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1 Germain Bazin, descrevendo as festas religiosas em Vila Rica em meados do século XVIII, concluiu
da maneira seguinte : “… nossas pobres procissões modernas do Santíssimo Sacramento são bastante
indigentes perto desta prodigiosa exibição de riquezas, feita para a glória de Deus por Vila Rica, no
tempo em que o ouro se difundia nas mãos dos pioneiros. Este 'Triunfo eucarístico', ao qual, fazendo
apelo a alegorias complicadas, caras ao clero desta época, colabora o universo inteiro, prova que, se
os brasileiros não conheceram a ópera, esta forma essencial do Barroco, pelo menos eles fizeram
profundamente uso de tais espetáculos ao ar livre : cortejos históricos, mitológicos, alegóricos e
teológicos que compraziam a época e dos quais o carnaval de hoje, conservado em Veneza e Rio,
pode apenas conferir uma pequena idéia". BAZIN, Germain. L’Architecture religieuse baroque au Brésil.
Paris : Librairie Plon,1956 pp. 16-17.
2 LEITE, Serafim. História …, Tomo V, op. cit., pp. 523-524.
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3 Um exemplo nos é dado quando da visita pastoral do doutor visitador Lino Gomes Correia, em nome
do bispo de Pernambuco, Dom Luís de Santa Tereza. Ele ordena que nas capelas da paróquia onde
não há confessionário, os padres sejam proibidos de ouvir a confissão de mulheres, sob pena de uma
suspensão de um mês. Os padres não devem jamais confessar mulheres sem o intermédio do
confessionário, salvo os doentes em seu domicílio. O relatório foi registrado em 27 de novembro de
1741. AN. Livro de tombo, n° 1, Nossa Senhora da Apresentação, pp. 5, 13-14.
4 AN. Livro de tombo, n° 1, ibid.
5 A pataca constituía uma moeda cujo valor correspondia a 750 réis, no século XVIII. BLUTEAU, de
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O caráter inclusivo das ordens citadas aparece quanto aos senhores dos
escravos, que devem ser diligentes ...
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9 Estas formulações foram tiradas de MARX, Murillo. Cidade no …, op. cit., pp. 54-57.
10 O nome de cada compilação faz referência ao soberano sob o reino do qual ela foi organizada. As
leis dispersas do reino português foram agrupadas pela primeira vez pelo rei D. João, em 1425. Esta
compilação foi publicada somente sob Dom Afonso, em 1446. Ela foi organizada em 5 livros, que
dispunham sobre a administração da justiça, a jurisdição da Igreja, os princípios do processo civil, penal
e de outros aspectos relativos ao campo jurídico. As Ordenações Afonsinas foram revisadas sob Dom
Manuel I. Os cinco livros foram então publicados entre 1512 e 1521. As Ordenações Manuelinas foram
por sua vez revisadas sob o rei Filipe I (II da Espanha), e publicadas, com algumas modificações, sob o
reino de seu filho, Filipe II (III de Espanha), e confirmadas sob Filipe III (IV da Espanha). As
Ordenações Filipinas constituem as Ordenações do Reino, uma espécie de Constituição do Estado que
somente será abolida em 1824, quando da primeira constituição do país independente. FLORES,
Moacyr. Dicionário de História do Brasil. Porto Alegre : EDIPUCRS, 1996, p. 374.
11 O casamento, por exemplo, instituição que sempre foi preconizada pela Igreja, exigiu da parte desta
uma grande indulgência face à realidade da colônia. As Constituições tiveram de se resignar face à
força de certos costumes, como a concubinagem associada à escravidão. As Constituições a admitem
implicitamente. VAINFAS, Ronaldo. Moralidades brasílicas : deleites sexuais e linguagem erótica na
sociedade escravista. In : História da vida privada no Brasil. Cotidiano e vida... op. cit., pp. 235-236.
12 O Tribunal da Santa Inquisição operou de 1536 a 1810, ano de sua abolição. Os principais tipos de
“crimes” eram os contra a fé e contra a moral. Mais de 40 000 indivíduos da metrópole e do Brasil foram
presos, julgados, espancados, e viram seus bens confiscados. Quase 2 000 pereceram na fogueira. As
atividades do santo ofício eram mais visíveis nas capitanias e aglomerações mais importantes.
Entretanto, a rede de espiões e de colaboradores se estendia por todo o reino português. Somente nos
anos 1747-1780, 127 “homens bons” receberam suas cartas de Familiares e Comissários em Olinda-
Recife, para servir este ofício. Nos lugares onde eles não estavam presentes, como no Rio Grande, os
padres seculares e regulares, os missionários e os visitadores eram encarregados de comunicar a
Lisboa os nomes dos criminosos. Os membros do clero se envolviam freqüentemente em pecados
condenados pela Inquisição, do homossexualismo às relações ilícitas com as mulheres até os pecados
de bruxaria e de superstição. O autor menciona, entre outros, um caso de um padre regular, Inácio de
Jesus, cura em Assu. MOTT, Luiz. A inquisição no Ceará. Revista de Ciências Sociais, 1985/1986, vol.
16-17, n° ½, pp. 93-103. Vide também, do mesmo autor : MOTT, Luiz. Cotidiano e vivëncia religiosa :
entre a capela e o calandu. In : História da vida privada no Brasil. Cotidiano e vida... op. cit., pp. 155-
220.
13 Posto criado em 1676. Sua regulamentação data de 1704. O vigário era o representante do bispo em
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cera, e ele requereu a mesma ajuda. AHU_ACL_CU_018, Cx. 2, D. 136. No dia 23 de agosto de 1730,
o rei Dom João, por seu Conselho Ultramarino, solicita o parecer do provedor da fazenda da capitania
de Pernambuco sobre esta petição de perdão de despesas. Estas foram realizadas pelo capitão-mor do
Rio Grande sob as ordens do capitão-mor de Pernambuco. A carta está reproduzida in : ARAUJO, P.
Soares. Cartas régias sobre a capitania do Rio Grande do Norte. RIHGRN,1916, vol. XIV, n° 1 e 2,
pp. 42-43.
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Ele designava igualmente uma decisão real, freqüentemente comunicada através de seus ministros.
BLUTEAU, de Raphael, op. cit., p. 488.
20 Uma carta de Bento Ferreira Mouzinho, provedor da fazenda ou do Tesouro real do Rio Grande,
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ao Rio Grande, em sua carta, datada de 13 de dezembro de 1738. Somente o governador recebeu 64
côvados de tecido, isto é, o total distribuído no Rio Grande. AHU_ACL_CU_018, Cx. 4, D. 262.
21 No relatório financeiro da capitania para o ano 1755, Dionisio da Costa Soares, provedor da fazenda
real do Rio Grande do Norte, repertoria as despesas relativas às gratificações concedidas para portar o
luto do rei em questão. AHU_ACL_CU_018, Cx. 6, D. 395.
22 Padroeira de Papari, uma das localidades selecionadas para esta pesquisa. AN. Livro de tombo, n° 1,
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Francisco de Borja, e a do patrocínio de Nossa Senhora. Os oficiais da câmara acrescentam que eles
não têm o direito de fazer despesas para estas solenidades e que eles não devem receber
gratificações. “… o qual (edital) logo mandamos registrar para todo o tempo a observância inteiramente.
Deus guarde a Vossa Majestade fidelíssima. Escrita em câmara pelo escrivão dela Francisco Pinheiro
Pereira nesta cidade do Rio Grande em 6 de fevereiro de 1759". AHU_ACL_CU_018, Cx. 7, D. 414.
26 AHU_ACL_CU_018, Cx. 2, D. 92.
27 AHU_ACL_CU_018, Cx. 4, D. 240.
28 Carta do capitão-mor João de Freire Barreto e Menezes, de 3 de dezembro de 1739. O atentado foi
maquinado pelo secretário do senado, Bento Ferreira Mouzinho. O bandido não foi preso por causa do
secretário. Ele solicita providências da parte do rei. AHU_ACL_CU_018, Cx. 5, D. 294.
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29 Entretanto, os registros de casamentos dos negros, dos mulatos e dos escravos durante o período de
1727 a 1760 em Natal não fazem aparentemente menção a suas festas nessas ocasiões. As
cerimônias obedecem ainda às deliberações do Concílio de Trento. IHGRN, caixa 5. Assentos de
casamentos dos pretos e pardos escravos de 1727 a 1760.
30 LIMA, Nestor dos Santos. A verdade sobre o bicentenário da imagem de Nossa Senhora do Rosário
públicas: uma se caracterizava por uma formalização exterior e institucional das manifestações
religiosas; a outra, por uma manifestação pública espontânea, popular. MARX, Murillo. Nosso chão...
op. cit., p. 67. Esta observação se aplica igualmente às manifestações religiosas no espaço urbano de
Natal.
32 POMBO, Rocha, op. cit., pp. 213-217; CASCUDO, Luís, História da cidade …, op. cit., pp. 99-113.;
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Francisco de Borja. Vimos que o uso do espaço urbano era igualmente profano,
posto que em menor freqüência. Os autores mencionados corroboram esta
afirmação, relatando outras manifestações deste gênero.
Por fim, é importante ressaltar que, na primeira metade do século XVIII, o tempo
era igualmente sagrado, assim como o uso. As horas se contavam pelo toque dos
sinos da igreja. Por volta de 1700, por exemplo, três toques de sinos marcavam a
hora da Trinidade. A refeição noturna ocorria nesse momento33. No final da tarde,
aconteciam as orações comunitárias, públicas. Era a hora da Ave-Maria34. Foi
provavelmente nesse momento que o capitão-mor José Pereira da Fonseca foi
vítima de um atentado à porta da igreja de Nossa Senhora da Apresentação, pois o
mesmo ocorreu às 5 horas da tarde. Os sinos anunciavam igualmente eventos
importantes, como um falecimento ou a chamada para a missa. Os dias eram
contados de acordo com as festas e as celebrações religiosas, e segundo os dias
santos, que eram numerosos, como demonstram, por exemplo, os decretos do rei
Dom João V a este respeito. Num canto recuado do mundo, como Natal, o tempo
era indubitavelmente sagrado.
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