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atáViaria Filho

0 aproveitamento econômico
do Vale do São Francisco

DISCURSO PROFERIDO NA SESSÃO


DE 25-9-1947, DA CÂMARA DOS
DEPUTADOS

1947
imprensa Nacional — Rio de Janeiro - - Brasil
Luiz Viana Filho
Deputado Federal

0 aproveitamento econômico
do Vale do São Francisco

DISCURSO PROFERIDO NA SESSÃO


DE 23-9-1947, DA CÂMARA DOS
DEPUTADOS

1947
Imprensa Nacional — Rio de Janeiro — Brasil
DISCURSO DO SR. DEPUTADO LUIZ VIANA

O SR. LUIZ VIANA — Sr. Presi- Neiva e Belisário Pena em escrever


dente, Srs. Deputados, dos problemas estas palavras peremptórias:
que têm sido discutidos nesta Casa,
poucos, creio eu terão o relevo da- "Não há dúvida que a água
quele que hoje passamos a debater. diminui sempre no Brasil Cen-
tral. O morador das margens
Devemos, entretanto, confessar que dos grandes rios não percebe o
não é sem ate um reparo que notamos, fenômeno, mas o depoimento dos
freqii-ent&menttí. ao se suscitar o pro- habitantes das proximidades dos
blema da recuperação do São Fran- pequenos cursos e das coleções
cisco nas bases traçadas pela Cons- d'água pouco volumosas é unâ-
tituinte- de 194B, que a muitos se afi- nime em confirmar esse fato."
gura êle mais Local que nacional;
e, por isso, embora não neguem apoio
ao projeto que procura resolvê-lo, por É justamente esse fato, Sr. Pre-
solidariedade às populações ribeiri- sidente, que se reflete de maneira
nhas do grande rio, consideram a ma- terrível, e para nós cheio de inquie-
téria como daquelas mais pertinentes tação, sobre o curso do rio, que tem
a determinada região do país do que sido, através de nossa história, o
aos- altos interesses da nacionalidade. elo de ligação entre o Norte e o Sul
do país. Se, todavia, não fôr enca-
Nada, entretanto, menos exato, Sr. rado com o cuidado e o zelo neces-
Presidente, do que se ter o problema sários, poderá, amanhã, deixar de
do São Francisco como questão regio- desempenhar sua função histórica,,
nal, pois, antes e acima de tudo, é para transformar-se, então, no de-
uma das mais graves e mais sérias serto que separará as populações do
quest&es nacionais, até porque — e Norte e do Sul do país.
esse ê um dos aspectos a que desejo
inicialmente me referir — não é exa- Mas, se recuarmos no tempo e qui-
gero repetir-se, que o São Francisco sermos depoimento mais remoto que
está» morrendo, pois, realmente, as o apresentado pelos eminentes sá-
águas d» rio estão minguando a olhos bios brasileiros, iremos buscá-lo no
vistos. E que seria do Brasil se "mor- relatório de Milnor Roberts, um dos
resse" o São- Francisco? sábios viajantes que o Império con-
tratou, com nítida percepção dos
E, para que não se diga que sou problemas brasileiros, para que aqui
e-u a fantasiar um perecimento ima- viesse dedicar-se ao estudo do Vale
ginário, peço licença para trazer ao do São Francisco.
conhecimento da Casa alguns depoi-
mentos que me parecem oportunos. Pois bem, Sr. Presidente. Milnor
Roberts, nas investigações realizadas,
Em primeiro lugar, invoco o de teve oportunidade de verificar que,
dote sábios brasileiros — Artur Nei- em 1879, ano que assinala justamen-
va e Belisário Pena — que o deixa- te uma das maiores secas já obser-
ram na obra memorável que é o re- vadas no Nordeste brasileiro, a des-
latório feito após a viagem empre- carga mínima do São Francisco era
endida pelo Brasil Central e publi- de mil e cem metros cúbicos. Hoje,
cado nas Memórias do Instituto Os- em época .de estiagem normal, os
waldo Cruz. dados computados por Jorge Zarur,
Pois bem, Sr. Presidente. Ao fi- a serviço do Conselho Nacional de
xarem as impressões trazidas dessa Geografia, acusam a descarga mí-
vi-agem, viagem exclusivamente ci- nima de apenas novecentos metros
entifica, nSo tinham dúvida Artur cúbicos.
_< 4 —

Isso, Sr. Presidente, é o bastante próprio São Francisco, de tal modo


para oferecer um dado concreto e era caudaloso aquele rio que, hoje, o
capaz de mostrar à Câmara os pe- depoimento unânime declara como
rigos que realmente existem para o capaz de ser atravessado sem maior
curso daquele grande rio. dificuldade.
O Sr. Manoel Novaes — V. Ex. a Sr. Presidente, para encerrar as
dá licença para um aparte ? considerações que venho fazendo com
referência a esse ponto, quero trazer
O SR. LUIZ VIANA — Com muito mais um testemunho, o das instru-
prazer. truçôes dadas pelo Visconde de Monte
O Sr. Manoel Novaes —Nesse par- Alegre ao próprio Hafeld, quando lhe
ticular, o argumento mais convin. pedia que verificasse da veracidade e
cente é o trazido por liais, em seu do roteiro dos canais que teriam li-
estudo, em 1865. Liais, em cálculos gado o São Francisco ao vale do
feitos da descarga do rio das Velhas, Jaguaribe, á região norte do país, e
comparados com os atuais, verificou do qual se dizia existirem ainda ves-
o decréscimo de 80% na descarga. tígios na região de Paulo Afonso.
Isso mostra que, na memória dos
O SR. LUIZ VIANA — O depoi- brasileiros, estava gravado com ab-
mento de V. Ex. a é perfeitamente soluta nitidez que as águas do São
exato; está, aliás, transcrito no li- Francisco eram de tal modo cauda-
vro do Dr. Geraldo Rocha, intitulado losas que permitiam a existência de
"Rio São Francisco", onde mostra um canal que levasse essas águas até o
que, enquanto Rugendas, quando aqui norte do país, coisa que hoje, à vis-
esteve, pôde fixar, numa vista de ta das águas que minguam de ano
Sabará, grande embarcação atraca- a ano. é realmente impossível de se
da ao seu cais, hoje, nessa mesma conceber.
região, já é possível passar quase a Mas, Sr. Presidente, se há dimi-
pé enxuto. É esse realmente um nuição de águas, há ainda outro fato
dos testemunhos que ia invocai* para que concorre poderosamente para
que a Câmara dos Deputados pudes- agravar as dificuldades da navegação
se aperceber-se, com nitidez, da in- do São Francisco, Ao mesmo tempo
tensidade e da gravidade do pro- em que diminuem, as águas como
blema. que corroem as margens, de modo que
as terras caídas vão entulhar o leito,
O Sr. Vasconcelos Costa — V. Ex.a diminuindo dia a dia sua profundida-
permite um aparte? de. Ganha em largura o que perde
O SR. LUIZ VIANA — Com muito em calado.
prazer. Isso, aliás, levou Hafeld a» dizer
que era erro compararmos o São
O Sr. Vasconcelos Costa — Como Francisco ao Mississipi porque, en-
mineiro, desejo aassociar-me às pala- quanto o Mississipi é^ rio estreito e
vras de V. Ex. a respeito do Rio profundo, o São Francisco é rio que
São Francisco. V. Ex.a tem razão tende a se alargar e, cada vez mais,
quando diz do' abaixamento do nível oferecer menor calado, e, portanto,
das águas daquele grande rio e seus pior navegabilidade, prejudicando, sem
afluentes. Da cidade mineira de Sa- dúvida, sua função precipua na vida
bará, a poucas léguas de Belo Hori- econômica de região e na existência
zonte, partia uma bem dirigida em- da nacionalidade.
presa de navegação, no Rio das Ve-
lhas, em tempos passados, até Guai-^ Aliás, num dos depoimentos pres-
cuí, poucos quilômetros abaixo de tados, perante a Comissão do São
Pirapora. Hoje em dia, com o abai- Francisco, instituída por esta Casa
xamento do alveo do rio, com o aflu- e que tão relevantes serviços vem
xo de bancos de areia em toda a dis- prestando ao exame dos problemas
tensão do taluoeg, aquele curso dá- do rio, dizia o Sr. Adozino de Oli-
gua tornou-se vadeável, acabando a veira, se não me falha a memória,
navegação que nele se praticava. que, para compensar êstt mal, só ha-
via um caminho: o de se realizar,
O SR. LUIZ VIANA — Além do no S. Francisco, o que se havia feito
depoimento citado, com referência ao na margem do Garonne, na França,
rio das Velhas, ainda podemos invocar isto é, e consolidação das margens.
o de Hafeld que, no seu estudo so- Também lá se agravava, dia e dia,
bre o Alto São Francisco, preferiu a com a erosão das margens, o proble-
navegação do rio das Velhas à do ma da navegação.
— 5—

Ante realidades tão graves foi que mana. Pois bem: se diante disso ima-
a Constituinte de 45 instituiu a cota ginarmos que o São Francisco pode
constitucional, destinada, justamente, produzir cerca de um milhão e meio
ao total aproveitamento econômico de cavalos de força motriz, teremos
da imensa região. Desde aí não tem uma idéia, embora vaga, das possibili-
faltado o paralelo, geralmente feito, dades daquele Vale, no dia em que,
entre as obras a serem realizadas por uma obra de conjunto que nos
no São Francisco e aquelas que vêm permita o total aproveitamento das *
sendo feitas no Vale do Tennessee. sua energia hidro-elétrica, dotar-
Por isso mesmo e em face do rela- mos suas populações, e mais aqueles
tório de 1946, da famosa T. V. A. que para ali naturalmente se dirigi-
que deseja mostrar à Câmara, como rem, da energia elétrica, da força e
sua obra que, à primeira vista, pode do potencial que é capaz de produzir.
parecer local, é eminentemente na- (Apoiados.)
cional . J á que me referi ao Vale do Ten-
Também contra o Tennessee, na nesse, não é mal que aborde outras ci-
Câmara dos Deputados dos Estados fras, talvez táo eloqüentes quanto es-
Unidos, uma corrente de opinião se tas, e que mostram o que será a obra
levantou declarando que aquelas agora tentada. Basta dizer que, en-
obras grandiosas, mas de enorme dis- quanto em 1934, a produção do Vale
pêndio, iriam beneficiar quase que do Tennessee e eqüivalia apenas a
exclusivamente uma região. Dois 60 % da média verificada nos Esta-
presidentes — Coolidge e Hoover —as dos Unidos, hoje, registra 50 % acima
vetaram. da média da América do Norte! Que
Está provado, entretanto, hoje, pe- produziu esse milagre?
lo citado Relatório, que 54% de todas O Sr. Aureliano Leite — V. Exce-
as despesas do Tennessee são feitas, lência poderia citar, também, em abo-
não nos sete Estados marginais do no da sua afirmação, o caso do noro-
vale, mas nas demais unidades que este dos Estados Unidos, da região da
compõem a federação americana. Columbia, que era paupérrima e se tor-
Também no São Francisco, quando nou, por efeito do seu aproveitamen-
para ali carregarmos as somas vulto- to, uma das grandes fontes de produ-
sas, porém indispensáveis para as ção da América do Norte.
obras de que carecemos, nessa oca- O SR. LUIZ VIANA — E' a região
sião teremos criado para o Brasil, do Colorado.
para. suas indústrias, em todo o Nor- Aliás, entre cs trabalhos que consul-
te c em todo o "'ai, um imenso cen- tei está, justamente, um sobre o Uper-
tro consumidor. Ao mesmo tempo Colorado e no qual tive oportunidade
teremos aberto às necessidades na- de ver que, na região do rio Colora-
cionais novos mercadas e novas fon- do, desde 1860 se utilizam os campos
tes de produção. de irrigação com êxito perfeitamente
Justamente este argumento, Sr. notável e acessível ou aplicável à re-
Presidente, se me afigura decisivo gião do São Francisco.
e capital, para que a Câmara, se-
jam quais forem os dispêndios exi- Dizia eu, porém, desejar trazer ao
gidos, jamais regateie as verbas ne- conhecimento da Casa, para melhor
cessárias para a realização e con- percepção das conseqüências benéficas,
clusão das obras de aproveitamento verdadeiramente miraculosas, que po-
da energia hidro-elétrica, que, como derão ter as obras do São Francisco,
sabem os Srs. Deputados, representa alguns dados sobre a evolução do va-
mais de B% de todo o potencial bra- le do Tennessee. Vou, pois, referir-
sileiro. me a toneiagem-milha transportada
Seria, aliás, desnecessário que eu pelo grande rio americano: enquanto
aqui me referisse à importância que em 1926, não excedia de 46 milhões,
tem na vida dos povos, na era con- em 1945 esse total se elevou a 256 mi-
temporânea, o aproveitamento da lhões, isto é, mais de seis vezes num
energia hidro-elétrica que — já al- espaço oe vinte anos!
guém concluiu — eqüivaler a multi- Em relação ao São Francisco — en-
plicar por quinze a energia de cada tretanto se recuarmos vinte anos no
individuo. E Davi* Lilienthal, um dos tempo — quase nada ali se alterou!
diretores da T. v. A.: escreve que a Na América do Norte, porém, não se
eletricidade é o moderno escravo, tra- verificou milagre algum. Houve, ape-
balhando suavemente para o homem, nas, o aproveitamento racional. Foi o
ao mesmo tempo em que avalia cada nomem, com a técnica e os conheci-
kilcwatt em dez dias de energia hu- mentos modernos da ciência, no apro-
— 6—

veitamento de uma região, então po- bamos o efeito que terá cada barra-
bre, onde grassava a ignorância, e a gem, cada tijolo, cada pá de cimento
doença numa população sempre em que fôr colocada no leito do São Fran-
busca de emigrar. Não se pense que o cisco.
Vale do Tennessee, , antes das obras Importa ter muita atenção com o
ali realizadas, fosse zona ricai, alguma problema, até porque lá no Tennessee,
Canaan americana. Não ! Longe disso. não houve obra de improvisação, mas
Foi, talvez, a pior das regiões dos Es- sim, a fixação de um objetivo, só al-
tados Unidos e, hoje, nos oferece o cançado um século mais tarde.
espetáculo de uma das mais próspe- Já em 1824, Calhoum, Secretário da
ras, ricas e progressistas. Guerra de Monroe, aconselhava ao fa-
O Sr Aurelia.no Leite — Resolveu moso Presidente americano que des-
também o problema da migração ao se ordens e instruções para ó apro-
mesmo tempo, pois uma coisa está co- veitamento da região situada à mar-
nexa com a outra. gens do Tennessee, onde hoje tem
O SR. LUÍS VIANA — E' claro justamente a Tennessee Valley Autho-
que o aproveitamento do São Francis- rity a sua sede.
co implicará naturalmente em levar- Desde essa época tinham os ame-
mos para suas margens novas corren- ricanos as vistas voltadas para os pro-
tes imigratórias, que farão com que blemas do Tennesse, que, como disse,
se inverta o plano inclinado atual, só haveriam de ver realizados mais
quando o que vemos são populações do de um século depois, quando, em 1933,
Vale do São Francisco em constante sob o aguilhão da crise, tendo necessi-
migração para os demais Estados do dade de traçar para a América do
Brasil. Norte ameaçada de uma das maiores
Este Sr. Presidente, o quadro que catástrofes de sua história, um plano
se nos depara. capaz de reanimar e também de absor-
Não é menos exato que, para reali- ver a imensa massa dos sem-trabalhos,
zar tais obras, devemos ter um conhe- estipendiados pelo Tesouro; quando
cimento justo dos objetivos que de- em 1933, o Presidente Roosevelt diri-
vemos alcançar, porque sem' êle, sem giu ao Congresso Americano a men-
sabermos das metas a atingir, e dos sagem em que pedia a aprovação do
recursos de que dispomos, poderemos plano mais tarde convertida em Ten-
ingressar numa aventura oujo fim, nesse Valley Act.
evidentemente, ignoramos. Pois bem, lá nos Estados Unidos —
recolho esta informação de um dos
Por isso, meu intento é não so- trabalhos que compulsei, dedicados à
mente fixar o que consideramos obje- matéria — "cada barragem da T.V.
tivo primacial desta grande e generosa A., diz o autor, é o projeto de vários
cruzada, como, também, fixar, com ab- fins, e os engenheiros da T.V.A., es-
soluto conhecimento, os planos que colheram-no não apenas para dar n a -
terão de proceder à realização das vegação fácil ao rio e maior proteção
obras. possível contra as enchentes, mas pa-
Quanto aos objetivos, não tenho dú- ra assegurar muitos outros benefícios,
vida em dizer que, imediatamente li- dos quais a energia é somente um de-
gados ao curso das águas do São les. Cada barragem é parte de um sis-
Francisco, estão quatro problemas. tema para todo o rio, das cabeceiras
Primeiro: o aproveitamento da ener- à embocadura. A localização, as di-
gia hidro-elétrica; segundo: a nave- mensões, o trabalho de cada barragem
gação; terceiro: a irrigação; quarto: está determinado em relação com to-
controle ou regularização do curso de das as demais e, assim, todo o poten-
suas águas. cial estimado do rio, em conjunto, po-
Quanto à energia elétrica, desneces- de ser aproveitado".
sário será insistir, em face dos es- Bem se vê Sr. Presidente que
clarecimentos, ou pelo menos, das mo- certas obras, como esta das barra-
destas considerações que já fiz, mos- guns não podiam ser feitas senão me-
trando, a importância que tem na diante estudo completo, meticuloso, mi-
vida e no progresso do nosso século, nucioso de todo o ojirso do rio, e não
da nossa era, o aproveitamento da isoladamente, como se o pudéssemos
energia hidro-elétrica. (.Apoiados) dividir por seções. Isto, porque, como
Kjeria grave erro, entretanto, se, an- já disse alguém, aquilo que a nature-
tes desse aproveitamento, não traças- za fêz uno, o homem não pode apro-
sem o plano capaz de nos dar uma veitar senão na sua unidade, no seu
visão de conjunto a fim de que sai- todo, no seu conjunto.
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E' Impossível que se vá retalhar o enquanto o Senador Apolônio Sales


Sao Francisco, para sô íazer aqui e acha que o São Francisco deve ter
a]£, obras esparsas, destinadas a be- sua navegação adaptada ao rio, atra-
neíiciar esta ou aquela região, rrías vés da redução do tamanho dos na-
que no futuro possam ser incompatí- vios de modo a ajusta-los a calado
veis, perniciosas a uma obra grandio- existente, o técnico do Ministério da
sa de conjunto, Isto, aliás — quero Agricultura é favorável a que se adap-
acentuar — não exclui realização das te o rio às necessidades da navegação
obras beneméritas de saneamento e da região. Aí vemos, portanto, con-
edu-c ação,, que ali vêm sendo realizadas ceitos .orientações, inteiramente opos-
e que, por certo, de modo algum po- tos: de um lado, adapta-se o rio à
dem interferir num plano de conjun- navegação; de outro a navegação ao
to de aproveitamento do curso do rio. rio.
Entretanto, as obras de barragem, as O Sr. Aureliano Leite — Qual das
de irrigação, as de reservatórios de duas orientações é a certa?
compensação, só poderão ser realiza-
das com eficiência, com consciência, O SR. LUIZ VIANA — Difícil se-
dentro de um plano total, que com- rá dizê-lo, nem me proponho a dis-
preenda desde a Canastra, desd» as cutir as benemerêneiãs ou desvanta-
nascentes, até à íoz do São Francis- gens desta ou daquela solução. Seria
co, temerário fazê-lo, uma vez que ain-
Já que me tenho dedicado, talvez da não dispomos, para tanto, dos ele-
com constância excessiva, a falar do mentos adequados, que nos proporcio-
Tennessee, queria dizer que também nem conhecimento perfeito, completo
lá houve 2 planos. Por um, teríamos acerca do Rio São Francisco. A meu
no vaLe americano 32 barragens pe- ver, porém, devemos, tanto quanto
quenas, das quais resultaria um curso possível, adaptar o rio às necessidades
fluvial com apenas 6 pés de profun- da navegação, porque, de outro mo-
didade; outro mais vultoso, mais am- do, será deixá-lo sem capacidade pa-
plo talvez mais arrojado, compreen- ra atender aos imperativos da região,
dendo apenas sete barragens, isto ê, não somente na atualidade, mas, so-
era vez de 32 pequenas, sete gigan- bretudo, quando adquirir maior in-
tescas. E o resultado é que o curso cremento econômico o grande vale do
d'água seria não de seis pés, mas de nordeste brasileiro.
9 em toda aextensão do rio e dos ca- Sr. Presidente, muitos outros fato-
nais ali rasgados. Este, aliás, o plano res poderão ainda corroborar o impe-
aprovado. rativo irreprimível — posso bem usar
Sr. Presidente, se acentuo a cir- da expressão — de um plano de con-
cunstância, é apenas para mostrar aos junto. Para prová-lo, aí estão al-
Srs. Deputados a influência poderosa, guns erros, talvez seculares, e que
ponderável, insuperável que terá, so- bradam aos céus, depondo em nosso
bre o curso do rio, a construção das favor. Não presísaria ir além do ca-
barragens, ou melhor, a escolha do so das Cachoeiras de Sobradinho,
tipo de barragens a serem no local sobre as quais o Sr. Geraldo Rocha,
empregadas. Assim, tanto nos podemos também dedicado e esforçado inves-
encaminhar para um sistema de pe- tigador dos problemas do São Fran-
quenas barragens, cuja* conseqüên- cisco, diz, e com muito acerto, que,
cia 5era pequena elevação apenas no desde o Império, ali se joga dinheiro
calado do São Francisco, como, se fora, graças à engenharia de palpite.
julgarem os técnicos mais convenien- Realmente, apesar do Plano de Mil-
te, preferir o sistema de grandes bar- nor Roberts, apesar das trê soluções
ragens, que se destinarão a dar ao oferecidas por Halfeld, ao estudar o
Rio São Franeisco o calado de que problema, ainda permanece insolúvel
necessita. o caso de Sobradinho.
Uma vez, porém, que falo em na- Por último, por desgraça nossa, a
vegação, devo dizer que também ãí Comissão Federal Fluvial, criada em
é evidente a necessidade de planificar. 1932, cometeu ali um dos maiores er-
Para isso, basta citar duas opiniões ros técnicos da engenharia nacional,
antagônicas: a do senador Apolônio assentando todo o seu plano de reali-
Sales, um dos maiores conhecedores zações no pressuposto dum determi-
do assunto ou, pelo menos, dos mais nado leito, ou duma determinada na-
dedicados servidores da região, e a de tureza para o kito do rio nesse ponto,
um técnico do Ministério da Agricul- quando, ao contrário do que ela ima-
tura, o Sr. Adosino de Oliveira, se ginava, o leito do rio era justamente
não me falha a memória. Pois bem, o oposto.
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Não quero afirmá-lo quanto à na- contramos, isto é: ou se produz e não


tureza do leito porque a memória po- se tem como conduzir, ou não se pro-
deria me trair, mas o exemplo é abso- duz e então as populações são acusa-
lutamente verdadeiro. Pensou-se, creio das de improdutíveis.
eu, que o leito do rio era mole, e fi- Entretanto, será impossível produzir
zeram-se obras destinadas a um leito enquanto não tivermos transporte
mole. Gastaram-se milhares e milha- conveniente, transporte que assegure
res de contos, e afinal verificou-se que às populações são-franciscanas que
o leito do rio era duro, e então todas suas mercadorias, ao contrário do que
as obras, tudo quanto se realizou, fi- hoje tão freqüentemente acontece, não
cou inteiramente perdido. apodrecerão às margens do rio, por
Ora, Sr. Presidente, esse é um dos falta de vapores, por falta de trans-
exemplos mais clamarosos da levian- portes.
dade com que, no Brasil,, se fazem Cabe aqui ainda uma palavra sobre
obras da maior importância. Para irrigação. Também esta não poderá
testemunhar esses erros técnicos que ser feita sem um estudo conveniente.
assinalam a margem do São Francisco, Entretanto, devo assinalar que mais
ainda há lá o Canal do Diógenes, em grave do que não se ter estudado é
Curralinho, nome que lembra o de en- não se haver até hoje feito nada,
genheiro que praticou aí, também, um quando em todos os rios da América,
dos maiores erros da engenharia na- há cerca de um século, se pratica, com
cional, e para o qual a única vingança todas as vantagens, a irrigação por
das populações ribeirinhas foi perpe- canais e bombeamento. Para citar
tuar-lhe o nome do Canal do Dióge- apenas um exemplo do que pode a ir-
nes. rigação, basta mencionar o Sião e o
Seria, porém, enfadonho, Sr. Presi- Egito, onde a simples construção de
dente, se eu citasse 05 numerosos canais irrigando as terras marginais
exemplos que se poderiam somar àque- dos seus rios permitiu uma concentra-
les aqui citados, e que atestam a cada ção de 580 habitantes por quilômetros
passo a brevidade, a levianade e a quadrado, o que, se transposto para
facilidade com que elementos respon- os duzentos mil quilômetros do São
sáveis tomam decisões da maior im- Francisco, nos leva a imaginar que o
portância, da maior relevância. E' Vale comportaria 116 milhões de habi-
justamente contra isso que peço licen- tantes — contraste evidente com a
ça para dirigir uma palavra de adver- densidade realmente escassa e irrizo-
tência, senão um apelo no sentido de ria que acabou de citar o meu ilustre
que as obras a serem realizadas no colega Deputado Rui Santos.
São Francisco não o sejam com essa
leviandade, porque de outra forma nós Quero, ainda, lembrar um exemplo,
poderemos sacrificar, ainda uma vez, que é do alto São Francisco, isto é, de
e com atraso talvez de um século, Minas, para que se tenha uma idéia
obras que se destinam, não apenas bem clara do abandono em que estão
servir a uma das maiores regiões do as populações marginais do São Fran-
Brasil, mas também a coope-rar para o cisco.
soerguimento econômico da nacional} • Enquanto por todo o Estado de Mi-
dade, porque — ninguém tenha dúvida nas Gerais a proporção da área culti<
sobre esse ponto — a economia brasi- vada é de 26 hectares por mil, kz mar-
leira não estará inteiramente sólida, gens do São Francisco, nc mesmo Es-
não estará unificada entre o norte e o tado, essa proporção é, apenas, de dois
sul, enquanto nós não enchermos eco- por mil.
nomicamente este imenso vazio que Ora, Sr. Presidente, estando a
é o São Francisco, um vazio que há maior extensão do Vale do São Fran
tempos serviu de estrada, que na Co- cisco compreendida no Estado de Mi-
lônia foi o caminho por onde os ban- nas, é fácil que avaliemos as a^essi-
deirantes do norte e do sul se derem dades prementes da imensa regido bra
as mãos, mas que daqui a anos, se sileira.
continuar como está, será, talvez, Mas, além desses três problemas, ou
apenas o cemitério de infelizes popu- dessas três questões a que me referi,
lações ribeirinhas. resta ainda uma, que é a dos reser-
Depois de ter falado na navegação vatórios da compensação
e de ter mostrado, creio eu, quanto è Evidentemente, será impossível aten-
grave aquele problema, que está a exi- dermos àquelas necessidades que lem-
gir um estudo acurado, urgente, de- brei ao iniciar meu discurso, dizendo
sejo assinalar o dilema em que nos en- que o São Francisco está morrendo,
— 9 —

que suas águas estão secando — se dimensões que requer, ela transcende
não cuidarmos, de logo, de construir- de muito a uma realização regional
mos;, sobretudo nas suas cabeceiras, para ser de fato grande obra nacio-
nos seus- afluentes, reservatórios de nal.
compensação -capazes de atender às
necessidades permanentes d* sua na- Mas, não acredito que esse empreen-
ve-g-ação. Tais reserva t6rias, porém, dimento, do vulto que deve ser possa
que serão, por certo, ama. das partes ser realizado se não o fizermos aten-
.mais relevantes -das obras do São dendo a alguns preceitos fundamen-
Francisco. ainda -carecem de asfud.cs tais, dentre os quais está o enuncia-
muito profundos, de estudos muito do pelo grande Roosevelt. em 1933, na
graves, pois envolvem problemas da sua mensagem ao Congresso America-
maior monta.. Basta dizei, Sr Presi- no, de que a TVA por êle ide?..izada
dente, que a barragem do Boqueirão devia ser uma corporação revestida-
— um dos sonhos de quantos se de- dos poderes do Governo mas com a
dicam ao São Francisco — terá ca- flexibilidade e iniciativa de uma em-
pacidade para criar, num dos seus presa privada.
afluentes, umn reservatcuja de água Realmente,, não creio que dentro de
equivalente duas M-êzes ac Lago de As- normas burocráticas seja possí^íl or-
suan e, aproximadamente, igual ao ganizar uma corporação, uma -ntida-
da Baia do Guanabara, ainda divide dade, como aquela, ou capaz de le-
as .opiniões -dos entendidos os Senho- var avante obra como a do São Fran-
res Geraldo Rocha, Coireia Leal e cisco. Evidentemente, ela tropeçaria,
Adonistc Oüv-e-ira. ficaria embaraçada, talvez inibida den-
O Sr. Theúdclo de Albuquerque — tro dos meandros da burocracia, tão
Ciiws-o vezes maior; são dez milhões nossos conhecidos.
de metros cúbicos. "
E' necessário que esse órgão tenha
O SR. LU 13 VIANA — Agradeço a um poder maior e flexibilidade ainda
retificação. São, <Le fato, dez milhões maior. Só poderemos consegui-la
de metros cúfricos. concedendo-lhe grande autonomia de
Só a construção da barragem do poderes, a par também de grande res-
Boqueirã-o, Sr. Presidente, será sufi- ponsabilidade .
ciente para assegurar trinta por cer-
to de toda & vasão da Paulo Afonso Por isso mesmo, no substitutivo que
isto é, terá como conseqüência imedia- tive a honra de apresentar, incluí dis-
ta que o S. Francisco, suas Barragens positivo idêntico ao aceito pela Co-
suas usina,s hidroelétricas não virão missão de Constituição e Justiça, in-
mais a conhecer os horrores da -éca e felizmente repelido pela Comissão de
da estiagem. Isso se refletiria então Finanças, segundo o qual a diretoria
sobre todo o -calado do lio, permitin- da Comissão do Vale do São Francis-
do o tráfego de- navios permanente co, além de um prazo fixo, devia ter
e livremente, ae janeiro a dezembro, a aprovação prévia do Senado Federal.
navios qu-e hoje, durante e cerca de Somente assim poderemos pretender
quatro ou cinco me-s-es do ano, ficam assegurar aos homens incumbidos des-
encostados em Joazeir-o e Pirapora, ou sa obra a independência e ainda a
faze.ni pequerios percursos, uma vez altitude moral, a altitude técnica ne-
que são incapazes dé vencer as cor- cessária e empreendimento de tal
redeiras e cachoeiras na época da es- menta.
tiagem. O Sr. Hermes Lima — Nem se com-
Todavia se grande é meu entusias- preende que a Comissão de Finanças
mo e minha fé nas obras que. cevem haja recusado a aprovação do Senado
sex realizadas no São Francisco, não a essa nomeação.
é menor minha convicção de que, pri- O SR. LUÍS VIANA — Devo, aliás,
meiro, há, muito qu-e pensar .Só numa esclarecer a V. Ex. a que, embora des-
•c-oisa não devemos pensar: no quanto cendo ao plenário com parecer da Co-
a. gastar. Mas., devemos meditar sobre missão de Finanças, o substitutivo n a
o modo por que há. de ser realizad-i verdade não representa a opinião da-
essa obra ver ladeira mente gigar.tesca, quela Comissão.
única no BrasiL, e rara no nrmdo:
obra que se destina não apenas apro- Tanto isso é exato, Sr. Presidente,
veitar o vale, mas. a constitulr-se tam- que a maioria dos membros da Comis-
bém num exemplo para toda a na- são que assinaram o substitutivo o fi-
cionalidade. Será posta à prova a pró- zeram com restrições ou vencidos.
pria capacidade de realização, de ini- Além disso, pleiteio que os diretores
ciativa, de execução de nossa gente, da Comissão do São Francisco a
porque, verdadeiramente, dentro das
— 10 ^~

exemplo do que se faz no Tennessee, intenção foi apenas deixar desde logo,
— exemplo que invoco a cada passo, no substitutivo, algum incisos, algum
obedecendo ao conselho de um dos artigo que . assegurasse aqueles fun-
grandes conhecedores do assunto, Se- cionários determinados benefícios, já
nhor Geraldo Rocha, — não tenham que se lhes tirava o da estabilidade.
direto interesse da região, e seja a sua Sr. Presidente, acredito extraordi-
a nomeação aprovada pelo Senado, e nariamente benéfico para a boa ai ar-
com mandato fixo, o que não exclui d i a dos serviços das obras do São
— como decidiu a Corte Suprema, no Francisco que os funcionários esco-
aresto de Morgan contra a união ame- lhidos pela Comissão sejam apenas
ricana — os poderes do Presidente em consideração ao seu mérito e à
para, dentro da competência atribuí- sua capacidade.
da pela Constituição do país, demitir O Sr. Medeiros Neto — Isso pre-
ou propor a demissão do diretor fal- tende a Comissão do Vale do São
toso ou daquele que provadamente, Francisco.
> praticar falta grave. No entanto, não
compreendo, e ninguém compreende, O SR. LUIZ VIANNA — Sei disso;
que a Câmara pense de outro modo, nem podia ser outra a intenção de
que homens destinados à tarefa tão V. Ex.a. Apenas no meu substitutivo
grande, e de tamanha responsabili- procurei colocar alguns incisos; não
dade, possam ser demitidos ad nutum dei a isso apenas caráter de aspira-
como qualquer funcionário extranu- ção, de ideal, mas de imposição le-
merário. gal. De modo que a falta constitui
falta capaz de acarretar a demissão
Além dessa cautela, que me parece do próprio diretor que a comete.
indispensável como referência à dire- O Sr. Hermes Lima — Por que V.
toria ou ao diretório da Comissão do Ex.a diz, no substitutivo, que os go-
Vale do São Francisco,, é necessário vernadores dos Estados de Minas,
se lhe atribuam as maiores responsa- Bahia, Pernambuco, Alagoas e Ser-
bilidades, e dentre estas se encontram gipe poderão designar, sem ônus pa-
aquelas que os obriga, na admissão ra os cofres federais, observadores
dos seus funcionários, inteira isenção que participarão das reuniões da Di-
completo afastamento da política para retoria do Vale de São Francisco,
que ali só impere a eficiência e o mé- com direito idêntico ao de seus di-
rito. retores . . .
O Sr. Hermes Lima — Por que O SR. LUIZ VIANNA — Menos o
V. Ex. a , em seu substitutivo mandou de voto.
aplicar as regras gerais do funciona-
lismo público ao funcionalismo da Co- O Sr. Hermes Lima — . . . menos
missão do Vale do São Francisco? o de voto, por que?
O SR. LUÍS VIANA — No que não O SR. LUIZ VIANNA — Vou dizer.
se refere à estabilidade. Repare Vos- Evidentemente, segundo entendo,
sa Excelência: o substitutivo exclui os interesses locais nas obras a se-
estabilidade porque justamente por rem realizadas pela Comissão do S.
ser obra transitória, entendo que todos Francisco são os maiores. E quando
os funcionários devem ser temporá- digo interesses, não me refiro aos de
rios, interinos ou aa título precário, ordem subalterna. Pela própria na-
como prefira V. Ex. , mas que a esses tureza das obras, terão de afetar ser-
funcionários se apliquem os demais viços públicos, terão de submergir
dispositivos dos Estatutos públicos, isto certas áreas, terão de aproveitar ca-
é, as demais vantagens, referentes à choeiras estaduais, terão de provoca;*
licença, férias, enfermidades, enfim, modificações de salários, enfim, acar-
a outros dispositivos benéficos que lá retarão, no primeiro momento, mu-
existam. Foi essa, pelo menos; minha tação extraordinária e de grave re-
intenção. percussão na vida de cada um des-
O Sr. Hermes Lima — A legislação ses Estados. Assim, meu desejo é que,
do trabalho não bastaria para isso? junto à Comissão, sem voto, sem
capacidade de deliberar, mas poden-
O SR. LUÍS VIANA — Não me in- do emitir sua opinião, falar, objetar,
surjo contra a orientação de V. Ex. a , houvesse um representante de cada
assim de primeiro plano. E' matéria Estado.
evidentemente para debate mais am-
plo e no qual acredito que poderemos Não creio que nisso haja qualquer
ficar perfeitamente de acordo. Minha mal, desde quando não há ônus para
— 11 —

a Comissão nem para, o país, uma delibera, deverá votar de acordo com
vez que os representantes não votam, os interesses nacionais.
não deliberam, não fazem mais que
aconselhar, ponderar, esclarecer. E' O Sr. Juraci Magalhães — Sem es-
faculdade que, evidentemente, não se quecer, todavia, que os interesses ge-
pode negar a qualquer desses Esta- rais são a soma de interesses parti-
dos profundamente interessados na culares, é o que me cumpre observar
solução e também na marcha das ao nobre Deputado Sr. Hermes Lima.
obras do São Francisco. O Sr. Hermes Lima — Sem dúvida,
O Sr. Hermes Lima — V. Ex.a per- mas os interesses particulares, em da-
mite um aparte? do momento, poderão interferir con-
trariamente ao desenvolvimento nu-
O SR. LUIZ VIANNA — Sabe V. ma esoale de tempo mais longa do
Ex.a que sempre o ouço com o maior que o da obra a realizar.
prazer.
O Sr. Hermes Lima— A maior di- O SR. LUIZ VIANA — Não há dú-
ficuldade da Comissão vai ser, exa- vida que V. Ex.a tem razão. Não
tamente, a de superar o regionalis- acredito, entretanto, que a participa-
mo, que inte-rvirá no desenvolvimen- ção desses elementos por mim pro-
to das obras. postos possam ter a conseqüência
imaginada por V. Ex. a .
O SR. LUIZ VIANNA — Não creio.
O Sr. Hermes Lima — Temo que Mas, Sr. Presidente, outro ponto
os representantes estaduais, embora para mim do maior relevo, quanto à
auxiliem, atrapalhem muito. criação da Comissão do São Francisco
é o da localização da sua sede..
O SR. LUIZ VIANNA — Sabe V.
Ex.a que meu ponto de vista não é O Sr. Hermes Lima — E' funda-
outro, senão o de que as obras do mental.
São Francisco sejam realizadas com
o espírito exclusivamente voltado pa- O SR. LUIZ VIANA — E» para
ra a nacionalidade. Precisamos ba- mim fundamental, como bem diz o
nir, inteiramente, qualquer aspecto ilustre Deputado Sr. Hermes Lima.
regional, qualquer interesse mesqui- Aliás, já dizia o Presidente Roose-
nho desse ou daquele Estado, para velt, numa de suas mensagens diri-
que os interesses do País superem to- gidas ao Congresso a propósito das
dos os demais. Não acredito, entre- obras do Tennessee, com aquela pre-
tanto, que a participação no debate, cisão de linguagem que é muito da
nas deliberações de maior relevância eloqüência americana:
para cada uma das unidades da Fe-
deração, possa comprometer o espí- "Não é sábio dirigir tudo de
rito altamente nacional que deve, re- Washington."
almente,, como bem diz V. Ex.a, pre-
sidir às deliberações da Comissão. Acho, Sr. Pxesidente, que nestas
poucas palavras está dito tudo que
O Sr. Hermes Lima — Veja, porém, poderia dizer sobre a matéria visto
V. Ex.R: não digo ser o interesse re-a como, a verdade é que, no Bra-sin ain-
gional mesquinho. Sei que V. Ex. da estamos concorrendo, cada vez
também pensa assim . mais, para que se chegue aquele gi-
O SR. LUIZ VIANA — Muitas ve- gantismo urbanístico de que falava,
zes pode ser. no depoimento a Comissão do São
Francisco, o Sr. Geraldo Rocha, gi- •
O Sr. Hermes Lima — Muitas ve- gantismo urbanístico que traz todos
zes pode ser e muitas vezes pode não os malefícios, e não nos dá benefício
ser, e geralmente não é. algum. E\ realmente, extraordinário
O SR. LUIZ VIANA — • E' o que que em assunto que se me afigura tão
acredito. evidente, causa tamanha celeuma,
O Sr. Hermes Lima — Mas, não tais os interesses, mesmo honestos co-
há dúrida alguma que o interesse re- mo são todos eles, mas que pelo sub-
gional, apesar de não ser mesquinho, consciente, ou não sei por que outra
pode interferir com os objetivos do via de raciocínio, são levados a se ba-
interesse geral da grande obra a rea- ter extrênuamente pela localização
lizar. de tudo no Rio de Janeiro. Daqui ha-
veremos de dirigir o Acre e o São
O SR. LUIZ VIANA — Neste caso, Francisco, como haveremos de vigiar
a maioria da diretoria que é quem as fronteiras do Rio Grande do Sul.
_ 12 _

O Sr. Hermes Lima — O substitu- perda. Isto, aliás, provam os pró-


tivo da Comissão de Finanças chega prios relatórios da Companhia que te-
à perfeição exagerada de localizar a nho em mão, referentes aos anos de
Comissão em três capitais: uma aqui, 45 e 46: produzidas cem mil tonela-
uma em Salvador e outra em Belo das de carvão — prejuízo nove mi-
Horizonte. lhões e trezento s mil cruzeiros; no
último, quarenta mil toneladas — pre-
O Sr. Manuel Novaes — Devo pon- juízo dois milhões de cruzeiros.
derar ao nobre Deputado Sr. Hermes
Lima que a localização em três ca- De referência à sede, basta citar o
pitais é conseqüência da participação depoimento de um americano, que
dos delegados estaduais, que deu a aqui esteve, Sr. Sharp, e que escre-
alteração completa da proposta da veu, então, um pequeno relatório —
Comissão Parlamentar e, em conse- "South America uncensored" — "A
qüência, do substitutivo da Comissão Sul América sem. censura".
de Justiça.
Evidentemente não é necessário es-
O SR. LUIZ VIANA T- Por isto clarecer que esse americano aqui es-
mesmo, Sr. Presidente, lembro o de- teve durante o estado novo, sob o
poimento de um dos diretores da T. império da censura. Pois bem, Sharp
V. A. e que assim se externava so- às páginas 282-286 do seu trabalho,
bre o assunto: diz: — "Dr. Pinheiro — por coinci-
"Se as resoluções importantes dência, não é mais nem menos do
são tomadas no centro, nenhum que o nosso prezado colega Deputado
homem de valor quererá ir para o Israel Pinheiro — permanece mais
campo." tempo no Rio de oaneiro. No dia em
que cheguei por estrada de ferro, êle
Essa a verdade. Se tudo aqui se vinha por ar, numa das suas visitas
resolver e se deliberar ninguém que- muito pouco freqüentes".
rerá sair caqui, ninguém há de que-
rer localizar-se no São Francisco, no Sr. Presidente, se esta Casa resol-
campo ou no interior, nem desejará ver, na sua alta sabedoria, que a sede
ir para lugares onde se não decidem da Comissão do Rio São Francisco
nem resolve; evidentemente que só deve ser na capital do país, na Ave-
irão os menos capazes, qs menos ha- nida Central, então não há dúvida de
bilitados a darem o seu concurso que outros jornalistas, quando passa-
para uma obra de tal relevância e rem pelo São Francisco, poderão
grandiosidade. também dizer do diretor da Comissão
o mesmo que disse esse de um di-
Se não bastasse invocar esse exem- retor da Companhia Rio Doce, assi-
plo americano, quereria citar outro nalando suas poucas visitas ao São
que é muito nosso, muito perto de Francisco.
nós, contemporâneo. E' o caso da O Sr. Juraey Magalhães — V. Ex.a
Companhia Vale do Rio Doce que há permite um aparte ?
pouco tempo conseguiu destruir um
dos maiores patrimônios nacionais, O SR. LUIZ VIANA ~ Com imen-
uma das maiores coletas de dinheiro so gosto e honra.
já feitas no Brasil, porque para ela
se caldearam em espécie, em dinhei- O Sr. Juraey Magalhães — E se,
ro, novecentos milhões de cruzeiros, em lugar de adotarmos solução rígi-
dinheiro que, hoje, na verdade, não da de localizar no Rio de Janeiro ou
existe. em outro ponto qualquer do São
Francisco, permitíssemos à Comissão
Porque a Companhia Vale do Rio ficar no Rio de Janeiro ou no São
Doce chegou a essa perfeição mara- Francisco, conforme as conveniências
vilhosa: quanto mais produz mais do serviço ?
perde! E' que o minério do Rio
Doce custa mais caro do que se ven- O SR. LUIZ VIANA — Evidente-
de, de forma que o problema da Com- mente teríamos chegado ao Ideal,
panhia, para perder menos é vender porque, realmente, não duvido que,
menos, quando, até hoje, que eu sai- em certas fases do ano ou em certas
ba, em todas as empresas, o ideal e fases da obra...
vender mais para ganhar mais. Pois O Sr. Juraey Magalhães — Agora,
bem, no Rio Doce é o contrário: no por exemplo, haveria necessidade da
ano de poucos negócios, poucas per- Comissão do São Francisco funcionar
das; nos de muitos negócios, muita no local ?
— 13 —

O SR. LUIZ VIANA — Acredito naturalmente, manter contacto ime-


que agora não haveria. diato com a alta administração do
O SR. LUIZ vrANA — Sr. Presi- país. Teríamos a questão do registro
dente,, respondo agora ao aparte com de verbas, do fornecimento de dinhei-
que me honrou o Sr. deputado Ju- ro nos Estados, enfim, um conjunto
raci Magalhães. Realmente, seria per- de problemas a resolver aqui. A essa
feitamente viável termos a Comissão altura surgiu, na Comissão de Fi-
do São Francisco entre o Rio e o São nanças, aquilo que V. Ex.a vai criar
Francisco, de acordo com as necessi- com o dispositivo, introduzindo a re-
dades do s-eiviço. presentação dos delegados dos gover-
nadores — o problema regional. A
Nós, legisladores, entretanto, que Comissão de Finanças só encontrou
fazemos as leis, não para êsfce ou esta fórmula: deixar a sede na Ca-
aqueLe Governo, não para os bons ou pital da República...
maus tempos, mas para cs governos
de todos os tempos, não podemos con- O SR. LUIZ VIANA — Isso não é
fiar em que os Governos sejam sem- uma fórmula, porém uma porta de
pre bons e sempre criteriosos. saída.
£ possível que, amanhã, tenhamos O Sr. Juraci Magalhães — Nesta
na direção do São Francisco, indica- fase de organização?
dos por Governos menos escrupulo- O SR. LUIZ VIANA — Acredito
sos, ou menos zelosos do- interesse que haveria.
público, elementos que não correspon-
dam à confiança do povo e transfor- O S,r. Juraci Magalhães — Pois eu
mem os seus cargos, não em munus não acredito.
públicos, em ônus a serviço da pátria,
mas numa sinecura gozada aqui no O SR. LUIZ VIANA — Esta fase
Rio de Janeiro. Contra isto me in- inicial será de observação direta so-
surjo e disto tenho medo, ainda maior bre o vale, de estudos locais, eviden-
hoje, na época da aviação, quanto é temente tanto mais bem feitos quan-
comum, é freqüente, que os diretores to mais próxima a diretoria do Rio
não fiquem nem no Rio, nem no São São Francisco.
Francisco, mas estejam continuamen-
te voando, para cá e para lá, por O Sr. Juraci Magalhães — V. Ex.a
conta do erário publico. citou o caso da Companhia Vale do
Rio Doce. Veja» porém, o exemplo de
O Sr. Juraci Magalhães — Se os Volta Redonda, onde uma administra-
homens nomeados não estiverem à ção eficiente ajudou a resolver um
altura dos cargos, não será um sim- grande problema nacional. A dire-
ples dispositivo legal estabelecendo toria de Volta Redonda está ali ou
que a Comissão funcione no vale do no Rio de Janeiro, conforme a con-
São Francisco que os fará permane- veniência do serviço. Por que não
cer ali. admitir que o Governo da República
Haverá sempre o arbítrio dos di- venha a escolher homens capazes de
retores de escolherem a oportunidade por sempre os interesses públicos aci-
de estar no S. Francisco ou no Rio ma de suas conveniências pessoais?
de Janeiro. Se não estiverem à altura O SR. PRESIDENTE — Peço a
dos cargos, repito, preferirão sempre atenção do nobre orador para o fato
ficar no Rio de Janeiro. Se viessem de estar a extinguir-se o tempo da
para o Rio, teriam ainda a diária. sessão, bem como o de que dispõe.
O SR. LUIZ VIANA — Assim, es- O SR. JURACI MAGALHÃES —
taria tudo perdido. Sr. Presidente, requeiro a V. Ex.a a
O Sr, Manuel Novais — V. Ex.a prorrogação da sessão por meia hora,
está tratando da questão da locali- a fim de permitir que o nobre depu-
zação e eu devo declarar que a Co- tado conclua seu discurso.
missão Parlamentar do S. Francisco O SR. PRESIDENTE — Pode, na-
adotou, como sede, a Capital da Re- turalmente, ser prorrogada a sessão,'
pública, aliás, mantida pelo substitu- para que o orador conclua o seu dis-
tivo da Comissão de Justiça, sob o curso, não, porém, por muito tempo,
fundamento de que, sendo o órgão de- visto estar a esgotar-se o tempo que
pendente, subordinado diretamente ao o Regimento lhe dá para permanecer
Presidente da República, precis-aria, na tribuna.
— 14 —

O SR. LUIZ VIANA — Sr. Presi- de planificação, sem mais ônus para
dente, se não estou enganado, o Re- a. Comissão üo S. Francisco. Vê o
gimento permite que ao orador seja nobre orador que não se trata de uma
concedida mais meia hora, desde que porta de saída...
algum deputado inscrito lhe ceda a
palavra. O SR. LUIZ VIANA — Na reali-
dade, é.
O SR. PRESIDENTE — O Regi-
mento permite requerimento verbal O Sr. Manuel Novais — . . . mas
para prorrogação da sessão. Subme- de verdadeira fórmula, criada por
to à deliberação do plenário o reque- aquilo que V. Ex.a procura prevenir,
rimento do Sr. Juraci Magalhães, de introduzindo a representação dos go-
prorrogação da sessão por 30 minutos, vernadores .
para que o orador termine suas con-
siderações. O SR. LUIZ VIANA — Sr. Pre-
sidente, como argumento contrário à
Os senhores deputados que o apro- localização da Comissão no S. Fran-
vam queiram conservar-se sentados. cisco, aventa o ilustre colega Sr. Ma-
(Pausa.) nuel Novais e necessidade que teria,
Está aprovado. não só do contacto permanente, es-
treito, contínuo com o Presidente da
Continua com a palavra o Sr. República, mas também a movimen-
deputado Luiz Viana. tação das verbas das próprias obras.
O Sr. Manuel Novais — Ê sempre Ora, também dependente, subordi-
umaa fórmula, e vou prová-lo a V. nada ao Presidente da República é a
Ex. . Tennessee Vallay Authority. Apesar
O Sr. Fernando Nóbrega — E' uma disso, entretanto, a Seção VIII da-
solução política, premiando Minas, quele ato do Legislativo Norte-Ame-
Bahia e o centro. ricano dispôs expressamente, que o
principal "Office", como se chama,
O Sr. Manuel Novais — A fórmula ou a Sede da TVA, devia ser em
seria deixar a sede na Capital da Muscle Shoals — coração do Tennes-
República, criando duas Diretorias de see. Além disso, seria perfeitamente
Obras: uma, no Estado de Minas Ge- viável que, tanto para esses entendi-
rais, para atender aos problemas da mentos, como para amovimentar as
seção do Médio S. Francisco perten- verbas a que S. Ex. alude, a Dire-
cente ao Estado e do Alto S. Fran- toria tivesse aqui representantes seus,
cisco; e outra, na Bahia, para aten- mas erro profundo será criarmos, no
der à seção do Médio S. Francisco Rio de Janeiro, cabides de empregos,
relativo ao Estado, e do Baixo S. novas autarquias, para serem invadi-^
Francisco, estabelecendo-se, assim, das pelo protecionismo, visando apenas *
equilíbrio perfeito na planificação e colocar dezenas ou centenas de fun-
execução do serviço. Isto foi feito. O cionários e não o interesse público na-
argumento que se podia apresentar cional .
contra essa idéia consistiria na neces- O Sr. Hermes Lima — Aí é que esta
sidade de serem criadas três Direto- o problema.
rias, com três Administrações pró- O SR. LUIZ VIANA — O problema
prias, o que não acontecerá, porque não é dos diretores, é sobretudo dos
a Administração Central é constituí- funcionários.
da de três Diretores, na Capital da
República. Mesmo na fase da plani- O Sr. Hermes Lima — O problema
ficação, temos necessidade de manter, é o perigo de se estabelecer, no Rio
em cada uma dessas regiões, forço- de Janeiro, um escritório burocrático
samente, uma residência de engenha- com um número de funcionários que
ria, porque os Diretores não podem não terá fim.
planificar sem os elementos forneci-
dos pelos engenheiros, estudando lo- O SR. LUIZ VIANA — V. Ex.a diz
calmente o S. Francisco. Nesta hi- bem: não terá fim.
pótese, ao invés de mantermos dois O Sr. Manuel Novais — V. Ex. a
Diretores aqui no Rio de Janeiro, sem está equivocado. Como foi traçado o
função, eles assumiriam, nos Estados, plano pela Comissão Parlamentar do
a função desses engenheiros residen- S. Francisco, na fase de planifica-
tes e pessoalmente dirigiriam a parte ção não teremos a diretoria como
K- 15 -

órgão de centralização e coordenação O Sr. Agamernnon Magalhães —


de todos esses serviços, mas nunca V. Ex. a está argumentando em tese;
acontecerá que se monte uma grande não está argumentando para o Brasil.
burocracia no Rio de Janeiro, porque
as obras que se estão executando no O SR. LUIZ VIANA — Se o Brasil
S. Francisco, correm por conta de é um mundo à parte, então eu de-
Departamento já existentes... sisto de qualquer argumentação, de
qualquer razão, de qualquer lógica.
O SR. LUIZ VIANA — V. Ex.a Penso, porém, que estou argumentan-
está fazendo um discurso paralelo, e do com o que há de mais brasileiro,
meu tempo está se esgotando. que é a burocracia.
O Sr. Manuel Novais — Permi- O Sr. Agamernnon Magalhães —
ta-me concluir o meu pansamento. Ao contrário; V. Ex. a , se falasse
Assim, vê-se que nunca empenhare- com o engenheiro da Inspetoria de
mos a fundo as verbas destinadas ao Obras Contra as Secas, Dr. Vieira,
S. Francisco, na parte burocrática. compreenderia por que deve ser lo-
O SR. LUIZ VIANA — Creio, Sr. calizada aqui. Eu mesmo fui a fa-
Presidente, que, depois de darmos à vor da transferência para o Nordes-
diretoria da Comissão do Vale do te da Inspetoria Contra as Secas,
São Francisco todos esses elemen- mas esse engenheiro me demons-
tos, será indispensável lhe dar toda trou que tal transferência iria en-r
a autoridade para nomear e demitir travar a ação da Inspetoria.
os seus funcionários. Somente as- O SR. LUIZ VIANA — Sou aces-
sim ela terá a força, o poder neces- sível a qualquer argumento, e posso
sário para realizar tarefa de tal mag- mudar de opinião; não sou dogmá-
nitude. tico. Até agora, porém, Sr. Pre-
Ò Sr. Agamernnon Magalhães — sidente, estou convencido de que lo-
Há aí uma contradição. V. Ex. a calizar-se no Rio de Janeiro a sede
quer negar a natureza autárquica da da -Comissão do São- Francisco será
Comissão e, ao mesmo tempo, dar- prejudicar gravemente a realização
lhe poderes que só uma autarquia daquelas obras.
pode ter.
O Sr. Agamernnon Magalhães —
O SR. LUIZ VIANA — Não me Se a Comissão não tiver aqui sua
insurgi contra a autarquia, e tanto sede, nada conseguirá para o São
não me insurgi que, mediante auto- Francisco. Os órgãos de execução
rização do Congresso, dei à Comis- é que deverão ficar lá. Afinal, que-
são do São Francisco poderes para ro a Comissão em qualquer lugar.
contrair empréstimos. Ora, se ela Temos de fazer alguma coisa, de
não fôr autarquia, esses emprésti- qualquer forma.
mos terão de ser contraídos direta-
mente pelo Governo. O SR. LUIZ VIANAa — O problema
está posto. V. Ex. quer raciocinar
O Sr. Agamernnon Magalhães — por absurdo; não é possível.
V. Ex. a aceita, então, a organização
autárquica ? O Sr. Agamernnon Magalhães —
Lá teremos os técnicos.
O SR. LUIZ VIANA — Nem dis-
cuti aqui esse ponto. V. Ex. a está, O SR. LUIZ VIANA — O proble-
portanto, arrombando uma porta ma não é esse.
aberta, perdoe-me dizê-lo. O Sr. Agamernnon Magalhães —
O Sr. Agamernnon Magalhães — V. Ex. a cita os Estados Unidos.
V. Ex. 8 há pouco afirmou que não Nós, entretanto, estamos argumen-
queria criar uma autarquia, com sede tando para o Brasil, onde tudo se
no Rio de Janeiro. move da Capital.
O SR. LUIZ VIANA — V. Ex.» O SR. LUIZ VIANA — Não há
ouviu mal. Eu disse que, com a exemplo mais flagrante, mais peremp-
sede no Rio de Janeiro, iríamos criar tório, mais' convincente das desvan-
mais uma autarquia na Capital Fe- tagens que irão decorrer da locali-
deral, que serviria apenas para co- zação da sede da Comissão do São
locar afilhados, protegidos, sobrinhos, Francisco no Rio de Janeiro, do que
enfim, toda essa escala que V. Ex. a , o Brasil. Não é o exemplo ameri-
que durante tantos foi governo, deve cano que invoco. O que invoco, so-
conhecer melhor do que eu. bretudo a ecima de tudo, é o Brasil.
— 16 —

O Sr. Agamemnon Magalhães — V. convicção errada mas, sempre, uma


Ex.a nega a eficiência do Serviço das convicção.
Obras contra as Secas? Nega que a O SR. LUIZ VIANA — Além disso,
região mais estudada do Brasil seja o Sr. Presidente, não podemos invoc-ir,
Nordeste? Os estudos foram dirigidos no caso, as Obras Contra as Secas, que
por uma Comissão localizada no Rio constituem apenas um Departamento.
de Janeiro, mas os grandes técnicos, Se é para fazer alguma coisa com sede
anônimos, desconhecidos, estavam lá no Rio de Janeiro não vamos, então,
trabalhando todo o dia. fazer o Departamento do São Francis-
O SR. LUIZ VIANA — V. Ex. a ad- co, porque justamente queremos fugir
mite que eu responda? desse Departamento; queremos alguma
coi&a de novo, que seja realmente gran-
O Sr. Agamemnom Magalhães — dioso. Não queremos ir nas pegadas
Estou ouvindo V. Ex.a com atenção. das Obras Contra as Secas, nem de
O SR. LUIZ VIANA — V. Ex.a tem Qualquer outro Departamento.
direito de aceitar ou não; direito recí-
proco. O Sr. Agamemnon Magalhães — St
O Sr. Agamemnon Magalhães — E a Comissão do São Francisco tiver a
um direito de raciocínio. eficiência do Departamento de Obras
Contra as Secas, o Brasil estará de
O SR. LUIZ VIANA — Evidente- parabéns.
mente. Como racionais que somos, te-
mos que raciocinar. O SR. LUIZ VIANA — Mas a Ba-
hia garanto, estará de pêsames.
Quanto às obras contra as Secas, só
conheço a parte da Bahia. O Sr. Paulo Sarasate — Foi a sal-
vação do Nordeste do país.
O Sr. Agamemnon Magalhães — Eu
conheço todo o Nordeste. O SR. LUIZ VIANA — Na Ba-
hia, são pouquíssimas as obras con-
O SR. LUIZ VIANA — V. Ex. a foi tra as secas. Enquanto o Ceará pôde
Ministro durante dez ou quinze anos; dar esse testemunho, que não nego,
naturalmente, há de conhecer mais, te- a verdade é que temos, na Bahia,
ve mais oportunidade do que eu, que apenas poucos açudes.
conheço apenas a parte da Bahia. O Sr. Juracy Magalhães — A me-
Sobre essa parte, posso invocar o teste- lhor estrada de terra construída no
munho unânime:. boa vontade, muita Brasil — a Transnordestina — foi
gentileza, muita delicadeza muita realizada pela Inspetoria de Obras
atenção; obra — muito pouco. Contra as Secas.
O Sr. Juraci Magalhães — Neste
ponto, V. Ex.a permitirá meu depoi- O SR. LUIZ VIANA — Estou-me
mento. Como V. Ex.a sabe, até meu referindo aos açudes, aos reservató-
Governo, a Bahia, praticamente,... rios de água, que não existem na
Bahia. No ano passado, quando hou-
O SR. LUIZ VIANA — Mas o Gover- ve seca na Bahia, sofremos a cala-
no de V. Ex.a foi há dez anos. midade, como V. Ex.a sabe. Em
O Sr. Juracy Magalhães — Até o zonas que são reconhecidamente se-
meu Governo a Bahia foi excluída do cas, como a zcna de Monte Santo,
Plano das Obras contra as Secas, d, a de Queimados, a de Cansanção e
depois do meu governo, voltou, nova- também na zona central, aa de Ituas-
mente, a ser excluída. Não porém por sú, Triunfo, Jiqui, V. Ex. sabe per-
culpa da direção da Inspetoria das feitamente que as populações — e
Obras Contra as Secas, que está en- apelo para que o Deputado Novais
tregue, como estava àquela época, a diga se não é a verdade — morreram
homens de maior valor. (Muito bem). de sede, porque até hoje o Serviço
de Obras Contra as Secas não fez
O SR. LUIZ VIANA — O testemu- lá o que tinha o dever de fazer.
nho de V. Ex.a apenas confirma in-
teiramente o que afirmei. Na Bahia, O Sr. Juracy Magalhães — V. Ex.a
pouco se conhece quanto a serviços conhece bem os planos de obras que
da Inspetoria de Obras Contra as Se- a Inspetoria está realizando na Ba-
cas. hia.
O Sr. Juracy Magalhães — Havia a O SR. LUIZ VIANA — Planos não
convicção de que a Bahia não devia são obras.
ser grandemente contemplada por não O Sr. Paulo Sarasate — V. Ex.a
haver ali o problema da Beca; era uma diz que não conhece o problema das
— 17 —

secas senão na Bahia, porque, se O SR. LUÍS VIANA — Pois bem;


dele tive&se conhecimento, não chora- V. Ex.a cita apenas o examplo de uma
ria as máguas; as lágrimas do Ceará autarquia. Como não há regra se.n
são eternas e, só depois de secarem exceção, há também nas autarquias
essas lágrimas, é que poderemos cui- brasileiras uma exceção — o Depar-
dar das outras. a E já estamos cui- tamento de Obras contra as Secas.
dando. V Ex. 3 que acompanhou Muito bem; estou de acordo. £intre-
brilhantemente ps trabalhos da Co- tanto, não há de ser por causa dessa
missão de Finanças dará seu teste- exceção que havemos de contrariar a
munho de que a Bahia foi muito bem regra geral, de que quase a unanimi-
aqminhoada neste orçamento, graças dade das autarquias tem demonstrado
à diligencia deveras louvável de seus ineficiência.
representantes, que foram levar sua . O Sr. Juraci Magalhãêcs — O De-
colaborac&o para, a consecução do partamento de Obras contra as Secas
trabalho- Notável íoi a ajuda do não é autarquia.
nobre Deputado Sr. Manuel Novais.
O SR. LUÍS VIANA — Os depar-
O SR. LUIZ VIANA - Se 7 . Ex.a tamentos, autarquias com sede no Rio
tivesse acompanhado há mais tem- de Janeiro, provaram sempre mal.
"po o discurso que venho pronunciando O Sr. Agamemnon Magalhães —
teria viste qe rainhas palavras não Autarquia é descentralização dos ser-
tiveram qualquer intenção de fazer viços, evolução desses mesmos servi-
restrição às obras que vêm sendo rea- ços. A própria América ào Norte* está
lizadas no Ceará, para. as quais só adotando as autarquias.
tenho louvores.
O Sr. Paulo Sarasate — Não pensei O SR. LUÍS VIANA — Quero ir
isso, absolutamente. Se o afizesse, co- mais longe que V. Ex.a, pois desejo si-
meteria injustiça a V. Ex. . Lamento tuar a sede da autarquia fora do Rio.
profundamente não ter chegado a Jogo a barra muito além de Vossa Ex-
tempo, mas os trabalhos da Comissão celência. V. Ex.a pretende que a sede
a qne pertenço não me permitiram da autarquia seja no Rio de Janeiro
sair mais cedo. e quero que fique no local dos ser-
viços,
O LUIZ VIANA — Muito agrade- O Sr. Agamemnon Magalhães — Aí
cido a V. -Ex.*. e que V. Ex.a se engana. A autarquia
Ma-Sj Sr. Presidente, apesar do tem sede no Rio de Janeiro, mas os
brilho com que costuma expor suas serviços são sempre no local.
idéias, o ilustre ex-Ministro Sr. Aga- O Sr. Juraci Magalhães — O nobre
memnon Magalhães na verdade nada trador alimenta propósito muito e'.e-
aduziu de novo que me pudesse im- vado, isto é, a eficiência do serviço
pressionar. público, que tanto podeser obtido no
O Sr. Açramcmiioii Magalhães — Rio de Janeiro como no São Fran-
Cito fatos "brasileiros e V. Ex.a quei1 cisco.
ir para a América do Norte. Assim, O SR. LUIZ VIANA — Evidente-
jamais nos encontraremos. Nunca mente.
saí do Brasil.
O Sr. Agamemnon Magalhães —
O SR. LUIZ VIANA — Eu também V.t Ex.a vai muito bem quanto toca na
nunca fui aos Estados Unidos da localização da companhia.
América.
O SR. LUIZ VIANA — Agraieço a
No Brasil há talvez vinte autar- generosidade de V. Ex. a .
quias ou mais.
O Sr. Hermes Lima — O máximo
O Sr. AHonuzr Baleeiro — Quaren- que se pode pedir é que haja vm di-
ta para. sessenta. retor da companhia no Rio de Janei-
O SR. LUÍS VIANA — Em ?era! ro, para mover as verbas. Não é pos-
são sorvedouros de dinheiro, produ- sível, nem necessário, que fique no Rio
zindo, talvez, menos da metade do que de Janeiro a diretoria inteira.
deviam e podiam produzir. Todas elas O SR. LUIZ VIANA — Sr. Presi-
têm sua sede no Rio de Janeiro, na dente, apesar do desagrado com que
gloriosa cidade de São Sebastião do ouve o Deputado Agamemnon Maga-
Rio de Janeiro . lhães invocarmos exemplos america-
nos, a grande democracia, eu me per-
O Sr. Agamemnon. Magalhães — mitiria lembrar, aqui, um conceito en-
V. Ex.a é apaixonado. contrado no livro de Lilienthal justa-
— 18 —

mente no qual êle procura mostrar "so- sunto me animo a- trazer ao debate,
mo a localização da sedes de serviços, justamente o último, com o qual con-
junto às obras a serem realizadas, tem cluirei a matéria, que é o dos recur-
caráter profundamente democrático, sos.
tão democrático que não tenho dúvicta
de que o Deputado Agamemnon Ma- No meu entender, nada, nada e
galhães, com a sua fidelidade ao»-, prin- nada .poderá ser feito de grande no
cípios democráticos, acabará rendido São Francisco sem que ponhamos à
ao argumento. disposição dessa Comissão recursos
realmente largos. Por isso, o país pre-
E' isso o que diz Lilienthal: cisa compreender que a obra não é
"Julgo impossível a democracia regional, mas nacional, e para ela de-
ser uma realidade viva se o povo ve concorrer toda a economia, que, por
for alguma coisa remota para o sua vez, dela receberá, em tempo
governo e não for cada dia uma oportuno, também todos os benefí-
parte dele, ou se o controle e di- cios.
reção do qu^ íaz a vida de cada O Sr. Agamemnon Magalhães —
região, a indústria, as fazendas, a Apoiado.
distribuição de utilidades estiver
removida para longe do centro da O SR. LUÍS VIANA — E basta ci-
vida e do local da comunidade." tar o caso do Boulder Canion, uma
barragem americana, na qual ioi des-
O Sr. Agamemnon Magalhães — pendido um bilhão de cruzeiros, como
Sem técnicos, sem ação, está tudo lembrou em depoimento aqui presta-
perdido. do d Sr. Agenor Miranda.
O SR. LUÍS VIANA — Infelizmen- Isso dá pequena idéia do vulto das
te, é assim que vejo o problema. Não despesas que serão reclamadas justa-
posso vê-lo como o Deputado Agamem- mente pelas obras do São Francisco.
non Magalhães que, a meu ver, o sim-
plifica excesivamente para considerá- Devemos, pois, banir da idéia, do
lo . . . pensamento, a impressão de que elas
poderão ser feitas com a cota cons-
O Sr. Agamemnon Magalhães — titucional. Mercê de Deus a Carta
Quero ação, rendimento. Fora daí não Magna apenas fixou o mínimo, e
aceito princípio algum. esse terá de ser muitas e muitas ve-
O SR. LUÍS VIANA — E' melhor zes ultrapassado, porque, ou nós nos
não entrarmos na matéria da ação. deliberamos a ultrapassá-lo, ou então
estaremos querendo encher o oceano
O Sr. Agamemnon Magalhães — com gotas dágua.
Se V. Ex. a quiser ler as críticas que
se fazem nos Estados Unidos . . . O Sr. Manoel Novaes — Não há
O SR. LUÍS VIANA — Evidente- ninguém nesta Casa, medianamente
mente, ninguém ignora isso. de bom senso, e não é ê&te o juízt> que
faço do Parlamento, que pense que a
O Sr. Agamemnon Magalhães •- cota constitucional salva tudo. Não é
A América tem dinheiro e pode se possível.
dar ao luxo de gastar. Nós não temos
dinheiro; devemos ser objetivos. O SR. LUIZ VIANNA — Estou de
pleno acordo com V. E x 8 .
O SR. LUÍS VIANA — Para V.
Ex. a o objetivo é criarmos uma sede Sr. Presidente, já posso concluir,
no Rio; nomearmos 100 funcionários, uma vez que o tempo está esgotado e
dezenas, centenas, milhares de dacti- não permite abordar várias outras
lógrafos e escriturários . . . matérias que acredito profundamente
interessantes e das quais, talvez, ain-
*<) Sr. Agamemnon Magalhães -- da tenha oportunidade de tratar nes-
Os funcionários não serão técnicos. ta Casa, tais como as relações que
O SR. LUÍS VIANA — V. Ex. 8 se irão estabelecer entre a Comissão
parece até que está ficando ingênuo e os Estados, os Municípios, as popu-
depois de velho, se não se zanga que lações locais, as próprias empresas
assim o chame. (Riso) privadas, os campos agronômicos de
Sr Presidente, depois do agradável experimentação federal, municipais e
«ntrechoque de opiniões com figura estaduais.
tão ilustre quanto é a do Deputado Ao chegar ao fim da digresão, que
Agamemnon Magalhães, ainda irai as- a Câmara tão generosamente ouviu,
quero apenas lembrar que, ao traçar Pois bem, Sr. Presidente, nas obras
o plano, verdadeiramente de propor- do Rio São Francisco o que renasce
ções americanas, o que /ale dizer de para o Brasil é o espírito dos ban-
proporções gigantescas, o Presidente deirantes naquilo que eles tiveram de
Roosevelt,dizia que, ao lado das obras arrojado, no que tiveram como capa-
do Tenn-essee, o que ressurgia, o que cidade de iniciativa e; também, de
renascia na América do Norte, era o abnegação e sacrifício pela grandeza
e unidade do Brasil. (Muito bem',
espirito do pioneiro. muito bem. Palmas).
SUBSTITUTIVO APRESENTADO PELO SR. LUIZ VIANA

"Cria a Comissão do Vale do S. com direitos idênticos aos dos seus di-'
Francisco incumbida de traçar e retores.
executar um plano de aproveita- Art. 6.° A C.V.S.F. terá a sua sede
mento total das possibilidades eco- no médio São Francisco, no local mais
nômicas do rio São Francisco e conveniente, a juízo da diretoria, para
seus afluentes, e dá outras provi- a realização de cada fase do plano a
dências. ser executado.
Art. l.° Fica instituída a C-V.S.F. 5 Até a conclusão do plano a que se
que terá a seu cargo traçar e executar refere o artigo 1.°, a Comissão terá a
um plano de aproveitamento total do sua sede provisória na cidade de Jua-
vale do São Francisco, bem como coor- zeiro, Estado da Bahia.
denar os serviços e obras da União* Art. 7.° Todas as nomeações para a
Estados e Municípios nessa região, e C.V.S.F. serão feitas a título de co-
que possam contribuir para melhor missionamento, contrato, ou inteirini-
execução do plano mencionado. dade.
Art. 8.° As nomeações serão feitas
Art. 2° Compor-se-á a diretoria da pela diretoria da C.V.S.F. à qual
C.V.S.F. de 1 diretor-presidente e compete nomear, punir, e demitir to-
mais 2 diretores, todos de nomeação dos os funcionários. V
cio Presidente da República, depois de Parágrafo único — A nomeação e
aprovada a escolha pelo Senado Fe- promoção dos funcionários não pode-
deral, não podendo esta recair senão rão ser feitas senão em obediência ao
em brasileiro nato, de notória idonei- mérito e ^eficiência, sob pena de de-
dade moral e reconhecida competência missão do diretor considerado respon-
para o exercício da função, e que não sável pela inobservância deste pre-
participe de qualquer empresa ou ne- ceito.
gocio suscetível de ser diretamc- e be-
neficiado pela efetivação dos objetivos Art. 9.° A demissão do diretor con-
da. Comissão. siderado responsável -pela falta pre-
vista no artigo anterior, ou qualquer
Art. 3.° O prazo do mandato dos di- outra considerada grave, será feita
retores será de seis anos. pelo Presidente da República, depois
§ 1.° A fim de evitar a renovação da aprovação do Senado Federal, que
simultânea de todos os diretores, a também poderá ter a iniciativa de pro-
primeira diretoria será composta de por ao Presidente da República a de-
diretores com mandatos de 2, 4, e 6 missão de qualquer diretor da C. V.
anos, e que serã.o fixados pelo Pre- S. F .
sidente da República no ato da no-
meação. Art. 10.° Excetuados os dispositivos
§ 2.° No caso de vaga de qualquer dos apenas compatíveis com os funcioná-
diretores e substituto completará o rios que tenham estabilidade, apli-
prazo respectivo. cam-se aos funcionários da C.V.S.F.
Art. 4.° Cada diretor perceberá a os preceitos vigentes para o funcio-
remuneração mensal de Cr$ 15.000,00, nalismo público federal.
sendo-1b P vedado exercer qualquer ou- Art. 11 O quadro de funcionários,
tro função de caráter público ou par- bem como os respectivos vencimen-
ticular . tos, deverá ser organizado pela C.V.
Art. 5.° Os governadores dos Estados S.F., e submetido à aprovação da Câ-
de Minas, Bahia, Pernar-buco, Alagoas mara dos Deputados, mediante mensa-
e Sergipe poderão designar, sem ônus gem do Presidente da República.
para os cofres federais, observadores, Art. 12 Quando julgar conveniente
que, excetuado « voto, participarão das o Presidente da República poderá de-
reuniões da diretoria da C.V.S.F, signar para servir na C.V.S.F., qual-
— 22 —

quer funcionário ou técnico da União nar seus planos, obras, e serviços com
requisitadc pela Comissão. os da C.V.S.F.
Art. 13 A C.V.S.F., ao organizar Parágrafo único. As verbas para os
as suas tabelas de salários procurará serviços e obras acima mencionados
fixá-los tendo em vista as condições não correrão por conta da quantia
de cada região, a fim de atenuar quan- prevista no artigo 29 das Disposições
to possível as perturbações oriundas Transitórias • da Constituição Federai.
da mudança de atividade das popula- Art. 17 Enquanto não fõr aprova-
ções locais. do o plano previsto no artigo 1 a C
Art. 14 Ao fazer a prestação de con- V.S.F.," submeterá à apreciação do
tas a que se refere o artigo a C. Congresso Nacional, meliante men-
V.S.P., fica obrigada a apresentar a sagem do Presidente da República,
relação nominal de todos os traba- os ante-projetos anuais de trabalho a
lhadores, mencionando os serviços e serem executados, e que justificará
salários de cada qual. devidamente.
Art. 15 A execução do plano a que Art. 18 Na elaboração dó plano pa-
se refere o artigo 1.°, dependerá de ra total aproveitamente econômico do
prévia aprovação do Congresso Na- vale do São Francisco, nos termos do
cional, ao qual será submetido me- artigo 1.°, deverá a C.V.S.F., ter co-
diante mensagem do Presidente da Re- mo precípuos objetivos os seguintes:
pública à Câmara dos Deputados. ü
) regularização do regime fluvial
§ 1.° De acordo com o plano que do São Francisco e dos seus afluen-
houver sido aprovado, o Congresso tes, a fim de ser asseguarada melhor
Nacional descriminará no Orçamento distribuição da águas em benefício da
da União, as verbas previstas no ar- navegação, da irrigação, do aprovei-
tigo 29 do Ato das Disposições Cons- tamento da energia hidro-elétrica. e
titucionais Transitórias da Constitui- do controle das enchentes;
ção Federal. b) adoção dum sistema de transpor-
§ 2.o Quando devidamente autori- tes compatível com o progressivo de-
zada pelo Congresso Nacional, a C. senvolvimento da região;
V.S.F., poderá contrair empréstimo c) utilização dos recursos naturais
interno ou externo destinado à exe- a fim de melhorar as condições de
cução de obras determinadas. Os em- vida da região, e conseqüente fixarão
préstimos assim autorizados poderão das populações locais;
ser garantidos pela quota estabelecida d) aproveitamento da energia hidro_
no artigo 29 do Ato das Disposições elétrica e sua aplicação na agricultu-
Constitucionais Transitórias da Cons- ra e emi indústrias;
tituição Federal. e) introdução de conhecimentos
§ 3.° Abatidas as verbas porventu- científicos nas atividades agro-pecuá'
ra atribuídas aos Ministérios, no rias da região,
Orçamento da União, por conta da Art. 19 Para melhor elaboração e
quota prevista no artigo 29 do Ato das execução do plano previsto no artigo
Disposições Constitucionais Transitó- 1.°, o Presidente da República, pode-
rias da Constituição Federal, será a rá determinar à C.V.S.F., a reali-
importância mínima prevista no cita- zação de estudos, pesquizas e projetes,
do artigo das Disposições Transitórias bem como pedir ao Congresso a vo-
posta, em conta no Banco do Brasil, tação de leis e a abertura dos créditos,
à disposição da C.V.S.F., que a dis- que julgar necessários.
penderá de acordo com a discriminação
estipulada no § 1.° do artigo 15, re- Art. 20 A fim de preencher as fi-
tendo os saldos verificados para se- nalidades a que se destina, poderá a
rem aplicados na execução do plano C.V.S.F.:
aprovado, segundo determinar o Con- o) realizar qualquer das obras pro-
gresso Nacional. jetadas por administração direta, ou
Art. 16 As obras e serviços de ca- contrato, mediante concorrência pú-
ráter nacional, que vêm sendo rea- blica, ficando entendidos que, ainda
lizadas pelos Departamentos de Saú- nesse caso, lhe caberá a fiscalização
de Pública, Educação, Nacional de Es- e responsabilidade.
tradas de Rodagem, Nacional de Es- b) realizar serviços de utilidade pú-
tradas de Ferro, Correios e Telégrafos, blica, seja diretamente seja através
e Nacional de Obras Contra a Seca, de empresa organizada com esse ob-
continuarão a ser realizados por esses jetivo e da qual texá sempre a dire-
Depaitftmentos, que deverão coorde- ção;
— 23 —

c) adquirir bens e propor ao gover- nômicas do Vale do São Francisco,


no a desapropriação de terras, de serão apenas realizadas pelo governo
acordo com. o plano das obras e ser- federal as obras que pela sua natu-
viços; reza independem do plano de con-
â) colaborar com associações rurais junto, e com este não venham a in-
para mais rápida e eficiente introdu- terferir.
ção de novos processos na agricul- Art. 24 — A importância prevista
tiEra, na pecuária, e em pequenas in- no artigo 29 das Disposições Transi-
dústrias correlatas a essas atividades; tórias será posta, em conta no Banco
e) p&nticipar, quando autorizada. do Brasil, à disposição da C. V.
pela Câmara dos Deputados, de so- S. P., que a despenderá na forma
ciedade de economia mista da qual determinada pelo Congresso Nacional.
faça parte algum Estado ou Municí- Art. 25 — A diretoria da C. V,
pio do Vale do São Francisco, e cuja S. P., cujas resoluções não poderão
direção deverá caber à C. V. S. P., ser tomadas senão com a concordân-
ou a pessoa jurídica de direito pú- cia de, pelo menos, dois diretores,
blico interno. caberá, além dos seus Estatutos, que
deverão estar concluidos dentro de
f) fazer instalações para a fixa- 90 dias a contar da promulgação da
ção do azoto atmosférico, produção presente lei, expedir Regulamentos,
de ácido fosfórico, potassa, e mais Portarias, e Circulares para os ser-
ingredientes destinados à fabricação viços a seu cargo.
de fertilizantes necessários ao incre- Art. 26 — A C. V. S. P . fica
mento agrícola; obrigada à prestação de contas ao
gO produzir e vender energia hi- Congresso até o dia 30 de abril de
dro-elétrica, em cuja compra terão cada ano, depois de prévio exame
preferência os Estados, os Municí- pelo Tribunal de Contas, que sobre
pios, e as cooperativas agrícolas. O elas opinará. Também no mesmo
fornecimento de energia deverá ser prazo deverá a C. V. S. P . , medi-
feito pelo menor preço possível, de- ante mensagem encaminhada pelo
vendo constar do contrato não so- Presidente da República, apresentar
mente a faculdade de rescisão, com ao Congresso Nacional relatório com-
aviso- prévio, por parte da C. V. pleto e circunstanciado das ativida-
S, P., mas também o preço máximo des exercidas no ano anterior.
a ser cobrado pelo revendedor; Art. 27 — O Tribunal de Contas
h) cooperar com oç campos agro- poderá, a qualquer tempo, inspecio-
nômicos de experimentação federais, nar por funcionários seus o serviço
e municipais; de Contabilidade da C. V. S. F . ,
Art. 21 — Na forma determinada devendo dar conhecimento ao Pre-
pelo Código de Minas e Águas, fará sidente da República das conclusões
o governo federal a concessão à C. a que chegar, e que serão publicadas
V. S. P . da exploração das quedas no "Diário Oficial" da República.
d'água situadas no Vale do São Fran- Parágrafo único — As despesas de
cisco, ressalvadas as que não figura- transporte e hospedagem, que forem
rem no plano previsto no art. 1.°. necessárias para a inspeção acima
ou aquelas que a C. V. S. P. ex- mencionada correrão por conta da
pressamente considerar passíveis de C. V. S. P.
ser concedidas a outrem. Art. 28 — Poderá a comissão as-
Art. 22 — Das áreas compreendi- sinar convênios ou acordos com os
das no plano de irrigação, poderá • a Estados e Municípios, dependendo,
C. V. S. P . promover a desapro- porém, de autorização do Congresso
priação de terras destinadas à colo- Nacional sempre que implicar em
nização, e especialmente à fixação despesas não previstas.
das populações deslocadas por moti- Art. 29 — Esta lei entrará em vi-
vos decorreirtes do plano geral a gor na data da sua publicação.
executar. Art. 30 — Revogam-se as disposi-
Art. 23 — Enquanto não fôr pro- ções em contrário.
vado o plano destinado ao total apro- Sala das Sessões, 15 de setembro
veitamento das possibilidades eco- de 1947. — Luiz Viana".

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