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e
cidades
As
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que
portugueza
Monarchia
da
Barbosa
Vilhena
de
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A R v
ÀS CIDADES E V1LLAS
•A
MOMRCHIA PORTIGUEZA
WITEHBUASHlltUS
VoLtII I.
LISBOA
TTPOGRAPHIA DO PANORAMA.
TRAvESSA BAW.TORtA, 73
1860.
g
AS CIDADES E V1LLAS
I»A
MONARCHIA PORTUGUEZA
r
POR
VOLUME I.
LISBOA
TYPOGRAPHIA DO PANORAMA.
TRAVESSA DA "VICTORIA, 73.
1860.
szo
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S^n/o^o -o/y
PROLOU).
A VILLA DE ALBUFEIRA.
A VILLA D'ALEMQUER.
A VILLA PALMADA.
AVILLAD'ALTERDOCHÀO.
A VILLA D'ALVITO.
AVILLA DE ARRAYOLLOS.
A VILLA D ARRONCHES.
A VILLA D'AV1Z.
-
...-
— 57 —
cedendo-lhe muitos privilegios e isempções. E a tão
prospero estado chegou n'esse seculo, graças á ca
pacidade, que então tinham o seu porto, e a sua bar
ra, que no anno de 1550 contava doze mil habi
tantes, epossuia mais de cento e cincoenta navios,
pela maior parte de alto mar, expedindo todos os
annos não menos de sessenta para a pesca. do ba
calhau nos bancos da Terra Nova, e mais de cem
carregados de sal para diversos portos.
O chuvoso e tempestuoso inverno de 1575, ob-
struindo-lhe de arêas o porto e a barra, deu prin
cipio á sua decadencia. Com o discurso do tempo
aggravou-se de tal sorte este mal, que a sua facil
barra, removida pelo movimento das arêas quinze
milhas mais para o sul, tornou-se difficil e peri
gosa; os fertilissimos campos d'Aveiro, que chega
ram a produzir em alguns annos trinta mil moios
de trigo, e ás suas celebradas marinhas, d'onde se
tiravam annualmente de doze a dezeseis mil moios
de sal, ou se esterilisaram, cobrindo-se das mes
mas arêas ; ou, alagados, se converteram em ter
renos pantanosos e insalubres, que tanto concor
reram para se ir despovoando Aveiro.
No principio d'este seculo tratou seriamente o
governo de prover de remedio a tão grande mal,
encarregando o brigadeiro Oudinot, e o tenente co
ronel Luiz Gomes de Carvalho, dois engenheiros
distinctos, de confeccionarem um plano de obras
conducente ao fim proposto. Encetaram-sc os tra
balhos em 1802, e concluiram-se em 1808, dei
xando construido um dique de mil duzentas e dez
braças de comprimento, setenta e dois palmos de
largura, e altura superior ás mais elevadas marés;
em cuja obra se despendeu mais de cem contos de
réis.
Com este dique melhorou muito o porto e a bar
ra, e por conseguinte melhoraram tambem os cam
pos e as marinhas de sal. Animou-se o commer-
cio e a navegação, e Aveiro, então já elevada á
ca.thegoria de cidade, e sede episcopal, por el-rei
D. José, readquiriu, etn grande parte, os dias da
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— 58 —
sua passada prosperidade. Todavia, como depois
que se acabou aquella importante obra hydrauli-
ca não se cuidou mais da sua conservação, torna
ram as arêas a accumular-se no porto e na barra.
com grave prejuizo da navegação ecommercio. Ha
tempos que se emprehenderam, e continuam ao pre
sente, trabalhos de melhoramento.
Divide-se a cidade d' Aveiro em cinco bairros,
contando entre estes o chamado arrabaldes. Omais
antigo ainda sevo cingido com os muros, que lhe
levantou o infante D. Pedro, duque de Coimbra.
Um esteiro, ou braço de mar, separa a cidade em
duas partes, facilitando a communicação duas
pontes de pedra, sendo uma d'ellas de melhor fa
brica.
Tem quatro egrejas parochiaes : a sé, no bairro
antigo ; a da Vera Cruz, que é um bom templo de
tres naves, no bairro do norte ; a do Espirito San
to, de antiga architectura, no do sul ; e a de Nossa
Senhora da Apresentação, que outr'ora tinha por
orago a S. Gonçalo, edificada no lado do sul. Nos
districtos d'estas freguezias ha quatorze ermidas.
A egreja da misericordia, de architectura mo
derna, é um grande ebello templo; e o seu hospi
tal é tambem um bom edificio.-
Conta a cidade d'Aveiro seis conventos, tres de
freiras, que ainda estão povoados, "e tres, que per
tenceram ás extinctas ordens de religiosos. D'aquel--
les o mais autorisado é o real mosteiro de Jesus,
de religiosas dominicanas, no qual lançou a pri
meira pedra el-rei D. Affonso v noannode 1462»
e aonde depois se recolheu sua filha, a princeza San
ta Joanna, fallecendo no habito de freira, mas só
com voto simples, por lhe não consentirem votos
solemnes. em razão de ser herdeira presumptiva
da coroa, na falta de seu irmão, o principe D. João,
depois rei, segundo do nome. O corpo da santa prin
ceza está n'um rico sepulchro.
O convento da Madre de Deus, de religiosas da
terceira ordem de S. Francisco, edificado em 1644,
em cuja egreja se admira um bello retabolo.
-59 —
O cenvento de S. João Evangelista, de religio
sas carmelitas descalças, fundado em 1658 pelo du
que d'Aveiro, D. Raymundo de Lencastre, nos pa
ços, queahi possuia. Está situado na parte mais anti
ga da cidade, forma um grande quadrado, com qua
tro frentes apalaçadas, que terminam em quatro tor
reões, mais elevados e ponteagudos.
Os conventos de frades eram os seguintes : o de
Nossa Senhora da Misericordia, fundado dentro dos
muros pelo infante D. Pedro, duque de Coimbra,
no anno de 1423 ; e fora d'elles o de Santo Anto
nio, de frades menores da Provincia da Soledade,
com uma linda cerca abundante d'agua e arvoredos
edificado em 1524, e reconstruido nos annos de
1564, e 1583 ; o de Nossa Senhora do Carmo, de
carmelitas descalços, tambem com bonita cerca, fun
dado em 1613 por D. Brites de Lara, mulher de
Pedro de Medicis, irmão do grã-duque de Toscana.
A egreja d'este convento é vasta, e está construida
com grandeza. Na capella-mór, do lado do Evange
lho, descansa a fundadora em um magnifico mau-
soleo de marmores de cores.
No bairro antigo ha um recolhimento de tercei
ras de S. Francisco, e junto do convento de Santo
Antonio uma egreja de terceiros tambem de S. Fran
cisco.
Aveiro tem casas nobres de agradavel apparen-
cia, bom caes de pedra, aonde chegam os navios,
alfandega, e um passeio formosissimo tanto pelas
arvores gigantescas, que o adornam, como pelas
vistas apraziveis, que d'elle se desfrueta. E' uma
frondosa alameda, situada na parte alta da cidade,
entre a porta de Vagos e o convento de Santo An
tonio.
A cidade é abastecida de agua por cinco fontes,
das quaes a principal é a da Ribeira, que serve de
ornamento a uma praça junto do esteiro. Vem-lhe
a agua de longe por um bom aquedueto sobre arcos.
Os suburbios d' Aveiro são mui formosos pelas
hortas, quintas, arvoredos, e fontes, que n'elles
ha, e pelos lindos panoramas, que de muitos pon-
77
— 60 —
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03 —
r
•65 —
A CIDADE DE BEJA.
A VILLA DE BARCELLOS.
LlLiiuU,
sores reedificaram. D'este monumento ainda se mos
tram estimaveis reliquias. •»
Tem a villa dentro em si uma sóparochia, e ou
tra no arrabalde chamado Barcellinhos. Aquella,
da invocação de Santa Maria Maior, é uma das mais
celebres collegiadas do reino, com cinco dignidades
e oito conegos. Deve a sua fundação a D. Fernando
primeiro do nome, e segundo duque de Bragatnçaf.
Possuo esta villa uma boa egreja e hospital da
misericordia, varias ermidas, algumas casas nobres,
tres chafarizes de excellente agua, além de quatro
nós arrabaldes. São estes muito lindos pelo bem
cultivado dos campos, e pelas deliciosas margens
do Cavado, que é atravessado em frente da villa
por uma bella ponte de 'pedra.
O termo de Barcellos produz bastantes ecreaes,
principalmente milTio c centeio, legumes, vinho,
linho, fruetas ete. Cria-se n'elle muito gado, e
abunda em caça de variadas especies. Pescam-se
no rio lampreias, salmões c outros peixes.
Conta esta villa perto de quatro mil habitantes.
Acha-se hoje ligada ás cidades do Porto e Vianna
do Castello por uma nova e bem construida estrada,
cm que anda uma carreira regular de diligencias.
Barcellos foi a primeira cabeça de condado, que
houve n'este paiz depois da fundação da monar-
chia. El-rei D. Diniz deu este titulo a D. JoãoAf-
fonso de Menezes, que foi seu mordomo-mór ; e
por morte do segundo conde, filho d'este., fez o
mesmo soberano merce do titulo a seu filho bas
tardo, D. Pedro, o autor do celebre Nobiliario.
Depois de ter andado em pessoas de outras fami
lias, veiu o condado de Barcellos a recair no con-
destavel D. Nuno Alvares Pereira, e pelo casamen
to de sua filha unica, D. Brites, com D. Affonso,
filho legitimado d'el-rei D. João i, encorporou-se na
casa de Bragança, aonde se conserva, tendo sido
elevado a ducado por el-rei D. Sebastião em favor
dos filhos primogenitos d'csta augusta familia.
No antigo regimen gosou Barcellos da preroga-
tiva de mandar procuradores ás cortes, os quaes
— 72 —
se sentavam no banco decimoquarto. O seu brasao
darmas foi-lhe dado por D. Aflonso, primeiro duque
de Bragança. Conforme se-acha na Torre do Tombo,
consiste em um escudo azul com uma ponte e uma
arvore com pomos de oiro : por cima dois castel-
los de prata, e sobre estes tres escudos, nos dois
dos lados as quinas de Portugal, e no do meio
uma aspa vermelha em campo de prata, que era
a divisa de D. Affonso.
Entretanto o brasão que se vê em Barcellos na
tone da casa da camara differe deste era ter so
bre a ponte uma- só torre, e junto uma ermida,
com a' arvore á porta. No mais é egual.
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AVILLA DE BENAVENTE.
— 76 —
AVILLADEBERINCEL.
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— 77 —
A VILLA DE BORBA.
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— 81 —
A CIDADE DE BRAGA.
I
— Bo
de mui diversas epocas. A capella-mór, reedificada
no principio do seculo xvi pelo arcebispo D. Diogo
de Sousa , é um bel lo typo do gothico florido, d'cs-
se genero d'architectura que bem se pode chamar
manuelino. O retabolo é todo de pedra lavrada,
e foi feito por artistas biscainhos. Aos lados doal-
tar-mór estão os tumulos do conde D. Henrique,
e de sua mulher, a rainha D. Tareja, paes do nosso
primeiro rei. O corpo da egreja é de reconstrucção
muito mais moderna. Junto ao guardavento acha-
se um precioso monumento artistico, unico d'este
genero em Portugal. E' o mausoleo do infante D.
Afionso, filho primogenito d'el-rci D. João i. Este
riquissimo tumulo é todo de bronze com a estatua
do principe em cima, e muitas outras figuras, tudo
coberto com um baldachiiío do mesmo metal. Esta
obra prima d'esculptura foi feita em Flandres, c
d'ahi mandada para Portugal' pela infanta D. Isa
bel, duqueza de Borgonha, tambem filha de D.
João i, e mulher de Filippe o Bom, duque de Bor
gonha.
Os dois orgãos e o coro, que lhe fica contiguo,
são magnificos. A sachristia contém muitas reli
quias, e alfayas de muito apreço e valor. Nas ca-
pellas do templo, e em outras inteiramente sepa
radas, mas que se cominunicam comeste, algumas
das qilaes são grandes como igrejas, veneram-se
os corpos de varios santos, que foram arcebispos
d'esta cidade, sendo um delles S. Giraldo, que
baptisou a el-rei D. Affonso Henriques.
Nas mesmas capellas adiniram-se alguns sum
ptuosos tumulos de prelados mui distinctos em
saber e virtudes. Os mais singulares em estatuaá
e mais obra de esculptura são os dos arcebispos
D. Gonçalo Pereira, avo do condestavel D. Nuno
Alvares Pereira, que viveu em tempo d'el-rei D.
Diniz, e D. Diogo de Sousa, de quem acima falla
mos. Na capella da Annunciação, que fica no claus
tro, está um tumulo de madeira, que encerra o
arcebispo D. Lourenço Vicente, que militou com
heroico valor ao lado de D. Joãtt i na memoravel
batalha d'Aljubarrota, da qual saiu ferido com uma
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grande cutilada. Atravez deumavidraça, que tem
o tumulo, vé-se o seu corpo incorrupto, no mais-
perfeito estado de conservação. N'esta capella, que
é antiquissima, é que foram sepultados no seculo
xn o conde D. Henrique e a rainha D. Tareja, e
ahi estiveram até ao seculo xvi em que foram tras
ladados para a capella mór. E' esta a unica egreja
de Portugal aonde se conserva o rito e breviario
muzarabico, officiando-se em uma das suas capei-
las segundo esta antiga lithurgia.
A sê metropolitana de Braga honra-se com uma
longa serie de prelados, entre os quaes figuram
muitos santos, desde S. .Pedro de Rates atéS. Gi-
raldo; um papa, que sendo arcebispo se chamava
D. Pedro Julião, e que elevado ao summo ponti
ficado tomou o nome de João xxi ; quatro princi -
pes, que foram o cardeal infante D. Henrique,
depois rei, D. Duarte, filho legitimado del-rei D.
João iii, D. José, e*D. Gaspar, ambos filhos le
gitimados, aquelle d'el-rci D. Pedro n, e este
de D. João v; quatro cardeaes, o mesmo infante
D. Henrique, D. Jorge da Costa, D. Verissimo
d'Alencastre, c D. Pedro Paulo, fallecido ha pou
cos annos; e finalmente muitos varões distinctos
por saber e virtudes, dos quaes só nomearemos dois,
D. fr. Bartholomeu dos Martyres, e D. fr. Aleixo
de Menezes, tão illustrcs na historia como popula
res em lodo o paiz.
Além da sé tem Braga mais cinco parochias,
que se intitulam : S. João do Souto ; Santiago da
Cividade ; S. Victor, ou S. Victouro, como vul
garmente lhe chamam ; S. Pedro de Maximinos ;
e S. José. Junto da egreja de S. João do Souto,
com a qual se coiumunica por ura grande arco, está
a gothica e formosa capella de Nossa Senhora da
Conceição, toda ornada de estatuas e variadas es-
culpturas em pedra, e com seu retabolo de alto
relevo, tambem de pedra. Foi edificada no começo
do seculo xvi.
Em torno do templo de S. Pedro de Maximinos
teem-se descoberto muitos restos de edilicios, que
attestam que era ali o principal assento da anti
— 87 —
ga — Brachara Angusta, que. pela indicação dos
mesmos vestigios, se estendia até ao local em que
agora remos o hospital de S. João Marcos.
A egreja da misericordia é contigua ã sé, e se
rommanicam interiormente. E' -um templo dar-
chitectara moderna, com o frontispicio ornado de
colamnas, e muita variedade de esculptnras. A an
tiga egreja da misericordia, chamada a Miseri
cordia Velha, e actualmente umacapella do claus
tro da sé. O seminario archiepiscopal, fundado no
Campo da Vinha pelo arcebispo D. fr. Bartholo-
meu dos Martyres, é um vasto edUicio.
Havia em Braga quatro conventos de frades, que
eram—o de Nossa Senhora do Populo, de eremi
tas de Santo Agostinho, agora quartel militar, de
que acima falíamos ; o de Nossa^ Senhora do Car
mo, de carmelitas descalços, fundado em 1653, que
serve de hospital ; o cóllegio de S. Paulo, dos je
suitas, edifícado pelo arcebispo D. fr. Bartholomen
dos Maryres em 1560; e o convento de Nossa Se
nhora da Assumpção, dos congregados de S. Filip-
pe Nery, fundado no meado do seculo passado., c
ao presente ocenpado pelo lyceo.
De religiosas tem quatro conventos : o do Sal
vador, de freiras de S. Bento, fundado em 1602 :
o de Nossa Senhora da Piedade, de religiosas ter
ceiras de S. Francisco, construido em 1547, e cuja
egreja se reedificou no seculo passado ; o de Nossa
Senhora da Conceição, de religiosas da ordem da
Conceição, tinico que ha em Portugal, fundado em
1625; o de Nossa Senhora da Conceição, de frei
ras capuchas, edificado em 1727. Ha tambem na
cidade quatro recolhimentos.
Além d'estes edificios religiosos Braga conta ain
da muitos outros templos e capellas, publicas, c
particulares, que formariam um longo catalogo.
Mencionaremos asprincipaes. As sumptuosas egre-
jas de S. João Marcos, c de Santa Cruz, já espe
cificámos. A egreja dos Terceiros de S. Francisco,
na rua da Fonte da Carcova, construida no seculo
antecedente, c oin bom templo. A capella do paço
archiepiscopal, intitulada de Nossa Senhora da
— 88-
Conceição, é grande c bem ornada, e está fran
queada ao publico. A egrcja de Nossa Senhora da
Lapa, no campo de SanfAnna, é moderna, e de
boa architectura. A ermida de SanfAnna, no mes
mo campo, a que deu o nome, ê antiga, e tem na
sachristia uma inscripção romana. A egrejade Nossa
Senhora a Branca, fundada no campo do mesmo
nome, pelo arcebispo D. Diogo de Sousa em uma
das velhas torres da cidade, é um bonito templo.
A capella de Nossa Senhora do Guadalupe, de ori
gem antiquissima, e outr'ora chamada de Santa
Margarida, foi reedificada no seculo passado. E'
de forma circular, e está collocada sobre uma pe
quena eminencia, povoada d'arvores, d'onde se
gosam lindas vistas dos arrabaldes. A egrejade S.
Vicente, na rua dos Chãos de Cima, é um templo
de construcção moderna, e bem ornado. A capella
do seminario archiepiscopal é grande e boa. A ca
pella de S. Sebastião, de fundação antiga, e mo
dernamente reconstruida, é de forma circular, e
está situada em terreno um pouco elevado, povoa
do de frondoso arvoredo, com um bello e espaçoso
adro, dividido em dois grandes taboleiros com esca
das de um para outro, plantados d'arvores, e cer
cados de muro com assentos, erguendo-se nomeio
de um d'elles um chafariz, que é dos melhores da
cidade. Entre esto arvoredo admira m-se carvajhos
seculares, de proporções gigantescas, e em toda
a força da vegetação. Tanto no adro, como em tor
no da capella estão collocadas varias c"blumnasmi-
liarias com inscripções romanas, que outr'ora guar
neciam as vias militares, que salam de Braga.
Estas columnas estiveram primeiramente no campo
de SanfAnna, aonde as mandou collocar o arce
bispo D. Diogo de Sousa, que foi quem as fez con
duzir para a cidade dos diversos sitios em que fo
ram achadas.
Braga possue alguns estabelecimentos de cari
dade tanto para curativo de enfermos, como para
asylo de infelizes. O principal e mais grandioso
é o hospital de S. João Marcos, a que já nos re
ferimos, o qual é administrado pela santa casa da
— 80-
miscricordia. Tem grossas rendas, é acha-se bem
organisado, e mantido. & casa da camara ó um
edificio> regular, e de boa apparencia. Uma empresa
ha pouco creada acaba de fundar um tbeatro em
edificio construido expressamente para esse lim
junto ao campo, de SanfAnna.
E' tão abundante d'agua a cidade de Braga, que
se contam no seu recinto umas setenta fontes pu
blicas, e particulares. Entre as primeiras algumas
possue de aspecto agradavel e archi.tectura regular.
Além dos generos, que vem diariamente a cida
de para o seu abastecimento, concorrem ao sabbado
em maior numero, c mais variados, de todas as
visinhanças, e até de muita distancia, de modo que
fazem um grande mercado. No terceiro domingo
de Maio começa a sua feira annual, que dura quinze
dias, e ã qual afllue muito povo de toda o alto
Minho.
Os principaes estabelecimentos de instrucção pu
blica são o lyceu, o seminario, e uma bibliothe-
ca publica, creada em tempos modernos.
. E' Braga uma das terras mais industriosas do
reino. Occupam-se ahi muitos braços no fabrico de
chapeos grossos, armas, ferragens, e tecidos de li
nho, que exportam para muitas povoaçjjes do in
terior, e para o Brazil. Os seus habitantes, que
andam quasi por dezesete mil, são muito activos,
habihdosos, eemprebendores. Encontram-sc entre
elles artistas de grande merito. Actualmente ha ali
esculptores em marfim.e em madeira, que em ou
tro qualquer paiz ganhariam boa fortuna, e gran
de nomeada.
Os arrabaldes de Braga são celebres pela sua
amenidade, cultura, ebelleza. São povoados de mui
bonitas quintas, e de campos sempre viçosos. As
aguas de muitas fontes espalhadas por toda a parte,
alguns ribeiros, que correm junto á cidade, e o
rio Cavado, que passa a pouca distancia, cntre-
teem em todos aquelles arredores uma vegetação
pomposissima, quer nos bosques, quer nos pra-"
dos.
O Bom Jesus do Monte, a menos de meia logua
12
-
:.:s — 00 —
(la cidade, é um dos santuarios m«is notaveis, mais
ricos e populares de todo o reino, e um dos pon
tos mais formosos e aprasivcis dos suburbios de
Braga. Foi começado enH718, e concluida aparte
principal em 1725. Porém desde então, com maio
res ou menores intervallos, sempre ali teem ha
vido obras de novos augmentos e melhoramentos.
N'estes ultimos vinte annos teem-seemprchendido
e levado acabo muitas obras grandiosas, e impor
tantes aformoscamentos.
Nas cercanias de Braga acham-se os edificios de
tres mui celebres e antigos conventos : o de Ti-
bães, cabeça da ordem de S. Bento, a uma legua
da cidade, que traz a sua origem dos primeiros tem
pos da monarchia, e que ê um dos mais vastos,
que se levantaram em Portugal; o de Villar de
Frades, que foi da congregação dos conegos secu
lares de S. João Evangelista, outra legua acima do
; ,; de Tibães, situado junto ao rio Cavado, e com uma
das mais bcllasegrejasgothicas que ha nopaiz;eo
de S. Fructuoso, mais proximo da cidade, de ca
puchos piedosos, c em tempos antigos de frades
bentos, cuja primeira fundação é auterior á inva-
., .são dos moiros.
O concelho de Braga 6 mui produetivo c culti
vado com esmero. A sua principal cultura ê mi
lho, e vinho verde; mas tambem produz muitas
frnetas, especialmente laranjas, que exporta para a
cidade do Porto e outras terras do interior. Colhe al
guns outros cercaese legumes; cria muito c optimo
gado de varias especies, em que faz importante
commercio ; fabrica boa manteiga ; c abunda em
muita variedade de caça.
No antigo regimen gosou a cidade de Braga da
prerogativa de enviar procuradores ás cortes, os
quaes tinham assento no segundo banco. Tem por
brasão d'armas um escudo coroado, tendo no meio
a imagem de Nossa Senhora com o menino Jesus
nos braços, collocada entre duas torres, c sobre a
Virgem a mitra pontifícal. Alguns accrescentam a
este brasão a lettra seguinte : ínslgnia fidelis, et
antiqua Brochara.
!
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— 91 —
A CIDADE DE BRAGANÇA.
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-;
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— 93
i
T
— 9Íí —
— 96 —
creio de 1488 o mesmo soberano elevou a nova po
voação á cathegoriadevilla.
Com tão poderoso incentivo em breve teve co
meço, e rapidamente se desinvolveu a nova villa,
que se denominou das Caldas da Rainha. O credito,
que estes banhos foram tendo em todo o reino,
e juntamente ascommodidades, que áhi se offere-
ciam aos enfermos, ou fossem pobres ou abasta
dos, chamavam á villa uma grande concorrencia,
tanto dos que a demandavam temporariamente,
como dos que por interesses industriaes n'ella se
vinham estabelecer.
Todavia o seu maior incre"mento data do meiado
do seculo passado em que el-rci D. João v prin
cipiou afazer uso d'aquellc$ banhos, indo, no de
curso do resto de sua vida, por treze vezes áquella
villa com a familia real, e uma grande parte da
sua corte.
Por essa occasião, vendo o antigo hospital bas-
tantemente arruinado, e já com poucos commodos
para o grande numero de enfermos, queali affluiam,
mandou fazer em 1747 uma reconstrucção com
pleta, que levou tresannosaconcluir-sc. Foi con
struido o novo hospital sob um plano d'architec-
tura regular, com boa apparencia, c muito maior
capacidade do que o antigo. Fizeram-se nelle uma
bonita capella, novos banhos, excellentesoflicinas,
aposentos para as pessoas reaes e residencia para o
administrador. Annexou-sc-lhe tasibemuma cerca,
que se povoou de arvoredo, e que hoje é um lindo
passeio, que se franqueia ao publico. Além d'este,
porém, ha na villa um passeio publico arborisado
e ajardinado.
A villa das Caldas da Rainha ficou pertencendo,
desde o tempo da sua fundadora, ás rainhas de
Portugal, até que esta casa se extinguiu em 1833.
Na qualidade, pois, de senhora desta villa, a rainha
.1). Maria Anna d'Austria, mulher d'el-rci D. João v,
mandou edificar a actual casa da camara e cadéa,
tendo-sc demolido a antiga, quando se accrescen-
tou o edificio do hospital.
A egreja matriz, dedicada a Nossa Senhora do
*
— 97 —
Populo, acha-se no centro da villa, que possue, além
cTeste templo, as ermidas do Espirito Santo, mais
antiga que a matriz ; de Nossa Senhora do Rozá-
rio ; deS. Sebastião ; de Nossa Senhora da Graça ;
e a de S. Bartholomeu. Quasi todos estes templos
foram reedificados por D. João v.
Tem esta villa um grande Rocio, muitas casas
de prospecto nobre, boas hospedarias, um cluh,
aonde ha gabinete de leitura, e se dão luzidos bai
les, e varios chafarizes, abundantes de excellente
agua, e obra d'cl-rei D. João v.
Durante a estação dos banhos, que principia em
Maio e acaba em fins de Setembro, é esta villa ex-
traordinariamente concorrida, sobre tudo de fami
lias de Lisboa. Posto que os seus arrabaldes se
jam desprovidos de fructos, tem um mercado diario
bem fornecido de todo o genero de producções do
paiz, qne ali afiluem de muitas leguas de distan
cia. Em 14 de Agosto tem uma feira annual de tres
dias ; e no ultimo domingo de cada mez mercado
de gado. A população permanente d'esta villa anda
por mil e seiscentas almas.
O primeiro brasão darmas, que a rainha D. Leo
nor deu á sua villa das Caldas, foi o mesmo que
tinha a villa d'Obidos a cujo termo então perten»
. cia, o qual unicamente consistia no escudo real.
Porém depois da catastrophe, que lhe arrebatou o
principe D. Affonso, seu filho unico, acerescentou
aos brasões d'armas de todas as suas terras uma
memoria d'este fatal suecesso. Achando-se este prin
cipe em Santarem com seus paes, e com a prin-
ceza D. Isabel, filha dos reis catholicos, Fernando
e Isabel, com quem se desposara pouco tempo an
tes, deu uma queda do cavallo abaixo junto ás mar
gens do Tejo, no dia 12 de Julho de 1491. Tendo
perdido o uso dos sentidos, foi levado em uma rede
de pescadores para uma pobre casa perto d'ahi, á
qual logo acudiram seus paes, sua esposa, e todos
os soccorros possiveis. Tudo porém foi baldado.
O principe morreu sem ter recobrado os sentidos.
A rainha em sua immensa dor não quiz mais se-
parar-se d'aquclla rede, triste e derradeira raemo
13
— 98 —
ria do seu desgraçado filho. Desde então tomou-a
por sua divisa, e ordenou, que aos escudos der
mas das suas villas, se accrescentasse de um lado
uma rede, e do outro um pelicano, emblema de
seu esposo.
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— 10a -
ermida de S. Sebastião, no baluarte da mesma in
vocação, foi mandada fazer por el-rei D. Sebas
tião.
Diversos poços e fontes, dentro c fora da villa,
abastecem a povoação e a fortaleza de muita e boa
agua. Uma delias intitula-sc de S. João, e dizem
que fora ali que apparecera a imagem do santo.
Outra chama-se da Fome, pela razão de fazerem
as suas aguas bom appetite a quem d'ellas usa.
Antigamente tinha a praça de Campo Maior de
guarnição permanente, em tempo de paz, um re
gimento de infanteria, e outro de cavallaria, e em
tempo de guerra quatro regimentos de infanteria,
e um de cavallaria. Hoje apenas tem um desta
camento de linha, c veteranos. Consta esta praça
de nove baluartes, com seus revelins, meias luas,
e contra escarpa, meia feita. O antigo castello de
el-rei D. Diniz, que o raio damnificou, foi demo
lido.
Nos arredores de Campo Maior cultlva-se muito
trigo, cevada, legumes, e algum centeio. Cria-se
tambem muito gado, principalmente lanigero, cu
jas lãs teein grande reputação pela sua exccllente
qualidade, e constituem um ramo importante do
commercio d'esta terra. O rio Caya, que divide Por
tugal de Hespanha, corre a meia legua de Campo
Maior entre muitas hortas e pomares.
A 24 de Agosto tem a sua feira annual.
Foram naturaes d'esta villa muitos individuos,
que se distinguiram por armas, lettras, e virtu
des, alguns dosquaes oceuparam togares eminen
tes na religião, na administração do estado, e na
milicia. A população de Campo Maior ascende a
quatro mil c seiscentos habitantes.
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— 107 —
A villa de Castello Rodrigo está situada sdbre um
monte, estendendo-se para o lado do sul. E' cercada
de muros, com treze torres. O seu castello merece ser
visitado pelos curiosos d'antiguidades. Tem duas por
tas, chamadas do Sol, e de Alverca. No centro er-
gue-se a torre de menagem de muita altura, toda de
cantaria, de forma quadrada, com seis grandes ja-
nellas. Dentro d'este castello vé-se ainda o pala
cio arruinado, que ali mandou construir D. Chris-
tovão de Moura, o primeiro conde c primeiro mar-
quez de Castello Rodrigo, que era obra de boa ar-
chitectura. Junto á porta da Alvecca, da parte de
dentro, ha um poço bem construido, de bastante
profundidade, e abundante d'agua potavel. E no
sitio denominado Alvaca, tambem no interior da
fortaleza, existe uma cisterna, aberta na rocha, e
com sessenta e tres degraus.
Tem esta villa uma unica parochia, da invoca
ção de Nossa Senhora do Roque Amador, que está
situada no meio da povoação. Tem hospital e casa
de misericordia, e tres ermidas.
Nos arrabaldes ha varias fontes, de que se abas
tece a villa, e que regam algumas hortas c poma
res. O termo é extenso, e produz cereaes, algum
vinho, muitas pastagens, onde ha creação de gado,
e abundancia de caça. O rio Aguiar, que o banha,
e que vae desaguar no Douro, fornece alguma pesca.
A um quarto de legua da villa está o antigo edi
ficio do extincto mosteiro de Santa Mariana Torre
de Aguiar, fundação de D. Aflbnso Henriques, e
que pertenceu aos monges deS. Rernardo. Foi um
santuario ao qual concorriam outr'ora muitas ro
marias. Naegreja está a sepultura do celebre chro-
.nista-mór do reino frei Bernardo de Brito.
Castello Rodrigo, hoje de bem pouca importan
cia, e com uma população diminutissima, na an
tiga organisação do paiz tinha voto em cortes com
assento no banco decimo primeiro.
O seu brasão d-armas é um escudo com as ar
mas reaes ao revez, a parte superior para baixo.
Foi um dos castigos, que infligiu a esta villa el —
rei D. João i, porque os seus habitantes, seguindo
: \-
— 108 —
o partido de D. Beatriz, filha do nosso rei D. Fer
nando, e mulher de D. João i de Castella, na guerra
da successão, recusaram dar entrada áquelle so
berano, quando por ali passou em direcção á praga
de Chaves.
Dizem que avilla tomou onomedoseucastello,
e do sen primeiro alGaide-mór, chamado Rodrigo.
Andava este cargo na familia dos viscondes de Fonte
Arcada.
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— 109
A VILLA DE CAMINHA.
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A VILLA DE CELORICO.
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— iiV» —
concorrem muitas remarias, tem junto um hospi
tal militar.
As visinhauças do Guadiana fazem apraziveis os
seus suburbios, que produzem cereaes , vinho,
azeite, amendoas, e figos, e criara muito gado c
caça. O rio e o mar fornecem-na abundantemente
de muita variedade de pescado. Recolhe muito sal
das suas marinhas, de que se abastecem quasi to
das as terras do Algarve. Este producto, juntamente
com os figos, amendoas, e pescaria salgada, cou-
stitue os seus principaes generos de exportação,
que é importante, elhe entretem activo commer-
cio com Lisboa e outros portos do reino.
Castro Marim tem perto dedois mil e trezentos
habitantes. O seu brasão darmas éum escudo com
uma povoação cercada de muralhas, e por cima as
armas reaes de Portugal.
— 120 —
A VILLA DA CERTA.
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-Í21-
casa da misericordia data do reinado de D. João m ;
e o hospital, que parece ser de muito mais antiga
origem, foi annexado áquella confraria em. 1565.
Além de varias ermidas ha na villa o edificio do
extincto convento de Santo Antonio, que foi de re
ligiosos capuchos, fundado no anno de 1635. Está
situado em uma linda posição, no extremo da vil
la, onde se juntam as duas ribeiras, que a cercam.
Dava-lhe ingresso uma formosa alameda de carva
lhos seculares, que não sabemos se ainda existem.
O velho castello está quasi inteiramente demo
lido. Os suburbios da Certã são apraziveis; e pro
duzem cereaes, legumes, fructas, vinho, e azeite.
Teem bastante caça, e alguma creação de gado. A
villa encerra uns dois mil e setecentos moradores.
16
— 4S2 —
A VILLA DE CHAVES.
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— 123 —
tuiram a villa de Chaves em uma das praças for
tes do reino, e na principal da provincia do Tras-os-
Montes, tegm sido empreheudidas em diversas epo
cas, por occasião de guerra com a Hespanha.
Chaves está assentada em uma pouco elevada
eminencia sobre a margem direita do rio Tamega,
e junto á fronteira, que conluia cora a Galliza.
Tem uma só parochia, cujo orago ê Nossa Se
nhora da Assumpção ; casa c hospital da miseri
cordia ; hospital militar; varias ermidas; o edifi
cio de um extincto convento, intitulado de S. Fran
cisco, qae pertenceu aos frades franciscanos ; e ura
convento, que ainda existe habitado, de religiosas
capuchas da Conceição. Na capella-mór da egreja
do convento de S. Francisco está o primeiro duque
de Bragança, D. Affonso, filho legitimado d'el-roi
D.João i, em um magnifico tumulo mandado fazer
pela duqueza de Bragança D. Catharina, filha do
infante D. Duarte, e esposa do duque D. João i.
Ainda existe n'esta villa o palacio, onde falleceu
o duque D. AlTonso, que elle mandara edificar, e-
em que residiu por diversas vezes.
Sobre o Tamega, que separa a villa dos arrabal
des, está uma ponte de pedra com dezoito arcos,
cuja construcção se attribue ao imperador Trajano.
As aguas de caldas nascem em um campo entro
as muralhas da fortificação da praça e o rio. N'es-
te sitio havia um edificio de banhos, obra dos ro
manos, que desgraçadamente foi mandado demo
lir pelo primeiro conde de Mesquitella, sendo go
vernador das armas d'aquella provincia, com o in
tuito de desembaraçar o campo em frente da praça.
O doutor Francisco da Fonseca Henriques, que
examinou estas caldas, diz nó seu Aquilegio Medi
cinal, que são as melhores que ha no reino para
certas molestias. que aponta, e que por brevida
de omitiimos. Passam estas aguas, segundo obser
vações que se teem feito, por grandes depositos de
enxofre, caparosa, salitre, e pedra hume. Saem
da terra muito quentes.
As margens do Tamega fazem formosos os su
burbios de Chaves. O rio divide.os arrabaldes da
f
— 124 —
Magdaléna, e das Couraças, que são bastante po
voados, da villa, que se acha toda cercada de mu
ralhas. A principal cultura do termo são cereacs
e linhos. O rio e as serras proximas fornecem-lhe
algum peixe miudo e caça. ,
No 1 .° de Novembro tem Chaves a sua feira de
tres dias, á qual concorre muita gente das terras
visinhas e de Galhza.
Chaves tem uma população de tres mil e nove
centos habitantes. Apesar de não ser a capital de
Traz-os-Montes, é aqui que reside o general com-
mandante da quinta divisão militar, que abrange
toda a provincia.
Na antiga organisação do paiz gosava esta villn
de voto em cortes, com assento no banco quinto.
Tem por brasão d'armas um escudo com cinco cha
ves de oiro em campo de prata.
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12o-
AVILU DE CINTRA.
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— 126-
mesraa sorte da Lusitania, entrando no dominio
dos vencedores. Durante a occupação mauritana
foi varias vezes tomada pelos christãos e recon
quistada peios arabes. Apossou-se d'ella el-reiD.
Fernando Magno, mas logo depois a perdeu. Ou
tra vez tomada por cl-rei D. Aflonso vi de Cas-
lella, voltou de novo ao poder dos moiros. O con
de D. Henrique, pae do nosso primeiro rei, con
seguiu recuperaí-a ; porém pouco tempo a con
servou. Finalmente el-rei D. Aflbnso. Henriques
resgatou-a inteiramente do dominio dos infieis no
anno de 1147» e d'esta vez ficou para sempre
christã.
Deu-lhe foral este monarcha em 1154, o qual seu
filho D. Sancho i confirmou, e el-rei D. Manuel
reformou em 1514.
El-rei D. Vernando fez conde de Cintra a D.
Henrique Manuel de Vilhena, que na guerra civil
e estrangeira, que se seguiu á morte d'este sobe
rano, sustentou por algum tempo o castello d'a-
quella villa em favor da rainha D. Leonor, e con
tra o mestre d'Aviz.
A villa de Cintra está assentada a dois terços
da altura da encosta da serra, que olfia para o
norte, e por conseguinte em terreno desegual. O
antigo castello dos moiros, fazendo coroa a um dos
mais altos píncaros da serra, ergne-se a cavallei-
ro sobre a villa ; e esta campêa sobre um valle de
licioso, desfructando dilatadissimas vistas. -^
Tem Cintra as seguintes pasochias : S. Marti
nho, no centro da povoação, que foi fundada por
el-rei D. Affonso Henriques, destruida pelo terre
moto de 1755, e depois reedificada : Santa Maria,
que está situada no arrabalde, e proximo do cas
tello, teve o mesmo fundador que a antecedente ;
e tambem padeceu ruina com o terremoto, a qual
foi separada logo depois : "S. Miguel que está cgual-
mente fora da villa, na encosta da serra. A sua
origem é a mesma das duas primeiras. Eslaparo/
chia acha-se encorporada á de Santa Maria.
A cgreja e 'hospital da misericórdia foram obra
de el-rei D. Manuel. Ha na villa e sua visiuhan
127 —
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— 129 —
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A CIDADE DE COIMBRA.
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— 132 —
primeira em favor do infantc D. Pedro, filho se
gundo de D. João i ; a segunda em favor de D. Jorge,
filho legitimado del-rei D. João n.
Está Coimbra situada no coração do reino, na
provincia da Beira, trinta e duas leguas distante
de Lisboa para o norte, e dezoito do Porto para
o sul.
Sentada á beira do Mondego, parte em terre
no chão, parte subindo em amphitheatro pelo
dorso de um monte, ao qual fazem vistosa coroa
alguns dos seus melhores edificios, e os arvoredos
das margens do rio, dando belleza e realce a este
quadro já de si tão formoso, esta cidade sobreleva
a todas as suas irmãs pelas graças exteriores, que
ostenta.
Nenhuma outra apresenta como esta, a quem de
fora a contempla, mais nobre e risonho aspecto.
Aquelle throno de casaria, alvejando por entre ver
dura, parece disposto por mão de artista para o
mais bello effeito da perspectiva . Quasi todos os
principaes monumentos da cidade estão collocados
como em exposição, que só tivesse por fim o ador
no do painel. As paizagens d'entorno são como as
mais lindas e amenas, as mais pittorescas e va
riadas, que podem crear a imaginação de um pin
tor, eaphantasia de um poeta.
Vista por dentro, verdade é, varia muito o qua
dro. As alegrias exteriores quasi se convertem em
tristeza, porque a maior parte da cidade, princi
palmente a baixa, é cortada de ruas estreitas, tor
tuosas, e immundas, e guarnecidas de casas de ap-
parencia desagradavel. Todavia o viajante fica bem
pago d'este desgosto ao entrar em algumas ruas e
praças, amplas e orladas de bons edificios, e ain
da mais indemnisado se julgará, visitando tantos
monumentos, que ahi se erguem, ricos oVarte e
de tradições historicas, e venerandos por sua an
tiguidade e origem.
D'entre as melhores ruas de Coimbra sobresae
a Sophia, que dá entrada na cidade a quem vem
pela estrada do Porto. E' toda plana, mui larga,
bem macdamisada, e guarnecida de ambos os Ia
— 133 —
dos em toda a sua extensão, que não é pouca, de
passeios lageados, e diversos templos, e grandes
edificios, que foram conventos das extinctas ordens
religiosas, em que entrava o antigo palacio da in
quisição, e que se vêem agora quasi todos trans
formados em casas de habitação particular, de boa
e regular apparencia.
As praças principaes são quatro : a da Univer
sidades a da Feira no sitio mais alto da cidade; a
de Sansão, e a chamada por antonomasia Praça,
situadas no bairro baixo. A primeira é circunda
da por todos os quatro lados dos bel los edificios
da universidade. Na segunda erguem-se a cathe-
dral, o esplendido edificio do museu e aulas de
sciencias naturaes, e o grande palacio do governo
civil, outr'ora collegio dos conegos seculares de
S. João Evangelista. A terceira, que é a mais pe
quena de todas, basta-lhe para adorno e nobreza
o magnifíco templo e mosteiro de Santa Cruz. A
quarta é o grande mercado, aonde a povoação se
vae abastecer diariamente de pescado, hortaliças,
iiuctas ete.
Nenhuma cidade de Portugal, proporcionalmen
te, conta tantos edificios religiosos como Coimbra.
A calhedral, dedicada a Nossa Senhora da Assump
ção, é um templo vastissimo e grandioso. Era a
egreja do collegio dos jesuitas, fundação d'el-rei D.
João ih, e que depois da extineção d'esta ordem
em 1759 passou a servir de cathedral. Possueum
precioso thesouro de reliquias e de alfaias.
A sé velha é um dos mais antigos e curiosos
monumentos do nosso paiz. Não é agora occasião
de pesar opiniões sobre a sua origem. Quasi lo
dos os nossos escriptores attribuem aos godos a
sua fundação. Todavia ha quem, com argumentos
muito plausiveis, a julgue obra dos principios da
monarchia portugueza. Tanto exterior, como inte
riormente mostra architectura de epocas muito di
versas. Encerra algumas obras de bastante primor,
e varios sepulchros de muita antiguidade. Actual
mente ê uma das parochias da cidade, com a in
vocação de S. Christovão.
— 134 —
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— 137 —
A VILLA DE COLLARES.
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— 140 —
A YILLA DA COVILHÃ.
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i
— 143 —
foi de religioso? franciscanos, e outro de frades
capuchos.
Na parte mais alta da rUIa ví-se um castello
antiquissimo, com duas torres. Nas velhas mura
lhas, que defendiam a povoação, e que foram man
dadas faier por el-rei 1). Diniz. ha tres portas cha
madas de Valle de Caravelho, do Sol, e de S. Vi
cente. E* abastecida esta villa de muita e excel-
leote agua, e om dos sens chafarizes é de boa ar-
chitectura.
As fabricas de pannos de lã constituem a sua
principal industria. Datam de remotas eras; em
pregam grande numero de braços, e teem tido mui
tos aperfeiçoamentos.
A situação da Covilhã é muito agradavel. As
duas ribeiras, que a cercam, fertilisam e aformo-
seiam os seus campos. Todo o paiz em redor é mui
to arborisado. O seu termo, que é grande, produz
toda a qualidade de fructos, principalmente cas
tanha, e abunda em optimas pastagens, em que se
cria bastante gado.
No antigo regimen esta villa tinha voto em cor
tes, com assento no banco quarto. Tem por armas
uma estreita em campo azul no meio do escudo,
pela razão de estar edificada na serra do mesmo
nome.
144 —
A VILLA DE CORUCHE.
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co decimo quarto. O brasão d'armas de Coruche
é um escudo com uma coruja no centro.
Tem esta villa uma unica parochia, dedicada a
S. João Baptista, hospital e casa da misericordia,
cujaegreja éde boa architectura ; um recolhimen
to, intitulado de Santa Rosa de Viterbo; e seis er
midas, uma das quaes está edifícada na coroa de um
oiteiro sobranceiro á villa. A casa da camara ébom
edificio, e entre as dos particulares algumas se vêem
de agradavel apparencia.
Os suburbios de Coruche são aprasiveis e muito
ferteis. A varzea,, que o Sorraia e Erra cortam
e regam, é dilatadissima e muito bem cultivada.
Criam-se n'ella muitos gados, e produz muitos ce-
reaes, e outros fiuctos. As margens das duas ri
beiras são arborisadas, e as collinas que as debruam
de aspecto variado. Em uma d'estas collinas exis
tiu outr'ora o castello de Coruche, que nas guer
ras com os moiros se arruinou inteiramente.
Conta esta villa uns dois mil trezentos e cin»
coenta habitantes. Tem uma feira a 29 de Setem
bro.
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— 146 -
A VILLA DO CRATO.
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— 147 —
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— 148 —
Durante as guerras da restauração do reino,
veiu um exercito castelhano, commandado por D.
Joio d'Austria, por cerco á villa do Crato em o
anno de 1662. Apesar de se achar muito mal guar
necida, e de constar o exercito inimigo de seis mil
infantes, e quatro mil cavallos, defendeu-se a pra
ça em quanto lhe foi possivel, auxiliada pelas for
tes muralhas com que a cercara o prior D. Nuno
de Goes, e pelo castello, que este reedificara. Ce
dendo porém a forças tão superiores, rendeu-se,
conseguindo apenas segurança para as vidas dos
seus defensores, e mais habitantes.
D. João d' Austria, irritado pela resistencia que
lhe oppoz um tão pequeno numero de soldados,
permittiu aos vencedores todo o genero de cruezas.
A villa foi roubada e queimada, não ficando edifi
cio algum, que não padecesse maior ou menor ruina .
O castello foi demolido por ordem do general cas
telhano. Os pobres habitantes, espoliados e pri
vados de habitação, fugiram para a cidade de Por
talegre, e outras povoações da provincia. Entre as
r ' muitas perdas causadas pelo incendio da villa, hou
ve a lamentar a dos cartorios, ricos em documen
tos importantes para a historia de Portugal e da
ordem de Malta.
Passado algum tempo começaram a voltar os mo
radores, e pouco a pouco se foram reedificando as
habitações. Todavia esta catastrophe não só para-
lysou os progressos, que a villa do Crato ia fazen
do visivelmente de anno para anno ; mas deixou-
lhe tão grandes vestígios da sua funesta passagem,
que ainda hoje se voem alguns, posto que tenha
decorrido quasi seculo o meio.
Está situada a villa do Crato na provincia do
Alemtejo, tres leguas distante da cidade de Porta
legre para o lado do poente; quatro da villa de
Niza para o sul, e outras tantas do Tejo. O seu ter
reno é accidentado pelos muitos e grandes rochedos,
que a cercam por lodos os lados, exceptuando o
do sul.
Tem nas suas velhas muralhas cinco portas, cha
madas de Santarem, de S. Pedro, de Beringel, da Seda,
— 149 —
e Porta Nova. O castello, fundado em uma eminen
cia pedregosa, ficava sobranceiro á povoação para
a parte do nascente. D'elle ainda resta a cerca
de muros exteriores, com seus baluartes. A torre
de menagem, e mais edificios, que existiam den
tro d'aquella cerca, foram destruidos, como dis
semos, em 1662.
A egreja de Nossa Senhora da Conceição é a
unica parochiada villa. E' um bom templo de tres,
naves. A egreja da misericordia foi feita de novo
no meado do seculo passado, tpndo-se demolido o
antigo templo por estar muito arruinado, e ser mui
pequeno. Por esta occasião tambem se reedificou o
hospital da mesma santa casa. A torre do relojo
e uma curiosa antigualha. Está situada no centro
da povoação. E' toda de cantaria muito alta, e da
forma pyramidal.
Dentro e fora da villa ha varias ermidas. A de
S. Pedro, qne tem muita antiguidade, foi ein tem
pos remotos a egreja matriz.
Nos suburbios da villa ha uma pequena aldêa,
chamada o arrabalde da Flor da Rosa. Deve este
nome, e a sua origem a um templo, que ahi fun
dou o grã-prior D. Alvaro Gonçalves Pereira em
1356. íntitula-se de Nossa Senhora da Flor da
Rosa, cuja imagem se achou escondida no mesmo
logar, emqueestá edificada a egreji ; c dizem que
pertencera a um antiquissimo convento de monges
de S. Bento, que os moiros destruiram totalmente
na sua invasão da peninsula, e que existia'sobre
o monte visinho, onde agora se vó uma capella de
dicada a S. Bento.
Este templo de Nossa Senhora da Flor da Rosa
é de architectura gothica, e de excellente fabrica.
No meiod'elle descansa o fundador em um tumulo
de marmore. No cruzeiro ergue-se outro tumulo
tambem de marmore sobre seis leões, no quales-
ião as cinzas de D. Diogo Fernandes d'AÍmeida,
prior do Crato, efilho de D. Lopod'Almeida, con
de de Abrantes.
Proximo da villa tinha a ordem de S. Francis
co um convento, da invocação de Santo Antonio.
— 150 —
A principal cultura do termo consiste em olrvaes,
cereaes, e vinhas. Tem muita caça, e alguma crea-
ção de gado. Regam-no diversas ribeiras, a princi
pal das quaes, chamada de Seda, faz trabalhar va
rias azenhas. Proximo de outra ribeira, denomina
da do Xocanal, se descobriram pelos annos de 1724
uns cippos e outras pedras com inscripções roma
nas.
Á lo de Agosto e 8 de Setembro fazem-se duas
feiras no arrabalde de Nossa Senhora da Flor da
Rosa, ás quaes concorre muita gente. A villa do
Crato conta perto de mil c tiezentos habitantes.
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A CIDADE D'ELVAS.
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— 155 —
A VILLA DA ERICEIRA.
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— 158-
temente para toda a povoaçãe, que se eleva a umas
duas mil e oitocentas almas.
As cercanias da Ericeira são muito aridas, e des
providas de arvoredo, como todos os terrenos pro
ximos da costa n'esta provincia da Estremadura.
A principal cuHura consiste cm ccreacs c batatas.
A 2» de Julho faz-sc nesta villa uma feira de
tres dias.
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A VILLA D'ESTREMOZ.
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0 bi.t,-
— 160 —
-ceitos da arte, ficando a villa cingida com dez ba
luartes, tres meios baluartes, e um redente, fora
os revelins e mais obras exteriores. Reparou-se o
antigo castello, que passou a sera cidadela da pra
ça, c sobre um monte visinho, padrasto do que
serve de assento á villa, construiu-seum forte com
quatro baluartes, e sobre outro um pouco mais
distante edificou-se um reducto, chamado de San
ta Barbara.
Nas proximidades de Estremoz está o sitio de
Montes Claros, celebre pela assignalada victoria,
que os portuguezes, conunandados pelo marquez
de Marialva e pelo marechal de Schomberg, ahi
ganharam aos hespanhoes no anno de 1665.
O castello de Estremoz é notavel em a nossa
historia por tef servido de residencia a el-rei D.
Diniz, á rainha Santa Isabel, sua mulher, que n'elle
falleccu, e a ei-rei D. Pedro i, que tambem ahi aca
bou os seus dias. Da sala, onde expirou a rainha
santa, fez-me mais tarde uma ermida, que ainda
existe com a invocação de Santa Isabel. Até aoco»
meço d'este seculo conservava-se n'este castello um
museu de armas antigas muito rico c curioso, e
que era o unico, que havia no reino depois que o
terremoto de 1755 destruiu os paços da Ribeira
em Lisboa, onde se via um grande armazem cheio
de armas de differentes eras. ínfelizmente poroc-
rasião da invasão franceza foi o museu d' Estremoz
despojado de todas as suas armas.
Consta a villa de tres paroebias : Santa Maria
do Caftello, que é a matriz, Santo Andrò, e S.
Thiago. Tem casa de misericordia e hospital, e um
mosteiro de freiras da ordem de Malta, da invo
cação de S. João Baptista, o unico d'esta ordem,
que ha no reino, fundado em 1563 pelo infante
D. Luiz, filho d'el-rei D. Manuel. Havia outr'ora
quatro conventos de frades dentro da villa, e um
nos arrabaldes, cujos edificiosainda existem. Eram
aquclles : o de S. Francisco, edificado por D. Af-
fonso iii ; o de S. João de Deus ; o dos frades agos
tinhos ;c o dos congregados de S. Fihppe Nerv.
O que fira «xtra-muros era de capuchos da pro
^161 —
vincia da Piedade; e foi construido em1G62. Além
dos edificios religiosos mencionados, ha na villa va
rias ermidas.
A mais bella parte de Estremoz é a que está edi
ficada na planicie. Tem ahi um vasto largo, ou pra
ça, cercado de boa casaria, e dos edificios dos extin-
ctos conventos, com um chafariz de oito bicas, e um
grande tanque quadrado, e dois mais pequenos.
Tem o seu quartel em Estremoz o regimento de
lanceiros n.° l. A população fixadavilia anda por
seis mil e seiscentas almas. Em 25 de Julho e a
30 de Novembro fazem-seahi duas feiras annuaes
de bastante commercio.
Os suburbios de Estremoz são muito apraziveis
e de grande fertilidade. Ha ifelles abundancia de
agua, que rega muitas hortas e pomares. O ter
mo produz azeite, céreaes, e outros fruetos, e en
cerra preciosos marmores. O braoeo é o que ser
ve para todas as eonstrucroes da vjlla. Tambem con
tém excellente barro de que ali se fabrica muita
variedade de obras, que são apreciadas no reino
e forad'elle.
No antigo regimen gosava esta villa de voto em
cortes com assento no banco terceiro. O seu bra
são d'armns é como sevo na estampa, sendo verde
o trémocciro, o campo vermelho, o sol de oiro,
e a lua de prata.
Eram alcaides-móres de Estremoz os duques de
Cadaval. ' .
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A CIDADE DEVORA.
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A CIDADE DE FARO.
A VILLA DE FERREIRA.
Na provincia do Alemtejo, ires leguas ao occi-
dente da cidade de Beja, tem seu assento a villa
de Ferreira em logar um pouco mais elevado, que
os terrenos circumvisinhos, que são inteiramente
planos.
Segundo a tradição, foi no tempo dos romanos
uma cidade com o nome de Singa, na qual se fez
celebre uma matrona, defendendo valorosamente
a porta do castello da mesma cidade por occa-
sião da invasão dos godos e suevos. Em memoria
d'este feito dizem, que tomara esta povoação por
armas a figura de uma mulher com dois malhos
nas mãos; brasão que a villa actual adoptou como
prova da sua antiguidade. No principio do seculo
passado ainda se viam junto á villa, para o lado
do nascente, restos de edificios em uma extensão
de meia legua.
A cidade de Singa, se com efieito ah existiu,
perdeu-se como muitas outras na entrada dos ara
bes. Do começo da villa de Ferreira não encontra
mos noticias. O seu foral de villa foi-lhe dado por
el-rei D. Manuel em 5 de Março de 1517.
Sobre um monte ao nascente da villa vê-se o seu
antigo castello, cercado de muros combarbacã, c
nove torres.
Ferreira tem uma só parochia dedicada a Nossa
Senhora d'Assumpção, e conta perto de dois mil
habitantes.
Cortam e regam os seus suburbios as ribeiras de
Valdouro e de Safrins, a primeira distante da villa
um quarto de legua, e a segunda meia legua. Tra
zem algum peixe, principalmente pardelhasebor-
dalos, que são muito estimados n'aquelles sitios.
O termo produz bastante azeite , algum vinho e
fruetas, porém a sua maior producção consiste em
trigo. Abunda tambem em caça miuda.
A 16 de Setembro faz-se n'cst« villa uma feira
bastante concorrida.
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176 —
UlLLi\ DE FRONTEIRA.
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178 —
À CIDADE DO FUNCHAL.
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— 179 —
rogativa. Em breve se engrandeceram os estados
portuguezes da lndia. Goa foi elevada á dignida
de archiepiscopal, primaz do Oriente, e o Funchal
perdeu a jurisdicção metropolitana, ficando outra
vez sede episcopal suffraganea do arcebispado, de
pois patriarchado de Lisboa.
Está edificada a cidade do Funchal na costa me
ridional da ilha, parte assentada em um valle de
licioso, e parte subindo pelo dorso de um monte,
que tem por coroa o castello do Pico.
Defendem-Ihe o porto os fortes da Pontinha, de
S. Lazaro, de Fontes ou S. João, de S. Lourenço,
da Alfandega, deS. Filippe, de Santiago, de Lou
res, e o castello Nheo, fundado sobre um grande
rochedo no meio do mar, o qual serve de registro
do porto. Este é formado pelos cabos Grajãoe Pon
ta da Cruz. Os navios fundêamahi em perfeita se
gurança com todos os ventos, excepto os dos qua
drantes desde o sudoeste até ao sueste pelo sul.
Estende-se a cidacre ao longo da bahia, e desde
o mar até meia encosta do monte do castello do
Pico, pelo que offerece um lindo panorama aquem
a contempla de bordo de algum navio.
Divide-se a cidade em quatro parochias. A sé
é um vasto templo dearchitectura gothica, funda
do por el-rei D. Manuel. E' notavel pelos excel-
lentes marmores, que lhe vestem as paredes in
teriormente, pelas pinturas que o ornam, e pelos
tectos das suas dez capellas fabricados de cedro
com muito primor, principalmente o da capella-
mór.
Tem o Funchal dois conventos de freiras, e teve
tres de religiosos, um de jesuitas, outro de carme
litas cujos templos são ainda dos melhores da ci
dade, e o ultimo de franciscanos, notavel pela capei-
la dos ossos, construida de caveiras e ossos.
Os principaes edificios, além dos mencionados,
são: o palacio do governo, opaço episcopal, o se
minario, o quartel militar de S. João, a alfande
ga, o hospital real, o theatro, que é excellente, e
o hospicio da princ«za Amelia, fundado por sua
magestade imperial a duqueza de Bragança, em me
— 180— -
moria de sua augusta filha, para receber doentes
pobres, atacados de molestias pulmonares.
As praças ou largos são poucos e irregulares, e
as ruas em geral estreitas, einais ou menos ingre
mes, porém limpas. As casas são aceiadas inte
riormente, e sempre muito caiadas pela parte de
fora. Muitas ahi ha de construcção elegante.
Quasi no centro da cidade ha um passeio plan
tado de arvores e plantas indigenas e exoticas.
Os suburbios do Funchal são afamados pela sua
muita formosura e amenidade. Os pomares, as hor
tas, e vinhas, que vestem as collinas; os bosques
que cobrem os valles ; as arvores e plantas dos tro
picos, que por toda a parte crescem apar das da
Europa, ostentando a mais pomposa vegetação ; ri
beiros de purissimas aguas despenhando-se de cima
das rochas, ou correndo mansamente nas planicies ;
lindas casas de campo alvejando por entre tantos
verdores; altas serranias encaixilhando tão for
mosos paineis ; tal é em resumido esboço o aspec
to encantador dos arrabaldes do Funchal.
D'entre as muitas e apraziveis quintas, que os
adornam, mencionaremos como mais bellas e gran
diosas a do Palheiro do Ferreiro, situada em uma
eminencia a uma legua da cidade, e pertencente
ao senhor conde de Carvalhal, e a do Jardim da
Serra, fundada em um valle assim chamado, a duas
leguas e meia para o noroeste do Funchal, e pro
priedade do senhor Veitch, subdito britanico.
As producções do paiz são muitas e mui varia
das, pois que ali se dão perfeitamente bem as da
Europa e as dos tropicos. O apreço em que são ti
dos os seus vinhos, fez com que durante muitos
annos fosse esta a sua principal cultura, chegan
do no anno de 1813 a recolher-se em toda a ilha
vinte e duas mil trezentas e quatorze pipas. Af-
fectada esta producçào pelo oidium, que a aniquilou
quasi inteiramente , arrancando os proprietarios
uma boa parte das vinhas, começou a introduzir-se
de novo a cultura da canna deassucar.
Os outros productos agricolas são : cereaes, ba
tata doce, e commum, inhame, fructas das nossas
— 181 —
e do Brazil, avultando bastante a castanha. Cria
algum gado, principalmente lanigero.
O clima temperadissimo que se gosa no Funchal
em todas as estações do anno, faz a sua residen
cia muito saudarei, e proficua para molcstias de
peito ; por cuja razão é a cidade frequentada por
muitos nacionaes do continente, e por grande nu
mero de estrangeiros, que ahi vão passaro inver
no, além dos muitos inglezes, que n'ella residem
todo o anno.
O commercio está decadente desde que diminuiu
a producção do vinho. Todavia no porto do Fun
chal ainda entram annualmente uns trezentos na
vios.
No Funchal trabalha-se primorosamente em ren
das, bordados, flores de pennas, e em muita va
riedade de artefactos delicadissimos.
A população da cidade passa de vinte mil al
mas.
— 182 —
A VILIA DE GARVÃ6.
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AVILLADAGOLEGÃ.
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A VILLA DE GOUVEA.
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A VILLA DE GRÂNDOLA.
A CIDADE DA GUARDA.
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— 193 —
talcza de praia com tres torres em campo azul., ten
do na torre do meio o escudo real só com as qui
nas.
Está pois situada a cidade da Guarda nas faldas
da serra da Estretla para o lado do norte em terre
no plano, mas bastantemente elevado. Duas gran
des quebradas separam a cidade dos terrenos cir-
cumvisinhos. Pela do occidente, que forma um pro
fundo valle, corre o Mondego, que nasce perto d'alu
na serra , d'onde se precipita para o valle. Pela
outra quebrada passa o pequeno rioNocyme, que,
unindo-se depois ao Lamegal, vae juntar-se ao Loa.
Quasi nos"limites da provincia da Beira-Baixa,
dista seis leguas da fronteira de Hespanha, doze
da cidade de Castello-Brance, e cincoenta de Lis
boa.
Dividem-se os moradores por cinco parochias,
que são: a sé, S. Vicente, S. Pedro, Santiago, e
Nossa Senhora do Mercado. A sé, como todas as
cathedraes do reino, é dedicada a Nossa Senhora
da Assumpção. A primeira cgreja, que serviu de
sé foi começada porel-rei D. Sancho i, e conclui
da por D. Afionso ii, sendo consagiada a S. Gens.
Pequena e de mesquinha fabrica, como eram em
geral as construcções na infancia da monarchia,
embora procedessem de fundação real, não passa
ram muitos annos sem que se reconhecesse a ne
cessidade de edificar uma nova sé. Querendo-se
logar mais desafogado, deH-se principio à obra em
um espaçoso terreiro fora dos muros da cidade.
Acabou-se de edificar este segundo templo no rei
nado de D. Pedro i. Foi feito pelas rendas do bis
pado, e dizem que era grande e de boa architec-
tura. Infelizmente teve ainda mais curta existen
cia do que o primeiro ; pois que no seguinte rei
nado, durante as guerras encarniçadas, que reben
taram por vezes entre Portugal eCastelIa, o nosso
rei D. Fernando i mandou-o demolir afim de des-
affrontar as fortificações da cidade.
Em vão requereram os bispos no resto do go
verno d'este soberano, que lhes mandasse cons
truir dentro da cidade outra sé. As suas justas
25
— 194 —
queixas só vieram a ser attendidas d'abi a bastan
tes annos, reinando já havia muitos D. João i,
que alfim determinou começar a obra segundo a
planta, que enviou. Correram as obras tom lar
gas interrupções, ora por impulso real, ora por
conta da mitra pelo espaço de mais de um secu
lo, até que se lhe poz ó ultimo remate no tempo
d'elrei D. João in.
E' uma das mais vastas e sumptuosas cathe-
draes de Portugal. E' de bella architecturí gothi-
ca, exteriormente construida de boa pedra, e no
interior ornada de marmores, eobra de talha doi
rada de muito primor.
Os outros edificios principaes da cidade são: o
paço do bispo ; a egreja e hospital da misericor
dia ; o seminario episcopal, fundado em 1595 pe
lo bispo D. Nuno de Noronha, filho dos condes
de Odemira ; o extincto convento de frades fran
ciscanos, levantado em 1217; outra de religiosas
da mesma ordem, fundação muito posterior ; e oi
to ermidas.
Das antigas fortificações existem as muralhas
da cidade com seis portas e varias torres, e na
parte mais alta da povoação o velho castello.
Desfructa esta cidade um clima muito saudavel,
posto que no inverno excessivamente frio pela
muita neve, que ahicae, e de que se cobre a serra
visinha. Mas em compensação numerosas nascen
tes de mui boas e fresquissimas aguas abastecem
abundantemente a cidade, e regam todo o seu ter
mo, fazendo-o muito fertil em milho, centeio, le
gumes, hortaliças, fruetas, e algum vinho. Porém
as suas pastagens, que são magnificas, e onde se
cria grande quantidade de excellente gado de di
versas especies, constituenvo principal ramo da
sua industria agricola. L' muito importante o seu
commercio de exportação de gados, lãs, queijos, e
manteiga.
Tem tido ali notavel desinvolvimcnto a cultu
ra da amoreira, pelo que tem augmentado e pros
perado muito acreação do bicho da seda, e fiação
d'este produeto, em que as mulheres se empre
gara quasi exclusivamente.
— 193 —
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— 196 —
A CIDADE DE GUIMARÃES.
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— 197 —
Ahi, dentro do recinto d'essas toscas muralhas,
que seriam hoje estreito espaço para residencia
d'um simptes governador, nasceu e creou-se o ven
cedor d'Ourique, o primeiro rei dos portuguezes.
O mosteiro da condessa Mumadona, santuario
consagrado à Virgem sob a invocação de Nossa
Senhora da Oliveira, e venerado em todo o reino
pelo milagre que deu origem á invocação, tornou-
se mais tarde n'essa real collegiada. que desfructa
honras quasi de sé.
Deu foral á nova villa o conde D. Henrique,
conservando-lhc o mesmo nome da antiga, que se
chamava Vimarães. Parece que a etymologia d'a-
quelle nome eram as duas palavras latinas — Via
maris, que se viam esculpidas n'uma pedra em
uma torre da villa velha, que na edificação do cas-
tello ficou em o centro servindo de torre de mena
gem. Esta inscripção, sem duvida do tempo da do
minação romana, indicava que a estrada, que por
ali passava, conduzia à costa do mar. Da inscri
pção pois proveiu á terra o nome de Vimaranes,
ou Vimarães, que ao diante se corrompeu no de
Guimarães. Pela mesma razão se denominava quin
ta de Vimarães a propriedade em que Mumadona
erigiu o seu mosteiro.
Por morte do conde D. Henrique continuou seu
filho, o principe D. Affonso Henriques, a residir
em Guimarães, aonde o veiu cercar no anno de
1130 seu primo D. Affonso vii, rei de Leão eCas-
tella, por aquelle se querer eximir de lhe render
vassallagem. Foi este cêrco, que deu logar á me
moravel acção de D. Egas Moniz, em que este tão
esforçado cavalleiro, quão dedicado aio do joven
principe, tendo conseguido de D. Affonso vn o
levantamento do sitio sob promessas, que ao de
pois se não cumpriram, apresentou-se em Toledo,
perante o monarcha castelhano, com sua mulher
e filhos, todos vestidos d'alva e com baraço ao
pescoço, offerecendo assim a sua vida e a de sua
familia pela palavra não cumprida. Affonso vn
souhe corresponder com generoso perdão a tama
nho rasgo de tealdade e nobreza de caracter, tanto
— 198-
mais digno de admiração por ser praticado em
uma epoca, em que os proprios principes faziam
ostentação de falta de cumprimento das suas mais
solemnes promessas.
As gloriosas empresas de D. Affonso Henriques
contra os sarracenos, dilatando d'anno para anno
os limites da nascente monarchia, fizeram perder
á villa de Guimarães a prerogativa de corte, que
se mudou com grande prejuizo seu para a cidade
de Coimbra, mais central em relação ás novas con
quistas, que se tinham estendido pela Extremadu-
ra e Alemtejo até ao Algarve. Porém do que a vil
la perdeu com a saida da corte não tardou a ser
compensada com a grande affluencia de peregrinos
e romeiros, que, vendo-se desaffrontados do maior
perigo das correrias dos moiros, vinham de longes
terras venerar a sagrada e milagrosa imagem de
Nossa Senhora da Oliveira.
N'esses primeiros seculos da monarchia, em que
as guerras absorviam todas as attenções, e em que
as armas constituiam, por assim dizer, o unico exer
cicio nobre e honroso, a villa de Guimarães en-
grandecia-se á sombra do santuario, cujos mila
gres eccoavam de um a outro extremo do reino,
vindo aqui estabelecer-se muitas familias nobres,
e varias ordens religiosas. E quando Portugal, já
grande e temido pelas suas victorias e conquistas,
começou a colher os fructosda paz, prosperou en
tão Guimarães pelo podei oso impulso da indus
tria. Porém a separação do Brazil, para onde ex
portava a maior parte dos seus produetos fabris,
occasionou-lhe a progressiva decadencia do seu
commercio e da sua industria manufactora.
Nas discordias que rebentaram entre el-rei D.
Diniz e seu filho, o principe D. Affonso, e na lu-
cta travada para a independencia do paiz, entre o
mestre d'Aviz e D. João ide Castella, padeceu Gui
marães coreos e combates. As pestes, queflagella-
ram Portugal no seculo xvi, dizimaram-lhe gran
de parte da sua população.
No antigo regimen gosava de voto em cortes
com assento no banco terceiro. A imagem da Vir
— 199
gem tendo nos braços o Menino Jesus, que empu
nha na mão esquerda um ramo de oliveira, em
campo de prata, constitue o brasão d'armas da an
tiga villa de Guimarães, ha pouco elevada á ca-
thegoria de cidade.
Está situada Guimarães na provincia do Minho,
em terreno um tanto alto, proximo das faldas da
serra de Santa Calharina. Dista do Porto oito le
guas para o norte, e tres de Braga para o nas
cente.
Tem as seguintes parochias : a collegiada de Nos
sa Senhora da Oliveira; S. Miguel do castello; ■j
S. Sebastião; S. Paio; e Santiago. A primeira,
cuja fundação primitiva pertence á condessa Mu-
madona, como acima dissemos, foi erigida em ca- f-eC
pella real pelo conde D. Henrique, deixando en
tão de ser mosteiro. D. Affonso Henriques e os reis - s
seus suecossores concederam-lhe muitas honras e £ i
bens, e alcançaram-lhe do papa grandes privile
gios, com os quaes veiu a ser uma das mais ricas .1 -■-
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A vílla de Abrantes 4
» de Albufeira 5
» de Alcacer do Sal 6
» de Alemquer 11
» de Almada. 17
:» e praça d'Almeida 23
■i» de Alter do Chão 27
» de Alvito 30
» de Anciães 34
A cidade d'Angra do Herolsmo 37 t" **'•
A villa de Arganil 42
» de Arrayollos.. 45
» de Atouguia da Balêa 48
» de Arronches... . . .: 50
- » de Aviz 83
A cidade d'Aveiro 56
A villa dos Arcos de Vai de Vez 63
A cidade de Beja 65 si'
A villa de Barcellos 70
» de Benavente 73
» de Beringel 76
» de Borba 77
A cidade de Braga 81
» de Bragança 91
A villa de Cabeça de Vide 93
> das Caldas da Rainha 95
» de Campo Maior 99
A cidade de Castello Branco 103
A villa de Castello Rodrigo 106
» de Castello de Vide 109
» de Caminha 112
» de Celorico 115
» de Castro Marim 118
» da Certã 1 20
» de Chaves 122
» de Cintra 125
ÍNDICE.
OSi
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AS CIDADES E V1LLAS
MOMRCHIA PORTUGUEZA
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1. DE VILHENA BARBOSA
VOLUME II.
LISBOA
TYPOGRAPHIA DO PANORAMA;
TRAVESSA DA "VICTORtA, 73.
1860.
A CIDADE DE LAGOS.
A CIDADE DE LEIRIA.
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A VILLA DE LINHARES.
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A VILLA DE LOULÉ.
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— 57 —
Mie algumas obras de fortificação segundo o sys te
ma moderno.
Marvão gozava antigamente de voto em cortes
com assento no banco decimo primeiro ; e tinha por
alcaides-móres os condes d'Atalaya.
Consiste o seu brasão darmas em um castello
de oiro em campo azul, tendo por cima o escudo
das quinas e duas chaves.
Divide-se a viila em duas parochias, uma da in
vocação de Santa Maria , e a outra intitulada de
Santiago. Tem casa de misericordia, hospital, e
quatro ermidas.
Os moradores fornecem-se de agua de uma gran
de cisterna, que ha no castello, junto ã entrada ;
de um poço de agua nativa ; e de uma fonte, que
líca na encosta do monte, proximo ao caminho,
que conduz para a vil la.
Marvão encerra uma população de mil e trezen
tas almas. De varios sítios da viila descobre-se um
horisonte dilatadíssimo. Veem-se entre outras ser
ranias as da Estrella e de Eeja, e diversas povoa
ções.
Nos suburbios linha um convento de frades fran
ciscanos. O rio Aramenlio faz ferteis os campos cir-
cumvisinhos, onde' ha algumas hortas e pomares. í .
O lenno produz cereaes, legumes, e azeite, en'el-
le se criam gados e caca.
Em, uma quinta, que ah i possue o senhor conde
d Atalaya, leem-se achado muitos vasos de barro,
medalhas, inscripções, e outras antiguidades. Não
muito longe, ainda dentro do termo de Marvão,
descobrem-se minas de edificios antigos em uma
grande extensão de terreno, que bem mostram ter
existido ali uma povoação importante. Conforme a
opinião de um nosso escriptor, que se deu muito
ao estudo das antiguidades do nosso paiz, o padre
Luiz Cardoso, da congregação de S. Eilippe Nery,
essas ruinas são de uma cidade que se denominava
Arménia, Diz o mesmo autor <jue o nome deAra-
menlia, que se dá ali a uma freguezia, c o de Ara
menho, porque se conhece o rio, são corruptelas
do nome d'aríuella cidade.
1
— 58 —
No districto d'esta freguesia de Aramenha er-
gue-se a serra da Portagem, nas abas da qual, pa
ra o lado do.occidente, ha uma caverna de muita
profundidade, que terá cento e cincoenta palmos
de altura. D'ella segue pelas entranhas da serra,
e em direcção do norte, outra caverna compridis
sima, onde os curiosos não se teem atrevido a pe-
trar muito em razão da falta de luz e ar. As pa
redes e abobadas d'estas cavernas são de rocha, e
dizem que mostram signaes de terem sido abertas
por esforço d'arte humana. E' tradição n'aquelles
povos, que foi uma mina de chumbo, que ahi es
teve em exploração.
Dista Marvão duas leguas da cidade de Portale
gre para o nordeste; e uma davilla deCastellode
Vide para o sueste. Valença d'Alcantara é a po
voação do reino visinho, que lhe, fica mais perto,
na distancia de duas leguas. Porém á parte mais
proxima da fronteira, como acima dissemos, não
vae mais de uma lcgua.
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A VILLA DE MELLO.
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A CIDADE DE MIRANDA.
jl VILLA DE MONÇÃO.
A VILLA UE MOIFORTE.
A VILLAEPRJlCA DE MONSANTO.
ÀVILLA de monsarás.
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AVILLADEIOIM.
A VILLA DE NIZA.
A VILLA D'OBIDOS.
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— 98-
tão perseguido pela desdita, que o proprio conde
de Bolonha, apenas se viu senhor pacifico de todo
© reino, apressou-se a galardoal-a, fazendo-lha
entre outras merces a do titulo de sempre leal, que
a villa accrcscentou ao de notavel, que já tinha.
El-rei D. Diniz augmentou a villa, e cremos que
reconstruiu e alargou o castello, apezarde que al
guns autores dizem que fora o seu primeiro fun
dador.
Pelo seu casamento este soberano fez doação do
Obidos, com mais outras terras, á rainha Santa
Isabel, sua mulher. D'uhi em diante fícou perten
cendo ás rainhas.
Durante as guerras, que rebentaram entre Por
tugal e Castella no seculo xiv, el-rei D. Fernan
do fez as muralhas, que cercam a villa, ou refor
mou as que existiam, o que não ó bem averigua
do, segundo julgamos.
A rainha D. Leonor, mulher d'el-rei D. João ir,
residiu algum tempo n'esta villa em umas casas
junto ao castello. Por esta occasião exercitou o sen
animo pio e caridoso em extremo, instituindo cin
co tnercierias na egreja de Santa Maria, que é a
matriz.
Em 1634 Filippe iv d'Hespanha, então rei in
truso de Portugal, fez conde d'Obidos a D.Vasco
Mascarenhas, alcaidc-mórd'esta villa. Depois el-rei
D. Affonso vi confirmou, ou deu de novo, aquelle
titulo em 1663, declarando-o de juro e herdade
para os seus descendentes. E' setimo conde o actual
representante d'esta familia.
Quando em 1808 veiu um exercito inglez aju-
dar-nos a saecudir ojngo de Napoleão, presenceou
Óbidos o primeiro combate entre os francezes e
os nossos auxiliares. A 15d'Agosto eneontraram-
se ali, e pelejaram as avançadas dos dois exerci
tos. No dia seguinte foram vencidas as aguias fran-
cezas na grande batalha da Roliça, uma legua dis
tante desta villa, pelo exercito ánglo-luso.
Obidos Unha representação nas antigas cortes,
xeatarndo-se es seus procuradores no banco sexto.
Segundo dizem alguns autores tem por brasão de
— 99 —
armas uma rede de arrastar no meio do escudo,
que lhe fora dada pela rainha 1). Leonor, de quem
acima falíamos, em memoria da rede em que uns
pescadores de Santarem transportara.m o corpo ex
anime de seu infeliz filho, o principe D. Affonso, das
margens do Tejo, onde caíra do cavalio abaixo, pa
ra a \illa. Porém no livro das armas, que se guarda
na Torre do Tombo, acha-se pintado o brasão des
ta villa conforme a esiampa, que vae aqui junta,
o qual consiste em uma torre de prata, onde tre
mula uma bandeira, em campo verde, e assente
sobre rochedos.
A' cerca da etymologia do seu nome ha varias
opiniões, porém nenhuma inteiramente acceitavel.
Amenos absurda diz, que o nome é um composto
dos monosyllabos latinos ob-id-os, pelos quaes de
signavam uma grande bocca, ou braço de mar, que
em tempos remotos vinha ter junto á villa.
Conserva esta os seus antigos muros com pouca
ruina, cercando-a por todos os lados, com quatro-
portas, denominadas ; da Villa, do Valle, da Cerca,
e do Telhai, e dois postigos, o de Cima, e o de Bai
xo. A povoação acha-se toda recostada no declive
do monte, cuja crista serve de base ao castello, «
á egreja de Santiago, que se eleva junto da forta
leza. O estado de conservação d'esta é muito sof-
frivel, attendendo á sua antiguidade. Goza-sed'a-
hi ura lindo e variado panorama.
São quatro as freguezias : Santa Maria, que é
a matriz, S. Pedro, Santiago, e S. João Baptista.
Os outros edilicios religiosos são : a egreja da mi
sericordia, com o seu hospital, e com avultada ren
da ; as ermidas de Nossa Senhora de Monserrate,
pertencente á ordem terceira, a de S.Vicente, on
de está a parochia de S. João Baptista, e a de S.
Martinho, de architectura antiga. Fora da villa,
mas nas im mediações, encontram-se outras ermi
das. A mais notavel é a do Senhor da Pedra, co
meçada em 1740 junto á estrada que conduz para
a villa das Caldas da Rainha. Apezar de não estar
concluida, é um belloe sumptuoso templo, em que
se despenderam duzentos mil cruzados, havidos de
— 100 —
esmolas cTaquelIes povos, ásquaes se juntaram va
liosos donativos d'el-rei U.João v, que por diver
sas vezes ali foi. A 3 de Maio, dia da invenção da
Santa Cruz, celchra-se n'este templo uma gran
diosa funcção, com festa d'arrayal e mercado, e
á qual concorre muita gente das povoações visi-
íj has.
Tem a villa cinco ruas principaes, e uma praça
ornada com um chafariz. Além d'estepossue mais
quatro, porém todos fora dos muros. Aquelle, e
dois d'estes recebem a agua de um aquedueto, que
corre sobre arcos na extensão de meia legua, e foi
obra da rsinha D. Catharina, mulher de D.João ui.
Os arrabaldes d'Obidos são notaveis por algu
mas quintas, que os povoam, e principalmente pela
grande lagoa a que a villa dá o seu nome. Entre as
quintas nomearemos a das Janellas, a das Flores,
e a do Bom Successo. A primeira pertence aos se
nhores condes de S.Vicente, e possue aguas ther-
maes, similhantes ás das Caldas da Rainha, ás quaes
concerrem alguns enfermos. Achando-se hospeda
do n'esta quinta o infante D. Francisco, irmão de
cl-rei D. João v, falleceu ahi de uma colica a 21
de Julho de 1742. D. João v e a familia real acha-
vam-se então nas Caldas da Rainha. A quinta das
Flores tem uma nascente das mesmas aguas. A do
Bom Successu e muito arborisada, c distingue-se
pela sua posição pittoresca, e alegres vistas.
A lagoa dista da villa uma legua. O seu compri
mento não chega a uma legua, e de largura tem
meia. Está cercada de montes, em que se abrem
quatro gargantas, tres por onde n'ella veem des
aguar os rios do Cabo, do Meio, cReal; ca quar
ta por onde a lagoa communica com o mar. Esta
ultima todos os annos se obstrue de ardas, que é
necessario remover a braços para evitar o mau ef-
feito da estagnação das aguas. A lagoa estende dois
braços para o interior, um na direcção de leste,
chamado da Barrosa, e o outro na do sul, dene-
miuado da Atouguia, ou do Bom Successo. Con
tém esta lagoa muita variedade de peixes, e de er-
cellentes mariscos, que fornecem a villa todo o an
— 101 —
no, e muitas mais terras da Estremadura. No in
verno é abundantissima de caça d'arribação, que
attrahe ali de grandes distancias centenares de ca
çadores, uns para commercio, outros por simples
divertimento.
A menos de um quarto de legua da villa está o
edificio do extincto convento de S. Miguel das Gaei
ras, que foi de frades arrabtdos , e se fundou em
1602, mudando-se do antigo sitio em que o car
deal infante D. Henrique edificara o primeiro em
1569. Contiguo áquelle edificio ha um frondoso
bosque, que faz parte da cerca do convento.
O termo d'Obidos é fertil, e produz cereaes, al
gum vinho, e muitas e excellentes frutas de toda
a qualidade.
Tem esta villa uma feira annual, em 20 de Ou
tubro. Ao presente, que se acha em decadencia,
conta uns tres mil habitantes. Já teve, porém, maior
população.
Ufana-se Obidos de ter sido o berço da insigne
pintora Josefa d'Ayala, mais conhecida pelo nome
de Josefa d'Obidos ; e do espirituoso e distincto
poeta Francisco Manuel Gomes da Silveira Malhão.
r
102-
U1LL1 DOIREM.
AVILLADOURIQUE.
AVILLÀ DEPALMELLA.
A VILLA DE PANOYAS.
a CIDADE DE PENAFIEL.
MULA DE PENAMACOR.
AVILLADEPENEILLA.
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PINHEL
— 128 —
A CIDADE DE PINHEL.
§
M ill
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I
a VIUA DE PONTE DE UM 1.
A CIDADE DE PORTALEGRE.
A VILLA DE PORTEL.
A CIDADE DO PORTO.
A VILLl DE POVOS.
A cidade de Lagos 1
> de Lamego ..... 6
» de Leiria 42
A villa de Linhares 19
A cidade de Lisboa 22
A villa de Loulé • 53
» e praça de Marvão 50
» "de Mello.:. 59
» de Mertola 61
A cidade de Miranda 65
A villa de Monção 69
» de Monforte - 74
» e praça de Monsanto 76
» de Monsaràs 78
» de Montemór o Novo 81
» de Montemor o Velho 84
» de Moura 88
» e praça de Mourão. . 93
» de Niza 9o
» de Obidos 97
» de Ourem 102
» de Ourique 105
> dePalmella , 107
» de Panoias 109
» de Pedrogão Grande 111
A cidade de Penafiel 113
A villa de Penamacor 117
» dePenelIa 11»
» e praça de Peniche 120
A cidade de Pinhel 125
A villa de Pombal 127
A cidade de Ponta Delgada 134
A villa de Ponte de Lima 143
A cidade de Portalegre 148
A villa de Portel 151
A cidade do Porto 136
A villa de Porto de Moz 193
» de Porto Santo 196
de Povos 199
<. .- l\ £1
AS CIDADES E V1LLÀS
DA
MONARCHIA PORTUGUEZA
POR
VOLUME (II.
LISBOA
TYPOGRAPHIA DO PANORAMA.
TRAVESSA DA VtCTORlA, 73.
1862.
A llLtJl DE SABUGAL.
A (IDADE DE SETÚBAL.
A CIDADE DE SILVES.
A CIDADE DE TAVIRA.
A CIDADE DE THOMAIt.
o^^ãJ^^^W^F^
— 93 —
bre Santarem, onde os nossos lhe fizeram pagar ca
ra a barbaridade com que se houve em Torres No
vas. Estando reedificada de pouco tempo, em 1190
tornou a ser sitiada pelos moiros, que a entra
ram por capitulação, destruiudo-a novamente. Ou
tra vez conquistada pelos portuguezes capitanea
dos peto infante D. Affonso, filho primogenito de
D. Sancho t, e seu successor, foi levantada das suas
minas pelo rei D. Sancho, que repoz as fortifica
ções no estado anterior, mandando povoar a villa.
Este mesmo soberano lhe concedeu foral com eguaes
privilegios aos de Thomar, que eram mui grandes.
El-rei D. Diniz doou o senhorio d'esta villa á
rainha Santa Isabel, sua esposa, per occasião do
seu consorcio. Possuiram-na depois alguns infan
tes até ao reinado de D. João n. Este monarcha
deu-a a seu filho bastardo, D. Jorge de Lencastre,
duque de Coimbra; e desde então conservou-se nos
seus descendentes, os duques d'Aveiro, até á ex-
tincção d'esta casa em 1759, cujos bens e senho
rios foram encorporados na coroa.
Em 1438, tendo fallecido el-rei D. Duarte, e
succedido no throno seu filho, el-rei D. Affonso v,
contando apenas cinco annos de edade, foram con
vocados a cortes os tres estados do reino na Villa
de Torres Novas. Entre outras providencias go
vernativas, que ahi se determinaram, foi uma, que
andassem na corte dois prelados, cinco fidalgos, e
oito cidadãos annualmente nomeados. Era uma es
pecie de commissão permanente das cortes para
servir de conselho junto do governo nos negocios
importantes do estado.
No reinado de D. João n serviu esta villa de as
sento á casa da supplicação, primeiro tribunal do
reino, creado por D. João i. D esta villa foram cha
mados a Evora os juizes d'aquelle tribunal , que
sentencearam o duque de Bragança, D. Fernando n,
no anno de 1483.
Torres Novas gozava do privilegio deenviar pro
curadores ás antigas cortes, os quaes se sentavam
no banco sexto. El-rei D. Manuet fez marquez de
Torres Novas a D. João de Lencastre, que depois
— 94 —
foi primeiro duque d'Aveiro, c era filho de D. Jor
ge, duque de Coimbra. D. Filippe n de Castella
elevou esta vil la a cabeça de ducado em favor dos
primogenitos dos duques d'Aveiro. Extincta esta
casa, foi renovado o titulo de marquez de Torres
Novas na pessoa de D. Alvaro Antonio de Noro
nha Abranches Castello Branco, setimo conde de
Valladares, pelo principe regente D. João, depois
rei, sexto do nome. Este titulo acabou pela morte
do primeiro marquez. O senhor D. Pedro v creou
visconde do mesmo titulo ao senhor Antonio Cesar
de Vasconcellos Corrêa, ao presente governador ge
ral da índia.
O brasão d'armas d'esta villa é, em campo ver
melho, uma torre de prata sobre terreno verde,
tendo por cima das ameias um braço de guerreiro
armado de uma clava de ferro.
Divide-se a villa em quatro parochias, quesão :
o Salvador, que é a matriz ; Santa Maria, S. Pe
dro , e Santiago. Tem casa de misericordia, hos
pital, e varias ermidas. Teve dois conventos de fra
des, -e um de freiras, actualmente extinctos. Este
ultimo, intitulado do Espirito Santo, era de reli
giosas terceiras franciscanas, e foi fundado em 1536
por D. Branca, tia do arcebispo de Braga, D. frei
Aleixo de Menezes, a qual se recolheu e professou
no dito convento. Os de religiosos eram : o de S.
Gregorio, de carmelitas calçados, edificado em 1558
por D. Jaime de Lencastre, bispo de Ceuta, filho de
D.Jorge, duque de Coimbra. Este edificio está n'um
sitio ameno, sobranceiro ao rocio da villa : e o de
Santo Antonio, de arrabidos, foi fundado em 1562
por D. João de Lencastre, primeiro duque d'Avei-
ro, em Liteiros, a meia legua da povoação, e depois,
por ser o logar doentio , transferiu-o o duque de
Aveiro, D. Alvaro, em 1501 para o sitio em que
está, chamado Berlé, proximo da villa, paraolado
do sul. N'esta transferencia foi-lhe mudada a anti
ga invocação de Nossa Senhora do Egypto na de
Santo Antonio.
Torres Novas sempre foi uma povoação muito in
dustriosa, do que dão testemunho as suas antigas
— 9o —
fabricas de papel, e de tecidos de algodão, eaque
modernamente se orgauisou de tecidos de linho, por
meio de acções. Esta fabrica emprega grande nu
mero de braços; tem aperfeiçoado os seusproduc-
tos, e acha-se em estado prospero.
As cercanias de Torres Novas são bem cultiva
das , e conteem alguns sitios de muita belleza e
amenidade, sobretudo junto ás margens do Almon-
da. Nasce este rio nas faldas da serra d'Ayre, ou
de Minde, entre os logares de Pedrogão Pequeno e
da Zibreira, uma legua ao noroeste de Torres No
vas. Rebentando por um só olho d'agua, e despe-
nhando-se logo por cima de rochedos, e por entre
escabrosa penedia, com grande fragor, forma uma
formosa cascata mui digna de ser vista. D'ali se
encaminha por um valle assombrado de muito e an-
noso arvoredo até entrar pelo meio da villa de Tor
res Novas. D'aqui continua o seu curso por mais
outra legua, até desaguar no Tejo defronte dolo-
gar da Azinhaga. Cortam o rio algumas pontes, sen
do tres junto da villa : a ponte do Ral, que é a mais
antiga, e dizem que a sua primeira fabrica foi obra
dos romanos ; a ponte da Levada, que dásaida pa
ra o rocio, e para o convento do Carmo, de S. Gre
gorio Magno ; e a ponte Nova, que communica para
os olivaesj e para a estrada da Gollegã.
E' orlado o Almonda de muito arvoredo silves
tre ; passa por entre grande numero de hortas e
pomares, que rega, e faz trabalhar as machinasda
fabrica de tecidos de linho, e muitos moinhos na
villa e nos arrabaldes, para o que lhe represam as
aguas muitos açudes. Por ser a sua agua melhor
que a das fontes da villa, a maior parte da povoa
ção bebe d'ella.
Os romanos, achando este rio muito similhante
ao Mondego na pureza e excellente qualidade das
aguas, lhe deram o nome de Alius Munda, outro
Mondego, pois que a este chamavam Munda. D'a-
quelle nome se derivou o de Almonda. Posto que
haja quem lhe assigne outra etymologia, esta é a
que nos parece melhor.
Ha nos arrabaldes de Torres Novas umas grutas,
— 90 —
que são das mais notaveis curiosidades geologicas
de Portugal. Distam da v i 1 1 a meia legua, e dão o
nome a uma pequena povoação, que está edificada
sobre ellas chamada o logar das Lapas. A aldêa
oceupa a coroa de um oiteiro, que se acha todo mi
nado e aberto em grutas tão altas, e tão compri
das, que parecem ruas subterraneas. Em algumas
partes vêem-se aberturas na sua abobada natural,
por onde lhe entra luz. Mas n'outras partes são tão
escuras, que não se pode andar n'ellas sem o au
xilio de um archote. Em occasiões de tempestades
abrigam-se ali muitas vezes os pastores com os seus
rebanhos, assim como os jornaleiros ; o que deu ori
gem ao adagio mui vulgar n'aquelles sitios, que diz
que — no logar das Lapas andam os vivos por bai
xo dos mortos, pois que a egreja parochial, cujo
orago é Nossa Senhora da Conceição, está exacta
mente por cima da grutas.
E' tradição entre aquelle povo, que os moiros,
durante o seu longo dominio em o nosso paiz, abri
ram aquellas grutas para extrahir d'ali a pedra com
que fabricaram as fortificações de Torres Novas. Se
porventura são o resultado do artificio humano, tam
bem é possivel, que datem de tempos mais remotos,
e que tivessem por autores os romanos, ou os phe-
nicios. N'esta hypothese devem ser as galerias de
alguma mina por elles explorada. Entretanto algu
mas pessoas intelligentes, que teem visitado estas
grutas, inclinam-se mais a que seíam naturaes.
Nos primeiros tempos da monarchiaachou-se em
uma d'estas grutas, msttida em uma cavidade a uns
vinte e cinco palmos de altura do pavimento, uma
pequena imagem de Nossa Senhora, que altrahindo
grande devoção dos povos d'aquellas visinhanças,
estes lhe edificaram em logar proximo uma boa egre
ja, onde a collocaram, com a invocação de Nossa Se
nhora da Graça. Como a villa de Torres. Novas foi
por vezes tomada e possuida alternadamente pelos
christãos c pelos moiros, é provavel que em algum
d'estes conflictos os christãos procurassem salvar a
sagrada imagem das profanações musulmanas, es-
condendo-a n'aquelle logar tão occullo; o que de
— 97 —
pois ou perdessem a idea do sitio, ou que fossem
victimas da ferocidade dos seus inimigos.
O termo de Torres Novas tem bons terrenos, mui
tas quintas importantes, e variada producção. K'
abundante de cereaes, legumes, frnctas, vinho, e
azeite. Estes dois ultimos productos, juntamente
com algumas fructas seccas, e aguardente, são os
principaes generos agricolas que exporta. Tem al
guma criação de gado. Caça não falta, e de peixe
d'agua doce vem muito á villa tanto doAlmonda,
como do Tejo.
Torres Novas encerra uns quatro mil e trezentos
habitantes. Faz-se ahi uma feira annual a 12 de
Março, mui concorrida, e de bastante commercio.
Foram naturaes d'esta villa o doutor António Pi
menta, um dos nossos melhores inalhemalicos do
seculo xvu, lente da universidade de Coimbra, e au
tor de numerosas obras ; e frei Arsenio da Ascenção,
doutor em direito, e theologia. frade dominico, e
provincial da ordem em Roma, pregador de Fer
nando ii, grã-duque de Florença, e seu conselhei
ro, medianeiro da composição entre este principe
e o papa Urbano viu, e fundador do convento de
Santo Agostinho, de dominicos, em Florença no aa-
no de 1636.
VOL. tlt.
-98-
A MIM DE TRANCOSO.
A NUA DE VEIROS.
A MLA DA VIDIGUEIRA
VILLA DO CONDE.
VILLfl FLOR
-'
— 156 —
VILLA REAL.
Esta villa é a mais bonita e melhor terra da
provincia de Traz os Montes. Sobreleva em impor
tancia ás cidades de Bragança e de Miranda. É ca
beça de comarca, e capital do districto do seu
nome.
Está situada na parte occidental da provincia,
em uma risonha planicie, que se estende entre
dois rios, o principal dos quaes se chama Corgo.
Dista da cidade de Lamego quatro leguas para o
nordeste, outras tantas da villa d' Amarante para
o sueste, e obra de duas do ponto mais proximo
da provincia do Minho.
Foi fundada esta villa por el-rei D. Diniz no
anno de 1288, levando assim a effeito este plano
já intentado por seu pae, el-rei D. Affonso iir, em
1272. Aquelle soberano deu á nova povoação o
seu primeiro foral em 1289. Passados três annos,
aos 24 de Fevereiro de 1292, concedeu-lhe segun
do foral, ampliando algumas regalias, e accrescen-
tando novos privilegios, afim de attrahir á povoa
ção nascente maior numero de moradores. Um des
ses privilegios impedia ao alcaide mór ter parte
alguma no governo da villa, favor muito aprecia
do pelos povos, por quanto os alcaides móres, ge
ralmente faltando, exerciam nas suas terras não
pequenos vexames.
O mesmo rei D. Diniz fez doação do senhorio
de Villa Real a sua esposa, a rainha Santa Isabel,
e ao diante, de accordo com esta senhora, dispoz
d'elle em favor de sua nora, a infanta D. Beatriz,
que o logrou depois de rainha. Mais tarde deu-o
el-rei D. Fernando á rainha D. Leonor Telles de
Menezes, sua mulher.
No reinado seguinte fez merce d'este senhorio
el-rei D. João i a um fidalgo do appellido de Por
to Carreiro. Depois passou para a familia dos Me
nezes, pelo casamento de D. Maior Villalobos Por
to Carreiro, herdeira da grande casa de seus paes,
— 165 —
corn João Affonso Telles de Menezes, primeiro con
de de Vianna. Foi fructo d'este consorcio D. Pe
dro de Menezes, segundo conde de Vianna, e pri
meiro capitão de Ceuta, a quem el-rei D. Affon
so v creou primeiro conde de Villa Real. Sua fi
lha, e herdeira, D. Brites de Menezes, casou com
D.Fernando de Noronha, filho de D. Affonso, con
de de Gijon, e de Noronha, e de D. Isabel, filhos
bastardos, aquelle de D. Henrique h, rei de Cas-
tello, e esta de D. Fernando i, rei de Portugal.
Do enlace de D. Brites de Menezes com D. Fer
nando de Noronha nasceu primogenito D. Pedro
de Menezes, que foi feito primeiro marquez de
Villa Real por el-rei D. João n. El-rei D. Filip-
pe ih de Castella, e segundo dos intrusos no go
verno de Portugal, erigiu esta villa em ducado a
favor de D. Manuel de Menezes, quinto marquez
de Villa Real. O sexto marquez gozou tambem do
titulo de duque de Villa Real; e o oitavo, D. Mi
guel de Menezes, foi duque de Caminha. Tendo
entrado este infeliz mancebo, juntamente com seu
pae, D. Luiz de Menezes, setimo marquez de Vil
la Real, na conspiração contra el-rei D. João iv,
foram justiçados no dia 29 de Maio de 1641. Os
seus immensos bens foram sequestrados para a co
roa, e passado algum tempo, este mesmo sobera
no fez d'elles o nucleo, ou fundamento da casa do
infantado, creada para seu filho segundo o infan
te D. Pedro, depois rei.
No reinado de D. Maria i foi feito conde de Vil
la Real, pelo principe regente, D. José Luiz de Sou
sa Botelho Mourão eVasconcellos, mergado deMa-
theus. Actualmente é terceiro conde seu neto, D.
José Luiz.
Pela sua posição geographica, afastada da fron
teira do reino, e das estradas' que ligam os prin-
cipaes centros da povoação do paiz, esta villa tem
sido das mais poupadas tanto nas guerras estran
geiras, como nas lactas civis. A esta circunstan
cia, e bem assim ao desinvolvimento da industria
vinicola do alto Douro, deve o seu engrandeci
mento e riqueza, em quanto que todas, ou quasi
— 166 —
todas as outras terras da provincia de Traz os
Montes, á falta de faceis communicações, e de im
pulso industrial, ou vão em decadencia, ou se con
servam estacionarias. Em breve Villa Real se acha
rá ligada ao Porto por uma excellente estrada mac-
damisada, já transitada por diligencias desde esta
ultima cidade até á Regoa, villa sobre o Douro,
que apenas dista umas tres leguas da villa de que
tratamos.
Villa Real tinha voto nas antigas cortes, com
assento no banco quinto. A alcaidaria mor anda na
casa dos marquezes de Othão, hoje representada
pelo senhor D. José de Mello da Cunha Mendon-
çae Menezes, filho, e herdeiro do ultimo marquez.
Quanto ao nome da villa, parece que lb/o deu
el-rei D. Diniz, em memoria de ser fundação sua.
Ha porém quem explique por outro modo a eti
mologia d'elle, dizendo que se deriva da situação
topographica da terra entre dois rios; pelo que
pretendem que o seu nome era Villa Riai, ao dian
te corrupto em Villa Real.
Consiste o brasão d'armas d'esta nobre povoa
ção em uma coroa de loiro, tendo no meio escri-
pta a palavra alteo, e ao lado uma espada. Estes
emblemas dizem respeito a D. Pedro de Menezes,
senhor, e primeiro conde d'esta villa. Conta-se do
seguinte modo o caso, que lhe deu origem.
Conquistada aos moiros a praça de Ceuta, cui
dou logo el-rei D. João i de dispor todos os meios
para a sua defensa e conservação. Quando tratou,
porém, de lhe nomear governador, todos se escu
savam deacceitar tão pesado e perigoso cargo. Nin
guem deixava de prever, que o imperador de Mar
rocos viria cair em breve sobre a praça com todo
o seu poder. Questão era esta para os moiros mais
que de capricho e de honra, de uma transcenden
cia verdadeiramente grande para a segurança e in
dependencia do seu paiz. Por tanto a difficuldade,
ou antes impossibilidade de conservar Ceuta, com
os recursos de que se podia dispor, fracos para
tão ardua empresa, era obvia ainda aos mais limi
tados entendimentos.
— 167 —
Foi n'estas circunstancias, que D. Pedro de
Menezes se ofiereceu para ficar com o governo da
praça.
Mandou-o el-rei vir á sua presença para lhe
perguntar, se com effeito se atrevia a defender a
todo o transe aquelle posto de honra das armas
portuguezas. D. Pedro, que se achava jogando a
chaca (*), quando recebeu o recado d'el-rei, apre-
sentando-se ao monarcha com o alleo, que era o
pau com que jogava, respondeu com singular re
solução: 'Com este alleo, que me vedes na mão,
o defenderei contra toda a moirisma.»
Ficou pois D. Pedro de Menezes por primeiro
capitão de Ceuta; e cumpriu á risca a sua promes
sa. Durante vinte e dois annos, que teve este go
verno, foi a praça por muitas vezes sitiada e ac-
commettida por formidaveis exercitos de moiros,
que, apezar de esforços desesperados, nunca lo
graram rendel-a.
O illustre defensor de Ceuta foi um dos poucos
portuguezes, que viram dignamente premiados o
seu valor e patriotismo. Além dos titulos de con
de de Vianna, e deVilla Real, teve dois galardões
de subido apreço. O alleo, ou cajado com que pro-
metteu a D João i defender a praça, foi por de
terminação regia cuidadosamente guardado, para
com elle se dar posse, em logar de bastão, aos
governadores d'aquella praça. E "Villa Real tomou
por brasão d'armas uma espada e uma coroa de
loiro com a lettra alleo, em memoria das suas vi-
ctorias.
Na Torre do Tombo acha-se desenhado de di
versa maneira o brasão d'esta villa. Como ahi se
vê é, em campo vermelho, um braço de homem,
vestido de azul, e empunhando na mão uma espa
da. Cremos que este, foi o primeiro brasão que a
villa teve.
Divide-se Villa Real em duas partes, a da fun
dação d'el-rei D. Diniz, que este soberano cingiu
com muralhas e tres torres, á qual hoje chamam
(») Jogo de cajados então muito em uso.
— 1B8-
et lia velha; e a povoação mais moderna, que se
foi estendendo e crescendo por fora dos muros, e
que é a principal.
São duas as parochias: S. Diniz, e S. Pedro.
Aquella é a matriz, e acha-se estabelecida naegre-
ja do extincto convento de S. Domingos, para on
de se mudou em consequencia do seu templo pri
mitivo ameaçar ruina.
Os outros edificios religiosos e pios são: a casa
da misericordia; o hospital; onze ermidas; o con
venio das freiras de Santa Clara; a egreja do ex
tincto convento de S. Francisco; e a egreja velha
de S. Diniz. Esta ultima é um templo de archi-
tectura gothica, obra d'el-rei D. Diniz. Está si
tuada na villa velha, onde agora é o cemiterio, ao
qual serve de capella.
O convento de religiosas claristas, da invocação
de Nossa Senhora do Amparo, teve principio em
1602. Ainda é habitado por algumas poucas frei
ras.
O convento de S. Domingos, que pertenceu á
ordem dos pregadores, foi edificado com esmolas
do povo em 1524, e depois acerescentado e me
lhorado pelos marquezes de Villa Real. Em tem
pos modernos, estando a servir de quartel, redu-
ziu-o a cinzas um violento incendio.
O convento de S. Francisco, que era de frades
capuchos da provincia da Conceição, teve por fun
dadores os referidos marquezes pelos annos de
1573. É hoje propriedade particular.
Tem esta villa algumas ruas guarnecidas de
boas casas, e uma grande praça, ornada de um
chafariz, e de uma esbelta e alta pyramide, de
uma pedra inteiriça, que remata em uma cruz.
Abastecem-na d'agua nove fontes publicas. Possue
um theatro, casa d'assembléa, um lyceu, e uma
livraria publica, estabelecida modernamente no
convento de S. Francisco.
Dos antigos muros e castello apenas restam al
guns vestigios.
Para todos os lados são as saidas da villa des
afogadas e risonhas. Hortas, pomares, devezas de
— 169 —
carvalhos e castanheiros, e muitas quintas, fazem
todas aquellas cercanias alegres e formosas.
Entre essas quintas tem o primeiro logar a dos
senhores condes de Villa Real. É uma bella pro
priedade, cabeça do morgado deMatheus, comum
grande palacio, e uma linda matta. Na sua capei-
la, consagrada a Nossa Senhora dos Prazeres, faz-
se annualmente uma festa com arrayal, a que con
correm as gentes da villa e dos suburbios.
O concelho de Villa Real produz pouco ttigo,
e muito centeio e milho, vinho, frutas, com es
pecialidade castanhas, e sumagre. Criam-se n'el-
le diversas especies de gado, e é abundante de ca
ça, e de peixe dos rios Douro e Corgo. Porém o
principal ramo da sua agricultura consiste nos pre
ciosos vinhos do alto Douro, conhecidos e acredi
tados em todo o mundo pelo nome de vinhos do
Porto; os quaes formam o mais valioso artigo das
exportações de Portugal.
O rio Corgo passa proximo da villa, onde o atra
vessa uma grande ponte, nasce perto de Villa Pou
ca, e entra no Douro abaixo de Canellas e Poya-
res, a duas leguas de Villa Real. Os romanos cha
mavam a este rio Corrugo.
Villa Real conta perto de cinco mil habitantes,
que se empregam pela maior parte no commer-
cio, na agricultura, e nas pequenas industrias ma
nufactureiras. Tem muitas familias nobres, e ser
ve de residencia a um governador civil, juiz de
direito, e mais autoridades que competem ás ca
pitaes de districto e cabeças de comarca.
Tem uma feira annual, que principia a 13 de
Junho.
Foi natural d'esta villa o padre Alvaro Lobo,
jesuita, que viveu na segunda metade do seculo xvi,
escriptor distincto.
— 170 —
VIUA VIÇOSA.
A CIDADE DE VIZEII.
NOVA GOA.
"
— 239 —
um bello caes ; a alfandega ; a casa do senado ; a
casa da companhia ingteza das índias Orientaes ;
o paço episcopal ; c dois pagodes chinezes.
A casa da companhia das lndias está edificada
sobre o caes. E um rico palacio coroado de balaus
trada, sendo o corpo centrat ornado de quatro co-
lumnas, e um frontão.
O paço episcopal oceupa o convento de Nossa
Senhora da Guia, situado dentro da fortaleza do
mesmo nome, que se ergue sobre uma montanha
alcantilada, dominando a cidade e a bahia. Go-
za-se d'ali um panorama admiravel, e a seu turno
o paço acastellado dá realce á perspectiva de Macau.
Ha em Macau quatro pagodes principaes, dois
nas aldêas de Moha e Patane, outro no caminho
que vae de Patane para a porta do Cêrco, e o
quarto proximo da fortaleza deS. Thiago da Barra.
Os dois ultimos são os melhores, e sobretodos o
da barra, que reune a uma construcçào mais sum
ptuosa, a belteza do sitio, e o effeito pittoresco
produzido pelas suas diversas capellas, dispostas
com muita arte c bom gosto em amphitheatro por
entre grandes penedos e frondosas arvores.
Tem Macau tres hospitaes, dois civis, e um mi
litar ; e os seguintes estabelecimentos de instruc-
ção publica: u seminario de S. José, antigo collegio
de catheèumenos chins, no qual se ensina theologia,
philosophia, latim, e chinez, e é frequentado por
uns trinta seminaristas; o asyto de Santa Rosa,
onde são educadas umas cem meninas ; uma escola
de mathematica, das linguas latina, franceza e in
gleza, de ter e escrever, instituida em 1847 pelo
senado, e cujo movimento regula por cento e cin-
coenta discipulos.
Possue um museu de historia natural, que en
cerra tambem varios objectos curiosos relativos ás
artes e sciencias d'aquelles paizes.
Tambem tem uma typographia, e um jornal offi-
cial, intitulado Botetim do governo de Macau.
O cemiterio catholico è, como dissemos, no re
cinto da incendiada egreja de S. Paulo. Servc-lhe
de frontaria e do entrada o frontispicio do templo,
— 240 —
que as chammas pouparam, e se acha cai bom es
tado de conservação. É uma fachada grandiosa pe
las suas proporções, adornos e materiaes. Porém a
sua archilectura é falia de gosto, c sobrecarregada
de decorações. Compõe-se de quatro corpos de dif-
ferentes ordens dearchitectura. O primeiro é ador
nado de dez grandes columnas jonicas, entre as
quaes se abrem tres portas, que dão entrada para
o cemiterio. O segundo é decorado com outras dez
cotumnas da ordem composita, e quatro estatuas
mettidas em nichos. O terceiro tem por ornatos
sers columnas corinthias, uma estatua de Nossa
Senhora em um nicho cercado de figuras de an
jos, quatro quadros com baixos relevos de figuras
symbolicas, e ainda outras decorações. O quarto
corpo é ornado de quatro columnas, tres estatuas,
e diversos embtemas da paixão de Jesus Christo,
tendo por coroa um frontão, em cujo tympano se
vê representado o Espirito Santo.
O templo de S. Paulo foi uma das mais ricas
e notaveis construcções, que os jesuitas levanta
ram no Oriente. Era o principal monumento do
Macau, e tinha celebridade u'uma grauda parle da
Asia.
Para a edificação do cemiterio demoliram-se as
paredes lateraes da egreja até meia altura, e cons-
iruiram-sc junto d'ella dois lanços de galerias abo
badadas, sustentados por pilares. A parte superior
é um terrado, e serve de passeio ; na parte infe
rior abriram-se catacumbas uas paredes, c sepul
turas no pavimento. No logar oceupado outr'ora
pela capella mor edilicou-se a cipella do cemiterio.
O que era recinto da antiga egreja está arruado e
plantado de cedros.
Este cemiterio é administrado, c foi feito pela
confraria da misericordia no anno de 1837, soba
direcção do padre Joaquim José Leite, superior do
coltegio de S. José. >
O cemiterio dos ctins é em sitio ermo. Os seus
tumulos alvejam por entre latadas de flores.
As ruas da cidade são pela maior parte tortuo
sas, estreitas c pouco aceiadai, principalmente as
— 241 —
que ficam mais proximas ao mar, lodavia em ou*
tro tempo foram muito mais immundas. As casas,
construidas de pedra, e caiadas exteriormente,
teem uma apparencia regular, e mostram acceio.
Algumas, edificadas no gosto singelo e elegante da
architectura ingleza, e pertencentes a subditos da
Gram-Bretanha, são de mui agradavel aspecto.
Onde se veem mais casas d'esta architectura é na
Praia Grande, á beira mar, sobre um cacs extenso
e magnifico, com desembarcadoiros commodos. É
o melhor c mais lindo sitio da cidade.
Macau é perfeitamente abastecida não só dos
mantimentos necessarios á vida, mas tambem de
muitos de regalo. Acha-se sempre provida de ex-
cellenles carnes, de muita variedade de aves, pei
xes, hortaliças, legumes, e fruetas Recebe todas,
ou quasi todas estas provisões do territorio chi*
nez, circumstancia que obrigará em todos os tem
pos o governo e os moradores de Macau a procu
rarem viver em boa harmonia com o celeste im
perio.
Tem esta cidade bons mercados cobertos, e des
tes o melhor em edificio, e mais notavel pela va
riedade e valor das mercadorias, que expõe á venda
é o baazar cMnez. Os chins teem singular geito
para fazerem exposição de produetos de industria.
Sabem dispol-os com verdadeiro gosto artistico, e
de maneira a fazer realçar cada um dos objectos.
Tanto no baazar como nas lojas observam á risca
esta pratica.
O commercio é a industria quasi exclusiva de
Macau, pois que não tem fabricas, nem terrenos
para lavoura. Todavia possue algumas pequenas
industrias manufactoras muito aperfeiçoadas, posto
que exercidas, em geral, pelos chins. Os trabalhos '
em que estes artistas maissobresaem são os da ou
rivesaria, e os da esculptura em marfim, tarta
ruga, e madeira, de que fazem artefactos de pas-
mosa delicadeza.
Os arrabaldes da cidade são limitadissimos, pois
que todo o territorio, que ahi possuimos, mal
chega a ter uma legua de cumprimento, e meia na
vol. ni< lfi
— 242 —
sua maior largura, accrescendo a isto a ingratidão
do solo. Entretanto contam se em volta da cidade
varias hortas c jardins, e tres aldêas habitadas
por chins.
Ha em Macau uma curiosidade natura!, e ao
mesmo tempo sitio historico de mui subido apreço.
É a gruta de Camões, onde o principe dos poetas
portuguezes, inspirado pelo amor da patria, com-
poz alguns cantos, ou deu os ultimos traços no
seu poema sublime, os Lusiadas, com que glori
ficou Portugal, e se immortalisou a si proprio.
E' formada esta gruta por grandes rochedos,
com duas entradas divididas por um penedo de
figura conica, no qual descança a parte superior
da rocha. Sobre a gruta está um esbelto pavilhão
ou mirante, donde se descobre em dilatado hori-
sonte a bahia e a cidade de Macau, e parte do
porto da Taipa, ou Typa, sempre animado por
uma immensidade de navios europeus e barcos
chinezes.
Acha-se esta gruta em um quintal particular.
O seu actual proprietario, o senhor Lourenço Mar
ques, mandou ha pouco fazer em Lisboa um busto
em bronze do grande poeta para 3er collocado na-
quella celebre lapa. Esta obra está concluida, e
brevemente partirá para o seu destino. Foi feito
o modelo pelo senhor Bordallo Pinheiro, e os tra
balhos de fundição foram executados nas ofJBcinaa
do arsenal do exercito pelo senhor Felisberto José
Pereira.
Está feito o busto com bastante perfeição. Tem
de peso 49 kilogrammns.
A população de Macau tem tido muitas e gran
des variações em resultado de alguns acontecimen
tos de Portugal, e ainda mais dos successos de
que tem sido theatro a China desde o anno de
1842, em que a expedição ingleza, ao cabo de
uma curta lueta, conseguiu fazer abrir aos euro-
peos os portos do celeste imperio. A emigração
dos chins do territorio do imperio para dentro da
cidade, ou d'esta para outra qualquer parte, é que
forma aquellas grandes variações.
— 243 —
Em certas épocas chegou Macau a não ter mais
de dez mil moradores. Quando a guerra assolou
Cantão em 1854, elevou-se aquelle numero a mais
de" sessenta mil. Presentemente poder-se-ha cal
cular em trinta e cinco mil almas a totalidade da
população, sendo cinco a seis mil portuguezes,
vinte e cinco a trinta mit chins, e quinhentos a
a seiscentos estrangeiros em grande parte inglezes,
francezes, americanos, e hollandezes.
A salubridade do clima, a bondade e variedade
dos viveres, c tambem a belleza do sitio, attrahem
a Macau em certa época do anno muitos negocian
tes inglezes de Hong-Kong, que a procuram como
logar de repoiso e de recreio. Assim tambem serve
muitas vezes de hospedaria ás legações europeas,
na China. D'este trato tem colhido a cidade mui
tos proveitos, d'entre os quaes mencionaremos a
edificação de lindas casas de campo, e a introduc-
ção de muitas commodidades e confortos da vida,
hoje usados na Europa.
Jí CIDADE DE S. PAULO DA ASSIMPÇÃO
de umm.
Os dois antigos reinos de Angola e Benguella
e suas dependencias loruaam actualmente a pro
vincia portugueza da Africa occidental, designada
pelo nome de governo geral de Angola.
O primeiro d'aquelles reinos estende-se entre
os dois grandes rios Ambriz e Cuanza. e confina
ao norte com o reino do Congo, ao sul com o de
Benguella, a leste com as terras dosMulluas, Jaga
Cassange, e Dala Quicua, e a oeste com o ocea
no. O segundo tem por limite, pelos lados de
leste e sul as terras de Humbe, e os territorios
pouco conhecidos, que ficam além das correntes
do Cutato, do Cunhinga, e do caudaloso rio Cu-
nene, pelo norte o reino de Angola, e por oeste
tambem o oceano. Os dois teem de extensão de
norte a sul, ou de costa, desde o Ambriz até Cabo
Negro, cento e setenta leguas maritimas, e de
oeste a leste, ou do mar para o interior, umas
cem pouco mais ou menos A sua area aproxima-se
a dezesete mil leguas quadradas com uma popu
lação, que se calcula em seiscentos e sessenta mil
habitantes, comprehendendo-sc n'este numero os
povos alliados e tributarios da coroa de Portugal.
Desta vasta provincia portugueza da Africa oc
cidental é capital a cidade de S. Paulo da Assum
pção de Loanda, situada em uma hahia na costa
do reino de Angola, ao sul da foz do rio Bengo,
em uma latitude 8o 48', e distante de Lisboa 808
leguas em linha recta, e 1OIiO por mar.
Correndo o anno de 1484 enviou el-rei D.
João n a Diogo Cam, a proseguir nos descobri
mentos da costa occidental da Africa, tão gloriosa
mente começados pelo illustre infante D. Henri
que. Diogo Cam descubriu na sua primeira via
gem o reino do Congo, e na segunda o de Angola
e Benguella até ao Cabo Negro; collocou em di-
— 245 —
versos sitios padrões de pedra, que levara de Lis
boa, com as armas reaes, eduas inscripções. uma
em portuguez, outra em latim; e travou relações
com os regulos indigenas.
Em 1491 chegou ao Congo a primeira mis
são portugueza, que ahi derramou a luz do Evan
gelho, e desde essa época até 1559 não passaram
além os esforços dos portuguezes, que então se
empregavam quasi exclusivamente nas conquistas
da, lndia. N'este anno fizeram-se as primeiras ten
tativas para a fundação do estabetecimento por
tuguez em Angola, porém d'esta vez ficaram sem
effeito, e só se renovaram em 1574, encarregando
el-rei D. Sebastião essa empreza a Paulo Dias de
Novaes, neto de Bartholomeu Dias, o descobridor
do Cabo da Boa Esperança.
Partiu Paulo Dias de Lisboa no referido anno
com tres navios, e no seguinte de 1575 surgiu e
lançou ferro em frente da barra doCuanza. De
sembarcou na ilha de Loanda, e passando em se
guida á terra firme, construiu logo o forte de S.
Miguel, fundou a villa de S. Paulo de Loanda
com a sua egreja (1576); organisou o governo,
e tomou o titulo de capitão e governador do novo
reino de Sebaste, na conquista da Ethiopia. Pouco
durou, porém, o nome de Sebaste dado áquella
terra em honra do rei de Portugal. Os navegantes
e os colonisadores principiaram a chamar-lhe An
gola, que era a nome do rei d'esse paiz, e assim
continuou a denominar-se.
Tratando Paulo Dias no começo do estabeleci
mento de se por em boas relações com os regulos
do interior, contrahiu paze alliança com An Gola,
rei do Dongo. Mas ao cabo de tres annos o rei
preto quebrou o tratado, e atacou traiçoeiramente
os portuguezes.
Paulo Dias, apenas com um punhado de solda
dos, destroça completamente o inimigo na batalha
de Anzelte, e proseguindo de victoria emvictoria,
conquista a liamba e parte da Quissama, as mi
nas de Cambambe, e o Colungo, e funda os presi
dios de Massangano, e do morro de Bengxiella.
— 546 —
Colheu-o a morte quando dispunha uma expedição
contra o Dongo (1589).
Durante a administração dos quatro governado
res, que se seguiram a Paulo Dias de Novaes, em
um periodo de cinco annos, experimentaram as
armas portuguezas sorte varia, mas apesar de alguns
grandes revezes conquistaram novos territorios.
No anno de 1594 chegou a Loanda o governa
dor João Furtado de Mendonça com 400 soldados
de infanteria, e 30 de cavaliaria. Tambem levou
comsigo doze mulheres brancas, escolhidas em
Lisboa no recolhimento das convertidas, para ca
sarem em Angola com os soldados ou colonos por-
tuguezes.
O anno de 159o ficou assignalado nos annaes
de S. Paulo de Loanda por dois terriveis flagelos,
a fome e uma grande epidemia.
Os dez annos seguintes foram empregados quasi
exclusivamente em render e castigar diversos so
vas, que se rebellaram contra o dominio portu-
guez, e na construcção dos presidios de Muxima
e Cambambe.
Em 1605 foi creada cidade a villa de S. Paulo
de Loanda, que n'esse mesmo anno teve impor
tantes melhoramentos, ordenados pelo governador
Manoel Cerveira Pereira.
Sob o governo de D. Manoel Pereira Forjaz,
correndo o anno de 1607, fez-sc a primeira ten
tativa para abrir communicação peto interior de
Africa entre Loanda e Moçambique.
A guerra dos pretos contra o nosso presidio de
Cambambe foi causa de mallograr-se a empreza.
Tcndo-se apossado os hollandezes do porto por-
tuguezes de Pinda, no rio Zaire, e tratando de se
fortificarem n'elte, foram expulsos d'alli por uma
esquadra, que mandou contra elles D. Manoel Pe
reira Forjaz (1609).
Os suecessores de D. Manoel sustentaram por-
liosas guerras contra os pretos, ora repellindo e
castigando as aggressões e rebeldias de alguns so
vas, ora procurando descobrir terras, e estender
o dominio de Portugal.
— 247-=
Com este ultimo proposito se collocou á freute
de uma expedicção Manoel Cerveira Pereira, aehan-
do-se pela segunda vez governador de Angola
(1617). Deu em resultado esta empreza, a des
coberta e conquista de uma parte do reino de Ben-
guella, e a fundação da fortalleza de S. Filippt
de Benguella.
No anno de 1621 teve principio na historia de
Angola aquelle celebre episodio da rainha Ginga,
que deu assumpto para um romance a um elegante,
escriptor francez. A embaixada de Ginga, rainha
de Matambá, pedindo paz e alliança ao governa
dor de Angota; o seu baptismo em Loanda com
grande solemnidade, recebendo então o nome de
1). Anna de Sousa (1622); o fratrecidio que com-
metteu, envenenando seu irmão, Gola Ginga Ban-
dy, rei de Matambá, em vingança por este lhe ter
assassinado um filho (1623); a sua apostasia e a
guerra que moveu aos portuguezes; a batalha,
que lhe deu o governador de Angola Fernão de
Sousa, e na qual Ginga perdeu a maior parte do
seu exercito, liicando prisioneiras suas irmãs Cambe
e Fungo (1627); o baptismo d'estas com os nomes
de D. Barbara e D. Engracia (1628); as pazes ce
lebradas entre os portuguezes e a rainha de Ma
tambá em 1636; a renovação da guerra em 1641
e 42, 46 c 49, ailiando-se a rainha com os hol-
landezes; a reconciliação de Anna Ginga com a
egreja catholica em 1657, são os principaes sueces-
sos d'aquelle episodio. Morreu Annei Ginga cm
1680 no gremio do christianismo.
• Em 1626 foi trasladada para a cidade de S.
Paulo de Loanda a sé do Congo, que fora insti
tuida por bulia de 13 de julho de 1597. Naquellc
mesmo anno se fortificou a cidade pelo lado do
mar para resistir aos hollandezes, que a amea
çavam com uma forte esquadra.
O commercio de,Loanda soffreu então, e nos
annos seguintes, enormes perdas, caquelias nossas
possessões correram o maior risco de se perderem
para a coroa de Portugal, pois que ao passo que
os hollandezes nos faziam crua guerra por mar e
— 248 —
por terra, excitando contra nós os regulos do in
terior, os portuguezes de Angola e Benguella,
quasi esquecidos pelo governo de Madrid, que pa
recia folgar com os revezes e humilhações do pa
vilhão das quinas, viam-se reduzidos, por assim
dizer, aos seus proprios recursos em uma lucta
tão obstinada e tão desigual.
Entretanto, apesar da sorte adversa que oppri-
mia a mãe patria, os portuguezes continuaram
ainda a sustentar por muito tempo na Africa, co
mo na Azia, a honra do seu nome, e o lustre das
armas lusitanas.
Em 1633 armaram-se em guerra no porto de
Loanda cinco navios mercantes, e sahindo ao en
contro de duas naus hollandezas, travam peleja,
e rendem-nas no dia 15 de Novembro. Quatro an-
nos depois entrava prisioneiro n'aquelle porto um
navio de guerra hollandez com vinte e quatro
peças.
Em agosto de 1641 apparece avista de Loanda
uma nova e poderosissima armada, enviada pela
Hollanda á conquista de Angola. Constava de vinte
e uma naus, com dois mil homens de tropa, fora
os da guarnição. Foi tal o terror, que se apode
rou dos habitantes, que abandonaram a cidade, e
obrigaram o governador, Pedro Cesar de Menezes,
a retirar-se para o Bembem. No dia immediato
(25 de Agosto) desembarcaram os hollandezes, e
apossaram-se de Loanda sem resistencia.
Pedro Cesar de Menezes recolhe-se logo depois
com as suas forças ao presidio de Massangano,
que se torna o centro das operações contra os ini
migos externos e internos, pois que os regulos dos
paizes visinhos, e muitos sovas vassallos do rei
de Portugal, se uniram com os hollandezes para
nos expulsar d'aquellas regiões.
Assoberbados os portuguezes com a immensa
superioridade dos exercitos contrarios, e victimas
de algumas infames traições, foram despojados
da maior parte d'esses seus dominios.
Os hollandezes, violando o tratado de treguas,
que acabavam de ajustar com o governador aci»
— 249 —
ma nomeado, attacam de improviso as nossas tro
pas, que, tomadas de sobresalto, se deixaram cor
tar e desbaratar, ficando mortos no campo os seus
melhores capitães, e ferido e prisioneiro o proprio
governador (26 de maio de 1648).
Em 1645, quebrando novamente a paz, cele
brada entre Portugal, já livre e independente, sob
o sceptro de D. João iv, e a Hollanda, tomaram-
nos Benguella os hollandezes, e por mais tres an-
nos nos affrontaram e molestaram, limitando-se as
nossas tropas á defensa de Massangano, e de al
gumas outras fortallezas.
A sorte porém cançara-se de nos perseguir. Por
tugal já encarava com a fronte erguida os seus
inimigos, e combatendo e vencendo os que ousa
vam disputar-lhe a liberdade, vellava pelas suas
possessões ultramarinas, e acudia solicito aos seus
filhos, que pelejavam na Africa, na Azia, e na
America.
Em 12 de maio de 1648 parte do Rio de Ja
neiro Salvador Correa de Sá Benevides com no
vecentos soldados, em uma armada de quinze na
vios, quatro dos quaes comprara e esquipara á sua
custa. Surge diante de Loanda aos 12 de agosto
e n'esse mesmo dia intima aos hollandezes para
que se rendam por capitulação no praso de 48
horas. Recebendo resposta negativa, desembarca
com a sua tropa no dia 14, e logo n'essa noite
ataca e «bre brecha na fortalleza de S. Miguel,
onde os inimigos se haviam acolhido. Na manhã
de 15 capitularam os hollandezes, e emharcaram
para a Europa.
Em memoria d'este triunnphOj obtido no dia em
que a Egreja celebra a Assumpção da Virgem,
tomou a cidade o nome de S. Paulo da Assumpção
de Loanda.
A esta victoria seguiram-se outras, com que
Salvador Corrêa expulsou os hollandezes dos ter
ritorios de Angola e Benguella; obrigou o rei do
Congo a implorar a paz, e a ceder a ilha de Loan
da, e sugeitou todos os sovas rebellados.
O restaurador de Angola reedifica immedia
— tjJO —
''
C -J
J C
— 263 —
O primeiro portuguez que visitou acosta orien
tal da Africa e a ilha de Moçambique foi João
Peres da Covilhã, que em companhia de Affonso
de Paiva percorreu o Egypto, a Abyssinia, e a
índia, por terra, e por ordem d'el-rei D. João n
no anno de 1487.
Tendo dobrado D. Vasco da Gama o Cabo da
Boa Esperança, no dia 8 de Julho de 1497, na
sua derrota para a descoberta da lndia, aportou a
Moçambique no 1." de março do seguinte anno.
Era então governada esta região por um regulo
moiro. A terra firme era habitada quasi exclusi
vamente pelos negros, naturaes do paiz. A ilha
de Moçambique era povoada de moiros, que fa
ziam d'ella um logar de escala nas suas viagens
e relações commerciaes entre a cidade de Quiloa,
da Mina, e de Sofala.
Ao cabo de alguns dias, depois de tercommuni-
cado com os moiros, presenteando o seu regulo,
e recebendo provisões, continuou D. Vasco da
Gama a sua viagem para a lndia. Porém antes de
partir collocou n'uma ilhota proxima da ilha de
Moçambique um padrão consagrado a S. Jorge,
do qual a ilha veiu a tomar o nome.
A 20 de Julho de 1501 surgiu diante de Mo
çambique a segunda armada portugueza, que sul
cou aquelles mares. Era capitaneada por Pedro
Alvares Cabral, o famoso descobridor- do Brasil.
Todas as outras armadas portuguezas, que se lhe
seguiram, em demanda da índia, ali foram lançar
ferro para se repararem dos damnos causados pe
las iras^rdo mar, e para se proverem de manti
mentos.
Reconhecendo-se por conseguinte a importancia
d'aquella ilha como ponto de escala para a nave
gação da índia, e tendo dado os moiros, que n'ella
dominavam, sobejas provas do seu odio contra os
portuguezes, foi occupada pelos nossos em 1506.
Depois encarregou el-rei D. Manuel de levantar
ali uma fortaleza a Duarte de Mello, que partiu
de Lisboa no anno de 1507 já com o largo de ca
pitão de Moçambique.
Duarte de Mello chegou á ilha de Moçambique
em uma armada destinada para a lndia, "mas que
se demorou ahi o tempo necessario para ajudar e
proteger a edificação da fortaleza. Foi esta fun
dada na ponta da ilha á entrada da barra, com
quarteis para tropa, uma igreja dedicada a S. Ga
briel, e um hospital.
Impoz-se respeito por este modo aos moiros, que
viviam na ilha de Moçambique; porém os do visi-
nho continente cada vez mais zelosos e irritados
da preponderancia, que os portuguezes iam adque-
rindo n'aquellas regiões, faziam-lhes toda a sorte
de vexames e de hostilidades, que as circunstan
cias permittiam. Eram então os portuguezes muito
poderosos, senão pelo numero pela sua audacia e
valor, para suportarem por muito tempo um estado
de coisas, que os contrariava e humilhava. Come
çando pois por expulsar os moiros da ilha, não
tardaram em levar-lhes a guerra ao continente.
Apoderaram-se as nossas armas em breves an-
nos de tantas cidades, e de tão grande extensão
de territorio, que Portugal chegou a ter sob o seu
dominio quasi toda a costa oriental da Africa.
As mesmas causas, que produziram a sua deca
dencia na Asia, o fizeram decadente na Africa. Os
inglezes e os hollandezes, aproveitandosc do seu
enfraquecimento, disputaram-lhe as suas conquis
tas tanto n'uma como noutra parte. Arrebataram-
lhe muitas; fizeran^lhe perder não poucas em pro
veito dos soberanos indigenas, com quem scallia-
ram contra nós; c se não nos despojaram de todas
as nossas possessões foi porque nunca o valor e a
coragem abandonaram os portuguezes mesmo no
maior auge das desditas de Portugal.
Correndo 'pois o anno de 1607 foi Mocambique
acommettida pelos hollandezes, que a entraram e
saquearam, não podendo impedil-o as poucas for
ças, que então a defendiam, as quaes se acolhe
ram á fortateza, que sustentou um assedio com re
petidos e violentos ataques durante dois mezes.
I orém os nossos por tal modo se houveram, que
loi repellido c vencido o inimigo. A alliança que
>
— 265 —
os portuguezes fizeram por essa occasião com o*
imperador de Monomotapá contribuiu muito para
affugentar d'ali os hollandezes, e assegurar aquella
possessão á coroa de Portugal.
No mesmo anno de 4607 fez doação aquelle so
berano ao rei de Portugal de varias minas muito
importantes dos seus estados, o que deu occasião
a fundarem-se alguns estabelecimentos no interior
da provincia. Começou então a desinvolver-se o
commercio interno, e alguns desses estabelecimen
tos, á sombra de fortalezas, que se erigiram para
os defender, clfegaram a adquirir certa importan
cia. Com este movimento commercial prosperou
Sofala, primeira capital da provincia, e a pequena
povoação da ilha de Moçambique, graças á excel-
lencia do seu porto, sentiu ainda mais os seus be
neficos effeitos, crescendo a ponto de obter ao
diante as honras de villa, e mais tarde as de ci
dade e de cabeça da Africa oriental portugueza.
Sacudiu Portugal o jugo de Castella em dezem
bro de 16l0, e Moçambique apressou-se a secun
dar o patriotico esforço da metropole apenas lhe
chegou a noticia.
Acabada a luta da nossa independencia, e ex
pulsos os hollandezes das terras do Brazil, tra-
lou-se de dar grande impulso á colonisação deste
paiz. Como as necessidades da agricultura deman
davam não só muitos braços, de que Portugal não
tinha sobras, mas tambem homens que podessem
supportar o trabalho sob o sol dos tropicos, re-
correu-se á Africa e assim se deu principio ao
trafico da escravatura em larga escala.
No commercio de Moçambique operou-se em
pouco tempo uma completa transformação. Os im-
mensos lucros, que offerecia o trafico da escrava
tura, foram distrahindo as attenções e os capitaes
das industrias, que iam tornando florecente a pro
vincia.
Aquelle trafico trouxe, não ha duvida, grande
cópia de dinheiro á cidade de Moçambique, e du
rante bastantes annos lhe deu um aspecto de appa-
rente prosperidade; porem foi a origem da maior
— 266 —
'parte dos males, que tem alíligido aquella nossa
possessão, e a causa efficiente da miseria a que
ella chegou.
Não houve só a lamentar a quasi extineção do
commercio interno, a ruina de alguns estabetecimen
tos do interior, o definhamento da agricultura, o
abandono emfira de todos os ramos da industria,
que podem dar a um paiz a verdadeira e dura
doira prosperidade.
Peior ainda que tudo isto foram as outras con
sequencias daquelle barbaro trafico: a relaxação
inoculada nos costumes, a corrupção introduzida
nos empregados do governo, e a despovoação da
provincia pelas carregações de escravos enviados
para a America, e pela emigração de muitos pre
tos para longe das fronteiras portuguezas. A tal
ponto chegaram a cubiça e a immoralidade dos ne
greiros e de algumas auetoridades, que avultado
numero de pretos, subditos d'el-rei de Portugal,
foram vendidos como escravos, e transportados
para o Brazil.
Os rendimentos publicos, declinando de anno
para anno, não bastavam para as necessidades da
provincia, nem sequer chegavam para a sustenta
ção do governo e da força armada. A divida pu
blica sempre crescendo, e os meios de segurança
a diminuirem; os empregados procurando nas extor
sões e na veniaga o modo de preencherem os seus
ordenados, ou de locupletarem a sua cubica; aau-
ctoridade sem força nem prestigio; a pouca tropa,
que estava guarnecendo os presidios sem descipli-
na; o desleixo e a desordem lavrando em todos os
ramos da administração; e por toda a parte a des-
moralisação a campear, levaram a provincia de
Moçambique a uma situação da maior gravidade.
Aproveitando-se d'este estado de enfraquecimen
to, ou diremos melhor de dissolução, os cafres, e
outras hordas selvagens dos paizescircumvisinhos,
romperam em hostilidades contra a provincia; e
os proprios povos tributarios e adiados da coroa
de Portugal começaram a levantar o estandarte da
rebelião. A historia de Moçambique nestas ulti-
— ac7 —
mos trinta 3nnos tem sido uma guerra quasi con
tinua n'um ou n'outro ponto da provincia.
Em 1835 os negros landianos exerceram uma
horrivel carnificina nos habitantes de Inhambane.
Em 1842, houve uma revolução no presidio da
Bahia de Lourenço Marques. Os amotinados, com-
mettendo todo o genero de violencias contra os
portuguezes, e contra as suas propriedades, assas
sinaram o governador.
Mais tarde, correndo oanno de 1856, rebentou
outra insurreição nas margens do Zambeze. Os
revoltosos unidos com os cafres assolaram o paiz,
e cortando as communicações do interior com o
litoral, entre as povoações de Teté, Senna, e Qui-
limano, obrigaram alguns estabelecimentos portu
guezes a comprarem a segurança e a paz á custa
de oneroso resgate.
Em 1858 repetiram-se quasi as mesmas scenas
tambem nas immediações do Zambeze. Os insur-
gentes apoderaram-se de importantes carregações
de marfim, que iam caminho de Quilimane.
Ainda no anno passado, de 1801, o flagello da
guerra affiigiu a provincia de Moçambique. As ul
timas noticias vindas d'esta nossa possessão em
fevereiro do corrente anno de 1862 participam uma
importante victoria ganha pelas tropas portuguezas
contra os negros.
Não ha duvida qus em toda esta prolongada
lucta as armas portuguezas teem obtido afinal
triumpho contra os indigenas, com mais ou menos
sacrificio. Entretanto os mates, que d'ahi teem re
sultado para a provincia são tão grandes, que se
lhes não acudirem com prompto remedio, arrisca-
mo-nos a ver cair da coroa de Portugal aquella
joia, que n'outras mãos seria já de um valor ines
timavel, como fonte de immensos recursos. Cre
mos, porém, que se aproxima a época da regene
ração das nossas provincias ultramarinas por meio
de um impulso civilisador. Cremol-o assim, por
que já todos em Portugal reconhecem essa grande
necessidade, e a opinião publica ha de segura
mente obrigar o governo a applicar toda a sua
— 268 —
attenção, empenho, e esforços na resolução d'a-
quellaimportantissima questão. O que se tem feito
ultimamente em favor dessas provincias éna ver
dade mui pouco; porém mostra que se está en
trando no bom caminho. E será impossivel a qual
quer ministerio recuar ou parar n'elle.
Relativamente a Moçambique foi o porto da ci
dade franqueado ao commercio de todas as nações
no anno de 1853; estabeleceram-se varias alfan
degas provinciaes; reformou-se a pauta dos direi
tos; e nos dois ultimos annos enviou-lhe a metro
pole tres embarcações movidas a vapor, a Infanta
D. Maria Anna, e Barão de Lazarim, que actual
mente cruzam na costa, dando força ás auctori-
dades e impondo respeito aos negros, e o Zambeze
para navegar no rio d'este nome, e proteger os es
tabelecimentos do interior.
A povoação de Moçambique foi elevada á cathe-
goria de villa por el-rei D. José i, no anno de
1761, recebendo o nome de S. Sebastião de Mo
çambique, que era o da invocação da sua primeira
fortaleza. Êm 1818 foi creada cidade, obtendo as
honras de capital da Africa oriental portugueza
por decreto de 18 de Setembro do principe re
gente, D. João. Até então era Sofalaasede do go
verno de toda a provincia.
Ergue-se a cidade de Moçambique em uma ponta
da ilha do mesmo nome, em lo° 2* de lat. su
doeste, e 38° 27' 45" de long. este. Dista de Lis
boa 980 leguas em linha recta, e 1:980 em via
gem em volta do Cabo da Boa Esperança.
A cidade de S. Sebastião de Moçambique é séde
de um governador geral, nomeado de tres em tres
annos, de um juiz de direito, de um prelado, que
tem a jurisdicção ecclesiastica de toda a provin
cia, além de outras auctoridades subalternas.
O brasão d'armas de S. Sebastião de Moçambi
que compõe-se de cinco setas verdes, atadas com
uma fita vermelha, e por baixo duas palmas ver
des, tudo no meio de um escudo de prata. Desne
cessario seria dizer-se que este brasão é allusivo
ao martyrio do patrono da cidade.
— 269 —
A organisação do governo e administração pu
blica são eguaes ás que referimos das outras pro
vincias ultramarinas. A repartição de justiça é
subordinada á relação de Goa, e assim tambem
a prelazia de Moçambique está sugeita ao arce
bispo primaz do oriente. Foi creada esta prela
zia a instancias d'el-rei D. João m pelo papa
Paulo ih, concedendo-se ao prelado as honras epis-
copaes com o titulo de bispo de Pentacomea, ou
de Olba.
A guarnição da cidade e fortalezas é feita por
um batalhão de infaLteria, com 300 homens, e
duas companhias de artilharia com uns 150 sol
dados.
Não apresenta esta cidade uma bonita perspe
ctiva a quem a observa do porto, porque o seu
assento em terreno baixo não deixa ver do mar
os seus melhores edificios, nem mesmo ajuizar da
grandeza da povoação. Estende-se por um espaço
de terreno, que tem perto de duas milhas.
Divide-se a cidade em sete bairros, denomina
dos de S. Domingos, de S. Gabriel, da Sé, do Con
celho, da Misanga, da Marangonha, e da Ponta du
Ilha.
As parochias são duas: a matriz ou sé, dedi
cada a Nossa Senhora da Purificação e do Livra
mento, c a outra consagrada a S. Sebastião. A sé,
é um templo bem construido, de uma só nave,
mas que se acha muito damnifieado. Está situado
proximo do mar, e quasi no centro da cidade. E'
a principal freguezia, não só pela sua gerarchia,
mas porque abrange a todos os moradores da ci
dade, menos os que habitam na praça e fortaleza
de S. Sebastião, na qual está erecta a parochia da
mesma invocação.
O templo desta ultima acha-se em ruinas, e in
teiramente descuberto. O parodio administra os
Sacramentos na capella do palacio de S. Paulo,
residencia do governador da provincia. Nessa egreja
arruinada de S. Sebastião está sepultado João da
Silva Tello de Menezes, 1.° conde d'Aveiras, vice-
rei da lndia, fallecido em Moçambique no anno
— 270 —
»
de 1651 quando voltava pela segunda vez a Goa
com o mesmo cargo de vice-rei.
Os outros edificios religiosos e estabelecimentos
pios são os seguintes: A egreja da misericordia,
fundada nos principios do seculo 17.°, é o templo
da cidade que possue melhores paramentos e al
faias. O hospital militar e civil de S. João de Deus,
oceupa o convento da mesma invocação, que per
tenceu á ordem dos hospitaleiros. Foi edificado
em 1681, e reconstruido em 1703. A antiga egreja
do convento serve de capella do hospital. O asilo
da infancia desvalida foi instituido em 18;i6, e
oceupa o edificio do extincto convento de S. Domin
gos. A egreja de S. Francisco Xavier, que pertenceu
aos jesuitas, ò actualmente eapella do palacio do go
vernador. Na capella mór, do lado da epistola, está
uma lapide embebida na parede com este letreiro:
Aqui jaz D. Estevão de Athaide, castellão que foi
desta praça, que a defendeu de dois cercos dos hot-
landezes, generat das conquistas das minas de pra
ta: falleceu em 1033, e a companhia o recebeu neste
collegio. No pavimento da mesma capeIIa mór está
sepultado o marquez de Aracaty, governador de
Moçambique, cargo de que tomou posse em 1837. A
capella de Nossa Senhora da Saude, outr'ora egreja
do hospicio dos frades capuchos, e hoje adminis
trada pela camara municipal, e serve de capella
do cemiterio publico, que lhe fica contiguo. Aca-
pella de Nossa Senhora do Baluarte, está dentro da
fortaleza de S. Sebastião. Nella se celebra a cere-
monia da entrega' do bastão aos governadores de
Moçambique no acto de tomarem posse d'este car
go. Estão ahi seputtadas algumas pessoas notaveis.
A capella de Santo Antonio, está edilicada em uma
pequena ponta da ilha. Osdominicos tiveram nesta
cidade um convento, cuja egreja dedicada a Nossa
Senhora do Rosario se acha em completa ruina.
Os outros edificios principaes são o palacio de
S. Paulo, residencia do governador; a casa da
junta da fazenda; a alfandega; o arsenal da mari
nha, a imprença nacional, que oceupa a antiga
casa do Ouvidor; a casa chamada do Bispo, que
— 271 —
é a residencia do prelado; e a casa da camara
municipal. Esta ultima passa por ser o melhor pa
lacio municipal das nossas possessões ultramarinas
á excepção do de Macau. Encerra um theatro, e
tem contigua a cadêa publica. O caes e ponte da
alfandega, com 122 metros de comprimento, é
uma bella obra.
As ruas da cidade são ein geral estreitas, e mal
gradadas. As melhores praças e largos são os se
guintes: de S. Paulo, em frente do palacio do go
verno, e da alfandega, é arborisado, e guarnecido
de alegretes deflores; da Unido, também chamado
do Pelourinho, com sua fileira de acacias, o no
centro uma columna de oito metros de altura,, co
roada pela esphera armilar; da Saude, tambem
arborisado, e com um obelisco no meio de nove
metros de elevação, terminando em uma coroa
real, fundado em 1826 em commemoração de ha
ver el-rei D. João vi assumido o poder absoluto.
As casas pela maior parte são mal construidas,
mas encontram-se bastantes bem edificadas, caia
das, e com seus terrados.
Ha na cidade tres mercados, dois chamados ba
zares, onde se vendem hortaliças, frutas, e mais
generos de consummo diario, e o terceiro denomi
nado banca do peixe.
Não ha na cidade fonte alguma. A agua de que
se abastecem os moradores é de cisternas, que são
muitas, e de alguns poços. Vem-lhes tambem de
fora, de uma fonte situada na bahia deTitangone a
.umas tres leguas de distancia de Moçambique. Por
esta falta, c pela natureza do solo calcarco de que é
formada, a ilha de Moçambique é arida e esteril.
Todavia em torno da cidade apparecem algumas
palmeiras, e outras arvores. Todos os generos para
o consutnmo dos habitantes, incluindo hortaliças
e fructas, veem da terra firme.
Defendem a cidade e o porto tres fortalezas de-
nomiuadas de S. Sebastião, de S. Lourenço, e de
Santo Antonio' k primeira éa principal. Está bem
artilhada, e em bom estado de conservação. Tem
quatro baluartes, dois para o mar, c dois para o
— 272 —
lado de terra, que dominam toda a ilha. O vasto
campo de S Gabriel separa a fortaleza da cidade.
O forte de S. Lourenço está edificado sobre um
rochedo ao sul da ilha, e afastado d'ella uns cem
passos. É pequeno, e tem poucos canhões.
O forte de Santo Antonio acha-se situado qaasi
nomeio do litororal da ilha, e apenas o guarne
cem duas peças.
O porto é formado pelas tres ilhas de Moçambi
que, de S. Jorge, e de S. Thiago, e pela costa do
continente. Tem mais de duas leguas de circum-
ferencia, e offerece commodo e seguro ancoradoiro
aos navios de maior lotação, inclusive naus. A.
barra é de facil entrada.
Limitam-se os estabelecimentos de instrucçto
publica na cidade, a uma escola de latim ede pri^
meiras letras. Tem uma typographia, e um jornal
Boletim do Governo de Moçambique.
O clima da cidade de Moçambique é muito in
salubre, por ser a ilha terra baixa e alagadiça.
Se não fora a exceltencia do porto, as vantagens
d'esta situação geographica para o comnrercio, e
navegação da lndia, e ao mesmo tempo a segu
rança da capital, sem duvida teria sido mudada
ha muito a séde do governo, para algum ponto
do continente mais sadio C ameno.
A insalubridade da ilha foi causa de que se po
voasse na terra firme, no fundo da bahia, um sitio
chamado Mossuril, de clima benefico, e de terre
nos fertilissimos. Crescendo pelas muitas condições
favoraveis da sua posição, Mossuril tornou-se um,
suburbio delicioso da capital, e logar de refugio
durante a quadra das febres endemicas. A sua po-
polução é hoje maior que a da cidade, que ape
nas conta uns tres mil habitantes, na ma\ima
parte negros, ou banianos, oriundos da lndia.
Ha em Mossuril um palacio dos governadores
de Moçambique, e muitas casas de campo dos mo
radores mais abastados da cidade. No outono, or
dinariamente, faz-se em Mossuril uma feira an-
nual, denominada dos Mujáos, porque ali concor
rem os pretos d'este nome em grandes caravanas,
— 273 —
compostas de ires mil individuos, e mais, trazendo
do interior d'Africa marfim, gomma copal, pelles
de animaes, e outros productos, que trocamfpor
generos e mercadorias da Europa. Antigamente
tambem era feira de escravos.
Em torno da povoação de Mossuril yeem-se
moitas hortas e pomares de laranja, e de outras
frutas de que se abastece a cidade de Moçam
bique.
Apesar da sua decadencia ainda esta cidade é
a praça mais commercial da costa orientai da Afri-'
ca. Importa da lndia algumas variedades de teci
dos de algodão, principalmente os zuartes de Goa,
de cor azul; e da Europa tambem muitas fazendas
de algodão, e outras diversidades de mercadorias
e utensilios, que convem aocommercio de permu
tação de generos que se faz com os pretos do in
terior, e de todo o litoral africano.
Mercado central desta parte da Africa, exporta
marfim, pontas de abada, ou rhinoceronte, pelles
de animaes, e pennas de aves, cera, gomma co
pal, resina, ambar, balsamo, malachites, tapioca,
arrow-root, sagú, caffé, anil, oleo de ricino, ger-
selim, urzella, salsaparrilha, varias drogas medi-
ciaaes, cocos, cristal de rocha e outras produc-
-ções.
Entretanto este movimento commercial é feito
em pequena escala em consequencia do atraso em
que se acha a provincia, e pelas outras rasões
acima expostas.
Quando a civilisação e a industria fizerem sen
tir o seu poder n'esta rica provincia, não só ha de
augmentar extraordinariamente a exportação de
todos aquelles generos, mas hão de concorrer ao
mercado da cidade de Moçambique ainda muitos
outros productos do sólo africano tanto, ou mais
valiosos que os que deixamos mencionados.
Possue minas de ferro, de cobre, de carvão de
pedra, de oiro, e de prata. Alguns rios trazem
abundancia de oiro nas suas areas. O districto de
Sofala, principalmente, sempre teve nomeada a
este respeito desde » roais remota antiguidade.
vOL. ttt. 18
— 274 —
Em pedras preciosas não é menos rico aquellc
territorio. Encontram-se n'elle, em muitas partes,
bellas esmeraldas, e outras pedras; e na costa abun
dam as perolas. Os bosques do interior podem for
necer uma infinita variedade de madeiras excelien-
tes para construcção, e das mais apreciaveis para
marcenaria. O ebano, por exemplo, é ah vulgar.
As arvores da quina, e de todo o genero de espe
ciaria, crescem em densas florestas pelo sertão de
Moçambique.
Além d'isto prestam-se aquelles terrenos e aquelte
clima a todas as mais culturas em que actual
mente se occupa a industria agricola na provincia
de Angola. Dão-se ali perfeitamente a canna do
assuçar, o caffé, o cacau, o tabaco, e o algodão.
Os cereaes tambem offerecem boa producção, e
chegaram a dar emprego a grande numero de bra
ços, antes do trafico da escravatura despovoar aquel-
las regiões pelos milhares de escravos que enviava
annualmente para a America, e pelas tribus intei
ras que affugentava para longe das nossas pos
sessões.
Nas margens dos differentes rios que atravessam
a provincia até se lançarem no mar em territorio
portuguez, sobre tudo nas margens do Zambeze,
ha extensissimos prados sempre cobertos de opti
mas pastagens, em que se cria algum gado, mas
onde este ramo da industria podia ser etevado a
um subido ponto de importancia, e de apperfei-
çoamento.
A zoologia é um outro elemento de immensa ri
queza paraaquella provincia. São infinitas a diver
sidade e quantidade de animaes, que povoam os
mattos, e cujos despojos ocommercio paga a pezo
de oiro. Os etefantes e os hyppopotamos ou ca-
vallos marinhos, de dentes de marfim, especial
mente os primeiros, caem aos milhares em cada
anno sob o fuzil do caçador. Os tigres, onças,
pantheras, teopardos, girafas, zebras, e muitos
outros animaes de peltes formosissimas, não tecm
conta.
As aves de plumagem variegada, decores vivas
— 275 —
c brilhantes, o de canto harmonioso, tambem são
innumeraveis.
Abundam osmattos em muitas especies de caça
grossa e miuda, rasteira & do ar. Nos rios e ao
longo da costa ha bastante variedade de peixes.
A tantas e taes condições de prosperidade, que
tem a provinSia de Moçambique, ainda acerescem
as magniticas bahias, e os portos commodos e se
guros, que se abrem na sua extensa costa; e os
rios, que a cortam, navegaveis por grande dis
tancia.
A bahia de Lourenço Marques, é o melhor porto
de toda a costa. Podem n'elle fundear em perfeita
segurança as maiores naus. Tem esta bahia seis a
sete leguas de largura, e n'ella veem desaguar os
rios navegaveis de Maputo, Manina, c do Espirito
Santo.
No porto de Inhambane vem lançar-se o rio do
mesiao nome, e no de Sofala o rioSofala Grande.
No districto de Quelimane estão as differentes
bocas por onde o rio Zambeze mistura as suas
aguas com as do mar. O porto de Quelimane não
ê accessivel aos navios de grande lotação, porém
o rio ou braço de mar, em cujas margens está si
tuada a villa de Quelimane, que lhe dá o nome,
não tem menos de meia legua de largura na sua
foz. O porto de Mocambo, proximo do de Moçam
bique, é como este uma bella posição commercial.
Desembocam n'elle tres rios, um dos quaes, cha
mado Conducia, é de longo curso, e se lhe sup-
põe a origem nos grandes lagos do interior. O
porto de Ibo é tambem, como o antecedente, um
ponto que se pode tornar importante para o com-
mercio. Ibo é uma ilha, que juntamente com ouv
iras, formam o districto de Cabo Delgado, o ulti
mo das possessões portuguezas ao norte de Moçam
bique. É uma ilha de rica e variada producção,
onde se cultivam cereaes, e abundam o algodão,
o caffé, o tabaco, as madeiras de construcção, o
ambar, a gomma copal, e a urzella. A povoação
de S. João de Ibo, defendida por tres fortes, é a
capital da ilha, e do districto.
— *76—
O Zambeze será uma importantíssima arteria de
riqueza ede civilisação, quando for animada; pelo
commerera.
Este caudaloso rio' não é somente o principal da
provincia de Moçambique, é tambem um dos mais
consideraveis de toda a Africa. Tem a sua origem
nas serranias do centro de Africa, e recebe todos
os grandes manancmes, que brotam das faldas orien-
taes,d'aquel|as cordilheiras. Corre principalmente
de este para oeste; depois dirige-se do norte para
o sul, e a final toma outra vez á direcção de este.
Em todo o seu extenso curso veem muitos rios en-
grossar-lhe a corrente. Os principaes são o Liba
e o Chobé. O primeiro, oriundo d» paiz dos Ba-
londas, traz-lhe o seu tributo pelo lado do norte; e
o segundo, que se julga ter principio nas serras
de Bihé com o nome deCubango, lança-se-lhe pela
parte do sul.
A trinta leguas da costa divide-se o Zambeze
em dois braços, e depois ainda se reparte em mais
dois. Entra portanto no mar, no canal de Moçam
bique, por quatro bocas distantes umas das outras,
deixando entre si bons terrenos para a agricultura,
aos quaes leis especiaes deram a natureza de pra-
sos transmissiveis unicamente ás femeas, com o
fim de promoverem os cazamentos d'estas com os
portuguezes idos da Europa, e assim augmentarem
e milhorarem a colonisação.
. O mais consideravel d'aquelles quatro braços do
Zambeze toma o nome de rio de Quilimane, quo
tem de largura na sua foz, como acima< dissemos,
meia legna.
Durante a estação invernosa trasborda o Zam
beze tres ou quatro vezes por anno, causando
grandes inundações na sua margem direita, de que
resulta serem doentios muitos sitios d'ella. Toda
via passa por outros territorios, que por se acha
rem mais etevados, são sadios, e tambem ferteis,
e além disso mais povoados.
Ha varias povoações e estabelecimentos portu-
guezes nas margens d'este caudaloso rio. A pri
meira é a villa de Quilimane, a sete leguas da sua
— 277 —
FIM
índice do terceiro volume.
Villa de Sabugal *
» de Santarem .....> 4
» de Santiago de Cacem 28
» de Serpa 34
Cidade de Setubal 39
» de Silves • • 54
» de Tavira 62
»' de Thomar • 69
Villa da Torre de Moncorvo 86
» de Torres Novas 92
» de Torres Vedras 98
» de Trancoso 113
» e praça de Valença H7
» de Veiros 124
» de Vianna do Alemtejo . 126
Cidade de Vianna do Castello 129
Villa da Vidigueira 143
» de Villa do Conde 148
» de Villa Flor 184
» Nova da Cerveira 156
» de Villa das Pias 159
» de Villa Real 164
» de Villa Viçosa 170
Cidade de Vizeu , 183
» de Goa 201
» de Nova Goa 215
» de Macau 228
» de S. Paulo da Assumpção de Loanda. 244
» de S. Sebastião de Moçambique 262
RECTtFtCAÇÃO tMPORTANTE.