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Capela São João Baptista

Trata-se da Capela de uma casa do séc. XVIII –


Casa da Quintã ou “Quintám” - com alguns
elementos do estilo barroco e neoclássico, toda de
bom granito, situada na Rua da Quintã – outrora,
também, Lugar dos Secos, em Moreira.

Nos séculos XVII e XVIII, assiste-se à proliferação


de pequenas capelas cuja construção se ficou a
dever “ao investimento individual ou familiar. (…)
A própria normativa das Constituições Sinodais (…)
incentiva essa prática […porque com isso se incutia
& afervora a devoção dos fieis…”. Quem financiava
as obras e o que pretendiam os autores? Atitude
mecenática ou devocionismo reformista? A maior
concentração de pedidos para fundação de capelas
particulares situa-se na primeira metade do séc.
Capela São João Baptista

XVIII, coincidindo, grosso modo, com o reinado


joanino. Segundo Manuel Joaquim Moreira da
Rocha, “nos séculos XVIII e XIX, assistiu-se a uma
maior concentração de Quintas e casas com capela
particular…”1

Neste “monumento” 2, o visitante pode observar in


loco dois relógios de sol nos cantos superiores
esquerdo e direito (este, inacabado), na fachada
da casa oitocentista.

A Capela foi construída em 1767, com a invocação


de São João Baptista. O licenciamento foi
requerido em 1764, e dada provisão em Junho de
17663 “…na sua quinta junto às suas casas com a
invocasam de Sam João Baptista e o mesmo
1
Manuel Joaquim Moreira da Rocha, Separata da Revista Poligrafia nº 5 – 1996 –
C.E.D.D. Brandão
2
Jacques Le Goff, Memória e História
3
Arquivo Distrital de Braga – Universidade do Minho- Arquivo Geral
Capela São João Baptista

Serenísimo Senhor foi servido cometerme de difirir


lhe avista do que informacaõ do Reverendo
Parrocho da mesma freguesia de Sousela…”

A provisão impunha que a porta


estivesse virada ao público; para tal,
foi necessário adquirir uma pequena
parcela de terreno à “Casa do
Pomar” que lhe estava contígua.

A técnica de construção da capela é em silharia de


fiadas irregulares. Partes do altar e degraus do
mesmo altar foram utilizados em obras no exterior
da capela. Na fachada, em cada lado da entrada
principal estão duas pequenas janelas
emolduradas de granito. O frontão é composto por
um pequeno friso e duas meias volutas, e tem por
cima uma pequena janela. Tem duas colunas
adossadas à parede da casa em silharia típicas do
estilo do séc. XVIII. Tem por cima da cornija 4
pináculos, em cada canto,
Capela São João Baptista

em formato piramidal arredondado na ponta e


sobrepujado ao frontão da retaguarda tem uma
cruz trifólia. O telhado é em duas águas.4

No seu interior ainda podemos ver um altar e duas


pias de água benta. Com as obras levadas a cabo
há alguns anos, por ignorantia destrui-se o coro
[cuja construção fora autorizada a favor do Padre
Joaquim da Silva, filho de Luís da Silva e de
Catarina Neta, em Março de 1790], no topo do
lado direito da capela [onde os proprietários ou os
coristas entravam diretamente, vindos da sala
nobre da casa], mais tarde o soalho de castanho, o
teto com as suas pinturas religiosas, as lápides e
algumas epígrafes – entre outros testemunhos da
arte e da fé que foram emprestados a esta capela
quando da sua construção, e, posteriormente,
durante mais de 150 anos.

4
DPPL-Sousela, da Junta de Freguesia de Sousela - 2013/14
Capela São João Baptista

Foi benzida por volta do dia 22 Fevereiro de 1768


(dia em que Luís da Silva obteve Provisão para esse
ato) pelo pároco da abadia de Santa Maria de
Sousela:5 “Demos lisensa ao R(everen)do Parrocho
da mesma f(re)g(uesi)a para que na forma do
Ritual Romano possa benzer a dita Capella Santos
e ornamentos della e depois de Benta nella se
possa dizer missa e celebrar os mais officios
Divinos”6

Aqui se celebrava regularmente a liturgia, por


iniciativa e forte devoção religiosa dos
proprietários da casa, Luís da Silva e Catarina Neta,
ambos dotados de uma fé inquebrantável, mas

5
Arquivo Distrital de Braga – Universidade do Minho –
Arquivo Geral
6
Ibidem Arquivo Distrital do Minho
Capela São João Baptista

também porque “… e ficam todos [os vizinhos] em


distancia grande para ouvir missa, tanto pelo
longe, como pela dificuldade do caminho [para a
Igreja matriz] por ser muito alto no mesmo lugar e
haver muita inundise, de forma que havendo como
ham no lugar muitos velhos e alguns doentes
regularmente façam sem satesfaser o preceito da
Igreja …”

Luís da Silva faleceu aos 29-3-1768 e foi sepultado


no adro da Igreja, sepultura nº 2. É provável que
este Luís Silva, sendo possuidor do prazo de
Soutelo, tendo como senhorio deste, o donatário
dos reguengos de Figueiró, tivesse construído
algum outro monumento naquela aldeia, hipótese
que se irá investigar mais a fundo, atenta a sua
religiosidade tão característica dos homens ricos
do século XVIII. A Casa da Quintã era um prazo
pertencente ao morgado de Atães, que vivia no
Porto.

Este casal tinha mais família nas proximidades,


nomeadamente em Soutelo, e na Quinta das Eiras,
onde sobressaiu o trabalho do Padre António
Neto, enquanto Pároco da Paróquia de Sousela.
Capela São João Baptista

De resto este Luís da Silva e Catarina Neta tinham


outros terrenos: em Bertelo ou Bretelo, nas
margens do Rio Mezio em S. Cristóvão, no monte
de Santa Águeda, na Rua do Carvalho, na Agra de
Moreira, em Soutelo, e noutros locais da freguesia.

Em Abril de 1768 Catarina Neta, então já viúva de


Luís da Silva, obteve licença do Arcebispado de
Braga para ali poder colocar um confessionário:
“…há por bem fazer (…) de lhe dar lisensa para
colocar hum comfesiunario na sua Capella de São
João Baptista na forma supra” (“…de madeira com
seu assento que sera situado no meio e raros em
os lados que sera situado em lugar publico da
mesma Capella e nelle se poderão comfesar
quaisquer pessoas quando sua devoção o pedir
excepto pelo preceito da quaresma que emtão o
farão com o próprio Parrocho”).

A população da freguesia por estas alturas (em


1758) era assim constituída: 116 vizinhos, 440
pessoas de todas as idades.7; em 1706, tinha 126
vizinhos; em 1777, a população seria de 584

7
Memória Paroquial de 1758
Capela São João Baptista

pessoas. Entre 1758 e 1777: nascimentos – 272;


óbitos – 128; casamentos: 8. 8

Em 1764, Moreira tinha cerca de 80 (oitenta)


vizinhos “seu lugar he composto de muitos vizinhos
que todos hão de fazer número de 80 moradores
entre lavradores e cazeiros de casa arrendadas…”9
Extrapolando para o número de vizinhos da
freguesia de Sousela – Nossa Senhora da
Expectação [assim era denominada já na Memória
Paroquial de 1758], 116 vizinhos, estamos perante
um dado relevante, Moreira tinha cerca de 69%
dos vizinhos [80*100/116), 303 pessoas de todas
as idades (80*440/116)?

Em 1868: 308 homens, 400 mulheres, total de 708


pessoas. Entre 1758 e 1777, o crescimento
vegetativo da população foi de 0,5%.10

Em 1769, Catarina Neta obtém ainda licença para


se sepultar na Capela de São João Baptista, bem
8
Arquivo Distrital do Porto – Registos Paroquiais:
nascimentos, óbitos e casamentos – 1759-1777
9
Ibidem Arquivo Distrital de Braga – Universidade do Minho
10
I.N.E. – Censos Freguesia de Sousela ano 1868;
n
[Pn=P0(1+r) ]
Capela São João Baptista

assim como seus filhos. O seu falecimento viria a


acontecer a 28 de Julho de 1781, e foi sepultada
na sua Capela de São João Baptista, do Lugar da
Quintã, em Moreira, Freguesia de Santa Maria de
Sousela.

Em Janeiro de 1770 faleceu um dos quatro filhos


do casal, João da Silva, solteiro, estudante –
ordenação, padre -, (os outros eram: Manoel,
António e Joaquim). Este João foi sepultado na
Igreja de Santa Maria de Sousela, sepultura nº 2 do
adro. O seu corpo foi envolto em hábito de São
Francisco e teve o acompanhamento de trinta e
dois padres.
Capela São João Baptista

Pela documentação consultada, o Joaquim terá


sido ordenado padre de Sousela em Setembro de
1778. Em 1794 ainda estava vivo e era Pároco em
Sousela.

Além da Catarina Neta (em1781), foi sepultado


nesta Capela o Padre Joaquim Silva – que não é o
filho de Luís da Silva - (em 1783). Não sabemos por
ora se alguns dos filhos do Luís da Silva ali foram
sepultados.

No testamento de Luís Silva foi reservada uma


verba para missas (1.500) por sua alma, nesta
Capela, pagas cada uma à média de 100 reais (ao
valor atual seria um valor aproximado de 0,55
euro/missa)11

Em finais do séc. XIX ainda era uso e costume


sepultar os familiares dos proprietários falecidos
na Capela de São João Baptista. João Baptista da
Silva Freire, Bacharel em Direito pela Universidade
de Coimbra, a 25 de Fevereiro de 1883, foi o
último a ser sepultado nesta capela.

11
I.N.E e Autoridade Tributária
Capela São João Baptista

Na atualidade, a Capela de São João Baptista da


casa da Quintã, em Moreira, freguesia de Sousela,
concelho de Lousada, está desativada do culto
religioso.

Em frente à casa, podemos observar ainda um


nicho escondido por obra da C.M de Lousada.

Os “Silva”, mais tarde os “Baptista”, os “Silva, os


“Freire”, a Casa da Quintã de Moreira foi sempre
uma família muito espiritual. Naquela casa
abundava a cultura e o saber: Padres, Bacharéis
em Direito… A última personalidade célebre foi o
Coronel Henrique da Silva Baptista, “Escritor e
jornalista, escreveu várias obras e colaborou em
jornais do Porto e no “Jornal de Lousada”. Foi
comandante do Regimento de Infantaria 32, de
Penafiel, e redator do jornal “A União”, daquela
cidade”. Nasceu a 25 de Novembro de 1858, e terá
falecido octogenário, no ano de 1939.

Por trás deste fontanário moderno,


inoperacional, está um nicho
particular da Casa da Quintã, obra do
Luís da Silva e da Catarina Neta.

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