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Quinta de Balteiro século XVI

A Casa de Balteiro é um solar do século XVIII, por


onde se entra através de um portal de 18581

SÃO TORQUATO é o Padroeiro da Capela. Em


Setembro de 1853, nela foi sepultado o Capitão
Torquato Coelho de Sousa Pereira de Magalhães.

1
OLIVEIRA, Rosa Maria - o c., p. 129
Quinta de Balteiro século XVI

Em meados do século XX foram feitas obras de


restauro do velho solar, e colocados (ano de 1950)
uns azulejos do século XVIII provenientes da
Quinta de Frades, do concelho da Cova da
Piedade. O solar ainda teria obras de pintura, em
1994.

O que era Balteiro, antes do solar?


Quinta de Balteiro século XVI

Era uma Quinta pertença da Comenda do Mosteiro


de Leça, que estava dividida em duas “ametades”:

1. Um prazo que datava de 15 de Julho de


1593 (séc.XVI), era caseiro, Brás Coelho e
Inês Queiró com “quem estava contratado
de casarem em segunda”. Em 1645 (século
XVII) no Tombo do Bailio de Leça estiveram
presentes “Diogo Vaz e sua mulher Ilena
Coelho”, que o havia recebido por morte
do pai e Inês Queiró.
2. A outra “ametade” era titular Gonçalo de
Meireles. Sua esposa, Margarida Coelho
era já falecida; Recebera o prazo em dote
de sua sogra Maria Carneiro, cujo marido,
Manuel Meireles também havia falecido.

Ambas as meias propriedades eram grandes,


descrever-se-á apenas o património (urbano)
construído.

A “ametade” de Diogo Vaz e Helena Coelho era


assim constituída:

 Huma corrente de cazas colmadas eu


servem de cozinha & cortes de gado &
palheiro, que parte do nascente com terra
dos cazeiros, do norte com o seu recio2 da

2
Recio = rossio = terreiro
Quinta de Balteiro século XVI

porta, & do poente e sul com o caminho


fora. Tem de comprido de nascente
apoente vinte & sinquo varas3 & de largo
de norte a sul sinquo.

 Logo de fronte huma caza colmada torre


com sua escada de pedra. Parte de todas as
partes com os seus recios & quinteiro &
tem de comprido de nascente apoente seis
varas & de largo de norte a sul quatro.

 Pegado a caza assima outra caza torre


também colmada com outra pegada nella
terreira que serve de cozinha. Parte do
nascente com terra deles cazeiros, do
poente com o caminho fora e do sul com a
caza assima. Tem de comprido de nascente
apoente onze varas & de largo de norte a
sul sinquo.

 Hum recio entre as portas com sua


ramada.Parte do nascente com terra deles
cazeiros, do poente com as suas portas
foronhas4 & do norte & sul com as suas
cazas. Tem de comprido de nascente

3
1 Vara = 110 cm
4
Foronhas = portas-fronhas = portal-principal, porta
principal da casa.
Quinta de Balteiro século XVI

apoente vinte & sinquo varas & e largo do


norte a sul oito.

 O campo da Nugueira com suas leiras ao


redor & hum aorta com hum limoeiro &
duas larangeiras & tudo junto. Parte do
nascente com o caminho da aldeia,
dopoente com as cazas deles cazeiros &
caminho que vai para Moreyra, do norte
com campo da outra ametade desta quinta
que pessui Gonçalo de Meireles & terra de
Gaspar Velho, & do sul com caminho &
serventia desta aldeia.

 (Seguem-se outros campos. Descreveu-se


este pelas suas confrontações com os
caminhos, para melhor identificação da sua
localização)
Quinta de Balteiro século XVI

Quanto à “ametade” de Gonçalo Meireles:

 Huma caza cozinha com huma sobradada


tudo pegado & colmadas, partindo do
nascente com o caminho da aldeia e
dopoente norte & sul com e pomar delle
cazeiro.. Tem de comprido de nascente
apoente doze varas & de largo de norte a
sul sinquo.

 Outra caza colmada que serve de adega &


lagar parte de todas as partes com terra &
recios delle cazeiro & tem de comprido de
Quinta de Balteiro século XVI

nascente apoente nove varas & de largo de


norte a sul sinquo e meia.

 Outra caza colmada que serve de gados,


parte do nascente & norte com caminho &
dopoente & sul com seus recios. Tem de
comprido de norte a sul 12 varas & de largo
de nascente apoente sinquo.

 Mais outra caza que serve de seleyro, parte


do nascente & norte com o caminho & do
poente & sul com o recio delle cazeiro. Tem
de comprido de nascente a poente sete
varas & de largo de norte a sul quatro &
meia.

 Entre as portas hum recio que parte do


nascente com o caminho, dopoente com
orta sua & do norte & sul com as suas
cazas. Tem de comprido do nascente
apoente vinte & duas varas & de largo de
norte a sul pella banda do nascente sinquo
& pella dopoente dezassete varas.

 No simo do quinteyro hum aorta.

 O lameiro das Massieiras com suas nueiras


parte do nascente com o rio homezio, do
Quinta de Balteiro século XVI

poente com Gonçalo Manuel, do norte com


Joano Pires & do sul com Joam Ferreira.

 A Leira do Moinho na Agra das Leiras


Longas parte do nascente com o rio
homizioo, dopoente & sul com a outra
ametade.

 O Lameiro do Rio que parte do nascente


com o ditto rio (homizioo)…

(Seguem-se descrições de outros campos)

Resumindo, a história de Balteiro tem cinco


séculos, não se limita ao Solar oitocentista. Teve
início no século XVI, estamos no século XXI..

Fica em aberto a sugestão de um estudo mais


pormenorizado das famílias que ali viveram e o seu
contributo na construção da memória não só da
Casa desde os primórdios, passando por todas as
transformações, mas também na própria aldeia de
Sousela.

Que deixaram marcas é inequívoco. Trazê-las à


memória presente, é um ato de construção de um
futuro mais ambicioso. Essas marcas estão
gravadas na identidade do souselense.

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