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FREGUESIA DE SÃO SATURNINO

documentos para a sua história

2010
FREGUESIA DE SÃO SATURNINO

documentos para a sua história

introdução, leitura actualizada e notas de


Fernando Correia Pina
Introdução

Situada no concelho de Fronteira, distrito de Portalegre, a freguesia de São Saturnino ou


Vale Maceiras, na sua designação mais recente, situa-se numa área onde a presença
humana se encontra atestada, de forma continuada, desde a mais remota antiguidade1,
facto a que não será estranha a bondade dos terrenos que fizeram da agricultura, até aos
nossos dias, a principal actividade dos seus habitantes.

Apesar dos trabalhos já levados a efeito, continua a ser um mar desconhecido a história
desta freguesia. Curiosamente – ou não -, encontram-se disponíveis mais elementos de
estudo para os períodos que antecederam o registo escrito da aventura humana que para
os tempos da chamada civilização da escrita.

Existem, porém, - é convicção de quem escreve – muitas pistas a seguir que permitirão
colmatar muitos dos hiatos existentes e, porventura, soldar alguns elos partidos na
corrente dos registos da existência da povoação, e isto, porque parte substancial dos
nossos fundos documentais continua por explorar.

Apesar das sucessivas delapidações acarretadas pelas guerras, por acidentes naturais ou
pela simples acção da passagem dos dias, muito existe ainda nos nossos arquivos à
espera de ser resgatado ao esquecimento, pequenas e grandes pérolas por achar no
profundo mar da memória dos homens.
Ao encontro desta suposição vêm os documentos aqui apresentados, transcritos a partir
dos originais, produzidos ao longo do século de mil e quinhentos, pertencentes ao
fundo da antiga Provedoria da Comarca de Évora2, actualmente depositados no arquivo
distrital desta cidade.

Neles se regista parte da história ignorada da freguesia: os nomes de antigos


proprietários de uma herdade em Vale de Maceiras e senhorios limítrofes, as suas
confrontações, traçados de antigas estradas e caminhos ou, ainda, referências a outros
elementos de uma paisagem fortemente humanizada, já à época de reputada
antiguidade.

Os documentos que agora se oferecem têm, também eles, a sua história: não fora uma
banal questão levantada, no ano de 1600, a propósito de uns minguados onze alqueires
e quarta de trigo, surgida entre o foreiro e senhorios da herdade e a Misericórdia de
Fronteira e talvez nada do que agora se disponibiliza tivesse chegado até nós.

Porém, o processo judicial daí decorrente obrigou a que, para produção de prova, as
partes litigantes apresentassem os títulos comprovativos das suas pretensões e, deste
modo, quer originais quer treslados de originais, foram inseridos nos autos que correram
pelo juízo da provedoria, dada a natureza dos bens em disputa.

Tratava-se, efectivamente, de bens vinculados ou, no caso concreto, de bens


encapelados, isto é, bens cujos rendimentos, no todo ou apenas parcialmente, revertiam,
por disposição testamentária, para a manutenção de actos de culto por alma do seu
possuidor. A esse conjunto de bens cuja venda, troca ou escambo era proibida por lei 3,
constituído na maioria dos casos por prédios urbanos ou terras, se dava o nome de
capela. Daí o facto do termo capela surgir frequentemente no nome de propriedades
rústicas.

Um problema se levantou no início deste breve trabalho: a identificação da herdade em


questão já que, ao longo do tempo, ela surge com várias designações. Assim, numa
primeira fase é denominada Herdade de Aires Lourenço, depois Herdade do Coudel e,
ainda, Herdade de Vale de Maceiras, provindo os dois primeiros nomes dos seus
proprietários e o terceiro da sua localização. Surge ainda com o nome de Herdade do
Freixial, Herdade das Freiras e, em 1762, é já identificada pelo nome de Monte dos
Frades, numa alusão directa aos seus proprietários, os religiosos do Convento de Nossa
Senhora do Espinheiro de Évora.

De quanto nos foi possível apurar da documentação consultada, a herdade pertenceria,


nos finais de mil e quatrocentos, ao casal de Aires Lourenço Pacheco e Mécia Vaz,
moradores em Estremoz. Em 1502, estes viriam a aforá-la a D. Francisco da Silveira,
coudel-mor do reino.

Anos passados, por morte de Aires Lourenço e sua esposa, se espedaçou a dita herdade
entre seus herdeiros e cada um levou seu quinhão e parte. A estes herdeiros, em
número de oito, viria D. Francisco a adquirir os respectivos quinhões com excepção de
apenas um deles que legou a sua parte à Misericórdia de Fronteira.

Por óbito de D. Francisco da Silveira, a propriedade passou por herança para sua filha
D. Cecília de Noronha que viria a fazer doação dela ao Convento de Espinheiro em cuja
posse se deve ter conservado até à extinção das ordens religiosas e consequente
nacionalização e venda dos seus bens, o mesmo sucedendo, em período posterior, com a
oitava parte dela, aquando da venda dos bens das misericórdias.

Não se tratando de um trabalho com propósitos académicos e tendo em vista a


comodidade do leitor comum, menos familiarizado com a transcrição paleográfica,
optou-se pela sua apresentação numa leitura actualizada, colocando-se as palavras de
leitura duvidosa entre [ ], seguidas de um ponto de interrogação e assinalando-se as
ilegíveis com [.?.].

Uma última palavra. A recolha documental agora iniciada não se esgota nos presentes
documentos. À medida que outros forem sendo localizados, aqui irão sendo
acrescentados e, sendo este um trabalho mais de recolecção que de autoria, agradece
antecipadamente o compilador toda e qualquer contribuição ou correcção que o leitor
julgue oportuna para os fins a que este trabalho se destina.
Escritura de aforamento de
uma herdade em Vale de Maceiras
Évora, 28 de Abril de 1502
Saibam quantos este instrumento de aforamento virem que no ano do
nascimento de nosso senhor Jesus Cristo de mil quinhentos e dois anos vinte
e oito dias do mês de Abril na cidade de Évora nas casas do senhor coudel-
mor em presença de mim tabelião e testemunhas ao diante escritas apareceu
aí Aires Lourenço Pacheco [.?.] morador em Estremoz e me apresentou uma
procuração que parecia ser feita e assinada por João Rodrigues tabelião em a
vila de Estremoz feita a vinte e dois dias do mês de Abril de mil quinhentos
e dois eram em ela nomeados por testemunhas João Barroso fidalgo e João
Vieira escudeiro do comendador-mor a qual era ordenada por Mécia Vaz
mulher de Aires Lourenço Pacheco a qual fazia seu certo procurador
avondoso4 ao dito Aires Lourenço seu marido ao qual dá todo o seu
cumprido poder que por ela em seu nome possa vender e aforar empenhar
trocar escambar seis quarteiros de pão de renda em cada um ano em uma
herdade que eles têm em Vale de Maceiras termo de Fronteira a qual
herdade rende cada um ano seis moios e meio de pão a quem ele quiser e
por bem tiver e pelos preços que lhe aprouver e fazer as escrituras de venda
com as cláusulas condições penas obrigações que lhes requeridas forem e
obrigava em elas ditas rendas todos os seus bens de raiz havidos e por haver
e que prometia de ter e haver por firme deste dia para todo o sempre tudo o
que pelo dito seu procurador for feito vendido recebido sob obrigação de
seus bens que para isso os obrigou.
Apresentada com dito é logo pelo dito Aires Lourenço foi dito por virtude
da dita procuração em nome seu e da dita sua mulher constituinte
reconhecia e confessava receber como de facto recebeu do dito senhor
coudel-mor5 Francisco da Silveira trinta mil reais brancos em vinténs pelos
quais trinta mil reais lhe ele faz foro para sempre de seis quarteiros de trigo
bom em uma herdade que ele e sua mulher têm em os termos de Fronteira
onde chamam Vale de Maceiras que lavram nela seis arados que parte a
herdade com herdade dos pobres da Serra d´Ossa6 e com terra de Domingos
Afonso e com o caminho de Sousel para Monforte e com outras com que de
direito deve partir a qual dita herdade lhe promete fazer nela o dito foro de
seis quarteiros de trigo para sempre ao dito senhor coudel-mor e à senhora
dona Margarida sua mulher e para seus herdeiros que depois deles vierem os
quais lhe darão e entregarão em paz e em celeiro em casa deles senhorios
nesta cidade à custa dele Aires Lourenço forro do dízimo e acarretado por
dia de Santa Maria de Agosto com pena de lhos dar com as custas despesas
perdas danos que ele senhor coudel-mor sua mulher lhe houver digo ou
herdeiros sobre isso fizerem e receberem a qual herdade toda lhe fazem
foreira em estes seis quarteiros de trigo a qual não poderão vender trocar dar
nem escambar nem por outra nenhuma guisa de o primeiramente fazerem
saber a ele senhor coudel-mor e à senhora sua mulher e herdeiros se
prevendo a querem para si de tanto por tanto e quando a não quiserem então
a poderão vender a tal pessoa ou pessoas que bem e sem referta 7 lhe
pagarem o dito foro e o direito de terrádego8 não sendo alguma das defesas
em direito e por esta guisa e condições lhe outorgava o dito foro em toda a
dita herdade e se obrigava para sempre lhe pagar seis quarteiros de trigo e
lhe fazia a herdade livre e de paz digo e despachada sem contradição alguma
sob pena de lha comprarem com as custas despesas que eles senhorios sobre
isso fizerem e receberem por todos seus bens e da dita sua mulher
constituinte que para isso obrigou porque por estes trinta mil reais lhe
submete a dita herdade ao dito foro e ele Aires Lourenço pagará toda a sisa
e se obriga responder e pagar presente os juízes desta cidade e a ser citado
por suas cartas deprecatórias para o que renunciou dos juízes de seu foro e
pelo senhor coudel-mor foi dito que aceitava o dito foro dos seis quarteiros
de trigo na dita herdade e prometeu de ter em si quanto em ele for e fará a
primeira paga por Santa Maria de Agosto a primeira que vem e daí em
diante em cada um ano por semelhante dia e em testemunho disso
outorgaram assim feito estes para cada um seu instrumento testemunhas
Bartolomeu Barbudo criado de Pero Juzarte que disse que conhecia este
Aires Lourenço este aqui contido e Álvaro Gomes caçador digo [.?.] e Rego
pajem dele senhor e Simão Gomes Álvares criado de mim tabelião e outros
eu Jorge Anes tabelião de el-rei nosso senhor em a dita cidade que este
instrumento escrevi e aqui meu sinal digo outro sinal fiz que já lhe pagou
quarenta reais.
Escritura de doação da Herdade de
Vale de Maceiras ao Convento de
Nossa Senhora do Espinheiro de
Évora
Évora, 16 de Janeiro de 1567
Em nome de Deus ámen. Saibam quantos este instrumento de concerto e
obrigação virem que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de
mil quinhentos e sessenta e sete em dezasseis dias do mês de Janeiro no
mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro dos padres da ordem do bem
aventurado padre São Jerónimo edificado em termo da cidade de Évora na
casa do capítulo do dito mosteiro estando aí presentes de uma parte os muito
reverendos e devotos padres convém a saber frei Pedro do Avelar prior frei
Inocêncio vigário frei Jerónimo de Pavia frei Vasco frei Amador frei
Francisco de Évora frei Pedro de Évora frei Cipriano frei Álvaro frei André
de Estremoz frei José frei Gabriel frei Estêvão de Alvito frei Baltasar frei
Belchior frei Brás e frei Tomás todos frades professos naturais e
conventuais do dito mosteiro juntos em cabido fazendo chamados a eles por
som de campa tangida9 segundo seu antigo e religioso costume
especialmente para isto que se ao diante segue e da outra parte sendo
outrossim a isto presente Francisco Chainho cavaleiro da casa d´el-rei nosso
senhor morador na dita cidade de Évora em nome e como procurador da
senhora dona Cecília de Noronha filha do senhor coudel-mor que Deus tem
segundo logo aí mostrou por um público instrumento de procuração que
apresentou cujo treslado de verbo a verbo se segue: Saibam quantos este
instrumento de procuração virem que no ano do nascimento de Nosso
Senhor Jesus Cristo de mil quinhentos e sessenta e seis aos vinte e dois dias
do mês de Julho na cidade de Lisboa a São Nicolau nas casas da morada do
senhor dom Pedro de Noronha do conselho delrei nosso senhor e vedor da
fazenda da rainha nossa senhora estando aí presente a senhora dona Cecília
de Noronha sua cunhada filha do senhor coudel-mor que Deus tem por ela
foi dito que porquanto ela estava concertada com o prior e padres do
mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro sito em termo da cidade de Évora
de eles lhe dizerem em vida dela senhora dona Cecília do primeiro dia do
mês de Janeiro do ano que virá de mil quinhentos e sessenta e sete em diante
duas missas quotidianas rezadas e no dia da comemoração dos defuntos ou
dentro no seu oitavário dois ofícios de nove lições com suas vésperas e
missas tudo cantado e de terem sempre continuadamente acesa a lâmpada
que ela senhora dona Cecília tem no dito mosteiro diante do Santíssimo
Sacramento e tanto que ela senhora dona Cecília for falecida da presente
vida hão-de cessar as ditas missas e encargos e em lugar dos ditos encargos
lhe hão-de dizer no dia do falecimento dela senhora dona Cecília por diante
uma missa quotidiana rezada e por dia da comemoração dos defuntos ou
dentro no seu oitavário um ofício de nove lições com suas vésperas e missa
tudo cantado e no fim de cada missa lhe hão-de dizer um responso finados
sobre sua sepultura e lhe hão-de lançar água e assim hão-de ter sempre
continuadamente a dita lâmpada acesa diante do Santíssimo Sacramento e
ela senhora dona Cecília dá ao dito mosteiro e convento uma sua herdade
forra e isenta [de] dízimo a Deus que tem no termo da vila de Fronteira que
se chama Vale de Maceiras e o directo senhorio da oitava parte da herdade e
foro de onze alqueires e quarta de trigo que a misericórdia da dita vila de
Fronteira lhe paga em cada um ano com tal condição que em qualquer
tempo que os ditos prior e padres não forem contentes de cumprir os ditos
encargos inteiramente sejam obrigados a logo tornar a ela senhora dona
Cecília sendo viva a dita herdade e foro e sendo falecida a tornarão a seus
testamenteiros sendo vivos e sendo falecidos a tornarão e entregarão à
misericórdia da cidade de Évora para que o provedor e irmãos dela a
mandem vender em pregão a quem por ela mais der e do preço que por ela
derem haverá a dita misericórdia a metade para a gastar pela alma dela
senhora dona Cecília em pobres e presos da maneira que lhe bem parecer e
da outra lhe comprarão sete alqueires de azeite de foro para sempre perpétuo
e os darão ao dito mosteiro e convento de Nossa Senhora do Espinheiro para
lhe terem sempre acesa a dita lâmpada diante do Santíssimo Sacramento e
tudo o que sobejar desta metade a dita misericórdia o gastarão em redenção
de cativos e em missas no dito mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro
pelo modo que ao provedor e irmãos da dita misericórdia bem parecer e
porque do sobredito se há-de fazer contrato por pública escritura no dito
mosteiro onde ela senhora dona Cecília não pode ser presente portanto disse
que fazia e ordenava como de facto fez e ordenou por seu procurador
avondoso a Francisco Chaínho escudeiro da casa d`el-rei nosso senhor
morador na dita cidade de Évora e lhe deu e outorgou todo seu livre e
cumprido poder e mandato especial e geral contanto que a especialidade não
derrogue a generalidade nem pelo contrário para que por ela constituinte e
em seu nome possa sobre o que dito é outorgar e aceitar pública escritura
com as sobreditas cláusulas condições obrigações e renunciações que
cumprirem e forem necessárias posto que para ela se requeira outro seu mais
especial mandato tão cumpridamente como ela constituinte se presente fosse
e prometeu de haver por firme e valioso para sempre todo o que pelo dito
seu procurador for feito no que dito é sob obrigação de todos os seus bens
havidos e por haver e para o que dito é obrigou e em testemunho da verdade
assim o outorgou e lhe mandou ser feito este instrumento de procuração e
dois e três e os que lhe cumprirem; e posto que este instrumento foi
continuado aos vinte e dois dias do dito mês de Julho, se outorgou e assinou
aos vinte e sete dias testemunhas que presentes foram António do Rego
cavaleiro fidalgo da casa d`el-rei nosso senhor e Diogo de Alvarenga moço
de câmara da rainha nossa senhora e Martim Mendes criado da dita senhora
dona Cecília e eu Henrique Nunes público tabelião por el-rei nosso senhor
na dita cidade de Lisboa e seus termos que este instrumento em minhas
notas tomei e delas o fiz tresladar e o concertei e subscrevi e de meu público
sinal o assinei que tal é e vai este instrumento escrito em três folhas com
esta que todas vão contadas e numeradas por mim de minha própria letra.
A qual procuração assim apresentada e tresladada como dito é logo pelos
ditos prior e padres foi dito que porquanto a dita senhora dona Cecília tinha
jazigo no dito mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro e aí há-de ser seu
corpo sepultado ou seus ossos tresladados em caso que ela não faleça em
Évora ou em parte de onde possa ser levado seu corpo ao dito mosteiro e por
ela ter em vontade que nele lhe dissessem e cantassem por sua alma as
missas que ao diante serão declaradas portanto eles padres convém a saber
prior e padres e o dito Francisco Chaínho em nome e como procurador da
dita senhora dona Cecília de Noronha se concertaram sobre o que dito é pelo
modo e maneira e com as cláusulas e condições seguintes. Primeiramente
que eles prior e padres prometem e se obrigam como de facto prometeram e
se obrigaram por si e pelos padres futuros do dito seu mosteiro desde o
primeiro dia deste presente mês de Janeiro deste presente ano de mil
quinhentos e sessenta e sete em diante em todos os dias de sua vida da dita
senhora dona Cecília lhe dizerem e cantarem no dito mosteiro duas missas
rezadas quotidianas e dentro no oitavário da comemoração dos defuntos de
cada um ano, dois ofícios de nove lições com suas vésperas e missa tudo
cantado; assim mais se obrigam a terem sempre acesa continuadamente uma
lâmpada que a dita senhora dona Cecília tem no dito mosteiro diante do
Santíssimo Sacramento. Item que tanto que a dita senhora dona Cecília
falecer da presente vida daí por diante eles prior e padres ficarão
desobrigados de lhe dizerem e cantarem as missas acima ditas mas em lugar
delas do dia do falecimento dela senhora dona Cecília em diante os ditos
prior e padres lhe dirão por sua alma no dito mosteiro de Nossa Senhora do
Espinheiro uma missa rezada quotidiana em cada um ano para sempre por
dia da comemoração dos defuntos ou dentro no seu oitavário um ofício de
nove lições com suas vésperas e missa tudo cantado e no fim de cada missa
lhe dirão um responso e lançarão água-benta em sua sepultura e além disso
serão obrigados os ditos prior e padres a terem sempre continuadamente a
dita lâmpada acesa diante do Santíssimo Sacramento. Item o dito Francisco
Chaínho disse que havendo respeito aos sobreditos encargos e missas que os
ditos prior e padres se obrigam a cantar pela alma da dita senhora dona
Cecília e em satisfação da obrigação que fazem de terem sempre a dita
lâmpada acesa pelo modo que acima é declarado, dava como de facto deu
por este público instrumento em nome da dita senhora dona Cecília sua
constituinte por virtude da dita procuração, ao dito mosteiro e convento de
Nossa Senhora do Espinheiro uma sua herdade forra e isenta [de] dízimo a
Deus que ela tem e possui no termo da vila de Fronteira e assim o directo
senhorio que ela tem na oitava parte e foro perpétuo de onze alqueires e
quarta de trigo que dela se paga à misericórdia da dita vila de Fronteira,
assim como a dita herdade parte por suas direitas e verdadeiras
confrontações e com todas as suas entradas, saídas direitos e pertenças,
serventias e logradouros pela guisa e maneira que a dita senhora dona
Cecília a tem e possui e de direito lhe pertence e pertencer pode e tirou e
demitiu e renunciou da dita senhora dona Cecília por virtude da dita
procuração todo o direito acção e posse propriedade e senhorio que ela tinha
e por direito podia ter e haver na dita herdade e em todas as sua pertenças e
no dito foro que lhe pagam da oitava parte da dita herdade e tudo pôs cedeu
e trespassou no dito mosteiro e convento para que tudo haja logre e possua
de hoje em diante para sempre sem nunca em tempo algum a poder vender
nem por outra alguma via alienar porque sempre a há-de ter e possuir o dito
mosteiro e convento para por ela se cumprirem os ditos encargos e nisto não
haver falta alguma e deu lugar ao dito mosteiro e convento que a todo o
tempo que quiser por qualquer dos padres dele possa tomar e tome posse
real e actual cível e natural da dita herdade que lhe do oitavo dela pagam, e
ainda por mais abastança se constituiu possuir a dita herdade e foro que lhe
do oitavo dela pagam em nome do dito mosteiro e convento até ele tomar a
posse corporal dela e para o dito mosteiro e convento melhor poder lograr e
possuir a dita herdade e foro que do dito oitavo dela lhe pagam e tudo livrar
e defender de quaisquer e contra quaisquer possuidores e detentores, ele
Francisco Chaínho em nome da dita senhora dona Cecília por virtude da dita
procuração lhe cedeu e trespassou para isso todas as suas sanções reais e
pessoas úteis e direitos e o exercício delas e todos os outros remédios de
direito e de demandar que lhe competem e podem competir por qualquer
modo; e possa o dito mosteiro e convento em lugar da dita sua constituinte e
o constituiu em isso em causa sua própria e prometeu e se obrigou de a dita
senhora dona Cecília lhe fazer boas e de paz a dita herdade e foro sobredito
do que quer que sobre ela algum embargo ou impedimento lhe puser. Item
que em qualquer tempo que o prior e padres do dito mosteiro e convento
que pelo tempo forem não forem contentes de cumprir os ditos encargos
inteiramente de maneira que acima é declarado que em tal caso serão
obrigados de tornarem logo à dita senhora dona Cecília se viva for a dita
herdade e o foro que dela recebe e sendo ela falecida a tornarão a seus
testamenteiros se vivos forem e sendo falecidos em tal caso a tornarão ao
provedor e irmãos da misericórdia da cidade de Évora aos quais ele
Francisco Chaínho em nome da dita senhora dona Cecília pede por mercê a
queiram aceitar e que mandem vender a dita herdade e o dito foro que lhe
pagam da dita outra parte dela em pregão a quem por ela mais der e do
preço que por ela derem haverá para si a dita misericórdia da cidade de
Évora a metade para o gastar em esmolas a pobres e a presos como ao
provedor e irmãos da dita misericórdia bem parecer e da outra metade do
dito preço comprarão sete alqueires de azeite de foro perpétuo e os darão ao
dito mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro para terem sempre
continuadamente a dita lâmpada acesa e o mais que ficar e remanescer desta
metade do preço por que a dita herdade e foro for vendida a gastarão pela
alma da dita senhora dona Cecília em remir cativos e em missas que se dirão
no dito mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro da maneira que os ditos
provedor e irmãos ordenarem. Item que os ditos prior e padres presentes e
futuros não possam por via alguma impetrar do Santo Padre e Santa Sé
apostólica diminuição das ditas missas e sufrágios e se o impetrarem não
valham as letras que sobre isso houverem posto que lhe sejam concedidas de
moto-próprio do mesmo Santo Padre ou da Santa Sé apostólica; e desta
maneira e com estas cláusulas e condições disseram os ditos contraentes em
os ditos nomes que estavam concertados e por serem do que dito é contentes
prometeram e se obrigaram por solene estipulação e aceitação de cumprirem
e manterem este instrumento inteiramente e de nunca em tempo algum irem
nem virem contra ele nem o revogarem nem contradizerem em parte nem
em todo por si nem por outrem em juízo nem fora dele de facto nem de
direito por modo algum que seja; e contradizendo, que a tal contradição
valha e para o assim convirem e manterem eles prior e padres obrigaram
todos os bens e rendas do dito mosteiro e convento e o dito Francisco
Chaínho ao que dito é, todos os bens havidos e por haver da dita senhora
dona Cecília sua constituinte como seu procurador que assim é por virtude
da dita procuração e prometeram os ditos contraentes a mim tabelião como
pessoa pública estipulante e aceitante em nome dos ausentes a quem isto
tocar e tocar possa de o assim cumprirem e manterem como dito é e em
testemunho da verdade assim o outorgaram e mandaram ser feito este
instrumento e dois e três e os que lhes cumprirem. Testemunhas que
presentes foram Brás Dias Nobre pedreiro e Manuel Mendes carpinteiro de
marcenaria e Ascenso Rodrigues serralheiro e Francisco Fernandes
carpinteiro moradores na dita cidade e Francisco Gonçalves tabelião que
este escrevi e eu Francisco Gonçalves público tabelião d´el-rei nosso senhor
na dita cidade que este instrumento em minha nota tomei e dela o fiz
tresladar com licença que para isso do dito senhor tenho e o concertei
subscrevi que assinei de meu público sinal que tal é.
Auto de demarcação e medição da
herdade
Vale de Maceiras, 20 de Maio de 1572
E logo no dito a vinte dias do dito mês de Maio de mil e quinhentos e
setenta e dois anos o dito procurador comigo escrivão e com os ditos
louvados e prior e procurador do mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro
e Gonçalo Martins de Santa Catarina regedor da dita província de Vale de
Infante e dos pobres seus companheiros e louvados10 atrás declarados se foi
ao termo da vila de Veiros onde chegam as terras da dita herdade e partem
com terras da dita província de Vale de Infante e da capela de Lourença
Andreu onde apareceu Pero Fernandes Gamoso administrador da dita capela
o qual o provedor houve por citado em sua pessoa para a dita demarcação e
sendo todos entre as terras desta herdade de Nossa Senhora e as da dita
província e as da capela de Lourença Andreu na linda que corta direito à
Cabeça Gorda acharam um marco antigo que ficou por marco do qual
começaram a demarcar e medir contra o norte e contra as casas da herdade
dos pobres onde em um outeiro acharam outro marco antigo e do marco
atrás e primeiro desta demarcação até o que se achou no dito outeiro há
setenta e oito varas11 e três quartas. Lxxbiij varas iij 4as.

E do dito marco se foram medindo direito a outro que logo meteram diante e
do atrás até este há cinquenta varas. Lta. Varas.

E deste se foram por diante ficando a terra em maneira de arco e se meteu


outro marco adiante do atrás até este há cinquenta varas. Lta. Varas

E desta marco se foram avante até o sesmo que divide os extremos de


Veiros e Fronteira onde se meteu um marco na borda do sesmo da parte do
termo de Veiros e do atrás até este há oitenta e seis varas e dos dois marcos
de atrás até este fica a terra desta herdade de Nossa Senhora com a dos
pobres em maneira de arco como atrás dito foi. Lxxxbj varas.

E do dito marco que fica na borda do sesmo de Veiros até outro que se
adiante meteu há quarenta e uma varas e três quartas. Vj varas iij 4as.
E deste marco até outro marco antigo que se ora levantou por estar mal
posto há setenta e seis varas. Lxxvj varas.

E deste marco até outro marco antigo que se logo adiante achou há oitenta e
nove varas. Lxxxjx varas.

E aqui faz a terra dos pobres uma chave pequena.

E do marco atrás até o cotovelo da dita chave onde se meteu outro marco há
vinte e seis varas. xxbj varas.

E deste marco se foram por diante para o ribeiro de Vale de Maceiras e


antes do dito ribeiro se achou outro ribeiro pequeno no direito das casas da
herdade dos pobres e antes de chegar ao dito ribeiro pequeno meteram um
marco na meia ladeira e do atrás até este há cem varas. cto varas.

E deste marco em diante até outro marco antigo que adiante se achou
passando com a medida por cima do ribeiro pequeno e do marco atrás até
este há cem varas. cto varas.

E deste marco até outro que se meteu na borda do ribeiro de Vale de


Maceiras onde se achou outro marco velho há cento e dezoito varas e ficou
outrossim este marco novo e o outro velho pegados um no outro. cto xbiij.

E destes dois marcos se lançou a demarcação e medição ao diante e logo se


meteu outro marco na lameira atravessando o ribeiro por cima com a
medição até à dita lameira em que se diz se fazia uma eira em o tempo
passado e do marco atrás até o que se meteu na dita lameira há onze varas.
xj varas.

E logo puseram outro marco adiante deste na borda da dita lameira e do


marco atas até ele há vinte e cinco varas. xxb varas.
E adiante deste marco puseram outro e do atrás até ele há vinte e cinco varas
este marco era antigo e se renovou. xxb varas.

E neste dia não se fez mais por ser tarde Rui Dias o escrevi.

E aos vinte e um dias do mês de Maio de mil quinhentos e setenta e dois


anos no termo da vila de Fronteira na herdade do Freixial de Nossa Senhora
do Espinheiro foram juntos o dito provedor com os louvados e comigo
escrivão e com os ditos prior e procurador do mosteiro de Nossa Senhora e
com os ditos regedor e pobres e sendo todos juntos se prosseguiu a medição
da dita herdade pela maneira seguinte Rui Dias escrivão o escrevi.

E deste marco mediram por diante vale arriba onde meteram outro marco e
do atrás até ele há setenta varas. Lxx varas.

E deste marco atravessaram o ribeiro que está à frente do Borraz e se pôs


outro marco no lavradio que foi lameira antes de chegar à fonte e do atrás
até ele há setenta varas. Lxx varas.

E deste marco se mediu até à dita fonte do Borraz onde na borda dela se
achou um marco antigo que divisava a regadeira da fonte abaixo deste ao
marco que atrás se meteu e do marco atrás até o da fonte há quarenta e nove
varas e logo se pôs outro marco junto deste velho que se achou da fonte o
qual marco que se assim pôs divisa contra o norte Vj [quarenta e uma]
varas.

E neta fonte do Borraz faz esta herdade um canto como rabo de sisão e
voltando dele contra o norte se achou logo um marco antigo e se mediu do
da fonte até os que se acharam de um a outro doze varas. xij varas.

E deste cortando direito para diante contra o ribeiro que está aquém do
curral meteram outro marco antes de chegarem ao dito ribeiro e do atrás até
este há cinquenta varas. L varas.
E mais adiante meteram outro marco antes de chegar ao dito ribeiro e do
atrás até ele se acharam catorze varas. xiiij varas.

E deste se foram pelo ribeiro que vem da caleira acima ficando o ribeiro na
terra de Nossa Senhora até onde atravessaram o dito ribeiro e meteram um
marco que fica de ponta para esta demarcação atrás e meteram outro junto
com este que demarca e divisa a linda que vai contra a estrada de Monforte
e do atrás até este há cento e quatro varas. Cto iiij varas.

E entre estes marcos se meteu outro da banda dalém do ribeiro contra a


herdade dos pobres.

E do marco atrás foram pela linda que está entre a herdade digo entre esta
herdade e a dos pobres que vai para a estrada de Monforte e em direito do
curral que está na herdade de Nossa Senhora se meteu um marco e do atrás
até ele há cem varas. Cto varas.

E deste marco se foram pela linda acima até onde a linda faz uma volta e as
terras destas herdades fazem cada uma sua chave e no fim da dita linda onde
se fazem as ditas chaves se meteu um marco e do atrás até ele há cento e
vinte e seis varas. Cto xxvj varas.

E deste marco pela dita linda se mediu esta chave até outro que se meteu no
fim dela ao pé de uma piorneira e do marco atrás até ele há treze varas. xiij
varas.

E deste marco tornaram a ir pela dita linda adiante até uma assomada onde
se achou um marco antigo e do atrás até ele há cento e oito varas. Cto viij
varas.

E deste marco pela dita linda até entestar na estrada de Monforte onde
meteram outro marco na borda da dita estrada há setenta e nove varas.
Lxxix varas.
E aqui fez fim a demarcação e medição desta herdade com a dos pobres que
foram presentes e mostraram a demarcação que da sua parte era feita na sua
herdade a qual posto que em algumas partes se não ache conforme
houveram por boa e foram contentes de se fazer pela maneira atrás por
acharem ficar assim na verdade e para mais clareza foram dela contentes
Rui Dias Zagalo escrivão o escrevi.

E porque as terras desta herdade partem com terras de António Gomes pela
estrada de Monforte e foi presente o dito António Gomes ontem que foram
vinte dias deste mês e ano e foi havido por citado em sua pessoa para vir
estar à dita demarcação e antes que se fizesse o provedor por ser informado
que Lourenço Francisco morador em Vale de Maceiras era pessoa antiga e
que sabia a confrontação da dita herdade com o dito António Gomes e com
outros senhorios o mandou vir perante si e lhe deu juramento dos santos
evangelhos em que ele pôs a mão e por ele lhe mandou que bem e
verdadeiramente com sã consciência demarcasse e divisasse as terras da dita
herdade com os mais [frades?] e com os mais louvados e ele pelo juramento
que recebeu assim o prometeu de fazer e o provedor mandou fazer este
termo que com ele assinou Rui Dias escrivão o escrevi.

E do marco atrás se foram pela dita estrada de Monforte abaixo para Vale de
Maceiras onde meteram um marco em um teso na terra dos frades de Nossa
Senhora e do atrás até este há sessenta varas. Lx varas.

E do marco atrás se foram pela dita estrada avante e meteram outro marco
ao pé de um carapeteiro e do atrás até este há oitenta e cinco varas. Lxxxb
varas.

E deste marco foram pela dita estrada onde no outeiro que está à vista de
Vale de Maceiras puseram outro marco e do atrás até ele há cento e vinte e
sete varas. cto xxbij.
E deste marco foram pela dita estrada onde em um arrife descendo para
Vale de Maceiras se meteu outro marco e do atrás até ele há noventa varas.
Lv varas.

E deste marco se foram pela dita estrada abaixo para as casas de Vale de
Maceiras e meteram outro marco e do atrás até ele há noventa e duas varas e
meia. Lvij varas ma.

E mediram mais pela dita estrada abaixo até onde meteram outro marco e do
atrás até ele há setenta e sete varas e meia. Lxxbij varas ma.

E mediram mais pela estrada abaixo até onde meteram outro e do atrás até
ele são setenta e cinco varas. Lxxb varas.

E mediram mais pela dita estrada abaixo até onde no meio da dita estrada
acharam um marco antigo que ficou no lugar onde estava e do atrás até ele
há noventa e sete varas e meia. Lvbij varas ma.

E deste marco mediram pela dita estrada abaixo até o sesmo do concelho
que vai das casas de Vale de Maceiras para a Cabeça do Drago onde na
borda do sesmo na encruzilhada dele da parte de cima donde se vem com
esta medição se achou ao pé de uma cruz um marco que se achou ser posto
pelo concelho de Fronteira e do atrás até ele há quarenta e três varas. Viij
varas.

E logo no mesmo sesmo está outro marco que se diz ser também do
concelho e ambos estes marcos estão na terra de Nossa Senhora.

E aqui faz esta terra outra volta como rabo de sisão e vai entestar no ribeiro
de Vale de Maceiras com a herdade de Gaspar Rodrigues filho da
Chanquina onde na barranceira aquém do ribeiro se meteu um marco por
respeito do ribeiro e do atrás do sesmo até este há cento e cinquenta e três
varas e entre este marco do sesmo e o do ribeiro se meteu outro marco entre
as terras desta herdade e terras de Manuel Gonçalves de Fronteira que fica
às sessenta e duas varas medindo-se do sesmo para o dito ribeiro.

E dado que este marco se meteu nesta barranceira foi por respeito do ribeiro
o não arrancar mas a demarcação e terra de Nossa Senhora chega ao ribeiro
e barranceira dele da banda dalém da terra de Gaspar Rodrigues.

E logo mediram da borda da [marcha?] da água da banda do dito ribeiro da


terra de Gaspar Rodrigues ao longo do ribeiro que fica oposto e por o ribeiro
fazer volta passaram por cima do dito ribeiro e na lameira que adiante dele
está meteram um marco e do atrás até ele há cinquenta varas. L varas.

E logo meteram mais outro marco na dita lameira de junto deste e do atrás
até ele há vinte e nove varas e meia. xxix varas ma.

E logo mais acima deste marco meteram outro marco na borda do dito
ribeiro da banda da terra de Gaspar Rodrigues e do atrás até ele há trinta
varas. xxx varas.

E por esta terra fazer aqui chave e tornar a passar o ribeiro se mediu por
cima do dito ribeiro tornando a voltar para o oposto sobre a terra da herdade
de Nossa Senhora e se meteu um marco no fim da dita chave e do atrás até
ele há quarenta e duas varas. Vij varas.

E a dita terra torna a sair do fim da dita chave direito por um rego que se
lançou por uma linda antiga que [lhe?] fica dentro e vai ter ao dito ribeiro
onde na borda dele e antes de chegarem a ele se meteu outro marco e do
atrás até este há oitenta e quatro varas. Lxxxiiij varas.

E do dito marco atravessaram o dito ribeiro até à borda do mesmo sesmo


que vai para a Cabeça do Drago onde se achou um marco antigo na borda do
dito sesmo entre a cabeceira da terra que ficou de Domingos Lopes que ora
é da misericórdia da vila de Fronteira e de Nossa Senhora e do marco atrás
até este há trinta e seis varas. xxxbj varas.
E o dito marco está conjunto à borda digo à borda do dito ribeiro e da parte
da terra de Nossa Senhora e daqui parte esta herdade com terras da
misericórdia de Fronteira.

E deste marco mediram pelo dito sesmo acima para a Cabeça do Drago indo
sempre pelo dito sesmo e no teso da ladeira meteram um marco e do atrás
até ele há cento e cinquenta varas. cto Lta varas.

E deste marco mediram pelo sesmo acima e puseram outro marco na estrada
da dita Cabeça do Drago e do atrás até ele há setenta e cinco varas. Lxxb
varas.

E deste marco saíram pelo sesmo acima até onde faz um cotovelo onde se
meteu outro marco e do atrás até ele há cem varas. cto varas.

Este marco fica em direito de uma linda que está entre as terras da
misericórdia de Fronteira que foram de Domingos Lopes e uma courela da
capela de Lourença Andreu com quem aqui a herdade de Nossa Senhora
parte.

E deste marco saíram pelo sesmo acima até o alto da Cabeça do Drago onde
meteram um marco entre um carapeteiro e umas pedras antigas levadiças
que parece fazerem valado ao longo do caminho do sesmo e do marco atrás
até este há duzentas e setenta e três varas. ij Lxxiij varas.

E aqui faz esta herdade volta pela Cabeça do Drago águas vertentes pelo
dito sesmo contra o oposto e se meteu outro marco no dito cabeço e do atrás
até ele há vinte e nove varas. xxix varas.

E deste marco mediram pelo dito sesmo abaixo partindo com terras de frei
Gaspar Lopes e de dom Miguel e da capela de Lourença Andreu e de Fernão
Vicente e meteram outro marco na testeira da linda que divide as terras de
Fernão Vicente com as da capela de Lourença Andreu e do marco atrás até
este há cento e noventa e cinco varas. cto LVb varas.

Aqui faz esta terra uma chave pequena de quatro varas até um marco que
[…] a dita linda junto do qual está outro marco que torna a divisar pelo dito
sesmo.

Do qual marco tornaram a medir pelo sesmo acima direito onde se começou
esta demarcação e atravessaram por cima do sesmo que divide os termos de
Veiros e Fronteira e se achou outro marco antigo que se ora assentou de
novo e do atrás até ele há cento e oitenta e duas varas. cto Lxxxij varas.

E deste marco se mediu até o marco onde se começou esta demarcação e


dele até o primeiro há cento e trinta e seis varas. cto xxxbj varas.

E posto que o sesmo e caminho dele estrada de Monforte em outras partes


se vá em voltas pequenas a medição se fez por um cordel direito sem se
fazer conta nem menção das ditas voltas por serem pequenas e o cordel
cortando partes.

E as casas desta herdade e todas as terras dela lavradias e bravas que estão
dentro desta demarcação e medição são da dita herdade de Nossa Senhora.

E pela maneira atrás declarada a dita herdade foi medida e demarcada pelos
ditos louvados em pessoa das partes que apareceram e à revelia das que não
foram presentes como atrás se faz menção e o provedor com os louvados
houveram a dita demarcação e medição por boa e verdadeira e mandou o
dito provedor que se cumpra deste dia para todo o sempre e a houve por
notificada às partes a que toca para algumas das que não foram presentes
mandaram recado que se fizessem [similes?] posto que não aparecessem e o
dito provedor mandou que as partes todas se tivessem e não passassem de
uma parte a outra antes deixassem lindas abertas daqui em diante para se
saber por onde as terras partiam sob pena de se proceder contra os que o não
cumprissem como fosse justiça além de incorrerem nas penas das posturas e
de todo o dito provedor mandou fazer este auto de […] no qual houve por
feita a dita medição e demarcação desta herdade e a julgou por sentença e o
assinou aqui com os louvados sendo a tudo presentes por testemunhas
Manuel [.?.] e Rodrigo Eanes moradores no dito Vale de Maceiras e Manuel
Nunes solicitador dos resíduos morador na cidade de Évora que por
mandado do dito provedor trazia o cordel com que esta dita terra e herdade
mediu o qual cordel fora medido por uma vara de medir pano de linho e
tinha cinquenta varas e eu Rui Dias Zagalo escrivão da provedoria que a
tudo fui presente e que este escrevi.
1
Carneiro, André. Carta arqueológica do concelho de Fronteira. Lisboa: Ed. Colibri/Câmara Municipal de Fronteira, 2005.
2
Arquivo Distrital de Évora. Provedoria da Comarca de Évora. Convento do Espinheiro. Cx. 16 e 17
3
Apesar das disposições da lei, era relativamente frequente, mediante autorização régia, a venda ou troca dos bens
vinculados desde que não se verificasse diminuição do seu valor.
4
Procurador bastante
5
Oficial superiormente responsável pelas coudelarias reais
6
Pobres da Serra d´Ossa , isto é, os monges paulistas do convento da Serra d´Ossa, também chamados pobres da pobre vida
7
Sem disputa
8
Renda pela posse e cultura da terra
9
A toque de sino
10
Medidores ajuramentados
11
A vara equivalia, no concelho de Fronteira, a cerca de 1,10 m.

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