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Módulo do Curso

“Sagrada Escritura:
Novo Testamento” no
Curso de Teologia para
Leigos e Consagrados
da Diocese de Marília,
ministrado por Pe.

Escritos Joaninos Marcelo


Gonzalez Dias
Henrique
1. Evangelho de São João
 Continuamos com Scott Hahn, que é sempre tão límpido em suas
explicações. Por isso, o que diremos sobre o Evangelho de São João
baseia-se especialmente no verbete “Evangelho de João”, de seu
Dicionário Bíblico, entre as páginas 459 e 462.
 O Quarto Evangelho do Novo Testamento é tradicionalmente atribuído
ao apóstolo João, filho de Zebedeu e irmão de Tiago Maior. Sua
estrutura, estilo e temas apresentam várias diferenças com relação aos
Evangelhos Sinóticos.
 É o Evangelho teologicamente mais rico e mais complexo, mas que tem
uma intenção bem clara e simples: “para que creiais que Jesus é o Cristo,
o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome” (Jo
20,31)
1.1 Autoria e data de redação
 O Evangelista não nos dá seu nome, mas ele faz referência a si mesmo
indiretamente como “o discípulo que Jesus amava” (21,20.24), o “discípulo
amado” (13,23; 19,26; 21,7) e “o outro discípulo” (18,15). A tradição identifica
essa figura como João, filho de Zebedeu, atribuição que se sustenta no papel
importante que João exerce na narrativa deste Evangelho.
 O “discípulo amado” estava presente na Última Ceia (Jo 13,23; Mc 14,17-25),
estava no sepulcro depois da Ressurreição (Jo 20,4-10) e presumivelmente
estava com os discípulos na apariçao de Jesus (20,19-23). Ele também estava
no círculo íntimo de Jesus (com Pedro e Tiago) e no Evangelho ele perde
apenas para Pedro em proeminência (1,35.40-42; 6,8.67-69; 13,5-11.23-26.36-
38; 18,15-16; 19,25-27). João pode ser também o inominado discípulo de João
Batista que, com André, seguiu Jesus (1,37-40).
O autor é o apóstolo João, que escreveu em
várias etapas
 Santo Ireneu de Lyon (+202) fala-nos que o Quarto Evangelho foi escrito
por João, uma afirmação de bastante autoridade, posto que ele conheceu
São Policarpo de Esmirna (69-155), que tinha sido discípulo de São João.
 Há indícios de várias redações no Evangelho de João, o que levou alguns
estudiosos a afirmar que o texto foi redigido por mais de um autor. Quais
são os indícios de várias etapas de redação?
 Por exemplo, o discurso da Última Ceia parece terminar duas vezes (14,31
e 18,1), sugerindo que a segunda parte foi uma adição posterior, que se
atribui a um editor ou ao próprio autor.
 A história da mulher surpreendida em
adultério (7,53–8,11) também está fora de
sequência da narrativa evangélica e falta
em alguns manuscritos gregos do
Evangelho.
 Estas impressões digitais podem sugerir a
existência de mais de uma edição do
Evangelho, mas não necessariamente de
mais de um autor. De qualquer forma, o
Evangelho como um todo é inspirado por
Deus e pertence ao cânon bíblico.
Quando foi escrito?
 A tradição sugere que o Evangelho foi escrito em algum momento
antes do fim do século I (1-100). Mas alguns estudiosos do início do
século XX sugeriam que o texto foi escrito em meados do século II
(101-200).
 Contudo, uma importante descoberta científica trouxe o Evangelho
de João de volta para o século I. Do que se trata? Em 1935, foi
descoberto no Egito um fragmento de papiro contendo o
Evangelho de João (Papiro 52). O documento é datado em torno
do ano 120. Além do mais, Santo Inácio de Antioquia (+107)
refere-se ao Evangelho numa carta escrita próxima do seu martírio.
 Ambos os testemunhos mostram que, no início do século II, o
Evangelho de João já estava espalhado pela Cristandade e sendo
aceito como um escrito de autoridade. Portanto, só poderia ter sido
composto no período anterior.
Foi escrito exatamente quando?
 É verdade que muitos afirmam que ele foi escrito no final do
século I, ou seja, depois da destruição de Jerusalém e do
Templo, no ano 70. Mas um detalhe chama a atenção no texto: o
fragmento contido em 5,2: “Há em Jerusalém, junto à porta das
Ovelhas, um tanque, chamado em hebraico Betesda, que tem
cinco pórticos.”
 Ora, João fala no presente, mas era impossível este local existir
no final do século I, pois a Cidade Santa tinha sido arrasada
pelo exército romano. Teria João escrito ao menos esta parte do
Evangelho num período anterior? A pergunta continua em
aberto.
1.2 Estrutura do Evangelho
 1. Prólogo (1,1-18)  3. O Livro da Glória ou Livro do
 2. Livro dos Sinais (capítulos 1 a Grande Sinal (capítulos 13 a 20)
12)  Jesus lava os pés dos discípulos, o
 João Batista, os primeiros discípulos, discurso da Última Ceia, a Oração
as Bodas de Caná, a purificação do Sacerdotal de Jesus, a narrativa da
Templo, Nicodemos, Jesus e João Paixão, a Ressurreição e as aparições
Batista, a mulher samaritana, de Jesus
ministério de Jesus no sábado, o Pão 4. Epílogo (21,1-25)
da Vida, a festa dos Tabernáculos e a
falta de fé das autoridades, a Luz do
Mundo, o cego de nascença, o Bom
Pastor, a ressurreição de Lázaro, a
entrada de Jesus em Jerusalém e o
plano para matá-Lo
1.3 Características literárias
 O Evangelho de João é famoso por sua profundidade teológica e mística,
de tal forma que ele era conhecido na Igreja Antiga como o “Evangelho
espiritual”. Por um lado, tais tesouros são facilmente apreciáveis pela
simples leitura ou escuta do Evangelho. Por outro lado, ele é um trabalho
de tremenda riqueza, que um trabalho de estudo e contemplação de toda
uma vida não é capaz de esgotar.
 O Quarto Evangelho é notavelmente diferente dos Sinóticos. Raramente ele
reafirma a tradição partilhada por Mateus, Marcos e Lucas. Ele mostra
uma familiaridade com os Sinóticos, especialmente com Marcos e
Lucas, mas claramente não se baseia neles. Trata-se de uma
testemunha independente de Jesus Cristo.
Visitas de Jesus a Jerusalém, ministério na
Judeia, grandes discursos...
 João difere dos outros Evangelhos sobretudo no que ele escolhe enfatizar. Os
Sinóticos mencionam uma visita de Jesus a Jerusalém, no clímax do Seu
ministério, culminando em Sua Paixão e Ressurreição. João menciona três
visitas de Jesus a Jerusalém durante Seu ministério público (2,13; 6,4; 12,1).
 Os Sinóticos dão atenção ao ministério de Jesus na Galileia, enquanto João
complementa tais informações com o ministério de Jesus na Judeia (1,43; 4,3-
4; 11,54; 21,1).
 Os Sinóticos reportam os eventos da Última Ceia, enquanto João enfatiza o
discurso do Pão da Vida depois da multiplicação dos pães, no qual Jesus
promete dar-Se como alimento por meio da Eucaristia (6,35-58).
Bons diálogos, boas discussões e elucidações...

 O Evangelista tem um ouvido aguçado para diálogos dramáticos, usando


confrontações verbais para aprofundar nossa compreensão sobre Jesus. O
diálogo de Jesus com a Samaritana (4,4-38), com Marta (11,20-27) e diante de
Pilatos (18,33-38; 19,8-11) revela aos poucos a identidade de Jesus.
 O leitor também vai compreendendo melhor à medida em que os personagens do
diálogo aprendem mais sobre Jesus. O Evangelho de João dá especial atenção
àqueles momentos em que um mal entendido dá a Jesus oportunidade de
explicar-Se de modo mais aprofundado, levando-nos a melhor conhecê-Lo.
 Famoso exemplo disso é o diálogo com Nicodemos, que parte do seu não
entendimento de como um homem formado pode nascer de novo (3,4-8). Então
Jesus nos explica que o Batismo é um nascimento no Espírito, não na carne.
1.4 Temas principais do Quarto Evangelho
 O Evangelho de João começa com uma afirmação tanto da divindade como da
humanidade de Jesus Cristo (Jo 1,1-18). A linha inicial proclama a divindade de
Jesus: “o Verbo era Deus” (1,1). O Evangelho chega ao clímax em João 20,28
com a confissão de fé de São Tomé: “Meu Senhor e meu Deus”. Entre tais
declarações está a proclamação da filiação divina e da missão de Jesus.
 Aqui João é único se comparado com os Sinóticos. Isto porque ele não se
concentra em tratar das parábolas, curas e exorcismos; há somente quatro
milagres de cura (4,43-54; 5,1-15; capítulo 9 e capítulo 11).
 Contudo, cada um destes milagres tem um específico objetivo teológico
descrevendo o ministério de Jesus. Portanto, eles servem, segundo João, como
“sinais” que mostram quem Jesus é para aqueles que têm fé para ver e acreditar.
Uma escolha dramática a ser feita....
 Nos relatos de João, aqueles que encontram Cristo começam uma jornada
que conduz a duas conclusões diferentes. 1) a pessoa entende a palavra, crê
em Jesus e passa a ser Seu seguidor; 2) a pessoa rejeita a palavra, mesmo
vendo sinais, e caminha para a inimizade com o Divino Salvador.
 Episódio após episódio, Jesus proclama Sua identidade e os que O
ouvem iniciam uma jornada de fé ou de rejeição a Ele.
 O prólogo de João se inicia com um eco deliberado do relato da criação em
Gênesis: “No princípio..”, o “Verbo/Palavra/Lógos” como instrumento da
criação (1,1-3). A adição importante é a de que Cristo, o Verbo, estava
presente desde o princípio.
Os títulos de Cristo: Filho de Deus, Filho do
Homem, Messias, Rei de Israel...
 No restante do primeiro capítulo, uma certa quantidade de títulos é atribuída a Cristo
(cf. acima). O primeiro título, proclamado por João Batista, é “Cordeiro de Deus”
(1,29.36) e é mais adiante especificado com as palavras “que tira o pecado do
mundo” (1,29). Os cânticos do Servo Sofredor de Isaías (Is 42,1-4; 49,1-6; 50,4-9;
52,13–53,12), com sua explícita imagem do cordeiro em Is 53,7 mostra o modelo da
obediência de Jesus ao Pai.
 A imagem do cordeiro também ecoa o Cordeiro Pascal, sacrificado pela salvação
do povo de Deus. Jesus é o Servo Sofredor que Se deixa entregar sem
murmuração e que tira os pecados da multidão.
 Ele atua com obediência a Deus Pai, cuja morte e ressurreição resulta em libertação.
Ele liberta em nome de Deus e O revela para o Seu povo: “Eu desci do céu não para
fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (6,38).
O Livro dos Sinais
 Este começa com o chamado dos primeiros discípulos e com o milagre em
Caná. A isto imediatamente se segue a purificação do Templo, o santuário
central da fé judaica que seria destruído e substituído por Jesus, o novo Templo
(2,19-21).
 Esta parte do Evangelho também traça a reação dos que encontram Jesus,
desde Nicodemos (3,1-21) até a mulher samaritana (4,1-42), o funcionário real
(4,43-54), os fariseus e as autoridades (p.ex: 5,17-47; 6,25-59; 7,14-36; 8,12-
59).
 Jesus vai mostrando Sua identidade por meio dos sinais, culminando na mais
impressionante e dramática demonstração de Seu poder: a ressurreição de
Lázaro (capítulo 11). Por este ato, Jesus mostra ao mundo que Ele tem poder
sobrenatural para dar vida (11,25), mas isso também impulsiona Seus inimigos
a lançar a estratégia final para levá-Lo à morte.

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