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HISTÓRIA DA ARQUITETURA : ARQUITETURA ROMANA

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PELA PRIMEIRA VEZ EM GRANDE ESTILO O ASPECTO UTILITARIO DA ARTE DE
CONSTRUIR – A INVENÇÃO DA PRIMEIRA METADE DO MODERNO CONCRETO
ARMADO – AS PEÇAS DE MADEIRA DO TELHADO FUNCIONANDO MECANICAMENTE
– OS PRIMEIROS VAGIDOS DA ESTRUTURA METALICA.

Depois de várias incursões de que foi teatro a Península Itálica, um ramo dos chamados
italiotas fixou-se nos montes Albanos, na região do Lácio. Graças ao nome desta última região, este
povo passou a história com o nome de latino.
Quinhentos anos depois, os Etruscos entraram na Itália, ameaçando as fronteiras dos latinos
que se viram na contingência de se defender instalando-se na colina do Palatino – ponto estratégico
de primeira água. Em seguida, as colinas mais próximas (Viminal, Esquilino, Célio e Aventino)
encheram-se de novas aldeias.
As encostas do Quirinal, foram por seu turno povoadas por um grupo humano de origem
sabina, e que por sinal se manteve durante muito tempo, estranho aos seus vizinhos.
Todas estas aldeias se uniram mais tarde formando a “cidade das sete colinas” ou Roma.
Desta união nasceria um povo de índole emocional e sangue de conquistador, para o qual,
por volta do ano 117 a.C., não haveria em toda a faixa perimetral do Mediterrâneo – o mare
nostrum – um só palmo de costa ou de praia que não lhe pertencesse.
Dotado de grande patriotismo, de invulgar espírito organizador, de excepcional senso prático
ao que aliava um infalível instinto militar – haja vista que todos os sítios que elegeram para suas
fortalezas são ainda hoje considerados estratégicos – todos os componentes do destino histórico
convergiram e conspiraram para fazer dele um império jamais igualado.
No que concerne à religião, enquanto os gregos viam nos deuses as manifestações mais
poéticas e belas, possuindo delas uma conceituação quase abstrata, o romano os via poderosos
terríveis em suas possíveis vinganças.
Ora, para um povo com o espírito do romano, impunham-se logo relações assentadas em
trocas de favores: de um lado os romanos lhes ofereciam presentes e sacrifícios, enquanto que da
outra banda, os deuses lhes proporcionariam vantagens e favores de toda espécie.
Um legítimo contrato social.
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Ainda neste campo, foram muito influenciados pelos gregos e pelos etruscos, herdando
destes últimos a “interpretação da vontade dos deuses” e a “percepção do futuro” que eram
realizadas pelos “augures”.
A arquitetura romana vem inaugurar na história o predomínio do aspecto utilitário da arte de
construir.
Se a Grécia vazava as suas criações artísticas na direção da esfera espiritual, com seus
templos e teatros, Roma se esforça agora por resumi-las e enfeixá-las num âmbito substancialmente
material, ou seja, no rumo das termas, dos anfiteatros, circos e outras construções peculiares aos
domínios do urbanismo, como sejam as estradas, os aquedutos, as pontes, e as redes de esgotos,
onde se mostraram impecáveis e de um arrojo a toda prova.
Para tais desígnios eram necessários braços e estes o Império os ia conquistando em suas
campanhas militares.
Uma outra qualidade dos romanos era a de aproveitar dos outros tudo aquilo que lhes
parecia bom.
E foi assim que se lançaram às construções das abóbadas etruscas e ao uso da alvenaria de
pedra seca aparelhada – sem nenhum rejuntamento de argamassa.
Construíram arcadas e abóbadas de berço, com “chave”, assim também como abóbadas de
aresta, ou seja, aquelas que se originam da interseção de duas abóbadas de berço nascendo em
mesmo nível.
Construindo em todas as terras que iam conquistando, levavam sempre consigo a
preocupação do transitório – e consequentemente da economia que se deve colocar em obras deste
tipo – fato que lhes acenou com uma grande ideia: a construção por concreção.
Com a finalidade de erigir muros de grande espessura, pensaram – e com acerto – que seria
um desperdício de tempo, mão de obra e de material, fazê-los inteiramente de pedra aparelhada.
Veio-lhes então a ideia de levantar dois muros delgados e preencher o vazio entre eles com
argamassa de pedra saibro ou areia e um cimento vulcânico conhecido como pozzolana. Desta
maneira, iram elevando os seus muros e ao mesmo tempo enchendo o vazio central.
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Em última análise, construíam em concreto simples (sem ferros) e com taipal (tábuas de
escoramento) de tijolos ou blocos de granito, que não retiravam como nós fazemos hoje com as
tábuas que se chamam moldes.
Este processo, eles o aplicaram aos arcos às abóbadas e até mesmo às cúpulas, mas não sem
os dotarem primeiro, de contrafortes ou maciços de pedra – que substituíam os tirantes – pois que o
concreto possui uma alta resistência à compressão, não sucedendo o mesmo quando é submetido ao
esforço de tração ou distensão.
E vai agora aqui a segunda grande invenção romana: as estruturas racionais dos
madeiramentos de telhado.
Como já escrevemos, as peças do
telhado grego não eram submetidas a esforços
outros que não fosse a compressão. São os
romanos que inauguram a moderna “tesoura”
dos telhados – triângulo indeformável – onde
linha é tracionada e o pendural (tal como já
indica o seu nome) trabalha dependurado ou
flutuando – se assim nos podemos expressar –
ou apoiado na linha retesada como a corda de
um arco.
Este achado nos domínios da
estabilidade das construções de excelentes
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pontes onde a de Trajano é um eloquente exemplo da aplicação desta “descoberta”.


A fim de evitar incêndios provocados pela queima do madeirame dos telhados, não
hesitaram em substitui-lo, quando assim achavam necessário, por estruturas metálicas, como em
edifícios da basílica Ulpiana e no pórtico do Panteon, onde o metal escolhido foi o bronze.
Segundo parece comprovado, na cobertura das termas de Caracala chegaram mesmo os
romanos a utilizar o ferro perfilado em “T”.
O utilitarismo romano por vezes os atraiçoou como no caso do sistema construtivo de
construção: os blocos compactos de concreto não são indicados para qualquer trabalho de decoração
nos moldes daqueles tempos, a não ser a simples “aplicação”, e como consequência adveio a
imposição das placas de mármore ou de granito serem sobrepostas ao conjunto monolítico, com
suas decorações, baixos relevos etc.
Ora, um tal procedimento habituou-os – e em má hora – a tratar em separado decoração,
(plástica) e estrutura, como se elas pudessem coexistir independentemente uma da outra. O
resultado foi a decoração ir pouco a pouco sendo considerada uma fantasia e um enfeite autônomo
do conjunto, o que propiciou e acelerou mesmo a decadência.

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AS ORDENS ROMANAS – ARCADAS E COLUNAS – ORDENS QUE SE
SUPERPÕEM
A história das ordens romanas está intimamente vinculada à Grécia.
No que diz respeito à ordem dórica na Grécia, em Roma ela se apresenta como a variedade
toscana, que é no final das contas um dórico esguio, com base e sem friso.
Como exemplo do jônico arcaico dos romanos, pode ser nomeada a porta de Perusa. Ali o
capitel é grego simplificado, enquanto que a base se assemelha a jônica de Figalia. É uma espécie
de jônico grego, onde se estereotipa a firmeza etrusca.
Mas dentre todas as ordens, os romanos tiveram uma predileção e um carinho todo especial
pela ordem coríntia, que chegaram mesmo a transformar num autêntico paradigma, num genuíno
modelo de majestade e de imponência.
A coluna coríntia desfila então ante os olhos do observador, patenteando na esteira do
tempo, uma série de alterações de baixo a cima, da base ao capitel. A base normal é a grega do
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período macedônio, com seus dois toros divorciados pelo perfil de uma elegante curva que se
chama Escócia.
No que tange à estática, é pacifico que um cilindro se apoia mal sobre uma base quadrada, o
que exige dos romanos o reforço de suas colunas com os “motivos de ângulo”, disfarçados vez por
outra por esculturas de animais como lagartos etc.
O fuste habitualmente é listrado de ponta a ponta com caneluras de seção semicircular. A
ênfase se exagera à proporção que a decadência se instala, - o que em verdade os gregos sempre
evitaram – ou em outras palavras: o fuste engrossa até um terço de sua altura para diminuir daí para
cima em vez de afinar constante e progressivamente da base para o capitel.

Mas é também o capitel coríntio um dos pontos mais visados pelo desvelo, que traduz a
pesquisa plástica romana. É nele que se processam as mais sensíveis variações temáticas da
proporção geral, os mais diversificados modos de escalonamento das fileiras de folhas, assim como
sua disposição e natureza, ora exibindo-se em acanto enrolado ou de contornos suaves, ora de oliva,
ou então uma grande rosa central arcaica, que terminará por degenerar – já na época imperial – em
florão caprichosamente esculpido na parte mediana do ábaco.
Não satisfeitos, infletem agora na direção da fantasia com o capitel composto da chamada
ordem compósita – de grande riqueza ornamental – onde realiza o conúbio de uma série de
elementos do jônico e do coríntio.
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ARCAS E COLUNAS: ORDENS SUPERPOSTAS


Outra novidade romana foi o emprego das arcadas, onde se casam a coluna grega e o arco
etrusco.
Os pés dos arcos não se apoiam na coluna, mas em pilastras menores que fazem às vezes de
escoras para aquele elemento de sustentação, que por seu turno, se ergue acima da chave do arco,
para receber por sua vez a arquitrave, o friso e a cornija. É de notar que a coluna nesta situação –
em razão da espessura da parede da arcada – passa a ser uma pilastra, ou melhor, permanece com a
sua metade embutida.

Animados pelo sucesso da concreção e da grossura dos muros, nada mais natural do que
surgir a ideia da superposição de pavimentos, solução quase que compulsória para um tal sistema
estrutural.
E assim o fizeram, superpondo dois e três pavimentos – que separavam horizontalmente por
um estilobata – colocando no pavimento térreo a ordem toscana – a mais robusta – no centro a
jônica e no mais elevado a coríntia – a mais delicada, no que revelaram, quanto mais não seja, uma
boa dose de bom senso.
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OS EDIFÍCIOS ROMANOS – MONUMENTOS, PONTES E AQUEDUTOS –
ESTRADAS E ESGOTOS

O templo
O templo romano difere do grego pela profundidade do pórtico, embasamento com degraus
e também pela frequência de plantas ostentando a forma circular.
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A basílica
Era uma construção destinada a reuniões – misto de tribunal e de mercado – e constituída
em sua estrutura por três naves: uma central e duas laterais – tal como as igrejas católicas de hoje.
Por vezes, as duas naves laterais são divididas ao meio, como na basílica Ulpíana. No fundo da nave
central, havia uma área semicircular onde se postavam os magistrados.
Esta construção, como mais adiante havemos de ver, transformar-se-ia futuramente em
tempo cristão.
As termas.
Eram casas de banho dotada de verdadeiros requintes de conforto.
Compunham-se de dois edifícios, sendo que o primeiro – que precedia o balneário
propriamente dito – estava integrado por compartimentos para banho individuais, reservatórios de
água, academias, salas de conferência, palestras e ginásios.
No segundo prédio – balneário – havia um peristilo descoberto, vestiários, sala de perfumes,
salas de massagens e de conversação. No espaço descoberto estava uma piscina cercada de
pequenos compartimentos para repouso dos nadadores, enquanto numa área coberta e central se
encontravam quatro piscinas de água morna, ricamente decoradas e construídas de preciosos
mármores.
Além destes compartimentos, existiam salas para espectadores, cômodos para preparação e
outros para a imersão em banhos quentes, mornos e frios, além de faustosas bibliotecas, salas para
exercícios físicos e outras para educação das crianças.
Anfiteatros
Estes locais – onde se realizavam os combates entre gladiadores e contra feras – possuíam
uma pista elítica cercada de degraus, como os nossos estádios de hoje.
É importante observar a disposição das entradas e das saídas que permitiam um excelente
escoamento a par de uma perfeita circulação do povo, assim também como uma ótima visibilidade
dos espetáculos, graças aos perfis racionais dos degraus das arquibancadas.
Como exemplo pode-se nomear o Coliseu de Roma, que podia abrigar 60.000 espectadores.

Circos
Era aí que disputavam as corridas de carros. Eram providos de uma pista retilínea dividida
ao centro. As arquibancadas eram dispostas paralelamente ao longo da pista de ida e de volta, e que
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eram separadas por uma espinha – uma barreira composta da sucessão de monumentos como
altares, obeliscos etc.

Na extremidade do conjunto estavam os cárceres – espécie de pequenas garagens – onde


eram encerrados os carros antes das corridas. Estes compartimentos se alinhavam segundo duas
retas inclinadas cerca de 45 graus, o que garantia a igualdade de percursos, para todos os
concorrentes.
Teatros
A diferença essencial entre o teatro grego e o romano é o fato deste último não conter
nenhum caráter religioso. Além disto possuía uma tribuna mais larga e a orquestra era ocupada pelo
povo em vez de ser privativa do coro.
Arquitetura romanística
Chama-se assim ao conjunto de
construções disseminadas pelos romanos em
solos estranhos à Itália, aproximadamente
entre os anos 29 A.C até 365 de nossa era, ou
seja, cerva de 400 anos.
A passagem de Roma de governo
republicano para imperial fortaleceu – como
era natural – o poder central ao mesmo tempo
que pacificou as províncias turbulentas, não
obstante uma cadeia ininterrupta de tropas
estava cantonada em todas as fronteira.
Durante a paz, as aguerridas legiões romanas construíam estradas, pontes, portos, aquedutos
e outras importantes obras como o famoso sistema de esgotos da capital.
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É fácil concluir que havendo um exército na Espanha, outro na Antióquia, dois sobre o Reno
e quatro no Danúbio, importantes obras de arte, haveriam de pontilhar em breve toda a imensidão
do mundo romano.
Assim se construíram estradas com largura suficiente para dois carros em vários locais, e
assim foram rasgadas a estrada da Espanha pelo sul da Gália e do Danúbio.
Afora estas realizações, vários monumentos – como templos, arcos de triunfo, muralhas
defensivas, palácios, aquedutos etc. – foram erigidos na Síria – em Baalbeck, Palmira e Petra – na
Argélia, em Trípoli, na Alemanha, na Dalmácia, na Espanha, na França e na Grécia.

REFERÊNCIA

CARVALHO, Benjamim de. A história da arquitetura. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, [s.d.].
Adaptado.

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