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Requali

ficaçã
o da O
rla de
São Francisco, MG

1
Pedro H.A.Gonaçalves - 2021
Apresentação
O trabalho de diplomação trata da requalifica-
ção da orla do Rio São Francisco na cidade de
São Francisco Minas Gerais. O local de estudo
escolhido é o ponto mais importante da cida-
de, símbolo de afeto dos sãofranciscanos. O rio
ainda hoje é marco principal, foi de onde surgiu
a cidade e por onde se mantém, onde nascem as
lendas, a cultura e se estabelecem as raízes de
quem lá vive.

Universidade Católica de Brasília - UCB


Curso de Arquitetura e Urbanismo

Projeto de Diplomação II - CAU/UCB

Graduando: Pedro Henrique de Andrade


Gonçalves
Orientadora: Carla Freitas

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Índice
Parte I
01 - Introdução. 05
02 - Evolução Urbana. 06
03 - Lendas Crenças e Folclore. 18
04 - Dados IBGE. 20
05 - Património Histórico. 24
06 - O conceito da Ecogênesi 25
07 - Diagnóstico da área. 26
08 - Diretrizes. 39
09 - Programa de necessidades. 40
Parte II
10 - Paisagem e Cultura. 42
11 - Área Existente. 43
12 - Inspiração de Projeto 44
13 - O projeto 45
14 - Detalhamentos 70

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PARTE I

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mento de lar. ção que reorganize os usos e promo-
Introdução A vida remota da cidade pequena é va um resgate das condições am-
marcada por tradicionalismo, pela bientais do ecossistema da região.
O norte mineiro, assim como o
rotina que expressa nos olhos de Um projeto que possa trazer a ideia
nordeste brasileiro, é uma região
pessoas sentadas na porta de casa, de que não sejam impostos apenas
sofrida, sertaneja, marcada pela
pelo ir e vir, pelas caminhadas no os valores sociais sobre o espaço,
aridez da natureza. O rio, além de
fim da tarde, exercícios, encontros, mas sim um elo entre o meio am-
dominar a paisagem e proporcio-
beijos da adolescência. E ainda, biente e os desejos locais, buscando
nar a ligação com as outras regiões,
canoas que embarcam e desembar- aflorar o lado lúdico e sensível das
também é o meio pelo qual muitos
cam; pescadores e banhistas que pessoas no espaço, gerando um di-
tiram seu sustento; desta forma, é
atravessam o rio. Nas margens; o namismo sem perder as tradicionais
simbolicamente o sopro de esperan-
carro de som, os bares de fim de características da cidade.
ça da população local.
tarde e o pôr do sol. Cultura forma-
O município de São Francisco é
da na recorrência dos anos; mesmo
criado em 1877, depois de alguns
local, mesmo jeito, e assim a cons-
anos de batalhas e muitas idas e
tituição de uma identidade a partir
vindas políticas. O primeiro nome
do espaço.
que o povoado teve foi Pedra dos
Contudo, com o passar dos anos, a
Angicos, passando para Angicos de
orla de São Francisco foi deterioran-
São Francisco, por fim se firmando
do-se pela ação do tempo. Os pa-
pelo atual nome.
drões de ocupação e de construção
Em 1979, a cidade passou por uma
de décadas passadas se adaptaram
grande enchente, dada a sua con- Mapas de localização
à topografia, revelando a precarie-
formação à margem do rio, o que Fonte: Googlemaps modifiado pelo autor
dades dos projetos iniciais somados
levou à construção de um paredão
ao próprio desgaste desses 40 anos.
de proteção contra possíveis alaga-
Não há esforços para mantê-los, e
mentos futuros. Criou-se assim uma
a cidade se desgasta cada vez mais;
orla de cerca de 6 km que margeia
partes estão sendo isoladas devido
o rio e a cidade, o elo entre ambas
às erosões causadas pelas chuvas.
as partes. A orla se tornou o ponto
O uso do espaço da orla acontece
principal devido a relação ribeiri-
de forma desordenada, em algu-
nha dos habitantes sãofranciscanos
mas partes por bares sem registros,
com o rio. O “Velho Chico” age
acrescido da falta de hierarquia e
como um protetor, a raiz que levo
ordenação de usos.
na memória e me faz retornar à
Há a necessidade de uma interven-
minha origem, abarcando o senti-
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anos grandes combates incessantes
Evolução urbana na tentativa de conquistar as “Ser-
ras Resplandecentes” região de São
Surgimento:
Francisco assim denominada pelo
autor Brasiliano Braz.
A história de São Francisco está
diretamente relacionada com o “Donde se infere que os bandeiran-
rio que lhe empresta o nome. Por tes e o grande rio se defrontaram pela
volta dos anos de 1554, Brasiliano 1ª vez nas proximidades da Barra do
Monail, que outro não é senão o nosso
Braz, escritor regional, aborda em conhecido Rio Mangai, limite do nos-
sua obra o fortalecimento da rota so município com Januária e Brasília
fluvial, saindo da então capital da de Minas. (...) não importam discutir o
itinerário e sim registrar o fato histó-
colônia, para o interior do Brasil. O rico que foi a chegada em terras, hoje
Rio São Francisco tem sua tran- do nosso município, dos primeiros
quilidade substituída por grande homens civilizados (...)”
(BRAZ, 1977, p. 39)
volumes de navegação, se tornou
rota de comércio, atraído, assim, Movimento das embarcações no Rio São Francisco -
Brasiliano Braz ainda afirma que a São Francisco - MG Fonte: Acervo Silvio Cunha.
vários saqueadores e ladrões. Como
Bandeira foi atraída pelas belezas
medida de segurança, foram envia-
do sertão e da paisagem; eles fica-
dos, em meados do século XVI, no
ram extasiados com a beleza do pôr
final do governo de Tomé de Souza,
do sol e dos seus reflexos coloridos
a bandeira espinosa, uma das ban-
no rio vistos pelos penhascos, e aqui
deiras pioneiras ao iniciar a busca
decidiram se estabelecer.(1977, p.
intensa de metais e pedras preciosas
40). Como pode ser visto na ima-
no Brasil, somando a este grupos
gem ao lado.
padres que seriam responsáveis pela
catequização na região desbravando
o Sertão.
As expedições por Minas Gerais,
como de costume, seguiam o curso
do rio, e os bandeirantes, tendo
como líder Domingos do Prado de
Oliveira, se depararam com uma
grande aldeia na região do norte de
minas, a dos Itapiçaba dos índios Beleza do pôr do sol e dos reflexos coloridos
Caiapós e Xacriabás, travando por Fonte: Pedro Gonçalves,2019
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Seguindo encantados com a região, inicialmente como povoado de
muitos anos depois, por volta de Pedra de Cima, mais tarde devido
1700, foi enviado pelo Governo de a riqueza de árvores, foi renomeada
Minas Gerais o Coronel Januário, Pedra dos Angicos¹. passando para
homem que teria o poder absolu- o atual nome ao se emancipar como
to na sua posição de regente, com cidade em 1877.
ordem de conquistar e pacificar o
rio. Para tal fim, ele decretou cessar Consolidação
a guerra entre os povos, não des-
truir as aldeias, e as transformou A produção pecuária sempre atuou
em arraias, procurando assim evitar como um grande marco econômico
sacrifícios das tribos e assegurando na região, contendo, desde o princí- A nossa primeira Igreja
Fonte: BRAZ, 1977, p. 49
a liberdade dos indígenas. Ainda pio, vastas áreas de criação pastoril,
segundo Brasiliano Braz, com o estruturando-se como arraial corpo-
intuito de promover o povoamen- rativo, colaborativo entre os habi-
to ao invés do despovoamento, foi tantes, porém, para proteger-se de Aos poucos, o arraial foi crescendo -Criação de um aterro sa-
confiado o governo dos arraiais aos saqueadores, fez-se necessário um e se expandindo, o cerco de homens nitário, o que gerou possibilidade
parentes e companheiros de armas grande cerco ao redor do arraial já não fazia mais sentido e a cidade da execução de uma das principais
do Coronel, mesmo que sujeitos de homens armados, assim como é conseguiu certa liberdade, o que avenidas, a JK, e ajudou com a salu-
à sua autoridade. A iniciativa foi abordado no livro “São Francisco possibilitou o seu desenvolvimen- bridade pública local;
facilmente acatada pelos índios da caminho da história”. to. O povoado foi se expandindo, -Construção de um merca-
margem direita (onde hoje se tor- surgindo espaços de acordo com as do, onde se realizava os principais
nou o município de São Francisco), “Até volta de 1887, São Francisco era necessidades diárias da população, intercâmbios entre a cidade e a po-
formada basicamente de pescadores
porém os Caiapós bravios da mar- e suas famílias que sobreviviam da dentre elas: Nos anos iniciais por pulação rural através do comércio.
gem esquerda não se reprimiram, pesca e do comércio deste produto volta de 1900 foi se estruturando Decreto de leis para melhor organi-
o que possibilitou o povoamento que era revendido por tropeiros às com: zação das edificações, setorizando
cidades, vilas e arraiais. As pequenas
apenas da margem direita (BRAZ, casas que existiam seguiam o estilo -Calçamento das ruas com os bairros de acordo com classes;
1977, p39) da cultura indígena; construídas de larguras mais adequadas e delimita- -Demolição dos currais e
Por volta de 1702, surgem então barro e com telhados de capim e pa- ção dos nomes, no intuito de formar abrigos para gado que iam para
lhas.” (IBGE,2010)
os 3 povoados, hoje importantes um tecido urbano racional para a matadouros, substituídos pela cons-
cidades do norte de Minas Gerais cidade, com ruas alinhadas; trução de um hospital regional;
à beira do Rio; São Francisco, São -Adoção da iluminação pú- -Construção do açougue
Romão e Januária, todos depen- blica, dada a partir de lampiões que corporativo, centralizando toda a
dentes entre sim e pertencentes à lentamente foram substituídos por distribuição de carne em um ponto
mesma comarca. São Francisco, lampião a gás; sofisticado e rigorosamente asseado,
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provendo empregos pela prefeitura Fotografia 04: Nossa primeira igreja reformada.
e renda para época. Fonte: Marco Antônio Cunha.
Após essas mudanças, ocorreu
um intervalo de desenvolvimento
devido a atritos políticos e a falta de
uma forte administração pública,
que perdurou por volta de 1900 a
1930; foi reorganizado e expandido
o serviço de iluminação pública,
além de criado um grande salão
de incentivo à cultura, o salão de
leitura “High Life”onde recebia as
melhores revistas e jornais da época
vindos da capital, e realizavam
encontros para discutir políticas e se
intitulando os intelectuais da cida-
de. Assim como abordado no livro Nossa primeira igreja
“ São Francisco no Caminho da sendo reformada.
História”. Fonte: Acervo ONG Preservar

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A partir de 1930 pode-se notar animais nas ruas;
-Instalação de um campo de
Nos anos 1930, a cidade volta a sementes para potencializar a agri-
prosperar melhorando as atividade cultura local, já que muitos cana-
econômica.Fato que Brasiliano Braz viais estavam sendo devastados pela
atribui à estabilidade política do praga do mosaico. Mais tarde, viria
estado de Minas, que no momento a se tornar uma escola de internos,
seguia em sua união com São Paulo Caio Martins;
na Política do Café com Leite. -Pavimentação da primeira
Os municípios, mesmo pequenos, rua da cidade, a avenida Montes
foram influenciados economica- Claros, que corta a cidade e sua
mente, e São Francisco se destacou principais avenidas;
pela boa administração de Oscar -Melhorias e criação de pra-
Caetano (BRAZ, 1977, p. 170), que ças, tendo destaque a 15 de novem-
aproveitou tal estabilidade para fa- bro, atual praça do centenário;
vorecer o crescimento e a evolução -Criação de uma praça de Praça 15 de Novembro por volta de 1930, com arborização e luz
do município. Foi a partir de 1930, esportes para interrelação entre o elétrica. Antes da Reforma de 1977.
que a cidade passou por um grande homem da cidade, a fim de estabe- Fonte: Acervo ONG Preservar
salto evolutivo, tendo mudanças lecer uma vida saudável;
marcante como: -O cais do porto, grande
investimento, importante para esta-
-Instalação da luz elétrica; belecer a cidade, onde se tem maior
-Plantio e arborização da relação com o rio.
cidade;
Melhorias em estradas e ruas;
-Criação de dezenas de novas
escolas;
-Estabelecimento do perí-
metro urbano, e áreas onde havia
extensos gramados de pastoreio de
gado deveriam ser mantidas fora da
demarcação, tentativa de separar
este marco forte da relação da cida-
de com o meio rural. Mesmo com Construção do Cais de São Francisco.
a diminuição, ainda hoje, em 2020, Fonte: Marco Antônio Cunha.
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Os anos 30 foram o início da es-
truturação da cidade, já pré esta-
belecendo novos parâmetros para
futuras expansões, delimitando e
criando áreas de lazer, negócios e os
principais edifícios da cidade, espa-
ços que até hoje são mantidos.

Avenida de São Francisco antes de


1930.
Fonte: BRAZ, 1977, p. 70

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Pontos Importantes
Fonte: Pedro Gonçalves, 2020.

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podemos ver na fotografia 06 e 07
Transformações a par- apresentada logo abaixo. A escas-
tir de 1970 sez dos trabalhos rurais e as novas
demandas sociais, paralelamente às
Após as grandes transformações melhorias que estavam sendo reali-
dos anos 1930, a cidade volta a se zadas como a criação de escolas, da
expandir, sendo ampliada a partir prefeitura e do cemitério, fizeram
dos anos 1970, mudanças essas que com que muitas pessoas das áreas
foram recriadas a partir de novos rurais fossem para cidade viver com
costumes, somadas inversão do nú- familiares em busca de oportuni-
meros de moradores rurais e urba- dades, o que refletiu na expansão
nos do município. Conforme dados e na criação de novos bairros. Esse
do IBGE, gráfico 01- Evolução desenvolvimento ocorre por volta
Populacional, demonstrado abaixo. do aniversário de 100 anos da cida-
Eduardo Rodrigues cita em seu Evolução Populacional de, e, por ser uma data importante,
livro, a configuração urbana, que se Fonte: Eduardo Rodrigues, 2013, p. 41. várias foram as mudanças feitas em
volta para além do campo. vista do progresso.
Por muito tempo o marco da cidade
“São Francisco era composta por 7218 foi a relação do povo com o rio. No
Antes
pessoas, em qual da população rural livro História, memórias e viveres
era de 51036 habitantes. Já na déca-
da de 80 a população urbana subiu
de trabalhadores em São Francisco,
para 13719 e a Rural caiu para 48164, Eduardo Rodrigues traz várias me-
pode-se dizer que a sede do município mórias contadas das pessoas mais
até os anos 80 era uma extensão das
práticas e vivências sociais construí-
humildes. Nestes relatos, o rio é em-
das nas comunidades rurais e no seu pregado como parte viva da cidade,
entorno nos anos seguintes começou de onde os pescadores e lavadeiras
haver um equilíbrio entre as duas
populações como por exemplo em
tiram o sustento, onde se chegavam,
2000 havia 27711 pessoas residindo no pelo vapor, os comerciantes que
perímetro urbano e 23648 ocupando realizavam trocas e movimentavam
as áreas rurais da cidade, ou seja 54%
Urbana e 46% Rural nesse sentido a
a economia local, onde crianças
população urbana começou a predo- brincavam e a água era carregada
minar a partir do século 20” (RODRI- em latas para se beber, e das visões
GUES, 2013, p. 41).
e momentos.
Por volta dos anos 1970-1980,
a cidade começou a se expandir
com maior intensidade. Conforme
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Depois Nota-se,nas fotografias acima que, de lazer e contemplação, diminuído
até os anos 70, o agente principal a dependência em relação a ele. Já
da cidade é o rio, sendo a vida das não mais se precisava buscar a água
pessoas que habitam São Francis- em latas, as brincadeiras tomavam
co, um fator que passa quase que outros espaços e o comércio se vol-
despercebido. Mas ao longo do tava vagarosamente para a Praça do
tempo, o rio se tornou um espaço Centenário, demonstradas nas foto
06 e 07.
Ainda assim, o que seria a cidade
de São Francisco sem o rio que lhe
deu nome? Esta é uma resposta que
não conseguiremos responder, mas
o que podemos perceber é que em
1979, a partir da enchente e cons-
trução da orla iniciou um processo
de distanciamento e dependência
direta do rio, perdendo aos poucos
as raízes culturais sãofranciscana.

Uma das grandes mudança é na “Praça 15 de Novembro”,


que se torna a “Praça do Centenário”.
Fonte: Acervo ONG Preservar

Múltiplas atividades da população relacionada com Rio


Fonte: Acervo ONG Preservar

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Enchente e construção da Orla máticas assumem circunstâncias
de pico, com secas maiores que o
- A cheia de novembro e fevereiro, tradicional ou com excesso de chu-
marcada pelas chuvas, pelo verde e vas e inundações. O ano de 1979,
pelos hábitos voltados para as mar- um desses picos de chuvas atingiu a
gens do rio devido ao perigo de suas região, em uma enchente, que afe-
correntezas traiçoeiras. Os habi- tou toda a população, não somente
tantes se voltam para atividades de o perímetro urbano, mas também
contemplação. o seu entorno. Foi o maior nível já
- A seca nos meses de maio à outu- registrado, 13,50 m acima do volu-
bro deixam o solo extremamente me comum. Fazendeiros perderam
Fonte: Acervo ONG Preservar arido, com escassez de água na plantações, pessoas perderam casas,
região e a diminuição do volume do e metade da cidade se encontrava
rio, originando a praia e a possibili- inundada.
dade de banhar com menos risco, o Como forma de ajuda na solução
que gera um ambiente de interação. desses problemas, o governo de Mi-
As idas e vindas do rio fazem parte nas criou um fundo de garantia que
do cotidiano do ribeirinho, da pes- enviou verba extra para as cidades
ca, das lavadeiras, da possibilidades ribeirinhas.
de um povo. Em São Francisco este capital foi
Às vezes essas características cli- investido em melhoramentos di-
versos, como a criação de casas
populares e bairros; e a construção
Fonte: Acervo Silvio Cunha. de um paredão margeando o rio
como forma de proteger a cidade de
futuras enchentes. Como podem ser
visualizadas nas fotografias a seguir.

Fonte: Acervo Valmir Cunha. Fonte: Acervo ONG Preservar Enchente 1979

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Construção da Orla de São Francisco Final da construção do paredão
Fonte: Acervo ONG Preservar Fonte: Acervo ONG Preservar

O paredão, com cerca de 6 km de que constitui sua cultura inicial, ten-


distância, contém partes impor- do agora um grande desafio de se
tantes da cidade, como o cais do redescobrir e ressignificar sua iden-
Centro, a catedral diocese Matriz tidade ao mesmo tempo em que
São José, o cais do Quebra, bares, mantém o seu patrimônio histórico.
praças, áreas de lazer, e se torna Exemplificados nas fotografias.
uma grande passarela de múltiplas
atividades para os habitantes, além
de manter a vegetação natural que
constitui uma pequena parte da
mata ciliar nativa do corpo do rio.
Apesar das melhorias para resol-
ver o problema das cheias, a obra
afastou a cidade do rio, rompeu em
parte sua relação de proximidade,
Cais no dia de Nossa Senhora
transformou os costumes de um
dos Navegantes
povo que perdeu, de certa forma, o Fonte: Acervo ONG Preservar

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Mudanças culturais e hábitos diferenças sociais existentes; “você 2010, se desenvolveu; com a cons- importância, como o patrimônio
não tinha idéia de como era, não trução do asfalto que liga a cidade cultural, além de estabelecer uma
A década de 1970 foram anos muito tem como explicar, mas as pessoas a capital, melhoria no saneamento relação entre moradores e o rio.
difíceis, a cidade mantinha uma cul- não se misturavam, lugar de pobre básico, construção de escolas na Restabelecer essa relação através de
tura tradicionalista de famílias im- era de pobre e de rico era rico e no zona Rural e Urbana melhorando um projeto arquitetônico, que visa
portantes e de grandes fazendeiros lugar de rico pobre não entrava”, em muito o acesso à educação além a melhoria do espaço e a valori-
que dominavam toda a população ela relata. de outros. Mas nos últimos anos se zação da cultura sãofranciscana,
e manipulava as pessoas de acordo Severino Gonçalves da Silva con- estagnou, não se desenvolve tan- talvez fosse hoje o pontapé inicial
com seus interesses. Além de deter seguiu, de forma ousada, misturar to e a população está perdendo o para que a população conseguisse
conter o dinheiro e o poder político, tantas pessoas diferentes, o que pos- orgulho e a esperança. Muito desse restabelecer seus valores culturais,
detinham ainda a força física, um sibilitou uma ascensão econômica orgulho se dá, como Eduardo Ro- buscando para si melhorias urbanas
tripé necessário para se entender a de outros grupos, ascensão essa que drigues afirma em seu livro, devido e valorização da própria cidade.
relação social. muito se deu pela potencialização à relação dos habitantes que traz Nas fotografias abaixo pode se per-
Muitas eram as pessoas que estavam do comércio. uma forte lembrança da relação das ceber a diminuição das atividades
saindo das fazendas para a cidade, Em entrevista realizada com o pessoas, dos trabalhos e do lazer em relação ao rio se comparadas
e, assim como crescia a população ex-administrador, ele aponta fatos com rio que, aos poucos, foram sen- com as imagens antigas. Deixa claro
urbana, cresciam também a discre- importantes realizados nessa épo- do perdidos, e hoje só resta a orla a ausência de atividades dos habi-
pância e os abusos sociais. Foi então ca que possibilitaram a expansão que está sendo deteriorada. Nota-se tantesem em relação ao rio na vida
que surgiu a figura de um grande e projetaram esperança nos são- a falta de cuidado e desinteresse da cotidiana.
administrador da cidade, Severino franciscanos, sendo, talvez, as mais manutenção da área que é de suma
Gonçalves da Silva, responsável por importante delas a criação de linhas
várias mudanças e contribuições de ônibus que uniam a cidade aos
para esta ruptura dos paradigmas distritos rurais, e o asfalto que unia
sociais pré-estabelecidos. a cidade à capital Belo Horizonte
Em conversa com a professora de - feito conseguido muito antes de
história Maria do Socorro Bolívar vários lugares de Minas.
(2020), nascida na cidade de São
“Nesses anos de governo, fui conside-
Francisco e com grande conheci- rado louco muitas vezes por acreditar
mento na sua área de atuação, hoje em São Francisco e criar a rodoviária
aposentada, ela aponta Severino , o cemitério em pontos tão distantes,
que hoje é ali do lado.São Francisco,
Gonçalves da Silva como um gran- hoje, cresceu umas 5 vezes o que era,
de divisor de águas que transfor- aqui só tinha o Centro, os Bairros
Orla em 2010 Foto aérea da Orla
mou a cidade e a sociedade sãofran- Bandeirantes, Quebra e Aparecida
Fonte: Acervo ONG Preservar. Fonte: R.Lopes,2012.
o resto era tudo fazenda” (Severino
ciscana, apontando que ele soube Gonçalves, 2020).
misturar as classes e diminuir as A cidade dos 70, até por volta de
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Mapa de evolução urbana
Fonte: Pedro Gonçalves, 2020.

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ta que, segundo Brasiliano. Sob irritado. Ele pode afundar navega-
Lendas, Crenças e as pedras imponentes a beira do ções e puxar os navegadores para o
Folclore rio, quando caia a noite, uma bela fundo do rio. Certas pessoas fazem
mulher, Sereia, rompia o silêncio da oferendas e simpatias para estabele-
No livro Histórias, Memórias e escuridão com seu enganoso canto e cer uma boa relação com ele.
Viveres de Trabalhadores em São seus belos cabelos verdes. Atraindo
Francisco, encontramos referências assim os homens e os levavam para
à cultura popular, umas das ca- o fundo do rio. Deixando suas mu-
racterísticas marcantes da cidade, lheres, viúva, a chorar de saudade
como crenças, religiosidades, brin- dos maridos no tronco da quixabei-
cadeiras, memórias que ficam e são ra ali existente.
passadas de geração em geração.
Dessas demonstrações culturais,
algo marcante na memórias dos
sãofranciscanos é a relação de amor
e temor pelo rio que, ao mesmo Caboclo d’água
tempo que alimenta e ampara, leva Fonte: Pedro Gonçalves, 2020.
também pessoas para o seu fundo. Carranca
Alimentando assim várias lendas Fonte: Pedro Gonçalves, 2020.
que se fazem vivas nessa relação im- Carranca
portante para constituição afetiva e
A velha Quixabeira e
de identidade, que explica a relação a Sereia Principalmente no século XIX e Procissão de Nossa Senhora dos Na-
das pessoas com o espaço. Soman- Fonte: Pedro Gonçalves, 2020. XX, as embarcações do rio São vegantes
do a isso a cultura floresce como Francisco eram marcadas pela pre- Diferente do resto do Brasil, a festa
momento de lazer, e que é também Caboclo d’água sença das carrancas. Apesar de não de nossa senhora, segundo entre-
lembrada com orgulho e alegria saber a origem, se afro ou indígena. vista realizada por Roberto Ramos
em vários eventos que constituem a Uma das lendas mais conhecidas Elas agem como um amuleto que Pereira em São Francisco, devido
identidade de um povo. de todos os ribeirinhos é a lenda do protege a navegação e o pescador, às enchentes e ao perigo do rio em
caboclo d’água. No livro Caminhos afastando mal olhado, azar e maus fevereiro, se comemora no dia 8
A velha quixabeira e o palácio do São Francisco, o autor aponta espíritos. Hoje, tornou-se um sím- de setembro - dia da natividade de
encantado da sereia como um duende, com poderes mís- bolo do artesanato ribeirinho, sendo Nossa Senhora. A festa fazia parte
ticos, moreno, baixo e musculoso, muito usada em decorações. da tradição católica da cidade.
Uma das lendas mais antigas da protetor das águas e dos rios, ajuda Segundo o mesmo, todos seguiam
região, advinda das crenças dos os pescadores, mas que pode ser em procissão, pedindo proteção,
índios Xacriabás da região, con- igualmente um desagrado quando fartura e, nos tempos de seca, que
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não faltassem chuvas. aos desejos de sua esposa grávida em uma coreografia que avança, em porta, simbolizando a chegada
Os fiéis se encontravam na igreja somada à falta de dinheiro, decide entre rodopios, até a ordem de dos reis magos com muita alegria de
de São Félix, descalços; mulheres, matar o boi predileto do patrão. Na descanso - “amaia meu boi! Amaia, comemorar o nascimento de Jesus.
crianças e alguns homens levando, hora que o boi estava sendo morto, meu boi! Amaia, meu boi!”
garrafas de água, pedras e ramos o dono chega e exige que o animal No dia dos Reis, cessa-se a peregri-
verdes até às margens do rio e ofere- ressuscite. A apresentação é recre- nação do boi, dia 06 de Janeiro com
ciam a Nossa Senhora dos Nave- ação folclórica, a partir de músicas uma competição entre os diversos
gantes. com o intuito de promover a cultura bois da cidade, deixando as ex-
Hoje, as procissões de nossa senhora e promover a diversão. pectativas para um novo início de
dos navegantes não são mais reali- Em São Francisco, a história se une ano e chegada do boi e de toda sua
zadas. à tradição dos Três Reis Magos, alegria novamente. Nesta mesma
começando as andanças do dia 1º época acontece a Folia de Reis.
dia de janeiro, cruzando com as Folia de Reis
festas dos dias de Reis. Nessa época Fonte: Pedro Gonçalves, 2020.
se ouve o barulho da batucada em
forte ritmo, que vai passando por
vários cantos da cidade.
A princípio o Boi-de-Reis era mo-
desto, mas sempre mantendo uma
estrutura de uma base de madeira
coberta de tecido e com cabeça de
boi enfeitada. O grupo de partici-
Nossa Senhora dos Boi de Reis
Navegantes pantes vai passeando de porta em Pedro Gonçalves, 2020.
Fonte: Pedro Gonçalves, 2020. porta, e, quando contratado, faz um
espetáculo ali mesmo, na rua, to-
Boi de reis cando e entoando sempre a mesma Folia de reis
canção: “Levanta, boi, vem comê
A história que dá origem a essa capim. Ôi! dona da Casa, tenha dó Assim como o Boi outra festa rela-
tradição sãofranciscana é a mesma de mim. Segunda-feira, sábado, do- cionada aos dias de reis é a Folia de
tradicional do bumba meu boi. Se- mingo choveu, na porta do seu Do- Reis, que acontece na mesma época
gundo João Naves de Mello, escritor mingos, foi que meu boi morreu! Ei que o boi, de 1 a 06 de Janeiro. Sua
regional, ambas consistem em uma boi! Levanta meu boi!. Ei! boi, abre característica principal é apresen-
apresentação pela rua da ressurrei- a roda meu boi!. Ei boi, arremete o tada pelo cortejo e cantos religiosos
ção do boi que foi morto pelo Pai vaqueiro! Ei boi! abra a roda meu que se somam à variedade de cores
Francisco, um vaqueiro que, devido boi...”, balançando freneticamente e de instrumentos musicais desta ce-
lebração, que vai passando de porta
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Dados do IBGE
Relação com o entorno e economia
Durante muito tempo, o município
de São Francisco foi formado por
vários povoados que hoje se torna-
ram cidades emancipadas do entor-
no. Por ser uma cidade interiorana
mineira, os costumes da vida rural
se fazem muito presentes no cotidia-
no. A economia esteve muito tempo
voltada para pecuária, piscicultura
e agricultura. Com o tempo, os
hábitos rurais foram sendo deixa- Lista de população das cidades norte mineiras em ordem decrescente.
dos de lado e foram surgindo novas Fonte: Wikipedia, 2012
possibilidades de rendas, através de
concursos públicos municipais e es-
taduais e fortalecimento do comér-
cio local.

Se analisarmos economicamente,
apesar de não ter números tão con-
sideráveis se compararmos a luga-
res mais desenvolvidos de Minas,
quando se trata do norte mineiro,
ela é a quarta maior cidade, e ajuda
na estruturação e crescimento da
região.

População economicamente ativa -


trabalhando
Fonte: IBGE.2010.

20
Salário Médio Produto Interno Bruto - PIB Índice de Desenvolvimento Humano
Fonte: IBGE.2010. Fonte: IBGE.2010. Fonte: IBGE.2010.

Quando comparamos o desenvol- rismo, o que contribui diretamente em que estamos vivendo, podemos diferenças quantitativas entre am-
vimento econômico e social nos grá- na economia. Acredito também que notar a importância da relação com bos os sexos. Estes na sua maioria
ficos, pode-se perceber uma grande a mudança na qualidade espacial a natureza e com os espaços públi- estão entre 10 e 30 anos, população
diferença em relação às outras duas no ponto turístico mais importantes cos). ativa que geralmente busca uma
cidades mineiras, Belo Horizonte e da cidade fará com que cresça a es- vida movimentada em relação aos
Montes Claros, havendo assim uma perança, a vontade de ver a cidade Perfil Populacional espaços da cidade e aos encontros
necessidade de melhorias urbanas melhorando como um todo. Afinal, que ela propicia.
que possam refletir em outros pon- a melhoria do espaço público influi Através dos dados do IBGE, po-
tos da vida cotidiana. em diversas áreas do dia a dia, para de-se concluir que a população é
Sendo a potencialização da orla um desenvolvimento pessoal, qualidade de 53828 habitantes, sendo 26550
possível investimentos que visa pro- de trabalho, melhor sanidade men- mulheres e 27278 homens, um
mover a cidade no ramo do ecotu- tal (principalmente nesse ambiente número proporcional, sem grandes
21
Perfil Populacional.
Fonte: IBGE, 2010.

Pirâmide Etária Perfil de Escolaridade


Fonte: IBGE Fonte: IBGE, 2010.
22
A falta de infraestrutura na cidade nota-se uma precariedade na saúde conhecimentos das técnicas típicas cia e grande influência em diferen-
faz com que sua população migre quando analisamos o gráfico de de um grupo; tes estados brasileiros, objetificando
para cidades vizinhas, levando o mortalidade infantil, o que influi 3) Patrimônios vivos, representados principalmente a preservação do
dinheiro para outros lugares. O diretamente na necessidade de uma pelas pessoas que detém um conhe- ambiente natural e cultural que o
gráfico de escolaridade é reflexo da melhor qualidade de vida. cimento ou que mantém vivas a rio engloba; reafirmando assim o
movimentação dos habitantes de cultura popular e as tradições; seu grande valor como patrimônio
São Francisco que vão em busca de 4) Patrimônios naturais são ambien- histórico; e prevendo um grupo de
oportunidades e melhores condições tes que refletem um modo de vida e trabalho que delimite as áreas do
de vida. Essa migração geralmente relações específicas com a socieda- São Francisco e seu entorno, a par-
se inicia a partir do ensino médio. de, normalmente em áreas protegi- tir da carta de Pirapora, assinada
Os habitantes saem para estudar e, das e de suma importância para o em 2012.
em muitos dos casos, acabam em- ecossistema.
pregados e só retornam a cidade em A IEPHA, entre os anos de 2012 e
datas comemorativas. A cidade de São Francisco está sob 2015, criou um inventário cultural
a proteção de três órgãos que repre- de proteção do rio São Francisco
Além disso, devido à proximidade sentam o tombamento do patrimô- para o Vale do São Francisco com
de Montes Claros, diariamente as nio histórico sendo estes:o IPHAN os principais bens culturais dos
pessoas saem em busca de serviços (Instituto de Patrimônio Histórico Municípios da região norte mineira
que não encontram na cidade de e Artístico Nacional) - em anda- e da Bahia. Neste documento, foi
São Francisco, ou, quando encon- mento; IEPHA (Instituto Estadual analisado diversos áreas da região
tram, possuem valores superiores. É do Patrimônio Histórico e Artístico e definidos os principais pontos de
comum saírem para fazer consultas de Minas Gerais). Essas instituições referência cultural a partir das tra-
e exames médicos, compras tanto Mortalidade Infantil eram vinculados ao antigo Ministé- dições das comunidades existentes.
cotidianas como feira mensal, ou Fonte: IBGE rio da Cultura que era o responsá- Na cidade de São Francisco, foram
mesmo esporádicas; para ingressar vel por preservar, divulgar e fisca- identificados os seguintes pontos:
no ensino superior e até em busca
Patrimônio histórico lizar os bens culturais brasileiros e a lei municipal de São Francisco,
de lazer, o que reforça a ideia e a ainda a prefeitura de São Francisco criada em 2006 estipula e destaca o
Patrimônio
necessidade de promoção de melho- através do órgão MPMG (Ministé- centro histórico tendo grande parte
O patrimônio cultural pode ser
rias na cidade! rio Público do Estado). da principal Avenida da cidade que
dividido em quatro tipos:
faz ligação com a orla, tombada
1) Patrimônio material, que são
Saúde O IPHAN, em 2011, cria uma de- devido ao seu valor cultural. Nota-
todos os bens móveis e imóveis que
claração nacional do valor cultural -se então uma importância da área
têm valor histórico;
Apesar de ser a terceira cidade da do Rio São Francisco, no intuito de do projeto como um patrimônio,
2) Patrimônio imaterial, consiste
microrregião em relação a morta- gerar instrumentos para preserva- o que influencia na cultura local,
em todas as práticas, expressões e
lidade infantil, segundo o IBGE, ção da área devido à sua importân- regional e nacional, tratando-se
23
de um ecossistema interligado que
devem ser tomadas medidas de pre-
servação e requalificação do espaço
a partir de diretrizes e cuidados
naturais históricos e culturais.

Área de Tombamento Histórico Patrimônios Históricos


Fonte: IEPHA, 2017

Áreas Tombada
Fonte: IEPHA e Secretaria de cultura, modificado pelo autor,2020.
24
o início dos estudos realizados, com e que deve ser respeitada, que a
Fernando Chacel e o Luiz Emygdio de Mello. O grande
Gilles Clément - Jardim natureza não necessita do homem
Conceito de Ecogênese replicador dessa maneira de proje- planetário para sobreviver, mas sim o homem
tar e que a tornou mais conhecida necessita do ecossistema.
Ecogênese é constituída a partir da foi Fernando Chacel, que absorveu Gilles Clement aborda, em sua A ideia de Gilles Clement de Jardim
ideia de recuperar ecossistemas de- as influências dos seus antecessores teoria, circunstâncias que vão além planetário está diretamente ligada a
gradados através do uso de espécies e soube aplicar em vários projetos. do seu tempo, e inicia a busca da ideia de Chacel, que analisa o ecos-
autóctones, espécies originais do A ecogênese seria o principal ponto função biológica do ecossistema a sistema interligado como um todo
local, tendo em vista que a natureza de partida para o projeto de revi- partir de suas características na- com funções independentes que
age como um ecossistema inter-re- talização da orla de São Francisco. turais. Ele acredita que o jardim é estão extremamente ligados entre si.
lacionado entre diversas espécies Visto que a cidade está às margens resultado de interação de diferentes Ambos valorizam a ideia de partir
e que essa associação ecológica é do rio São Francisco e tem uma tipos de espécies, e que o paisagista dos preceitos ecológicos e melhorias
extremamente importante para a grande área de proteção perma- fornece apenas uma pequena ajuda ambientais para se ter espaços de
constituição do ambiente natural nente sofrendo com a ação indevida em sua elaboração. Para alcançar convívio com qualidade de vida.
original. Ela acontece a partir de da região e com faltas de cuidados seus objetivos, ele estuda comporta- Agindo homem e a natureza como
uma parceria entre diferentes tipos necessários com esse ecossistema. mento das espécies e oferece meios com habitantes codependentes.
de profissionais, a fim de estudar Parte que Fernando Chacel em para que os colaboradores consigam
o ecossistema, e como integrá-la à seus projetos consegue solucionar criar seus próprios jardins plane-
paisagem existente de forma orgâni- integrando os hábitos da população tários, insinuando que o limite é a
ca e ambientalmente sustentável. com a recuperação de áreas im- biosfera e seu potencializador proje-
É interessante trabalhar, assim portantes tual são as invenções, os sonhos dos
como no princípio deste movi- homens e suas utopias.
mento, com áreas que geralmente Clement defende, ainda, a neces-
são sensíveis e estão sendo com- sidade de se estabelecer um bom
prometidas, como mananciais, trabalho entre o homem e a nature-
flora e fauna, agindo como medida za, ambos agindo mutuamente para
de recuperação e preservação da superar as dificuldades, tendo o ser
paisagem. A ideia projetual surge a humano agindo como protetor, com
partir do amadurecimento da forma a capacidade de discernir e guiar a
de projetar e dos estudos sobre construção da paisagem, compre-
plantas nativas brasileiras realizado endendo que o ecossistema tem a
por Burle Marx, juntamente com o própria maneira de se estabelecer
botânico Mello Barreto; porém, o
termo ecogênese ou reconstituição Fernando Chacel Gilles Clement
Eco genética é instituído anos após Fonte: Paisagismo Contemporâneo Fonte: Wikipédia

25
Francisco, Minas Gerais, é de suma a sociedade passou por grandes
Diagnóstico da área importância para os habitantes da transformações, além das novas leis,
Área do projeto

cidade, para o ecossistema e para se modo de se ocupar o espaço. Está O mapa da área de projeto foi
Dada a importância cultural e
ter melhor qualidade de vida. ocorrendo um processo de degra- demarcado como: os caminhos
histórica local, nota-se a necessi-
dação muito grande, necessitando que podem ser percorridos pela
dade de preservação do espaço do
A área de projeto tem aproximada- de recuperação do espaço, visto que via elevada; pontos nodais, que são
rio e seu entorno como formador
mente 190 mil metros quadrados, este inclui área de proteção ambien- pontos de interação e de encontro
de identidade do povo ribeirinho.
local onde se separa e integra a tal permanente e patrimônio histó- da população; área histórica a ser
Estabelecer um projeto que promo-
cidade ao rio, sendo o principal rico, além de ter um grande uso por preservada; além da grande área
va a revitalização da orla de São
ponto de ligação entre ambos. Nela, habitantes locais, o que o torna um preservação e recuperação do ecos-
diversas atividades de lazer e estar polo turístico que deve ser preser- sistema.
interagem de forma natural. Além vado e reorganizado a partir das
disso, em sua criação em 1979, diretrizes e das necessidades atuais.
tinha como função a proteção da
Área de Projeto população. Hoje após 40 anos,

6 5
8 7
10 9
4
12
3
2
1

Área do Projeto
26 Fonte: Pedro Gonçalves, 2020.
Visão Seriada da Orla
Fonte: Pedro Gonçalves, 2020.
1 3 5

2 4 6

27
7 9 11

8
10 12

28
so de aumento do volume de águas nas águas do Rio seria bem vinda. necessidades sociais da comunidade.
Um Rio de Fases e áreas de alagamentos no entorno É interessante lembrar que, segun- Nos meses de março a outubro,
do rio. do a lei da piracema aprovada pelo acontece a vazante onde, devido à
Para iniciarmos a compreender a
Nessa época, a população costuma IBAMA em novembro de 2008, a seca, e a falta de chuvas tanto na
área em questão, é preciso distin-
ter o rio como um espaço de con- pesca é proibida de 1 de novembro região como a montante do rio, faz
guir as duas formas de comporta-
templação e admiração, a felicidade a 28 de fevereiro devido à desova com que o volume de água do rio
mento do rio que se dividem em
de ver as águas nessa terra tão seca dos peixes. Como forma de suporte diminua; nessa época, é quando se
cheia e vazante. A cheia, decorrente
é nítida aos olhos de quem convive; aos que vivem da pesca, o antigo tem maior interação dos habitantes
dos altos índices pluviométricos dos
águas estas que também são traiço- Ministério do Trabalho oferecia aos com rio, cria-se a praia, a possibili-
meses de novembro a fevereiro; tan-
eiras, a forte correnteza impossibi- pescadores cadastrados um apoio dade de se banhar com menor risco,
to na região quanto nas regiões a
lita o banho no corpo do rio. Esses financeiro de um salário mínimo acontecem as plantações nas ilhas
montante de São Francisco, o rio e
são os meses com maior temperatu- durante esses meses, medidas que formadas ao longo do corpo do rio
seu entorno passam por um proces-
ra, que a possibilidade de refrescar visam a preservação ambiental e as e a pesca é liberada.

Bioclimatismo - Pluviomatria

Mapa de cheia e vazante.


Fonte: Pedro Gonçalves, 2020.
29
Rio na Cheia/Rio na Vazante
Fonte: Pedro Gonçalves, 2020.

Foi em uma dessas cheias, a maior melhoria deste espaço fortificando


de todas, que foi criada a orla de pontes que unem a cidade ao rio
São Francisco, em 1979. Como a é a maneira de se manter viva a
cheia foi muito grande invadindo a relação do povo sãofranciscano com
cidade, o governo de Minas prestou o rio.
suporte financeiro para a viabiliza-
ção da obra.
Como já visto, a orla de São Fran-
cisco passou por grandes mudanças
em 1979. Com a construção desse
muro que separou a cidade e o rio,
partes do paredão se tornou o único Chuvas
ponto de ligação entre ambos, a Fonte: PROJETEE
30
Topografia desníveis mais baixos com maior
proximidade do rio localizadas
A topografia da cidade não é acen- próximo aos dois cais existentes,
tuada. Na área do projeto em si, os acessados por rampas, escadas, e
desníveis do terreno são específicos, áreas de bacia de contenção, locais
projetados em 1979 como forma onde as águas são direcionadas atra-
de proteção da cidade. A obra foi vés de comportas e pelos próprios
criada a partir de uma grande mo- meios naturais que funcionam como
vimentação de terra, elevando uma suporte para evitar alagamentos.
via de cerca de 2 km por taludes Que poderá ser visto nos seguintes
laterais, tendo algumas áreas com cortes.
Bacias de Contenção
Fonte: Pedro Gonçalves, 2020.

Perfil Topográfico

Topografia
Fonte: Pedro Gonçalves, 2020.
31
Perfil Topográfico
Cortes na Orla
Fonte: Pedro Gonçalves, 2020.

AA

BB

AA (Aproximado)

BB(Aproximado)

32
Uso do Solo bes, bares e restaurantes. E a parte As demais áreas de expansão, com
histórica da cidade, consolidada no diversos usos (comercial, misto, resi-
A área no entorno do rio é conside- início dos anos de 1900, é reforçada dencial e institucional) são voltados
rada uma área de APP, o que, como mantendo em seu entorno imediato para o centro da cidade. Deixaram
medida de segurança, ocorre a di- áreas voltadas para o lazer, o conví- de se expandir as margens do rio se
minuição de áreas que impossibilita vio e a conexão dos habitantes com localizando em áreas mais afasta-
a permeabilidade do solo. Isso faz a natureza, e com as raízes do povo das.
com que, margeando o rio, ocorram sãofranciscano.
algumas ocupações, tais como; clu-

Mapa de Uso do Solo

Uso do Solo
Fonte: Pedro Gonçalves, 2020.
33
Gabarito de Altura até hoje nas características urbanís-
ticas coloniais, tendo como ponto
São Francisco tem um tecido urba- de partida a igreja e a partir dela
no que se caracteriza por edifica- conformando suas ruas e avenidas
ções de gabarito baixo, possui ruas se adaptando a topografia do sítio.
largas e a maior parte dos edifícios
está alinhado com a rua, configu-
rando-as. Seu traçado é baseado

Mapa de Gabarito de Alturas

Gabarito de Altura
Fonte: Pedro Gonçalves, 2020.

34
Hierarquia Viária gica de locomoção dentro do espaço Fato importante de se apontar en- ção ao se intervir no sitio.
urbano de acordo com a praticida- tendermos a escala da cidade, que Em 2018, grande parte da área da
Dois fatores são importantes para de de ligar as saídas da cidade entre tem as características coloniais mais orla foi isolada pela defesa civil de-
compreensão da hierarquia Viária elas e ao rio, ponto focal de São fortes, seu valor é dado justamente vido ao risco de desabamento, com
de São Francisco: 1) as vias advin- Francisco; 2) a cidade, devido à sua pelas premissas históricas. Que se muitas erosões, o que impossibilita
das da sua conformação histórica, dimensão, não conta com serviço de difere das necessidades contempo- ainda hoje o tráfego de veículos,
por muitas vezes, não tem uma transporte público interno - nor- râneas que aplicamos nas grandes permitindo somente a passagem de
relação direta entre o uso e a sua di- malmente, para acessar o terreno, cidades, tendo o valor interiorano pedestres.
mensão, mas segue, porém, uma ló- os moradores costumam ir à pé, de mais forte que os novos preceitos,
bicicleta ou veículos particulares. que deve ser levado em considera-

Mapa de Gabarito de Hierarquia


Viária

Hierarquia Viária
Fonte: Pedro Gonçalves, 2020.
35
Bioclimatismo reno, por ser um grande calçadão sol à oeste do rio. de partida a igreja e a partir dela
urbano, não possui áreas cobertas, o Os ventos, em maior parte do ano, conformando suas ruas e avenidas
São Francisco é uma cidade que se que dificulta o uso em certas horas vem do leste, o que, devido à con- se adaptando a topografia do sítio.
localiza no norte de Minas que, na do dia, sendo frequentado, normal- formação do espaço, possibilita a
maior parte do ano, sofre com altas mente, pela manhã, mas principal- permeabilidade de eixos por toda a
temperaturas e a seca, podendo mente após às 17 horas, horário sua linha longitudinal.
ocorrer grandes variações de chuva que tem menor incidência solar, e até hoje nas características urbanís-
dependendo do ano. A área do ter- possibilidade de se admirar o pôr do ticas coloniais, tendo como ponto

Bioclimatismo - Solar + Ventos + Temperatura

Bioclimatismo
Fonte: Pedro Gonçalves, 2020.
36
Rosa dos Ventos
Fonte: PROJETEE

Dados Climáticos
Fonte: PROJETEE

37
Vegetação Áreas de APP: e privadas. Na área, entra a ne- zonas de proteção permanete ,
cessidade de proteção como App sendo rurais ou urbanas as faixas
O ecossistema é marcado por vege- O Ministério do Meio Ambiente de Corpos d’água, onde deverão marginais de curso d’água medindo
tação de mata ciliar remanescente, instituiu, em 2012, o novo código ser tomadas medidas para evitar a partir das bordas da calha do leito
áreas com vegetação alagáveis e florestal referente às áreas de pre- assoreamentos, poluição, ocupações regular.
áreas planejadas, tendo algumas servação permanente -APP, a lei de inadequadas e preservar o corpo hí- - 200m para cursos d’água de 200 a
áreas degradadas ou tomadas por nº 12.651, de 25 de maio de 2012 . drico com todo ecossistema natural 600m de largura.
pragas que devem ser reestrutura- Com a finalidade de proteger legal- do seu entorno. Devendo ser mantida a mata ciliar.
das devido à sua importância como mente espaços naturais, incluindo Segundo o código florestal mineiro
APP em área de manancial. áreas urbanas e rurais, públicas lei 20.922/2013 declara que são

Área de Proteção Permanente

Tipos de Vegetação
Fonte: Pedro Gonçalves, 2020.

38
39
40
PARTE II

41
dezembro de 2004, juntamente com público e principalmente proteger Esse conflito é o ponto principal
Paisagem e Cultura as normas de cultura e lazer da Lei áreas mais sensíveis. para o início do projeto, no qual se
A partir de estudos realizados, Nº 2893.de 03 de Dezembro de Nota-se um com maior potencial mantem, valoriza e preserva o patri-
deve-se levar em consideração dois 2013, e o código florestal, Lei Nº um trecho de encontro entre duas mônio histórico juntamente com a
pontos cruciais para o desenvolvi- 12651. 25 de maio de 2012, e às áreas importantes que entram em natureza, buscando amenizar os im-
mento do trabalho: a relação da leis de patrimônio já citadas. conflito entre si, de um lado en- pactos causados ao longo dos anos,
cidade com o patrimônio histórico Todos abordam pontos que mos- contra se o patrimônio tombado harmonizar os comflitos espaciais
e a relação do rio e de todo o seu tram a importância de se trabalhar da igreja matriz de São José e sua existentes e fortalecer a relação dos
ecossistema. Para isso, foi analisa- o espaço de forma consciente. Va- praça que devem ser preservados e sãofranciscano, perdida ao longo
do o código de edificações de São lorizar a cultura, lazer, para promo- de outro uma área que deveria ser dos anos ápos a cosntrução do pa-
Francisco,Lei Nº 2186. de 17 de ver a qualidade de vida do espaço de proteção permanente, a partir redão, com o Rio e toda a cultura
das normas ambientais de proteção local através da requalificação espa-
do corpo do Rio, urbanizada. cial e exautação da paisagem.

42
nete obrigatória(segundo o código sofrem com a ação do tempo, sendo riquezas e belezas do Rio São Fran-
Área existente florestal mineiro lei 20.922/2013). sinalizados como área de risco. cisco e da culura tibeirinha, como
A área existente, devido a enchente No terreno podemos perceber, Hoje após 40 anos é notável as projeto foco principal do projeto.
de 1979, sofreu várias mudanças. alguns pontos de vegetação, bares, problemáticas locais e a necessidade
As principais foram a criação do a Igreja (patrimônio tombado) e sua da requalificação da área de forma
paredão de proteção, o cais para praça e a ONG preserar que man- a valorizar sua historia e respeitar
comercializações dos produtos e a tém a documentação histórica da a natureza. É nescessário se criar
pavimentação com asfalto retirando cidade viva, as ruas de pedras foram uma área de mata ciliar, que dimi-
a mata ciliar e a proteção perma- sobrepostas em sua grande maio- nua os impactos causados ao longos
ria por asfalto e os taludes criados dos anos, que utilize a paisagem, as

Mapa da área existente

43
Inspiração do projeto

Fotos locais -autor: Guilherme barbosa:


As belezas,
As texturas,
As cores,
Um retrato um trecho no momento,
As memórias na curva do rio,
Distantes de um agora,
Tão perto na memória
Relato num espaço de um tempo.

44
atividades, equipamentos, e uma contendo árvores típicas de ambos dos pescadores, a pesca, a venda de
O Projeto passarela elevada de que une os ecossistemas e uma grande varie- sorvetes da região, parque infantil
A partir das diretrizes, somadas
diversos pontos do projeto sobre a dade de aves, será retirado o asfalto e quiosque de comidas típicas da
aos estímulos naturais existentes na
área de recuperação, valorizando, da das margens do rio com cerca região.
região propõe se um espaço de con-
sobretudo, a paisagem natural/his- de 6.000m ², onde será replantado Equipamentos:Criação de banhei-
templação da natureza que valoriza
tórica e os pedestres. árvores típicas da região para com- ros, mobiliários, infraestrutura para
as atividades ribeirinhas e exalta a
Requalificação Ambiental: por a mata ciliciar, visando prin- receber melhor os usuários e que
cultura e as crenças do povo sãoran-
O ponto de partida para todo o cipalmente espécies frutíferas que gere acessibilidade ao parque.
ciscano.
paisagismo se originou a partir dos atraiam animais e insetos poliniza- Passarela elevada: O ponto de
O projeto do parque linear Pe-
estudos da Ecogênesi do Fernando dores, para impulsionar a recupera- união é uma ponte que cria a har-
dra dos Ângicos, com cerca de
Chacel juntamente com o concei- ção natural. monização da área como um todo,
16.000m², 2km lineares, que será
to de Jardim planetário do Gilles Contemplação e Histórico: um mirante entre as copas que se
implantado na Orla de São Francis-
Clement, onde ambos acreditam na A valorização do espaço histórico, pode visualizar a beleza do rio.
co Minas Gerais e que visa manter
capacidade de recuperação da natu- acrescentando pontos que busque os Via compartilhada: Apesar de
a topografia local; substituir o asfal-
reza quando se da condições dela se tradicionalismos, da pesca, das len- existir o uso compartilhado, ainda
to por áreas permeáveis; recuperar
recuperar, sem degradar e poluir. das, da arte local. Dividido ao longo não se tem um desenho urbano que
as áreas degradadas, seguindo as
Sabendo que área de são Francisco de todo o projeto. associe à rua a sua função. A troca
normas de APP e do tombamento
está em uma região onde a Caa- Atividades: Espaços sociais que do piso, uso de guarda-corpo e o
histórico; propor novos espaços de
tinga e o Cerrado se encontram, valorizem os encontros, reunião mobiliários exercerão esse papel.

Antes

Depois
45
Áreas a partir do programa de nescessidades

46
Ecossistema local

São Francisco se encontra em uma escolhida de acordo com as visuais


zona de transição onde se mescla de maneira a valorizar a vista para
o cerrado e a caatinga, local onde o rio e o patrimônio em pontos
abrange uma grande riqueza e específicos.
variedade de espécies de ambos os As gramíneas e arbustos, plantas
ecossistemas, principalmente em com porte baixo em geral, será
relação a aves. recostituida pela própria natureza,
Vegetação local.
Diretriz do paisagismo: seguindo o método da Ecogênesi, Fonte: Pedro Gonçalves, 2020.
Para o paisagismo foi buscado a gerar espaço e condições adequadas
vegetação nativa, selecionando es- para que o corra a evolução natural
pécies frutíferas, floridas e coloridas com o tempo.
que atraem animais e insetos polini- Segundo as pesquisas as árvores que
zadores. melhor se adaptam a realidade local
O intuito é fazer o reflorestamen- e ao intuito do projeto de paisagis-
to, retirando o asfalto e plantando mo são as seguintes:
árvores de pequeno e médio porte,
47
Paisagismo - Classificação das espécies(Nome popular, Nome científico)

48
49
50
Trecho - 1

51
Trecho - 1 - Layout geral da proposta de Paisagismo

Cajueiro Buriti Carnauba Helicônia Goiabeira


Fruta Pão Aroeira Mexerica Jenipapo Jabuticabeira
Angico vermelho Sucupira Limão Bromélia Caliandra
Amoreira Manacá da Serra Pitanga Gravatá Murici
Gravioleira Carambola Mangaba Acerola Tamarindo
Paisagismo, conferir medidas na tabela(p.48 e 49)

1 10
52
02 5 30
GSEducationalVersion
GSPublisherVersion 8.95.95.100
Trecho - 1 - Cortes com Paisagismo

Paisagismo, conferir medidas na tabela(p.48 e 49)


53
Antes Depois

54
55
Trecho - 2

56
Trecho - 2 - Layout geral da proposta de Paisagismo

Cajueiro Buriti Carnauba Helicônia Goiabeira


Fruta Pão Aroeira Mexerica Jenipapo Jabuticabeira
Angico vermelho Sucupira Limão Bromélia Caliandra
Amoreira Manacá da Serra Pitanga Gravatá Murici
Gravioleira Carambola Mangaba Acerola Tamarindo
Paisagismo, conferir medidas na tabela(p.48 e 49)

1 10
02 5 30
GSEducationalVersion
GSPublisherVersion 8.95.95.100

57
Trecho - 2 - Cortes com Paisagismo

Paisagismo, conferir medidas na tabela(p.48 e 49)

58
Antes Depois

59
60
Trecho - 3

61
Trecho - 3 - Paisagismo -Layout geral da proposta de Paisagismo

Cajueiro Buriti Carnauba Helicônia Goiabeira


Fruta Pão Aroeira Mexerica Jenipapo Jabuticabeira
Angico vermelho Sucupira Limão Bromélia Caliandra
Amoreira Manacá da Serra Pitanga Gravatá Murici
Gravioleira Carambola Mangaba Acerola Tamarindo
Paisagismo, conferir medidas na tabela(p.48 e 49)

1 10
02 5 30
GSEducationalVersion
62
GSPublisherVersion 8.95.95.100
Trecho - 3 - Cortes com Paisagismo

Paisagismo, conferir medidas na tabela(p.48 e 49)

63
Antes Depois

64
65
Trecho - 4

66
Trecho - 4 - Paisagismo Layout geral da proposta de Paisagismo

Cajueiro Buriti Carnauba Helicônia Goiabeira


Fruta Pão Aroeira Mexerica Jenipapo Jabuticabeira
Angico vermelho Sucupira Limão Bromélia Caliandra
Amoreira Manacá da Serra Pitanga Gravatá Murici
Gravioleira Carambola Mangaba Acerola Tamarindo
Paisagismo, conferir medidas na tabela(p.48 e 49)

1 10
02 5 30
GSEducationalVersion
GSPublisherVersion 8.95.95.100

67
Trecho - 4 - Corte com Paisagismo

Paisagismo, conferir medidas na tabela(p.48 e 49)

68
Trecho - 4 - Corte com Paisagismo

Paisagismo, conferir medidas na tabela(p.48 e 49)

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Antes Depois

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Passarela elevada
A passarela elevada é um dos grandes elementos do proje- Perspertiva
to, são cerca de 600 metros lineares, que faz uma releitura
contemporâneados dos elementos da paisagem sãofrancis-
cana, das forma oragânica, usando materiais naturais que
remetem ao rio, a vida ribeirinha e ao tradicionalismo local;
seguindo a NBR.9050/2020 de acessibilidade.
Como a parte inferior da passarela, será uma área voltada
para a recuperação da mata ciliar e o contato com a nature-
za, a ponte surge através das copas das árvores para reco-
nectar a cidade ao Rio, buscando recuperar a conectividade
do que foi separada pela construção do paredão.

Corte perspectivado

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Passarela elevada

Perspectiva esquemática

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Passarela elevada

Pré dimensionamento:
O pré dimensionamento dos elementos estruturais foi base-
ado nas tabelas de dimensões da viga e colunas do professor
Yopanan: Vigas de madeira com vão de 3 metros entre
pilares, e colunas com a altura de 4m.

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Muro e Jardineiras:
O paredão receberá o acabamento de pedra em ambos os lados para trazer o aspecto
rústico e aconchegante, somando com a construção de jardineiras com vegetação pen-
dente, para ornamentação e atração de insetos polininizadores

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Banco barco e lixeiras ripadas:
Inspirada nos barcos e canoas do Rio São Francisco, o mobiliário em ma-
deira ficará na parte inferior do parque. Contendo um assento em madei-
ra e jardineiras floridas nas laterias.
As lixeiras serão desenvolvidas com mesma madeira ripada das passarelas.

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Recuperação de taludes: Recuperação do piso:
Recuperação dos taludes preexistentes que cons- A via compartilhada será requalificada juntamen- permeável semelhante a via compartilhada, que
tituem grande parte da orla, está sinalizado como te com os taludes, cerca de 2 km que seguindo o possui um MPa reduzido, para tráfego leve .
área de risco. A estabilização do solo se daria partir mesmo padrão: substituição do asfalto existente
do uso de estacas (naturais e de madeiras) e da por um piso drenante, com MPa35/55 para supor-
manta natural de coco para segurar as gramíneas tar a passagem de carros.
da hidro-semeadura e evitar a lavagem dos nu- Na parte do parque, o asfalto será retirado para o
trientes do solo. plantio e paisagismo, contendo uma trilha de piso

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Via compartilhada:
Para a via compartilhada será criado um desenho de pisos drenantes, jardineiras
com bancos, guarda corpo e postes com altura visando o pedestre. Com essa nova
sinalização e as novas alterações, a via desmostra que o pedestre tem preferencia
no espaço, diminuindo a velocidade dos veículos.

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Banco correnteza:
Banco de apoio com jardineira central, com a possibilidade
de unir dois modulos para a criação de um banco maior e
inserir bebedouro.

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Praça da igreja :

Para melhor aproveitamento da praça da igreja, voltando a área para prática de atividades
culturais, o projeto propõe a elevação do piso e fechamento nas laterais pra que não ocorra a
circulação de carros, valorizando o uso do pedestre em relação ao carro, Aproveitando para
aplicar o piso drenante de tráfego leve e deixar a praça permeável.

Antes

Depois

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Bancos espetáculo :
Grandes bancos na praça da igreja que além da sua função de
banco é multiuso, sendo possível utiliza-lo como palcos para
eventos culturais.

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Considerações Finais :
Nem sempre os padrões urbanísticos utilizados e ditados como ideais
em grandes metrópoles são os corretos. Cada cidade tem sua paisagem,
história e valores únicos que devem ser considerados ao se projetar.
As pequenas cidades brasileiras, como São Francisco-MG, apresentam
característica específicas; este projeto de requalificação da orla é fruto
dessas necessidades, do intuito de criar um espaço de qualidade que res-
peite as tradições locais, a natureza e aproxime o povo sãofranciscano ao
rio, às suas origens, que reafirme e valorize a sua importância cultural e
histórica ao ser experienciado na vida cotidiano dos barranqueiros.

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