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A EPÍSTOLA DE TIAGO

Rogério Adriano Pinto

INTRODUÇÃO

Tiago é um dos livros problemáticos do N.T., em quase todos os seus


principais aspectos tem sido disputados. Não há nenhum consenso geral acerca
da natureza da maioria dos itens alistados neste trabalho.
A indisposição dos interpretes de examinar o livro com honestidade tem
causado grandes dificuldades, pois eles tentem harmonizar Paulo e Tiago. Alguns
dizem que a epistola de Tiago é um documento do cristianismo legalista, mas
esse argumento tem sido negligenciado. Eles pensam que o livro na realidade não
pode contradizer Tiago.
Não podemos nos esquecer que o problema do legalismo nunca foi
solucionado até o fim do primeiro século, e que boa parte da igreja foi
influenciada pelo judaísmo, e tentou incorporar o novo caminho ao velho. Vemos
no décimo quinto capitulo de Atos que muitos crentes acreditavam que a
circuncisão era necessária para a salvação. Temos o exemplo também da epistola
escrita aos Gálatas, Coríntios, Romanos.
O objetivo deste trabalho é mostrar os argumentos a favor e contra a autoria
do Livro por Tiago: quem era esse Tiago; a data em que ele escreveu; de onde
ele escreveu; para quem ele escreveu; porque ele escreveu e uma comparação de
seus escritos com Paulo.

1. AUTORIA

O livro identifica algum Tiago como seu autor. Mas qual Tiago está em foco,
que nos seja conhecido no N.T.? Ou tratar-se-ia de um Tiago desconhecido? Ou
seria esse livro uma pseudoepígrafe. Essa prática era comum nos primeiros
séculos da era cristã.

OS VÁRIOS TIAGOS DO ANTIGO TESTAMENTO

1. Tiago, filho de Zebedeu, irmão de João, incluído em todas as quatro listas


sobre os doze apóstolos. Foi decapitado a mando de Herodes Agripa I, em 44
d.C. (At.12.2).
2. Tiago filho de Alfeu, um dos doze apóstolos (Mt.10.3; Mar.3.18; Lc.6.15;
At.l.13).
3. Tiago, irmão do Senhor. (Gl.1.19; 2.9,12; 1 Cor. 15.7; At.12.17; 15.13;
21.18). Ficou convicto do caráter messiânico de Jesus, evidentemente
através de aparição pessoal a ele, após a ressurreição de Cristo.
Subseqüentemente, tornou-se líder espiritual da igreja de Jerusalém, uma
figura de estatura sacerdotal, muito respeitado entre judeus e cristãos
igualmente.
4. Tiago, o menor (uma alusão a sua pequena estatura, a fim de distingui-lo de
personagens de mesmo nome). (Mc. 15.40; Mt.27.56; Lc. 24.10). Muitos
identificam esse Tiago como filho de Alfeu.
5. Tiago, pai ou irmão de Judas, um dos doze apóstolos (Luc.6.16; At. L.13).
Em vez desse Judas (não o Iscariotes), nas listas do evangelho de Marcos
(capitulo terceiro) e Mateus (capitulo decimo), aparece o nome de Tadeu, o
Labeu.
6. Tiago, autor da epistola, que possivelmente pode ser identificado com um
outro dos Tiagos mencionados acima.
7. Tiago, irmão de Judas (Jd. 1), por meio de quem a epistola de judas teria
sido escrita.

Dentre esses Tiagos, o primeiro, o terceiro e o sétimo têm sido identificados


como autor da epístola.
Há argumentos contra a idéia de que qualquer Tiago do N.T. tenha escrito
essa epistola entre elas estão:

1. É uma provação de fé e não um ponto de fé, supormos que qualquer figura


importante, e até mesmo apostolo de Cristo, pudesse Ter escrito alguma
coisas e isso ficasse inteiramente desconhecido na igreja cristã, até os
tempos de Orígenes, isto é, já nos meados do século III d.C.
2. Seria impossível a qualquer um dos apóstolos, aldeões e pescadores galileus
como eram, Ter produzido uma obra em grego dotada de tal linguagem e
estilo. Os aldeões Galileus não poderiam Ter conhecido e usado o grego
dessa maneira. Poder-se-ia argumentar que escreveram em aramaico, e que
alguém, ato continuo, traduziu a obra. Mas as traduções sempre trazem
sinais de serem traduções. Não há qualquer indicio que temos aqui qualquer
tradução. Trata-se aqui de uma escrita original com grego de tão alto naipe
que só perde para a epistola aos Hebreus, em todo o N.T. Também poderia
argumentar que o Espirito Santo ajudou esse Tiago a escrever com um grego
impecável. Mas esse mesmo Espirito não ajudou a Marcos nem o autor de
Apocalipse a escrever em grego superior ao grego de rua, o que explica seus
barbarismos. É um argumento eivado de preconceitos aquele que afirma que,
neste único caso, o autor foi ajudado pela inspiração do para escrever acima
de sua capacidade no idioma. Acresça a isso o fato que o autor estava
familiarizado com minúcias do estilo helenista, com artifícios retóricos, com
alterações, com diatribes e com terminologia dos filósofos éticos, estóicos e
raciocínios daquela época, o que dificilmente poderia fazer parte dos judeus
da Galiléia. O que queremos asseverar é que o autor sagrado exibe sinais de
Ter sido homem bem educado na tradição helenista. A família imediata de
Jesus e seus discípulos, dificilmente teriam recebido educação tão formal.
3. Ademais, note-se ao fato que Tiago é o menos cristão e o mais judaico de
todos os livros do N.T. Há quase total ausência das doutrinas distintivamente
cristãs, e o próprio Jesus é mencionado apenas duas vezes (Tg. 1.1; 2.1). É
impossível crermos que qualquer apóstolo que tivesse passado tanto tempo
com Jesus, e especialmente um irmão seu, pudesse Ter escrito tão pouco
sobre sua pessoa.
4. A data da epistola certamente deve ser assimilada depois do tempo de Tiago,
filho de Zebedeu, que foi martirizado depois de 44 d.C. Assim esse Tiago fica
eliminado ao menos devido a essa consideração.
5. Qualquer declaração em prol da autoria de qualquer desses três personagens
é pura conjectura. A própria epistola não identifica o Tiago. Qualquer
identificação deve residir na tradição; e, nesse caso, a tradição é
distintivamente contrária a idéia de que qualquer deles tenha sido o autor, a
menos que admitamos aquela tradição iniciados em meados do século III
d.C. Todavia, a tradição do próprio século III em diante contradiz consigo
mesma. Aqueles que conjecturam que Tiago, o irmão do Senhor, é quem
escreveu essa epistola, meramente conjecturam, e isso é verdade no tocante
as demais identificações especificas. Não há qualquer evidência que qualquer
deles escreveu o livro.

A observação de que há algum acordo verbal entre está epistola e os


discurso de Tiago, no decimo quinto capítulo do livro de Atos – (At.15.23 com
Tiago 1.1; At. 15.17 com Tiago 2.7; At. 15.14,16 com Tg. 2.7 e 5.10,14; At.
15.14 com Tiago 1.27 e At. 15.19 com Tg. 5.19,20) – não é mais convincente do
que dizer que o mesmo autor que escreveu a epistola de Pedro, por causa de uma
lista similar de semelhanças que possa traçar entre esses dois livros.
O Tiago desconhecido. É possível que um Tiago inteiramente desconhecido
tenha sido o autor da epistola. Contra tal opinião, porém, talvez mais
corretamente se possa dizer que o simples título, Tiago, tinha por intuito ser
reconhecido como autoritário. Isso está de acordo com os costumes da época,
quando alguém poderia escrever um livro no nome de outrem, a fim de garantir
tanto o prestigio quanto divulgação de sua obra. Pode-se supor que o autor
sagrado queria que seus leitores pensassem em uma figura apostólica ao lerem
sua carta, como se tivesse sido escrito sob a autoridade de tal personagem.
Embora a epistola não seja de origem apostólica nem por isso deixa de Ter o
seu valor no cânon do N.T., somente por causa dos problemas de crítica que se
levanta, antes merece tal posição devido ao fato de ser uma digna composição
literária. Evidentemente foi escrita por um homem espiritual que discernimento
suficiente para merecer nossa atenção, mesmo que possuísse uma revelação
inferior aquilo que, de modo geral, fora revelado pelo apostolo Paulo.
Existem argumentos em favor do caráter genuíno de Tiago, isto é, o livro foi
escrito pelo apostolo Tiago, ou por Tiago, irmão do Senhor, o que significa que
tem autoridade apostólica e deve ser considerado como canônico. Os argumentos
são: A antiga versão siríaco Peshita contem esta epistola. Clemente de Alexandria
a conhecia, conforme Eusébio, Historia Eclesiástica. Orígenes menciona a epistola
de Tiago em Rm. 19 sobre João, e ocasionalmente a chama divina Jacobi Apostoli
Epistola. Dionísio de Alexandria escreveu um comentário a seu respeito. Cirilo da
Alexandria e Jerônimo, consideram-na genuína. (Após descrever duvidas antigas e
modernas sobre Tiago, o citado comentário procura escrever de modo favorável,
respondendo em parte, as dúvidas levantadas).
A circunstancia da epistola não ser genuinamente conhecida pela igreja
antiga em qualquer data remota, pode ser explicada pelas seguintes
considerações:

1. Foi dirigida a judeus cristãos, pelo que já figura a versão Peshita, porque na
síria, em particular havia muitos judeus cristãos.
2. A epistola em sua tendência apresentava, apenas poucos pontos dogmáticos,
ao passo que a igreja antiga reverteu especialmente para pontos dogmáticos.
3. A ausência da designação apostólica no titulo e coisas similares, devido a
suposta "humildade do autor".

Concluindo, já que o livro não identifica o Tiago, e já que não é possível


descobrir que Tiago está em pauta, para todos os propósito práticos devemos
considerar a epistola como anônima. Nenhuma prova contra ou a favor pode ser
oferecida.

2. DATA
O que se acredita sobre esse particular varia desde uma data não fixada
a.C., até 150 d.C. A própria data mais antiga poderia ser correta, se Tiago não
fosse um documento Cristão, que tivesse sido adotado para uso cristão, com
acréscimo de alguns toque cristãos, como a menção do nome de Cristo (Tg. 1.1,
2.1). O nome Tiago e o nome Jacó na realidade procedem de um só nome
hebraico, pelo que esse tratado não cristão poderia Ter sido intitulado "Discurso
de Jacó", com base em idéias sugeridas pelo 49° capitulo do livro de Gênesis, ou
algo similar. Contrariamente a essa idéia temos o fato de que a passagem central
do livro de Tiago, (Tg. 2.14ss.) é definidamente um ataque contra certas idéias
de Paulo, ou contra certa forma corrompida das mesmas, que foram surgindo na
igreja, na era pós-paulina. Isso é mais que um toque cristão: e o coração, o
âmago mesmo da epistola, e só poderia Ter sido escrito depois que os
ensinamentos de Paulo tivessem se propagados. No judaísmo não havia qualquer
debate que pusesse em choque a fé e as obras. Não pode haver dúvidas de que
os pensamentos que Paulo trouxera a fé religiosa estão em pauta naquele
capitulo. Por conseguinte a epistola tem de ser pós-paulina. Poderíamos supor
que a passagem de Tg. 2.14 e ss. É uma obra de um editor cristão subsequente;
mas apesar disso ser perfeitamente possível, tal idéia nunca teve aceitação pelos
eruditos do N.T.
Seria o livro mais antigo do N.T. Alguns eruditos raciocinam que a epistola
de Tiago é o livro mais antigo do N.T., mormente porque lhes faltam as grandes
revelações cristãs, o que significaria que deve refletir uma data recuada, antes
das revelações mais profundas se terem tornado ensinamento da igreja primitiva.
Porém a mesma objeção que é levantada contra a teoria pré-cristã. O trecho de
Tg. 2.14ss. combate alguns conceitos paulinos, portanto a epistola de ser de data
pós-paulina.
Seria um panfleto religioso pós-paulino e posterior a Tiago. A epistola foi
escrita após Ter sido escrita a epistola aos Romanos (porque se opõe
principalmente ao seu quarto capítulo), e também após a morte do apóstolo
Tiago, irmão do Senhor, porquanto é improvável que alguém presumisse em
nome, enquanto ele ainda vivesse. Tiago faleceu em cerca de 60-60 d.C. Portanto
devemos apontar para uma data posterior a isso. Se a escolha do autor de um
nome sob a égide de quem escrevia, foi influenciada pelo livro de Atos, então ele
deve Ter escrito após 70 d.C. Se a datarmos em 70 a 90 d.C., provavelmente não
estaremos longe do alvo. Os trechos de Tg. 5.1-6 e 8,9 indicam que as
expectações apocalípticas continuavam bem vivas e o retorno de Cristo ainda era
esperado para breve.

3. PROVENIÊNCIA

Não há maneira de determinar de onde esta epístola foi escrita. Alguns


defendem Roma, outras Jerusalém e outros ainda a Alexandria Cesaréia também
tem sido conjeturada, na suposição de que esse ou algum outro fora da corrente
principal do cristianismo tenha sido tenha sido o lugar da sua composição, o que
explicaria o fato de que o tratado permaneceu desconhecido até a sua época de
Orígenes que o redescobriu, e por meio de quem adquiriu prestigio na igreja
grega, que, por sua vez influenciou, primeiramente, as igrejas ocidentais e então,
a igreja síria, para que o aceitasse.
Um bom alvitre é Jerusalém, especialmente se pensarmos que Tiago, irmão
do Senhor foi seu autor genuíno. Há indícios, na própria epistola que demonstram
que o autor estava familiarizado com a vida a beira-mar (Tg. 1.6; 3.4), que ele
vivera em uma terra onde abundasse azeite o azeite, a vinha e os figos (Tg.
3.12), estando familiarizado com o sal e com as fontes amargosas (Tg. 3.11, 12).
Além disso ele viver em uma região onde a chuva era de vital importância (Tg.
3.17, 18) e alude as primeiras e as últimas chuvas do ano (Tg. 5.7). Tudo isso
parece indicar a região da Palestina. Porém apesar de ele escreveu com as
condições daquela região em vista, isso não indica que ele estivesse
necessariamente no local quando escreveu, e nem essa condições de vida se
reduz exclusivamente a Palestina. A habilidade do autor, em seus escritos
helenistas, cheios de artifícios próprios daquela cultura, pode indicar um erudito
centro do judaísmo, fora da palestina, como Alexandria.

4. DESTINO

Alguns estudiosos tem argumentado que não há destino expresso no caso


desta epistola, nenhuma comunidade especial está em vista. Isto provavelmente é
correto, Tiago é, verdadeiramente um epistola universal, que visa a igreja cristã
inteira. O endereço as doze tribos (Tg. 1.1). Pode ser reputado como indicação de
cristãos judeus, mas há quem pense que isso signifique a igreja cristã, e não o
povo de Israel. Ë verdade que estão ausentes problemas gentílicos distintivos,
nas várias repreensões e exortações existentes neste tratado. Não há qualquer
alusão a idolatria, escravidão ou lassidão sexual – em suma os perigos e vícios do
paganismo, conforme poderíamos esperar em uma epistola dirigida para cristãos
gentílicos ou mesmo para a igreja em geral, onde havia a mistura de elementos
judeus e gentios. Essa observação favorece a idéia que toma a expressão "doze
tribos" como suposição de que a epistola foi literalmente escrita a judeus da
dispersão. Notemos que em Tiago 2.2 que a palavra sinagoga é usada em vez de
igreja; e bastaria isso para mostrar-nos a mentalidade judaica do seu autor e,
talvez, a mesma coisa, por parte dos endereçados da epistola. Outrossim, a
própria epistola tem numerosas alusões judaicas que um autor não haveria de
esperar que os gentios compreendessem, mas somente a judeus. A ênfase sobre
as esmolas (Tg. 2.14 – 16) e sobre a visita dos anciãos aos enfermos (Tg.5.15)
são toques tipicamente judaicos talvez visando principalmente crentes judeus. A
despeito dessas coisas, alguns bons interpretes contendem pela verdadeira
universalidade da epistola, isto é por toda a parte, onde estivesse a igreja cristã,
composta de judeus ou gentios. Era destinada a epistola.
A epistola não indica as condições calamitosas, não havendo qualquer
alusão a destruição de Jerusalém, o que quase ocorreu certamente antes de sua
composição. Isso pode indicar um lugar distante de Jerusalém e, talvez, fora do
mesmo da palestina. A escolha parece ficar reduzida a: 1. Crentes judeus da
dispersão que seriam seus principais endereçados; 2. A igreja universal composta
de judeus e gentios. Seja como for, nenhuma comunidade local parece estar em
foco. Não saudações e nem informes pessoais.

5. PROPÓSITOS E ENSINAMENTOS

Um dos propósitos e puramente polêmico. Ele procura refutar as inovações


acrescentadas a teologia paulina, isso ele faz na ignorância, entretanto por faltar-
lhe as revelações mais profundas de Paulo. E o autor da epistola exibe uma justa
indignação, pensando que fazia o bem, ao assim combater aquelas idéias. É
verdade que tinha certo discernimento, mas se expressou desajeitadamente
mediante a uma terminologia e mentalidade nitidamente legalistas. Certamente a
passagem de Tiago 2.14ss. é uma refutação as idéias do quarto capitulo da
epistola aos romanos, ou é mesmo um assédio direto as idéias ali expostas.
Porém a intenção do autor sagrado foi boa, ele queria que soubéssemos (e
nisto estava com a razão), que opiniões corretas sobre as verdades cristãs não
são suficientes para; deve haver uma vida espiritual vital, pois, do contrário, a fé
estará morta.
Além disso ele desejava fornecer instruções éticas concretas, que
envolvessem muitos pontos. Este livro consiste, essencialmente, em um tratado
que visa dar instruções morais. Assim sendo, ele aborda a questão da tentação.
Alguns indivíduos punham a culpa em Deus por seus próprios erros e pecados,
supondo virtualmente, que Deus, assim os fizera (Tg. 1.12ss.). Tiago refuta
violentamente esse conceito. Também exortou a oração e a mentalidade espiritual
(Tg. 1.5); repreendeu a ira e o mau gênio (Tg. 1.19); insistiu sobre a prática das
boas obras (Tg.1.22). Assim nos deus uma das nossas definições centrais acerca
da verdadeira religião (Tg.1.27). A verdadeira religião consiste na pureza pessoal,
bem como em atos de bondade para com o próximo. Tiago também repreende a
soberba (Tg. 2.1ss.) e o favoritismo na mesma passagem; mostra como a
atividade moral deve incluir a lei inteira, e não meramente alguns pontos da
mesma, e cria ser isso possível para os homens(2.10ss). Também repreendeu
vivamente os pecados da língua (3.1) denunciou o mundanismo (4.1ss.) advertiu
os ricos acerca de sua dependência as suas possessões aos seus excessos
(5.11ss.). A leitura da própria epistola realmente serve de observação sobre os
muitos mandamentos morais do autor sagrado.
Seus propósitos não eram essencialmente teológicos, com exceção das
passagem de Tia. 2.14 e ss. Lutero tinha razão em reconhecer a esterilidade do
seu conteúdo teológico desta epistola. Não tem nada de elevadíssimas doutrinas
cristas que se acham nos escritos de Paulo, exceto que o ensino sobre a parousia
é reputado como algo que poderia acontecer em breve (Tg.5.7). Por essa razão é
que Lutero a chamou de epistola de palha, portanto, para ele, não podia
equiparar-se com as epistolas de Paulo, especialmente a de Romanos, ou com a
primeira epistola de Pedro e o evangelho de João. Ele sumariou o seu ponto de
vista ao dizer: Louvo a epistola de Tiago e a considero boa, portanto não ensina
qualquer doutrina humana, e afirma severamente a lei de Deus (Introdução a
epistola de Tiago).

5. PAULO E TIAGO

É apropriado alistarmos como os escritos e as idéias de Paulo tem sido


tentativamente reconciliado com Tiago.
Obviamente as palavras são contraditórias. Comparar Rm. 4.1 – 5 com Tg.
2.14, 21. Pouca dúvida há de que Tiago escreveu para refutar os ensinos de
Paulo, sem importar se essa epistola era conhecida ou não pelo autor. Não
admira que as duas epistolas contradizem entre si. Os interpretes que recusam
reconhecer isso, supõe que Paulo e Tiago possuem diferentes definições sobre as
palavras chaves de justificação, obras, fé e várias outras.
Segundo nos dizem, a justificação, na epistola de Tiago incluiria o processo
inteiro da salvação, ao passo que Paulo, indica somente a retidão inicial
imputada. A justificação é de vida (Rm. 5.18 o que certamente inclui mais do que
mera declaração forense de retidão. Tanto Tiago como Paulo se preocupam com a
correta posição diante de Deus, o que resulta em salvação. A justificação é uma
declaração de uma correta condição diante de Deus em Cristo, mas essa correta
posição também outorga ao crente a santidade que ratifica aquela posição e a
torna eternamente válida.
Segundo nos dizem a fé é um termo que indicam coisas diferentes para Paulo
e Tiago. Para esse último seria o mero monoteísmo (Tg. 2.19). Mas os interpretes
que assim fazem não observam que o resto do estudo sobre a fé não se limita a
isso. A fé é um princípio ativo computada as obras que produzem justificação.
Certamente não é fé que existe apenas um único Deus. É verdade porém que
Tiago não focaliza a fé na expiação feita por Cristo, ou não focaliza a fé como
uma dotação divina, mediante o Espírito Santo (Rm. 5.11; Gl. 5.22 e Ef. 2.8).
Paulo tinha uma visão mais ampla de fé do que Tiago, mas para Tiago a fé era
uma outorga ativa às mãos de Deus, como um princípio espiritual. Tiago
simplesmente ensina que a fé é ligada as obras. E com isso ele entende a
lealdade as obras das lei. Se o judaísmo contradizia Paulo, então Tiago
contradizia também.
Alguns dizem que Paulo e Tiago usaram diferentes palavras para obras.
Novamente Paulo tinha um discernimento mais profundo sobre a natureza das
obras, mas tanto ele como Tiago usavam o termo normalmente. Tiago insiste que
isso faz parte da salvação; mas Paulo afirma o contrário. Tiago assume a posição
judaica de mérito adquirido pelas obras. Paulo já havia abandonado tal posição,
quando receber suas revelações superiores através de Cristo, mas ambos usam o
vocábulo obras da mesma maneira.
Alguns afirmam que a contradição era apenas aparente porque Tiago não
tinha conhecimento dos ensinos paulinos. Isso faz supor que Paulo aceitava a
posição de Tiago, de que a obediência a lei obtém favor diante de Deus, o que é
um absurdo. Não tenhamos duvidas que essa era a posição tomada por Tiago
nesta epistola. Supostamente incorporada na fé de Paulo, havia o princípio das
obras; e isso é verdade mesmo que façamos alusão a atuação mística do Espírito.
Porém, será algo totalmente falso se aludirmos a fé se expressa, levando a
pessoa a agradar a Deus mediante obras legalistas, que era a posição de Tiago.
Antes, a contradição é real, porque as posições teológicas são diferentes
entre si, tal como Paulo, em contraste com o judaísmo normal, era diferente. Nem
pode ser isso ser explicado com base de Tiago contra as "perversões" feitas nos
ensinamentos paulinos, uma espécie de liberalismo ou antinomianismo
exagerados, e não a verdadeira doutrina paulina.
A questão é claramente delineada. Ou Paulo estava com a razão, ou razão
estava com Tiago. A salvação inclui ou não a observância de ritos legalistas da lei
mosaica. Nisto é que consistia toda a disputa.
De alguma maneira tanto Tiago como Paulo estariam com a razão. A salvação
é pela fé somente, mediante a graça de Deus, Segundo ela é demonstrada em
Cristo. Contudo as obras são essenciais a elas, e como esses pensamentos podem
ser reconciliados entre si, não sabemos dizer. As grandes tradições religiosas tem
representado a ambos os lados.

CONCLUSÃO

Como foi dito no começo e visto durante o trabalho a epistola de Tiago é


bem problemática. Há muitas especulações mas nenhuma conclusão sobre os
diversos assuntos alistados aqui.
A epistola de Tiago é muita boa no tocante a prática da vida cristã, ela nos
traz ensinamentos de como vivermos a fé que professamos, nossa conduta para
com Deus está relacionada com o tratamento com o nosso semelhante. Por isso
ele fala do controle da língua, resistência a tentação, cuidar dos necessitados e
não dar privilégios aos mais ricos.
O grande problema que foi bastante comentado é a doutrina da justificação,
que contradiz com Paulo. Tiago diz que não basta ter fé para ser salvo, é
necessário as obras. Já Paulo diz que o homem é justificado única e
exclusivamente pela fé.
O que devemos fazer diante dessas polêmicas? Primeiramente não podemos
deixar de olhar para Cristo. Paulo diz examinai tudo e retende o bem, devemos
ler Tiago e aprender as coisas boas que existe nela.

BIBLIOGRAFIA

CHAMPLIM, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia Ed.


Candeia 3°Edição 1995 São Paulo
LIÇÕES BÍBLICAS, A Epístola de Tiago Ed. CPAD
BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL Ed. CPAD 1°Edição 1995

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