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Apocalipse 21.1-5
Introdução
No presente texto, faremos uma abordagem resumida acerca do estado
final dos justos. Lidaremos com as seguintes perguntas: O que significa a palavra
céu? O céu é um lugar ou um estado? A “nova terra” de Apocalipse 21.1 refere-
se a uma criação renovada ou totalmente nova?
1
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, p.989.
2. O Céu: um lugar ou um estado?
Há uma discussão entre os cristãos em torno da natureza essencial do
céu. O que de fato é o céu? Ele é, antes de tudo, um lugar ou um estado de
coisas?
Podemos afirmar com toda segurança que a característica diferencial do
céu é a presença de Deus e a comunhão direta entre Ele e o seu povo. A
natureza básica do céu é descrita em Apocalipse 21.3: “Eis o tabernáculo de
Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e
Deus mesmo estará com eles.” Lá, pela primeira vez, veremos e conheceremos
a Deus de forma direta (1Co 13.9-12; 1Jo 3.2).
De acordo com Apocalipse 21.4, o céu será caracterizado também pela
eliminação e ausência de todos os males que o pecado introduziu na experiência
de vida dos seres humanos. Tudo aquilo que, no presente, nos causa dor,
desconforto, incômodo, tristeza, choro e angústia não mais existirá. Na verdade,
a própria fonte do mal, o ser espiritual que nos induz a pecar e a desobedecer
ao Criador, também será removida (Ap 20.10).
Millard Erickson comenta: “A presença de um Deus perfeitamente santo e
do cordeiro sem manchas significa que não haverá pecado nem mal de qualquer
tipo no céu.”2
O céu seguramente será um lugar de grande glória, de um esplendor
radiante. As Escrituras ensinam que a glória faz parte da própria natureza de
Deus (Sl 96.6,9); que Jesus voltará sobre as nuvens do céu “com poder e muita
glória” (Mt 24.30), e, no dia do julgamento final, “se assentará no trono da sua
glória” (Mt 25.31). Descrevendo a cidade de Deus, a Nova Jerusalém, João
emprega metáforas relacionadas a materiais que entendemos como os mais
valiosos e belos. É muito provável que o verdadeiro esplendor do céu exceda,
em muito, qualquer coisa já experimentada ou já vista antes (Ap 21.18-23; 22.5).
Alguns estudiosos evangélicos têm hesitado em afirmar que o céu é um
lugar. Millard Erickson3 não nega que o céu seja um lugar, mas defende que ele
é principalmente um estado, uma condição de bem-aventurança caracterizada
por alegria, paz e ausência de pecado.
2
ERICKSON, Millard. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015, p.1171.
3
Idem, p.1173.
No entanto, existem fortes argumentos e evidências bíblicas que indicam
que o céu é um lugar e não apenas um estado ou condição espiritual. Vejamos:
Atos 1.9-11; Lucas 24.51 – Jesus subiu para um lugar chamado céu. Sua
ascensão para algum lugar foi ensinada de modo bem claro.
Atos 7.55-56 – Diante de um grupo de judeus enfurecidos, Estêvão teve uma
visão da glória de Deus e de Jesus, em pé, à direita do Pai. De alguma maneira,
os seus olhos foram abertos para enxergar uma dimensão espiritual da realidade
que, na presente era, Deus ocultou de nós.
1Coríntios 15.20-22, 42-44 - Nós teremos um corpo ressuscitado semelhante
ao corpo ressurreto de Cristo. A ressurreição do corpo parece exigir um espaço
físico. Com um corpo ressuscitado habitaremos um lugar específico em um
tempo específico, assim como Jesus habita hoje em seu corpo ressurreto.
Mateus 6.9-10 – Jesus nos ensinou a orar pedindo para que a vontade do Pai
seja feita “assim na terra como no céu”. Essa referência paralela ao céu e à terra
sugere que, assim como a terra, o céu deve ser um lugar.
Com base nessas passagens, podemos concluir com segurança que “o
céu já no presente é um lugar, embora hoje sua localização seja desconhecida
e sua existência, impossível de ser percebida por nossos sentidos naturais.”4
Acerca do céu, Hernandes Dias Lopes escreveu: “O céu é um lugar e um
estado. É o lugar da morada de Deus e da igreja resgatada e um estado de bem-
aventurança eterna, onde jamais entrarão a dor, a lágrima, o luto e a morte.”5
4
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, p.989-990.
5
LOPES, Hernandes Dias. Filipenses. São Paulo: Hagnos, 2007, p.216.
No meio protestante, há divergência de opinião acerca desse assunto.
Estudiosos luteranos defendem que será uma criação totalmente nova. Eles
normalmente recorrem a passagens bíblicas que indicam que eventos
cataclísmicos acompanharão a destruição da terra atual (Mt 24.29 e 2Pe 3.12).
Por outro lado, estudiosos reformados entendem que a presente criação será
renovada. Particularmente, entendo que a posição reformada é mais coerente
com a revelação bíblica. Vejamos os argumentos de Anthony Hoekema6:
(1) O termo grego utilizado por Pedro (2Pe 3.13) e por João (Ap 21.1) não é
“neos”, mas sim kainos. A palavra “neos” significa novo em tempo ou origem. A
palavra “kainos” significa novo em natureza ou em qualidade. Sendo assim, em
Apocalipse 21.1, a expressão ‘novo céu e nova terra’ significa, não o surgimento
de uma criação totalmente nova, diferente da atual, porém, indica o
aparecimento de um universo gloriosamente renovado, que está em
continuidade com o universo presente.
(3) A analogia entre a nova terra e os corpos ressurretos dos crentes. Haverá
tanto continuidade como descontinuidade entre o corpo atual e o corpo
ressurreto (Lição 7). O mesmo acontecerá com a “nova terra”. Ela não será
totalmente diferente da terra atual, mas será esta mesma terra
maravilhosamente renovada.
6
HOEKEMAN, Anthony. A Bíblia e o Futuro. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p.330-331.