Direção Geral da Saúde, por proposta conjunta do Departamento da Qualidade na Saúde, do Programa
Nacional para as Doenças Oncológicas e da Ordem dos Médicos, a Direção-Geral da Saúde emite a
seguinte:
NORMA
1. No rastreio oportunístico do cancro do cólon e reto devem ser incluídos as pessoas assintomáticas
2. Deve ser efetuada educação para a saúde à pessoa (≥ 50 e ≤ 74 anos) sobre os métodos de rastreio
3. A pessoa e/ou o representante legal devem ser informados e esclarecidos dos benefícios e riscos a que
fica sujeito pelo facto de integrar o rastreio e efetuar os meios complementares de diagnóstico.
cuidados/ cuidador sobre rastreio oportunístico no qual consta a descrição das vantagens que existem
na adesão ao rastreio, bem como das técnicas disponíveis, designadamente a pesquisa de sangue
oculto nas fezes e a colonoscopia, bem como os seus benefícios e riscos potenciais, a definir a nível
local.
5. O rastreio deve ser efetuado através da pesquisa de sangue oculto nas fezes (duas amostras de fezes
colhidas em dias diferentes) com recurso à prescrição de testes imunoquímicos (Nível de Evidência II,
1/21
6. Perante um teste imunoquímico negativo deve ser repetida a prescrição de pesquisa de sangue oculto
nas fezes, ao fim de um ano (Nível de Evidência III, Grau de Recomendação B)2.
7. Perante um teste imunoquímico positivo deve ser prescrito uma colonoscopia total (consultar Norma
8. Deve ainda ser obtido um consentimento informado escrito nos termos da Norma N.º 015/2013 6.
9. A partir dos 18 anos, incluindo o grupo etário do rastreio (≥ 50 e ≤74 anos) deve ser prescrita
i. Em familiar do primeiro grau com menos de 60 anos, caso em que a colonoscopia deve
colonoscopia deve ser prescrita aos 40 anos ou dez anos antes do caso índex; ou
Recomendação A)4.
10. Nas pessoas com idade igual ou superior a 18 anos incluindo o grupo etário do rastreio (≥ 50 e ≤74
anos) que apresentam sinais e/ou sintomas sugestivos da existência de patologia colorretal deve ser
prescrito colonoscopia total, sem pesquisa prévia de sangue oculto nas fezes, quando evidenciam
alguma das situações clínicas, fundamentada clinicamente, com registo no processo clínico7 (consultar
Norma nº 004/2014 5:
a) Retorragia/hematoquézia;
c) Melenas após realização de endoscopia digestiva alta que não tenha evidenciado lesões que
as possam explicar;
intestinais;
diagnóstico;
a) A pesquisa de sangue oculto nas fezes em pessoas incluídos no rastreio, nos termos da
presente Norma, deve ser suspensa pelo menos durante um período de cinco anos após a
Recomendação A)9,10;
temporal indicado, deve ser prescrita uma colonoscopia total (consultar Norma nº 004/2014
5
(Nível de Evidência III, Grau de Recomendação C)7:
i. Retorragia/hematoquézia;
iii. Melenas após realização de endoscopia digestiva alta que não tenha evidenciado lesões
hábitos intestinais;
de diagnóstico;
12.Caso o relatório explicite que a colonoscopia realizada não foi total por:
a) Intolerância ou por preparação incompatível com a realização do exame, deve ser ponderada,
13.Deve ser referenciado a consulta de especialidade hospitalar, a efetivar no prazo máximo de trinta
a) Cancro;
14.Deve ser referenciado a consulta de especialidade hospitalar, a efetivar no prazo máximo de sessenta
a) Pólipo (s) com características de risco para excisão em ambiente não hospitalar, referido no
a) História clínica;
16.Na ausência de alerta informático, o médico prescritor deve monitorizar a realização de consulta de
17.Qualquer exceção à presente Norma é fundamentada clinicamente, com registo no processo clínico.
-Pólipos com
Teste Teste características de risco
Colonoscopia Referenciação
imunoquíco imunoquímico de excisão em
total * a consulta de
negativo postivo ambiente não
especialidade
hospitalar
hospitalar **
- Mais de 10 pólipos
e****
- Doença inflamatória
intestinal
Não Normal
inconclusiva
otimizada otimizada
Colonoscopia
Nova Referenciação
total*, ** Intolerância ou Estenose
colonoscopia a consulta de
preparação iunultrapassável
no prazo Sintomático Assintomático especialidade
incompatível de etiologia não
máximo de 1 hospitalar** e
com exame identificável
ano* ****
Repete PSOF ao
fim de um ano
O surgimento Ponderar
de sintomas*** colonoscopia total com sedação/
determina a prescrição de anestesia ou colonoscopia com
colonoscopia total outra preparação, a efetivar
no prazo de 8 semanas**
Colonoscopia total
Outros resultados
Normal
Médico prescritor
Médico prescritor
Hospital
Práticas Clínicas e será atualizado sempre que a evidência científica assim o determine.
Francisco George
Diretor-Geral da Saúde
A. A Tabela de Evidência é a utilizada pela European Guidelines for Quality Assurance in Colorectal Câncer
B. Entende-se por rastreio oportunístico do cancro do cólon e reto, a abordagem individual em consulta
programada e não programada. Ocorre sempre que uma pessoa recorre a uma consulta.
1) Duas amostras de fezes colhidas em dias diferentes e entregues até 72 horas, após o primeiro
dia da colheita, sem restrições dietéticas e conservadas entre 2 a 8º C, até à altura da entrega no
laboratório16;
2) A escolha do teste a ser adotado em cada laboratório deve tomar em consideração as diferenças
significativas que alguns estudos comparativos revelaram entre os diferentes testes comerciais.
E. Pessoas com história familiar de síndromes hereditárias de cancro do cólon e reto devem ser
F. As regras de otimização de uma colonoscopia incluem a realização de um exame até ao cego, em boas
condições de preparação.
B. A colonoscopia é o exame de primeira linha nas pessoas que apresentam sinais e/ou sintomas
C. A realização de colonoscopia tem por objetivo o diagnóstico da patologia do cólon ou reto, podendo
lesões polipoides.
E. Nas pessoas assintomáticas abaixo dos 50 anos, a colonoscopia total é realizada após pesquisa de
F. Nas pessoas assintomáticas com idade superior a 74 anos, a maior probabilidade de detetar patologia
neoplásica no cólon e reto determina uma opção preferencial pela realização de colonoscopia, após
G. A colonoscopia é considerada total quando é alcançado o pólo cecal, funcionando como referência
I. Entende-se como colonoscopia de qualidade a que alcançou o nível pretendido, habitualmente o cego,
com boas condições de preparação e que permitiu uma observação cuidada da maior extensão de
mucosa colorretal possível, com o mínimo de desconforto para a pessoa e sem complicações imediatas
ou tardias.
J. Devem ser cumpridos os intervalos recomendados para o rastreio, vigilância pós-polipectomia e após
ressecção cirúrgica. O cumprimento destes intervalos pressupõe que a colonoscopia inicial seja total,
em boas condições de preparação. Caso tal não tenha ocorrido ou seja desconhecido, poderá ser
Fundamentação
duas localizações tumorais é relativamente elevada, mas enquanto a mortalidade devida aos
tumores malignos do reto apresenta alguma estabilidade a mortalidade dos do cólon manifesta
tendência crescente:
a) Em 2015 ocorreram 2687 óbitos por cancro do cólon (14,5/105 hab, taxa padronizado pelo
método direto) e 1073 por cancro do reto (5,3/105 habitantes, taxa padronizado pelo
método direto)19.
b)
A taxa de incidência dos tumores malignos do cólon e do reto tem vindo a apresentar uma
do cólon e de 17,5/105 habitantes para os tumores do reto19. E em 2010 de 32,1 /105 hab
3) Do facto da sobrevivência global das pessoas com CCR aos 5 anos ser de 50%, mas se o
diagnóstico for realizado num estadio precoce, então a sobrevivência ultrapassa os 90% 21;
b) 20-25% dos CCR (embora mais frequentes no cólon direito) têm origem em adenomas
serreados sésseis23;
específicas e estão na origem de parte dos CCR de intervalo diagnosticados num indivíduo
submetido ao rastreio23.
1) Estes testes são descritos, na maior parte dos estudos, como tendo superior sensibilidade e
especificidade relativamente aos testes tradicionais (que se baseiam numa deteção com recurso
2) A maior sensibilidade destes testes reflete-se, também, numa redução do número de amostras
necessárias para a execução dos mesmos, por comparação com as três amostras
analisar duas amostras em dias separados parece conciliar o aumento de sensibilidade sem
componente proteica da hemoglobina humana. Este fato permite que não seja necessária a
restrição dietética, obrigatória nos testes tradicionais por não haver interferência de
4) São testes menos sujeitos a interferências por hemorragia alta, uma vez que a globina,
5) São testes mais sujeitos à instabilidade da amostra. No entanto, a instrução que refere a entrega
das amostras até 72 horas, após o primeiro dia da colheita, com conservação das mesmas entre
6) A escolha do teste a ser adotado em cada laboratório deve tomar em consideração as diferenças
comerciais7,26.
A. A colonoscopia tem vindo a assumir uma importância crescente na actividade diária dos
B. O seu papel é determinante no contexto da patologia neoplásica do cólon e reto, patologia essa que
C.Trata-se de uma técnica não isenta de complicações e que apresenta uma longa curva de aprendizagem,
deste procedimento endoscópico tornando-o frequentemente doloroso, o que, por sua vez, condiciona
Avaliação
B. A efetividade da implementação da presente Norma nos cuidados de saúde primários e nos cuidados
conselhos clínicos dos agrupamentos de centros de saúde e das direções clínicas dos hospitais.
A. A implementação da presente Norma pode ser monitorizada e avaliada através dos seguintes
indicadores:
Comité Científico
Auditoria e Qualidade da Ordem dos Médicos, através dos seus Colégios de Especialidade.
B. A proposta da presente Norma foi elaborada por Pedro Narra Figueiredo, Anabela Pinto, José Cotter
(coordenação cientifica), Ângela Teixeira, Joaquim Figueiredo Lima, Paulo Paixão, João Côrte Real,
incompatibilidades.
D. A avaliação científica do conteúdo final da presente Norma foi efetuada no âmbito do Departamento
da Qualidade na Saúde.
Coordenação executiva
A coordenação executiva da atual versão da presente Norma foi assegurada por Cristina Martins
d´Arrábida.
Coordenação Técnica
A coordenação técnica da atual versão da presente Norma foi assegurada por Cristina Ribeiro Gomes
Pelo Despacho n.º 8468/2015, do Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde, de 23 de maio,
publicado no Diário da República, 2.ª série, n.º 149, de 3 de agosto de 2015, a Comissão Científica para as
Boas Práticas Clínicas tem como missão a validação científica do conteúdo das Normas de Orientação
Siglas/Acrónimos
Siglas/Acrónimos Designação
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