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A fé sem

obras está
morta

OTTO SANTOS
EPÍSTOLA DE

TIAGO
A Epístola de Tiago foi escrita a todos os cristãos do seu tempo e trata de assuntos
práticos da vida cristã. O autor fala de pobreza e riqueza, tentação, preconceito, o falar e o
agir, o criticar, orgulho e humildade, paciência, oração e fé. Ele põe acima de tudo a
necessidade de não somente crer como também agir. Não adianta nada alguém dizer que tem
fé se não provar por meio das suas ações que a sua fé é viva e verdadeira. “Porque, assim
como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta” (2:26). A
verdadeira fé cristã se manifesta em ações cristãs.
O autor chama a si mesmo de “mestre” (3:1) e ele ensina belas lições para todos os
seguidores de Cristo. Com clareza e vigor, Tiago nos mostra como devemos agir e viver, se é
que queremos ser cristãos de verdade.

Esquema do conteúdo

A fé sem obras está morta (2:14–26)

1 ESTUDO CONTEXTUAL

1.1 Contexto Histórico

Como Tiago morava em Jerusalém e cuidava dos assuntos da Igreja nesse local,
é provável que tenha escrito sua epístola nessa área. O fato de Tiago não ter
mencionado a conferência de Jerusalém que ocorreu cerca de 50 anos d.C. (ver
Atos 15) poderia indicar que sua carta foi escrita antes dessa conferência.

1.2 Contexto Literário

Características. Os cristãos judeus a quem Tiago se dirige enfrentavam


problemas pessoais e outros maiores em suas congregações devido a
religiosidade e hipocrisia de alguns entre eles. Dentro desse contexto, passavam
por grandes provações e tentações (1:30).

1.2.1 Contexto do Livro Todo

A epístola de Tiago tem início com exortação à perseverança na fé, vez


que na perseverança conclui-se a obra da fé (Tg 1:3-4). Quem suporta
as provações sem desvanecer é bem-aventurado, vez que receberá de
Deus a coroa da vida, que será dada aos que O obedecem (amam)
(Tg1:12).

Tiago faz uso do termo ‘fé’ no sentido de ‘crer’, ‘acreditar’, ‘confiar’, diferentemente do
apóstolo Paulo, que utiliza o termo tanto no sentido de ‘crer’ quanto no sentido de
‘verdade’, sendo que este último significado é muito mais utilizado que aquele.

Em seguida, Tiago apresenta a essência do evangelho, que é o novo nascimento por


intermédio da palavra da verdade (Tg 1:18). Após asseverar que é necessário receber
como servo obediente a palavra do evangelho, que é poder de Deus para salvação
(Tg2:21), Tiago exorta os seus interlocutores a cumprirem o determinado no evangelho,
não se esquecendo da doutrina de Cristo (Tg 2:21).

Tiago lembra que quem atenta para a verdade do evangelho e nela persevera, não sendo
ouvinte esquecido, é executor da obra estabelecida por Deus: crer em Cristo (Tg 2:25).

À vista da obra exigida por Deus, Tiago demonstra que ser religioso sem refrear o que
procede do coração, é enganar-se a si mesmo, e a religião desse indivíduo se revela vã
(Tg 2:26-27).

Novamente Tiago chama os seus interlocutores de irmãos, para então conclama-los a


não fazerem acepção de pessoas, já que professavam ser crentes em Cristo (Tg 2:1). Se
alguém fala que é crente no Senhor Jesus, deve proceder conforme essa crença: não
fazendo acepção de pessoas por causa de origem, língua, tribo, nação, etc. (Tg 2:12)

A abordagem de Tiago muda novamente através de um grave: – ‘Meus irmãos’, para


questioná-los se é proveitoso alguém dizer que tem fé, se não tem obras. É possível uma
crença sem obras salvar?

O termo obra no contexto deve ser compreendido conforme a visão do homem da


antiguidade, que é o resultado da obediência a um mandamento. Para os homens à
época, mandamento por parte de um senhor e obediência por parte de um servo
resultava em obra.

A abordagem muda de acepção de pessoas para salvação. Primeiro; Quem tem fé em


Cristo não pode fazer acepção. Segundo: Quem diz que tem fé que Deus é um só, se não
realizar a obra exigida por Deus, não será salvo.

A questão não se trata de alguém que diz ter fé em Cristo, antes se algum que diz ter fé,
porém, é fé em um único Deus. Quem tem fé em Cristo será salvo, pois essa é a obra
exigida por Deus. Não pode se salvar alguém que diz ter fé em Deus, mas que não crê
em Cristo, vez que não é executor da obra.

A obra exigida de quem diz que tem fé (crença) é a obra que a perseverança termina (Tg
1:4), ou seja, é permanecer crendo na lei perfeita, a lei da liberdade (Tg 1:25). .

Como os cristãos convertidos dentre os judeus sabiam que a obra exigida por Deus é
crer em Cristo, ao argumentar que não basta diz que tem fé, Tiago estava enfatizando
que é inócuo crer em Deus e não crer em Cristo.

A abordagem no capítulo 3 muda novamente quando é dito: meus irmãos (Tg 3:1). A
instrução tem em vista aqueles que queriam ser mestres, porém, para esse exercício
ministerial é imprescindível ser ‘perfeito’. Ser ‘perfeito’ no contexto é não tropeçar na
palavra da verdade (Tg 3:2), e assim estará apto a conduzir o corpo (os instruendos).

Após exemplos do que a palavra é capaz de promover, novamente a abordagem é


mudada, para tratar da impossibilidade de proceder mensagens distintas de uma mesma
pessoa, contrapondo o conhecimento de Deus versus a sabedoria e tradição humana (Tg
3:10 -12).

Por fim, a instrução é para que os cristãos convertidos dentre os judeus não falassem
mau um dos outros (Tg 4:11), e, por figura (ricos), faz referência aos judeus que
mataram o Cristo.

A epístola é encerada tratando do tema inicial: perseverança (Tg 5:11), encorajando os


crentes a serem pacientes no sofrimento.

1.2.2 Contexto Remoto

A Epístola Universal de Tiago algumas vezes foi classificada como


literatura de sabedoria, semelhante ao livro de Provérbios no Velho
Testamento. O texto da carta contém pequenas explicações de
princípios para uma vida cristã. Além disso, há um paralelo bastante
semelhante entre o Sermão da Montanha proferido pelo Senhor e
registrado em Mateus 5–7 e as palavras de Tiago.

1.3 Contexto Canônico

A epístola de Tiago possui uma longa história de conflito antes de ser aceita no
cânon do Novo Testamento. Mesmo por volta do século XVI ela ainda possuía
seus detratores; ninguém menos do que o grande Martinho Lutero, chamou-a de
“uma verdadeira epístola de palha”, por sua aparente contradição com a teologia
paulina.

Mais cedo na História, Eusébio a classificou entre as antilegomena, isto é, os


livros disputados por alguns segmentos da igreja primitiva, muito embora ele
mesmo tenha crido em sua autenticidade. As aparentes razões para tais dúvidas
teriam sido a falta de circulação e a falta de certeza com relação ao status
apostólico de seu autor

2 ESTUDO TEXTUAL

2.1 Texto Grego/Português

Grego - Texto em Grego - (BGB)

Português - Almeida Revisada e Corrigida

07- ὑποτάγητε οὖν τῷ θεῷ· ἀντίστητε δὲ τῷ διαβόλῳ, καὶ φεύξεται ἀφ’ ὑμῶν·

Sujeitai-vos pois a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.


08 - ἐγγίσατε τῷ θεῷ, καὶ ⸀ἐγγιεῖ ὑμῖν. καθαρίσατε χεῖρας, ἁμαρτωλοί, καὶ ἁγνίσατε
καρδίας, δίψυχοι.

Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo
ânimo, purificai os corações.

09 - ταλαιπωρήσατε καὶ πενθήσατε καὶ κλαύσατε· ὁ γέλως ὑμῶν εἰς πένθος


⸀μετατραπήτω καὶ ἡ χαρὰ εἰς κατήφειαν·

Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai: converta-se o vosso riso em pranto, e o


vosso gozo em tristeza.

10 - ταπεινώθητε ἐνώπιον ⸀κυρίου, καὶ ὑψώσει ὑμᾶς.

Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.

Tapeinōthēte ταπεινώθητε

tornar baixo, rebaixar

(Humble yourselves)

Verbo - Imperativo aorista (pretérito não qualificado de um verbo sem referência à


duração ou conclusão da ação) Passivo - 2ª pessoa do plural

Enōpion ἐνώπιον

ante, perante / na frente de

(before)

Preposição

Kyriou Κυρίου

senhor

(Lord)

Substantivo - Masculino no Singular genitivo

Kai καὶ

E (and)

Conjunção

Hypsōsei ὑψώσει

elevar às alturas, exaltar


(he will exalt)

Verbo - futuro do indicativo ativo - 3ª pessoa do singular

Hymas ὑμᾶς

seu / teu

(you)

Pronome pessoal / possessivo - 2ª pessoa acusativa plural

A pequena epítola de Tiago, provavelmente um dos primeiros livros do Novo


Testamento, oferece orientações para a apresentação de seu serviço ao Senhor.

Dois homens com o nome de Tiago receba destaque especial no Novo Testamento. Um
dos apóstolos com este nome, filho de Zebedeu e irmão de João, foi um dos três
apóstolos que acompanhava Jesus por perto. Depois da morte deste apóstolo em 44 dC
(Atos 12:1-2), um outro apóstolo, o irmão de Jesus, tornou-se especialmente influente
na igreja em Jerusalém (Gálatas 1:19). É que provável este Tiago seja o autor do livro
que leva o mesmo nome.

Os destinatários da carta são identificados que como “doze tribos se encontram na


Dispersão” (Tiago 1:1). Esta linguagem permite duas interpretações. No Antigo
Testamento, a nação de Israel foi conhecida como doze tribos, descendentes dos filhos
de Jacó. Se Tiago usa o termo neste mesmo sentido, o conteúdo do livro mostra que
essas pessoas eram já convertidas a Cristo. No Novo Testamento, porém, o foco está em
Israel espiritual, aqueles que imitam a fé de Abraão, independente da sua descendência
carnal. O próprio Jesus seguidores 20 seguidores esta ideia39-4, seguidores e seus
seguidores nestes termos7-29; mesmo (Romanos 2:3-5 sentido).

A mensagem de Tiago é direta e objetiva. Diferente das epístolas de Paulo, Pedro e


João, a carta de Tiago não inclui saudações pessoais. As exortações inicialmente no
segundo versículo e continuarão até o último.
CONCLUSÃO

Entre as contribuições de Tiago destacasse sua insistência em que a fé cristã autêntica


tem de se evidenciar em obras. Ele se opõe resolutamente a tendência tão comum entre
os cristãos de se satisfazerem com uma fé acomodada e que faz concessões, que procura
tirar o melhor proveito deste mundo e do vindouro. Para Tiago o pecado fundamental é
o coração dividido (1.8; 4.8) e ele insiste em que os cristãos se arrependam disto e
voltem ao caminho que conduz ao caráter integro e perfeito que Deus deseja.

A própria maneira incisiva com que Tiago faz afirmações a esse respeito suscita
perguntas a respeito da perspectiva teológica da carta, em especial quando Tiago insiste
em seu argumento a ponto de vincular justificação as obras (2.14-16). Pois a essa altura
ele parece contradizer a insistência de Paulo de que a justificação provem
exclusivamente por meio da fé (Rm 3.28). Muitos se satisfazem em ver aqui uma
indicação da profunda diversidade dentro do Novo Testamento, e acham que Paulo e
Tiago dizem coisas diferentes e conflitantes sobre como alguém é justificado perante
Deus. Mas não é necessário adotar uma posição tão destrutiva; existem pelo menos duas
maneiras legitimas de harmonizar Tiago e Paulo nessa questão.

A carta de Tiago é uma carta simples, de direções claras e recomendações diretas.


Alguns dizem que é o como o “livro de Provérbios do Novo Testamento”, justamente
por encontrarmos essas instruções mais simples.

Tiago vai falar sobre nossas obras como cristãos, os cuidados que devemos tomar,
oração, provações, nossa língua e outros assuntos que conseguimos relacionar
facilmente com nosso dia-a-dia.

O pensamento que mais gosto de ter ao ler esta carta é o de Matthew Henry, que diz:

“Em Cristo não há ramos mortos ou sem seiva, e a fé não é uma graça ociosa; onde quer
que esteja, produz fruto em obras.”

Matthew Henry – Comentário bíblico Matthew Henry

A nossa fé vai nos levar a produzir boas obras, vivermos longe do pecado, sermos
generosos e obedecermos a Deus. A nossa fé é uma fé viva. É isso que aprenderemos
com a carta de Tiago.

REFERÊNCIAS

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SPROUL, R.C., Bíblia de Estudo da Fé Reformada: 1 Edição. São Paulo: Editora

Fiel, 2021.

I. Holmer., Comentário Esperança: Curitiba-PR: 2008, Editora Evangélica Esperança.

THOMPSOM, Frank Charles. Bíblia Thompson. Tradução João Ferreira de Almeida.

São Paulo: Editora Vida, 2014.

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