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O conceito de história e

historiografia
Luiz Henrique Torres
Debate conceitual
Francisco Iglesias, na década de 1970, redimensiona a discussão:
A historiografia é uma obra da História, um escrito de natureza histórica. Impõe-se a palavra historiografia, uma
vez que a palavra história é muito ambígua, por ser tanto a referência ao acontecimento, como sua
reconstituição em livro (...) uma história da historiografia brasileira deve ser o estudo dos livros que já se
escreveram sobre a História do Brasil. Trata-se, portanto, de obras elaboradas, não de documentos (Iglésias,
1972: 22-23).
No estudo fascinante da História da História, ou melhor, da História da Historiografia - separa-se o processo de
desenvolvimento dos povos do seu estudo, seja descrição ou reflexão: aquele é História, este é Historiografia
(Iglésias, 1979: 267)
 Francisco Iglésias entende a historiografia. como produção intelectual (obras elaboradas) e
não como documentos. Afirma que a história é o processo e historiografia é descrição ou
reflexão do processo. Marlene Almeida equipara história e historiografia, consideradas
uma prática intelectual produtora do conhecimento histórico. José Honório Rodrigues
entende por historiografia a "história da história", enquanto Lapa considera a historiografia
como a análise crítica do conhecimento histórico. Ao destacar sucintamente o
posicionamento desses autores, constatamos a diversidade de enfoques referente à
delimitação dos objetos relativos ao campo da história e historiografia, assim como os
limites epistemológicos que as aproximam ou diferenciam.
UMA PROPOSTA CONCEITUAL
 Na perspectiva epistemológica, não há história e sim conhecimento histórico. A elaboração intelectual
dirigida ao acontecer humano no tempo será sempre uma possibilidade de produção do conhecimento.
 A polissemia da palavra HISTÓRIA será reduzida a duas variantes:
1. História enquanto processo do acontecer humano no espaço-tempo.
2. História-conhecimento, isto é, os procedimentos intelectuais que constroem verdades relativas a partir da
análise dos materiais históricos (fontes).
 A história, enquanto processo do acontecer humano na dinâmica de uma determinada sociedade, jamais
esgota-se nos procedimentos teóricos do historiador. O resultado intelectual será sempre uma história
conhecimento, articulada no espaço-tempo do historiador e nos condicionantes que atuam sobre ele.
 O Conhecimento histórico pode ignorar a crítica documental e os referenciais teórico-metodológicos; nesse
caso aproxima-se do romance histórico, perdendo sua objetividade.
 A cientificidade do conhecimento histórico passa pela objetividade que reside no instrumental teórico
(conceitual), metodológico (organização e "leitura" dos materiais históricos) utilizados pelo historiador.
 Não há neutralidade na produção do saber, pois não há como negar a historicidade do indivíduo que constrói
verdades.
 A historiografia tem a ver com construção e com interpretação, pois ela é o conhecimento historicamente
localizado num contexto intelectual e numa estrutura sócio-econômica, política e mental. A historiografia é
toda produção do conhecimento histórico (ou de outras áreas do conhecimento) referente a determinado
tema e período. Não é história (processo) nem é somente conhecimento histórico, mas o conhecimento
situado na historicidade de seu acontecer.
 A historiografia faz parte de um processo epistemológico e espelha a produção intelectual de um certo
momento do passado. Ela é um fragmento para compreendermos - numa preocupação de totalidade - esse
passado.
SÍNTESE DOS PRESSUPOSTOS
 Não há, enquanto produção intelectual, história-processo, e sim conhecimento histórico (que parte de
documentos ou materiais históricos e não do conhecimento em si). A historiografia corresponde ao
conhecimento histórico produzido num certo período, sobre determinados temas.
 Produção do conhecimento e ideologia vinculam-se na reprodução de relações sociais de produção e na
busca de um sentido para o devir da História. A radicalidade do conhecimento espelha a nossa historicidade,
pois não estamos assistindo descomprometidamente ao processo histórico dos "outros" povos e homens, mas
é sempre o "nosso" processo. Na história processo, no espaço-tempo histórico, na historiografia (que
expressa parte dessa caminhada) estão fragmentos de nossa identidade enquanto humanidade. A
identificação com a matéria, com o movimento, com a existência, parcialmente preservada na memória
historiográfica.

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