Você está na página 1de 6

A CAPELA DE SANTO AMARO EM

ALFEIZERÃO:
Três adições documentais

José Lopes Coutinho

25-1-2021

Os autores do século XVIII escreveram que a capela de Santo Amaro era tão

antiga como a própria vila - o padre Manuel Romão na Memória Paroquial de 1758 – e

que se erguia «no arrabalde da vila», nas palavras do padre Luís Cardoso (Dicionário

Geográfico, tomo 1, Lisboa, 1747). O Santo Amaro e o seu modesto templo, sempre foi

muito acarinhado pelos alfeizerenses e gentes das terras vizinhas, com o seu dia

litúrgico envolto em romarias e festividades. Um sinal claro da importância dessa

devoção é a ocorrência de Amaro na onomástica de pessoas nascidas e baptizadas em

Alfeizerão (com mais incidência nos séculos XVII-XVIII), encontrando-se

também Santo Amaro como sobrenome, mas provavelmente como indicação da

proximidade à capela da residência das pessoas assim conhecidas. Como exemplos,

António Lopes de Santo Amaro, num assento de baptismo de 25 de Novembro de 1668

(ADLRA, IV/24/B/29, fl. 36v), ou o assento de óbito de Mariana Francisco de Santo

Amaro com a data de 24 de Outubro de 1727 (ADLRA, IV/24/C/11, fl. 93r).

A capela de Santo Amaro surge pontualmente nos assentos paroquiais como

servindo de igreja paroquial, sempre que a igreja matriz (ou esta e a igreja do Espírito

Santo) não reuniam condições para tal; e por eles também sabemos que foram

realizados sepultamentos no corpo da capela e no seu alpendre, mas também no adro

que então a rodeava e do qual ainda existia referência no primeiro quartel do século XX.

1
Nesta breve abordagem trazemos três referências históricas para a capela de

Santo Amaro, na forma de duas doações testamentárias e uma reconstrução da capela,

todas originadas de párocos da vila. As primeiras, dos testamentos dos padres António

do Couto (1728) e António Lopes Silva (1773), enquanto a reconstrução (mandada

“reedificar”) da capela foi devida à acção do padre Raimundo Soares de Sá e Lanções,

segundo testemunho do cronista frei Manuel de Figueiredo (1782), que empregou

presumivelmente nela o numerário legado pelo padre António Lopes Silva.

                Partilho imagens dos três documentos e, na cópia dos textos, suprimi as

maiúsculas indevidas e desdobrei as abreviaturas, sublinhando as letras que se

acrescentou.

DOC. 1: ADLRA, IV/24/C/11 - Registos de óbito da freguesia de Alfeizerão: 1666-

1747, fl. 93v

«Em os nove dias do mes de Mayo de mil e setecentos e vinte e outto annos, faleceo

com os sacramentos da Penitencia e extrema Unção e não recebeo a Sagrada

Eucharistia por impedimento da doença, o Padre Antonio do Coutto, Cura que foi

nesta Igreja de S. Joam Baptista, fes testamento em que deixou cem missas por sua
2
alma e sincoenta pellas almas de seus pays, e mil e quatrocentos Reis a Santo Amaro,

está enterrado na Ermida do Divino Spírito Santo, na campa do numero vinte, e para

que conste fis este assento. Era ut suora.

Cura Antonio do Coutto Mayo»

DOC. 2: ADLRA, IV/24/C/12, Registos de óbito da freguesia de Alfeizerão: 1769-


1795, f. 20r.21v
3
 

<Villa / O Pe. António Lopes Silva / fis officios na forma do estilo>

«Aos vinte dias do mês de Setembro de mil e sete sentos e setenta e três, faleceo da vida

presente o Pe. António Lopes Silva, com todos os sacramentos, nascido e morador

nesta vila de Alfeizirão, freguesia de S. João Bauptista. Fes testamento e foi aberto na

forma de uso e costume, deixou a sua sobrinha, Felícia Madeira e testamenteira de

seus bens e que esta lhe mandaçe dizer sem [sic] missas pela sua alma de esmola, sento

e vinte Reis cada huma e sincoenta pela alma da sua irmã Izabel Maria, esmola de sem

reis e vinte pelas alma de seus pais, mais quinhentas missas de tenças pellos padres de

Castella, esmola de dous vintens cada huma, mais tres mil e duzentos a Maria da

Conceição da atouguia, mais dois cruzados novos a Santo Amaro desta villa e que o

seu sobrinho, o Pe. António Lopes lhe diga as missas, tudo a vontade da herdeira e

para constar fis este asento, dia, mês, era ut supra, em absencia [na ausência] e por

comição do muito Reverendo Prior e Vigário Damião Raimundo Soares de Sá

O Pe. Marcos António de Oliveira»

DOC. 3: Excerto do “Capitulo da Vila de Alfeizerão” (1782) do cronista cisterciense

Frei Manuel de Figueiredo (BNP, cod 1484). O capítulo na íntegra com algumas notas

4
interpretativas está disponível emDOC. 3: Excerto do “Capitulo da Vila de Alfeizerão”

(1782) do cronista cisterciense Frei Manuel de Figueiredo (BNP, cod 1484) i. 

« A Ermida de Santo Amaro, Imagem milagroza, que muitos annos servio de Parochia,

está situada no arrabalde da villa, ao nascente, e ameaçando ruina a mandou

reedificar o Parocho actual, Damião Raimundo Soarez de Sá e Lançoens»

5
i
O capítulo na íntegra com algumas notas interpretativas está disponível

em https://www.academia.edu/44227572/APONTAMENTOS_COROGR

%C3%81FICOS_DE_FREI_MANUEL_DE_FIGUEIREDO_SOBRE_ALFEIZER%C3%83O

Você também pode gostar