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● Introdução

○ A carta de Tiago têm uma "má fama" entre alguns. Por exemplo, o próprio
Lutero considerava ela um livro que deveria ser descartado da Bíblia, uma
epístola de palha, que não fazia referencias direta ao evangelho e rivalizava
com o ensino de graça do restante do NT. Apesar dessas acusações, a carta
apresenta muito dos ensinos de Jesus, em especial o Sermão da Montanha,
além dos ensinos de sabedoria do AT, como Jó, e da Torá (1:25 e 2:8). Como
Michael Bird e N. T. Wright escrevem: "Tiago não é cristocêntrico à maneira
dos evangelhos, das cartas de Paulo e de Hebreus. [...] Mas a carta de Tiago
é comprovadamente cristã, servindo como um mapa moral para esboçar o
caminho da sabedoria para a igreja."
○ Além disso, o livro parece ser formado por diferentes blocos de exortação e
ensino sobre temas específicos, com mudanças aparentemente abruptas
entre os temas ao longo do texto.

● Autoria da Carta
○ Pelo menos 4 pessoas são denominadas como "Tiago" no NT:
■ O irmão de João, filho de Zebedeu, um dos discípulos;
■ O filho de Alfeu, também um dos discípulos;
■ O pai de Judas - não o Iscariotes;
■ Tiago irmão de Jesus (Gl 1:19), que era líder da igreja de Jerusalém;
○ Não faz sentido atribuir a autoria ao segundo e terceiro Tiagos citados, e o
primeiro foi martirizado antes da escrita dessa epístola. Sendo assim, o mais
provável é que o Tiago irmão do Senhor que escreveu esse livro.

● Contexto e Propósito de Tiago


○ Se assumimos que Tiago irmão de Jesus escreveu essa carta, sendo ele o
primeiro bispo da igreja de Jerusalém, então o contexto era provavelmente
os cristão judeus do período do primeiro século;
○ Ainda que no primeiro versículo da carta o autor enderece sua obra "às doze
tribos que se encontram na Dispersão", esse termo se tornou uma espécie
de sinónimo para se referir aos cristãos de uma maneira geral, sendo estes
aqueles que vivem longe do seu verdadeiro lar celestial.
○ Como argumentam Bird e Wright: "A epístola de Tiago, então, foi escrita para
exortar os cristãos judeus fora da Palestina [...] aos mais altos padrões do
ensino moral judaico e para demonstrar que seguir a Jesus encarnava a
justiça e a sabedoria de Deus. Isso os capacitaria a oferecer um testemunho
poderoso aos seus companheiros judeus da diáspora."

● Questões Temáticas e Teológicas


○ Tentação/Provação-Sofrimento (1:2-4 e 1:12-15)
■ Essa relação parece ser uma espécie de fio condutor temático que
percorre toda a carta, ainda que não diretamente.
■ A provação como meio de produzir perseverança na fé.
■ A tentação como algo que não provém de Deus, mas pela própria
cobiça.
○ Escatologia (5:7-11)
■ A exortação a paciência no aguardo pela vinda do Senhor;
■ Diante da tensão entre a nossa era e a vindoura, os Cristãos são
exortados a perseverarem pacientemente com fé nas práticas das
boas obras diante do mal, aguardando o desfecho final da batalha
escatológica.
○ Pobreza-Piedade/Riqueza (2:5)
■ O tema do cuidado de Deus para com o pobres, órfãos e viúvas é
recorrente no AT (Sl 10:1-2). Sendo claro em muitos momentos a
associação dos pobres com os justos e os ricos com os ímpios.
■ Tiago parece retomar muito disso, além da próprio ensino de Jesus
sobre bem-aventurado os pobres.
○ Lei
■ Uma ênfase nas questões ético-prática da lei, não focando nas
questões cerimoniais;
■ A lei do amor que também ecoa levítico 19 (Tg2:8);
○ Sabedoria (1:5)
■ "Como no AT, a sabedoria aqui envolve a compreensão dos
propósitos e caminhos de Deus, e possuí-la leva à maturidade
espiritual (1:5-8)"
■ Sabedoria como algo que procede do céu e produz o florescimento de
virtudes. (3:13-18);
○ Fé, Obras e Justificação (2:14-20)
■ O tema mais controverso da carta é certamente a questão do papel
das obras e da fé na justificação dos crentes. Muitos até mesmo
colocam em total oposição com a visão paulina tradicional.
■ Longe de entrar em contradição com os ensinos paulinos, o que Tiago
apresenta e que a fé em Cristo que justifica não é de forma alguma
estéril e inoperante, mas uma fé viva que é manifesta nas boas obras
que Deus preparou para nós.
■ Como comenta o estudioso do NT Douglas Moo:
■ "A fé, não o que fazemos, é fundamental para estabelecer um
relacionamento com Deus. Mas a fé, insiste James, deve ter
conteúdo. A fé genuína, ele insiste, sempre e inevitavelmente
produz evidências de sua existência em uma vida de vida
justa. A fé bíblica não pode existir à parte de atos de
obediência a Deus."
■ Com isso, podemos perceber que tanto Paulo quanto Tiago falam da
mesmo justificação, enfatizando aspectos diferentes para públicos
diferentes.
● Divisão da Carta
○ 1. Saudação, sabedoria, provação (1:1-15)
○ 2. Boa dádiva, palavra e justiça de Deus (1:16-27)
○ 3. Contra a acepção de pessoas (2.1-13)
○ 4. Fé sem obras é morta (2.14-26)
○ 5. Exortação sobre a fala (3.1-12)
○ 6. Sabedoria do alto (3.13-18)
○ 7. A origem das contendas (4:1-10)
○ 8. Advertências contra a arrogância (4.11-17)
○ 9. Advertências contra a riqueza (5.1-6)
○ 10. Exortação sobre a paciência (5.7-11)
○ 11. Vida em comunidade (5.12-20)

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