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Junho de 2019
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INTRODUÇÃO
Os vestígios epigráficos romanos na freguesia de Alfeizerão é um tema que pela sua riqueza e
coerência necessita ser revisto, trabalho que enfrenta uma dificuldade incontornável: a quase totalidade
das ocorrências epigráficas que aí se verificaram, carecem de existência física do objecto original,
sobrevivendo apenas as suas transcrições publicadas, que em última instância são insuficientes, mesmo
encontramos e a incorporar alguns elementos que lhes são implícitos, precedendo esse pálido
atravessavam.
Scallabitanus da Lusitânia), cujos domínios ocupavam uma faixa costeira entre o mar e as serras de
Montejunto e Candeeiros, tendo por limite sul a ribeira de Alcabrichel e por limite norte a Lagoa da
Pederneira (FIDALGO, 2008-10, p. 57). Este enquadramento territorial aconselha a guardar alguma
prudência em descartar uma inscrição romana apenas por conter o topónimo Eburobrittium, já
identificada com as ruínas da cidade romana escavada a nordeste da vila de Óbidos, na zona da Quinta
das Flores, Gaeiras (já caducou a controvérsia entre quem defendia e quem contestava que a cidade se
Scallabitanus), e a sua lagoa abrigada deve ter sido importante para o povoamento e comércio desse
tempo, o que estaria na raiz dos assentamentos romanos assinalados no lugar das Ramalheiras e que
Vasco Gil Mantas (MANTAS, 1986) considera poder identificar-se com a cidade romana de Araducta
referida por Ptolomeu e que em todo o caso formaria um vicus portuário de suficiente importância para
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As outras localidades da zona em que foram assinaladas inscrições romanas situam-se próximas a
este eixo viário de primacial importância ou a estradas subsidiárias que a ligavam a outros lugares e villae
romanos. Algumas dúvidas se levantam sobre o traçado exacto das vias romanas junto a Alfeizerão. Do
que foi enunciado por Vasco Gil Mantas sobre as vias romanas na sua tese de doutoramento (MANTAS,
1996, apud. FIDALGO, 2008-2010) com reformulações efectuadas pelo próprio e por outros
Eburobrittium a Collipo sairia de Óbidos perto do santuário do Senhor da Pedra, e passaria por Caldas por
cotas mais elevadas – Casais do Belver, Coto e Salir de Matos (epigrafia, villa romana), a partir do qual
tocaria o Valado de Santa Quitéria e o Casal do Aguiar, de onde desceria para Vale de Maceira,
alcançando a cidade romana sita nas Ramalheiras1; julgamos que em alternativa e neste troço final, é
pertinente que depois do Valado a via romana cruzasse pelos Charnais (referência literária a um “caminho
velho”) e Casal Velho (notícia de vestígios de estrada romana) e descesse por onde se situa hoje a
Cadarroeira, aproximando-se das Ramalheiras por um percurso não muito diferente do actual Caminho
Este traçado da via romana foi complementado por outros autores e pelo próprio Vasco Mantas
(FIDALGO, 2008-2010, p. 67 e ss., BARBOSA, 2008), apontando um caminho paralelo a cotas inferiores que
partindo de Tornada toma a direcção do Casal da Ponte, tocando a Quinta Nova de S. José (onde Mantas
assinala vestígios romanos) e o Pedrógão, onde foi posto a descoberto por José Carvalhais uma necrópole
Alfeizerão (os vestígios romanos no castelo e no corpo da vila). Das Ramalheiras e pelo sopé dos montes,
o Vale da Cela, a via romana seguiria para norte na direcção de Alcobaça pelo Rebolo, Cela e Vestiaria
1
José Carvalhais: «Por escavações, a que mandei proceder neste local, pude ainda encontrar restos de alicerces de habitações á profundidade
variável de 1m,15 a 0m,80. Devia ter ocupado uma área de cêrca de 300 metros por 200 de largo, partindo para O. da estrada das Caldas; de facto
encontrou-se grande quantidade de restos de ímbrices, de tegulas e de tijolo, no solo, em toda esta extensão» (CARVALHAES, 1903, p. 92).
Esta zona foi intensamente urbanizada, além de coberta na sua orla direita pela abertura do acesso à A8, mas a área ocupada pelas novas
construções que aí existem não coincide com a área rectangular estimada por Carvalhais, formando um polígono irregular semelhante a um
trapézio rectângulo que na berma da estrada tem a sua maior extensão, 380 metros, mas que se estende para norte desta por uma área cujo lado
ocidental mede 176 metros e o lado oposto apenas 74 metros, com algumas áreas não urbanizadas no interior desse espaço. Uma criteriosa
prospecção arqueológica é ainda possível e desejável. Uma pessoa amiga mostrou-me fragmentos de telha romana (tégula ou tegulae) que
recolheu nos campos imediatamente a norte da área urbanizada.
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Figura 1: Detalhe do mapa com a lagoa de Alfeizerão e a estrada romana.
Os pontos assinalam a existência ou notícia de vestígios romanos (adaptado de BARBOSA, 2008, p. 39). O outeiro do Pedrógão, não contemplado
na figura, ficava na margem sul da lagoa, alinhado com o monte do castelo com uma precisão quase geométrica.
Estrada Real ou «caminho d’obidos que vay pera a çella;» (como se refere no foral de 1332, transcrito em
ALMEIDA, 1995, p. 108-113), da qual temos uma registo de viagem dos visitadores cistercienses Dom
Edme de Saulieu e Claude de Bronseval em 1532 (BRONSEVAL, 2003) - os dois religiosos desenrolam a sua
viagem a partir das Caldas numa estrada muito plana «por uma região arborizada, por entre vales e
colinas cobertas de pedra», cruzam o «rio da Mota» por uma ponte e avançam durante uma légua por um
vale ao pé de montes estéreis («montibus infecundis») para chegarem a Alfeizerão, os ditos montes
estéreis será presumivelmente a linha de colinas que a nascente corre paralela ao mar e a este caminho e
- Para alcançar o povoado/cidade romana que existiu nas Ramalheiras, a via romana vinda
do sul não poderia simplesmente cruzar a lagoa mas acompanharia as suas margens para nascente até
onde o rio de Alfeizerão que nela desembocava oferecesse uma amplitude “praticável” para se construir
uma ponte. Não conheço vestígios ou rumores sobre a existência de tal estrutura, mas em terrenos onde
tal começa a ser possível, nomeadamente, na encosta virada a norte junto ao actual Caminho do Vale do
Moinho, à “sombra” do viaduto da A8, tomei conhecimento por informação oral recolhida por esse
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dedicado estudioso das coisas de Alfeizerão que é Carlos Casimiro de Almeida, que se acharam aí em
tempos idos vestígios que muito presumivelmente serão romanos, como ânforas enterradas que as
lendas contavam que se havia encontrado quase intactas, ainda cheias de cereal e de azeite.
possuem algumas designações curiosas, como dois caminhos velhos que poderão indiciar troços de
estrada romana ainda em uso nesse tempo. Um deles é indeterminável, com dois topónimos de difícil
interpretação («casa de Leonardo» e «vale de Recobal» 2), mas o outro é menos críptico: caminho velho
de Charnais. No foral, também se mencionam diversos marcos, quase todos em cumes ou cabeços (como
a estrada romana conjecturada por Vasco Gil Mantas ou a povoação antiga e hodierna de Charnais);
poderiam ser fruto do labor da época para se demarcar os territórios de exploração senhorial ou virem de
tempos mais recuados e terem sido reutilizados como marcos de limite3. Um deles é relevante: “marco da
Barba Torta”. A Barba Torta é um topónimo que sobreviveu até aos dias de hoje, indicando uma zona
plana em volta da Estrada Nacional 8 que, grosso modo, se estende a meio caminho entre a saída norte
de Vale de Maceira e o desvio para a EN 242 e A8. No foral lê-se «marco que see [existe] no Cume de
Barva Torta» podendo aludir a qualquer um dos montes a nascente. Se com base em qualquer
sua orla sul-sudeste a partir da estação romana do Pedrógão, podemos constatar que ele cruza
- A via romana mais litorânea que franqueava o acesso aos povoados e portos das lagoas
primeira lagoa, dado confirmado por uma inscrição de S. Martinho do Porto inventariada no Corpus… (CIL,
362, p. 39) que é descrita como existindo então no desembarcadouro velho numa «pedra de 7 palmos de
largura por cima e 9 por terra e 9 e meio de alto». Inscrição muito truncada, da qual só sobreviveram as
2
Mesmo nos mapas militares não encontrei vestígios destes antigos topónimos. Conjecturalmente, Recobal poderia ter como raiz o latim
Recubat, que lhe conferiria o sentido de vale inclinado.
3
Nas demarcações do mesmo foral, menciona-se a granja do Souto onde existe ou see um «marco posto», ou seja, erigido, criado, deixando em
aberto a ideia de que havia marcos que existiam de antemão.
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Figura 2
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UMA RELAÇÃO
conhecidos de inscrições romanas, entre elas as inscrições controversas reproduzidas pelo cronista Frei
1 – Marco miliário de Adriano proveniente das Ramalheiras. Em estudo realizado por Vasco Gil Mantas
(MANTAS, 1986), obteve-se o texto latino: IMP/ CAESAR DIVI / TRAIANI . PAR/THICI F(ilius) . DIVI .
NE/5RVAE . NEPOS TR/AIANVS HADR/IANVS . AVGustus. PO. NT/ MAX. TR (ibunicia) . POT {estate) / V
{quinta) . CO{n)S(ul) . III (tertium) . FE[CIT]. A hermenêutica das palavras e abreviaturas conduziu à
seguinte leitura: «0 imperador César Trajano Adriano Augusto, filho do divino Trajano Pártico, neto do
divino Nerva, pontífice máximo, no seu quinto poder tribunício, cônsul pela terceira vez, fez. ».
Comentário: segundo Vasco Gil Mantas, e é essa a função dos marcos miliários, numa outra linha,
que se perdeu, o marco indicaria a distância contada a partir de um ponto de partida, que eventualmente
poderia ser Eburobrittium ou Collipo. Um fuste de coluna, sem inscrição, sobreviveu em Alfeizerão
juntamente com este marco miliário e mormente algumas obras o referenciam como um marco
anepígrafo (em que as letras teriam sido pintadas em vez de insculpidas) Vasco Mantas é de opinião que
seria de facto um segundo marco miliário «com o letreiro picado e a parte superior muito desbastada»
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2 – Inscrição de uma estátua a Públio Lauro (BRITO, 1597). Interpretação de Bernardo de Brito:
«Aos cidadões, ou governadores de Eburobricio, poserão por decreto dos Decuriões com muyto boa
vontade esta estatua a Publio Lauro, filho de Lauro, hum dos dous varões do governo, por respeito do
Figura 4
Comentário:
O epigrafista Emílio Hübner (HÜBNER, 1871, p. 54), aludindo às inscrições de Bernardo de Brito
que mencionam Eburobrittium, que ele rejeita em conjunto como sendo falsas, advertia que do cronista
só se deveria aceitar como verdadeiras as inscrições que constituíam «lápides sepulchraes singelas».
Ignoramos se esse juízo draconiano o libertou de estudar as inscrições per si mas, por ironia, é um facto
que na epigrafia até agora revelada nas escavações da cidade romana da quinta das Flores, não há
nenhuma alusão ao nome da cidade, que só surge em inscrições dentro da área do município, estas de
Alfeizerão, e uma encontrada em Amoreira de Óbidos por Leite de Vasconcelos em 1897 - «EBORO__TT» -
cujo estudo foi retomado entusiasticamente por Borges Garcia (GARCIA, 1971, p. 458-460).
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3 – Memória de Sulpícia Avita, encontrada pelo cronista à porta do castelo de Alfeizerão, à parte
direita da entrada (BRITO, 1597). Leitura: «Quinto Servilio Avito, erdeiro de Gayo Servilio Lauro seu pay,
trabalhou que se pusesse esta memoria á custa do seu tesouro, a Sulpicia Avita, filha de Lucio» (Figura 5).
Francisco Rodrigues de Gusmão (GUSMÃO, 1876) explica esta lápide com as seguintes palavras: «Parece
ser a lápide funerária de uma senhora, que em testamento deixara encarregado de lhe prestar as
derradeiras honras a seu parente, talvez irmão, 2.º Servílio Avito; o qual deporia o nomen do que era seu
pai por natureza, conservando, como prescrevia o uso, o cognomen, e tomaria o de seu pai adoptivo, Gaio
ou Caio Servílio Lauro, de quem pela adopção, ficava igualmente constituído herdeiro».
mesma inscrição dentro do castelo de Alfeizerão (Figura 6), «à entrada da terceira porta a mão dereita», já
quebrada, da qual reproduz parcialmente as linhas, que a custo se identifica com as da inscrição da
Monarchia. Também no castelo e na casa seguinte, o ouvidor encontra uma outra inscrição, metida na
Figura 5
4
Terão porventura existido mais inscrições no castelo. Em 1758, o pároco Doutor Manuel Romão, em resposta aos Quesitos, afirma que o castelo
será obra dos romanos «pellas inscriçoiz que vi nelle em pedraz que se dedecavão a Senadores Romanoz» (IAN/TT, Memórias paroquiais, vol. 2, nº
53, p. 469). Nenhuma das inscrições deste levantamento, corresponde a esta alusão do pároco, não obstante a menção nelas a concelho ou
município e governadores.
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Figura 6
Comentário:
Atente-se na repetição do apelido Lauro da inscrição precedente. Na lápide sepulcral (Item 7) que
se diz ter sido encontrada no Reguengo da Parada, freguesia de Tornada em 1990 ocorre o mesmo
Avito, ou Avita, também era um apelido muito disseminado no município de Collipo, como o
comprovam os nomes de Dutia Avito (CIL, 341, p. 37) Avitae Rufi (CIL, 342, p. 37) e Frontonius Avito (CIL,
345, p. 38), de lápides que existiram no castelo de Leiria, ou de Flávio Avito em Cós (CIL, 344, p. 38). M. L.
Albertos, citado por Vasco Gil Mantas (MANTAS, 1982, p. 75), assinala que o apelido Avito é muito
comum nas zonas célticas, onde poderá recobrir um nome indígena. Da zona da Serra de S. Julião era
proveniente uma lápide sepulcral onde se menciona um Cecílio Avito, filho de Quinto, da tribo Galéria
(MANTAS, 1982, P. 72). No Rebolo, freguesia de Famalicão da Nazaré, bem próximo de Alfeizerão, surgiu
uma inscrição romana incompleta num cipó de calcário que Eduíno Borges Garcia (GARCIA, 1962, p.11)
copiou, logrando a seguinte tradução: «Aos Deuses Manes de Avitus, filho de Avitus, de 1 ano de idade, da
O prenome Sulpícia também parece ter sido comum na região. Em Salir de Matos encontrou-se
uma lápide romana copiada por Frei José de S. Lourenço (CIL, 353, p. 38), cuja tradução aproximada é a
seguinte: «Dedicado aos deuses manes [D. M. S.]. Aqui jaz Sulpícia, natural de Collipo, irmã de Calleco, a
Recepta, fez por esta sepultura a Julia Marciana sua piadosa mãy, que morreo de sessenta anos» (Figura 7).
Esta pedra, «de letras mal polidas» foi encontrada pelo cronista junto à capela de Santo Amaro, a servir
Figura 7
Comentário:
Dois séculos depois de Brito, o cronista cisterciense Frei Manuel de Figueiredo (FIGUEIREDO,
1782) poderá ter encontrado o que restava dessa lápide – falando da capela de Santo Amaro,
testemunha: «Defronte desta ermida está um padrão despedaçado, com letras tão gastas que não
José D’Encarnação e Beleza Moreira (D’ENCARNAÇÃO, 2010, p. 49) relacionam a Julia Marciana
desta inscrição com um Marciani que figura numa inscrição encontrada durante as escavações da cidade
de Eburobrittium, paralelismo que já havia sido feito antes por Vasco Gil Mantas, segundo os mesmos
autores.
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5 – Inscrição num aqueduto romano ou «canos d’agoa antigos»: «Os Decuriões de Eburobrício
Figura 8
Maceira, lápide «levantada do chão uma vara» (CIL, 349, p. 38), cujo teor será aproximadamente o
seguinte: «Aos Deuses Manes, Cláudio Tiberiano fez por esta sepultura a Tólia Máxima, de 40 anos,
esposa pietíssima».
Figura 9
Comentário:
Possuímos muitas reservas em aceitar que esta lápide tenha sido encontrada em Vale de Maceira,
freguesia de Alfeizerão, e não em Maceira, concelho de Leiria. No Corpus a fonte apontada para esta
inscrição é o fólio 42 do Notícias manuscritas (ms.) de Leiria. Na página anterior, e com a mesma fonte
bibliográfica, é apresentada a lápide funerária de Tiberio Claudio Maximo, que se diz existir em «Val de
Maceira, em hum cunhal dos sinos desta freguesia de Maceira, junto ao chão» (CIL, 343, p. 37). A estreita
afinidade entre as duas inscrições e o lugar onde se encontrava esta última, num cunhal (da torre,
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supomos) dos sinos, torna pertinente que a inscrição reproduzida no CIL – 349 seja originária de uma
terra chamada Vale, de Maceira, Leiria, suspeita reforçada pela evidência de encontrarmos na actual
freguesia de Maceira alguns topónimos que integram Vale, como Vale Salgueiro ou Vale da Gunha, por
exemplo.
7 –Lápide sepulcral (Figura 10) encontrada em 1990 no Reguengo da Parada, freguesia de Tornada,
em que ocorrem os nomes Lauro (itens 1 e 2 desta lista) e Terencia. O texto apurado da inscrição (LOPES,
D’ENCARNAÇÃO, 1991) foi: «Aos deuses Manes. A Terência, filha de Lauro, de trinta e um anos. Júnia, a
Figura 10
Comentário: Esta inscrição, no âmbito desta recolha, segue, por assim dizer, um percurso inverso
ao anterior, o de Tólia Máxima. No estudo sobre esta lápide, publicado por José D’Encarnação e Maria da
Conceição Lopes no Ficheiro Epigráfico, o suplemento da revista “Conímbriga” (UC, 1991), os autores
tiveram o cuidado de averiguarem sobre as condições em que foi encontrada: teria sido achada num
desaterro efectuado no Reguengo da Parada, em meio a outras pedras que pareciam compor uma ou
mais sepulturas antigas. Num número posterior, o 70, do Ficheiro Epigráfico ( revista “Conímbriga”, UC,
2002), que teve a coordenação do mesmo José D’Encarnação, é feita uma importante actualização na
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“Addenda et Corrigenda”: «Afinal, por informações posteriores (Novembro de 2001), parece que — apesar
dos pormenores do achamento descritos pelo presumível achador — a lápide terá provindo da villa
A lápide sepulcral romana do Reguengo da Parada teria, afinal, o Casal do Pardo como seu lugar
romana, como pudemos confirmar no portal Hispania Epigraphica, onde tem o registo n.º 23100
(endereço electrónico:
http://edabea.es/pub/record_card_3.php?refpage=%2Fpub%2Fsearch_select.php&quicksearch=Casal+
8 – Lápide de Terência Camira. O primeiro autor que se lhe refere é Cristóvão de Sá Nogueira
(NOGUEIRA, 1721), que a descobre na vila a servir de assento à porta da casa de João de Caria Henriques
(Figura 11). Um quarto de século mais tarde, Frei Manuel de Figueiredo (FIGUEIREDO, 1782) descreve-a como
um padrão de mármore branco (Figura 12) que estava encostado ao cunhal das casas de António de Sousa,
da parte do norte, e ensaia uma interpretação: «Parece quer dizer que Terência Máxima, filha de
Quintino, pôs esta memória a sua filha Terência Camira». O texto da lápide foi revisto por Leite de
Vasconcelos (VASCONCELOS, 1902, p. 341), que o fixou assim: «A Terencia Camira, filha de Quinto, sua
mãe Terencia Maxima, filha de Doquiro (ou Doquirico), consagrou este monumento».
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Figura 11
Figura 12
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Fontes:
ALMEIDA, Carlos Casimiro de, Alfeizerão – Apontamentos para a sua História, Junta de Freguesia de
Alfeizerão, Alfeizerão, 1995.
BARBOSA, Pedro Gomes (Coordenação de) – A região de Alcobaça na época romana, edição do Município
de Alcobaça, Junho de 2008.
BRITO, Bernardo de, Monarchia Lusytana composta por frey Bernardo de Brito chronista geral e religioso
da ordem de s. Bernardo, professo no Real mosteiro de Alcobaça : Parte primeira que contem as historias
de Portugal desde a criação do mundo te o nacimento de nosso sñor Iesu Christo. - Alcobaça (Mosteiro ) :
per Alexandre de Siqueira & Antonio Aluarez : por mandado do R.mo Padre Geral Frey Francisco de S.
Clara, 10 Ianeiro 1597.
BRONSEVAL, Claude, Peregrinatio Hispanica 1531-1533, volume II, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa,
2003.
CARVALHAES, José, "Antiguidades romanas de Alfazeirão", in O Archeologo Português, Vol. VIII, n.º 4, pp.
90-93, Janeiro de 1903, edição do Museu Ethnologico Português, Lisboa, Imprensa Nacional, 1903.
CIL - Corpus Inscriptionvm Latinarvm, v. II, ACADEMIAE LIITERARVM REGIAE BORVSSICAE editum, Berolini
Apvd Georgivm Reimervm, 1869.
FIDALGO Guincho, Carlos Abílio, O povoamento na área da Lagoa da Pederneira (Da ocupação Romana
até ao século XII), Volume I, Dissertação de Mestrado em Estudos do Património, Universidade Aberta -
Departamento de Ciências Sociais e Gestão, 2008-2010.
FIGUEIREDO, Frei Manuel de, Corografia da Comarca de Alcobaça (Capítulo de Alfeizerão), 1782,
manuscrito, PDF disponível em: https://drive.google.com/file/d/1462MR41YzSP-
NzWgUF0CsYtSy3aqmYFs/view?usp=sharing
FRIAS Manuel Salinas de, e CORTÉS, Juana Rodriguez. "Corrientes religiosas y vías de comunicación en
Lusitania durante el Imperio Romano" in J-G. Gorges et alii (eds.) V Mesa Redonda Internacional sobre
Lusitania Romana (Cáceres-2002) : Las comunicaciones, Min. Cultura, Madrid 2004; pp. 277-292
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LEAL (Augusto Soares d’Azevedo Barbosa de Pinho), PORTUGAL ANTIGO E MODERNO: Diccionario
Geographico, Estatistico, Chorographico, Heraldico, Historico, Biographico e Etymologico de todas as
Cidades, Villas e Freguezias de Portugal e de grande numero de Aldeias (..), Oitavo Volume, Lisboa: Livraria
Editora de Mattos Moreira, 1878.
LOPES, Maria da Conceição; D'ENCARNAÇÃO, José de, Epitáfio romano achado em Tornada (Caldas da
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Universidade de Coimbra, 37, 1991.
MANTAS, Vasco Gil – «Inscrições romanas do Museu Municipal de Torres Vedras», “Conímbriga”, 21,
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MANTAS, Vasco Gil - A rede viária romana da faixa atlântica entre Lisboa e Braga. Tese de doutoramento
em Letras (Pré-História e Arqueologia) apresentada à Fac. de Letras da Universidade de Coimbra,
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NOGUEIRA, Cristóvão de Sá, «NOTICIAS REMETIDAS À ACADEMIA REAL DEBAIXO DA REAL PROTEÇÃO DO
MUITO ALTO E MUITO PODEROSO REI N. SNR. D. JOÃO 5ª/ LEIRIA», 1721 (manuscrito, cota: BGUC –
Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Ms. 503).
VASCONCELOS, José Leite de, "Archeologia lusitano-romana", in O Archeologo Português, vol. VII,
Outubro e Novembro de 1902, nrs. 10 e 11, 1902, Lisboa, Museu Nacional de Arqueologia
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