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O sentido do sofrimento

Neste sermão vamos aprender sobre o sentido do sofrimento.

Texto: Mt 27:46

Introdução:

– Desde criança tenho convivido com o sofrimento e, ao longo de 47 anos de pastorado, o tenho
visto estampado no choro da mulher que perde um filho, nas famílias que perderam parentes
nos desastres por carro, fogo e água, nas catástrofes mundiais, na dor dos refugiados, nas
torturas militares, na pobreza extrema, os hospitais e em enterros, nas perdas pessoais de um
cunhado vítima de afogamento, de dois irmãos em acidentes automobilísticos, e de um filho
após cirurgia de um tumor no cérebro. E nunca me conformei com o sofrimento até encontrar
uma saída histórica para ele na morte do: Filho de Deus.

– O sofrimento de Jesus é o sofrimento dos sofrimentos. Nele nós encontramos a chave para o
sentido do sofrimento humano. O Evangelho de Mateus registra em hebraico a pergunta de
Jesus ao Pai expressa no Salmo 22:1: “Elí, Elí, lamá sabactâni?” Foi erradamente traduzido no
grego e no alemão passando para todas as traduções da Bíblia: “Deus meu, Deus meu, por que
me desamparaste?” A tradução hebraica diz diferente: “Meu Deus, Meu Deus, para que me
abandonaste?” Marcos registra a expressão em aramaico: “Eloi, Eloi,…” de Elohim, um dos
nomes de Deus no AT, mas Jesus teria feito pergunta em hebraico porque memorizou o salmo
dos rolos sagrados das sinagogas em hebraico e não traduzidos para o aramaico.

– A diferença das duas traduções é enorme. O “por que” questiona a Deus e se volta para o
passado, para trás; O “para que” do hebraico olha para o futuro, não questiona Deus, mas busca
o sentido do seu sofrimento. O “por que…?” expressa todas as interrogações humanas e pode
levar ao desespero e à ausência de sentido. O “para que…” é existencial e nos ensina uma
didática no sofrimento como expressa dito popular: “Que passou pela vida, mas não sofreu,
passou pela vida, mas não viveu”. O sofrimento aqui neste mundo é inerente à condição humana
e é rico em ensinamentos. Vamos refletir por instantes sobre isso.

I – PARA QUE E NÃO POR QUE DEVE SER A NOSSA INTERROGAÇÃO DIANTE DAS PROVAÇÕES DA
VIDA.

A vida não tem sentido – Camus e Sartre.

– Os filósofos existencialistas ateus não assumiram a nossa incapacidade de apreender o sentido


intelectual e racionalmente.

– João 9:1-3 – A pergunta dos discípulos: “Rabi, que pecou, ele ou seus pais, para que nascesse
cego?” É uma pergunta filosófica e antiga alicerçada na teologia hebraica do AT. A resposta de
Jesus: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas é para nele se manifestem as obras de Deus.”

O sentido e a santidade da vida

– É uma afirmação primária e essencial da Bíblia. Por isso, desesperar jamais. “Para que?” e não
“Por que?” deve ser a nossa pergunta diante das provações da vida.

II – DOIS CONTOS
Conto budista – Uma senhora piedosa cujo único filho morreu pede ao Buda para ressuscitá-lo.
O Buda promete fazê-lo logo após ela visitar todas as casas da vila onde morava perguntando se
já tinham tido perdas e, se encontrasse alguma que nunca o tivesse, ele ressuscitaria seu filho.
Ela saiu de casa em casa e as famílias já tinham tido perdas de pai, pai, irmãos, filhos… Após isso
ela concluiu que a perda e a dor fazem parte da condição humana.

Conto medieval: A missão de um anjo no mundo e as interrogações de um cristão que o


acompanhava sobre o “por que” dos trágicos acontecimentos da viagem. O consente que o
cristão o acompanhe desde que não faça perguntas. No fim primeiro dia de viagem foram
recebidos num castelo por um jovem e belo casal que tinha um único filho, ainda pequeno, que
era a alegria da casa. O casal era rico e tinha muitos escravos tratados com dignidade.
Ofereceram aos hóspedes um banquete.

Durante o mesmo o dono do castelo bebia sem parar vinho numa taça de ouro. Depois do jantar
foram dormir, mas o cristão ficou atento. No meio da noite viu o anjo se levantar
cuidadosamente e sair do quarto. Ele se levantou e o seguiu sem ser percebido. Viu o anjo entrar
no quarto do menino e sufoca-lo com um travesseiro até a morte. Rápido o cristão retornou o
quarto certo que o anjo era um assassino.

Deitou-se e fingiu dormir, mas o anjo o acordou para continuarem viagem, e ele concluiu que,
além de assassina, o anjo era mal educado. Quando o anjo passou pela mesa do banquete
surrupiou a taça de ouro, e o cristão ruminou consigo mesmo: “além de assassino, mal-educado,
este anjo é um ladrão. Mas se conteve por causa do compromisso de não perguntar nada. No
segundo dia de viagem foram recebidos num castelo por um homem mal encarado que não
queria hospedá-los.

Como o anjo insistisse, ele os mandou dormir no celeiro junto com os animais. O anjo dormiu
profundamente e acordou com o sol alto e, ao despedir-se do homem, agradeceu a hospedagem
e deu-lhe de presente a taça de ouro. Prosseguindo viagem se perderam do caminho, mas
apareceu um home piedoso que serviu de guia para eles. Ao passar num precipício, o anjo
empurrou o homem que teve morte trágica. O cristão, então, não se conteve mais e perguntou
sobre tudo.

O anjo, considerando que ele tinha sido um bom companheiro e tinha até então cumpriu a
promessa de não perguntar nada, explicou: 1ª) A morte do menino: ele estava sendo criado com
muito mimo e sem limites e, quando crescesse, seria o terror dos escravos e só desgosto para
os pais. Assim, ainda inocente, Deus o levou para si. 2º) A taça de ouro: o dono do castelo iria
virar um alcoólatra por causa da taça. Tirá-la dele o libertou de um terrível vício. 3º) O homem
mal-encarado: Ele era tão ruim e ficou tão acanhado depois de receber a taça de ouro, que
reconsiderou a sua vida, e se tornará um homem bom e hospitaleiro. 4º) O homem piedoso: Era
um bom homem, mas iria passar por uma tão grande provação que iria apostatar da fé. Antes
que isso acontecesse, Deus o levou.

III – O SOFRIMENTO DOS SOFRIMENTOS. PARA QUE?

É vicário – Assumiu as nossas dores e enfermidades para nos dar vida eterna. Em Colossenses
1:24 Paulo diz: Agora me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das
aflições de Cristo, na minha carne, a favor de seu corpo que é a igreja”.
É a revelação máxima de um Deus de amor – As torturas e injustiças que culminaram com a
morte de Jesus Cristo provam duas coisas: o máximo de maldade e pecaminosidade humana, e
o grande e infinito amor de Deus por nós. Ainda revela-nos a face de um Deus que não é um
tirano, nem um juiz implacável, mas que é amor que se dá e se entrega por nós. “Aquele que
não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós para que, por ele, fôssemos feitos justiça de
Deus” – 2 Co 5:22

Octavianus Winslow afirmou poeticamente: “Quem entregou Jesus para morrer? Não foi Judas
por dinheiro; não foi Pilatos por temor; não foram os sacerdotes por inveja – mas o Pai por
amor”.

CONCLUSÃO

– Devemos lutar contra qualquer sofrimento combatendo suas causas. Usar todos os recursos
de que dispomos para vencê-lo (médicos, psicólogos, remédios, política, ação social, etc.). Mas,
se isso não for possível, devemos aceitá-lo e entendê-lo.

– Devemos interrogar a Deus pelo sentido do sofrimento (pathodizee) no plano salvador de


Deus: “Para que?” Assim, em vez de revolta contra Deus, lamentamos a nossa própria
incapacidade de entender.

– O sentido do sofrimento está imerso no infinito amor de Deus. Está escrito que o cordeiro foi
morto desde a fundação do mundo. Como entende isso, senão entendendo que Deus como um
Pai de amor sofre? Foi na morte de meu filho Jusiel que eu entendi a dimensão do calvário. Deus
sofreu em Cristo pela redenção do mundo. Eis a resposta do Pai à pergunta do Filho na cruz.

– O sentido da vida é sempre seguir em frente, sonhar sempre com o fim do sofrimento, do mal
e da morte. Eis algumas respostas paulinas: “Levando sempre no corpo a agonia de Jesus, para
que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal” – 2 C. 4:10. “Porque a nossa
leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda
comparação” – 2 Co. 4:17.

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