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Espaços rurais em mudança

 Como se caracterizam as paisagens


agrárias?

 Uma vez que as paisagens agrárias têm vindo a ser cada vez
mais transformadas, torna-se difícil delimitar com exatidão os
limites de cada uma delas. No, entanto, determinadas
características gerais, resultantes de uma complexa inter-
relação entre os elementos físicos e humanos no que respeita à
morfologia agraria, ao sistema de cultura e ao povoamento
rural, permitem considerar uma diferenciação genérica entre as
mesmas.

 O Norte Litoral
 Morfologia agrária…

 Predomina o minifúndio, com forma irregular e com


significativa fragmentação das explorações agrícolas
(considerável número de blocos agrícolas), devido:

 À amenidade térmica;
 Aos elevados quantitativos pluviométricos, que se traduzem
numa grande disponibilidade de água;
 À relativa fertilidade natural dos solos, maioritariamente de
origem granítica;

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 Ao relevo acidentado e à existência de vales de fratura de
fundo aplanado, que permitem a utilização dos terrenos para a
agricultura;
 A fatores históricos e culturais, que se traduziram em:
- Elevadas densidades populacionais;
- Maiores taxas de natalidade;
- Partilha das terras por herança, apos a abolição da lei do
morgadio (as terras passaram a ser repartidas igualmente por
todos os filhos);
- Parcelamento das terras pelo clero e pela nobreza, associado ao
processo de Reconquista.

 Prevalecem campos fechados, muitas das vezes delimitados


por renques de árvores de fruto, madeira, lenha, vinha ou
pedra.

 Bloco agrícola: parte de uma exploração agrícola inteiramente


rodeada de terras, cursos de água ou outros elementos, não
pertencentes à exploração.

 Sistema de cultura…

 Predomina a policultura, destinada maioritariamente ao


autoconsumo, em regime intensivo e uma agricultura de
regadio.

 É possível individualizar, nesta paisagem agraria, o


denominado "campo-prado”.

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 Campo-prado: tipo de paisagem agrícola em que se verifica
uma alternância entre as culturas alimentares, no verão, e os
pastos para o gado, no inverno.

 Povoamento rural…

 Predomina o povoamento disperso e o povoamento linear.

 O Norte Interior
 Morfologia agrária…

 Predomina o minifúndio, embora marcadamente com maior


dimensão do que no Norte litoral, com forma regular, devido:

 Às elevadas amplitudes térmicas anuais (invernos frios e


verões quentes);
 À estação seca prolongada, que se traduz em reduzidos
quantitativos pluviométricos (menor disponibilidade água);
 À baixa fertilidade natural dos solos, maioritariamente de
origem xistosa;
 Ao relevo maioritariamente constituído por planaltos, que
favorecem a maior extensão das explorações agrícolas;
 A fatores históricos e culturais, que se traduziram em:
- Menores densidades populacionais;
- Menores taxas de natalidade.

 As explorações agrícolas, regra geral, apresentam uma elevada


fragmentação, em virtude de uma organização familiar assente
na divisão das terras por vários herdeiros.

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 Prevalecem os campos abertos, muitas das vezes sem
arborização.

 Sistema de cultura…

 O sistema de cultura é maioritariamente extensivo, recorrendo-


se ao afolhamento bienal com pousio, predominado as culturas
de sequeiro. Na proximidade das povoações, o sistema de
cultura é intensivo, praticando-se uma agricultura para
autoconsumo (ex.: produtos hortícolas), em que se recorre à
rega.

 Povoamento rural…

 Predomínio do povoamento concentrado.

 O Centro
 Morfologia agrária…

 Predominam propriedades de media dimensão e latifúndios, de


forma regular e aberta, principalmente no litoral, devido:

 Aos solos de elevada fertilidade, o que permite a exploração


intensiva de culturas de regadio;
 Ao relevo mais plano (por oposição ao interior, onde o relevo
se apresenta mais montanhoso);
 Ao facto de ser uma região de transição climática (influencia
atlântica no litoral, sendo que no interior é mais notória a
influência continental).

 Sistema de cultura…
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 Predomina a monocultura especializada e o afolhamento com
pousio. O sistema de cultura é maioritariamente intensivo de
regadio (de que é exemplo o cultivo do arroz).

 Povoamento rural…

 Predomínio do povoamento disperso (junto ao litoral) e


concentrado (nas regiões do interior).

 O Alentejo
 Morfologia agraria…

 Pratica-se uma agricultura em regime extensivo, pois, apesar


de o relevo ser pouco acidentado e aplanado, o que à partida
poderia favorecer um sistema de cultura intensivo, esta região
apresenta:
 Baixa fertilidade do solo – rochas predominantemente de
origem xistosa e arenosa;
 Valores elevados de temperatura média anual e presença de
uma estação estival muito prolongada;
 Baixos quantitativos pluviométricos ao longo do ano, sendo a
estação chuvosa pouco vincada.

 Predominam as grandes propriedades – latifúndios -, de forma


regular e campos abertos, que resultam da combinação de
fatores naturais e humanos, como as doações e a extinção de
ordens religiosas e a apropriação das terras por parte do
Estado, vendidas em hasta publica, originando parcelas de
cultivo de grande dimensão.
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 Sistema de cultura…

 O sistema de cultura é, predominantemente, extensivo, com


pousios longos que se prolongam por cinco anos ou mais e em
sistema de sequeiro. As grandes explorações agrícolas são
marcadas pela existência de montados e, mais, recentemente,
por modernas plantações de olival intensivo e de produtos
hortícolas.

 Montado: campo de cultura extensiva, onde os sobreiros e as


azinheiras se encontram dispersos no campo para compensar o
fraco rendimento do solo.

 Povoamento rural…

 Predomínio do povoamento concentrado.

 O Algarve
 Morfologia agrária…

 Prevalecem campos de pequena dimensão – minifúndios –


geralmente fechados (junto das principais povoações),
alternando uma forma regular e irregular, cujas características
são influenciadas por:

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 Clima temperado de influência mediterrânea (verões quentes,
longos e secos e invernos suaves);
 Baixos quantitativos pluviométricos ao longo do ano;
 Relevo aplanado junto ao litoral e mais montanhoso no interior
(com destaque para as serras de Monchique e do Caldeirão);
 Solos relativamente pobres (de natureza calcária e argilosa,
junto ao litoral);
 Elevadas densidades populacionais junto ao litoral.

 Sistema de cultura

 Junto ao litoral prevalece o regime intensivo (hortas), enquanto


que na serra predomina o regime extensivo (cereais de
sequeiro, árvores de frutos secos e pomares de citrinos).

 Nesta região, as características do clima potenciam o


surgimento de estufas com o cultivo de primores.

 Primores: produtos que se obtém antes da época própria,


atingindo, por isso, preços de mercado elevados.

 Povoamento rural…

 Povoamento disperso (áreas mais planas, junto ao litoral) e


concentrado (áreas de maior altitude).

 Os Açores
 Morfologia agrária…

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 Predominam campos de pequena dimensão – minifúndios – de
forma regular (geométrica). Prevalecem campos fechados
(cerrados) por sebes de arbustos ou muros de pedra.

 O relevo condiciona a prática agrícola, quer pela sua


configuração, quer pelas condições climáticas que lhe estão
associadas, dando origem ao escalonamento das culturas, em
função da altitude e das respetivas características.

 Cerrados: terreno com vedação de modo a proteger as culturas


dos ventos fortes. Designação usada no arquipélago dos
Açores.

 Sistema de cultura…

 Nas áreas de menor altitude, é praticada uma agricultura


intensiva em explorações de reduzida dimensão, sobretudo
destina ao autoconsumo.

 Na ilha de São Miguel, destacam-se as produções de chá e de


ananas em sistema de monocultura.

 Povoamento rural…

 Predomínio de povoamento disperso e linear.

 A Madeira
 Morfologia agrária…

 Prevalecem campos de muito pequena dimensão –


microfúndios – fechados e de forma irregular, cuja
configuração é influenciada por:

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 Elevada densidade populacional junto ao litoral, que conduz à
necessidade de um maior aproveitamento das parcelas de
terreno sempre que se verifique o acesso à água (as levadas);
 Contraste bem marcado entre a vertente norte (mais fresca e
húmida) e a vertente sul (quente e seca);
 Relevo mais acidentado e clima mais agreste no interior da ilha
(os valores mais baixos de temperatura média anual registam-
se nos locais de maior altitude), condicionando o
escalonamento das culturas.

 Levadas: pequenos canais de irrigação que visam redirecionar


as águas de uma área para a outra.

 Sistema de cultura…

 Predomina a policultura em regime intensivo.

 Na ilha na Madeira, destaca-se a floricultura e a produção de


banana em sistema de monocultura.

 As culturas variam em função da altitude e recorre-se ao


cultivo em socalcos.

 Povoamento rural…

 Predomínio do povoamento aglomerado (nas povoações).

 Quais as características das explorações


agrícolas?

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 Qual a evolução?

 Em 2019, existiam em Portugal 290 mil explorações agrícolas,


menos 15 mil do que em 2009, acentuando a tendência de
decréscimo verificada nas últimas décadas.

 Exploração agrícola: unidade técnico-económica que utiliza


fatores de produção comuns, como mão de obra, máquinas,
instalações, terrenos, entre outros, e que se deve satisfazer
obrigatoriamente as quatro condições seguintes:

1. Produzir produtos agrícolas ou manter em boas condições


agrícolas e ambientais as terras que já não são utilizadas para
fins produtivos;
2. Atingir ou ultrapassar uma certa dimensão (área, número de
animais);
3. Estar submetida a uma gestão única;
4. Estar bem localizada num local bem determinado e
identificável.

 O decréscimo do número de explorações, entre 2009 e 2019,


ocorreu, sobretudo:
- Nos Açores (- 21,3%);
- No Ribatejo e Oeste (- 13,5%);
- Na Beira Litoral (- 10,5%);
- Em Entre Douro e Minho (- 9,1%).
 Por oposição, em duas regiões agrarias, verificou-se um
aumento do número de explorações:
- Trás-os-Montes (5,5%);
- Algarve (3,3%)
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 Qual a distribuição?

 As explorações agrícolas ocupavam, em 2019, uma superfície


de 5,1 milhões de hectares, o que corresponda a 55,5% do
território nacional.

 A superfície agrícola utilizada (SAU) representava 77,4% da


superfície total das explorações agrícolas, seguida dos matos e
povoamentos florestais sem aproveitamento agrícola (18,9%) e
da superfície agrícola não utilizada (SANU) (1,8%).

 Superfície agrícola utilizada (SAU): superfície constituída


pelas terras aráveis (limpa sob coberto de matas e florestas),
culturas permanentes, pastagens permanentes e hortas
familiares.

 Superfície agrícola não utilizada (SANU): superfície que, por


razões económicas, sociais ou outras, deixou de ter uma
utilização agrícola e de entrar no afolhamento ou rotação
cultural. Esta superfície abandonada mantém o potencial
produtivo e pode retomar a produção com o auxílio dos meios
geralmente disponíveis na exploração.

 Em 2019, a SAU aumentou 8,1% face a 2009, passando a


ocupar 3,9 milhões de hectares, tendo-se verificado um
aumento generalizado em todas as regiões agrárias, com
exceção dos Açores e da Madeira.

 O Alentejo destacava-se claramente das restantes regiões


agrárias, na medida em que detinha mais de metade da SAU
nacional (54,1%).

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 Qual a dimensão média?

 A dimensão média das explorações agrícolas apresentava uma


grande variabilidade regional:
 A Beira Litoral e a Madeira registavam os valores mais
reduzidos (3 hectares e 0,3 hectares de SAU, respetivamente);
 O Alentejo era a região agrária que representava uma maior
dimensão média (mais de 68 hectares de SAU).

 A dimensão média das explorações aumentou na maioria das


regiões agrárias, registando-se, no entanto, decréscimos em
Trás-os-Montes e na Madeira.
 Apesar deste aumento, a dimensão média das explorações
agrícolas nacionais era inferior à média da EU-27 em quase 3
hectares.

 Em 2019, cerca de 1100 explorações com mais de 500 hectares


geriam mais de ¼ da SAU.

 Apesar do aumento da dimensão de média das explorações


entre 2009 e 2019, este não resultou de uma concentração
fundiária em grandes unidades produtivas, ficando
principalmente a dever-se ao efetivo redimensionamento das
explorações de média dimensão.

 Com efeito, a estrutura fundiária em Portugal é ainda muito


marcada pela dispersão, fragmentação (considerável número de
blocos por exploração agrícola) e pequena dimensão da
propriedade (em particular a norte do rio Tejo).

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 Quais os principais modos de exploração da SAU?

 Ao considerarmos os modos de exploração da SAU, devemos


atender às formas de exploração e à natureza jurídica.

Formas de Conta própria

Exploração Arrendamento

Modos de
exploração

Natureza Produtor singular

jurídica Sociedade

 Natureza jurídica ao produtor: a


personalidade jurídica do responsável jurídico e económico da
exploração, que pode assumir várias formas:
- Pessoa singular: quando o produtor agrícola é uma pessoa física,
independentemente de ter registo de atividade económica nas
Finanças;
- Sociedade: quando se trata de uma entidade moral, constituída
segundo os códigos comercial e civil em sociedade por ações
(anonimas), sociedade por quotas de responsabilidade limitada,
sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita, sociedade
unipessoal ou outra.
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 Exploração por conta própria: o produtor é o proprietário, isto
é, recai sobre o produtor a responsabilidade sobre a tomada de
decisão e sobre a obtenção das perdas e lucros, podendo, no
entanto, utilizar mão de obra familiar.

 Exploração por arrendamento: o produtor paga uma renda


anual ao proprietário da exploração e pode usufruir da
totalidade dos resultados da exploração, mas, de acordo com a
natureza do contrato, as perdas e ganhos podem ser repartidos
entre este e o proprietário.

 Em 2019, continuou a assistir-se a um predomínio da


exploração por conta própria, enquanto que a exploração por
arrendamento continuou a perder expressão.

 Produtor agrícola: responsável jurídico e económico da


exploração, isto é, a pessoa física ou jurídica por conta e em
nome da qual a exploração produz, que retira os benefícios e
suporta as eventuais perdas.

 A maioria das explorações agrícolas era gerida por produtores


singulares (94,5%), embora o número de sociedades tivesse
registado um aumento significativo face 2009, cifrando-se em
5,0%.

 Registaram-se, no entanto, disparidades na natureza jurídica do


produtor entre as diferentes regiões agrárias.

 Em todas as regiões agrárias, a grande maioria das explorações


agrícolas era gerida por produtores singulares. As sociedades
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agrícolas concentram-se no Alentejo e no Ribatejo-Oeste
(50,6% do total das sociedades).

 Quais as características da produção


agropecuária?
 A ocupação da SAU

 A SAU nacional é constituída por: Terras aráveis (Culturas


temporárias e pousio); Culturas permanentes; Pastagens
permanentes e Hortas familiares.

 Terras aráveis: terras frequentemente mobilizadas e que se


destinam a culturas temporárias de sementeira anual (ex.:
cereais, leguminosas, batata, hortícolas, etc.), geralmente
associadas a um sistema de rotação cultural.

 Culturas temporárias: culturas cujo ciclo vegetativo não excede


um ano (anuais) e as que, não sendo anuais, são ressemeadas
com intervalos que não excedem os 5 anos (prados
temporários, etc.).

 Culturas permanentes: culturas lenhosas que ocupam terra


durante vários anos e fornecem repetidas colheitas.

 Pastagens permanentes: plantas, em geral herbáceas, semeadas


ou espontâneas, não incluídas numa rotação e que ocupam o
solo por um período superior a 5 anos.

 Horta familiar: superfície de dimensão normalmente inferior a


20 ares, reservada à produção de hortícolas, frutos e/ou flores,
maioritariamente para autoconsumo.
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 Em 2019, as categorias mais representativas da SAU foram as
pastagens permanentes (que ocuparam 51,7%, mais de metade
da SAU), as culturas permanentes (21,7%) e as culturas
temporárias (20,5%).
 Entre 2009 e 2019, assistiu-se a variações na composição da
SAU nacional:
 Diminuíram as superfícies destinadas às terras aráveis (culturas
temporárias e pousio);
 Aumentaram as superfícies destinadas às pastagens
permanentes e às culturas permanentes.

 A composição da SAU por região agrária apresenta contrastes


significativos, devido ao diferente comportamento regional dos
fatores de ordem natural e humana condicionantes da atividade
agrícola, já abordados.

 As culturas temporárias predominaram:


 Na Beira Litoral (42,8%);
 Na Madeira (34,8%);
 No Ribatejo e Oeste (34,5%).

 As culturas permanentes prevalecerem:


 No Algarve (56,4%);
 Na Madeira (50,4%);
 Em Trás-os-Montes (49,4%).

 As pastagens permanentes predominaram:


 Nos Açores (74,6%);

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 No Alentejo (61,1%);
 Na Beira Interior (55,7%).

 As culturas permanentes…
 Em 2019, as culturas permanentes foram a segunda categoria
da SAU mais representativa, ocupando cerca de 22% do total
da mesma.

 Entre 2009 e 2019, registou-se:


 Um forte aumento de produção de frutos de casca de rija (a
superfície em ha quase duplicou), em virtude:
- Da instalação de modernos e intensivos amendoais no
Alentejo e na Beira Interior;
- Do acréscimo da superfície de castanheiros e de nogueiras.
 Um aumento da área de olival;
 Uma ligeira diminuição da superfície de vinha;
 Um acréscimo da área de exploração de frutos subtropicais e
frutos de pequena baga;
 Uma manutenção da importância das culturas mediterrânicas,
como o olival e a vinha, nas explorações agrícolas nacionais.

 A nível regional, verificam-se assimetrias na distribuição das


três principais culturas permanentes (olival, frutos de casca rija
e vinha).

 O olival é a cultura permanente presente em maior número de


explorações agrícolas e a que ocupa maior superfície.

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 Cerca de 99% destinou-se à produção de azeitona para azeite.
O Alentejo foi a principal região olivícola, com 52,4% da área
de olivais. A plantação intensiva e superintensiva, com
densidades médias superiores a 300 árvores por hectare,
ocuparam mais de 1/5 da superfície de olival para azeite.

 Em 2019, a vinha foi a cultura permanente mais disseminada


no território nacional.
 Em 2019, a vinha encontrava-se em mais de metade das
explorações agrícolas nacionais com culturas permanentes
(51,9%). A região agrária de Trás-os-Montes concentrava
quase 1/3 da área vitícola nacional.

 Ao contrário da vinha, a superfície ocupada por produtos de


casca de rija apresentou uma distribuição mais localizada.
 Em 2019, o castanheiro concentrou-se, sobretudo, na região de
Trás-os-Montes (84,6%). A área de amendoal estava
maioritariamente concentrada nas regiões de Trás-os-Montes e
do Alentejo. A área de nogueira predominava nas regiões de
Trás-os-Montes e do Alentejo. A alfarrobeira encontrava-se
quase exclusivamente na região do Algarve.

 As culturas temporárias…

 Apesar da ligeira diminuição do peso das culturas temporárias


no total da SAU nacional, entre 2009 e 2019, estas ocupavam
cerca de 1/5 do total da SAU.

 Entre 2009 e 2019, observou-se:


 Uma redução da superfície de cereais para grão e de batata,
culturas pouco competitivas na maioria das condições

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edafoclimáticas onde eram produzidas, o que justificou o
decréscimo do peso das culturas temporárias no total da SAU;
 Um acréscimo da área de hortícolas, o que traduziu o aumento
da dinâmica do setor, consequência de um maior investimento,
ao nível do aumento da área de estufas;
 Um acréscimo das superfícies de prados temporários e culturas
forrageiras, que passaram a ser categoria mais representativa
das culturas temporárias.

 a nível nacional, as três culturas temporárias com maior


relevância foram:
- Os prados e culturas forrageiras;
- Os cereais para grão;
- As culturas hortícolas.

 Cerais para grão: cereais semeados com a intenção de obter


grão apos maturação completa, independentemente do destino
da cultura.

 Leguminosas secas para grão: leguminosas cultivadas para


colheita do grão após maturação completa, quer se destinem à
alimentação humana ou à alimentação animal.

 Culturas forrageiras: culturas destinadas ao corte para dar ao


gado e que são colhidas ao corte para dar ao gado e que são
colhidas antes de completarem o seu ciclo vegetativo
(maturação), de modo a serem mais bem dirigidas pelos
animais.

 Culturas industriais: culturas que se destinam a transformação


industrial tais como o girassol, tabaco, colza, plantas
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aromáticas e cana-de-açúcar, entre outras. Não inclui o tomate
para a indústria, considerada cultura hortícola.

 A produção pecuária

 Gado avícola: o efetivo de aves contabilizou, em 2019, 54,5


milhões de cabeças, assumindo maior relevância nas regiões
agrárias da Beira Litoral e do Ribatejo e Oeste, foi produzindo,
sobretudo, em regime intensivo. É nestas regiões que se
localiza a maioria das unidades dedicadas à produção avícola
industrial das principais espécies de aves, tanto as
vocacionadas para produção de ovos como de carne.

 Gado ovino: totalizaram-se, em 2019, cerca de 2,2 milhões de


cabeças de gado, sendo que a produção se concentrou,
maioritariamente nas regiões agrárias do Alentejo e da Beira
Interior.

 Gado suíno: em 2019, foi contabilizado um efeito suíno mais


de 2 milhões de cabeças, sendo que a esmagadora maioria era
produzida com recurso à estabulação, ou seja, em regime
intensivo. A produção deste tipo de gado concentrou-se,
sobretudo, na região agrária do Ribatejo e Oeste.

 Gado bovino: em 2019, totalizaram-se cerca de 1,6 milhões de


cabeça de gado bovino. Mais de 60% do gado bovino não
estava estabulado, isto é, era produzido em regime extensivo.
As regiões agrárias do Alentejo e dos Açores são as detentoras
do maior efeito bovino.

 Pecuária extensiva: tipo de criação de gado que ocupa extensas


áreas do ar livre, com utilização de técnicas tradicionais e com
baixa população por hectare.

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 Pecuária intensiva: tipo de criação em que os prados são
permanentemente ocupados, ou em que se verifica o recurso a
técnicas modernas de estabulação, alimentando o gado com
raçoes e obtendo uma elevada produção por hectare.

 Coelhos: o efetivo de coelhos contabilizou, em 2019, 1,1


milhões de animais. A sua exploração esta concentrada nas
regiões agrárias de Entre Douro e Minho, Trás-os-Montes e
Beira Litoral.

 Gado caprino: o efetivo caprino recenseado em 2019 totalizou


cerca de 372 mil cabeças, tendo sido explorado sobretudo na
região agrária do Alentejo.

 A nível regional, observam-se contrastes assinaláveis na


distribuição dos principais tipos de gado.

 Quais as características da população ativa


agrícola?
 A evolução e a composição…

 Em 2019, a população ativa agrícola registou um decréscimo


de 14,4% face a 2009. As únicas regiões agrárias em que se
verificou um aumento da mão de obra entre 2009 e 2019 foram
o Algarve e o Alentejo.

 A mão de obra familiar, constituída pelo produtor agrícola e


pelo seu agregado doméstico, contribui com a maior parte do
trabalho agrícola (68%), embora o recurso a mão de obra não
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familiar, com caráter regular e sazonal, tenha vindo a aumentar
ao longo dos anos, contribuindo, em 2019, com 29% do
trabalho agrícola.

 Unidade de Trabalho Ano (UTA): unidade de medida


equivalente ao trabalho de uma pessoa a tempo completo
realizado num ano medido em horas (1 UTA = 225 dias de
trabalho ou 1800 horas por ano).

 O número de produtores agrícolas singulares, maioritariamente


homens, é muito mais representativo (94,9%) do que o número
de dirigentes de sociedades agrícolas (5,1%).

 O nível etário…

 Entre 2009 e 2019, registou-se um aumento do envelhecimento


do produtor agrícola: mais de metade tinha mais de 64 anos,
embora se registassem diferenças por região agrária.

 As regiões agrárias com população ativa agrícola mais


envelhecida (com idade igual ou superior a 65 anos) foram:
Algarve (63,2); Beira Interior (60,3%).
 As regiões agrárias com população ativa agrícola mais jovem
(com idade inferior a 25 anos) foram: Açores (0,7%); Ribatejo
e Oeste e Alentejo (0,5%).

 O nível de instrução e a formação profissional…

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 Em todas as regiões agrárias, a maior parte dos produtores
agrícolas registou habilidades académicas ao nível do 1. Ciclo
do ensino básico (CEB).

 Muitos poucos foram os produtores agrícolas com habilitações


académicas ao nível do ensino superior. A formação superior
no domínio agrícola foi muito residual, tendo, no entanto,
maior expressividade na região agrícola do Alentejo.

 Nível de instrução: nível ou grau de ensino mais elevado que o


indivíduo concluiu ou para o qual obteve equivalência.

 Qualificação profissional: grau de preparação que um


individuo demonstra para a execução da sua profissão.

 Não obstante aos notáveis avanços no domínio da formação


profissional agrícola nos últimos anos, a maioria dos
produtores ainda possuía formação agrícola exclusivamente
prática (53%). Menos de 2% dos produtores nacionais tinha
formação profissional completa no domínio agrícola.

 A formação agrícola exclusivamente pratica predominou nas


seguintes regiões agrárias: Algarve (70,4%); Beira Interior
(62%); Alentejo (61,4%). A formação profissional em
atividades agrícolas prevalece nas seguintes regiões agrárias:
Beira Litoral (55,8%); Ribatejo e Oeste (53,7%); Entre Douro
e Minho (51,2%).

 A pluriatividade e o plurirrendimento…

 A grande maioria dos produtores agrícolas (86,9%) dedicou-se


a tempo parcial à exploração agrícola, desenvolvendo,
simultaneamente, outras atividades – pluriatividade -, sendo
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que uma parte considerável (32,6%) não estava relacionada
com a exploração.

 Pluriatividade: pratica, em simultâneo, do trabalho na


agricultura e em outras atividades.

 Em 2019, apenas 5,2% dos produtores agrícolas vivam


exclusivamente dos rendimentos provenientes da sua atividade
na exploração agrícola. A proveniência dos rendimentos da
grande maioria dos produtores foi principalmente de origem
exterior à exploração (84,6%) – plurirrendimento, situação que
predominou nas regiões agrárias da Beira Litoral, da Beira
Interior e do Algarve.

 Plurirrendimento: acumulação de rendimentos oriundos da


atividade agrícola e de outras atividades.

 Em 2019, o rendimento de origem exterior à atividade da


exploração provinha, essencialmente, das pensões
rurais/reformas (59,5%) e dos salários do setor terciário
(25,7%).

 A pluriatividade e o plurirrendimento acabam por ser


fundamentais para a manutenção do espaço rural, uma vez que,
associados aos laços afetivos que ligam a população agrícola à
terra, vão atenuando o abandono da atividade agrícola e o
êxodo rural e contribuindo para a continuidade das práticas
agrícolas.

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 Quais as implicações da PAC na agricultura
nacional?
 O surgimento da PAC…

 Durante a 2ª Guerra Mundial e anos subsequentes, a Europa foi


marcada por graves penúrias alimentares, sendo que os países
que formavam a então designada Comunidade Económica
Europeia (CEE) dependiam do estrangeiro no seu
aprovisionamento de produtos alimentares.

 Neste contexto, a agricultura foi eleita como a primeira


prioridade na construção do mercado comum e a Política
Agrícola Comum (PAC) surgiu como a primeira grande
política comunitária.

 Os objetivos iniciais da PAC foram definidos no Tratado de


Roma e centravam-se, sobretudo, em:
 Incrementar a produtividade da agricultura;
 Assegurar um nível de vida equitativo à população agrícola;
 Estabilizar os mercados dos produtos agrícolas;
 Garantir a segurança dos abastecimentos;
 Assegurar preços razoáveis nos fornecimentos aos
consumidores.

 Encorajamento do aumento da produtividade agrícola através


da: Garantia de preços, concessão de ajudas ao investimento e
modernização agrícolas e da atribuição de subsídios
(Quantitativo produzido por agricultor/” Quem mais produz,
mais ganha”

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 A concretização dos objetivos da PAC consubstanciou na
definição de três princípios, estabelecidos na Conferência de
Stresa sobre agricultura, em 1958:

 Princípios da PAC

 Unidade de mercado: criação, para cada produto agroalimentar,


de uma organização comum de mercado (OCM), que
sustentava a livre circulação dos produtos no território dos
Estados-membros.

 Preferência comunitária: proteção dos mercados europeus face


a produtos importados de países terceiros a preços mais baixos
(aplicação de barreiras alfandegárias aos produtos
estrangeiros).

 Solidariedade financeira: todas as despesas e gastos resultantes


da aplicação da PAC eram suportados pelo orçamento;
responsabilizava todos os Estados-membros pelo
financiamento da PAC.

 Em 1962, foi criado o instrumento financeiro da PAC, o


FEOGA (Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola).
Em 1964, o FEOGA foi dividido nas secções “Orientação” e
“Garantia”.

 Orientação: Contribuía para as reformas estruturais na


agricultura (construção de infraestruturas agrícolas,
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redimensionamento das explorações, etc.) e para a o
desenvolvimento das áreas rurais.

 Garantia: Financiava as despesas de regulação dos preços e dos


mercados (através de medidas como o apoio direto aos
agricultores, as despesas de armazenamento dos produtos
agrícolas, as restituições às exportações, etc.).

 Os problemas iniciais…

 Em poucos, após a 2.ª Guerra Mundial, os objetivos e a


aplicação dos princípios de base da PAC asseguravam à
Europa a sua autossuficiência alimentar.

 Contudo, a PAC inicial conduziu a um conjunto de problemas:


 Criação de excelentes agrícolas (graus de
autoaprovisionamento superiores a 100%) em quantidades
impossíveis de escoar nos mercados, gerando custos muitos
elevados de armazenamento, sobretudo no caso do leite e
derivados, de carne de bovino, do açúcar e dos cereais;

 Desajustamento entre a produção e as necessidades do mercado


(a oferta tornou-se maior do que a procura);
 Graves problemas sociais, como o desemprego;
 Peso muito elevado da PAC no orçamento comunitário,
comprometendo o desenvolvimento de outras políticas;
 Tensão entre os principais exportadores mundiais,
nomeadamente com os EUA, devido às medidas protecionistas
e à política de incentivos à exportação;
 Graves problemas ambientais, motivados pela prática de uma
agricultura intensiva, com utilização em massa de produtos
químicos, favorecida por um sistema que faz depender o

27
rendimento dos agricultores das quantidades produzidas –
logica de “quem mais produz, mais ganha”.

 A reforma de 1992…

 Face aos problemas anteriormente referidos, tornou-se


imperativo reformar a PAC, a fim de reorientar a agricultura
europeia para uma produção tendo em vista o mercado. A
primeira reforma da PAC foi decidida a 21 de maio de 1992.

 Objetivos principais:
 Redução dos preços;
 Diminuição de custos;
 Decréscimo dos excedentes;
 Redução das assimetrias entre os Estados-membros;
 Manutenção da população agrícola;
 Respeito e a valorização do meio ambiente.

 A reforma da PAC baseou-se na diminuição do apoio à


produção e privilegiou a atribuição de um subsídio direto aos
agricultores para compensar a descida dos preços. Se a PAC de
1962 se regia pela lógica de “quem mais produz, mais ganha”,
a PAC de 1992 baseava-se na lógica de “pagar para não
produzir”.

 Esta reforma teve alguns resultados positivos, mantendo-se, no


entanto, alguns problemas estruturais, como:

 A ineficiência na aplicação dos apoios;


 A intensificação dos problemas ambientais;
 O aumento das diferenças de rendimento entre agricultores.

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 A reforma de 1999…

 Em 1999, na perspetiva do alargamento da EU, e o âmbito da


“Agenda 2000”, adotou-se uma nova reforma, que reforçou as
alterações introduzidas em 1992 e teve como principais
objetivos:

 Melhorar a competitividade da agricultura comunitária nos


mercados interno e externo;
 Definir uma nova política de desenvolvimento rural (2.º pilar
da PAC);
 Garantir a segurança e a qualidade os géneros alimentícios
(política de qualidade ligada a origens geográficas ou a
métodos de produção específicos);
 Compatibilizar os métodos de produção com as exigências
ecológicas;
 Contribuir para o bem-estar dos animais e para a
fotossanidade;
 Garantir um nível de vida equitativo para a produção agrícola;
 Viabilizar a criação de fontes de rendimento e oportunidades
de emprego complementares ou alternativas;
 Contribuir para a estabilidade dos rendimentos agrícolas;
 Atribuir aos agricultores destaque na gestão dos recursos
naturais e da salvaguarda da paisagem;
 Valorizar o papel multifuncional da agricultura, para além da
função de produção.

 A reforma de 2003…

 Com o surgimento da Organização Mundial do Comércio


(OMC), em 1995, passou-se a incluir a agricultura no domínio
das regras do comercio internacional. Por isso, a agricultura da
29
EU não pôde continuar à margem das regras do mesmo. Este
facto, já presente no espírito das reformas anteriores,
contribuiu decisivamente para a reforma de 2003.

 Assim, a reforma de 2003 visou contribuir para a defesa da


PAC nas negociações internacionais no quadro da OMC.

 No entanto, nesta reforma, a grande alteração, face às


anteriores, passou pela substituição das ajudas ligadas ao
rendimento por um pagamento único às explorações, desligado
da produção, e condicionado ao respeito de normas ambientais,
de segurança alimentar, de sanidade animal, de fitossanidade, e
de bem-estar animal.

 Assim, a reforma de 2003 introduziu, a nível agroambiental:

 Modulação: consistiu na redução dos pagamentos diretos às


explorações de maior dimensão, visando permitir o
financiamento das novas medidas de desenvolvimento rural.

 Pagamento único: independentemente da produção, os


agricultores passaram a receber um pagamento único por
exploração (esta reforma dissociou as subvenções da
produção), sendo-lhes concedida a liberdade de adaptarem a
produção às necessidades do mercado.

 Condicionalidade: o pagamento único por exploração estava


condicionado ao respeito de normas ambientais, de segurança
alimentar, de sanidade animal, de fitossanidade, e de bem-estar
animal.

 Para além das medidas agroambientais, esta reforma reforçou a


política de desenvolvimento rural (2.º pilar da PAC), que
visava, entre outros aspetos:

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 A garantia de rendimentos estáveis e equitativos para os
agricultores;
 A maior preocupação com os desafios ambientais;
 O desenvolvimento de atividades complementares e/ou
alternativas para atenuar o êxodo rural;
 A valorização da população ativa agrícola; através do apoio à
fixação dos jovens agricultores, de reformas antecipadas e de
formação;
 A promoção da igualdade de oportunidades.

 A reforma de 2014-2020…

 Esta reforma visou a adoção e/ou reforço de medidas de âmbito


da segurança alimentar, do ambiente e alterações climáticas e
do equilíbrio territorial.

 Segurança alimentar: Contribuir para rendimentos agrícolas e


limitar a sua variabilidade; Melhorar a competitividade só setor
agrícola e aumentar a sua quota de valor na cadeia alimentar;
Compensar as dificuldades de produção em áreas com
condicionantes naturais especificas.
 Ambiente e alterações climáticas: Garantir práticas de
produção sustentáveis; Promover o crescimento verde através
da inovação; Prosseguir as ações de mitigação das alterações
climáticas.

 Equilíbrio territorial: Apoiar o emprego rural e preservar o


tecido social das áreas rurais; Melhorar a economia rural e a
sua diversificação; Permitir a diversidade estrutural dos
sistemas de produção agrícola, melhorar as condições de vida
para as pequenas explorações e desenvolver os mercados
locais.

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 A reforma de 2021-2027…

 Com esta nova reforma, a PAC assentará em três objetivos


gerais e em nove objetivos específicos fundamentais, centrados
em metas sociais, ambientais e económicas, e que refletem a
multifuncionalidade económica, ambiental e socio-territorial:

 Objetivos gerais

 Objetivo geral 1: garantir o abastecimento alimentar.

 Objetivo geral 2: contribuir para objetivos ambientais


climáticos.
 Objetivo geral 3: promover o desenvolvimento
socioeconómico dos territórios

 A nova PAC continua a assentar em dois pilares.

 1.º Pilar
 Pagamentos diretos aos agricultores: a reforma de 2003 e as
reformas subsequentes dissociaram grande parte das ajudas
diretas à produção;
 Organização comum de mercado única: as sucessivas reformas
levaram, em 2007, à fusão das 21 OCM especificas numa única
OCM que abrange todos os produtos agrícolas.

 2.º Pilar
 Desenvolvimento rural: a política de desenvolvimento rural da
UE visa apoiar as áreas rurais e enfrentar diversos desafios
económicos, ambientais e sociais do século XXI.

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 A PAC é financiada através de dois fundos, no quadro do
orçamento da UE:
 O Fundo Europeu Agrícola de Garantia (FEAGA), que presta
apoio direto aos agricultores e financia medidas de mercado;
 O Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural
(FEADER), que financia o desenvolvimento rural.

 Portugal e a PAC…

 Desde a adesão à Comunidade Económica Europeia (CEE), em


1986, o setor agrário nacional tem vindo a ser condicionado
pela Política Agrícola Comum, daí resultando
constrangimentos, mas também potencialidades.

 Aquando da adesão à CEE, foi concedido a Portugal um


período de transição para adaptação progressiva à PAC,
materializado através do Programa Específico de
Desenvolvimento da Agricultura Portuguesa (PEDAP), que
permitiu a canalização de maiores investimentos para, por
exemplo:
 o desenvolvimento da formação profissional e da investigação;
 a melhoria das estruturas de produção;
 o melhoramento fundiário (feito, por exemplo, através do
emparcelamento).
 Ao longo dos anos, a implementação das reformas da PAC
trouxe, para Portugal:

 Acesso a importantes transferências financeiras com vantagens


negociais;

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 Decréscimo do grau de autoaprovisionamento, que passou de
80% à época da adesão para cerca de 70% no início do século
XXI;
 Redução de mais de 60% da mão de obra total das exportações;
 Aumento do rendimento per capita da população ativa
agrícola, devido à grande redução de mão de obra;
 Melhoria notável da qualidade dos produtos agroalimentares;
alguns dos quais com qualidade ligada a origens geográficas ou
a métodos de produção específicos;
 Decréscimo da produção vegetal (essencialmente da redução
da produção de cereais – aplicação do set-aside) e aumento da
produção animal e da área de pastagens;
 Redução do peso da agricultura no emprego e na economia. O
peso da mão de obra agrícola na mão de obra total passou de
20%, à época da adesão, para cerca de 7%, em 2020. A
contribuição do VAB agrícola para o PIB passou de 9% para
menos de 2%, em 2020.
 Redução de mais de 50% do número de explorações agrícolas,
que se deveu sobretudo ao decréscimo acentuado das
explorações de menor dimensão (reestruturação forçada das
explorações agrícolas);
 Aumento da dimensão media das explorações, de 6,3 ha,
aquando da adesão, para 13,7 ha, em 2019;
 Apoios concedidos para o aumento das áreas de regadio.

 Em Portugal, a área agrícola total em modo de produção


biológico, tipo de agricultura incentivado pela PAC, tem vindo
a aumentar desde 1994.

 Em 2020, cifrava-se em 319 540 hectares. Tal correspondia a


cerca de 8,1% do total da SAU, sendo estes valores
aproximados aos da média da UE-27 (8,4%, em 2019).
 A prática da agricultura biológica promove:

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 A descarbonização e promoção da economia circular, já que
promove a regeneração do ciclo de nutrientes, a gestão
eficiente da água e a reabilitação dos solos, em detrimento do
uso de fertilizantes e pesticidas de base mineral;
 Uma cultura de produção, consumo e coloração locais,
contribuindo, assim, para a minimização de impactes
ambientais.

 A Estratégia Nacional para a Agricultura Biológica (ENAB) e


o Plano de Ação para a produção e promoção de produtos
agrícolas e géneros alimentícios biológicos, definem dez metas
a atingir até 2027, entre as quais:

 Aumentar a área de agricultura biológica, para cerca de 12%


do total da SAU;
 Triplicar as áreas de hortofrutícolas, leguminosas,
proteaginosas, frutos secos, cereais e outras culturas vegetais
destinadas a consumo direto ou transformação;
 Incrementar em 50% o consumo de produtos biológicos;
 Triplicar a disponibilidade de produtos biológicos nacionais no
mercado.

 Quais as oportunidades de desenvolvimento para


as áreas rurais?

 O espaço rural deve ser considerado numa perspetiva


multifuncional, como um espaço atrativo e sustentável,
permitindo a diversificação da sua economia, com o objetivo
de favorecer:
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 O aumento da competitividade da agricultura e da silvicultura;
 A gestão sustentável dos recursos naturais;
 O desenvolvimento territorial equilibrado e a fixação da
população;
 A valorização e conservação do património cultural e
paisagístico;
 A criação de riqueza, através de novas oportunidades de
negócio e criação e manutenção de emprego.

 A política de desenvolvimento rural é, tal como abordado


anteriormente, uma componente cada vez mais importante da
PAC, que procura criar soluções para as preocupações
económicas, sociais e ambientais, por forma a promover o
desenvolvimento sustentável das áreas rurais.

 A contribuição da PAC para os objetivos de desenvolvimento


rural da UE é apoiada pelo Fundo Europeu Agrícola de
Desenvolvimento Rural (FEADER).

 Este fundo constitui o principal instrumento de financiamento


para i implementação do segundo pilar da PAC e, para o
período de programação 2021-2027, estará orientado para três
objetivos principais:

 Fomentar a competitividade do setor agrícola;


 Garantir a gestão sustentável dos recursos naturais e ações no
domínio do clima;
 Alcançar um desenvolvimento territorial equilibrado das
economias e comunidades rurais, incluindo a criação e a
manutenção do emprego.

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 Os países da UE aplicam o financiamento do FEADER através
de Programas de Desenvolvimento Rural (PDR). Cerca de 5%
do financiamento dos PDR deve ter como objetivo a
implementação de ações baseadas no método
LEADER/desenvolvimento local de base comunitária.

 Em Portugal, o Programa de Desenvolvimento Rural 2014-


2022 inclui um conjunto de intervenções cofinanciadas pelo
FEADER, que visam a promoção da competitividade do setor
agroflorestal e dos territórios rurais de forma sustentável.

 A valorização do meio rural passa, então, pelo reconhecimento,


valorização e aposta na sua multifuncionalidade, através da
promoção de atividades ligadas:
 Ao turismo em espaço rural;
 À indústria;
 Aos serviços;
 À produção de energia;
 À silvicultura.

 O turismo em Espaço Rural…

 O Turismo em Espaço Rural (TER) é uma atividade económica


capaz de gerar desenvolvimento económico para as áreas
rurais, quer por si só, quer através da dinamização de muitas
outras atividades económicas, que, direta ou indiretamente,
com ele interagem.

 O turismo é um motor de desenvolvimento do espaço rural, na


medida em que, através dos seus efeitos multiplicadores,
favorece:

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 A sustentação do rendimento dos agricultores;
 A diversificação de atividades relacionadas com a exploração
agrícola;
 A pluriatividade;
 O desenvolvimento de novos serviços (animação, transportes,
comunicação);
 A conservação e a melhoria da natureza e do ambiente
paisagístico;
 A maior desconcentração do turismo por todo o território e,
consequentemente, uma aposta mais uniforme nas
infraestruturas e recursos de apoio;
 A recuperação do património histórico e o apoio à arte e ao
artesanato rural.

 Quais as modalidades do TER?

 Os empreendimentos de turismo no espaço rural podem ser


classificados nos seguintes grupos:

 Casas de campo: Tipo de turismo em que os imóveis se situam


em aldeias e espaços rurais que prestem serviços de alojamento
a turistas e se integrem, pela sua traça, materiais de construção
e demais características, na arquitetura típica local.

 Turismo de aldeia: Tipo de turismo em que cinco ou mais


casas de campo situadas na mesma aldeia ou freguesia, ou em
aldeias ou freguesias contiguas, são exploradas de uma forma
integrada por uma única entidade.

 Agroturismo: Tipo de turismo em que os imoveis se situam em


explorações agrícolas que prestam serviços de alojamento a
turistas e permitem aos hospedes o acompanhamento e

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conhecimento da atividade agrícola, ou a participação nos
trabalhos aí desenvolvidos.

 Hotéis rurais: Hotéis situados em espaços rurais, que, pela sua


traça arquitetónica e materiais de construção, respeitam as
características dominantes na região onde estão implantados,
podendo instalar-se em edifícios novos que ocupem a
totalidade de um edifício ou integrem uma entidade
arquitetónica única e respeitem as mesmas características.

 Consideram-se ainda no âmbito do TER, os parques de


campismo rurais e as atividades de animação ou diversão.

 A indústria…

 A indústria assume um papel fundamental no desenvolvimento


das áreas rurais. Esta importância é ainda maior quando as
indústrias estão associadas aos recursos endógenos, aos
produtos tradicionais e a atividades como a agricultura, a
pecuária, a exploração florestal, entre outras.

 Nas áreas rurais, são frequentes as indústrias associadas à:


 Produção agropecuária: conserva de fruta e vegetais,
transformação de tomate, carne, lacticínios, etc.
 Exploração florestal: carpintarias, corticeiras, etc.
 Extração e transformação: rochas e minerais.

 Por forma a contribuir para o desenvolvimento das áreas rurais,


a atividade industrial deverá basear-se na/no:
 Utilização de mão de obra intensiva: Para absorver a população
ativa local; Para que haja um equilíbrio entre os vários setores

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de atividade, evitando, por exemplo, o abandono da agricultura
e da pecuária.
 Aproveitamento dos recursos endógenos: Para contribuir para
o desenvolvimento sustentável, através de uma utilização
reacional desses recursos.
 Diminuição da poluição: Para valorizar a preservação e a
qualidade ambiental.

 O desenvolvimento das empresas agrícolas e não agrícolas


permite:
 A promoção do emprego e a criação de postos de trabalho de
qualidade nas áreas rurais;
 A manutenção dos postos de trabalho existentes;
 A redução dos períodos de flutuação sazonal e do emprego;
 O desenvolvimento de setores não agrícolas e a transformação
dos produtos agrícolas e alimentares.

 Nesse sentido, deverá apostar-se, quer na manutenção e


desenvolvimento de pequenas indústrias, quer nas de grande
dimensão e maior competitividade – agroindústrias, tirando
partido de valência associadas ao meio rural, como mão de
obra relativamente barata, medidas de incentivo promovidas
pelo poder local, proximidade de mercados regionais de
relativa importância e boas acessibilidades.

 Os serviços…

 Também os serviços têm um papel muito importante no


desenvolvimento das áreas rurais, quer direta, quer
indiretamente, através da prestação de:
 Serviços básicos, ligados à educação, saúde e administração;

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 Serviços pessoais, como a restauração e comercio;
 Serviços às empresas, como os de transporte, os bancos, as
companhias se seguros e os centros de formação.

 A diversificação dos serviços nas áreas rurais permite a sua


utilização pela população e cria postos de trabalho, que fixam a
população local e contribuem para a melhoria do nível de vida
dos habitantes.

 A produção de energias renováveis…

 A produção de energia a partir de fontes de energia renováveis


é cada vez mais importante para o desenvolvimento sustentável
das áreas rurais, na medida em que permite:

 Criar postos de trabalho diretos (exploração e manutenção de


equipamentos, por exemplo) e indiretos;
 Potenciar uma nova fonte de rendimento para os agricultores
ou os silvicultores, mas também para os proprietários de terras
ou para as autarquias locais;
 Que as comunidades rurais se tornem menos dependentes das
flutuações de preços dos combustíveis convencionais.

 A silvicultura…

 A silvicultura é um setor fundamental para as áreas rurais,


devido à sua multifuncionalidade, contribuindo para:

 Promover o emprego e gerar riqueza, através da produção de


matérias-primas e frutos;
 Proporcionar espaços de lazer;

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 Preservar os solos e a biodiversidade, conservar as águas e
regularizar o ciclo hidrológico e contribuir para o
armazenamento do carbono.

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