da década de 1980,
34.16% da área total de todos os projetos desenvolvidos pelo INCRA
entre 1970 e 1990, pertenciam a projetos desenvolvidos entre 1986 e
1990.
Explica-se, esses projetos, em sua maioria, destinavam -se a
regularizar terras invadida a partir de 1970, registrados em nome da
união ou de particulares. Eram projetos de assentamento ou de
regularização fundiária, nenhum de colonização de fato, pois, durante
as décadas de 1970 e 1980, exceto as áreas indígenas e de reserva
extrativista, quase todas as terras férteis do estado foram ocupadas,
desestimulando a imigração.

Exercícios.

1. São causas dos recentes processos migratórios dirigidos para


Rondônia nas décadas de 1970 e 1980:
a) a colonização agrária da BR -364 e os garimpos de ouro do rio
Madeira.
b) o segundo ciclo da borracha.
c) a colonização agrária do eixo ferroviário da Madeira -Mamoré.
d) a formação das grandes lavouras de soja e cacau entre Porto Velho
e Humaitá.
e) a abertura dos garimpos de cassiterita nos rios Jí -Paraná e Machado.

2. Que diferenças caracterizam o migrante dos anos 1970 -80 daqueles


dos períodos da borracha e da ferrovia?
R.
181

3. São projetos agrários surgidos em Rondônia na década de 1970:


a) Projeto Jari e Projeto Carajás.
b) Projeto Ouro Preto e Projeto Burareiro.
c) Projeto Trombetas e Projeto Rondonópolis.
d) Projeto Balbina e Projeto Jacy -Paraná.
e) Projeto Itacoatiara e Proj eto Iata

4. Como se organizou a agropecuária de Rondônia?


R.

5. Sobre o surto migratório das décadas de 1970 e 1980 pode -se


afirmar:
a) que resultou do aumento do interesse do mercado internacional pela
borracha da Amazônia.
b) que o INCRA, apesar de tent ar regularizar a posse espontânea da
terra, nunca conseguiu controlar as invasões de terras resultantes
desse surto.
c) que foi totalmente organizado por companhias de colonização que
atraíam e assentavam os novos colonos.
d) que o migrante buscava, principalmen te, a atividade de extração da
cassiterita.

Os garimpos de ouro do Rio Madeira.

A descoberta e garimpagem do ouro tem no Brasil uma tradição


que remonta ao século XVI. Em 1578 o ouro já era explorado em
Paranaguá e em 1633 no Vale da Ribeira. Contudo es sa atividade
adquiriu sua maior expressão, no período colonial, em Minas Gerais e
no Mato Grosso, onde o fenômeno vinculou -se ao alargamento da
fronteira colonial para além do meridiano de Tordesilhas.
A partir do início dos anos 70 o preço do ouro estava em
movimento ascendente, no mercado internacional até que em 1979
houve uma súbita alta, sem precendentes, que elevou o preço a
patamares nunca antes vistos. O movimento na Bolsa de Metais de
Londres tornava extremamente atrativa a garimpagem do metal
resultando na intensificação da pesquisa e extração em diversos países
182

da América do Sul: Equador, Peru, Guiana, Colômbia, Venezuela,


Bolívia, Guiana Francesa.
Contudo foi no Brasil onde a corrida do ouro atingiu níveis
comparados àquela ocorrida em direção à Califórnia, nos EUA, no
século passado. Apesar da queda do preço do produto no mercado
internacional durante a década de 80, a produção do ouro no Brasil
continuou bastante alta. Segundo uma estimativa do DNPM de Belém,
produziu-se em 1987 120 toneladas de ouro, em 1989 o Brasil produziu
de 130 toneladas de ouro, a maior parte (90%) proveniente dos
garimpos. Esses volumes permitem concluir que a corrida do ouro na
Amazônia superou em produção o mesmo fenômeno ocorrido na
Califórnia onde, entre 1848 e 1856, produziu-se em média 80 toneladas
de ouro ao ano. Grandes jazidas foram descobertas na Amazônia, como
Serra Pelada em 1979 e Cumarú no ano seguinte, transformando o
cenário econômico e social nas áreas de garimpagem.
Vista com reserva durante muito tempo p elos tecnocratas, que
consideravam mais vantajosa a exploração efetuada pelas grandes
mineradoras, a garimpagem manual é vista hoje como um modelo de
exploração alternativa, historicamente enraizada na Amazônia, e
razoavelmente eficiente em prospectar e ex trair o metal.
A partir dos anos 30, quando foi criado o DNPM (Departamento
Nacional de Produção Mineral) tentou -se orientar os garimpeiros no
sentido da utilização de maquinário, contudo, a entrada em vigor das
cláusulas do acordo de Bretton W oods, em 194 8, resultou em uma
considerável queda do preço do ouro no mercado internacional,
tornando antieconômica a utilização de maquinário importado na
atividade garimpeira.
Com a elevação do preço do ouro no final dos anos 70, novos
equipamentos e técnicas de ext ração foram utilizados de forma a
adequar-se à extração nos rios, em suas barrancas e em terra firme. A
existência de ouro nas terras de Rondônia é conhecida desde o século
XVIII, mais precisamente datam de 1739 as primeiras notícias deste
metal no rio Corumbiara. Em 1979, iniciaram a chegar em Rondônia
alguns garimpeiros atraídos pela notícia de que o rio Madeira era rico
em ouro. O DNPM, liberou para a garimpagem a área de Abunã, cuja a
exploração encetada revelou -se abundante, atraindo com a divulgação
dos resultados iniciais garimpeiros de outros estados.
Depois de Abunã passou -se a explorar ouro em outros pontos do
rio Madeira como: Teotônio, Morrinhos, Caldeirão do Inferno, Araras,
Penha e Chocolatal. Em 1980 começaram a chegar as primeiras balsas
vindas do Pará, a maior parte de Itaituba e Santarém. Embora menores
foram explorados também garimpos em terra firme, cuja participação
sobre a produção do Estado nunca adquiriu a importância dos garimpos
fluviais. Cite-se entre as áreas de garimpos de terra f irma os de Serra
sem Calça, Nova Brasilândia, Vagalume, Faya e Serra do Top Less. Do
rio Madeira muitos garimpeiros transpuseram a fronteira indo explorar
os rios bolivianos como o Beni e o rio Madre de Dios.
A insegurança e o clima de violência faziam par te do cotidiano
dos garimpos: roubos, mortes e tóxicos. Na competição pelo ouro,
cortavam-se as cordas que ancoravam as balsas de maneira que estas
183

iam de encontro as cachoeiras. As mangueiras que supriam de ar os


mergulhadores também eram cortadas; a pros tituição e o bebida
propiciaram inúmeras mortes, além da malária e de outras doenças
tropicais. Em 1981, a polícia interferiu no garimpo proibindo a entrada
de mulheres retirando as que lá estavam, impedindo a entrada de
bebidas alcoólicas e prendendo cont rabandistas, ladrões e pistoleiros.
Da mesma maneira que noutras regiões de garimpagem, em
Rondônia essa atividade ocupou milhares de trabalhadores e sua renda
estimulou a economia particularmente no ramo de máquinas e
equipamentos, da construção civil e d o setor de diversões públicas. A
intensificação da garimpagem produziu também um assustador aumento
do custo de vida em Porto Velho.
Apesar da ausência de valores confiáveis que permitam uma
análise quantitativa do fenômeno da garimpagem do ouro em Rondôni a
é possível utilizar as poucas informação existentes, no sentido de
dimensionar o impacto da atividade sobre o Estado. Segundo
levantamento de campo da FIERO, em 1987, estavam envolvidos na
exploração do ouro em Rondônia 600 dragas, 450 balsas, além de
equipes de garimpeiros manuais. Trabalhavam diretamente nesta
atividade naquele ano 3.450 trabalhadores e indiretamente, segundo
estimativa da mesma fonte, mais de 2.000 pessoas. Mais de 90% desse
conjunto operava no garimpo do rio Madeira. A partir de meado s dos
anos noventa uma parte dos garimpos do Madeira encontrava -se em
fase de exaustão.

Exercícios.

1. Como se caracterizou a atividade de mineração do ouro em


Rondônia?
R.

2. Quais os principais focos de garimpagem no rio Madeira?


R.
184

3. Aponte algumas das conseqüências da garimpagem do ouro na


região.
R.

4. Sobre o auge da garimpagem do ouro no rio Madeira é correto


afirmar que:
a) não foi significativa para a economia do estado.
b) somente foi possível porque o governo financiava os ga rimpeiros.
c) estimulou o comércio, da região.
d) provocou uma acentuada queda no custo de vida da região.

5. Os garimpos de ouro do rio Madeira demonstram claros sinais de


exaustão a partir de:
a) meados da década de 60.
b) início da década de 70.
c) meados dos anos 90.
d) meados dos anos 80.

A criação do Estado de Rondônia.

Com o crescimento vertiginoso da população, motivado pelo


contínuo fluxo migratório, proveniente de todas as regiões do Brasil,
quer para o eixo da BR -364 onde se estabeleceram núcleos de
colonização agrícola, quer para o vale do alto Madeira, onde o garimpo
de ouro atraía multidões, cresceu também o anseio de criação do
Estado de Rondônia. O Território que nasceu com quatro municípios,
depois agrupados em dois (Porto Velho e Guajará -Mirim), em 1977
assistiu à criação de mais cinco municípios (Cacoal, Ariquemes,
Rondônia, Pimenta Bueno e Vilhena), todos ao longo da BR -364.
Rondônia vivia , então, um período de intensa prosperidade e
desenvolvimento. Despontava o Território Federal de Rondônia nas
manchetes nacionais como o novo Eldorado. Esta terra de promissão,
fartura, progresso e trabalho , contrastava com o restante do país, que
vivia os efeitos danosos de uma política recessiva, inflacionaria, que
gerava desemprego e desestabilização social.
Em 1981 foram criados novos municípios, alguns fora do eixo da
rodovia, quatro resultantes de povoações nascidas com a recente
colonização (Colorado do Oeste, Espigão do Oeste, Presidente Médici,
Ouro Preto do Oeste) e um (Costa Marques) de povoação antiga,
datando da construção do Forte Príncipe da Beira em 1776.
185

Notando que o desenvolvimento do Território Federal de Rondônia


chegara a um ponto em que fugia ao controle de seu Ministério, o
recém nomeado Ministro do Interior, Coronel Mário David Anreazza,
indicou ao presidente da República, General João Batista de Oliveira
Figueiredo, o nome do Coronel de Artilharia Jorge Teixeira de Oliveira
para governar o território, que tomou posse no governo em 10 de abril
de 1979.
O Coronel Jorge Teixeira já havia ocupado, com sucesso, a
prefeitura de Manaus, onde consolidou a fama de um administrador
competente e ativo. Dentre as inúmeras missões que lhe estavam
reservadas pelo Ministério do Interior, a frente do governo do Território
Federal de Rondônia, destacava -se a tarefa de preparar administrativa,
econômica e politicamente o Território para a sua transformação em um
novo Estado. Rondônia crescia aceleradamente e a abundância de
possibilidades continuavam a atrair novos contigentes humanos para
estas regiões.
A administração do Coronel Teixeira, foi marcada pelo dinamismo
e pela febril atividade de criação de uma infra -estrutura capaz de
permitir e viabilizar a administração do futuro Estado de Rondônia. A
população havia crescido e o Censo Demográfico de 1980 demonstro u
que Rondônia havia crescido em proporções muito maiores do que
havia sido previsto. Novos núcleos de colonização surgiam ao longo da
BR-364 e também das estradas vicinais que partiam da BR -364 para
áreas interioranas do Território. Paralelamente ao cres cimento
demográfico observou -se o crescimento das receitas e da economia em
geral. A agricultura desenvolvida ao longo da BR -364 apresentava
Rondônia nos noticiários nacionais como um novo celeiro do Brasil. A
pecuária bovina ganhava impulso e considerávei s áreas de florestas
eram devastadas para a formação de pastos e em benefício da
Indústria Madeireira.
Perdurava ainda um problema básico que era a geração de
energia hidrelétrica. O Território era abastecido por usinas
termelétricas obsoletas e onerosas. Vivia-se sob constantes
racionamentos de energia elétrica na capital e nas principais cidades
de Rondônia. Esse problema viria a ser resolvido somente após a
segunda metade da década de 1980, com a inauguração da hidrelétrica
de Samuel. Mesmo assim, exten sas áreas, no interior de Rondônia,
continuaram sofrendo o racionamento e até mesmo o desabastecimento
de energia elétrica.
Em meados do ano de 1981 as metas previstas para a
transformação do Território em Estado já haviam sido atingidas e
algumas ultrapassadas. O Ministro do Interior motivou -se então a
enviar, em 3 de agosto desse mesmo ano, uma exposição de motivos
ao Presidente da República João Batista Figueiredo, propondo a
elevação do Território à categoria de Estado.
Como ressalta o professor Amizael Silva (No rastro dos
pioneiros): “gregos e troianos juntaram-se na luta pela criação do
Estado, em alguns pontos falando a mesma linguagem, como em
relação a organização infra -estrutural e a política administrativa dos
Territórios Federais - inadequada, pois os Territórios são vinculados à
186

existência política e jurídica da União, sendo que todo poder é


subordinado à Federação e tal centralização era criticada até mesmo
pelos governadores.”
Em 17 de agosto de 1981, foi encaminhado pelo Presidente da
República João Batista Figueiredo, ao Congresso Nacional, o projeto de
Lei Complementar n o . 221, que foi aprovado em primeira discussão em
16 de dezembro do mesmo ano e já em 22 de dezembro, foi aprovado a
Lei Complementar nº. 41 que criava o Estado de Rondônia. A instalação
do Estado deu-se em 4 de janeiro de 1982, sendo nomeado, então, o
Coronel Jorge Teixeira como seu primeiro Governador. A posse do
governo deu-se no mesmo dia e dentre seus principais atos destacam -
se a estruturação do judiciário e a criação do Tribunal de Contas do
Estado de Rondônia. Em 7 de junho de 1983, era aprovada pela
comissão de revisão constitucional da Assembléia Estadual de
Rondônia a Constituição do Estado.
A transformação em estado e o surto migratório que continuava
intenso foram elementos que permitem entender a rápida criação de
novos municípios, cujos atos constitutivos e áreas dos municípios dos
quais foram desmembrados cita -se a seguir: Decreto -Lei 71 de 05/08/83
(Rolim de Moura e Cerejeiras), Lei 100 de 11/05/86 (Santa Luzia do
Oeste, desmembrado de Rolim de Moura e Pimenta Bueno), Lei 104 de
25/05/86 (Alta Floresta do Oeste), Lei 103 de 20/05/86 (Alvorada do
Oeste), Lei 157 de 19/06/87 (Nova Brasilândia), Lei 201 de 07/06/88
(Cabixi), Lei 200 de 07/06/88 (São Miguel do Guapo ré‚), Lei 202 de
15/06/88 Vila Nova do Mamoré) e Lei 198 de 11/05/88 Machadinho do
Oeste resultante do desmembramento de três municípios, Ji -Paraná ,
Ariquemes e Jarú.

Exercícios.

1. Comente os fatores que possibilitaram a criação do Estado de


Rondônia:
R.
2. Quando e como foi criado o Estado de Rondônia?
R.
3. Não foi governador do Estado de Rondônia:
a) Jorge Teixeira de Oliveira.
b) Jerônimo Santana.
c) Osvaldo Piana.
d) Angelo Angelin.
e) Paulo Nunes Leal.

4. Como resultado da migração, na década de 80 ocorreu que:


a) a população urbana do estado superou a população rural.
b) ocorreu uma imediata elevação no padrão de vida da população.
c) a população rural ultrapassou a população urbana.
d) em nenhuma região de Rondônia a população urbana era superior a
rural.
187

5. Quando o território foi elevado à categoria de estado ocupava a


presidência da república:
a) Jorge Teixeira de Oliveira.
b) Juscelino Kubitschek.
c) Mário Andreazza.
d) João Figueiredo.

Em resumo.

 O surto decisivo para o colonização permanente do Estado ocorreu


com o grande fenômeno migratório da década de 70, que culminou
com uma explosão de expansão urbana na década de 80. Antigos
núcleos de colonização cresceram e novos núcleos surgiram.
 A pavimentação da BR-364 colocou um fim ao relativo isolamento
rodoviário do Estado em relação às demais regiões do país
facilitando o movimento migratório.
 O fluxo migratório da década de 1970, possui características
diferentes dos anteriores pois o migrante é essencialmente
sedentário, agricultor, ao contrário do perfil anterior, nômade e
extrativista.
 Indicativo de que o fluxo migratório, nessa década, é principalmente
de camponeses em busca de terras é a queda do percentual da
população urbana: de 53.63% em 1970 para 46.54% em 1980.
 Na década de 1970 o INCRA iniciou os primeiros projetos de
colonização: o Projeto Ouro Preto (a 330 km de Porto Velho), Projeto
Ji-Paraná, Projeto Sidney Girão, Vilhena e Burareiro.
 Grandes grupos agro -industriais do Centro -Sul tentavam grilar as
terras, resultando em conflitos violentos com os posseiros. Esses
grupos mantinham esquadrões armados para expulsar ou mesmo
eliminar posseiros situados em terras que consideravam suas.
 O INCRA, ao regularizar a posse espontânea da terra não conseguiu
controlar o problema das invasões. Os projetos, em sua maioria,
destinavam-se a regularizar terras invadidas a partir de 1970,
registradas em nome da união ou de particulares.
 A partir dos início dos anos 70 o preço do ouro estava em movimento
ascendente, no mercado internacional, até que em 1979 houve uma
súbita alta, sem precen dentes, que elevou o preço a patamares
nunca antes vistos.
 A existência de ouro nas terras de Rondônia é conhecida desde o
século XVIII, mais precisamente datam de 1739 as primeiras notícias
desse metal no rio Corumbiara. Em 1979, iniciaram a chegar em
Rondônia alguns garimpeiros, atraídos pela notícia de que o rio
Madeira era rico em ouro.
 Depois de Abunã passou -se a explorar ouro em outros pontos do rio
Madeira como: Teotônio, Morrinhos, Caldeirão do Inferno, Araras,
Penha e Chocolatal.
 A insegurança e o clima de violência faziam parte do cotidiano dos
garimpos: roubos, mortes e tóxicos. Na competição pelo ouro,
188

cortavam-se as cordas que ancoravam as balsas de maneira que


essas iam de encontro as cachoeiras.
 Da mesma maneira que noutras regiões de garimpag em, em
Rondônia essa atividade ocupou milhares de trabalhadores e sua
renda estimulou a economia, particularmente no ramo de máquinas e
equipamentos e da construção civil do setor de diversões públicas.
 Com o crescimento vertiginoso da população, o Territó rio que nasceu
com quatro municípios, depois agrupados em dois (Porto Velho e
Guajará-Mirim), em 1977 assistiu à criação de mais cinco municípios
(Cacoal, Ariquemes, Rondônia, Pimenta Bueno e Vilhena), todos ao
longo da BR-364.
 Em 1981 foram criados novos municípios, alguns fora do eixo da
rodovia, quatro resultantes de povoações nascidas com a recente
colonização (Colorado do Oeste, Espigão do Oeste, Presidente
Médici, Ouro Preto do Oeste) e um (Costa Marques) de povoação
antiga, datando da construção do Forte Príncipe da Beira em 1776.
 Ao Coronel Jorge Teixeira foi atribuída a tarefa de preparar
administrativa, econômica e politicamente o Território para a sua
transformação em um novo Estado. Rondônia crescia aceleradamente
e a abundância de possibilidade s continuavam a atrair novos
contigentes humanos para estas regiões.
 Em meados do ano de 1981 as metas previstas para a transformação
do Território em Estado já haviam sido atingidas e algumas
ultrapassadas. O Ministro do Interior motivou -se então a enviar, em 3
de agosto desse mesmo ano, uma exposição de motivos ao
Presidente da República, João Batista Figueiredo, propondo a
elevação do Território à categoria de Estado.
 Em 17 de agosto de 1981, foi encaminhado pelo Presidente da
República João Batista Figu eiredo ao Congresso Nacional o projeto
de Lei Complementar n o . 221, que foi aprovado em primeira
discussão em 16 de dezembro de 1981. Em 22 de dezembro deste
mesmo ano, foi aprovado a Lei Complementar nº. 41 que criava o
Estado de Rondônia.
 A instalação do Estado deu-se em 4 de janeiro de 1982, sendo
nomeado, então, o Coronel Jorge Teixeira como seu primeiro
Governador. A posse do governo deu -se no mesmo dia e dentre seus
principais atos destacam -se a estruturação do judiciário do novo
Estado e a criação do Tribunal de Contas do Estado de Rondônia. Em
7 de junho de 1983, era aprovada pela comissão de revisão
constitucional da Assembléia Legislativa de Rondônia a Constituição
do Estado de Rondônia.
189

Governadores do Estado de Rondônia.


Posse Nome Exoneração
1981 (22/12) Jorge Teixeira de Oliveira 1985 (14/05). Segundo
mandato.
1985 (22/12) Ângelo Angelin 1987 (15/03).
1987 (15/03) Jerônimo Garcia de Santana 1991 (01/01).
1991 (01/01) Oswaldo Piana Filho 1995 (01/01).
1995 (01/01) W aldir Raupp de Matos.
190

Exercícios de fixação.

1. Quando foi iniciada a última tentativa de construção da EFMM, e


quando foi concluída?
R.
2. Não é considerado fator que inviabilizou a construção da EFMM pela
empreiteira P&T Collins:
a) o bloqueio do dinheiro destinado às obras pelos tribunais
londrinos.
b) a ruptura de relações entre Brasil e Bolívia devido à questão do
Acre.
c) a insalubridade regional.
d) os ataques de indígenas, a fome e o desabastecimento.
e) o desconhecimento das condições naturai s e da topografia
regional pelos empreiteiros

3. Foi o fator alegado pela empreiteira inglesa Public W orks para


retirar-se das obras da EFMM em Santo Antônio do Madeira:
a) o não pagamento da dívida de Church para com a empreiteira.
b) a insalubridade ambiental.
c) a crise no comércio internacional da borracha.
d) a ausência de mão -de-obra disponível.
e) os conflitos regionais entre Brasil e Bolívia devido à questão do
Acre.

4. Marque V ou F.
( ) Farquhar comprou a concessão para a construção da EFMM do
engenheiro carioca Joa quim Catramby.
( ) A fim de resolver os problemas da insalubridade a empresa
Madeira-Mamoré construiu o hospital São José.
( ) Os trabalhos de abertura da selva e assentamento dos trilhos
foram realizados por milhares de trabalhadores nacionais e
estrangeiros, destacando -se os barbadianos.
( ) A EFMM foi concluída em 1930 e teve como seu primeiro diretor
geral o Tenente Aluízio Ferreira.

5. Relacione as colunas.
1) Collins. (1) empreitada de 1877.
2) Public W orks. (2) fracassou em 1873.
3) Farquhar. (3) Construção da ferrovia entre 1907 -
1912.
4) May, Jekill & Randolph. (4) líder do truste que detinha o
contrato para construção da EFMM entre 1907 e 1912.
5) Morsing. (5)Comissão enviada pelo governo do
Brasil ao Madeira em 1883.

6. Que privilégios detinha a direção norte -americana da EFMM sobre


Porto Velho?
191

R.
7. Quem foi e quais as obras do 1º superintendente de Porto Velho?
R.

8. Qual a base do atrito entre a administraç ão da EFMM e os


superintendentes de Porto Velho?
R.

9. Quem eram os soldados da borracha?


R.

10. Que percentual de Soldados da Borracha se calcula que tenham


vindo para o Vale do Madeira?
R.

11. Explique a importância do Soldado da Borracha.


R.

Assinale a alterna tiva adequada:

12. Não são fatos do processo de colonização dos vales da Amazônia


nos séculos XVI e XVII:
a) a conquista e o povoamento da região amazônica foi motivada por
fatores de ordens diversas prevalecendo a busca de riquezas
naturais e a consolidação de uma base de ocupação mercantilista.
b) Francisco Caldeira Castelo branco atuou decisivamente no
processo de expulsão de estrangeiros do vale amazônico,
fundando em 1616 a cidade de Santa Maria de Belém do Grão -
Pará.
c) Pedro Teixeira consolidou a presença port uguesa na Amazônia ao
realizar a primeira viagem de navegação pelo Amazonas partindo
de Quito até Marajó.
d) a ocupação colonial da Amazônia foi marcada pela atuação das
ordens religiosas franciscana, capuchinha, mercedária, carmelita e
principalmente jesuíti ca que fundaram aldeamentos e missões para
a catequese e aculturamento do indígena.
e) no rastro das missões e aldeamentos, bandeirantes e militares
estabeleceram -se na Amazônia a partir da busca de riquezas
naturais, indígenas para o cativeiro e manutenção d as fronteiras.

13. A presença de missões jesuíticas nos vales do Madeira e do


Guaporé pode ser observada a partir do século XVII. Dentre as
povoações fundadas a partir dos aldeamentos jesuíticos podemos citar:
a) Santo Antônio das Cachoeiras do Rio Madeira funda da pelo padre
jesuíta João Sampaio.
b) Vila Bela da Santíssima Trindade fundada pelo padre jesuíta
Agostinho Lourenço.
c) Nossa Senhora da Boa Viagem do Salto Grande do Rio Madeira
fundada pelo padre Athanásio Theodoro.
d) São José do Ribeirão fundada pelo padre Ag ostinho Lourenço.
192

e) São João do Crato fundada pelo padre Athanásio Theodoro.

14. Para combater e inviabilizar a presença de estrangeiros, sobretudo


castelhanos, nos vales do Madeira e Guaporé, as autoridades coloniais
portuguesas determinaram medidas de resguar do e proteção das áreas
fronteiriças. Não faz parte desse conjunto de medidas:
a) a realização da Bandeira de Francisco Mello Palheta que explorou
os rios Madeira e Guaporé.
b) a realização da expedição de Manoel Félix de Lima que combateu
a presença castelhana no vale das cachoeiras do Madeira.
c) a construção do Forte de Nossa Senhora da Conceição no vale do
rio Guaporé.
d) a construção do Real Forte Príncipe da Beira no vale do rio
Guaporé.
e) a proibição da navegação pelo rio Madeira até o início das
atividades comerciais da Companhia do Grão -Pará e Maranhão na
região guaporeana.

15. Dentre as diretrizes político -econômicas e sociais que definiram o


processo de colonização portuguesa no Vale do Guaporé, podemos
observar que:
a) a política colonial portuguesa baseou -se no extrativismo da
borracha e no combate a presença constante de contrabandistas
bolivianos ligados ao tráfico das drogas do sertão.
b) Portugal desenvolveu uma política de colonização voltada para a
formação de grandes lavouras vinculadas a exportação de cacau e
para a questão da segurança das fronteiras.
c) a ocupação regional deu -se a partir do desenvolvimento da
mineração feita através da estruturação de uma sociedade
patriarcal rural semelhante ao modelo implantado no Nordeste
açucareiro.
d) a ocupação colonial portu guesa do Vale do Guaporé repousou
sobre o tripé: política militar fronteiriça, mineração e sociedade
escravocrata.
e) a presença colonial portuguesa na região do Guaporé foi apenas
circunstancial e não deixou registros de sua existência.

16. As atividades mercan tis desenvolvidas pela Companhia de Comércio


do Grão-Pará e Maranhão no Vale do Guaporé, destinavam -se:
a) a estabelecer núcleos de catequese jesuítica no Vale do Madeira
para a pacificação dos Mura e dos Munduruku tornando -os
elementos integrados a periferia do sistema colonial como
coletores de drogas do sertão.
b) a criar um sistema de navegação que permitisse a rápida ligação
fluvial entre Belém do Pará, Vila Bela e São Paulo, garantindo o
transporte da mão -de-obra indígena para os centros de plantation
do litoral.
c) a firmar a posição portuguesa como fornecedor de produtos
manufaturados para a vizinha colônia castelhana.
193

d) a garantir o abastecimento de mão -de-obra indígena oriunda do


Guaporé para as praças de Belém do Pará e São Luís do
Maranhão.
e) a promover o aba stecimento de gêneros alimentícios, utilidades
domésticas, metais, armamentos e escravos; além de conduzir do
Guaporé para Lisboa os carregamentos de ouro das minas do Mato
Grosso.

17. Pelo Tratado de Madri, Portugal e Espanha estabeleciam que:


a) prevaleceria o princípio do Uti Possidetis de Facto fixando -se a
linha de fronteira no tocante a Oeste e Norte da colônia portuguesa
a partir dos cursos dos rios Guaporé, Mamoré até o Médio Madeira.
b) fixava como territórios portugueses as terras localizadas na
margem esquerda dos rios Guaporé e Mamoré.
c) determinava a construção do Forte Príncipe da Beira como marco
fronteiriço entre os territórios coloniais portugueses e espanhóis no
Vale do Guaporé.
d) anulava as cláusulas contidas no Tratado de Badajós.
e) através deste Tratad o a Espanha passava a controlar grande parte
dos rios e territórios da bacia Amazônica, inviabilizando a
exploração colonial portuguesa.

18. Foram causas determinantes do início do processo de colonização


portuguesa no Vale do Guaporé:
a) o estabelecimento das a tividades mercantis da Companhia de
Comércio do Grão -Pará e Maranhão.
b) a descoberta de novas lavras e faisqueiras produtoras de ouro em
1734 pelos irmãos Fernando e Arthur Paes de Barros.
c) a construção do Real Forte Príncipe da Beira pelo governador Luís
de Albuquerque de Melo Pereira e Cárceres.
d) a construção de fortificações militares para a guarda fronteiriça
durante o governo de João Carlos Augusto D’Oeynhausen e
Gravenburg.
e) a fixação de missões religiosas jesuítas estabelecidas na região
por Antônio Raposo Tavares.

19. Sobre a rota fluvial de comércio dos rios Madeira e Guaporé não
podemos afirmar que:
a) estabeleceu condições favoráveis para a ligação entre Vila Bela,
Belém do Pará e a Metrópole.
b) permitiu ao governo colonial manter um maior controle sobre os
quintos do ouro devidos à coroa.
c) facilitou a manutenção de uma política militar fronteiriça, na
medida em que viabilizou o transporte de armas e militares para a
região e a vigilância sobre o circuito fluvial.
d) entrou em decadência após a extinção da Companhi a de Comércio
do Grão-Pará e Maranhão, o declínio da mineração e a mudança
do eixo da política fronteiriça regional para o vale do rio Paraguai.
e) foi o caminho natural para a entrada de todo o contingente de
negros escravos utilizados na região guaporeana.
194

20. Sobre o Forte Príncipe da Beira é incorreto afirmar que:


a) foi construído entre 1776 e 1785, durante o governo de Luís de
Albuquerque de Mello Pereira e Cárceres obedecendo a planta
traçada pelo engenheiro italiano Domingos Sambucetti.
b) destinava-se a consolidar a posse territorial portuguesa e garantir
a segurança da navegação pelo Guaporé.
c) manteve-se ativo durante todo o século XIX como importante
destacamento militar do Império e da República Velha com notável
atuação na Guerra do Paraguai.
d) ao seu redor su rgiu o povoado que chegou a contar com quase
oitocentos habitantes e que era destinado a produzir
complementação alimentar para o Forte e a fixar um núcleo
colonial na região.
e) o Forte foi abandonado pelos militares no século XIX quando a
região do Guaporé entrou em decadência.

21. Sobre a mineração no Vale do Guaporé não podemos afirmar que:


a) foi realizada a partir do uso da mão -de-obra escrava oriunda de
Belém do Pará, de Minas Gerais e das regiões litorâneas.
b) os recursos técnicos utilizados eram rudimentares e pouco
evoluíram ao longo do século XVIII.
c) a produção inconstante provocava constantes movimentos das
massas populacionais da região que vinculavam sua presença a
abundância do metal precioso.
d) determinou a fixação de atividades paralelas como a agropecuár ia
de exportação e o comércio de drogas do sertão que garantiram a
sobrevivência da sociedade regional após a crise da mineração.
e) o esgotamento da mineração provocou um crônico endividamento
dos proprietários e mineradores e foi causa do abandono e
decadência do Vale do Guaporé.

22. Sobre a agropecuária colonial dos vales dos rio Guaporé e Madeira,
podemos afirmar que:
a) nunca conseguiu desenvolver -se plenamente, sendo considerada
uma atividade intrínseca à mineração e não atendendo
inteiramente às necessidades do consumo local.
b) a formação das roças de sustento era dificultada pela proibição do
cultivo contida na legislação portuguesa para as regiões de
mineração.
c) o conjunto das terras cultivadas era de qualidade inferior o que
tornava mais prático abastecer a re gião com a produção
agropecuária de centros vizinhos como Goiás.
d) a produção da região foi voltada para a exportação e não para a
subsistência.
e) as lavouras eram inviabilizadas pela hostilidade ambiental e pelas
dificuldades do clima inóspito.

23. Sobre o comércio colonial da região guaporeana podemos afirmar


que:
195

a) realizou-se sempre e unicamente pelas rotas que ligam o Vale do


Guaporé a Cuiabá e São Paulo.
b) não esteve vinculado à questão política fronteiriça.
c) sua maior característica foi a interdependência com a produção de
ouro.
d) seu baixo custo deve -se a utilização da rota fluvial do Madeira que
possibilitava uma rápida e eficiente ligação com Belém do Pará.
e) vinculou-se exclusivamente ao contrabando de produtos obtidos
nas missões de Mojos e Chiquitos no vale do Ítenez.

24. A sociedade colonial estabelecida no Vale do Guaporé pelos


portugueses durante o século XVIII, foi caracterizada por:
a) não foi uma sociedade de desníveis e abismos sociais uma vez
que a mineração proporcionava amplas chances de ascensão
social.
b) foi marcada predominantemente pela presença de brancos de
origem européia e poucos crioulos nascidos na América Espanhola.
c) a política desenvolvida pelos governadores da capitania
possibilitava a indivíduos condenados em outras regiões a
reconquista do status de “homens bons”.
d) Foi primordialmente marcada pela escravização de tribos
indígenas dóceis e pacíficas como os Mura e os Cabixis.
e) em sua organização a escravidão teve pouca importância, pois a
base principal da produção era o trabalho realizado por
contingentes de homens livres considerados como desclassificados
sociais.

25. O Vale do Guaporé abrigou, no período colonial, uma sociedade


mercantilista e escravocrata, sobre a qual não podemos afirmar:
a) as distinções entre senhor e escravo permeavam todos os
seguimentos sociais e atingiam todos os aspectos da vida em
comum.
b) as relações de poder e submissão entre senhores e escravos
sofriam poucas intervenções por parte do poder colonial.
c) o controle exercido pelo Estado sobre a escravidão visava a
resguardar os interesses dos proprietários e da produção.
d) na sociedade colonial guaporeana não observamos movimentos de
resistência escrava contra a exploração senhorial.
e) o escravismo foi uma prática enormemente difundida entre todos
os segmentos da sociedade regional e a pr esença negra foi
inegavelmente superior à branca do Vale do Guaporé.

Nas questões a seguir responda ao que é solicitado:

26. Que problemas podem ser considerados como empecilhos que


inviabilizaram a manutenção do processo colonizador português no
Vale do Guaporé entre os séculos XVIII e XIX?

27. Que formas de resistência à escravidão foram praticadas pelos


negros do Guaporé durante o período colonial? Explique.
196

28. Ao destruir os quilombos do Guaporé em 1795, o poder colonial


redefiniu suas estratégias e utilizou -se dos quilombolas aprisionados,
de que forma?

29. Explique as bases do sistema colonial português implantado no Vale


do Guaporé.

30. Que motivos levaram o Estado Colonialista Português a determinar


a construção do Real Forte Príncipe da Beira em 1776?

31. Não foi fator responsável pela crise e decadência do Vale do


Guaporé no final do século XVIII e início do século XIX:
a) o desenvolvimento do extrativismo do látex que promoveu a
retirada da mão -de-obra escrava do Vale do Guaporé para o Vale
do Madeira.
b) a crise da mineração que provocou o despovoamento da região.
c) a extinção da rota comercial do Madeira.
d) a ausência de uma política agropecuária capaz de proporcionar
condições de perpetuação da sociedade local.
e) a vitória das tropas castelhanas sobre os contigentes militar es
portugueses que levou a invasão e abandono do Forte Príncipe da
Beira.

32. Sobre os vales do Madeira e Guaporé durante o século XIX, não é


correto afirmar que:
a) ocasionalmente estas regiões foram visitadas por expedições
cientificas e exploradoras como a ex pedição de Alexandre
Rodrigues Ferreira ou a expedição do Barão de Langsdorf.
b) a decadência das Missões e Aldeamentos bem como a má
administração dos Diretórios de Índios acirraram os conflitos com
as populações indígenas locais.
c) a região dos rios Guaporé e Madeira foi sensivelmente marcada
pela presença de grupos trabalhadores indígenas bolivianos de
origem beniana.
d) sobreviveram de forma isolada núcleos coletores de cacau, drogas
do sertão e produtos advindos da pesca e coleta de ovos de
tartaruga.
e) essas regiões foram imediatamente beneficiadas pelo advento do
ciclo da borracha que promoveu a partir de 1807 uma considerável
entrada de trabalhadores nordestinos e capital anglo -americano.

33. Sobre a coleta de borracha no século XIX na Floresta Amazônica,


podemos observar que:
a) promoveu a formação de uma sociedade eminentemente urbana
como atesta Manaus e Porto Velho.
b) estimulou a entrada de escravos africanos para o trabalho nos
seringais.
c) promoveu a aculturação e a pacificação das tribos indígenas do
Madeira que f oram utilizadas no trabalho de extração do látex.
197

d) ganhou impulso a partir de 1840 após a descoberta do processo


de vulcanização feito por Charles Goodyear em 1839.
e) o monopólio da produção de látex manteve -se em poder do Brasil
até 1860 quando os seringais da Malásia superaram a produção
Amazônica.

34. Sobre o financiamento da produção de borracha no século XIX, é


possível afirmar que:
a) foi completamente realizado pelo capital nacional a partir dos
excedentes produzidos pela cafeicultura paulista.
b) o aviamento consistia na troca de mercadorias por borracha feito
nos seringais por companhias inglesas e norte -americanas.
c) as casas aviadoras importavam produtos necessários à
manutenção dos seringais concedendo créditos para o
abastecimento dos seringalistas.
d) o monopólio de exportação era mantido por casas exportadoras
brasileiras que inviabilizavam a liberalização do mercado.
e) o controle do comércio de exportação de borracha na Amazônia
pelo capital estrangeiro manteve -se desvinculado das políticas
imperialistas que caracterizaram a segunda metade do século XIX.

Nas questões a seguir marque verdadeiro ou falso:

35. Questão:
( ) Charles Marie De La Condamine descobriu a borracha no século
XIX, denominando a seringueira como: Hévea brasiliensis.
( ) Richard Spruce realizou e studos sobre as técnicas de plantio de
seringueira na Amazônia elevando o nível de produção dos seringais
regionais.
( ) O aperfeiçoamento das técnicas de impermeabilização a partir do
látex por Macintoch e a descoberta da vulcanização por Charles
Goodyear permitiram um aumento da demanda da borracha nos
mercados internacionais.
( ) O relatório anual do governador do Amazonas Tenreiro Aranha
acusa já em 1852 uma aumento considerável no extrativismo do látex
no vale do Amazonas.

36. Questão:
( ) Os investimento s do capital monopolista na Amazônia resultaram
no controle de importantes concessões de serviços públicos como os
portos e navegação além da exportação de matéria -prima.
( )As práticas imperialistas apoiavam -se em doutrinas expansionistas
e em uma ideologia que afirmava a necessidade de levar a civilização a
povos atrasados.
( )Ao longo do século XIX as pretensões imperialistas estrangeiras
sobre a Amazônia foram registradas pelo governo do Segundo Reinado
e da primeira fase da República Velha.
( ) Ainda no século XIX o rio Madeira apresentava -se como uma via
de navegação de fundamental importância para o noroeste boliviano
que necessitava escoar seus produtos de exportação para o Atlântico.
198

37. Questão:
( ) O problema do transporte de mercadorias e matérias p rimas pelo
trecho encachoeirado do Madeira, levou as autoridades do Brasil e da
Bolívia a iniciarem estudos para viabilizar o escoamento da produção
regional através de uma ferrovia.
( ) Coube ao tenente norte -americano Matthew Fontaine Maury iniciar
os estudos para a viabilização do transporte de cargas através de uma
ferrovia pelos trechos encachoeirados do Madeira e do Mamoré.
( ) A recusa do governo imperial em autorizar a Amazon Steam
Navigation a operar no vale Amazônico levou o governo norte -
americano a posicionar-se contra a política de Dom Pedro II afirmando
que a posição brasileira era isolacionista e contrária aos interesses da
civilização e humanidade.
( ) Em 1851 o governo brasileiro concedeu ao governo norte -
americano a possibilidade de transpl antar para a Amazônia
contingentes de escravos das fazendas sulistas dos Estados Unidos.

38. Questão:
( ) Como medida preventiva contra a ação imperialista estrangeira o
governo brasileiro decretou em 1853 a monopolização da navegação no
Amazonas entregando o seu controle a Irineu Evangelista de Souza.
( ) Naturalista suíço Louis Agassiz realizou uma expedição pelo
Amazonas, propondo a eliminação da soberania brasileira na região e
sua conseqüente internacionalização, para fins de despejo das
populações negra s oriundas da escravidão norte -americana.
( ) Tavares Bastos, deputado federal do Império considerou que o
sucesso da exploração das riquezas do Amazonas ligava -se à
manutenção do monopólio da navegação regional.
( ) Em 1872, a navegação pelo Amazonas foi finalmente aberta ao
capital internacional, sendo que a Amazon Steam Navigation Company
em 1874 passou a monopolizar o transporte fluvial regional.

39. Questão:
( ) O aumento da demanda externa sobre a borracha promoveu
paralelamente uma intensificação da exp loração de mão-de-obra nos
seringais.
( ) O Escândalo de Putumayo divulgado na Europa por W alter
Hardenburg ressaltou as condições cruéis e desumanas do trabalho nos
seringais da Amazônia.
( ) A dependência do seringueiro em relação ao barracão vinculava -o
perpetuamente ao seringalista pela dívida e através da coerção física.
( ) Já no final do século XIX o abastecimento dos seringais do
Madeira era totalmente realizado pela produção local de alimentos
como milho, arroz, mandioca e banana.

40. Questão:
( ) O abastecimento de gêneros alimentícios nos seringais era
realizado exclusivamente com produtos vindos da Europa através das
casas de aviamentos.
199

( ) O abastecimento de gêneros alimentícios do trecho encachoeirado


do Madeira, na segunda metade do século XIX e ra, em parte, feito
através de produtos oriundos dos Departamentos bolivianos de Pando e
Beni.
( ) Em 1867, o Tratado de Ayacucho definia as fronteiras entre Brasil
e Bolívia resolvendo de uma vez por todas a Questão do Acre.
( ) Durante a primeira metade do século XIX a ocupação brasileira do
vale do rio Madeira manteve -se restrita a alguns poucos núcleos de
colonização oriundas de destacamentos militares e fiscais ou missões e
aldeamentos indígenas.

41. Questão:
( ) O avanço da exploração e ocupação do Vale do Madeira por
populações extrativistas brasileiras foi facilitado pela presença pacífica
de tribos indígenas como os Araras e os Mura.
( ) No final do século XIX a vila de Santo Antônio no rio Madeira
ganhava notável importância com o início das obras de construção da
ferrovia Madeira -Mamoré inaugurada em 1903 pelo Tratado de
Petrópolis.
( ) Entre 1850 e 1870 predominava no alto Madeira seringais de
propriedade de bolivianos que concentravam em suas mãos a maior
parte da produção local.
( ) Até o terceiro quartel do século XIX a mão -de-obra dos seringais
do alto Madeira era constituída basicamente por indígenas benianos
recrutados para os trabalhos de remo e nos seringais.

42. Questão:
( ) Chamava-se enganche ao processo de recrutamento e obtenção
de mão-de-obra de indígenas bolivianos para os seringais dos vales do
Madeira e do Guaporé.
( ) O processo de enganche dava -se com base na assinatura de um
rígido contrato de trabalho e resguardava as populações indígenas
bolivianas da exploração ilimitada feita pelos seringalistas.
( ) As transformações legais impostas ao trabalho indígena boliviano
resultaram na sua escassa utilização nos seringais do Vale do Madeira.
( ) O sucesso da utilização da mão -de-obra indígena boliviana no
extrativismo gomífero dos vales do Madeira e Guaporé inviabilizaram a
entrada de seringueiros nordestinos nesta região.

43. Questão:
( ) A utilização do trabalho de indígenas brasileiros nos seringais do
Madeira foi facilitada pela docilidade de temperamento e adaptação ao
cativeiro de grupos indígenas como os Mura e os Cabixi.
( ) A viabilização do trabalho indígena nos seringais e sua integração
à sociedade amazônica foi facilitada pela criação dos Diretórios de
Índios após a expulsão dos jesuítas do Brasil.
( ) Mesmo durante o período áureo da produção da borracha, 1880 a
1912, o braço indígena continuou sendo largamente utilizado nas várias
atividades extrativistas.
200

( ) Ao final do século XIX o vale do alto Madeira era ainda fartamente


povoado por nações indígenas hostis à penetração dos bra sileiros
ligados à indústrias extrativistas.

44. Relacione as colunas:


1) Henry Alexander W ickham ( ) Escândalo de Putumayo.
2) Luiz Galvez de Ária ( ) Tratado de Petrópolis.
3) Barão do Rio Branco ( ) Questão do Acre.
4) W alter Hardenbu rg ( ) Contrabando de sementes
de seringueiras.
Gabarito DCBA

Responda:

45. Que fatores podem definir a presença do capital estrangeiro na


Amazônia no século XIX?

46. Como era constituída a m ão-de-obra dos seringais do Madeira no


século XIX?

47. Que fatores internos determinaram o desenvolvimento da indústria


extrativista do látex na segunda metade do século XIX na Amazônia?

48. Explique a importância da borracha para a economia capitalista da


segunda metade do século XIX.

49. O que determinava o Tratado de Ayacucho?

50. Em que consistia o Habilito ou sistemas de Aviamento?

51. Relacione as colunas:


1) George Earl Church ( ) Em seu governo foi acionado o Tratado de
Petrópolis.
2) Percival Farquhar. ( ) Em seu gover no foi iniciada a construção da
EFMM.
3) Rodrigues Alves. ( ) Projetou a construção da EFMM no século
XIX.
4) Afonso Pena. ( ) Em seu governo foram concluídas as obras da
EFMM.
5) Hermes da Fonseca. ( ) Adquiriu a concessão para a construção da
EFMM.

52. Relacione as colunas:


1) Bolivian Syndicate:( ) Monopolizava a extração de borracha no
Acre.
2) Public W orks. ( ) Iniciou os trabalhos de construção da EFMM em
1871.
3) P&T Collins. ( ) Abandonou as obras de construção da EFMM em
1879.
4) May, Jekyll & Randolph. ( ) Concluiu as ob ras da EFMM em 1912.
201

Marque verdadeiro ou falso:

53. Questão:
( ) As obras da EFMM resultam dos avanços do capitalismo
imperialista anglo -americano interessado na exploração das riquezas
naturais dos vales do Madeira e Mamoré.
( ) Luiz Galvez de Ária dirigiu -se ao Acre em 1899 declarando -o um
Estado livre e independente.
( ) O Bolivian Syndicate constituía -se em uma empresa transnacional
a qual o governo boliviano entregara o monopólio de exploração das
terras e dos seringais do Acre.
( ) O Barão de Rio Branc o elaborou os termos do Tratado de
Petrópolis que deu ao Brasil a posse das terras do Acre.

54. Questão:
( ) Em 1861 Quentin Quevedo, a serviço do governo boliviano, deu
início as obras de construção de uma ferrovia que ligaria os trechos
encachoeirados do Ma deira e do Guaporé.
( ) Farquhar criou em 1871 a Madeira and Mamoré Railway Company
Ltd dando início aos trabalhos de construção da EFMM através da
empreiteira P & T Collins.
( ) Em 1881 Church renovou com o governo brasileiro os contratos de
concessão e m onopólio de exploração das terras e do transporte
ferroviário na região do Madeira.
( ) A empreiteira inglesa Public W orks completou os trabalhos de
construção da EFMM em 1912 inaugurando a moderna cidade de Porto
Velho.

55. Questão:
( ) A insalubridade da se lva do Madeira provocava acentuadas baixas
no contingente de trabalhadores da EFMM, o que levou a Companhia
Madeira-Mamoré a optar pela construção de um hospital para doenças
tropicais em Porto Velho.
( ) Em 1882 foi designado o Engenheiro Carlos Alberto M orsing como
chefe da comissão encarregada de locar a EFMM.
( ) O sanitarista Oswaldo Cruz esteve na região do alto Madeira em
1910 considerando -a altamente insalubre e completamente infectada
pelo impaludismo.
( ) A ferrovia Madeira -Mamoré deveria ligar as localidades de Santo
Antônio e Guajará -Mirim, com um ramal até Vila Bela, no Mato Grosso..

56. Questão:
( ) Para a construção da EFMM foram recrutados contigentes de
trabalhadores de diversas nacionalidades além de nordestinos que mais
tarde foram reaproveit ados em diversas outras instâncias como os
seringais e a abertura da linha telegráfica.
( ) O Capitão W alter Dudley encaminhou para os trabalhos da EFMM
contingentes de escravos africanos que já haviam sido anteriormente
utilizados em trabalhos agrícolas n as colônias inglesas no Caribe.
202

( ) A presença de Barbadianos para a realização dos trabalhos da


EFMM pode ser observada ainda no século XIX, embora sua atuação
mais expressiva tenha ocorrido a partir do século XX.
( ) Deslocaram -se para os trabalhos ao lo ngo da EFMM contigentes
de trabalhadores que criaram importantes núcleos de colonização como
Costa Marques e Rolim de Moura.

57. Questão:
( ) A EFMM pode ser considerada um dos maiores marcos da
modernidade na Amazônia.
( ) Como representação máxima da tecnol ogia e da civilização em
meio a selva a EFMM deveria estabelecer e viabilizar as modernas
práticas do capitalismo imperialista na Amazônia.
( ) Porto Velho tem suas origens vinculadas a um empreendimento
industrial de grande vulto que foi a criação de uma Companhia ligada a
industrialização da borracha.
( ) Como um símbolo da modernidade em meio a selva Santo Antônio
do Madeira foi dotada pela Companhia Madeira -Mamoré de total infra -
estrutura para o estabelecimento da sede da empresa construtora da
ferrovia.

58. Questão:
( ) Porto Velho surgiu a partir de um acampamento de ferroviários e
teve sua existência ligada a EFMM.
( ) A dominação anglo -americana nas regiões da EFMM era
imperceptível e sutil cabendo ao Estado Nacional do Brasil uma forte
presença e poder de decisão sobre a operacionalidade da ferrovia.
( ) O Barbadian Town foi um núcleo inicial do importante bairro Caiari
habitado a princípio por trabalhadores de origem barbadiana que
atuaram na construção de Porto Velho.
( ) O município de Porto Velho fo i criado em 1914 através de Lei
sancionada pelo governador do Amazonas Jonathas de Freitas
Pedrosa.

59. Questão:
( ) O primeiro superintendente de Porto Velho foi o Major Fernando
Guapindaia que tomou posse em 1915 entrando em atritos com a
administração da E FMM.
( ) Os atritos entre a Intendência Municipal de Porto Velho e a
administração da EFMM relacionam -se a questões surgidas com a
entrada do Brasil na Primeira Grande Guerra.
( ) A divisão do Município de Porto Velho em duas partes distintas,
administradas pela municipalidade e pela diretoria EFMM permitiu a
criação de uma cidade moderna, plenamente dotada de infra -estrutura
e administrativamente democrática.
( ) Em 1917 foi criado pelo governo do Amazonas a comarca de Porto
Velho.

60. Questão:
203

( ) Guajará-Mirim constituía-se no início do século XX em uma região


de seringais sem nenhuma povoação representativa.
( ) O povoado de Guajará -Mirim surgido como parada final da EFMM
foi elevado a categoria de Município em 1928 através de Lei
sancionada pelo presidente do estado de Mato Grosso, Manoel Corrêa
da Costa.
( ) Santo Antônio do Rio Madeira, município do estado do Mato
Grosso teve sua existência vinculada a criação do município de Porto
Velho que lhe forneceu recursos e sustentação econômica.
( ) Coube ao supe rintendente de Santo Antônio, Doutor Joaquim
Tanajura a construção do Porto dos Vapores que mais tarde deu origem
a cidade de Porto Velho.

Assinale a alternativa correta:

61. A construção da linha telegráfica que ligava o Mato Grosso ao


Amazonas sobre a dire ção do Capitão Cândido Mariano da Silva
Rondon teve como causa:
a) a necessidade de estabelecer -se a comunicação entre o Rio de
Janeiro e administração da EFMM.
b) a política do governo Federal em relação a preservação de
reservas indígenas.
c) a preocupação histórica de se ocupar os sertões despovoados do
extremo oeste e abrir novas frentes agrícolas.
d) a necessidade de se criar um traçado para a futura BR -364.
e) a demarcação fronteiriça entre o Brasil e Bolívia conforme
estipulado pelo Tratado de El Pardo.

62. Um dos importantes resultados dos trabalhos desenvolvidos por


Rondon durante a construção da linha telegráfica foi a criação do
Serviço de Proteção ao Índio vinculado ao Ministério da Agricultura,
que entre as suas propostas estabelecia:
a) impedir o massacre das popul ações indígenas e demarcar suas
terras.
b) promover a remoção das populações indígenas para reservas
afastadas dos centros de colonização agrícola e fronteiriça.
c) preservar a cultura e a identidade indígenas mantendo as
populações isoladas do convívio com a so ciedade brasileira.
d) permitir o aproveitamento da mão -de-obra indígena pelos
Diretórios de Índios que as utilizariam como mão -de-obra para os
seringais e a EFMM.
e) capacitar o indígena para resistir ao avanço da sociedade
capitalista e a destruição de suas re servas naturais.

63. Sobre os trabalhos realizados pela Comissão Rondon não podemos


afirmar:
a) A natureza braçal dos trabalhos requeria organização militar e
numerosa mão-de-obra disponível.
b) O contigente era composto por militares e civis que trabalhavam
em 3 linhas distintas.
204

c) Durante a construção da linha telegráfica os trabalhadores foram


atacados por uma epidemia de febre amarela, que foi combatida
pelo Doutor Joaquim Tanajura.
d) Dentre os trabalhos realizados identificamos a abertura das
picadas nas selvas do Madeira que permitiram a construção da
EFMM.
e) Os trabalhos das frentes da Linha Telegráfica foram realizados
também por condenados da revolta da Chibata que foram
transportados para o Vale do Madeira pelo navio Satélite.

64. No processo de criação do Territóri o Federal do Guaporé destaca -


se a figura de Aluízio Ferreira que fugindo de perseguições políticas no
Pará refugiou-se em Porto Velho e mais tarde no município de Guajará -
Mirim. Sua notável obra à frente da administração da EFMM e mais
tarde no Território Federal do Guaporé não foi marcada pela:
a) intervenção na EFMM em 1930.
b) participação dos contingentes militares sob seu comando,
estabelecidos em Rondônia na Revolução de 1930 que levou
Getúlio Vargas ao poder.
c) criação dos contigentes militares de fronteira sediados em Porto
Velho, Guajará-Mirim e Forte Príncipe da Beira.
d) administração da EFMM após seu processo de nacionalização
promovido por Getúlio Vargas em 1931.
e) construção de estradas de rodagem, estímulo a imigração,
construção de campos de aviação e de colônias agrícolas como;
Poço Doce e Vila Murtinho.

65. O Território Federal do Guaporé, mais tarde Rondônia, criado em 13


de Setembro de 1943, pelo decreto Lei 5812 teve como seu primeiro
governador:
a) Marechal Rondon.
b) Coronel Paulo Nunes Leal.
c) Coronel Jorge T eixeira de Oliveira.
d) Coronel Aluízio Ferreira.
e) Coronel Humberto da Silva Guedes.

Responda :

66. Que motivos levaram Getúlio Vargas a criar o Território Federal do


Guaporé?

67. Quais os princípios que moveram Rondon na administração do


S.P.I.?

68. Quais os fatores que determinaram a intervenção de Aluízio Ferreira


sobre a EFMM em 1930?

69. Quais as causas da nacionalização da EFMM em 1931?


205

70. Explique as transformações vividas pela região, que futuramente


viria a ser o Território Federal do Guaporé, durante o período da
administração de Aluízio Ferreira frente à EFMM.

71. Sobre os garimpos de cassiterita do Território Federal de Rondônia


podemos afirmar que:
a) promoveram um considerável surto migratório para o eixo da BR -
364 que foi responsável pelo aparecimento de cidades com o
Espigão do Oeste e Cacoal.
b) estimularam a abertura da BR -364.
c) foram realizados de forma mecanizada até 1970 quando o governo
federal através de um decreto lei criou os garimpos manuais.
d) a proibição do garimpo manual reforçou a presença de grupos
multinacionais que atuaram na exploração da cassiterita do
Território Federal de Rondônia.
e) a demarcação das terras indígenas pela FUNAI impediu a entrada
de garimpeiros em áreas de Reservas Indigenistas preservando as
tribos indígenas de Rondônia.

72. A rodovia BR-364, imaginada por Roquette -Pinto em 1916, tornou -


se uma realidade no governo do Coronel Paulo Nunes Leal. Sua
iniciativa teve importância tanto para Rondônia quanto para o
Amazonas, Acre e Mato Grosso. Foi construída durante o governo do
presidente:
a) Juscelino Kubitschek.
b) João Goulart.
c) João Batista Figueiredo.
d) Getúlio Vargas.
e) Jânio Quadros.

73. Dentre as conseqüências da abertura da BR -364, podemos citar:


a) o incremento das atividades ferroviárias da EFMM.O processo de
colonização a partir dos garimpos de ouro, loc alizados ao longo da
BR-364, durante as décadas de 1960 e 1970.
b) o processo de colonização agrária que trouxe para o eixo da BR -
364, imigrantes predominantemente sulistas responsáveis pela
fundação de municípios como Cacoal e Presidente Médici.
c) o incremento da colonização ao longo do eixo Guaporé, Madeira e
Mamoré cortado pela BR -364.
d) o desenvolvimento de um notável parque industrial nas cidades
surgidas ao longo da BR, a partir da facilidade de ligação entre
Rondônia e o restante do país.

74. As obras de pavim entação e asfaltamento da BR -364 completaram o


quadro de infra-estrutura capaz de garantir por transporte rodoviário o
abastecimento do Estado de Rondônia. Tal obra concluída no governo
do Coronel Jorge Teixeira de Oliveira, durante a presidência de:
a) Ernesto Geisel.
b) João Batista Figueiredo.
c) José Sarney.
206

d) Eurico Gaspar Dutra.


e) Emílio Garrastazu Médici

75. A abertura da BR-364 impulsionou grandes contigentes migratórios


de diversas regiões do país para Rondônia. A colonização em escala,
ao longo do eixo rodoviário , foi iniciada por empresas particulares de
colonização, sendo as duas primeiras a desenvolver projetos na região:
a) INCRA e Sidney Girão.
b) Padre Adolpho Rohl e Burareiro.
c) IBRA e INCRA.
d) Colonizadora Calama S/A e Itaporanga S/A.
e) Itaporanga S/A e IBRA.

76. Sobre o fluxo migratório estabelecido ao longo da BR -364, a partir


da década de 1970, podemos afirmar que:
a) ocorreu em função da busca de riquezas naturais como a
cassiterita e a borracha, abundantes ao longo da BR -364.
b) não estimulou a fixação de núcleos colonizad ores, uma vez que na
medida em que as riquezas se esgotavam as populações
deslocavam-se em busca de novas regiões.
c) determinou a ocupação do eixo rodoviário por uma população de
extratores marcadamente nômades.
d) vinculou-se diretamente a exploração da pesca e do extrativismo
vegetal de óleos e madeira.
e) ocorreu em torno da busca de pequenos e médios agricultores de
acesso a propriedades cultiváveis que determinaram sua fixação na
região e a formação de novos núcleos de povoamento.

77. Como resultado dos assentame ntos agrários e das políticas de


estímulo a agropecuária ao longo da BR -364 podemos observar:
a) os conflitos de terra entre os grandes grupos agro -industriais do
centro sul do país e os colonos estabelecidos pelos projetos de
assentamentos agrários.
b) a integração dos grupos indígenas situados ao longo da BR -364 às
políticas agrícolas e de colonização do noroeste do Brasil durante
o regime militar.
c) a inviabilização de propriedades latifundiárias no Estado de
Rondônia, impedindo o desencadeamento de conflitos de terra.
d) a concretização de um amplo projeto de Reforma Agrária que
possibilitou a estruturação de uma das maiores lavouras de
exportação do país.
e) a formação de pequenos núcleos de abastecimento regional,
incapazes de gerarem excedentes para a exportação.

78. Em 1977, foram criados 5 municípios ao longo da BR -364. Dentre


eles não podemos citar:
a) Cacoal.
b) Vilhena.
c) Pimenta Bueno.
d) Ariquemes.
207

e) Jacy-Paraná.

79. Dentre as missões de que foi encarregado o Coronel Jorge Teixeira


de Oliveira pelo Ministério do Interior, ao as sumir o governo do
Território Federal de Rondônia em 1979, encontramos:
a) A criação do município de Vila Rondônia.
b) a reativação do Forte Príncipe da Beira.
c) o término das obras da hidrelétrica de Samuel.
d) a preparação das bases para a transformação do Territór io em
Estado.
e) o estabelecimento das eleições diretas para prefeitos da capital
Porto Velho.

80. Porque se preferia o trabalho de índios bolivianos ao dos índios


brasileiros no Madeira?
R.

81. Em que outras regiões da Amazônia utilizou -se do trabalho dos


indígenas do Beni?
R.

82. O fato de alguns indígenas da Amazônia possuírem poucos bens


materiais pode ser interpretado como:
a) resultado de uma cultura material inferior e próxima à barbárie.
b) fruto de concepções políticas e religiosas que defendiam a
pobreza.
c) incapacidade intelectual do indígena em elaborar formas mais
sofisticadas de vida.
d) síntese de uma cultura que aprendeu a conviver com o meio
natural de forma econômica e eficiente.

83. A rica variedade de espécimes animais e vegetais conhecida e


utilizada pelo indígen a foi apropriada pelo europeu e hoje algumas
delas constituem -se em culturas agrícolas importantes na Europa,
dentre elas podemos citar:
a) a batata.
b) o trigo.
c) a cana de açúcar.
d) o café.

84. Quanto a apropriação da terra entre a maioria dos povos indígenas


da Amazônia pode-se dizer que:
a) a terra era apropriada e trabalhada coletivamente.
b) a terra era apropriada e trabalhada individualmente.
c) os frutos do trabalho eram divididos entre os membros do grupo
após a colheita.
d) a propriedade da terra era coletiva e cada membr o do grupo
ocupava a área necessária à sua sobrevivência.

85. Ao encontrarem o império Inca os espanhóis:


208

a) mantiveram o mesmo sistema político encontrado, tornando os


conquistados seus tributários.
b) tiraram o monarca do poder e, em nome do rei da Espanha,
colocaram-se no governo.
c) mantiveram a propriedade comunal da terra.
d) estabeleceram a liberdade para o indígena.

86. No linguajar colonial o tapuio era:


a) um colono recém -chegado de Portugal.
b) um colono que vivia há muitas décadas no Brasil.
c) o indígena que pela ação do colono e do missionário perdera sua
identidade étnica.
d) o indígena em seu estado original.

87. Dentre os indígenas que mais resistiram ao avanço colonizador no


Guaporé e que por isso foram objeto de guerra justa encontramos.
a) os Payaguá e os Kayapó.
b) os Borôro e os Payaguá.
c) os Pareci e os Kayapó.
d) os Borôro e os Pareci.

88. Na região de mineração do Mato Grosso pode -se afirmar que:


a) a mão-de-obra indígena substituiu plenamente a do negro.
b) a mão-de-obra do negro substituiu plenamente a do índio.
c) tanto o negro como o índio foram utilizados como mão -de-obra
simultaneamente.
d) predominava o trabalho do colono livre.

89. Os Mura foram um dos povos que mais longamente reagiram ao


processo de conquista português. Dentre as estratégias dos
portugueses para dominar esse grupo está:
a) a oferta de paz e respeito aos territórios dos Mura.
b) a aliança com os Txapakura para dominar os Mura.
c) o adiamento da colonização da região do Madeira.
d) a aliança com os seus inimigos tribais, os Munduruku.

90. Ao final do século XIX o Madeira:


a) encontrava-se já totalmente desimpedido para a colonização.
b) era ainda objeto do ataque de inúmeros grupos indígenas que
dificultavam sua colonização.
c) continuava sendo objeto de ataques tal como no século anterior.
d) era um rio totalmente povoado por estabelecimentos coloni ais.

91. O indígena nessa região revestia -se de interesse para o governo


português na fronteira guaporeana principalmente como:
a) minerador e faiscador.
b) defensor das fronteiras.
c) agricultor e extrator.
d) responsável pelo apresamento.
209

92. Nas década posteriores à 2 a . Guerra Mundial novas descobertas


promoveram a continuidade da ocupação dos territórios indígenas em
Rondônia, dentre eles podemos assinalar:
a) a descoberta do cacau e da borracha.
b) a implantação da cultura da cana de açúcar.
c) a descoberta de pedras preciosas e cassiterita.
d) a descoberta de ricas jazidas de prata no rio Machado.

93. Após a abertura da BR -364 um fluxo de migrantes passou a dirigir -


se para a região adjacente ao percurso da antiga linha telegráfica
construída pela Comissão Rondon, esses migrantes estav a à procura
de:
a) empregos nos grandes empreendimentos agro -industriais da
região.
b) terras para o estabelecimento de pequenas e médias propriedades
agrícolas.
c) ocupação nos setores secundários da economia.
d) terras griladas.

94. Sobre a ocupação do espaço rondonian o durante o século XIX


podemos afirmar:
a) comportou inúmeras diferenças, em relação aos séculos
anteriores, quanto ao tratamento dado ao indígena.
b) foi nesse século que os indígenas viram suas terras demarcadas.
c) representou, basicamente, a continuidade de prá ticas já
conhecidas nos séculos anteriores.
d) foi insignificante, não ocasionando nenhum impacto na vida dos
nativos.

95. Sobre os diretores de índios pode -se afirmar que:


a) explorava intensamente, em benefício próprio, a população
indígena sob sua responsabilida de.
b) procurava preservar a população indígena que dirigia.
c) não permitia a venda de indígenas aos colonos.
d) era, em geral, um sujeito humano e consciente.

96. Sobre o tratamento que o colono dava aos indígenas que viviam
fora dos aldeamentos em processo de acult uração é certo que:
a) procurava conduzi-los aos benefícios da civilização.
b) deixava aos indígenas liberdade de escolha sobre sua própria
vida.
c) todos os indígenas estavam sob proteção cotidiana dos diretores
de índios, que não permitiam maltratos.
d) podiam ser vendidos ou trocados por mercadorias dentro ou fora
do país.

97. Que interesse tinha a província do Amazonas sobre esse comércio?


R.
210

98. Que fatos exemplificam as pretensões imperialistas norte -


americanas sobre a América Latina?
R.

99. Redija um breve texto sobre a questão da navegação fluvial a vapor


na Amazônia no século XIX, relacionando -o com os interesses do
capitalismo internacional.

100. Proposta norte-americana de emenda à constituição cubana que


dava aos E.U.A. o direito de intervir em Cuba sempre que julgasse
necessário:
a) doutrina Monroe.
b) lei do Noroeste.
c) emenda Platt .
d) Homestead Act.
e) doutrina Roosevelt.

101. Redija um pequeno texto sobre o imperialismo norte -americano na


América Latina.

102. Naturalista inglês que estudou a Amazônia entre 1849 e 1864,


lamentando que a região não fosse uma colônia inglesa:
a) Louis Agassis.
b) Alexander W ickham.
c) Sir W alter Raleigh.
d) Richard Spruce.
e) W illiam Edwards.

103. Que idéias eram defendidas por Buffon e Gobineau sobre os povos
naturais dos meios tropicais?
R.

104. Defendeu a idéia de que o “homem americano” é débil, incapaz,


fraco e inferior ao europeu devido a hostilidade do clima e da natureza:
a) Buffon.
b) Pedro II.
c) Gibbon.
d) W allace.
e) Darwin.

105. Quais os produtos exportados pela Bolívia através do rio Madeira?


R.

106. Porto do rio Madeira localizado no iníci o do trecho encachoeirado,


para onde convergiam as cargas oriundas da Bolívia e de Serpa:
a) Guayaramerín.
b) Vila Murtinho.
c) Borba.
d) Santo Antônio.
211

e) São João do Crato.

107. Cite algumas povoações que surgiram a partir dos seringais no


Vale do Madeira.
R.
108. Como eram as povoações do Madeira entre os séculos XVII e XIX?
R.

109. Foi o primeiro porto do Amazonas a receber as cargas e produtos


provenientes do Madeira no século XIX:
a) Humaitá.
b) Itacoatiara.
c) Borba.
d) Manicoré.
e) Crato.

110. Que impressões registraram os viajantes sobre Santo Antônio?


R.

111. Assinale a alternativa correta:


a) As áreas esgotadas pelo extrativismo predatório não se tornaram
jamais, produtoras de alimentos.
b) Os seringais do Madeira jamais possuíram lavouras ou gado.
c) O abastecimento dos seringais era feito com produtos vi ndos
somente do Sudeste.
d) Por volta de 1895 os seringais do Madeira eram abastecidos com
produtos vindos da Europa, EUA e Pará.
e) N.D. A .

112. De onde provinham os indígenas bolivianos que trabalhavam no


alto Madeira durante a segunda metade do século XIX?
a) do Beni.
b) de Pando e em menor número de outras regiões como La Paz.
c) principalmente do Beni, mas também de outras regiões da Bolívia.
d) de Santo Antônio do Madeira.
e) de Iquitos no Peru

113. Porque se preferia o trabalho de índios bolivianos ao dos índios


brasileiros no Madeira?
R.

114. Nação indígena quase que totalmente exterminada no século XIX


no Vale do Madeira e outros rios afluentes ao alto Amazonas, entre
1826 e 1890:
a) Cinta-Larga.
b) Guarani.
c) Payaguá.
d) Cabixi.
e) Mura.
212

115. Órgão dirigido por Rondon para o aculturamento, proteçã o e


integração do indígena à sociedade civilizada:
a) Missão Indigenista.
b) Diretório de Índios.
c) SPILTN.
d) FUNAI.
e) Aldeamento de Índios

117. Recrutamento forçado de indígenas para o serviço doméstico do


senhorio:
a) yanaconas.
b) myta.
c) encomienda.
d) beneplácito.
e) colonatum

118. Foi fato referente a utilização da mão -de-obra indígena boliviana


no século XIX:
a) os trabalhadores eram arregimentados através de agentes
contratados para os enganches.
b) os indígenas mojenhos foram amplamente utilizados nos trabalhos
dos seringais do alto Madeira.
c) nos seringais, a mão -de-obra indígena era utilizada como
remeiros, seringueiros, barqueiros, etc.
d) em 1851 foi abolida a encomienda.
e) o imposto indígena, restabelecido em 1880 devolveu as terras do
Beni aos índios mojenhos.

119. O que era a empresa Suárez e Hermanos e qual o seu papel na


colonização boliviana do alto Madeira?
R.

120. Qual era o pólo dinâmico da economia boliviana neste período?


(2ª metade do século XIX)
R.

121. Por que o Beni, tradicionalmente agrícola, entrou em processo de


despovoamento neste período?
R.
213

Cronologia.

1499: O espanhol Vicente Yanêz Pinzón descobre a foz do Rio


Amazonas chamando -a de Santa Maria del Mar Dulce.
1541: Gonzalo Pizarro e Francisco Orellana comandam uma expedição
que partindo de Quito chega a f oz do rio Amazonas.
1545: Viagem de Filipe Hutten.
1559: Os holandeses estabelecem fortificações no encontro das águas
do Xingu com o Amazonas. Os fortes de Orange e Nassau servem de
base para o contato e comércio com indígenas, bem como para que se
inicie ao plantio de cana -de-açúcar e tabaco.
1560: Pedro de Úrsua, Lope de Aguirre e Fernando Guzmán partem de
Quito e navegam pelo Amazonas em busca do Eldorado e do país das
Canelas.
1570: Em 20 de março, Carta Régia de D. Sebastião garante a
liberdade aos ín dios, com exceção daqueles aprisionados em guerras
justas autorizadas pelo Rei ou pelo Governador Geral do Brasil ou os
que ataquem os portugueses “para os comer”.
1571: D. Sebastião institui o monopólio do transporte e do comércio
português com o Brasil ( Pacto Colonial).
1580: Início da União Ibérica, as coroas de Portugal e Espanha são
unificadas sob um mesmo rei, Felipe II de Castela (e I de Portugal).
1590: Estabelecida uma colônia holandesa na Guiana.
1595: W alter Raleigh estabelece uma colônia na Guia na (atual Guiana
Inglesa)
1596: Ingleses estabelecem feitorias no rio Amazonas. Em 26 de julho
o rei Felipe III declara os indígenas inteiramente livres não permitindo,
em nenhum caso, sua captura.
1602: Holandeses estabelecem feitorias no rio Amazonas.
1609: Em 30 de julho, um Alvará Régio declara todos os indígenas do
Brasil, batizados e não batizados, livres. Manda os capitães e
donatários libertarem os cativos que, no entanto, podiam trabalhar
desde que não constrangidos e que fossem pagos. Entrega sua
curadoria aos jesuítas.
1611: Em 10 de setembro uma Lei confirma a liberdade dos índios mas
estabelece os casos em que ele podem ser cativados; institui o regime
de capitães de aldeia e permite a entrega do indígena ao colono sob a
condição formal de assal ariado. Segundo a mesma lei, os índios
resgatados ficam escravizados por dez anos.
1612: Os huguenotes franceses fundam São Luiz do Maranhão (França
Equinocial)
1615: Francisco Caldeira Castelo Branco expulsa os franceses do
Maranhão.
1616: Francisco Calde ira Castelo Branco constrói na foz do rio
Amazonas o Forte do Presépio, origem da Vila de Santa Maria de
Belém do Grão-Pará, iniciando a ocupação portuguesa na Amazônia.
214

1621: Criado o Estado do Maranhão (composto pelos atuais estados do


Maranhão, Ceará e Pará), que é dotado de autonomia em relação ao
Governo Geral do Brasil.
1624: Em 15 de março um Alvará Régio revoga todas as mercês
concedidas às administrações das aldeias de índios. Os holandeses
invadem a Bahia. Criado o Estado do Maranhão e Grão -Pará pelo rei
Felipe IV.
1625: Os holandeses são expulsos da Bahia e do Xingu.
1626: Dez anos após o estabelecimento português na Amazônia,
quando deveriam ser libertados os primeiros indígenas resgatados, a
legislação é mudada permitindo -se sua escravização por toda a vida.
1630: Os ingleses são expulsos do Macapá.
1632: O vice-rei do Peru, Conde de Chinchón; descobre as virtudes
medicinais da quina.
1637: Pedro Teixeira organiza uma expedição que sobe o Amazonas de
Cametá a Quito. Estabelece os marcos e delimit ação da ocupação
portuguesa na região. Sua viagem é narrada pelos padres cronistas
Cristóbal Acuña e Alonso Royas.
1639: Em 22 de abril uma bula do papa Urbano VII declara a liberdade
dos índios e determina sua conversão. Os Tupinambarana são
contatados pelo padre Acuña na ilha de mesmo nome no rio Amazonas
próximo à foz do Madeira, são descendentes do tupinambás de
Pernambuco.
1640: É desfeita a União Ibérica e coroado rei de Portugal D. João IV,
que reina de 1640 a 1656.
1641: Os holandeses conquistam Ser gipe e o Maranhão.
1647: Em 10 de novembro um Alvará Régio extingue a administração
dos índios deixando -os livres para escolher o seu patrão, desde que
fossem pagos. Raposo Tavares percorre os vales dos rios Guaporé,
Madeira e Amazonas com sua grande bande ira de demarcação e limites
que busca aprisionar índios, descobrir riquezas minerais e coletar
drogas do sertão.
1649: Em 29 de maio um Alvará Régio determina o pagamento e o
tempo da jornada de trabalho dos indígenas e ainda que devem ficar
livres de todo trabalho alheio durante quatro meses ao ano para
cultivarem suas lavouras. É fundada a Companhia Geral de Comércio
do Brasil.
1652: O novo Capitão -Mor do Maranhão assume o cargo com ordens de
libertar todos os indígenas escravizados, provocando revoltas d os
colonos no Maranhão e no Pará. Em 21 de outubro, o padre Antônio
Vieira é autorizado por Carta Régia a descer ou deixar os índios em
suas aldeias, requisitando, quando necessário, auxílio às autoridades
coloniais. No Pará, inicia -se a revolta dos colono s, que querem a
expulsão dos jesuítas.
1653: Em 17 de outubro, uma Provisão Real determina que os oficiais
das câmaras do Pará e Maranhão investiguem se os indígenas
escravizados o são em conformidade com a lei. Os procuradores do
Grão Pará e Maranhão cons eguem em Lisboa uma Provisão Real contra
os jesuítas.
215

1654: Derrota final dos holandeses no Brasil. Um clérigo estima que na


Amazônia, nos trinta e dois anos anteriores, morrem dois milhões de
indígenas pertencentes a quatrocentas aldeias como resultado da s
guerras e da brutal escravização a que são submetidos.
1655: Em 9 de abril, o padre Antônio Vieira consegue, em Portugal,
uma Provisão Real, que concede aos jesuítas o privilegio de autorizar e
dirigir as guerras justas provocando o descontentamento dos colonos.
Em 14 de abril, um regimento concedido aos governadores do
Maranhão e Grão Pará determina que a administração das aldeias
fossem dadas a uma única ordem religiosa, preferencialmente a
Companhia de Jesus. Impede os missionários de utilizarem os
indígenas em suas lavouras.
1656: Em 12 de julho, um Alvará Régio determina o tipo de serviço a
ser prestado e a remuneração dos indígenas.
1657: Em apenas duas expedições foram aprisionados 1300 indígenas:
em uma delas foram aprisionados 600 indivíduos que v iviam nos rios
Amazonas e Negro; em outra, foram capturados setecentos nativos do
rio Negro.
1661: Como resultado do descontentamento provocado pela Lei de
1655 os colonos expulsam os missionários da Amazônia.
1663: Em 12 de setembro, os colonos do Grão Pa rá e Maranhão
revoltam-se contra a jurisdição dos jesuítas sobre os indígenas. D.
Afonso VI expede Provisão Real impedindo a jurisdição temporal dos
religiosos sobre os indígenas, entregando -a aos principais das aldeias.
1665: Criada a Capitania da Ilha de Joanes (Ilha de Marajó).
1667: Em 23 de janeiro, o governador geral do Brasil recebe uma
provisão ordenando a repartição de terras entre os índios e a
manutenção de seus privilégios. Em 9 de abril a Câmara de São Luiz
embarga a Provisão Régia e a Junta Ge ral composta pelo clero, a
nobreza e os “homens bons”, com a presença do governador suspende
a execução da provisão. O rei expede outra Provisão Real impedindo
ao clero de participar da repartição dos índios, entregue às câmaras.
1669: Os jesuítas Manoel P ires e Garzoni fundam, na foz do rio
Madeira, a missão de Tupinambarana.
1674: Fundação de da povoação de São José do Rio Negro (Manaus).
1680: Os missionários retornam ao controle das aldeias. Em 31 de
março um Alvará Régio proíbe ao governador e ao bispo do Maranhão
de utilizarem indígenas em seus estabelecimentos. Em 1 de abril uma
lei renova o disposto na Lei de 30/07/1609.
1682: Criada a Companhia de Comércio do Maranhão.
1684: Revolta de Beckman contra o monopólio da Companhia de
Comércio, no Maranhão .
1686: Em 21 de dezembro, é aprovado o Regimento das Missões que
estabelece o controle das aldeias pelos jesuítas e divide a decisão
sobre o repartimento entre os membros de um conselho composto pelo
superior das missões e dois oficiais da câmara. Nova re belião entre os
colonos e luta entre os missionários pelo controle das áreas indígenas
mais populosas.
216

1693: Em 19 de março uma Carta Régia entrega aos jesuítas (membros


da Companhia de Jesus) a catequese dos índios dos rios Tocantins,
Xingu, Tapajós e Mad eira.
1694: Pela Carta Régia de 29 de novembro, os indígenas dos rios
Negro, Solimões e Branco são entregues pelo governo português aos
Carmelitas (membros da Ordem de Nossa Senhora do Carmo).
Estabelece ainda como área de catequese dos carmelitas o rio Ne gro,
entregando o Urubu aos mercedários (membros da Ordem de Nossa
Senhora das Mercês) e a margem esquerda do Amazonas até o Urubu
aos religiosos da Piedade e de Santo Antônio.
1707: Carta Régia entrega aos franciscanos (membros da Ordem de
São Francisco) as missões do baixo Amazonas.
1709: Os luso-brasileiros iniciam a tomar posse dos rios Solimões,
Negro, Branco e da costa do Amapá.
1713: Portugal e França firmam o Tratado de Utrecht no qual Portugal
reconhece os direitos franceses sobre a Guiana Francesa e a França
reconhece os direitos de Portugal sobre as duas margens do rio
Amazonas.
1714: Carta Régia entrega à catequese os índios das missões do
Urubu, Anibá, Uatumá e trechos do baixo Amazonas aos mercedários.
1716: O Capitão João de Barros Guerra orga niza uma tropa de resgate
que sobe o rio Madeira e aprisiona indígenas Mura. Os Torá descem o
rio Madeira e, no rio Amazonas, atacam vários estabelecimentos
coloniais e embarcações. Em represália inicia -se feroz perseguição a
esses indígenas.
1718: Paschoal Moreira Cabral descobre ouro no Mato Grosso, nos rios
Cuiabá e Coxipó.
1719: É fundado o arraial do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.
1722: Miguel Sutil descobre ouro em Cuiabá (lavras do Sutil). Em 11 de
novembro, Francisco Mello Palheta inicia uma bandeira f luvial, parte de
Belém do Pará, navega pelos rios Madeira e Guaporé, estabelece
marco fronteiriços e chega até as missões jesuíticas guaporeanas
espanholas de São Miguel e Santa Cruz de Cajubava.
1724: O vice-reino do Peru concede armas de fogo aos indígen as
mojenhos para a defesa da fronteira castelhana.
1727: Em 13 de dezembro, um Bando do governador de São Paulo
proíbe a venda de índios. Fundada a Vila Real do Senhor Bom Jesus de
Cuiabá. Em 12 de outubro, uma Provisão Real proíbe o uso da língua
geral e ordena o ensino do português nas povoações.
1728: O jesuíta João Sampaio funda a missão de Santo Antônio das
Cachoeiras do Rio Madeira, que atacada por indígenas, mosquitos,
desabastecimento e malária mudou -se diversas vezes de localização
até fixar-se na região onde hoje é Borba (AM).
1729/1730: Crise na mineração do Cuiabá.
1732: Em 6 de março, uma Provisão Real do governo português contra
os nativos Payaguá passa a oferecer condições para a ocupação de
novos sítios de mineração.
1733: Em 27 de outubro, u ma Ordem Régia proíbe a abertura de novos
caminhos para as minas do Mato Grosso.
217

1734: Os irmãos Fernão e Arthur Pais de Barros descobrem ouro nas


margens do rio Guaporé.
1735: Charles Marie de La Condamine realiza uma expedição científica
pela Amazônia, d enomina a seringueira de Hévea brasiliensis.
Apresenta os objetos de látex feitos pelos indígenas à sociedade
científica de Paris. A Europa ignora a borracha.
1736: A navegação no rio Madeira é proibida pelo rei de Portugal na
tentativa de inibir o contrab ando com a colônia espanhola.
1741: Em 29 de dezembro, o papa Benedito XIV expede a Bula Latae
Sententiae que proíbe aos clérigos qualquer tipo de utilização dos
indígenas, sob pena de excomunhão. O bispo do Pará somente
publicou a bula em 1757 quando ent rou em vigor o Diretório dos Índios.
1742: Manuel Félix de Lima organiza uma expedição que navega pelas
águas proibidas dos rios Guaporé e Madeira, chegando até Belém do
Pará, onde é preso e encaminhado para Lisboa.
1743: Provisão Real cria o distrito de P ouso Alegre para garantir o
domínio sobre o Mato Grosso. Jesuítas espanhóis fundam Santa Rosa
na margem direita do rio Guaporé nas proximidades de sua confluência
com o rio São Miguel uma missão que reflete o caráter contra -ofensivo
e expansionista da colô nia espanhola. José Barbosa de Sá viaja ao rio
Mamoré para examinar as missões espanholas.
1746: Provisão Régia anula aquela de 1743 e eleva o distrito de Pouso
Alegre à categoria de município com o nome de Vila Bela da Santíssima
Trindade onde futuramente seria erigida a primeira capital de Mato
Grosso. Por Provisão Régia é elevado o distrito de Pouso Alegre à
categoria de município, recebendo o nome de Vila Bela da Santíssima
Trindade; o ato somente seria concretizado com a chegada de Rolim de
Moura.
1748: Criação da Capitania de Goiás. Em 9 de maio é criada, por
Alvará Régio, a Capitania de Mato Grosso e Cuiabá, abrangendo terras
que hoje integram o estado de Rondônia, desmembrada da Capitania
de São Paulo, então governada pelo Capitão -General Dom Rodrigo
César de Menezes. D. Antônio Rolim de Moura Tavares é nomeado
Capitão-General do Mato Grosso.
1750: Assinado o Tratado de Madri que estabelece o rio Guaporé como
fronteira entre colônia espanhola ( Bolívia ) e colônia portuguesa (
Brasil ).
1751: Extinto o Estado do Maranhão e Grão Pará e criada a Capitania
do Grão Pará e Maranhão. Nomeação de Francisco Xavier de Mendonça
Furtado (meio irmão de Pombal) que governa o Grão Pará entre esse
ano e 1759. São mandados, juntamente com D. Rolim de Moura, dois
sacerdotes inacianos, um deles, o padre Estevão de Castro, fica em
Santo Antônio do Madeira, em e o outro padre Agostinho Lourenço
dirige-se para o Guaporé onde é designado por Rolim de Moura para
fundar uma missão no local denominado Casa Redonda, na
desembocadura do Corumbiara com o Guaporé, em terras da margem
espanhola. Posteriormente essa missão é transferida para a margem
direita, situando-se próxima ao rio Mequens, recebendo o nome de São
José, mas nunca chega a prosperar, atacada por febres e epidemias
que constantemente dizimam sua população.
218

1752: Chega ao Guaporé (Mato Grosso) o primeiro Capitão -General


(Governador) Dom Antônio Rolim de Moura. Em 19 de março instala a
primeira capital do Mato Grosso, Vila Bela da Santíssima Trindade,
muda-se no ano seguinte após a violenta enchente que destrói as
construções. Durante sua gestão Rolim de Moura combate os
castelhanos da margem esquerda do Guaporé e garante a posse
portuguesa da margem direita do referido rio. Fundação do quilombo do
Quariterê ou Piolho. A Provisão Régia de 14 de novembro permite a
navegação pelos vales do Guaporé, Madeira e Amazonas,
estabelecendo a ligação comercial entre Vila Bela e Belém do Pará e
proíbe a comunicação entre as duas capitanias por qualquer outro
caminho fluvial.
1754: Capitão-General Mendonça Furtado promulga em um bando que é
confirmado na carta real de 1755. Nesse bando estipula que os
indígenas que estejam sem ocupação sejam cedidos aos colonos que
os remunerariam. A missão de Santa Rosa, fundada pelo padre
Athanásio Theodoro a aproximadamente 100 Km acima da confluência
do Guaporé com o Mamoré, permanece em mãos dos padres
castelhanos até aquele ano quando os portugueses os expulsam, para
a margem esquerda do rio Guaporé.
1755: É aprovado o Diretório dos Índios, contud o o governo português
não o publica de imediato temendo a reação contrária dos colonos. A
Carta Régia de 3 de março cria a Capitania de São José do Rio Negro
(Amazonas) e é nomeado seu governador Joaquim de Melo Póvoas.
Criada a Companhia de Comércio do Gr ão Pará e Maranhão. Rolim de
Moura cria em 07 de fevereiro uma esquadra de pedestres composta do
segmento mais baixo dos homens livres da região, adida à Companhia
de Dragões.
1756: Borba, situada na foz do rio Araretama, é elevada à categoria de
vila.
1757: É publicado o Diretório dos Índios, a mais importante lei sobre os
índios da Amazônia publicada durante o período colonial. O governo
português recomenda expressamente iniciar a aplicação do Diretório no
rio Madeira, posteriormente, a vigência dessa lei estende-se a todo o
Brasil.
1758: Alvará Régio estende para todo o Brasil o Diretório dos índios.
Grande endemia, marcada por violentos cursos de sangue e tosses,
vitima a muitos habitantes do Mato Grosso. Toma posse o primeiro
governador da Capitania de São José do Rio Negro, Joaquim de Mello
Póvoas.
1759: Por ordem do Marquês de Pombal os jesuítas são expulsos do
Brasil. Rolim de Moura ordena a fundação do povoado de Nossa
Senhora da Boa Viagem de Salto Grande do Rio Madeira (hoje
Teotônio) ao juiz Teotô nio de Gusmão. Atacado por indígenas,
mosquitos, malária e fome, o povoado desaparece. Itacoatiara, antiga
aldeia dos Abacaxis, é elevada à categoria de vila com o nome de
Serpa.
1760: Rolim de Moura funda a Guarda de Santa Rosa Velha, no
Guaporé Rondonien se, próximo à barra do Mamoré. Em seus arredores
estabelecem-se índios em um total de aproximadamente setenta,
219

procedentes das missões espanholas de Santa Rosa e São Miguel.


Essa povoação é posteriormente transformada no Forte de Nossa
Senhora da Conceição .
1761: Portugal e Espanha assinam o Tratado de El Pardo, tornando
sem efeito o Tratado de Madri. Vila Bela torna -se a capital de Mato
Grosso.
1763: Rolim de Moura organiza uma tropa de escravos e indígenas,
concedendo-lhes armas de fogo para combaterem os castelhanos.
1765: João Pedro da Câmara (sobrinho de Rolim de Moura) é nomeado
segundo Capitão -General do Mato Grosso, que governa até 1768.
Durante seu governo ordena a fundação do povoado do Girau, na
cachoeira que leva o mesmo nome, no rio Madeira.
1765-66: O Forte da Conceição é remodelado e passa a contar com um
aumento da guarda a partir da chegada de mais cem soldados vindos
do Pará, além da melhoria dos armamentos que passam a incluir mais
seis canhões.
1767: Carlos III da Espanha expulsa os jesuít as de seus territórios
coloniais.
1768: Luiz Pinto de Souza Coutinho torna -se Capitão-General do Mato
Grosso.
1769: Governo de Luiz Pinto de Souza Coutinho. Ordena a fundação do
povoado de Balsemão na cachoeira do Balsemão no rio Madeira.
1770: Souza Coutinho ordena o início da repressão ao quilombo do
Quariterê. É a primeira destruição desse quilombo.
1771: Luiz de Albuquerque de Mello Pereira e Cárceres é nomeado
Capitão-General da capitania de Mato Grosso:
1772: Luiz de Albuquerque de Mello Pereira e Cár ceres chega a Mato
Grosso. São criados os estados do Maranhão e Piauí, desvinculados do
Grão Pará; a Capitania de São José do Rio Negro continua ligada ao
Grão Pará. Toma posse o segundo governador da Capitania do Rio
Negro, Joaquim Tinoco Valente.
1775: Criada por Alvará Régio a Companhia de Comércio do Grão -Pará
e Maranhão, para atender às necessidades de desenvolvimento geral
da parte norte da colônia através da atividade comercial e garantir a
sua integridade territorial.
1776: Iniciada a construção do Real Forte Príncipe da Beira às margens
do rio Guaporé. A planta é feita pelo engenheiro italiano Domingos
Sambucetti. A fortaleza, construída no modelo Vauban, destina -se a
conter os avanços castelhanos sobre o Guaporé. Ao seu lado surge o
povoado de Prín cipe da Beira que chega a contar com 700 habitantes.
Criada a fazenda de gado Casalvasco.
1777: Portugal e Espanha assinam o Tratado de Santo Idelfonso,
estabelecendo os limites de suas colônias na América do Sul. É extinta
a Companhia de Comércio do Maran hão e Grão Pará.
1778: Com a extinção da Companhia do Grão -Pará e Maranhão o
fornecimento de artigos e escravos sofre uma brusca e repentina
redução, obrigando os comerciantes a rearticularem seus roteiros e
elevando ainda mais os já elevadíssimos preços p raticados. Nas
primeiras décadas do século XIX, a rota comercial do Madeira já se
encontra em profunda decadência.
220

1786: Alguns grupos Mura do rio Madeira pedem a paz e durante algum
tempo permanecem pacificados, habitando algumas aldeias ao longo
daquele rio e na foz de seus afluentes.
1788: Toma posse o terceiro governador da Capitania do Rio Negro,
Manuel da Gama Lobo d’Almada.
1789: João de Albuquerque de Mello Pereira e Cárceres é nomeado
Capitão-General do Mato Grosso. A Expedição de Alexandre Rodrigu es
Ferreira, que percorre o Amazonas pesquisando aspectos científicos da
região, chega a Vila Bela.
1790: Francisco de Souza Coutinho é nomeado Capitão -General do
Grão Pará.
1792: D. João (futuramente D. João VI) torna -se príncipe regente de
Portugal em face da loucura da rainha D. Maria I.
1795: João de Albuquerque determina o extermínio do quilombo do
Quariterê. Os presos sofrem penas de suplício e exposição pública e
posteriormente são utilizados na política de povoamento portuguesa da
terra, fundando a aldeia da Carlota
1796: Caetano Pinto de Miranda Montenegro (futuro Marquês de Vila
Real de Praia Grande é nomeado Capitão -General do Mato Grosso.
1796: Governo de Caetano Pinto Miranda Montenegro. Crise na
mineração do Guaporé e decadência da região que p assa a ser
progressivamente abandonada pelas elites brancas. Fundação do
Destacamento Militar de São José do Salto do Ribeirão no rio Madeira.
1798: O governo português abole o Diretório, permitindo ao colono a
captura do indígena. Em 12 de maio é aprovado o plano de navegação
entre as cidades de Belém e Vila Bela através de Carta Régia. O
quinino, extraído da arvore da Quina, é descoberto na Capitania do
Mato Grosso.
1802: Francisco de Souza Coutinho ordena a fundação de São João do
Crato em um trecho ent re as embocaduras dos rios Baetas e Arara,
próximo aos igarapés Maguarani e Purus.
1804: Manuel Carlos de Abreu e Menezes é nomeado governador da
capitania de Mato Grosso. Falece em 1805.
1806: João Carlos D’Oeynhausen Gravenburg é nomeado governador
da capitania de Mato Grosso.
1807: São João do Crato é transferido de lugar.
1808: Lei de 1808 (e 1809) amplia a liberdade ao colono de capturar o
indígena.
1814: A varíola varre o Forte Príncipe da Beira, levando o governo a
tomar medidas para evitar o alastra mento do mal.
1817: Os naturalistas austríacos Johan Baptist von Spix (1721 -1826) e
Karl Friedrich Philipp von Martius (1794 -1868), iniciam uma expedição
científica, na qual visitam diversos rios da Amazônia.
1818: D. João VI é coroado. Vila Bela é elevad a a condição de cidade.
1819: Francisco de Paula Magessi Tavares de Carvalho é nomeado
governador da capitania de Mato Grosso.
1825: Independência da Bolívia. José Saturnino da Costa Pereira
assume a presidência da Província do Mato Grosso (20 de abril).
1826: Expedição do Barão de Langsdorff, Hércules Florence e Adrian
Taunay.
221

1828: A povoação de São João do Crato é novamente transferida de


lugar.
1831: Antônio Corrêa de Costa é nomeado presidente da Província do
Mato Grosso.
1833: Itacoatiara é reduzida à condição de freguesia.
1834: Um Ato Adicional atribui a responsabilidade sobre os indígenas
às Assembléias Provinciais. Antônio Pedro de Alencastro é nomeado
presidente da Província do Mato Grosso.
1835: A Cabanagem eclode na Província do Grão Pará onde í ndios
aldeados, tapuios, mestiços e negros em revolta contra “tudo aquilo que
é branco” rebelam -se durante anos ao final dos quais são derrotados.
Resta do movimento um saldo aproximado de 40.000 mortos. Após um
grave incidente diplomático envolvendo as el ites de Vila Bela e as elites
das Províncias de Chiquitos, na Bolívia, a capital muda -se
definitivamente para Cuiabá. O Vale do Guaporé abandonado pelos
brancos decai e torna -se uma região habitada por negros, escravos que
mantém e garantem a posse territo rial. Ocasionalmente expedições
científicas e exploradoras visitam os vales do Madeira e Guaporé.
1836: José Antônio Pimenta Bueno é nomeado presidente da Província
do Mato Grosso.
1838: Rebelião popular no Maranhão denominada Balaiada (1838 -41).
Estevão Ribeiro de Rezende é nomeado presidente da Província do
Mato Grosso
1839: Charles Goodyear descobre o processo de vulcanização da
borracha.
1840: José da Silva Guimarães é nomeado presidente da Província do
Mato Grosso.
1843: Francis de La Porte Castelnau, nobre francês e naturalista chefia
uma expedição de cunho científico que percorre o rio Amazonas, o
Centro-Oeste brasileiro, o Peru e a Bolívia. Publica posteriormente a
obra “Expedição através das regiões centrais da América do Sul (1850 -
1857)”. A Lei n o . 317, daquele mesmo ano, entrega a catequese dos
indígenas aos capuchinhos que passam a dividir responsabilidades com
os diretores das missões. Zeferino Pimentel Moreira Freire é nomeado
presidente da Província do Mato Grosso. O governo tenta dar
conseqüência ao ato adicional de 1834 e aprova a Lei n o . 317 que,
entre outras providências, autoriza aos padres capuchinhos os afazeres
da catequese indígena.
1844: Macintoch aperfeiçoa o processo de impermeabilização. O
mercado consumidor europeu e norte -americano cresce com a Segunda
Revolução Industrial. O processo de exportação do produto natural
passa a superar as exportações do produto manufaturado. Ricardo José
Gomes Jardim é nomeado presidente da Província do Mato Grosso. O
Deputado Tenreiro Aranha, indica à Assembléia Legislativa do Pará o
encaminhamento à Assembléia Geral de uma proposta para a elevação
do Rio Negro, então comarca do Grão Pará, à categoria de Província.
1846: O naturalista norte -americano, W illiam H. Edwards (1822 -1909),
viaja de Belém a Manaus e faz previsões sobre o destino da Amazônia
no livro “A voyage up the river Amazon” (Uma viagem no rio Amazonas).
Mauá constrói o estaleiro de Ponta da Areia. O engenheiro boliviano
222

José Augustin Palácios percorre as cachoeiras dos rios Madeira e


Mamoré.
1847: João Cipriano Soares é nomeado presidente da Província do
Mato Grosso.
1848: São José do Rio Negro é elevada à categoria de cidade e recebe
o nome de Manaus, em homenagem aos nativos daquela região.
Joaquim José de Oliveira é nomeado presidente da Província do Mato
Grosso.
1849: O naturalista inglês Richard Spruce (1817 -1893), desembarca no
Brasil e permanece na Amazônia até 1864. Manifesta em seu diário de
viagem (Notes of a botanist on the Amazon & Andes during the years
1849-1864) sua tristeza em não ter o vale amazônico pertencido à
Inglaterra. O representante norte -americano no Brasil apresenta ao
governo imperial um projeto de abertura do rio Amazonas à navegação
internacional, recusado pelo governo em nota datada de 22 de abril de
1851. O Visconde de Porto Seguro, Francisco Adolfo de Varnhagen
(1810-1878), apresenta a proposta de criação de vários territórios na
Amazônia. João José da Costa Pimentel é nomeado presidente da
Província do Mato Grosso
1850: Criada a Província do Amazonas, antig a Capitania de São José
do Rio Negro vinculada á Província do Grão Pará, pela Lei nº 592 de 5
de setembro.
1851: Os Tenentes W illiam Lewis Herndon e Lardner Gibbon, da
marinha norte-americana, viajam pelo rio Amazonas entre 1851 e 1852
para investigar as p ossibilidades de utilizar a região para transmigrar a
escravidão de seu país para a Amazônia. Escrevem depois o livro
Exploration of the Valley of the Amazon (Exploração do vale do
Amazonas). Augusto João Manuel Leverger (Barão de Melgaço),
francês naturalizado brasileiro nomeado presidente da Província do
Mato Grosso, é presidente daquela província por mais duas vezes
(1864 e 1868).
1852: Instalada em 1º de janeiro a Província do Amazonas e
empossado João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, o seu primei ro
presidente. O relatório anual de Terreiro Aranha acusa o crescimento
da atividade extrativista do látex, em detrimento das atividades
agropastoris, coletoras e manufatureiras tradicionais. Estabelece -se no
Purus o pernambucano Manuel Nicolau da Conceiçã o, com escravos e
trabalhadores recrutados no baixo Amazonas e rio Negro.
1853: Um novo complicador adiciona -se à polêmica internacional sobre
a proibição do governo brasileiro à navegação de navios estrangeiros
no rio Amazonas, via de acesso aos rios da B olívia, em 27 de janeiro o
presidente boliviano Manuel Isidoro Belzu abre os rios do noroeste
boliviano à navegação internacional. em 15 de abril daquele mesmo ano
o governo peruano permite a navegação de navios estrangeiros em
seus rios. O tenente da mari nha norte-americana Matthew Fontaine
Maury viaja pelo rio Amazonas e é um dos principais divulgadores das
propostas de abertura do rio Amazonas à navegação internacional. O
Tenente Porter, da marinha norte -americana, ameaça navegar no rio
Amazonas sem a au torização do governo brasileiro e solicita apoio do
seu governo, o qual é negado. Em 10 de agosto é aprovado o acordo
223

pelo qual Mauá aceita a oferta de subsídio financeiro e monopólio de


exploração da navegação no rio Amazonas através da Companhia de
Navegação e Comércio do Amazonas, com parte do capital investido
pelo próprio Barão e o restante obtido através de subscrição das ações
pelos comerciantes de Belém e Manaus. A missão de Vila Nova da
Rainha (atual Parintins), criada no século anterior é elevada, por Lei
provincial de 15 de outubro à categoria de vila, recebendo o nome de
Vila Bela da Imperatriz.
1854: A navegação a vapor no Amazonas inicia a operar com uma linha
entre Manaus e Belém. Pressões externas e internas fazem com que o
governo convença Mauá a renunciar ao monopólio da navegação no rio
Amazonas.
1856: João Pedro Dias Vieira é nomeado presidente da Província do
Amazonas.
1857: São nomeados sucessivamente dois presidentes para a Província
do Amazonas: Ângelo Tomás do Amaral e Francisco José Furtado. Lei
Provincial de 10 de dezembro eleva Itacoatiara novamente à categoria
de vila.
1858: Joaquim Raimundo de Lamare é nomeado presidente da
Província do Mato Grosso
1859: Robert Avé-Lallemant (1812-1884) um francês que viaja pelo
Brasil noticia a existência em Serpa, na foz do Madeira, de um
estabelecimento industrial dirigido por ingleses e norte -americanos
cujos trabalhadores são indígenas e chineses de Macau, trata -se de
uma olaria e serraria, ambas movidas por modernas máquinas à vapor.
Antônio Pedro de Alencastro é nomeado presidente da Província do
Mato Grosso
1860: Expedição patrocinada pelo Governo do Amazonas e chefiada por
Manuel Urbano da Encarnação, um sertanista de origem Mura,
descobre o rio Acre (Aquiri). Manuel Clementino Carneiro da Cunha é
nomeado presidente da Província do Amazonas. Nos anos de 1860
surgem duas companhias de navegação formadas por capitais
nacionais operando na região: a Companhia Fluvial Paraense e a
Companhia Fluvial do Alto Amazonas.
1861: Quentin Quevedo, a ser viço do governo boliviano, faz estudos
sobre a viabilização dos transportes nos trechos encachoeirados do
Madeira e do Mamoré. A Bolívia precisa criar condições satisfatórias
para a exportação através do Atlântico das mercadorias produzidas no
Altiplano e nas áreas da Planície Amazônica. O governo do Amazonas
envia João Martins da Silva Coutinho para efetuar estudos semelhantes
na região. Ambos os relatórios apresentam conclusões semelhantes
apontando-se para a necessidade de construção de uma ferrovia na
região encachoeirada.
1861-1865: W illiam Chandless, chefia uma comissão da Sociedade
Geográfica de Londres e auxiliado por Manuel Urbano da Encarnação
aproxima-se das cabeceiras do Purus e explora o rio Acre, em toda sua
extensão navegável e investe também sobre o Alto Juruá, conhecido
desde 1857, e navega por um de seus afluentes, o Liberdade.
1862: D. Pedro II registra em seu diário pessoal o receio em relação às
pretensões dos E.U.A sobre o Amazonas. José Manuel da Rocha Tury
224

recruta maranhenses e funda, às margens do Solimões, o povoado de


Codajás. Herculano Ferreira Pena é nomeado presidente da Província
do Mato Grosso.
1863: Alexandre Manuel Albino de Carvalho é nomeado presidente da
Província do Amazonas.
1864 a 1870: A Guerra do Paraguai leva o Estado Brasileiro a enviar
um destacamento militar para as selvas do Madeira fixando -se na
primeira cachoeira, no povoado de Santo Antônio, garantindo a
manutenção e viabilização da rota fluvial do Madeira que possibilita a
comunicação com o Mato Grosso, durante o conflito contra Solano
Lopes. Adolfo de Barros Cavalcanti de Albuquerque de Lacerda é
nomeado presidente da Província do Amazonas.
1865: A expedição Thayer, chefiada pelo naturalista suíço, Louis
Agassiz, percorre a Amazônia. O deputado Tavares Bastos v iaja pela
Amazônia e observa que entre a cachoeira de Santo Antônio e a foz do
Madeira as povoações mais importantes são Crato e Borba. Cândido
Mariano da Silva Rondon nasce na localidade de Mimoso, atual
município de Barão de Melgaço, no estado de Mato Gr osso, em 5 de
maio. A Assembléia Provincial do Amazonas cria um subsídio para as
companhias de navegação que quiserem estabelecer linhas até Santo
Antônio do Rio Madeira. Tal proposta merece o protesto do Deputado
Tavares Bastos, por ser contrária ao livre comércio. Antônio
Epaminondas de Mello é nomeado presidente da Província do
Amazonas e Augusto Leverger é nomeado presidente da Província do
Mato Grosso
1866: Abertura parcial do rio Amazonas à navegação internacional..
1867: É criada com capitais regiona is a Companhia Fluvial do
Amazonas, que navega pelos rios Madeira e Purus. Assinatura do
Tratado de Ayacucho entre Brasil e Bolívia estabelecendo bases de
amizade, comércio, navegação, limites, fronteiras e extradição. Através
desse tratado toda a margem d ireita do rio Madeira, desde
aproximadamente Humaitá até a sua nascente, passou da Bolívia para
o Brasil. O governo de Dom Pedro II envia para o Vale do Madeira os
engenheiros alemães Franz e Joseph Keller que realizam estudos para
a viabilização de transp ortes no trecho encachoeirado daquele rio. No
alto Madeira a expedição é atacada pelos Parintintin. O Amazonas é
aberto à navegação internacional em determinados trechos, do
Tocantins até Cametá, do Tapajós até Santarém, do Madeira até Borba
e do Negro até Manaus. Não abrangem portanto a região mais a oeste,
do Madeira e do Acre. José Vieira Couto de Magalhães é nomeado
presidente da Província do Mato Grosso. José Coelho da Gama Abreu
(o Barão de Marajó) é nomeado presidente da Província do Amazonas.
Posteriormente (1898) escreveu “As regiões amazônicas: estudos
corográphicos dos estados do Gram Pará e Amazonas”.
1868: São nomeados sucessivamente dois presidentes para a província
do Amazonas Jacinto Pereira Rego e João W ilkens de Matos.
1869: George Earl Chu rch obtém concessão do governo boliviano para
explorar os transportes entre o Madeira e o Mamoré. Seus planos são
modificados para a construção de uma ferrovia pelos vales do Madeira
e Mamoré. Augusto Leverger é nomeado presidente da Província do
225

Mato Grosso. Em 14 de maio o seringalista Comendador Francisco José


Monteiro funda o povoado de Humaitá, às margens do rio Madeira.
1870.
1870: José de Miranda da Silva Reis é nomeado presidente da
Província do Amazonas e Francisco Antônio Raposo é nomeado
presidente da Província do Mato Grosso.
1870-1873: Church obtém do governo brasileiro a permissão para
construir uma ferrovia no vale do alto Madeira. É criada a Madeira -
Mamoré Railway Company Ltd.
1870-1880: Sir. Alexander W ickham contrabandeia sementes de Hévea
Brasiliensis. Posteriormente cultiva -as em Londres no jardim botânico
de Kew dentro de estufas, as mudas provenientes desse cultivo são
transplantadas para a Malásia onde formam extensos seringais. Esses
seringais superam a produção da Amazônia em 1912.
1871: Promulgação da Lei do Ventre Livre. Fundado o povoado de
Lábrea, com uma leva de imigrantes maranhenses. É criada, sob a
direção de George Earl Church, a Madeira -Mamoré Railway Co. Ltd.
Francisco José Cardoso Júnior é nomeado presidente da Província do
Mato Grosso.
1872: Chegam a Santo Antônio 25 engenheiros da empreiteira inglesa
Public W orks, contratada por Church para as obras da EFMM.
Domingos Monteiro Peixoto é nomeado presidente da Província do
Amazonas e José de Miranda da Silva Reis é nomeado p residente da
Província do Mato Grosso.
1873: Após ataques indígenas, surtos de febre, malária e fome, os
engenheiros e os trabalhadores da Public W orks abandonam Santo
Antônio e consideram impossível a construção da ferrovia.
1874: A Amazon Steam Navigatio n Company compra as demais
empresas de navegação que operam no rio Amazonas e estabelece o
monopólio comercial da navegação, o percurso até Santo Antônio é
subsidiado pelo governo.
1875 -.
1875: Antônio dos Passos Miranda é nomeado presidente da Província
do Amazonas e Hermes Ernesto da Fonseca é nomeado presidente da
Província do Mato Grosso
1876: Os Parintintin assaltam uma embarcação no Madeira e matam
toda sua tripulação, sendo objetos de uma expedição punitiva em que
morrem três indígenas e são aprisio nadas duas mulheres e cinco
crianças. São os Parintintin, nesse período, os indígenas que mais
reagem ao avanço do colonizador no Madeira, assaltando os seringais
e sendo temidos pelos seus ataques. Domingos Jaci Monteiro é
nomeado presidente da Província do Amazonas.
1877: A grande seca nordestina, que durará até 1879, promove uma
intensa migração de sertanejos para os seringais da Amazônia. Através
de Manaus, os seringueiros nordestinos iniciam ocupação do Acre,
ainda pertencente à Bolívia. Church contrat a os serviços da empreiteira
norte-americana P & T Collins para a construção da EFMM. Partem da
Filadélfia navios, equipamentos, materiais ferroviários, provisões e
trabalhadores para Santo Antônio do Madeira. Agesilau Pereira da Silva
é nomeado presidente da Província do Amazonas.
226

1878: A comissão para demarcação de fronteiras, na qual participa o


General Médico João Severiano da Fonseca, viaja pelos rios Madeira e
Guaporé. Posteriormente Severiano da Fonseca escreve suas memórias
dessa viagem intitulada “ Viagem ao redor do Brasil”. O navio Metrópolis
naufraga, perdendo 700 toneladas de carga e 80 trabalhadores
destinados à ferrovia. Ao ser inaugurado o primeiro trecho da ferrovia,
a locomotiva capota. João José Pedrosa é nomeado presidente da
Província do Mato Grosso. Em 14 de outubro, Manicoré, na margem
direita do Madeira, entre os rios Manicoré e Mataurá, é elevada à
categoria de vila.
1879: A P & T Collins declara falência. José Clarindo de Queirós é
nomeado presidente da Província do Amazonas e Rufino Enéas
Gustavo Galvão (Barão de Maracaju) é nomeado presidente da
Província do Mato Grosso.
1880: D. Pedro II dá início á construção de uma linha telegráfica que
ligará a cidade de Franca, em São Paulo, a Cuiabá, no Mato Grosso. A
obra é dirigida pelo milit ar Cunha Matos. Projeto de Fausto de Souza,
prevê a criação de uma Província do Madeira. Diversos projetos
seguiram-se a esses até a virada do século. Sátiro de Oliveira Dias é
nomeado presidente da Província do Amazonas.
1881: O governo brasileiro declara caduca a concessão dada a Church
para a construção de uma ferrovia junto às cachoeiras do Madeira.
Alarico José Furtado é nomeado presidente da Província do Amazonas
e José Maria de Alencastro é nomeado presidente da Província do Mato
Grosso. Rondon parte para o Rio de Janeiro, onde assenta praça no
exército. Em dezembro é instalada a Vila de Manicoré.
1882: A borracha é o terceiro maior produto de exportação do Brasil. A
expedição chefiada pelo Engenheiro Carlos Alberto Morsing atua no
vale do alto Madeira, estudando as possibilidades técnicas em
contornar o trecho encachoeirado daquele rio. José Lustosa da Cunha
Paranaguá é nomeado presidente da Província do Amazonas.
1883: Comissão enviada pelo governo imperial e chefiada pelo
Engenheiro Carlos Morsing f ica em Santo Antônio, durante seis meses,
terminando desastrosamente. Início da Questão Militar. Manoel de
Almeida Gama Lobo D’Eça (Barão de Batovi)é nomeado presidente da
Província do Mato Grosso
1884: Extinta a escravidão no Ceará. A expedição comandada pelo
Engenheiro Júlio Pinkas atua no vale do alto Madeira, estudando as
possibilidades técnicas em contornar o trecho encachoeirado daquele
rio. Os Mura iniciam a aceitar a pacificação passando a habitar a
povoação de Borba, estimando -se que, em 3 anos, já haviam 1000
deles habitando aquele lugar. No início do século XX seus
remanescentes estavam aldeados em várias aldeias no Madeira,
Manicoré, Capaná e Acará. Floriano Peixoto é nomeado presidente da
Província do Mato Grosso. Dois presidentes serão nomeados nesse
ano, sucessivamente, para o governo do Amazonas: José Jansen
Ferreira Júnior e Teodureto Carlos de Faria Souto.
1885: Joaquim Galdino Pimentel é nomeado presidente da Província do
Mato Grosso e Ernesto Adolfo Vasconcelos Chaves é nomeado
presidente da Província do Amazonas.
227

1886: Francisco Rafael de Melo Rego é nomeado presidente da


Província do Mato Grosso.
1887: Dois presidentes serão nomeados sucessivamente para governar
o Mato Grosso: Álvaro Rodovalho Marcondes dos Reis e Francisco
Rafael de Mello Rego. Conrado Jacó de Niemeyer é nomeado
presidente da Província do Amazonas.
1888: Dois presidentes serão nomeados sucessivamente para governar
o Amazonas: Francisco Antônio Pimenta Bueno e Joaquim Cardoso de
Andrade.
1889: Dois presidentes serão nomead os sucessivamente para governar
o Mato Grosso: Antônio Herculano de Souza Bandeira e Ernesto
Augusto da Cunha Matos. Rondon conclui sua preparação para oficial
do exército e é nomeado ajudante da Comissão Telegráfica de Cuiabá
ao Araguaia. Trabalhará com o Tenente Coronel Gomes Carneiro e o
Coronel Ewerton Quadros. Durante o transcorrer desse ano dois
presidentes ocupam, sucessivamente, o governo do Amazonas:
Joaquim de Oliveira Machado e Manuel Francisco Machado.
1890: Em 1 de março é instalada a Vila de H umaitá. Em 4 de fevereiro
é criado o município de Humaitá.
1894: A Lei n o . 90 de 4 de outubro eleva Humaitá à categoria de
cidade.
1895: Protocolo entre o Brasil e Bolívia. A Bolívia aceita as conclusões
da comissão brasileiro -peruana sobre a nascente do J avari. Forma-se
uma comissão mista para dar prosseguimento as demarcações que, em
função da discordância do chefe do grupo brasileiro, é suspensa para
que se verifique a exata nascente do Javari. Em 2 de janeiro é
instalada a cidade e em 2 de fevereiro é i nstalado o município de
Humaitá.
1898: O governo brasileiro autoriza a criação de uma alfândega
boliviana em Porto Acre, por ser o território incontestavelmente
boliviano. Manuel Ferraz de Campos Sales é eleito presidente da
República.
1899: O Brasil conco rda com o estabelecimento de uma aduana
boliviana em Puerto Alonso, no rio Acre, comprometendo -se a Bolívia a
recuar a alfândega, se estiver em território brasileiro, ao definir -se,
finalmente, os limites entre os dois países. Instalado o Delegado
Nacional Boliviano em Puerto Alonso, acompanhado de um contingente
militar de 40 homens, fazendo cessar a autoridade do Superintendente
e do Juiz de Direito da Comarca de Floriano Peixoto, autoridades ali
instaladas pelo Governo do Amazonas. Inicia -se a primeira tentativa
separatista no Acre. José de Carvalho dirige -se a Puerto Alonso e
intima os funcionários bolivianos a saírem do território do Acre. O
cônsul boliviano no Pará entabula um acordo com o governo dos E.U.A.
prevendo a gestão do governo norte -americano junto ao governo
brasileiro para que este reconhecesse os direitos da Bolívia aos
territórios do Acre, Purus e Iaco. O mais grave porém é que os E.U.A se
comprometeriam a apoiar a Bolívia, em caso de guerra com o Brasil. É
publicado "O Rio Acre", de autor ia de Serzedelo Corrêa, político
paraense e deputado por aquele Estado na Câmara Federal. No livro
Serzedelo sustentava a interpretação, conveniente aos interesses de
228

Belém e Manaus a respeito da questão do Acre. O espanhol, Luiz


Galvez de Árias parte de M anaus e à frente de um pequeno exército de
seringueiros proclama -se Imperador do Acre. A Marinha norte -
americana envia um navio de guerra para, entrando no Amazonas, dar
combate aos seringueiros brasileiros. A Marinha brasileira bloqueia -o
em Manaus e inte rvém, com navios de guerra, no Acre, extinguindo o
movimento separatista de Galvez e garantindo os direitos da Bolívia.
Ernesto Augusto da Cunha Matos é nomeado presidente da Província
do Mato Grosso.
1900-1907: No Brasil são solucionadas as questões de li mites com
Argentina, Guianas, Bolívia, Colômbia e Venezuela. Rondon chefia os
trabalhos de abertura da linha telegráficas ligando São Lourenço a
Itiquira, Coxim e Aquidauana. A obra é concluída em 1903.
1901: Em 11 de junho é firmado em Londres o contrato de
arrendamento do Acre, sendo signatários o ministro plenipotenciário da
Bolívia, e o representante do Bolivian Syndicate of New York City.
Aliado à população brasileira residente na região do Acre, Plácido de
Castro proclama a República Independente do A cre, o que significou
declarar guerra à Bolívia.
1902: Francisco de Paula Rodrigues Alves é eleito presidente. José
Plácido de Castro à frente de um exército de seringueiros nordestinos
invade Xapuri aprisionando o administrador Juan de Dios Barrientos e
proclama a independência do Acre. A Marinha brasileira intervém e
mantém a ocupação no Acre.
1903: O barão do Rio Branco envia circular telegráfica aos jornais de
La Paz onde afirma que a concessão é uma monstruosidade legal pois
implica na alienação parcia l da soberania do estado sobre um pedaço
do território boliviano a uma companhia estrangeira sem personalidade
internacional. Ainda, ressalta que a região é habitada unicamente por
brasileiros e muda repentinamente a posição da chancelaria brasileira
quanto ao fato de ser aquele território inquestionavelmente boliviano,
passando a considerá -lo área em litígio entre as duas nações. É
assinado o Tratado de Petrópolis entre Brasil e Bolívia. A Bolívia
recebe uma indenização de dois milhões de libras esterlinas que passa
o Acre para o Brasil. O Bolivian Sindicate também é indenizado com
cem mil dólares. Este Tratado é resultado do trabalho do então Ministro
das Relações Exteriores do Brasil, José Maria da Silva Paranhos
Júnior, barão do Rio Branco.
1904: Criado o Território Federal do Acre, organizado através da Lei
1.181 de 25 de fevereiro e do Decreto 5.188 de 7 de abril. Farquhar
incorpora a Rio de Janeiro Light and Power.
1905: O Ministério da Indústria e Comércio realiza licitação para a
construção da EFMM. O engenheiro carioca Joaquim Catramby vence e
repassa os direitos a Percival Farquhar que cria a Madeira Mamoré
Railway Company, com sede no Maine/EUA. Farquhar obtém a
concessão do governo para obras no porto de Belém.
1906: Afonso Augusto Moreira Pena é eleito presidente.
1907: Iniciada a construção da EFMM pela empreiteira May, Jekyll and
Randolph. Fundação de Porto Velho.
229

1907-1915: Construção da linha telegráfica ligando o Mato Grosso ao


Amazonas, sob o comando do Capitão Rondon. Seriam constituídas tr ês
seções encarregadas da obra: a primeira partiria de Cárceres até Vila
Bela, a segunda ligaria Cuiabá a Santo Antônio do Madeira e a terceira
de exploração e reconhecimento.
1908: Criado o município e a Comarca de Santo Antônio do Madeira,
pertencente ao estado do Mato Grosso. Santo Antônio do Rio Madeira,
é tornado município de Mato Grosso.
1909: Farquhar forma a Companhia de Navegação do Amazonas que
ocupa o lugar da Amazon River Steam Navigation Co. Ltd. Com a morte
de Afonso Pena assume o vice -presidente Nilo Procópio Peçanha.
1910: Estoura na Europa o escândalo do Putumayo, uma área de
seringais de propriedade do empresário peruano Júlio César Araña,
bancado pelo capital inglês. As denúncias de torturas, assassinatos,
exploração e maus tratos publicad as nos jornais de Londres pelo
jornalista norte-americano W alter Hardenburg, denunciam as péssimas
condições de vida dos indígenas e seringueiros. A Inglaterra cria uma
comissão de investigação liderada por Sir Roger Casement e o
reverendo John Harris. Her mes Ernesto da Fonseca é eleito presidente.
No Rio de Janeiro eclode a Revolta da Chibata. Criado o Serviço de
Proteção ao Índio e Localização dos Trabalhadores Nacionais
(SPILTN), subordinado ao Ministério da Agricultura, através do Decreto
8.072 de 20 de julho, assinado pelo presidente Nilo Peçanha. O
trabalho de Rondon, nos sertões do Mato Grosso e da Amazônia o
credencia para ocupar a direção do SPILTN, cujos objetivos eram:
impedir o massacre das populações indígenas, demarcação das terras
indígenas, aculturamento e integração do indígena a sociedade
brasileira. Ao longo da linha telegráfica são contatados inúmeros
grupos indígenas. Descobertos 12 novos rios e fundados diversos
núcleos de povoamento que deram origem a municípios rondonienses
como: Vilhena, Jaru e presidente Pena. Oswaldo Cruz visita Porto
Velho durante uma epidemia de malária e febre amarela. Construção do
Hospital da Candelária. O vapor Satélite chega a Santo Antônio do
Madeira com uma carga humana de degredados ligados aos
movimentos da Revolta da Armada no Rio de Janeiro.
1911: Farquhar funda a Amazon Land & Colonization Co. que recebe no
mesmo ano de sua fundação, após uma visita de Farquhar a Belém,
uma concessão de 60.000 quilômetros quadrados de terras, onde hoje
fica o estado do A mapá. Denunciado o episódio envolvendo o exílio dos
participantes da Revolta da Chibata para o rio Madeira, transportados
pelo navio Satélite.
1912: Conclusão da construção da Estrada de Ferro Madeira -Mamoré.
Em 8 de outubro é instalado um posto fiscal em Guajará-Mirim.
1913: Rondon participa de uma expedição pelos sertões do extremo
oeste e da Amazônia brasileira juntamente com o ex -presidente dos
EUA Theodore Roosevelt. A expedição explorou o rio da Dúvida em
toda sua extensão, denominando -o rio Roosevelt em homenagem ao ex-
presidente norte-americano. A Lei n o . 74 desmembra de Humaitá a área
do município de Porto Velho.
230

1914: Inicia a Primeira Guerra Mundial. Venceslau Brás Pereira Gomes


é eleito presidente. Criado o município de Porto Velho através da Lei
n o . 757 sancionada pelo governador do estado do Amazonas Jonathas
de Freitas Pedrosa.
1915: Roquette-Pinto, profere uma palestra no Museu Nacional do Rio
de Janeiro, na qual atribuiu à região situada entre o Madeira e o
Juruena o nome de Rondônia e antevê a solução para os graves
problemas de comunicação entre a área banhada pelos seus maiores
rios e o restante dessa região e propôs que uma estrada que seguisse
o traçado da linha telegráfica seria de fundamental importância, pois
integraria definitivamente a região ao restante do país. Instalação do
município de Porto Velho tendo como primeiro superintendente o Major
Guapindaia. Crise da borracha na Amazônia, decadência acentuada de
Manaus, a cidade símbolo do esplendor da borracha.
1917: Surge o jornal “Alto Madeira”.
1918: Primeira Guerra Mundial. Francisco de Paula Rodrigues Alves é
eleito presidente mas falece antes da posse.
1919: Delfim Moreira da Costa Ribeiro, vice -presidente de Rodrigues
Alves assume a presidência. Através da Lei 1.011 de 7 de setem bro,
Porto Velho é elevado a categoria de cidade. Epitácio da Silva Pessoa
é eleito presidente.
1924: O Tenente Aluízio Ferreira que participou de um levante
fracassado em Óbidos fugiu para o Vale do Guaporé e, em Guajará -
Mirim, passou a exercer atividades no seringal Laranjeira, de
propriedade de Américo Cassara.
1926: W ashington Luís Pereira de Sousa é eleito presidente. Aluizio
Ferreira apresenta -se as autoridades militares em Belém do Pará e
assume a subchefia do posto telegráfico de Santo Antônio.
1928: O governo brasileiro concede a Henry Ford uma grande área de
terras às margens do rio Tapajós para o plantio sistemático da
borracha. Criado pela Lei nº 991, assinada pelo presidente do estado
do Mato Grosso, Mário Correia da Costa, o município de Guajar á-Mirim.
1929: Aluizio Ferreira é aconselhado por Rondon a entregar -se às
autoridades e após cumprir pena ingressa na Comissão Rondon como
subchefe do Distrito Telegráfico de Santo Antônio. Em 10 de abril é
instalado o município de Guajará -Mirim, tendo com o 1º Intendente
nomeado, Manoel Boucinhas de Menezes.
1930: O Tenente Aluízio Ferreira, delegado do chefe do governo
provisório do Amazonas, assume a direção da linha telegráfica de
Santo Antônio. Aluízio Ferreira intervém na Madeira Mamoré.
1931: O governo de Getúlio Vargas decreta intervenção Federal sobre a
EFMM e nomeia Aluízio Ferreira como seu diretor. O Coronel Paulo
Cordeiro da Cruz Saldanha, cria a Empresa de navegação dos rios
Mamoré e Guaporé.
1932: Por iniciativa de Aluízio Ferreira são criados pelo Aviso
Ministerial de 23 de setembro do Ministério da Guerra, os Contigentes
Especiais de Fronteira em Porto Velho, Guajará -Mirim e Forte Príncipe
da Beira.
231

1934: Principia a abertura da rodovia Cuiabá/Porto Velho, com o nome


da Rodovia Amazonas -Mato Grosso, cujo trajeto deveria seguir o
percurso paralelo à linha telegráfica instalada pela Comissão Rondon.
Contando com sobras de verbas do DNOCS (Departamento Nacional de
Obras Contra a Seca) e alguns homens sem o auxílio de maquinário
Aluizio Ferreira m andou abrir alguns quilômetros dessa estrada,
paralisada em 1945 e concluída apenas na década de 1960.
1937: Lideranças da sociedade de Guajará -Mirim dirigem um abaixo -
assinado ao presidente Getúlio Vargas solicitando a criação de um
Território Federal que abrangesse os municípios de Porto Velho, Santo
Antônio e Guajará -Mirim. O contrato com a Madeira Mamoré Railway
Company é rescindido através do decreto n o . 1547 de 5 de abril e a
ferrovia estatizada pelo presidente Getúlio Vargas.
1939: Inicia na Europa a Segunda Guerra Mundial. A Fordlândia no
Pará decreta falência perdendo um investimento de 15 milhões de
dólares e 3 milhões e 500 mil pés de seringueiras.
1940: O presidente Getúlio Vargas visita a Amazônia e profere em
Manaus o “Discurso do Rio Amazonas” . Em sua visita a Porto Velho, o
presidente da República constata a necessidade da criação do
Território Federal do Guaporé.
1942: O Brasil declara guerra à Alemanha. O governo brasileiro e o
norte-americano assinam os Acordos de W ashington, uma série de
acordos que visam abastecer as indústrias norte -americanas com a
borracha extraída na Amazônia.
1943: Em 13 de setembro é criado o Território Federal do Guaporé pelo
Dec. Lei nº. 5.812, compondo -se de partes desmembradas dos estados
do Amazonas e do Mato Gr osso. Seus municípios definidos pelo
Decreto-Lei 5.839, de 21 de setembro do mesmo ano são: Lábrea,
Porto Velho; Alto Madeira, e Guajará -Mirim. Em 21 de setembro é
prevista no art. 4º do Decreto -Lei nº 5.839, a criação da Guarda
Territorial (GT), subordina da diretamente ao Governador. Em 1 de
novembro é nomeado governador do Território Federal do Guaporé
Aluízio Pinheiro Ferreira, que é exonerado do cargo em 1946 (07/02).
1944: Os decretos n o . 6.550 de 31 de maio e 7.470 17 de abril de 1945
ajustam a área d o território e o desmembramento dos seus municípios,
o retorno do município de Lábrea à jurisdição Estado do Amazonas, a
extinção do município de Santo Antônio e sua anexação ao município
de Porto Velho que juntamente com Guajará -Mirim passam a compor os
dois únicos municípios do território. O primeiro ato (decreto nº1 de 15
de fevereiro) do Governador Aluizio Ferreira é a criação da Guarda
Territorial. É a G.T. responsável por parte do desenvolvimento do
território. O efetivo é distribuído diariamente para fazer desmatamento
e consertos de ruas, aberturas e reparos nas estradas, ensaio de
agricultura e de pecuária, criação de aves (galinhas, marrecos), peixes
e quelônios. Organizado um plano rodoviário que incluía a abertura de
uma rodovia ligando Cuiabá, P orto Velho, Rio Branco, Cruzeiro do Sul
até a fronteira com o Peru e aí ligando -se a rodovia Panamericana.
Essa rodovia seria chamada BR -29.
1945: É eleito Presidente da República o General Eurico Gaspar Dutra.
O governador Aluízio Ferreira criou a segunda Companhia
232

Independente para a abertura de uma rodovia, seguindo o mesmo


traçado da linha telegráfica de Rondon.
1946 Em 7 de fevereiro é nomeado governador do Território Federal do
Guaporé Joaquim Vicente Rondon, que é exonerado do cargo em 1947
(31/10). Mandato de Joaquim Vicente Rondon no governo do Território
Federal do Guaporé. Reformulou o quadro da Guarda Territorial,
emprestando-lhe as características de Polícia Militar, além disso
determinando que suas atividades seriam exercidas exclusivamente no
âmbito policial. Retirou -se do governo em 1947. Eleito o primeiro
deputado Federal do Território do Guaporé, Aluízio Ferreira.
1947: Em 31 de outubro é nomeado governador do Território Federal do
Guaporé Frederico Trotta, exonerado do cargo em 1948 (09/06) .
Durante sua gestão é criado o curso Normal Regional que toma o nome
de Escola Normal do Guaporé posteriormente denominado “Carmela
Dutra”
1948: Em 9 de junho é nomeado governador do Território Federal do
Guaporé Joaquim de Araújo Lima, que é exonerado d o cargo em 1951
(22/02). Em seu governo são construídos o Palácio do Governo (Palácio
Presidente Vargas) e o Porto Velho Hotel que depois é transformado
em Palácio das Secretarias e agora abriga as dependências da
Universidade Federal de Rondônia, além de muitas casas do bairro
Caiarí.
1950: Aluízio Ferreira é reeleito deputado Federal.
1951: Em 22 de fevereiro é nomeado governador do Território Federal
do Guaporé Petrônio Barcelos, que é exonerado do cargo em 1952
(07/02). Como governador durante 11 meses e 16 dias, conclui a
construção do Palácio presidente Vargas e do Porto Velho Hotel onde
implanta os serviços de hotelaria. Descoberto diamante no rio Machado,
também denominado Ji-Paraná, em cujas margens existia pequena
povoação denominada Vila de Rondôn ia, hoje município de Ji -Paraná,
provocando um fluxo de garimpeiros para a região.
1952: Em 7 de fevereiro é nomeado governador do Território Federal do
Guaporé Jesus Burlamaqui Hosannah, que é exonerado do cargo em
1953 (18-11). Sua administração é uma co ntinuação de seu trabalho
como Secretário Geral do território, cargo equivalente então ao de vice -
governador hoje.
1953 (18/11): É nomeado governador do Território Federal do Guaporé
Ênio dos Santos Pinheiro, que é exonerado do cargo em 1954 (13/09),
quando conclui seu primeiro mandato.
1954: Em 13 de setembro é nomeado governador do Território Federal
do Guaporé Paulo Nunes Leal, que é exonerado do cargo em 1955
(05/04), quando conclui seu primeiro mandato. Conclui a sede e
constrói o estaleiro e oficina d o Serviço de Navegação do Guaporé;
amplia o Fórum Rui Barbosa, em Porto Velho; recupera o Forte Príncipe
da Beira; amplia a Escola normal “Carmela Dutra” e a Usina de luz de
Porto Velho. Joaquim Vicente Rondon é eleito Deputado Federal.
1955: Em 5 de abril é nomeado governador do Território Federal do
Guaporé José Ribamar de Miranda, indicado ao Ministro da Justiça pelo
deputado Federal do Território do Guaporé o Coronel Joaquim Vicente
Rondon, que é exonerado do cargo em 1956 (14/10). Inicia estudos
233

para a construção do aeroporto do Belmont. Descoberta a cassiterita


nas terras do Sr. Joaquim Rocha, seringalista do rio Machadinho,
afluente do Ji-Paraná. Juscelino Kubitschek de Oliveira é eleito
Presidente da República.
1956: O Dec. Lei nº 2.731 de 17 de feve reiro de autoria do Deputado
Federal do Amazonas Áureo de Melo, altera o nome do Território
Federal do Guaporé para Território Federal de Rondônia. Em 14 de
outubro é nomeado governador do Território Federal de Rondônia
Jayme Araújo dos Santos, que é exone rado do cargo em 1956 (06/11).
Joaquim Rocha inicia a exploração da cassiterita em suas terras,
seguido pelo seringalista Moacir Mota. Os dois são até 1959 os únicos
a explorarem a cassiterita em Rondônia.
1958: Em 6 de novembro é nomeado governador do Ter ritório Federal
de Rondônia Paulo Nunes Leal. É exonerado do cargo em 1961 (18/03),
quando conclui seu segundo mandato. Em seu governo é aberta a BR -
29 (BR-364). Aluízio Ferreira volta a representar Rondônia na Câmara
dos Deputados.
1959: O garimpo de cass iterita inicia suas atividades econômicas e
expande-se ao longo da década de 1960. A exploração da cassiterita é
realizada ao longo dos rios Machado, Machadinho, Jamari e Candeias.
Em 1960 a produção é de 49 toneladas, em 1962 é de 678 toneladas e
em 1972 de 2794 toneladas.
1960: O governador Paulo Leal realiza esforços junto ao presidente
Juscelino Kubitschek para reiniciar as obras de abertura da BR -29. No
dia 15 de março de o Presidente da República cria, através do decreto
n o . 47.933 a Comissão Especial de Construção da Rodovia Brasília -
Acre. Os serviços ficam a cargo da empreiteira Camargo Corrêa.
1961: Jânio da Silva Quadros é eleito presidente e renuncia em 24/08.
Inicia o período parlamentarista. Em 18 de março é nomeado
governador do Território Fede ral de Rondônia Abelardo Alvarenga
Mafra, que é exonerado do cargo em 08/09 do mesmo ano, quando
conclui seu primeiro mandato. Em 13 de setembro é nomeado
governador do Território Federal de Rondônia Ênio dos Santos
Pinheiro, que é exonerado do cargo em 19 62 (03/07), quando conclui
seu segundo mandato.
1962: O Deputado acreano José Guiomard dos Santos apresenta
projeto que, transformado na Lei n o . 4.069 de 12 de junho eleva o Acre
à categoria de estado. Aluizio Ferreira, no seu último ano de mandato
elabora o projeto de Lei n o . 4.821 propondo a elevação dos territórios
do Amapá, Rio Branco e Rondônia à condição de Estados. Em 12 de
dezembro é nomeado governador do Território Federal de Rondônia
W adih Darwich Zacharias, que é exonerado do cargo em 1963 (27/07 ).
É o único governador do território que permaneceu em Rondônia, após
seu período de governo.
1963: Em 27 de julho é nomeado governador do Território Federal de
Rondônia Ari Marcos da Silva, que é exonerado do cargo no dia 14/10
do mesmo ano. Em 14 de out ubro é nomeado governador do Território
Federal de Rondônia Paulo Eugênio Pinto Guedes, que é exonerado do
cargo em 1964 (27/01). Através de plebiscito o presidencialismo é
234

restaurado, João Belchior Marques Goulart, o vice -presidente de Jânio


Quadros, assume a presidência da República.
1964: Em 27 de janeiro é nomeado governador do Território Federal de
Rondônia Abelardo Alvarenga Mafra, que é exonerado do cargo em
06/04 do mesmo ano, quando conclui seu segundo mandato. O
movimento militar de 31 de março de põe Goulart; o General Humberto
de Alencar Castelo Branco assume a presidência da República. Em 28
de abril é nomeado governador do Território Federal de Rondônia José
Manoel Lutz da Cunha Menezes, que é exonerado do cargo em 1965
(29/03)
1965: Em 29 de março é nomeado governador do Território Federal de
Rondônia João Carlos dos Santos Mader, que é exonerado do cargo em
1967 (10/04).
1966: Chegada a Rondônia do 5º BEC (Batalhão de Engenharia de
Construção) que ativou os trabalhos de complementação da BR -364 e
procedeu à extinção da EFMM em 10 de julho de 1972.
1967: Em 10 de abril é nomeado governador do Território Federal de
Rondônia Flávio Assumpção Cardoso, que é exonerado do cargo em
30/11 do mesmo ano. Em 30 de novembro é nomeado governador do
Território Federal de Rondônia José Campedelli, que é exonerado do
cargo em 1969 (13/02). No seu governo é criada a CERON (Centrais
Elétricas de Rondônia S. A). Retirou -se do governo em 1969. O
marechal Artur da Costa e Silva assume a presidência da República em
1967 e governa até 1969.
1968: Em 13 de fevereiro é nomeado governador do Território Federal
de Rondônia João Carlos Marques Henrique Neto, que é exonerado do
cargo em 1972 (31/10). No primeiro governo do Coronel Marques
Henrique no Território de Rondônia sã o reaparelhadas as companhias
de economia mista CERON e CAERD, a Guarda Territorial e o Corpo de
Bombeiros.
1969: O General Emílio Garrastazu Médici assume a presidência da
República, governa até 1974. Assinado o Decreto n o . 411 que aumenta
a autonomia dos governos territoriais. É criado o Conselho Territorial,
um arremedo de Assembléia Legislativa pois formado através de
indicações, os prefeitos municipais também continuam a ser nomeados
e demitidos pelo governador. O Decreto -Lei 411, cria as Câmaras
Municipais nos territórios, seus membros seriam eleitos por voto direto
e seus recursos contra os atos dos prefeitos deveriam ser
encaminhados ao Conselho Territorial. Em 13 de outubro fixa -se
através do Decreto -Lei n o . 961 o número de vereadores para os
municípios dos territórios federais, fica estipulado que Guajará -Mirim
possuirá cinco e Porto Velho nove vereadores.
1970: O Ministro das Minas e Energia, Antônio Dias Leite Júnior
assinou a portaria ministerial nº 195 -70, que proibia o garimpo manual
e facilitava a entrada das grandes companhias mineradoras como a
Brumadinho, Patino, Brascan e Paranapanema, gerando uma séria crise
social no Território. Os trabalhos do INCRA iniciam a ser implantados
com os projetos PIC-Ouro Preto. Surgiram municípios como Ouro P reto
do Oeste, Cacoal, Colorado D’ Oeste, Rolim de Moura, Cerejeiras e
Santa Luzia.
235

1971: Implantação do projeto de colonização Sidney Girão.


1972: Em 31 de outubro é nomeado governador do Território Federal de
Rondônia Theodorico Gahyva, que é exonerado d o cargo em 1974
(23/04). Dado o crescimento da colonização do estado o governador
iniciou o governo itinerante. Como Porto Velho é o município que
englobava os distritos que estavam se tornando as futuras cidades do
território o governador nomeou administr adores para esses distritos.
Implantação do Projeto de colonização Gy Paraná
1973: Implantação do Projeto de colonização Paulo Assis Ribeiro
1974: O General Ernesto Geisel assume a presidência da República e
governa até 1979. Em 23 de abril é nomeado gover nador do Território
Federal de Rondônia João Carlos Marques Henrique Neto, que é
exonerado do cargo em 1975 (20/05), quando conclui seu segundo
mandato.
1975: Em 20 de maio é nomeado governador do Território Federal de
Rondônia Humberto da Silva Guedes, qu e é exonerado do cargo em
1979 (20/03). Na gestão do Coronel Humberto Guedes são
desmembradas áreas do município de Porto Velho, para serem nelas
criadas os novos municípios de Ariquemes, Ji -Paraná, Cacoal, Pimenta
Bueno e Vilhena. Destaque -se também a preocupação do governador
em criar-se uma infra-estrutura para o futuro Estado de Rondônia,
sendo a sua principal luta a regularização da situação fundiária do
Território. Implantação dos Projetos de colonização Burareiro, Marechal
Dutra e Padre Adolfo Rohl.
1977: O Território que nasceu com quatro municípios, depois agrupados
em dois (Porto Velho e Guajará -Mirim), assistiu naquele ano à criação
de mais cinco municípios: Cacoal, Ariquemes, Rondônia, Pimenta
Bueno e Vilhena, todos ao longo da BR -364.
1978: Geisel promove a reforma constitucional liberalizante, iniciando a
abertura política. João Batista Figueiredo é eleito presidente da
República, por via indireta.
1979: O Ministro do Interior, Mário David Andreazza, indica ao
presidente da República, General Jo ão Batista de Oliveira Figueiredo,
para o governo do Território Federal de Rondônia o nome de Jorge
Teixeira de Oliveira que é nomeado em 20 de março e exonerado do
cargo em 1981 (22/12) concluindo seu governo territorial e iniciando o
governo estadual em Rondônia. O crescimento demográfico do território
é acentuado em face da migração, ao longo da BR -364 e dos garimpos
de cassiterita e ouro. Iniciam a chegar a Rondônia alguns garimpeiros,
atraídos pela notícia de que o rio Madeira é rico em ouro. O DNPM
libera para a garimpagem a área de Abunã, cuja a exploração se
revelou abundante, atraindo com a divulgação dos resultados iniciais
garimpeiros de outros estados.
1981: É aprovada a lei complementar que cria o Estado de Rondônia.
Chegam as primeiras balsas vindas do Pará, a maior parte de Itaituba e
Santarém para explorar o ouro do rio Madeira. Em 17 de agosto: é
encaminhado pelo Presidente da República João Batista Figueiredo ao
Congresso Nacional o projeto de Lei Complementar n o . 221 propondo a
criação do Estado de Rondônia. O projeto de lei é aprovado em
primeira discussão em 16 de dezembro e em 22 de dezembro, daquele
236

mesmo ano, é aprovada a Lei Complementar nº. 41 que cria o Estado


de Rondônia. Em 22 de dezembro é nomeado governador do Estado de
Rondônia Jorge Teixeira de Oliveira, que é exonerado do cargo em
1985 (14/05), concluindo seu segundo mandato em Rondônia. Dentre
as muitas realizações do seu governo podemos destacar: o
asfaltamento da BR-364; a instalação do Tribunal de Justiça; a
instalação das Comarcas; a instalação do Tribunal Regional Eleitoral; a
instalação da Procuradoria Geral de Justiça; a instalação da
Universidade de Rondônia; o início da construção da Hidrelétrica de
Samuel; a criação da Companhia de Mineração de Rondônia; a criação
do Banco do Estado de Rondônia; São criados novos municípios,
alguns fora do eixo da rodovia, quatro resultantes de povoações
nascidas com a recente colonização, como Colorado do Oeste, Espigão
do Oeste, Presidente Médici, Ouro Preto do Oeste, e um, Costa
Marques, de povoação antiga, datando da construção do Forte Príncipe
da Beira em 1776. A Lei Federal nº 6.921 criou os municípios de
Colorado D’ Oeste, Espigão do Oeste, Presidente Médici, Ouro Preto do
Oeste, Jaru e Costa Marques. Implantação do Projeto de c olonização
Urupá.
1982: Em 4 de janeiro é instalado o Estado, sendo empossado, então, o
Coronel Jorge Teixeira como seu primeiro Governador, dentre seus
principais atos destacam -se a estruturação do judiciário do novo Estado
e a criação do Tribunal de Cont as do Estado de Rondônia.
1983: O Decreto-Lei 71 de 05 de agosto cria os municípios de Rolim de
Moura e Cerejeiras. Implantação do Projeto de colonização Bom
Princípio. Em 7 de junho é aprovada pela comissão de revisão
constitucional da Assembléia Estadua l de Rondônia a Constituição do
Estado de Rondônia. Em 7 de junho de 1983, é aprovada pela comissão
de revisão constitucional da Assembléia Estadual de Rondônia a
Constituição do Estado de Rondônia. Implantação dos Projetos de
colonização Gleba G e Machad inho.
1984: Implantação do Projeto de colonização Cujubim. Pavimentação
da BR-364.
1985: Em 21 de abril falece o presidente eleito Tancredo de Almeida
Neves e assume o seu vice José Sarney (nascido José Ribamar
Ferreira de Araújo Costa). Em 22 de dezembro é nomeado governador
do Estado de Rondônia Ângelo Angelin, que é exonerado do cargo em
1987 (15/03).
1986: A Lei 100 de 11 de maio cria o município de Santa Luzia do
Oeste. A Lei 104 de 25 de maio cria o município de Alta Floresta do
Oeste. A Lei 103 de 20 de maio, cria o município de Alvorada do Oeste.
Implantação dos Projetos de colonização D'jaru Uaru, Rio P. Candeias,
São Felipe, Vale do Jamary e Vitória da União.
1987: Em 15 de março é empossado o primeiro governador eleito do
Estado de Rondônia Jerôni mo Garcia de Santana, que sai do cargo em
1991 (01/01) Dentre as ações do seu governo podemos citar a criação
da Comissão Executiva dos Vales dos Rios Mamoré, Guaporé e Madeira
(Cemaguam), destinada a apoiar as atividades da população ribeirinha
do estado; ampliação da Companhia de Armazéns Gerais de Rondônia
S. A. (Cagero); consolidação do Instituto Estadual de Florestas (IEF);
237

implantação da Fundação Escola do Serviço Público de Rondônia


(Funsepro), criada por lei do governo anterior; criação do Instituto de
Pesos e Medidas de Rondônia (Ipem) e criação do Instituto de Terras
de Rondônia (Iteron). A Lei 157, de 19 de junho cria o município de
Nova Brasilândia. Implantação dos Projetos de colonização Itapirema,
Pyrineos, Tancredo Neves e Zeferino.
1988: A Lei 201, de 07 de junho, cria o município de Cabixi. A Lei 200
de 07de junho cria o município de São Miguel do Guaporé. A Lei 202 de
15 de junho, cria o município de Vila Nova do Mamoré. A Lei 198, de 11
maio, cria o município de Machadinho do Oeste. Implant ação dos
Projetos de colonização Burití, Jatuarana, Marcos Freire e Verde
Seringal.
1989: Implantação dos Projetos de colonização Nova Conquista e
Taruma.
1990: Em 15 de março Fernando Afonso Collor de Melo toma posse da
presidência da república. Implantaç ão dos Projetos de colonização
Cachoeira, Colina Verde, Emburana, Massangana, Nova Floresta,
Ribeirão Grande e Várzea Alegre
1991: Em 1 de janeiro é empossado o governador do Estado de
Rondônia Oswaldo Piana Filho, que sai do cargo em 1995 (01/01).
1992: O senador Amir Lando relata o processo de impeachment do
presidente Collor de Melo o vice presidente, Itamar Augusto Cautiero
Franco, assume a presidência da república.
1995: Em 1 o . de janeiro é empossado governador do Estado de
Rondônia W aldir Raupp de M atos.
238

GABARITO DOS EXERCÍCIOS

Capítulo 1: A conquista e a colonização da Amazônia e a submissão


do indígena.
Os primeiros contatos entre os indígenas e o colonizador.
1. b), 2. c), 3. c), 4. a), 5. d)

A legislação colonial e a submissão do indígena.


1. b), 2. d), 3. c), 4. b), 5. a)

A população indígena dos vales dos rios Madeira e Guaporé.


1. b), 2. c), 3. a), 4. c), 5. d)

O indígena, o povoamento e a colonização.


1. a), 2. c), 3. c), 4. c), 5. c)

Capítulo 2: A exploração, conquista e ocupação da Ama zônia no


contexto do antigo regime.
O espaço natural.
1. b), 2. b), 3. c), 4. b), 5. d)

A exploração, as visões e o imaginário do conquistador na Amazônia.


1. c), 2. c), 3. e), 4. a), 5. b)

Os tratados de limites da Amazônia no período colonial.


1. c), 2. d), 3. a), 4. b), 5. c)

A diplomacia ibérica e a conformação das fronteiras da Amazônia


colonial.
1. c), 2. a), 3. b), 4. d), 5. d)

A colonização da Amazônia: missionários, europeus e militares em


conflito.
1. c), 2. d), 3. b), 4. b), 5. a)

A colonização da região do Madeira/Guaporé.


1. d), 2. d), 3. e), 4. b), 5. c)

A defesa das fronteiras: destacamentos e fortificações.


1. c), 2. c), 3. d), 4. b), 5. a)

Capítulo 3: O mercantilismo e as políticas de colonização dos vales


do Madeira e do Guaporé.
A colonização do Vale do Guaporé e a fundação de Vila Bela da
Santíssima Trindade.
1. a), 2. e), 3. a), 4. d),
5. R. Incentivou o comércio através da rota do Madeira, estimulou a
entrada de escravos na capitania, construiu fortificações, missões e
povoados nos vales do Madeira e Guaporé e edificou a cidade de Vila
Bela, dotando-a de toda infra -estrutura administrativa colonial.
239

A mineração.
1. b), 2. b),
3. R. Estimulou a entrada dos colonizadores, escravos e
administradores. Levou Portugal a criar a capitania des membrando-a de
São Paulo em 1748.
4. R. Com o esgotamento das lavras nos últimos 30 anos do século
XVIII, devido ao uso de técnicas primitivas de exploração do metal.
5. R. O despovoamento da capitania a crise de Vila Bela, retração
econômica, desinteresse do Estado Colonialista pela região e a
decadência do Vale do Guaporé.

A agropecuária.
1. R. Produção instável, subordinada aos interesses da mineração.
Insuficiente para atender às necessidades de consumo da população.
2. R. Para atender as necessidades de carne salgada dos
destacamentos militares fronteiriços e à população durante as crises de
abastecimento do comércio regional.
3. R. Negros, índios e pobres livres. Todos comprometidos com a
mineração, o que fazia da agropecuária uma atividade secundári a.
4. R. Primitivamente provinham dos campos do sul da colônia e do Vale
do S. Francisco, através da rota sertanista de Goiás. Mais tarde
formaram-se alguns rebanhos dentro da própria capitania.
5. d)

O comércio e as rotas fluviais.


1. R. Interdependência com a mineração, monopólio controlado pela
Companhia do Grão -Pará e Maranhão; importação a altos custos de
todo o necessário de ouro, capitais e drogas do sertão.
2. R. Por via fluvial, através das monções do norte (rios Madeira,
Amazonas e Guaporé) e mon ções do sul (rios Tietê, Paraguai, Jauru,
Cuiabá).Por via terrestre, através das rotas sertanistas de Cuiabá, São
Paulo, Rio de Janeiro.
3. R. O Estado Português, deu preferência à rota monçoeira do norte,
passando pelos rios Amazonas, Madeira e Guaporé.
4. R. Em 1752 pela provisão régia assinada por Pombal, que pretendia
aumentar o controle do Estado sobre a produção de ouro local.
5. F, F, V, V.

A Companhia de Comércio do Grão -Pará e Maranhão.


1. d), 2. e),
2. Chaves: abastecimento, mineração, borracha, insalu bridade, mão-de-
obra indígena, igarités, cachoeiras.
4. R. Promoveram a exploração e a guarda territorial da região.
Contribuíram para a fixação de núcleos de colonização à margem dos
rios. Abasteceram as populações locais e o governo regional de todo o
necessário à sobrevivência e de escravos.
5. R. A Companhia de Comércio do Grão -Pará e Maranhão que detinha
o monopólio comercial e ao governo do Grão -Pará.
240

Capítulo 4: A sociedade colonial guaporeana, aspectos do


cotidiano, a escravidão e a resistência esc rava.
A sociedade colonial no Vale do Guaporé.
1. R. Constitui-se de aventureiros, mineradores, desclassificados
sociais que trocavam suas penas judiciais por fixação de residência na
região. Grande parte dessa população era formada por negros e
mestiços livres ou escravos.
2. R. O perdão dos crimes e a fixação de residência no Vale do
Guaporé.
3. R. No topo, estavam os homens brancos encarregados da
administração local e os ricos proprietários de terras e escravos. As
camadas medianas dessa sociedade compu nham-se de pequenos
comerciantes e proprietários. Na base da pirâmide estavam os pobres
livres e por fim os escravos negros ou índios.
4. d), 5. d)

Negros, índios. europeus e mestiços: as políticas de ocupação e defesa


do território e as relações de poder e submissão.
1. R. Constituía-se por brancos aventureiros e sertanistas que
enriqueceram com a mineração, o comércio e a escravização de
indígenas.
2. R. Eram proprietários rurais, donos de lavras, de lavouras, de gado
ou exerciam o comércio ligado ao Par á e ao Rio de Janeiro.
3. R. Cultivavam pequenas roças de subsistência, praticavam trabalho
mediante pagamentos e perambulavam pelos arraiais em busca de
pequenos serviços.
4. F, F, F, V.
5. b)

Doenças e epidemias.
1. R. Doenças tropicais como a malária e o maculo, além do tifo, febres
catarrais, etc.
2. R. A insalubridade ambiental e a ausência de uma política sanitária
para a região.
3. R. Após o pique das enchentes e durante todo o período da estiagem
entre maio e outubro.
4. R. Utilizando-se os conhecimentos indígenas, africanos e populares
sobre remédios, ervas e práticas curandeirísticas. Utilizava -se também
remédios europeus como o mercúrio.
5. d)

Aspectos da escravidão: a organização do trabalho, as ocupações e a


família.
1. R. Faziam cumprir as orden s do proprietários e eram os pontos de
atração das tensões e violências que marcaram a escravidão.
2. R. Um numeroso plantel de escravos pertencentes ao Estado,
comprados pelos governadores para tocar obras públicas, trabalhar em
diversas atividades econômicas e na guarda de fronteira
241

3. R. De forma precária, seguindo o modelo da família católica


portuguesa. Haviam poucas mulheres, o que provocava grande
desequilíbrio entre os sexos.
4. R. Seguia-se o ritual católico, mas misturavam -se práticas religiosas
africanas e indígenas. A irmandade de São Benedito era destinada a
homens pretos.
5. c)

A resistência escrava.
1. d),
2. R. A fuga para a colônia espanhola, para as florestas e para os
quilombos, o suicídio, os crimes, a negociação com os senhores.
3. R. Açoites, exposição no pelourinho, amputação das orelhas e
marcação com ferra quente.
4. R. As grandes florestas, os rios e a fronteira com a colônia
pertencente à Espanha
5. e)

A crise do sistema colonial e o abandono dos vales do Madeira e


Guaporé.
1. R. A mineração, a guarda militar das fronteiras, a escravidão.
2. R. Devido ao esgotamento das minas e à insalubridade regional.
3. a), 4. d)
5. R. Foi a mola propulsora da produção e da economia regional.

Capítulo 5: As pressões internacionais sobre a Amazônia br asileira.


O imperialismo: as propostas de internacionalização da Amazônia e o
etnocentrismo dos viajantes.
1. R. África, Ásia, Oceania e parte da América Latina. Os países
industrializados buscavam novos mercados consumidores de produtos
industrializados e fornecedores de matérias -primas, combustíveis e
produtos tropicais.
2. R. No século XVII exalta -se a opulência e as potencialidades do
meio natural. No século XVIII ressalta -se a inferioridade e primitivismo
de seus habitantes. Em ambos os casos sugerem a colonização e
exploração das riquezas pelos europeus
3. R. As doutrinas Monroe e do Destino Manifesto.
4. R. Legitimaram a exploração euro -americana dos povos submetidos
ao neo-colonialismo e ao imperialismo.
5. R. Liderados pelo Tenente Porter pretendiam impor, mesmo que
pelas armas, o direito à livre navegação internacional pelos rios da
Amazônia

A navegação no rio Madeira e a abertura do rio Amazonas à navegação


internacional.
1. d)
2. R. Como oficial da marinha dos E.U.A., Maury viajou pela Amazônia
e defendeu a idéia de que as riquezas da região deveriam ser
242

exploradas por países civilizados em nome da ciência, da política e da


economia.
3. b)
4. R. Grande parte das exportações das departamentos do Beni; Santa
Cruz de La Sierra e Cochabamba, para os portos do Atlântico eram
feitas pelo rio Madeira
5. R. Em embarcações a remo.

Limites e fronteiras: o Tratado de Ayacucho (1867).


1. R. Nas margens direitas dos rios Mamoré -Guaporé e Madeira.
2. R. O desconhecimento parcial da bacia Amazônica, das vias de
penetração para o interior e dos marcos naturais das fronteiras, o que
impedia a exata demarcação das fronteiras.
3. R. Indígenas, ainda não aculturados e grupos bolivianos ligados ao
extrativismo da borracha.
4. R. Tratado assinado entre Brasil e Bolívia em 186 7. Estabelecia as
bases das novas fronteiras, entre Brasil e Bolívia, passando ambas as
margens do Madeira a pertencer ao Brasil. O tratado versava ainda
sobre amizade, comércio navegação e extradição.
5. c)

A abertura do Amazonas à navegação estrangeira.


1. R. Doutrina econômica formulada por Adam Smith no século XVIII,
está contida na obra A Riqueza das Nações. Defendia o livre comércio
e o afastamento do Estado do gerenciamento do processo econômico.
2. R. Na década de 1860 surgiram a Companhia Fluvial Paraense e a
Companhia Fluvial do Alto Amazonas.
3. R. Desapareceram as empresa de navegação nacionais. O transporte
fluvial foi monopolizado pela empresa norte -americana Amazon Steam
Navigation.
4. R. Esse rio era um dos maiores produtores de borracha da
Amazônia, atrás apenas dos rios Purus e Juruá. Os navios da Amazon
Steam Navigation faziam fretes e transportes regulares da produção e
de passageiros entre Serpa e Santo Antônio.
5. e)

Capítulo 6: A exploração e colonização do oeste amazônico.


O primeiro ciclo da borracha.
1. d),
2. e),
3. (2,1,5,4,3), 4. ),
4. (F,V,V,F),
5. R: O contrabando das sementes na década de 1870, o plantio dos
seringais da Malásia e o baixo custo da borracha asiática.

A exploração e colonização do Oeste Amazônico.


1. (1),
2. (4),
3. (5),
243

4. R: Revelaram áreas de ricos e extensos seringais que foram


ocupados por brasileiros e mais tarde integrados ao Brasil.
5. R: Os vales dos rios Purus, Yaco, Juruá e Tarauacá.

Colonização brasileira do Madeira.


1. R: No início do século XIX, existiam poucos núcleo s urbanos de
colonização, remanescentes do século anterior que agregavam uma
pequena população. Com o primeiro ciclo da borracha inicia, na
segunda metade aos século XIX, a acelerar a colonização desses rios,
particularmente do Madeira, surgindo várias vil as e cidades e
crescendo a população dos povoados mais antigos.
2. R: Os vales dos rios Madeira, Mamoré, Guaporé, Ji -Paraná, Machado
e Jamari.
3. R: Santo Antônio localizava -se na província de Mato Grosso, na
primeira cachoeira do Madeira e surgiu na segun da metade do século
XIX, embora tenha existido no mesmo local uma missão jesuítica no
século XVIII. O movimento comercial gerado pelo primeiro ciclo da
borracha ocasionou o surgimento daquele povoado como um entreposto
de carga e descarga das mercadorias v indas de Mato Grosso, Bolívia e
Serpa.
4. R: A exploração da borracha e as tentativas de construção da EFMM.
5. R: Sua insalubridade, o crescimento de Porto Velho e a total falta de
interesse do governo de Mato Grosso.

A colonização boliviana do Madeira, o Noroeste Boliviano e a empresa


Suárez & Hermanos.
1. Chaves: quina, contrabando, plantações inglesas na Ásia e África,
concorrência, borracha.
2. R: A exploração dos seringais daquele rio em função da crescente
demanda de borracha no mercado internaciona l.
3. R: Foi um aldeamento localizado no baixo Madeira entre o Crato e
Humaitá, habitado por aproximadamente 300 pessoas de origem
boliviana. Produzia cacau, aguardente, banana, arroz e macaxeira.
4. R: Em fins do século XIX. Vila Murtinho foi fundada às m argens do
Mamoré em frente ao povoado boliviano de Vila Bela.
5. d)

Capítulo 7: O processo de ocupação e expropriação indígena na


área do Beni.
O indígena na Bolívia: apropriação, submissão e resistência.
1. d), 2. b), 3. c),
4. R. A ocupação de suas terras comunais que foram transformadas em
haciendas e a exploração compulsória da mão -de-obra indígena
5. a).

A legislação indígena e o recrutamento de trabalhadores na Bolívia.


1. R.O indígena era recrutado por um agente do seringalista, havia
porém os enganch es realizados à custa de violência e coerção física.
244

2. R. Ameaçava provocar o despovoamento da região do Beni e


promoveram um surto de ocupação boliviana nos vale do alto Madeira.
3. d), 4.c), 5. a).
Capítulo 8: Mão de obra para os seringais do alto Madei ra.
A obtenção da mão -de-obra para os seringais e o mecanismo de
expropriação do trabalhador direto.
1. R: Até o fim do século XIX (1880 -1890) existiam lavouras de
subsistência. Mais tarde passou -se a importar tudo, desde armas,
ferramentas até alimento e remédios.
2. R: Com base na coerção física e no adiantamento de gêneros,
ferramentas e utensílios ao trabalhador, que deveria pagar com a
produção.
3. R: Em São Paulo e no Sudeste com o declínio da escravidão utilizou -
se o trabalho dos migrantes europeus n as lavouras cafeeira. Na
Amazônia escravizou -se o indígena e utilizou -se do tapuio, do caboclo
e dos migrantes nordestinos na extração da borracha.
4. R: A partir da segunda metade do século XIX, com a seca de 1877 -
1879. Até então prevaleceu o uso da mão -de-obra local.
5. R: A conquista da fronteira oeste. O Acre passou a ser brasileiro
(1903), o aumento da produção e a retirada dos bolivianos do alto
Madeira.

A mão-de-obra indígena no período áureo da borracha.


1. d), 2. e),
3. R. As autoridades, não somente ficavam indiferentes às agressões
como freqüentemente auxiliavam os seringalistas a capturar o
trabalhador que fosse embora do seu posto de trabalho.
4.d), 5. d).

Capítulo 9: A questão acreana e a construção da E.F.M.M.


Os antecedentes e a Rebelião Acrea na.
1. b), 2. d), 3. b),
4. R. Os habitantes da região do Acre que viveram livres de impostos
tinham agora que se entender com a fiscalização boliviana. Além disso
a criação da aduana de Puerto Alonso resultava em que o Estado do
Amazonas, que havia estendido sua jurisdição sobre aquela área,
perderia rendas derivadas do escoamento da produção gomífera do
Acre.
5. R. O documento previa a gestão do governo norte -americano junto
ao governo brasileiro para que este reconhecesse os direitos da Bolívia
aos territórios do Acre, Purus e Iaco, ocupados segundo o acordo de
1867, o mais grave porém é que os E.U.A comprometiam -se a apoiar a
Bolívia, em caso de guerra com o Brasil.

Anexação do Acre ao Brasil.


1. e), 2. d), 3. a),
4. R. Não, as atitudes do governo brasileiro foram apoiadas pela
maioria dos governos latino -americanos.
245

5. R. Em 26 de fevereiro de 1903 o governo brasileiro comprou por


110.000 libras os direitos, interesses e ações do Bolivian Syndicate. Na
verdade a compra foi mais uma satisfação dada aos países que tinham
interesse na empresa, os E.U.A e a Inglaterra.

Percival Farquhar.
1. R: Controlava ferrovias, empresas de navegação, empresas de gás
e iluminação pública.
2. R: Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Pará, Mato Grosso e
Amazonas.
3. R: A Madeira-Mamoré Railway Co Ltda., com sede no Maine -EUA.
4. R: May, Jekill & Randolph.
5. R: A dominação imperialista do capital norte -americano.

A construção da EFMM.
1. R: Para facilitar o atracamento de navios, por considerar a região
mais salubre e com mais espa ços disponíveis e por questões de
autonomia jurídica em relação ao governo do Amazonas.
2. R: A concorrência foi vencida por Joaquim Catramby que a repassou
ao truste do norte -americano Percival Farquhar que criou a Madeira -
Mamoré R. Co. com sede no Maine.
3. R: A May & Jekill Co. Ltda., mais tarde: May, Jekill & Randolph Co.
Ltda.
4. R: Arrendamento da ferrovia por 70 anos pagando ao governo 5% da
renda bruta entre 1912 e 1931. 10% entre 1932 a 1951 e 20% entre
1952 e 1971 e ainda o pagamento de 40 contos de reis feito pelo
governo por Km de lastro da ferrovia.
5. R: Em cumprimento ao Tratado de Petrópolis que pôs fim à questão
do Acre.

A força de trabalho.
1. R: Representaram um expressivo contigente de operários que
trabalhou no assentamento dos trilhos e que já havia sido utilizado em
outras obras como no Paraná e em Cuba.
2. R: Trabalhadores negros caribenhos que participaram da construção
da EFMM.
3. R: A insalubridade regional desgastava e matava precocemente os
trabalhadores. Nos relatórios médicos d os doutores Lovelace, Belt e
Oswaldo Cruz calculava -se em 3 meses o prazo de vida útil dos
trabalhadores nos campos da EFMM.
4. R: Mão-de-obra especializada (empregados); basicamente anglo -
saxãos; mão-de-obra não especializada (trabalhadores), latinos,
brasileiros e negros em geral); trabalhadores terceirizados, que
prestavam serviços à empreiteira May, Jekill & Randolph.
5. R: Com a quinização obrigatória, vacinação contra varíola, adoção
de políticas sanitaristas, construção do hospital da Candelária.

Porto Velho.
246

1. R: Ligam-se a um empreendimento industrial, a construção da


EFMM.
2. R: Um pátio de obras da EFMM, urbanizada e dotada de infra -
estrutura para atender as necessidades da administração da ferrovia e,
ao lado, um aglomerado de habitações e comé rcio sem os mesmos
confortos.
3. R: O Alto do Bode e a Baixa União (Triângulo), o Centro (residencial
e comercial) o Mocambo.
4. R: A notável infra -estrutura dentro do pátio ferroviário, e a
precariedade do espaço urbano fora das terras da ferrovia.
5. R: 1914, através da Lei n º 757 sancionada pelo governador
Jonathas Pedrosa, do Amazonas.

Guajará-Mirim.
1. R: Estado de Mato Grosso, às margens do rio Mamoré, fronteira com
a Bolívia e ponto final da EFMM.
2. R: Com escasso povoamento, denominada pela prese nça de
empresas ligadas a extração de borracha (Guaporé Rubber Co),
marcada pela presença numerosa de indígenas e com um posto fiscal
cujo encarregado era Manoel Tibúrcio Dutra.
3. R: Em 1928 e teve como primeiro superintendente o Sr. Manoel
Boucinhas de Menezes. Integrava o estado de Mato Grosso e tinha uma
economia voltada para a borracha e a EFMM.
4. e), 5. b).

A comissão Rondon e a linha telegráfica.


1. (1,2,3,4,5),
2. a), 3. e),
4. R: (1) aculturar e civilizar o índio, (2) impedir massacres contra os
indígenas, (3) impedir a invasão de terras indígenas.
5. Chaves: comunicações, integração, estudos etnográficos, exploração
geográfica, Rondônia.

Capítulo 10: O Território Federal do Guaporé.


Aluízio Ferreira: a intervenção e a nacionalização da EFMM.
1. d), 2. e), 3. e),
4. R: (1) a distância e o isolamento regional, (2) a reduzida população e
a precariedade dos meios de transporte, (3) o baixo rendimento do
trabalho humano na região devido às adversidades do meio natural.
5. R: 1943 com a criação do Território Federal do Guaporé, do qual ele
foi o primeiro governador até 1946.

Precedentes da criação do Território Federal do Guaporé.


1. R: (1) 1849, projeto do Visconde de Porto Seguro, Adolpho
Varnhagen; (2) projeto Juarez Távora, criação do Território do Guapor é
e do Madeira; (3) projeto de Teixeira de Freitas, criação dos territórios
do Madeira, Mamoré e Guaporé.
2. R: Houve vários projetos que previam a criação de novos territórios
nas regiões do Madeira, Mamoré e Guaporé; tanto no século XIX,
247

quanto no século XX. A construção da EFMM contribuiu para solidificar


uma identidade regional. A atuação da Comissão Rondon, com a
construção da linha telegráfica de Santo Antônio a Cuiabá; a fundação
de núcleos de povoamento junto aos postos telegráficos. A obra
administrativa de Aluízio Ferreira. A conjuntura provocada pela Guerra
e pela borracha.
3. R: Lábrea, Porto Velho, Santo Antônio e Guajará -Mirim.
4. R: O Decreto-Lei nº 5812 estabelecia o limite norte do território junto
ao rio Purus. O Decreto -Lei nº 6550 de 1944 recuou este limite para a
confluência entre o Maici e o Madeira. O restante dos limites
permaneceram até os dias atuais.
5. b).

A guerra pela borracha.


1. R: Foram tratados assinados entre Brasil e EUA, objetivando
aumentar a produção de borracha para at ender aos esforços de guerra
dos Aliados. Previam o aumento da produção do látex amazônico, a
eliminação das casas de aviamento, a criação do Banco da Borracha, a
criação da SAVA, etc.
2. e), 3. c),
4. R: Porque os seringais da Malásia haviam caído nas mãos d os
japoneses, inimigos dos EUA e dos aliados na Segunda Grande Guerra.
5. R: Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Bahia, etc. Chegavam à
Amazônia contratados pelo governo, com um documento destinado a
regularizar sua situação de trabalho.

A criação do Território Federal do Guaporé.


1. R: 13/09/1943 pelo Decreto -Lei nº 5.812 assinado pelo presidente
Getúlio Vargas. O Território faz parte de um conjunto de medidas
políticas, voltadas para a Amazônia. Dentre os fatores que
determinaram sua criação citamos o p rograma Guerra pela borracha,
que trouxe muitos migrantes para a região e promoveu um período de
prosperidade.
2. R: O governador seria livremente nomeado pelo presidente da
República. O primeiro governador foi o Major Aluízio Ferreira.
3. R: Através da Lei n o . 2731 de 1956, cujo projeto teve como autor do
deputado Áureo de Melo (Am) e foi sancionado pelo presidente
Juscelino Kubitscheck.
4. R: Amazonas, aproximadamente 12% e Mato Grosso,
aproximadamente 88%.
5. R: Ficou integralmente ligada ao Território. A própria ferrovia havia
sido um dos elementos definidores da identidade regional.

A política no Território Federal do Guaporé.


1. R: Grupos políticos do Território Federal do Guaporé. Cutubas eram
adeptos da liderança política de Aluízio Ferreira. Os Pe le-Curtas eram
a oposição.
2. a), 3. b), 4.e), 5. c).

Os garimpos de cassiterita e pedras preciosas.


248

1. R: Em 1955, nos seringais de Joaquim Rocha no rio Machadinho,


afluente do Ji-Paraná.
2. R: Aumento da população e da renda do Território. Novo fluxo
migratório para Rondônia. Criação da Província Estanífera de
Rondônia.
3. R: Através de uma portaria do Ministério das Minas e Energia, o
garimpo manual foi proibido sob a alegação de ser predatório.
4. d), 5. b).

A abertura da BR-364.
1. R: O projeto é antigo. A idéia surgiu em 1916 com Roquette -Pinto.
Em 1943 Aluízio Ferreira iniciou a abertura de uma rodovia paralela à
linha telegráfica. Em 1960, o Coronel Paulo Leal conseguiu influenciar
o presidente Juscelino Kubitscheck a aprovar a construção da rodovi a,
que foi aberta pela empreiteira Camargo Corrêa.
2. R: Ligou os Estados de RO, AC e AM ao restante do país, estimulou
a migração de agricultores para as terras situadas ao longo da rodovia,
fixando novos núcleos de colonização.
3. R: 1984 nos governos do presidente João Figueiredo e do Cel Jorge
Teixeira. As obras foram executadas pelo 5º BEC, pela Andrade
Gutierrez e por 14 empreiteiras e 5 empresas de consultoria.
4. R: O 5º BEC instalou -se em RO em 1966 com a função de manter as
condições de tráfego da BR-364. Atuou na pavimentação da rodovia,
em diversos trechos, construiu o trecho rodoviário que liga Guajará -
Mirim a Porto Velho, etc.
5. b).

Capítulo 11: A criação do Estado de Rondônia.


A colonização recente
1. a),
2. R: O migrante atual provém de diver sas regiões do país e buscou o
T. F. de Rondônia em função da obtenção de terras para agropecuária,
constituindo-se em pequenos e médios agricultores. No início do século
migraram trabalhadores sem famílias, vindos predominantemente do
Nordeste ou de outro s países para trabalhar nos seringais e nas obras
da EFMM.
3. B)
4. R: Estabeleceu-se preferencialmente ao longo da BR -364 e nas
estradas vicinais a esta rodovia. Ao lado das pequenas e médias
propriedades surgiram os latifúndios e os problemas ligados à poss e da
terra. A produção agropecuária desenvolveu -se com o cultivo do cacau,
café, feijão, milho, etc. Na pecuária destacam -se os rebanhos bovino e
suíno.
5. b).

Os garimpos de ouro do rio Madeira.


1. R: O ouro foi explorado nestas regiões desde o século XV III, datando
os primeiros achados de 1739, no rio Corumbiara. A extração do ouro
249

de aluvião foi feita manualmente ou com a utilização de dragas e balsas


que revolveram as barrancas e o leito dos rios.
2. R: Teotônio, Morrinhos, Caldeirão do Inferno, Araras , Penha e
Chocolatal. Na década de 1980 explorou -se ouro em áreas de terra
firme como serra Sem Calça, Nova Brasilândia, Vagalume, Faya e Serra
do Top Less.
3. R: Poluição ambiental com derrame de mercúrio nos leitos dos rios;
desmatamento das margens dos rios, prostituição adulta e infanto -
juvenil, aumento do consumo de álcool e drogas.
4. c), 5. c).

A criação do Estado de Rondônia.


1. R: O aumento demográfico: ocasionado pela migração em função da
agropecuária ao longo da BR -364 e dos garimpos no Vale do Madeira.
Esse aumento populacional levou o governo territorial à criação de
diversos municípios e implantação de condições mínimas de infra -
estrutura administrativa. Durante o governo do Coronel Teixeira: foram
criados o Tribunal de Justiça, a hidrelétric a de Samuel, as secretarias e
a receita fazendária estadual.
2. R: Em 22/12/1981, através da Lei Complementar nº 41 , assinado
pelo presidente militar João Figueiredo . O Estado foi instalado em
04/01/1982 e teve como primeiro governador (nomeado) o Coron el
Jorge Teixeira.
3. e), 4. a), 5. d).

Exercícios de fixação.
1. R. Em 1907, no governo de Afonso Pena as obras foram iniciadas. A
conclusão dos trabalhos ocorreu em 1912 durante o governo de Hermes
da Fonseca.
2. b)
3. b)
4. (V, F, V, F)
5. (1, 2, 3, 4, 5)
6. R. Isenções de impostos, direito à polícia particular, concessões para
explorar as terras adjacentes à ferrovia.
7. R. O Major Fernando Guapindaia, que chegou a Porto Velho em
1915. Sua obra liga -se ao atrito com a administração da EFMM em
busca de implantar a soberania dos poderes da municipalidade na
região.
8. R. A questão do patrimônio e da autoridade das leis municipais em
áreas consideradas pertencentes à ferrovia. Calcula -se que essa
questão estendeu -se até próximo ao período da nacionalização da
EFMM.
9. R. Trabalhadores recrutados no Nordeste e em outras regiões que
vieram para a Amazônia trabalhar no programa Guerra pela borracha.
10. R. Uma relação da SEMTA de 1942 aponta um percentual de
25,01%. Desse total, 24% vieram para Porto Velho.
11. R. Fixou o povoamento e a ocupaç ão de extensas áreas de
seringais. Garantiu a produção do látex para os aliados. Promoveu o
250

enriquecimento e a prosperidade da região, embora não tenha recebido


benefícios importantes.
12. c)
13. a)
14. b)
15. d)
16. e)
17. a)
18. b)
19. e)
20. c)
21. d)
22. a)
23. c)
24. c)
25. d)
26. R. A conquista da região guaporeana intensificou -se com o
descobrimento das lavras e faisqueiras no rio Guaporé. Contudo, o
extrativismo mineral não fixou a insuficiente população de colonos que
para lá se dirigiu. A colonização baseada na agricultura e na pecuária
encontrava obstáculo na própria dinâmica da mineração. Apesar das
tentativas de povoamento permanente, baseadas em atividades
sedentárias, a exploração da terra era dificultada pelo caráter errante
do extrativismo. Com a decadência da mineração os colonos de o rigem
européia se retiraram da região.
27. R. Várias eram as formas de resistência. Havia as formas
individuais, violência e inconformismo, que poderiam resultar no
homicício dos senhores de escravos e seus feitores, na redução do
ritmo do trabalho e na fuga para a colônia castelhana. Havia também a
forma coletiva de fuga e ajuntamento dos escravos fugidos nos
quilombos.
28. R. Foram utilizados na política portuguesa de povoamento do Vale
do Guaporé. Os escravos aprisionados durante a destruição do
quilombo do Quariterê serviram ao povoamento da aldeia Carlota.
29. R. O sistema colonial português implantado no Vale do Guaporé
baseava-se no aparato burocrático e militar sob o comando dos
Capitães-Generais. Apesar da existência de uma frágil atividade
agrícola e pecuária o principal setor econômico era a mineração. O
trabalho e a defesa do território estavam entregues a uma população
de brancos empobrecidos e escravos, negros e indígenas.
30. R. A defesa da fronteira colonial lusitana no Vale do Guaporé
contra as investida s castelhanas.
31. a)
32. e)
33. d)
34. c)
35. (F, F, V, V)
36. (V, V, V, V)
37. (V, F, V, F)
251

38. (V, F, F, V)
39. (V, V, V, F)
40. (F, V, F, V)
41. (F, V, V, V)
42. (V, F, F, F)
43. (F, F, V, V)
44. (4, 3, 2, 1)
45. R. O interesse pela borracha amazônica, matéria prima
indispensável às indústrias dos p aíses capitalistas centrais, e pelos
investimentos necessários as atividades extrativistas, a saber:
construção de portos, ferrovias, infra -estrutura urbana, exploração da
navegação marítima e fluvial e financiamento da atividade produtiva.
46. R. Os seringais do rio Madeira eram explorados durante o século
XIX por mão-de-obra composta de indígenas, inclusive capturados ou
recrutados além de nossas fronteiras, e nordestinos que para a
Amazônia migraram.
47. R. A crescente demanda dessa matéria prima, para os merc ados
internacionais, encontrou na Amazônia determinadas condições que
fizeram da região o maior produtor mundial de borracha, a saber:
grande quantidade de seringueiras nativas espalhada pelo território
amazônico e secular tradição extrativista.
48. R. A borracha, como matéria -prima, adquiriu crescente importância
no mercado mundial, a partir da segunda metade do século XIX, com o
desenvolvimento da tecnologia de tratamento industrial, que a tornava
mais resistente às variações ambientais, e o surgimento dos
pneumáticos para bicicletas e para a nascente indústria
automobilística.
49. R. A Bolívia cedeu ao Brasil toda a margem direita do rio Madeira,
do ponto médio (proximidades de Humaitá) até a localidade boliviana
de Villa Bella. Ainda, no referido tratado o Br asil concordava em
conceder facilidades fiscais para o comércio de produtos por aquele rio
em direção à Bolívia.
50. R. Constituía-se no acordo, entre o agente recrutador e o
trabalhador, no qual esse último concordava em receber um
adiantamento para transpor te até a área produtiva e despesas de
manutenção inicial. Através do acordo o trabalhador concordava em
trabalhar para um seringalista até pagar a dívida contraída.
51. (3, 4, 1, 5, 2)
52. (1, 2, 3, 4)
53. (V, V, V, V)
54. (F, V, F, V)
55. (V, F, V, F)
56. (V, F, V, F)
57. (V, V, F, F)
58. (V, F, F, V)
59. (V, F, F, F)
60. (V, V, F, F)
61. c)
62. a)
252

63. d)
64. b)
65. d)
66. R. Os projetos para a criação de um território na área dos rios
Madeira, Mamoré e Guaporé remontam ao século XIX. Essas propostas
se vinculavam a pretensão de colonização das áreas ma is próximas as
fronteiras internas do país. A idéia de marcha para o oeste já existia e
a II Guerra Mundial, com o aumento dos investimentos na Amazônia,
destinados ao aumento da produção de borracha, foi um elemento que
alavancou a proposta de criação do Território Federal do Guaporé.
67. R. Dois princípios norteadores podem ser considerados básicos: o
contato pacífico com as populações indígenas e seu posterior preparo
(aculturação) para a inserção na sociedade nacional.
68. R. O abandono da ferrovia pelos agen tes concessionários, em face
dos crescentes déficits ocasionados pela decadência da produção
gomífera.
69. R. O desinteresse dos concessionários estrangeiros em continuar a
operar na região.
70. R. A nacionalização da ferrovia fez com que a empresa, importante
elemento de manutenção da colonização na região, se tornasse também
um elemento fomento econômico e agente de reivindicações políticas.
Na administração de Aluizio Ferreira foi iniciada a abertura da rodovia
Mato Grosso-Amazonas, criados os contingentes de fronteira e, por
ocasião da II Guerra Mundial o aumento da produção gomífera e os
investimentos fizeram com que fosse criado o Território Federal do
Guaporé.
71. d)
72. a)
73. b)
74. b)
75. d)
76. e)
77. a)
78. e)
79. d)
80. R. Por que já tinham sido aculturados e catequizados. Eram
considerados mais dóceis, higiênicos e produtivos.
81. R. Manaus, Humaitá, Serpa. Trabalharam em portos, construções,
embarcações, seringais.
82. d)
83. a)
84. d)
85. c)
86. c)
87. a)
88. c)
89. d)
90. b)
91. b)
253

92. c)
93. b)
94. c)
95. a)
96. d)
97. R. Interesse fiscal. Nessa época, o governo, os empresário s e a
diplomacia internacional debatiam a questão da livre navegação pelo
Madeira.
98. R. A conquista de 50% dos territórios do México, a dominação
sobre Cuba, Porto Rico e Panamá, a compra do Alasca, Flórida e
Lousiania.
99. Chaves: Amazon Steam Navigation Comp any, pressões
internacionais, livre cambismo, D. Pedro II, Mauá, Companhia de
Navegação e Comércio do Amazonas, monopólio, subsídio, comércio.
100. c)
101. Chaves: Doutrina Monroe, Canal do Panamá, Cuba, concessões
de obras públicas, empréstimos, endividamento, na vegação no
Amazonas.
102. d)
103. R. Eram física, intelectual e moralmente inferiores aos europeus.
Necessitavam de comando e colonização de povos superiores, os
europeus, capazes de levar -lhes os valores da moral, do trabalho e da
civilização ocidental.
104. a)
105. R. Gado em pé, cascarilha ou quina, borracha, café, açúcar,
algodão, etc.
106. d)
107. R. Humaitá, Vila Murtinho, Manicoré.
108. R. Além de diversos povos indígenas, a região era esparsamente
habitada por pequenos núcleos de colonizadores que se dedicavam ao
extrativismo e as lavouras de subsistência.
109. b)
110. R. Um local ermo, insalubre e doentio.
111. c)
112. c)
113. R. Por que já tinham sido aculturados e catequizados. Eram
considerados mais dóceis, higiênicos e produtivos.
114. e)
115. c)
116. a)
117. e)
118. R. Foi uma grande empresa de uma família bolivia na, que
explorou os seringais do alto Madeira, dominando uma área de 16
milhões de acres de terra e que negociara diretamente com a Europa.
Sua sede foi Cachuela Esperanza.
119. R. Riberalta. Capital do departamento do Pando. Área que
abrangia Guayaramerín, Ca chuela Esperanza e Baures.
120. R. Porque sua mão-de-obra local foi recrutada para os seringais
do alto Madeira.
254

Referências Bibliográficas .

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