Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A formação da nação inglesa consistiu num processo longo para o qual con-
correram diversas circunstâncias, nomeadamente:
Um dos resultados importantes desta política terá sido uma ampla divergên-
cia nos aspectos culturais da romanização, consoante os reis clientes-e os
SeuS povos desejavam. olt tinham possibilidade, de adoptar o modo de vida ' The CuntL¡rirlge Culturttl
Histot¡' ol llli¡¡rin. cd. Boris
romanor. Nas cluas décadas que Se se-{uiram à invasão de Cláudio, A Suce'S-
Ford. vol l. [:urlt Bri¡aitt-
são de vitórias militares irlprimiu um ctl¡ho trir-rnfali'sta à ocupação romana. Canrbridge. Cambridge LJP.
desde logo rnanifestaclo nas constfuções arquitectónicas da cidade de I 992. p. 18.
.l-l
Colchester, e cotttinu¿rclo na redução clas guarnições rnilitares nos territórios
cu.ia conquista se julgava consumada
{::tlriti¿gla romana foi. então, a da
co-¡'¡q¡ri,sla das tribos bretãs aincla não roinanizadas, o que cl-e-¡1.o¡,!Sc1 a Lrnr
período de conf'lito violento, em que a oposição a Roma dirigida pela rainha
Bor"rdicca e pelos Trinovantes de Essex acabon por ser vencida. clefinindo-
-se. enl flnais do século I, ¿rs fionteiras clo Império: Gales e o Sudoeste da
Inglaterra tinham sido incorporaclos, e ¿t Íìorte o Sr-rl da Escóci¿r. O;-p-1l_gl.
-,1_cli9.!!-es"
foram poltco a polrco clesmantelado¡, e ao longo do século Ii
', a5siStiu. se..a um desenvolvirnento da .sociedade britânica segundo os mode-
los rornlnos.
Este parece ter sido um período de paz. em cllre a população atingiu níveis.
em nútmero e densidade. idênticos aos cl¿r Idade Média antes cla peste negra.
A agricultura constituía a principal ¿rctivida.de. desenvolvendo-se em quin-
las de proporções medianas, cr¡os proprietários se ¿rrticnlavam con'ì a vicla
clas cidadcs otrde descnrpctthlvatn funções cle acllninistração clos assuntos
quoticlianos. Apresença. em lnglaterra, do ImperadorAdri¿ino ern 122 con-
tribr"riu largatnente par¿ì um novo ímpeto n¿ì constrr-rção de infra-estruturas
cle servico pírblico, visíveis não apenas n¿i célebre mur¿rlha. mas também
noutros pontos cle Ingiaterra. nome¿rdamerìte em Londres.
No princípìo clo século IV pocle corì.statar-se. no sul cie Inglaterra, por uûl
laclo, unr¿r --erancie prospericlade. de clue são testemunho grandes c¿isas cle
campo e propriedades e, pol outro. uma tcndência conservaclora nos selts
habitantes. que pl'eservam ou recuper¿rm os cultos religiosos traclicion¿iis.
Esta prospericlacle poderá fical'a dever-se ao próprio imperadol constantino.
cLga sr"rbicla. iitconstitncional. ao trono. se fez ein York, e é pror'ável qLre
tenha recotnpensado gerìerosail'ìente os seus apoi;ultes britânicos. O períocio
cle plospcriclacie loi interrorriprdo enl 353 deviclo a conflitos políticos rela,
cionaclos com a. sncessão clo irnperacior. e a protecção às Ilhas Butânrcas.
fornecida pelos exércitos romanos, enfuaqueceu, tornando-as vttlnel'áveis a
diversos rttids, ou incursões, rápidas e vlolentas. por via rnarítima, de tribos
bárbaras. Nos p-r'imeiros clez anos do século V as Ilhas Britânrcas estavan-r já
praticllnente isolaclas clo l'esto do Império, sem exército nem funcionários
oficiais romanos.
46
r.2 A Inglaterra anglo-saxónica
:- ...
,
,,,,.':
,:ili
.li
--
tido início antes dos meados do século V continuando até às primeiras déca-
\t The Cantbridge Cultural
das do VItl. No_ enlantg, quer tenha corlsistido num conjunto de acções ocor-
History o.f Brituin, op. cit.,
ridas num tempo relativamente curto ou. pelo contrário, quer tenha sido um p. 104.
Estando Gregório um dia no mercado. ern Roma, avistou, entre outras mer-
cadorias, dois escravos expostos para vencla. Eram de pele clara, feições
finas e belo cabelo. Perguntou de onde eram e em resposta foi informaclo
que vinham da Ilha da Bretanha, onde toda a gente tinha aquele aspecto e era
pagã. Entristecido, Gregório perguntara o nome da sua raça: (('They are
called Agles', he was told. 'Thctt i.s ctppropriate', 'he said', 'Jor the.v- have
angelic .faces, and it is right that they shotLld beconte joint-heirs with the
angels in hectven. Ancl what is the ncune of the province Jrom which they lruve
been brottght?"Deiru', ' ¡os tlte nnsvt:et''. 'Gor¡d. The1, s¡1o¡¡ incleecl be
rescued de ira
- fi'ont wrath - cutd called to tlte ntercl, of Christ. And wltctt
is the ncune of their king?' 'Aelle', 'he vvcts tolcl'. 'Tlrcn', said Gregon, ntcLking
plcty ott the ncune 'it i.t right tltctt their lancl shoulcl echo the praise of God
tsedc. o¡r. cir.. pp. 103-101 our Crecttor in the worcl AlLeluia.' t2 >
serc livro, não obstante o seu significado cultural, não teve imp4cto social
de maior, já o mesmo não se poclc dizer de unra outra esfera àe int-luência da
igreja, essa sim. sentida por toda a sociedade: a propriedade da terra. A cria-
Ção dé um mosteiro envolvia a doação cle terras que não podiam posterior-
mente ser reclarnadas para outras doações, destinadas a recompensar servi-
ços prestados ao rei. por exemplo. Por outro lado. a lundação de mosteiros
podia transformar-se numa quase instituição familiar, quando os membros
das famílias assumiam o cargo de abade e assim preserva\/am as suas terras
geração após geração. É importante perceber que a posse de extensas terras
pelos mosteiros não tinha apenas a finalidade de thes garantir um poder
temporal em reforço do poder espiritual. A riqueza, em terras, era funda-
mental para a econonlia do mosteiro, na execução das tarefas que se propu-
nha: por exemplo, a composição de um manuscrito envolvia uma organiza-
ção complexa e cara, em que um dos elementos essenciais eram as próprias
peles de que se faria o pergaminho. um só manuscrito, produzido em Jarrow
por volta do ano de 700. o codexAtniatirtLts, composto por 1030 páginas em
pergaminho. precisou das peles de 5 l5 vitelos. Dado o ritmo de proclução de
manuscritos e, em muitos casos. a sua üronumentalidade, lorna-se evidente
t' The Cumbridge Culturul a necessidade de abundantes recursos nos mosteirosr-r.
Hi.story, op. crr.. pp. I 12 e 141.
Pode situar-se neste período, a partir de meados do século vII, uma altera-
ção importante no âmbito do estudo da filosofia, com implicações intelec-
tuars. práticas e morais, e efeitos que perdurariam ao longo da Idacle Média.
para só começarem a modificar-se com o advento do humanismo e da
modernidade. o cristianismo impõe-se corno modelo de pensamento e de
vida. substituindò a filosofia. que iria sobreviver corto disciplina académica,
sujeita a lirnitações das fontes clássicas, em resultacio do declínio do conhe-
crmento do gre-eo. se santo A-eostinho de Hipona e Boécio. no século v,
faziam ainda a articulação entre a filosofia e a vicla. a bectÍu vitct clo primeiro
ou A crntsc¡laçao tla FilosoÍïa do segundo. já no tempo c1e Becla nin-euém
escolheria um sistema filosófico como base de vida, em lugar do cristia-
nismo. O própno Beda, a exemplo clo seu rrentor, Benecdict Biscop
(c. 628-689), tinha uma visão prática e não especulativa do cristianislrìo, e
muita da sua actividade foi orientada para a produção cle textos úrteis otl
edificantes, coûro estudos sobre ortografia e gramática. sobre o cálculo da
clata da Páscoa, o mundo da natureza, história e biografia (com o intuito de
demonstrar a intervenção divina nos ¿ìssuntos humanos). comentários às
Escrituras com fins didácticos, etc.
O rei Alfredo parece ter tido consciência de que o declínio da acção educati,,'a
e social dos mostelros poderia ter estaclo na origem clo enfraquecimctlto e
vulnerabilidacle dos anglo-saxões à ocupação escandinava. A reforma
educ¿rtiva que foi empreenclida no seu reinado teve como objectivos principais
o desenvolvimento da cornpetôncia de leitura e escrit¿r et-n ver¡láculo e o
f -'l
fbrnecimento de livros em inglôs. O iatim continuaria a ser ensinaclo àqueles
qlle seguissem a vida religiosa ou clesempenhassem aitos car.gos públicos,
nlas a sua preocltpação central seria com a divulgação de obras úteis, em
inglês. par¿ì que todos os jovens nascidos livres e com meios de f'ortuna
adequados as pttdessetl conhecel'. Ern 890 enviou unla carta a cada um dos
setrs bispos, acompanhada por uma tradução d¿r sua autoria d,e The PctsÍorctl
cctre, cle Gregório, o Grande. e nela incluin a iista de obras que consicierava
esseirciars: The Pct.storul Cure e Dictlogues, de Gregório, o Grand e: (Jniversul
Histon' ctgctittst the Pctgtuts, de Orósio, e Eccle.Eiastical Histcttl, o.f rhe Engli.rlt
Ncttir¡n, de Beda; on tJte cons'okttir¡tt oJ'Philosoplz.r; cte Boécio. e parte dos
Solilóc1uios, de SantoAgostinho. ¿ì que acrescentou älguns olltros textos ¿ìcerca
Þ D. Whitelock. op. cít da sabedoria divina e da relação cle Deus cont a ¿rlma. humanaH.
p. 215
Pode, pois. dizer-se qlle Alfreclo fbi o grande impulsionaclor do olcl english,
na slla f'orrna escrita. A poesia vernácula exrstia já. m¿ìs as cluas composições
escritas em pergaminho mais ¿ìntigas. que são Caerlntott's H\nut e Becle,s
I)ettth.Song. devem ¿r sua sobrevivência e ¿rs inúmeras cópias que delas foram
feitas à sua associacão cor-n o nome de Beda. sabe-se, também. que Beda
conipletara, já no seu leito de morte. uma iradução para olcl english d,a
Evangelho segundo são João, qlre se perdeu. E sabe-se. também. que na
época de Beda existia r"rma tradição cle poesiä vernácula. de que se
conservarain al-{uns registos escritos. Poclenl. pois. distin_enir-se três períoclos
na Iiteratura anglo-saxónica:
56
século VI, principalmente na corte clinamarquesa. É,.rm poema simultanea-
mente histórico, lenclário e mítico. preocupado coll o destitlo dos homens,
dos heróis, dos reis e dos impérios, com a glória e a vaidade. com o heroísmo
e a vrngança. W P. Ker chama a atenção. na leitura deste poema, para as
alusões histór'icas e tcmas secr-rndários, onde Se encontram <reveiações de
um mundo tráigico>. e que, muito mais do que o clesenvolvinlento do tema
ì6 W. P. Ker. 'l-|rc Dark A¡:,es,
central, evoc¿urì um ternperamento aristocrático e uln auditório exigente16.
Nerv York. ìVlentor Ilooks.
1958, p 164,
Qrei Alfrecl-o,eq-!9-n-ciia.-q-r¡q I s-ab_g.d-o-ria (w'rsriopt) era i¡,{,1*-sp"e*nsá.vql-4.q...91.i;s-
lltúrgico
un-i. a reforma da vida monástica, com ênfase no seu carácter
e no ce[b¿rto, bent como na abolição da propriedacle privada;
iå
.::.i1..
çl
j,
rr3,.
"i
:.1
.., l
:Ì.,l::ii.:ìtl.::::::::',
:.ì :::il:::l:l:':'r h. : ì
Actividades
At the present time, the Picts have a treaty of peace with the English, and
are glad to be unitecl in Catholic peace and truth to the universal Church'
The Irish who are living in Britain are content with their own territories,
ancl cio not contemplate any raids or stratagems against the English. The
Britons for the most part have a national hatred for the English, and uphold
their own bad customs against the true Easter of the Catholic Church;
however, they are opposed by the power of God and man alike, and are
porverless to obtain what they want. For, aithough in part they are
inclepende¡t, they have been brought in part under subjection to the English.
This, then, is the present state of all Britain, about two hundred and eighty-
five years after the coming of the English to Britain, but seven hundred
and thirty-one years since our Lord's Incarnation. May the world rejoice
under his eternal rule, and Britain glory in his Faith! Let the tttultitude of
isles be glctj tltereof, ancl give thattks at the renrctnbrance o.f his hoLiness!
2.2 O moclo como o autor descreve e comenta a situação das várias etnias
nas Ilhas Britânicas.
BEDE
1 990 Ecclesìasticctl Hisrot ,- of the Englislt people, Witlt Becle's Lefter to
Egbert and Cutltbet't's Letter ott the Death of Bede, trad. Leo Sherley-
-Price e¡ ril., London, Penguin Books.
Eti|ON. Geoffrey
1994 The Ertglish, Oxford, Blackrvell.
POUNDS, N. J. G.
1994 The cLrlture of the English people; lron Age to Íhe Inclustrial
l Revolutiott, Cambridge, Carnbridge Uni.','ersity press.
:
WHITELOCK. Dororhy
al
e sociais da orga-
O presente capítulo propoe-se tratar os aspectos políticos
claro o quadro
nizaçao da Inglaterra entre os séculos XI e XIII. Deverá ficar
das teorias
das relações sociais neste período, bem conìo os fundamentos
sobre o poder qr,re informam a reflexão teológica e
política. É ¿e referir,
desde já, qr-re alguns dos aspectos sociais e culturais
tratados têm prolonga-
mentos nos séculos posteriores. O conteúdo sumário do
capítulo é o seguinte:
',ì, 6l ;
'tì
..=
l.l Contexto Político
l.tro ano cle 1066 começolt a úrltirna clas invasões, nas ilhas Britânicas, que
triä co¡rpletar o pacit'ão étnico e cltltural da sociedacie medieval inglesa.
Guilherme ci¿r Normanclia encontroll, n¿ìs lllias Brìtâlticas, utna sociedade
jurídico,
.rca e culta, com urna liter¿rtura própriir e um complexo sistema
política.
com traclições profundamente enraizacl¿is qr,re clificr-rltavam a unidacle
n-ral de-
Guilherme , por seu lado, vinha cie uma região com fronteiras ainda
finid¿rs. povoacla pol vikings e dinamarqueses. apenas toler¿rclos
pelo rei
de França. O espírito viking tnantivera-se vivo na Normandia.
impelindo os
filhos il-iaiS nor,,oS clas grancles farnílias a combater por novos espaços de
implantação noutros lr.tgares. como viria a acontecer na Sicília' Este espírito
de conqurst¿r ter^ levaclo Guilherrne. o Conquistador, a invadir a Inglaterra,
acompanhaclo por apenas cerca de 6000 soldados, dos 9!ars a maior qalte.
era rnercenária e foi ciispenslcla em i070, após 4.p-a-ci1ìci¡ç{o e $-evastlçãg.
das regiões clo norte clà Inglaterm,,A t¡lYg:ã,o no1¡n1¡r{a não lbi, como a
saxôriiõá ou a dinarnarqltcs¿ì. ttilla mig|ação nacional. E'o-ir antes, LtT-q..--c,9'¡].-
cprista al'istocrútica. concluz.ida por ulll homcm que assitn conquistou unt
t-ç-t¡^o e diql-¡i-*b-q!u te.rras pel.os seLrs segu.!!-ot9l,
formando-se' deste moclo,
I Doris
LlmA nova aristocracia que ocupotl o lugar da antiga nobreza itrgleszrr.
ìt'14,v.' Stenton. Érrglisfu
Sot:ierl itt Thc Eurlt l'liddle
Ages ; l 066- I 302. Harnronds-
No período que decorrelÌ entre a batalh¿r de Hastings, em 1066, e a morte cle worth. Penguin. 198 l. pP. l2-
Eduardo i, em 1307, a socied¿icle inglesa não se manteve. de modo algr-rm' -ll
estática. Importa. nesta secção, limltad¿i na sua extensão, refèrir apenas ¿ìS
gi'ancies linhas de mudança, a nír,el político e social, bem como os tr¿ìços
inovaclores que a ¿rristocracia anglo-normanda trouxe parâ as artes deste
período.
, A nível poìítrco, .sòbressaem ciois traços importantes. ambos r*r--o plano citi
orgaríizaiÇäo ilo estado, O primeiro cliz respeito à formação dos organismos
dô consulta e dòcisrio no âmbito do poder real. e o segundo à fonnação,
ainda embrionári¿r, do parlamento.
: Itltnt, p 2)
bor¿rcla cle controle no reino. tarìto clas {'itiitttçtis, colllo da jr-rstiçar.
As ou-t_ras componentes, .dq casa rgal eram., a c4pel1 o !çt!1, e 1 câmara
(chlntbe¡') a $jrggç--ao da c,ape-la cabì4,"49- C/1c1¡1,cellq_y, no século XII já-o
¿ìntecessor directo do moderno Lorcl Chancellor. Poréin, 1ão 9¡1¡tla ainda,
no período medieval, qLralquer noção de servlÇo pú.blico: to!-gi_"q-s.lcsponsá-
veis-po-r cargos de go,,1er¡¡ação dependiam directamente do ret, do seu favor
ou desfavor, e ao Chancellot'cabia a finção, de suprema irnportância e con-
fiança, cle guardar o selo real, e superintencler nas tarefas de aclnrinistraçlìo
do reino.
A casa real iria mudar. entre os séculos XI e XIV. No século XII os membros
do Exchec1t¿¿l'er¿ìm ainda considerados membros da casa real, bern cgmg-l
tesoureiro e o Clrcutcel/¿.¡i'. Mas, no princípio do século XIII, já o (,rchequer',
era Llm depaltamento do estado. que reunia em Westminster e o tesoirro um
departamento sr-rbordinaclo. mas ambos separados cla casa real. Embora
estas mudanças indiquern uma plo-9r'essiva autonomização cios selviços públi-
cos. ¿r pessoa do rei contiuurlva a est¿u no centro cla política, bem como os
membros da sua casa. Também o Chuttcellor. embora sempre presente jr"rnto
cio rei, já não tinha a Chancelaria no hall real. Quein substituía o rei nas
ausências era o./¿¿s¡iclr¿r. e este. juntamente cofiì o Cluutcellot', o Treasurer.
e todos aqueles que detinharn posiçoes na casa real constituíam uma espécie
de conselho alargado que participava nas decisões do rei.
Pode assim constatar-se qr-re. desde cedo, o poder clo rei era partilhacio conl
os nobres sendo o Exchecluer urìa instituiçao senr pal nos outros países cla
Europa Ociclental. Henrique Ii. eni particr-rlar (1154-l189), discLrtia corn os
seus barões todas as decisões e medidas reformistlis e este apoio mútuo terá
siclo decisivo na resoli.rcão do confronto conl os seus filllos. em I173-1114.
Sem podermos falar em <<modernizaçáo>> das estruturas do estado nestes anos,
podemos. no entanto, reconhecer alguns sinais de mudança com implicações
importantes na história cla Inglaterra. Nos trinta e cinco anos do reinado de
Henrique II foram consolidadas práticas de governo e administração da
jus-
tiça, que dotaram o reino não só de uma maior segufança, como de um con-
junto de homens com treino administrativo, aptos a governar. Foram estes
que gafantiram, ao continuar aS práticas estabelecidas por Henrique II' a
estabiliclade da Inglaterra durante o reinado negligente de Ricardo I, Cora-
ção de Leão.
Do muito que se tem escrito sobre a Magna Carta, parece incontestável a sua, -
Entretanto, o Great CoLntcil. composto por todos os barões, reunia com me-
ttor freqlrência, sendo mais eficazmente substituído por um conselho mais
67
restrito, e maiS próximo do rei. As reuniões do Grande Conselho começaraill
a ser chamadas Parlamento, do francês ¡tarLentent ou debate. No século XIII
começavam a definir-se os colìtornos desta institr.rição: The King in CotLncil
in Pctrlirunelz¡ tornara-se, assiln, o supremo colpo governante do país' Era o
supremo tribunal, o lugar onde o rei testava a opinião púrblica Sobre a sua
política e requeria o apoio financeiro para a executar, o lugar onde Se passou
a promulgar legislação e a rever oS usos e as práticas da aclministração.
Embora as assembleias de ccndes, barões, prelaclos e burgueses tivessetn
sido convocadas com nlguma freqr.rência por Ecluarclo I. o Parlamento não
era ainda uma instituição ftrmenlente estabelecida. Porém, aqui se encontra
a semente que mais tarde se iria desenvolvet.
Aqueles que serviatn o rei na casa real. e eram muitos, eram recompensados
nao op.nu, em dinheiro. enl géneros e em roupas. mas também em terras.
Guiiherme I e os seus sllcessores imediatos dispunham de áreas irnen"éâs de
tetritório conquistado, que eram livres de doar a quem lhes prestava serviços
pessôai.s, tenclo procedido a generosas doações. Pouco a pouco, com o avan-
ço do século XII, as terras disponíveis foram rareanclo, e as doações reais
passaram a fazer-se através do pagamento de uma renda anual extraída de
uma quinta de um sJ'tire, paga pelo sheriff, ou directamente pelo Exchecluer.
i:J
A partir deste registo pode fazer-se uma estimativa segura do número de .1i
Os senhores feudais podtam, eles próprios, doar terras, criando um ìaço espe-
citrl, liege hotnrcrge, què vinculuuu ó cavaleiro ao Seu senhol'. Qutrnclo um
cavaleiro recebia teüas de mais de um Senhor, devetiaallegicutce àquele que
llre tivesse cl¿rdo a resictência principal. Os deveres de ctLlegicutc'¿ obrigavanl
o cavaleiro a nlinca julgal o seu senhor, e a segui-lo em guerra contra todos
excepto o rei, e o senhor deveria servir-lhe como seguranÇa. sempre qtle
necessário. Os serviços clue o c¿rvaleiro devia prestar ao senhor incluíam
aincia a guarda clo seu castelo e a escolta do senhor e sua família quando em
viagem. No entanto, dado que oS cavaleiros podiam receber terras de mais
cle um senhor, era inìpoSSí\rel prestaretn a todos, eilì pessoa, os serviços devi-
dos. pelo que lhes era permiticio comutá-los em troca de dinhelro. Esta prá-
tica. chamacLa scutage. era já cotnum no princípio do século XII, e propor-
cionou Ltma nova gradação. na sociedade medieval, distinguindo entre os
cavaleiros que cumpriam selviços militares e aqueles que aceitlivlìlll terrlls
com a intenção de não ptestar esse serviço e laSá,fo em ciinheiro.
. 1 a:at!-:
I
lÈ
moderno. Virnos já que, embora Guilherme I tivesse tido a preocupação ile
organizar o seu reino, a forma de organização praticada não assentava numa
noção de estado centralizado, mas sim num sistema político de autoridades
divididas, o¡de o poder se fragmentava em pequenas partes autónomas. Pod,e
dizer-setiúð nenhum g-ov-q!.n.a-!tq -e-u. estad.a LIa. então, sgberanor-no s,{1{o
I David Held, <The Develop- dg ier supre_mo sobre um dado território e populaçãor. Por outro lado, não
ment of the lvlodern State>, in
n,
existia tambérn umaescala hierárquica linear, con'ìpos.ta por senhores, vass.alos
I: o r nta t i o n s oJ' ÌlI o de r ni
op. cit.. pp.79-80. e camponeses. A hierarquia caracterizava-se frequentemente por uma cadeia
de relâçóés e obrigações em que grancles proprietários <sublocav¿¡¡', pârtes
das suas terras a outros. Na base da hierarquia estava a maior parte da
r G. Poggi. The Detelopntent população, objecto da governação. mas não sujeito de uma relação política4.
o.f the ivlodent Sf¿¡f¿. London.
Hutchinson, 1978, p. 23.
O povo, objecto de governação. mas não sujeito cle uma relação poiítica,
como acima se clisse, não era composto por Llm conjllnto uniforme de pes-
soas, em termos de recursos, actividades ou liberdades. Entre 1066 e 1307. a
maior parte claqueles que habit¿rvarn a Inglaterra rttral não tinha liberdade
pessoal. e era desigtlada. ao longo da Idade Méclia, por <vilão>. Nos come-
quem
ços clo mesnlo período havia ainda, nas regiões do oeste e do sudoeste,
tivesse um estatuto inferior ainda. referido no Dotnescla)t Book como <escra-
vo>. Estes. porérn. já não existiam antes ainda do sécr-rlo XiII. e tnttito polrco
se sabe sobre eles. Eram, provaveln.iente, propriedade de homens
rtcos. ocltpaclos em tarefas agrícolas ou serviços pessoais, recebendo em
iroca o necessário para viver. O seLt desaparecitÌlento ficar-se-á a dever ao
¿ìLnÌlento de poder clo rei e da lei. Em interpretações oitocentistas da idade
Méciia britânlca, nomeadamente no I'orìance histórico de Sir Walter Scott,
ou em certos textos cle Thomas Carìyle, a figr-rra do escravo cl'a vista como
um reforço do sistema de lealdades qlre orientava a socieclade meclieval.
Mas á vórdacle é que. Se o senhor Se encalregava de alimentar o escravo, não
se respons¿ìbilizava sempre por ele petante a lei.
ritl, ',
variiivel, mas er¿l sempre reduzido devido à ciependência qlrase absolnta rela-
tivamente ao senl-ìor, O vilão não poclia. em princípio. arrendar terras fora do
sev n:ütlot'de origerl. ne m ganhar a vida exercendo um of'ício r.ìLrma ciclacie.
Além clisso. mesnlo qlte prosperasse na a-qricLrltlua. tudo quanto ganhasse
seria. pelo menos eûl teori¿ì. clo senhor. Telia de nìoer a slla farinha no nloi-
nho do senhor. cozer o selt pão no forno do senhor. pagal estes servlços, bem
conìo mult¿ìs senlpre que vendia um animal ou casava Lrma filhä. Quanclo
morresse, os seus melhores bens pocleri¿rm ser recl¿ìrnados pelo senhor. e o
vilãto. conl tocla a sua família. podia ¿iincla ser vencliclo a outro senhor.
Se o núrilero dos vilãos era superior ¿io dos homens livres. é preciso não
esquecer que estes existiain também. e que o .seu núrÌìero aumentari¿i. ao longo
do tempo, à ntedida que a sen,iclão ia desap¿ìrecendo. As liberdades indir¡i-
duais teriatn. no entanto. maior expressão n¿ìs cidades. Um se rvo clue fngisse,
e conseguisse viver dur¿rnte um ano e utrr dia numa cicJacle. seria considetîdo
Llm homern livre. hlo período ariglo-saxónico existia jíi r-rrna cidade oll
melhor, vtn borottglz -
em cacia s/liiz. Este era um lugar oncle .se pocliarn
-
realizar rnerc¿idos e onde a troca de proch-rtos se e1'ectu¿tva sob o olhar de
testemunhas. qLre poderiam posteriormente garantir a legitirnidade da posse.
Eram iugares onde se podia cunhar moeda e que sen'iain t¿imbém de refirgio
enì tempo de guetla. O comércio e a defesa parecerrì ter sido os clois critérios
que levaram ¿ì criacão de boroLtgl¡.r. sempre fìrnclados por prerrogativa real.
No entanto. nos primeiros ¿rnos após a conquista normancla, muitas cidades
clecaíram. provar,elntenie por vont¿ide clo lei. que poderia consicleral o seu
ambiente n-iais propício à traição do que o ûreio disperso cias regioes rurais.
Pode dizer-se qlre no período entre 1086 e i286 a econornia Lrritânica não
sofrL'Lr irltclaçocs srrbst¿rnciuis. Enil'rol'a sc rcgisfe trrn irrrpolilultc autnentL)
r''
John Gillingharl. "l'he populacional. pode falar-se de <e.::pansão sem crescimento>5. I'lão Ìio,uve.
Earll' Ìvliddle Ages ( I066-
-1290)". Á Thc O.rilnd ftis- com efe ito, ut¡a revolucãto comercial nem unl desenvolvirnento clo sistema
tort ol [:tt.tluul. ecl. Kcnntth b¿rtlclit'io. ¡lclo qtrc tttna lloit pru'tc rlo eolnúre io cxtet'no britânicu csttva ntrs ',iäl
l-;P 1991. Ir. 66. ção de teciclos. a construcão. a actividade mineira e o tr.ttilmento cle metäis,
'.:lìl
Actividades
Atribtricio a Ranulf of Glanville, Tt'eutise rn the Lutvs uncl Custonts o.f tlrc
Kirtgclont rd Englurul, 1 i 89:
It is not merely uecessary that the royal pou,er be adorned rvith u,c.apons
ägainst rebeis and nations rising up ergäinst the kingclom and itsi-ulù but it
is also appropriate that it be equippecl u,ith laws for the sake ol peacefully
ruling subjects and peo1tles, so that in both times. namely o{'peace and
\\¡ar. our glorior-rs king rnay perfonn his duties so fruitfLrlly that, by the
destruction .,r,ith the strong right hand of the pride of the unbridled and the
untamecl and by the mocleration of jr.istice for the hurnble and the rneek by
the staff ol equity, he will be victorious in subduing liis enemies, jLrst as l.ìe
rvill constantly appear to be evenhanded (aec1LurlisJ in the treatment of his
subjects....
Although En-slish not be u'ritten, it does not seenl absurd for
lar.r,s m¿ry
them to be called la,,vs (nameiy, those which are accepted beyond doubt to
be pron-rulgated b¡" decision of the Council, vr,ith the consultatiolt of the
nobilitl, ¿incl the assenting authority of the mler), since law itself consists
rn this: 'What pleases the prince has the force of larv.'
Bibliografia sugerida
KERR, W. P.
MYERS, A. R.
1981 Englcutcl in the Lctte Middte Ages, Harmondswofih. Penguin.
SOUTHERN, R. W.
1990 Western Society ctnd the Chnrch in the Middle Ages, Harmondsrvorth,
Penguin.
THOMAS, Keith
l99l Religiol curcl the l)ecline o.f Magic: Studies in Populctr BelieJs in
s i xt ee nt h - cutd s e tt e ¡tî e e nt h- c e nt Lt t.}' En g, lcLncl, London, Penguitt.
TREVELYAN, G. M.
1961 English Sociul HisÍot't';A S¿ri'v¿r of Six Centuries, Chctttcer' Ío Queen
Victo r itt, Hannondsrvorth, Pengu itt.
A cultura medieval
F
:,l. , '
Sumário
Asartesealiteratura.
Reforma.
rll.;'-
3.1 As artes e os costumes
IJma terceira versão da história do rei Artur, mais austera. comecou a ser
divulgada em finais do século XII, mas ttiìo parece ter ticlo eco na corte
angevina. Tr¿ita-se clo conjr-rnto de histórias sobre o Graal. drfundiclas por
Chrétien de Troyes e por Robert de Borlon. qltc stt-seriam o rnriagre da
transubstanciação. or-r seja, d¿r conversão das espécies no colpo e sangtte de
Cristo, na Missa. Os cavaleilos mediev¿iis definlriam assim os selts Valores,
à semelhança dos cavaleiros daTávola Recionda. como lealdade ao rei, amor
pela sua dama e a busca clo Graal.
às festividades que rodeav¿rm estas ocasiões, que poderiam durar vários dias,
o que clecerto contribuía também para a sua popularidade e pafa a violação
dos interditos papais Sobre este <desporto>>. O espír'ito que rodeava os tor-
neios era sern dúrvicla de grande excitação, sendo estas ocasiões favorár,eis à
quebra da ordem pública.
O rei Stephen tentou legislar no sentido cle restringir os locais onde os tor-
neios eram autorizados, e Ricardo I estabeleceu um conjunto de normas
restritivas para preservação dapaz no reino. bem como uma série de impos-
tos deviclos pela particrpação em torneios. Mas o atractivo destas Távolas
Redondas resistia aos próprios riscos de vicia ou de ferimentos graves que
envolviam. Henrique III tentou ainda lrniitar estas prátictrs, nìas o seu filho
Eduardo. o futuro conquistaclor do País de Gales e, pol' algum tempo. da
Escócia, era um ptaticante cntusiasta, qlìe na sua juventttde sofreu vários
reveses, mas que clarainente sublinhou o valor simbólico do torneio ou da
távola redonda coûto estímulo, para oS jovens, dos icieals de cavalaria.
referida a festa que deu por ocasião da investidura como cavaleiro do seu
filho, Eduardo Príncipe de Gales.
Este carácter abertamente sexual é próprio do May Day, cujas festas celebra-
vam a chegado do verão e incluíam concursos de beleza e a ornamentação
das raparigas com festões e coroas de flores. Tarnbém nesta altura, a partir
do século XV, se conhecem paródias à história de Robin Hood, que indicam
a representação de peças e comédias vulgares.
l.+l-15-r.
dade, das actividacles produtivas nas cidades e nos campos, tudo se rela-
ciona cort a religião e com a Igreja. A proporção de testemunhos religiosos
do período medieval que sobrevivett até hoje é esmagadora: por cada casa
medieval sobreviverarn 100 igrejas, por cada peça de verso secular 1000 ou
mais manuscritos religiosos. Não será excessivo afirmar qlle o universo
medieval é escatológico e que a cosmovisão medieval. que só começará a
transformar-se cotrt a Revolução Científica do sécuio XVII, irnprime a sua
marca a todas as actividades sociais e culturais.
i'.,,
å.:. 88
T
..r1,
a.
l.l i
'ìrl
;t:ì
;tr
n
-
dos br-rrgos e das aldeias. Para estes o mundo físico circunscrevia-se à reali-
dacie conhecidti, mas o munclo espiritual era t[anscendente, misterioso, e
articnlava-se quotidianamente e a toda a hora com a vid¿r.
O enraizamento clas convrcções cristãs, parar além da acção concret¿ì cla Igreja,
pode ter f icaclo a clever-se, t¿imbém, à natureza da resposta que a doutrina e
as práticas religiosas davam iìs situações do quotidiano. Se. de f¿ìcto, as
convicções em que assenta o cristianismo são transcendetrtes, logo rela-
cionadaS com um rrundo que é <otttro>). eSSAS cotìvicçõeS são aO ûìesmo
ternpo apoiadas por Lutl conjunto de prárticas qlre estrutllr¿lm as vivências
individuais e soci¿tis,
Doenças cotno a gripe , a febre tifóide, a disenteria oLr a pe ste bubónica alas-
travatÌt raprdamente e tranSfolmavam-Se em epiclemias, como aconteceria
ern 1348 e i 361, com a peste negra. que dizimoll cerca de um terço da popu-
1ação das Ilhas Britânlcas e continuou a aparecer em surtos terrívets nos
séculos posteriores. A niortalidacle à nascença, da criança e da mãe, bem
como a mortalidade infantil, ei'am acontecimentos tão comuns que lhes pode
ser atnbuída boa parte das atitudes que orientavam ¿ìs reìações farnilrares até
sensivelmente o sécr-rlo XIX, conio se verá. A ar-rsência de paliativos para a
cior física. bem como uma medicina aincla assente nos princípios galénicos
cia teori¿r dos humores, não ofereciam resposta aos sofì-imcntos do coryo.
Não será cle espantar, pois, que a Igreja pr:desse oferecer altcrllativas. citter
deslocando 1l¿ìfa a vida eterna aS compensações cìue ¿ì vida na terra não
!!r
A herança do saber grego e rorn¿ìno na Idade Média foi transrnitida quer pela
leitura clos iextos originais. que r pe los sucessivos conientáricls a eles fertos
sobretudo pelos autores patrísticos: Orígenes, São Jerónimo, Gregório o
Grancie. Ambrósio de lv1ilão e. principalmente. Santo A_qostinho. O maior
obstáculo. no entanto. ¿ì transmissão do saber clássico. foi a pro_elessiva
queda clo uso e conhecimento do grego. devida, pror,avelmente, à própria
divisão do Impér'io Romano. A consciôncra do empobrecimento do saber
pela irlpossibilidade de acesso às obras gregas terá levado Boécio a acloptar
o projecto de traduzir a totaliclacle clos textos cie Platão e Aristóteles. Morreu.
porém, tenclo cornpletado apenas Lrma peqlrena parte desse plojeci(). que
constrtuiu a base clo legado clírssico na Euroi:a até åo sóculo XII. Cassioclolo.
contemporâneo cle Boécio, prete ndeu t¡imbém salvasuarcl¿rr a herançä grega,
92
não atr¿rr'és da traclução. mas sim do resumo de rnatérias e princípios essen-
ciais para o ettsitto, l-ì¿ìS Suas In.stittttiones. Terá sido fi'uto cio ac,aso qtte ¿l
história do pensamento ocidental teuha sido rrioldad¿r, durante a Idacle
Méclia, por aigum conhecimento cie Aristóteles. e qllase nenhurn de Pl¿ttão.
Actividades
t. Leia o poema de Marie cle France, The Fable of a Man, His Belly, ancl
His Limhs,1160:
1.3 O modo como este poema reflecte conceitos próprios do tempo em que
fbi escrito.
2. Descreva os principais traços da cnltura da corte, neste bem
como os principais traços da cultura popular.
Y
BibliografÏa sugerida
KERR, W. P.
MYERS. A. R.
198 i Englrutcl in rhe Lctîe Micldte Ages, Harmondsrvorth' Penguin'
SOUTHERNI, R, W.
1990 Western Socier¡^ anil the ChtLrch in the MicldleAges, Harmondsworth,
Pengtrilr.
THOMAS, Keith
1991 R.eLigiort cuul the Decline of Magic: StttcLies in Popular Beliefs in
s ixte e nt h - cmcl s ev e nt e e nt h- c e nt u t1, E n g I onrl, London, Penguin.
TREVELYAN, G. M.
1961 EngLish Sot'icLl Hi5ton,; ¡l S¿1rve-r of Sir Centuries, Chattcer Ío Queen
Vi t: Í or ict, Harmondswolth. Pen-etrin.
.ç
F ,ä
"l
,{
¡
A lnglaterra i\4edieval séculos XIV e XV
-
E
|:i: iì I :
ì.:-tii I 'l .ì
lié .r:r:,
$$ ìl lr:
B1+ ìÌ.]
å;
&i:.
ê:*ì t
re*_
Sunrário
" A Guet.r¿r clas Rosas: os conflitos que opòerrì its c¿lslìs de L¿rncaster e
de York.
artes.
'.rjl:ìlu:l,:t: r:, .
t¿.,'';-rt;;t*.'..**
4.1 O contexto político-social
Os séculos XIV e XV eviclenciam já alguns dos traços qr:e iriam mais tarde
caracterizar novas fbrmas de organização política e econóinic¿ì, llovos modos
de ver o mundo, novas expressões estéticas.
I (r2
ii
;1,i '! ri.,
&
-þ
V_
I
teor das relações entle o rei e os seus magn¿ltas. lnciicando r-rn-ia ptogressl\:a
cleiéäottäÇão clai reiuções pessoais que estrutlll'¿ìvalÌ'ì o exercício do pocler
Leál. pò¿erli àórìit¿rtar-se o r-e-curso, por parte dos nobres, a instrumenlos le-
gais e constitltcioll¿ìis para fazer frente à vontacle contrária do rei. Em 1291 e
f ¡00 os nobres invoc¿rr¿im a Magna Carta para se insurgit'em colltra ilnpos-
A menorid¿rde clo rei, com 10 anos cle idade, pôs problemas de go'''ernação,
que tiveram alguma influência na Revolt¿r dos Camponeses' em 1381 ' Entl'e
as razõe s de ciescontentamento dos campotreses ¿rvult¿i, seil dútvida' o 1ança-
III). para tomar o pocler peia for'ça em i399 e, ao qLle tuclo indica, mandar
executar o rei. prisioneiro no castelo cle Pontelract. em l¿100.
As casas cle Lancaster e cle Yolk. qr-re -e¡1¡e s1 ]¡1t4¡irry pela cq¡o-41¡rg!e,¡4-¡19
conflito qr-re licor-r conheciclo como a Gtterr¿r clas Rosas, continuar¿im a "t]1-¡*9ll--
guerra clvil 9
rar a guerra coln a França e a,ilst1rb!f iciade, interna' gerada peia
1:l
tii
p.l.Jdifi.r.rlclatles eln l'llantel'as pretcllsÕcs de sovct'no sobre Glles' a Escó-
't:
: :,
loi chefracla por Orväitl Glynch,vr. O clescontentanlento no País c1e Gales po-
clelia. em conseqLlência cla pl'oxirnrclacle geogrírfrca e da f acilidade cle
acesscl
pof n1¿tr. tot'll¿u o territór'io inglôs vlrlnerável aos setls tnimigos coniinentais'
reino. Na sequêncta cle um princípio tradicional. ¡ìntigo e forte ' o rei cleveria
governar se lei clivina. a lei naturll (or"r seja. com eqtticlade), e segundo
a
-sllnclo
Is leis clo re ino. N4as era. ¿ìo mesmo tempo. recoilheciclo ao rei o clireito cle
ou suspencler o exercício cla lei em casos especiäis ou cie necessidade'
'ilularreis cia c,¡1.14 ç!e Lanc-:rslqr, tencio Tt¡ry-d4-do a sua dinastìii num ciiiro ac,!o-
E_os
,le üi¡',rpoçao, e sabe nclo-se permanenternente ameaçados iror actos
idênticos.
existentes' sobretucio dos
,r*."rriiÑl1m eilì ¿ibsoluto do apoicl clos pocleres
grancle s m¿ìgnat¿ìs. Este s, por sell lado, consicler¿ìv¿tm-se os diri-ucntcs
nattlt'¿tis
pùz e o bom governo cie reino. se ndo como t¿rl reconheciclo e tratado por
I{enriclr-re IV'
Mas a sorte mucla¡ia com a coroação de Cliarles \/II enl Rheims (1429), e
corn Lrm novo fôÌego aclqr-iindo pelos exércitos lr¿rnceses cotll a inspir.tição
de Joana I)'Arc, ANormanclia sena pe rclida ent 1.150 e a Gasconha eln i453.
Do Impér'io cie He nr iclnc V lestar,a apeÍì¿ts Calais. que rrìria a ser perciiclo sob
o l'einaclo c1e lV{ar,v Turlor, no século XVI. Henriqqe Vl set'ia conft'ontaclo
com estas clerrot¿rs pclos nobr-e s. desconte ntes corl a pcrdil dos seus territó-
riosemFrança,epelopovo,lideracloporLìmobscuroJohnouJackCade,
alguns di¿rs e clenunciou a
qlìe eÌx 1450 tomou a ciclacle de Lonclres durante
inconlpetêtrciaeaopressãofinanceir¿iirlpostapelosirrinistrosdorei.
cle gove-lrLil o'
ger al veìo acresce{ìt¿ìr-se tlln pr obiema
{q ç!-q¡go¡ttqltamento
clecorrentecleunrcolapsofísicoenentaldoi.ei.qugaþriunoYasexpecti.ttl\'aS
de unr
l, 1r,.t",-,.oes cla .asa cle York à coroa. Nem n-iesnro o t]¿tscinrentosituaçño
ttllru
filúo de Henrique VI, e* i453, I'oi suficiente para estabilizar
cla raính¿r contra a famí1ia
de grancle tensão, agravadar pela feroz hostiliclade
nas batalhas de Blore
de York e os selÌs apoiantes. As tensões clegeneraram
York no Parlamento
Heatli e Lr,rclforcl Briclge e n¿r concleiração clo Dr:qlre de
cle Convetrtry' Finalrrrente. em N4irrço cle 1461,
o t]ovo Dtlque de York,
Edtrardo,colllo¿itixíliocloDuqttecleWarrr'ick,conquistaria¿rcoroa.
o estabeleciurento d¿r clinastia c1e York não foi pacífico. o rei deposto'
a
clescontentamentos e plo-
rainha e o lilho continuav¿rm vivos. polärizando
ser deposto e Henrique
porcionando nov¿ts alianças. Eduardo IV ac¿rbaria por
vI reinstauraclo. M¿rs tarnbém Ednardo IV cotltinr:ava vivo e clisposto a
IecuperafiÌCoroa.oquefinaltnenteconseguil.tCOmar'itóriaobticlaenr
em 1471, Aririnh¿r ìt4argaret. truiher cle Flenrique
Ter,vkestru|y,
vI foi feit¿r
prisioneirer, o seu filho r-norto rla batalha e Henriqr-re
vI tlon'e ria' naToile cle
itl IV regressava a Lon-
ii: Londres, n¿l tnesma noite ern qtte o tritlttfante Eduarclo
dres. Ficar¿r assin extlnta a principäl linha de Lencastre'
:1.1 I
il il
os úrltimos anos do
:l
ir:
Il
Mas a sorte d¿r casa cle York não seria clttt'adoura: embora
a sua sLICes-
governo cle Eduarclo IV tenham siclo relativamente tranquilos,
qlìe não chegaria a
são caberia de novo ¿ì Ltlll mrnoI. o seu filho Ecluarclo V
i:l
itl apoiadas peios gran-
:'l1
liìi ser coro¿ido. Nnm país clivic|do por pretensões t'ivais,
ì,i
des magnates, o Dnque cie Goucester encontLou a
opoftuniclade de llsllrpaf a
jtintatncnte çOITì o irmão'
coroa ¿ìo SeLl sobrinúo, que terir l¡anci¿iclO exectltiìl
tenclo finalmente snbiclo ao trono com o nome de Ricarclo
III'
yitória de Henrique Tr¡clor' conde
A Guerra clas Rosas chegaria ao f im com a
rle Riclimond. sobre Ricarcio ill na batalha c1e Bosrvorth'
eni 1485' Mais
com Lìl1ì direito
ul-na vez a cofo¿t seria conqtiistada Por um pretenclente
g¿ìrantir' não ape-
remoto ao trono. Mas Henrique ViI tom¿rri¿r n'reclidas par¿ì
de un'i governo
nas uma sucessão legítimar, m¿is t¿imbém o fortalecimento
de consolidação do
que tencleria jíi ar usimir as car¿rcterísticas moclern¿rs
Estado e cla Nação.
ti
Y_
l, nalização>> da Igreja inglesa. Nos linais cla Idade Médi¿t, a Igreja era Cató-
.:.
:!a
1ic:i. e ne ssa medicla partilhava a univetsaliclacle cl¿r Fé e cla cloutrina cle Roma.
.i:
::
''|
No e¡ttanto. em higialrrr¿ì. a climensão instrtucional cla Igre-1a raclicava pro-
t: l'r:nd¿Lrnente na e xperiôrrcia e nas traclições especif icamente Lrritânicas. clue
e strlrtllr¿rv¿ìm as le is do estado e ¿irticular anr cstrcitarncnte û ciintens¿1o mate-
rial e terrena cla lgreja com a vida e os hábitos cias popr-rlações. No sécnlo
XIV os ttìonarcas ingleses começ¿ìranl. inclttsiv¿rmente. a adoptar mediclas
que. claramente, iimitavam a jurisdição cla Santa Sé em algrins ¿rssutttos
ecle-
siásticos.
;1
l As mesm¿rs formas de patronato estendialn-se, também, a outr¿ìs áreas de
activiclacle. simultaneiu-ncntc criativas e útcis, onde se conlec¿ìnl t¿rnibém a
detectat'traços especificarnente britânicos. que as distingr-rem dos nodelos
continentiìis.
razões principais poderão expiicar este facto: LllÌla, a própria noção de ¿irte.
que o
no períoclo rneclieval, qlle femete perra Deus a autoria suprema, de
artista é simples inecliacior e a obra ¿rc¿rbada é a expressão' A otttra r¿rzão
prencle-se corn o facto cle a nlaior p¿ìrtes clas obras ser resltltado da colabora-
o papel do patrono. fosse
ção cle cliferentes artesãos, e Ser apenas registaclo
ele o lei, um nobre. urn bispo oll tllll abade'
2. l\s t-azões
t'azÕes rlol'nlrrl
por dr¡fr.nrle unra
ç¡. defencÌe
qLle se q,ociedlde hierarqLuzacla.
rrnr:¡ socieclacle hiclrrnni'tttr'1,;,,
:
Bibliografia sugerida
KERR, W. P.
MYERS, A. R.
l98l ÛtgLttncl in the Lctre lvlicldle A,ges, Harrnondsu,orth, Penguin.
SOIJTF{ERN, R. W.
1990 Wcstelt St¡ciett, curcl thc Chun:h in the Middltrrlgc's, Harmondstvorth,
Pctr gLr in.
l.FIOlv{AS, Kc¡ith
l99l Religiott cutcl the Det:Line r,t.t'' Magic; StLrclies in Po¡tulttr Ilelie.fs
S i rt e e n t h - cutd S et' e n[ e e n r h - C e n t Lt t)' E n I l und'
Lonciotl' Pen guitl'
]-RITVtsLYAN, G. N'1.
l96j I:uglish Sociul Histprt';A S¿¡r'r,¿1, o-f'Si,r Ce ttLtries, ChcLttce r to Que ert
tlì
t:
;:
1l
,!
t:
,i
.,1
t.:
,
Sumário
Este capítulo tem como objectivo cleterminar as grandes linhas cle mudançn
na socieclacie e na cultura rnglesas que rìos permitem falar numa sociedade
rledleval diferente cle uma sociedacle moderna. Identlfica ch-ras linhas de irans-
formação da estrtttttra do sentil mecliev¿rl par¿Ì o moderno: a confiança e o
risco.
i
ì
indíviciuos específicos erì c¿ìLrsa. O kü.slti¡t proporciottaria. assirn. seguncio conì os ¡cttllti-s PClctlr-sos
tLrr'ísticos. -s¿ndo as abadi¡ts
Giddens, uma teia de relações ¿rmistosas ou íntin¿rs qlte reststia no cspaço e lurcdicr ais as agêrtcias dc
no tempo. O kr11;þ.1p constituí¿Ì. port¿rnto. utrl nexo cle relações sociais está- vrlgcns do pls-sado. e ¡s rotas
de pcrcgnnação conrPlrnclas
Veis quc. ern p|incípio. e quase scnlp|c na p|iiticlt. iol'tnitvlt ttm ttieio ot'ga- ìrs rotirs aórea,s- tluù tolllxtlì
nizaclor de relações de conftança. nrris fácil viqal rle [ìonla I
Nola Iorc¡ue do tluc a Spolcto
"-[hc [ìeturn oi
thc ñlÌddlc
É itr-rportante notar que. segLtndo Lar,r,Lence Stone. o ldrt';Ìúp e a linliagem Agcs)- uì [ntt'l.r itt ['ltpttt-
erail1 ¿ìpe¡as um clos três 1'actores r,rnificaclores da socle clade que se prolonga rr¿l1i ¡r . l!)8?. Lt¡nclon. Pic¿-
dor. p. 78.
aincla no sécr-rlo XVI, con"reçanc1o então a entral el.li nìptllra Os--o-9199¡..1191o-
rej! sedam o good lordslùp e ¿i honra. O prirleìr'o consi,stia na troca recíptoc11,_
dc prote cclìo. epoio c liosltit¿rliclaclc. crl troca dc dcl'e-l'ôtlciit. r'cspcito. consc-
lhö å lðaldacie. É este senhorio (torclslip)que abraça n;1o apenas as lamifica-
çOós de famíli¿r. iriìas tarnbém toclos os clepenclentes.
cotrìo os criados, os.
rencleilos e os <clientes>). tllllr contexto abri,rgente de afiniclades. A manifes-
tação ¡rais evidente clas relaçoes de ,(lrzslri¿) er¿ì ¿ì grancle cas¿ì. colll ¿ì sLlil
hospitaliclade abert¿i, col-ìì it sua ¿rusência de privacidacle . com ¿ls collst¿ìntes
multicloes cle nte cl¿r caSa, r,isitantes, peSSoaS ern busca de f'avores ou cie
-Ue
inllr,rôncia.
em
A manilestação psicológica destas rel¿ìções era Llnl sìstema cie valores
considerados
que o senhorio e a lealclacle erall personaliz,¿ìdOS e eram
¿ìs
a irnportância das
Para Giclclens, n¿ìs conclições cla moclerniclacie mantérì-se
as relações cle
relações farniliares, sobrettldo cletltro cla faniília nucleat. mas
kirtship nãio são já portacloras cle laços soci¿rìs intensamente organizados'
¿rrrar,és clo tempo e c1o espaço5. No p9¡!9clo mocle¡1o
as relüções cle ki11.s9rão
¡ Gicldens, o7r. r:it.. P l0t
s'bstituiclas por relações pessoais ¿e-àrriizácte ou cle intimici¿idè
iexltal como
rneios estabilizadores clos laços sociais'
em contextgs
A conluniclacie local oferece . pois, segr.rnclo Anthony Giddens'
que se clis-
pré-moder¡os. Lrli senticlo ontológico cle se gurança, sob fot'n1as
Agora os
solverão subst¿ulcialillcllte nls ciLcuttlstâncias cla moclertliclade.
e cle espaçg clefi-
clistanciamentos intpostos llol no\¡tls ctlncepcõe s cle tenlpo
.em sistemas abstractos couto nlrrios cle estabilizar relações que não decol-
re111já no nleio familiar cla comtlnidacle como lugar lixo, de dimensões redu-
zidas e conhecidas. Com a moderniclacle o local e o global \'ão torrì¿u-Se
intimamente ¿issoci¿rdos. Persistirão. cor-r-ìo é natural. sentimentos de afeição
o¡ iclentificação cotìl lugares precisos, M¿rs os próprios lugares ìrão tornar
características cliferentes, não expressando ¿ìper.ìas prhticas e enVolvimentos
loc¿ris, mas est¿rndo perpassados por in{'luências distantes: meslrlo as lojas
de
Este processo cie globalização é observ¿rdo pelos analist¿is c1a cttltura como
un fenónreno qlrer da nloclernrdade qr,ier da pós-rnoclerniclade. Têrn ultima-
tTlclìie srr|giclo clircrs;.Ls tcol'ias (lLlc ilponilllll l)art ttnllt noçl-to dc civilizttçlo
global, que é r,'istzr ou cotrto o fin-r da história, ou como o início cla história
universal. Nesta úrltima perspectlva. que é def'enciida por Raymond Aron.
existiri¿r hoje apenas Lrma civiliz:tção humatr¿r. de c¿irírcter global e seill <cos-
tLlras>. iti¿ìs coll uma iriagnífica valieclacle de rnanttèstações indígenas de
experiência de vic1a6. O percr-rrso até esta globalização p¿ìSS¿ì por uma aber- " Potle lcr-se. a e-itc rùspeito o
cirpítulo intitulado uA Clobal
tura cle hot'izontes geo-er'írficos e mentais, enl que a Inglaterrä tetn inrpol'tänte i¡ 'llotlen¡itt tuvl
Socictvl',
päpel. como se verá. quer no procrsso de transfortlação de matérlas prinlas Stullt Hall.
Its [;uturt:.t. ccl.
David lleld and T'on¡'
provenientes de tocio o t-t-tunclo, em objectos clepois exportados tambénl para \'1cCreu. I993. Carnblidgc.
toclo o rnunclo (a partir cla Revolução Incluslrial). conio no clesetrvolviilento Polìty Plcss. pp. 6l-1 16.
As refèrências feitas nesta Secção. ¿ìce rca d¿i cosmovisão meclieval (que se
piolongará na renasce titista). entbor¿r cle caríicter muito geral, subllnhararn a
coes¿ìo de uma perspectiva hielarquizada e organizada ofèrecida pelas con-
cepcões relrgiosas. qrìe Ilr()porcionlLvaltr jr-rstif icação para o caos l'isír'el. de
Lltn munclo f'ísico que não era racronaln-iente explicaclo, e cie uma experìêncla
incliviclual clue se-qurir.meilte se confrontav¿ì com a instabilidacle ambiental.
Keith Thomas. em ReLision und the Declùte o.f'Mttgic, estuda os l'enón'ienos
cla ieligião, c1a magia. cla astrologia, das pt'of'ecias" da Lrrr"rxaria. clas miiolo-
gias meclievais. aprese ntanclo Lrrn riniverso cle arnbrgr-ridades e contladrções.
Mas. rnesnio a complexiclacle clas manifestações religiosas obsen,¡rclas. não
impecie este ¿lLrtor c1c afirmar. por e xemplo. c¡rlr rnesnlo depois cla Ref orma ¿i
I
probletnas
religião organizada continlloll ¿ ajttclar aS pessoas a lidar com oS
ao pro-
prírticos do quottcliano. ¿lo oferecer explicações pafa oS inlortúrnios e
I Keith Thomas. íì'eligirttt tud porcionar uma ionte cle cie o|ientação em tempos c1e incerteza;.
tlte DecLine ol- l[ugir': Stutlie.s
in l'opulttr BcIie.lì ûr 'li-t¡¿r¿rl¡/¡ N:r sequôncia cleste manu¿ll poderá observar-se o cleclíneo de sta concepção
tuttl Stt ettIcettlÌt CettItt1 \'
[inglantl. 1991. London. unificadora e estrutur¿lnte cia experiência i¡clividr-ral e colectiv¿ì oferecid¿r
o
PengLrin llooks. P. 179. pela religião. KeitliT_holnas, ao ploc_Lllill,.as l¿ìz-õ-e.s -que terão concllciomr-clo
ide-nti-
declíneo clas antigas cfenças niágico-religiosas no período modelno,
fica três: o crescimento cla vicia urll¿ìna, o nâscimellto e crescim-ento d¿r ciên-
I ldent. p.7L)1 . ciac aexpitnsùo clc lrrll;t idcologia clc 'rt'lJ''ht'lp'. Os algttttìclllos cle Tholrlas
são elabóraclos no sentido de questiorlar. não t¿ìnto as convicções
qlle se
pefsistentes
or-qanizam em slstemas cle religião, rl¿ìS sobretuclo aS atitudes
mes-
de relação coill o sobrenatural. que pocleûl ainda hoje Ser verìficacl¿rs,
mo nas socied¿rcles ociclentais.
um processo se secularização do _!_t-nlu,
Interess¿i-r-tos Sobretltclo obsef\¡¿u
menro e clos compoftarnentos, erh¡ç1-t1e- s9, ve¡rifiçal.íl qllt ¿ì rqlig!ão C-onsJ!¡ll
o esquema orientador até ao sécu1o XVIiJT para qepgis começal ¿r::l
iaing¿i
:subiiituicla peios esquemas científicos: Esta ----e9".11.,qß-U.Z-¿ç,S-o.,co.r.!ìpQltê' 90m9
é evide¡te, rnúmeras excepções, e verelÌ-ìos, a propósito da Revoluçã.p.Indus-
trial. como oS sistemas religiosos e os seLls preceitôs mof¿lis e práticos desern-
penham um papel funci¿rmental. N4as obser"rliue,ryo,s tambén] qlle, cm termos
de
de explicação para o clesconhecido, o inesperado ou para a determin4ç.ão
uma lógic¿t e cle ttm¿r racionalidade no universo físico e mental, a religião
perclerír, poltco a pouco. ¿ì slrpremacia. vindo o seu lugar a ser ocupado
pgla
ciência. Giciclens sinretiza est¿ì transição do pré_molierno para o.. 11.ìoq9.,.Jlo
cont a indicaçaó dô que o pensâmérito se torna <<contfa-f¿ìctual> e orielado
para o flttql'o. como meio cie relac-ionar o passaclo e o presente' A cosmologia
ieligiosa foi suplantacla por un1 Saber ol'ganizaclo cle fortna reflexa, goriêr
nado peia obsen'ação enpírica e pelo pensamento lÓgico. e co¡1entr1-s9-
"Giddens. ¿ilr. cl¡.. P. 109
Sobre :is tecnologi¿rs trateriais e os cócli-eos socialtnente aplicáveise'
l2:
e SegLÌrança porqtle infuncle qualidacle
sacramental a determirlados cottiun-
para a seglrr¿ìnça ontológica,
tos ;e práticas. ALr 1cl1e iro.. cgn-lribui cer.rtralmente
na continr'riclade do passaclo' p1'esente
na r.neclicl¿t eni qüê .supor!a a co1fìança
em roti-
e futuro, e relaciona àssa confiança a práticas sociais interiorlzadas
1rÈ:
1" ¡\ obra dc Peter' [ì urke
Ptt¡tulut CuIture irt ['ar[1'
no períoclo pré-nloderno'
A observação e interpretação cla cultura tr¿rdicion¿rl. i\lorleru I:urope. 1994.
Ernbora seja possível Cambridgc. Scholar P¡¿ss.
tem que Ser Sempfe cit'ctttiscrita a contextos localizaclos' ilu-striì benì estc Polìto.
que. generic¿ìlne nte' habita
dete¡nrn¿ir algutls tf¿ìços comllns a Llma sociedade
provavelmente' I I
Especìaltrente sìgnificativa
um mesÍno território, as clir,ersidacles locais e regionais São, éa posiçio de E. P.1'hontPson.
rnais significatir,¿rs do clue oS aspectos gerais qìie' no
período medieval' não etÙ c¿1.ç¡0ll¿.1 tt c-0ttlttl0tl-
1 993. Lonclon: Pcnguin
Por isso os
são específicos de nenhltm¿r nação, mas colflults à Er"rroparr)' lJooks. tltt qt¡c o rutor lnllis¿
analistas cla cultttra. que ploctlr¿ìm cafacterizar o período
pré-rlodertlo e o o século XVlll. considerando
l,r'iolitirio. pllr o rigor rla
ectrLt' tno¿lei'r¿ têm ticlo ¿r preocr-rpação de distingtlir o
valor dos processos
lulrilisc. a tlcterlttirtrtçio tlos
tradicionais cle transmissão da cttltur¿r em contextos localizadosrr' A.ct-iltltra lùctoles clc diferenciirção
traclicional pertencia t"lit comunidade clg qr-re iro país' e só se podia l oc ais.
.Ì.
peipèti1ár se uma paíte significativa cla população se mantivesse no mesmo I: A obra cle N G. PoLrnds. 77¡¿
Culturt r ti t lt t' Iit LyIi.s I t P tr t¡tIt"'
lugar geração aPós ge¡açãorr. Irot ,'1,c¿ t0 Indts¡tiu!
olutirtn. I994. Cambridge.
Ret
nual. que scl'ír pcrspcctivacla enì ¿Ìspcctos políticos. icieológicos. rcìi-tiosos r' () intcr.'"r ¡lcl.t conscrr a-
ou Linguiiticos. onde se verificará qr-re o período moderno compolta o pro- ção da.tradiçào' Pode ser
risto logu Ilo Rcltlt:citncnto.
gressivo acentu¿u'cle um espírito nacional, qLle cotresponde simuitaneamen- rìJ lìr'c\cl \ açã(ì dc' llrodclo:
te ao alargi,imento clos contextos locais para contextos nacionais prirr-reiro e nrcdievais clc co¡rduta ou na
eolllinuitl:rLlt rl;ttlrt :ros lrrr-
internacionzris depois. ncios. i\lrs o ilìtLr('sst \i5tc-
trliitico. cr¡rlr':i,ì !-Ilì ill\ csti-
Para além cla localização, as form¿rs de cultura traclicional devem ser subme- gação e teorização sobre a
errltrrra tt lJieiortal. surgc :tpc'
tidas a outlas distinçoes, colno a que se estabelece entre cultuta popttlar 9 nas eni fìnais do século XVIII.
eruclita. Tambérn neste aspecto a rnodernidacle irá irnpor clistinções pl'o-qres- com l-lerder na Alemanha. e
tcl.á continuida,:le no Pensâ-
sivamente acentuaclas. já que a cultttr¿r das élites começa a assutnir expres- Irrento ingli'i. {ohlCttl\lo ir frl'
são distinta da popular, clar¿rmente, no século XVIil. tir do ronlantisnlo.
Ûs- açiçlq¡rtgs do. ¡11u.¡¡do_ fip-ic-g constituem o pritleiro traço cle ri5co.51-11-e
çlonririil ¿rs cultur¿is traciiciona!s. Os acidentes e periurbaçÕes natttrais. colllo
.clin-ra, inr-rndações. trovoadas, seciìs. ou ûìesmo
as väriações de terr¿ìmotos'
afèctavani ¿ì ordem s.ocial. e o seu significado era frequentemente irrterprc-
titdo lttt'ar és cilr rcliei¿to. M¿is or.ltlos fc¡lómellos nttul'aic. ¿tssocia(los ¡, .onai-
ção hurtnüna. impirnhanl também circr-rnitáncias cle instabilidacle e risco,
llìtlit¿IS vczcs (t'c\oltirlas' pclo recurso i nlügia. As taxts cle rnorialicladc
itif'ltlltil c (le tll()r'tc no pi.u'to. cr'¿urì ültîs. cn(lulrìto ¿t cspelarìça clc vicl¿r era
l'clitti\ ittjlcttte buix,it. Ai dre nç,,, cr'órìic¿rs e inlecciosas ilcct,ruanì quillqucr'
ì.lnr, rrìdependcntcrnente clo ieu n¿ìscimento, e ¿ìs doenç¿ìs endémicas pròfife-
f ¿ìv¿ull.
-_
medieval
Opinião cllfereilte tem Umberto Eco, que cottsiclera semelhantes' no
e no contemporâneo. as conclições de violência. Eco compafa
o sentiinento
de apocalipse qlle prececlett ao ano 1000. corn os teillas recorrentes de
do
catástrofe ecológica e atómic¿t que se registam agofa, com a aproxirrlaçño
possír'e I
ano 2000. Se é possível estabelecel u1n paLalelo histórico' é também
estabelecer outro. psicológico. p¿ìra a itlsegut'ança senticla na lclade
Média e
que
no rempo pfesenre. como {i¡qa este autor. na Idacle N4édia algr"réni
esiivesse nos bosques à noite ientir-se-ia rodeado de presenças
maléficasl ¿rs
cla cidade sern
pessori-i rìao Se aventurari¿tm a it' llluito pat'a fora dos limites
irem ârrn¿rdas. Hoje o branco da cl¿isse-mécha, habitalle.ciò Nova Iorcige'
do metro-
laé"-i11iì ao Central Park depois cl¿rs cinco da tarcle, não se 4peia
politanó àm H¿tLletn, ne¡r viqa cie netropoiitano de noite' Simultane¿imente
tal como
o roubo torna-Se prática revolucionária, raptani-se embaixadores,
um carcieal e o stg sécltirto pocìeriam ser raptados pol' um qualquet'Robin
geral é o
dos Bosques. P¿rr¿r ljmberto Eco, o toqlle fillal nest¿t inse-{ltrança
com fazìatr-t
facto de ¿ìgora, colllo n¿r ldacle Méclia. a guerfa não ser decl¿rracla,
ìr U nrbcrttl Ëco. rrP. r;i/
os est¿rclos liberais modernosrr. pp.79-80
clupla influôn-
Finalmente, irnpõe-se unla últtma 1e-ferên1ia à religião e à su¿r
cia. sirnulianeamente colllo prop¡ôiadota cle refírgio lelatìr'anente às
¿rtri-
Giclctens lijl'lnl. tlit cotìclttsito tio sett ar-sttmcnto. qlte o risco c o perigo'
experimentaclos em reläção com a segltr¿ìnça ontológica. se seclllarizaram,
t¿rl como a maior parte dos aspe ctos cla vida Sociaì. O q.y1-q-c1o, agora e'struttlraclo
preclomin¿ìntemente por qlillclç¡s pelo próprio ho¡nem, reserva pollco
lis-cos
espaço influôncia ciivin¿r oLr à propiciação mírgica das forças or Oô! i;ffi,:
¿ì
tos clsrnicos. Unla concliçiìo ccntlill cia lrtoclcnticl¿tctc seri. aincla segunclo
Giç1clens, o fiÌcto de os riscos sercrl-ì. eni princípio, clefinicios em.tq,-mlos de
conlÌecimento'generalisável acerca cle perigos Potqnciais' e já não ern tet-
mos cle <lsorte>> ou <<foftlrn¿ì". Quando !9..c-.glheçe o ¡isco e se reçQnhece a
slta existência aceita-se a possibiliclade de que as coisas possam corre-r rìal,
e de que eSSa possibilid¿rcie não poSS¿ì Ser elimin¿ldzr. Paradoxalmente, no
entanto. as crenças t¡aclicionais no destino não desapär'ecelr, na Lnodemidacle,
e qU!Ìnclo os t'iscos são maiores ess¿rs crencas tendem a reaparecer colll mais
rs
Gicldens. op. tit.. p. lll lor'ç ltr'.
Actividades
Bibliografia sugerida
BLTRKE, PeteL
1gg4 Populur cuLtLtre in EcLrll, Modent Et|'ope, carribridge, scholar Press'
GIDDENS, AnthonY
1991 T'he conseqLtences oflvloclernin; cambridge, Politv Press.
STONE, Lawrence
1990 The l;cLntih" se.r ctrtd lvlctrricLge in Englcutcl; 1500-1800, Lotulon.
Pen-euiit.
THOMAS, Keith
1991 Religiort ctntl the Dac:line oJ'M&git:; stLttlies in Popular Beliefs ìn
s i.ut e e rtt h ct ncl s et, e nt e e ¡ û h c e t ú u t't ErL I lct ncl, London,
Pen-9uin.
THOMAS, Keith
l983 the NcLturctl Woilcl; Chutgirtg AttittLclas itt Ënglattcl 1500-
lvlct¡t cLtul
- t 800, London, Penguin'
THON'{PSON, Kenneth
1993 <Religion, Values ancl Icleologyr, in S'o¿:ir¿l uttd CLltutal Fonrts oJ
lulotlernin" eci. Robert Bocock and Kenneth Thompson, cambridge,
Politv Press.
J tì,
-Í
II. A FORMAÇÃO DA MODERI\IDADE.
O PERÍODO EARLY MODERAI
:.!F_
... riational iclentities are not things we are born with. but ¿rre formed rvithin
in relation to represeiltctÍir¡n.\Ye only ktio'"r, what it is to be <En-elish>
¿rncl
because of the way <E,nglishness> has come to be represented, as a set of
meanings, by english national culture.i ' Stuon Hall. <The Question
ol Cultural Identity", in
lvlrtrlernitt untl il.¡ [;utures.
Explicitando esta posição. o re.f,e11do autor infere -q!l,e.Llma ¡lilção- ¡ão é ap.e-- 1992. Cambriclge : Polity
nûs urrìa entidade pglít19a, mas é lam-bérn algo que produz significados - 11171 Press. p.293.
sam na cllltura nacional, e que têm ver conl os padrões cie literacia. com o
¿ì
Ê-__---
visão da funclação da nacionalidade. associada à ideia de continui-
dacle e de invenção cla tradição reveste de sentido, e torna inteligÊ
veis, os desastres e as confusões da história.
Actividades
Comente as propostas cie Stuali Hall. quando define os cinco elementos que
sintetizam as estratégias através das qr"tztis se reproduz a rdei¿r de iclentidade
cultural britânica.
F
Iìibliografia sugerida
HALL, Stuart
1992 <The Question of Cultural Identity>, in Moclerni4, ctncl IÍs Fufures,
ed. Stuart Hall, Davicl Helcl ¿rnd Tony McGrerv, Cambr.idge, Polity
Press.
STIARPE. J. A.
1993 Earl-v Moclerrt Englancl; A Socìctl Hìstory, 1550-1760, London,
Edward Arnold.
ì:.:,
¡t t¡
li i:l
ì..
lr,
¡rt
f.
:fì.l
,::j :: 'i i'
.i:,,
:iii i,:.
j::,ìl
¡ù.t ¡
2. Os Tudorse o Humanismo e a Reforrna
Sumário
. A Reforrna Henriquina.
que
especial os fr¿rncesel,Q os espanhóis; estt'anhal'am, tatlbém, a liberdacle
os ingiesôs clavant ¿ìs su¿rs ntttllreres Or-rtro¡notivq.-dP estranheza estava
no -
l:l:
å ¡rj
aì:
i Rei de In-elaterra. O casa.nento a seguir realiz¿ldo. com lilizabeth cle York.
:ì:i l
i:r'1.: filha cle Edual'do IV. veio garantir a p¿ìcificação entre as ciuas Casas, de
1.,:,
¡:'. Lancaster e cle Yolk. reforçacla. ainda. conì o nascinlento cie qLratro príncipes
ii: :
t::: e princesas: Arihnr (1486), N4argaret (1489), Henry (1491) e Mary (1496).
i- ì,:
:ilr
1::
O reino. no e nt¿ìnto. precisava cle unta estabilidade qlre não podia ser giìr'an-
tida apenas por Lrm c¿ìsame nlo e um¿ì coroação. F{enrique VIX, pala continu-
ar no lrono, teria clue sarantir à monärqui¿ì e ao rei um podet clue fosse reco-
nheciclo conlo slrprenlo pe los grarìcles magnates. Por olrtr¿ìs palavras. o Rei
não teri¿i simplesntcnte qLrc rcirìiìr: tclia tambén-ì qlle governar. A tarefa cle
consolrclação e establlizacão da coroa e clo reino ocltpolr a maior parte dos
prinreiros ¿rnos clo reinado de Henriclue VIL Embora o modelo de
governo seguido nos primeiros anos do seu reinado não fosse rnr"rito dife-
rente do medier'¡r1. a escolha c'los con.selheiros provou se r inovador¿r e eficaz.
Em lr-rgar cle se locle¿rr dos grandes do leino. conio fbra hibito dos reis in_sle-
ses. Henrique VII conìecolr ¿ì recrlrtiìr os seus conselheìros segundo o crité-
rio dä contpetênci¿t. independentemente dä oligern soci¿rl, Os glancles senhores
c1r:e também fizeram parte clo seu grlrpo cJe conselheiros sabiani tel' siclo
t O.r.l¡trd Hr.rt¡trt ol BritLtítt escolliìclos pelas suas qualiclades e não pela sLra posiçãor.
vol. III. 7/i¿r'lutlt.¡ts untl ¡lte
Snrr¿r'¡.ç. 1991. Oxlord. Orlord
U. Iì. pp. l2'1.1 Os conselheil'os clo l'ci rcuniun nuul conselho alargado . o great cotutcil. que
S. T.Ilindoif.'litdrt r [:tt g Lut ttl. integrava patres do re ino. di-enatírrios da I-9re1a, jr-rizes e luncioníu'ios reais,
I967. Flarmontl-srvolth. Pcn- bem cono ciciadãos proer-ninemtes. Este conselho reuniu ¿ìpen¿ts qlt¿ìtt'o olt
guin. pp. -58-(r3.
cinco r,ezes dur¿inte e ste rein¿ìdo. Coln maior lrecluência reuni¿r um conselhcl
reduzlclo. clue veio a ser coilheciclo apenas por cottncll- Este. por seu tllrilo,
tem de set visto conlo subdil'iciiclo em dois: um conselho alargado. corrì
cel'ca de 150 nomes. clue incluíam pläticamente tocla a nobrcza e a inaior
parte do clero supelior. e qlrc criì riu'¿uÌrente co¡rvocaclo. A sua existência
confirma. potém. ü noçlìo cle que estes são os conseltreiros n¿rtur¿iis do rei.
Oütro grupo. iluito mais leduziclo. reunia coin fì'ec1r"rênci¿i e constrtuía o cotr-
selho pesst¡al do rei. |i'¿t sua conlpo.sição e nträr,atn notnes sern títll-
-{randes
los cle nobrez¿r ou forttinu. quc nrcle ciam ¿r confiança pessoal do rei, ¿ì qlrenl.
por selì läclo. prestavant f idelicladr: absoluta. Ilenrique VII dornina\¡a pot
cornpleto o selr consLìlho. e lntervinha. clirecta e pessoälrnente. nos assuntos
da -governação. rnclusi\'¿lnlente na criação cie uni sistema de re gistcls. desti-
tr¿rclo ¿rcontrol¿ir as finançäs e a ¿iclministração. clue o próprio lei verific¿rv¿i.
píigina a pírgìna.
seguranÇ¿ì interna e e xterna cle pendiam ainci¿r cio aporo dos gratrcles clo leino.
que não era possível alienar. nl¿ìs que cra possível contl'olar. Algr-rns clos
intrumentos cle controìo conce bidos e executados por Henlicltie VII e pe los
se Lls sllce ssorcs visar,anr o estabele cinrento cle penas. f'r'e quenle rrie ntc sob a
form¿r multas, cujo produto reverti¿r ¿r favor do tesoi"tro t'eal. As ¿ìIne¿ìçaS
c1e
cle revolta oLì oS ¿tctos revoltosos podian set punidos com a morte. rn¿ìS
também com as arnt¿ìs jurídicas conliecidas por crtttLitrcler e .fitrfeitut'e'. o
prirneiro consrsti¿i nLun estiìirÌto parlament¿Ìt que llroclaill¿ìv¿l uma conclenaçãio
por traição e decl¿irar,a que as proprieclacles da vítima seriam confiscacias
pela coroa (foú'eittLre). P¿rrece incliscutívei que Henriqr,re Vii tenha usacio de
um cor-rjnnto de meios cie coäcção prìr¿r controlat' a nobreza e equilibrar ¿ìs
finanças clo Est¿tclo. por vezes mesmo colll corrupção da jr'rstiça.
Sem pretender av¿ilrar csse s nteios, tcnl que se reconhecer que este monarca
lançor-r as t-rase s cle um¿r eficiente archninistração clo Estado. e cleu início ¿r un]
plocesso de lirnttação clo pocler individr-ral clos grandes m¿ìgnatas que ¿ìnlln-
ci¿r, clalat-nente. o f im do feudalisn'ro.
Henrique VtrlI sLrbiu ¿Ìo trono erl 1509. ciecldiclo ¿'t ¿lument¿ìt'o poder t'eal.
Pa¡a tanto procuroll. nlìo aperirs scsr-ril r:ma política de concluista. ainda cle
,,moclelor, 1èLrclal. n-ias tambéln. pol t'¿rzões que iremos obsetvar. uma polí-
tica de relorma internl colll collotacÒes <imperiaist,.
Mas foi no campo clas nteclidas políticas. rel¿rcionadas cotll a Re fortna. que a
acção cle I-Ienriqr,re VIII deirou mafc¿ìs. até hoje presentes n¿r cultura. naS
institLrições e na socieclade britânrcas. Esta re lerência específ ica ¿ro Rei, colrlo
¿rutor cle r.rma polítìca cle irlportância e repercttssões imens¿rs. é cleliber¿rcla:
Henrìc1Lre VIII esteve. de l'¿rcto. no cerìtro das clecisões. orlent¿rnclo pessoal-
n1ente a política e perinitindo aos selrs ministros e o.fficiuls apen¿ls Lllll¿ì
eslreita m¿ìr'gem cle liberclade cle actuitção,
t -il
Teremos ialnbénl, que ter elrt conta qLle a Reforma em Inglaterra foi Llnl
rxovinlento graclLtal e. em muit¿ìs clas suas I'ases, oficial'
pio da décacla de trinta do sóculo XVi, com a rlìptur¿t de Henrique VIII corn
Roma, e com os ataqlles do Parl¿imento aos por,lefes da Igleja. Durante o re i-
naclo cie Eduardo VI ¿r Refornla tonlolr ¿ìspectos mais dolltllnais e caiVinistas
(1541- 1553).Após a morte cleS,[ary, que procurou o re-qresso ¿to c¿ìtolicistÌlo.
a Refornla completoLt-se. a partir de 1558, no reinado de Isabel I, com a
I Quentin Skinner. 7'Íc irnplantaç:ão desse <híbrido útnicoo. a Igreja allglicanar.
f:oundutiot¡s o.i itlodern
I' u !í ti t ul ['l to u g lt L vol. II. 7J¡¿: As teorias de Lutero, que estão n¿ì raiz cle toclas as Refornt¿ts cllropcias.
ANe o.Í lle.li¡nttution. 1992.
Canrblidge. C.anrbridgc U. P..
est¿lv¿ìnl estreitamrnte ligaclas e até deriv¿iv¿ìnl, eüt p¿ute, cle ttm conjttnto cle
p. 21. tradiçoes do pensamento medieval sobre premissas teológicas e cloutrìnas
políticas. Enunciando brevemente aS permissa teológicas. poderá dizer-se
que elas ¿ìssentam n¿Ì reflexão sobre ¿ìs relações etrtre o homem e Der-rs jír
ciesenvolvid¿ls no cìLladro da devotio moderna, un1 nlovimento sllrgido na
Alemanha e nos Países Baixos em finais do sécr-rlo XIV Para estes místicos,
a nâiurez¿ì human¿r é essencialrnente pecadora e a única via de salvação serír
a redescoberta da fé pessoal na gr¿ìça fedentof¿ì de l)eus. Nenhum acto
hnmano. nomeadamente a atribuição de indulgências plenárias peio Papa,
poderá alìxiliar o pec¿ìclor a atingir o mérito. Aúnrca esperança p¿ìfa o peca-
cior será o estabelecimenio cle nma relação de confianç¿ì cotn Deus, cotlsicle-
rando as Escrituras e as traciiçoes Apostólic¿rs como ítnica regra de fé.
Em Inglate rra for¿r¡n pLrblicaclas tracluções da obra de Brant ern I 506 e 1509'
e John Skelton (c. l460-1529) tipificou o pens¿ìIllento antj-clerical num
conjLlnto de sírtiras e m vcrso. Não será clespropositado tne ncion¿ìr que Skelton
foi tutc¡r do príncipe Henriqr.re. futuro Henlique VIII, e que alglllls dos setts
poemas contêm ataclues qtle parecem ser destinados ao Carcle¿iì lVolsel''
Estes pocierr ser et-ìteÌldicios cle ntodo mais geral, colllo ataques à hierarquia
cla lgreja. acusacla de ignorância. corrr-rpção, espírito mercenhrio e luxúr'ia.
I O HLuntLni,çtnr¡
livros e tÌ]alllls-
Glo¡cestet, irmão de He¡rique v n¿r compr¿l de numerosos
Aristóteles e
critos, oncle sc incluiam jír as melhores traciLlções de Platão,
Plutarco, ¿r totalid¿rcie cios textos conheciclos cle Tito Lívio,
as obr¿is n-i¿ris
moder-
imporlantes cle Cícero. e ttm gr¿ncle nún-iero cle tr¿rt¿rdos hum¿rnist¿rs
,-ror, q'-r. incluiam Petr¿u'c¿r. entle olltfos, O lacto de
o Dttqr'te Hurnphrey ter
entre 1439 e 1444
cloado perto cle trezentos livros à Llriivelsiclacie de Oxfbrd
contribuiu, ei-n n-iuito. para a clivulgação do pensetmento hunranista.
.fanibém finals clo século XV alguns hutnanistas itali¿rnos começaram
a
err-i
clifr-rndiram a
ensinar nas universidacies de oxforcl e cle C¿rmbLidge, onde
ttnt
cultura do Renascinlento italiano. Etrl brevc colllcclrilt a t'e-Qistar-se
n-iovimento em seniido contrírrio, or-r seja cle l¡glaterla p¿ìra
ltália, oncle oS
interessaclos nos .rr¿r¿ll a lttuntutitr¿Iis encontl'avat.ìl o
t]leio p|opício ao sell
clesenvolvimento. Algr,rns c1e1es irian-i clesernpenhar papéis
flllcrais no pro-
cesso cla Reforma em Inglate|ra. como veremos. Thom¿ls
I-inacre (c' 1460-
l'ormar-se el¡
-1525) é urn clos prirr-reiros a viai¿ìr para ltália. onde pretetrdia
meciicina,Mas em breve seria secluziclo pelo estuclo clo Grego e das humani-
activiclacle entl'e ¿is duas
cjades. continuando ao longo cla vicla. a dividir ¿i slta
jovens cla Linivelsidade
áres. l,{;,i úrltirna clécacl¿r do sécr-rlo xV um grllpo cle
cle Oxforcl começolì a emprencler um conjutrto cl¿t deslocações pelas ttniver-
srdacles italianas. Os expoentes mais importantes for¿im
l{illiam Grocyn
(c. 1449-1519). o seu amigolvilliam Latimer (c. 1460-1545) eJohn colet
(c. 1467-1519). Os trôs regfessar¿ìm depois a oxford. onde Grocyn leccio-
nou. errì 1ri9 1 , a primeira cacleira de Grego. onde Latirner
foi nume ado ttLtor
perante toda a
par¿l ¿ls humaniclades logo ä segr.tir, e onde colet proferii:,
comunicl¿rcle unir,ersitári¿r, um¿i célebLe série cle 1ições ou conferêllcias sobre
as Rpístolas de São P¿rn1o.
Valla, ent ltália, olt de Guillaume Buclé, em Fränça, o impacto dos tr'¿iba-
lhos ciestes âLltores fèz-se. sem dúr,tda, sentir, o que i¡udarír a enquadrar
algumas nov¿ìs atttr,rcles f¿rce às leis, ¿io Estaclo e à Igreja. qlte se prcst-ticil.tltt
no pfocesso cla Reflorm¿i. Segr,rinclo o método de anírlisc de texto clue bus-
c¿rva eluciclar O selt signil'tcado il partir do clriginal. em vez cio métoclo
escolástico, clue olèrecia uni¿i série cle conientários aos comentários ante-
riormente feitos. os juristas do Renascimento eviclenciam utla atitucle nor'¿t
relativ¿rmente ¿ìs srias fonies: consider¿ucnl os te xtos antigos col-llo textos
apenas. sr-¡eitos a crítica e a anhlise, e não fontes cie princípitls ttlcontesiá-
veis e ìn'rutáveis.
Mas o c¿lmpo cle inoi'ação mais ¡rrofícuo no quadro c1o Ìrltt-t-l¿tttismo inglês loi
a aplicação clas novas técnicas filológicas ¿ro estudo da llíblia. o quc rcclr.tct'ìit
LuÌ-ìa nova ¿rtitucle f¿ice ao comentíuio e e xe,qe se tríblicos. O método cscolástico
É itnportut-rte me ncionar que a imprensa. r'ecérn lnventacla, irta ter r,rnt papel
clecisivo na clivulgação das llov¿rs icieias, t¿il como os htttt¿tttistas rapicla-
mente perceberam. Logo acl pr-rblicar o manuscrito cle Valla, Et'asnro apro-
veiton a oportr-rnidade pala ihe acrescent¿ìr uma introclução, em qtte subli-
nhava a importância cias humaniclades conro slrpor[e da teologiar. e insistia
em qlle a traclr-rção clas Escritur¿rs clevi¡r ser t¿rrefa para o gramírtrco. Os estu-
clos bíblicos de Erasmo culminat'arn. eln l5 16, conl a pr-iblicaçao da stla e cli-
ção do Novo Testatnento -gtego, betn cono uma traclucão para latinl, oncle oS
erros cla Vul-eata loranr corrigìclos pela prirneit'l vez. Também nltnl texto
introdutório. Erasno exorta toda a gentt: a lel as E,scrituras. e a cluc elas
sejam tr¿icluziclas eni tod¿ìs as línguas,
As af iniciacles cie l-utclo coul os Flumanistas 1'at'ão conì qLle cstcs sc ¡itltrurl
lirrtenlente atraíclos pelas suas teses. Em nluitos cesos. pttt'éni. lttrllt 1ll'itticit'û
ntanifestação cle entusihstica aclesão ao ataclue cle L,lttero i\ r'etncia cle rndnl-
-
gências, ern 1517, seria seguicln por alguma hesitação. William lvndale
(c. 1495-1536) é o m¿tis l'amoso exemplo, ern Inglaterr¿i. cleste coillport¿-t-
rnento <1e ätracção se-euida de hesitação. Os estuclos hum¿inist¿rs de Tyndale,
pros.seguidos em Cambriclge . levaram-no a estudar a lunclo o hebraico. berr-l
conlo o latirn e o grego. As suas convicções luteran¿rs ficaranr cl¿rtanente
express¿ìs no texto The Obeclie.nce oJ u Cltri.çtiun Man,ptrLthc¿rclo em inglôs.
em Inglate rra, enl I 528 e cle pois, erri 153 1 . na sua respost¿ì à crítica de Thomas
VIo¡e aos ref'orm¿rclores. enì Attsx'er Ío Sit'l-lrctnttts Mt¡re's DialrtgtLc. Mas o
contributo mäis impor^tante de Tyndale para ¿r Reforma ernl Inglaterrä l'oi,
serl clúvicia. ¿ì su¿ì traclLrção para inglôs do Novo Teslamento. itllpt'cssli ctli
1525, e a traclução clo Pentàteuco, ciirect¿ultut{r do hebraico para inglôs.
Mas o pensanlento cle Luiero, rto que dizia respeito à autoriclade juris-
dicional cia Xgreja. tinha tarnbén.i fündamentos na lclade Média e, em lalga
meclic1a. na acção c'le pensadores britânicos. Lutero considerav¿r ei lgre.1:i uma
cortgregutio.fideliunr, ott scja. Lttlllì consregação cie fieis sobre a qual o Pzrpa
não cleveria excrcer clualcluer papel cle cobrançä de impostos oi.t exercício de
autoricl¿rcle iegal, agindo ¿itravés da iei canónic¿t e imponclo unl sistema clt:
tribunais eclesiíisticos sobt'e os tribr-rnaìs cii'is.
O conce ito clc cluc o Papaclo é urna rnonalquiä absoluta cotneçoì,1 tatubéi-n a
ser contest¿lclo na Iclacle N,{éclia e . cle nor,o. observ¿mos itnl papel ¡rreponde-
riìnte. n¿ì forinação cla oprnião na ópocit. poi pârtLr cle unt pe nsaclor c1e oli-uem
britânica. William of Ockhanx. como r\larsiglio de []ádu¿r. conte stolr o pocler
i
i':
i ì.'l
ì.] ìì
ìlr:
¿rbsoluto do Papa. e defendeu a separação dos pocleres espirituale temporal.
O seu trat¿rdo The Pr¡çer oJ' Entperors turcl Po¡tes acentuara já estas duas
ideias, inclicanclo que a ntonarquìt papal cleveria ser constitucional, e não
¿rbsoluta, depende nclo da acção do Papa em benefício dos fiéis. e que o Papa
deveria assunìr ¿ìpenas um poder espiritiral, p¿ìrÍì olienttciìo
daqr"reies e para a salvação das suas almas.
Na opinrão cle Anthony Kenny. Thomas More merece urì lugar nzr históri¿t
eni prit-nert-o lttgar, pot ter escrito um clássico enl latim, Uto¡titt, qve
continu¿i. agora como antr: s. a ser atnPlamente liclo:
ern seglìndo lllgar. porque. na slr¿ì vida. estabeleceu um padrão de
sânticl¿ìcie. sabedoria e serviço púrblico que contirìua a fascln¿ìl'escri-
tores e historiadores clas niais v¿ìriaclas convicções, e qlle contribuilÌ
para ¿ì caracteriz¿ì.cão daquilo ¿ì que os ingleses ch¿ìn]¿ìm o Engli.slt
c'JtctrcLcÍer'.
por úrllinlo, os selrs textos eili inglês oclrp¿rnl urÌl lug¿rr si,enificativo
na história da língua inglesa e na su¿ì lrteratula de devoção e cor.ìtro
i Ånthon¡ Kcnn.r. 199-ì vérsia7.
<l-hontts \'lorc" in /ì¿¡r¿li.ç
sirrica 77rlr,{e r'.r. p. 20!).
I)e eiltre estas três razões a prin"ìeira terá, talvez. nl¿ìior intel'esse para o ana-
lista da clrltura e sociediÌde rnglesas. visto qLre UtopitL of'erce a possibilidacle
de urn riquíssinio leque de interpret¿ìções sobre a época em que o seu autor
vive Lr. bem como sobre ¿ìs tendências clo pensamenio nas áreas da filosof ia e
leologia. cia constilr-rição cla socieclacle e clos princípios cla economia, dos
funclamentos políticos clo est¿iclo, de c:onceitos de ciência e cie
razão. cle felicidade e pr¿ìgnatismo. sotrre Lrm sern núnlel'o cle olltr¿ìs temáticas.
cot-ìlo ¿ì guctra. a eclucação. ¿ì ofg¡ìiliz¿ìção da farnília. etc.
Alguns aspectos d¿r vid¿i de N4ore ilustram cic modo significativo o períoclo
em qlre viveu. O seu comportamento no processo cla Reforila henncluina
represent¿ì ao nleslTìo tempo a lealdade aos valores e princípios do catoli-
ìi
tl. cisnlo e ¿ì natlrreza ainda imprecisa clas mudanças operadas nesta primeira
]ji
:i: fase d¿r Reform¿r. A atitr:c1e perante a adversidade pern'ianece. aind¿r
)r i
hoje, como exL:mplo cle sangue fì'io e sentido de hunlor peculianrente britâni-
cos. Antes de tr¿rtar especificarnente cle LIto¡ti.u rÌlencioniìl'cnlos os
aspectos cla vicla e cla obra cle More cìue melllor contribllern para iiustr¿rr
os pontos ¿rtrás lefèridos olr qlle têrl aigr-rma relação com aqnelä obra.
' ¡\ drta dù niìseinìcnt0 dc Thomas N4ore nasceu por volta cle l4ll oLr 1478. no reinado cle EdLrarclo IVs.
\lore ú irrprecisa Sobre ela
diz lrtr-nanclo clc Nlclir¡ \loscl
C)s irrimeiros ¿rnos cla sua r¡icla são conternporâneos rlos últrilos anos clas
"O-r cspccialistas ruro chc,ga' Guerras clas Rosrs. que Mote viria a tratar. trint¿i anos depois, n¿r sua biogra-
rarn a l¡orilit (lr{luÌ10 iìo itnil
.rrn []Lrr Ì\'lore na:rceu. i'ia cle Ricai do III. A juventr-ide cle More decorreria sob o reinaclo de Hcnric¡-re
Ccnr¿in \lric hardoLrr prc- VII. o prinieiro rei da clinastia TLrclor, que comecaria a desenvolver ¿ì concen-
fclc- conr trons trgtrnlcnlos.
I1l .i tl. L:niirt.t ¿it '[ itutttts
traçãro cle poclelcs a qur. mais tarLle . se cham¿iria ci absolutìsrrio Tuclor'. More
,L/¿rr r. P¿ris. l9ó1. pp. -i-l--l I l. passoll Llrna parte da sua inlância conro pagLrnl enl casa do Arcebispo cle
nl¿ì,\ x ttrì(l¡neiit lcral c parl
con-ridcnu l-llii corlo o lnais
Cantelbury. John ÌWorton, nunl pl'ocesso eclucativo usllal na época. IJtct¡tiu
plor lri'c1.,' '1 ltt,t¡tu.¡ llt¡n ¡ t'.r irá conte r rel'erôncìas a ùste prríoilo. como se ve rá. Estuclor: clepois e nl Oxl'orcl.
Ca¡¡ti¡tittt: ,.lt Peì Í{;tLãt)
\tga. !S2.
onde esteve ulenos cle clois anos. c que não lhe deixou sauclacles. nenl quaÌltc)
Ílut¡:Lt¡tu- [-ishLra: I
I lt) iì r,icla estuclantil rìen'ì clLrÍu'ìto ao conteúclo clas n'ìntérias leccìonaclas, sobre-
ì5(r
tuclo a lógica. A seguir, por iniciativ¿r do pai. que clesejava qlle o filho o
sc_euisse na carreira ci¿rs leis. entrou par¿ì os ltms r¡f Cottt't e foi adnliticlo en-t
Lincol's Inn ent 1496. obtenclo o seu cliplomade advocaciaem i502. Ìrleste
períoclo estudou latirn clássico. qlle rapidamente dominou tão bem qr're l'oi
conr,ícl¿tclo a leccionar uÌn cLìfs0 sobre A Ciducle tle I)eus de Santo Agosti-
nho. na igreja de que era Piiot' William Grocyn. um clos polrcos sclrc.¡lurs
ingle ses c1r:e sabia grcgo. Em 1501 Grocyn conleçoll ¿l L-llsinar grego a N4oi'e.
que depressa se lotnoll tambéni conhecedor dessa língr-iit.
valor d¿is <lett'as hunranasr, - dos clássicos gregos e laiinos' Ern 1499 More
conhecera lìrasmo cle Roterdão, então enl visita a Inglaterra, e clesde aí
ficaratn amigos, tenclo Erasrno visitado More freqr"rentenlente depois do cas¿r-
nlento cleste, e tendo-lhe cleclic¿rdo. em i511, como ¿rcima se referiu' o Elc¡-
gio dcL LoLtcuru. Este títr-rlo, ern latim F,nconiutn Moritte, esconde uill troca-
dilho, er-n que o norrìe cle More aclqr-rire o dr-rplo senticlo de <lotlcura* (trtoriu)
ou cle clesignação cla pessoa. Est¿r <loucnr¿ì>. qlle Er¿ismo reconhecia no sell
arnigo, é o conjunto do sentrdo de hnmor e cl¿t siinultânea seriedacie próprias
cla personaiiclade cie More.
M¿is N4ore, que se disttngr-rira descle cedo pe lo tom humorístico dos epi-sramas
que escrevia e cias conve rslls qtte mitntinha. tinh¿i, aO mesmo tempo. tracos
cle ascetismo qr-re discret¿ìmente escondia. Depois de se ter sentido inclinado
a seguir a carreira sacelclotal. tn¿ìs ter decidido ¿ìutes casar. More tlanteve ao
longo da vicla práticas cie ¿rustericlade monásticäs, r:s¿lnclo, por exemplo, uma
camisa cle ctin¿t por baixo da roupit, qr-re lhe feria a pele. Segunclo o setl
biógraf o, Wrlli¿rrn Roper. cas¿rclo com Margat'et. a sLÌ¿ì filha mais velha. ape-
nas esta conhecia esse hábito, pof ser a elä que o pai peclia que. em segredo,
lhe iavasse a refericla peça. Segundo Roper. More praticava também a iÌLlto-
llagelação. à imagent cios procedimentos da mais rigorosa ordem re ligiosa, a
clos monjes cartuchos cle l.onclres.
lrJo ntesmo ano em ciLle casoLt.Mole foi eleito nletnbro cio Parl¿imento, caindo
no clesagraclo clo rei. cntão aincla Henric¡r-re Vll. por ter denunctaclo o qtle
co¡siclerou st3r urn linanciarnento excessivo ¡rretencliclo peio lei. Enl lesttltado
cla sua intervcnção, o Parlarrento ¿tl]rovoLl nlenos de nlttacle cl¿t som¿t
r
Escreveu. neste período em inglês e em l¿itim. entre olrtras coisas, um¿ì tra-
ciução cla vida de Pico clella Mirandola. humanist¿r l'lorentino. traduzi¡clo
também para inglês alguns dos textos cle Pico. Nestes ¿uros escreveu ainda a
vida de Ricarclo III. ern cluas versões simultane¿ìmente. em inglês e ein latiin.
que ficaraim incompletas e forain publicadas ¿ìpen¿ìs postlrm¿ìmente.
More foi. além cltsso, elertolliglz Stev,urtlda Universidade cle Oxford, r,indo
A ent'olvet-se elr polémica contra os sectores mais conservadores da Lini-
versiclade. que viant com grande desconfiança os novos estudos de humaili-
dacles que More favorecia. Em 15 18 nma carta cle Nlore à Llniversidade de-
fendia o estudo do grego. bem como clo l-rebreu e do latirn. que considerava
indispensár,eis para o inelhor conhecimento das Escritulas, e para un-ìa pre-
par:ição adeqr:ada a uûta vida virtuosa.
o ano de i 5 1 5 foi de virageni na vid¿r de lt4ore. Foi nomeado pelo rei pzu'a a
sua primeìra missão importante: com Tunstall foi enviado ¿ì Fianclrrs para
ne-{ociar a interpretação cie algr,rns tratados de Henrique VII sobre o comér-
cio da lã. Erasmo der-r-1hes c¿ìrtas de aprcsentacão a Feter Gilles. ¿rlto fr-rn-
cionário público de Antuérpia. As ne-eociaçõcs prolongaraûr-se ao lon-eo cle
alguns meses. que N4ore aproveitor-r p¿ìrî escre\¡er o livro II de L/topia. Após
o regresso a In_slaterra escre\¡eLt o Livro I, onde ponclerava os prós e os con-
tras cla aceitação de sen,iços públicos nas ntonalquins.
então sob as orciens directas cle Wolsev. clìie controlava o Conselho. mas
passava a ntaior palte do tempo n¿ì c¿ìsa real. que fì'ecluentemente se desloc¿rva
pelo país. Henrique VIII charnava ÌVlore freque nternente. p¿ìr¿Ì com ele cliscutit:
¿istronomia. geometrìa. teologia ou ¿ìsslrntos clo estado. Por volta de 1522 ou
1523 N'lore e a farnília muclar¿im-se para a quinta de Che lsea. recebenclo. e in
i626 a r,isita do pintor FIans F{olbein. a quem forarr encoûlendadas um¿r
série de retr¿ìtos individuais e um retrato cle grupo familiar. Embora o retr¿ìto
de -erupo só tenlia sobreviviclo eni cópras. é hoje conhecido por rnilhoes cle
pessoas.
A f'rn-t cie atingir r,trn público ntais extenso clo qr-re o dos scl¡r-¡1ír.!'. utn público
qr-re. afirraljli tinha lido a velsãro inglesa do Novof'est¿tûrento.Tr:nstallpeclir-r
a Mole que escrevesse etn inglôs. A Diulrtgue Conce.ntirtg Heresies lol entãro
publicado ern 1529 e de nor,o. coin algumas revisões, em 1531. Aclefesada
ortodoxi¿i ernpreenclida por More não se limitou ¿ì escrit¿t, mas foi tatnbém
aplicacla nas suas fr"rnçõe s pírblicas, como juiz e depois col-t-ìo Chanceler, já
qlle. enl 1527, foi nomeado para sr-rbstituir Wolsey nesse c¿ìrgo.
A paitir de 1529 a vicla de More ficou c¿ida vez inais envolvida no processo
do c1ir,órcio cio rei, e na série de mecliclas de política intern¿r e externa dele
decorle ntes, Lul llrocesso do qr,ral lVlore sempre se quisera miìnter
:rfastaclo.Como Chanceler do Reino cabra-lhe presidir à Câmara dos Pares,
logo participar n¿ìs sessões parl:rme ntares qLte , ¿l partir de 1529. começaraill
a legislar no senticlo da Reform¿i. Err-r 1 529 o ReÍ'ot-n'tcttiott Purlicntetú recluzitt
os pri.,'ilégios do clero. em 1530 l{enriqr,re VIil obrigou o clero a l'econhecê-
1o conro onh, Suprente Heud oJ' the Ðrylish C|uu'ch. ern 1531 cor.rbe ¿r More
o clever de apresentar ao Parl¿rÌllento o p¿lrecer sobre o divórcio que o rei
solicitara às Untversidacles, e qr,re llre er¿r fl¿ivorár,el. Eur 1532 o rei exercett
novas pressões sobre o clero, no sentido cle lhe ser submetida toda ¿r futur¿r
le_eislação clelical produztcla pela Hctuse of'Crnn,{tc:tLliort, a que. depois de
ztl_eurna reststênci¿t o clero acaboi-t por acecler. No clia seguinte, 15 de N4aio
de 1532, More entregolr ¿ro Le i a su¿t clemissito, perciendo, ¿ìo mesmo tempo,
¿ìs su¿ìs fontes de renclinento. Aléni de ter de viver. com a fanlília, nuilla
situaçi1o cle pobreza, More foi ainda r'ítinra de prclcessos em que et'a acusado
cle ter recebiclo subornos no decurso da sua actividacle como jLriz.
A partir cle então, elnbclr¿i af'astaclo clos centros cle clecisão, À4ore não deixclr-t
cle ser pressionaclo pelo rei, fieqlte ntemente atravós cia presença directn de
'I'homas Cromrvell, no Senticlo cle ¿rceitar, publican-ieille, as rnediclas que,
pollco a pollco, erarr pronìLrlgaclas, visando o reconhecimctito c1a nuliclacle
clo c¿rs¿rmento do rei com Catarinha de r\ragão. a legitirniciade cio casatllento
com.Ana Bolena. a ilcgitimidacle da princesa Mary e o direito sLtcessório da
princesa Isabel^ entretailto n¿rscicla clo cas¿rt-ne uto com Ana Bolen¿r.
Corrio ¡rosteriorntente St: verá. toclo o processo pessoal cle I{enrique \¡III
e st¿ìva inclissociave ln-iente ligaclo a Llm complero pl'ocesso político c reli-
Papa. Qunndo, en"t
gioso, onde estava em jogo, sobreludo, ¿r autoriclade clo
a sucessão ¿'¡
1534, o Parl¿rmento legislor-r no senticlo cle ser recotlirecida
tfono na clescenclência cle Ana Bolena. e obrigou ¿ì qLre o reconhecimento
losse fèito por jLtrantento itrciii,iclttal, More recusoll.
A recus¿i baseav¿r-se não
a aceitar, mas sinr
no reconhecimento d¿r sucessãio, que More est¿ìva ciisposto
cotrr Catarina
no conconit¿rnte reconhecinlento da nuliciaiie clo cirs¿rmetlto
já que nenhtttn Papa
de Aragão qlre. piÌra More. cor-rtinu¿rv¿r váliclo e sagr:rdo,
o tinha pronntrciado nltlo.
Com o Car-
O encarcer'¿ìmento c1e N{ore. resultante clesta rccusl..jttntatncllte
deal Fisher. na Torre cie L,onclres. teve lugar em Abril do
mesmo allo'
de interroga-
A execução cie More teria lugar em Jttnho cle 1535. zrpós meses
legislação' decor-
tórios e pressões, aunìellttdas aincla pelos efeitos de nov¿i
reunido em Novem-
rente cla sessão parlatmentat do Ref'ornttLtiott Prn'liutttcttt
Lln-ì lloyo
bro c1e 1534: o Act ofSu¡tremctt:t, um segtlndo Ac:t of succe,s.sitttt.
ptrssatcios clirect¿rmente
A6t o.f Ti'ecLsotts e fin¿ilmente os Acl5 rtl Attuincler',
que haviam recusädo o
contr¿i More. Fisher e cinco outros membros do cle ro
Li niais
jrrran-iento. Dnr¿inte o períclclo em que esteve prescl More escl'evcu
Tribulutirnu
populn, das suas obras de de voção, Dinlogue o.f conlfort agctìrt'st
un-ra ,-nectitação sobre a perspectiva de uma n-iorte
com sofrimento'
conhcceciot'clas
orige m pgrtlrguesa, travegaclor clas sete parlictas clo munclo'
realicl¿Lcies hlLtranas e clas políticas cL¡s est¿rdos' N4ore e Gilles sltt'r aprcsentä-
:-!
I
I
I
.j
i
I
t;
se aplica à iiha
A palavra <<utopia>>, qr-re ciá o títr-rlo à obra e, simultanealnente
do grego o¡.¿. que significa
clescrita por Rafael, fài cr_rnhacla por More, a partir
<<não> e to[)os, qLre significa t<lugar>>' <Utopia"
significa' pois' <tnenhum
(Jtopitt são cunhaclos taÍllbém a partir
iu-eaL>. Outros termos utilizados ern
cle r¿riz grega, coïl1o é o nome cle HitlocleLr, ou
de lugares na ilha d¿r Lltopia'
têm significados
como a capitaì Am¿rurot¿r, ou o rio, Aniclro. Estes nomes
coln a língua grega'
itriecliatane nte perceptíveis para os leitores f¿rmiliarizaclos
, Contê'r urn¿r boa dose de
mas coinp letame nte ìi-nperceptíveis par¿ì os outros
Anidro significa
ironìa. ¡á que significam o contrário clo que repfeseniam:
de h-tthlos'
,.sem água> e Amaurot¿ì (tornar escuro>). Hitlodeu compõe-se
<saber>>
<palavras ocas>> ou .,disparartes)> e clctios ov tlctiein, respectivamente
esct'ito e ni iatim. a fim de
ot, ..esperteza> e <distriburrrr. o f¿rcto de Moi'e ter
que esper¿ìva
I limitarl o ser-r púrblico apenas aos tnais cultos, poderá inciicar
t clas propost¿rs nele
que as ironias clo texto forr"ro percebiclas, e que a leitura
contidas fosse quaiific¿rcla, e não ¿icette literalmente '
entendido como
o texto pocle ser. licto sob múrltiplos pontos de I'ista' Pode ser
obra iiterá¡a que usa os recursos d¿i narrativa cientro
da narrativa - o rel¿ito
clo llvl.o segunclo inscreve-se no diálogo começado
no livro prin-ieiro: ott
irliciador de
colllo livro cle viagens inscrito na tradição ocidental' ou coTno
Ltlrì r.ìovo subgénero narrativo e cle ficção - a utopia' com florescimento no-
Fertiando
litel'atura inglesit posterior. Quanto à análise do conteúclo'
tár,e I na
nestes termos:
de Mello Moser resume as ciifèrerltes possibilidacles
a uma
Em cletermin¿rclo scnticlo , a Lltopia não é susceptír'el de redução
leitr-rraunívoca.porseraquiloaquemodernail-ìelltesedeuotromede
<obr.¿r aberta>. facto insuficientemente recordado
por inuitos dos seus
Treìta-Se de unra obra que, embora atraente à
prinreira lei-
conentaclores.
tr-rra.exigeaponderaçaodenunrerososporn,ìenoles.emsit-nesnrosepelo
elettoquereciprocamenteexercem,influinclonoconjunto:umaobracon-
que possuítt Lìma expe-
cebrcla por Llmescritor cle eruclicão sólida e variada,
atellta à col]]-
riência rruitO rica ci¿i Vicla e clos hometls. e um¿ì inteligência
cle comentários diversos, contraditórios nas
ênfases'
plexiclacle. Da leitura
qrtanclonãonainterpretaçaoglobal.resultaasensaçãocleqr'reconsttuil.am
yiliiias c sr-tgcstivas' llllts qtlÙ
outt'as iatltits ¿tpro\irltltçòt's. ttlltis ort lllcllos ì" Fernando dc
ìo Ñle llo l\'loscr.
não esgotarm a matéri¿l o¡ r:it., p. 68,
pontos especilica-
Da v¿rriedacle de Ìeitr-rras possíveis itlteress¿rm-nos alguns
rÌìente. cle que s¿ilientarerilos o conteúrclo político
do texto e a visão de uma
sociecl¿rcle igualitíi¡ra clescrita no Livro II. Muitos
outros aspectos convicialn
¿t L¡lt CotrentáriO, Senclo que algunS
deles se erìContranl menciclnaclos nOLl-
eucontr¿u-n-se lliterliga-
tfos piìSsos deste luanual. Os clois aspectos relericlos
rio texto de Uropict. que frequenieniente oJ'erece" no J-ivro
clo:s ll, respostas
para interrogações deixacl;rs em aberto no Livro [.
C volltme c1e conte ntíirios acilmr-Llacio ao lougo iic sécuios solrrc esta obra cie
Thomas h'ior e proLrlein¡.tiz¿r uma inf inìclacle de aspÐÇtcs. ge lais * e spe cí{'icos.
cla {,ltoltitt. rel'lectinclo Tì'erir.tentenrenle Llnla ce rta naiiipr.ilaçho das icleias cle
fu{ore. qtte se toi'n;r possír,el el*vido ;ì arlbiguidac{c cle que eslss utuii¿s .,,*¿cs
sÐ re\¡estcrlt. em tt1'uros polítrco-ideo,iógrcos, Essa arribiguidacie resicle naE
próprias eslr¿ìtógiiìs c1e ccmunicac;io" impregnacias d* ironia, oncle as opinioes
L r'triti̡ sr' tlir iil'"'ttL
Coirio ¿:.ertni;r ibl inrlicaclo. o tcxto consrste nLirl ciiírlogo iìnr cllìo" na pirm*ila
parte. Thorllas h4orc tr¡,vit conhecini*nto coil Tì¡.fael l{itlodeu. ati"ar,és cle
P*ter Gilies. clesettvolvcncio-se enírÐ os tr-ôs umä convr:fs;l eilì qlre se abor-
clani ie mátlciìs cotllo ;is le i¡ injustas. que c¡ìstisam se m eliminar ¿is c¡rus;rs cl;r
crirninalirìac1e . I gnet'ra * os e xércitos pennanentes. a f'nnçã.o cle conse lheilo
dos pr'íncipes. iLiloniando-sc o m¿lu fìrncionanrcllto clos estaclos europeus.
que ó contraposto :ì outros exemplos. r-ul.c reais olltro$ f ice ion-1i.,.
Sob o ponto de r¡ista cla cloutrina po1ítica clo hr-tnt;rnismo. o texto de fo{orc
ciistingue-se cias posições clefendidas pelos ¿llltores italianos clo c¡ttuttrocettto
em diversos aspecios. O primeir"o serír o da atitucle rel¿rtir'¿lmettte iì guerra,
O humanismo cívico consicler¿r.v;r iì gr-Ìerr¿t uma activid¿ide nobre. que cli:via
ser enc¿rr¿rd'.ì colllo p;irte cios serviços públicos regttlares. h4ore refere. ao
contrário, que os ntopianos tuclo l¿rzem pala rvitar i.ì gt.lcl'uì. c que . qltando ela
é inevitirvel, prel'erent coutratrr os serviços cle mercenái'ios a ter c1e comb¿r-
ter. O cócligo de condnt¿t renascentistiì começara a valclt'izar a eclucação pe-
ias letras e pelas ¿:tnll¿Ìs. e o próprio More tinha ¿rcontpanhado I-IenriclLre VìII
a França-. ¿ì írltrma gr:rnde irianifestação cle rer,iv;rlismo dos icleais c1e c¿rvaia,-
rta" o Field o.l'' tÌte. Clotlt o.f Gold. Porém os utoptanos consider¿rm clesprezíveì
a ideia de giória äclquiricla no c¿ìlnpo de batallia. e prefet'em iluclil oll subor-
¡¿ìr os ser-rs inimigos. e m vez cle thes cl¿r batalh¿1. Þ{a primeiriÌ parle cle Llttt'
¡ttit os exércitos pernliìnentes são relenclos coi-no potenci;ris irctti:rbaclores
cia paz, os soldaclos 0 nlefcenártos como ladrõcs, rlue perícì:t no usc cÌa-S
armas torna ainda mais perigosos.
hum¿rnist¿rs, clue consiste. b¿rsicamente . ein consrclelar ser' legítirno, enl cÐl-
urs situ¿rc-ões, Ltilt coilportiìnlrllto rnor¿rlmente reprecnsível ilas que poclel'á
r,,ir ¡i trazer beilel'ícios para iÌ socie clade. hm (|to¡tiu o conceito cle lListrça e de
concluta moralmenle illepleensír'el é central, c¡"ier se irate cle reis or: pi'ínci-
p*s. ou dos seus conse lheìr'os. A virtude ó" irara More. a únic;t e a verclacleira
nobreza. ir{este tìsFeclo" as icleias cle More s;-lo converçlenl,e s cotli as dos sr:i-ts
conteniporâneos hurnanislas. Por'érn, contrart¡rnc1o ladic¡,lmçnfe o trroclo conlo
estes infeli¿ìnl qlìe ¿rs r,iltuclcs se exllress;ìur melhor e m¿ris frecluentet:r*nì.e
nos estriÌtos su¡:erioi'cs c1a socteclacie . Mor'c iìtilcJ u,Lri-sioe tlcitt c ile nunci¡- cts
r,ícios cle comport¿ìrrenio ciaqr-re lcs que heldaram ü nobreza c a riclr'tcza e não
as conquistaram pelas virtltcles pessoais.
1965. iror' rxzÕLìs dc encontfar prececlentes, n¿ì literatura. de socieclades baseaclas na igualclacle, e
o
acc-ssrbìlldatlc para o ltitot.
A RepLibtic.¿ e A.r Lcis cle Platão for¿rm fontes de inspiração rlencion¿ìdas no
nrrslno clitilio sclli LtsarÌo
piìrâ o colìlcrìtáI1o ¡ 9þ¡¡-s tlc próp¡o tcxto da tJto¡tin. É, tambérr-i, possíYel encontf¿ìr prececlelltes p¿lr¿ì o
orrtros ¡utùlùs. scnlPlc (ltlc icleal cle comuniclacle igLralitária qlre More ¿ìpresenia: as colllllnidacles tnonírs-
rrr ist:ulì cdiçÕ.s rcc-ssír'cis. de
qualidrclc. ticas meclieviLis for¿-ul-ì, sem dú\'1d4, modelos p¿ìra a clescrição da socteclirde
Lrtopiana. No entanto nenhum clestes esgota o poterìcial inov¿rdor e raclical
clas pl-opostas cle More qlte. é importzinte stttrlinhar, clescrevianr a socied¿ìcle
sem classes como clliclaclos¿ìn-ìerìte estrutulacla. (horizontaìmente), ot',9rini-
zacla e feliz. A desordem e o c¿ìos. que os sÐLIS contelnporâneos previalll cluc
se inst¿rlari¿ìtrì. c¿ìso as hierarquias f ossem perturbaclas. existenl apenas na
socieclacle desi-eual e iniusta cla época contempolânea, tal como o alltor a vê'
More enu¡cia cluas r¿ìzões p¿ìta afirmar qlle ltma sociedade estruturada hie-
r¿ìrquic¿ìlllrnte não pode constitur Llnl conutlotttt)eíl¡ft virtuoso. A priûleira é
qlle. enì toclas as hierarqr,rias. são sempfe os piores qLlc gilnham pocler e o
Lts¿ìt't-ì em benel'ício próplio. O segtlndo afgllmento confirma o
prineiro e vai
iltais ìouge: nenhum¿ì socieci¿ìde hierár'quica pocle ser virtuosa. \ isto qlte a
existôncia cle hielarqLrias encoraja o orgulho, que é o pior dos vício.s' E é o
otglrlho qlle está no ceniro de todos os contnlotlr\"eolths, impedincio que
estas socie clades possuiìnl qualqller senticlo de justrça ou de equidacle.
ì,:r
i;t
posto r:tÌl L:topiu ó clcscrito com um porntenol e un-ì¿l lógica que tofnam
r,l:
clifícii, se não mesmo impossír'el, cletectar contradições. E mesmo oS aspec-
r'rtopiana
toS menos atr¿ìenteS oll ûlaiS impi'ováveis da organizaçao soci¿rl
tên-i uma tazão de sef, Ltma explicação plar"rsível e ractonai.
contem-
Enquanto o Li,,,ro I cliagnostic¿t os m¿rles que afligem as socieciades
porãn*r,r, e cleb¿rte a crirninaliciade, a pobreza. a injustiça. a crr"teldacle
d¡l
or-r g1ó-
iahbiliclacle das decisões tomadas por imil-rlsos cle orgulho' ganância
ria, o Livro II clescreve a sociedade perfcita'
A L:topla ó uin¡t ilha. siii-racla erìr pârr,c incert¿r e ressuarcl¿icla rlo cont¿lcto
reglriat-collì otitf¿ì,s civilizaçiles. {) scLr isolarnento prrmite,ihc nr¿Lltl¡,:r int¿ic-
tiìs * scin contalrin;rçãc- as cpr;ilicl*cies cio se¡-l sistema po1ítico" ccotlótl-tico t:
soclal. A organizacã-o poiítie a é sinlple s, de stinancio-se nl;ris a garr tliii' il par-
tiihä cie respons;ltriliclailes cto qu': piopriamenLe decisões estr:atógrcas. As
ciìractetística.s gcrais ctesta socieclacle galantem-lhe tal estahiiiclarli: qu* a
poiític;.r-. l,omc é ho.je er-ile nctrcla. não lem qu;tlqu*r.ceiltido. Tem senticlo sim,
pafa os utopianos. a política no sÐLi serltido c1/rssico, e1e vrd-o" na ¡;olis" or: :i
vicla social partilhada, n¿ts respon:jabilidacies" nos prtl-zeres^ níls actii.'idades
proclutivas. Por isso as cstrutLiras rfixesent¿ìtlvas dos r:topianos. chatnaclas a
tonl¡u as poltcas ciccisões nr:cessá-rias, são enianaçoes i1o nílcleo central da
sociedacle " ;r farníli4.
O tr;rbalho é a fonte riciueza da l-ltopi¿i, cujos rectilsos n¡.iurais não sãc cspe-
ciallnente gÐíìetosos. mas qufl a sociedaci* foi ca-paz de torn;rr e xlrçnr¿me nt¿
pi'oclut.ir,,os, através de um sistem¡. enl rlue todos trabalhalr: na agrieLtltLila
ltor Lrll períoclo f ixo de tenìpo. podeiiclo clei:ois riecltcai-se iì outl¿ì.s actìr,'ida-
des proclr-rtivas. Deste nroclo não i;oderit st-rt'gii nenirui-ir;r eliferenciaçã.o cle
claSSCS, nCm pOciet'itt Sttit:iL '',lri'asilrLs :;OeiaiS. I-Jrria Sér're de cO:,tumes
utopianos re f'orça a idel;r ci* igr-raìilaciÐ. comû n vestuiliio, l-ocio igr:alr: lrera-
meiile funcional. seüì ornamentos. o cumpliinenio cle horírrìos lclênticos ou
pfrcllrsos educacionais senlelira¡it*s. Atravós ciest*s ': clç oi-lttos costlìmes.
os r;topianos nãio são cxpÐstos às lrirtações que clestroetrl ¡. ,,'irtr-lde nas socieeJi:"-
des ocidi:ntiils,
When Raphael haclfinishecl hrs story, i tvas lelt thinking that quite a felr,of
the l¿rli,s and customs he had described as existing ¿ìmon-q the Utopians
u,ele re¿rlly absurd. These includecl tlieir metliods of rva-eing rvet, tlieir
religioLrs practices, as r.vell ¿rs other.s o1'their custonrs: but my chief cltrjection
u,as to the basis of their- rvhole system. that is. their commnnal livin-e ancl
tlieir moneyless econonry. This one thing alone subvelts all nobility,
rnagnificence. splenclour and mi¡esty rvhich (in the popular vierv) are the
trlìe onlaments ancl -ulory ol any comnlonrvealth.,. lV{eantime. rvhile I can
harclly a-eree rvith everything hc said (though he is a rran of unquestronable
learning and enormous experience clf hnrlan aff'aiis). yet I freell,confess
...!
. I
I
:
that in thc Utopian comn-ìOl.ìwe¿ìlth there are lrriìlly lèatures ihat in our owll
socie ties I rvoulcl like rather than expect to see (pp.l i0- I 1 1)'
Os ciois pontos cie vist¿r finais da Utrtpitt contribuem para um convite à lei-
tura clo texto corno <obt';i abert¿i>>, collìoiá foi referido' A ironia e o humor
não tomam, no entanto. nlenos séricts os pioblell-ìas de orgatrização social
levantaclos no texto. nl¿ts tofl-ì¿tm o texto scguli.ìlllelltc lllais iltlaente. Se, em
algu¡s aspectos cle portnenor, o hllnlor lliofi¿ìÌ'ìo poclerá ter exageratlo as
cte Srvift ou ittsrtn CrLrsr¡e de Ðefoe. no século XVIil' The lclett ctf' a
Rol
Per-fect Cr¡nunortvt'ettlth de David }Iume. texto tanlbém setecentista é outro
exernplo de utopiä. esta solrclarnente ancoracl¿i nas próprias ilhas Britânicas
e sem o atractivo d¿r narratiYa ficcional.
ertnâ L
ûrrvell. clenúnci¿r angustiante cla socieclacle comunista. O culttvo da r-rtopia
na liter¿itttrü aconlpanha, pois, as lclc'ologias c os PCI'ctlrsos da própria cul-
tura inglesa. como pontuallìlente se verá'
2.5 ,4" lRefor¡aaa fuema"iqxåmn"
'fhonlas
Embor;r oS pontos aciilla tratados. com îÐlefôncia ospecífica ¡ 5ir
fu{ore e a {/topicL, ¡0s tenhanr obrìgitdo a inrlncionaf alguns dos f;lctos cla
Relorina h*ngqgina, ìnrpÕem-se ainda illgun.ì;ìs ccltsiclclûÇões inclisp*nsá.-
Ycis rtllr;r rslcs rrcunlct'irilcl¡ios.
iìenrique Vl{I peLdera ¡- esper¿ìÌtça rle vir 0 ter Lirn helclctro rrasculiilo. l}o
â pfiìl-
seu c¿ìs:ìlne nto col1l Catarina i1*Aragão sobrevivera apÛíìas LlÌllâ filha'
cesa Þ,ilaty. Em 1527 o lei parecìiì âilsioso por c¿ìsar cotr-t A'1la Ilole n;:', prtÇi
Sando pata ïanto de se. dl.,'orciar cle Cataritl¿^ i)J"l ;l o qtlc "lpfesentÛu o selì
caso ¿lo papa Clerlente Vi{. lJrn conjr:nto cl-e circutlstâncias clesi'avorár'eis ¿r
F{enriqr"le VI{l em Roma tùriioli iritpossível o consentìmento clo Fapa. Ërn
1529 o re i ç:o¡'iYocori o ï)iìrl;ìme nlo c Ðncor¿ìJoll os Seus n-ìgllltlro''i a expfessar
os.qelrs sentiineittos anticlerícats, Ðntre 15?.9 e 1532, o cham;rciollei'ortnttliot't
Pctrlicu¡tenf reltniu clll quÌtro scbsòc\. com trêS objectivos Cliìfos: relinìr oS
leígos em apoio sólldo ao rei, illtimiclaL o clero e ievír-lo a ceclet'às exigôir-
cias clo Farlamentc, e coilseguir ä anuência d-o Papa pala ¿l atrillação do casa-
menlo do reì,
pp. J l5--127.
anteeeclicla por Llm célebrc pteâllbri1o, cla auloria- i1e'1'honils Cl'omtve1i,
onde
se cleclarava qlìe o rein'¡ de l;rglaieiri;. er¿l LÌTTl lrlpr3rio, governaclo
por um
clrefe sr-ipreûlo" {ilie detiilha ,rplertttt'1', wlnl* oncl en{ire po\,ver^>>' Os cLreìtoS
imperiais rlo rei serão cie rnolcle a que e1e adininistre a jr-rstiça em assuntos
r''. O le i pass;ì, assítl, a ser chef e c1a igrej a. Para poder- r5 Skinnq:t. o7r. r'it., vol. II
te mporais * e sptritur;ris
p. E6.
mos *ntencler melhor o gesto rÐvolllciûníì,rio que ittforrn¿r esta illedida' tcrÐ
mos .p1,J o enquadurr tan-il¡ém nos princípios teórícos clas cloutrinas político-
-r ciieio:irs illr jpocit.
Entre os histol'iaclores qtlc. hoje em dia, estudatn este período. está abelto o
clebate Sobre a n¿iturez¿'t d¿i Reforma, senclo de regtstar duas tendências cle
análise pleclominantes. Um¿i defende que se lratou de um moviinento ainda
<medieval>>. em qlte as meciidas ton-iadas nas primelras décadas do sécuio
XVI apenas prolongaram e conl'irmaram tendências de pensalne nto e acções
vinclas cle tríis, que se tracluziam nunl movintento inexorável en-i direcção tt
unra Igreja n¿icional. e que o Estaclo. em finais cio século XV tinha já grande
controle fle.facto sobre os poderes tradicionais da Igreja. Outra iinha de aníi-
lise ¿rfilma que, pelo contrário. a Reforma foi um movimento revolr¡cioná-
rio, conscientenlente entendiclo colllo tal pelos seus principais protagonis-
tas. G. R. Elton e Quentin Skinner partilham cl¿rr¿rn-iente este pollio de vrsta
e sublinhant a itttenção revoluciorlária de Thomas Cromwell ern, pelo
¡te t-ìos. clois pontos essenci¿ris: a lgreja ern Inglater-ra deixott de ser consicle-
racl¿ì con"io L¡n rall-to cla Igreja Católica, otl seja. univers¿il, e paSSoLl ¿ì Sef
entenciicla conto lgreja de trnglaterra (Chnrch o.t'' hrylcutd)' Ern segundo
lu_uar. o conceito moclerno cle obrigação política relativamet-ìte ao clesempe-
nho cla autortclade secular Surge agora. e só agorä. pela p¡me ira vez.
Os efèitos da extinção das cas¿rs monásticas t-tão se farão sentir tanto ao nível
cla religião ou clo cr-rlto. ou sequer ciäs funções sociais cle apoio aos pobres e
cloentes. mas sobretucio nível da transf'erência cle propriedade perra outras
¿ro
A Reforina teve. também, opositores. pelo rnenos em al_euns clos .seus eslá-
dios de desenvoivimento. À4encionor-i-se acim¿r a oposição cle Sil Thornas
More e do Bispo cle Rochester. John Fisher, à Lei da Sucessão. qr:e thes iri;i
custar a I'icl¿r. A sr:a oposiçãc é. possivelnìente , indicaclora de outr¿rs, nlenos
conhecìcias hoje, cor-t-ro por exemplo ä cle Sir Reginalcl Pole, possivelmente
consicleraci;i na ópoca muito mais perigosa. h{as Reginalel Pole conseguin
autorização para visitar^ ¡r ltiilia, ern 1532. e por lá f icou. erl re latir,;r segur¿ìn-
ça. A mesnla sorte não tiveranl alguns clos seus farnihares. acusaclos de trai-
ção logo a segnir à execução de il4ore c cle Fisher. en 153¿1. e posict ionllenrc
tunlhónr cxt:clltirdos.
iLlLnt. lÌ l(t7
nal dc quc existe uma lei cristir r-iniversal, a que as leis hur-naniis se cleven'r
conlormarr'r A posição ctrc Hlton atribui a More urn cûnservacloi'isrlro c¡ue
Quentin Skinner confirma" qr"lanclo reiere qr.re h4ore esiarí¿i preparaclo pära
reconhÐcer ao Reì no Parlar-nento o dìreito cle ser obedsctdo ntls itssttil'tos
temporais, rnas jailais poderra aceital a subnrissão do clero ai; rci ori o pres-
:ìuposlo de qlie o rei poderia agir sem autorizaçao do Fapa. A esrêncì¿i clo
conseryactrorisnio de þTore c Fish*r ser"ia, assitn, serenl amtros católico.s" ¡ro
pleno sentido da paial,ra,rr. rr
Q. Skinne r', op. cit., vol. ll-
p.93.
Se, por r-rni 1atlo. os ìnclícios clc: oposiçãro l'oranl abafados através cl¿r elimin;i-
çãc clos opositores, por ÐLltro l:ic1o a divulgação cl¿i Ref'ornra lienricprina foi
objecto dr: uma canrp;rnha cl* infonnação sr:m precedentes em Inglatet'ra,
apoiacla jír pela imprens:r. T¡.mlrénl esta caÌnpanlia foi arqr"titectada porThomas
Clon-lrvell, que manclor"r pubtricar cerca de cinquentä livros em defesir clo cis-
n:a henliq',lino. () objectivo prine ipäl clestas publicações eÍa o cle justificar o
c{ir*ito do rei eilt se clivorciar de um c;rso-rnento ilegítimo (o cäs;rmento conl
Cat;lri¡ra de Aragão, pof s{ìf viítva clo príncipe Artur. logo cr"rtth:rclä clo seu
seguirclo rna-ric1o) e em se ctreclarat Che{e Supremo da lgreja cle Ing}aterra.
F,stes lextos, no enianto. escl"r{os em iatiin e sotr a i'ornta cle trat¿rclo" não
pocl-eriart atrngir uni pú-btrico m¿tis l,itslo. Çortlo era dese-jo clc Cromr,vell.
For ú1tìnlo. impot'ta reierit'Lnrr olitIo f*crìfso pL\tt\ r) dlr,ulgação dos princípios
reformacJores. que julgc do maior inte resse: a justii'icação p*la históii¿ cle
actos qlte eram. sem dlivici¿r. inovaclotcs e sub.¡eLsrvos da tracliçã-o. T'ambérn
nestr ¿ìspecto John Bale te I'e grirncle protagontsnlo. tenctro composto algLtn-ias
obr:Ls clç'stinlLtl;rs :ì irfic\cntlu'Lt nli.r.1 trriif icaqi" ltis[ótic:t n;Lt'lL tr cisnllt
l-renriquirro. Segr"rnilo o ScLt ponl.o clc vista existiria clesde mr:lto cedo eni
Inglaterra um:r ge.imina versão apostólica clo clistianismo. e a célebrc misslio
clc S;rnto Agostinho. no século VII" etn vez cle ter reforçädo a lgreja. tinhr
Irlti: iliicilLrlo o lun{rr It{rcii:() tlr tolt tlfÇito t¡u'.'" it\l{)li.l. ii l{rI'tlt'iltlL tcliiL
corngiclo. cle ,,'o1r'e nclo à Tgreja cle inglatcli';.t r.t pLilr'zl pl iltlrtivil.
t-
obedecer ¿ìs novas ieis. Starkey ¿ìcentu¿ìv¿t atnda a noção de chefia da I-eLeja
pelo Rei no Parlarlenfo (the King in Pctrlituttent) e não de cliefia estrita-
mente pessoal. o clue reforçava a noção de legitirriidacle e de consenso.
Aparecem aqui, claramente, tlaços cla l,i¿¿ mecliu anglicana, ttm conlpfomisso
entre o r¿rdicalisrr-io lliterano e o tradicionalismo católico. Esies autores
strblinlram. ¿issim. ¿i icleia cie qr-re a Igreja e o Cotnn'totnv'eaLth são uma e a
rnesma coisa, clo que decorre a legitimidacle das rnedidas reformadot'as e a
tranqLriliclade c1e consciência do cristão ¿ro submeter-se a ess¿ìs meclidas' Mais
iinportürite. t¿rlvez. na óptica de ttma leitltra prosptctiYa da cultura inglesa, é
a constatação cie que os propag¿ìndist¿rs da Reforma henrlqr-rilla conleçaln û
manifestar. ineqr-rivoc¿lïnente. unl espírito n¿icionalista que sr-rblinha a
especif icic'lacle cla Reforma inglesa. os selrs antececlentes excepciollllis nutllLt
traclição cle martiriologia. e a superìoridade do Contnv¡trtvettltltfttce a outl'¿ls
concepções cle estado. Será este. em nosso e ntender, um clos tr¿ìços indicaclo-
res cla constituição do Estado-Nação em Inglaterra.
O processo c1e Reforrla não acabott, l'ìo entanto, no reinado cle Henriqtte
VIII. e os seus clesenvolvìl't-ìentos posteriores, sotrretuclo no reinaclo de Isa-
bel I. seriarn declsivos, qLIe r pala ¿ì conliguração do anglicanismo, qlter par¿l
a cot.ìs01ic1¿ìção c1e um modelo político de acção governativll a qr're
jir pode-
chamar ntoclerno. Quanclo Flenlique VIII norreLl. eûl 1547. suceciett-
r-r-tos
-lhe o seu filho Ecluat'clo, fruto do terceiro c¿ìs¿lmento do rei. com Jane
SevrnouL.
Eclr,rarclo Vi tuteìa cio reino fol assLrmicla pelos tios clo rei. de
era ltrenor. e ¿i
Quanclo Mary subiu ao trono. ern 1553, pfolnoveu uma inflexão sírbita e
Suriça. m¿ls a mesnlil sorte não tiveram Hooper, Latimer, Ridley. Cfanmer,
entfe cerca cle trezentos. que foram presos e niofrei'am na fogueira. O rei-
nacio cie N4ary terminou conl ¿ì sua rnorte, eni 1-5-58' Corno refere J' A' Sharpe'
a investigacão inars recente tc¡m vincìo ¿ì rever a tradicional caric¿ttura do
reinado de Mary corno um período de esteriiidade e não parece haver dúr,i-
das que. caso tivesse vivldo mais tenlpo, Mary teria sido capaz de conseguir
um regime estável. apto a promover a slra política mais querida. a reimposição
rr Sharpe, op. t:it..
1t.6. do Catolicismo Romano2r.
¡!
núrmero e anmentou as suas competências. Este conselho funcionava. pois. :1,,
:¡l
como um conselho de ministros, enqlranto ¿lo Parlamento cabia sobretudo a :,t
fLrnção de vot¿ir le,eislação financeira. A,corte. por sell lado, adqui¡iy no t:È
',:t
1ei-
nado de Isabel I url esplendor sem precedeirtes, tornando-se null centro de tltta
:1,1
mecenato e cle protecção clas artes. nun-i meio privile-eiaclo para a exibição de ,;!:
:.î,1
Para os Purit¿rnos, descle logo. esta relação estreit¿t entre a reflexão e a acção
levava a formas de lctivismo que prcsst-ipi.tnh¿ìm unla corìstante l'igilância
cle Deus sobre as acções qr.roticlianas. entenchdas glorificaçao. Sencio
como su¿ì
Para além dos aspectos doutrinários. ou talr¿ez enì consequência deies. veri-
fica-se uma progressiva aproximação entre a reiigião e o estaclo secular no
desenrolar do percurso da Reforma. Os valores cla lealclacle e da obecliência
tên'i expressão simultânea na lealclade e obediência do súbdito ao rei e do
cristão û DcLrs. rs ofcnsiis rììorÍìis sìo vistas conlo crinìes sociais.
Mas temos, ao ûìesmo tempo, que verif icar que muitas das tradições nledievais
se prolongaranl no períoclo moderno, principalrlente aquelas que levestiam
de significado momentos especiais da vida. como o baptisr-no, o casatnento
ou rrorte, ou períodos do ano, como as festas populares associadas às
¿r
One thing, ancl only one thing, is necessary for Christian life. righteousness.
¿incl freeclom. That one thing is the most holy Word of God, the Gospel of
Christ.,. Ler us then consicler it certain and ftrrrily established that the soul
can clo rvithout ¿ìnything except the Word of God ¿urd that rvhe re the Worcl
of Gocl is mis.sing there is no help at all for the soul. If it has the Word of
Gocl it is rich and lacks nothing since it is the \tobrd of life, truth, light,
pe¿ìce, righteousness. s¿ilv¿ition. ¡oy, liberty, wisdom' power, grace' rglory.
ancl of every incalcul¿iblr: blessing. ...
'Word
You nay ask, <<What the¡ is tlie of God, and horv shall it be used,
since there are so many rvords of God?> I ¿insrver: The Apostle e xplirins
this i¡ Romans I. The \&brd is the gospel of God conceruing his Son. r,vho
vr,as n-iacle flesh, suffèred, rose from the clead, and lvas glorified through
the SpiLit u,ho sanctifics. To preach Christ me¿ìns to feed the soul, make it
rig¡teous, set it fr-ee, ancl save it, provicled it believes the preac:hing. Faith
alone is the saving and efficatious use of the S/ord of God' "'
The \À¡ord ol God cannot be rece iveci ¿ind cherished by any ivotks rvhatever
but only by ftrith. Therefore it is clear that, as the soul neecls only the Word
of God for its life ancl righteousness, so it is justified by faith alone aud not
any works; for else. it rvould not need
if it coulcl be.justified by anythin-e
the Word, and ccltrsequently it rvould not need faith.
i.3 Refrra as diversas tracluções da B íblia. clo Novo Test¿rmento enl parhcu-
lar. para inglês e cotÌ'ìente a irnportância de qr-re se revesti¿rm
t.4 Que itos pensa qLre poderão ter decorricio da doutrina da jr"rstificzrção.
e le
pela fé e não pelas obras'J
We liave no quarrel agains tlie Church. for rvith one consellt ri'e ttnite u'itli
all the company of the f'aithful in u,orshipping and aclorin.u the one God
ancl Christ the Lol'cl, as he has been aclored by the pior-rs in all ages. But our
opponents deviate rvidely from the tnrth rvhen they acknolvledge no Church
but what is visible to the corporeal eye. and ende¿ivour to circumscribe it
by those limits rvithìn u,hich it is far frorn being included.
Our controversy turns on the tu'o folloivin-e points: filst, they contend that
the forn o1 the Chi,rrch is always zippetrent and visible; secondly, they place
that form in the see of the Ron-ran Chr,rrch and her order of prelirtes.
We assert, on the contrary, first. that the Church rnay exist rvithout any
visible form; secondly, that its forrn is not containecl in that external
splendour which they foolishl¡' adrnire. but is distin-euishecl by a very
different criterion, r'l:. the pure preachin-e of God's word, ancl the legitirnate
administration of the s¿ìcraments.
3.1 Como deve definir-se o poder do Príncipe e qual deve ser o papel dos
seus conselheiros. Enqr.radre as opiniões de More no pensamento a na
prírtica do seu tenlpo. tallto em confionto com ¿ì literatura renascentisia
sobre educacão. como lelativamente às práticas de Henriqr,re VII e
Henrique VIII.
4.2 Enr-rrlcie os elententos que poderão contribuir parit ¿t clefinição c1e uma
cu ltura irt gle"s'ct, neste pe ríodo.
Bibliografia sugerida
1992 The Cctnúriclge CLilturctL Histor'-, ed. Boris Ford, Vol. III Si,tteentlt
Centurl, Britain, Carnbridge, Carnbridge U. P.
1992 T'he Oxford Hi.çtory oJ Britain, ed. Kenneth O. Morgan, Vol' III, I/re
Tuclors ancl Íhe Stuarts, Oxford, Oxford U. P.
BINDOFF, S. T.
1961 Tuclor Englancl,Hatmondsrvorth, Penguin.
BURKE, Peter
1994 Po¡tLtlar CuLture in Ectrlt, Moclent Emope, revised reprint. Aldershot,
Scholar Press.
CHADWICK, Orven
1990 T'he RefòrncLrio¡r. Harmondsworth, Penguin.
ELTON, G. R.
i 960 The TLtclor RevoLutiott in Govenmtent: Atltnini.çtt'c¿tit,e Chcmges in the
Reiy o.f Hett¡,- VIII, Carribridge, Cambridge L1. P.
HALL. Stu¿irt
1992 <The Question of Cultural ldentrty>, in lVlc¡clentitt' ancl |ts Futttres.
ed. Str-rart Hall, David Held and Tony McGrew' Carnbridge, Polity
Press.
KENNY, Anthony
1993 .,More>>, in Ren¿tissctttce Thittkers, Oxford, OxfoLd U, P.
LASLETT, Peter
1994 T'he \lortd lVe hcLve Lost, Fttrtlter E,rpLored, Lorldon. Routledge'
MORE. Thomas
1993 Lltctpict. ed. Geor*qe M. Logan and Robert Aclams, Carnbridge.
C¿rmbridse U. P
SKiNNER, Quentin
l9g2 Tlte FotLncltttiotts o./'il'loclent Politicttl'fhought, Vol II, '[he Age o.f
Refornuttictn, Cambridge, Carnbridge U P'
SHARPE, J. A,
1993 Ecuh. Motlettt Englctntl; A Social Histort' 1500 1760, London' Edrvard
Arnold.
THOMAS, Keith
I 991 Il.eligion ctnd Í1rc Decline o.f Magic, London' Penguin.
TILLYARD, E. M. W.
1966 The ELi:ul¡etltcut \Yo r ! cL P i c: t u¡'¿:, H arinondswo rtir, Pen gu in'
3. Enquadnanmento ideológåeo e orgaãaização soeiaå xao peníodCI
eørly weoderru
f.i
ìå,:1
ïit:i:ti
$ri
¡-l|!
'lå.l
iå
i$
.:Ììå
ìTl
aa:t:
,r9.1
.!n
.1:&.
!4ì
'.$ì
lì1,
rìì
ìj:i
$lt1
:i.{{
:r,$
tx
ä
r$
.t!1ì
.l
ìt
ì,iJ
l:i
I
Sumário
I fiÌ?
A política clo últilno lrìonarca Tudor pa.utqq-se freclllenlemellte.p,ç-la.c-qry-
prå,nisso e pcla necessidacle de gcrar consetìsos nlttna nação clividida e rc-
possad¡¡por se¡timentos de ittsegurança. clesordem ellinente. possír'el
caos'
Todo um conjunto de factores apont¿ì para est¿ì conVicção imanente cle desor-
clem oti pelo inenos cle instabiliclade. Em primeiro lugar, ars próprias condi-
dos setls recur-
ções de vida, que tornavaln toda a gente, indepettdentemente
sos económicos. sujeita à dor, à doença e à morte prematufa' A esperança de
vida à nascenc¿ì seria. nos séculos finais da Idade Média e tros primeiros do
períoclo Moclerno, inferior à actual, nas sociedades ocicientais. Alérn disso,
as próprias circunstâncias políticns associ¿rdas à sucessão ao trollo. à erni-
nência de conflitos intertros. à possibilid¿ide de guerfa com o exieriot', acen-
tuavall-t a ideia cle instabiliclacle. Num qutrdro cle instabilidade exterior, as
doutnnas da Reforma tinham vincio sublinhar a instabilidade espiritual, cha-
mando a atenção parÍÌ a natureza pecadora e rebelde dos homens, conclenan-
clo a revolt¿ì como contrária à ar,ltoridade de Deus e do monarca, fecofiìen-
clando a condnta conforme às Escritrir'¿ts. Nas diferentes atitudes e respostas'
incllviduais e colectivas. pítblicas e privetdas a todas estas questões. etlcon-
tf¿ìulos os grandes vectores cle mucl:inça de uma sociedade pré-moderna
p¿ìra Llm¿t sociedacle moderna.
O contércio it'ìteruo, etn me¿rdos do século XVIII estava ainda, em boa parte,
sitr-rado nas fèiras e nas cidades merc¿rdo. rÌlrìs conteca jii a aparecer a peqtìena
loja, que venclia LrtÌla in'ìe nsa variedacie de prodr.rtos e já os expunha com lins
promocionais. A inexistência cle barreiras allandegárias interll¿ls e a liberdade
cle corr1ércio coril as colónras contriblríram para fazer do Reino Unido cla
seguncla lnet¿ìcie clo século XVIII a maior zona de cotnércio livre do rnltndo.
A prociução intel na não agrícola cle rnaiot iinportância e ra a clos tôxteis de lãr,
a que se seguiam as explorações de minas e o trabalho dos metais,
nomeadamente o ferro e o cobre. A Inglaterra visitada e narrad¿r por Daniel
Defoe no seu ToLtr TltrotLgh Grectt Britaitt. em princípios do século XVIU
não é, decerto, ainda uma nação industrial. mas é já uma nação com um alto
índice cle produtividade, organizado empiricamente no chamaclo domestic
s)tstem que complementava a actividade agrícola com a actividade de
manufacturas pré-indr.rstriais.
N*o
-compiexo tecido ¡99ì11 da Ingla¡er¡-a -p_ré_i1{ustrial,
os comerciantes
(merclmnïs), constituiam uma espécie de estrato supeliol das classes
intermédias. entrle a aristocracia fundiária e os rendeiros e pequenos pro'
prietários rurais. A interpretação do processo de transfortnação social que
atribui a este grupo um crescimento dependente de uma ética dilerente da da
aristocracia é hoje questionada. para serem antes subiinhados os traços de
irrterdependência e semelhanças existentes entre a gentry e os comerciantes
prósperos do período pré-industrial. Essas semelhanças expressam-se enl
hábitos e gostos idênticos, que vão das leituras de jornais e fomances à pre-
Senç¿ì em bailes e jantafes públicos, concertos. lr"rtas de galos, corridas de
cavalos. conferênci¿rs e teatro. Os contactos comerciais. decorrentes de :l:l
i' :rr::
empréstimos e invesiitxentos, eraln tiltnbém frequentemente consolidados ..:::i
:r.:1
ì arli
desenvolvimento social, neste período, cotTìo sendo dorninado pela burguesia. a :::l
I 9r'l
,,r
: l:,,t
,r., :t_:i
-r-
¿
i,ì
:
I
:
1,
posteriorn'ìente.
que lhe iria proporcionar notáveis vitórias em finars clo século XVIII e nas
guerras napoleónicas.
No priine iro caso cle ve salientar-se oSf¿f ute of Artificer's. adoptttdo em 1563'
que del'inia um períoclo cie aprendizagem de sete :inos, obrigatóno para iì
prática de clualquer ¿rctiviciacle (c:rttf't). A aprencliz-¿ìgem coneçava. normal-
l-
.'
mente. aos c¿ìtorze anos e. para além cle ensinar r-rma activiclade profissional,
tinha uma função inte-eraclora import¿ìnte: o aprendiz ficava ntr depeudencia
pessoal e legal clo mestre e participava de uma espécie de cultura de gn-rpo
que envoivi¿r os outros aclolescentes na situação cie aprendiz. Esta instittlição
entroll em clecaclência depois de 1750, com a emergência de novas atitucles
relativamente à proctr-rção e à organização do trabalho, a qLle podemos chtt-
mar capitalist¿ìs, começando coilì a contratação à jornada cle trab¿ilhadores
nãro qualif icados, dispens¿rdos qr"rando não er¿im necessários'
Actividades
t:
r:
i
',: i'¡l
l:a)
i..i ;il
.---
:
'..1
'l
Bibliografia sugerida
t992 The Cc¿ntbriclge Ctrlturctl Histor,-, ed. Boris Forcl, Vol' III Sixteentlt
Centttry Britctin, Carribridge. Cambridge LI. P
t992 Tlrc Oxþrcl Histotl' o.f Britaitt, ed. Kenneth O. Morgan, Vol. III, Ifi¿
Tudors ctnd the Stuctrîs, Oxford, Oxford Ll. P'
BINDOFF, S. T.
1961 TLttk¡rEnglcncl,Harmondsworth'Penguiti.
BURKE, Peter
1994 Populur Culture in liarly Moclern ELtrutpe. revised reprint. Aldershot,
Scholar Press.
CHADWICK, Orven
1990 The ll.eJornt¿lfu;¡¡, Harmonclsri'orth. Pen-uuill
ELTON, G. R.
1960 The Tudor Re,volution in Govern¡nettt: Achninistratit'e Cltutt,qes itr tl"te
HALL. Stuart
1992 "The Question of Cultural
ldentity", in Motlernit.v- curcl IÍs Futttres,
ed. Stuart Hall, David Helcl and Tony McGrerv. Cambridge, Polity
Press.
KENNY, Anthony
1993 ..Mot'e>, in Renaissttrtce Tltinkers, Oxf,ord, Oxford tl. P.
LASLETT, Peter
1994 The \Yorlcl ltþ have Lost, IìLtrther E-up[orecl, Loncion, Routled-ee.
MORE, Thon-ras
1993 Utopict, ed. George M. Logan and Robert Adams. Carnbridge.
Carnbridge LI. P
liT
1992 The Fr¡Ltnclcttions oJ Mctclern Politic:al Tlrcugltt, T'he ,Age of Ì31ì
rrTitj
'iÞ:ì
SHARPE :sl
$j]
1993 Eurly ll4otlet'n Ërtglcutcl;A So<:iaL Histon, I500-1760. London. Eclr,vard
$l
Arnold. .'ã1
:si
'!åiì
tÊl.i
1991 Religiott rmtl Íhe Det:litrc o.f' Magic, London. Pe.nguin. ii:Li
:it*
':*1
..gl
,Ìil
TILLYARD. E. \,I. \\/. ,,t:
F*
e"+
(ø
m
(â
Þ{
re
e+
!4
cø
&r
Õ
M
@
ì1
&¿
--T
Sumário
. A Restauraçio.
o De 1660 a 1688: a Revoiução Gloriosa.
A sncessão ao trono cle Inglaterra, após a morte cle isabel I, fez se sem
sobressaltos. Jaime I, rei da Escócia. era adulto, protestante e tinh¿r já r'rrr
hercieiro, quanclo, em 1603 ¿rssumiu a coroa cle Inglaterra. As circunstâncias
políticas e sociais cleste reinacio têrn sido reperspectivadas recentemellte. no
se¡ticlo de se desmontar Llrna leitura tradicional deste período corno gerador
clos conflitos que posteriotmente estalararì no reinado de Carlos I, e
concluzir¿rm a Grã-Bretanha à guerra civil e à execução do monarca rcinante.
Segr,rncio as interpreterções mais recentes, o goverrìo cotltinuott a Ser
asseguraclo atrar,és dos instrumentos tradicionais da corte ou doPr¿i,y Cr¡ttttcil,
sem se detectar um maior protagonismo do Parlamento. Ao contr¿irio daquilo
qlre se procltrou acentuar. o Parlamento não apresenta quaisquer indícios de
funcionar já com orientações partidárias, nem palece ter surgido qualquer
conflito lntitucional entre este órgão e o rei. Entre 1610 e 1621 a In-elaterra
parece ter sido goVernada eficazmente sem quaiquer intervenção parlamentar
digna de regrsto.
I0 -i
lVilliam Laud, Arcebispo de Cantuária, começara a desenvolver medidas
destinadas a sr-rprimir o ensino das teorias da predestinação, próplias do
anglicanismo e a iir-rpôr medidas práticas nas igrejas. conìo regressar ao
modelo do altar separado cl¿r nave por uma teia. Estas nedidas tinham resso-
nâncias católicas, que pareciam anre açal os princípios unificadores d¿r iden-
tidade nacional. presentes no Settlente¡¿¡ cle 1559.
num novo exército cotrì o nome cle ly'¿rv Model Anny. comandado por Sir pclo nrenos üt.n Parte. os Pon-
tos dc rt-cta de Chri-stoPhet
Thonras F-airfax e tenclo por comand¿rnte cl¿r cavalaria Oliver Cromwell. llill. consagrados durante r
As vitórias de Naseby e Langport garantit'zrm lr supremacia clo exército par- déciìda dc setcnt¿ì.
Y
l: ,li
åi '" -
I
I
A história constitucion¿rl cl¿r In-elaterra viveu em seguicla nma das sttas mais
biz¿rn'as experiôncias: o estalrelecìmento cle r¡ma Assernbleia Nomeada.
pejorativzrrlente ctr¿rmttckt Barebone's Par[iaïnent, cleviclo ao norìe de un-t
clos seus membros cle olige hr-urilcle, Praisc-God Barbon. Est¿rAssenlbleia
n-r
qlte se ¿rssumia cotno Lrm¿ì no\ia re¿riidade. escolhicla por oficiais c1o exército
e por cii,is simpatizantes cio exército. pretenclia ¿ì\'ençar o tr¿rb¿rlho de
reform¿i que o ÃrlitTr não fizera paf¿ì. em dcf initivo. criar um muncio llovo,
que algutìs laclicais re llgiosos pe nsavam nlesrno ser o aclvento de um gover-
no de santos.
Não se pode afirmar. no entanto. qlre o go\¡erno cle cromrvell tenha a_era-
dado a toclas as correr.ìtes cle opinrão. os pares e boa parte cla gentr.\,
nl\a
Veriam decerto com bons olhos o que consicleravam uma uslrrpação do
poder real. Porém. não se registam neste períocio cie cinco anos sérias
revol-
tas organizadas ou ¿r tentativa de golpes orquesirados para clepôr oliver
cromlvell. o seu dornínio clo exército funcionava, clecerto. como um pode_
roso desincentivo. mas lalvez deva ser poncleracla ontra ordem cle razões.
O período revoluvionário cla história política cla Inglaterr¿i não envolve¡ ex-
plicitarnente urìa revolução social. É eviclente qlre os particlái.ios cio rei
fo-
ram submetidos a sanções e a multas, por vezes a expropriações. mas não se
assistiu a qualquer tipo cie actuação que tivesse conlo objectivo clestruir
a
hierarquia conliecida. A estrutura social passou. ao longo de várias décaclas,
por mudanças de que falaremos, mas estas foram mais graduais e integradas
nuin conju.to complexo de factores, do que revolucionárias,
A nível de relações exteriol'es, a política clo rei era, pelo menos, arnbígua.
Contrariava, pela simpatia pessoal por Luís XIV a política oficiai de aliança
entre a Inglaterra. a Holanda e a Suécia, estados protestantes, tlnidos contra
o catolicismo clo n-ionarca francês. A nível iiilerno contlnu¿rv¿r o dcbate sobre
oS poderes da monat'quia, os direitos clo Parl¿imento, a liberclade das elei-
ções, os ciireitos do pocier judicial. a cluestãio da religião. As
tensões entre
católrcos e protestantes eralrr agLrdizacias pelos comportamentos cio Duque
de York, irmão clo rei e herdeiro presuntivo^ clue favorecia claramente o
catolicrsnio e se rodeava de toda uma corte católica onde se destacava a su¿t
segnncia niulher. NIaria de Modena. As sinipatias clo rei pelos fr¿rnceses
agrav¿ìvam Ltm clitna cle ¿rtrito que subiria ao rulrro em i678. quando foi
I
denunciada por Titus Oates uma suposta conspiração católica. para matar o
rei e massacrar os ptotestantes.
A agitação cri¿rda e¡n torno do Popish Plot, como ficou conliecida a conspi-
ração. proporcionou a preparação de eleições para um novo Pat'lainento e a
forrlação cie nor,os alinhamentos po1íticos que vct-iatn ctllergir o primeiro
pai'tido político britânico. em sentido n.ioderno: o partido Whig, reunido em
torno da figr,rra de Anthony Ashley Cooper, conde de Shaftesbury. Em
clara oposição política do re i, os prime rro s\ütig clefenderam no Parlamento
eì
a exclnsão do Duqr-re cle YoLk cia sucessão. Porém, ao firn de clois anos de
clebates soble cliversos -Ercl¿rsiott Bills a posição do rei saiu reforçada e o
Parlamento foi clissolvido.
¡ ta
,ta:
Estava cle novo criaclo Lrm problenla constitucional, que consistia eill encon-
trar uma forma cle reconhecer a legitirr-ridade e não nsurpäçãro, de Guilherrne
de Orange. Assunrinclo-se como ulor-ìârc¿l provisório, Guilherme collvocolt
eleiçoes pzrrlarnentares. cle que resultou,J Cutvetttion PctrlicüileÍLt. qlle reu-
niu em Janeiro cle 1689, De entre as virrias possibilidacles de solução da crise
constitucional, a eslratégia u,/lig ac¿rbou por sel adopiada. mesnlo pe los rnats
recalcitrantes. cottsistindo na entrega da coro¿i. conjuntirmente, a Guilherme
e a Mary. O texto qlre consagïou os princ(rios de governo, o BiIl of Rights,
confirmava a religião protestante. as liberdades clos súrbditos e litnitava os
pocletes clo rei. Ficava. deste mocio, consltmado o processo constitl,tcional e
pacílico qr-re ficou conheciclo por Glorious lLevolution.
No qrie se refeLe à religião. o período cle Anne foi de aceso debate. também,
e cle conflito entre pelspectivas anglicanas tradicionais. rlov¿rs tenclências
latitudinírrias. olr sejar. abertas ¿ì inclusão de dissidentes. e re¿rccões extremis-
t¿rs de ultra-ro¡'.r'isril. oll ligh churcli. que visavarll aceuiual as pecLrlrariclacles
Os últimos anos deste reinado viram o rel'orço do poder dos foli¿^s. collsì'l-
mado nas negociações e finalmente na assinatura cio Tratado de Utrecht,
en-r 1713, que veio pôr terrno à glterracoln a Françae colocott a Inglaterra no
quacL'o das potências munciiais. Mas a rainha morreu em 1714 e. com a nova
din¿rstia de Hanover. iria assistir-se à ¿rscensão do partido Wlúg
O enquadramento político que ircìma foi narrado. nos Seus traços principais,
cleverá constitr.tir a sequência factual que. clesde logo, mostr¿r o clima de
instatrilidade e de simultânea procura de soluções que fizeratn conÌ qlìe Se
tenha chamado a este per'íodo <o século das revoluções>. Mas' einbora as
perturbações políticas tivessem siclo marcadas por uma tónica conservadora,
que nos pennite sublinhar mais ¿rs continuidades do que ¿ìs ruptllras, tarnbém
uma séria cle mudanças, rnais ou lnenos lentas, devem ser identificadas'
Mas ¿r sociedacle e a cultura de uma nação não podem ser definidas ¿ìpenas
pelas circunstâncias políticas quoticlianas que, frequentemente. e sobretudo
nesta época. eram cieterminadas pelas estratégias pessoais de políticos de
carreira. É cla maior importância tentar encontrar as grandes linhas de
muclança social e cle mudança de atitudes. estas expressas de rïodo t'elevante
na proclr-rção filosófica e científica. literária e estética deste período. bem
como verificar as continurdades e mncianças naquilo a que ultimamente se
tem chan-iado a cttltura popuiar.
O encluadramento clo pensäne nto cle Flobbes tem que ser situaclo no ambie nte
das Guerras civis dos meados do século xvil, para melhor entenciermos o
objectivo da su¿r f ilosofia polítrca. que consistia, sobretudo. em e vitiu'a suer-i'a.
Depois. hli qr-re verificar que . pal'a Flobbes, o sistema cle política qr"re propõe
e defèncle er¿ì Lul¿ì eiência, que percorria os cantinlios da nova ciência de
Galileu e Bacon. que transformava o entenclimento clo mundo natural: a
formLrlação de uina hipótese. r,elif icacla cuidadosarnente atrar,és cle un-i¿r
metodologia clech,rtiva ou indutiva. ató chegar a proposições que explicassen-i
os lenónetlos ern anirlise. Finaln-iente. o objectivo princripal cias teorias de
Hobbes cor-lsiste na clefiniçi1o de uila teoria clo poder. que expÕe mais
sistematic¿rnlente clo que MaqLriavel. e que o le v¿l ¿r expôr lambém um¿r teoria
dos direitos isì,rais clos ho¡nens, Lrem conlo cias suas obrigações.
t j
il
- I
I
a
Tambérn e lemenio a ter enl conta é a atritcção cle Hobbes pela georilelria
euclicli¿rna, clue contribr,rilia para a ciarificação de uma rnetoclologia orien-
tacla pelo rigor. peia precisão aritmética. pela clecomposição clo complexo
em Lrnidacles mais sinrple s. c1r-re posterionllcntc iriä oricniat'i,ls sLì¿ìs refle xÕes
sobre ¿r moral e a política. Algr:rnas viagens ao Continetite proporciollt'lf iìlÌl a
Hobbes cont¿ìctos colll os llovos grupos enipenhados tia pesquis¿r cle nov¿is
áre¿rs e métoclos científ icos, nomeaclamente conl o francês Mersenne e o selt
círcuio cle cientistas e coill G¿iiler-r, em Florenca (c. 1634-1631).
A hipótese inovaclora, formulacla por Hobbes, rrra cle que tlrdo. incluindo as
sensirções htttr"tanas, é causacto por xnovimrento. Revertendo a noçiio
traclicio¡al via o e staclo de repor:so como o est¿rdo natural clas
cle inérci¿i. que
cois¿rs. apen¿ls alterado cluanclo outra cois¿t l'ìzesse mover a prime:ira, Galiler-l
propLlzer¿ì o movimento coïl-to estaclo nailtr¿Ì1. ¿ìpenas inte rlornpido se algun-ia
coisa fizesse pâraf o movinle nto. Acloptando o princípio de Galileu, Flobbes
ìria aplicír-lo ¿ros movirncntos cios honrens e cri¿rr um sistema a partrr clo qual
cledr-rziria a espécie de governo acleqr-räda à nianutenção e optimização dos
movimentos mittr-tos entle os honlens.
alrtor, ¿insioso por ver pr"rtrlicada, submeteu à apreciação de Carlos II, que
fecusolt a autorização de pLrblicação. Tambén'i este texto foi pr-rblicaclo pos-
tumamente, em 1682.
:
i
Para Hobbes. a prinlelra coisa que faz mover oS homens São oS ttdesejos> ot-t
apetites e aS <aversões>. que agrupa em cliversas categorias (inatos' adquiri-
dos, etc.) e que cariìcteriz¿ì: cliferen-r de pessoa pâ14 pesso¿1. são mutár'eis,
tôrn forças cli1'erentes confolme as pessoas' etc. A exploração rnetódica des-
tes princípios, benl colno o seu desenvolvilì-ìento sistemártico. ler'¿rm Hobbes
a concluir qlte o homcnl procura seûìpre satisf¿izer oS sells apeiites e qlÌe
esses apetites crescem ¿ì meclicla qlle são satisfeitcls. Os homens procltrirrño
Serîpfe o pocler, clue pocie set' rtttÍttrctl (excepcionais f acuidades cle corilo ou
mente: força. forma, pruclência. ¿ìrte. eloquôncia. liberalidade, nobreza
extr¿rorclinárias) ou itt.slt'runenîal (podres adquiridos ¿ìtravés dos poderes natu-
riìis, olr pela fortunir, qLle são ineios ou instnrrnentos prìr'a a ac¡risição de
mais poderes, como riclueza. repìrtacão. amigos. on o conhecimento da mis-
^ lÌobbcs. irlcrr, cap. l0 te riosa vontacle de f)eus, a qlie as pessoas cham¿im Boa Sorte)6.
Nos plineiros anos de Oxforcl o perìsamento político cle Locke revela atitti-
cles trac-licronalistas e autoritírrias. mas funclament¿rdas numa visão constitu-
cional da autoridacle. Não defende uma autoridade arbitrár'ia. ntas sitl uma
autoridade legal que residiria num corpo de leis, cle cuja pre servação depen-
deria a paz da nação. separando o poder secular do poder espiritr"ral, a auto-
riclade política cla ¿rutorìclade religrosa. Neste período o seu pensamento é
próxirr-io cio de Hobbes. embora possivelmente apenas em resultaclo de oS
tenas de LevicüJtct¡l fazerem parte dos debates cla época, e não em resultaclo
de qualquer inflr,rôncia iriais clirecta. Seria inuito mais tarde qr-re Locke iri:i
reorientar o selt pens¿ìnento. na direcção da tolerância e clo liberalismo. os
traÇos qr"re, ainda hoje. o clistinguem.
En 1684. quando Locke tinha cinqr"rent¿ì e dois ¿rnos, foi expulso cla Univer-
siciacle, por ordem do rel. A intromissão re¿il nos assllrìtos clas LJniversid¿icles
ina crescer. nlrnla explessão clo absolr,rtismo de Jaime II, r'inclo a contribuir
p¿ìra ¿ì queda do lei. em 1688. após um conflito conl os Fellov',s do Colégio
de Nfagclalen. Para Locke, o ¿ifast¿rmetlto da Univelsidade acabou pol plo-
porcionar o desenvolvinento clo pensamento polítrco e 1'llosófico segunclcr
nov¿ìs linhas.
E
Anterior arnda ¿r este texto será a prirneira versão do ,Essøy o¡t Tbleratiott,
escrito em 1667, pouco clepois de Locke ter sido recebido em Exeter Hail. a
casa de Shaftesbury no Strand, enì Londres. Neste ensaio Locke altera subs-
tancialmente os ponios de vista que defendera nos seus prinleiros anos cle
Oxfbrd: a defesa da tradição e da autoridacle que então expressara transfbr-
mam-se nunì estlido sobre atolerância, oncle o autor clefende vigol'osanrentc
o direito ¿ì dissrdência. ou r/iss¿r¿r. procedendo da análise do problerr-ra intectual
para re comendações soLrre política nacional. A naturacão das teses que com-
põem Ttvo Treatises of Government terá tambéln ocorrido ao longo dos de
s
A edição dc Peter Laslett de anos 1619-80. anos ¿rntes dzr publicaçãoS.
7tço Ti eati.çes oÍ Go|entilettt.
Canrbrid-se. Carlbridge U. P.
1991. conténr unra excelente
A maturäção das ideias cle Locke está estre itamente associada às circunstân-
introdLrção. ondc são dcba- cias específicas da sua vida e cl¿r sua época. O quadro cias circunstâncias
tidas as principais qucstõrs
reÌacionadas co¡r a .sénesc do
políticas da segunda metade do século XVII. tlaçac1o n¿ì ¿ìbertur¿l deste capí-
pens¿ìnrento dc Lockc. as tr"rlo. ;¡uda-nos a enqu¿ìdrar as posiçõt:s políticas de Shaftesbury. envolvido
inflLrêncras c¡ue recebeu e cr
nas polítlcas Ìfl¡¡g e. concret¿Ìnìente. nas diligências feitas para excluir o
lnodo conro respondeu a
novos desalios teóricos c Duqr"re de York. futuro lei Jaime II, da sucessão ¿r Carlos II. A associação de
li I osó li cos
Locke a Shaftesbury colocou tarnbén o prime iro em situações cle risco. que
o obrigaram a sofrer períodos cle exí1io qlle se inscre vem claramente no qua-
dro de instabilidade anterior a 1688. Não será, pols, surpreendente que, no
Prefírcio aTtvo Treatises. publicaclo jír coni o riorne do autor ern 1690. Locke
afinle que esses <Discursoso confirmaûl ¿ì sober¿ìnia e o clireito do rei Gr,ri-
lherme de Orange:
Tliese... I hope ¿ire sufficient to establish the Thlone of our Great Restorer,
Our present King Willianì: to make good his Title in the consent of the
People. Which being the only one of all lar'i,fr-rl Gor,e rntnent.s. he has more
fLrlly and clearly than any Prince in Christendom: And to jLrstifie to the
a-. -
F
World, The People of Englanci, whose love of their Just alld Natural Rights.
r,vith their Resolution to preserve them, savecl the Nation when it was on
the r,ery brink of Slavery and Ruine.e Locke. lzleli, p. 137
Por outro laclo, Locke reconhecia outro ¿ìspecto da religião. a Re ligião Ret'e-
lacl¿r atrar'és cla Fó. N4as ntesmo cluanclo fala em r-evelaÇão. l-ocke e stabelece
conlo último juiz e gr-ria a razão. já que . e rl última instância, será a t'azãicr
clue disttnglìe entre as vclcl¿icles revelada-s e aclnelas cpre são recebiclas ¡ror
-t j
1
O estado natural. tal como Locke o entende, assenta numa lei moral natu-
ral. que é clescoberta pela lazáu.
The state r¡f n¿rture has a law of n¿rture to govern it, rvhrch obliges everyone;
ancl reasot.t. whicli is that lau', teaclres all rnankind who will but consult it
that, being all eaqual and inclependent, no one ougllt to harm anothet'in his
"Lockc, op. cit.. pp life. health, liberty and possessions.rr
Mas Locke reconhece que. mesmo num estado natural. assente na raz-ao, é
difícil a preserv¿ìção clas liberdades e clos direitos. porque nenl sclllpre seria
possír,,el qr-re todos respeitassem a lei natural comuirì. Por isso seríi necessá-
ria ¿i constituição de uma sociedade civil or-r política, que registe. pol esclito.
a lei natural, assim como estabeleca um sistema judicial reconhecido por
todos. A constituição da sociedade acabará por ser um ¿ìcto, também ele,
natural. ou seja, constltuido de acordo com a naturez¿i e a nzã.o.4 sociedade
política e o governo formar-se-iant a partit de i¡m fitnclamento racional. o
consentimento:
Men being. as has been said. by Nature. all free, equal and indepenclent. no
oue can be put out ol'thi.s Ëstate. ünd subjected to the Political Porver of
another, rvithout iris orvn Consent. The only way rvherebv any one de,,,ests
himself of his Natural Libelty, andputs on the bonds of Civil Socrief is by
agreeing with other Men to ¡oyn and unite into a Community, for their
corlfortable. safe. and pe;rceabie livin-e one amongsi another, in a secnre
Enjoyment of their properties, and a greater Security against any that are
not of it. This any number of Men rnay do, because it injures not the Freedom
of the rest: they are left as they '',vere in the Libert¡r of the State of Nature.
Wherr arry number of Me n have so consented to make one Contmtuút¡ or
Gol'ernrnent, they are thereby presently incorporatecl, and rnake one Body
'ì Locke . idtn. pp Politick. rvhereilt the Majority have ¿r Right to act and conclude the re st. i:
216
A noção de consentimento fica aqui claramente expresSa. e relaciona-se com
a de governo pela maioria. Estes pontos de vista são obviamente contrários
¿ro conceito de n-ionarquia absoluta, que Locke consiciera inconsistertt witlt
Civil Socieô', não constitutndo. portanto. uma fomra de govertto. por não
constituir nm¿r forma de autoridade reconhecic'la livremente pela sociedacle.
No entanto, a organização presente cia socieclade teria que ser justificada, e
perspectivada historicamente. Par¿i Locke a sociedade civil teria sr"rrgido a
partir da famíli¿i e da tribo. e o governo civil seria um clesenvolvirnento do
_qovefno patriarcal, confirmado peio consentimeuto da sociedade. Esse con-
sentimento poderia ser tácito ou explícito. No caso clas sociedades presen-
tes, o consentimento seri¿r tacitamenie cl¿rdo, e haveria Seûìpre a possibili-
dade, para qlìem não o quizesse dar, de se retirar do est¿rdo e acolher-se junto
de outlo sistema mais compatír'el com as suas preferôncias.
Men unite into Societies, that they may have the united streltgth of the
whole Society to .secLìre ancl clefend their Properties, and nay haves/arñirtg
Rules to bound it. by ivhich e\¡ery one may knorv rvhat is his. To this erld it
is tliat Men -eive r-rp all their Natur¿rl Power to the Society ',vhich they e nter
into, and the Communìty put the Legislirtive Power into such hancls as
they tlrink fit. with this tmst, thirt they shallbe govern'd b7- declared I'aws,
or else their Peace. Quiet, and Property will still be at the satne uncertaitrty.
¿ts it w¿ts in the st¿rte of Natltre.r-' itlon, 1t¡t..1.5E-159
These ¿rre the Bouncls which the trust that is pr-rt in the m by the Society, and
the Lalv of'God ancl N¿iture. ha",e s¿f to the Legislative Pouer of every
Conlmonr,vealth, in all F'orrls of Government,
Secondly, These l¿rvs also ou-eht to be desi-ene dfor no other end r-rltirnatelv
btt the good of the People.
Thirdly, they rnust not rqtse Zc¡¿s on the Property of the People, without
the Cottsent of the People, given by themselves. or their Deputies. And
this properly concerns only such Governrnents n,herc the Legislative is
alrv'a,vs in being. or ¿rt least q,here the People have not reserr,'d any part of
the Legislative to l)epr-rties, to be from lime to time chosen by themselves
For,rrthiy, I\e Legislallve neither mlrst r¿or can transfer the Power of
nmking Laws to any Bodv else, or place it an¡' rvhere but where the People
'' Lockc'. r¿1¿'rrr. l. -36J h¿rve.1l
Para Locke^ cotlo para lVliitort. a educação era t¿rnibém formação para a
vida. e não apenas aprenciizagem de conhecimentos, embora estes pudessem
ser apreendidos. em quantidade e em qr"ralidade. entre os doze e os vinte
¿ìuos. no lugar der gramírtica e do debate escolírstico. Mas. enqllanto para
Miiton a finalidade da eclucação seria tom¿ìr os jovens v¿riorosos. patliotas.
qr-reridos cle Deus e famosos pzria toclo o Seillpre. Locke tem etll vista. prrrg-
nraticamente, a eclucação do gentletnan, in-iporlirnclo-lhe clefinir as coisas
que são relevantes. con-ìo por ext:ntplo o esttldo da filosofia natural, que será
cle grande tttilidacie para a convers¿l edr-tcad¿r, ou a clança, que allmenta a
graciosiclacle cle mo,,,imentos. Assim. o modelo de eciucação lockiano será a
conduta de acordo coflì a razáo, a religião e as i-loas maneiras.
Locke. foi, sem clúrvida. uma d¿Ìs mais import¿uites figurars do lh,iminismo e
representou, llos seus textos, o espírito de liberdade na pesquisa científica,
de racionalidade e de indepenclência lace à autorid¿rde que nl¿ìrcar¿ìn-ì Llma
época. Para o enciclopechsta francês d'Alernbert Locke fora o criador ci¿r
metaf'ísìc¡r. tal como Newton o fora cla física. Metafísic¿i. no senticlo em que
cl'Alembert LtSa a plavra. repotta-se à teoria clo conhecíÍnento proposta por
Locke e à sua definição clo âmbito, pocieres e limites do entenclimento
trum¿rno. l\,{as tarnbém no qlre se refère à ética e à teoria polítrca, o pensa-
met'ìto cle Locke criclr.r novos desenvolvinlentos. oncle pocieremos enquadrar
o liberairsilo económico. do ttpct lui.sse:.-Jui iz. desenvoli,iclo pelos fisiocratas
franceses e trlol Adäm Sniith em I/rc WþcLItJt o.t'' Narions. M¿is será sobretudo
cla¡a a ìnfluôncia cie Locke no clesenvolvimento da filosofia empír'ica blitâ-
r.lic¿r. nomeadamcnte nas olrras cle Berkley e de Ðavid Flume. assìtll c()l'tìo
no clesenvolvimento cla psicoìogia ¿issoci¿rcionista de Ðavid Hartlev ( 1705-
-57) olr de Joseph llriestley (]l133-1804).
As referências que fizemos ao pensamento de Hobbes e de Locke servern
dois propósitos principais: um consiste na perspectivação, enquadrada na
época, de reflexões sobre os problemas que, a nível político. religioso e filo-
sófico preocrìpavam as classes dominantes e os intectuais. poclendo, ao rÌles-
mo tempo, apleciar-se as propostas de resolLrção apresentaclas por
ambos. O segundo propósito consiste em clarificar a articulação das tenclên-
cias principais do pensamento iluminista corn estes dois ¿rutores. qlÌe pode-
mos consicler¿ìr. em boa medida, <fundadores> do pensamento pragrnático.
empírico. mecanicista, positivista. r¿rcionalrsta e iiberal que nl¿ìrcará aspec-
tos importantes d¿r cultura e da sociedacle inglesas posteriormente.
Actividades
inv¿rsion from abroad and insurrection ¿rt home, the good of aristocracf is
the conjunction of council in the ablest persons of a state for the pr-rblic
benefit. the good of a democracy is liberty. and the colìrage and industry
u'hich liberty begets.
In this kingdorn. the laivs are jointly rnade b¡l a king. by a house of peers,
and by a house of comrnons chosen by the people, all having free r:otes
and par-ticular privile-ees. The -povernment. erccording to these lar..'s. is
trusted to the king. ... Ancl this kind of regulated monarchy, having power
to preserrre that authority, r.viihout which it rvould be drsablecl to preserrre
the larvs in their force:, and the subjects in their liberties and propt-'rtic-s.
is intended to dralv to hirn such a respect and relation from the gre¿ìt ones
as rxay hinder the ills of clivision and faction; and such a fear and revetence
frorn the people as nì¿ly hinder-turnults. r,iolence. and licencioLlsness. ...
-:'F
,:
Since. therefore, the porver legally placed in both houses is more than
sufficient to prevent and restrain the porver of tyrernny, and, lvitltout the
power *,hich is noi.l, asked from us, we shall not be able to discharge that
tmst which is the end of monarchy... For all these reasolls to all these
demands our answet is nolutntts leges Attglitte tn¿ttari.
t.2 Interprete ¿ìs palavras do rei à h-rz dos acontecimentos cla época, e
perspective-as face i-ìos acolltecimentos que levaram, el-n 1649. ao
regicídio.
Nature (the Art rvhereby God hath m¿rde and governes the World) is by
the Arr of nran. as in many other things, so in this also imitated, that it can
make an Artificial Animal. For seeing life is but a motion of Limbs, the
beginning whereof is in some principall part rvithin: why may we not
say, tlrat all Autonuttn (Engines that move themselves by springs and
rvheeles as doth a rvatch) have an artificiall lif'e? Fo[ what is the Hectrt,
but a,lpi-lrzg; and the Nerves, but so many Srrirrgs; and the Jo-t'i¿ls but so
many Wheeles, -eiving motion to the u'hole Body, strch as w¿ls intended
by the Artificer'J ,4rl _qoes yet fùrther, imitating th¿rt Ratlonall and rnost
excellent worke of nature, Mctn. Folby Art is created that -sreat
LEVIATHAN called a COMMON-WEALTH,oT STATE, (in latine
CIVITAS), which ìs but an Artificiall Man; tltough of greater stature and
strenght than the Naturall, for whose protection and defettce it u,as
intenclecl; and in rvhich, the Sore¡'c13n4' is an Artificiall So¿¿l, ¿rs giving
life and motion to the rvhole body; The MagisrrcLtes, and other Officers
of Judicature ¿ind Execution, artificiallJot,nts, Rew'ards and Pttnislttttetús
(by which fastened to the seat of Soveraigrlly, every.loynt ancl member is
rnoved to perform his duty) are the,rye¡r,s.r, that do the same in the Body
Natnrall; The lYectlth ¿rnd Rich¿s of all the particr"rlar members, are tlie
Strength, Sctlus Populi (the peoples so.l'eñ,) its,B¿¿sû¿s.rs¿ . Coutt.seLlors ^lsy
whom all things necdfill for it to knorv. are suggested unto it, are the
Ment(¡rt'. Equitt' audlcrr,¡', ¿ìn artificiall RecLsott and Will; Concorcl, Heultlt,
Setlitiott. Sicfr¿r¿css:and Cir,¿1 v,cLr,Dectth. Lastly. thePr¿c/s andCovenctnt.s.
b,v rvhich the pärts of this Body politique were at first m¿rde, set together.
and united, resemble fhal" Fictt. or fhe Let us tttake /71¿7ì. plonounced by
God in thc Cre¿rtion.
2.4 Como interpreta esta concepção rlecânica cl¿r constitLrição clas sociecla-
des qltitnclo a confi'onta conl ¿ìs posições clo mesmo autctr'. sintetrzaclas
na expressão <<o hometn é o lobo clo hornem>'?
J. Reclija nnl peqlÌeno texto (cerca de vinte linlias) erl que conlp¿ìre as
posiçõe s de Hobbes e de Locke quanto à constitr_riçiro e funcion¿rrletrto
clas sociedades. Procul'e clefirrir. t¿imbcim. o que cada uni entencle por
Conunonn:ettllJt .
4. Leia este exct:rto de John Locke. conticlo ent The RectsonctltLertess of-
C ltri.tt iLttti t.r' 1I ó95 t:
4.2 Corno corltr¿ìst¿r o ¿rLltor a rcligiãro racional que propõe. com as prhticas
reli giosas anterioles'l
l 992
'I'|rc Ccnúri¿l¡1e (lultLtral Histort'. ecl. Boris Ford. Vol. lY,,Seve¡rÍe entlt
ASHLiiY, N{aurice
l9l5 f:ttg/turcl S ev e ¡t t e c nt lt C e nt tt t't'. H¿rrmonclsrvorth. Penguin
l{Il-L. Christopher
1915 Re/orrtttúion to Int]ustricLl Il.et r¡lttion, 1 530- 17E0, Harmondsrvorth,
Pe n quin.
IIOBBL,S. Thonras
1975 Lat,iutltcLtt. Harntondsr.vorth. PL'tì.suiti.
LOCKll. John
1992 Tv,r¡ Trc¿ttises o.i Got,erntnet¡1, ecl. Peter Laslett. Cambrídge.
Car-nbriclse I-1. P.
WII-.LF.Y, Basil
1t)61 T-he Setenteenrh Cetttttrt' [ìuckgror¡¡r¿l, Halrlonclsrvot'th, Pen-tuitt.
,{ R.evolução Científica
--...-
;Å
,..,1i
'.:'Ï
r¡.1
r:.rì
tlìÉ
.]}]
,lJ
,.;I
.ri3
rai
.,lri
ts
',,4;
rgl
..s
:lEr
:$
9ì
;
.:
l
:::i
::ìl
lir::
ì::;
ì,a,tì
ìil
:1
a,¡!
.t
I
.aa
':l
';á
tê
9¡
:*
',.Ë
is
,.*
i!T
:ñ
:l
$
ììl
l
,ì
Sumário
segr-rinte:
Flennetismo e magia.
$''
3,..
,l,,
i..
5.1 Uma noYa epistemologia
Já pelo menos desde os meados do nosso século que se tem vindo a aceitar
esta visão de que a ciência moderna radica no período do Renascinrento e,
sobretudo, no século XVII. Em 1949 Herbert Butterfìeld emThe Origirts o.t''
Motlent Science, I300- 1800 afirmava que a Revolução Científica ofuscava
qnalquer outro f'enómeno desde o aparecimento da cristandade, incluindo o
Renascimento e a Reforma. Estes fenómenos, comparados com a Revolução
Científica, não passariam de meros episódios, meros movimentos internos
dentro do sistema clo cristianismo medieval. A Revolução Científica teria
derrubado a autorldade na ciência, qLler da Idade Média, quer da Antiguida-
de. e teria transformaclo tão profr,rndamente o carácter das operações mentais
mesmo nas ciências não materiais. as concepções sobre o mundo físico e
própria textura da vida humana. que nela residiria a origem real do mundo e
da mentaliclade inoderna I. rDavid C. Lindberg and
Robert S.Westman, eds..
1991. Reuppruisul.t o.f the
Na mesma linhaA. N. Whiteliead. emSci¿nce cutcl the MoclenzWorld (1953),
Sc i e nt ífit: R¿r'o1¿¿¡lo¡r, Carr-
dina que o século XVI assistiu à cisão da cristandade ocidental e ao nasci- briclge. Cambridge U.P. p. l.
Esta obra consiste numir
mento da ciência moderna. Mas, enquanto a Refbrrna se pode consicler'¿rr uill colecção dc ensaios de dife-
assLrnto interno das nações europeias, que não introduziu princípios novos rrntes autores Ònde se actua-
lizam perspectivas críticas
na vida humana, o nascimento da ciêncla moderna contrasta com tudo o que
sobre a Revolução Cientílica.
demais aconteceu no mesmo períoclo. A ciência moderna nasceu discreta-
mente e. diz Whiteheacl, nada de tão grandioso acontecera com t¿ìo pouca
agitação desde o n¿rscimento de Jesus. O objectivo clas conferências que
integram a obra Science turcl tlte Mr¡clern Worlcl consiste em demonstrar que
o crescimento silencioso da ciência reformou platicamente toda a nossa men-
talidade. o que é mais importante ainda do qlle a transformação da ciência
propritrmente dita, ou da tecnologiar. : A. N. Whitehead (19-il). ,4
Iclade Médra.
plos: ¿ì clivr-rlgação clos textos Sagrados a Llm púlblico nlais vasto. gerando Llm
maior interesse pela leitura. a necessidade de rigor na intelpretação e na
tradução. obri-eattcio a tlln tlovo riqot' tra exegese qLIe acomp¿ìllha ¿ì nova
responsabiliclade do cristão periìnte Deus.
Ern Inglaterra a tl'adltção cle cliferentes partes da Bíblia tinha sido já ensaiada
clescle o tempo de Wyclil'1'e. Ess¿is versões er¿ìm fe itas ¿ì partir da Vulgata, ott
seja. cla traclr-rção para latim. feita pol SãoJerórlillo, usada na Idacie Média e
posterionllente ¿ìprov¿tcla no Concílio cle Trenio etn 1546. Nos anos vinte e
trinta do sécr.rlo XVI, William T),nclale traclllzira e imprimira o Novo Testa-
merìto e o PentateLlco, tr¿ìclllzidos a partir do grego e do hebraico. Em 1535
Seria irnpfessa ¿ì versão cle Coverdale, baseada na de T.vndale e, ein 1560,
ap¿lfeceria rnelhof de todas as ttaduçõeS, bem como de toclas as implessões
¿ì
cla naturez¿r huntana. clas origens do conhecimento. clos impulsos qlte levzrm
à constituição cias sociedades e das formas de organizaçao política e econó-
mica que historicamente se desenham.
Jean Bodin ( 1530- 1596) representa a nova atitude na sua obraMethoclu,s atl
.fLtcilern historictrtntt cogrtitionen, cle 1566. Este método par¿ì um rnais fíicil
conlrecimento da liistóría ¿rssenta nllrÌ]a clivisão tripaLtida da história: a his-
tória divina. objecto de estuclo dos teólogos; a históri¿r natural, otlecto dos
filósofos: fin¿rlmente. a história enì que nos clevemos concentrar, qlìe é ¿r das
äcções humanas e das regras qrìe as governam. Para Roclin, as leis naturais
estariar¡r contidas na história, cr-r1o estudo poderia revelar os costumes dos
povos. os começos, o crescirnento, as condições, as mudanças e o cleclínio
de todos os Estados. entenclidos corrìo factos, susceptíveis de serem obser-
vados e descritos. O Método cle Bodin contém já uma f orte tendência pzrra a
interpretação naturaÌista da história e est¿ibelece já associações e palalelos
entre ¿l geograf ia e o clima, e a organização clos povos. de um modo que
antecede N4ontesqnier¡. Ao mesnto tempo desenha uma teoria cíclica do
crescimento e qnecia dos Estaclos que seria re tomacla no século XVIII.
Um últirno tìpo de lei, segundo Hooker, diz respeito aos cieveres sobren¿ìtll-
rais e refere-se à lei reve l¿ida por Deus. As teorias de Hooker inclicarn simul-
taneiclacle cla traclição rledieval. tendo ¿lspectos semelhantes às de São
Toilás de Acluino, com a poncleração cie novas perspeciiv¿ts. Assiil introduz
a ideia, nova. de contrato social, m¿rs não apresenta o estaclo colllo ulll¿l cons-
trução puramente ¿rrtificial. Pelo contrírrio. f¿tlä na inclinaç¿lo liatLrral dos
homens para vivercm em sociecl¿icle. Inas não o1'erece. como Hobbes o farír
mais tarcle, explicações naturais. colrìo por exemplo. qlle o go\¡el'no seia ttnl
remécho necessário par¿ì controlat' o cgoístÌlo e a competitiviclade'
Pelo qLre acima se disse acerca dos plirneiros passos d¿rs novas atitndes cie n-
tíficas pocle perceber-se que a Inglaterra não era exact¿tttlente unl centro de
grancle florescimento de novas ideias. Bacon nasceu em 1561 e estr:doli for-
rnalmente apenas dois anos, na lJniversidade de Czirlbridge, no Trinity
College, para onde elltfolt com doze al.ìos e três meses. Tendo deixado a
Universidade ¿iinc1¿i ¿rntes dos ciezasseis ¿ìnos, e tendo clesenvolviclo uma
intensa carreira política até ¿ìos sessenta. qr.rando c¿riri em desgraça (ern 162 1),
é clifícil perceber como foi possír,e I acumular os conhecitnentos que lhe pe r-
mitiram escrevef ¿ìs Suas obras. A sua primeira publicação, constituida por
clez ensaios, surgiu eni 1597. À sernelhança de Montaigne, Bacon viria ¿r
escrevef um tot¿rl de cinquenta e oito ensäios, publrcados em conjttttto em
1625, um ano antes cla su¿r ilìorte. Em 1605 publicoLt o seu primeiro tr¿rbalho
filosófico, The Adt,ctnceiltent of Leurning, e em 1609 De Sa¡tientia Veterum.
Eni 1620 publicour NoyLu¡t Orgcutttnt e. seis meses clepois da Sentença qlle o
conclenou por suborno, tinha concluido uma monografia sobre Flenrlqr-re VIL
F,n 1622 e 1623 publicou ainda dnas cornpilações cle história naiural. Histr¡ritt
Ventorrun e Historiu VitcLe er Mortis e De ALtgmentis, uma versão alargacla de
Tlte Aclvancetnen[ o.f Lectrtúng. B¿tcotl planeava ainda uma grande ol'rra que
teria o título de Insturrrutir¡ Mugttu, composta porDeu DigrtitcLte eÍAugmetúis
ScienÍictrutn (De AtLgmenti,s) e por Àrot:ttm Orgatttur¡. Otltras obras licaram
inconrpletas. nomeadanlente Neu: AtLcuttls, pr-rblicada postllmalÌlente. " Iìr¿rncis Iìacon !(r0-5- 16271.
'l'Ite tntettt ol l,eurttittg
'\tltunt
¡lr¿1 J¿rr ,.\¡1¿rlr¡1.t. London.
T¿rlvez seja ntaior a originalidade de Bacon Se o perspectit'lit'nros no Oxiord tj.P.. 197-1. p.28.
enquadramento cle teorias que ele próprio sistematicamente releitor-r. En7-he ,'\s re f cr'ûncias às pá'-einas c:ita-
Advtutc:entenf, o.f Lettnlit,q enumera três <vaid¿rdes nos estudos> ou três d:rs pilstcrioilttetìtc tfarcc!l-
r'alo entlc pxrcrìtcsis no tcxto.
clistemper.s of Iearning. corltlrns no seu tempo: <The first. f¿tntastical learning;
the seconcl. conle ntious learning. and the last cle licate learnrngi vain
imaginations. r,aìn altercations. and vain aff-ectationse.,, Começ¿inclo pelo
rl
:ì
úritiuro, B¿rcon rejeita o saber qlle se pteocLtpa tnais cottl lts palavras do que
com a substârrcia, o saber dos humanistas, clo porturguôs Jerónimo Osório e
cie Erasmo. A segunda <r,aidade" rejeitada é pior do quc a primeit'a: <for ¿rs
substance o1'matter is better than beaut,v o{-rvorcis. so contr¿irir,vise vain mattcr
is r,vorse than vain rvords (p. 3l)." Esta é a degenerescência da escolástica e
cla tradição alistotélica ortocloxa que seria m¿iis tarde. tambén. atacada por
Hobbes e por Locke. Por úrltinio Bacon tr¿rt¿i <<the foulest; ¿ìs th¿ìt lvhich doth
clestroy the essential form of knor.vleclge. r,r,[ricli rs nothing but tr t'cprcsetttlition
of truth: for the trr"rth of being ancl the truth o1'knorving ¿ìIe ont. diff'ering
no more than the direct beam and the beam reflectecl (p. 34)." E'sta últinia
<doença> ou vaidade . qrìe nos intcressa cspecialniente, diz respeito à <nragia
natural. à alquimia e à erstrologia>. Bacon lejeita coin veemênci¿r esta ten-
dência clo pensamento do seLl ten'lpo, com a qual, no ent¿ìnto. algr:ns
coment¿rdores contenlporâneos o têrn iclentificaclo. Estas ciências tinham.
palä Bacon. finalidades nobres:
nany rvits aricl industrics hai,e be en spent about the rvit of some oue . ri hom
m¿rnv times the v have rather depravcd than illustrated. For as rvatcr rvill
not ¿rscc:ncl highei than the leverl of the lirst sprrnghcad fì'om n,hence it
clescendeth, so knorvleclge clelived fì-om Aristotle and exempt lrom the
libeity of examination, u'ill not rise again lii.uher than ihe knorvledge of
Aristotle (pp. 36--ì7).
Estes obstírculos ao s¿iber tôm ¿ì ver com a tenclência pata o erro itrercnte na
naturez¿ì hurnan¿t e clue ìntpecle juízos objectivos, como por cxenlplo, con-
fiar apenas nos sentidos, setrt proceder ä conftrmações experimentats (idolct
triltLt.s); conì erros clue decorrem clo te mpÐramento inclividual. clas leituras,
cla e dr,rcação. clas irrfluências especiais (idr¡lu specus ); com erros clecorrentes
ila influôncia da lin-euagen (idoltt.fori);e, f inalmente" com erros clecorren-
tes dos sistemas f ilosófrcos do passado, que não p¿lss¿Ìm de peças de teatro
qLie representam um rnundo irreal. cri¿rdo pelo próprio honlem (ick¡h theutri).
De novo este s são re rrìeticlos p¿rra a lnf-luênci¿r de Aristóteles e cia so¡tltisticul
philOsoplnr. pâl-i't a e.nt¡tirictLl philosopl¡), iltsuficrentemente fund¿rn-ieniacla
na experimentação oncie refere em particltlar Wiiliam Gilbert. autor clo
-
trataclo I)c fulagner¿ ( 1ó00), qlle at¿ìcar¿ì já em Tlte Aclt'utcerÌtenÍ o,f Lt:anùtg
e para tt.stqterstit:ictLts ¡thilosoTrlrr,. pritttcada pelos filósofos platónicos e
-pitagóricos
Esta última refer'ôncra Platão indica a poì.rciì estinra que iì nova filosofia da
a
naturt:z-a inspirava ¿r Bacon. Com e1'e lto. um con1unto imporlante de pens¿ì-
cloles ne oplatónicos começara, já con-r Nicolau de C¡¡sa ( 1.101- 1464), a estll-
ciür a nalureza conl uma preocLrpacão cle objectiviclade. sepat'anclo a razão
qr-rstacla à pesc¡uisa clos tènómenos natur¿iis. cia razão clivinarnente inspi-
racla, aclecluada ao estuclo cla teologia. Fnancesco Fatrizzi (1521)-1591),
'-flonrmazo Campanella ( I 568- 1639) e (]io¡"clarao tr]runo ( 1548- 1 600)
tinharn tantbéin seguido esta orientação, sublinhanclo o ¡rapel da observa-
ção. e especulanclo sobre a forr-na e a natureza do cosilos, o muncict 1ísico
coulo nm toclo. Estes hlósofos apoiam-se. além cltsso. ent fbrmulações mate-
mirticas, qlte constitLrenl os asllectos lorte ilente pitagóricos clo platonlsn-ìo,
e antecipaLn ts oLrras cle Copérntco. de Kepler e cle GalileLi.
As clenúncias à mllgia e ao ocultislllo devenl Ser, também. enqlladracias no
pensamento da época. O representante nlais imPortante dest¿r filosolia
ocultista foi Faracelso. cr-rjo rìome era Theophrastus Bomb¿istus von
Hohenheirn, e vivett n¿ì primeira metade c1o século XVI' Estes pensadores
tt!:
È.1_l
trolaclas ent Lrenel'ício cìo homem. Ao mesmo telnpo acredit¿ìvam ila possibi-
lidacle de descoberta do clixir cla vid¿i e na pedrä filosolal. O frlósofo ocllitlsta
inglôs tnais importante foi Robert F'ludd. contemporâneo cle Bacon, que
pfocluzilt Llll-ìa defesa dos Rosicruci¿ìnos ern 1616, e que posteriormente
desenvolveu Ltma teoria clo universo conlo sendo constituiclo por dllas SLIbS-
tânci¿rs e penl-ìeado por sinipatilts c antipiltias ct¡os sinais perceptíveis
ape-
Não obstarlte ¿ìS slras äfirmações \¡ee[lentes contra o saber ocultista. algu-
illas ínterpretações fecentes têm incluido o pelìS¿ìlllellto de Bacon na cor-
rente que ele clenunciava. Frances Yates interpertor-r passos cle Àislt' Atlcmti.ç
coulo inclicadol'es de qr-re Bacon não só conheci¿1. como partilhava as iìles-
r" Frances Yates.
"The
Occult mas co¡vicções. esirutur¿idas ern cócligos. dos grupos que acusavaì0. MitS,
Philosophl'". in'l-Ìte [:Ii:uhe- mesmo que Bacon pattilhasse, cliscret¿rmente. a traclição hermética, a stt¿i
ln n,,\ g c. Lonclon. Iìotrtleclgc.
inf'lr-rência posterior asseljta preclominantelrìente nolltros aspectos do seu
t
A fllosofia clo homen é ciividicla eilj duas partes principais: o saber simples
e particular, e o saber colectivo e civil. A primeira parte incide espe-
cific¿rmente Sobre o homem. e subdivicie-Se eirì conhecimento do corpo e
conhecimento cla mente ou da alma racional. No conhecirnento do corpo
incluem-se a meciicinti. ¿r cosnétic¿t. o atletisnio as artes do prazer' No
conhecime.nto cla mente inclui-se a alrÌla e as sLI¿'ts l'aculdades. Estas agru-
-
Conio foi acrrna referido. a últirna parie ti'¿rt¿ì da teologia revelada. Bacon
tr¿ìça uma clivrsão clara entre a razão Lrtiliz¿icla para o conheciniento dos
fenómenos naturais. e a razão utilizada na relrgião:
The use of hr-rman reason in religion is of tr'vo sorts: the former, in the
conception and apprehension of the mysteries of God to ns revealed: the
other, in the infèrring ancl clerir,in._u of doctrine and direction thereupon.
The former extendeth to tl.ìe mysteries thenrselves; but horv? by way of
illustr'¿rtion, and not by rvay of irrgnment. The latter consisieth indeed in
probation anci argument... seconclar-y ancl respective , although not original
and absoiute. For after the articles ancl principles of religion are placed
and exempted from examination of reason, it is then permittecl to us to
make derivations and inf'erences from and according to the anzilogy' ot-
them, for our bettei clirection. In nature this holdeth not.,. (p. 242).
O conlronio entre os dois moclos cle conhecrmento l'ica claro qnanclo é nar-
rada. por um nrembro da Casa de Salor¡ão, a história da cristianrzação cla
Ilha cle Bensalém, onde clecorre a acção de À/¿ru AtLcutti.ç. Como na Uto¡tict
esta ì1h¿r refiìot¿r fizera extraordinários progressos sen-ì conheccr a religião
cristã. Esta. porén-r, foi rei'elacla pol Lu.r-ì ntilagre. clue consistiu na;rpaliçlio
cle ttm pilar cle luz. encim¿ido pol Lìrna crlrz. no meio clo mar. Unl membro cia
ì l
I
excl¿rmando: ì
Lorcl God of Heaven and E,arth; Thou hast vouchsafed of Thy grace. to
those of our orcler, to knorv Thy rvorks of creatiotl, the se crets of them; and
to cliscern (as far as appertaineth to ttre generätiotts ol men) betrveeu dil'ine
miracles, rvorks of Nature. rvorks of iìrt, and impostt-tres ¿rnd illLlsions of
¿ill sorrs. I clo here. acknolvleclge and testify beflore: this people, that the
thi¡g which we now set: before olll eyes is thy finger. ancl ¿r true miracle.
Ancl forasntuch as rve learn in our books thatThou never rvorkest miracles,
but to a divine ancl excellent end (for ihe l¿iws of uature are Thitle orvn
larvs, ancl Tliou exceeclest them not but upon gÍeat c¿luse), we most hurribly
beseech Thee to prosper this sign, ancl to sive us the interpretation and the
use of it in ntercy; r,r,hich Thou clost in some part secretly promise, by
sencling it ttttto us (P. 267).
Ilm lV¿rr Atlanti.y Bacon elabora uma <fíibula>. como lhe ch¿ima o seu bió-
gralo, Rarvley. em qlle pretende e xibir <¿i model or clescription ol a College.
instituted for the interpreting of Natr-rre. and the prodlrcing of great and
marvelious works for the benefit o1'men> (p 92) A obra ficou incompleta,
mas oferece unta visão cla ciência aplicada e da constituição de uma socie-
clacle científica avançaclils pära a ópoca. É já notável o facto de a sociedade
crentífica da Casa cie Sälornão assent¿lr ntr especiaiização, oLr scja' propor
um esqllema simultaneanìe nte colegial. de cooperação na investigação cien-
tífica, m¿Ìs ao illesmO tctl-ìpo pressttpondo a divisão clo trabalho. Mas. para
IJacon, a clescoberta cie ntíl'ica teria que proceder segundo ltnia t-netoclolo-eier
-TG
.åT
f'.,
i
'åi"'
;
l
.1.r"
i.'
rigorosa. que estabelecesse, sem n1¿ìrgeln pal'il intcrpletações duvidosas, um
saber re¿rl. A indução cltmprirá eSSa função, qlìe é ¿ì de obter a \refdade.
As pnncipars objecçoes qtte tôm sido lbitas ¿ìo pensamtnto de Bacon consis-
tem. em plinieiro lugzrr. nâ pouca irnportâncra qr.re deu iì formulação cle hipó-
teses. ou seja. à constrlìção irlaginativa de novas teorias tendo, deste mocio.
negligenciaclo o papel da criativiclade na pesquisa científic¿r. Em seguttdo
lugar, reconhece-se-lhe r-rna cleficiente apreciaçiro do papel da matemática.
que olltros filósofos da n¿itureza devrdamente valorizat'am. conìo Newtot-t,
por exemplo. Esta subvalouzação poderír iicar a dever-se iì associação entre
a matemática e as ciôncias ocultüs, cllte Bacon queria clenuncilLr.
Y-
156
Cambriclge os estudos sobre a filosofia natural prosseguiam, nos meados do
século XVII, cotrì utTt teor predominantemente platónico ou neo-platónico
em Cainbridge e uma tónica mais científica em Oxford. Ern Cambridge,
Robert tsoyle (1627 - 169 1) filho nais novo do conde de Cork. reuniu à sua
voita um gmpo de jovens intelectnais anglo-irlandeses, nufiìa associação de
tipo colegial. conhecida corto 'Colégio Invisível' (Invisible College), e em
Oxford formou-se a 'sociedade Filosófica cle Oxford' (Philosophical Societ¡'
oJ' Oxforct), sob a é-eide cle John Wilkins. numa a¡tecipação do que seria,
nr¿ris tarde, a Rolal Sor:ie.tt,. cle que Wilkins Seria, enl 1663, nomeaclo secre-
tário. Os estudos levados ¿r cabo na írre¿r d¿r físic¿r e da quírnica corneçavaln a
Ser prosseguiclos cle fonla sistemática. mas estavam alnda próxirnos das
concepções aristotélicas ou platónicas do universo.
Em Boyle encontr¿ìmos, pois, traços d¿is n-iais recÐntes influências clo pensa-
mento europelr. com destaque para De.scartes, mas ao mesmo tempo, a per-
manência de correntes filosóficas ainda sobreviventes do pensamento medie-
val e renascentist¿r. O salto epistemológico, que viria alterar decisivamente
os conceitos tradicionais sobre ¿ìs correspondências dos planos universais
seria dado por Isaac l,{ewton.
Mas esta interpretação cobt'e apetlas uma p¿ìrte da obra de l{ewton, que era
Linl crente convicto e t:sclcvelr unt cottjunto cie tr¿rtados teológictls. Acredi-
t¿ìva qlle a ciêricia era relevante parà ieligião. e que a orclem cósnlica er¿r
eviclê¡cia c1a existência cie Deus. qLle st: nlanifest¿iva. cot-l"to sct ittcot-irót'eo.
l.:i
Não foi, no entanto, a teologia frlosófica clue ciistmgniu Nelvtotl como pen-
sacior. Est¿rs referências são para nós in-ìporl¿Ìntes sobretttdo polque llos ajtr-
cl¿rm a perspectivar ttn quadro cultural onde a ciêrlcia moderna começa a
ganhar contornos definidos sem por isso se afastar da religião cristã' A obra
de Bacon ou a de Nervton dão-nos a rnedida da preocupação em articr¡lar a
ortocloxia religiosa com ¿ì pesquisa científica. Seria rnuito mais tarde que oS
car-ninhos cla ciência comcçariatn a questionar os princípios da religião
cristã. num processo de secnlarização do pertsatnento qltc se iria agudizar no
período vitori¿rno, sobretuclo depois das descobertas de D¿rrwin, dando iugar
àquilo a qlle se chamou 'o dilema vitoriano', Este processo de seculalização
poderá, no entanto, ter começado com Galileu e Descartes. e ter sido amaclu-
reciclo por Newton: a concepção científrca do mundo, a interpretação
mecanicista do cosmos, o impulso dado à ciência empírica. constitlriram.
sem dúr'icia. os fundamentos d¿r ciência qlle no firturo se irta desenvolver.
Na opinião cie Paul H¿rzard, n¿r conhecida obra LcL crise cle lu cr¡ttscience
ettro¡téenne ctu X\¡|il sièc:le. o sécr:io XVIil 'conleça'ern i685, com a afir-
mação do espírito das 'luzes' que iria car¿icterizar o iluminismo setecetltista.
A física experimental exelce um inequívoco fascínio, e a síntese nervtoniatla
é objccto de aclrliração geral. Como afirma Georges Gusclorf, em cada
época a ciência mais avançada exerce fascínio sobre o conjutlto do saber,
servinclo cle icieal ou de modeio para as disciplin¿ìs que ainda procur¿ìln o seu
caminho. Na Idade Média teri¿r sido a teologia a set'vir de modelo epis-
temológico no espaço intelectttal da escolástica'
260
llo\¡¿ì e decisiva etapa na interpretação c1o universo que terír incidêttcia no
ciesenvolvitnento tambén-i dos estttdos sobre o próprio horuem. A repercus-
são das teses de Newton é imensa, sendo de noiar qlle, eûì França, -qeram utn
imenso entusiasnto. Mad¿rme dr.r Chatelet traduz para francês a terceira edi-
ção en-i latim cios Princípict etn 1126. Fontenelie pubtica
ent ll2J um Élogu
cJe Newton a que se segllem tributos pre stados por Voltaire ent Lettres pltilo-
.sophic¡Lre.;, ein i734 e Elémertts de lu philosophie cle Netvtott cle 1738, que
contribuirão coftl grande efrcácia para a clifisão das teses de Newton através
da Er.rropa.
ou met¿rfísicas. Ðavid É{ume irá usar o esqLlema c1a trtracção como rnodelo
explicativo pal'a a associação das ideias, tornando clara a conexão entre as
ciências c1a natureza e as ciências humanas. O desenvolvimento clas ciências
clo homeni, no século XVIil. nomeadarlente o aplt'ecitnetrio da sociologia.
iria assental em pressllpostos cierttíficos. próprios da fisica ne wtotli¿na. ex-
pressos em teorias cle caráctel niecânico e positivista que só em flnais clo
sécr:lo XIX começaraÌl a ser repensados.
A aclrnrraçãro pelas realizações cla nov¿r filosofia não foi, contudo, ttniversal.
As críticas e a de sconliança suigiríìm em dive rsos quaclrantes, quel partindtl
cle segmentos mais conservadores da igreja anglicana. que via perigos cle
¿rteísmo lìas concepções mecatticistas do unlverso, quer de pensadores
neo-platónicos. como Henry tlore, quer do College oJ'Pltvsicictil.t que SUS-
peitava cla Ror,a/ Societt,. or,r da própri¿r corte de Carlos Il. No otttro extrenlo
cia escala social, os artesãos e os comerciantes manifestavan-i também o selt
cepticisr-r-to relativamente àc¡,rilo que consicler¿ìv¿ìill ser 'caprtchos de pes-
\olrs c()ntcrnplati vas' .
Apesar das críticas. ¿tS novas atitudes tiveram expressão lloutros campos,
para além cio da ciência experimental. É de dest¿rcar o aparecimento cla arit-
mética ¡rolítica, pratic:rda a partil do Interregno por William Petty, que
adquiriu a convicção cle que era possír'el e desejár,el o arnplo estllclo est¿rtís-
tico cla sociedacie e c1a economia, corno bäse parä o planeamento nacional.
Mas o mais famoso dos pioneiros dos estucios est¿rtísticos, aplicando os
métocios qll¿ìntitativos ao conhecimento da realidacle socì¿rl, loi Gregory
King, cqas tabelas aincia hoje são utilizadas para a caracteriz¿tção da socte-
dade inglesa de fin¿ris do século XVII. Os esforços destes cientisti-ts visavalÌt
uma cooperação estrcita conì o go\/el'no central, ¿ì semelhança clo que ¿ìcon-
teci¿i em França. Porém, o go\¡erno britânico rar¿ìme nie fcli sensít'el iìs poten-
cialidades destes estucios. e da ¿rssoci¿rcão entre ¿r ciência e a inici¿ttiva
governamental apenas se conhece. coulo testentunho significativo. ¿i funda-
ção clo Observ¿rtór'io Re¿rl de Gre enrvich. em finais clo sécr¡lo XVII.
O Obser-
vatório foi criado com urn fim prírtico em vista o cie medtr a longitr-rde no
ûìar
-
nias acabou por scrvir conlo centro de observação astronómic¿r e de
-
instr ução crentífic¿r.
Actividades
Bibliografia sugerida
t992. Cuntbriclge Culturttl Histot-t:. ed. Boris Ford. Vol. IY, Sevetúee¡rtlt
7"he
Cetúurt Ilrìtctitt, Carnbridge, Cambriclge Li. P.
BACON, Francis
1914 7'he Aclvancenlent of Leuning ct¡tcl Neu' Atlcuttis, London, Oxford
u. P. [160s, 1627]
COPLESTON, Frederick
1963 S. J.. ¡l Hisîr¡n'oJ'Philosiph.),, Vol. III, Part II, Lctte ivlecliuevul ¿t¡tcl
Re¡vtis.çtutce PhilosopÌ4', e Vol. V P¿ttI Moclern Plúletsophl': 7¡ro
Ilritish Philosophet's, Holthes îo PctLet', Nerv York, Image Books.
GUSDORF. Georges
1960 Intrr¡cluctiott ou.r srienc:es huntuines, Paris. Les Belles Lettres.
QUINTON, Anthony
1992 <Bacol.r>. in Re naissctttce'l-ltit:lters, Oxforcl, Oxforcl U. P.
V/ILLEY, Basil
1961 The Seventeerttll Centut'\' Rc¿ckgroun¿l, H¿irmondsrvorth, Penguin.
ru¡ndod srnllnJ y 'g
Surnário
Em 1978 Peter Burke pr,rblicou uma obra intitulacla Po¡ Ltlur Culture in EcLrlt
Moclern Euro¡te, reeditad¿r em 1994. Como o próprio ¿ìutor constata, na
introdr.rção ¿ì r,ersão reimpressa. os dez atlos que sc seguiratrt a 1978 assisti-
ram a um crescimento de interesse pela ternática da cltltura popr,rlar que pro-
duziu, nutÌla só década. um maior núnero de estudos do qtle os trinta ou
qltarent¿ì anos anteriores. Este interesse não se confina apenas à área da his-
tória, mas é taurbém partilhado por sociólogos. críticos liter.'rrios. historia-
clores da arte e antropólogos sociais, e tem recentemente adquiriclo especial
relevo na área dos estr-rdos culturais. A imens¿r v¿rrieciade de aproximações a
esta teniática, bem como as variadíssirnas aplicações, em estudos cle mani-
testações específicas da cultura popular. torna impossível uma sistematiza-
ção que clistinga. com clareza, as linhas m¿riores cie análise e debate. Para
Peter Br.rrke a revisão cia obra de 1978 implicava Llma nova reflexão sobre os
ternlos <popular> e ..cultul'arr.
No entanto, as fronteiras entre os diferentes planos cle arlíilise que tênj que
ser isolaclos, quanclo estas se confol'm¿rnl aos mocielos binários, sãcl impre-
cisas. O reconhecimento clest¿i imprecisão teni levado a propostas cle natll-
reza cliferente, oncle se pfocuril interpretar os i-nocios de apropriação dos
objcctos culturais, e não tanto o seu modo cle proch,rção ou processo de cria-
ção. Seguinclo esta linha de an¿ilise sobre, por exemplo. ltm livro. não impor-
taria saber quem er¿ì o seu ¿ìLttor, nem as circunstâncias cla slta recl¿rccão. lTìas
:.1
A anírlise cia cultur¿r popular não deverá ter conlo objecto nem apenas o
folclórico, nem apenas tudo aquilo que não cabe no conceito cle <cultura
erudita>. Deve, antes, ser vista em relação com os seus próprios princípios
de selecção e avaliação e as sll¿ìs próprias técnicas de interpretação. Apenas
recentemente se tem começado a estudar aquilo em que estas consistein'
A cultura popular foi frequentemente associada à cultura de massas ou à
proclução de objectos de forma padronizada. A padronização da produção
clesses objectos pareceu, a muitos an¿ilist¿rs da cultura até aos me¿rdos do
século XX, dispeilsar a necessidade cle os anaiisar nLlma base indiviciual.
O púrblrco consumidor desses objectos, absorvô-los-ia, Setn qualquer sen-
ticlo crítico. Porém, mais recentemente, esta posição negativzt tem sido
revista por analistas da cultur¿r. empenhados em sublinhar o papel activo do
píiblico no desenvoìvimento de técnicas de interpretação.
Assirn. pode clizer-se que a cultura popuiar e a su¿ì análise têm sido entendi-
das, recentemente. quer através do estndo daquilo que se designa por literacia
e, complementarmente, por análises dos sistemas culturais, ou se.ia. o con-
junto de regras e princípios qlre estão subiacentes à vida quotidiana em dife-
rentes tenjpos e diferentes lugares, A variedade das análises possíveis. cofilo
foi acima refèriclo, dificulta sistematiz¿tções rnais precisas dos tipos de abor-
dagern praticados pelos histoltadores e analistas da crtliura popular. ,A posi-
c¿rracteriza
ção genérica que Peter Burke assume na obra acima mencionada
uma atitude, mais clo que uma metoclologia: os historiadores da cultura pode-
rão definir-se, não em termos de uma írrea olt campo específico, como a ar[e.
a literatura ott a tnúsiclt. mi"ìs alltcs colllo possLrindo uml clu'a preocLtpação
pelos valores e símbolos. quer estes se encontrem na vid¿i quotidiana das
' Ir1eal, p. xriv pessoas comuns, quer nas expressões próprias clas élitesa.
Eni 998 o Abade Odilo cie Cluny instituiu a Festa de Todos-os-Sautos. com
o fito de muclar as associações contidas nest¿ìS celebrações: em vez cle Se
associ¿rr à ideia de espíritos malignos e a mortos que saíam do túmulo para
perturbar os r,ivos. a data ficaria antes associada a todos os fiéis defuntos a
caminho do Cér-r. Este novo significado espalhou-se por todo o ocidente cris-
tão e veio a tomar a designação de Hullovve'en a véspera de Todos-os-
-santos
-
qlle se lhe seguia^ no dia I de Novembro. Mais tarde. a f'esta de
-
para o dia
Fiéis Defrurtos foi transfÞrida do dia anterior a Todos-os-Santos
que, ainda
seguinte. 2 de NovernbLo, mas tuantivet'an]-se as manifestações
cle fogueiras
na forma pagã, acompanhavam estas celebrações: a montagem
e fogos de artifício. Estas, no sécr.rlo xvII, passaram a estar
associadas
o tnais espec-
o casamento tem sido, em geral, peio ser-r ritual e cerimónia,
por uma série de
tacular dos rituais inìciáticos, senclo. alérn clisso, rocleado
da descendência'
restrições e tabús destinaclos a assegurar a legitimidacle
ta
:l
;ì.
¡1
Ë;
sociedade. faremos neste momettto uma breve referência às teorias que,
recentemente. têm procurado estabelecer padrões de estabilidacie e de
mudança neste campo.
rem oposições c1r-ranclo se interptetam mitos. rituais ott outras form¿rs cttltu-
rais. As oposições imecliatamente visíveis, relativamente ao carnaval são duas
a e o quoticliano cie todo o ano. A primei¡a. por ser
-períocloQua¡esma.
cle jejr-lrn. expiação e s¿rcrifício, que Se segLria imediatamente ao c¿ìr-
naval. Mas as oportunidades de representação do inundo às avessas
ciurante o carnaval poclerão ser vistas como um curto período cle desordem
institucionaltzad¿r. um conjunto de rituais de inversão. em que as regras de
comportamento ficavam em slÌspenso, permitindo a explosão de instlntos
reprimidos.
Por último, é cie referir um coniunto de práticas e de usos que, não coitlci-
dindo necessariamente cotn datas festivas do calendário, polariz¿lvall a aten-
ção de toda a comunidade e fnncionavam de forma também ritual. Além das
entradas soienes dos reis ou de pessoas importantes nas cidades. a que já se
alr"rdiu acinta, ou da celebração de vitórias em batalhas, coroações, nasci-
ûìentos reais, as eleições parlamentares sobretudo em Westn-ìinster e
- -
as execuções públicas er¿rn-i ocasiões para uma certa recttperação do espírito
carnavalesco. As eleições elanl uma ocasião festiva, que criava a oportLtni-
dade para conler. beber. cant¿ìr e lutar nas rlras, culminancio com um ritual
trrr-rnfal, a entronizaçáo (chairirzg) clo candidato venceclor. lrlo sécuìo XVIII
o pintor e caricaturista Hogarth captou algutts destes momentos de violência
e ôxtase. As vitórias e as entradas re¿iis, qtte voltaremos a referir, eran-i
acompanhadas de celebrações, fogos cle artifício. fogr-reiras. arcos triunfais.
discr-rrsos, batalhas sin-iuladas, fontes ¿ì escorrer vinho e moecias atiradas à
multidão,
279
-
',xl
3t'
at.
ir1::
rl:
:.i::
'',',:i .
.,¿l
ser decapitado com o machado, o que era privilégio reservado aos pares do
reino. O rei també,mfez saber que desejava que More usasse poucas pala- ,:!jt
ìj.]
.1j
vras na cerimónia da execuçãto. More pretenclia usar, para a stla decapitação,
{1
.fll
o seu melhor traje, mas o I'enente da Torre de Loirdres persuadiu-o de que '!!..
não valeria a pen¿ì, e por isso vestiu simplesmente o rude fato cinzento do .-i;l
seu criado. Obeclecenclo à vontade clo rei clisse pouco antes da execução, å
tg.
mas ficoll célebre a expressão que Lltilizou, onde reafirmou os princípios .:¿l
:.*:
orientadores das suas escolhas: <l tlie the Kirtg's good servünt, bLtt Gocl's
i3t
.å
f
first > ,
,.rt
ì:l
Se o criminoso tivesse escapado à justiça. poderia ser enforcado em ef'ígie, .,1Í:,
:å;
.l'
mas aqueles que sofriarn mesnro a pena maior seriam decapitados, enforca- ê:r
dos, queimados ou partidos com a rocla. sendo depois os colpos esquartejados rå,
rn
e as cabeças exibidas nas portas da cidacle. Se o criminoso fbsse sacerdote å
.,!t.
:11
mudança dos rituais prlblicos rituais públicas. A mais conhecida em Inglatelra era o clrctrivarL uma difa-
de castigo da tradição rnedie-
mação pública, sob a forma de balada. cantada debaixo das janelas do cul-
val eearly noderrr para as for-
mas modemas de disciplina, pado, acompanhada pelo barr"riho prodr-rzido por potes e panelas. Seria uma
prisão e excctrçâo.
espécie cle serenata às avessas que poderia ter também aspectos carnavales-
cos e repetir procedirlentos usados nos clias de carnaval: a execução em
efígie. obrigar ¿r vítima a morltar um burro cle costas para a frente, e passeá-la
pelas ruas, expondo-a aos insultos e ¿ìrremessos dos popttlares.
podiarn cleixar cle ser vistos criticamente pelos reformadores, etrì especial
pelos puritanos. Quer os vestígios pagãos destas festividades, qller a liberti-
nagem a elas associada, era motivo de preocupação e cle tentativa de supres-
são. Max Weber Sugere que uma espécie de gelo desceu sobre a <(ftlerrie
Englanrl>, a eilegre Inglaterra. com o espírito puritano. As dificuldades da
existência quotidiana não nos permitem recotlhecer a Inglaterra do passaclo
cotllo muito alegre. ûìaS temos que constatar que o espírito do puritanismo
seria clecerto hostil às manifestações que acima se descreveram. A Reforma
trouxe consigo dois novos eleinentos, interligados, que iriam contribuir
decisivamente para a extinção de muitas das manifestações popttlares: em
primeiro lugar o Iecurso a uma nova autoridade, a Bíblia, largamente difun-
dida pela implensa e pelo aumento da literacia, A atitucle fundamentalista
criada pela disseminação cle ttm texto comum a todos. levou à exigência de
conformismo, ou seja, à normalização de comportamentos. segundo ttm
modelo úrnico. de santidade.
da natureza.
Actividades
Thus the crucial difference in early modeni Europe (I rvant to ar'9ue) rvas
betg,een the majority, for whom popular culture was the only culture,
ancl the minor"ity, who had access to the great tradition but participated
in
the little tradrtion as a second culture.They were amphibious, bi-cultural
ancl also bilingual. Where the majority of the people spoke their
regional
dialect a¡d nothing else, the elite spoke or wrote Latin or a literary form
of the vernacular. while remaining able to speak in dialect as a second or
third language. For the elite, but for ihen only. the trvo traditions had
clifferent psychological functions; the great traditiorl was serious, the little
tradition was play.
BibliografTa sugerida
BURKE,, Peter
1994 Po¡tr,tlcrrCLtltLtreinEarlvModernEurope; 1500-lB00,revisededition,
Aldershot, Scholar Press.
1992 T'he Ccmtbriclge Culturttl Histot1,, ed. Boris Ford, Vol. III, Si.rteenth
.CenÍur¡' Britctin, Vol. IY Seventeenth
Centur') Britain, Cambridge,
Cambridge U. P.
LASLETT, Peter
1 983 The World v,e HcLve Losr, FurÍher Explored, London, Routledge.
POUNDS, N. G.
1gg4 The Cttlture of the EngLish People: Iron Age to the IttdLtstriaL
Ret,olution, Cambridge, Cambridge U. P.
SHARPE, J. A.
1993 Ecrrly Modem Englancl; A Socictl Histon', London, Edward Arnold.
STONE, Larvrence
1919 The Fatnilv, Sex and Marriage in EngLancl, 1500-1800' London,
Penguin.
-
7. A cultura erudita
ll:: l
::] ì ì
l.ìi ll
.ìÌÌ
::l il '
,:t.. i
Sumário
O presente capítulo irá tratar a cultura das élites inglesas do período earl_1'
ntr¡dern, referindo os modelos de comportamento desejáveis e as institui-
ções destinadas ao ensino e à edr-rcação. Trata os seguintes pontos:
Outro objectivo cla edr.rcação parece ter sido a utllidade clos conhecimentos
num mundo cacla vez mais exigellte em matéria de transações comerciais. de
criação cle uma administração pública cada vez rnais profissiorlalizada e corì
Llm compiexo Sistema de preferência na corte, que cacla vez mais apreciava a
competência e a fonnação literária e cultural.
290
universitário,
É justan-rente esta relação entre o aurnento da forrnação a nír,el
quer no número cle novos alunos, quel'na exigência da sua formação, que
constitui um importante elemento de análise, qttanclo se reflecte sobre a
administração do estaclo eutre oS meados do século XVI e os meaclos do
século XVII e que analisarenlos de segr.rida.
Embor¿i não seja possível determinar, sen-ì margem para dúvidas, o nútmero
de alunos qlle entrar¿ìm parû as ttniversidades de Oxford e de Cambridge a
partir de 1560, é possível fazer un'ia estimativa segura. Por volta de 1550 o
número de aclmissões era ainda baixo, na ordem dos duzentos e cinquettta
alunos em Oxford. mas a partir dessa clata corneçou a subir rapidamente,
atingindo valores muito mais elevados nos anos oitenta. Nos ¿lnos noventa
registou-se um clecréscimo, devido possivelmente às rnás condições econó-
micas clesses anos, e depois um allmento pro-eressivo. nas primeiras décadas
do século XVII. que culminaria com cerca de rnil admissões nos anos trinta.
As guerras civis provocaram nova descida nos números de entradas, mas
nOS anos SeSSentA e Seteuta verifica-Se de novo uma tenciência para O
alrmento, a que Se seguirá um progtessivo declínio, ao longo do século XVIil.
Segundo Lar,vrence Stone nos anos imediatamente anteriores às guerras
civis o nírmero cle jovens qr-re frequentav¿ì o ensino superior em lnglaterra
foi o inais elevado de sempre, até ao século XX: cerca de 2,5Vc dos jovens
com lT anos (a idade not'mal de natrícula nessa época) entrou para as Uni-
versidades de Oxford e Cambridge: ou paf a os 1¡¿r¿s of Court na década de 30
do século XVIL
repreendiü os <<Troianos> que se opunham aos novos estuclos glegos, dando- ::'.1]
-lhes simultaneamente forte apoio.'Wolsey. uns tltescs tllals tarde. iria insti-
tuir lições cle Hr.rmanidades e Gt'ego eni tocia a L'nlversidacle.
Mas o CardealWolsey pretendia mais do que a introdução de medidas pon-
tuais inovadoros. É clele o mais ambicioso projecto p¿ìra a introdução do ¡¿erv
lectnúng ou dos novos saberes em lnglatelra. que se cleveria concretizar com
a funclação do Cardin¿rl's College em Oxfbrd. \Ãiolsey pretendia dar genero-
sos apoios ¿ros esiudos das humanidades, dentro cle uma estrutura tradicio-
nal. coin discipiinas de teologia, direito, direito canónico e meclicina, bem
colrìo frlosofia. A esc¿rla do projecto não tinha precedentes. O Colégio do
Cardeal previa a constituição de ul-n numeroso corpo permanente cle lentes,
que em grancle parte seriarn recrut¿idos a partir cle un'ia recle de grütnnlúr
schoc¡ls clue Wolsey planeava também criar em todo o país. O projecto
inch-ría ainda cairelões, rnúrsicos. um mestre de mírsica e diversos fr-rncioná-
rios administrativos e de serviços cle apoio, bem como nma importante blblio-
teca que começou a ser importada de Roma e de Veneza. O plojecto deWolsey
entrou em colapso quando o próprio Cardeal caiu em desgraça, mas foi, ein
p¿ìr'te, retomado pelo rei. Henrique VIII. através da criação dos Colégios de
Christ Chr,rrch em Oxford e cle Trinity ern Cambriclge. Esta relação directa
entre o rei e as uni,,'ersidades teriat, necessariamente efeitos políticos, e não
será por ¿ìcaso que, em 1564, Trinity alojava 305 dos 1267 estudantes da
llniversidade.
Entre 1610 e 1670 não seriam fundados rìovos Colégios, com excepção cle
Waclham em Oxford, mas iria proceder-se a extensas obras cle alargamento
nos Colégios já existentes, de modo ¿i acomodar os novos estudantes resi-
dentes. bem como oS SeuS tutores e pessoal de apoio' É curioso notar que a
arquitectura destas construções mantém as características medievais já con-
cebidas porWilliarn of Wykeharn para o New College, em Oxford, ern finais
clo século XIV. A intenção não é a de deiiberadamente introcluzir um espírito
revivalista do gótico final, mas apenas a preocLlpação pragmática em reco-
nhecer a forma tradicional das construções universitirrias como aclequada
aos fins da Universidacie. O piano norlnalmente seguido é o do pátio
quadrangular, convidando à introspecção e à rreditação, guardado peìa casa
do Wcu-cle7, e acolhendo a capela, hcLll, btblioteca e alojamentos.
entre aS ciaSSes mais educaclaS, ttm intereSSe e mesmo ttm entttsiasmo pela
ciência, qr-re contribuiu para o apoio social e financeiro necessário ao
desenvoli.'imento do movirnento científico e d¿rs academias científicas. As
próptias Llniversrdades ctispunharn das instalações e dos recursos indis-
pensár,eis à investigação em várias áreas científicas novas, e aS salas de
anatomia e dissecação, os jardins botânicos oll oS instrLlmentos. como
telescópios, microscópios on bombas pneurnáticas, er¿ìûì disponibilizados
pala a experimetrtação clas novas ciências'
No caso da Rolal Sociel¡,, por exernplo. s¿ibe-se agora que. de entre os qua-
reni¿ì e um membros fundadores Vinte e dois tinharn feito estudos gracluaclos
em Oxford, cittco em Cambridge e dez Iras du¿rs Universìdades. ,A' prepon-
derância cle Oxforcl flcaria a dever-se à exìstência, nesta ljniversidacle. da
OxJ'orcl ExperirnenXtL Philosoplry Societ-v. A principal diferença que p¿ìssotl
a ser reconhecida entre as Universiciades e as Acaclemias estava na missão
cle cacla uma: às primetras caberia sobretuclo a actividade pedagógica e às
segundas a investigação científica. A relação entre os dois tipos de institui-
cão era, assim, de complementaridacle. surginclo atritos apenas quando as
acacleilias começaram a tentar atribuir gt'aus acaclémicos, o que er¿Ì prerro-
gativa tradicional das institilições universit¿irias.
tinuanclo a aumeniar ¿rté aos anos trinta do .século XVII. Estes estudantes
não benefici¿rvam cie bolsas nein podiarr slrstcnt¿ìt lt sll¿ì estld¿ì nos l¡i¡l.s com
actividades serviçais. como nas Llniversidades, Não será de estranhar que
apenas al-euns pares clo reino, aristocratas e Setttrv quisessem e pudessent
proporcion¿ir esta formação aos sells filhos. Esta <form¿ìção> era sobretudo
r,alonzada como uma preparação para a vida social. muito mais do qlle ì:ma
fonnação profissional. De f'acto, apenas um em cacl¿r seis estudantes dos i¡zrts
acabana por exercer a proftssão das leis. Ao contrário das ttniversidades, o
sistema de ensino e de alojarnento era livre, sem tlltotiais netl intcl'tlato. o
qne convidav¿r decerto o estudante a sucumbir aos pfazeres mais irnediatos
da ciclade de Londres. sendo frequente surgir, na ltteratura da época. sírtiras
ao estudante dissoluto clos i¡trzs of cout't.
Como n¿rs nniversidades, a frequêncr¿r dos lnr¿s começou a decair nar segunda
metade clo sécr,rlo XVII, e os filhos da gentrt,começaram a ser sttbsiituíclos
por jovens filhos dc colretciantcs c profissionais, mais orientaclos para ¿'t
ao longo clo
raparigas. Esta figr,rra. a do tutor privado' nlantef-se-á ainda
século XIX, constituinclo um ensitlo alternativo ao das
public scltr¡c¡l's' como
se verá posteriormente.
priva-
As gt.cuttntrtr scltoc¡ls eranl normalmellte financiadas po¡ fr-rndadores
clos. empenhaclos em contribr-rir para a boa forrnação moral
e cívica das
crianças e dos jovens. bem conlo para promover os novos
princípios da reli-
gião protestante contra os riscos do catolicismo. Mr-ritos dos fr'rndadores
tinham a intenção de criar uma forma de ensino gratllito pala rap¿ìzes
pobres. especificanclo cleverem ser órfãos, filhos de pobres cla paróquia'
ott
Lrm¿r das obras inais famosas no género <espelho de princípesr> é Tlu: Br.tok
of'the Cout-Íier tle Castiglione, onde o ¿ìLrior defencle que os v¿rlores tracJicio-
n¿ris transmitidos pela educação ¡1enic¿icl¿rmente cle que a principal profis-
-
{
são do homem da corte é a das armas devem ser completados com uma
-
eciucação humanist¿i, ou seja. em que o estudo das humanidacies propor-
cione farniliaridade conl o latim e o -qrego e as outras disciplinas dos stuclict
htmtcutitatis. Ent resr¡ltado destas recomenciações atenttar-se-ia a distinção
entre o nobre e o clerk, ou seja a pessoa clestinada ao preenchimento das
lLrnçoes udnri n istrativits.
Nos sistemas, cacla vez ntais complexos, cle protecçào e cie mecenato, tof-
nava-se tauitrém cada vez rnais importante corresponder ¿ro moclelo dese-
jado e qne ofereceria garantias de obtenção de ltm posto I1a corte. Assim, na
segunda metade clo sécr-rlo XVI o gentleman tinha que possuir um número
si,enificativo de atributos. Tinha que saber combater. e o serviço rnilitar pres-
tado à rainha ou à c¿iusa protest¿ute era considerado uma ¿rctividade nobre.
lr4as, alénl disso, devia saber discutir em latirn, conhecer a forma do Soneto,
enteirder um pouco de teologia, dançar com alguma graciosidacle e ter boas
maneiras à mesa. Até finais do século XVII a corte tol'llou-se não só ttm foco
de atracção para aqueles que desejavam promoção, como uma fonte de
mecenato qlte propot'cionou um florescimento das artes sem precedentes.
Veremos n"rais adiante que, ao longo do século XVIII. a corte vai perdendo
este tipo de prestígio, e as funções deste tipo coineçam a sel' assr-rrnidas pela
aristocracia, nos salões da moda.
Mesmo ;i pintura cle Hilliarcl não esc¿ìp¿l às convenções impostits peio espífito
da Reforma. que entende que aS imagens apenas são aceitáveis se apelarem
ao espírito e ¡ão ficarem a unl nír,el meramente senstlal. As irnagens teriam
assim que ser interioriz¿idas pafa proporclonarem reflecção intelectual ott
espiritr-ial. Para tarìto, tinham que obedecer a uma forrnalização que
clespertasse cle rmediato assoctações no espírito cle qttenl aS contenlplasse.
nunl processo parecido cclÛl o que ocoffe com os ícones. os sin¿ris
conr,encionais presentes n¿ì pintu|a deste períocl0 serviam p¿ìfa qlte se
ultrapassasse o nír,el clas aparôncias e se encontfasse a ideia por trírs da obra
oll, tlo reit¿tto, a <alma> dO rnOclelO, com tod¿is aS SLi¿ìS virtucles. OS letratos
cla rainha isabel I. quer cle Hilliarcl cprer de Sir William Segar estão cheios
i 0.1
justiça, que requerem
cie referências ¿ro poder, à autoridade, à castidade, à
interpretação e nenì sempre são imediatamente percebiclos na sua época.
enquanto houve ¿ìlgllnìa coisa par¿ì sin-rboìízar. Até às guerras civis rivalizaram
produzindo
os àspecthcltlos mont¿lclos pela corte e pela cidade de l.onclres,
utra acentltacla cLferenç¿ì entre os entretenimentos púrblicos. da cidacle e os da
ij corte, emboî¿ì ambos tivessei-il atingido elevados gratls cle sofisticação'
i As guerras civis vier¿iÌn intetromoper estas produções, e o período clo
ì
Conttnr¡ntt,ealthfe'z¿ìpenas um tínìido eslorço para fecupe ftv o
Lorcl Mat't¡¡"
' É clc rcfcrir desde jii quc este
esprctíicr¡lo público. nl sua
j/row; o espectáctllo cle ..tomacla cle posse" clo Lord lt4ayor de Londres' Com
lnrnrr actual. loi "rei¡r- a Restauração ¿r entracla re¿ìÌ. Rot,c¿l Enîrt', foi retomada e
\¡oltoll a sel'clado
ventadou etn iìnris do sóctrlo
XIX conlo ptrtc tle unla al-{umírnpeto¡oLort]Mtl\'orShovç.Por.ém.estasielltativasdelecLlperação
canrpanha de levalorização clas forntas tradicionais não faziam já senticto- poL
já rìão terenl nada para
da-s tlatliçocs blttânicas.
sin-rbolizar. A base icle ológrca das artes efémeras do séctllo XVII tinha
desa-
dcstinada a ofetcccr novos
estínlulos llarir a cocsãtr pareciclo. e o úÌnico espectiiculo que sobreviveu fot o Lc¡rcl Mut'r¡r S/rot'rt' mas
rr¡cional c ptta o scntido dc
'Å:!, idcntidade LrlitânicLts. jú apenus cùrÌlo utn silnplcs dcsl'ilc5.
:: r,:
::ìÌ.
;:3.. ì I
iì ¡l
Íììi
::1 tfl
lì! 1.t
I
g
&,
O potencial simbólico deste tipo de espectáculo tem raízes profundas na
cultura ocìdentai e ver-ìl de um passado pré-cristão. O cristianismo medieval
fora capaz cie transforûrar â otientação pagã e integrá-la nas formas
ritualizatlits da Igrejir c¡ue convivi:int. corno sc viu no capíttrlo antcrior. com
ritu¿iis ¿tssoci¿rdos aos rituros da natureza e apen¿ìs secundariatnente associa-
dos a festiviclacles religiosers. Just¿rmente a ligação estreit¿t erìtrc os ritirais
católicos e as nianifestaçõees simbólic¿rs de outra naturez¿ì. cotllo jogos.
represeriiações ou p(rg,e(ulls,levatam os Reformaclores a abolir toclas as fes-
tividades ¿issociadas ao calendíirio litúr-eico, ntantendo ¿ìpenas as qlle se
lelacionavam com o calendírrio a-erícola. Continu¿rram as celebl'acões popu-
lares associaclas ao nleto clo Inverno ou ¿ìo Natal, e ao meio cio Verão ou
Pnmeiro de Maio. ntas muitas dirs prliticas populares foram clesencoraja-
das. Concretanlente no século XVII o Long Parlicunent aboliu o lrlcn Pr¡Le,
que a Restauração recuperolr, rnas qLre caiu definitivamente em clesuso tlcl
século XVIII.
físicos cla car'¿rl¿rria e não com a rnitologia clássica e bíbiica que etgradtrva a
ser.r pai. As entrac"las solenes do rer, em forma de grancliosos desfiles e espec-
tíiculos. por ocäsião da coroação ou de l'isit¿rs ¿i cidades, mttito do agrado cle
Isabel I, foram t¿imbém pro-eressivanìente abandonadas ao longo do séculcr
XVII, não se realizando jíi no reinaclo de Mary e Gr-rilherile cle Orange. Os
Lord Mat'oi'Slrou's, qLle er¿ìm glorificações cla "^tdade e cl¿rs suas Compa-
nhias cle Mercadores, envolvi¿im ¿ì enconencla de uûl texto que seria clecia-
maclo e representaclo e que simbolizaria as relações entre a Corte e a Cidade.
Os textos lor¿rm ciecrescendo erli significaclos c tornanclo-se cacla vez mais
formais e escritos para a ocasião, sendo o últino escrilo ern i 708, nias já não
re presentaclo.
XVII. O nnsclLre er¿r essenci¿rlmente r.tm <<esirelho> clitista. jíi que o seu pú-
blico se lirlitava ¿ro rei e seus irróximos, ¿ìos alistocl'ltlts e aos embatxadores.
enquanto os ¿ìctores eltm. tambónt. membros c1a fan-rília re ¿rl e nobres (excepto
no uttÍirttLsqrrc err\ que intervirtham actores prof issionais, c1t"tc pertcnciam ¿t
conrpanlrras financiadas pelo rei). O trnl¿ì centr¿ì| do mu.sc1ue, independente-
mente clo seu enreclo específico. e ra o poder do l'ei. percebido através de uma
história ent qlle unta te ntativ¿t para e¡stabelecel o caos er¿ì corìtr¿ìriacla e er¿inl
afirmadas as vil-tudes da orclem. da hierarquia c cla lealciade ao mon¿ìrc¿ì.
Ao contrírrio clo Lorcl Mut,or .\ihovr', em clue er¿ìm ¿ìpresentaclas virtr-rdes. conlo
a \/ercl¿icle, enclu¿tnto moclelos que clcviürr"r ser segLticlos. no r/l(t.çr1¿r¿' o t'ci
repfesentav¿ì, ele próprio. todas aS virtudes. Aqui residia a fofça cleste espec-
táculo e a sua função colrìo instrumento político de irnportância nacional e
internacional. Mas aqui residia também a sua inìensa vulnerabiliclade, a par-
tir clo momento em que, cle facto, Carlos I perdeu o poder e foi executado.
Se hoje em clia já
se reperspectivou a atitude dominante. no Interregno, no
sentido cle se afirmar qlìe não foi. afinal, um desastre cultural, não deix¿r de
ser evidente que as iniciativas de Carlos I para mobilizar o talento dos ¿rrtis-
tas viSuais e olltros para, através c1a arqr-ritectllra, decoração de interiores,
pintura retratista oû ItICtsqLIes, glorificarem o seu regime, não tiveram segui-
mento quer pelo Parlametrto quer por CromrveÌ1. Em meados do século XVII
a Inglaterra não exercia quase nenhtlma influência cllltural na Europa. Mas
depois de 1660 esta situação iria mr"rdar drasticamente.
Actividades
:i
¡
l,:l
:ì
:
E" Ðo pnó^åradustnåaÏ à åxedustriaÍåzação såstemeatåøação e
- teoråzação
Sumário
fins de efìcácia económic¿r e não para a satislação cle necessicl¿rdes materiais. iìüóì úìii qi'iiitica rtitLrcrcs
no cnquadranrcnto da religião
A pesqLrisa cle Weber ¿ìssenta na vontade cle entender esta dissociação entre o p[otùstalìtc. \\''ebcI sentc ¿r
cìcse.jo clc acuniulaçào clc riqLrcza e r lusôncia clc intelessc nos pralcrcs ncccssidade rlc c.spccilicar a
iìcdpçã0 cnl quc o utiliza.
materiais que a riqueza proporciona. A inte rpretação assentará nllrìa leitr"rra esclarecentlo- cnì nût¿ì ito
dos fenómenos históricos, que rel¿rciona, colno jír se clisse. a religião com a trì;it0. rluc rì-s¿l a e\pressao
scnìprc n0 -sentido cluc ela
actividade económica. torÌrou no ciiscur-so popLrlar do
sécL¡lr-. XVII. ou scja. para
rclerir os lno\,inìrntos de
Para Weber', a resposta às su¿rs interrogações leside no espír'ito pulitano. qr,re
incìinaçao ascética sulgidos
ilcentì.ru a llocão dc rr¡r'¿¿r'¿7o:. Pala o autor estlt noçlìo nlìo cxistiriû ncnl na nl Holancla c cnr Inglaterra.
scnr distinçao de olganizaciirr
antiguidacie nem n¿ì teologia católica. senclo irpr'nls introduz.icla na reÌigiãc)
de Igrc-¡a ou dogrra. incluindrr
crìstã com a Refolma. A r,ocação passa a ser entendid¿1. coTllo ¿i. mais elevada assinr os Intlcpcnclcntcs. t.r..s
ConglcglLcioniriistx,c. os IJaP-
lbl'riln clc oblieaçIo lnoral inctiviclual. quc corrsistù ùrìì curììpril os scus clcve-
ti-\tas. os ì\ilco0nttiì-\ c os
res no plano cla activiclacle clo <rnunclorr. Esta forma cle actividaclc c clL- clull- QLtakcrs. ir!tttt. P. 211 .
primento do clever é chamada por Weber this-vvordh' asceticisnt, e é própria
ào p;tituni.irliO.'Ao projectar o scu cotnporlamento religioso na vida e ita'
actividacle do dia-a-dia. de forrna constante e cumulativa. o pr'rritano distil
gue-se do cátólico, que cumpre a sua religiosidade num ciclo de pecado,
arrependimento e perclão.
¿ìpenas alguns seres humanos seriam escolhidos por Deus para a vida eterna,
sendo essa escolha predeterminacla. O Deus clo Novo Testamento. Pai no
Céu. compreensivo e humano. que rejubila com O arrependimento do peca-
dor, foi substituído por um ser transcendental, para lá cla cotnpreensão
hlrmana. qLÌe com os seus decretos incompreensíveis decidiu o destino de
cada inclir,íduo e regttlou os mais pequenos pormenores do cosmos' até à
eternidade. Nesta concepção de predestinação as decisões divinas são imtt-
táveis e por isso é tão impossível. a que já a tem, perder a graça de Deus
como a alguém obtê-la quando Deus a negou. Weber extrai daqui ttm comen-
tário: na Sua extrema clesumanidacle, esta doutrina, nais do que qùalqUer
ôiriia, deve ter tido urna drarnática consequência para a vicla de uma geração
que se rendeu à sua magnífica consistência um sentido de soiidão ìnterior
-
sem precedentes. Aqulfo que era. para o homem da época da Reforma, a
coisa mais importante da vida, a sua salvação eterna, pasì,9,.u a ser pala ele
um destino a ser cuinprido forçoszimente só. antecipadamente decidido palel
toda a eternidade. A ideia de que a srlvacã-o po-cle_ria ser obtida através cla
igreja e clos sacramenró;ii;; oüi,r.r..onlpletamente eliminada, é q1.i.¡g-gÒq-
sis.te. a difere,¡rça decisilj.a elllre o calvinisino e o catolicismo...
Par¿i além clo puritanismo, Weber distingue outros traços específicos cia cul-
tura ocident¿rl, observitveis no trìesllo período, que distinguem também o
tipo de desenvolvimento económico do ocidente do do oriente. Estes traços,
que serão tan-ibém retomados em análises posteriores. incluem a separação
entre a empresa proclutiva e a casa farniliar. Este aspectq..ga tlantição dq
socieclade leudal para as sociedades modernas industrializadas é frequente-
mente retomacio nas análises sócio-económicas da Inglaterra entre os sécu-
los XVII e XIX, In-rporta lembrar que. neste período. se assiste em Inglaterra
à expansão cJo clontesÍic slsteill, já ref'erido, que consistta na combinação
entre a actividacle rural e um sistema de contrato à tarefa para fiação e tece-
lagem, este já organizaclo e¡n moldes pré-capitalistas, com a figura do
entrepreileLLr a est¿rbelecel oS contactos enti'e o <capttal> e O <trabalho>.
Outro aspecto refericlo jír por Weber. que distingue o modelo específico do
capitalisrno ociclent¿rl de outras economias é o de_senvolvlirnento cldades
-das
no ocidente. As comunidades urbanas terian irtingido Llm grau de autono-
mia e clesenvolvime nto na Europa pós-medieval. qr,re proporcionou o afasta-
mento da .,burguesia> clas actividades agrícolas e a Sua dedicação a enlpfeen-
dirnòitos conierciais e inclustriais. Tambérn a existênci¿r, Ita Europa, de nma
tl'aclicão legislativa assente no clireito romano, teria ploporcionado ttma racio-
nalização integrada e desenvolvid¿r clas práticas jr-rrídicas, aciequada ao
desenvolvimento cio capitalismo. Aqui sel'á de referir que a situação inglesa
é unl tanto peculiar, dado que desde cedo o espíríto britânico se opõe a intro-
missões clo clireito romano e canónico. acentuando a importância tradicional
clo conunoti /r¿x' inglês. Foram jár f'eitas referências ¿r este traço da cultur¿r
inglesa. qlte Se torna mais evidente no período da Reforma. coûl o cl¿iro
repúdio clas leis canónicas, mas qlle contitlLt¿t a tel' cxpressão no qttadro
político clo século XViI. Poderír rel'erit'-se. a título de exentplo, o teor düS
petições do Parlamento, enl 1629, onde se argunlenta sempre com base num
clireito britânico, jír expresso na carta de coroação de Henrique I, na N4a-qna
Carta. nos estatutos de Eduardo III. etc.
Weber refere explicitarnente o caso dos Estados Unidos onde, segundo ele, a .tI
Se este momento cle consenso foi de pouca dur:rção. serve. llo entanto, para
Surgidas com a
lembr¿rr a clive¡sidade cle convicções e cle práticas religiosas
êxito'
Refornta e qlte clifet'entes actos legislativos tent¿ìr¿ìm unificar' Sem
n.ìuìto os teólo-
A diversidacle volta ¿ì surgir. entre 1640 e 1660. preocr-rpando
_gos deste períoclo.
geranclo intensas polémrcas qu¿ìuto aos princípìos da
tolerância religiosa. contra uma diversrficação com contornos heréttcos.
fhoi-rras Echvards pubiicor-r, erri 1646. a obra Gc¡tgruenu'
onde fez o c¿rtá-
vivamente
logo clas heresias que prolifefavarì desde 1642, e se pfonunciott
contra ¿i tolerância religiosa. Porém, o contexto social e cultural da
época
f)eus. que poclia quefer a clissolução clos laços sociais tradicionais' o colapso
cio episcopalisno, ¿t ¿tusência cle clisciplina religiosa, a presença de uin¿r
literacia em expansão, a ausência de censura na imprensa, contam-Se entre
essas condições favoráveis.
nismo reforCava-Se, estruturando-se sobre aS esct'ituras, a razão e a tradição, para o desempcnho cle fun-
ções públicas- O Código de
demonstrando uma vitalidade e um conteúdo religioso que desmentem a sua Clarendon. o Toleruliott AL:t
qualificação de religião merarnente oportuna e tenuemente deísta. A vitali- de 1689. o Occ:usit¡ttul
Coulòrntitt ¡1c¿ de 17II e o
dade clo Anglicanismo. neste período, tem expressão na formação de socie- .!r'lri.çnr l7l-l fo¡ant
,{c¡ de
dades que Se constituem com o fito de reformar os costumes e melhorar a todos contrários à expansão
das seitas dissidentcs.
sociedade.
Actividades
[. Deve ler o ensaio cie MaxW'eber The Protestünt E,tllic ctnclthe Spirit oJ
Ca¡tiÍctlisnt, escrito em 1904-5.
Pode ref'e rir outr¿rs posições te óric¿is para a anírlrse deste período? Quais?
Após ter lido a totalidade clo ntanual, cleverái tegressar a este ponto e
reinterpretar as posições de Max Weber. agora à hrz não ¿ìpen¿ìs cio
período eurlt' nrc¡tlent. trìas de toda ¿i modernidade.
Leia cr segLrinte passo d¿r obra cie R. H. Tawney. Religiort cutd tlte Rise of
Çy111-i
r ul is nt, I 922'.
lr:ti: .
tucional, odesnvolvimentodaclassemédia.,i, i
"!3:'r.:i'
i.Ài ì
Hit:
;)"1ìr ì-{
.
liì r: l ..' , -..,-l))".tL""'
l!r:l I
7. Elabore uma breve definição de <secularizaçáö;r, e reflicta sobre o pro-
l¡iii
È*r',:7
llì'tr,
,
cesso de transfonnação das estruturas sociais e culturais inglesas à luz
¡ã..r:i
desse conceito.
l*ìl'
l
ti
lt
il:
li
rr"
tìl
il$.
å.. -
fi Bibliografia sugerida
[: ,
HILL, Christopher
ål;
åi
1964 Societ-y- antl Puritattisnt in Pre-Ret,olutioncL¡1, Englcutcl, Nerv York,
F] Schocken Books.
ål
Ë,$;il .
É{. 1969 Re-fonnation ttt I¡tdustricLL RevoLution: l5-10-l780, Harrnondsworth,
Penguin.
x
*:,
Kì!!-: l
SHARPE, J. A.
Ë;
1993 E¿trh, Moclet n Englancl; A SocicLl H istor¡' I 500'I800, London. Edward
Arnold.
TAWNEY, R. H.
1964 Religion cmd the Rise oJ'Capitalistn, Harmondsrvorth, Penguin.
þ
WEBER. Mar
&
I 978 Tlte Protestctn,ï EÍhic cmcl the Spirit o.t' Capitulisnt, Tr¿rd. Talcott
ffi
ffi!: P¿rrsons, Intr. Antliony Giddens, London, George Allen & Un'u"'in.
w,'
ffi
ffir"
w1.:
wìu i
rc.
F--
coniposto e maquetizado
na UNIYERSIDADE AI]ERT¡\
Imprcsso e acabado
na Gr'ál'ica dc Coimbla