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Forais manuelinos

de

Alfeizerão, Salir &

S. Martinho do Porto

Transcritos por Luís Fernando de Carvalho Dias (1962)

Organização de José Lopes Coutinho (Julho de 2020)

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Introdução:

As três vilas em epígrafe possuem a particularidade de estarem associadas a

um mesmo espaço físico, margens e proximidade da Concha de São Martinho do

Porto, antes lagoa de Salir ou lagoa de Alfeizerão, e administrativamente estarem

dissociadas pela foz do rio de Salir em terras da Coroa ou Casa das Rainhas e Coutos

de Alcobaça. Justificava-se por esse motivo recordar os forais manuelinos das três

vilas, até porque neste momento histórico Alfeizerão desenvolvia actividades

associadas ao mar (salinas, porto e construção naval) e uma parte do foral de Salir do

Porto ou Salir da Foz tentar clarificar os direitos e rendimentos do comércio que aí se

verificava face a vizinhança do porto de Alfeizerão.

Os três forais que aqui apresentamos figuram no LIVRO DOS FORAIS

NOVOS DA ESTREMADURA (DGA/TT, Leitura Nova, liv. 47). O foral de Alfeizerão

(D’alfeizaram) inicia-se no fólio 131r, o de Salir do Porto (Sallir da Foz) no verso

desse mesmo fólio, enquanto o de S. Martinho é apresentado no fólio 134r. De Salir

do Porto apresentamos apenas o sucinto foral manuelino, ainda que no mesmo livro

esteja incorporado o foral de Salir concedido pela rainha Dona Leonor, e que se inicia

no fólio 139r.

Os forais manuelinos da Estremadura foram transcritos e publicados em obra

impressa pelo investigador covilhanense Luís Fernando de Carvalho Dias (DIAS,

Luís Fernando Carvalho – “Forais manuelinos do reino de Portugal e do Algarve:

conforme o exemplar do Arquivo Nacional da Torre do Tombo”. Beja, edição do

autor, Tomo 3, “Estremadura”, 1962). Respeitamos e reproduzimos integralmente a

transcrição destes forais feita por Carvalho Dias, inclusive, nas reticências que o foral

de Salir da Foz lhe suscitou.

Transmitida a transcrição de Carvalho Dias dos forais de Alfeizerão, Salir da

Foz e S. Martinho do Porto (respectivamente, pp. 3, 5 e 6 desta publicação),

reproduzimos em seguida (pp. 7-9) as imagens fotográficas destes forais, recolhidas

da sua representação digital em http://digitarq.arquivos.pt/details?id=4223239,

consultados a 8 de Julho de 2020.

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FORALL DO LUGAR DALFEIZARAM

Item mais a dita ordem em este lugar dalfeyzaram estes direitos segujntes. a saber. Por quanto

polla doaçam del Rey dom Affomso anriquez ao dito moesteiro foy passado nelle e em seu

convento todollos direitos que a coroa real hy podia teer. E per esse respeito ho dito moesteiro

podia dar aos moradores da terra todollos foraaes com que lha quisessem tomar. Assy como

deu ho dito foral dalfeizaram pollas comfrontações do limite delle segundo no dito foral sam

decraradas com os direitos segujntes. á saber, que pagariam. a quarta parte das novjdades e

Renovos que hy ouvessem.

E assy do sal das marinhas que hy fizessem. com limjtaçam que das vinhas. olivaaes e

pumares que fizessem de novo dy em diante dessem somente A quinta parte em paz e em

salvo. a saber. ho vinho no lagar e a tinta na eira. E as ollyvas colhidas ao pee da olliveyra.

E dariam mais de cada casaria senhos alqueires de trigo na eira por fogaça que seja boom e de

receber e senhas gallinhas por dia de sam miguel. E todolos outros moradores que nom

ouverem herdade dem senhas galinhas pollas moradas.

E quaes quer pessoas que na dita terra viverem tres annos continuadamente possam dy

adiante vender as terras que hy ouverem ou fizerem A taaes pessoas que lhe façam ho dito

foro, fazendo primeiro saber ao alcayde ou pessoa que estevesse pollo dito moesteiro no dito

lugar. E Se hy nom estevesse nom fossem obrigados de mais hirem a outra parte fazer este

requjrimento vendendosse a tal pessoa que faça ho dito foro e doutra maneira nam vallesse.

E daria mais cada lavrador cadanno nas eyras huuma carga de palha pera ho dito abade ou

pessoas que estevessem no castello deste lugar. E Se lha nom requerissem nas eiras nom fosem

theudos de lha mais dar por aquelle anno.

E reteve mais ho dito moesteiro pera Sy ho dito castello com suas entradas e moradas como

devjsado era antre ho dito moesteiro e os moradores do dito lugar. E a vinha que chamavam de

pero neto e a orta assy como estava çarrada.

E reteve mais ho dito moesteiro pera sy todallas sallinas que já eram feitas com todas suas

pertenças.
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E reteve mais os moynhos e açenhas feitas e por fazer E os pisões e lagares de vinho [e] dazeite

e fornos e Rellegos e Açougues. Portagens. Mordomado. Alcaydaria, e todollos senhorios e

direitos reaaes. E ho relleguo fosse pollo costume de santarem.

E dos lagares em que fezerem vinho darem atee dia de sam çibrão tres Reaes bramcos do dia e

da noute. E dy em diante çimquo Reaes brancos assy do dia e da noute AImda que mais que

huum ouvessem dacupar os ditos lagares.

E despois que ho lavrador meter assegar todallas pessoas de sua casa que pera Isso forem. Se

allguuns mais obreiros ho lavrador meter assegar ho pam de que ouver de dar ho direito aa

ordem Pagarsse am de monte mayor ante que se parta. a saber. huum alqueire a cada

Jornalleiro da semente que segarem sem outra cousa.

E poderão quaaes quer pessoas semear senhas teigas de cevada pera suas bestas e bois sem

dellas pagarem nada Salvo se as venderem por que entam pagarão ho quarto sobre dito.

E outro tamto das favas e hervjlhas e çebollas e alhos e frujta poderão comer em verde. E dos

que colherem ou em Restarem ou vendessem dessem ho dito quarto.

E os gaados do moesteiro e os do dito lugar paçessem as herdades e bebessem as aguoas

Irmaãmente de maneira que nom fizessem dano.

E ho abade porem avja de tapar ho seu pumar de gujsa que se lá emtrassem os gaados da terra

nom fossem obrigados a nenhum corregimento. Ho quall foral foy outorgado pera serem çem

moradores ao menos.

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FORAL DE SALLIR DA FOZ

E por quanto os moradores e pescadores de sallir e dos outros lugares se agravam que sendo

todollos direitos Reaaes daquella emtrada do mar de sallir e lá se pagar delles seu direito assy

Aa entrada como aa saida que tambem lhos Requeriam outra vez quando vinham aportar em

alfeizaram com as cousas de que assy Já pagaram seu direito. E por tanto decraramos que de

quaaes quer mercadorias e cousas de que se pagar ho direito por emtrada em sallir que nom

paguem mais outro direito em alfeizaram as pessoas que ho tal direito pagarem por via de

sacada em terra do moesteiro ou emtrada. Porem se as venderem no dito lugar dalfeizaram ou

em alguum outro lugar do dito moesteiro pagaram dellas ho direito da venda da portagem

segundo ho que das taaes cousas se mandar pagar portagem per este foral sem mais outra

emnovaçam nem acreçentamento posto que doutra maneira se ora requeresse ou levasse ho

que avemos por bem que se mais nom faça.

Nem per conssegujnte se leve direito nenhuum de quaaes quer mercadorias nem cousas que

hy embarcarem que se fora venham Salvo se as hy comprarem pera carregarem Das quaees

emtam paguaraao somente de portagem ho direito segundo a callidade de que forem e se

manda dellas pagar per este nosso foral.

E pella dita rezam nom obrigarão nehuuma das ditas pessoas que per hy passarem nem

embarcarem que levem dy…çõoes pois as ham de levar ao dito porto e alfandega de …ir i,

omde ham de pagar e re…rii as mercadorias que por elle entrarem e sairem.

Item mais ho dito lugar dalfeizaram que fica scripto ante da decraraçam de sellir estes direitos

segujntes. a saber. Relleguo. Dizima das Sentenças. Pena darma. Çallayo. Gaado do vento.

Fornos. Lagares e moendas. Montados Montado de fora da montanheira. cortar madeira. Jujz

dos direitos reaaes. Cadeas Sesmarias. Obra dos muros. Almocrevaria. Telha e tigello.

Mazcotar. Presos remjtidos. Dos partidores. De que tempo se paga ho direito da frujta.

Ceyfeiros. Taballiães. Decraraçam da portagem dos lugares do couto. E a portagem em que

emtra dizima. E assy a portagem per cargas com todollos capitollos atee a pena do forall em

todas estas cousas hé tal este alfeizaram com evora dalçobaça ut supra.

E em este lugar dalfeizaram nam se pagua açouguagem por que ho Açougue hé do conçelho.

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FORAL DE SAM MARTINHO

Item mais a dita ordem em este lugar de sam martinho estes direitos segujntes. a saber. que A

terra nas ditas divjsoões decrarada fosse dada atee sesenta povoadores e a seus sobçessores os

quaaes dariam ao moesteiro a quarta parte do triguo. Cevada. Centeo. mjlho. Azeite e legumes

E de todollos frujtos que ouverem na dita terra E dos frujtos das ortas e novjdades que

ouverem pera comer nom paguem foro Sallvo se as venderem ou derem por que emtam

pagarão a qujnta parte. E assy das maçãas e frujtas. que ouverem.

E os pescadores tenham sua barca ou batel pera tomarem pescado pera seu mantimento sem

delle pagar nenhuuma dizima nem direito sallvo se ho venderem ou derem por que emtam

pagarão a qujnta parte ao moesteiro.

E as outras pessoas que hy pescado matarem darão ao moesteiro a dizima.

E os lavradores de todollos frujtos que ouverem daram ho qujnto E em cada huum anno em

dia de sam Joham bautista daram fogaça de huum alqueire e huuma galinha. E ho relleguo e

as coymas e penas de santarem. E todollos outros direitos sejam ou fossem polla pedarneira. E

ao terceiro anno posam vender e fazer de sua herdade ho que qujserem com a sollenjdade de

direito e com as condiçõoes do dito couto que se nom possam vender a pessoas defesas. E das

i Sallir

ii “recadar” (?)

terras Já rotas dariam ho qujnto e das por romper nom dariam foro ho primeiro Anno que a

rompessem.

E posto que ho dito lugar seja aforado pollo foral de santarem Porem por hy nom aver

povoaçam pera se pagarem çallayos nem açouguagens nem outros direitos se nom poseram

aquy nem se paguarão sallvo os que sempre atee ora costumaram de levar que nom fossem

contra ho forall Sallvo a portagem que se pagará segundo no forall da pedarneira vay

decrarado.

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Apêndice documental:

1 – Forais de Alfeizerão e Salir da Foz (DGA/TT, Leitura Nova, liv. 47, fls. 131r-

131v):

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2 – Foral de S. Martinho do Porto (DGA/TT, Leitura Nova, liv. 47, fl. 134r)

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