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Capela de São Sebastião nos

Passais da Igreja

Em Sousela, terá havido, ou não, outra igreja


anterior à atual? Ou apenas uma Capela?

No Tombo da Comenda de Leça, de 1645,


encontramos referência a uma Capela
denominada de São Sebastião.

Anteriormente, no Tombo das Propriedades da


Igreja junto da Diocese de Braga, do ano de 1594,
encontrámos apenas uma referência a uma presa
denominada de “São Sebastião”.

Atente-se nas confrontações. São descritas outras


secundárias para melhor entendimento do espaço
e da geografia das parcelas que interessam neste
caso:
Capela de São Sebastião nos
Passais da Igreja

Lameiros do Redondelo [hoje é conhecido


como Redondo] e o Lameiro grande cercado
tudo sobre si. E tudo de árvores de vinho e
arvoredo. Parte do nascente com rio1, do sul
com terra da Quinta de Balteiro, do poente
com terras dos passais, e do norte com
caminho2 da igreja.

Os campos de Além do Ribeiro da Eira3


fruteiras e castanheiros. Parte de nascente
com terra de Balteiro e Lameiros do
Redondelo, [hoje conhecidos por Redondo]
do sul com terras de João Coelho e João
Carneiro de Bujão,4 do norte com os
mesmos e ribeiro.

1
Ribeiro que corre na encosta de Bujão Novo, do outro lado
da escola do Bairral e do Centro Social
2
Em minha opinião, caminho velho da Igreja para Moreira.
3
O ribeiro citado em 1)
4
Bujão Velho
Capela de São Sebastião nos
Passais da Igreja

O campo das Cales5 da Eira tudo cercado


ao redor de arvoredo de vinho e tapado
sobre si. Tem uma mata para baixo do rego
que vem das Cales. E a eira dos passais
está neste mesmo campo. Tem uma fonte
de água na borda destes campos que é da
mesma igreja. E uma Casa do Palheiro,
colmada. Parte do nascente com estrada
caminho da igreja, do poente com o Ribeiro
das Cales, do norte com a devesa, João
Coelho e João Ferreira de Bujão Velho, e do
sul com lameiros dos passais.

Arriba do campo das Cales da Eira tem uma


devesa muito grande de landeiros e
castanheiros e mato e tudo tapado de
paredes sobre si. Parte do nascente com a
estrada para Moreira, poente com terra de
João Ferreira e João Coelho, do norte com
monte e do sul com o campo das Cales da
Eira.

5
Partes mais fundas do rio, ainda hoje é assim conhecido e
seguramente identificável.
Capela de São Sebastião nos
Passais da Igreja

Logo além da fonte, pegado a esta devesa,


tem dois campos de terra, bouças, e
pequenas devesas que chamam do Agrelo
com sua leirinha e devesa com souto de
castanheiros e carvalhos ao redor e já no
meio deste campo e leira tem muitas
videiras de vinho e assim a leira como o
campo são tapados sobre si. Partem do
nascente com a chantadoria dos passais, do
poente e sul, com a devesa, e do norte com
o monte.

Tem duas bouças grandes que partem com


a mesma devesa em que se lavra pão e
estas bouças estão dentro na mesma
devesa

Pegado à presa das Cales de Além do


Ribeiro, Tem um souto de videiras que
chamam de Alvarinho que está sobre si e
parte do nascente com a dita presa
(Alvarinho) e ribeiro, do poente, norte e sul
Capela de São Sebastião nos
Passais da Igreja

com terras de João Coelho de Bujão Velho


(foreiras aos Padres Bentos de Santo Tirso).

Tem uma presa tudo da igreja com a água


dela se rega o campo da EIRA que chamam
de Presa do Alvarinho6

Fora dos campos das bouças, nos


Caminhos que vão para Moreira e
Guimarães, tem mais a dita igreja uma
saída e chantadoria7 a qual chantadoria
tem carvalhos, landeiros e sobreiros e
castanheiros que começa “donde esteve a
CAPELA DE SÃO SEBASTIÃO”8 e vai pela
estrada velha abaixo [Bujão Novo-Eira
Vedra] até a cerca dos passais ao longo da
devesa da banda de fora. Confronta do

6
Será a presa que está próxima da escola do Bairral, na
Boavista?
7
De acordo com Cândido de Figueiredo, “Chantadoria" =
Plantação de arvoredo; Chantão – Estaca ou ramo que se
planta sem raiz, para reprodução; chantar – plantar de
estaca.
8
Tombo da Igreja de Sousela na Comenda do Mosteiro de
Leça, ano de 1645.
Capela de São Sebastião nos
Passais da Igreja

nascente com a cantadoria dos vizinhos,


do poente com as bouças dos passais, do
norte com os mesmos caminhos e presa
de São Sebastião, que é destes passais, e
do sul com a cerca dos passais.

Tem mais a Presa de São Sebastião (junto


ao local onde esteve a Capela de São
Sebastião) com que se regam as bouças
acima ditas e é tudo da dita igreja.
Capela de São Sebastião nos
Passais da Igreja

 Todos estes caminhos estão a poente da


igreja na “pequena encosta Balteiro-Bujão-
Boavista” para a Igreja e rio, com uma rede
de antigos caminhos, com presas
(Alvarinho, São Sebastião, “da Moura”….

É desconhecido o objetivo da edificação desta


Capela. Todavia se levarmos em conta o historial
de outras Capelas, concluiremos que desde a Peste
Negra do século XIV “…época marcada por
grandes epidemias, foi dedicado ao culto do mártir
São Sebastião tido como grande protetor contra a
peste”9.

No caso dos Santos invocados contra as doenças e


pestes, São Sebastião aparece absoluto e
imbatível. A sua imagem é, via de regra
encontrada em quase praticamente todas as
igrejas. A sua fama vem da Idade Média, época em
que o Santo era invocado contra o mais terrível
dos males, a Peste Negra. Era contra essas

9
Maria Ramalho/DGPC/2016 com o apoio de Célia Teixeira e
Daniel Santana/C. M. Tavira
Capela de São Sebastião nos
Passais da Igreja

“flechas” negras que o São Sebastião era o


protetor.

Foi objeto de culto em Portugal quando das


invasões mouras e nas epidemias dos séculos XIV e
XVI, altura em que se fizeram diversos Ofícios e
procissões suplicando a intercessão de São
Sebastião. Este culto “emigrou” para o Brasil com
os Portugueses.10

Também Virgínia Rau11 também aborda esta


calamidade da seguinte forma: “o Assento da
Vereação, de 10 de abril de 1572, que esta
epidemia foi a mais violenta que atingiu o país nos
setecentos anos anteriores. O impacto social desta
doença foi, ainda, agravado pelo estado de
penúria em que se encontrava a maioria da
população. A epidemia durou de julho de 1569 até
à primavera de 1570. O povo, sofredor, pediu o
auxílio de Nossa Senhora, realizando procissões de

10
Beatriz Coelho, Devoção e Arte: Imaginária e Religião em
Minas Gerais.
11
Lisboa na confluência das rotas comerciais: efeitos da
saúde pública (séculos XV a XVII)
Capela de São Sebastião nos
Passais da Igreja

penitência. Tendo a peste iniciado o seu declínio


em 1570 foi feita, em ação de graças, uma
procissão em honra de Nossa Senhora da Saúde,
com a promessa de a repetir anualmente. A
imagem venerada encontra-se, hoje, na pequena
Capela de Nossa Senhora da Saúde30 e de São
Sebastião da Mouraria, na freguesia de Santa
Justa, próxima ao Rossio. O culto de Nossa
Senhora da Saúde constitui uma tradição que,
iniciada em 1570, ainda hoje se mantém”12

Como verosímil data de construção desta Capela,


aponta-se o início da Peste Negra em Portugal nos

12
“Os artilheiros de São Sebastião que ocupavam a pequena ermida da
Mouraria fizeram um voto a Nossa Senhora para que terminasse a grande
peste, o que veio a acontecer pouco tempo depois. Em agradecimento,
instituíram a devoção e a procissão em honra da Senhora da Saúde que se
realizou pela primeira vez a 20 de Abril de 1570, saindo a imagem do Colégio
dos Meninos Órfãos. A tradição manteve-se até 1661, quando e devido a
desentendimentos, a imagem ficou perpetuamente depositada na Ermida
de São Sebastião que mudou de nome para Ermida de Nossa Senhora da
Saúde, unindo-se desta forma as duas Irmandades que tomaram a
designação, em 1662, de Senhora da Saúde e de São Sebastião”. Procissão
de Nossa Senhora da Saúde. Portal Câmara Municipal de Lisboa [Em linha].
Lisboa: Câmara Municipal, 2015. Disponível na Internet: www.cm-
lisboa.pt/viver/cultura-e-lazer/ património-cultural/procissões.
Capela de São Sebastião nos
Passais da Igreja

inícios do século XVI. Em meados do século XVII a


Capela já havia sido demolida, como se encontra
exarado no Tombo da Igreja de Sousela Nossa
Senhora da Expectação, da Comenda de Leça.

As investigações continuam no sentido da


descoberta de dados mais tangíveis para que a
arqueologia possa eventualmente reconstituir este
monumento, que religiosamente deve ter sido
muito valioso para os souselenses.

São Sebastião era e ainda é tão tão venerado e


inquestionável, que o encontramos no Altar de
Santa Eulália da Ordem, no Altar de São João
Evangelista de Covas, em Altar na Igreja de São
Salvador de Freamunde (e antes, quem sabe da
mesma data do de Sousela, foi venerado em
Capela própria, que viria a ser demolida no início
do século XVIII, para sobre as suas fundações ser
construída a Capela de São Francisco, no ano de
1747)

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