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ESTUDO DA CARTA DE TIAGO


ESTUDO DA CARTA DE TIAGO LEITURA BÍBLICA
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INTRODUÇÃO Programa de Leitura Bíblica

A carta de Tiago é uma das mais controvertidas do Novo Testamento. Juntamente com 1 e 2 ESTUDOS BÍBLICOS
Pedro, 1, 2 e 3 João e Judas, formam as chamadas Cartas Gerais ou Católicas, nesta última Estudos sobre a Bíblia, como
no sentido de Universais. Estas cartas foram chamadas assim porque não foram escritas a deve ser a vida do cristão, e
uma igreja específica, e sim, à igreja em geral. Mas, por que Tiago é uma carta controvertida? louvor.
Porque só no quarto século o cristianismo, tanto ocidental como oriental, a reconheceram
como Escritura.
A primeira referência da carta de Tiago apareceu no terceiro século, se bem que é possível
que os escritores antes disso tenham mencionado Tiago, já que nem sempre citavam suas
fontes. Na igreja de fala grega é bem possível que a carta de Tiago fosse conhecida, mas
pouco utilizada. O historiador Eusébio apontava para o fato que Clemente de Alexandria
conhecia o livro, se bem que não o considerava canônico, embora aceitasse que fosse lido
nas igrejas. Orígenes (181–251 d.C), sucessor de Clemente em Alexandria, foi o primeiro a se
referir nominalmente à carta de Tiago. Eusébio (260-340 d.C aproximadamente) foi um
historiador da igreja, e em suas citações sobre Tiago fala das dúvidas dos pais da igreja. Nos
seus escritos percebe-se que não havia tanta aceitação sobre a carta nas igrejas como tinha
ocorrido com outras cartas do Novo Testamento. A partir de então catálogos de livros
canônicos passaram a ser feitos, e a carta de Tiago passou a ser inclusa, tais como o
catálogo feito por Atanásio (299-373 d.C), Cirilo de Alexandria (370-444 d.C), Epifânio
(315-403 d.C), Gregório de Nazianzo (329-389 d.C) e por Crisóstomo (344-407 d.C). A igreja
oriental logo aceitou esta carta.
Outras comunidades também tiveram este momento de discussão. A igreja Armênia em seus
manuscritos contém a carta de Tiago desde aproximadamente o ano 430 d.C. A primeira
tradução de Tiago para o siríaco data de 412 d.C., e a partir de então veio a ser aceita na
Peshitta, o texto sírio oficial. Mas antes de 412 d.C., nenhuma das cartas gerais tinham obtido
total aceitação na igreja Síria . A aceitação desta carta parece ter sido por causa da influência
da igreja grega.
Na igreja ocidental a história da carta de Tiago foi bem parecida com o que ocorreu na igreja
Síria. A influência da igreja grega também foi fundamental. O Cânon de Muratori, muito usado
pela igreja de Roma, omitia a carta de Tiago. É bem possível que Irineu e Tertuliano nunca
tenham utilizado a carta por não a conhecerem. Cipriano (258 d.C) e Ambrósio (397 d.C.)
também nunca citaram Tiago. A mais antiga citação de Tiago em latim é de Hilário de Poitiers
(358 d.C). A partir de 384 d.C a carta de Tiago começou a ser inclusa na Vulgata Latina.
Jerônimo (348-420 d.C) identificou o autor da carta como “irmão do Senhor”, mencionado em
Gálatas 1:19. Agostinho (354-430) também reforçou a canonicidade de Tiago, e depois
nenhuma dúvida foi levantada na igreja ocidental até a Reforma.
Na Reforma Protestante começaram a surgir questionamentos sobre a carta de Tiago.
Erasmo de Rotherdan ficou impressionado com o grego de boa qualidade da carta de Tiago, e
com isso levantou dúvidas sobre a autoria da carta. Lutero foi o mais crítico de todos os
reformadores. Para ele havia uma tensão entre Tiago e os “principais livros do N.T.” acerca da
justificação pela fé. Podemos até dizer que Lutero via Tiago com um certo pré-conceito,
dizendo que a carta de Tiago desfigurava as Escrituras e se opunha ao texto de Paulo e a
todo texto sagrado. Ele também disse que Tiago era como “epístola de palha”, e na sua
tradução alemã do N.T. colocou Tiago no final, depois de Judas, Hebreus e Apocalipse. Lutero
não questionava a autenticidade e sim que a carta de Tiago não tinham a qualidade dos
principais livros do N.T. – leia-se o Evangelho de João, 1 João, Romanos, Gálatas, Efésios e 1
Pedro – os quais revelavam Cristo e os ensinamentos necessários para uma vida espiritual
saudável. Ele não proibia a leitura da carta de Tiago. Outros reformadores não seguiram a
dura crítica de Lutero acerca de Tiago. Calvino, por exemplo, aceitou a autoridade apostólica
de Tiago e defendeu a harmonização entre Tiago e Paulo a respeito da justificação. Cremos
que esta posição de Calvino é a mais correta. Apesar de Tiago ter um pano de fundo mais
judaico, podemos perceber que Tiago e Paulo se complementam.

AUTORIA

A única coisa que sabemos sobre o autor está no primeiro versículo: “Tiago, servo de Deus e
do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos dispersas entre as nações: Saudações.” (Tiago 1:1).
Ele se identifica apenas como Tiago (gr. Iakobos - ; no heb. ya‘aqob). Mas
quem seria este indivíduo? Há pelo menos quatro homens no N.T. conhecidos como Tiago:

Tiago, filho de Zebedeu Foi um dos primeiros discípulos de Jesus (Mc. 1:19). Ele, juntamente
com seu irmão, João, e Pedro, formaram o grupo mais íntimo de discípulos de Jesus (Mc.
5:37; 9:2; 10:35; 14:33). Foi martirizado no ano 44 d.C. a mando de Herodes Agripa I (At.
12:2).

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Tiago, filho de Alfeu Também foi um dos doze discípulos, e é mencionado apenas nas listas
dos apóstolos (Mt. 10:3; Mc. 3:18; Lc. 6:15; At. 1:13). É possível que ele seja o que aparece
em Marcos 15:40 como Tiago, o Menor, quem sabe se se refere à baixa estatura.

Tiago, pai de Judas Este Judas é um dos doze e deve ser distinguido de Judas Iscariotes (Jo.
14:22). É possível que este Judas também se chamasse de Tadeu (Mt. 10:3; Mc. 3:18).

Tiago, “o irmão do Senhor” Há vários textos que o mencionam (Gl. 1:19; 2:9,12; 1 Co. 15:7;
At. 12:17; 15:13; 21:18). Os irmãos de Jesus não creram nele durante seu ministério terreno
(Jo. 7:5; Mc. 6:3), mas após a ressurreição de Jesus Tiago se converteu e logo alcançou
proeminência na igreja de Jerusalém.

É claro que a carta de Tiago não precisa ser identificada com algum destes personagens,
porém o uso do nome sem nenhuma outra referência aponta-nos para alguma indicação de
autoridade e que ele era uma figura conhecida, dispensando apresentações. É improvável
que Tiago o filho de Zebedeu tenha escrito esta carta. Já que ele morreu em 44 d.C. esta
seria uma data pouco aceita, justamente por ser uma data tão remota.
Cremos então que Tiago, o “irmão do Senhor” tenha sido o autor desta carta. Ele era uma
figura popular e respeitada pela igreja primitiva, especialmente os cristãos judeus. Ele foi
venerado como o primeiro bispo de Jerusalém, sendo chamado de Tiago o Justo, devido a
sua fidelidade à Lei e constância na oração. As informações extrabíblicas que temos acerca
de Tiago surgiram da obra de Hegésipo sobre a sua morte, e que Eusébio as registrou.
Segundo este escritor, Tiago foi apedrejado pelos escribas e fariseus por ter se recusado a
renunciar a seu compromisso com Jesus. Este relato é confirmado por Josefo e que por isso é
possível datá-la no ano 62 d.C. Podemos ler o relato de Josefo que diz o seguinte:
“...Anás achou que havia ocasião propícia para aproveitar, já que Festo morrera e que Albino
ainda estava viajando. Convocou os juízes do Sinédrio e descreveu diante deles o irmão de
Jesus chamado Cristo – seu nome era Tiago – e alguns outros. Acusou-os de haver
transgredido a Lei e entregou-os para serem lapidados...”

A partir deste relato da morte de Tiago foi criada uma lenda sobre ele, e que está também no
relato de Hegésipo, que o mostrava como um zelote da lei. É possível que Hegésipo tenha
tomado estas informações a partir de uma seita restrita de cristãos judeus, chamados
ebionitas, e que consideravam Tiago, e não Paulo, como real herdeiro do ensino de Jesus.
Apesar de alguns não aceitarem a autoria de Tiago o “irmão do Senhor”, principalmente por
contradizer a idéia de Maria como eternamente virgem , podemos encontrar algumas
conclusões que apontam para o fato. Desta forma é possível dizer que, Tiago era o irmão
mais novo de Jesus e um respeitado líder da igreja de Jerusalém. Vejamos quais são as
evidências:
• O testemunho da igreja antiga concorda com esta conclusão.
• O grego da epístola contém algumas semelhanças muito importantes com o grego do breve
discurso creditado a Tiago, o irmão do Senhor, em Atos 15:13-21 e 23-29. Podemos conferir:
Tiago 1:1 e Atos 15:23; Tiago 2:7 e Atos 15:17 ; o apelo em Tiago 2:5 e Atos 15:13, e outras
leves semelhanças.
• A atmosfera do livro é bastante acentuada: ensinos do Antigo Testamento e judaicos são
mencionados com freqüência, o estilo mostra uma acentuada aproximação com as tradições
da sabedoria judaica, uma pregação em tom de denúncia dos profetas, o lugar de reunião da
igreja é chamado de sinagoga (2:2) e um tema judaico bem central, a unidade de Deus,
especificamente mencionado em 2:19.
• A maneira pela qual o ensino de Jesus permeia toda a carta, sem ser abertamente citado,
também poderia ser perfeitamente natural para alguém que vivesse no contexto de Tiago.
• Como líder da igreja de Jerusalém, isso o qualificaria a dirigir uma admoestação com
autoridade às doze tribos dispersas.

Estas considerações fornecem uma excelente razão de seguirmos a linha tradicional de que
Tiago, o irmão do Senhor, escreveu esta carta. Mas, por que a carta sofreu tanta resistência?
É possível que a carta fosse mais conhecida nas comunidades judaico-cristãs do que em
outras igrejas com maior quantidade de gentios. A partir disto dá para entender porque os
principais teólogos ocidentais do segundo século não mencionavam Tiago. Uma outra razão é
devido ao enfoque da Lei do Antigo Testamento na carta em que esta teria muito mais uma
visão judaica, principalmente no que se refere às obras. Neste aspecto entra aquela
discussão entre Tiago e Paulo, quem teria razão? Concluímos que não há contradição entre
Tiago e Paulo. Ambos crêem na justificação pela fé e se lermos Atos 15, veremos que tanto
Tiago como Paulo foram importantes no primeiro concílio. Desta forma é importante
entendermos que Tiago, possivelmente, está tentando corrigir algum ensino paulino mal
interpretado. Se Tiago fala sobre justificação pela fé no capítulo 2, dificilmente ele teria tirado
isto de outra fonte a não ser o próprio Paulo. E uma outra razão seria a questão da autoria e
autoridade. Como havia algumas dúvidas quanto à autoria, então alguns não aceitavam a
carta como canônica. Porém, cremos que a carta de Tiago, além de ter uma forte conexão
com a mensagem de Jesus e ser uma complementação do ensino de Paulo, está de acordo
com todo ensino do N.T. e das Escrituras como um todo, não podendo ser reputada como
menos importante.

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DATA

Como cremos que Tiago, o irmão do Senhor, escreveu a carta, então ela deve ter sido escrita
antes do ano 62 d.C., ano de sua morte. Há alguns estudiosos que colocam a carta perto de
62 d.C, e há outros que colocam uma data tardia, entre 45-47 d.C, por causa da proximidade
de Tiago com Paulo, a mensagem da justificação pela fé, e esta teria sido escrita antes do
Concílio de Jerusalém (48 ou 49 d.C). Desta forma, a carta de Tiago seria uma resposta sobre
alguma forma distorcida do ensino de Paulo. Um outro indicador é a falta de conflito entre
judeus e gentios, particularmente no que se refere à lei ritual. Desta forma, seria mais
provável entendermos que a carta teria sido escrita na década de 40, entre os anos 45 e 48
d.C.

COMENTÁRIO DA CARTA

Tiago 1:1-8
As Provações e a sua finalidade

É muito interessante a forma como Tiago se apresenta: “...servo de Deus e do Senhor Jesus
Cristo...” (v.1). A simplicidade da saudação aponta para Tiago, o irmão do Senhor, e líder
principal da igreja em Jerusalém. Ele não reivindica autoridade apostólica, antes se identifica
como “servo” (gr. doulos - ), que também pode ser traduzido como escravo. Ele
revela aqui que a sua posição é um humilde serviço ao seu Mestre, Jesus Cristo.
Este versículo já nos mostra uma grande lição. Enquanto muitos discutem e até brigam por
cargos ou funções, nós não devemos ter este espírito e sim uma atitude de serviço total a
Jesus Cristo. Não há nada mais glorioso do que ser reconhecido como “servo de Deus” ou
“servo do Senhor”. Estes títulos no A.T. mostravam uma posição de honra, e foram aplicados
a homens como Moisés (Dt. 34:5; Dn. 9:11), Davi (Jr. 33:21; Ez. 37:25) e tantos outros que
receberam uma missão especial para cumprirem em nome de Deus. Por isso, não se
preocupe com o título que lhe dão. Se você for reconhecido como servo de Deus, então isso
já é suficiente.
A partir do verso 2 o apóstolo Tiago começa a tratar sobre as provações. Os cristãos devem
se alegrar com as dificuldades, sejam elas externas (provações) ou internas (tentações). Esta
alegria é vinda do Espírito Santo, e é produto da maturidade espiritual. Esta felicidade não
consiste numa resistência masoquista e sim na firmeza e confiança da alma a Cristo Jesus. A
verdadeira felicidade para o cristão consiste em fazer a vontade de Deus. Por isso, mesmo
em circunstâncias adversas, o cristão sabe a razão das provas que passa. Esta teologia que
prega que o cristão não sofrer, não passa por lutas e desafios, é uma teologia fora da
perspectiva bíblica. Em toda a Bíblia podemos ver homens e mulheres de Deus que sofreram,
lutaram e passaram por diversas dificuldades. A vantagem era apenas uma: Eles continuaram
confiando em Deus.
Infelizmente muitas pessoas não entendem como as provações devem ser vistas com alegria.
A resposta está nos versos 3 e 4: “pois vocês sabem que a prova da sua fé produz
perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros
e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma.”. As provações são instrumentos de Deus para o
nosso aperfeiçoamento espiritual. Tiago fala de perseverança como sendo o primeiro produto
da fé que é provada. Mas, o que seria perseverar?
Esta palavra traz a idéia de persistência, da corrida firme até o fim, a despeito das
dificuldades. A palavra grega hupomonê (), que geralmente é traduzido como
“paciência , perseverança”, não tem uma palavra exclusiva no português que possa transmitir
todo o seu significado mais completo. Willian Barclay disse que esta palavra “É a qualidade
que mantém o homem em pé enfrentando o vento. É a virtude que pode transmutar a
provação mais severa em glória porque, além da dor, vê o alvo.” .
Muitos não conseguem vencer os problemas da vida porque lhes falta a perseverança que
consegue ver o alvo além da dor. Muitos cristãos estão desistindo facilmente das coisas
porque está faltando a perseverança. Assim como uma corrida é uma prova de resistência, e
a vida também o é. O Escritor aos Hebreus exortou: “Portanto, também nós, uma vez que
estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos
atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é
proposta...” (Hebreus 12:1). Não podemos escolher a corrida. Ela já está proposta por Deus,
está no programa dEle. Paulo, escrevendo aos Gálatas disse: “Vocês corriam bem. Quem os
impediu de continuar obedecendo à verdade?” (Gálatas 5:7). Quando procuramos fazer a
vontade de Deus isso implicará em dificuldades tremendas, e isso quer dizer que teremos que
perseverar.
Paulo escrevendo aos Romanos disse o seguinte: “Não só isso, mas também nos gloriamos
nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; e a perseverança um
caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não decepciona, porque
Deus derramou seu amor em nossos corações, pelo Espírito Santo que ele nos concedeu.”
(Romanos 5:3-5). Está vendo novamente a palavra perseverança? Ela está em conexão com
tribulação. As lutas nos levam a perseverar, a ir além da dor. O que Deus deseja com isso?
Aperfeiçoar nosso caráter. A tribulação dá uma oportunidade ao Espírito Santo de transformar
a pessoa mais de acordo com a imagem de Jesus Cristo. Se nossa vida fosse apenas
sucesso e alegria, então muito pouco progresso espiritual seria realizado em nossa vida.

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Somente o Espírito Santo é capaz de transformar o sofrimento em perseverança.


Em Hebreus 10:36 podemos ler o seguinte: “Vocês precisam perseverar, de modo que,
quando tiverem feito a vontade de Deus, recebam o que ele prometeu...”. Novamente vemos
a palavra perseverança. Aqui temos a conexão com um alvo. Perseverança não é ficar
sentado estaticamente esperando as coisas, não é resignação diante das circunstâncias.
Perseverança é, como disse Barclay, a esperança majestosa, é a atitude que suporta as
coisas porque sabe que estas coisas o estão levando para um alvo de glória . Por isso
persevere em fazer a vontade de Deus, em buscá-lO. Correr a carreira proposta é fazer a
vontade de Deus. Perseverar é pensar que, apesar de tudo aqui neste mundo, temos uma
coroa de glória a nos esperar.
Em Tiago a palavra perseverança está em conexão com a fé. Quando a nossa fé é provada,
isto produz perseverança. Diante das lutas aprendemos a nos manter mais constantes e
firmes em nossas convicções. As provações fazem com que alcancemos a maturidade e a
integridade em nossa vida.
Em todos estes versículos vemos que a Bíblia não diz que não vamos sofrer. Na corrida da
vida o sofrimento é parte integrante dela. A perseverança trabalha em nós um caráter mais
firme e confiante no poder de Deus. Se estivermos correndo segundo a vontade de Deus,
então o Espírito Santo nos ajudará a ver além dos montes, além das densas nuvens das
tribulações. A perseverança é fruto das tribulações, e isso nos leva a correr melhor. Da
mesma forma que um corredor necessita de um condicionamento físico perfeito, a
perseverança é o condicionamento espiritual para vencermos.
Por isso Tiago propõe que os cristãos busquem a sabedoria vinda da parte de Deus: “Se
algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa
vontade; e lhe será concedida.” (v.5). Esta sabedoria não é conhecimento científico ou
teológico. É possível que Tiago tenha em mente a visão do Antigo Testamento sobre a
sabedoria, em que a fonte dela é o conhecimento do Senhor.

“O temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o


ensino.” (Provérbios 1:7)
“Porque o SENHOR dá a sabedoria, e da sua boca vem a inteligência e o entendimento. Ele
reserva a verdadeira sabedoria para os retos; é escudo para os que caminham na
sinceridade...” (Provérbios 2:6,7)
“Feliz o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento;...O SENHOR
com sabedoria fundou a terra, com inteligência estabeleceu os céus.” (Provérbios 3:13,19)
“Porque melhor é a sabedoria do que jóias, e de tudo o que se deseja nada se pode comparar
com ela.” (Provérbios 8:11)
“O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência.”
(Provérbios 9:10)
“O temor do SENHOR é a instrução da sabedoria, e a humildade precede a honra.”
Provérbios 15:33
“Quanto melhor é adquirir a sabedoria do que o ouro! E mais excelente, adquirir a prudência
do que a prata!” Provérbios 16:16
“Não há sabedoria, nem inteligência, nem mesmo conselho contra o SENHOR.”
(Provérbios 21:30)
“Compra a verdade e não a vendas; compra a sabedoria, a instrução e o entendimento.”
(Provérbios 23:23)
“Então, sabe que assim é a sabedoria para a tua alma; se a achares, haverá bom futuro, e
não será frustrada a tua esperança.” (Provérbios 24:14)

Além destes versículos existem muitos outros no Antigo Testamento que refletem a fonte da
sabedoria: Deus. Tiago explica que se pedirmos a Deus sabedoria, Ele nos dará livremente.
Aqui a palavra haplos () significa também “simplesmente, incondicionalmente, sem
barganha” . A idéia é de franqueza, de coração aberto. Deus está pronto para nos ajudar a
viver uma vida cristã mais firme e constante. Esta sabedoria representa também o
discernimento que o Senhor nos dá para vivermos mais na dimensão espiritual do que na
dimensão deste tempo presente.
E finalmente dos versos 6 a 8, Tiago nos dá a principal exigência para termos sabedoria: Fé.
“Peça-a, porém, com fé, sem duvidar, pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar,
levada e agitada pelo vento. Não pense tal pessoa que receberá coisa alguma do Senhor,
pois tem mente dividida e é instável em tudo o que faz.”.
A fé consiste na confiança em Deus numa entrega total e plena nas mãos de Cristo. Porém,
no relacionamento com Deus às vezes passaremos por momentos de dúvida. Porém o oposto
da fé não é a dúvida, mas o medo. Por que? Porque o medo paralisa, tira a perspectiva do
alvo. A dúvida nos mostra o risco, e sem o elemento risco não há fé. Quando Tiago fala em
dúvida aqui no texto, a palavra grega é diakrinomenos (), e
significa “dividir, duvidar, vacilar, estar em dúvida consigo mesmo” . A dúvida acompanhada do
medo pode levar a descrença, mas as dúvidas que surgem como indagações da mente
humana não pode ser desconsiderada. Eu creio que Deus leva muito a sério as nossas
dúvidas, e por isso o medo e não a dúvida seria o maior inimigo da fé. Mas a dúvida pode me
levar a incredulidade? Sim, se não for apresentada a Deus com sinceridade. Como disse
Philip Yancey: “A invisibilidade de Deus é garantia de que experimentaremos momentos de
dúvida.” . Grandes homens e mulheres da Bíblia oscilaram entre a fé e a dúvida. A diferença é
que eles resolveram crer em Deus apesar de não verem Sua ação e algumas vezes não

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ouvirem Sua voz. A dúvida com medo nos afasta de Deus. A dúvida sincera e aos pés de
Deus pode nos levar a crer mais nEle. Todos nós devíamos, de vez em quando, orar como o
homem a quem Jesus curou o filho: “...Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade!”
(Marcos 9:24). A dúvida sempre anda com a fé; enfim, na certeza, quem precisaria de fé?
Ter fé é pôr-se a caminho, sem destino definido e talvez sem uma visão clara do próximo
passo. A peregrinação da fé não é como muitos falam por aí em um triunfalismo épico. A
peregrinação da fé inclui erros de cálculo, grandes emoções e dificuldades, longos períodos
de espera e uma caminhada cansativa. Por mais que você esteja preparado nunca eliminará
os riscos. Haverá sempre uma tempestade a enfrentar. A fé cristã é uma conformação à
vontade de Deus seja ela qual for.

Tiago 1:9-11
A Humildade

Tiago passa a trabalhar aqui um tema muito importante: a Humildade. Infelizmente muitos
cristãos têm perdido a visão correta da humildade. Jesus em sua vida andou como servo e
humildemente cumpriu sua missão. Ele disse de Si mesmo o seguinte: “Venham a
mim...Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de
coração...” (Mateus 11:28,29). Paulo quando falou de Jesus aos filipenses, lembrou-lhes um
antigo hino da igreja que dizia: “E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si
mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Filipenses 2:8).
O verso 9 está escrito assim: “O irmão de condição humilde deve orgulhar-se quando estiver
em elevada posição.”. É certo que Tiago, quando fala de “irmão humilde”, tem em mente a
condição financeira. A palavra grega tapeinos () não está aqui no sentido
espiritual, como aparece em outros textos do Novo Testamento. O sentido é de pobre e
afligido, em contraste com o rico. É possível que Tiago, escrevendo para os irmãos da Judéia
e da Síria, esteja ressaltando a condição econômica daqueles irmãos. A Bíblia nos fala de
uma grande fome que ocorreu na Palestina e que isso tenha produzido muito sofrimento aos
cristãos (At. 11:28,29; 2 Co. 8:16-9:5).
Diante disso o apóstolo recomenda: “...deve orgulhar-se quando estiver em elevada posição.”.
Aqui parece ter uma contradição, mas não é. Este “orgulhar-se” não significa vanglória ou
arrogância, mas como diria Douglas J. Moo, “o alegre orgulho possuído pela pessoa que
valoriza o que Deus valoriza.” . A palavra grega hypsei () vem de hypsos (),
e significa “alto”. Aqui em Tiago, esta palavra está em contraste com tapeinos, e pode ser
traduzida como “exaltação” (ARA), “dignidade”. Esta dignidade aponta para o status espiritual
daquele que vive na esperança de participar do reino glorioso de Cristo. Daí porque Tiago
afirma posteriormente: “...Não escolheu Deus os que são pobres aos olhos do mundo para
serem ricos em fé e herdarem o Reino que ele prometeu aos que o amam?” (Tg. 2:5). O
cristão pobre deve lembra-se que é servo de Deus, e que não há outro título mais importante
que este.
Nos versos 10 e 11 Tiago continua: “E o rico deve orgulhar-se caso passe a viver em condição
humilde, porque o rico passará como a flor do campo. Pois o sol se levanta, traz o calor e
seca a planta; cai então a sua flor, e a sua beleza é destruída. Da mesma forma o rico
murchará em meio aos seus afazeres.”. A orientação do apóstolo é que o rico, da mesma
forma que o pobre, deve olhar para além das circunstâncias adversas, procurando vislumbrar
os valores espirituais. Nosso olhar não deve estar voltado para as coisas ou circunstâncias
deste mundo, e sim para o reino celestial. Nunca podemos esquecer que as coisas deste
mundo são transitórias e que, ao invés de buscarmos as riquezas materiais, devemos buscar
as riquezas espirituais, pois estas são verdadeiras. Jesus disse: “Não acumulem para vocês
tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam.
Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem, e
onde os ladrões não arrombam nem furtam.” (Mt. 6:19,20). Por isso é estupidez gloriar-se nas
riquezas materiais. O cristão rico deve aprender duas lições aqui.
A primeira é estar consciente de que, aos olhos do mundo o status é um, porém diante de
Deus a coisa é diferente. A lição é manter a visão correta, ou seja, a verdadeira posição que
permanece é a espiritual. Só assim é possível experimentar as bênçãos de Deus. Em
segundo lugar, o cristão rico deve se identificar com Jesus e ter a mesma postura que Ele
teve (Fp. 2:8), pois como disse Jesus, aquele que se humilha será exaltado (Mt. 23:12).
Tiago está exortando tanto cristãos ricos como pobres. Humildade não tem nada a ver com
“coitadinhos”, com pessoas com uma aparente pobreza exterior e uma dureza de coração. Em
ambos os casos o cristão deve colocar sua confiança em Jesus Cristo. Por isso no verso 11
Tiago traz a memória uma cena comum para aqueles cristãos da Palestina, citando Isaías
40:6,7. As flores que surgiam na primavera secavam de repente com o calor escaldante do
sol. Tiago está lembrando aqui a finitude humana e que por isso é vã a confiança em coisas
deste mundo. O “murchar” refere-se claramente à morte.

Tiago 1:12-18
Tentação e Provação

Tiago retoma novamente o tema das provações, incluindo agora o tema da tentação.
Infelizmente muitos cristãos não sabem discernir quando estão passando por provações e
quando estão sofrendo tentações. Este texto também é revelador no sentido de destruir
aquela “teologia” que diz que cristão não sofre. Quem prega isso é um mentiroso e será

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julgado por Deus. Fico muito inquieto quando percebo pregadores que anunciam um
evangelho utópico e ufanista, criadores de super-homens e mulheres maravilhas, que amanhã
serão os maiores céticos e revoltados contra Deus, pois viram seus sonhos serem frustrados
de uma hora para outra. Estes pregadores que correm atrás de lucros e pregam um
evangelho de facilidades e mercantilista, são enganadores e falsos profetas.
O apóstolo começa assim: “Feliz é o homem que persevera na provação, porque depois de
aprovado receberá a coroa da vida, que Deus prometeu aos que o amam.” (v.12). Temos a
palavra makairos (), que é a mesma palavra que aparece no discurso de
Jesus no Sermão do Monte. Esta palavra corresponde ao termo hebraico ’ashrê, e indica
felicidade, alegria. Para Tiago, a provação é uma bênção que o cristão não pode renegar. A
palavra grega para provação é peirasmos (), que pode ser traduzida
também como tentação. A provação é uma ação divina, em que Deus permite que passemos
por momentos difíceis e que visa o nosso melhoramento. Esta ação divina pode ser vista com
clareza nas Escrituras. Por exemplo, a Bíblia diz que Deus colocou Abraão à prova pedindo
seu filho em sacrifício (Gênesis 22:1). Jó questiona porque o homem é posto à prova, se para
Deus este não é nada (Jó 7:17,18). Paulo ressalta o amor das igrejas da Macedônia, apesar
de estarem passando grandes provas e tribulações (II Coríntios 8:2). E o escritor aos Hebreus
ressalta a fé de Abraão e de outros que sofreram provas e foram aprovados por Deus
(Hebreus 11:17,36).
A Bíblia nos mostra a tentação como uma prova, um teste no sentido irrestrito, em que a
pessoa é avaliada e suas qualidades são postas à prova. Mesmo sabendo que esta é uma
ação de Satanás tentando desestabilizar os homens, sabemos que ele só age mediante
permissão divina. Ou seja, Deus pode permitir que sejamos tentados, tendo em vista uma
ação que nos beneficiará.
Então Deus seria também um tentador? A resposta é não! Tiago nos diz: “Quando alguém for
tentado, não diga: ‘Esta tentação vem de Deus’. Pois Deus não pode ser tentado pelo mal e
ele mesmo não tenta a ninguém.” (Tg. 1:13). Devemos entender que Satanás não age sem
permissão de Deus. Quem é o Senhor de todas as coisas no Universo é Deus e mais
ninguém. Basta ler o início da história de Jó e você verá que Satanás não agiu
independentemente. O que faz os homens serem tentados é o desejo pecaminoso e isto não
provém de Deus: “Mas as pessoas são tentadas quando são atraídas e enganadas pelos
seus próprios maus desejos. Então esses desejos fazem com que o pecado nasça, e o
pecado, quando já está maduro, produz a morte.” (Tg. 1:14,15). O importante é você saber
que pode vencer a tentação. A tentação em si não se constitui pecado. Cristo foi tentado
assim como nós mas não pecou (Mt. 4:1; Hb. 4:15). A tentação só se torna pecado quando a
sugestão de fazer errado é aceita.
A Bíblia nos encoraja a vencer as tentações porque a força para isto vem de Deus: “As
tentações que vocês têm de enfrentar são as mesmas que outros enfrentam; mas Deus
cumpre a sua promessa e não deixará que vocês sofram tentações que vocês não têm forças
para suportar. Quando uma tentação vier, Deus dará forças a vocês para suportá-la, e assim
vocês poderão sair dela.” (I Co. 10:13; II Pe. 2:9; Ap. 3:10). Cristo pode nos ajudar porque Ele
sabe o que é ser tentado (Hb. 2:18).
Há com certeza uma diferença substancial entre a tentação e a provação. Quando somos
tentados o apelo é para que nos deixemos levar pelas obras da carne e ceder aos nossos
desejos pecaminosos. Quando estamos sendo provados o nosso caráter está sendo testado a
fazer o mesmo que Jesus fez. Na provação temos a chance de andar nos mesmos passos de
Jesus. Diferente da tentação, a provação se torna um desafio, um alvo a ser alcançado. Pedro
escrevendo as igrejas que estavam sendo perseguidas, diz: “Nisso vocês exultam, ainda que
agora, por um pouco de tempo, devam ser entristecidos por todo tipo de provação. Assim
acontece para que fique comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o
ouro que perece, mesmo que refinado no fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e
honra, quando Jesus Cristo for revelado.” (I Pedro 1:6,7).
Por isso Tiago termina destacando a pessoa de Deus e Seu caráter. O clamor do apóstolo é
que ninguém se deixe enganar (v.16). Nos versos 17 e 18 ele ressalta as qualidades divinas:
“Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda
como sombras inconstantes. Por sua decisão ele nos gerou pela palavra da verdade, a fim de
sermos como que os primeiros frutos de tudo o que ele criou.”. Vejamos as maravilhosas
qualidades de Deus:

• Ele é Bondoso: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto...”, ou seja, Deus é
gracioso para com todos. Sua bondade é atemporal e toda ação sua visa gerar vida nos
homens. Deus é a fonte de todo bem e isso contrasta com a maldade humana, o pecado e as
conseqüências desta ação. A expressão “do alto” parece ser um eufemismo em lugar de
“Deus”. Como os judeus queriam evitar mencionar diretamente o nome divino, substituíam
pela expressão “céu”. Daí se originou a expressão “Reino dos Céus”, ou seja, o lugar da
habitação de Deus.
• Ele é Imutável: “...descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes.”.
A expressão “Pai das luzes” é única em toda a Escritura. É certo que “luzes” se refere aos
corpos celestes, incluindo o sol, a lua e as estrelas (Sl. 136:7-9; Jr. 31:35). A Bíblia atesta que
o firmamento dos céus é obra criadora de Deus (Jó 38:4-15, 19-21,31-33; Is. 40:22,26). Ele
como Pai mostra-se bondoso desde sua criação e sua bondade não muda. Logo depois Tiago
aponta para três palavras: variação, que no grego é parallagê () é um
termo astronômico, em que os corpos celestes estão em movimento e mudanças nas relações

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espaciais. Deus não é como os planetas que se movem. Ele é permanente, sendo a fonte do
bem nunca do mal; mudança, que no grego é tropês (), e também é um termo
astronômico, sendo uma palavra empregada para indicar o movimento dos corpos celestes.
Este termo está ligado a terceira palavra, sombra, que no grego é aposkiasma
(), indicando mudanças na posição do sol e que modificam as sombras
projetadas por sua luz. Tiago tenta relacionar a criação e sua mutabilidade, com a
imutabilidade e constância de Deus. Podemos confiar no Senhor porque a Sua ação é a
mesma. Ele não é inconstante como a natureza e os seres humanos.
• Ele é Senhor: “Por sua decisão ele nos gerou pela palavra da verdade, a fim de sermos
como que os primeiros frutos de tudo o que ele criou.”. E como Senhor Ele decidiu agir
espontaneamente. É isso que a palavra grega boulêtheis () quer dizer. A
vontade de Deus dá vida, e isso não pode vir nunca dos homens. Por isso Ele não pode ser o
agente da tentação, pois tudo aquilo que procede de Deus é bom. Nesta decisão Ele nos
“gerou”, ou seja, a ênfase aqui é o novo nascimento. A partir da “palavra da verdade”, que é
Cristo (Jo. 1:1; 14:6), nascemos de novo e passamos a fazer parte da família de Deus (Hb.
2:10,11). Em Cristo nasce uma nova geração, que não é gerada pela carne nem o sangue,
mas pelo Espírito (Jo. 3:3-8). E tudo isso aconteceu para que fôssemos os “primeiros frutos”.
Um filho primogênito tinha privilégios superiores, tais como, lugar de precedência na família,
exercia autoridade sobre os irmãos mais novos, recebia uma bênção especial de seu pai, bem
como a autoridade paterna e uma dupla porção na herança. Cristo é o primogênito (Cl. 1:18),
e nele todos os crentes passam a participar de seus poderes e privilégios (Hb.12:23). Os
primeiros frutos também apontam para as colheitas, onde os melhores frutos eram dedicados
a Deus. Assim, Deus é honrado com a dedicação das vidas daqueles que se submetem a Ele.
A tentação nunca pode vir de um Deus tão maravilhoso e sublime como Ele é. A tentação vem
por causa do pecado, da carne que habita em nós e que tenta nos levar a fazer aquilo que
desagrada a Deus. A tentação é operada por Satanás a fim de que nos afastemos de Deus.
Já a provação é um momento em que a nossa fé passa por um teste. A provação visa sempre
o melhor da nossa vida, o aperfeiçoamento de nosso caráter.

Tiago 1:19-27
Ouvindo e Praticando a Palavra

A carta de Tiago é muito prática. O apóstolo não vê o cristianismo como mera contemplação,
mas na ação firmada naquilo que a Palavra de Deus afirma. Nesta parte Tiago começa com
uma afirmação importantíssima: “Meus irmãos, tenham isto em mente: Sejam todos prontos
para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se, pois a ira do homem não produz a justiça
de Deus.” (v.19,20).
Um dos grandes desafios da igreja é vivenciar a unidade de forma concreta. É possível que
Tiago estivesse observando alguns pontos de contenda entre os irmãos, fruto do egoísmo de
estar sempre em evidência. Geralmente somos nós mesmos os maiores culpados por alguns
problemas que ocorrem na igreja. E por que? Porque não sabemos ouvir as pessoas. Ouvir é
tão importante quanto falar. Em Provérbios 19:11 podemos ler o seguinte: “A sabedoria do
homem lhe dá paciência.”. E em Provérbios 14:29 temos a seguinte afirmação: “O homem
paciente dá provas de grande entendimento.”. Se você quer aprender a ser paciente, o
segredo é ter entendimento. A Bíblia diz que a chave da paciência é o entendimento. Quando
mais sabedoria, mais entendimento você tem. Quanto mais entendimento você tenha das
pessoas, mais paciência você terá com elas. Se você não procura entender as pessoas, não
terá paciência com elas. Se você não entende as pessoas, não haverá relacionamento,
porque relacionamentos são baseados em entendimento. Este é um ponto fundamental. Sem
entendimento não há relacionamento. Entendimento é o alicerce para relacionamentos.
Como eu posso me tornar melhor entendedor das pessoas em minha vida? Ouvindo as
pessoas que estão ao meu redor. E não apenas por escutá-las, mas por ouvi-las. Em
Provérbios 18:13 podemos ler: “Quem responde antes de ouvir mostra que é tolo e passa
vergonha”. Isto é bem claro! Não avalie o que as pessoas fazem ou o que você ouve até ouvir
tudo. Deus nos deu dois ouvidos e uma boca – o que significa que você deve ouvir duas
vezes mais do que falar. Por isso Tiago adverte: “Sejam todos prontos para ouvir, tardios para
falar e tardios para irar-se”. O texto literalmente diz que o homem deve ser rápido em ouvir,
que vem do grego tachys (), ou seja rápido, depressa, ligeiro; e lento em falar e
irar-se, que no grego é a palavra bradys (), ou seja, lento, demorado.
Existe uma rã grande que emite som de grunhido. Esta rã tem um músculo que manda uma
vibração para o cérebro que cancela o som do seu forte coaxar. Quando a rã emite o som
forte, ela não se ouve. As duas vibrações cancelam uma a outra. Ela não ouve o potente som
que faz. Cada vez que ela coaxa, seu cérebro cancela o som para ela. Aqui está o princípio: É
difícil ouvir com a boca aberta!
Um jovem chegou para Sócrates pediu para que ele o ensinasse a ser um orador. O jovem
falava sem parar, incessantemente. Sócrates então coloca a mão tapando a boca do rapaz e
diz: “Eu vou ter de cobrar de você dobrado, porque vou precisar ensinar duas ciências a você.
Primeiro, a ciência de segurar sua língua e segundo, a ciência de usá-la corretamente”.
O que podemos aprender? Que a nós mesmos criamos mal entendidos, e desta forma
necessitamos urgentemente colocar em prática o princípio bíblico. Tiago está advertindo que
a ira descontrolada, as palavras ásperas , nocivas e irrecuperáveis são prejudiciais e não

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promovem a justiça de Deus. Justiça aqui não está apontando ao caráter de Deus e sim ao
modo de vida, em atos e pensamentos que Ele solicita de nós. Podemos ver este conceito
muitas vezes em Paulo. Por exemplo, Filipenses 3:9 diz: “e ser encontrado nele, não tendo
minha própria justiça que procede da Lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo, a justiça
que procede de Deus e se baseia na fé.”. Em Efésios 4:24 também podemos ler: “a revestir-se
do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes
da verdade.”. A ira não faz com que as pessoas sejam melhores e passem a viver segundo o
propósito divino. O amor, este sim, é capaz de transformar vidas e levá-las a viver de modo
digno do evangelho.
No verso 21 Tiago mais uma vez adverte os cristãos: “Portanto, livrem-se de toda impureza
moral e da maldade que prevalece, e aceitem humildemente a palavra implantada em vocês,
a qual é poderosa para salvá-los.”. Como cristãos a nossa vida deve falar mais que o nosso
discurso. Não podemos ser praticantes da Palavra vivendo um estilo de vida corrompido.
Neste versículo podemos encontrar alguns vocábulos que apontam para esta idéia. Tiago diz,
“livrem-se”, em que no grego aparece como apothemenoi () e que
significa “pôr para fora, despojar-se”, uma metáfora que indica o ato de tirar roupas. O cristão
deve se livrar de tudo aquilo que impede o crescimento espiritual e uma vida mais
comprometida.
Por isso Tiago traz a afirmação: “livrem-se de toda impureza moral e da maldade que
prevalece”. Impureza aqui vem do grego ryparia (), e significa “sujeira,
imundícia”. A palavra era usada para descrever roupas sujas, bem como uma conduta moral
impura e vulgar. E maldade vem do grego kakia (), e significa mal, maldade,
malícia. Esta palavra também pode ser traduzida como “iniqüidade”. Desta forma, impureza e
maldade representam uma postura indigna para aquele que se chama cristão.
A atitude correta é aceitar “humildemente a palavra implantada”, ou seja, acolher os preceitos
divinos, vivendo por eles. O vocábulo emphytos (), e indica que o evangelho
de Cristo passa a dominar o nosso ser por inteiro, formando em nós uma nova perspectiva de
vida. Esta palavra implantada nos leva a desfrutar da obra da salvação em toda sua plenitude.
A prática sempre está ligada ao ouvir bem, caso contrário, as nossas ações ficam
comprometidas. Por isso no verso 22 Tiago traz a seguinte afirmação: “Sejam praticantes da
palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos.”. Champlin ao comentar este
versículo disse: “A igreja cristã conta com muitos teístas teóricos que, na realidade, são ateus
práticos. Esses são os que ouvem a Palavra, mas não põem em prática aquilo que ouvem;
aprovam sermões e lições, a leitura bíblica e as orações, mas agem com base em motivos
egoístas, não estando verdadeiramente motivados a viver segundo os moldes da dimensão
eterna.” . Isso nos mostra que freqüentar a igreja apenas não é suficiente. Deus não está
preocupado com nossa religiosidade e sim com nossa praticidade. O ativismo não
impressiona a Deus e sim um coração contrito e pronto a obedecê-lO. O tempo presente
neste versículo indica ação contínua, solicitando um hábito de vida.
Podemos encontrar em todo o Novo Testamento a orientação de sermos mais que ouvintes.
Jesus disse: “...Antes, felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e lhe obedecem.”
(Lucas 11:28). Paulo escrevendo aos romanos disse: “Porque não são os que ouvem a Lei
que são justos aos olhos de Deus; mas os que obedecem à Lei, estes são declarados justos.”
(Rm. 2:13). A Palavra que nos gerou, dando uma nova vida (v.18), e que foi implantada em
nós (v.21), é a Palavra que deve ser colocada em prática.
Dos versos 23 a 25 Tiago tenta demonstrar o contraste entre o que ouve e pratica a Palavra e
aquele que é apenas um ouvinte sem fortes convicções. Aquele que é apenas ouvinte é
comparado “...a um homem que olha a sua face num espelho e, depois de olhar para si
mesmo, sai e logo esquece a sua aparência.” (v.23,24). Já aquele que ouve e pratica é como
“o homem que observa atentamente a lei perfeita, que traz a liberdade, e persevera na prática
dessa lei, não esquecendo o que ouviu mas praticando-o, será feliz naquilo que fizer.” (v.25).
Podemos ver aqui um contraste claro entre o “esquecer” do verso 24 e o “perseverar” do
verso 25. E o que diferencia o ouvinte do praticante? A obediência. Jesus no sermão da
montanha faz a distinção entre o sábio e o insensato, ou seja, aquele que vive e o que não
vive na prática da sua palavra (Mt. 7:24-27).
É interessante notar que aquele que pratica vive na lei da liberdade e que é perfeita. Mas que
lei é esta? Paulo escrevendo às igrejas da Galácia, disse: “Foi para a liberdade que Cristo nos
libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de
escravidão...Irmãos, vocês foram chamados para a liberdade. Mas não usem a liberdade para
dar ocasião à vontade da carne; ao contrário, sirvam uns aos outros mediante o amor.” (Gl.
5:1,13). A lei da liberdade é a lei do Espírito, em que somos dirigidos por Ele de forma a
cumprimos a vontade de Deus em nossa vida.
E o que ocorre quando colocamos em prática a Palavra de Deus? Nós conseguimos
vislumbrar a verdadeira dimensão do cristianismo. Nos versos 26 e 27 Tiago fala da
verdadeira religião. A palavra grega thrêskos () significa “pio, religioso, aquele
que observa cuidadosamente a ação religiosa”. A palavra denota alguém que permanece no
temor dos deuses. Devemos entender que Tiago não está falando aqui de uma religião
específica, pois nenhuma religião pode aproximar o homem de Deus . A religião aqui se
apresenta como uma atitude de culto e reverência a Deus. Nosso sacrifício mais agradável a
Deus é uma vida reta diante dEle.
Como Tiago é prático, ele coloca as condições da verdadeira devoção a Deus. É importante
entender que ele não está tentando envolver tudo, mas aponta para ações básicas que nos
levam a entender a verdadeira adoração a Deus.

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• Dominar a língua: No verso 26 ele fala que aquele que não refreia a língua está enganando
a si mesmo e sua religião não tem valor algum. Neste versículo encontramos a palavra grega
chalinagôgôn (), e significa “levar com um freio ou cabresto, refrear”.
A idéia é que o homem tem que colocar um freio em sua própria boca, não em outra pessoa.
Se um cristão não consegue refrear sua língua, então toda e qualquer atitude de devoção sua
nada mais é que um teatro, pois não tem valor (mataios) algum para Deus. No grego, mataios
(), significa “vão, vazio, inútil, improdutivo”.
• Cuidado Social: No verso 27 podemos encontrar esta indicação apontando para os órfãos e
viúvas. A palavra grega episkeptesthai () significa “olhar, cuidar,
visitar, auxiliar”. Geralmente esta palavra era usada indicando a visita aos enfermos. O
cuidados aos órfãos e viúvas está prescrito no Antigo Testamento como forma de imitar o
próprio cuidado de Deus com estas pessoas (Êx. 22:22; Dt. 10:18; 14:29; 24:17,19-21;
26:12,13; 27:19). Podemos ler o Salmo 68:5 (ARA) que diz: “Pai dos órfãos e juiz das viúvas é
Deus em sua santa morada.”. Em Isaías podemos ver o profeta dizer: “Lavem-se! Limpem-se!
Removam suas más obras para longe da minha vista! Parem de fazer o mal, aprendam a
fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão,
defendam a causa da viúva.” (Is. 1:16,17). Os cristãos que desejam ser reconhecidos como
filhos de Deus devem imitar a conduta dEle.
• A Pureza Moral: Tiago fala de “não se deixar corromper pelo mundo” (v.27). Isto significa
evitar o modo de vida do mundo com seu sistema de valores corrompido. É necessário acima
de tudo um coração puro diante de Deus. Como diz Paulo: “Não se amoldem ao padrão deste
mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente...” (Rm. 12:2a).

O cristão autêntico é aquele que sabe ouvir, agindo não debaixo da ira humana, tendenciosa
e pecaminosa, mas deixando o Espírito produzir a justiça necessária para a transformação
interior do homem. Sabe praticar a Palavra, vivendo de forma coerente a ponto de demonstrar
em suas atitudes a verdadeira religião.

Tiago 2:1-13
Todos São Iguais Perante Deus

Se há algo em que o cristianismo deve se envergonhar em sua história, com certeza se refere
à discriminação racial e social. Podemos ler na história da igreja pecados realizados contra os
negros, judeus, mulçumanos e os pobres e mais necessitados. Apesar de sabermos que o
cristianismo tem como base o amor a Deus e ao próximo, as cruzadas, a escravidão, o
apartied, o apoio a governos despóticos, a Klu Klux Khan, o nazismo e tantas outras coisas
mancham a caminhada da igreja na história. Todas as vezes que a igreja se aliou ao Estado
ela se afastou dos princípios do Novo Testamento. Quanto mais a igreja se ilude com o poder
temporal mais ela se afasta do poder divino.
Tiago a partir do capítulo 2 passa a mostrar que a acepção de pessoas é terminantemente
uma agressão aos princípios de Cristo. No verso 1 ele afirma: “Meus irmãos, como crentes em
nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença entre as pessoas, tratando-as com
parcialidade.”. Queremos destacar a palavra prosôpolêmpsia (),
que significa “aceitar uma pessoa pela sua aparência, acepção de pessoas, parcialidade” .
Uma tradução mais literal seria “recepção de face”, indicando que alguém estaria observando
muito mais o exterior do que o interior, fazendo julgamentos e estabelecendo diferenças
baseadas nestas condições exteriores, tais como aparência física, status social ou raça.
O clamor do apóstolo é que como cristãos jamais façamos estas coisas. Por que? Porque
Deus não trata ninguém assim. Em Romanos 2:11 Paulo afirma: “Pois em Deus não há
parcialidade.”. Em Efésios 6:9, advertindo aos senhores como deviam agir com seus
empregados, Paulo assegura: “Vocês, senhores, tratem seus escravos da mesma forma. Não
os ameacem, uma vez que vocês sabem que o Senhor deles e de vocês está nos céus, e ele
não faz diferença entre as pessoas.”. O povo de Deus deve agir da mesma forma que o
Senhor nesta questão. No Antigo Testamento podemos ler diversas passagens que reforçam
a idéia de Deus como justo em seu tratamento com os seres humanos. Em Levítico 19:15,18
Deus ordena: “Não cometam injustiça num julgamento; não favoreçam os pobres, nem
procurem agradar os grandes, mas julguem o seu próximo com justiça...Não procurem
vingança, nem guardem rancor contra alguém do seu povo, mas ame cada um o seu próximo
como a si mesmo. Eu sou o SENHOR.”. Em Deuteronômio 10:17,18 Moisés lembra o caráter
de Deus: “Pois o SENHOR, o seu Deus, é o Deus dos deuses e o Soberano dos soberanos, o
grande Deus, poderoso e temível, que não age com parcialidade nem aceita suborno. Ele
defende a causa do órfão e da viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe alimento e roupa.”.
Se há algo que não pode existir na igreja é a lisonja insincera, o favoritismo político e a
acepção dos irmãos. Esta divisão de “castas espirituais” que hoje existe na igreja, formada
pelos “espirituais” do momento e o restante do povo, revela uma destas tragédias em que vive
a igreja no Brasil hoje. Apóstolos, profetas, bispos e tantas outras nomenclaturas agridem a
Deus e afastam as pessoas. Tenho que concordar com Robison Cavalcanti que escreveu o
seguinte: “De repente o episcopalismo, antes raro em nossa tradição reformada (anglicanos,
metodistas) vai recebendo novas adesões. O que não nos falta são bispos – não com
sucessão apostólica, mas ‘auto-ungidos’. Se é possível que em breve tenhamos arcebispos,
cardeais e patriarcas (algo ainda modesto), já somos honrados pela presença de alguns
“apóstolos” (antes apanágio do mormonismo). É o velho caudilhismo/messianismo ibérico

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redivivo.” . Infelizmente muitos cristãos no Brasil estão esquecendo de ler a Bíblia que diz:
“Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e
cita, escravo e livre, mas Cristo é tudo e está em todos.” (Cl. 3:11).
Por isso Tiago conta uma pequena história para ilustrar esta ação. A preocupação do apóstolo
é que este comportamento não seja praticado nas reuniões da igreja . Na igreja deve sempre
haver um clima de aceitação e amor. Diante de Deus não somos vistos pelos nossos títulos
humanos mas pela nossa condição espiritual. Na Sua presença somos todos pecadores que
estão debaixo da graça salvadora de Jesus Cristo. E como seguidores de Jesus devemos
tratar todos com igual respeito e consideração . Como cristãos não podemos agir pela
aparência e muito menos usarmos títulos entre nós, tais como doutor fulano, etc. Esta atitude
só mostra que o critério é errado. Na igreja somos todos servos e irmãos.
Dos versos 5 a 7 o apóstolo lembra que observar o exterior é uma visão errada daquilo que
Deus realmente vê. Tiago não está condenando a riqueza mas mostrando que a nossa
salvação não depende do que materialmente temos. O reino é prometido aqueles que amam
a Deus, sejam eles ricos ou pobres (v.5). O que Tiago deseja despertar nos cristãos é a
percepção de que eles são ricos na fé, pois a nossa verdadeira riqueza está guardada nos
céus (1 Pe. 1:3,4). Mas por que Tiago parece dar ênfase ao mais pobre? Porque a maioria da
igreja era feita de pobres e escravos. Poucos eram intelectuais, ricos e livres. Com isso dá
para entendermos o contexto da mensagem do apóstolo.
Diferente do nosso tempo, em que a igreja está embevecida com a Teologia da Prosperidade,
amarrada com o consumismo, em que cada cristão é mais um consumidor em potencial de
artistas do cenário evangélico, a pobreza, antes uma virtude, passou a ser maldição. Milhares
de pessoas estão à busca de Deus, em templos majestosos e superlotados, para ouvirem os
profetas de ocasião, com mensagens de poder e do sobrenatural. Palavras de ordem,
reivindicações em nome de Deus para a busca de bens materiais. Os cristãos evangélicos do
Brasil perderam a esperança escatológica, não vislumbram mais o Reino dos Céus, não
enxergam mais as riquezas celestiais, deixaram de ser peregrinos para se fixarem como
latifundiários desta terra corrompida. Não querem os novos céus e a nova terra, mas agora
toma posse de algo que está destinado a destruição. A igreja no Brasil está na onda
capitalista e consumista de mercado onde há igreja para todos os gostos, de punks a
homossexuais, a liberais a ortodoxos, de pentecostais a tradicionais. Parece que a igreja tem
deixado de lado os princípios de Cristo de unidade, amor, compaixão, misericórdia, bondade e
esperança.
Por isso Tiago no verso 8 diz: “Se vocês de fato obedecerem a lei do Reino encontrada na
Escritura que diz: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’, estarão agindo corretamente.”. Esta
é a Lei do Reino: Amar o próximo como a si mesmo. É querer o melhor do outro como
queremos a nós mesmos. Este é o princípio poderoso contra a acepção de pessoas. A Bíblia
não diz para tratar bem somente os ricos ou os pobres, nem doutores ou iletrados apenas. A
Bíblia diz que devemos agir com justiça para com todos. A parcialidade é pecado, como diz o
verso 9: “Mas se tratarem os outros com parcialidade, estarão cometendo pecado e serão
condenados pela Lei como transgressores.”. O mandamento do amor mostra a vontade de
Deus para cada um de nós. Jesus disse: “Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos
outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que
vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros.” (Jo. 13:34,35). O padrão
deste amor deve ser o de Cristo. Se andarmos de forma contrária a este padrão, então não
adiantará nenhuma expressão de espiritualidade, pois como afirmou o próprio João: “Nós
amamos porque ele nos amou primeiro. Se alguém afirmar: ‘Eu amo a Deus’, mas odiar seu
irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a
quem não vê, Ele nos deu este mandamento: Quem ama a Deus, ame também seu irmão.” (1
Jo. 4:19-21).
Tiago termina sua explicação sobre o assunto afirmando: “Falem e ajam como quem vai ser
julgado pela lei da liberdade; porque será exercido juízo sem misericórdia sobre quem não for
misericordioso. A misericórdia triunfa sobre o juízo.” (v.12,13). O cristianismo deve ter sempre
uma postura coerente. Como a acepção de pessoas é pecado, e como cristãos devemos agir
pela lei do amor, então o nosso procedimento deve ser o mesmo da nossa mensagem. No
amor devemos ter uma conduta imparcial para com todos, já que seremos julgados pela lei da
liberdade (já tratada em Tg. 1:25). Nunca devemos nos esquecer deste dia onde todos
seremos julgados pelas nossas palavras (Mt. 12:36,37) e nossas ações (2 Co. 5:10). O mais
interessante desta lei da liberdade é que o Espírito de Deus nos ajuda a fazermos a vontade
de Deus sem que esta fosse um peso ou uma ameaça.
Por isso a advertência do verso 13 reforça o versículo anterior. A lei da liberdade deve ser
sempre exercida com misericórdia. Em Zacarias 7:9,10 podemos ler o seguinte: “Assim diz o
SENHOR dos Exércitos: Administrem a verdadeira justiça, mostrem misericórdia e compaixão
uns para com os outros. Não oprimam a viúva e o órfão, nem o estrangeiro e o necessitado.
Não tramem maldades uns contra os outros.”. A continuidade da acepção de pessoas por
parte dos cristãos pode trazer o perigo de enfrentar um julgamento severo. Da mesma forma
que Deus nos trata com misericórdia, devemos tratar as pessoas do mesmo jeito.

Tiago 2:14-26
Fé e Obras

Aqui temos um texto que vai fundamentar a fé mediante a ação. Para alguns esta parte de
Tiago parece contradizer toda a doutrina da justificação pela fé pregada por Paulo. Mas isto

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não é verdade. Tiago e Paulo se complementam aqui. Ambos se preocupam com o estilo de
vida dos cristãos diante de Deus. A justificação é mais que a mera declaração de retidão, é a
declaração de uma postura correta em Cristo. A posição de Tiago da justificação pelas obras
não indica que a fé tenha que produzir obras em resultado, como muitos crêem, e sim que a
combinação fé e obras é algo necessário para a justificação, pois a fé não pode ser o único
elemento desse processo. A grande questão seria saber o que é fé e obras em Tiago.
Parece-nos que Tiago está demasiadamente preocupado com a fé como uma declaração
verbal. Dizer que crê em Deus é muito fácil, pois como o apóstolo afirma: “Você crê que existe
um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios crêem – e tremem!” (v.19). Se você crê,
então esta crença deve ser materializada em ações claras. Tiago não está combatendo Paulo
e sim os falsos mestres que tinham uma visão incorreta acerca da fé.
Por isso nos versos 14 a 17, Tiago procura de forma argumentativa apresentar um opositor
imaginário e que será de opinião contrária a dele . No verso 14 Tiago começa: “De que
adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode
salvá-lo?”. Tiago não está negando que a fé possa salvar, mas ele está se referindo a fé que
uma pessoa diz ter. Se alguém afirma ter fé, então ela precisa demonstrar esta fé. Ele está
condenando a fé ilegítima. Seria o mesmo que alguém afirmar que crê em Deus, que confia
em Seu amor, Seu cuidado, mas viver angustiado e ansioso o tempo todo. É o mesmo que
alguém dizer que tem fé, mas quando o patrão o força a fazer algo que é contrário àquilo que
ele crê, ao invés de mostrar a fé ele a nega. É isso que Tiago tem em mente, uma fé legítima
que é visível e palpável. Por isso no verso 17 ele afirma: “Assim também a fé, por si só, se
não for acompanhada de obras, está morta” .
Dos versos 20 a 25 o apóstolo traz os exemplos de Abraão e Raabe. Abraão era uma das
figuras mais respeitadas da história de Israel, sendo comumente mencionado pelos judeus.
Tiago destaca a disposição de Abraão em sacrificar Isaque em obediência a Deus. Esta
atitude é a evidência da obra de Abraão na qual ele foi justificado. É interessante notar que
Tiago não afirma que Abraão foi justificado diante dos homens, mas de Deus: “Cumpriu-se
assim a Escritura que diz: ‘Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça’, e ele
foi chamado amigo de Deus.” (v.23). A abordagem de Paulo em Romanos 4:1-3 é idêntica. Em
ambos os casos, a declaração de justificação e de retidão não vem do esforço humano, e sim
do reconhecimento de Deus. Para Tiago, justificar significa ser reto, mostrar-se reto ou
tornar-se reto. Tiago tem uma visão demonstrativa em que Abraão e Raabe mostraram seu
estado de justiça com boas obras. Para Paulo a justificação tem uma íntima relação com a
perspectiva teológica dele, pois justificação significa a transferência de uma pessoa do reino
do pecado e da morte para o reino da santidade e da vida. Paulo vê a justificação como um
ato judicial e soberano de Deus, independente de qualquer obra humana, em que declara o
pecador em inocente perante ele (Rm. 4:5).
Desta forma concluímos que as obras não podem salvar. Como disse Paulo: “Pois vocês são
salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vêm de vocês, é dom de Deus; não por obras,
para que ninguém se glorie.” (Ef. 2:8,9). Ninguém chegará no céu por méritos próprios. É um
engano alguém pensar que pode comprar a salvação com suas boas atitudes. Ninguém pode
realizar coisas boas se não tiver um encontro pessoal com Cristo. O homem não-regenerado
não tem condições de produzir nada de bom. Porém, a salvação nos faz realizar boas obras.
O mesmo Paulo disse também: “Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus
para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos.” (Ef. 2:10).
Quando somos alcançados por Jesus, Ele nos leva a agir de forma que a nossa fé é
evidenciada de forma prática.
Tiago e Paulo concordam que a fé deve se mostrar clara e inconfundível, num estilo de vida
que seja coerente, reto, que glorifique a Deus diante dos homens.

Tiago 3:1-12
Controlando a Língua

Uma das maiores preocupações que vejo em nossos dias na igreja é justamente a ambição
em falar de muitos cristãos. Estar à frente, segurando o microfone, parece ter se tornado
status e tem atraído muitos pregadores. Porém são poucos os que percebem a
responsabilidade de falar em nome de Deus. Se há algo que devemos ter cuidado é no
orgulho que Satanás coloca nos corações. Orgulho em ser notado, ovacionado e tido como
um grande pregador. E tudo indica que Tiago tinha esta preocupação em seu coração. Em um
dos capítulos mais conhecidos do Novo Testamento, o apóstolo inicia desta forma: “Meus
irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos,
seremos julgados com maior rigor.” (3:1).
Tiago já tinha falado sobre falar menos e ouvir mais (1:19), mostrando que refrear a língua é
um dos elementos da religião pura (1:26). Falar não é algo tão simples, principalmente para
aqueles que têm a responsabilidade do ensino na igreja. Se há algo que o mestre precisa ter
é coerência no que fala, para que a sua mensagem ganhe sentido e validade. O mestre na
igreja primitiva desempenhava um papel importantíssimo, tendo como tarefa crucial à
comunicação da doutrina cristã .
A observação aqui nos leva a refletir sobre as motivações de querer ser um mestre.
Naturalmente, o ministério de ensino conferia – e ainda confere – um certo tipo de respeito,
autoridade e prestígio. Desta forma percebemos que este problema não é novo. Muitos ainda

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hoje pensam em ensinar ou pregar por causa do prestígio e não por amor à obra de Deus.
Alguém pode pregar muito bem sem auxílio do Espírito Santo. Pode, até mesmo, realizar a
obra de Deus sem que o Espírito interfira de forma significativa, motivada apenas pelas
habilidades humanas. Mas sabemos que aquilo que o homem realiza sem a direção de Deus
morre quando o homem morre também.
O ministério da Palavra é de uma responsabilidade tremenda, e por isso Tiago fala do juízo
com maior rigor. Aqui podemos lembrar das palavras de Jesus, que disse: “...A quem muito foi
dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido.” (Lc. 12:48). A
advertência não é para desencorajar os leitores, e sim para mostrar-lhes a importância de se
falar em nome do Senhor. No Antigo Testamento vemos Deus questionar aqueles que falavam
em Seu nome: “Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Não ouçam o que os profetas estão
profetizando para vocês; eles os enchem de falsas esperanças. Falam de visões inventadas
por eles mesmos, e que não vêm da boca do SENHOR.” (Jr. 23:16).
No verso 2 Tiago continua: “Todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não tropeça
no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo.”. O
instrumento principal do mestre é a língua. E o rigor do julgamento o coloca diante de uma
situação perigosíssima, pois a língua é a parte mais difícil de controlar no corpo. Tropeçar
aqui vem do grego ptaiei () , que em um sentido moral pode significar “errar,
equivocar-se, pecar”. Esta declaração no início do verso 2 mostra a universalidade do pecado
(Rm. 3:9-18; 1 Jo. 1:8). O livro de Provérbios destaca a seriedade e a força das palavras
(10:8,11; 16:27,28; 17:27; 18:7,8; 23:12). É tão difícil controlar a boca. É dela que se expressa
àquilo que é falso, calunioso, cortante e que pode dominar outras pessoas. Desta forma,
ninguém pode se achar perfeito, porque em alguma coisa vamos tropeçar.
Dos versos 3 a 5 Tiago usa alguns exemplos para mostrar o efeito devastador da língua. No
verso 3 ele usa a ilustração dos freios usados em cavalos, e que controla todo o corpo do
animal, e no verso

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