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71
RECONHECIMENTO DA

TEXTOS POLÍTICOS DA INDEPENDÊNCIA POR PORTUGAL


71.1 – RECONHECIMENTO DA INDEPENDÊNCIA DO

HISTÓRIA DO BRASIL BRASIL E DETERMINAÇÃO DO MODO DE SUCESSÃO NA


COROA DE PORTUGAL – PROJETO DE D. JOÃO VI
(13 MAIO 1825)
3ª EDIÇÃO

Paulo Bonavides
Roberto Amaral

Volume I
FORMAÇÃO
Antecedentes (sécs. XV e XVI)
D om João por Graça de Deus, rei do reino unido de Portugal, e do
Brasil e Algarves d’aquem, e d’alem mar em África senhor de
Guiné, e da Conquista, Navegação, e Comércio da Etiópia, Arábia,
Pérsia, e da Índia. &ª
Faço saber a todos, os que esta Carta virem, que exigindo as
imperiosas ocorrências do Brasil as minhas paternais providências, e
Independência (séc. XVII até 1822)
soberana intervenção para pôr termo aos males, discórdia, e funestas
conseqüências, que em prejuízo dos vassalos de todos os Estados dos meus
IMPÉRIO reinos, e senhorios, perturbavam a sua tranqüilidade, interesses e
Primeiro Reinado (1822-1831) prosperidade, ameaçando a existência política, e os destinos futuros de tão
Regência (1831-1841) vastos, e ricos países, com tanta maior mágoa do meu coração, quanto eram
mais sagrados os vínculos que deviam unir a paz, e amizade entre povos
irmãos, e ligados em perpetua aliança: fui servido por minha Carta patente
da data desta ocorrer aos sobreditos males, e remover todos os obstáculos,
que podessem impedir a concórdia, e felicidade, assim dos reinos de Portu -
gal, e dos Algarves, e seus domínios; como do reino do Brasil; dignando-me
para tão importante fim ceder e transferir o exercício da soberania deste
último reino com título de império na pessoa do meu sobre todos muito
amado, e prezado filho, e successor, D. Pedro, príncipe real de Portugal, e
Algarves, reservando somente para mim o mesmo título, que lhe transmito
= de Imperador do Brasil = para com ele reger, e administrar o dito reino,
hoje império; ficando a sua administração tanto interna, como externa,
Brasília – 2002 independente, distinta, e separada da administração dos reinos de Portugal
806 Paulo Bonavides e Roberto Amaral Textos Políticos da História do Brasil 807

e dos Algarves; be m como a destes da daquele, posto que sujeitos todos da primeira e segunda ordem; a dos presidentes dos tribunais; a do patriarca,
para o futuro ao mesmo soberano; firmando assim a segurança de ambos arcebispos, e bispos destes reinos, e seus domínios; a do comandante prin -
os tronos sobre a base sólida da legitimidade, e com a restituição da mais cipal, tanto de terra, como de mar; a do reformador, e reitor da universidade
perfeita harmonia estabelecer a paz, e promover a prosperidade geral em de Coimbra; e finalmente a conferência dos títulos com grandeza, ou sem
benefício comum de todos. ela; assim como a concessão dos foros da Casa Real. Todos os mais luga -
E porque em conseqüência do referido vem a ser de toda a ne - res, postos, e empregos serão dados, e providos pela Regência.
cessidade prevenir, e acautelar qualquer maliciosa interpretação e a pertur - É também privativa do rei a declaração de guerra e paz. Suce-
bação a que pode dar causa a falta de declarações precisas, e especificas que dendo porém haver, ou temer-se invasão do território português, poderá a
marquem claras e explicitamente a verdadeira inteligência daquela separa - Regência dispor, e ordenar provisoriamente a sua defesa, quando as circuns -
ção de admi nistração, declarando para isso a forma, porque se hajam de re -
tancias não permitirem, que sem inconveniente, ou prejuízo, se possa esperar
ger, e governar estes reinos de Portugal e dos Algarves quando a Deus
a determinação real.
Nosso Senhor aprouver, q. os herde, e suceda neles o sobredito meu filho
A Regência poderá ser confiada a uma, ou mais pessoas. Pode
príncipe real, e os outros herdeiros, e sucessores, que depois dele vierem, e
sucederem igualmente no império do Brasil: seguindo eu agora, e adotando ser designado para ela, e com preferência, um príncipe, ou princesa da fa -
o que para casos semelhantes foi já ordenado, e de clarado pelos senhores mília real: mas quando o rei nomear mais pessoas, os que não forem da fa -
reis, meus gloriosos predecessores, particularmente pelo sr rei D. Manuel, na mília real, deverão ser todos portugueses.
sua carta de lei do ano de 1499 em que regulou a maneira, porque se havia É como sempre foi da privativa competência do rei atual, e dos reis
de governar este reino de Portugal, quando seu filho o príncipe D. Miguel, seus sucessores, nos casos da minoridade do rei, que deve suceder-lhe, priva -
herdeiro dos de Castela, Aragão, e outros, sucedesse também nele, e reunisse ção de entendimento, ou outro impedimento legítimo, em cuja classe tem o
as respectivas Coroas: hei por bem, e em explicação da sobredita Carta Patente primeiro lugar a ausência destes reinos; nomear a Regência, que em qualquer
da data desta, ordenar, mandar, e pôr lei, que no governo e administracão dos referidos casos, na sua falta, haja de governar os mesmos reinos; e só não a
separada destes reinos de Portugal, e dos Algarves, tanto na vida do dito nomeando, terá lugar a providência, que para o mesmo caso de falta de no-
meu sobre todos muito amado, e prezado filho, príncipe real dos mesmos meação se acha dada na Lei fundamental de 23 de novembro de 1674.
reinos quando a Nosso Senhor aprouver, que neles me suceda; como na de
Conservar-se-ão sempre nos reinos de Portugal, e dos Algarves os
todos outros herdeiros, e sucessores, que depois dele vierem, e lhe sucederem,
mesmos ofícios da Casa Real, e dos ditos reinos, que presentemente há, e
se haja, tenha, e guarde inviolável, e perpetuamente a maneira seguinte.
exercitarão as suas funções, quando o rei estiver nos mesmos reinos.
Os reinos de Portugal e dos Algarves com todos os seus senhorios,
Será igualmente conservada em Lisboa a capela real, e nela con -
e domínios serão sempre regidos, e governados com total separação, e inde -
tinuarão sempre a celebrar-se os ofícios divinos.
pendência do império do Brasil, e segundo as suas próprias leis.
Manter-se-á do mesmo modo a guarda real dos Archeiros para
Os imperadores do Brasil, que hão de suceder cumulativamente
fazer o serviço ao rei todas as vezes que se achar em Portugal, e quando na
na Coroa de Portugal e dos Algarves, com o título de reis, darão juramento
em forma, de guardarem, e manterem todos os seus fóros, e costumes, sua ausência governar estes reinos a Regência, para o serviço junto a pessoa
privilégios, e isenções, que foram concedidos aos mesmos reinos pelos reis do regente, ou dos regentes, se a Regência se compuser de mais pessoas,
seus predecessores: e quando vierem a Portugal serão nele coroados e quando se reunirem nos atos do governo, ou nas solenidades públicas.
aclamados, como o foram os ditos seus predecessores. Todos os cargos superiores, e inferiores de Justiça, e Fazenda,
Estando o rei ausente dos reinos de Portugal, e dos Algarves, se- bem como as prelazias, e beneficios eclesiásticos, serão dados e providos a
rão estes governados por uma Regência com todos os poderes, direitos, e portugueses. Poderão todavia ser a eles também admitidos os brasileiros, se
faculdades convenientes a uma boa administracão, e as necessidades dos os portugueses o forem igualmente nos do império do Brasil observando-se
portugueses: sendo reservadas ao rei, como privativas do seu alto, e supremo nestes, e em todos os outros objetos a mais fraternal igualdade, e perfeita
domínio, a nomeação do regente, ou regentes; a dos ministros diplomáticos reciprocidade.
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O mesmo se entenderá nos cargos, postos, e oficios de mar, e terra, Algarves, meu sobre todos muito amado, e prezado filho, e a todos os que
sendo porém as guarnições de soldados em todas as praças destes reinos, e dele descenderem, e os ditos reinos herdarem, que cumpram, e guardem,
seus domínios sempre de portugueses. façam cumprir, e guardar sem míngua alguma tudo o que acima fica disposto,
Nas ordens militares não se fará inovação; e os grãos mestrados e declarado e o conselheiro, ministro e secretário de Estado dos Negócios
serão, e se conservarão sempre unidos à Coroa, e reino de Portugal. do reino fará extrair cópias desta que se enviarão a todos os tribunais,
A Agricultura, Comércio, Navegacão, e Indústria portuguesas, cabeças de comarcas, e vilas destes reinos, e seus domínios para a sua
publicação, e pl ena observância, registrando-se aonde competir, e
serão protegidos, animados e tratados com mais favor, que os de nenhuma
remetendo-se o original para a Torre do Tombo. Como esta carta com força
outra nação, e igualados, quanto for possível aos do império do Brasil.
de lei se conserva em segredo ate o tempo oportuno de se publicar, será
Nos selos, bandeiras e moedas portuguesas só se usará das armas
melhor concluir-se como a do sr. rei D. M.el, e outras semelhantes, e q. do se
dos reinos de Portugal, e dos Algarves. houver de publicar, fazer-se por um decreto, como se fez a respeito da carta
A Justiça será administrada na conformidade das leis portuguesas; em forma de Lei de 8 de fevr.o de 1711, q. foi depois publicada pelo D. do
e todas as causas de qualquer qualidade, que sejam, se determinarão, e teor seg.te
executarão nestes reinos.
Os rendimentos todos da Coroa de Portugal, e seus domínios, DECRETO

serão dispendidos, e aplicados para a manutenção do seu governo, e própria Hei por bem q. a provisão passada em fr.ª de Lei de 8 de fever.º
administração, para os seus estabelecimentos, e repartições públicas, para o de 1711 de que com este será a cópia assinada por Diogo de Mendonça cor -
desempenho da sua dívida e para o melhoramento, e progresso da sua te real do meu cons.º, e meu secret.º de Estado, passe pela Chancelaria, e
Agricultura, Comércio, e Indústria. nela se publique p.ª vir a not.ª de todos, sem embag.º de se declarar na
Quando se houver de convocar, e reunir Cortes para se ouvi - m.ma provão em fr.ª de lei tivesse execução não passando pela d.ª chancell.ª
rem sobre cousas tocantes a estes reinos, só o poderão ser dentro dos mes - O chanc.er mor do reino o faça assim executar. Lisboa a 2 de outubro de
mos reinos. 1715.
Não se lançarão tributos, ou impostos novos, sem serem ouvidas Com a Rubr.ª de S. Maj.
as ditas Cortes, ou ao menos as Câmaras destes reinos separadamente e que Dada no Paço da Bemposta aos 13 de maio de 1825.
darão as suas respostas depois de terem ouvido o clero, nobreza, e povo
dos seus respectivos conselhos, como é costume ainda em casos de menos
gravidade.
O Imperador, como rei de Portugal e dos Algarves terá sempre
junto a si dois conselheiros, e secretários d’Estado, que serão portugueses; e
por eles correrão, e se expediram todos os despachos e negócios relativos a
estes reinos.
E em testemunho de todo o referido, e para sua firmeza, e guarda,
mandei fazer esta Carta, que valerá, como lei passada pela Chancelaria,
posto que por ela não haja de passar, sendo por mim assinada, e selada do
meu selo grande, não obstante quaisquer leis, alvarás, cartas régias, assentos
intitulados de Cortes, disposições, ou editos, que possa haver em contrário,
porque todos, e todas derrogo, e hei por derrogados para este caso somente,
como se delas fizesse expressa menção; suprindo todo, e qualquer defeito,
que possa haver, tudo de meu motu proprio, certa ciência, poder real pleno, e Extraído de Documentos para a história da independência. Vol 1. Biblioteca Nacional, 1923. Págs.
supremo; e mando, rogo e encomendo ao príncipe real de Portugal e 121-124.

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