Você está na página 1de 12

Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Departamento de Arqueologia

Graduação em Arqueologia

Relatório- Produção de cerâmica


Santana de São Francisco

Disciplina: Lab. De cerâmica I

Docente: Claudia

Discentes: Celyne R. Brito dos Santos

Leticia Batista

Ariane Dália

Recife

16/08/2014
Introdução Histórico e Rota

Este relatório trata-se da produção de cerâmica do município de Os primeiros ocupantes da região foram os Holandeses, que
Santana de São Francisco em SE. Falaremos um pouco sobre a vieram no final do século XVII, disfarçados de Jesuítas, em
historia da cidade, e também as etapas de produção da cerâmica busca de ouro e de pau-brasil, permanecendo na terra até serem
na cidade, uma das principais fontes de renda das famílias da expulsos pelos Portugueses. Após a expulsão dos Holandeses,
localidade, com foco mais precisamente em uma das olarias em meados de 1730, começaram a chegar os primeiros
regida pelo Sr, Edinei Pinto, que se situa na Rua Belarmino colonizadores da região. Não são existentes registros históricos
Gomes 406, como também fazer uma breve análise nas fases de do processo de evolução local até o início do século XX, quando
produção da cerâmica e técnica adotada na olaria. Pedro Gomes passou a terra ao seu filho, o Capitão Belarmino
Gomes da Silva Dias, fundador da Fazenda Carrapicho.

Esta fazenda consistia de vastas terras, limitadas pelo Rio São


Francisco, que recebeu esta denominação pela grande
concentração de vegetação, cujos pequenos frutos com espinhos
ou pelos, aderem facilmente à vestimenta do homem, nos pés
descalços e ao pelos dos animais. Posteriormente, as terras e
lagoas passaram, em sucessão, aos herdeiros, que assumiram
as atividades exploratórias da lavoura.
1
2
O surgimento dos primeiros artefatos manuais com barro, deu- A cerâmica propagou-se na região, transformando-se logo em
se pela facilidade de trabalhar aquele tipo de solo, bem como fonte produtiva do ponto de vista econômico, gerando emprego e
pela necessidade, por parte da família dos empregados da renda, tornando-se conhecida também como manifestação da
fazenda, de utensílios domésticos. O primeiro artesão foi José cultura popular. O advento da cerâmica em Carrapicho
Feliciano Passos, empregado da fazenda e que, contra a proporcionou o aumento de sua população, em decorrência de
vontade de seus patrões, casou-se com uma das herdeiras, volumes de pessoas que ali buscavam a terra para morar e
Joana da Silva Dias. Após conhecer seu primogênito, José trabalhar, passando assim a definir o povoado.
Carvalho Passos e com a dissolução de seu casamento, Joana
As pessoas que ali buscavam moradia, pagavam uma taxa de 3
contraiu novo matrimônio com Antônio Mathias Barroso;união
mil réis pelo aforamento da terra, e se ocupavam dos cultivos de
que resultou outros filhos.
subsistência, principalmente com arroz e das atividades com
Mais tarde, com o falecimento de Joana, José Carvalho Passos, cerâmica. Segundo declarações de pessoas entrevistadas no
apesar de ser primogênito, não participava da divisão dos bens, local, a aquisição de moradia de grande parte da população do
e assim, as terras ao poder da família Barroso, que as mantém, povoado de Carrapicho ocorria do seguinte modo: A escritura da
em grande parte, até hoje. José Carvalho Passos deu casa era feita no Cartório de Neópolis, sendo o terreno foreiro de
continuidade ao trabalho de seu pai como artesão o que ainda é propriedade da família Barroso. Esta situação permanece sem
tradição da família. Seu filho, Messias da Silva Passos, iniciou alterações significativas na atualidade. Em 1962, lideranças
junto com a comunidade a construção da igreja Matriz em 1907. locais como Edgar Silva e Celso Rezende movimentaram o
O neto de José Carvalho Passos, conhecido como Senhor Zuza, povoado e encaminharam à Assembléia Legislativa reivindicar
nascido em 09-11-1922, é quem preserva, até hoje, os dados para a emancipação política de Carrapicho.
históricos de Santana do São Francisco.
4
3
Entretanto, com o golpe militar de 1964 e a consequente O povoado Carrapicho recebeu um considerável contingente
suspensão dos direitos políticos, aliada à ausência de eleição no populacional em busca de trabalho na poscicultura e no cultivo
país, Carrapicho permaneceu na condição anterior do município. do arroz. Em 1977, o governo do Estado implantou a
O crescimento do povoado Carrapicho, segundo seus Cooperativa Artesanal de Carrapicho, visando incentivar e
moradores, deu-se pela disponibilidade da terra, que provocou a dinamizar a fabricação de artefatos de cerâmica. Entretanto
chegada de um grande número de pessoas a procura de esses objetivos não se concretizaram e a experiência
trabalho e melhores condições de sobrevivência, configurando cooperativista fracassou em decorrência do descrédito dos
assim a povoação da cidade. associados.

Suas primeiras ruas tinham denominação típica das pequenas


cidades: Rua do Penico; Rua Compra Fiado; Rua da Arapiraca,
Figura : Vista de barco, do
Rua do Quadro; Rua da Bananeira, Rua do Cajueiro, etc. década
município de Santana do
de 70, as manifestações em Santana do São Francisco,
São Francisco. Autor:
ocorreram em consequência dos acontecimentos, nas esferas
Celyne Santos 13/07/2014
Nacional e Estadual. É nesse período que a CODEVASF se
instala com o objetivo de dar apoio à região do Baixo São
Francisco, através da realização do Projeto de Colonização e
Irrigação, no qual o município está inserido.

5
6 conhecimento foi passado ao longo do tempo. Para chegarmos
ao município de Santana de São Francisco, tivemos que nos
hospedar em um hotel chamado S. Francisco na cidade de
Penedo – AL esta é uma cidade histórica com seus lindos
prédios que serviram de Base sólida ao primeiro povoamento,
ainda Capitania de Pernambuco. A na historia desta linda cidade
vemos nomes ilustras com Américo Vespúcio em 1501 quando
ele descobre o rio São Francisco . Em 1502 a Europa já ouvia
falar sobre o Rio São Francisco através da Carta Geográfica de
Alberto Cantino, despertando interesse para suas minas de ouro
e prata.

Também vemos em 1534, Duarte Coelho Pereira, primeiro


donatário da Capitania de Pernambuco, desceu pelo litoral,
Figura: Distancia de 2,77 Km de Penedo a Santana de são adentrou pela foz e a sete léguas encontrou um pequeno
Francisco . povoado que somente em 1560 foi oficialmente reconhecido pelo
segundo donatário, Duarte Coelho Pereira de Albuquerque:
Viajamos uma distancia de 2,77 km pelo Rio São Francisco de
Penedo do São Francisco. E finalmente em 12 de abril de 1636,
barco, ( meio de transporte de ligação entre um município e
foi elevado à categoria de Vila com o nome de Vila do Penedo do
outro) para chegar as 9:30 hrs do dia 12/07/2014 em terra firme,
São Francisco, recebendo o título de “Mui Nobre e Sempre Leal”.
o objetivo da visita a este ,município é observar a produção
destes artefatos e descreve-la além de entender o que a Esta condição de vila foi conquistada por ser centro polarizador
cerâmica representa para o povo do município, e como este de material humano de primeira qualidade e pelo refinamento de
sua cultura à moda européia, bem como seu status sócio Francisco até os dias de hoje, e também do artesanato. Porém a
econômico. Em 1637, Maurício de Nassau invadiu Penedo e marcante presença das cerâmicas de Carrapicho é muito forte
assim passamos 10 anos sob o domínio holandês. A Vila passa devido a proximidade das regiões.
a chamar-se Maurícia.

Em 19 de setembro de 1645, Valentim da Rocha Pita, grande


Olaria do Sr. Ednei
herói penedense,, comanda a batalha final no Alto do Monte
Alegre, hoje, Praça Clementino do Monte. No ano de 1660 os Ao atracarmos no Município de Santana de São Francisco,
franciscanos chegaram a Penedo e aqui construíram o Convento temos a visão do mercado de artesanato onde é vendido alguns
e Igreja de Santa Maria dos Anjos, com escolas de francês, latim exemplares da cerâmica fabricada na região, podemos observar
e filosofia. Em 18 de abril de 1842, Penedo torna-se cidade. Em outros aspectos do município como o uso do rio São Francisco
14 de outubro de 1859, a cidade do Penedo tornou-se sede do para lavar roupa, cozer, dar banho nas crianças e até mesmo
Governo Imperial com a visita de Sua Magestade Augusta Don lavar carro e moto, esta cena mostra o quanto aquele povo
Pedro Segundo, Imperador do Brasil. depende do rio pra sua sobrevivência.

Em agosto de 1889, Sua Alteza, Príncipe Gastão de Orleans e


Bragança, Conde D’ Eu, chegou à cidade do Penedo e foi
recebido em audiência especial pela Diretora do Montepio dos
Artistas, entidade agraciada com a doação de cem mil réis e que
conferiu ao Príncipe o título de Sócio Protetor... a cidade também
tem como principal finte de renda os recursos do rio São
8
7
porém sua maior peça é o pesão chegando a uma altura media
de 26 cm . A peça que traz maior retorno é o barco, este é
pedido em todas as localidades sempre em grande quantidade,
Figura: Lavadeiras
na beira do Rio São
Francisco . Autor :
Figura: Pescador
Celyne Santos
sentado ainda cru .
12/07/2014
Autor: Leticia Batista
12/072014

Subimos até a olaria de Sr. Edinei, que tem 35 anos e é artesão


popular, completou o ensino médio completo e sua especialidade
é a cerâmica figurativa, com representações de pescadores e
bêbados na sua grande maioria, Edinei trabalha com mais 5 Todas as peças são de autoria dos artezões e tem grande

pessoas, ao todo são 3 artesãos e 3 ajudantes, que fazem 250 aceitação no mercado, assim nenhuma peça até hoje foi deixada

peças por mês no mínimo, e vendem por encomenda para todo o de ser fabricada por falta de encomenda. Segundo Sr. Edinei um

pais como atacado, para lojas de decoração e artesanato. Os indivíduo pode aprender o oficio a partir dos 11 anos, ele conta

pescadores feitos nessa olaria chegam a uma altura de 15 cm , que na sua familia todos eram artezãos só que especializados
em cerâmica ultilitaria, e ele se especializou a 5 anos apenas em
peças figurativas e montou esta cooporetiva de amigos que é

10
9
sua olaria suas peças hoje variam de 3 reias a 6 reais e esta é a
principal fonte de renda da sua casa e dos outros artesãos. Figura: Carroça
carregando argila
Fabricando argila pronta para venda .
Autor: Celyne
O Sr. Edinei tanto nos explicou como também mandou uma Santos 12/072014

pessoa para nos levar até o local de origem da argila usada por
ele, fica em uma lagoa nas proximidades, onde também é
recolhido o antiplastico, existem muitos tipos de barro neste
local, as grandes empresas extraem argila dessa localidade,
assim a manufatura dos habitantes artesão é minúscula
comparado ao numero ezorbitante de recursos extraidos. A argila A olaria de Sr.
extraida de forma artezanal, é preparada e vendida as olarias da Edinei opta por uma argila sem anti-plástico, segundo ele, a
proximidades, existem várias pessoas que preferem vender o escola do tipo de argila varia de acordo com a olaria . Após a
recurso do que fazer a propria cerâmica. Como existem vários argila comprada ela é estocada em um grande bolo que chega a
tipos de barro em um só local é possivel encontrar materiais mais de 1 m de altura.
mas plasticos e outros não, qunado necessário o anti-plastico é
ultilizado de forma gradual acrecentando conforme a precisão,
este é achado em rios ou estradas na sua maioria é areia de rio.

11
12
.

Figura: Armazenamento de argila Figura: Ajudante usando


crua e artesão. Autor: Leticia Batista o molde . Autor: Leticia
12/07/2014 Batista 12/07/2014

As peças dessa olaria são pré moldadas, existem moldes de


gesso que auxiliam no formato do objeto, no caso do pecador ou
bêbado os membros são pré moldados e recebem retoques com
modelagem, e seu corpo é modelado, os ajudantes ajudam no
processo de amaciamento da argila e também na pré moldagem,
Após o armazenamento da argila crua, são separados pequenos
a modelagem o artesão que faz, trazendo a identidade a peça, é
bolos que serão pisados e depois prensados com duas placas de
usado agua para moldelagem, carimbos, pinsas, palitos e outros
gesso.
para fazer o detalhamento das peças ainda crua, todo seu
processo de moldagem e modelagem é feito com a argila neste
estagio. Ele explica que a argila tem três fazes a primaria quando

14
13
é extraída, a secundária quando esta sendo preparada e animal entrar no forno na hora do cozimento, ou algo atrapalhar
aderindo o anti-plastico e a terciaria quando ela esta no ponto de a queima, a fornada se perde e é descartada sendo quebrada
modelagem. Na olaria dele esses três estágios são regulamente nos fundos da olaria, o descarte que acontece assim que a peça
respeitados a cada 15 dias. defeituosa sai do forno, não e ca única maneira de se obter esse
tipo de resultado, quando alguma peça quebrada volta das mãos
do consumidos para a olaria , esta peça é descartada, a não ser
Figura: Sr. Edinei os casos onde a peça ainda pode ter serventia, então esta e
Modelando pescador
colocada durapox e depois mandada novamente para um cliente,
sentado Autor: Celyne
Santos 12/07/2014 a queima perfeita da fornada segundo o artesão é de 600 a 800 ° .

Figura: Forno da olaria , Autor


Leticia Batista 12/072014

Queima

A queima das peças são feitas em um forno de barro no fundo da


casa totalmente fechado, e em um intervalo de 8 horas, apesar
dessa olaria funcionar 10 horas por dia, este é um numero
grande de horas comparado a media de cozimento das outras
olarias, o forno é tampado e se por alguma eventualidade algum
16
15
Pintura 1
7
A pintura é feita com tinta água verde, vermelha, azul, marrom e
amarelo que estava em falta porém o uso dessas três cores Conclusão
forma um lindo aglomerado de cores que na qual é tradição
Após o processo de fabricação, a peça é vendida e como já
pintar este tipo de personagem com essas cores, a pintura é
falado anteriormente e a principal fonte de renda daquela
realizada após a queima e é deixada para secar em um intervalo
população, todas as cerâmicas classificadas como caulinita, é a
de 5 hrs em tempo aberto e lugar aberto. A tinta agua seca
expressão do cotidiano daquele povo, um povo que guarda sua
melhor na cerâmica já cozida quando não é estocada em pontos
tradição firmemente ao longo dos séculos, e que enriquece o
de humidade, por isso as peças são secadas ao ar livre com a
trabalho cientifico mantendo viva a tradição ceramista de
ajuda do sol e do vento.
carrapicho, assim podendo servir como material de referencia
Figura: Pescador para estudarmos a produção e uso da cerâmica na região, como
tocando, autor: Celyne
também questões de etno arqueologia, contudo podemos ficar
Santos 12/07/2014
cientes do trabalho ceramista deste município, e também do
valor material e imaterial que tem este objeto para a população
carrapichense, o lugar onde a tradição ceramista é passado de
pai para filho e não se perde ao longo do tempo.

Figura: Artesão da Olaria de Sr. Edinei ,


Autor: Celyne Santos 12/07/2014
Conclusão......................................................18
18

Sumário

Introdução .....................................................03

Histórico e rota...............................................04

Olaria do Sr. Edinei........................................08

Fabricando argila ..........................................11

Queima .........................................................15

Pintura............................................................17

Você também pode gostar