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ORDENAÇÕES

AFONSINAS
LIVRO II

SERVIÇO DE EDUCAÇÃO

FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN


ORDENAÇÕES
AFONSINAS
LIVRO II
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Reprodução (reduzida) da primeira pagina do Livro 11 das Ordenações Afonsinas
(Torre do Tombo. Núcleo Antigo -- Códice 5. foi. I ).
ORDENAÇÕES
AFONSINAS
LIVRO II

2. ª Edição

SERVIÇO DE EDUCAÇÃO

FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN


© Esta edição é uma reprodução «fac-símile» da
edição feita na Real Imprensa da Universidade de
Coimbra, no ano de 1792 .

Reservados todos os direitos de harmonia com a lei


Edição da Fundação Calo uste Gulbenkian
Av. de Berna / LISBO A
1998

ISBN 972-31 - 0275-7


COLLECÇAÕ
DA

LEGISLAÇAÕ
ANTIGA E MODERNA
DO

REINO DE PORTUGAL.
PARTE I.
DA LEG IS LAÇAÕ ANTIGA.
ORDENAGOENS
DO

SENHOR REY
D. AFFONSO V.
L I V R O II.

COI M B R A.
NA REAL IMPRENSA DA UNIVERSIDADE.
ANNO DE MDCCLXXX XII.

Por Refoluçaô de S. MAGES'iADE de 2 de


Setembro de 1786
TAVOA I

D O S E G U N D O L l V R O.

TITULO I. Dos Artigos firmados em Cor-


te de Roma ancre ElRey Dom Donis,
e os Prelados. J
Ti T. II. Dos onze Artigos de Corte de Ro-
ma antre ElRey Dom Dinis, e os Pre-
lados. 33
T1T. III. Carta de EIRcy Dom Denis fobrc
os Capítulos. 44
T 1 T. IIII. Carta dos Artigos , que fom an-
tre E!Rey. D. Donis, e a Igreja. 47
T1 T. V. Dos Artigos, que forom acordados
em E! vas antre ElRey D. Pedro , e a
Clerizia. 61
TrT. VI. Dos Artigos acordados antre E!Rey
Dom Joham, e a Clerizia, que forom
feitos em Evora. 88
T1T. VII. Dos Artigos antre ElRey Dom Jo-
ham , e a Clerizia , que forom feitos
em Santarem a trinta dias do rnez de
Agoíl:o Anno do Nafcimento de N •.
S. JEsu CHRrsTo de mil e quatro cen-
tos e vinte e fete annos. 95
TrT. VIII. Dos que fe coutam aa Igreja, em
que cafos gouvirom da imunidade
della, e em quaaes nom. I 57
TI T. VI III. ~ando a Ley contradiz aa De-
Lj,v. IL '- gra-
li TA V o A.

gratal , qual dellas fe deve guardar. 161


TrT. X. ~e os Clerigos ajam fervidores. 1 64
TIT. XI. ~e façaõ penhora nos beens dos
Clerigos condapnados pelos Juizes
d'ElRey. 165
TIT. XII. Das Leteras, que veem de Corte
de Roma, ou do Gram Meefhe, que
nom fejam publicadas fem Carta
d'ElRey. 166
T1T. XIII. ~e os Clerigos, e Hordeens , e
Moeíl:eiros , e Fidalgos, e Ca valleiros
nom poífam a ver, nem gaançar beens
nos Regueengos d•EIRey. 170
T1T. XIIII. ~e os Clerigos, e Hordeens
nom comprem beés de raiz fem man-
dado d'ElRey. 174
TIT. X V. Que as Igrejas e Moefteiros nom
hajam herdamentos per morte de feus
profeffos. 176
TIT. XVI. Dos Leigos, que tomam pofie
dos Beneficios quando vagam. 183
TIT. XVII. Dos Fidalgos, que apropriam a fy
os Moeíl:eiros, e Igrejas, dizendo que
ham em ellas poufadias, e comedo-
nas. 187
XVIII. Qge os Efcripvaaens dante os Vi.
garios guardem a taixa das Efcriptu-
ras, que he dada aos Efcripvaaens
da Corte. 1 89
TA V o A. lI J

Tr T. XVIIII. Q!e os Fidalgos, ou feus Moor-


domos nom poufern nas Igrejas , e
Moeíleiros , nem lhes filhem o feu
contra fua voontade. I 90
T1T. XX. ~e os Fidalgos nom ponham
em fua terra defefas, per que façam
hermar as herdades das Igrejas , e
Moefieiros. I 9I

Ti T. XXI. ~e os Clerigos, e Frades nom


paguem Portagem , fenom como pa-
gam os outros Chrifptaãos. I 92
TrT. XXII. Dasbarregaans dosClerigos, e
Frades. 194
T1 T. XXIII. Dos privilegias dados aos Ca.
feeiros das Igrejas, e Moeíl:eiros, em
que forma fc ham de dar. 205
TrT. XXIIII. Dos Direitos Reaaes, que aos
Reys perteence d'aver em feus Re-
gnos per Direito Commum. 209
T1 T. XXV. Q!e nom feja creuda Portaria
nenhuma d'ElRey, falvo per fua Car-
ta feellada do feu f eello. 21 9
Ti T. XXVI. ~e fe nom faça obra per Car-
ta, ou Alvará d'alguum Defembarga-
dor , fe nom for feellado com o feello
d'ElRey. 220
TrT. XXVII. Dos Reguecngos, e Herdamen-
tos d'ElRcy , que Fidalgos, nem ou-
*2 tras
11r1 TA v o A.

tras nenhumas peffoas nom poufem


em elles. 2.1 r
T1T. XXVIII. De como ElRey deve herdar
os Mouros forros moradores em feus
Regnos , e Senhorio. 2 21
T1 T. XXVIIII. Das Jugadas como ham de
feer recadadas nas terras Jugadeiras. 243
T1T. XXX. Em que modo, e em que tem-
po fe faz alguum vizinho, porque fe-
ja efcufado de pagar Portagem a El-
Rey. 270
T1T. XXXI. Q!e nom leve ElRey, ou quem
ddle Terra, ou Alcaydaria rever , a
terça parte das coufas, que fe vende-
rem para comer. . 273
T1T. XXXII. Q!e os Almuxarifes d•ElRey
nom levem alguma coufa do Navio•
que fe perder , ainda que feja Eftran-
geiro. ·27+
T1T. XXXIII. ~e nom tenha nenhuum
Porteiro, fenom quem ouver Autho-
ridade d'ElRey pera ello.. 276
TrT. XXXIII!. Do que haõ de pagar os Ta-
balliaaens Geraaes do Regno a ElRey. 277
T1T. XXXV. ~e os Beeíl:eiros paguem Ju-
gada em todo lugar onde nom forem
efcufados pelo Foral. 2 Sr
T1r. XXXVI. Da declaraçom feita ácerca
da.
TA V o A. V

da faca do pam, e guados, que fe le-


vam pera fora do Regno. 2 84

T1T. XXXVII. De cornoEIReypode, e deve


efpaçar as dividas aos fcus naturaes. 2 86
T1T. XXXVIII.Das Cartas empetradasd'El-
Rey per falça enforrnaçorn , ou calla-
da a verdade , ou dadas fem conhe-
cimento. 2 88

T1T. XXXVIII!. ~e as Raynhas, eos Iffan-


tes norn dem Cartas de Pri vilegios a
nenhumas peffoas. 290
T1 T. XXXX. De como as Raynhas, e os If-
fantes haõ d'ufar das Jurdiçooens nas
Villas, e Terras, que lhes forem da-
das per EIRey. 293
T1 T. XXXXJ. ~e os Almoxarifes, e Rece-
bedores , que forom de EI Rey Dom
Affonço, e Dom Pedro, e Dom Fer-
nando , fejam quites de todo aquello,
que por elles recebeerom. 300
TI T. XXX XII. Dos Thefoureiros, e Almu-
xarifes, e outros Officiaaes d'EIRey,
que lhe furtam , ou enganofamente
malbaratam oquc per elle receberam. 301
TrT. XXXXIII. Q!.e os Thefoureiros, Almu-
xarifes, e Recebedores d'E!Rey nom
dem dinheiros aa onzena , nem os
empreíl:em fem feu mandado. 303
TIT.
VI T A V o A.

T1 T. XXXXIIII. Que os Efcripvaaens dos


Thefoureiros, e Almuxarifados façam
Efiormentos pruvicos dos Arrenda-
mentos, e vendas pelos Thefoureiros;
e Almuxarifes feitas. 304
T1 T. XXXXV. ~e o privilegio da exen-
çom dado ao morador da terra nom
faça prejuízo ao Senhor della. 305
T 1 T. X XXX VL ~e as Herdades novamente
gaançadas per ElRey nom fejaõ en-
corporadas com os Reguengos , nem
gouvam de feu privilegio. 301
TrT. xxxxvn. De como ElRey ha d'aver
as luitofas dos Vaífallos per fuas mor-
tes. 308
T1 T. XXXXV1U. De como perteence a El-
Rey foomente apoufentar alguem por
aver hidade de fetenta annos. 309
T1 T. XXXXVIIII. De como os Almuxarifes
e Arrendadores d'ElRey devem ao
tempo das vendas , e arrendamentos
fazer apregoar, fc eíles, que querem
comprar, ou arrendar., teem alguns
Creedores, a que primeiro fejam obri-
gados. 310
T1 T. L. ~e os Dizimeiros, e Almuxarifcs
das Alfandegas d'ElRey ao tempo que
dizimarem, nom confentaõ eíl:ar hy
ou..
T A V o A. VlI

outrem, fe nom os Senhores das mer-


cadarias, nem comprem mercadaria
alguma nas Alfandegas. 3r l
Tr T. LI. Dos Thefoureiros, Almuxarifes, Re-
cebedores d'E!Rey, ou dos Iffantes,
que nom levem peita por pagarem as
conthias, moradias, ou mercees , que
per elles fam defembargadas. 3 14
TrT. LII. De como fe ham de vender os
beens por divida d'ElRey, e quanto
tempo ham d·andar em pregom. 3I 5
TrT. LIII. Da hordenança que devem teer
os Sacadores d'ElRey, e quaeesquer
outros , que per fua graça podem re-
matar por fuas dividas , afsy como
pelas de EIRey. 3r7
T1T. LIIII. Dos beens, que perteencem a
EIRey per cafo de herefya , ou rrei-
çom. 330
T1 T. LV. Dos Rellegueiros, que regatam o
vinho no Rellego, ou o querem ven-
der defpois que faae o Rellego. 33 r
T1T. LVI. Dos que reem Herdades nos Re-
gueengos , e moram fora delles , que
nom gouvaõ do Privillegio dos Re-
guengue1ros. 333
T1 T. LVII. Dos Mercadores, que trazem
rnercadarias de fora parte, ou as levam
pera
VI Il T A V o A.

pera fora do Regno , que nom pa-


guem dellas mais que huma dizima. 334
TI T. LVJII. Dos Refidoos, como fe ham de
requerer, e demandar, e em que tem-
po. 336
T 1T. LVI III. Dos Artigos , que foram re-
queridos por parte dos Fidalgos a El-
Rey Dom Joham na Cidade de Co-
imbra. 339
T1 T. LX. Das malfeitorias, que os Fidalgos,
e pefToas poderofas fazem pelas Ter-
ras, hu andam. 377
T1 T. LXI. Que os Fidalgos, e Cavalleiros
nom filhem na Corte galinhas , nem
outras aves contra vontade de feus
donos. 390
Tr T. LXII. O!!_e os Cavalleiros, e Fidalgos ,
e outras peffoas Poderofas nom filhem
beíl:as de fella, nem d'albarda fem
grado de feu dono. 392
T1T. LXIII. De como devem ufar das Jur-
diçoens os Fidalgos , ou aquelles , a
que pelos Reyx fom outrogadas algu-
mas Terras. 394
T1 T. LXIIII. ~e os Serviçaaes, e Moordo-
mos dos Fidalgos, e Vaffallos fejam
efcufados dos encarregas dos Conce-
lhos. 405
T1T.
TA V o A. VIIII

T1 T. LXV. Da Inquiriçorn, que ElRey Dom


Donis mandou tirar per razom das
honras , e coutos , que os Fidalgos fa-
ziaõ como nom deviam. 407
T1T. LXVI. ~e o Judeo nom tenha man-
cebo Chrifptaõ por foldada , nem a
bem fazer. 421

TrT. LXVII. ~e os Judeos nom entrem em


cafa das Chrifptaãs, nem as Chrifptaãs
em cafa dos Judeos. 423
TrT. LXVIII. ~e os Judeos nom arren-
dem Igrejas , nem Moefieiros , nem
as rendas delles. 42 7
T1 T. LXVIIII. Q!e os Judeos nom fejam
efcufados de pagar Portagem , nem
avudos por vizinhos em alguma Villa,
ainda que hi morem longamente. 429
'T1T. LXX. ~e os Judeos nom gouvam do
privilegio, e beneficio da Ley da Avo-
enga. 430
TrT. LXXI. Q!e os Arrabys das Comunas
guardem em feus Jui gados os feus di-
reitos, e cuíl:umes. 432
TrT. LXXII. De como os Judeos, que fe
tornaõ Chrifptaõs, ham de dar Carta
de quitaçom aas molheres., que ficaõ
Judias, paffado hum anno. 434
T1T. LXXlll. De como ham de feer feitos
Li7J. JL O os
X T A V o A.

os contrautos antre os Chrifptaõs, e


os Judeos. 436
T1 T. LXXII II. De como as Cõmunas dos
Judeos ham de pagar o ferviço Real. 445
T1T. LXXV. De corno os Judeos nom ham
de levar armas quando forem a rece-
ber E!Rey. ou fazer outros jogos. 451
T1T. LXXVI. De como os Judeos ham de
viver em Judarias apartadamente. 455
Tr T. LXXVII. Q!e os Judeos nom fejam
prefos por dizerem contra elles , que
fe tornaram Chrifptaaõs em Caílella,
falvo feendo delles quereJlado. 457
TIT. LXXVIII. Da forma em que ha de
feer feita a doaçorn , que ElRey fezer
dos beens d'algum Judeo, por com-
prar ouro, ou prata , ou moedas. 461
T1T. LXXVllll. De como o Judeo cou-
verfo aa Fé de }Esus CHRisTo deve
herdar a feu Padre, e a fua Madre. 465
Ti T. LXXX. Das penas, que averam os Ju-
deos, fe forem achados fora da Juda-
ria defpois do fino da Ooraçom. 471
T1r. LXXXI. De como oArraby Moor dos
Judeos, e os outros Arrabys devem
d'hufar de fuas Jurdiçooens. 476
T1T. LXXXII. ~e os Judeos nom fejam
prefos por dizerem contra elles, que
fi-
T A V o A. XI

fizerom moeda falfa, ou compraram


ouro, ou prata, falvo feendo primei-
ro delles querellado. 491
T1T. LXXXIII. Do Privilegio dado ao Ju-
deo , que fe torna Chrifptaaõ. 494
TI T. LXXXI III. ~e o Judco poffa deman-
dar fua divida ao Chrifptaaõ , poíl:o
que fejam paffados vinte annos , nom
embargante a Ley antes feita en con-
trairo. 497
T1T. LXXXV. ~e os Judeos nom fejam
Officiaaes d'ElRey, nem dos lffantes,
nem de quaeefquer outros Senhores. 498
T1 T. LXXXVI. ~e os Judeos tragam fi_
naaes vermelhos. 499
TIT. LXXXVII. Do Judeo, que rompe a
IgreJa per mandado d'alguum Chrif-
ptaaõ. 501
TIT. LXXXVIII. Q!e nom valha teíl:ernu-
nho de Chrifptaaõ contra J udeo fem
teíl:emunho de Judeu , e o Juiz valha
contra elles no que fe paffar perante
elle. 502
TIT. LXXXVIIII. Do que doefia Chrifptaaõ
que foi Judeo, que refponda fobrello
perante o Juiz fecular. 507
Tn. LXXXX. Q!e o Judeo ao Sabado nom
feja coftrangido refponder em Juízo. 508
**2 TIT.
Xll T A V o A.

TrT. LXXXXI. Do Judeo, que bebe na ta-


verna. 509
TiT. LXXXXII. Se for contenda antre Chrif-
ptaaõ, e Judeo, a quem perteencerá
o conheciment o de lia. 5To
TrT. LXXXXIII . De como os Tabelliaaens
dos Judeos baõ de fazer firas Efcri-
pturas. 513
T1 T. LXXXXIll l. Q_ue nom façam tornar
nenhum Judeo Chrifptaaõ contra fua
vontade. 5r 4
TrT. LXXXXV. Do Judeu, que fe torna
Chrifpta:iõ, e defpois fe torna Judeu. 520
Ti T. LXXXXVI. ~e nenhum Judeu nom
faça contrauto onzaneiro com Chrif-
ptaõ, nem com outro Judeu. 52r
T1T. LX.XXXVII. Se o Chrifptaaõ fez obli-
gaçom ao Judeu por dinheiro , poffa
dizer, paffados dous annos, que os
nom recebeo. 52 5
T1 T. LXXXXVIII. ~e as pagas, e entre-
gas feitas pelos Chrifptaaôs, e Judeos,
fe poífam fazer fem prefença do Juiz. 527
T1T. LXXXXVI III. Da Jurdiçom, que os
Mouros antre fy ham, afsy no Civel,
como no Crime. 529
T1 T. C. Se for contenda antrc Chrifptaaõ, e
Mouro, a quem perteencerá o conhe-
cimento dello. 531
T A V o A. XI I1

TI T. CI. ~e os Alquaides dos Mouros guar•


dem em feus Julgados antre fy os feu.s
direitos, ufos, e coílurnes. 53 2
TrT. CII. ~e os Mouros vivam em Mou-
rarias apartadas dos Chrifptaaõs. 535
T1 T. CIII. Dos trajos, que haõ de trazer os
Mouros. 536
TI T. CII II. De como as portas das Moura-
rias devem feer çarradas ao fino da
Trindade. 540
TI T. CV. ~e os Mouros nom entrem em
caía de nenhuma molher Chrifpraã,
nem Chrifptaã em cafa de nenhum.
Mouro. 541
TIT. CVI. ~e os Mouros nom tenham por
fervidores Chrifptaaõs, nem arren-
dem as dizimas , nem offertas das
Igrejas. 54'.2
T1 T. CVII. Que os Mouros nom fejam Offi-
ciaaes d'ElRey, nem de nenhuum
dos Iffantes, nem d'outros quaaefquer
Senhores. 543
T1T. CVIII. ~e os Mouros nom gouvam
dos Privilegias, per que os Chrifptaaõs
como vifinhos dos Lugares fom izcn-
tos de pagarem portageens , e outras
cuílumageens. 544
T1T. CVIIJI. ~e os Mouros nom gouvam,
nem
XI III TA V o A.

nem ufem do beneficio da Ley da


A voengua. 54 5
T1 T. ex. Do Privilegio dado aos Mouros,
que fe tornam Chrifptaaõs. 546
TI T. CXI. ~e o Chrifptaaõ nom compre
herdade de Mouro fem efpecial au-
thoridade de ElRey. 548
Ti T. CXII. Dos Mouros, que fom achados
de noite fora das Mourarias. 552
T1T. CXIII. Dos que acham os Mouros ca-
tivos, que fogem , quanto ham de le-
var por achadego. 553
T1T. CXIIII. Dos que confelham, e ajudam,
ou encobrem os Mouros cativos pera
fogirem. 554
T1 T. CXV. Do Mouro, que rompe a Igreja
per mandado de algum Chrifptaaõ. S56
T1T. CXVI. De como os Tabelliaaens dos
Mouros ham de fazer as Efcripturas
publicas. 557
TI T. exVII. Dos Mouros ' que nom levem
armas quando forem receber ElRey,
ou fazer outros Jogos. 55&
T1 T. CXVIII. ~e os Mouros forros nom
fejam prefos por fugida d'alguns ca-
tivos, falvo fe primeiramente for del-
les querellado. 559
T1 T. CXVIIJI. ~e nom façam tornar Mou-
ro
T A V o A. XV

ro Chrifptaaõ contra fua vontade. 561


TIT. CX X. ~e nom mate alguum, ou feira
o Mouro, nem lhe roube o feu, nem
violle fuas fepulturas , nem lhes em-
bargue fuas feílas. _s61
TJT. CXXI. Do Mouro, que fe torna Chrif-
ptaaõ, e defpois fe torna Mouro. 563
T1T. CXXII. Do Privilegio dado aos Rendei-
ros das rendas d'ElRey noífo Senhor. 565
TIT. CXXIII. Da pena, que merecem os que
abrem as Cartas mandadeiras d' El-
Rey , ou da Rainha, ou d'outros Se-
nhores. 569
ORDE NAÇO ENS
DO SENHOR REY
DOM AFFONSO V.
----=-=-=-=-===========~=-=-=-=-===
L I V R O II.

N
O PRIMEIRO LIVRO FALLAMOS
dos Officiaaes da noffa Corte, que per Nos
teem carrego de miniflrar direito, e juíli-
ça , e d 'alguús outros> que aa governança
do R egno perteécem. Agora no fegundo livro, e d'hi
en diante entendemos fallar, e trau él:ar das Leyx, e
Hordenaçooês, per que fe os Regnos governem, e os
ditos O fficiaaes ajam de reger por boa eixecuçom dcl-
Ias. E primeiramente entendemos a trautar das Leix ,
que fallam acerca das Igrejas , e Moeíleiros , e Cleri-
gos fagraaes, e Religiofos, que fom coufas, e peffoas
dignas de maior dignidade, e preminécia antre toda-
las outras, por ferem confervadores , e miniíhadores
dos Santos Sacramentos , e do Officio Divino , per
que o noffo Senhor DEOS he principalmente louva-
do, e a noffa Santa Fé perpetuamente confervada.
1 SEMPRE foi noITa teençom , e he com a graça
do Senhor DEOS honrar , e prefar grandemente a
Liv. II. A nof-
2

noffa Santa Madre Igreja, e obedecer compridamrn.


te aos feus Mandamentos a todo noffo poder , affy
como feu Filho obediente, e Rey Catolico , e fiel
Chrifptaão. E porem eílabelecemos por Ley ,e Man-
damos que todolos privilegias , e liberdades, que fo-
ram outorgadas pelos Santos Padres , e pelos Reix ,
que ante Nos forom , aas Igrejas , e Moeíl:eiros , e
Lugares piadofos , e aos Clerigos, e Frades , e pef-
foas Eclefiafticas, e Religiofas, lhes fejam guardadas
taõ compridamente , como he contheudo nos arti-
gos, que forom acordados em Corte de Roma antre
os Reix, que ante Nos forom, e a Clerizia , efpecial-
meme antre ElRei Dom Joham noffo A voo de glo-
riofa memoria, e a Clerizia deíl:es Regnos: os quaees
artigos Mandamos todos aqui encorporar por noffa, e
fua enformaçom ; e fe forem achados alguús contrai-
ras aos outros , Mandamos , que fe guardem os que
forom acordados em tempo do dito Rey Dom Joham
noffo A voo , dos quaees artigos o cheor he eíl:e, que
fe adiante fegue.

TI-
Dos ARTIGOS FIRMADOS EM CORTE, ETC. 3

TITULO I.
Dos Artigos firmados em Corte de Roma antre
ElRei Dom Donis, e os Prelados.

ARTIGO I.

O PRIMtnRo artigo he tal. ~eixaõ-fe os Preta.


dos, que por ElRey comprir fua vontade , cof-
trange os Priores , e os Abades , e Rcétores das Igre-
jas , que renunciem os Priorados , e as Abadias , e as
Igrejas fuas , maiormente naquelles Moeíl:eiros , e
Igrejas , das quaees diz que elle he Padroeiro.
A ESTE artigo refponde Martim Pires Chantre, e
Joham Martins Coonigo de Coimbra, Procuradores
do* davandito (a)* Rey Dom Donis, que* effe (b) *
Rey nom fez atee qui effo , e prometem em feu no.
me, que o nom fara daqui cn diante.

A R T I G o II.
O SEGUNDO artigo he tal. Se os Bifpos, ou Priores
das Igrejas efcõmungam feus freiguefes , porque lhes
nom dam fuas dizimas , ou outros direitos, que lhes
devem , ou pooem interdiél:o em feus lugares , aífy
como a juíl:iça manda, ElRey , e os feus , per * ca-
jom ( e) * deíl:es, que affy excõmungam, faze-os dei-
tar da terra, e filha-lhes os bens.
A 2 REs-
(a) dit0 A. e T. (ó) o dito A. e S. (e) caufa A. e T.
4 LrvRo SEGUNDO TrTuI o PRIMEIRO

RESPONDEM os Procuradores fobreditos, que EI-


Rey o que fe contem no artigo nom fez ata aqui, e
prometem que o nom faça daqui en diante : e fe per
ventura o contrairo foi feito pelos da fua terra, elle
fará direito a aquelles , que fe * ende (a) * arrãcoa-
rem (b) *, fazendo entregar as coufas, que* forem
( e) * tomadas , e fazer fatisfazer dos tortos , que fo.
rem feitos fobre efio.

A R T I G o III.

O TERCEIRO anigo he tal. Item. Se os Bifpos, ou


outros citam , ou querem citar Abades, Abadeffas,
Priores , ou outras peffoas das Igrejas per leteras do
Papa , o davandito Rey nom o leixa fazer.
RESPONDEM os davanditos Procuradores, que elfe
Rey nom fez effo ata aqui , e prometem que o nom
faça daqui en diante, e que leixará elles livremcnt~
ufar das leteras do Papa.

A .lt T I G o IIII.

O QYARTo artigo he tal. Item. Se per ventura


fentença di finiri va por aiguem he dada , nom a leixa
* dar (d) * aa eixecuçom , e as coufas , que fom juf-
gadas ao demandador , mãda-as filhar (e), e retem-
nas pera fy.
RESPONDEM os ditos Procuradores , que eífe Rey
nom
Ciz) dello A. dellc T. (b) agravarem A. arrencurarem S, quei.urcm 7-:-
(r) forom (d) m:uidar A, e S, (e) ao demandador.
Dos ARTIGOS FIRMADOS EM CoRTE, ETC. 5
nom fez effas coufas ata aqui , e prometem que elle
• as nom faça (a ) * daqui en diante, e que leixará,
que as fentenças fe * dem (b) * aa eixecuçom lydema.

A R T I G O V.
O Q11INTO artigo he tal. Se o Arcebifpo, ou Bif-
pos, ou feus Vigarios pooem antrediéto em alguú lu-
gar , ou em algúa Igreja , ou em os homeés deffe Rey
efcõrnunham , affy como a juíl:iça demanda , EIRey ,
e os feus coílrangem os Bifpos, ou os fcus Vigar ios
per ameaças • ou per efpantos, filhando-lhes feus
bêens pera revogarem as fentenças, que deram jul-
gando, * e (e) * elles, fe as fentcnças nom quifcrem
revogar pera Juízo dos Judeus, tolhendo-lhes a falia
dos Chrifptaãos ; e eHes Chrifptaãos, fe a elles em al-
gúa coufa acompanharem , ou receberem * elle (d) •
nos Cafiellos , ou nas Villas , ou nas caías fuas, pren-
dendo-os, e mc:tendo-os cm carcer, tomando-lhes os
béens fcus.
RESPONDEM os davanditos Procuradores , que effe
Rey as coufas , que fom contheudas no artigo , nom
as fez ata aqui , e prometem que as nom fará daqui
en diante : e que fe o conrrairo for feito pelos de fua
terra, fará direito aos que* os (e) * demandarem, fa-
zendo fazer émenda dos dapnos , e dos tortos , pe-
nando os que fezerem o contrairo, affy como forem
pc:nadoiros.

(") no;n as fará A. e: S, (b) mandem A . e S. (e) .i A. (d) dlc s ,"1. (t) o T.
6 LIVRO SEGUN DO TITUL O PRIME IRO

A R T I G o VI.

O SEXTO artigo he tal. Item. Se alguús Juizes da..


dos pollo Papa, ou pollos * Bifpos , ou os (a) * Bif-
pos per alguús Clerig os contra alguú Conce lho, que
perteen ça a ElRey , ou alguú do Conce lho efcõm un-
garem , ou poferc m fentença de * interdi çom (b) * em
elles per fua culpa delles, EI Rey aas * vegadas ( e) * ,
e aas vegadas o Conce lho defend e a effes Clerig os to-
da merch andia de compr ar, e vender , e que nenhu ú
os * nom (d) * receba em fuas caías, poendo -lhes pe-
na grand e, e grave , que lhes nom dem fogo, nem
auga, penand o aquell es, que contra eíl:o forem ; e ef-
te defend imento tal os* Avençaaes (e)* d'EIR ey, e
os Concelhos fazem- nos aprego ar a pregoe iros pelos
muros , e pelas Villas fuas , e pelos outros lugare s ;
* e o que hc mais pior defafiam-nos Clerigos ( /) * ,
e esbulh am-no s dos feus averes , e també do que haõ
das lgreja3 , como do que ham de feus patrim onios;
e * effo meefm o fazem (g) * mal aos Bifpos , e aos
Juizes , (b) ou aos Vigarios quand o dam algúas fen-
tenças * nos preitos ( i) * .
RESPON DEM os davand itos Procur adores , que El-
Rey nom fez eíl:as coufas ata aqui, e prome tem que
as nom * faça (k) * daqui en diante , e defend erá que
[e
(a) Arccbifpos , ou A, (b) interdito A. e 'T. (e) yez=s A. e S. (d) Fal-
ta A. (,J Offici acs A. (f) e o pcor que hc aos Cleri guo$ dcfvcltiam -nos 'l.
(g) cífc mcfmo mal fazem (b ) que dam os prcitos A. e S. que dam
as fcnttD4
ças nos preito, 7'. ( i) Falta. (kJ fará S. e 'T,
Dos ARTIGOS FIRMADOS EM CoRTE, ETC. 7
fe nom façam : e fe pelos de fua terra, ou pelos Con-
celhos , ou per outros o contrairo for feito , fará di-
reito a aquelles , que fe lhe queixarem , e * fará-lhes
(a)* fazer enmenda * dos (b) * dapnos, e tortos.

A R T I G o VII.

O SET I MOartigo he tal. Irem. ~e fe acontece


que em alguú lugar, ou em algúa Igreja ponham en-
trediéto, ou em alguú Juiz , ou Ovençal d'ElRey ,
ou em alguem , ou em alguús deffe lugar efcomu-
nharn , eftabalecern logo entre fy cumunalmente, que
nenhuú nõ pague dizimas, nem leixe aa Igreja nc mi-
galha em feu teíl:arnento , nem levem obradas aa
lgreja.
RESPONDEM os davanditos Procuradores, e pro-
metem que ElRey defenderá, que fe naõ façam caaes
coufas , e fará guardar feu defendimento , e fará fa-
7.er ( e) emmenda dos dapnos , e dos tortos, penando
os que o contrairo fezerem , aífy corno forem pena.-
doiras.
A R T I G o VIII.

O OITAVO artigo he tal. Item. De mais o davan-


<lito Rey , e feus Concelhos norn leixarn aos Bifpos
limitar as Igrejas de fuas Cidades, e de feus Bifpa-
dos.
RESPONDEM os davanditos Procuradores , que
praz
(a) fazcr-lhc5-lu T. (ó) de fcui T. (,) dire ito I e A.
8 LIVRO SEGUNDO TITULO PRIMEIRO

praz a ElRey, que a limitaçom que fe faça pelos Pre...


lados *direitos (a) *, chamando aquelles, que * per-
teencem , que fejam (b) * prefentes ; e o chamamen-
to poblique-fe nas Igrejas, * que couber ( e) * de li-
mitar, e poblique-fe tres Domingos, continuadamen-
te huús depo-los outros dante o poboo • que for pre-
fente quando dilferem a Miffa em tal guifa, que o dia
pera fazerem a limitaçom , digua-fe em cada huum
Domingo, e defpois do poíl:umeiro Domingo ataa
huú mes * atendam (d) * os homeés pera fazeré a li-
mitaçom : confentem os Prelados, que fe algúa limi-
taçam fezerem d'outra guifa daqui en diante, nõ cha-
mando aquelles, a que pertencem (e), que nõ valha
em eíl:a maneira : pero que os Padroeiras, que fom
Ricos-homeés , ou Ca valleiros, ou filhos de Ca vallei-
ros, nom venham* perfoavelmente (j) *, mas enviem
feus Procuradores. Prometem os davanditos Procura-
dores, que ElRcy em eíl:o nom embargará os Prela-
dos, mais aguardará eíl:o quanto a elle perteencerá,
e fará guardar aos de fua terra.

A R T I G o VIIII.
O artigo he tal. Item. ElRey, e os Conce-
NONO
lhos em alguús Bifpados dos feus Regnos filham as
terças das Igrejas, que forom dadas para as obras das
Igrejas, e cm alguús lugares filham as terças dos Bif-
pa-
(a} direita , e igual A. e Reitores igualmente 'T. (Ó ) pertence ferem 'T.
( e) pubricamente que ou ve rem A. pubricamentc quem ou ver S, e 'T, (d) po,,
r,-rJ A. ( e) per.tcncc (/J pelToalmcntc A: e 'T.
Dos AR Trcos FIRMADOS EM CoR TE , !Te. 9

pados , e fazem deífas terças fazer, e refazer os mu-


ros feus • e aas vezes dá-as EIRey por foldada aos Ca-
valleiros.
RESPONDEM os Procuradores davanditos, que EI-
Rey confente das terças das dizimas ferem filhadas
pera os muros fazer, e refazer naquellas Igrejas foo-
rnente , nas quaaes des o fundamento dellas aqueíl:o
expreífamente he feito, e de confentimento dos Pre-
lados, e n'outras Igrejas gua rde-fe o Direito Cõmuú.
Prometem os Procuradores d'ElRey, que aífy o guar-
dará daqui en diante. * Eíl:a refponfom ( a) * recebe-
rom os Prelados por amor de paz.
A R T I G o X.

O DECIMO artigo he tal. Item. ~e EIRey toma


os Efpritaaes, e as Albergarias, que forom feitas pera
os pobres , e que fom fob jurdiçom dos Bifpos de di-
reito , e * filha-as com fuas (!, ) * poffiífoões , e com
fuas perteenças.
RRESPONDEM os davanditos Procuradores, que
praz a EIRey , que fe guarde em aqueíl:o o Direito
Cõmuú, e boõs coíl:umes , e prometem que elle o
guardará aífy fempre.

A R T I G o XI.
O DECIMO primeiro artigo he tal. Item. ~e El-
Rey coíl:range por fy, e por feus Concelhos os Cleri-
Liv. II. B gos,
la) t dta rcpolb. A. e T. (6) filha ,ouías , e ,d., e S. filha-lhe as fuas 'T,
JO LIVRO SEGUNDO TITULO PRIMEIRO

gos , e (a) Igrejas a dar com os leigos talha pera fa_


zer, e refazer os muros deífas Cidades, e deffes luga-
res contra a * livridoõe (b) * da Igreja , e contra a
Ley de feu Padre.
RESPONDEM os Procuradores davanditos que eífe
Rey nom os coíl:range pera darem efto , e prometem
que os nom coíl:ranga daqui en diante , e que fará
compridamente juíl:iça contra eífes, que fezerem eífe
torto aas Igrejas, e aas peífoas dellas.

A R T I G o XII.
O DECIMo fegundo artigo he tal. Item. Coíl:ran-
ge os lavradores das Igrejas, e dos Moeíl:eiros, que
a aquefio nom fom theudos per nenhuú direito, a fa-
zer, e refazer os muros de guifa, que por tal coíl:ran-
gimento os lavradores defemp-aram as herdades, e as
herdades ficam deíl:roidas.
RESPONDEM os davanditos Procuradores, que El-
Rey fará guardar em eíl:o o que quer que per Direito
Cõmuú for aguardadoiro ; falvo graças, ou pri vile-
gios, ou compofiçoões, fe parecerem que fe de direi-
to devam guardar.

A R T I G o XIII.
O DECIMO terceiro artigo he tal. Item. ~e E!..
Rey dos que fe colhem , e fogem aas Igrejas em a.
quelles cafos, em os quaees devem feer defendida!
pe-
Dos ARTIGOS FIRMADOS EM CoRTE, ETC. 11

pelas Igrejas , tira-os hende per força , e faze-os tirar


dellas per Mouros , ou per Judeus , ou per Chrif-
ptaãos, ou os faz guardar nas Igrejas, ou metem-lhes
os ferros aas vegadas per feus Sergentes , tolhendo-
lhes de comer, em tal que fe fayam das Igrejas.
RESPONDEM os davanditos Procuradores , que nõ
tirará, nem fará tirar das Igrejas os que a ellas * fogi-
rem (a ) *, nem os prenderá hi , nem lhes tolherá o
comer, fenom cm aqucllcs cafos , que for direito.

A R T I e o XJIII.
O quarto artigo he tal. Icem- ~e ElRey,
DECIMO
e os feus (b) Meirinhos , e Juizes prendem aquelles,
que fom de Miífa , e os Clerigos, nom os mandando
a feus Bifpos , nem lhos* querem (e) * dar quando
lhos pedem ; e os que afly fom prefos aas vezes per
EIRey, e pelos fcus fom mortos, ou porque lhes ne-
gam ho aver, ou porque os enforcam, ou per outras
maneiras de morte; dos quaees Clerigos aas vezes al-
guus per rogo dos feus freiguefes, entregam-nos a ef-
fes meefmos freiguefes com cauçom , ou fiador ia, que
lhes cantem Miífas, e as Miífas cantadas, fegundo a
forma da cauçom , ou da fiadoria, tornam-nos aa pri-
fom primeira.
RESPONDEM os davanditos Procuradores, que El-
Rey nom fez taaes coufas , nem foram feitas em feu
tempo; e prometem que as nom fará daqui en dian-
B2 te;
--------------
fe acolherem T. (b) Co rregedore s , e T.
(a ) (e) querendo T.
12 LIVRO SEGUNDO TITULO PRIMEIRO

te ; e que fe aas vezes algúa peffoa for tomada da


Igreja per qualquer maneira, que a entregará ao Pre-
lado demandando-a elle ; e íe per ventura a torto for
prefa tal peffoa, ou foi atá aqui ,que fará comprimen-
to de jufüça a quem lha demandar , fazendo-lhe fa_
tis fazer dos dâpnos, e dos tortos, e penando aquelles,
que os prenderom , affy como forem penadoiros.

A R T I G o XV.

O DECIMo quinto artigo he tal. Item. ~e mui-


tas vezes ameaça com morte o Arcebifpo , e os Bif-
pos , e aas vezes procura , e faze-os nas Igrejas , e
Moeíl:eiros, e alhur deteer ençarrados per Mouros, e
per Judeus , e per outros feus Ovençaaes , e Alquai-
des , e Meirinhos faze-os guardar de cada parte , co-
mo pera rnatallos ; e faz ainda talhar as orelhas dos
Sergentes dos Bifpos , e aas vezes alguús prender , e
alguús matar prefente elles.
RESPONDEM os davanditos Procuradores, que taaes
coufas nunca as elle fez , e prometem que as nom fa-
ça daqui en diante.

A R T I G o XVI.
o DECI MO fexto artigo he tal. Item. ~e faz em
alguús lugares a effes Bifpos cercar per feus Meiri-
nhos , dizendo-lhes per muitas vezes publicamente
deshoneíl:as palavras, e doeíl:os defaguifados ; outro
fy o fazem os Ricos-homeês feus , e os feus Vaffallos.
REs-
Dos ARTIGOS FIRMADOS EM CoRTE, ETC. 13
RESPONDEM os ditos Procuradores , que ElRey
nom faz nenhúa coufa daquellas, que fe contêm no
artigo, e prometem, que as norn fará daqui en dian-
te, e que aquelles, que fezerern o contraira , que os
penará , como forem penadoiros.

A R T I G o XVII.

O DECIMO feptirno artigo he. Item. ~e eíle Rey,


e os feus , tambem os Ricos homens , come outros
vilmente pe_r paravoas , e per feitos , corno lhis praz,
defonram Religiofos, Creligos, e Confeífos, e aas ve-
zes fazem algúos delles defnuar dante fy de todo o
que trazem veíl:ido com grande doeíl:o dclles , e de
toda a ordem dos Creligos.
RESPONDEM os davanditos Procuradores, que El-
Rey nunca fez ata aqui ni migalha do que fe contem
no Artigo. E perrnetem que o norn faça daqui a dean-
te. E fe pela ventura ou pelos Ricos horneés , ou pe-
los outros homeés foi feiro ata aqui em feu Reyno,
ou for daqui a deante, que el fará comprimento de
direito, e de juíl:iça aos que fe ende queixarem , fa-
zendo-lhes fatisfazer dos danos, e dos tortos, e pean-
do aquelles, que fezerorn o contraira, fe ende alguos
forem peadoyros.

A R T I G o XVIII.

O DECIMOoitavo artigo he tal. Item. ~e faz In-


quiriçoões per todo Regno per feus homeés proprios
em
14 LIVRO SEGUNDO TITULO PRIMEIR O

em grande prigoo das Igrejas, tambem das Cata.


draaes , como das outras do Regno fobre as poffif'"
foões , e Padroados das Igrejas ; e fe por tal Inquiri..
çõ defcumunal , e maa , acha que o direito do Pa..
droado d'algúa Igreja, ou d'algüa poffiífom perteen...
ce a elle, fay_e logo tomar todalas coufas, pero que
foífem poífoidas dos Senhores, que as traziam de tam
grande tempo, que fe nom * nembra (a ) * ende al-
guú; e os Reitêores faze-os deitar das Igrejas per for-
ça, que aífy teem , como quer que em tal cafo nom
deve tal feito andar per Jnquiriçom , mais per J uizo
* hordenado (b) * dante feu Juiz convinha vel.
RESPOND EM os Procura dores, que e!fe Rey nom
fez nada das coufas, que fe conteem no artigo; e pro-
metem, que as norn fará daqui en diante.

A R T I G o XVUII.

O DECIMO nono artigo he tal. Item. Filha as Igre ...


jas dos Bifpos , e dos outros , as quaaes per longo
tempo poífuirom pacificamente, e o que he mais def-
aguifado , os prefentados , que elle hi prefenta aas
Igrejas , que elle aífy toma , coíl:range os Bifpos, que
os recebam , e os confirmem em ellas ; e fe per ven-
tura alguús dos Bifpos aa cima nom querem receber
taaes prefentados, ElRey per feus hornees faz tomar,
e deteer eífas Igrejas, e fruitos, e rendas dellas , e re-
ce-
(a) lembra A. e T. [b) Hordinairo S.
Dos ARTIGOS FIRMADOS EM CoRTE, ETc. r5

cebe-as das Igrejas per effes horneés feus , que em


ellas pooern.
RESPONDEM os davanditos Procuradores , que effe
Rey nunca fez taaes coufas ata aqui ; e prometem que
as norn fará daqui en diante.

A R T I G o XX.

o VI GESIMO artigo he tal. Item. Se algua Igreja,


que vaga tem defvairados Padroeiras , prefemarn def-
vairadas peffoas , e o Bifpo conhecendo do preito ,
,j(provêe da Igreja a huú (a) * dos prefentados , ou per
vemura*aoutro (b)*, fegundohe direito, d'en-
rnentres que aquelle (e) que aa Igreja he * proveudo
( d) * , norn pode corporalmente a ver poiliffom per
força , que lhe faz alguú dos Padroeiros , fe (e ) o Bif-
po pera aqueílo chama E!Rey corno braço fagral,
ElRey norn defende aquelle , a que he dada a lgr~ja,
mais ante outorgua o torto a aquelle , que o faz ; e
eíla meefrna * carreira (/) * tem em todallas coufas ,
que forn contra a livridoõe da Igreja.
RESPONDEM os davanditos Procuradores , que effe
Rey nenhúa das coufas , as quaaes o dito artigo em
fy contêm , nõ fez ata aqui ; e prometem que o nom
fará daqui en diante ; e que dá feu poder contra a-
quelles , que fezerem torto nas da vanditas coufas ;
e quando for chamado dallo-á affy como o direito
quer. AR-
(a) próve a Igreja d'alguú A. (h) d 'ouu-o A. e S. (e) a A. (d) proveuda , 1.
(r) entam (f) maneira A, e T!
16 LIVRO SEGUNDO TITULO PRIMEIRO

A R T I G o XXI.

O vrGESIMO primeiro artigo he tal. Item. ~e em


lugar de fazer juíl:iça, pooem Meirinhos nom cor-
dos , nem temperados , mas temerofos , que fazem
eixecuçoões nas Igrejas, affy como querem ; e como
deveffem a manteer-fe das foldadas, que recebem de
ElRey , pera eíl:o vaaõ poufar com multidooem de
beíl:as , e d'homel!s nas Igrejas, e Moeíl:eiros, e Ca-
maras , e Ca pellas , e poiliffoões dos Bifpos, e nos dos
Ternpleiros, e nos dos Efpritaleiros, e nos outros lu-
gares Religiofos , e poiliffoões delles; e hindo per ef-
fes lugares muito a miude cada vez que lhes praz ,
fazem que lhes dem as coufas, que ham meíl:er em
effes lugares : e eíl:as meefmas coufas fe fazem pelos
Ricos-homeés , e pelos Juizes , e pelos Oveençaaes
d'ElRey, e per outros quaeefquer.
RESPONDEM os davanditos Procuradores, que eífe
Rey nom fez taaes coufas ata aqui , e prometem que
as nom fará daqui en diante; e fe taaes coufas forom
feitas em tempo de feu Padre , ou no feu pelos feus,
ou per outros , fará comprimento de direito aos que
fe ende queixarem ; e fará fatisfazer dos dãpnos , e
dos tortos, penando os que o fezerem, aífy como fo.,
rem penadoiros.

AR-
Dos ARTIGOS FIRMADOS EM CoRTE, ETc. 17

A R T I G O XXII.

O VIGESIMo fegundo artigo he tal. Item. ~e da-


quellas Igrejas, honde he * Padroeiro (a) *, demanda
procuraçoões defcumunaaes de ferviços grandes no-
vamente, e co!lrange os Reiéêores deffas Igrejas pera
lhe darem cavalgaduras, fe as ham , ou fe as nom
ham , pera conprallas pera elle, quaees a elle aprou-
ver.
RESPONDEM os davanditos Procuradores, que El-
Rey nom fez deíl:as coufas ne migalha ata aqui , e
prometem que o nom fará daqui en diante ; efpicial-
mence que nom receberá procuraçoões, fe nom aquel-
las , que lhe devem dar, e aquellas receberá convi-
nhavees.
A R T I G o X XIII.

O vrcEsrMo terceiro artigo he tal. Item. ~e fe


alguu Alquaide, Vigairo , ou Ovençal , ou Moordo ...
mo da terra d'ElRey, ou de Rico-homem, ou de
qualquer outro , que delle tenha terra, empooem al-
guú crime, ou achaque ao Vaífallo, ou a alguú ho-
mem do• Biípado, ou do (b) * Bifpo, ou d'alguú
Clerigo, ou Religiofo , e fobre aqueíl:o chama o prei-
to perante o Juiz da terra, em tal que por effe cajom
poífam levar, e eíl:orcer delle algúa coufa, os davan-
ditos poderofos, que teem a terra , nom leixam , nem
Liv. li. C que-
(R) Padrom S. e T. (/,) Prior 'T.
18 LIVRO SEGUND O TITULO PRIMEI RO

querem que contra elles ajam Vogado ; nem o Juiz


nom he oufado de lhe proveer de Vogado , affy c0-
mo he theudo de direito , e de cuíl:um e, nem Voga..
do d'alhur es, ou vindiço nom ferá oufado de ufar do
Officio da Vogaria contra os davand itos poderofos.
RESPONDEM os davanditos Procura dores, que effe
Rey ha em fua Caía Vogados , a que dá raçom, e vef-
tir, que voguem pelo Poboo, e pela Clerizia , contra
elle meefmo ainda , fe mefter for ; honde crem os
Procura dores que efto que fe contem no artigo , que
o nom fabe ElRey, nem ouvio que feito foffe, ca fe
o foubeíle, fezera-o emmen dar; e promet em que El-
Rey mandar á daqui en diante , que taaes coufas fe
nom façam ; e que praz a eífe Rey, que cada huú em
fua terra livremente aja Vogado , e que cada huú Vo..
gado poffa livremente vogar, aífy corno perteen ce, e
que os Juízes proveja m dos Vogados a aquelles , que
os norn ou verem; e fe contra efto for feito, emenda!..
lo-ha a aquelle s, que fe ende queixar em.

A R T I e º xxun.
O vrcESIMo quarto artigo he tal. Item. ~ando
os Ricos-h omeés , ou os outros Cavalleiros recebem
Caíl:ellos d'ElRe y pera teellos, e guardallos por fas
foldadas , fazem-l he menage m, que em toda maneira
darom a elle irado, e pagado feus Caíl:ellos , e em ou-
tra maneira ficarôm ende per treedores ; e eíl:es Caf..
telleiros taaes q_uando veem guerra, ou em tal que fa,.
çam
Dos ARTIGOS FIRMADOS EM CoRTE, ETc. 19
çam mal, fingem que vem guerra, e elles, e feu.s ho-
meés filham pam , e vinho , vacas , porcos , e outras
viandas das Igrejas , e dos Bifpos , e dos Clerigos, e
dos feus homeés , e dizem , que os filham pera teer
os Caftellos guardados; e que venha guerra, ou nom,
em nenhúa maneira nom querem dar defpois o que
tomaarom , nem ElRey nom os coíl:range pera pa..
gallo ; nem er coftrange , nem veda os Ricos homeés,,
e outros Cavalleiros, que delle tem terra, ou dos Ri ..
cos-homeés , ou dos Filhos d'algo , e poderofos, que
cada huú em feus lugares coftrangem per força, que
lhes façam ferviço os homeés dos Biípos , e das Igre ..
jas Catradaaes, e das outras, e dos Moefteiros, e dos
Clerigos, e eífes Clerigos meefmos, nos quaees nom
ham nenhuú direito pera fazer-lhes ferviço , aífy co-
mo a elles praz ; nem folamente eíl:o nom veda El.
Rey, mais fofre, que eftas fervidoões a taaes ... adu~
gam (a) l! .em nas poffüfoões, e em os homeés das
Igrejas , e nom o defende.
RESPONDEM os davanditos Procuradores, que eífe
Rey nom ouvio nenhúa deifas coufas, que foífem fei-
tas em feu tempo ; e prometem que fe elle fouber
taaes coufas , e lhe vierem fazer queixume , fará (b)
juíl:iça aos que fe ende queixarem : e porem efpecial-
mente que fe pam, ou outras viandas por guerra, que
venha , forem tomadas em os lugares pera aquefto
convinhavees, ou que fom em no termo dos lugares,
C2 em
(a) tragam A. (b) direito, e A.
20 LIVRO SEGUNDO TITULO PRIMEIRO

em os quaaes cuíl:umou eíl:o fazer, do que for tomado


fará fatisfazer , ainda que feja guerra em verdade ; e
fe algúas coufas forem tomadas per razom de guerra
* fingidiça (a)* maliciofamente , nom falamente fará
fatisfazer do que for tomado, mais penará os que eíl:o
fezerem : e que nom leixará fazer ferviços como nom
devem dos homeés de quaaefquer Igrejas de feu Re-
gno, nem dos Moeíl:eiros, * ou (b) dos Religiofos,
i(-

ou dos Clerigos ; e fe pelos Ricos-homeés, ou per ou-


tros quaaefquer for feito o contraira , que fará com-
primento de direito 1 e juíliça aos que fe ende queixa-
r.em.
A R T I G o XXV.

O VIGESIMO quinto artigo he tal. Item. ~e eífe


Rey aduz fervidoés aos Bifpos , Abades, Priores, e
aos outros , coíl:rangendo elles, que tenham feus Por-
teiros ; e polos teer dam certa fõma de dinheiro ao
feu Porteiro Moor ; e a effes Porteiros Meores pro-
veé-lhes em foldada , e defpefas.
RESPONDEM os davanditos Procuradores, que pe-
ro em tempo de feu A voo, e de feu Vifavoo, e de feu
Padre, d'ElRey foffem poftos Porteiros nos davandi-
tos lugares pera elles, pero effe Rey a rogo dos Prela-
dos outorgua-Ihes, que daqui en diante nõ ajam Por-
teiros contra fua vontade , nem lhes provejam das
foldadas , nem defpefas, fenõ quando a elles aprou-
ver
(.1) fingida A. {b) Fa.ltii, 7.
Dos AR TI e os FIRMADOS EM CoR TE, E Te. 21

ver d•aver Porteiros aa fua vontade, fe virem que lhes


faz mefier pera fy , e pera fuas Igrejas , e entom ·pro-
vejam-nos Porteiros, que ouverem , de foldada con-
vinhavel ; e o Porteiro Moor , quando aos Prelados~
e aas peffoas das Igrejas outorgarem meores Portei-
ros, receba convinhavel folairo : e prometem efles
Procurado res , que ElRey guardará pera todo fempre
efio, que * lhes outorga (a) * .

A R T I G o XXVI.
O VIGESIMo fexto artigo he tal. Item. Se algúa
Igreja fez* caimbo (b) * convinhavel d'algúas poffif_
foões com outra Igreja per autoridade de feu Bifpo,
ou elfe Bifpo fez efcaimbo com outros, ElRey por
embargar folamence a prol das Igrejas ,. pooem em-
bargo muito a miude por fe nom fazer.
RESPONDEM os davanditos Procurado res, que El-
Rey o que fe contem no artigo, nunca o fez , e pro-
mettem que nunca o fará daqui en diante em toda
mane1ra.
A R T I G o XXVII.
O v1crsrMo fetimo artigo he tal. Item. Contra o
cfiabelicim ento do Concelho geeral , e contra a Ley
de feu Padre prepoem os Judeus, e da-lhes poder fo_
bre os Chrifptaãos em nas fuas Ovenças pru.vicas , os
quaaes Judeus devia cofiranger a trazer fignal , per
que
(u) dle:. outorgam A. e S. ( 6) efcaimbo À, e 'T.
22 LIVRO SEGUNDO TITULO PRIM'EIRO

que fe eftremaífem per alguum avito dos Chrifptaãos,


aífy como he eftabelicido no Concelho geeral , por-
que efte mefturamento a tal, porque non ha hi de-
partimento , pode-fe fazer gram pecado, foo enco-
brimento * d'erro (a)* a tal; e non leixa coftranger
eíles Judeus pera pagar os dizemos •
. RESPONDEM os davanditos Procuradores, que eífe
Rey , quanto he aos Judeus , que naõ fejam fobre os
Chrífptaãos em nas Ovenças pruvicas , guardará o
que fobre efto he eftabelicido no Concelho geeral ; e
quanto aos fignaaes , que departira os Judeus dos
Chrifptaâos per alguú fignal ; e quanto he das dizi ..
mas dos Judeus, refpondem que EIRey os leixará cof-
tranger por ellas ; e prometem, que o guardará El-
Rey pera todo fempre.

A R T I G o XXVIII.
O vrGESIM0 oitavo artigo he tal. Item. ~e fe
algúas Igrejas Catadraaes vagam, efie Rey entenden-
do a gaanhar pera fy moor autoridade em ellas , envia
fuas Cartas aos Cabidos das Igrejas, geeralmente ao
Cabidoo, e efpecialmente a cada huú Coonego, ro-
gando por feus Clerígos de fua caía , e por outros
meos dignos, po~que efpera, que em as ditas Igre-
jas , e nos hordenamentos dos preitos feguirôm fua
voontade delle, e eftas Igrejas nom defenderam con-
tra elle em feus direitos, nem em fuas livridoões; e
ef-
[") derem S.
Dos ARTIGOS FIRMADOS EM CoRTE, ETC. 23
eíl:as leteras envia elle de rogo , por ameaças , e por
grandes efpantos, que lhes pooem, que nom enlegam
por Bifpo fenom aquelle, que elle nomea em fuas
Cartas, ou faz nomear em fuas me1Tageés : e aqueíl:o
meefmo faz nas outras Igrejas rneores , que devem a
proveer do Prelado , ou do Reitor per enliçorn.
RESPONDEM os Procuradores davanditos, que fe e1Te
Rey fez rogo algúas vezes pera enleger em algúas
Igrejas Cathadraaes, ou em outras , por dignos fez
eífe rogo , e nom per ameaças , nem por efpantos ,
que fobre eíl:o nem fe agravarom as Igrejas, nem os
Coonegos ; e prometem que EIRey a1Ty o guardará
pera todo fempre daqui en diante, que em no feu ro-
go quando o fezer, nom poerá que nenhuú outro non
enlegam, fenom aquelle, porque elle rogar.

A R T I G o XXVIIII.
O VIGES r MO nono artigo he tal. Item. ~ e faz
vinr aa fua Corte os preitos dos teíl:amentos , e os ou-
tros preitos, que perteencem aa Igreja, e vai filhan-
do as mandas dos Clerigos mortos , e filhando os beés
dos Priores das Igrejas , que morreerom , os quaaes
beés gaanharom per razom de fuas Igrejas.
RESPONDEM os davanditos Procuradores , e pro-
metem que ElRey em eíl:e artigo guardará Direito
Comuú.
24 LIVRO SEGUNDO TITULO PRIMEIRO

A R. T r G o XXX.

O TRIGESIMo artigo he tal. Item. Antre as outras


coufas, que nos forom moftradas, ouvimos que en
deitando olhos de cobyça aos beés das Igrejas , fi-
lhafte os beés , e as rendas das Igrejas de Bragaa , e
de Coimbra , e de Vifeu , e de Lamego , e teéllas fi-
]hadas , poendo Alquaide per ta propria autoridade
em Bragaa , do qual a propriedade, e fenhorio per-
teence, affy como dizem , compridamente aa davan-
dita Igreja de Bragaa.
RESPONDEM os davanditos Procuradores, que effe
Rey nom filhou nada deftas coufas , mais as que fo-
rom filhàdas per feu Padre entregou-as ; e fe algúas
coufas ficam por entregar , que fejam entregadoiras
juíl:amente , prometem que effe Rey as entregará ; e
effo medes dizem da Igreja de Silves; e dizem ainda
eíl:es Procuradores, que ElRey nom pôs Alquaide em
Bragaa ata aqui, e prometem que o nom poerá da-
qui en diante.
A R T I G o XXXI.

O TRIGESIMo primeiro artigo he tal. Icem. Ou-


vimos dizer , que tu em teu Regno , trabalhando-te
de quebrantar as li vridoões da Igreja, os Bifpos, e
os outros Prelados das Igrejas , e peffoas Eclefiaíl:i-
cas , Concelhos, Comunidades , e homeés das Cida-
des, dos Caíl:ellos, e das Villas , que eíles Bifpos nam
no
Dos ARTIGOS FIRMADOS EM CoRTE, ETC. 25

no davandito Regno, em feu prejuizo delles atormen-


ta-los per graves tormentos , e agrava-los com dã-
pnos, que nom podem fofrer, nom feendo nembra-
dor, mais britador do juramento, o qual he dito que
fezeíl:e, de guardar a livridooem da Igreja, e Provi-
fom do Papa, os quaaes es theudo de guardar firme-
mente ao da vandito Regno.
RESPONDEM os davanditos Procuradores, que effe
Rey nó fez ne migalha deíl:as coufas , mais como el-
le mandaffe correger deíl:as coufas as coufas , que fi:_
zera feu Padre , elle começou de correger ; e as cou-
fas , que nom foífem corregudas , que elle as corre-
gerá ; e que todolos do Regno tambem Clerigos, co-
mo Leigos mãterá em fa juíl:iça , e guardará a elles
feus foros, e boos coíl:umes, e efpicialmente guarda-
r.á, e manteerá a livridooem da Igreja.

A R T I G o XXXII.

O TRIGESIMO fegundo artigo he tal. Item. ~e de


mais filhaíl:e muitas Igrejas Parochiaes , e os direitos
dos Padroados dellas , e as cafas , e Aldeas , poffif-
foões , e direitos do Bifpo, e da Igreja da Guarda; e
algúas deifas Igrejas, Aldeas, e poffiffoões deíl:e a def-
vairadas peffoas , Clerigos , e Leigos , e a poffiffom
das outras coufas deíl:e a Leigos, e a Sagraaes peffoas,
affy como te prouve , e os termos da autoridade da
Igreja filhaíl:e defcomunalment e.
RESPONDEM os davanditos Procuradores, que EI-
Liv. lL D Rey
26 LIVRO SEGUN DO TITUL O PRIME IRO

Rey nom filhou nenhúa deílas coufas , mais as cou-


fas , que forom tomad as per feu Padre, * outorg ou-as
(a)* elle; e fe algúas ficarom por entreg ar injuíla -
mente , prome tem que eífe Rey as entreg ue compr i-
damen te.
A R T I G o XXXIII.
O TRIGES JMO terceiro artigo he tal. Item. De mais
ouvim os , que tu a teu nobre filho Affonfo fezefte Se-
nhor, e* herel (b) * dos Caíl:ellos de Marvo m , e de
Portal egre, do Bifpado da Guard a, e elle com teu ou 4

torgam ento , e com teu confen timent o , affi como he


theudo , esbulh ou, e tem esbulhado o Bifpo, e a Igreja
da Guard a das Igreja s, e das rendas , que fom em
dres Caftellos , e em feus termos ; e o que nom he
pera fofrer , fez apregoar nos fobreditos Caíl:ellos po-
blicam ente per pregoe iro, defendendo fob certa pena
tambe m a Clerig os, como a Leigo s, que nom rece-
beffem eíl:e Bifpo em fas Igrejas , ainda que hi vieífe
fazer feu Officio , aífy como he mefter de Bifpo, e que
nom deffem , nem vendeffem a elle nem á fua famí-
lia viandas nenhúas : e pero que da parte do Bifpo
foffe * deman dado (e)* que fezeffes revogar eftas cou-
fas , affy como aquelle , que defte mal eras fabedo r,
nom curaíl:e de fazer o que te pedia; e filhando ainda
as dizima s, e rendas , e fruitos d'outra s Igrejas Ca-
thedraaes , e ouveíl:e algúas dizima s per maneira , e
titulo de doaçom. REs-
(.1) cntrtgou-as (b) herdeiro A. (e) pedido À,
Dos ARTIGOS FIRMADOS EM CoRTE, ETC. 27

RESPONDEM os davanditos Procuradores, que nom


foi, nem he culpado nas davanditas coufas; e fe del-
las non foram entregues compridamente , que elle
fará comprimento de direito , e de juíl:iça aos que fe
ende qu~ixarem, fazendo fazer fatisfaçom, qual de-
ve, das coufas tomadas, enalheadas , e dadas a Ca-
vaUeiros, aífy como fe contem no artigo. fe ende al..
gúas acharem.

A R T I G o XXXIIII.
O TRIGESIMO quarto artigo he tal. Item. De mais
quando dos Prelados, e dos Cabidoos, e dos Con ven-
tos do davandito Regno alguú direito queres levar,
ou eíl:orcer nas Igrejas , e Aldeas, e poffiífoões deífes
Moeíl:eiros , os quaaes eifes Prebdos , Cabidoos , e
Conventos poffuirom per longos tempos pacifica...
mente, e folgadamente, coíl:ranges a elles que com-
prometam com tigo em alvidros de teu Regno fola-
mente fobre as Aldeas , Igrejas , e poffifsões ; e fe os
Conventos, Prelados , e Cabidoos recufam entrar em
Juízo de taaes alvidros, ou nom querendo obedeecer
aa Sentença delles, tu per huú, que he chamado So-
bre-Juiz da Corte, fazes per Sentença eíl-e aduzer em
poffiffom deíl:as Igrejas , Aldeas, e poffiffoões per ra-
zom da reveria.
RESPONDEM os davanditos Procuradores, que eífe
Rey nom coíl:rangeo nenhuú pera comprometer em
alvidros, e que fe algúas coufas feu Padre filhou per
D efie
23 LIVRO SEGUNDO TITULO PRIMBIRO

eífe caminho, elle das coufas affy tornadas fará fatis-


façom qual * dever (a)* •

A R T I G o XXXV.
O TRIGESI MO quinto artigo he tal. Item. Eífo
meefmo he dito que fazees, quando os Prelados, Ca-
bidoos, Conventos, e outras peífoas Eclefiaíl:icas nom
querem febre Igrejas, direitos , e coufas Eclefiafticas
refponder em tua Corte per dante ty , ou dante teu
Juiz: cffe Sobre-Juiz filhando jurdiçom, qual nom
deve nos Clerigos, e nas pcffoas Eckfiaihcas do dito
Regno, quer julgar, e conhecer dos preitos, que per-
teécem aa jurdiçom da Igreja ; e fe os Clerigos por
aqueílo aa See de Roma apellam, o dito Sobre-Juiz,
as apellaçoões delles dcfprezadas , dá-os por rcvees,
e* aduz (b) * na poffi-ffom dos ditos beés os deman-
dadores : e ainda os davanditos Clerigos, e peffoas
Eclefiafticas cumunalmente em todo preito coíl:ran-
ges, que refpondam na tua Corte, e dos outros Lei-
gos.
RESPONDEM os davanditos Procbradores, que o
dito Rey nom entende a chamar, citar, nem ainda
julgar alguú Bifpo, ou Clerigo fobre Igreja, direitos,
e coufas Eclefiaíl:icas, nem fobre as poffüfoões de lias:
mais praz a elle , que em todas eflas coufas refpen-
dam dante o Juiz Eclefiafl.ico; e quanto he fobre os
outros preitos, que os Clerigas ouverem fobre as pof-
fif_
-------------
Dos ARTIGOS FIRMADOS EM CoRTE, !TC. 29

füfoões, que lavrarem Regueeng as, foreiras conhe-


çudas , he feita efpecial avença antre os Prelados, e
os Procurado res davandito s.

A R T I G o XXXVI.
O TRIGESIMo fexto artigo he tal. Item. De mais
fe aas vezes Judeus, e Mouros fe fazem Chrifptaão s,
tu os beés delles fazes deitar em regueengo s, e tornar
em nova fervidom; e fe os Mouros fervas dos Judeus
fe fazem Chrifptaã os, faze-los reduzer em na fervi-
dom dos Judeos, em que antes eram.
RESPONDEM os davanditos Procurado res, que effe
Rey nom fez ata aqui deílo nada, e prometem que
o nom fará daqui en diante : e que fe taaes coufas fo-
rem achadas, prometem que elle as emendará , dan-
do livridooem aos que forem em fcrvidorn, e fazendo
das coufas, que forom • deitadas (a)• cm regueen-
gos, * fatisfazim ento (b) * qual dever.

A R T ( G o XXXVII.

O TRIGESJMO fetimo artigo he tal. Item. Se Ju ..


deus, ou Mouros gaanham, ou harn dos Chrifptaãos
algiías poiliffoões per compra, ou per penhor, nom
leixas, ante defendes per publico Eílatuto fobre eílo
apregoado , que dos fruitos de taaes poffiffoões , que
os Judeus, ou Mouros per fuas rnaãos, ou pera fuas
defpezas lavram , que nõ ajam ende as Igrejas, em
cu-
(a) dadas A. lanpdas T. (b) fatisfaçam A . T.
30 LIVRO SEGUNDO TITULO PRIMEIRO

cujos termos fom as poffi!foões , dizimas .. nem pre-


rnicias.
RESPONDEM os davanditos Procuradores, que effe
Rey nom fez nada deíl:o, e prometem que elle leixa-
rá, e nom embargará que fe paguem as dizimas, as
quaaes no artigo he contheudo: e que fe efcriptura
algúa em contrairo foi feita em no tempo de feu P~
dre, o que nom fabe,. revogala-á, e eftabelecerá que
feja revogada.

A R T I G o XXXVIII.

O TRIGESIMO oitavo artigo he. Item. Aílen-te


do quebrantamento da livridoem da Eygreja, a qual
certamente quem quebrantar, quebranta a grã forte-
teza, em na qual eíl:á a F~e Catholica, e em na qual
a terra do Rey fia enderençada : demais afien-te do
filhamcnto das coufas Santas, a cujo defendimento
o departidor , e dador de todolos Regnos cingio-te
d'efpada temporal, para fazer dereito: des y aften-te
dos tortos, e das perfeguiçoens das peffoas, das quae 5
o encomendament o te DEOS deu , pera honra do feu
Nome, ftabelecendo-as pelo Poboo feu : e nom foo-
mente aftenhas-te, mais confirange a teus fojeitos
que fe aíl:enham deíl:as coufàs.
RESPONDEM os davanditos Percuradores, que o di-
to Rey nom entende a quebrantar, nem quebranta,
nem quebrantou livridoés das Eygrejas, que o el en-
tender podeffe , nem nas quebrantará defpois ; nem
fi-
Dos ARTIGOS FIRMADOS EM CoRTE, ETc. 31
filha os dereitos dellas das Eygrejas • nem filhará de-
pois : que fc algúas coufas filhou , aparelhado he a
correger , e aíl:eer-fe dos tortos das peffoas Eclefiaíl:i-
cas : e que fe fobre eíl:as coufas que fe alguú queixu-
me for a elle feito contra feus foreiros, que el fara de-
reiro aos que fe ende queixarem.

A R T I G o XXXVIIII.
O TRIGESIMO nono artigo he tal. Item. De mais
todolos beés dos Prelados das Igrejas, que per ty, ou
de teu mandado, ou per Ricos-homeês, Cavalleiros ,
Ovençaaes ata aqui forom tolheitos, ou per qualquer
maneira tomados, ou enalheados, corno nom convi-
nha, entregua-os fem nenhúa graveza, e faze-os en-
tregar com os fruitos ende recebidos , e faz a elles
• fatisfaçom (a)*, e faze-lhes fazer convinhavel pa-
gamento dos dãpnos, e dos tortos, que lhes forom
feitos.
RESPONDEM os Procuradores davanditos , que nom
fez nada deíl:o , e prometem que lho nom fará daqui
en diante ; e fe algúas coufas taaes per elle, ou per
fcus antece!fores forom feitas , émendallas-há ; e que
das coufas, que forom feitas pelos Ricos-homeés , e
pelos outros , fará comprimento de direito aos que fe
queixarem.

-----.----------------.-.....----
AR-
"1) fatisfaz.cr .d.
31 LIVRO SEGUNDO TITULO PRIMEIRO

A R T I G o xxxx.
O QYADRAGESIMO artigo he tal. Item. Coníl:itui-
çoões , e cuíl:umes aduzidos cm effe Regno contra a
livridoõe da Igreja, e contra o eíl:ado pacifico do da-
vandito Regno nom guardes, nem leixes feer guar-
dadas dos outros , mais aguarda effas Igrejas da van-
ditas , e as peffoas dellas * em chea li vridoem (a) *.
RESPONDEM os davanditos Procuradores, que praz
a ElRey, que fe tolham os maaos cuíl:umes ,e fe guar-
dem os boõs : affy o mandará , e fará feer guardado;
e fe algua coufa foi hordenada de confentimento dos
Prelados por bõo pacifico eíl:ado do Regno , e per
cuíl:ume afortellazado, confentirom os Prelados , que
fe guarde , a tanto que feja coíl:ume com razom , e
com direito, e que nom feja contra a livridooem da
Igreja.

TI-
Ca) cm fu.i liberdade Â,
Dos ONZE ARTIG. DE CoRTE DE RoMA, ETc. 33

TITULO II.

Dos onze Artigos de Corte de Roma antre E!Rey


Dom Diniz, e os Prelados~

ARTIGO J.

O PRIMEIRO artigo he tal. Item. Eífe Rey nom


quer pagar as dizimas das fuas rendas , pero
que fejam devudas de Direito Cumuú, e de privile-
gio de feu Padre , e mantem as Cumunidades contra
os Bifpos , e contra as Igrejas em fua maldade , que
as nom pagam.
RESPONDEM Martim Pires Chantre d'Evora, e Jo-
ham Martins Coonego de Coimbra Procuradores do
davandito Rey, que elle deu, e dará dizimas de pam,
e de vinho , e de linho , e das outras coufas , de que
o acuíl:umam , e * deve (a) *, fegundo o coftume da
terra , falvando algúas compofiçoões, fe as hi ha.
ITEM. Refpondero eíles Procuradores , que praz
a EIRey, que effas Cumunidades, que dem as dizi-
mas ; e que as nom mamem, nem manterá, que as
nom paguem, e que a elle praz , que as dem ; e que
os Bifpos , e os outros Prelados uzem de fua * jufti-
ça (b) * contra aquellcs, que as nom quiferem dar.

Liv. II. E AR-


---------------·------ -
(&) ucvcm dar T. (h) jurdiçam T.
34 LIVRO SEGUNDO TITULO SEGUNI>o

A R T I G o II.

O SEGUNDO artigo he tal. Item. ~e effe Rey nom


tam falamente defende aos Bifpos , e aas peífoas das
Igrejas, que nom comprem poffiífoões algúas, pero
nom fejam regueengas , nem foreiras , mais aquellas,
que fom d'antigamente compradas, ou novamente
per elles, ou per feus anteceífores, ou* entramente
(a) * gaanhadas, faze-as tomar per torto.
~EREM os-Prelados, e os ditos Procuradores
d'EIRey , que fe guarde em eíl:o a Ley de feu A voo
Dom Affonfo , que tal he.
PoRQYE poderá acontecer, que os Moeíleiros, e
as Hordeés dos noífos Regnos tantas poiliífoões com-
prariam , que fe tornaria em gram dãpno do Regno ,
e noífo, e por efla razom converia a Nos de fazer al-
gúa coufa tal , per que as Igrejas averiam dãpno, e
Nos perda, e agravamento, fobre aqueílo avudo Con-
felho , proveemos por Nos, e por elles polo que ha
de vinr, que nenhúa * Caza (b ) * Religiofa compre
poffiífoões fem nofio confentimento; falvo que as pof-
fam comprar per* mufaria (e)*, e poffam em outras
maneiras fem pecado gaanhar poffiífoões , ou outras
coufas : nem tolhemos poder a alguú Clerigo de com-
prar poffiífoões , e fazer dellas o que quifer : e fe al-
guú contra aqueíl:o for , feja penado em perder o
a ver, que * a ( d) * outrem dér.

(.,) em outra mente (b) pdfoa ./1. (e) uoiverfairo .d, (d) Falta. 'l:.
Dos ONZE AR TIG. DE CoR TE DE RoMA, ETC. 35

A R T I G o III.

O TERCEIRO artigo he tal. Item. ~e húa inqui-


riçom a rogo dos Prelados , e grandes defpefas fuas
fez fazer geeral fobre tortos , roubos , e rapinas , e
quebrantamentos de Moeíl.eiros , e defvairados tor-
tos , e outras muitas coufas maas , feitas a Abades,
e Priores , e a outras pefioas Religiofas, e aos Reicto-
res das Igrejas, e a outros Clerigos, e faze .. a abrir pu-
bricamente em fa Corte , e dar per leteras forma , e
maneira, per que vieífem a eixecuçom as coufas con-
theudas na inquiriçom , e defpois todas eíl:as coufas
per nenhuú direito, fenom porque lhe prouve, per
feu proprio movimento revogou-as , e aífy nom he
feita juíl:iça , nem émenda.
RESPONDEM os davanditos Procuradores , que
praz a EIRey que a inquiriçom vaa adiante , fe-
gundo a forma do direito, chamadas as partes, e ou-
vidas, e que fe carregam as coufas, que forem acha-
das pera correger.

A R T I G o IV.

O QYARTO artigo he tal. Item. Ol!e filha a Cleri-


gos, e Religiofos pam , f ervos , e fervas , Mouros , e
Mouras, Cavallm, , Cavalgaduras , e outras coufas
preciofas , e aas vezes eífe Rey , e Ricos-homeés ,
Alquaides , e Confelheiros , e familiares tornam , e
fazem tomar aa fua voontade vacas , porcos, carne1-
E 2 ros,
36 LIVRO SEGUNDO TITULO SEGUNDO

ros , galinhas , e outras coufas de comer , e tomam-


nas como em maneira de * as a verem de pagar (a) *,
pero adur dam a feus donos o meio , ou terço , ou
quarto do que vallem , e aas vezes nom lhes dam na-
da contra DEOS , e contra juíl:iça, e cuftume deffe
Regno.
RESPONDEM os davanditos Procuradores, que EI-
Rey ouve muitas coufas das davandítas per voontade
de feus donos , e algúas comprou ; e fe algúas coufas
ouve das davanditas , que de direito feja theudo a en-
tregar ou emendar, prometem os da vanditos que effe
Rey o emendará , e entregará.
ITEM, Da vianda , refpondem que * do coíl:ume
do Regno he (h) *, que em certos lugares effe Rey ,
e Ricos-homeés filham as viandas fegundo como fo-
rem apreçadas, e ufadas * d'antigo tempo (e)•; e em
outros lugares per almotaçar.ia ; e fe d'outra guifa foi
feito, prometem que effe Rey o fará emendar aos que
fe ende queixarem : e fe per ventura em alguas cou-
fas nom foi emendado, que apardhado he pera o fa-
zer emendar ; e que (d) mandou , e mandará , e de
feito defenderá , que dês aqui en diante nom fe faça)
e fe fe fezer, que * elle o emendará (t") *.

[a] comprar A. força 'T. (•) coftumc hc cm todo o Rcgno 'T. (e) d 'an-
tigo A. e S. d'antigamcnte 'T, [J] o A. ( e) o emendará ElRcy,
Dos ONZE ARTIG. DE CoRTE DE RoMA , ETC. 37

A R T I G o V.

O Q.UTNTO artigo he tal. Item. ~e* affaca (a)•


a algúas peffoas Eclefiaíl:icas , e aas molheres Religio-
fas, e Abadeffas, que acharom thefouro , e per efte
* cajom (b) * faze-as prender, e* aduzer (e)* prefas
em tal maneira , que nom perdoa aa Religiom , nem
a dignidade, coftrangendo contra direito que todo o
thefouro a el dem, ainda que feja achado em fua prn-
pria cafa , poíliffom, Villa, couto , ou em feu celeiro.
RESPONDEM os davanditos Procuradores , que
praz a E!Rey que fe guarde em efto a Ley, que feu
Padre eftabeleceo, e os Prelados confcntem em efto,
e a Ley he tal.
PoRQYE cuftume antigo era , que hu quer que
foffe achado thefouro em noffo Regno, todo era nof-
fo: pero querendo fazer graça efpicial aos noffos fob-
geitos , eftabelecemos , que fe * alguú (d) * theíouro
achar em feu agro, ou em fa herdade afcondido dos
Senhores, que fe nom poíla faber, aquel, que o achar,
aja as duas partes, e Nos a terça ; e fe em noffa her-
dade , ou em lugar pruvico d'algúa Cidade , ou Vil-
la, ou reílio delles thefouro for achado per qualquer,
Nos ajamos as duas partes delle , e o achador a terça.
ITEM, Se em herdade doutrem for achado, a ter-
ça parte feja noffa , e a terça do Senhor da herdade ,
e a terça do achador em e{fa maneira ; pero que o
acha-
------------
accufa T.
(r,)
---------·--
occ.fiom A. cafo T.

-
trazer A. e S. (d) algucm A. e. S.
(<J
38 L1v1to SEGUNDO TITULO SEGUNDO

achador nom demande , nem procure contra a voon-


tade do Senhor da herdade na herdade alhea per al-
gúa arte d'enquantamento, ou per outras obras def-
aguifadas; ca em eíl:e cafo o achador nom deve levar
ne migalha : mais fe affy for achado em noffa herda-
de , deve todo feer noffo ; e [e em herdade alhea he
achado, averá as duas partes o Senhor da herdade, e
Nos a terça parte : e fe per ventura o que achar the-
fouro o negar , e o nom menfeíl:ar * foomente (a) * ,
que perca quanto achar, e mais que perca todo o que
ou ver d'aver.
A R T I G o VI.

O SEXTO artigo he tal. Item. Se algúa peffoa Ecle..


fiafüca íl:á em Paris , ou em outro lugar, ou em Cor-
te de Roma, e levando-lhes alguú a ver de Lixboa,
ou d'outros lugares em * rnerchandias ( b) * per mar
pera fua rnanteença, ou pera comprar livros, ou pera
as oatras coufas, que lhes fom meíl:er , ou pera pagar
fuas dividas, e levando-lhas das fuas rendas pela moe-
da da terra , que he pequena , e pola perda do cami-
nho , EIRey contra cuíl:ume , que fempre foi com
feus anteceffores, que fe guardou fempre, aduz nova
fervi dom , e conftrange-os per fy, e pelos feus, penan-
do em eíl:o como nova portagem em defprezamento
do juramento , que fez, e contra a livridoõe da Igre-
ja, que elles, ou feus Procuradores dem fiadores, que
roer-
(,,) Falta. d. (b) mercadorias A.
Dos ONZE ARTIG. DE CoRTE DE RoMA, ETc. 39
merchandia, que valha outro tanto, tornem ao Porto
os que as tirom , honde elle poífa aver a dizima , e
que d'outra guiza nom as tirem do Porto : ou logo
fàze-lhes tomar as dizimas deífas coufas, que embar-
cam , e que querem levar, o que nunca foi feito em
tempo detTe Rey que tal dizima foife dada , fenom
das merchandias , que levam os mercadores.
RESPONDEM os davanditos Procuradores , que
praz a ElRey, que ouro, ou prata , ou moeda qual-
quer , que nom fejam Portuguezes , que os tirem os
Prelados, e os Clerigos do Regno fem todo embargo
da portagem , e prometem que eífe Rey o leixará af-
fy fazer daqui en diante, e que aífy o guardará : e os
Prelados confentem em eíl:o por amor de paz , e de
concordia.
A R T I G o VII.

O SETIMO artigo he tal. Icem. Se Cavalleiros , ou


outros homeés , ou molheres Filhas d'algo dam fuas
poffi{foões a alguú Moefieiro , ou a algúa Igreja em
feu ceíl:amenco , ou na poíl:umeira voontade de fua vi-
da, ou lhas dam em mentre que fom vivos per ma-
neira de doaçom, ou per outro titulo qualquer em re-
mimento de fuas almas , e ellas em mentres que as
elles ceverom , foram livres, e izentas de toda fervi-
doõe real , eífe Rey logo , e * os ( a) * outros , defpois
que he da Igreja efTa poffi{fom , tolheram-na , e ef-

--------- -
bu-
(.. ) Falta A, e T.
40 LIVRO SEGUN DO TITUL O SEGUN DO

bulhar om-na de todo privilegio de livridooé , e tor-


nam-n a a * oípitaçom (a) * , e fervidoõe , que uíam
nas poffiifoões dos villaãos , e homeés refcces, iguan-
do a Eygreja de DEOS aas peifoas , que nom ham
honra , e aos homeés de fervidiçom.
Os Prelados , e os Procuradores querem que fe
guarde o cuíl:ume do Regno a tanto, que leixem os
que lavram eifas poffiífoões, ou ca.faaes rompe r em
eifas teíl:eiras , a faber , nos cafaae s, que foro parti-
dos , cada huú rompa pela fua parte.

A R T I G o VIII.
O OITAVO artigo he tal. Item. ~and o aconte ce,
que ElRey * vem (b) * a algúas Cidad es, Villas , ou
outros lugares , que os de fa família, ou Ricos homeés~
ou outros Cavalleiros quer de fa cafa, quer nom de
fa cafa poufam aas vezes nas cafas dos Bifpos ( e) , e
dos Coonegos das Igrejas Cathedraaes , e dos outros
Clerigos das Igreja s, e as filham contra voontade de
feus Senhores, pera poufarem em ellas , e pera folga-
rem em ellas , aify como lhes praz contra a livridooé
da Igreja , e contra o eíl:abelecimento de feu Padre ,
os quaaes nom curam de fazer aguardar em odio dos
Clerigos.
RESPONDEM os davanditos Procuradores , que
EIRey defendeo, e defenderá aos Ricos-homeés ,e aos
outros de fua cafa , que nom poufem nas caías dos
Bif-
(4) fuje1s;om (b) ui A, (e) e dili pclfoa& Ecclefiaftic;u 'T.
Dos ONZE ARTIG. DE CoRTE DE RoMA, ETC. 4 1

Bifpos , e dos Coonegos , e dos outros Clerigos, e da_


quefto ham delle leteras : e em nas outras caías dos
Clerigos , em que elles nom moram , nem teem em
ellas feus beés, acuftumarom de poufar alguús, quan-
do ham caita de poufar : maiormente que nom ham
de cuíl:ume albergues alugados , aífy como os hã em
outra terra. E !e per ventura nas cafas dos davanditos
Bifpos , e dos Coonigos , e Clerigos alguús contra
vontade delles poufarem , elle os fará ende deitar fo-
ra; e que afiy o fará guardar daqui en diante ; e fe
algu ús Eftatutos fobre eíl:o pelos Clerigos iom feitos ,
praz a ElRey que fe guardem., e que encomendará,
que fejam guardados.

A R T I G o VIIII.
O NONO artigo he tal. Item. Outro fy dizem , que
fazees quando os Prelados, Cabidoos, Conventos, e
as outras peífoas Eclefiafiicas nom querem hir ante
ti, ou ante teu Sobre-Juiz refponder fobre as Igrejas,
direitos , e coufas Eclefiafiicas , e o dito Juiz toman-
do jurdiçom, qual non deve, fobre os Clerigos, e fo-
bre as peffoas Eclefiafiicas do dito Regno, quer co-
nhecer, e julgar dos preitos, que perteécem aa jur-
diçom da Igreja , e das coufas Eclefiafiicas ; e fe os
ditos Clerigos por efto aa See de Roma apellam, o di-
to Sobre-Juiz , defprezando fuas apellaçoões , dá-os
por revees, e mete em poffiffom dos beés davandi-
tos os demandadores , e tu ainda os davanditos Cle-
Liv. IL F n-
42 LIVRO SEGUNDO TITULO SEGUNDO

rigos , e peifoas Eclefiafücas coíl:ranges a refponder


fem nenhúa deferença em todo preito em na Corte
tua, e dos outros Juizes leigos.
RESPONDEM os davanditos Procuradores , que El-
Rey nom deve de chamar , ou citar , nem ainda jul-
gar alguú Clerigo fobre Igrejas , direitos, ou coufas
Eclefiaíl:icas , nem fobre as poffiifoões dellas, mais
praz-lhe • que em todas eíl:as coufas refpondam dante
feu Juiz Ecleftaftico. Mais porque os Reyx , donde
vem o dito Rey , ouverom de direito fernpre, e de
cuíl:ume, que tarnbem Clerigos, como Leigos, que
lavram as poffiifoões fifcaaes feidatarias, ou regueen-
gas, devem a refponder , e acufturnarorn fobre taaes
poffiffoões, e* coutos (a)* dellas em fa Corte, ou dan-
te outro Juiz Sagral,quer ElRey, que eíl:o fe faça, e
que eíl:o fe guarde tambem a elle, corno aos feus So-
ceffores. Aqueíl:a refporúom louvam os Prelados , e
outorgam.
A R T I G o X.

O DECIMOartigo he tal. Item. De mais empoen-


do novas portageés , e exauçoens , quaaes nom deves
tambem a Clerigos , como a Leigos , fazes deman-
dar, e levar dos Vaffallos, e lavradores feus em pre-
juízo delles em nome , e em logo de portagem , a
* dizima (b) * parte de todalas coufas , que do da-
vandito Regno tiram; e eíl:o fazes contra direito , e
nom
------·-------------- --
(a) ccnfos A, e S. (b) dccima A.
Dos ONZE ARTIG. DE CoRTE I>E RoMA, ETC. 43
nom temendo fentença d'efcõmunhom, que he poíl:a
pela Igreja de Roma contra aquelles, que taaes coufas
fazem.
RESPONDEM os davanditos Procuradores que tal
frntença nom he po(l-a contra os Principes , ca os
Principes, e os Reyx de direito, e de cufiume podem
poer portageés em feus Regnos , e nos lugares, que
virem, que convem : e que ElRey nom demanda a
dizima parte deffo, fe nom daquellas coufas, que
paffam per mar : e as outras coufas novamente pof-
tas , que o povoo , e a Clerizia tinha por agravamen-
to , remove-as ElRey , pero que de direito podem
feer poíl:as ; e por ende EIRey ufando de feu direito,
nom faz a nenhuú torto, a tanto que taaes portageés
fejam poíl:as com razom, affy como querem direitos,
e cufi:umes louvados. E os Prelados recebem efi:o por
amor de paz.
A R T I G o XI.

O DECIMO primeiro artigo he tal. Item. ~e de


mais demandas os lavradores das herdades dos Cleri-
gos , e das Igrejas , e dos Leigos ainda em prejuizo
àelles contra cuftume antigo , parte dos fruitos das
ditas herdades em logo de jugada contra juíl:iça ; e
tambem aos Clerigos , como aos Leigos; e em prejui-
20 deffes Clerigos pooés Leyx , e cufi:umes novos , e
encarregas-lhes em nos fruitos deífas herdades , e nas
vendas das coufas , que fom pera vender.
F 2 REs-
44 LIVRO SEGUNDO TITULO TERCEIRO

RESPONDEM os davanditos Procuradores que em


dl:e artigo ElRey guardará feu foro, e o que ham
per carta.

TI TU LO III.

Carta d'E!Rey Dom Denisfobre os Capitulos.

D ÜM DoNIS pela graça de DEOS Rey de Portu-


gal, e do Algarve. A quantos efta Carta virem
faço faber, que como os honrados Dom Vicente Bif-
po do Porto, e Dom Frei Joham Bifpo da Guarda, e
Dom Joham Bifpo de Lamego, e Dom Egas Bifpo
de Vifeu vieffem a mim, e me diffeffem alguús agra ..
vamentos , que fe fazem em meus Regnos a elles , e
aos Clerigos, e aas outras peffoas Eclefiafticas, pedi-
ram-me por mercee. que os fezeffe correger como
foíle direito. E* avudo (a)* confelho fobre eíl:o, ty-
ve por bem de os correger em eíl:a maneira; convem
a fabcr.
1 MANDO , que nom chamem aa minha Corte
nenhuú Bifpo , nem nenhúa peffoa da Igreja, nem
per-ante outros Juizes Leigos , mais outorgo , que
refpondaõ per-ante feu Juiz, falvo fobre as minhas
herdades foreiras , * e (b) * regueengas , ou de que a
mi'. façam foro, ou tributo, ou em qualquer maneira,

--------- --------- -
(a) C\I h~vtndo A, (h) ou i,
que
CARTA n'E1REY DoM DENis, ETC. 45
que devem refponder per minha Corte, ou pelo lei..
gual , como he contheudo em huú artigo, que nós
avemos em Corte de Roma.
2 ÜuTRo SY mando aos fobreditosJuizes Leigos,
que nom conheçam das demandas , nem dos outros
feitos Eclefiaíl:icos.
3 ITEM. Mando a todolos Taballiães dos meus
Regnos , que façam cartas de vendas , e compras dos
herdamentos, que os Clerigos fagraaes d'Ordeés meo ..
res cafados , e folteiros quiferem comprar pera fy ; e
jurem eífes Clerigos ante fobre os Santos Avangelhos •
que compram pera fy, ou pera Clerigo fagral como
f y , ou pera Leigo , e nom pera outrem ; e mando ,
que fe defpois for achado que fezerõ hi engano, e que
os comprarom pera outra peífoa, fenorn corno de fu-
fo dito he, que percam os herdamentos aquelles, pe-
ra que forom comprados •.
4 OuTRO sY mando que o vendedor jure fobre os
Santos Avangelhos , que nom fabe , nem cree , que o
Clerigo compra pera outrem, fenom pera fy, ou pe-
ra outro Clerigo fagral como fy, ou pera Leigo ; e fe
defpois for achado, que o fobia, perca o preço , que
lhe deerom pelo herdamento, e nom façam as Cartas
em outra maneira.
5 ITEM, Mando, que os Tabaliaães nom façaõ
cartas em nenhúa maneira de compras de herdamen-
tos a Frades, nem a Freiras , nem a nenhGa peífoa
de Rc.ligiom, nem a nenhúa outra peífoa, que queira
com-
46 LIVRO SEGUNDO TITULO TERCEIRO

comprar pera Aniverfairos, e fe alguií os quifer com-


prar pera ello , venha a mim fobre eíl:o, pera fe nom
fazer engano.
6 ITEM. Outorgo, que fobre os feitos das dizimas
nom manteerei os revees , que as nom dem, e praze-
me que os Bifpos , e os outros Prelados uzem da fua.
jurdiçom contra os revees , affy como he contheudo
no artigo, que riós a vemos em Corte de Roma.
7 ITEM, Outorgo , e mando , que aquelles, que
eftaõ , ou efteverem em eíl:udo, ou forem pera a Cor-
te de Roma, tirem dos meus Regnos ouro, e prata
fem dizima, como he contheudo no artigo, que nos
avemos em Corte de Roma, e nenhum nom os em-
bargue.
8 ITEM. Dos herdamentos, que demandavam,
que os ouveffem honrados, affy como os aviam hon-
rados aquelles , honde os houveram os 1\tloeíleiros , e
as Igrejas, outorgo ,e mando, que fe guarde hi o cuf-
tume dos meus Regnos , affy como he contheudo é
huú artigo, que nós a vemos em Corte de Roma.
9 OuTRo sY mando, que cada huú potra romper
em fuas teíl:eiras, como he contheudo em effe arti-
go.
10 ITEM. Mando, e defendo, que aquelles, que
fe * colherem ( a) * aas Igrejas , que os nom tirem
ende fenom como he de direito, e em as noffas Hor-
denaçoões he contheudo.

--
' ") acolherem A.
II E
CART. nos ART.ANTRE ELREY D. DoNJs, ETC. 47

11 E POR eftas coufas defpois nom vírem em du-


vida , mandei-lhes ende dar efta Carta feellada com
o meu feello. Dante no Porto a vinte e tres dias d' A-
gofto. ElRey o mandou, Vafco Pires a fez , era de
mil e trezentos e trinta annos.

TITULO IIII.

* Carla (a) * dos Artigos, que fam antre


E!Rey D. Donis, e a Igreja. ·

E M NOME DE DEOS AMEN. Saibham todos quan-


tos efte eíl:ormento virem, e leer ouvirem, que
na era de mil trezentos e quarenta e fere annos, * vin-
te e fete ( b) * dias do mez de Julho na Cidade de
Lixboa, em prefença de mim Joham Gonçalves pru-
vico Tabaliam da dita Cidade, e das teíl:emunhas,
que adiante fom efcriptas , fobre demandas, que (e)
eram antre o muito alto, e muito nobre Senhor Dom
Doniz pela graça de DEOS Rey de Purtugal , e do
Algarve da húa parte , e o honrado Padre Senhor
Dom Joham Bifpo de Lixboa , e o Cabidoo deffe lu-
gar da outra, per razom de jurdiçoões , das quaaes o
dito Senhor Rey dizia que eram fuas, e que fe deviam
d'ouvir , e determinar em fa Corte, e no feu Senho-
rio , e o dito Biípo, e Cabidoo diziam, que fe deviam
d'ou-
C.,) Titulo 'T, (b) vinte e íeis A. e S. dezcfei. T. (e) ora T.
48 LIVRO SEGUNDO TITULO ~AR.TO

d'ouvir, e determinar pela Igreja; fobre a qual razom


o dito Bifpo, e Cabidoo derom feus artigos (a) como
eflas coufas fe devem a teer , e guardar ; aos quaaes
artigos o dito Senhor Rey deu fua repoíl:a per * Do-
mingos (b) * Martins feu Clerigo, e feu Procurador
em efcripto, a qual outorgou, e ouve por firme, e
eflavel , aífy corno fe prefente foífe , (e) perante os
honrados Padres, e Senhores Dom Martinho Arce-
bifpo da Santa Igreja de Bragaa , e Dom Eflevom
Bifpo de Coimbra, e D. Ruy Soares Dayarn de Bra-
gaa, e d'Evora , e Frei Eftevom Cuíl::odio, e Ruy
Pires Priol de Guimaraaês , e Meeíl::re Johane das
Leyx, e Joham Martins Chantre d'Evora, e Fran-
cifco * Domingues (d) * Coonego da See de Lixboa,
e o Priol de Santa Maria d'Alcaçova de Santarem, e
Affonfo Annes Coonego de Bragaa, e Abade de Vil-
la-Cova : da qual repofta o theor della de verbo a
verbo tal he.
ARTIGO I.

O PRIMEIRO artigo, de que fe o Bifpo queixa, hc


eíl:e. Diz que manda ElRey, que fe alguú Clerigo
efcõmunga alguú Leigo, ou rnoflra letera, per que o
* efcõmungam (e) * em defenfom de feu direito,
manda-lhe filhar o que ha , contra o feu artigo fe-
gundo , e manda-o degradar , e fobre efto ha hi feito
fua Carta.
A
-(") - ----
em 'T. (6) Diogo A. e 'T. ----------
(e) e A. (d) Diu .d. (~) cfcommun:~
CART. nos ART. ANTRE ELREY D. DoNrs, ETC. 49

A ESTE artigo diz EIRey, que hu .a Igreja hajur-


diçom, e efcõmunga por feus direitos, guarda-o El-
Rey fempre, e manda guardar o fegundo artigo, que
foi feito fobre eíl:o na Corte.

A R T I G o II.
O SEGUNDO artigo he tal. Diz que vai EIRey con-
tra a livridooé da Igreja, a qual deve, e prometeo a.
guardar, nom querendo que ufem das leteras do Pa-
pa contra os ufureiros.
A ESTE artigo diz ElRey , que ufem das leteras
do Papa, affy como he direito, e como he contheudo
no terceiro artigo.

A R T I G o III.
O TERCEIRO artigo he tal. Diz que fe algúa Sen-
tença he dada pela Igreja , nõ quer que a mandem aa
eixecuçom nos beés dos Leigos contra o feu artigo
quarto.
A ESTE artigo diz ElRey, que fe guarde hi o
quarto artigo feito na Corte, e declaraçom , que
foi feita fobre eíl:e cafo no Porto antre ElRey , e os
Prelados.
A R T I G o IIII.

O QlJARTo artigo he tal, Diz que fe alguú Leigo


he efcõmunguado, e lhe dizem, que nom deve feer
'
ouvido em Juizo, porque he efcõmungado, manda
Liv. ]/. G que
50 LIVRO SEGUNDO TITULO ~ARTO

que o nom leixem por ende d'ouvir contra direito , e


contra o íeu arriguo fegundo.
A ESTE artigo diz ElRey , que o fegundo ar-
tigo nom falia deíl:o nada , e fe per ventura al-
gu ú artigo defio fallar, que fe guarde, pero * feme-
lha (a) * direito aaquelles , a que eflo ElRey mandou
veer, que fe o Prelado efcõmunga alguem com direi-
to em aquelle cafo, em que he Juiz, que o devem os
Juizes * efquivar (b) *, ataa que feja abfolto, falvo fe
for provado, que apellou, e que fegue fua apellaçom.

A R T I G o V.

O QYINTO artigo he tal. Diz que fe alguú Juiz


• Hordenairo (e) * cfcõmunga algum da Villa, ou
lhe pooê antredito aa Villa , hu eíl:o faz, que pero de-
fendem as viandas aos Clerigos, e as augas, e os* fór-
nos (d) * , nom o quer eíl:ranhar, nem defender a
aquelles , que o fazem.
A ESTE artigo diz ElRey , que nunca o fez,,
e fe foi feito no fcu Senhorio , que o mandou revo-
gar logo, e penar aos que o fczerom: e manda ,,
que fe guarde o fcxto artigo , que foi feito fobre cílo
na Corte.
A R T I G o VI.

O SEXTO artigo he tal. Diz que quer, que os Cle-


.rigos paguem com os Leigos em fazimento das fei-
ras,
(11) parece .11. (b) evitar ./1. (rJ Ecclcfüúlico T. (d) fogos T,
CAR T. nos AR T. ANTRE ELREY D. DoNIS, ETe. 5r
ras, e fontes contra a livridooé da Igreja, a qual de-
ve , e prorneteo a guardar , affy como já dito he con-
tra feu artigo decimo primeiro.
ÜUTRO SY coítrange os Lavradores das poffiffoões
das Igrejas, e dos Moeíl:eiros , que paguem em efto
corno os outros contra o feu artigo decimo fegundo.
A ESTE artigo diz ElRey, que guardará hi o
decirno primeiro artigo , que pera fazimento dos
muros manda, que nom paguem , a!fy como em effc
artigo he contheudo. E diz ElRey , que pera aquellas
coufas , que fom pera d efendimento da terra , e prol
* do (a)* Senhorio , podem feer coíl:rangidos per El-
Rey, e* pagaróm (b) * como os outros; e pera as cou-
fas, que fom honeíl:as , ao cõmuú proveitofas, e pia-
doías, affy como pera fazimento de pontes, e de fon-
tes,* carreiras (e)*, e reffios, e outras coufas feme-
lhantes a eílas, fom theudos a pagar de direito ; mais
cm eíl:e cafo pera pagarem eíl:o, devem feer coíl:ran-
gidos per feus Bifpos , e os Bifpos nom devem em
eílo negar jufüça. E o al , que diz em eíl:e artigo
meefrno, que coftrange ElRey os lavradores das pof-
fiffoões das Igrejas , refponde ElRey , que aguardará
hi o Direito Cumuú, aífy como he concheudo no ar-
tigo decirno fegundo , que foi feito na Corte.

G2 AR-
("J Jc feu T. [/,] pag.ire m (e) cfh aJa, A.
52 LIVRO SEGUNDO TITULO ~ARTO

A R T I G o VII.

O SETIMO artigo he tal. Diz que faz ElRey tirar


aos Chrifptaãos per Mouros , e per Judeus das Igre-
jas nos cafos, em que nom deve , e fazé-os hi guar-
dar, e meter em ferros, e defende, que lhes nõ dem
de comer contra o feu artigo treze.
A ESTE artigo diz ElRey, que aguardará hi o Di-
reito Comuú, e o artigo decimo terceiro, que foi fei-
to fobre efto na Corte.

A R T I G o VIII.

O OITAVO artigo he tal. Diz que os Alquaides, e


os Meirinhos, e Juizes d'ElRey prendem os Cleri-
gos fem licença de feus Bifpos nos cafos, em que nom
devem , e nom lhos querem entregar , contra o feu
artigo decimo quarto, e levam delles a carceragem.
A ESTE artigo diz EIRey, que fempre aguardou
o decimo quarto artigo , que fobre eíl:o foi feito na
Corte.
A R T I G o VIIII.

O NONO artigo he tal. Diz que mete EIRey em


Officios pruvicos os Judeus, e leixa-lhes trazer tope-
tes , como a Chrifptaãos, e norn quer fofrer , que os
coíl:rangam polas dizimas de fuas poffüfoões , contra
os feus artigos viceíimo fetimo, e tricefimo fetimo.
A ESTE artigo diz EIRey , que os nom mete em
Of-
CART. DOS ART. ANTRE ELREY D.DONIS, 'ETC. 53

Officios pubricos , e que fobre efias coufas guardou


fempre, e guardará o Concelho geerai" que he Ex-
tra de Judreis Cum jit nimis aijurdum , e a outra De-
gratal em effe mcefmo titulo, que fe começa Ex
Jpecia!i, e os artigos vicefirno fetimo, e tricefimo fe-
timo, que forom feitos fobre eíl:o na Corte.

A R T I G o X.

O DECIMo artigo he tal. Diz, que nom quer El-


Rey , que nos f~itos dos teíl:amentos os leigos fejam
co(hangidos pela Igreja, que paguem , e entreguem
dos feus beés , que devem aos * teíl:a mentas (a) * que
paguem os teílamentos , contra Direito Comuú, e
contra o feu artigo vicefimo nono.
A ESTE artigo refponde ElRey que lhe praz de íe
guardar fobre eíl:o o Direito Comuú , fegundo como
hc contheudo no vicefimo nono artigo, que foi feito
na Cone antre elle , e os Prelados.

A R T I G o XI.

O DECIMo primeiro artigo he tal. Diz que fe o


Clerigo pede fegurança , quer ElRey que fe obrigue
que rcfponda perante elle.
A ESTE artigo refponde ElRey , e diz que quan-
to he do Clerigo , que diz que pede fegurança ,
chamada a parte , fe a pede perante Juiz leigo,
dante que o faz chamar, e a outra parte pede que
lhe
[a J teflamcntciro, S. e T.
54 LIVRO SEGUNDO TITULO <lEARTO

lhe faça emenda perante eíle meefmo Juiz per ma-


neira de• reconvime nto (a)*, o Juiz leigo deve feer
Juiz , como fe prova em huú Capitulo do Degredo na
terceira Caufa , ~eíl:aõ oitava, Capitulo Cujus in
agendo , e em na Degratal Extra de Mutuis petitioni-
hus , Capitulo primo , e fe01ndo : e aífy o nota o In-
nocencio , e nota-o o Grofador Extra de Judie. Cap.
At ji Clerici.
A R T I G o XII.

O DECI MO fegundo artigo he tal. Diz, que ElRey


vai contra a livridooé da Igreja, tomando- lhes as fuas
poffüfoões contra voontade dos Cabidoos , e dos Pri-
ores, e dos Abades , e dos Clerigos; e de mais toma,
e ufurpa a jurdiçom da Igreja , coíl:rangendo os Cle-
rigos, e as peífoas Ecleúaíl:icas que refpondam peran-
te elle ; as quaaes coufas prometeo aguardar em fua
livridooem ; e de mais prometeo , que nom tomaífe
a jurdiçom da Igreja , nem uzatre della ; e deíl:o faz
o contrairo contra os feus artigos terceíimo oitavo, e
tercefimo nono, e quadragef imo.
A ESTE artigo refponde E!Rey , que nenhúa
deíl:as coufas nom faz fenom em aquelles cafos, que
manda o direito , afiy como he contheudo nos ar-
tigos , que foram feitos fobre eíl:o na Corte , a faber,
tercefimo oitavo, e tercefimo nono, e quadragefimo.

---- ---- ---- ---- ---- -


(") reconvcnçaõ A.
AR-
CART. nos ART. ANTRE ELREY D.DoNIS, ETC. 55
A R T I G o XIII.

O DECIMO terceiro artigo he tal. Diz que E!Rey


nom tam falamente defende ao Bifpo , e aas peffoas
Eclefüi.fücas, que nom comprem poffiffooés nenhúas,
mais o que pior he , toma-lhes , e faze-lhes tomar
aquellas poífüfooés, que de longo tempo reem com~
pradas, ou que agora novamente compram, contra
o feu artigo fegundo dos onze,_que defpois forom ti-
rados , e contra a Ley de íeu A voo, a qual prometeo
aguardar.
A ESTE artigo refponde ElRey , que guardou ,
e guardará a avença , que pos com os Prelados no
Porto; e manda , que fe enqueira logo todo o que
foi comprado defpois da avença , e o que fe achar
que foi comprado contra a avença fofo dita, e con-
tra a Ley, fique por d'E!Rey, aífy como he con-
theudo na aveença.

A R T I G o XIIU.

O DECIMO quarto artigo he tal. Diz que EtRey


fofre , e quer, que os feus Officiaaes , e os de fua Ca-
fa, e os outros, que nõ fom de fua Caía, que poufem
nas cafas dos Bifpos , e das peffoas Eclefiaílicas , e
dos Coonegos , e dos outros Clerigos contra fua von-
tade, e contra a livridooé da Igreja, e contra o feu ar-
tigo dos onze •.
A
56 LIVRO SEGUNDO TITULO ~ARTO

A ESTE artigo refponde ElRey , e diz que fe


guarde o artigo, que foi feito na Corte.

A R T I G o xv.
O oECIMO quinto artigo he tal. Diz que quer El-
Rey, que fe alguú Leigo tem algúa poffiffom de Igre-
ja, ou de Moeíl:eiro, ou de Clerigo, ou d'algúas pef-
foas Eclefiaíl:icas , e lhe fazem demanda fobre ella ,
que refponda * perante a Juíl:iça fecular (a ) * , e nom
perante a J uftiça da Igreja, contra os feus artigos ter-
cefimo quinto, e nono dos ditos onze.
A ESTE artigo refponde EIRey , e diz que nom
coíl:rangeo , nem coíl:rangerá , fenom como he con-
theudo no tercefüno quinto artigo , e no nono dos
onze apartados.

A R T I G o XVI.
O fexto artigo he tal. Diz ElRey que
DECIMO
quer que os Clerigos , que sõ cafados com molheres
virgeês húa vez , e nõ mais , que peitem como Lei-
gos , e que refpondam per ante elle em todalas cou-
fas, falvo de crime, o que he contra direito, e con-
tra a* livridooem ( b) * da Igreja, e contra o cuíl:ume
do Bifpado de Lixboa.
A ESTE artigo refponde ElRey, e diz que em
todalas coufas he Juiz , fal vo em dous cafos, que
fom contheudos na Degratal do Bonifacio ; a fa_
ber.
(,,J folm a Jufüça fa;ral A. e S. per as Juíl:iça, fagrae , 'T. (b) authoridsde A.
CART. nos ART. ANTRE ELREY D.DoNrs, ETC. 57

ber , fe o acufarem de crime , pera lhe darem algúa


pena, ou fe o demandarem de crime , que faça cor-
regimento em aver hi émenda ; eíl:a Degratal , que
fez Bonifacio , que a guardem Extra de Clericis con-
jugatis Cap. uno in Sexto.

A R T I G o XVII.

O DECI.Mo fetimo artigo he tal. Diz ElRey que


quer que paguem os Clerigos dizima do pam, e do
vinho, e do linho, que trazem per mar pera feu co-
mer, e beber ; e que paguem outro fy dizima d'al-
guãs coufas fuas , fe as per mar levarem pera fua ne-
ceilidade, ou pera aquello, que lhes cornprir, contra
o feu artigo.
A ESTE artigo refponde ElRey , e diz que he
cuíl:ume, e direito de pagarem dizima, falvo d'aver
amoedado que feja , ou naõ feja Portugues , como
he contheudo no fexto artigo, e no decimo dos onze.

A R T I G o XVIII.

O DECIMO oitavo artigo he tal. Diz que ElRey


faz levar jugadas dos lavradores, que lavrom as pof-
füfoões , e os herdamentos das Igrejas , e dos Moef-
teiros , e dos Clerigos contra o feu artigo.
A ESTE artigo refponde E!Rey , e diz que fe
guarde o artigo decimo primeiro dos onze aparta-
Liv. II. H dos ,
58 LIVRO SEGUNDO TITULO ~ARTO

dos, em que diz, que fe guarde Carta, ou Foro , fe


o ham.
A R T I G o XVIIII.

O DECIMO nono artigo he tal. Diz que quando


alguú, que foi Mouro , ou Judeu, e fe tornou Chrif-
ptaão, e alguem lhe chama Mouro, cam, Judeu, e
aquelle , que he doeíl:ado , quer corregime nto , que
elle deve feer feu Juiz, ou feus J uizes Sagraaes.
A ESTE artigo refponde E!Rey , e diz que quan-
do alguú chamar o que fe tornou de Mouro , ou de
Judeu Chrifptaa õ , cam renegado, ou tornadiço , he
Sagrai. E fe per ventura o doeíl:ado fe deílo queixar
ao Bifpo, ou aos Vigairos, mande-o aa Juftiça Sa-
gra], que o faça correger , e que leve a pena , fegun-
do feu cuíl:urne.

A R T I G o XX.

O VIGESIMO artigo he tal. Diz, que fe algutí Cle-


rigo fe queixa do Leigo, que diz, que o ferio, e pede
corregime nto , que o Bifpo, ou feus Vigairos devem
onde feer feus Juízes.
A ESTE artigo refponde ElRcy, e diz que fe
o Clerigo ferido demanda corregime nto do Leigo,
que o ferio , deve o Clerigo demandar perante o
Juiz Leigo ; e fe o Leigo publicame nte he fcu-
mungado , e faz creia o Creligo do Leigo perante feu
Bif-
CART. nos ART. ANTRE ELREY D. DoNrs, ETC. 59
Bifpo, ca he efcumungado , entom o Leigo deve pe-
dir afolvimento ao Bifpo, e correger per ante elle.

A R T I G o XXI.

O VIGESIMO primeiro artigo he tal. Diz que fe al-


gúas pofiiífoões da Igreja arrendam , ou alugam a al-
guu Leigo por certa renda , e aquella renda lhe nom
da o Leigo , que elle deve feer feu Juiz , ou feus Vi-
garios , e conhecer deífe feito.
A ESTE artigo refponde ElRey , e diz que em
quanto o rendeiro eíl:ever na pofiiífom daquello ,
que arrendou da Igreja, e o Clerigo o quer deman-
dar pola renda , que o demande * pelo ( a) • Juiz
da Igreja ; mais fe o ja leixou como devia, e fica
pala renda , ou parte della , como devedor , deve-o
chamar perante o Juiz Leigo, que he Juiz deíl:o.

A R T I G o XXII.

O vrGESIMO fegundo artigo he tal. Diz que fe al-


gnú Leigo diz alguas palavras defaguifadas a alguú
Clerigo, e o Clerigo quer demandar émenda ao Lei-
go daquellas palavras, que elle deve feer feu Juiz, ou
feus Vigarios, e nom EIRey.
A ESTE artigo refponde ElRey, e diz que a Juf-
tiça Sagral deve feer Juiz deíl:e feito, e nom a Igreja ,
ca nom ha direito nenhuú, que febre eíl:o diga o
contraira.
A
(aJ perante o A,
60 - LIVRO SEGUNDO TITULO ~ARTO

A QyAL refpoíl:a a!fy dada, e leuda, e pobricada


per ante os fobreditos Arcebifpo, e Bifpos, e pe!foas
Eclefi.afücas , o dito Domingos Martins Procurador
d'ElRey no!fo Senhor, e em nome * d'ElRey (a) *
pedio aos fobreditos Arcebifpo, e Bifpos , e pe!foas
Eccleíiaíl:icas que vi!fem a dita refpoíl:a • que o dito
Senhor Rey dava ; e fe refpondia certo , e convinha-
vel, e com direito aos artigos , que forom dados pe-
lo dito Bifpo, e Cabidoo; e do que lhes femelhaífe ,
que lhe* fezeffem (b) * ende dar per mim Tabelliam
huú eíl:ormento das ditas coufas , em como ElRey
refpendia aas ditas querellas , que lhe fororn dadas ,
que cada huú foefcrepve!fe com fuas maãos, e fezeífe
poer em eífe eftormento da refpoíl:a , por fcer mais
certo, feu feelo: e ent5 os ditos Arcebifpo, e Bif pos,
e peffoas Ecclefiaíl:itas refponderom , e di!ferom, que
tinhaõ, que o dito Senhor Rey refpondera bem fe-
gundo direito, e fegundo os artigoos , que forom da-
dos antre elle, e os Prelados na Corte de Roma , e
aveença , que foi feita no Porco antre elle , e os Pre--
lados : e mandaarom a mim fobredito Tabelliaõ, que
das coufas fobreditas de!fe ende huú eíl:ormento a nof-
fo Senhor ElRey ; e * aa ( e) * maior firmidoõe a!feel-
larom o dito eíl:ormento de feus feellos pendentes , e
fobefcrepverom cada huú feu nome com letera de fas
maãos. Teíl:emunhas , qH_e * prefente ( d) * forem,
Ruy * Muniz (e) *, Apariço Domingues, * Eíl:e-
vom
(a) fru T. (b) fuelfc Vi pera T, (d) prefcn\ci (r) N11nc, T.
CART. nos ART. ANTRE ELREY D.DoNrs, ETC. 6 r

vem (a)* Efteves, Martim Botelho, Vafco Matheus,


Eíl:evõ Martins Efcripvaõ d' EIRey, Lourenço* An-
nes (b) * Tabelliam de Lixboa, e outros. E eu Jo-
ham Gonçalves Tabelliaõ fobredito aa petiçom do
di to Procurador, e per mandado dos fobreditos Ar-
cebifpo, e Bifpos , e peífoas fobreditas eíl:e eíl:ormento
com minha maão efcrepvi, e meu fignal hi puge em
teíl:emunho de verdade , que tal he.

TITULO V.

Dos artigos, que forom acordados em Elv as antre


ELRey D. Pedro, e a CLerizia.

E M NOME DEOS AMEN. Era de mil e trezen-


DE

tos e noventa e nove annos em Elvas. Nos Dom


Pedro o Primeiro pela graça de DEOS Rey de Por-
tugal , e do Algarve , Filho do mui nobre Rey Dom
Affonfo o ~arto, confirando o ferviço de DEOS, e
a prol , e melhoramento das gentes dos noífos Re-
gnos , fezemos Cortes no dito logo, nas quaaes forom
juntos os Ifantes noífos filhos, e o Arcebifpo de Bra-
gaa , e os Bifpos, e outros Prelados, Priores , e Aba-
des , e Ricos-homeés , e muitos outros Filhos dalgo
do noílo Senhorio : outro fy muitos boõs Cidadaãos
d as Cidades , e Villas da dita nofia terra , os quaaes

-----------
N ós
1" J Affenío A. (b) Affoofo T~
62 LIVRO SECUNDO TITULO ~INTO

Nós mandám os vir a Nós pera nos dizerem agrava-


mentos alguús, que nos era dito, que elles, e os nof-
fos povoos recebiam dos noffos Officiaaes , e pera lhes
fazermos mercee em aquello, que com razom lha de-
veffemos fazer, e correger -lhes effes agravam entos
com direito , e aguifado : os quaaes forom juntos no
dito logo a vinte e tres dias de Maio, e differom -nos,
e derom-n os em efcripto os ditos Arcebifp o , e Bif-
pos, e Prelados , e Priores , e Abades os agravam en-
tos , fegundo fe adiante fegue : outro fy alguãs cou-
fas, em que nos pediam, que lhes fizeílemos mercee;
e pediam- nos por mercee ,que quifeffemos todo veer,
e correger de guifa, gue daqui em diante nom rece-
beffem os ditos agravam entos , e que pofeffemos de-
terminaç om a cada huú artigo , qual noffa mercee
fofJe; e Nós veendo o que nos differom , e moíl:rarom
os ditos Arcebif po, e Bifpos, e Prelado s, e Priores,
e Abades, a vendo confelho com os da noffa Corte, e
com outros boõs , e entendidos da noífa ~erra, ref- ·
ponde mos a cada huú artigo, como fe adiante fegue_

ARTIGO J.

PRIMEIR A MENTE dizem os ditos Arcebifp o, e


Bifpos , e outros Prelados , e Cleriaos
b
da dita noffa
terra, que os noílos Correge dores, e Juizes, e Offi-
ciaaes cofirang iam os Clerigos , e as peífoas das Igre-
jas , e os lavradores das herdades das ditas Igrejas,
que pagaffem com os Leigos em talhas, em fintas , e
fi ..
Dos ART. QYE FOROM ACORD, EM ELVAS, ETC. 63

fifas pera refazimento dos muros , e pera outras cou-


fas , que eram contra a liberdade da Igreja, e contra
a Ley d'El Rey Dom Affonfo noffo Vifavoo, e .contra
o artigo jurado, que he antre Nós, e a Igreja.
A ESTE artigo refpondcmos, que fempre noífa
voontade foi , e he, que os direitos , e liberdades da
Santa Igreja fejam guardados, como devem ; e fobre
aquellas coufas , que foro contheudas no dito artigo ,
mandamos que fe guarde , e ufe fobre ello pela gui-
fa, que fe fempre ufaarom ata a morte d'EIRey noífo
Padre , a que Deos perdoe, e defpois ataa ora.

A R T I G o II.
ÜuTRO sY ao que dizem no fegundo artigo, que
os coíl:rangiam, que foffem guardar os po!tos do mar,
e as Villas ; e de mais coíl:rangiam os Clerigos cafa-
dos, que foífem em Oíl:es, e em Gallees , como quer
que em tempo d'ElRey Dom Affonfo noífo Padre
foífe defefo per fua Carta.
A ESTE artigo refponde mos , e mandamos que os
Clerigos cafados , que fom da nofia jurdiçom , fer-
vam como os Leigos ; e quanto he aos outros Cleri-
gos , guarde-fe aquello, que o direito manda, e for
aguifado.
A R T I G o III.

Ao que dizem no terceiro artigo, que os coíl:ran-


gem que paguem com os Leigos nas fobreditas cou-
fas
64 LIVRO SEGUNDO TITULO QurNTO

fas per razom dos beés , que as peífoas Eclefiaíl:icas


aviam dos beés patrimoniaaes , nom feendo effas he-
ranças tributarias , nem regueengas , o que era con-
tra direito, e liberdade da Igreja.
A ESTE artigo refpondemos, que he direito, e
aguifado , ·que os Clerigos dos feus beés patrimo-
niaaes, e outro fy as Igrejas das fuas herdades , e pof-
fiffoões paguem com os Leigos nas prooes cumunaaes
nos lugares, onde effes beés reverem, maiormente em
cafo de neceffidade, pois deffas proes comunaes todos
ufam, e fe aproveitam cumunalmente; e ufem com
elles fobre ello , como com effes Leigos , como fem-
pre ufarom.
A R T I G o IIII.

ÜuTRo sv ao que dizem no quarto artigo, que


as noífas juíl:iças per fy prendiam , e mandavom tirar
per Chrifptaãos , e Mouros , e Judeus aquelles , que
fe colhiam aas Igrejas em nos cafos, que per Di-
reito Canonico deviam feer defefos per ellas , e os fa_
ziam guardar dentro em ellas , lançando-lhes pri-
foões , e tolhendo-lhes o mantimento por tal , que fe
faiffem das Igrejas , o que era contra direito , e con-
tra o artigo jurado antre Nos, e a Igreja.
A ESTE artigo refpondemos , que fe aquello , que
he dito no dito artigo fe fez, que a Nós nom prougue,
nem praz dello: e mandamos, que fe nom faça daqui
em diante , ca nom he aguifado , nem razom de fe
affy fazer. AR-
Dos ART· Q!JE FOROM ACORD. EM ELVAS, ETC. 65
A R T I G o v.
OuTRo sY ao que dizem no quinto artigo, que
prendiam os Clerigos, nõ avendo feu mandado, nem
dos feus Vigairos pera o poderem fazer, nem os
achando em os maleficios, e que os nom queriam en-
tregar a elles , nem aos feus Vigairos , quando lhes da
fua parte eram pedidos , o que era contra direito , e
contra o artigo jurado , que he antre Nós, e a Igreja •
e o que ainda era pior, metiam-nos a tormento , e
degradavam-nos , e faziam-lhes outros muitos def-
aguifados, como nom deviam; e que fe nom efcuía-
vom aquelles, que taaes coufas faziam, por dizerem
que o faziam com boa entençom, por fe fazer dclles
direito , e juíl:iça , ca Cobre eíl:o nom eram feus Juí-
zes, nem aviam poder nenhuú fobre elles, nem lhes
demandaria DEOS o mal, que eftes fizeífem , por
nom fazerem delles juíl:iça ; pois nom eraõ da noffa
jurdiçom, nem perteéciam a Nos em nenhúa guifa •
mais a feus Prelados taõ folamente.
A ESTE artigo refponde mos , e mandamos , que
fe taaes Clerigos as noífas Juíliças acharem nos ma-
leficios, que os prendam , quando forem requeridos
pelos Bifpos , ou per feus Vigairos , pera lhes feerem
entregues , fe forem de fua jurdiçom ; e entreguem-
lhos logo como o direito manda ; e façam direito, e
juíl:iça per tal guifa, que Nos nom ajamos razom de
tornar a ello ; e mandamos , e defendemos , que as
Liv. IL I nof-
66 LIVRO SEGUNDO TITULO ~INTO

noffas Juíl:iças nom metam a tormento nenhuú Cle..


rigo , nem o degradem fem razom.

A R T I G o VI.

OuTRO sv ao que dizem no fexto artigo, que mui ..


tas vezes acontecia , que os Clerigos eram prefos pe-
las noffas Juíl:iças , e porque era achado, que eram
Clerigos, e era mandado per elles , que lhos entregaf-
fem , apellavam pera Nos pola Juíl:iça, por tal que
fezeffem jazer os Clerigos em perlongada prifom ; e
poíl:o que lhos mandafTemos entregar , que aquelles,
que os teem prefos, o nom querem fazer ataa que le-
vem delles carcerageés, o que he contra direito.
A ESTE artigo refpondemos , e mandamos , que
quando as noífas Juíliças acharem , que os Clerigos
fom da jurdiçom da Jgreja , e mandarem , que lhes
fejam entregues , querendo em eílo fazer graça aa
Clerizia , mandamos que nom apellem por ello, mais
fem outra delonga lhes fejam entregues : e quanto he
em razom deífas carcerageés , faça-fe como fe fem-
pre acuíl:umou.
A R T I G o VII.

Ao QYE dizem no fetimo artigo , que quando al-


guús Clerigos eíl:avom a direito per-ante vós, ou vof-
fos Vigarios por alguús erros, em que os culpavam ,e
que mandavades pedir aas minhas Juíliças , que vos
enviaífem querellas , e denunciaçoões, e inquiriçoões
de-
Dos ART. QYE FOROM ACORD. EM ELVAS, ETC. 67

devaffas, fe as hi avia pola dita razom , e que effas


minhas Juíl:iças o nõ queriam fazer fem minha Car-
ta, ou do Corregedor, e eífe Corregedor ante que def-
fe effa Carta , mandava primeiramente viir per-ante
fy as ditas querellas, e denunciaçoões , e inquiriçoões
devaffas; pala qual razom fe perlongava a eixecuçom
do direito, e os Clerigos eram agravados em grandes
defpefas, que faziaõ pola dita razom.
A ESTE artigo refpondemos, e mandamos , que
lhes fejam dados os trelados per mandado das noffas
Jufliças, affy das inquiriçoões, como das querellas ,.
que deífes Clerigos ouverem , pera íe delles fazer di-
reito, e juíl:iça; e eíl:o íe faça em razom defies Cleri-
gos , que eíl:everem a direito per dante elles, em
quanto eífes feitos tangerem , e perteencerem a eífes
Clerigos, e nom a outras peífoas.

A R T I G o VIII.
Ao QYE dizem no oitavo artigo, que as nofias Juf-
tiças faziam viir per-ante fy os feitos dos teíl:amentos ,
e outros em aquelles cafos, que perteéciam aa Igre-
ja, e conhecem delles, o que he contra direito, e con-
tra o artigo jurado antre Nos , e a Clerizia , e contra
húa Carta d'ElRey Dom Donis noffo Avoo, em que
mandava aos Sobre-Juizes,eJuftiçasLeigas quenom
conheceffem das mandas, e d'outros feitos Ecleíiaíl:i-
cos.
A ESTE artigo refpondemos, e dizemos que já fo-
i 1 bre
68 LIVRO SEGUNDO TITULO ~TNTO

bre eíl:o, fazendo noífo Paàre Cortes em Lixboa com


os Prelados , e outros Clerigos de noffo Senhorio, foi
acordado como fe fezeffe; e mandamos, que fe guar-
de como fobre ello entom foi defembargado pelo di-
to nofio Padre.
A R T I G o VIII!.

OuTRO sY ao que dizem no nono artigo , que


quando acontecia, que Nós, e os lfantes noffos filhos
vínhamos a alguas Cidades, e Villas, e a outros luga-
res do noffo Senhorio , os noífos Officiaaes, e outros
da noífa Cafa , e Ricos-homeés, e Cavalleiros , e ou-
-tros homeés poderofos poufavam nas cafas das fuas
moradas, e dos Coonegos , e dos outros Clerigos con-
tra a vontade dos Senhores dellas , o que he contra o
artigo jurado antre Nos , e a Igreja , e contra as Cartas
d'ElRey Dom Donis noffo A voo, e d'ElRey Dom Af-
fonfo noífo Padre, em que mandaarom, que nenhuú
Rico-homeé, Cavalleiro, nem outro nenhuú do feu
Confelho, nem que andaffe em feu rafto, nom pou-
faffe em as caías, nem adeguas, nê celeiros dos Cle-
ngos.
A ESTE artigo refpondemos , que Nos querendo
fazer graça , e mercee ao Arcebifpo, e Prelados , e
Coonegos em nas Igrejas Cathedraaes, mandamos , e
defendemos , que nenhuú nom poufe em nas caías de
füas moradas , fem noífo efpecial mandado.
Dos ART. Q.!YE FoROM ACORD. EM ELVAS, ETC. 69

A R T I G o X.

Ao QYE dizem no decimo artigo, que os Ricos-


homeés , Cavalleiros , e Donas , e outros Fidalgos , e
poderofos poufavam nas fas cafas de moradas, e dos
Coonegos, e Clerigos , e Beneficiados, e em outros
lugares, coutos, e honras , quando vinham pela Co-
marca, e tomavam-lhes roupas , e palha contra fuas
vontades , o que era contra direito , e contra Cartas,
que tinham de noífo Padre, e de noffos A voos.
A ESTE artigo refpondemos, que nos moílrem a
Carta , que fobre eíl:o ham , e veella-emos , e Ihes fa-
remos fobre eíl:o mercee ; e quanto he em razom das
roupas, e palhas, mandamos que fe faça pela guifa,
que ora Nos mandámos nas Cortes , que fezemos em
Elvas nos artigos geraaes, que nos forom dados , e
rnoíl:rados pelo noffo povoo.

A R T I G o XI.

Ao QYE dizem no decimo primeiro artigo, que


acontecia muitas vezes , que nos feitos, de que a elles
perteencia o conhecimento, poinham fentença d'ef-
cômunhom em alguas peffoas, e que elles gaanhavam
Cartas noffas , e dos noílos Corregedores , per que os
nom ouveffem per efciímungados , o que era contra
direito , e contra as liberdades da Igreja, e dãpno das
almas delles.
A ESTE artigo refpondemos 1 e mandamos 1 que os
nof-
70 LIVRO SEGUNDO TITULO ~INTO

noflos Officiaaes, e Corregedores dem fobre eílo Car-


tas direitas, como fe fempre cuíl:umou de feerem da-
das em tal razõ.
A R T I G o XII.

Ao Q!!E dizem no decimo íegundo artigo, que


quando chegava-mos a alguús lugares, hu fom Be-
neficiados , em que ham feus celleiros de pam , e de
vinho , e outras fuas rendas , os noffos Officiaaes , e
dos lfantes nofios filhos, e d'outros poderofos tinham
por aguifado de tomar o pam , e vinho , e as outras
coufas, que elles , e os Cabidoos , e a outra Clerizia
tinham pera feu mantimento, avendo avondamento
deffas coufas em effes lugares pelos moradores delles,
e que efio era contra o artigo jurado antre Nós , e a
Clerizia.
A ESTE artigo refpondemos , e mandamos, que fe
nos ditos lugares ouver avondamento, qual comprir,
das ditas coufas , que lhe nom fejam as íuas toma~
das, que elles mefier ouverem , e nõ poderem efcu-
far pera feu mantimento, fegundo as peffoas forem ;
e eíl:o vejam os noffos Officiaaes, e as outras noífas
Juíl:iças, de guifa, que fe faça fem outro engano, e
corno deve com aguifado.

A R T I G o XIII.
Ao Q!!Edizem no decimo terceiro artigo, que as
no1Tas Jufüças Sagraaes prendem os Clerigos per que-
rel-
Dos ART. QY'E FOROM ACORD. EM ELVAS, ETC. 71
relias , que lhes delles fom dadas, pola.s quaaes eílaõ
per-ante elles a direito per fuas Cartas de fegurança ;
e pero que as moílravom aas ditas noffas Juíliças ,que
lhas guardaffem , que lhas nom queriam aguardar,
ataa que nom moíl:ravom noffa Carta , ou dos noffos
Corregedores , per que lhes aviam de guardar as Car-
tas de fegurança , que affy delles tinham.
A ESTE artigo refpondemos, e mandamos que os
noffos Con;egedores, e Juftiças guardem , e compram
as ditas Cartas de fegurança aaquelles Clerigos , que
forem da jurdiçom da Igreja ; pero no cafo de feito
crime de morte d 'homem , ou de molher, ou em ou-
tro mui grave feito façam o que lhes he mandado; e
cm eíl:es cafos , veendo Nós primeiramente as inquiri-
çoões devaffas , pera avermos enformaçorn , e faber-
rnos quaaes foro os Leigos em ello culpados, Nós lhe
mandaremos dar noffas Cartas , per que lhe fejam
guardadas as que aíly ouverern de feus Prelados.

A R T I G o XIIII.

Ao QYE dizem no decimo quarto artigo , que as


ditas noílas Juíliças nom queriam guardar as Cartas
fuas, e dos feus Vigairos de fentenças difinitivas, que
os Clerigos teem delles, per que forom livres daquel-
les erros, por que forom acufados ; e de mais pren-
diam-nos por eífes erros-, de que aíly eram livres, e
nom os q_ueriam foltar pelas ditas fentenças , ataa
que
72 LrvRo SEGUNDO TrTuto OErnTo
que (a) viífem Carta noífa > ou dos noffos Corregedo..
res , per que lhes mandaífem guardar as ditas fenten-
ças ; e o que pior era, pofto que mo.íl:raffem as fen-
tenças aos ditos Corregedores, ou a aquelles, per que
aviam de paffar taaes Cartas em noffa Corte , nom
lhas queriam aguardar , ataa que viílem as inquiri-
çoões , e proceífos , que fobre taaes feitos forom hor-
denados.
A ESTE artigo mandamos, que os noífos Correge-
dores, e Juftiças guardem as fentenças ; e em cafos
de mortes, ou de feitos mui graves guarde-fe o que
dito he no artigo ante defte. Outro fy mandamos ,
que aquelies Clerigos, que fuas Cartas ouverem per
como eu já vi as inquiriçoões devaffas de taaes feitos ,
que lhes guardem as fentenças , que mo{harem de
como delles fom livres per feus Juizes. E ao que di-
zem , que quando demandam as minhas Jufl:iças em
ajuda de braço fagral pera fazerem direito, que o
nom querem fazer; mandamos que o façam pela gui-
fa , que de dire.ito fom theudos com aguifado.

A R T I G o XV.

OuTRO sv ao que dizem no decimo quinto arti ..


go, que como quer que elles , e os feus Cabidoos , e
a outra Clerizia ajam coutos, e lugares, em que ham
fuas jurdiçoões , das quaes jurdiçoões eftaõ em poffe
per tanto tempo, que a memoria dos homeés nom he
en
· -, _1 nom A. e S.
Dos ART. QYE FOROM ACORD. EM E1vAs, ETC. 73

en contraira, e que Nós, e os noífos Corregedores, e


Juíl:iças os coíl:rangemos, que polas ditas coufas ref-
pondam per-ante a noffa Corte, e Juíl:iças, o que he
contra direito, e contra o artigo, que antre * EIRey
(a)* , e a Igreja he promitido, e jurado em Corte de
Roma; e que avia hi húa Carta d'ElRey Dom Donis
noffo Avoo, em que manda , que nom refpondam ,
fenom per-ante feus Juizes, falvo fe forem regueen-
gos tributarios , ou feudatarios.
A ESTE artigo refpondemos , que nos moíhem a
Carta, que fobre ello teem , e outro fy , que digam
os lugares, em que ham taaes jurdiçoóes, e veeremos
effa Carta , e lhes faremos em eHo merc~ , como a
Nós cabe, e bem affy em razom de fuas jurdiçoões.

A R T I G o XVI.

OuTRO sY ao que dizem no decimo fexto artigo,


que as noffas Juíl:iças, e Almocacees fazem refponder
os Clerigos per-ante fy contra fua vontade polas cou-
fas da Almotaçaria, e o que pior he, penhoram polas
cooimas, e degradam-nos aas vezes , e penhoram-nos
por outras coufas muitas, o que he contra direito, en-
trando em fuas poufadas per força, e contra fuas von-
tades delles polas ditas penhoras.
A ESTE artigo refpondemos, e dizemos, que fem-
pre foi cuflume de refponderem os Clerigos polas
coufas, que perteencem a Almotaçaria per-ante os
Liv. li. K AI-
11) os Reys A. e s~
74 LIVRO SEGUNDO TITULO ~TNTO

Almotacees, e mandamos, que ufem em efia razom,


corno fe fempre acuíl:umou; ca efio he gram prol del-
les, e ham per hi as coufas, que lhes fom compridoi-
ras pera feus mantimentos, e os fervidores , e outros
rneíl:eiraaes pera corregerem feus beés , e aquello,
que ham, caem outra guifa nom as poderiam a ver.

A R T I G o XVII.

OuTRO sv ao que dizem no decirno fetimo arti-


go, que muitas vezes acontece, que alguús Leigos
feriam, e injuriavaõ os Clerigos, e eífes Clerigos que-
riam porem demandar a émenda, e corregimento da
injuria, que lhes aífy era feita per-ante eífas noíTas
Juíliças, e nom os queriam receber aa demanda, fal-
vo fe lhes primeiramente deífem fiadores Leigos , os
quaes fiadores eífes Clerigos nom podiam aver mui-
ta3 vezes, e porem nom podiam aver émenda, nem
corregimento do que lhes aífy faziam , e poílo que
queriam jurar a querella, (a) eífas Juftiças nom os re-
cebiam , como faziaõ aos Leigos.
A ESTE artigo refpondemos , e mandamos que fe
faça como em efia razom he mandado per EIRey
Dom Aflonfo noífo Padre, a que DEOS perdoe, e fe
guarde a Ley, que per elle foi pofta, por íe tolherem
rnalicias, e muitos dãpnos, que aos da noíla terra cre-
ceriam , fe fe em outra guifa fezeffe.

AR-
( a) e nomear tcftcmunhas T.
Dos ART. Q..YE FOROM ACORD. EM ELVAS, ETC. 75

A R T I G o XVIII.

Ao Q!!Edizem no decimo oitavo artigo, que lhes


fazemos outro defaguifado, ca lhes nom querem dar
as noífas Juíl:iças obreiros, e rneíl:eiraaes, e mance-
bos, e mancebas , e outras peífoas , que os ferviffem,
aífy como faziam aos Leigos ; e fe acontecia , que
com grande aficamento lhos dellem, davam-lhos tar-
de, e referteiramente, e poftumeiramenre, que aos
outros; e efio meeímo lhes faziam fem razom das car-
nes, e pefcados, e outras viandas quando lhas deman-
davam.
A ESTE artigo refpondernos, e mandamos que lhes
dem fervidores , e mancebos, e mancebas, como per
ElRey noffo Padre , e per Nos fobre efta razom foi
mandado ; e aquelles , que em tal razom quiferem
a ver fuas Cartas, mandamos que lhas dem, pera ave-
rem feus fervidores mais toíl:e, fem outro embargo.

A R T I G O X VII II.

Ao QYE dizem no decimo nono artigo , que man-


dam levar a vender feu pam , e feu vinho , e outras
coufas pera feu mantimento d'huú lugar pera o ou-
tro , nom o regatando, e que os no{fos Officiaaes fi-
lha vã portagees, paífagees, e coíl:umageés deífas cou-
fas, que affy mandavam levar a vender; e eífo meef-
mo lhes faziam nos pãnos , e nas outras coufas , que
K 2 com-
76 LIVRO SEGUNDO TITULO ~INTO

compravam pera feu mantimento, o que era contra


direito , e contra a liberdade da Igreja.
A ESTE artigo refpondemos, e mandamos que fe
guarde como fe femprc acuíl:umou em eíl:a razom no
noifo Senhorio.
A R T I G o XX.

ÜuTRO SY ao que dizem no vigefimo artigo, que


as noífas Jufliças filhavam as armas aos feus Meiri-
nhos, e Carcereiros , que efcolhiam pera fazer juili-
ça, e defendem aos fcus Meirinhos, e Carcereiros que
as nom tomem a alguus Clerigos, a que elles dam li-
cença que as tragam, 'o que he contra direito.
A ESTE artigo refpondemos, mandamos, e defen-
demos aas noffas Juíl:iças , que nom filhem as armas
a nenhuú Meirinho, e a nenhuú Carcereiro d'alguú.
Prelado, falvo fe lhes acharem fazendo com ellas o
que nom devem ; e effes Prelados nom devem man-
dar , que os Clerigos tragam armas , e os Clerigos de
direito as nom devem trazer , pois lhes he defezo per
direito.
A R T I G o XXI.

ÜuTRo sy ao que dizem no vigefimo primeiro


artigo, que fe os Prelados, e feus Vigairos tinham em
feus Carceres , e Aljubes , e priíoões alguús Clerigos
pera fazerem delles direito, acontecia muitas vezes ,
que as noffas Juiti ças os vaaõ tirar das ditas prifoões,
e
Dos ART. QQE FOROM ACORD. EM ELVAS, ETC, 77

e levam-nos pera as noífas prifoões, e dos noffos Con-


celhos , e matavam-nos , e davam-lhes outras penas
corporaaes, o que he contra direito; e efcufam-fe di-
zendo que o fazem por noffo mandado, o que nom
era pera creer que Nos tal coufa quifeflemos, ou man-
daffemos , ca feeria gram prigoo de noífa alma.
A ESTE artigo reípondemos , e mandamos que-
rendo fazer graça, e mercee a effes Prelados , que fe
fe eíl:o fez, que o nom avemos por aguifado , nem
nos prouve, nem praz dello; e mandamos, e defen-
demos que fe nom faça daqui em diante; e effes Pre-
lados façam direito, e juíl:iça pela guifa que sõ theu-
dos.
A R T I G o XXII.

OuTRO sv ao que dizem no vigefimo fegundo ar-


tigo , que os nofios Taballiaães do nofio Senhorio ,
que lhes he defezo, que nom fezeífem eflormento de
compras d'herdades , e pofüífoões , que os Clerigos
Sagraaes queriam fazer pera fy , ou pera outros Cle-
rigos Sagraaes, o que he contra direito , e contra o
artigo jurado antre Nós , e a Igreja, e contra húa Car-
ta d'ElRey Dom Donis noílo Avoo.
A ESTE artigo refpondemos, e mandamos que os
Taballiaães guardem a Ley d'E!Rey Dom Donis nof-
fo Avoo, em que defendeo, que os Clerigos d' Oor-
deés nom façam taaes compras; a qual mandamos,
que fe cumpra, e guarde, e nõ façam efcriptura con-
tra ella fob pena dos corpos. A R-
78 LIVRO SEGUNDO TITULO ~INTO

A R T I G o XXIII.

OuTRO sY ao que dizem no vigeÍlmo terceiro ar-


tigo, que os no!fos Taballiaies nom queriam fazer
aos Clerigos eíl-ormentos d'apellaçoões , e d'outras
coufas, que continham juramentos aos Santos Avan-
gelhos, ou de boa fe, o qual juramento he mandado
em direito que fe faça nas apellaçoões , e em outros
cafos beneficiaaes femelhantes a eíl:es, o que era con-
tra direito, pola qual razom muitos perdiam feu di-
reito, porque lhes nom recebiam fuas appellaçoões.
A ESTE artigo refponde mos, e mandamos , que
os Taballiaães façam eíl:ormentos das apellaçooês dos
Clerigos em razom de frus Beneficios, ou em outros
cafos efpirituaaes , e nos outros cafos guardem o que
dito he no artigo ante defie.

A R T I G o XXII II.
OuTRo sY ao que dizem no vigefimo quarto a-rti-
go, que as noffas Juíl:iças nom queriaô guardar a ex-
ceiçom da efcõmunhaõ, quando era poíl:a em Juízo
contra algúa peffoa, Juiz, Proc'-!rador, Vogado, ou
* outros ( a) * . Outro fy muitas vezes nom querem
guardar o Direito Canonico, o que todo Chrifptaão
devia guardar , porque era feito polo Padre Santo,.
que tinha as vezes de JESu CHRISPTo, e era m21.is ra-
zom de o guardarem em todo o noffo Senhorio pola.
di-
[aJ outras pdfoas A,
Dos ART. QlJE POROM ACORD. EM ELVAS, ETC. 79

dita razom , que as Sete Partidas feitas per ElRey de


Caíl:ella, ao qual o Regno de Portugal nom era íob-
geito, mas bem livre, e izenro de todo.
A ESTE artigo tefpondemos,que as noífas Jufiiças
guardem eífas exceiçoens , quando per-ante elles fo-
rem poíl:as , como o Direito manda , e fom theudos
de o fazer.
A R T I G o XXV.

ÜuTRO sv ao que dizem no vigefirno quinto arti-


go , que os Fidalgos acuíl:umaarom de comer, ou le-
var comedorias d'alguús Moeíl:ciros, ou Igrejas , e
alguús deífes Moeíleiros , e Igrejas , em as quaaes os
ditos Fidalgos dizem que harn naturalezas , fom tau-
fados em certas conthias de dinheiros per noífos
Avoos, e per EIRei Dom Affonfo noffo Padre, em
alguús delles ham de comer; fobre as quaaes come-
dorias íl:á feito Degredo per noffos Avoos quantas
Igrejas , e quejandas ham de dar a cada huú , fegun-
do feu efiado , e que ora alguús deífes Fidalgos nom
queriam guardar a dita taufa ; e que outro fy os que
ham de comer nom querem guardar em nas come-
dorias o dito Degredo, trazendo com-figo mais ho-
meés de befias , e de pee , que o Degredo manda,
vindo com fuas molheres comer, e poufar nos ditos
Moefieiros, e Igrejas contra o dito Degredo. Outro
fy trazendo com figo caães, e allaãos , e molheres do
mundo, e vindo doos naturaaes em fembra a comer,
ou
80 LIVRO SEGUNDO TITULO ~JNTO

ou convidando huú ho outro , e ho outro ho outro ,


ou dous parentes , ou doos amigos contra o dito De-
gredo, feendo-lhes defefo per elle, e querendo mais
iguarias, e mais avondadas, e mais vinho , que o di-
to Degredo manda , e tam boo vinho pera os rapazes,
como pera fy , poufando dentro nas craílas, e no
* dorrnidoiro. (a)*, e no refertoiro, e Cabidoo, e ainda
na propria camara do Abade , ou Priol , deitando fo_
ra dcllas tambem Abades, como Priores , e Frades ,
e de mais metendo as beftas nas cra!las (b) , e calas ;
e que porem os ditos Moeíleiros, e Igrejas eram tam
apremadas, e fobj uguados, que alg uús nom podiaõ ,
nem oufavam vi ver em elles , pola qual razom fe
perdia em elles o ferviço de DEOS; e d ellas íe deí-
pereciam , e fom deíperecidos tambem no eípritual,
como no temporal : e pediam-nos por mercee , que
mandaffemos fobre eílas coufas guardar a dita taufa,
e Degredo de noffos A voos , e de acorrermos aos ou-
tros fobreditos agravos, como a Nós cabe em tal gui-
fa, que o íerviço de DEOS nõ feja porem minguado,
e os ditos lugares deíperecidos; e que foffe noffa mer-
ece, que mandaffemos taufar os Moeíl:eiros, e Igre-
jas, que nom fom tau fadas.
A ESTE artigo reípondemos, e mandamos que
fe guarde o Degredo em razom das tauíaçoões , e os
Fidalgos farom feus Procuradores ; e fe fom feitos ,
como nom devem, mandaremos, que fe carregam
de
(t1J dormi torio T . (b) e fa zendo cílrabari as em nas ditas cr.tftas S. e- 'í. - -
Dos ART. Q!TE FOROM ACORD. EM EtvAs, ETC. 81

de guifa , que o feu direito feja guardado ; e outro fy


os dos Moeíl:eiros , e Igrejas de guifa, que o paífem >
como devem , e com aguifada razom ; e em razom
das poufadas mandamos, que fe outras poufadas acha-
rem, em que poufar poílam, nom poufem em eílas
contheudas no dito artigo.

A R T I G o XXVI.

ÜuTRO sy ao que dizem no vigefimo fexto arti-


go, que os Fidalgos filhavam as fuas azemalas, quan-
do as enviavam a alguüs lugares por algúas coufas ,
que lhes faziam meíler , e traziam-nas com figo per
longo tempo, e que as nom podiam delles a ver, e ef-
to meefmo aos Coonegos, e a outras peífoas Ecclefiaf-
ticas , e diziam , que as queriam trazer por feu alu-
guer em quanto as meíler ouveífem.
A ESTE artigo refpondemos , e mandamos , que-
rendo fazer graça , e mercee aos Prelados , e Clerigos
do noffo Senhorio , que os Fidalgos lhes nõ tomem
fuas azemalas proprias , fe as elles nom trouxerem
por aluguer.
A R T I G o XXVII.

OuTRO sY ao que dizem no vigefimo fetimo arti-


go, que acontecia , que vagando os Moeíleiros, e
Igrejas , que alguús, que fe tambem diziam naturaaes
deffes Moeíleiros , e Igrejas, como outros, fe apode-
ravam da poífe, e guarda tambem dos ditos Moeíl:ei-
L~- ll L ~.
82 LIVRO SEGUNDO TITULO ~TNTO

ros , e Igrejas , como dos beés delles , gaanhando fo_


bre eílo aas vezes Cartas das noífas Juíliças ; o que
era contra DEOS, e contra direito, e em grande
prejuizo da Igreja,e em gram dapno dos ditos Moef-
teiros , e Igrejas , e em grande def pericimento dos
beés ddles.
A ESTE artigo refpondemos , que Nos ouviremos
fobre eíl:o os Fidalgos com os outros , a que eílo per-
teêcer, e mandaremos que fe faça direito,. e aguifa-
do, e que effes Fidalgos nom façam o que nom de-
vem , e o feu direito íeja guardado; e outro fy a effes
Moeíleiros, que nom recebam em elles agravamen-
to delles.
A R T I G o XX VIII.

OuTRo sv ao que dizem no vigefimo oitavo arti-


go , que acontecia que alguús em defprezamento da
Santa Fé , e em grã prigoo de fuas almas andavam
efcúmungado s com os participante s, e nom curavam
de fair das efcúmunhoõ es, e as noffas Juíliças· os norn
querem prender, nem efquivar, nem levar delles as
penas, a faber , cada nove dias feffenta foldos, e que
ante participavam com elles tambem em Juízo, co-
mo fora delle ; o que he contra todo o direito do
mundo , e que moíl:ravam de fy que nom eram boós
Chrifptaãos.
A ESTE artigo refpondemos , e mandamos que os
~fcúmungados fejam efquivados ,. e prefos, como em
ef-
Dos AR'l'. Q.YE FoRoM AcoRo. EM ELvAs, ETC. 83

cfia razom he hordenado , e levem delles as penas ,


como per Nos he mandado, e fe fempre fez em eíla
razom ; ca efto a vemos Nós por noífo ferviço, e prol
delles , que haveram razom de fairem deífas efcíímu-
nhoões por prol de fuas almas.

A R T I G o XXVIIIL

OuTRO sv ao que dizem no vigefimo nono arti-


go, que geeralmente defendemos que nenhuú nom
vogaífe, nem procuraffe , nem deífe confelho em af-
condido; o que era contra direito, e coufa, que nom
podia feer aver cada huú de procurar feus feitos per
peífoa, maiormente Prelados, Cabidoos, Conventos,
e Clerigos, que devem fervir fe us Beneficios.
A ESTE artigo refpondemos, e mandamos que ca-
da huum confelhe , ajude, e faça feus Procuradores
como antes da noffa defeía podiam fazer , e per Nós
he mandado que fe faça nos artigos geraaes feitos nas
Cortes, que ora fezemos em Elvas antre Nos, e o nof-
fo povoo.
A R T I G o XXX.

OuTRO sv ao que dizem no trigefimo artigo, que


ElRey Dom Affonfo noífo Padre, e os outros Reys
noífos Avoos acuílumarom de feer em feus Paaços
pruvicamente, e ouviam, e tomavam petiçoões da-
quelles , que lhas dar queriam, e livra vom-nas fem
delonga com muitos boos , e Leterados , e outros de
Ll gran-
84 LIVRO SEGUNDO TITULO ~INTO

grande logo , e entendimento , que eram do noíro


Confelho ; e que ora Nós nom queremos eíl:o fazer
tam a miude, e que pela maior parte andamos a nof-
fos montes , e defendemos que nenhuú nõ foífe allo
a Nos ; e que por eíl:a razom fe perlongam muitos
defembargos daquello , por que vinham, e qu.e fe ef-
tragavom do que aviaõ ; o que era grande defferviço
noffo , e dãpno grande da noffa terra , e nom a viam
comprimento de juíl:iça, como deviam.
A ESTE artigo refpondemos, e mandamos que ca-
da huú nos dê fuas petiçoões, e nos peça mercee, hu
quer que Nos formos, fem embargo, e fem outro re-
ceo, affy como per Nós he mandado nos artigos ge-
raaes feitos nas Cortes, que ora fezemos em Elvas,
que fom antre Nós , e o noífo povoo.

A R T I G o XXXI.

ÜuTRO sY ao que dizem no trigefimo primeiro


artigo, que as noffas Juíl:iças faziam concelhos, e au-
diencias nas Igrejas , e nos adros dellas , maiormente
em feitos criminaaes, e o que pior he, fazem-nas em
Domingos , e em dias de feíl:as ; o que era contra di-
reito , ca em taaes dias devem rogar a DEOS por
melhorias de fuas almas, e fazendas, e dos corpos ; e
fe acontecia, que os Prelados, e feus Vigairos os que-
riaõ deílo correger , e émendar , e proceder contra
elles per fentenças da Santa Igreja pela guifa , que
lhes he outorgado de direito em eíl:e cafo , e todolos
ou-
Dos ART. QYE FOROM ACORD. EM ELVAS,ETC. 85
outros fobreditos, e cada huú delles , taaes fentenças
nom as queriam guardar , ante diziam palavras de
* desfazimento (a) * da Santa Igreja , que lhes era
d'efcuíar ; a faber, que efcumunhom nom brita oífo,
e que o vinho nom amarga ao efcúmungad o; e o que
mais grave era, por fazerem os ditos Prelados, e feus
Vigairos direito , e aguifado , que lhes era outorgado
em tal razom , as ditas noífas Jufiiças em defpeito
delles, e por fe vingarem delles, que degradavam os
ditos feus Vigairos , e aquellas peíloas Eclefiaíl:icas ,
que lhes taaes fentenças publicavom ; e que lhes fa_
ziam outros muitos defaguifados agravos ; o que era
muito contra direito, e contra razom, o que Nos avia-
mos d'efquivar por honra da Santa Igreja. Outro fy
no que diziam, que acontecia muitas vezes, que tan-
giam cedo aas matinas por honra dalgúas feitas , e
levavam fuas armas os Clerigos, e que as noffas Juf-
tiças os efpreitavam , e lhes filhavam as armas; e que
efto meefmo lhes faziam quando alguãs vezes os cha-
mavam aa mea noite pera confeífar, ou dar alguús
Sacramentos a algúas peífoas, que os haviam rnefier,
e cífo meefmo aos feus homeés, que os guardavam.
A ESTE artigo refpondernos , e mandamos que as
noffas J uíl:iças u fem em .efta razom com direito , e
juíliça, affy como fernpre ufaarom de guifa, que nom
torvem o Officio Divino ; e fe os Clerigos lhes nom
fezerem fem-razom , effas Juíl:iças nom lhes façam

----- ----- ,----- ~


(~) dcfpmo A,
ne-
86 LIVRO SEGUNDO TITULO 0EINTO

nenhuú defaguif ado, como nom devem: e ao que di-


zem em razom das armas, mandam os que fe guarde
o que per Nós he mandad o, e o que em eíl:a razom
he dito ante deíl:o em o vigefimo artigo.

A R T I G o XXXII.
ÜuTRO sY ao que dizem no trigefimo fegundo ar-
tigo, que Nós hordenamos em fendo lfante aa peti-
çom dalguus , que por comprir em fuas vontades ,
perque podeífem teer Beneficios, que tinham ocupa-
dos fem direito, e nos demover am pera o fazer, que
nenhuú norn foíle (a) oufado de poblicar leteras do
Papa, quaaefquer que foffem, fem Noílo mandad o ,
pola qual razom diziam, que o Papa eílava agravado
contra os Prelados do noífo Senhori o, teendo que po-
lo feu aazo fe embarga ram, e embarga m fuas leteras,
que fe nom poblicam , como deviaõ, * o que fe nom
fazia (b) * em todolos outros Regnos ; e pediam- nos
por mercee, que quizeífemos revogar a dita Horde-
naçom , ca nom era nofTo ferviço , nem prol do noífo
Regno, e que tiraria mos os Prelados do noífo Senho-
rio da culpa, que lhes o Papa pooem por eíla razom.
A ESTE artigo refpondemos que nos moílrem ef-
fes * efcriptos (e)~, e leteras, e veellas-e mos, e man-
daremos que fc pobliquern pela guifa, que devem.

AR-
(a ) t,m 'T, (ó) como fe fui.t 'T. o que íc fuia A. k) Refcriptoi 'T.
Dos ART. Q.!!E FOROM ACORD. EM ELVAS, ETC. 87

A R T I G o XXXIII.

ÜuTRO sY ao que dizem no trigefimo terceiro ar-


tigo, que o Papa outorgara as dizimas a EIRey Dom
Affonfo noffo Padre, que DEOS perdoe, e aa fua
Camara por quatro annos, e acabados os dous annos,
que fe morreo o dito Senhor Rey noffo Padre , e que
defpois da fua morte , que fe nom eíl:endeo mais a
(a) graça, que lhe o Papa fezera das ditas dizimas,
fenom a elle taõ fomente , e muitos Beneficiados por
cofirangimentos , que lhes forom feitos , pagaarom as
dizimas dos ditos dous annos feguintes, e os outros,
que nom pagaarom, coíl:rangem-nos as noífas J uíl:i-
ças que paguem ; no que diziam que recebiam agra-
vo, e pediam-nos por mercee que mandaffemos, que
nom foffem coíl:rangidos , ataa que pelo Papa foffe
declarado fe as deviam de pagar,. ca tinhaõ * certa-
mente (b) * que de direito, nem de razom nom eram
theudos de as pagar.
A F.STE artigo refpondemos, e mandamos que os
nofios Corregedores, e Jufiiças vejam as Cartas fuas,
que os Prelados, e Clerigos ouverom delle, e as com-
pram, como em ellas for contheudo; fenom que Nós
lho efiranharemos nos corpos, e nos a veres, como
aquelles, que nom guardam mandado de feu Rey, e
Senhor.

TI-
( <i) di.t~ 'I'.
-------------
(l,) por certo A,
88 LIVRO SEGUNDO TITULO SEXTO

TI T U LO VI.

Dos artigos acordados antre ElRey Dom Joham , e a


Cierizia, que Jorom feitos em * Evora (a) * .

ARTIGO I.

P RrMEIRA~ENTE que lhes nõ guardam as Cartas


de fegurança , que gaanham de fem Prelados,
nem lhes querem* mandar na fua Corte (/;) * que lhas
guardem.
A ESTE artigo manda ElRey, que fe guarde o de-
cimo terceiro artigo , que foi feito em Elvas .

A R T I G o II.
ITEM, O fegundo Artigo he, que prendem os
Clerigos , e os nom querem entregar a feus (e) Juí-
zes Eclefiaíl:icos fem apellaçom, pofto que feja noto-
rio, que fom Clerigos, e fazem-nos jazer em pri-
fom , pofto que lhes fejam pedidos pelos Prelados,
ou feus Vigairos, o que he contra direito.
A ESTE artigo refponde , e manda ElRey que os
Clerigos d'Oordeés Sagras , ou ·Beneficiados, como
forem prefos, e achados que taaes fom, que os entre-
guem logo fcm apellaçom , fegundo fe contem no
fexto artigo, que foi feito em Elvas; e quanto pertee-
ce
(") Elvas S. e T. (b) dar na no!Ta Corte Ca.rta5 (e] mayores A.
Dos ART. ACORD. ANT. ELREY D. JoHAM, ETC. s9
ce aos Clerigo s d'Oord eês meore s folteiro s ou cafa-
cos, manda que fe nom entreg uem fem apella çom;
porque os Juizes fim prezes nom podero m bem decer-
nir fe fom bigam os, ou fe andam em avito, ou as k-
teras , que moftra m , fe fom verdad eiras.

A R T I G o III.

ITEM. O terceir o artigo he, que fe alguú Clerig o


he prefo per feu Prelad o, ou Vigair o, ou feguro per
fuas Cartas por alguús eixceíf os, em que os culpam ,
effes Prelad os , ou Vigair os enviam aas noffas Juíl:i-
ças pedir, que lhe mande m dar o trelado das querel -
las , e inquir içoões , e denunc iaçoõe s , ou enform a-
çoões , fe as dclles ham , e nom lhas querem manda r
dar : pola qual razom defperece o direito , e a juíl:i-
ça, que os Prelad os nom podem fazer.
A ESTE artigo manda ElRey , que os Clerig os
d'Üord eês Sagras , ou Benefi ciados , como for achado
que taaes fom, ou os Clerig os, que 1hes forem entre-
gues per ElRey , ou per fuas Juíl:iças, que lhe fejam lo-
go entreg ues, e enviad as as querel las, enform açoões ,
e inquiri çoôes, que delles ou verem , nom poendo em
ellas os nomes dos outros , que nos ditos malefi cios
forem culpad os: e quanto he aos Clerigo s d'Oord eés
meores folteir os, ou cafado s manda que taaes que-
rellas, e inquiri çoões lhes nom fejam entreg ues, ataa
que per E!Rey , ou per fas Juíliça s feja achado que
elles íom Clerig os, e da jurdiç om Eclefi afüca; por-
Liv. II. M qu e
90 LIVRO SEGUNDO TITULO SEXTO

que poderia feer , que eíl:es nom feriam Clcrigos , e


fariam eflo á cautella pera veerem , e faberem quaaes
fom as provas , que contra elles fom , e os eicefios >
de que os aviam d'acufar, e poderiam feer avifados
de poderem fazer fobornaçom de teíl:emunhas falfas >
ou allegar outras defefas falfas, porque fe poderia per-
der direito, e juíl:iça, quando foffe demandado per-
ante feu Juiz Leigo.

A R T I G o IIII.
ITEM. O quarto artigo he, que alguús Clerigos
fom livres per feus Prelados, ou feus Vigairos por al-
guús eiceffos per fentença definitiva , fegundo forma
de direito, e as noffas Jufüças norn as querem aguar-
dar , ataa que nom ajam Carta de Confirma.çom.
A ESTE artigo manda ElRey que fe guarde o de-
cimo quarto artigo , que foi feito em Elvas.

A R T I G o V.
O quinto artigo he, que os noffos Officiaaes
ITEM.
nom querem dar mancebos, e fervidores aos Clerigos
nas terras, onde os Nós mandamos dar aos outros, e
tomam-lhes os que reem , que com elles vivem per
fua vontade, e coíl:rangem-nos que vivam com ou-
trem, &c.
A ESTE artigo manda ElRey que nas terras, e Co-
marcas , em que os manda dar aos Leigos , que os
dem aos C1erigos , fe forem lavradores , ou reverem
guaa•
Dos ART. ACORD. ANT. ELREY D.JoHAM, ETC, 91
guaados pera lhes guardar, ou fornos de cozer pam,
pera os em elles fervirem; com tanto que eífes man-
cebos fejam daquelles , que devem feer fegundo a
Hordenaçom ; e que eífes Clerigos dern fiadores Lei-
gos por eífas foldadas , que lhes harn de dar : e nas
outras Comarcas, honde os nom manda dar, que lhos
nom dem.
A R T I G o VI.

ITEM. O fexto artigo he. Dizem que fom agrava-


dos per noffa Hordenaçom em razom de fuas fervi-
dores , por quanto lhes vaaõ os Alquaides de noite e
de dia bufcar as poufadas , e as Camaras, e efpeiram-
nos por eíl:o muito a miude, e he aazo pera feerem
roubados , e por efto o pecado nom he ca vi dado ; e
já em outro tempo foi feita fernelhante Hordenaçom
pelos Reix, e o Papa ho norn houve por bem feito.
A ESTE artigo manda EIRey, que lhes (a) nom
bufquem as caías, falvo quando as Juftiças per teíl:e-
munhas , ou per certa enformaçom forem certas, que
as teem dentro comíigo ; e que fe lhas d'outra guifa
bufe arem, que lho façam correger.

A R T I G O VII.
ITEM. O fetimo artigo he. Q!e dizem que fom
agravados na eixecuçom dos teíl:amentos, que nom
perteécem a Nós de direito_, mais aos Prelados nas
M2 cou-
(.1) dcm Cart.u , 'luc lha
92 LIVRO SEGUNDO TITULO SEXTO

coufas piadofas ; e outro fy , porque aquello , que os


teíl:adores leixam em feus teíl:amentos a certo ufo >
aífy como pera cantar Miífas, e trintairos , e cafar vir-
geés, e remir cativos, e femelhantes cafos, os noffos
Juizes, e Officiaaes ho ham por refidoo, e o fazem
defpender em outras coufas , que o teíl:ador nom
mandou , o que he contra direito : e que fe os teíl:a-
rnenteiros nõ comprem o que o teíl:ador mandou ataa
huú anno , nem foro dados outros eixecutores pera
comprir o teíl:amento, ham os ditos beés por refidoo,
e defpendem-nos em al ,que o teíl:ador nom mandou,
o que fe faz contra direito , e em gram prejuizo do
que os teíl:adores hordenarom.
A ESTE artigo diz EIRey, que elle nom faz em
eíl:o nenhúa coufa agora nova, e que ufa em e!tes re-
:fidoos daquello , de que fempre ufaarom , e de que
efteverom em poffe elle , e os Reyx , que ante elle
forom; e affy manda, que fe guarde daqui em dian-
te : e fe os Prelados, ou alguú delles entenderem con-
tra elle d 'aver alguií direito, que o demandem.

A R T I G o VIII,

ITEM.O oitavo artigo he. ~e dizem que forn


agravados, que lhes dernoíl:rem como tem fuas her-
dades , ou coutos , de que eíl:am em poffe per cem
annos, e mais tanto tempo, que a memoria dos ho-
meés nom he em contraira; o que lhes he grave cou-
fa , porque per longo tempo fe perdem as efcriptu-
ras,
Dos ART. ACORD. ANT. ELREY D.JoHAM, ETC. 93
ras , e fe as nom moftram , lançam-nos fora da pof-
fe.
A ESTE artigo diz ElRey, que fe alguús fobre el-
lo forem demandados, que fe faça direito, guardan-
do as Hordenaçoões , e os cuftumes antigos.

A R T I G O VIIII.
ITEM. O nono artigo he. ~e dizem que fom
agravados, por quanto poufam com elles em fuas ca..
fas , efpicialmente os Beneficiados das Igrejas Catha-
draaes, o que he contra Direito Cumuií.
A ESTO manda ElRey, que íe guarde o nono arti-
go, que foi feito nas Cortes d'Elvas.
A R T I G o X.
ITEM. O decimo artigo he. ~e fom agravados,
que lhes levam portagem, e dizima das coufas, que
lhes trazem per mar , ou per terra pera feu manti-
mento , ou que lhes mandam em ferviço.
A ESTO manda ElRey, que fe guarde em ello o
que fe cuílumou , e ufou fempre em eftes Regnos , e
o que he contheudo no fexto, e decimo artigos dos
onze, que foram feitos em Corte de Roma, honde fe
contem , que fe guarde o cuílume.

A R T I G o XL
ITEM. O decimo primeiro artigo he. ~e dizem
que fom agravados, porque fem confentimento dos
Pre-
94 LIVRO SEGUNDO TITULO SEXTO

Prelados, e da Clerizia, que em ello nom -confenti-


rom , nem confentem, fezemos Hordenaçom , como
ajam de pagar os devedores, que trazem os beés Ecle-
fiaílicos , os quaaes de direito•fom theudos de pagar
pelas moedas, que fe obrigaarom, ou o feu verdadei-
ro valor, que cúmunalmente vai a fetenta libras por
húa, e que Nos mandamos que pagué a cincoenta por
húa, e mais nom ; o que he contra direito, e prejui-
zo dos feus direitos.
A ESTO manda ElRey, que fe guarde a dita Hor-
denaçom per todos , porque foi feita por prol cõmu-
nal.
A R T I G o XII.

ITEM. O decimo fegundo artigo, que dizem que


fe alguú Clerigo demanda direito , e juftiça a cada
huil dos noífos Officiaaes, e elles nom lha querem fa-
zer , e o Clerigo pede que lhe mandem dello dar ef...
tormento , os noffos Officiaaes defendem aos Tabal-
liaães , que lho nom dem.
A ESTO diz ElRey, que declarem bem efte ani ..
go , por quanto fempre manda dar as efcripturas
aos Taballiaães , fal vo em alguús cafos, em que fom
contra fua jurdiçom.

T 1-
Dos ART. ANTRE ELREY D. JoHAM, ETC. 95

TITULO VII.

Dos artigos antre E!Rey D. Joham , e a Clerizia, que


farom f eitos em Santarern a trinta dias do mez de Agof-
to Anno do Nefcimento de N. S. J cfu Chrifpto de
mil e quatro centos e vinte e J ete mmos.

ARTIGO I.

A O PRil\lEIRO artigo, em que dizem, que toma-


va conhecimento , e jurdiçom dos ereges , jul-
gando , e decernindo fobre a Santa Fe, fe erraõ em
ella, de que pertence o conhecimento aa Igreja , fe
he herefia, porque da Santa Fe nõ perteéce o conhe-
c1mcnto a outrem.
A ESTE artigo refponde E!Rey , que elle tal co-
nhecimento nom tomou, e que lhe praz de os Prela-
dos averem conhecimento dello , fegundo manda a
Santa Igreja; pero fe alguú Chrifptaaõ Leigo renegar
a Fe, e fe tornar Mouro, ou Elche, e lhe aíly for pro-
vado, EIRey tomara conhecimento de tal como ef-
te, e o penara fcgundo direito, porque a Igreja nom
ha já por que aqui conhecer fe erra na Fe , ou nom ;
e affy fe deve fazer per direito, e pelas Hordenaçoões
antiguas , &c.
96 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

A R T I G o II.

ITEM. Ao fegundo artigo, em que dizem, que fe


alguú Judeu, ou Infiel fe torna Chrifptaão, e defpois
apoíl:atando fe torna á fua feita , e he acufado pela
Igreja, a Juíl:iça fecular defende , que nom conheça
effajuíl:iça Eclefiaíl:ica do dito maleficio, que he apof-
tafia , e hereíia, que tange aa Fe ; fobre a qual fe tal
reverfo , ou apofleta fe quer reconciliar, e tornar aa
Igreja, deve feer recebido, e fazer penitencia ; dos
quaaes autos dajurdiçom, e clave da Igreja, à Juíl:i-
ça fecular fe nom pode tremeter, nem dar a peniten-
cia, que em tal cafo he meíl:ér; e fe a Juíl:iça delles
conhece , e os nom quer entregar, as J uíl:iças fecula-
res lhos tomam das fuas prifoões.
A ESTE artigo refponde E!Rey que elle he Juiz
em tal cafo ,e fempre fe aífy cuíl:umou em tempo dos
Reyx antigos, fegundo fe contem em húa Ley d'El-
Rey D. Affonfo o Segundo: e ainda per direito aífy o
he , ca fe d'outra guifa foífe, os Prelados fobjugariam
os Judeus , e os Mouros , e os fariam feus fervos mais
que do dito Senhor; e fetal cafo for que. fejam tor-
nados aa Fe , hi fica aos Prelados de lhes darem fua
pendença efpritual , e por tal peédença nom fe tolhe
porem de lhe dar ElRey a pena temporal , como faz
nos outros cafos.
Dos ART. ANTRE ELREY D. JoHAM J ETC. 97

A R T I G o III.

ITEM. Ao que dizem no terceiro artigo , que dos


hornamentos Eclefiaflicos , a faber, callezes , e pate-
nas, beentos, ou fagrados, e imageés de prata, e d'ou-
ro, que alguús Leigos tecm per qualquer guifa que
frja, fe os Clerigos demandam taaes Leigos perante a
Juftiça Eclefiafüca per revendicaçom, ou per auçom
de furto , ou esbulho, e ali ficando fua auçom, a faber,
que fom hornamentos , callezes, e cruzes , perque fe
demofrra, que a difpoziçõ, e domínio feja da Igre-
ja J e affy lhe perteécer o conhecimento como de cou-
fa fua, defende a Juíl:iça fecular ao Juiz Eclefiaíl:ico,
que nó conheça de tal frito.
A ESTE artigo refponde E!Rey, que naquelles ca-
fos , em que for feita algúa demanda a algúa peffoa
leigua por alguús callezes , e viilimentas , ou algúas
outras coufas confagradas, as quaaes foífem já poftas
em fenhorio dalgúa Igreja, ou peffoa Eclefiaítica, que
de tal demanda nom conheçam os Juizes feculares; e
cm aqueíl:o fe nom entendam cruzes , e caíl:içaaes, e
tribulos , e na vetas, e immageés, e outros hornarnen-
tos , que nom fom fagrados , ca em eíl:es cafos q uan-
rlo a peífoa leiga he demandada, ha de refpcnder per-
ante o Juiz fecular : pero fe a parte confeífa que he
da Igreja, conheça o Juiz Eclefiafüco.

Liv. II N
98 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

A R T I G o IIII.

ITEM.Ao que dizem no quarto artigo, que acou-


tando-fe alguú aa Igreja por gouvir da immunidade
della , a Juíl:iça fecular indifünéla mente os tira del1a
per fua autoridade, e os leva aa fua cadea, frangendo
a dita irnmunidade , e cometendo facrilegio , porque
os nom devem tirar, falvo em certos cafos.
A ESTE artigo refponde o Ifante , e diz que elle
hordenou eíl:o de fe fazer em alguús lugares , e cafos ,
e graves maleficios quando aconteciam , e nom em
geeral, por muitas , e lidimas razoões , que a ello o
moveram , as quaaes elle quer enviar dizer ao Papa,
e determinar com elle eíl:o ; e manda, que fc guarde
a irnrnunidade da Igreja nos cafos, em que fe de di-
reito deve guardar ; e que íl:ê todo, como eíl:ava, an ..
te que elle eíl:o todo hordenaffe.

A R T I G o V.

ITEM.Ao que dizem no quinto artigo, que fe


nom tiram os que fe a ella coutam , aprifoam-nos
dentro na Igreja de ferros, e cadeas, e dentro os guar-
dam com armas, violando os direitos , e a imunida-
de, que manda, que os norn guardem, fenom a qua-
renta paffos, fe for a Igreja Cathedral, e fe for meior,
a trinta.
No quarto artigo tem repoíl:a, que a eíl:o avon-
da.
A .R-
Dos ART. ANTRE ELREY D. JoHAM, ETc. 99

A R T I G o VI.

ITEM, Ao que dizem no fexto artigo, que tomava


conhecimento dos padroados , amovendo os confir-
mados , e que affy toma conhecimento dos feitos
matrimoniaes , mandando que vivam de confuú os
que fom apartados pela Igreja.
A ESTO refponde E!Rey, que nom embargando ,
que elle ataa ora etleveífe em poffe , e cufiume de co-
nhecer dos feitos dos Padroados , que acha , que fom
fcus pelos regi fios , e livros antigos , por fe confor-
mar á boa igualdade lhe praz , que fe contenda for
antre ElRey , e os Prelados , ou cada huú delles fo-
bre os Padroados, dizendo ElRey que he feu, e a el-
le perteence , e o Prelado diz que perteence a elle,
ou aa fua Igreja, que em tal cafo fe efcolham pelas
partes dous Juízes alvidros Clerigos , que fejam mais
fem fofpeita que fe poderem aver em todo o Regno,
e a eftes cometa o Prelado o feito, que o determinem
finalmente, fem havendo hy apellaçom , e alçada ; e
fe eftes dous defacordarem , tomem-fe outros dous
per efta forma , ataa que húas vozes excedam as ou-
tras , e honde fe os mais acordarem , que eífa Senten-
ça fe provique , e dê aa eixecuçom fem outra apella-
çom, nem alçada : e na parte dos matrimonias diz
EIRey, que nom tomou, nem quer tomar conheci-
mento delles.

AR-
l 00 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

A R T I G o VII.

ITEM. Ao que dizem no fetimo artigo, que man-


dou que todolos Abades, e Beneficiados moílrem to-
dalas leteras de feus Beneficios , e lhes levaram qua-
renta reis de cada hum dos regiílos.
A ESTE artigo diz EIRey, que elle mandou tal
coufa como eíla fazer , por moílrarem feus títulos , e
por elle aver enforma.çom , a cuja aprefentaçom as
Igrejas forom confirmadas, e quaaes fom da fua apre-
zentaçom ; e a!fy fe moílra, que foi feito em tempo
d'ElRey Dom Donis, e d'EIRey Dom Affonfo; e
que fe lhes alguús levaarom dinheiros dos regiftos ,
manda que lhos tornem aquelles, que lhos levarom >
ca elle nom mandou que lhos leva!fern.

A R T I G o VIII.

ITEM, Ao que dizem no oitavo artigo, em que


àizem, que lhes defendem, que nom conheçam dos
facrilegios , quando alguus Leigos ferem os Clerigos,.
ou tiram alguú da Igreja, e frangem a immunidade
della , e fom demandados polo facrilegio per-ante o
Juiz Ecclefiafiico, a que perteéce o conhecimento, e
defende, que nom levem as penas delles.
A ESTo diz ElRey, que elle nom defende , que
nom conheçam os Prelados dos feitos dos facrilegios,
mais porque elles poinham pena d'ouro , e de prata
em mui grande fõma , e por mui pequenos feitos , a_
qual
Dos ART. ANTRE ELREY D. JoHAM, ETC. 101

qual pena d'ouro, e prata nom fe ufa levar pela Igre-


ja de Roma, nem em ltalia , e em outras partes , fe-
gundo diz a grofa d'huú Degredo, e os Prelados da-
vam effas penas a taaes peffoas , que trautavam mal
as peffoas leiguas , e da fua jurdiçom , affy elle, co-
mo feus antece{fores poinham em taaes penas embar-
go: e ora por fe tirarem taaes embargos praz aos Pre-
lados, que ainda que elles ufaffem de os dar, e levar,
que daqui em diante os nom dern a nenhuú, e que
fejam pera a fabrica da Igreja: e porque as penas* dos
dinheiros (a)* forn grandes, que elles as limitem fe-
gundo as peífoas , e os maleficios forem , dando a
delles penas de dinheiro, e a outros, fe forem pobres,
outra peédença , que feja faudavel pera fua alma.

A R T I G o VlIII.
ITEM. Ao que dizem no nono artigo, que toma
conhecimento dos Clerigos cafados , e folteiros, que
fom prefos por alguús maleficios , e manda que os
nom entreguem aa Juftiça Eclefiafüca, de cujo foro>
e jurdiçom fom > ataa que contra elles feja pôfto fei-
to , e appellado pola jufüça.
A ESTE artigo refponde ElRey, que quanto he aos
Clerigos d'Oordeés meores folteiros, e cafados, em
eíl:a terra ha tantos, que fe chamam Clerigos d 'Üordeés
meores , e moíl:ram tantas Cartas falfas ; e outros >
que poíl:o que em alguú tempo foffem taa.es Clerigos,
fom
(") do direito A,
JOl LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

fom cafados, e ao tempo dos maleficios, e da prifom


nom andam em avito, e tonfura ; ou fom cafados
com molheres corruptas em tal guifa, que nom fom
Clerigos certos ; pola qual razom quando affy fom
prefos , e os a parte acufa, ou a fua Juíliça , elle lhes
manda primeiramente conhecer de feu titulo, fe o
allegam ; e fe as partes contrairas querem provar as
Cartas feerern falfas , ou que elles fom bigamos , ou
que andam fora do avito, ou tonfura, feendo cafados
com molher nom virgem , elle manda aas fuas Juíl:i-
ças , que conheçam deíl:o ; e fe acham , que he Cle-
rigo , mandam-no logo entregar , e remeter a feu
Juiz Ecleftaílico ; e fe as outras partes o contrairo
provam , fazem delles direito , e d'outra guifa nom
procedem no principal, nem a tormento, nem a pe-
na : e per eíl:a guifa fe guardou fempre em tempo
dos Reix , que ante elle forom, e no feu , e eíl:o hc
conforme ao Direito Cõmuú.

A R T I G o X.
ITEM. Ao que dizem no decimo artigo, que quan ..
do affy fom prefos , nom lhes creem as Cartas , que
moíl:rarn, e fazem-lhes outras perguntas, e fe a ellas
beem nom refpondem , julgam-nos por Leigos.
A EsTo refponde ElRey, que poflo que lhes taaes
preguntas feitas fejam , que bem nom refpondam ,
nom lhes faz prejuízo, nem os mandou , nem manda
julgar por Leigos , ante lhes manda guardar todo feu
di-
Dos ART. ANTRE ELREY D. Jo~AM ETe. 103

direito ; e corno fe moíl:ra claramente , que elle he


Clerigo , logo manda aas fuas Jufüças , que o entre-
guem a feu Prelado.

A R T I G o XI. XII. XIII. XIIII. xv.


1TEM. Ao que dizem no decimo primeiro , e de-
cimo fegundo , e decirno terceiro , e decirno quarto>
e decimo quinto artigos, que fez Hordenaçoões mui-
tas de grandes penas, nas quaes indiíl:intamente com-
prehende os Clerigos, e os julga , e pena per ellas,
aify corno fe foffem da fua jurdiçom; a faber, defen-
de que nom arrendem per ouro, nem per prata; e fe
o Clerigo arrenda os fruitos , perde todo ; e defende >
que nenhú nom vogue, nem confelhe; e que nenhuú
nom ande em beíl:a muar de fella; e que nenhuú nom
traga armas, e fe as trazem per caminho, ou quando
vaaõ aas matinas , lhas tornam.
A ESTO refponde ElRey, e diz que elle nom pos
defefa aos Clerigos em efpecial, mais por boa gover-
nança de feus Regnos , e por prol cúmunal de toda a
terra, e por feu ferviço pos geeral eftabelicimento das
ditas coufas ; e quando o eíl:atuto , ou Ley he poíl:a
per o Rey em gecral, lega per Direito Canonico, e Ci-
vil todalas peffoas de feus Regnos , affy Clerigos , co-
mo Leigos , e fom todos teudos de as guardar ; e
quaaefquer , que fezerem o contraira, devem encor-
rer nas penas contheudas nas ditas Leyx , ou eíl:abc-
licimento , fegundo fe por Direito , e Hordenaçoões
po-
104 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

pode moíl:rar : de mais que a Hordenaçom do ouro ,


ou prata , entende-fe quando a parte expreffamente
fe obrigua per ouro , ou prata ; e elles podem fazer
feus arrendamentos a ouro, ou prata, ou ao que valer
ao tempo das pagas, qual ho obriguado quifer pagar,
fem temor de tal pena.
E DE vogar , e confelhar efto he fegundo direito,
porque defefo he aos Sacerdotes nom litigaarem ,
nem tomarem tal encarrego , ca por taaes negocios
feculares careceriam do Officio Devino , em que de-
vem feer occupados.
E DE nom andarem em muas nom he per elle
novamente feito, porque já affy foi feito no tempo
de outros Reix, entendendo-o por ferviço de DEOS,
e guarda da fua terra , honde tanto he neceffario pera
fua defenfom aver hi cavallos , e os teerem , e traba ..
lharem por elles; os quaaes nenhuú do Regno nom
tera , fe lhe foffe dado lugar, que teveffe beíl:as mua ..
res. E tanto he cíl:a Hordenaçom boa , e honeíl:a , e
proveitofa ao bem da terra , e affy poíl:a em geeral ,
que ElRey , e feus filhos fempre a guardaarom, e
nunca defpois andarom em muas ; e prougue-lhes
porem , que nom embargando a Hordenaçom, todo ..
los Prelados, e Arcebifpos, e Bifpos, e Abades Been-
tos andarem , como andam , em muas , e em beíl:as
muares, e praz-lhe, que os Arcebifpos tragam em el-
las tres Capellaães , e os Bifpos dous.
E DE nom trazerem armas he geeral a todolos do
Re-
Dos ART. ANTRE ELREY D. JoHAM, ETC. 105
Regno, como fufo dito he: porem que lhes nom to-
lhe , que as levem quando forem fora da Villa direi-
tamente pera hirem feu caminho , e pelo caminho ,
mas na Villa nom; e quando vaaõ aas matinas , nom
as devem trazer, pois he defefo a todos, que as nom
tragam , por tirar arroidos , e muitos males, que fe
dello feguirom quando as traziam, e podiam feguir:
e fe os Leigos as nom haõ de trazer, muito mais as
nom devem de: trazer os Clerigos ; porque por feu
Direito Canonico lhes he defefo que as nom tragam:
e fe os Prelados fouberern, que as trazem, devem-noo
d'efcõrnungar.

A R T I G o XVI.

ITEM. Ao que dizem ao decimo fexto artigo que


manda , que fe o Clerigo he prefo na priforn fecular,
que pague a careeragem em dobro , corno manda pa-
gar ao Judeu.
A ESTE artigo refponde EIRey, que tal coufa co-
mo eíl:a nom mandou fazer a Judeu , nem a Mouro,
e muito mais o nom mandou , nem mandará fazer
aos Clerigos , aos quaaes por honra da Santa Igreja
elle tem grande revcrença; e que fe a alguus Clerigos
eflo foi feito , que lhe digam quem lhes eílo fez , e
que lhes mandará dar boõ efcarmento dello; e man-
dará , que lhes fejarn tornados os dinheiros, que lhes
alfy foram levados.

Liv, JJ. o AR-


106 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

A R T I G o XVII.

ITEM. Ao que dizem no decimo fetimo artigo que


os rendeiros, e recadadores das fifas citaõ os Ckrigos,
que fe a venhaõ com elles pola fifa de todo aguelle an ..
no, e fe o nom querem fazer, que os citam, e tra ..
zem em demandas.
A ESTE artigo refponde ElRey, que elle tal coufa
como eíl:a nunca mandou fazer , e que defende aos
feus Officiaaes que o nom façam daqui em diante; ca
elle nunca mandou, que fc nenhuú avieffe contra fua
voontade, nem o tragam por effo em demanda ; e fe
o alguem fezer, que lho efl:ranhará gravemente •.

A R T J G o XVIII.
ITEM. Ao que dizem no decimo oitavo artigo :1
em que dizem, que fe fe nom querem avir os Cleri-
gos aas fuas voõtades , entraõ-lhes em fuas cafas , e
adegas, e celeiros , e varejam-nas , e efcrepvem-lhes
todo o que lhes acham, e fe defpois comem, ou be-
bem daquello, que lhes affy efcrepvem , que os ci-
tam, e demandam por cito.
A ESTE artigo refponde EIRey que elle nunca tal
coufa mandou fazer, nem varejar com elles, nem
com outrem, fal vo com aquelles, que fom Regataães,
e mercadores, que compram pam > e vinho pera ave-
rem de vender, e revender ; e fe lho ata agora feze-
rom a.Iguãs pefToas, manda que daqui em diante lho
nom façam. A R-
Dos ART. ANTRE ELREY D. JoHAM, ETC. 107

A R T I G o XVIJII.
ITEM. Ao que dizem no decimo nono artigo ,
que os coílrangem que paguem fifa das rendas , que
arrendam.
A ESTE artigo refponde ElRey que elle nunca
mandou que das rendas dos Beneficias elles pagaífem
fifa ; mais eíl:o mandou a todos em geeral, que celei-
ros tc:m de pam , e de vinho, que defpois que todo o
pam , e vinho he apanhado, que fe o defpois querem
arrendar, eíl:o he venda , e nom arrendamento ; e
que pois o mandou aífy em geral a todos, aífy rnan..
da , que fe faça.
A R T I G o XX.
ITEM, Ao que dizem ao vigefimo artigo, que
mandou lançar pregoões , que nenhum Clerigo nom
tenha armas em fua cafa.
A ESTO refponde E!Rey, que tal 1-Iordenaçom
nom te-m feita , nem tal coufa nunca a mandou fa_
zer, fenom que o lfante ho mandou em Bragaa; por
quanto fe hi faziam muitos maleficios , e os Clerigos
com feus homeés , que tinham, fe faziam tam pode-
rofos , que as Jufiiças nõ podiam delles fazer direi-
to: porem elle revoga o dito mandado, e quer que
ufem hi , como nos outros lugares.

02 AR-
108 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

A R T I G o XXI.

ITEM. Ao que dizem aos vinte e hum artigos, em


que dizem que fez Hordenaçom, que fe algúa mo-
lher fe diffeífe manceba de Clerigo, ou d'Abade, e
furtaífe o que effe Clerigo, ou Abade teveífe, ou ou ..
trem per feu aazo, ou mandado, que nom foffem
theudas a pena de J uíl:iça , e o Clerigo nom podeffe
mais demandar o feu , o que he contra direito tolher
auçom, ou defenfom ao que a rever.
A ESTE artigo refpondc ElRey que eíle e!labele-
cimento he geeral a todolos de feus Regnos, aífy ca-
fados, como folceiros, e tal eíla_belicimento geeral le-
ga tambem os Clerigos , como os Leigos : e eílo fe
faz por bem cúmunal da terra, e por fe refrearem os
fornizios a todolos de feus Regnos , cm cafo de bar-
regaãs.
A R T I G o XXII.

ITEM. Ao que dizem aos vinte e dous artigos, em


que dizem , que lhes lançam finta, e talha, e impofi-
çoões em paõ, e em prata, e em dinheiros, fazendo-
lhos tirar per feus Porteiros , e Officiaes Leigos.
A ESTO refponde EIRey, que nunca lhes mandou
lançar finta , nem talha d'ouro, nem de prata, nem
de paõ, nem de vinho em feus Regnos, falvo quando
foi o cafamento do lfante Dom Joham feu filho, elle
enviou rogar aos Prelados de feus Regnos , que lhe
def-
Dos ART. ANTRE ELREY D. JoHAM, ETC. 109

deffem hua meia dizima pera elle, e a elles todos


aprougue de lha darem, e outorgarem ; e elles fabem
bem que per direito, quando tal cafo avem ao Rey,
pode lançar finta , e talha aos do Regno , e affy aos
Clerigos pera cafamentos de feus filhos, e outras ne-
ceffidades; e os Prelados differom a eíl:o que elles fom
bem preiles a feu ferviço , com tanto que clles fejam
chamados, e que o que ouverem de dar, feja tirado
pelos feus Officiaacs, poilo que de direito podeffem
feer efcufados.

A R T I G o XXIII.
ITEM. Ao que dizem aos vinte e tres artigos, em
que dizem que manda pagar os foros, e tributos, que
lhes devem pela moeda antigua , a quinhentas por
húa deila moeda, que ora corre; e quando lhes lança
empofiçom , ou taxa , faz pagar a elles fettecentas
por húa.
A ESTE artigo refponde EIRcy, que elle nom poz
Hordenaçom fobre os Clerigos , mais foi outorguado
em Cortes geraaes por prol cúmunal , e bem de toda
a terra , por quanto hi nom ha agora moeda antigua,
e foi hordenado de fe pagar por cada húa livra de
moeda antiga quinhentas por húa defta moeda , que
ora corre , confentindo os Prelados em ello ; e ainda
que o nom corúentiffem , devem-no a confentir , por
quanto he prol cõmunal, e bem de roda a terra; por-
que ao Rey perteéce foomente fazer moeda , e mu-
da-
I 10 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

da-la , e poer-lhe a valia , fegundo entender por prol


cúmunal, e feu ferviço, e por boa defenfom da terra:
e elles devem cm eíl:o d'hufar , como u íam os outros
todos, e a~v íe ufou fcmpre em eíl:es Regnos , e em
Caíl:ella, e em Aragom, e em França , e cm lngra-
terra , e em outros Regnos, e Lugares, honde fe moe-
das fazem : e pois fe pooem geeralmente a todos,
e nom aos Clerigos em efpicial , nom teem de que fe
agravar, ca fe perda fe recrecer, a elle vem maior
perda, porque teem maiores direitos, e tambcm vem
aos Cavalleiros , e Fidalgos , que teem maiores dcf-
pefas que os Clerigos. E quanto he a lhes levar elle a
fetecentas por húa das taxas , quando fe lançam aos
Clerigos dalgúa dizima , elle nom lhes pooem taxa
nenhúa, fenom fegundo antigamente he taxado pelos
Padres Santos , e os Bifpos meefmos fazem as taxas
antre fy , e ElRey nom lhes pooem em ello maaõ.

A R T I G o X XI III.
ITEM. Ao que dizem aos vinte e quatro artigos ,
que prendem os Clerigos d'Oordeés Sagras, e Bene-
ficiados, e os nom querem entregar a feus maiores
com aqucllas quercllas , que reem , nom os achando,
quando os prendem, fazendo maleficios, e os reé
prefos em fuas cadeas per mefes , e tempos , feendo
requeridos pelos feus Prelados, que lhos entreguem.
A EsTo rcfponde E!Rey , que he todo polo con-
trairo, porque logo a eífas oras como he prefo alguú
Cle-
Dos ART. ANTRE ELREY D. JoHAM > ETC. 111

Clerigo d'Oordeês Sagras> ou Beneficiado > ante que


vaa aa prifõ, logo o entregam a feu maior ; e affy fe
fez fempre, e affy manda> que fe faça daqui em dian-
te, e que fem apellaçom logo os entreguem> e os nom
detenham em prifom.

A R T I G o XXV.

ITEM. Ao que dizem aos vinte e cinco artigos>


que fe os Clerigos Sacerdotes por alguus maleficios
gaançam Cartas de fegurança de feus Prelados , ou de
feus Vigarios para efl-arem a direito per-ante elles, a
Jufiiça fecular lhas nom quer guardar, ataa que nom
ajam outras Cartas de fegurança d'ElRey,
A ESTo refponde EIRey ,que fe os Clerigos Sacer-
dotes , ou Beneficiados gaançaõ Cartas de fegurança
de feus maiores , e elles veem requerer ás Jufiiças,
que lhes guardem fuas Cartas de fegurança, que logo
lhes as fuas Ju ftiças dam Cartas de fegurança, que os
nom prendam, e lhes guardem as Cartas de feus Pre-
lados; e aífy fe cuílumou fempre ataa agora, e aífy
manda > que fe faça daqui em diante : e pofto que
Cartas d'EIRey nom moílrem, manda aas Juíliças ,
que os norn prendam , e lhes guardem as Cartas de
fegurança , que affy reem , aos que forem certos que
fom Clerigos d'Ordeés Sagras, ou Beneficiados.
II 2 LIVRO SEGUNDO TITULO SE TIMO

A R T I G o XXVI.

ITEM. Ao que dizem aos vinte e feis artigos , em


que dizem , que nõ querem dar as querellas, e denun-
ciaçoões a eíl:es feguros , pero fejarn requeridos per
feus J u izes Eclefiafticos.
A ESTO refponde EIRey, que antes he muito pe-
lo contra iro, que cada vez que he requerido aas Juíl:i-
ças , que lhes dem as querellas , e denunciaçoões , lo-
go lhes fom dadas pelas Juíl:iças feculares de quaaef-
quer Clerigos , ora fejam Beneficiados, ou d'Ordeês
Sagras , que fejam prefos , ou andem per Carta de fe-
gurança; e fe fc nom faz aífy, mandará que fe car-
rega.
A R T I G o XXVII.

ITEM. Ao que dizem aos vinte e fete artigos , em


que dizem , que fe eífes feguros fom livres • nom lhes
querem aguardar a fentença ataa que ajam Carta
d'ElRey , per que lha aguardem.
A ESTO refponde E!Rey, que taaes Clerigos como
eíl:es , que fom d'Ordeés Sagras , ou Beneficiados ,
quando elles veem requerer que lhes guardem fuas
fentenças , logo lhes daõ fuas Cartas , per que lhas
aguardem; e affy manda que fe faça daqui em diante.
Dos ART. ANTRE E1REY D. JoHAM, ETC. 1 r3

A R T I G o XXVIII.

ITEM. Ao que dizem aos vinte e oito artigos, em


que dizem , que defende aos Taballiaães , que nom
façam Efcripturas, em que leixem herdades aa Igreja,
e fe as fezerem , que percam os Officios.
A ESTO refponde ElRey, que tal Hordenaçom
nom ha hi.
A R T I G o XXVIIII.

ITEM. Ao que dizem aos vinte e nove artigos,


em que dizem , que defende, que os Clerigos nom
comprem herdades , nem poffiíloões em nome da
Igreja , nem em feus proprios nomes delles.
A ESTE artigo refponde ElRey, que elle nom fez
taaes defefas , nem Hordenaçoões novamente , mais
antes forom feitas antigamente pelos Reyx, que fo_
rom d'ante elle ; e he artigo feito antre os Reyx an-
tigos , e os Prelados, que as nom poffam comprar fem
licença delie; e affy fe guardou fempre em tempo
dos outros Reyx , e no feu , porque d'outra guifa
fegui1-s'-hia grande dãpno aa terra, e feeria muito
contra feu ferviço : e a razom , porque os Reyx eíl:o
fezerom , foi por bem , e guarda do feu Regno , que
fe nõ mudaffe em outro eíl:ado , que bem veem os
Prelados , que polos beés , que agora teem , recrecem
eíl:as contendas : e fe des enrom ataa ora lhes nom
fora retheudo , toda a maior parte do Regno fora em
Liv. IL P fua
114 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

fua maão , e os Reyx nõ poderom manteer feu Efia ..


do ; e eíl:o aífy per teíl:amentos , como per leguados ,
e compras , que forom feitas aas Igrejas , e Clerigos.

A R T I G o XXX.

ITEM. Ao que dizem aos trinta artigos, em que


dizem que defende, que a Igreja nom polTa haver
poffilToões nos feus Regueengos, querendo-lhe a Igre-
ja pagar feu foro , fe a polTilTom a ella vier.
A ESTE artigo refponde ElRey que tal artigo co..
mo eíl:e, nom deveerom de poer, porque elles fabem
bem, que he artigo de Corte de Roma antre elle , e
os Prelados , e a Clerizia , que nenhüas peífoas Ecle-
fiaílicas, nem Igrejas nom polTaõ gaanhar nenhuús
beés , nem polTiífoões nos feus Regueêgos , ca o Di-
reito Cõmuum alTy manda ; e tal defefa lhe poferom
fempre os Reyx , ainda que nom foffe feito artigo; e
poíl:o que alguús bees fejam dados a alguús, ainda he
eíperança , que fe tornem aa Coroa do Regno, o que
nom feria defpois que os a Igreja ouveífe.

A R T I G o XXXI.

ITEM. Ao que dizem aos trinta e huú artigos, em


que dizem , que manda que nom recebam querella
ao Clerigo , fe a der do Leigo fem dando fiadores ,
e ao Leigo logo lha recebem , fe a dá contra os Cle-
r1gos.
A ESTO refponde ElRey , que os Reyx , que ante
cl-
Dos ART. ANTRE EL REY D. JoHAM, ETC. 11 5
elle foram, hordenaarom eílo, porque per muitas ve-
zes os Clerigos querelavom maliciofamente dos Lei-
gos , e fe eram condapnados em alg úas émendas , e
cuílas., e as nom queriam pagar, ou nom tinham per
onde, nom fe podia d'outra guifa em elles fazer di-
reito , e ficava affy o que prefo era per feu aazo per-
didofo , e deshonrado ; e porem nom he fem razom
darem fiadores ao corregimento, e cuílas , fe for acha-
do , que nom provam o que differom : e poíl-o que o
Leiguo nom de fiadores , como elles dizem , fe he
achado em culpa, podem logo delle fazer direito aífy
no corpo , como nos beés ; o que nom he no Clerigo,
e a!fy nom deve feer igual em eíl:o huií ao outro.

A R T I G o XXXII.

ITEM. Ao que dizem nos trinta e dous artigos,


em que dizem , que fe o Clerigo focedeo ao Leigo, e o
demandaõ fobre qualquer coufa, em que fe diga obri-
guado o defunto, citam-no per-ante o Juiz fecular, e
pero declina fua jurdiçom, nom o querem remetter,
e manda que refponda per-ante elle.
A ESTO refponde ElRey , que he artigo feito an-
tre E!Rey Dom Donis , e a Clerizia , que deve a ref-
ponder per-ante o Juiz Leigo, e aífy fe cuílumou ataa
ora , nem he razom de fe fazer outra ennovaçom ; e
manda , que fe guarde o artigo, como jaz.
116 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

A R T I G o XXXIII.

ITEM. Ao que dizem aos trinta e tres artigos , em


que dizem , que em feus coutos , e lugares , hu teem
Jurdiçom , lhes manda tomar roupas , e galinhas , e
outros mantimentos, lançando-os aos feus lavrado-
res, e fazendo-lhos acarretar , e fervir nas obras , e
penhoram-nos , como fe foífem feus, e da fua Jurdi-
çom.
A ESTO refponde EIRey, que quando elle vai pe-
las terras, e Comarcas, donde fiam coutos , ou terras
das Igrejas , elles fom theudos de lhe darem manti-
mentos de direito, e aífy os ha por feus dinheiros, ca
fem-razom feria averem elles os mantimentos per
feus rogos , per honde vaaõ , e poufadas fem dinhei-
ros , e elle em feu Regno , pofl:o que fejam herdades
da Igreja, nom a ver os mantimentos , que lhe com-
prem : e fe os Fidalgos lhos. tomam , fabem que elle
tem fuas defefas , e Hordenaçoões pofl:as ; deman-
dem-nos, e far-lhes-ha pagar, e correger , falvo fe
fom aquelles , que o com direito podem aver. E ao
que dizem, que os fazem fervir nas obras, aos Cleri-
gos nom faz fervir, falvo nos cafos, cm que fom
theudos ; e os feus lavradores fervem nas obras , que
elle manda fazer , que fom a ello theudos.
Dos ART. ANTRE E1REY D. JoHAM, ETC. 1 r7

A R T I G O XXXIIII.

ITEM. Ao que dizem aos trinta e quatro artigos,


em que dizem que toma conhecimento das Capellas,
e Moorgados , e ainda que os Provedores ajam de
manter Capellaés pelos bees dellas , nõ quer confen-
tir, que as demandas, que fe febre ello fazem, fejam
per-ante o Juiz Eclefiaftico; e pooem em el las tee-
dores, e Miniílradorcs , perteencendo ao foro Ecle-
fiaíl:ico , e affy toda-las ccufas pias.
A EsTo refponde ElRey, que elle toma conheci-
mento de taaes feitos , porque affy elle, como os
Reyx, que ante elle forem, fempre ouverom em cuf-
tume de tomarem conhecimento de taaes feitos , e o
podem fazer de direito ; e affy foi já determinado em
Corte de Roma , fegundo he contheudo no decimo
artigo dos quarenta ; e porem a E!Rey praz, que fe
algúa Capeella foi edificada ataa ora, em que lhe fof_
fem leixados alguús beés, pera fc manteer, nom dan-
do encarrego della a peffoa Leiga com alguú provei-
to geeral , ou efpecial , que por ello ouveffe , ou aja
d'aver, que em tal cafo perteença aos Prelados oco-
nhecimento, e provifom della ; e nos outros cafos ,
em que alguú proveito perteença ao Miniílrador Lei-
go , os beés fom profanos , e perteencem a E! Rey o
provimento, e o conhecimento delles. Porende pras-
lhe , que pera cantarem as Miffas , que fe ouverem
de cantar, quando forem per feus Bifpados vi fitando,
e
r18 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

e acharem , que fe nom cantam , que poífam coíhan-


ger eífes Miniftradores, que as cantem. E pofto que
elles aífy efte conhecimento ajam, nõ tira E!Rey de
fy feu poderio, e Jurdiçom de os coftranger, quando
lhe aprouver, ou vir, que o nom fezerom bem, pof-
to que os Prelados ante teveífem maaõ pofta , e elles
nom conheçam das que E!Rey quifer conhecer: e ef-
fe lugar lhes da, poíto que fe ataa ora nom cuílumaf-
fe , por feer aazo das Capeeilas ferem milhar canta-
das, quando per elle, e pelos ditos Prelados os Pro-
veedores ouverem aífy de feer coftrangidos.

A R T I G o XXXV.

ITEM, Ao que dizem aos trinta e cinco artigos, em


que dizem que manda a Clerigos, Priores , e Abba-
des , que leam , e cantem, e façam os Officios Devi-
nos com os efcúrnungados , e interdiétos, tomando-
lhes pam , e vinho , e quanto ha nas Igrejas , e dan-
do as chaves aos Leigos, fe o nom fazem.
A EsTo refponde ElRey, que elle tal coufa como
eíta, nunca mandou fazer , nem manda que fe faça ,
e que fe lho algúas peífoas fezerom , que lhe digaõ
quaaes fom , e que lhes dará efcarmento , e o fará
correger.
A R T I G o XXXVI.

ITEM. Ao que dizem nos trinta e feis artigos, em


que dizem , que os feus poufaõ com os Clerigos, e
Bc-
Dos ART. ANTRE ELREY D. JoHAM, ETc. 119

Beneficiados, quando chegam aos lugares , e efcuzam


os Beeíl:eiros, e os Vaífallos, e os Mouros, -e que lhes
aguardaífem ho oitavo artigo dos onze , que forom
feitos em Corte de Roma (a) •
A EsTo refponde E!Rey , que elle nom manda
poufar com nenhuús Clerigos , fal vo quando ha ne-
ceffidade de muita gente , ou que he tal lugar , e taõ
pequeno, que a gente nom pode caber, ca entom
nom fom efcufados privilegiados , nem Vaífallos,
nem outras nenhuãs peífoas : e eíl:o pode elle fazer
per coíl:ume , e per direito , e per eífe artigo , e em
aqueíl.o fom reguardadas as peífoas, e lugares, e tem-
pos.
A R T r e o XXXVII.

Ao que dizem aos trinta e fere artigos, em


ITEM.
que dizem , que fe alguú Clerigo morre abinteíl:ado ,
que dá os beés aos Leigos , aífy como fe foífem da
fua Jurdiçom, poíl.o que fejam aqueridos intuito de
beneficio.
A ESTO refponde ElRey, que fe alguús beés def-
tes ata aqui deu, que os deo, porque achou que os ou-
tros Reyx eíl.avam em poífe de os affy dar; mais que
elle daqui em diante nom os entende de dar a nin-
guem, fal vo fe o Clerigo os ouve, ou poífuio contra
fuas Hordenaçoões.

---------· ---------- -
AR-
(a) e o Dütito Cõmum, T.
120 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

A R T I G o XXXVIII.

ITEM. Ao que dizem aos trinta e oito artigos , em


que dizem , que mortos os Bifpos , e os Prelados , to-
maõ-lhes os beés Eclefiafficos, que ficam , e as no-
vidades, que fom refervadas aas Igrejas , e foceífores,
e aífy os tomaõ a outros Clerigos, que teem beés , e
depofito.
A ESTO refponde ElRey , que declarem fe lhos
tomou elle, ou quem lhos tomou , e a quaaes Bifpos
os tomarom , ca elle nõ ho ha por bem de lhes ferem
tomados taaes beês , e que os demandem a quem per-
teenccr, e que elle lhes fara direito.

A R T I G o XXXVIII!.

ITEM. Ao que dizem aos trinta e nove artigos,


em que dizem , que toma conhecimento dos efpi-
taaes , e albergarias , e os dá a Cavalleiros, e a Ef-
cudeiros , que os ajam de guardar, e governar.
A ESTo diz ElRey, que a miniftraçõ dos efpitaa-
es , e albergarias perteence a elle , e elle a pode dar
quando os e(pitaaes 1 e albergarias foro feiras , e fun-
dadas per peífoas Leiguas , e os Miniíhadores faõ
Leigos ; e eílo aífy per Direito Commuú , como per
Hordenaçoões , e artigos feitos em Corte de Roma ;
e aífy fe uzou fempre ataa ora, e aífy foi determinado.
E quanto he aa parte, em que dizem, que os da a
feus Cavalleiros, e Efcudeiros, nom fe acorda que
os
Dos ART. ANTRE ELREY D. JoHAM, ETC, 12 1

os deffe a taaes peífoas. E o lfante diz, que deu o de


Palhaaes ; e porque achou, que o fazia mal, o tornou
a fcus Provccdorcs.

A R T I G o xxxx.
ITEM. Ao que dizem aos quarenta artigos , em
que dizem, que toma as Capeellas, e da a governan-
ça , e a miniíl:raçom a peífoas Lciguas.
A ESTO refponde E!Rey, que elle nom tomou Ca-
peellas nenhuãs, e que fe alguãs tomou, que nom de-
vera tomar , que lho diguam, e que lhas fará entre-
gar , e correger.

A R T I G o XXXXJ.
ITEM. Ao que dizem aos quarenta t hum artigos,
em que dizem, que da os cafaaes, e herdades , que
teem nos Reguengos, a peífoas Leiguas, e tomou qua-
renta íl:ys em Almeirim aa Igreja de Porto de Moos,
e deu-lhe dezafcis, e huú cafal de Saõ Giaaõ de La-
veiras , e as quintaãs de Sam Domingos de Lixboa,
e a!Ty foi feito a Santo Eloy.
A ESTo refponde ElRey, que elle nos feus Rc-
gueengos pode tomar quaaefquer cafaaes , e herdades,
que elle quifer, e dallos a peífoas Leigas, quaaes elle
quizer, por quanto as peíloas Eclefiafücas , e Igrejas
nom podem gaanhar nos feus Regueengos. E quanto
he aos eílys , venha a elle o Priol de Porto de Moos ,
e elle lhe dará herdades, que rendam tanto , e mais,
Liv. II. Q_ quan-
I22 LIVRO SEGUN90 TITULO SETIMO

quanto rendiam as fuas dos feus ftys. E o de Santo


Eloy , e de Sam Giaaõ forom filhados nos feus Re-
gueengos. E os de S. Domingos foram vencidos per
frntença antrc partes , que os ouverom.

A R T I G o XXXXII.
ITEM. Ao que dizem aos quarenta e dous artigos,
em que dizem , que nom quer confentir Notairos
Apoflolicos, que fom per todo o mundo, honde a
]greja tenha obediencia.
A ESTO refporíde ElRey, que em feus Regnos
nom ha de feer nenhuu Notairo, que faça fé nas Ef-
cripturas pubricas, falvo os Taballiaâes per elle fei-
tos, ou com fua autoridade ; e pois que o ataa ora
nom forom fem fua autoridade, nom deveram tal ar-
tigo de fazer. E ao que dizem , que elles receberóm
tal Notairo, fe per-ante elles vier, diz E!Rey, que
elle mandará em eíl:o o que entender por feu ferviço,
e bem de fua terra.

A R T r e o XXXXIII.

ITEM. Ao que dizem aos quarenta e tres artigos,


em que dizem que pedem algúas efcripturas em al-
guns autos , e feitos , e que lhas denegam.
A ESTo refponde ElRey, que declarem efte arti-
go, que Efcripturas fom eftas, que lhes affy dene-
gam, e em que autos, e feitos.
Dos ART. ANTRE ELREY D. JoHAM, ETC. 123

A R T I G o XXXXIIII.

ITEM. Ao que dizem aos quarenta e quatro arti-


gos, em que dizem , que defende aos Taballia ães,
que nom ponham juramen to em nenhuús contrau-
tos , que fezerem antre quaaefquer peífoas , por aa
Igreja nom perteencer algúa jurdiçom , e ainda por
eíl:o os Clerigos perdem muitas vezes os feus direi-
tos.
A EsTo refponde ElRey, que per ElRey Dom Do-
nis foi feita eíl:a Ley , e fempre fe aífy ufou ataa ora,
e a elles nõ faz prejuizo alguú : pero fe elles quiferem
fazer contraut os antre Clerigo, e Clerigo, elle man-
dará aos feus Taballiaães , que lhe façam as efcripru -
ras, e ponhaõ em ellas quaefguer juramen tos, que el-
les quiferem , com tanto que nom feja hi poíl:a, nem
obrigada peffoa Leigua per effe contraut o , nem beés
leigos, ou profanos.

A R T I G o xxxxv.
ITEM. Ao que dizem aos quarenta e cinco arti ...
gos, que os Taballiaães fazem eíl:ormentos de quita-
çom, e que façam de feus corpos o que quizerern.
A ESTO mandam os, que os Tabellia és façam ef-
criptura s de perdoam ento de tempo paffado; e quan-
to he do que ha de vynr , ou que façam de feus cor-
pos o que quizerem , que o nom façam fob pena de
perderem ho Officio.
Q.2 AR-
124 LrvRo SEGUNDO TITULO SrTIMo

A R T I G o XXXXVI.

J TEM. Ao que dizem aos quarenta e feis artigos,


em que dizem, que defende aos Taballiaães, que nom
façam efcripturns, nem contrautos, em que fe os Lei-
gos obriguem a refponder per-ante os Juizes Ecle-
fiaíl:icos ; e aífy nom confente EIRey , que o Leigo
rdponda per auçom pdfoal per-ante o Juiz Eclefiaf-
t1co.
A ESTO refponde ElRey, que aos Taballiaães nom
postal defefa : verdade he, que defende aos feus Lei-
gos , que defpois que for acabado o tempo da renda,
que traz da Igreja, ou o tempo, que ha de trazer al-
gúa poffüfom della, que fe o demandarem, que nom
refponda per-ante o Juiz Eclefiaíl:ico, porque affy fe
deve fazer de direito, e he artigo antre EIRey, e a
Igreja.
A R T I G o XXXXVII.

JTEM. Ao que di2em aos quarenta e íete artigos,


em que dizem, que elle mudou muitas vezes as moe-
das , poendo-lhes as vallias muito em feu prejuízo.
A ESTO refpotide ElRey, que elle fez em foas
moedas o que entendeo por feu ferviço, e bem da fua
terra, e a elle perteence de fazer, e mudar, e lhe poer
as vallias , que elle entender por boo eíl:ado de fua
terra, e a elles nom perteence eíl:o, nê devem em tal
coufa fallar : e quanto he na parte da paga , ja tem re-
poíla no outro artigo. A R-
Dos ART. ANTRE ELREY D. JoHAM, ETC. 125

A R T I G o XXXXVIII.

ITEM. Ao que dizem aos quarenta e oito artigos,


em que dizem que por qualquer delito, ou injuria ,
ou delapidaçom manda citar os Prelados, e Dom Ab-
bades per-ante fy, e os condapna, e eixecuta , aíly
como fez a Dom Abbade d 'Alcobaça.
A ESTE artigo refponde E!Rey, que tal coufa, co-
mo eíla , elle nunca a fez a Prellado nenhuú , nem a
Abbade Beento: e quanto he ao que dizem de Dom
Abbãde d'Alcobaça, elle.s nom teem de fazer com
eíl:o , porque o Moeíl:eiro he feu , e elle fará delle o
que quifer ; e já fobre eíl:o tem efcripto ao Padre
Santo, e com feu acordo fará o que ouver de fazer.
E ao que dizem, e pedem que quando eíl:o houver de
fazer, que fe faça per via hordinaria, porque d'outra
guifa entendem que he carrego de confciencia: dizem
bem.
A R T I G o XXXXVIIII.

ITEM. Ao que dizem aos quarenta e nove artigos_.


em que dizem , que manda citar os Prelados, e feus
Vigairos por qualquer coufa, em que toma vontade,
e fazem cuílas , e tomam trabalho , e os condapnaõ ,
e íe os nom citam per cartas abertas , manda-os vinr
per cartas farradas.
A ESTE artigo refponde ElRey, que eHe nom man-
da citar, nem chamar os Prelados, falvo quando he
por
I '.26 LIVRO SEGUNDO TITULO S.ETIMO

por algüas coufas , que fom de feu ferviço , e nos ca-


fos , em que devem feer citados, ou por alguãs cou-
fas, que compre de elle com elles fazer por bem do
Regno : e os Prelados fom theudos de virem a cha-
mado, e mandado do Rey quando os manda chamar
por feu ferviço , e affy he artigo antre os Reyx feus
anreceffores, e a Clerizia: e efcufado lhes tora poerem
tal palavra, ca per voontade os nom manda chamar,
fenõ com grande razom, e por coufas licitas.

A R T I G o L.
ITEM. Ao que dizem aos cincoenta artigos, em
que dizem, que manda enquerer fobre os Prelados
devaffamente , nom pertencendo a elle.
A ESTE artigo refponde ElRey, que elle nom man-
da tirar inquiriçoões nenhúas fobre nenhuús Prela-
dos, affy como elks dizem; pero nom he fem razom,
fe alguüs Prelados mal vivem, de elle mandar faber a
verdade fobre elles pera lhes dizer, que fe carregam,
e vivam bem, e como devem; e nom fe querendo cor-
reger, teer tal modo por ferviço de DEOS, e bem de
fua terra , per que fe corregam.

A R T I G o LI.
ITEM.Ao que dizem aos cincoenta e hum arti-
gos , em que dizem, que manda a todolos Clerigos
Sacerdotes , que andam em fua Corte , e maiormente
aos que fom efcriptos nos feus livros da cozinha, que
m-
Dos ART. ANTRE ELREY D. JoHAM, ETC. 127

índifiintl:amente no efirupo , e crimes , em os quaaes


fe demande civilmente, e em nas caufas civis , re[-
pondam perante fuas Juftiças , e poíl:o que os outros
os queiraõ citar perante as Juftiças Eclefiafticas , de
cujo foro fom (a) Clerizia, por a dita razom (b) fom
embargados.
A ESTE artigo refponde ElRey , que elle nom
fez eíl:o de novo , mais os Reyx antigos fempre o aífy
coíl:umarom , e he razom, por que elles fom feus ,
e de fua caía , e elle os deve de caftigar , aífy como
o Padre feus filhos , fegundo he concheudo em huú
artigo delRey Dom Donis feito antre elle , e a Cleri-
zia , e de direito o pode fazer ; e elle nõ os tomaria
por feus Capellaães doutra guifa , no que elles mais
perderiam, que de os cafiigar: porem fobre eíl:o norn
lhes deu , nem entende a dar outra pena corporal.

A lt T I G o LII.
ITEM. Ao que dizem aos cincoenta e dous arti-
gos, em que dizem, que fe requerem, que lhes guar-
dem o Direito Canonico, logo fe as Juíliças queixam,
e aífobervã com ameaças , e com penas , e prifoões.
A ESTO refponde ElRey ,_ que elle fempre man-
dou guardar os Direitos Canonicos em feu foro , e
manda que fe guardem nos cafos , em que fe devem
de guardar; e quanto he aas outras coufas d'ameaças,
e prifoões , elle nunca tal coufa mandou fazer , e ef-
cu-
(,i) de (b) Juiies .A. e 'T. ] uizos S,
128 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

cufado fora de taaes palavras fe poerem em eíl:e arti-


go; e bem he de veer quanto lhes ElRey refponde
mais honeílo , que o que elles fallam.

A R T I G o LIII.
ITEM. Ao que dizem aos cincoenta e tres artigos ,
cm que dizem , que os coíl:rangem , que abfol vam
os efcúmungados , e que fe os nom querem abfolver,
penhoram-nos.
A ESTE artigo refponde ElRey, que elle nunca
tal coufa mandou fazer , nem manda , que fe faça ,
e fe lho alguem fez , que lhe digam quem o fez , e
que lho fará correger.

A R T I G o LIIII.
ITEM. Ao que dizem aos cincoenta e quatro ar-
tigos, em que dizem , que ameaçam as pefioas Ecle-
:fiaíl:icas , por referrarem os feitos das Igrejas , affy
como fezerom a Joham Garcia Vigairo de Bragaa.
A ESTE artigo refponde ElRey, que nom fabe de
tal coufa parte ; que fe o alguem ameaçou, que lhe
digam quem he, e que lhe fará direito.

A R T J G o LV.

ITEM. Ao que dizem aos cincoenta e cinco arti-


gos, em que dizem , que nom quer , que os lchacor-
vos andem demandando fem fuas Cartas , poíl:o que
as tenham dos Prelados, e que a elles praz de lhes
dar
Dos ART. ANTRE EtREY D. JoHAM, ETC. 129

dar lugar tam follamente que peçam em cafos honef-


tos, e que nom preeguem , nem chamem por coítran-
gimento os freigueifes.
A ESTE artigo refponde ElRey, que os Reyx fem-
pre o affy coíl:umarõ antigamen te , e ~lle ataa ora ; e
he artigo antre E!Rey , e a Igreja , ca fea coufa he a
elle confentir em fua terra taaes obras, como fe febre
eílo fezerom; porque alguús Prelados daõ Cartas por
certa prata , e dinheiros , que lhes por ellas daõ , por
fazerem eíl:es petitorios , e levarem os dinheiros, que
affy pedem ; e teem maneira de fazerem vinr os po-
voos per coíl:rangimento d 'efcõmunh om, que venhaõ
ouvir fuas pregaçoões , fendo elles peffoas leigas , e
cafados ; e nom os fazem vinr a eíl:as preegaçoões >
fenom por elles, querendo efcufar eíl:e coíl:rangimen-
to, peitarem do feu , e affy deílruuem a terra; o que
nenhuús boõs Prelados nom outorgam , nem querem
que os aja em feus Bifpados , mais fazem-nos alguús
com cobiça de dinheiros fem outro dezejo boõ de fer-
viço de DEOS , e daõ os cafos Pontificaaes , pelos
quaaes abfolvem affy de inceíl:o, como d'adulteri o, e
outros cafos por dinheiros. Porem fe elles quizerem
mandar pedir per algúa coufa, que feja honeíla , e
per tal peffoa , e nom chamar freiguefes per tal cof-
trangimen to , nem fazer preegaçoões , fenom pedir
fimpresme nte , como devem , he bem que o poffam
fazer fem fuas Cartas ; e fe d 'outra guifa ho fezerem ,
nom o confentirá , e mandará que os prendam.
Liv. li. R A R-
130 LIVRO SEGUNDO TITULO SE.TIMO

A R T I G o LVI.

ITEM. Ao que dizem aos cincoenta e feis artigos,


em que dizem, que defpois que manda prender os
Clerigos d'Ordeés meores, manda-os entregar a ou-
tros Juizes Eclefiaíl:icos, de cuja jurdiçom nom fom.
A ESTE artigo refponde ElRey, que elle nom man-
da tal coufa fazer, mais que as íuas Juíl:iças quando
veem que alguú Prelado he fofpeito , e lhe haõ d.'en-
tregar alguú Clerigo d'Ordeés meores , a Juíl:iça fe-
cular lhe efcrepve , que remeta aquelle Clerigo a ou-
tro Bifpo, pois que elle he fofpcito: e eíl:o fe faz por
fe fazer direito , e elles de boa conciencia nom lhes
devia defprazer deílo: e manda aas fuas Juftiças ,
que em efcrepver aos Prelados tenhaõ licito, e ho-
neílo modo.
A R T I G o LVII.

ITEM. Ao que dizem aos cincoenta e fete artigos,


em que dizem, que pooem Taballiaães nas audien-
cias dos Vigairos, e levam as gaanças dos feus Ef-
cripvaães , podendo elles fazer em fuas audiencias
taaes Notairos , e Efcripvaães de direito.
A EsTo refponde ElRey, que elle achou em direi-
to , que aily o devia fazer , porque nenhuú nom po-
de fazer Taballiaães em fua terra, falvo elle : e defto
foi já duvida antre E!Rcy Dom Donis, e o Bifpo de
Lixboa, que entom era , e foi dada fentença pelos
Jui-
Dos ART. ANTRE ELREY D. JoHAM, ETC. I3r

Juizes, que ElRey os pozeíle; e ElRey Dom Donis


mandou eíl:o veer em Bolonha a Leterados , e acha-
rem que elle os devia de poer, e aífy os ouve fempre
ataa agora: e manda que nos lugares, honde fe fem-
pre acuíl:umou d'eílarem, que íl:em.

A R T I G o LVIII.

ITEM. Ao que dizem aos cincoenta e oito artigos,


que nos cafos, em que era duvida da Jurdiçom, pof-
to que no libello pofeílem taaes qualidades , que a
jurdiçõ perteencia aa Igreja , nom queria confentir
que os Leigos refpondeifem per-ante o Juiz Eclefiaf-
tico, fem fazendo ante com effe Juiz fúmario conhe-
cimento.
A ESTO refponde EIRey, e de confentimento dos
Prelados lhe praz, que hi nom haja fúmario conheci-
mento, e fe guarde o rigor do direito , e fe tenha em
efio efta maneira ; a faber , fe o Clerigo citar Leigo
per-ante o Juiz Eclefiaílico por roubo , ou força , ou
outro femelha vel cafo , poendo tal qualidade contra
elle, per que de direito deva de refponder per-ante
elle, que fe o Clerigo tal qualidade nom provar, que
feja logo condapnado o Clerigo em ourro tanto , co-
mo o que demandava, e feja pera a pane demanda~a
com as cuftas , que fobr'ello fezer ; e bem affy íe fa-
ça no Leigo, que fe demandado for por coufa da Igre-
ja, e elle declinando o foro diífer, que a coufa he fua,
e nom da Igreja, o Juiz Eclefiaílico remeta-o logo
R2 ao
132 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

ao Juiz fecular ; e fe fe provar per-ante elle , que a


coufa he da Igreja , que o Leigo demandado feja lo-
go condãpnado em outro tanto , quanto elle deman-
dava , e mais nas cuftas; e feja todo pera a parte,
que demandar , a fora o principal , que fique pera fe
julgar a cujo for, e perteencer de direito : e que em
eíl:es feitos nõ aja mais que húa appellaçom no Re-
gno , a faber , do Juiz Eclefiaíl:ico pera o Bifpo , ou
Arcebifpo, e do fecular pera ElRey.

A R T I G o L VIIII.
ITEM. Ao que dizem aos cincoenta e nove arti-
gos, que fe alguü Leigo demanda outro por algúa
herdade d'algúa quintaã , que traga emprazada da
Igreja , que diz, que lhe forçou algúas coufas das per-
teenças della, nom confente, que o demandem per-
ante o Juiz Ecclefiaíl:ico, poendo-lhe pena.
A ESTE artigo refponde ElRey , que per direito
affy o deve fazer , porque elle he Juiz das forças ,
rnaiormente que eíles fom ambos Leigos , e da fua
jurdiçaõ , e per tal demanda nom fe denega o direi-
to, que ha d'aver a Igreja.

A R T I G o LX.

Ao que dizem aos feffenta artigos , em que


ITEM.
dizem , que coíl:rangem as Jufliças, que lhe entre-
guem os proceffos, quando alguú Leigo he deman-
dado, e he duvida a quem perteence a jurdiçom, e
prende os Efcripvaães, A
Dos AR T. ANTRE ELREY D. JoHAM, E Te. 133

A ESTO refponde ElRey , que elles devem efio de


fazer quando as fuas Juíliças requerem aos feus Viga-
rios, que lhes enviem os proceffos , ca aífy o fazem
as fuas Juíliças quando lhes os feus Viga rios reque-
rem , que lhos enviem ; ca em eíl:o húa jurdiçom de-
ve feer ajudada pela outra ; ca aífy dizem os Direitos
feus Canonicos, que huú braço deve d'ajudar ho ou..
tro, e aífy fom artigos antre elle, e a Clerizia.

A R T l G o LXI.

ITEM. Ao que dizem aos feífenta e hum artigos,


que manda coíl:ranger os Clerigos, que teíl:emunhem
per-ante elle , e lhes poõe penas , fe nom teíl:emu-
nharem.
A ESTE artigo refponde EIRey que elle nom os
co!lrange , mas que lhes requere que venham teíl:e-
munhar nos feitos, em que nom ha pena de fangue ;
ca aífy o manda elle aas fuas Juíl:iças , que quando
lhes os feus Vigairos requererem , que teíl:emunhem
os Leigos per-ante elles, que vaaõ teílemunhar ; e
efio nom devem elles contradizer , ca nom ha hi di-
reito que o contradiga,. caem eíl:o as jurdiçoões ham
d'aver igualeza, e fe devem d'ajudar húa pela outra,
por fe fazer direito , e jufiiça ; e fe for cafo de pena
de fangue aos Sacerdotes, e Beneficiados, e Clerigos
folteiros , nom os coílrangerá.
134 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

A R T I G o LXII.

ITEM~Ao que dizem aos feífenta e dous artigos,


que manda, que os Clerigos paguem nas pontes, cal-
çadas , e fontes , e os coftrangem, e penhoram frm
licença de feus Prelados , e affy para outros encarre-
gas.
A tsTE artigo diz ElRey , que elle pode efto fazer
per direito, que taõ laudavel coufa como efta he, ne-
nhúa pcffoa , poíl:o que feja Eclefiaflica , nom deve
feer efcufada; e he artigo entre os Reyx que ante elle
foram, e a Clerizia: e porem nom ham, por que fe
agravar de tal coufa , pois fe elles logram dellas , e
fom bõas, e honeftas , e affy fe moftra per direito
que fe deve de fazer. E ao que dizem que mande aas
Juíliças geeralmente, que façam guardar o dito arti-
go, mandamos, que lho façam em todo guardar em
os caías , que o artigo dá poder pera ello.

A R T I G o LXIII.
Ao que dizem aos feífenta e tres artigos,
ITEM.
que toma as Olfertas , e Miffas dos Efpritaaes , e os
dá pera * poufarem (a) * em elles os prefos , e ca-
deas , lançando os pobres fora.
A ESTE artigo refponde E!Rey, que nom ha mef.
ter repofta , porque já vai em cima aos trinta e nove
artigos. E quanto he dos prefos, e cadeas, que pooem

------------------
em
(a) aprcíoar CZ:
Dos ART • .ANTRE ELREY D. JonAM, ETc. 135

em elles , dizem bem, e manda , que affy fe faça que


os nom ponham , falvo quando for em tal lugar , e
neceffidade, que fe d'outra guifa nom poffa hi ai fa-
zer; e elle manda aos Corregedores da Corte , e das
Comarcas que aífy o façam.

A R T I G o LXIIII.

ITEM. Ao que dizem aos fefienta e quatro arei ..


gos, que coftrangem os Cafeeiros, e mancebos , que
moram no circuito ( a) das Igrejas, pera todolos ou-
tros encarregas, e lhes tomam os filhos.
A ESTO diz ElRey , que quanto he aos que mo-
ram no circuito das Igrejas, nom ha direito , que os
efcufe ; e quanto he dos Cafeiros, e dos coutos, já
teem a * repoíl:a (b) •

A R T I G o LXV.

ITEM. Ao que dizem aos feífenta e cinco artigos,


em que dizem que confente, e traz em fua cafa Ju-
deus Fizicos , e Celorgiaães , e lhes da Cartas que
uzem dos Officios.
A ESTE artigo refponde EIRey, e diz que aífy fa_
zem em Corte de Roma , corno elles bem fabem , e o
Papa deu dello letera aos Judeus, da qual aqui mof-
trarom o trelado, per que o poífam feer, aa qual El-
Rey em muitas outras coufas nom quiz dar favor, po-
lo entender por ferviço de DEOS, e bem de fua terra.
A R-
(~J e couto T. (b ) rcprica . A.
136 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

A R T I G o LXVI.

ITEM. Ao que dizem aos feífenta e feis artigos,


que priviligia os Judeus contra o Direito Canonico,
e lhes da licença , que nom tragam fignaaes.
A ESTO refponde E!Rey , que elle faz eíl:o a taõ
poucas peffoas a refpeito do que fe faz per todas as
terras, e fe fez fempre em eíl:a, que he mais de lou-
var, que de reprender, porque nõ acharôm em todo
Regno dez Judeus.

A R T I G o LX VII.
ITEM. Ao que dizem aos feffenta e fete artigos,
em que dizem que lhes guardaífem o quarenta artigo
dos quarenta , que forom feitos em Corte de Roma ;
e que quando d'aqui em diante ouveffe de fazer
Hordenaçom , ou Hordenaçoões , e eíl:abelicimentos
por boo regimento do Regno fobre coufas prejudi-
ciaaes, de que poffa vir prejuízo, ou dãpno, ou prol
da terra, e boo regimento , e eíl:ado do Regno , que
os mande chamar, e as faça com feu acordo, porque
taaes Hordenaçoões , e eíl:abelecimentos affy fe de-
vem de fazer, de mais honde ElRey quer que per el..
las ajam de feer legados os Clerigos.
A ESTo diz ElRey , que quando alguãs coufas
grandes lhe ataa ora a vierom , e por outras coufas,
que comprem a boo eílado do Regno , e a feu fervi-
ço, fempre ufou de chamar os Fidalgos , e Prelados,
e
Dos ART. ANTRE ELREYD.JoHAM, ETc. 137

e povoo de feu Regno , e com feu acordo hordenou


o que entendeo que era bem , e que aífy o entende de
fazer daqui em diante , e os chamar quando enten-
der que compre, e vir, que as coufas foro taaes, que
devem feer chamados.

A R T I G o LXVIII.

ITEM, Aos feífenta e oito artígos, em que dizem


que os Judeus Rendeiros os citam per fy perante os
Juizes da fifa , e os faz é jurar.
A ESTo manda ElRey aos Juizes das fifas, que
quando virem , que alguú deve feer citado, que o
mandem citar pelo Porteiro do Officio, e defendam
aos Judeus que per fy os nõ citem.

A R T I G o LX VII II.

ITEM. Aos fcífenta e nove artigos, em que dizem


que defende , que os Clerigos nõ herdem os beés de
feus Padres, e Madres , e d'outros , que a elles veem
de direito.
A ESTO refponde ElRey , que tal defefa nom ha
hi, nem lhos embarga, com tanto que no~ fejam os
beés no Regueengo.

A R T I G o LXX.

ITEM. Aos fetenta artigos, em que dizem que


lhes manda citar os moços , e moças filhos de feus
lavradores , e dos feus coutos , que morem com os
Liv. II. S Fi-
138 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

Fidalgos, pola qual coufa fe deípovoram as fuas quin-


taãs.
A ESTO refponde EIRey, que elle defende em fuas
Hordenaçoões , que filho , nê filha de nenhuú lavra-
dor nom feja coíl:rangido pera morar com outrem ; e
manda que lhas guardem ; e fe alguú fezer o con-
trairo, traga Eíl:ormento com repoíl:a dos que os jul-
garem , e far-lhes-ham direito.

Dos agravos, que lhes faziam os Corregedores, e Mei-


rinhos , e JuJhras.

A R T I G o LXXI.

ITEM. Ao que dizem , que prendem os Frades, e


Clerigos com molheres folteiras , e os levam aas Ca-
deas , e os reem nas fuas prifoões.
A ESTO refponde EIRey, que elle n5 manda pren-
der nenhuú Clerigo, poíl:o que tenha barregãa, ou o
achem com algúa molher folteira ; e quanto he aos
Frades, fe os acharem fora dos Moeíl:eiros com algúa
molher , tornem-nos , e logo fem hirem aa Cadea , os
entreguem a feu Mayor, fe taaes oras forem, porque
affy lho requerem feus Mayores , que o façam polos
cafligarem ; nem os * teem em as (a) * prifooés fa_
graaes, falvo fe os feus Mayores o requerem aas Juf-
tiças fagraaes , que os tenham em fuas prifoões.

(11; ----------·-----
t-: nham mais prefos nas 'T.
Dos-ART. ANTRE E1REY D. JoHA.M, ETC. 139

A R T I G o LXXII.

J TEM. Ao que dizem que vaaõ ás cafas dos Cleri-


gos, e Beneficiados, e lhes tomam os penhores , e a.
delles defpem as fayas , e porque as nom querem Iei-
xar, dam-Ihe ao paao , e punhadas , e couces polas
penas , que as barregaãs ham de pagar; e eílo fazem
porque as penas fom dadas aos Corregedores ; e que
mandaffe fobre ello faber a verdade, e lhes nom man-
daffe bufcar as fuas cafas , como bufcam , porque hc
grande efcandalo.
A ESTO refponde ElRey, que elle nom mandou,
nem manda penhorar Clerigos nenhuús , poíto que
tenham barregaãs , nem lhes poz em fuas Hordena ..
çoõcs nenhuú mandado, que ouveffcm de pagar al-
gúa pena ; e fc lhas alguús levaram, e lhes eílo feze-
rom , diguam quem he o que lho fez, e far-lhes-ha
direito delles: e da pena, que ellc pooem aas molhe-
res , que fom leigas , e da fua jurdiçom , nom teem
elks em effo de fazer nada.

A R T I G o LXXIII.
ITEM, Ao que dizem que os Meirinhos, e Alquai ..
des fe metem pelos lugares, e fazem pedidos de pam,
e de vinho, e fe lho nõ querem dar, fingem que os
trazem em rool pera os penhorar por algüas dividas,
ou fingem contra elles alguãs outras coufas , e os
1meaçam.
S2 .A
140 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

A ESTO refponde EIRey que elle fempre defen-


deo, e defende que Alquaides , e Meirinhos nom fa-
çam taaes pedidos , nem ponham taes achaques , fob
certas penas contheudas em fuas Hordenaçoões ; e fe
lhes elles o contraira deíl:o fazem , gradecer-lhes-há
de lhe darem enformaçom quaaes fom os que o feze-
rom , e como fe pofia provar, pera elle faber a verda-
de , e lhes dar pena, e efcarmento.

A R T I G o LXXIIII.
ITEM. Ao que dizem , que lhes entram em fuas
caías, e Igrejas por as mancebas, e andam revolven-
do feus beés, e arcas, e nom dizem por que o fa-
zem , e entom fe vaaõ , fazendo-lhes em efto grande
InJuna.
A EsTo refponde EIRey, que tal coufa nunca man.
dou fazer , nem manda que fe faça; e manda , que
lhes nom bufquem, nem revolvaõ fuas cafas, e Igre-
jas, falvo avendo boa enforrnaçom certa, que elle
teem a barregãa dentro em fua cafa , ou em cada huú
deífes lugares, levando hi huú Tabelliam , ou duas
tefl:cmunhas dos vizinhos, que vejam como fe buf-
cam direitamente; e manda, que as prendam honde
quer que as acharem.

Dos
Dos ART. ANTRE ELREY D. JoHAM, tTc. 141

Dos agravos , que lhes fazem os Senhores , e Fi-


dalgos , e Concelhos.

A R T I G o LXXV.
ITEM. Dizem que defendem, e fazem Coníl:itui-
çoões, que nenhuuns nom vendam pam , nem vinho
a mercadores pera tirarem fora dos lugares , nem os
mandem fora a outros lugares pera os poderem ven-
der, e fe o fezerem , que o percam , e que fob efia
Coníl:ituiçom com prendem os Clerigos, e os deman-
dam.
A ESTO refponde ElRey ,que elle mandou ,e man-
da, que todalas viandas, e mantimentos fe corram de
húa terra aa outra, fal vo fe alguús Concelhos teem ef-
picial foro , ou privilegio, ou mandado feu efpicial ,
per que os nom poffam tirar; e em taaes lugares ,
bonde aífy teem tal defefa geeralmente , ou privile-
gio, ou cuíl:ume, elles o devem a guardar ; porque fe
eíl:o aífy nom foífe comprido, em vaaõ fe fariaõ quan-
tas Hordenaçoões fe fazem : e fe d'outra guifa os
Concelhos , ou Senhores fazem algúas outras defefas
de novo fem fua autoridade, manda que as nom guar-
dem.
A R T I G o LXXVI.

ITEM, Ao que dizem, que os Senhores, e Fidal-


gos lhes tomam fuas beítas pera fuas carregas, e pera
feus ferviços.
A
142. LIVR.O SEGUNDO TITULO S.ETIMO

A ESTo refponde ElRey, que elle nunca tal coufa


mandou fazer, nem manda que fe faça daqui em
diante aos Beneficiados , e Clerigos d'Ordeés fagras ;
e fe lho alguem fez, ou fezer, que lho requeiram a el-
Je, ou aas fuas Juíl:iças, e que lho fará mui bem cor-
reger: falvo fe andarem ao gaanço, cá em eíl:e cafo
aquelles Fidalgos , que per direito, ou efpicial man-
dado d'ElRey as ouverem d'aver, ajam-nas aífy co-
mo dos outros.

A R T I G o LXXVII.
ITEM. Ao que dizem~ que vagando-fe os Benefi-
cias , e ainda que nom feja letigio fobre elles , que os
Senhores das terras tomam as pofles delles , e os teem.
A ESTE artigo refponde ElRey, que aa petiçom
dos Prelados elle fez húa Hordenaçom , em que fom
dadas graves penas aos que taaes coufas como eíl:as
fazem, a qual elle fempre guardou , e mandou guar-
dar , e já muitos foram Por ello penados; e porém fe
lhes alguús eíl:o fazem, e elles fe nom agravam , nom
ha elle culpa , porque agravando-fe elles , elle lhes
mandará fazer direito , e juíl:iça. E pera fe eíl:o bem
guardar, tenham elles tal maneira, que nom agra-
vem os Padroeiras , e lhes mandem tornar as poífes :
e íe ouverem de poer Iconimo, ponham-no natural
da terra , e fem fofpeita: e nom mandem dar os frui-
tos , atee que o feito feja determinado per fentença
definitiva , porque fe d'outra guifa o fezerem , d'huú
.inconveruente fe feguirá outro. A R-
Dos ART. ANTRE ELREY D. JoHAM, iTC. 143

A R T I G o LXXVIII.

ITEM. Ao que dizem, que mortos os Bifpos, e


Prelados , Abbades , e Reitores, os Fidalgos , e Ef-
cudeiros fe vaaõ aas Igrejas , e roubam-nas do que
teem ; e affy fazem como os veem doentes , e ante
que moiram ; e pero fe queixarem a alguas Juíl:iças ,
que lhes nõ foi feito direito.
A ESTO refponde ElRey pela Ley fufodita : e fe
algúa Jufiiça pera ello foi requerida , nom foi elle ,
porque fe o elle fora , mandára-lhes fazer direito ; e
fe eíl:o a alguús fezerom , digaõ quem lho frz, e far-
lho-ha correger.

A R T I G o LXXVIIII.

ITEM. Ao que dizem que lançam muito a miude


os Fidalgos, e Senhores pam aos Abbades, e lhes fa-
zem pagar grandes portageés , e outras muitas vcxa-
çoões , e lhes tomam galinhas , e os fazem hir por le-
nha.
A ESTo refponde ElRey que fempre eíl:as coufas
per elle foram defezas , e fe lho alguem fez , ou fe-
zer, que lho façam faber , e elle lho fora correger;
falvo em aquelles cafos, e em aquellas Igrejas, que
de foro , ou de cuíl:ume alguus Fidalgos de direito o
devem d'aver: e fobre eíl:o fique guardado a elles , e
aas Igrejas, e Moeíl:eiros feu direito.
144 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

AR T I G o LXXX

ITEM. Ao que dizem que os Fidalgos , e Senho-


res poufam per muitas vezes nos Moefteiros , e Igre-
jas , e lhes tomam galinhas , e carneiros , e outros
muitos mantimentos.
A EsTo refponde ElRey que feínpre o defendco ,
e defende que fe nom faça, falvo fe alguús teem di-
reito d'averem alguãs tomadas, ou comedorias; e fo_
bre efto fique a elles , e aas Igrejas , e Moeíl:eiros
guardado feu direito ; e fe alguús lhe fezerom alguu
dos ditos agravamentos, digam-no a ElRcy, e quaes
fom , e fazer-lho-á correger.

A R T I G o LXXXI.

ITEM. Ao que dizem que roubam os Abbades, fc


dclles ham queixume, do pam, e do vinho, e do que
teem.
A ESTO refponde ElRey , que fe alguús hi ha, que
lhe taaes coufas, como eíl:as, fazem , que lho diguam .a
e que elle lho fará mui bem correger , e manda aos
Corregedores , que lhes façam direito , e juíl:iça.

A R T I G o LXXXII.
ITEM. Ao que dizem, que nõ leixaõ os Porteiros
das Igrejas , e Officiaaes citar feus obrigados por di-
zimas , e dividas , &e.
A EsTo refponde ElRey, que elle nom manda tal
cou-
Dos ART. ANTRt ELREY D. JoHAM, tTc. r45

coufa , ante lhes manda dar fuas Cartas , que os feus


Porteiros dados per Cartas d'EIRey citem , e penho-
rem , e cofirangam por fuas dividas quaaefquer de-
vedores; e fe os alguiís ataa ora embargaarom , que
nunca fe a elle agravaarom , nem o requereram; e
efio nom fe entenda em alguús lugares, onde he ufan-
ça, e fempre fe ufou em contraira·, de nom feerem hi
penados , nem citados.

A R T I G o LXXX[II.
ITEM. Ao que dizem , que fazem Hordenaçoões,
que qualquer, que trouver vinho, ou o tirar, ou levar
fora do termo fem licença , que o perca ; e fazem eíl:o
guardar affy aos Clerigos , como aos Leigos.
A -ESTE artigo nom compre repoíl:a , porque já a
leva em cima em outro artigo primeiro deíl:e titulo.

A R T I G o LXXXIIII-
ITEM, Ao que dizem, que alguús Cavalieiros, e
Fidalgos pooem em fuas terras empofiífoões novas,
aífy como Joham Alvares Pereira, que manda que os
Rendeiros , que arrendam , ou compram as rendas
das Igrejas, que lhe paguem outro tanto, quanto pa-
gam de fifa.
A ESTo refponde ElRey, que o nom há por bem
feito, e manda que Joham AI vares Pereira feja logo
citado , e fe venha efcufar deíl:o.
EsTES artigos ataaqui forom concordados, e a[-
1.Jv. IL T fi-
r +6 LIVRO SEGUNDO TITULO S.ETIMO

fignados pelos Prelados entendendo , que vaaõ beem


as rcpoflas a eiles dadas per ElRey. Feitos em Sanea-
rem no Moeíleiro de Sam Domingos a trinta dias
d' Agoíl:o anno d.o Nafcimento de Noffo Senhor JESU
CHRISTO de mil e quatrocentos e vinte e fetc annos.

EsTES nom quiferom aílinar, mas cm fua prefen-


ça delles E!Rey determinou de querer ufar per cfla
guifa a jufo contheuda ao pee de cada huú artigo, e
elles ainda que os nom ailinaífem, ficaarom aífy con-
cordados com EIRey, que fe dccecrom da demanda 1
que andava cm Corte de Roma fobre eíles artigos.

A R T I G o LXXXV.
O PRIMEIRO he que ElRey manda dar Cartas aos
cfcúmungados, que os povos os nom ajam, nem evi-
tem por efcúmungados, nem os prenàam, nem Ie..
vem delles as penas , pola qual razom eílaó em pec-
cado mortal, e em elle marrem.
A ESTO refponde EIRey , que antiguamente os
Reyx dcíl:es Regnos acharem, que os Prelados efco-
mungavam algúas peífoas em os cafos, em que nom
eram Juizes de direito , ou quando eflavom apella-
dos ; e eflo faziam por cflender fua jurdiçom, e pro-
cedeerem per voontade, e nom per direito. E pera
poer a eíl:o remedi o foi por clle detcrm inado com os
Prelados de feus Regnos de fe darem Cartas, que os
nõ evitem as Juíl.iças feculares em feus Juizos, nem
os
Dos ART, ANTRE ELREY D. JoHAM, ETC. 14 7

os prendam , nem levem delles penas d'efcumunga-


dos, fegundo he contheudo em feus artigos, e Hor-
denaçoões ; e fempre fe ufou deíl:a guita , e affy en-
tende, que compre por ferviço de DEOS, e bem de
fua terra de fe fazer nos cafos contheudos no dito ar-
tigo ; e nos cafos, em que fe nom devem de dar, d-
le defenderá que fe nom dem. Porem fe ElRey vir
em alguús cafos, que he bem d'efcrepver aos Prela-
dos , ou aos Vigairos , elle lhes efcrepverá ante que
dem fuas Cartas , que o corregam, ou lhe moíl:rem
como procedeerom , como deviaõ , * em nas (a) *
Cartas rneefrnas , if em que (b) * podeerorn poer as
razoões fufo ditas; porque fazendo-fe d'outra guifa,
feguirfia grande prejuizo aos quedam taaes Cartas ;
e quando vir que lhe compre efcrepver-lhes, efcre-
pverá em duas Cartas corno elles requereram. E efto
fará ElRey fegundo os Prelados efteverem alongados ,
ou chegados donde elle eíl:ever.

A R T I G o LXXXVI.

O SEGUNDO he, que torna conhecimento antre


Clerigo, e Clerigo , quando alguú Clerigo demanda
outro Clerigo , dizendo que o forçou do Beneficio , e
fruitos, e novos, e rendas, e que affy toma conheci-
mento do Clerigo , fe o demandam que fez força a
outro Clerigo , ou Leigo.
A ESTo refponde EIRey, que cuíl:ume foi fempre
T2 em
(.i l ou em as (b) lhe A.
148 LIVRO SEGUNDO TITULO SET\MO

em efie Regno , e he, que das forças novas que fom


feitas ataa huú anno, ainda que fejam antre Clerigo ,
e Clerigo , e fobre coufas Eclefiaftic as, fe aquelle ,
que he forçado, o quer citar per-ante o Juiz fecular,
que o pode fazer, e o Juiz fecular tomar conhecimen..
to de tal feito ; e aífy quando fe o Leigo queixa do
Clerigo , que o forçou, ElRey, ou as (uas Juftiças fe-
culares tomarôm deífe feito conhecimento deífe dia
que o forçou ataa huú anno, e paífado o anno, de-
mande-o per-ante feu Juiz : o qual cuftume he ef-
cripto no livro das Hordenaçoões antiguas , e ainda
he conforme ao Direito Canonico.

A R T I G o LXXXVI I.
O TERCEIRO he, que fe cmpetram leteras Apofto-
licas pera Beneficios , ou pera fuas demandas , ou
ham fentenças fobre Beneficios, nõ fom oufados· de
as pobricar pala defefa , e pena da Hordenaç om do
Regno, ataa que hajam Carta de licença d'ElRey; e
que ante que a ajam, lhes fazem citar as partes, con-
tra que fom, pera dizerem contra as ditas leteras do
feu direito per-ante a Juftiça fecular; o que he contra
direito conhecer dos autos da Igreja , e fobre fenten-
ças , e feitos do Papa; e conhecem de forreiçom , e
falfidade.
A ESTo refponde E!Rey, que eHe nom fez efta
coufa de novo, ante fe acuftumou affy fempre em
tempo dos Reyx, que ante elle forom antiguame nte;
e
Dos ART. ANTRE ELREY D.JoHAM, ETC. 14~

e efto he mais por confervaçom da jurdiçom, e liber-


dade da Igreja, que em feu prejuízo, por manteer
aquelles , que eftaõ em poífe de feus Beneficias , e
nom lhes feer feita força per alguús refcriptos falfos,
ou forreticios que a miude vem : e ainda porque po-
deria feer que viriam alguãs leteras em prejuizo do
Rey. E porque achou, que fempre fe aífy ufou, e que
nom hia contra liberdade da Igreja , ante era em feu
favor, mandou, que aífy fe guardaífe; e affy o enten-
de daqui em diante guardar; e affy fe guarda nos ou-
tros Regnos, e Terras: e que a Hordenaçom, e ma-
neira , que em efto tem, he boa, e eíl:o nom perteen-
ce a elles.
A R T I G o LXXXVIII.

O Q.YARTO he, que citam os Clerigos por folda ..


das, e braçageés perante o Juiz fecular, e polas cooi-
mas per-ante os Almotacees, e os julgam , nom os
querendo remeter ao Juiz Eclefiaíl:ico.
A ESTO refponde EIRey, que efio fe ufou fempre
em tempo dos outros Reyx antigos feus Anteceffo-
res, e que em efto nom ham por que fazer ennova-
çoões , maiormente que efto he em feu favor, mais
que em feu dãpno; e fom cuíl:umes do Regno anti-
gos , e artigos antre os Reyx , e Concelhos , e Pre-
lados.
r 50 LrvRo SEGUNDO TITULO SETIMO

A .R. T I G o LXXXVIIII.

O QYINTO hc , que fe algúas herdades , quintaãs,


cafaaes , e poffiífoões forom leixadas a alguú Mocf-
teiro, ou Igreja, que fe as nom vender ataa huú an-
no , que as perca ; e fe as nom demandarem os mais
chegados parentes ataa tempo certo, fiquem por d'El-
Rey ; e pediam que confemiffe que pera Capeellas, e
Aniverfairos pudeífem os Leigos , e Clerigos leixar
defies becs o que lhes prouver.
A ESTO refponde ElRey, que todolos Reyx, que
ante eile foram , e ainda em Cortes foi efto hordena-
do , e prouve dello aa Clerizia, e nunca o contradif-
fc, entendendo por ferviço de DEOS, e bem, e prol
da terra ; e que pois que os Reyx antigos efi.o feze-
rom , e hordenaarom , que porem elle nom entende
em ello mais de ennovar, e elles o nom devem aver
por mal: porem que a eile apraz, que pera Aniver-
fairos , ou Capeellas poffam leixar a alguú Leigo, per
que poífa mandar cantar em tal guifa,que os beés fi-
quem fempre profanos, e da Jurdiçom d'EIRey, e
obrigados aos encarregos , e tributos noífos , e do
Concelho, affy como eram ante que leixados foffem.

A R T I G o LXXXX.
O SEXTO he que nas apuraçoões, e armadas , que
fe fazem nos Regnos tomam os Cafeeiros , e Colo-
nos, e tiram-nos das Igrejas, e priviligiam os dos Fi-
dal-
Dos ART. ANTRE ELREY D. JoHAM, ETC. I 51
dalgos , Efcudeiros, e Vaffallos , pola qual razom fe
lhes perdem fuas herdades , e nom acham quem lhas
queira lavrar, e aproveitar.
A ESTo refponde ElRey, que he artigo feito an-
tre os Reyx antigos , e a Clerizia em Corte de Roma,
que nenhuús Cafeeiros, e Lavradores dos Clerigos
nom fejam efcufados, e ainda o Direito Comrnum
aífy o quer. E ao que dizem que efcufam os Cafeei-
ros dos Fidalgos, e Efcudeiros , e Vaífallos, e que
nom efcufam os dos Clerigos, eíl:o nom he affy ; e
que affy foffe, nom feria fem razom, porque os Fi-
dalgos, e Vaffallos fervem continuadamente ao Rey ,
e ao Regno per feus corpos , e com fcus homeés , e
beés , o que os Clerigos nom fazem , e porende os
Cafeeiros, e Lavradores dos Fidalgos, e Vaffallos,
aveerem taaes privilegias , he raz.om ; e quando os
Clerigos fervem , affy lhes guardam os feus, como os
dos Fidalgos, e Vaffallos. E ao que dizem , que lhe
pedem por merece , que os efcuz.e , aífy como os dos
ditos Vaffallos, diz E!Rey que elle os efcuzará quan-
do, e a quem fua merece for em efpicial; e fe alguús
tem privilegies, que lhos moftrem.

A R T I G o LXXXXI..

O SETIMo he que elle, e os Senhores do Regno


lhes fazem grande opreffom , e força aas Igrejas, to-
mando-lhe, e mandando-lhe tornar a po!Te das her-
dades, e cafaaes, de que efiaõ de poffe de longo tem-
po;
I 52 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

po ; e quando lhes entregam , nom lhes entregam os


fruitos, e fuas novidades, dizendo que fom Regueen-
gos, &e. e pedem que os nom mande esbulhar, e o
que eíl:ever cm poffe , que o mande * eíl:ar , e (a) •
que venha moíl:rar feu direito, e aos esbulhados man-
de reíl:etuir.
A ESTO refponde ElRey , que nom tomou , nem
manda tomar nenhuús herdamentos, falvo aquelles,
que fom nos feus Reguengos; e fe os Clerigos nom
moíl:ram nenhuum titulo, per que lhes fejarn dados,
ou efcaimbados, ou vendidos pelos Reyx, e elles nom
podem no feu Regueengo gaançar nenhúa coufa,
nem beés nenhuús, elle lhos póde tomar , ca o arti-
go , que he feito em Corte de Roma antre os Reyx ,
e a Clerizia , affy o quer , e ainda o Direito Cõmuú
affy o manda : e pois fabem , que hy ha tal artigo ,
nom deveeram eíl:o a dizer. Porem manda elle, que
fe tenha eíl:a maneira, que d'aqui em diante Veedor,
nem Almuxarife, nem outro nenhuú nom tome, nem
ponha maaõ em tomar nenhúa deíl:as coufas, falvo
per efpicial mandado feu , ou do lfante ; e dos que
fom tomados ataagora , que diguam quaees fõ, e
quem os tomou , e requeiram a ElRey , ou ao lfante,
e elle lhes fará dar defembargo , como for razom , e
direito.

(11) citar S, e T,
Dos ART. ANTRE ELREY D. JoHAM, ETc. 153

A R T I G o LXXXXII.

O OITAVO he, que toma conhecimento dos vo-


dos , que fom devudos a Santiago , perteencendo a
Bragaa , e a outros Bifpados, avendo d'aver a Igreja
o conhecimento afiy per direito , como per fentenças
dadas pelos Reyx, dando cartas , que os abfol vam , e
os nom coíl:rangam , * aos (a) • q uaees ham de pa-
gar, &e. e que a elles Prelados prazia, que paguem ,
como fempre pagaarom fem outra ênovaçom algúa;
a faber, o que muito pagava, aífy pague , e o que
pouco pagava, aífy pague, e o que nom pagava, que
nom pague, ou paguem todos pelo Foral, e medidas
donde, e pela guifa, que o prometeerom.
A ESTO refponde E!Rey, que elle nom embargou,
nem embargará ao Arcebifpo de Bragaa, e ao Bifpo
do Porto d'averem os vodos, corno fe direitamen-
te devem levar; mais por quanto elles querem meter
foros, e cuílumes novos, e geernaes em prejuízo da
terra, e do povoo, que elle o nom quis confentir,
nem confentirá , porque theudo he de defender feu
povoo de todo mal, e deíl:ruiçom , que lhe queira feer
feito , e muito mais no que elle conhece ícer feito
contra direito: e pelas obras, que o Arcebifpo cm
eílo começava de fazer fe defpovoravam alguãs ter-
ras : e nom temendo elle DEOS , nem conciencia ,
fez huú novo coílrangimento fobre eíl:a coufa fobre
Liv. II. V al-
(a) os
----------------
1 54 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

algúas terras , e porque lhe nom quiferom pagar o


que lhe nunca pagaarom , pos em elles entredito em
tempo de grande peíl:enença , pola qual razom fe
morrecrom muitos homeés fem * menfeíl:o (a) • , e
fem outros Sacramentos, e ainda moços fem Bautif-
mo, fegundo elle foi certificado: e nunca o Arcebif-
po dello quife ceífar, ainda que foubeífe, que fe efies
males feguiam dello, ataa que o Ifante o fez chamar
per-ante fy ,e lhe fez moíl:rar como demandava o que
nom era direito, e elle fe conheceo que era affy, e fe
d~ceo da dita demanda, o que nunca fezera, fe elle,
e o I fante nom tornaarom a ello: e affy como fez em
eíle cafo, affy o fez em outros , ennovando cada dia
fobre o que antigamente fc cuíl:umou , pola qual ra-
zom convem a el de tolher , que nom ufc contra di-
reito de todo comprimento de fua vontade em prejuí-
zo do feu povoo : e eílo fez por ferviço de DEOS, e
bem de fua terra, e perteence ainda a elle de tornar
fobre os agravos, que o Arcebifpo fezer a alguãs pef-
foas, por quanto clle nom tem outro fuprior em eíle
Regno ; e por ende elle de direito , e cuílume pode
tornar aas coufas mal feitas , que elle fezer contra o
feu povoo , e a eíl:o tornará como lhe perteencer : e
pera os feitos deíl:es vodos virem a boa fim, elle man-
dará faber como fe ufou , e fallará com o povoo, e
entom lhe dará finalmente repoíl:a ao que ora reque-
rem;
(a) confúfam A,
Dos AR T. ANT RE ELREY D. JoHAM , ETC. I 55
rem ; e eíl:em em tanto , como ora eíl:am ataa huú an ..
no., e aífy lhe dara Carta, fe * quiferem (a) •

A R T I G o LXXXXIII.
O NONO he , que toma conhecimento , e j urdi-
ç-om dos leguados, e eixecuçom dos teíl:amentos, que
norn fom compridos, e os miniíl:ra ,e dá, do que per-
teence o conhecimento aa Igreja, e he contra o Di-
reito Cúmuum, e faz por ello demandar os Clerigos,
e peffoas Ecclefiafücas per-ante os Juizes Leigos dos
Refidoos: e pedem , que lhes guardem o vigefimo
nono artigo feito em Corte de Roma , e o Direito
Cõmuú , a faber , que o primeiro, que o ocupar, eífe
aja o conhecimento.
A ESTO refponde ElRey., que os Reyx feus ante-
ceffores , e elle fempre efieverom em poífe de diílri-
buir todolos refidoos dos teílamentos, e per Direito
Comuú aos Reyx he dado de os deíl::ribuirem, por-
que os Reyx feus anteceffores, e elle ocuparam fem-
pre todolos refidoos, e poferom hi Officiaaes , a fa-
ber, Juizes, e Procuradores., e Efcripvãaes , e fem-
pre fe cuíl::umou ataa ora de o affy fazerem ; e ainda
per effe artigo affy foi determinado, e elle o guardará
como tem em cuíl:ume. E ao que dizem , que faz de-
mandar per-ante as fuas Juíl:iças os Clerigos, e pef-
foas Eclefiaíl::icas polos refidoos : diz ElRey , que tal
coufa nõ manda fazer, e que lhe praz , que dos tef-
V2 ta-
------------------ -
(1t) a quiíc. /4
156 LIVRO SEGUNDO TITULO SETIMO

tamentos dos beés dos Clerigos , de que outros Cleri-


gos fom Tefiamenteiros, que os Prelados tomem dei-
lo conhecimento.

A R T I G o LXXXXIIII.
O DECIMo he, que indiftintamente dá fuas Cartas
aas peffoas Eclefiafücas fobre beés, e Bene ficios Ecle-
fiafücos , que dizem, que apellam a futuro gravamine
pera Roma, pelas quaees manda aas Jufüças, que oo
mantenham em poffe , e os nom leixem forçar , nó
feendo chamado em ajuda de direito pela Juftiça
Eclefiafüca, e nom feendo a dita appellaçaõ a futuro
gravamine tanto aficax de direito : e pelas ditas Car-
tas fe dá aazo, que ajam, e tenhaõ Beneficio fem Ca-
nonica Infütuiçom.
A ESTo refponde ElRey pelo artigo allegado em
cima no primeiro artigo, e nom ha meíl:er outra re~
poíl:a.
PER aqui fom acabados todolos artigos , que ataa
o prefente forom acordados , e firmados antre os
Reyx, que forom deftes Regnos , e a fua Clerizia.

T 1-
Dos QIJE SE COUTAM AA IGREJA, ETC. I 57

TITULO VIII.
Dos que J e coutam aa Igreja, em que rafas gouvirom
da imunidade de/la, e em quaaes nom.

A IMUNIDADE da Igreja ha lugar em qualquer


Igreja, ainda que nom feja fagrada, com tanto.
que feja edificada per autoridade do Padre Santo, ou
do Prelado, pera em ella fe celebrar ho Officio De-
vmo.
1 ITEM. Achamos per Direito Canonico, que a
Igreja foomente defende aquelle malfeitor, que tem
feito tal male.ficio, per que merece aver pena de mor-
te natural , ou cortamento de nembro , ou qualquer
outra pena de fangue ; e nom cabendo no maleficio
cada húa deíl:as penas, a Igreja norn ho defenderá ,
ainda que fe coute a ella, mais poderá o Juiz fecular
em tal cafo livremente tirar o malfeitor da Igreja , e
fazer delle jufüça , dando-lhe pena de degredo, ou
qualquer outra pena de dinheiro.
2 E SE o rnaleficio for muito grave , em que cai-
ba pena de morte, ou cortamento de nembro , ou
qualquer outra pena de fangue , poderá o malfeitor
feer tirado da Igreja pelo Juiz fecular, com tanto que
elle faça primeiramente fegurança ao Reitor da Igre-
ja, que fal vará ao dito malfeitor o corpo, e nembros,
e qualquer outra pena de fangue: e dada affy adira
[e-
158 LIVRO SEGUNDO TITULO ÜIT AVO

fegurança per o dito Juiz, poderá livremente tirallo


da Igreja, e dar-lhe qualquer outra pena de degredo ,
ou émenda de dinheiro em tal guifa , que o malfeitor
fique feguro, e falvo do corpo, e membro s, e de to-
da outra pena de fangue , como dito he.
3 SE a1guú Judeu , ou Mouro • ou qualquer ou-
tro Infiel fogir pera a Igreja , acoutando-fc a ella ,
nom ferá per clla defefo, nem gouvirá da fua imuni-
dade , porque a Igreja nom derende aquelles que
nom vivem fob a fua Ley , nem obedeecem a feus
Mandam entos : falvo fe elle fe quifer logo tornar
Chrifpta aõ, e de feito for tornado aa Fe de JEsu
CHRISTO , ante que parta da Igreja ; ca em tal cafo
poderá gouvir da immunid ade della aíly , e taõ com-
pridame nte, como fe ao tempo, que fe coutou aa
Igreja ,já fora Chrifpta aõ; porem mandam os que af-
fy fe guarde daqui em diante.
4 E EM todo o cafo , que o malfeitor com direito
deve feer coutado , e defefo pela Igreja fe elle fahiífe
della com proprofito de mal fazer, e o fezeífe , en-
tom nom gouvirá da imunida de da Igreja aífy no
maleficio ,que primeira mente fez ante que fofie acou-
tado , como no outro, que cometeo defpois que fe a
ella coutou.
5 ITEM. O que cometeo maleficio na Igreja de
propofit o, a vendo ante deliberado pera em ella alguú
mal fazer, ainda que fe coute a ella , nom ferá per
ella defefo, nem gouvirá da fua imunida de.
6 ITEM•
Dos Q.UE SE COUTAM AA IGREJA, ETC. r 59

6 ITEM. O teedor das eíl:radas , e caminhos, ou


que de propofito pooem fogo aos paães, ainda que fe
coute aa Igreja , nom ferá per ella defefo, nem gou-
virá da fua imunidáde. E ainda diíferom os Douto-
res, que todo aquelle, que de propofito , e infidiofa-
mente comete algua grave offenfa, ainda que fe cou-
te aa Igreja, nom ferá per ella defefo: e cfio achamos
per direito, que fe deve entender no maleficio , que
de propoíito he feito , principalmente por offender
outrem ; ca fe principalmente foífe feiro a outra fim,
e o malfeitor fe coutaífe aa Igreja , ja feria defefo per
ella. Pode-fe poer enxemplo no ladrom, que furta, e
no que comete adulterio com molher cafada , que
nom embargante que de propoíito, e deliberadamen-
te mal façaõ, fe aa Igreja fe acoutarem , gouvirom da
fua imunidade , porque fua teençom principalmente
nom foi de fazer a alguern offenfa, mais o propofito
principal do ladrom foi aver o alheio, e o do adulte-
ro fatisfazer ao carnal dezejo. E por tanto dizemos
que fe alguu homem roubaffe outro forçofarncnte do
feu , ou lhe tomaffe forçofamente fua molher, come-
tendo com ella adulterio, em taaes cafos, ainda que
o malfeitor fe coutaífc aa Igreja , nom gouviria da
fua imunidade: nom embargando, que achamos per
direito, que aquelle , que força molher virgem pera
dormir com ella, e de feito a corrompe , gouve da
immunidade della; porque aquelle, que forçofamen-
te toma a molher a feu marido em fua peífoa , e com
el-
160 LIVRO SEGUNDO TITULO ÜITAVO

ella faz adulterio, comete duas forças, a faber, hua


acerca do marido, e a outra acerca da molher; e ain-
da que pola força feita aa molher poffa gouvir da im-
munidade da Igreja, nom deve a gouvir della pola
força , que cometeo acerca do marido , offendendo
principalm ente fua peffoa..
7 ITEM. Se o fervo, ainda que feja Chrifptaa õ,
fugir a feu Senhor pera a lgreja , coutando- fe a ella,
por fe livrar da fcrvidoõ, em que he pofto, nom ferá
defcfo pela Igreja , ma.is deve feer tirado per força
deli a; e defendendo-fe elle em fua tirada, pode-lo-a m
matar fem outra a!gúa pena.
8 E PER aqui dizem os Doutores , que fe o mal-
feitor fe defende aos homeés da J uíl:iça , querendo- o
prender per mandado do Julgador, que pera ello aja
poder , podem-no matar livremente fem outra algua
pena: e ainda differom outros Doutores, que nom
f.oomente o familiar da Juíliça pode matar o malfei-
tor, defendendo-fe aa prifom, mas ainda o pode ma-
tar livrement e, ainda que fe nom defenda, fe elle fo-
ge , por nom feer prefo , e o dito familiar da Jufüça
em outra guifa o nom pode prender.
9 PERo em tal cafo o Julgador deve d'efguarda r
o modo, e temperanç a, que o familiar da Juftiça te-
ve em ferir , ou matar o que affy queria prender , e
fogia , por nó feer prefo ; e achando que o podera
prender per algúa guifa fem o matar, ou ferir, dê-lhe
pena , fegundo a culpâ, em que o achar ; ca nom de-
ve
Dos QlJE SE COUTAM AA IGREJA, ETC. 161

ve o familiar da Juílíça ligeiramente proceder a ma-


tar, ou ferir aquelle , que prender quer , ainda que
fuga , fenom quando ja per outra guifa algúa o nom
poder prender.
Io E ESTo , em quanto falia do que foge , man-
damos que aja lugar no malfeitor, que avia de feer
prefo por alguu maleficio grave; ca fe ouveíle de feer
prefo por alguú rnaleficio leve, em que nom coubeífe
cada húa das ditas penas , e o dito familiar da Juíl:i-
ça for dello fabedor , nom o deve matar por fogir ,
ainda que o d'outra guifa prender nom poífa ; e ma-
tando-o ,averá pena de Juíl:iça, fegundo no cafo cou-
ber.

T I T U L O VIIII.

~,ando a Ley contradiz aa Degrata!, qual dei/as


Je deve guardar.

E STABELECEMOS, e poemos por Ley, que quan-:-


do alguú cafo for trazido em pratica , que feja
determinado per algúa Ley do Regno , ou efüllo da
noffa Corte , ou cuíl:ume dos noffos Regnos antiga-
mente ufado, feja per elles julgado, e defembargado
finalmente, nom embargante que as Leyx Imperiaaes
acerca do dito cafo ajam defpoíl:o em outra guifa,
porque onde a Ley do Regno difpoem , ceffarn toda-
Liv. li. X I:: s
162 LIVRO SEGUNDO TITULO NoNo
las outras Leys. e Direitos; e quando o cafo , de que
fe trauca , nom for determinado per Ley do Regno •
mandamos que feja julgado, e findo pelas Leyx lm-
periaaes , e pelos S:rntos Canones.
1 E ACONTECENDO ,que acerca de tal cafo as Leyx
Imperiaaes fejam contrairas aos Canones, mandamos
que aífy nas coufas temporaaes , como efpirituaaes,
fe guardem os Canones, fe o cafo tal for, que guar-
dando as Leyx Imperiaaes, traga pecado ; pode-fe
poer enxemplo no poífuidor de maa fe, que fegundo
as Leyx lmperiaaes per trinta annos poífoindo fem
titulo , prefcrepve a coufa alhea, e fegul'ldo Direito
Canonico , o poífuidor de maa fé nom pode pref- ·
crepver per nenhuú tempo: fe em tal calo fe guar-
daífem as Leyx Imperiaaes , guardando-as, neceffa_
riamente trazeria pecado ao poífuidor, o que nom
devemos a confentir, maiormente que em tal cafo
devemos neceífariamente obediencia ao Padre Santo ,
e aa Santa Igreja , de que os Canones procedem , a
qual nõ devemos em nenhuú cafo aos Emperadores ,
de que as Leyx lmperiaaes procedem ; e por tanto
convem que em tal cafo, e em outro femelhante fe
guarde o Direito Canonico, e nom o Direito Impe-
rial: e no cafo temporal, que a guarda das Leyx Im-
periaaes nom rraga pecado , ellas devem feer guarda-.
das, nom embargante que os Canones fejam em con-
traira defpofiçom.
?. E SE o cafo, de que fe trauta em pratica, nom
fof-
~ANDO A LEY CONTR. AA DEGRAT AL, ETC. 163

foffe determin ado per Ley do Regno , ou eftillo , ou


cuíl:ume fofo dito , ou Leyx lmperiaa es , ou Santos
Canones , entom mandam os que fe guardem as grofas
d' Acurfio encorpor adas nas ditas Leyx. E quando pe-
las ditas grafas o cafo nom for determin ado, manda-
mos , que fe guarde a opiniom de Bartholo , nõ em_
bargant e, que * os (a)* outros Doutores diguam o
contrair a; porque fomos bem certo, que affy foi fem-
pre ufado , e praticado em tempo dos Reyx meu
A voo, e Padre da gloriofa memoria ; e ainda nos pa-
rece, polo que já algúas vezes vimos, e ouvimos a
muitos Leterado s , que fua opiniom comunal mente
he mais conform e aa razom, que a de nenhuú oulro
Doutor; e em outra guifa feguir-fia grande confufom
aos Defemba rgadores , fegundo fe mofira per clara
efperiencia . E acontece ndo cafo, ao qual per nenhuú
dos ditos modos nom foíle previíl:o , mandam os que
o notefiqu em a Nos pera o determin armos ; porque
nom tamfome nte taaes determin açoões fom defem-
bargo daquelle feito , que fe trauta , mais fom Ley
pera defemba rgarem outro femelhante.
3 ITEM. Defpois deílo achamos outra duvida. Se
aconteceffe cafo, em o qual nõ foffe materia de peca-
do, o qual nom foffe determin ado per Ley do Reg-
no, nem per eíl:illo da nofia Corte, nem per cuílume
dos noffos Regnos, nem per Ley Imperial , e foffe de-
terminad o per Canones per huú modo, e pelas gro-
X 2 fas,
(a) alguns .A.
164 L1vRo SEGUNDO TrTuLo NoNo

fas, e Doutores das Leyx per outro modo, fe fe guar-


dará em tal cafo o texto dos Canones , ou as grofas
dos Doutores das Leys Imperiaaes ; e a caufa deíla
duvida he , porque as grofas , e Doutores do Direito
Civil fe fundam per Leyx lmperiaaes, as quaaes al-
legam a provar fua teençom: em tal cafo feja remeti-
do aa noffa Corte, e guarde-fe fob.re ello a noffa de-
terminaçom

TITULO X.

~ue os C!erigos ajam fervidores.

N O L1vRo da noífa Chancellaria foi achada húa


Ley feita per ElRey Dom Pedro de farnofa me-
moria, de que o theor tal he.
1 A Nos foi dito pelos Clerigos , e Beneficiados •
que os noffos Officiaaes nom querem dar os mance-
bos , e fervidores aos Clerigos nas terras, honde os
Nos mandamos dar aos outros, e tomam-lhes os que
tecm , e com ell es vi vem per fua voontad e, e co!l:ran-
gem-nos que vivam com os outros. Mandamos, que
nas terras , e Comarcas , em que os mandámos dar
aos Leigos, que os dem aos Clerigos, fe forem lavra-
dores, ou reverem guaados pera lhos guardar, ou for-
nos de cozer pam pera em elles fervirem; com tanto
que effes mancebos fejam dag_uelles, que devem feer
da-
~ E OS CLERIGOS AJAM SERVIDORES, 165
dados, fegundo a Hordenaçom, e que effes Clerigos
dcm fiadores Leigos por effas foldadas, que lhes ham
de dar: e nas oucras Comarcas, honde os nõ mandá-
mos dar , que lhos nom dem.
'.2. E VISTA per Nos a dita Ley, avemo-la por
boa , e mandamos que fe guarde como em ella he
concheudo.

TITULO XI.

~e façaõ penhora nos bees dos C!aigos condampnados


pelos Juizes d' E!Rey.

M U~TAS vezes acont~ce, que alguús Clerigo_s ~e


M1ffa , ou Beneficiados sõ demandados Civil-
mente per-ante os noffos Corregedores, e Juizes em
alguús cafos , que fegundo direito , e arrigos fobre
efio feitos , e acordados , podem hi feer demandados,
e devem hi refponder, e fom condãpnados pelos di-
tos Corregedores , ou Juizes em aquello , que he
achado per direito , ou em as cuíl:as ; e quando elles
querem fazer a eixecuçom polas Sentenças polos bcés
dos condãpnados , allegam elles que a dita eixecu-
çom deve feer remetida aos Juizes Ecclefiafiicos, e
que nom deve feer feita pelos ditos J uizes feculares.
I PoREM por tolher eíl:a duvida , acordamos per
Con íelho da no!fa Corte J que em todo cafo , honde
o
166 LIVRO SEGUNDO TITULO ÜNZE

o Beneficiado, ou Clerigo d'Ordeés fagras he perdi-


reito, ou per os ditos artigos theudo a refponder per..
ante os ditos Corregedores, ou Juízes noffos , fe per
elles, ou per cada huií delles forem condãpnados ,
elles poderaõ per fua authoridade mandar fazer eixe-
cuçom nos beés , e coufas poífuidas pelos ditos Cle..
rigos, que affy julgadas forem aos Leigos, ou quaeef..
quer outras , em .que mereça de fe fazer a dita eixe-
cuçom, affy como com juíl:a razom fe poderia fazer
nos beés do Leigo , fe condâpnado foffe , com tanto
que nõ fejaõ verdadeiramente da Igreja : e eíl:o en-
tendemos affy na condápnaçom das cuíl:as, como em
qualquer outra condãpnaçom principal, ca pois oco-
nhecimento principal da coufa demandada perteence
per direito aos noffos Juizes, e Corregedores, aífy de-
ve perteencer a eixecuçom das fentenças , que fobre
ello derom.

TI TU LO XII.

Das Leteras , que veem de Corte de Roma , ou do


Gram Meejlre, que nom fe}am publicadas
fem Carta d' E!Rey.

p ER ElRey Dom Joham meu Avoo de famofa me-


moria foi feita Ley, e bem aífy pelos outros Reyx,
que ante elle forom, em que confirando como conti-
nua-
DAS LET. Q!,TE VEEM DE CORTE DE ROMA, ETC. 167

nuadamente veem a eftes Regnos Leteras do Padre


Santo, e do Gram Meftre de Rhodes , e dos Defem-
bargadores do Santo Padre, e d'alguús outros, a que
perteence de as dar por razom de beneficios , e ma-
trimonios, e d'outras coufas, fobre que aífy ufam dar
femelhantes Cartas; e porque os Reyx, que ante Nos
forom, virom manifefiamente que algúas vezes eram
contra o ferviço de DEOS, e feu, e contra fua * pef-
foa (a)* , e jurdiçom, e contra o Regno, e proveito
cúmunal dos feus fobditos , e naturaaes, e ainda al-
gúas vezes aconteciam feer forraricias, e falfas: Por-
ende hordenaarom , que nenhúas Lereras, nem Ref-
criptos Apollolicos, nem quaaefquer outras Leteras,
ou Refcriptos, que venham de fora defies Regnos ,
nom fejam pruvicadas a menos delfes irnperrantes ,
ou aquelles , a que os negocios pertencerem , gaan-
cem, e ajam de Nos carta pera as pobricar.
1 ITEM. A Carta da poblicaçom fe cufiumou de
denegar geeralmente em tres cafos , a faber , fe for
achada a dita Letera ou Refcripto que he falfo.
2 ITEM. Se for forraticia de tal forrepçom , que
a faça , fegundo direito , nenhúa ; e pode-fe poer ei-
xemplo , quando fe allega contra ella que foi gaan-
çada , callada a verdade , ou expreífa a falfidade , a
qual verdade nom callada, ou falfidade nom expreífa,
a Letera nom fora gaançada.
3 Se a dita Letera , ou Refcripto gaançado he
con-
(<1) prol S.
168 LIVRO SEGUNDO TITULO Dozt

contra os direitos d'ElRey , ou contra fua jurdiçom,


ou contra o bem do Regno , ou geeralmente contra
os feus fobditos , e naturaaes ; que em cada huú def-
tes cafos fempre foi cuíl:ume de fe nom dar Carta
pera poblicar.
4 ITEM. Foi cuíl:ume antiguamente ufado em ef-
tes Regnos , que quando algúa Letera , ou Refcripto
vem de fora do Regno fobre alguú Beneficio , ou
qualquer outra coufa, de que alguú outro fiê de pof-
fe , ou que tanga a certa peífoa , nom fe dará Carta
pera fe poblicar I a menos de primeiramente feer ci-
tado, e ouvido com feu direito aquelle, que aífy ef-
tever de poífe , ou peífoa, a que o negocio tanger ;
e fe elle allegar , embargando a dita poblicaçom , ca-
da húa das tres razoões fufo ditas , conhecer-lhes-am
dellas , e procederam hi, como for direito.
5 ITEM. Foi defefo fempre geeralmente a todolos
Taballiaães , que nom poblicaífem taaes Leteras , e
Refcriptos fem Carta d'ElRey pera poder poblicar •
fob pena que por eífe meefmo feito percam os Offi-
cios dos Taballiados , e nunca os mais ajam em al-
guú tempo , e mais fejam prefos ataa noffa merece, e
degradados defles Regnos pera fempre, e nunca lhe
mais fejam levantados os degredos.
6 . E SE algúa outra peffoa poblicar as ditas Le-
tras , ou Refcriptos , ou cada húa dellas, fe for Ca-
valleiro , ou Fidalgo , ou Vaífallo, ou qualquer outra
pcífoa de fimilhante condiçarn , paguem pera noífa
Chan-
DAs LET. QYE VEEM DE CoRTE DE RoMA, ETC. r69

Chancellaria cem coroas de ouro ; e fe for outra pef-


foa de mais pequena condiçom , que feja açoutada
pruvicamente, e degradada fora do Regno ataa noffa
mercee ; e mais todo o que for feito, dito, e allegado
per tal provicaçom , e virtude della, feja nenhuú , e
de nenhuií vigor, aífy como fe tal Letera, ou Ref-
cripto nunca fora pruvicado.
7 E PORQYE fomos certo, que aífy foi fempre
ufado em tempo dos Reyx, que ante Nos forom.,
mandamos que affy ~e cumpra, e guarde daqui em
diante , polo entendermos affy por muito ferviço de
DEOS , e noffo , e bem do noffo povoo. E ainda fo-
mos certamente enformado, que dando lugar a fe pu-
blicarem geeralmente as ditas Letras , e Refcriptos,
davamas aazo a fe fazerem muitas falfidades , e fe
hordenarem * mui (a) * muitas, e perlongadas de_
mandas , de que fe feguiriam muitas , e grandes def-
pezas , e guaftos aas partes , e aalem defto mortes, e
offenfas graves fem nenhúa émenda, ca fe fariam em
taaes lugares , bonde Nos , nem noffas Jufüças nom
poderiam proveer per alguú remedia de direito.

y TI-
---------- ---------- -
Li·v. II.
(.:,) Falta.
LIVRO SEGUNDO TITULO TREZE

T I T U L O XIII.
J0;1e os Clerigos , e 1-Iordeés , e Moefleiros , e Fidalgos ,
e Cavalleiros nom pojfam aver , nem gaançar beés
nos R egueengos d' E!Rey.

N Ü's mandámos proveer as Hordenaç oões anti-


guas , per que longamente foi defefo aos Cleri-
gos, Hordeés, e Moeíl:eiros , Fidalgos , e Cavallei-
ros, que nom poffam aver, nem gaançar alguãs her-
dades nos noílos Regueeng os, e forom achadas no
noffo Livro da Chancellaria eftas Hordenaçoóes prin-
cipalment e feitas acerca dello per ElRey Dom Donis
de louvada memoria, de que o theor he efte, que fe
fegue.
1 DoM Donis per graça de DEOS Rey de Purtu-
gal , e do Algarve. A quantos eíl:a Carta virem faço
faber, que em Coimbra per-ante mim aoi * quinze
dias de Junho (a)* da era de mil e trezentos e qua-
renta e nove annos , feendo hi Dom Frey Eíl:evom
BiCpo do Porto, e Rodriguo Annes Redondo , e Jo-
ham Simom, e Pedr' Affonfo Ribeiro, e Pere Efk-
ves, e Ruy * Muniz (b) *, e Joham Martins Chan-
tre d'Evora, e Meeíl:re Joanne das Leyx , e Vicente
Cefar, e Joham Lourenço Vogado em minha Corte,
porque foi achado, que alguús , tambem Igrejas , co..

---- ---- ---- ---- ----


mo
(4) fcis dias do mei. de Julho S. (b) Nwm ./1., e T. Mendes S.
~E os CLERIGos, E HoRDEENS, ETC. 17 r

mo Hordeés , como Filhos dalgo , compravam os


meus Regueengos , que eu trazia muitos delles ena-
lheados de guifa, que me nom davam os meus direi-
tos , que me ende deviam dar; e muitos dos fobredi-
tos, que os tinham, pedindo-lhes os que tiravam por
mim os meus direitos , que lhes ddfem o que de-
viam , e dizendo-lhes porque mo nom davam , di-
ziam , que eu nom era defto Juiz, e que os charnafTe
per-ante feus Juízes , por a mim fazerem perder os
meus Regueengos. Tive por bem com confclho * dos
fobreditos (a) •, porque achei que efto era meu dã-
pno, e contra direito, defender que fe nom fezefie
d'aqui em diante.
2 PoREM mando, e defendo, que nenhuú dos
fobreditos nom poífa aver, nem gaançar per nenhuã
maneira nos meus Regueengos , e fe alguus dos fo-
breditos comprarem , ou gaanharem nos meus Re-
gueengos, mando, que o que vender , perca o pre-
ço , que receber, e o que comprar, perca a herdade»
que comprar.
3 E PORQ!!E achei ainda, que avia tempo , que
ElRey Dom Affonfo meu Padre defendera com Con-
felho de fa Corte ,que as ditas peífoas nom compraf-
fem nos feus Regueengos; tenho por bem, e man-
do, que fe for achado, que alguãs das fobreditas pef-
foas compraram depois da dita defefa nos meus Re-
guengos , que percam o que comprarom.
Y 2 4 E
(") da minha Corte
I j2 LIVRO SEGUNDO TITULO TREZ!

4 E SE per ventura aconteceffe , que alguií Cleri-


go, ou álguú Leigo das fobreditas peffoas vieffe per
razom de herança, ou de cafamento a gaanhar algúa
das minhas herdades
,, Regueengas taõbem des o tem-
po da dita defefa , que foi feita polo dito meu Padre,
como daqui em diante : Tenho por bem, e mando ,
que aquelles, que aviam gaançada des a dita defefa
de meu Padre, que a vendam des a poblicaçom def-
ta Carta ataa huú anno a taaes peffuas , que nom fe-
jam da fua condiço~, e que fejam taaes , que façam
a mim os meus foros, e dem a mim os meus direi-
tos : e aquelles , que a gaanharem daqui em diante
per razom de cafamento, ou d'herança, como dito
he, que a vendam do dia que a gaançarem ataa huú
anno a taaes peffoas, que façam a mim os meus fó-
ros, e dem a mim os meus direitos.
5 E SE per ventura quiferem os que a dita minha
herdade Regueenga trouverem daqui em diante fazer
prol de fua alma : Tenho por bem que o façam de
guifa , que nom fique a dita herdade a nenhúa das
peffoas fobreditas , mais mande-a vender , ou a ven-
da em fua vida a tal peffoa , que dê a mim os meus
direitos , e nom feja nenhúa das peffoas fobreditas , e
faça do feu dinheiro , ou dinheiros aquello , que en-
tender por prol de fua alma.
6 E SE per ventura algúa Igreja, ou alguú Moef-
teiro , ou algúa das peffoas fobreditas contra efta mi-
nha defefa de fofo dita algúa coufa quiferé filhar, ou
re-
~E os Cu:RIGos, E HoRDEENS, ETC. 173
receber, ou reteer nos meus Regueengos , mando que
o perca.
7 ÜuTRO sv porque achei , que EIRey Dom Af-
fonfo meu Padre defendeo, que os Juízes da terra
nom deffem nenhúa herdade Regueenga a foro fem
fua Carta, e achei , que contra a dita Carta , e defefa
as derom a foro muitos Juízes da minha terra: Te-
nho por bem, e mando que todalas herdades , que
affy forom dadas des quarenta annos a cá , fejam re-
vogadas ; e as outras dante os quarenta annos , que
affy forom dadas contra a dita defefa , fe aquelles ,
que as ham, nó vierem dizer des efia Carta poblica-
da ataa huií anno, para a verem defio minhas Cartas,
que as percam.
8 ÜuTRO sv porque achei, que eu perdia muitos
dos meus direitos das ditas minhas herdades Re-
gueengas per razom de emprazamentos , que faziam
aquelles, que as traziam, com Hordeés, e com Igre-
jas, e com as fobreditas pcffoas : Tenho por bem , e
mando que fe nó façam efies emprazamcntos daqui
em diante; e aquelle , que trouver o meu herdamen-
to Regueengo , fe tal emprazamento fezer , mando
que perca a herdade, e o outro, que com elle fez o
emprazamento, perca o que lhe dam per razom do
emprazamento fobredito. E por nom poderem dizer,
que o nom fabem , mando aos Taballiaães, que re-
giíl:em efta Carta em feus livros , e a lcam cada Do-
mingo em Concelho ataa huú anno fob pena dos cor-
pos,
174 LIVRO SEGUNDO TITULO TREZE

pos, e dos averes. Dante em Coimbra no dia, e era


fobredita. E!Rey o mandou per fá Corte. Lourence
Efteves da Guarda a fez era de mil e trezentos e qua-
renta e nove annos. Foi poblicada em Vizeu no Con-
celho em Abril ataa huú anno, per mandado d'El-
Rey , era de mil e trezentos e cincoenta annos.

T I T U L O XIIII.

50,-te os Cleri'gos, e Horde'és nom comprem beés de raiz


Jem mandado d' E/Rey.

N Os Livros da noffa Chancellaria foi achada húa


Hordenaçom , per que antiguamente foi defefo
aos Clcrigos , e Hordeés, que nom compraffern al-
guús beés .de raiz em noffos Regnos, da qual Horde-
naçom o theor he eftc, que fe adiante fegue.
1 DoM DoN1s per graça de DEOS Rey de Pur..
tugal , e do Algarve. A todolos Alquaides , Meiri-
nhos, Corregedores, Juízes, Alguazis, Juftiças •
Almuxarifes, e Taballiaães dos meus Regnos , faude.
Sabede que os Reyx, que ante mim foram, defen-
deerom , que Hordeés, nem Clerigos nom cornpraf-
fem nenhuús herdamentos em feu Regno , e outro fy
o defendo eu : e ora alguús Concelhos xe me envia-
ram queixar, que alguús Clerigos, e Hordeés faziam
mui grandes compras em minha terra , e que efto
era
ClEE os CLERTGOS J E ÜRDEENS, ETC. 175

era meu exerdamento , e mui gram dâpno delles de


guifa , que quando os eu , e os Cavalleiros da minha
terra, e os Concelhos ouveílem mefter pera meu fer-
viço, que me nom poderiam fervir, aíly como de-
viam ; e eu affy o entendo ; e fom tam maravilhado >
como fom tain oufados de comprar os ditos herda-
rnentos contra o meu defendimento.
2 E PoREM mando , e defendo que os Clerigos >
nem Hordeés nem comprem herdamentos, e aquel-
les herdamentos, que comprarem, ou fezerom com-
prar -ataaqui pera fy , des que eu fui Rey , dou-lhes
prazo , que os vendam defta Santa Maria d ·Agofto
ataa huú anno ; e fe os nõ venderem ataa efte prazo ,
percam-nos. E efto catade ora vos que nom prenda.
eu hy engano, nem as façam vendidiças , e fiquem
clles com ellas , e em outra guifa vos mo lazararedes.
E vós , Taballiaães , fe eu per vós defenganado nom
for de todo , e per vós nom fouber os que ficam , que
os nom vendam des que aquelle prazo paffar, morre-
redes por ende. Efta Carta regiftade-a em voffos li-
vros. Dante em Lixboa a dez dias de Julho. E!Rey
o mandou. Manoel Eannes a fez era de mil e trezen-
tos e vinte e* quatro (a) * annos.
3 A QyAL Ley viíl:a per nós, mandamos que fe
cumpra, e guarde como em ella he conteudo, porque
o fentimos affy por ferviço de DEOS, e noffo, e bem
dos noífos Regnos ; e ainda fomos certamente infor-
ma-
-------------------- -
(a) dous S, tm T.
176 LIVRO SEGUNDO TITULO ~ATORZI'! .

mado, que aíl'y foi fempre guardada, e ufada no


tempo dos Reyx, que ante nós forom.
4 E PoRQY E a nos foi dito, que alguús Clerigos ,
e Hordeés por defraudar eíla Ley , tomam alguús
beés de raiz em pagamento de fuas dividas dizendo,
que nõ he compra, e que os podem teer fem embar-
go deíla Ley : Porem querendo nós tolher eíl:e enga-
no, mandamos que a dita Ley aja lugar em taaes
beés affy dados em pagamento aífy compridamente ,
como fe verdadeiramente foffcm comprados , porque
achamos per direito , que igual coufa he em todo.dar,
ou receber em pagamento ao coutrauto da compra ,
e venda , &e.
5 E ESTA declaraçom mandamos que aja lugar
dês o tempo, que a dita Ley foi feita em diante.

TITULO XV.

50,-te as Igrejas, e Moefieiros nom hajam herdamenlos


per morte de Jeus profejfos.

p ER ElRey Dom Donis de gloriofa memoria foi


feita húa Ley, per que defendeo que Hordeés,
e Moeíl:eiros nom ouveflem herdamento per morte
de feus profeífos , da qual o theor tal he.
1 DoM DoNis pela graça de DEOS Rey de Por-
tugal, e do Algarve. A quantos eíl:a Carta virem fa-
ça
OEe AS Icn.eJAS, E MoESTEIRos, ETC.
'
r ... -
/

ço faber,que na Cidade de Coimbra* doze (a)* dias


andados do mez de Março da era de mil e trezentos
e * vinte e nove ( b) * annos , o lfante Dom Affonfo
meu lrmaão, e Dom Nuno Gonçalves, e Riquos-ho-
meés , e Filhos d'algo, e outras gentes do meu Regno
:xe me queixarom dizendo, que eífes Filhos d'algo, e
outras gentes do meu Regno foro muito mingadas, e
pobres, e exerdadas das poffüfoões, e das heranças de
fuas a voengas , e nom podem vi ver em meu Regno ,
nem fervir hi mim taõ bem., nem taõ honradamente,
como fervirom os Filhos d'algo, e outras gentes, que
forom ante elles , aos outros Reyx , que forom ante
mim , por razom que dizem que quando feus filhos
(e), e filhas entram nas Hordeés , e hy morrem pro-
feffas, que as Ordens veem * aas boas, e (d) * heran-
ças per foceffom de feus Padres, e de fuas Madres, e
por efta razom faaem das a voengas , e das linhas ,
donde decendem, e enalheam-fe pera todo fempre :
e pedirom-me por me.rcee, que eu fobre tal coufa,
bonde fe tanto perigo poderia feguir, que o Regno
nom averia lidemos defenfores , quando lhe meftcr
foífem, com mingua d'aver, que eu pofeffe tal Pof-
tura, e tal Ley , qual íe ufa em muitas terras , a fa-
ber , que as Hordeê.s aa morte de feus profeffos nom
veem aos beés , nem aa herança de feus profeffus
quando morrem.
Li·v. II. Z 2 E
(.z) dez cfctte A. e S. ,·inte e oito "T. (!,) trinta 'T. (e) e fuas molherci S.
( d) aas A voos, e iís S. ao, be~s , e iÍi 'T.
.r 78 LIVRO SEGUNDO TITULO ~INZE

2 E Eufobre efia coufa com outorgamento dos


Riquos-homeés , e d'outros muitos homeés boõs de
minha terra , avudo Confelho com Dom Martinho
meu Alferes , e com minha Corte, e com outros mui-
tos homeés boôs , achei que me pediam coufa agui-
fada, Cabendo por verdade, que as Hordeês aviam a
maior parte do meu Regno; e porem confirando prol
dos meus Filhos d'algo, e das outras minhas gentes,
que ham de defender o Regno , e confirando ainda
como o Regno pudeffe fcer milhor defefo, e rnilhor
emparado, fe pela ventura hi aqueecefTe guerra de
Mouros , ou doutras gentes ; e confirando que as
Hordeés do meu Regno fom muito ricas, e muito
avondadas- affy em herdamcntos, e em poffiffoõcs ,
como em outros averes de guifa, que podem mui
bem viver, e fervir a DEOS.
3 PoREM ponho por Ley, e faço tal Confiituiçom
cm meu Regno pera todo fempre, que fe Filhos d'al-
go, ou outras gentes quer homeés, quer molheres,
que em meu Regno entrem em Hordeés, que aa
morte delles as Hordeés nom venham as fuas focef-
foées , guanto he nos herdamentos, e nas poiliffoões;
nem os poffam vender, nê dar , nem enalhear , nem
em outra maneira fazer delles coufa algua, em que
fe faça engano, per que os ajam as Hordeés : mais fc
algu ús defles algua cpufa quiferem dar por fua alma,
vendam o terço de feus herdamentos, e poiliffoões, e
as duas partes fiquem a feus hcreeos; e vendam o ter-
ço
~ E AS IGREJAS, E MoESTEIROS, 'ETC. 179

ço a taaes peffoas , que nunca fe poffam tornar aa


Hordem , mas effes herdamentos , e poffifioões fi-
quem fempre a taaes pcffoas , que nom fejam Frai-
res, nem Freiras, nem Donas d'Ordens : e os que
nom houverem herdeiros lidemos, hordenem , e fa-
çam dcffes herdamentos , e poffüfoões aquello , que
por bem reverem cm tal guifa , e em tal maneira ,
que defpois nom fiquem effes herdamentos aas Hor-
deés.
4 PoREM mando a todalas juftiças do meu Regno,
que façam eíl:a minha Ley , e Conftituiçom teer ,
comprir, e guardar. E Mando, e defendo que ne-
nhuú homem , nem molher nom feja oufado de vir
contra efta minha Ley, e Confütuiçom, ca aquelle,
a que o provaffe > faria eu contra elle, como manda
o Direito que Rey , e Senhor deve fazer contra aquel-
le , que vai contra fua Ley , e fua Conftituiçom , e
feu Mandado, e contra honra, e prol da Cúmunida-
de do feu Regno. E mando a todolos * Taballiaães
( a) * do meu Regno , que cada huú regifte efta mi-
nha Carta em feus livros. Dante em Coimbra a vinte
e huií dias de Março. ElRey o mandou per fa Corte.
Lourence Efteves a fez era de mil e trezentos e vinte
e nove annos.
5 V EENDO como fobre efta minha Ley fe recre-
cem muitas duvidas , dizendo os Sagraaes que fede•
via entender d'húa guifa, e dizendo os que entram
Z2 na
(•) Concelhos T,
I 80 LIVRO SEGUNDO TITULO ~INZE

na Hordcm, que fe devia a entender d'outra; e por-


que os Papas, e os Emperadores , e os Reyx, que fa-
zem a-s Lcyx; devem declarar qual foi o entendimen-
to, que ouverom as Leyx, que fezerom ; por eíto
querendo eu tolher cíl:as duvidas, que nacem fobre a
Ley fobredita , outorgo , e declaco que tal foi o meu
entendimento, e he em razom deíla Ley, que as Do-
nas , ou as molheres, ou os homeés, que ja erom em
Hordeés quando aquella minha Ley foi feita, fe aviam
alguús herdarnentos ante deífa Ley , que os Moeíl:ei-
ros, em que entraram, hajam effes herdamentos , ou
façam delles como lhes mandar fua Abadeffa, ou
qualquer que for feu maior no Moeíl:eiro.
6 E QY ANTO he dos herdamentos , que ouverom
defpois deíl:a Ley, ou entenderem aver per razom de
feus Padres, ou de fuas Madres , ou de feus paren-
tes, ou gaanharem, ou poderem gaanhar dalhur hon-
de quer , porque fe effes herdamentos ficaffem aos
Moeíl:eiros , tomar-fia em meu prejuizo , e deffervi-
ço , e cm gram dãpno de meus Regnos , per razom
que os que lograffem effes herdamentos nom hiriam
cm oíle, nem fariam a mim aquelles ferviços, que a
mim devem fazer pera defendimento da minha ter-
ra ; e outro fy porque , louvado o Senhor DEOS , os
Moeíl:eiros , que ora há em minha terra , fom ricos
d'herdamentos , e poffiffoões de guifa , que podem
bem guarecer: Digo, e declaro que meu entendimen-
to foi., e he que eífas Donas, e molhcres, e Cavallei~
ros 1
QuE AS IGREJAS , E MoESTEIRos , ITc. 181

ros , e outros homeés nom hajam os· herdamentos , e


poffiffoõcs fobreditas, nem os Moefieiros , em que os
de fofo ditos entrarem, fenom em fua vida; e fe os
dar , ou vender quiferem em fua vida a peffoas Iei-
guas, poffam-no fazer, mas nom as poffam dar, nem
doar, nem efcaimbar, nem enalhcar per nenhúa ma-
neira a Moeíl:eiro , nem a Hordem, nem a outra pef-
foa, fenom fagral : e efto fazer-fe fcm engano ; e fe
fe d'outra guifa fezer , devem-nos de perder aquel-
les , a que os derem , e tornarern-fc a feus hereeos
defpois da dita Ley feita.
7 MA 1s por a verem os Moefteiros , e Igrejas , e
Hordeés algúa prol pera fua manteença dcffes herda-
mentos, e poffiffuões, que ganharam, ou gaanharem
dfes de fofo ditos , ou os Moefteiros , vendam effcs
herdamentos , ou poffüfoões de fufo ditas, ou os dem
a peffoa, ou peffoas fagraaes, e leigas , quaes reverem
por bem , do dia que morrerem as ditas Donas , ou
Frades, ou Cavalleiros d'Ordeés ataa huú anno: e
efio fe fazer fem outra burla , e fem outro engano ; e
dos dinheiros , por que os venderem , façam fua prol
como por bem reverem.
8 E MANDO a cada huú de vos Juizes em voffos
Julgados, que vejades efta minha Carta de minha
Ley, e da declaraçom, que lhes eu fobre eíl:o dou, e
fazede-a cornprir, como em ella he contheudo, e
nom fofrades a nenhuú , que lhes vaa contra ella ; e
fe algua coufa hj ha feita, que feja contra a dita Ley :
<:
I 82 LIVRO SEGUNDO TITULO ~tNZ!

e contra a dita declaraçom, mando-vos, que a façaaes


correger , aífy como em ella he contheudo : undc al
nom façades , fe nom peitar-medes quinhentos fol-
dos. E fe os ditos Moefteiros nõ quiferem vender,
nem dar os ditos herdamentos ,e poffiífoõcs ataa o di-
to anno , como de fufo dito he, percam-nos , e tor-
nem-fc aos fcus parentes , ou parentas mais chegados
que houverem ,que fejam fagraacs leigos. E cm teíl:e-
munho deílo mandei ende fazer eíl:a Carta. Dante em
Lixboa primeiro dia de Julho (a) . EIRey o mandou
per fua Corte. Vafco Eíl:eves a fez era de mil e tre-
zentos e trinta e dous annos.
9 E PORQYE achamos, que eíl:a Hordenaçom he
mingada, porque nom declara ataa que tempo podem
vir os parentes mais chegados a demandar taaes beés,
nê eílo medês nom os demandando, que fc fará del-
les : Porem declaramos , e mandamos , que fe eífes
parentes mais chegados nom vierem cílo demandar
ataa feis mezes, os quaaes fe começarom, acabado o
anno, que he dado pera fe poderem vender, fiquem
a nós pera os darmos, ou fazermos delles o que nof-
fa merece for.
1o A Q.Y AL Ley viíl:a per nós, e examinada acor-
damos com confelho , e acordo da noífa Corte , que
daqui em diante fe cumpra ,e guarde, porque o ach_a-
mos aífy por ferviço de DEOS , e noffo , e bem de

------------
nof-
Dos LEIGOS, QYE TOMAM POSSE , ETC, 183

noffos Regnos, e affy fomos certo que affy foi ufada


longamente em tempo dos outros Reyx.

TITULO XVI.

Dos Leigos , que tomam pojfe dos Beneficias quan-


do v agam.

N Ü's achamos que ElRey DomJohammeuAvoo


da muito gloriofa memoria, a reguerimento dos
Prelados deftes Regnos , fez húa Hordenaçom acer-
ca dos Fidalgos , e Ca valleiros , gue fe metem , e to-
mam poffe das Igrejas , e Moeíteiros, quando fe va-
gam, de gue o theor tal he.
I DoM JoHA M pela graça de DEOS Rey de Por-
tugal , e do Algarve. A todolos Condes , Meefl:res ,
e Priores do Efprital, Ricos-homeés, e Cavalleiros,
e Efcudeiros , e a quaaefguer outras peffoas dos nof-
fos Regnos de qualquer eftado, e condiçom que fe_
jam , a que efta Carta for rnoíl:rada , ou o trelado del-
la em pruvica forma feita per autoridade de Juftiça,
faude. Sabede , que Dom Lourenço Arcebifpo de
Bragaa, e outros Bifpos, e Prelados dos noffos Regnos,
e Senhorio nos diíferom , que lhes vagam Moeítei-
ros , e Igrejas, e que quando aífy vagam ficaõ em el-
las beés per morte dos Abades , Priores , e Reirares
delles , e dellas, os quaaes fe deviam guardar pera
os
1 ~4 LIVRO SEGUNDO TITULO DP!ZASEIS

os Abbades , Priores, e Reitores , que defpois vie-


rem , e fe manteerem os Clerigos, e Monges , e Coo-
negos , e encarregas dos ditos Moeíl:eiros , e Igrejas ,
que affy vagam , e os beês delles, e dellas per guifa,
que o Officio Devinal , e temporalidade nom min-
guaffe em os ditos Moeíkiros , e Igrejas, e fe podef-
fem fofteer os encarregas dclles , e dcllas ; e difle-
ram-nos , que quando fe vagam os ditos Moeíl:eiros,
e Igrejas , que muitas das pefroas fobrcdicas , e fuas
gentes , e piaães fe hiam meter nos ditos Moc!kiros ,
e Igrejas , e mandavam hi poer outros homeés , que
tomavam a poffe dos ditos l\1oeíl:eiros , e Igr~jas ,
que affy vagam, pola qual razom as Oras nom fedi-
ziam em cllas , nem fe fazia ho Officio de DEOS,
nem fe podiam manteer na temporalidade ; e que fe
acontecia , que os ditos Moefteiros , e Igrejas foffem
confirmadas per aquelles, que poder aviam , que lhes
nõ queriam leixar aver , nem tomar a poíle dellas , a
menos de lhes darem quitaçom do que roubaarom ,
e tomaarom , e lhes darem cafaaes em preftemo dos
ditos Moeíl:eiros , e Igrejas , que affy vagaarom ; e
de mais todalas coufas, que hi achavam , levavam-
nas pera fuas caías , e poufadas ; e que acontecia per
muitas vezes, que aquelles , que fe hiam meter em
potfe , que desfaziam as cubas dos ditos Moefteiros ,
e Igrejas , que affy vagavam , e partiam antre fy a
madeira dellas ; e faziam em ellas outros muitos dã-
pnos, affy que os Moeíl:eiros, e Igrejas ficavam to-
das
Dos LErcos , QyP: TOMAM. PossE, ETC. 185

das eftroídas per gram tempo, e outro fy o Officío


Devino nom fe fazia , e que pero ja per nós fobre ef-
to forom poíl:as penas algúas per noffas Cartas aos
que eíl:o faziam, que fe nom guardava em ello noffo
mandado.
2 E pediam-nos por merece, como a Rey Ca-
tolico, que fcmpre fomos , e defendedor das liberda-
des das Igrejas , a que fomos thcudo , de tam grande
mal como efte , maiormente honde tanto ferviço de
DEOS fe mingua, de que nós avemos fcr acrecenta-
dor, e que a nos era defTcrviço nom fe gllaràar o
noffo mandado , que fczeffemos Hordenaçom , p er
que eíles malles íe ouveffcm de refrear.
3 E NÓS , viílo o que nos os ditos Arcebifpo, e
Bifpos differom , e porque eílc dãpno, e mal nos foi
já per muitas vezes requerido, e querendo nós , que
o.s noffos fobgeitos vivam em hordenança , perque
foas almas nom fejam perdidas _, dl:abelecemos , e
hordenamos, e mandamos, que quando alguús Moef-
teiros, e Igrejas vagarem, que nenhuú dos fobrcdicos
Senhores, e Efcudeiros, e peífoas, nem outras quaaef-
quer que fejam , daqui cm diante nom feja nenhuú
tam oufado de qualquer eíl:ado , e condiçom que fe-
ja, que quando acontecer, que vague Moeíl:eiro, ou
Igreja em quaeefquer lugares dos noffos Regnos , que
fe vaaõ meter em poffe dellas , nem tomem nenhúa
coufa dos ditos Moeíleiros , ou Igrejas , ou quaaef-
quer outros Beneficios, que a~v vagarem , nem eílem
L~.ll Aa em
1 86 LIVRO SEGUNDO TITULO DEZASEIS

em elles , nem façam hi outro alguú dãpno , nem


confcntam a outras nenhuãs peffoas que o façam em
outra nenhúa maneira.
4 E QYALQYER, que o contrairo defto fezer em
parte, ou em todo per qualquer maneira, fe for Con-
de, Meeíl:re, ou Priol , Rico-homem , ou Cavallci-
ro , ou outro Fidalgo, ou noHo Vaffallo, ou outra
qualquer peffoa, que eíl:o fezer , que logo fem outro
meo nenhuú lhe fcja tomada a terra, que de nós te-
ver , ou todos feus beés , fc terra nom rever, e nom
lhe fejam tornadas, nem entregues em nenhúa guifa
ataa que per as ditas terras, beés, e rendas delles
componham , e paguem em tresdobro rodo aquello
que affy tomaarom, e ouverom dos ditos Moeíl:eiros,
e Igrejas, e Beneficias, e rendas, e direitos dellcs , e
effo meefmo todo o dãpno , que em elles fczeerom :
pagando , e corregendo que lhe fejam entregues , e
tornados ; e a terça parte feja pera effes , que o mal
receberam, e as duas partes pera nós; e de mais que
fcjam degradados da Comarca, e Correiçom , honde
a Igreja, ou Moefteiro, ou I3eneficio for ataa noffa
mercee ; e de mais fe forem piaães , mandamos , que
aalcm da péna fuío dita , fejam açoutados publica-
mente polia Villa, ou lugar, honde efto acontecer.
5 E POREM per efle mandamento mandamos a
todolos Meirinhos , Juízes , e Corregedores, e Jufti-
ças dos noffos Regnos , a que for mofirado, ou o tre-
lado dellc cm pruvica fórma, como dito hc, que ca-
da
Dos LEIGOS, Q1TE TOMAM POSSE , ETC. 1 S7

da que deíl:o fouberem parte, ou pera ello forem re-


queridos per algúa peffoa, que o cumpram, e guar-
dem, e façam guardar , e comprir pela guifa. , que
em elle he concheudo bem ,e compridamente, fenom
fejam certos que lho eftranharemos mui gravemente
nos corpos , e averes, como aquclks, que nom que-
rem guardar noílo mandado : unde al nom façades.
E em teíl:emunho defto mandamos fazer cfta noíla
Carta. Dada na Cidade d ' Evora a quatorze dias do
mez de Fevereiro. E!Rey o mandou. Alvaro Gon-
çalves a fez era de mil e quatrocentos e vinte * hum
( a) * annos.
6 A QYAL Ley viíl:a per nós,por nos parecer juf-
ta, mandamos que fe Cl.lmpra, e guarde como em
ella he contheudo.

T I T U L O X VII.

Dos Fidalgos, que apropria111, afy os M ocflâ ros,


e Igrejas , diz endo que ham em e/las pou/a-
dias , e comedo rias.

No LIVRO da noffa Chancellaria foi achada hua


Ley feita per ElRey Dom Joham meu Avoo da
efclarecida memoria, de que o theor tal he.
1 PoRQYE a nós he dito , que alguús Fidalgos
Aa 2 apro-
ia) e noye A. e T.
188 LIVRO SEGUNDO TITULO DEZASET E

apropria m a fy muitas Igrejas, e Moeíl:eiros, dizen-


do que ham em elles poufadia s, e comedorias , e de
feito as tomam , e coíl:rangem os Abades , que lhas
dem, e coílrang em-nos dizendo que eíl:o ham d'aver,
porque jazem enterrados em effes Moeíleir os, e Igre~
jas os de fua linhagem ; e quando vagam , vaaõ-fe a
effes Moeílei ros, e Igrejas, e dizem, que a elles per-
tcence a enliçom pera enlegere m Abade com os Cle-
rigos, e Coonego s, e Fraircs, que em effas Igrejas, e
Moeíl:eiros íl:am; e fazem outras coufas, que parecem
agravo a effas Igrejas., e Moeíl:eiros.
2 E PORQYE compre a noffo ferviço faber fobre
eíl:o a verdade: Mandam os aos Correge dores, a cada
huú em fua Comarc a, que como chegarem aos Jul-
gados, faibam per inquiriço m certa a verdade , per-
guntand o palas Igrejas, e Moeíleir os , que hi há, e
1e ha hi alguús Fidalgos , ou outras peffoas , que fa_
çam as ditas coufas , ou cada húa dellas ; e fe acha-
rem , que as alguús fazem , faibam fe as fazem de
novo, ou. fe .as ham de tempo antigoo, e quanto tem-
po ha que dello ufam, e como, e íe o teem , ou o
ham d'aver per privilegi o, ou per cuíl:ume , ou fe o
fazem per * força (a) *; e como eíl:o for acabado , que
enviem logo cífas inquiriçoões a Nós pera as Nós veer-
mos, e livrarmo s, como compre a noffo ferviço, e a
boõ regimen to da noífa terra , &e.

(n) fuas volltades S,


~E os EscRIPVAAES DOS VIGARIOS, ETC. 189

3 AA QYAL Ley viíl:a per Nós, a vemos por boa,


e mandamos que fe guarde , e compra, como em el-
a he contheudo.

T I T U L O XVIII.

~e os Ejcripvaães dante os Vigarios guardem a taixa


das Ejcripturas, que he dada aos Ejcnpvaães
da Corte.

E LREY Dom Joham meu Avoo de gloriofa me-


moria em feus dias fez Ley per acordo de fua
Corte , que os Efcripvaães dante os Prelados , e feus
Vigairos guardem a taixa das Efcripturas , que per
elle hc hordenada aos Efcripvaães de fua Corte , e
nom lhe feja confentido, que efpeitem os povo os ; e
os Prelados , e feus Vigairos efcarmentem aquelles
Efcripvaães , que o contrairo fezerem , e em outra
auifa a elle converá tornar a ello com direito.
o
1 E HORDENOU mais que os feus Taballiaães, que
fom ailinados pera eílar , e efcrepver nas audiencias
dos Prelados , e feus Vigairos , efcrepvam todolos
feitos, que fe per-ante elles trautarem , e nom feja
confentido a alguú outro, que em elles efcrepva por
tal , que per elles ElRey feja certificado fe os Prela-
dos , ou feus Vigarios ufurpam fua jurdiçom, ou fa-
zem contra ella o que nom devem.
2 A
190 LIVRO SEGUNDO TITULO DEZOITO

2 A Q!,TAL Ley viíl:a per Nós , mandamos que fe


guarde , fegundo em ella he contheudo , porque nos
parece feer coufa juíl:a , e razoada. E efio de os Ef-
cripvaães efcrepverem nas audiencias dos Prelados fe
entenda em aquelles Arcebifpados, ou Bifpados, hon-
de fe acuílumou d'efiarem, fegundo he contheudo
nos Capítulos , que fó feitos antre os Reix , e os Pre-
lados.

T I T U L O XVIIII.

flue os Fidalgos , ou ftus Moordomos nom poefem nas


Igrejas, e Moejleiros , nem lhes /ilhem ofeu
contra fita voontade.

E LREY Dom Affonfo o Terceiro hordenou, e


pofe por Ley , que nenhuú Fidalgo , ou Ca val-
leiro , nem outro de qualquer eíl:ado , e condiçom
que feja, que de nós terra téver, ou feus Moordo-
mos , nõ poufem nas Igrejas , nem em fuas cafas ,
nem façam celeiros , nem adegas nos Moeíl:eiros,
ou Igrejas , nem nos adros dellas , nê filhem hi pam,
nem vinho do que ham d'aver as Igrejas, ou Moefiei-
ros contra voontadc dos Abades , e feus Clerigos , ou
Moordomos.
1 ÜUTROsy mandou , que poíl:o que as Igrejas
jaçam em terra Regueenga, nom fejam tributarias
por
~E osFrnAL Gos,ou sEus MooRDOMos,ETC. 191

por ello a E!Rey, falvoqua ndo fe per foro, ou algum


outro juíl:o titulo moíl:rar que o devam de feer.
2 E NÓS aili o hordenam os , e mandam os, por-
que o fentimos aili por ferviço de DEOS, e noffo,
e bem de noffos Regnos.

TITU LO XX.

flue os Fidalgos nom ponham em fua terra dejt'fas ,


per que façam hermar as herdades das Igre-
jas , e Moejieiros.

A NTIGAMENTE foi Ley eílabelec ida per E!Rey


Dom Affonfo o Terceiro em que mandou , que
Fidalgo , ou Cavallei ro, ou qualquer outro, que de
nós terra rever , nom ponha defefa em fua terra , per
que faça hermar as terras das Igrejas, e Moeíl:eiros ,
ou leixem de feer por ello lavradas , e aproveit adas,
e ainda que o fazer queiram , nom lhes feja confen-
tido.
1 ITEM. QQe os Prelados nom agravem as Igrejas,
e Moeíl:eiros , e homées dellas, nem lhes demande m
mais daquello , que d'antigam ente levaarom , e com
direito devam d'aver; e fe d'outra guifa o fazer qui-
ferem, nõ o deve ElRey de confenti r ataa veer fobre
ello mandado do Santo Padre em contraira .
2 E Nos a!Iy o mandam os, que fe cumpra , e
guar-
192 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E HUM

guarde, porque achamos que dantiguamete foi aífy


hordenado pelo dito Senhor Rey Dom Affonfo , co-
mo dito he.

TITULO XXI.

flue os C!erig;os, e Frades nõ paguem Portagem ,jenom


como pagam os outros Chrifptaãos.

P ER ElRey Dom Eduarte meu Senhor, e Padre


que DEOS aja em fua Santa Gloria, em feu tem-
po foi feita húa Ley em eíl:a forma , que fe fegue.
r Os Clerigos , e Frades dos noffos Regnos , e
Senhorio nos diílerom , que alguãs Villas, e Lugares
da noffa terra teem Foraaes, e cuíl:umes , per que re-
cadam , e ham Portageés, Paffageés, e Cuíl:umageés
aífy as que a nós perteencem, como aos Concelhos , e
a outros Senhorios per noffa autoridade, em as quaaes
he contheudo, que os Clerigos , e Frades paguem,
aífy como pagam os Judeus, e mancebas folteiras
mundavees.
2 E coMo quer que taaes Foraaes, e cuíl:umes
fejam d'antigamente, e por os Clerigos, e Frades fee-
rem homeés de Religiom , por honra da nofTa Santa
Madre Igreja devem feer honrados , e liberdadas: Po-
rem nós de noífo moto proprio , e poder abfoluto ,
fem no lo elles requererem , nem outrem por elles ,
fal-
~E os CtERIGOS , E FRADES , ETC. 193
falvo nós por honra da Santa Igreja, mandamos que
daqui em diante os ditos Clerigos , e Frades nom pa-
guem no que dito he, falvo como pagam quaaefquer
outroi homeés fagraaes , que vizinhos nom fom dos
lugares, e nom como os ditos Judeus , e mancebas
folteiras.
3 E POREM nom tolhemos , que fe alguús Cleri-
gos forem vizinhos d'alguús lugares , que nom gou-
vam de feus privilegias , e liberdades ; e porque os
Frades nom fom vizinhos em nenhua parte, porque
vivem fob Regra , eíl:es paguem os ditos direitos ,
como homeês fagraaes , e nom como os ditos Judeus ,
e mancebas folteiras.
4 E POREM mandamos aas noí1as Jufüças, Al-
rnuxarifes, e Recebedores, que cumpram , e guar-
dem eíl:a noffa Carta , [em embargo dos ditos Fo-
raaes , e cuflumes antigos, porque naifa mercee, e
vontade he affy feer feito , e affy achamos , que foi
horden,\do per ElRey Dom Joham meu Padre da
muito gloriofa memoria.
ç A Q!JAL Ley viíla per nós avemos por boa ,
e mandamos, que fe guarde como em ella he con-
theudo.

Liv. Il Bb T 1-
LIVRO SEGUND O TITULO VINTE E DOIS

T I T U L O XXII.

Das barregaâs dos C/erigos, e Frades.

N O LIVRO da Chancellaria d'ElRe y Dom Joham


meu Avoo de gloriofa memor ia foi achada húa
Ley feita á cerca das barregaãs dos Clerigos , de que
o theor tal he.
1 DoM JoHAM , &c. A quantos eíl:a Carta virem
fazemos faber , que fazendo Nós Cortes na Cidade
de Braga a com os Bifpos , e Hordeé s , e Fidalgo s , e
Concelhos de noífos Regnos , que os Procura dores
dos ditos Concelhos , que aas ditas Cortes vieram ,
nos diíferom , que muitos Clerigos , e Religiofos ti-
nham barregaãs em fuas caías a olhos, e face dos Pre-
lados , e de todo o Povoo , e as traziaõ veflidas , e
guarnidas tam bem , e milhor que os Leigos tra-
zem as fuas molheres , pola qual razom muitas mo-
lheres leixam de tomar maridos lidemo s, que pode-
riam aver pera viverem em penden ça , e em ferviço
de DEOS , e juntam -fe com os Clerigo s, e com Fra-
des , e Freires , e com outras peffoas Religio fas, e vi-
vem com elles por fuas barregaãs em pecado mortal ;
e que dello fe feguia grande efcandalo antre os Cleri-
gos , e os Leigos , ca muitos , que tinham as fuas fi-
lhas lidernas , poíl:o que fofiem virgeés , per induzi-
men-
DAS BARIUGAAS DOS CLERIGOS, E FRADES. 195
mento dos ditos Clerigos, e Frades, e Freires, e Re-
ligiofos leixavam feus Padres, e Madres , e hiam-fe
pera os Clcrigos, e Frades , e Freires , e Religiofos
pera feerem fuas barregaãs : e outro fy a maior parte
dos Leigos defpreza vam os facrificios dos ditos Cle-
rigos, porque eram barregueiros publicos , e perdiam
devaçom nas Igrejas, e muitos delles fe nom queriam
confeffar aos Clerigos , parque os viam barregueiros
publicos.
2 E PORQ.1JE dcíl:o fe feguia grande dãpno aa nof-
fa terra , e gram perigoo aas almas dos ditos C!cri-
gos, e Religiofos, e outro fy dos Leigos , per defpre-
zamento dos facrificios de taaes Clerigos , e Religio-
fos barregueiros pruvicos ; e pediram-nos que a eíl:o
oolhaífemos por noífo fcrviço, e pofeilemos em ello
remedio, qual compre.
3 E Nós querendo a eíl:o poer remedio como vi-
veffem fora de tal pecado taõ pruvico , efcrepvemos
aos Prelados dos noífos Regnos , que pofeífem tal re-
rnedio aos Clerigos , e Religiofos de feus Arcebifpa-
dos, e Bifpados de bem viver, e que nom viveífem
em taõ grande pecado , e taõ pruvico; e os ditos Pre-
lados nos enviaram dizer que lhes prazia de fazer ef-
to, ca entendiam , que era ferviço de DEOS, e prol
da terra ; e poferom fuas Coníl:ituiçoões fobre eíl:o ,
poendo aos Clerigos , e Religiofos , que barregaâs te-
veífem, penas d'efcúmunhoões , e fofpenfoões, e ou-
tras penas quaees entendiam , que fobre eíl:o deviam
poer. Bb 2 4 E
196 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E DOIS

4 E PORQYE os ditos Prelados nos enviaram di-


zer, que por quantas penas elles pofeífem aos Cleri-
gos , e Religiofos , que nom teveífem barrcgaãs , que
as nom leixariam de teer, fe nós nom pofcffemos pe-
nas aas molheres, que nom foífem barregaãs dos di-
tos Clerigos , e Religiofos ; e nós porque defio ave-
mos certa cnformaçom , e porque aquelles , que as
teem , nõ fe arredam do mal fazer por temor de
DEOS-, que ajam razom de fe apartar do dito peca-
do com temor da pena temporal ; e oolhando o mal ,
e dãpno, que fe deíl:e pecado tam pruv ico recrece aa
noffa terra, e póde recrecer ao diante ; e porque polo
eíl:ado , que nos DEOS deu pera reger efies Regnos ,
foomos theudo trabalhar quanto podermos , que os
noífos fobgeitos vivam fem efcandalo, e fem peca-
do ; e querendo correger com pena temporal as mo ..
lheres, que tam publicamente cometem efie pecado,
que fe caíliguem, e refreem de o fazer ; com os do
noffo Confelho hord.enamos , e poemas por Ley pera
fempre , que daqui em diante nom fejam oufadas as
molheres do noífo Senhorio de viverem por barregaãs
publicamente com os Clerigos, e Frades, e Freires ,
e outras peffoas Religiofas de qualquer eílado ,e con-
diçom que fejam.
5 E mandamos, que qualquer, que for barregaã
de Clerigo, ou Frade, ou Freire, ou d'outra pdfoa
Religiofa, e com elle viver cm pecado publicamente
c:m fua caía de morada , ou feendo achado certamen-
DAS BARREGAAS DOS CLERIGOS, E FRADES. 197
te fem duvida que íl:á por fua, e ha delle mantimen-
to, e veftido pera com elle fazer o dito pecado , que
pola primeira vez que for achada no dito pecado com
elle , feja prefa , e pague quinhentas libras de pena ,
e feja degradada por huú anno da Cidade, ou Villa ,
ou Aldea, e de feus termos com pregam, onde o dito
pecado acontecer. E fe tornar ao dito pecado , paf-
fado o tempo do dito degredo , com eífa peífoa , por
que aífy foi degradada , ou com outra peffoa de fua
condiçom, mandamos que pague quinhentas libras ,
e feja degradada com pregom por huú anno de todo
o Bifpado, ou Arcebifpado, em que efto acontecer.
E paífado o dito degredo , fe tornar ao dito pecado
com eífe Clerigo, Frade, ou Freire, por que foi de-
gradada , ou com outra peífoa de fimilhante condi-
çom , entom mandamos , que tal como efta, feja açou-
tada publicamente com pregom por eífa Cidade, Vil-
la, ou lugar, em que efto acontecer, e degradada do
Bifpado ataa noífa mercee.
6 E MANDAMOS, que tal molher, como efia, a
que eíl:o acontecer, nom feja efcufada das penas fufo
efcriptas, poíl:o que feja Filha dalgo, ou de condiçom
honrada, porque cometendo as ditas maldades , fe
faz indigna dos privilegios , e honras, que devem
aver as peífoas d'honrada condiçom.
7 PERO porque algúas molheres, a que efto acon-
tecer , tomarôm em fy vergonça, por ferem degrada-
das, e trabalharôm de fe quitarem do dito pecado:
po-
198 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E DOIS

porem queremos, que effas molheres, que affy forem


degradadas affy pala primeira vez, como pola fegun-
da , e em durando os tempos dos ditos degradamen-
tos mudarem fuas vidas , partindo-fe dos ditos pe-
cados, e tomando mari<los, ou entrando por Freiras,
e fazendo profiffom em algúa Hordem das Religioões
aprovadas , ou fe poerem por empardeadas em luga-
res honeftos : mandamos , que a taaes, como eftas,
que cfto fezerem fem outro engano, fejam alçados os
ditos degradamentos , e outorgamos, que livremente
poffam viver nos lugares, donde foram degradadas ,
nom tornando mais aos ditos pecados ; ca fe a effes
pecados tornarem, mandamos que moiram porem.
8 E SE algúas molheres , que forem achadas no
dito pecado , de que forom degradadas duas vezes ,
como de fufo dito he, que devam por efto feer açou-
tadas , fegundo efta noffa Ley , quiferem ante dos
açoutes cafar, e tomar maridos lidemos , ou entrar
por Freiras em alguús Moefteiros das Religioões
aprovadas , fazendo logo profiffom , qual devem ;
mandamos, que fejam efcufadas dos açoutes, e que
vivam nos ditos lugares com feus maridos , ou nos
Moeíl:eiros, de cujas Religioões tomarem os avitos; e
fe defpois defto tornarem ao dito pecado, mandamos
que moiram porem.
9 E OUTORGAMOS , que qualquer do povoo poffa
acufar taaes molheres, como eftas, e a ver a terça par-
te deftas penas, e as duas partes fejam pera o Alquai-
de
DAS BARREGAAS DOS CLERIGOS) E FRADES. 199
de Moor da Cidade , ou Villa , ou Julgado , bonde
eíl:o acontecer , fe o bi ouver ; e nos lugares , bonde
Alquaide nom ou ver, fejam eífas duas partes pera os
Meirinhos, que ham os outros direitos dos Meiri-
nhados.
1o PERO fe eíl:as molheres forem achadas , ou

acufadas, honde Nós com a noffa Corte formos, per


noffos Meirinhos, e Officiaaes, e outras peffoas per-
ante o Corregedor da noífa Corte, mandamos, que a
terça parte feja do que acufar, e as duas partes fejam
pera as prifoões das noffas cadeas, e defpefas d'alguús
pobres prefos.
11 MANDA Mos, que as molheres, que afly forem

degradadas, defpois que manteverem feus degredos,


nom mórem mais nas Freiguefias, bonde morarem
feus barregaãos. E pera fe eíl:o milhor guardar, man-
damos fob pena da noílà merece aos J uizes das Cida-
des , Villas, e Lugares dos noífos Regnos, que cada
mez faibam, e enqueiram em feus Julgados, fe hi ha
raaes rnolheres, como eíl:as, e fe as acharem, que fa_
çam em ellas as eixecuçoões fufo efcriptas ; e fejam
certos , que fe efto nom fezerem com aguça , que lho
eftranharemos nos corpos, e a veres, como noífa mer-
cee for.
12 ÜuTRo sY mandamos aos Taballiaães dos di-
tos Lugares fob pena dos officios, e da noífa mercee,
que faibam, fe hi ha taaes molheres defta condiçom 11
e diguam-no aos Juizes, e efcrepvam a obra , que hi
fe-
2 00 L1vRo SEGUNDO T1Tu10 Vrnn: E no1s

fezerem ; e fe os Juizes em ello forem negrigente s ,


que o dem em eftado aos Corregedo res quando pela
terra vierem, e efcrepvam a obra, que os ditos Cor-
regedores hi fezeré ,e o enviem diz-era Nós pera tor-
narmos a ello como devemos.
13 E MANDAMOS outro fy aos Corregedo res, que
ora fom, ou pelo tempo forem, fob pena da noffa mer-
cee, que quando chegarem aos lugares de fuas Cor-
reiçoões , que pergunté fe ha hi taaes molheres , e fe
as acharem , que lhes dem os efcarment os fufo ef-
criptos; e dem outro fy efcarment o aos Juízes, e Ta-
balliaães , íc os; acharem em eíl:o negrigente s. E ou-
tro fy fe os ditos Alquaides , e Meirinhos forem cm
ello negrigente s , e hi taaes molheres ouver, e nõ fo-
rem per elles acufadas, mandamo s, que elfes Alquai-
des , e Meirinhos paguem as ditas penas em trefdo-
bro , e fejarn pera os Corregedo res das Comarcas ,
honde efto acontecer.
14 E PERA nõ allegarem ignoranci a, mandamo s,
que eíl:a Hordenaç om fe poblique nas audiencias por
primeiro dia do mez: onde al nom façades. Dante na
Cidade de Lixboa a vinte e oito dias de Dezembro .
ElRey o mandou. Vafco Rodrigues a fez era de mil
e quatrocent os e trinta e nove annos.
15 E POR quanto eíl:a Hordenaç om nom era com-
pridament e guardada nê realmente eixecutada pelos
Corregedo res das Comarcas , e fe fazia engano , por-
que fe trabalhava m d'aver as penas do dinheiro, e
nom
DAS BARREG AAS DOS CLERIG OS, E FRADES . 201

nom curavam d'efqui var o pecado ; e achámo s, que


por ElRey meu Padre de louvada memor ia proveer
a ello, foi feita outra Horden açom, per que enadeo ,
e declaro u a fobredi ta, a qual mandam os aqui poer,
e he efia , que fe adiante fegue.
16 Nós ElRey Dom Eduart e, confira ndo que as
Leyx, e Poílura s dos Reyx, e Princip es em vaaõ
fom poflas, e feitas, fenom forem guardad as, e ufa-
das, e aquelles , a que he cometid o que as façam
guarda r, e compri r fegundo a letra, mudand o ho
entend imento , e effeito dellas em engano , merece m
haver pena; e por quanto ElRey meu Senhor , e Pa-
dre de gloriofa memori a por efquiva r, e refrear o
grande pecado , e deíferviço de DEOS , que fc fazia,
e faz em eíl:es noffos Regnos pelos Clerigos , e Fra-
des , e Freires teerern publica mente barrega ãs , e em
como por eíle pecado muitas moças virgeês , e mo-
lheres honeíl:as, e viu vas fe hiam pera os ditos Cleri-
gos, e Frades , e Freires~ e fc nom trabalh avam de
cafar, e viver em ferviço de DEOS em vida conju-
gal , foi feita Horden açom , e Ley pera todo fempre.
17 NoM embarg ando, que o dito pecado feja ef-
tranhad o, e efquiva do pela dita Horden açom, os di-
tos Correge dores, a que taaes molhere s perteen ce pu-
nir , e acufar , e as ditas penas levar , e fazer em el-
las compri r a dita Horden açom fem engano , e fraude
da dita Ley, como dito he, quando chegam a aquel-
les lugares , honde taaes molhcre s vivem , e ufaó do
Liv. li. Cc di-
202 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E DOIS

dito peccado, feendo barregaãs de Clerigos, e Fra-


des, e Freires, ou ainda que elles nom vaaõ pelos di-
tos lugares, mandam feus meffegeiros , que recadem
as ditas penas , e trabalham-fe de coíl:ranger os ditos
Juizes , Alquaides, e Meirinhos, que as deverom
d'acufar , e punir, que lhes dem, e paguem as ditas
penas em tresdobro, e de[pois que affy teem os ditos
dinheiros, nom curam de enxecutar a dita Hordena-
çom , ante permitem, e leixam ellar as ditas molhe-
res no dito pecado; e affy donde a dita Hordcnaçom
foi feita por as molheres viverem em ferviço de
DEOS , e em falvaçom , fegue-fe outro maior peca-
do , por os Corregedores affy ferem negrigentes em
comprir, e eixecutar a dita Hordenaçom , e muito
diligentes em levarem as ditas penas em tresdobro
dos ditos Alquaides , e Meirinhos.
18 E o QY E pior he , fazem os ditos Corregedo-
res aveenças com as ditas molheres , que affy eíl:aõ
por barregaãs dos ditos Clerigos , Frades , e Freires,
e com os ditos Clerigos, e peffoas Religiofas, levan-
do em cada huú anno dos ditos Clerigos , e de fuas
barregaãs certa conthia de dinheiros, leixando-os ef-
tar, e perfeverar em o dito peccado.
19 E os Alquaides, e Meirinhos quando affy fom
coílrangidos pelos ditos Corregedores , e lhes fazem
pagar as penas em treídobro, qu~ as ditas barregãas
dos Clerigos, Frades, e Freires ouverom de pagar,
trabalham-fe de tal guifa , que os ditos Clerigos , e
Fra-
DAS BARREGAAS DOS CLERIGOS, E FRADES. 203

Frades , e Freires paguem aguellas penas , por que


aífy fom coftrangidos, aos ditos Corregedores , amea-
çando-os, que fe as pagar nom quizerem , que lhes
prenderôm as barregaãs, que teem , fazendo todo ef-
to aífy em engano, e fraude da dita Ley.
20 E PORQ.1JE deftas coufas, que aífy fazé , fomo!l
certo , e leixando-as paffar fem pena , e efcarmento ,
feria grande mal , e pecado , e a Hordenaçom nom
feria comprida , nem o pecado efqui vado , querendo
nós a efto poer remedia , e ponir aquelles , que taaes
coufas fazem, e confentem, com acordo dos do noffo
Confelho eíl:abelecemos , e poemas por Ley , que os
Corregedores nom poífam levar as penas fofo dicas,
falvante quando forem pelos lugares, e termos, hon-
de as ditas molheres viverem no dito pecado.
21 E MANDAMOS , que quando affy levarem a&
penas pecunarias , façam logo eixecutar a dita Hor-
denaçom , e penas corporaes em ella contheudas nas
111olheres , que aífy eíl:everem por barregaãs dos di-
tos Clerigos , Frades , e Freires ; e pala primeira vez
que eíl:o paífarem , levando as penas de praça , ou
efcondidamente , ou outras peitas , palas affy leixa-
rem eftar com os ditos Clerigos, e norn comprirem ,
e eixecutaré as ditas penas corporaaes, que logo per-
cam os officios , e nom poffam mais ufar das ditas
Correiçoões.
22 ITEM. Mandamos aos Juizes das Cidades , e
Villas , e Lugares , que eíl:o fouberem , de como os
Cc 2 Cor-
204 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E DOIS

Corregedores , Alquaides , e Meirinhos levam as di-


tas penas , ou peitas , e nom eixecutam a dita nofla
Hordenaçom nas dicas molheres, que affy o façam lo-
go faber a nos, e á noffa Corte do dia que efto foube-
rem ataa huú mez ; e os Juízes, que efto nom noti-
ficarem aa noífa mercee em o dito tempo , manda-
mos , que pagué cincoenta coroas pera arca da pie-
dade por cada vez que o leixarem de notificar, e fa ..
zer faber a nós. E damos licença a qualquer do povoo,
que polfa acurar os ditos Juizes, e Juftiças, que forem
negrigentes em o fazerem faber aa noffa mercee ; e
aquelles , que os aíly acufarem , ajam a meetade da
dita pena , e a outra feja pera arca da piedade. E por
os ditos Corregedores , e Juizes nom allegarem igno-
rancia , mandamos, que eíl:a noffa Hordenaçom fe ..
ja poblicada , e os Taballiaães a regiftem em feus li-
vros , e a pobliquem nas audiencias nos lugares , hon-
de viverem.
23 As QYAAEs Leyx viíl:as, e examinadas per nos,
mandamos , que fe cumpram , e guardem , como
em ellas he contheúdo : falvo que onde era manda..
do que perdeffem os Corregedores os officios , que
nos avemos por bem, e mandamos que paguem
anoveado todo o que levarem , a meetade pera quem
os acufar , e a Ot'.Jtra meetade pera a noífa Chancella-
ria, porque achamos, que alfy forom fempre prati-
cadas em tempo dos outros Reyx, e ainda o fentimos
aífy por ferviço de DEOS, e bem de noffos Regnos.
TI-
Dos PRJVILEGIOS DADOS AOS CASEEIROS, ETC. 205

T I T U L O XXIII.
Dos privilegias dados aos Cafeeiros das Igrejas ,
e Moefleiros , em que forma Je ham de dar.

N Osso Avoo E!Rey Dom Joham de gloriofa me-


moria deu certos privilegios a álguus Moeíl:ei-
ros , e Igrejas , e Fidalgos , em os quaaes fe contem,
que feus lavradores , e outros quaaefquer, que fuas
herdades lavrarem, e aproveitarem , e Cafeeiros ,
que morarem em fuas caías , e feus mancebos , e fer-
vidores fejam efcufados de todolos encarregas.
1 E POR quanto nos fezerom bem certo , que por
aazo das palavras contheudas em eíl:es privilegies,
aquelles, que os aviam , ufavam delles contra noffo
ferviço , e bem da terra em eíl:a guifa; que fe tinha
húa vinha, ou herdade , que huú homem poderia
bem lavrar , e aproveitar, repartia per feis , ou fete,
os quaaes aviam meíl:eres , per que haviam principal-
mente governança , e manteença de fuas vidas , e por
aquella pequena parte de herdade, que do privilegia-
do aproveitavam , eram efcufados do nofio ferviço,
e do do Concelho ; e outros lhes faziam vendidiços
frus beés , ficando elles em poife delles , e dando~
lhes alguú bem pequeno foro, por moftrarem que
eram feus lavradores , e feerem aífy efcufados ; e al-
guús effo rnedês aa fua cuíl:a vinham fazer caías nas
her-
206 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E TRES

herdades do que afly era privilegiado, por affy fce-


rem efcufados , dizendo que affy eram feus cafeei-
ros , avendo fuas proprias herdades , ou meíl:eres ,
per que viviam ; e affy outros por hirem a alguüs lu-
gares com elles, ou lhes fazerem outros pequenos fer-
viços, fe chamavom feus fervidores pera feerem de-
fefos pelos ditos feus privilegies.
2 PoREM confirando ElRey meu Senhor ., e Pa-
dre em feu tempo como a t.eençom do dito noffo A voo
de gloriofa memoria nom foi por ufarem de taaes
pri vilegios côm taaes artes, porque fe longamente al-
guús foífem bem guardados em efta forma , que os
elles eílendiam, e queriam eftender, todolos homeés
da terra fe poderiam efcufar do noífo ferviço , e do
Concelho, como de feito em alguiís lugares vaaõ
praticando defpois do dito privilegio affy dado aas di-
tas Igrejas , e Moeíleiros : ~erendo ElRey meu Se-
nhor , e Padre a ello proveer com remedio , man-
dou, e declarou o dito privilegio em eíla forma, que
fe fegue.
3 HoNDE diz os que ajfy lavram, e aproveitam
Juas herdades, e heés, que fe entenda, que a maior,
e principal parte da vida do dito lavrador feja gover-
nada pelos beés , e herdades , que ha d'aproveitar do
dito privilegiado, ainda que nom feja encabeçado em
feu cafal , ou lavre, e aproveite algúa mais pequena
parte d'outros beés ; e em aquefto lhe era feita efpe-
cial mercee , porque nos outros privilegies geraaes,
que
Dos PRIVILEGIOS DADOS AOS CASEEIROS, ETC, 207

que fe daõ aos Fidalgos , e Vaífallos, que nom fom


em tal forma , fe requere , pera feerem guardados
feus lavradores , que fejam encabeçados em feus ca-
faaes , e lavrem , e aproveitem feus beés, e herdades,
e nom outras ; e poíl:o que lavrem as herdades dos
Vaífallos, e nom d'outros,fe nõ viverem continuada-
mente em feus cafaes encabeçados , nom devem a
feer guardados íem efpicial mercee ; e poíl:o que fe-
jam encabeçados, quanta parte lavrarem fora da her-
dade do Vaífallo, tanto devem feer coíl:rangidos, que
fervam em todolos encarregos.
4 ITEM. Honde diz Cafeeiros , aqueílo declarou
que fe entenda daquelles , que continuadamente , e
principal parte de fuas vidas fom governadas pelo fa-
lairo do Moeíl:eiro, ou Igreja, ou Fidalgo, em cujas
cafas moram , e que nom vivam principalmente per
outros meíl:eres , nem aproveitamento dos beés dos
ditos cafeiros.
5 ITEM. Honde diz mancebos, e fervidores en-
tende-fe que fervam continuadamente a maior parte
do anno aos ditos Fidalgos , e Igrejas , e Moefteiros ,
e fejam per elles principalmente governados, e vefü-
dos de capas , e fayas em cada huií anno , fegundo
que era Hordenaçom antiga dos Reyx, que ante nós
forom : e porem mandou , que defta guifa lhes fejam
guardados os ditos efpiciaaes privilegies aos que os
reverem, e d'outra guifa nom. E nós aífy o manda-
mos , e hordenamos , como per elle foi declarado,
fegundo dito he. 6 Ou-
208 LIVRO S.EGUNDO TITULO VINTE E TRES

6 ÜuTRO SY por quanto he defefo, que Igrejas .,


nem Moeíl:eiros nom poffam a ver novamen te herda-
des contra defefa dos Reyx fem fua licença efpecial-=
Mandam os , que fe alguús Moeíl:eiros, ou Igrejas ,
que affy tenham os ditos privileg ios, gaanhar om, e
ouverom contra a dita Hordena çom defpois da dada,
e declaraçom delles, algúas coufas , que nom deviam.,
fem a verem licença efpicial, e as nom venderom def-
pois da poblicaçom d'huã Hordena çom, per que El-
Rey meu Senhor, e Padre de gloriofa memoria limi-
tou os ditos privilegios em eíla forma ataa huú anno,
que fejam perdidas pera nós, por quanto affy foi hor-
denado pelo dito Senhor: e eífo medês os que ouve-
rem daqui em diante : e aos cafeeiros , e lavradores.,
que em taaes herdades viveré, nom fejam guardad os
os ditos privilegios. E por nom vir em duvida o tem-
po da poblicaçom da dita Hordena çom , declaram os
que foi no anno do Nafcime nto de Noífo Senhor JE-
su CHRISTO de mil e quatrocentos e trinta e* qua-
tro (a) • annos aos * dezouco ( b) * dias de Setembr o.

AT AAQY I avemos fallado das Igrejas , e Moeftei -


ros, e bem aífy dos Clerigos Sagraae s, e Frades pro-
feffos, e coufas, que a elles perteenc em : agora en-
tendemo s a fallar dos direitos Reaaes , e coufas , que
perteenc em a Nós , e aos Officiaaes das noffas ren-
das , e direitos.

--- --- --- --- --- -


T 1-
(a) tm S. e T. (b) oito S. e T.
Dos DIREITOS REAAES, ETC. 209

T I T U L O XXIIII.

Dos Direitos R eaats , que aos R eys perteence d' aver


em Jeus Regnos per Direito Comuú.

E LREY meu Senhor , e Padre de gloriofa memo-


ria fez húa Ley, de que o theor talhe.
I Nos Dom Eduarte pela graça de DEOS
Rey de Portugal , e do Algarve , e Senhor de Cepta.
Conhecendo como nom tam foomente per Ley fanta,
mais ainda Natural , de que as gentes movidas per
natural igualdade geeralmente ufam , antre todalas
coufas outras fomos em efpecial obrigu ado ao Noffo
Senhor DEOS , de cuja maaõ, e encomenda teemos
a governança , e regimento deíles Regnos , de os
acrecentar , e ainda requerer os Direitos Reaaes , e
rendas delles, quanto em Nós bem for, a rodo noífo
Real, e verdadeiro Poderio , porque feendo juíl:a-
mente requeridos, e confervados em feu direito feer,
os noífos naturaaes ferom por ello rellevados d'outros
muitos encarregas, que os Reyx de longo tempo, fe-
gundo direito , e ufança geeralmente aprovada ,
acoíl:umaarom de encarregar feus Póvoos em tempo
de fuas neceffidades; e quando os Direitos Reaaes fof_
fem minguados per mingua de bõo requerimento,
neceífariamente conviria aos Reyx de encarregar
feus Póvoos d'outros encarregas illicitos fem urgente
L~ll Dd n~
2 IO LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E QYATRO

neceffidade , o que ante DEOS lhe feria contado por


grande culpa.
2 E POR tanto dezejando Nós de feer defencarre -
gado de tal obrigaçom , Mandamo s ao Doutor Ruy
Fernandes do noífo Con felho , que proveeífe as
Leyx lmperiaae s, e quaeefque r outros Direitos, aífy
Canonicos , como Civys , perque podeífe feer em
verdadeiro conhecime nto de todolos Direitos Reaaes,
que aa Coroa do Regno perteence m, e per direito
lhe fom realmente devudos pera confervaça m de fet1
Real Eíl:ado, em tal gu ifa, que per feu boõ encami-
nhamento podeílemo s feer certament e enformado de
como fe ouveffem de recadar: o qual com efiudo de-
liberado nos deu huã declaraço m, fegundo achou per
Direito , em eíl:a forma, que fe íegue.
3 DrssEROM as Leyx Imperiaae s, que Direito
Real he Almiranta do, que fignifica authoridad e pera.
crear Almirante no mar, e Capitom na terra em tem-
po de guerra , pera haver de reger, e governar a hof-
te em nome d'ElRey.
4 ITEM. Dar lugar a fe fazerem armas de jogo•
ou de fanha antre os requeílado s, e teer campo antre
elles.
5 ITEM. Eíhadas, e ruas pruvicas antiguame nte
ufadas , e os Rios navegante s , e aquelles, de que fe
fazem os navegantes , fe fom cabedaaes , que correm
continuad amente em todo tempo , pero que o ufo
affy das eíl:radas , e ruas pruvicas, como dos Rios
fe-
Dos Dr REI Tos REAAE S, ETC. 211

feja igualm ente cõmuú a toda gente, e qualqu er ou-


tra coufa animad a , ficando fempre a propri edade
delles no Patrim onio Fifcal.
6 ITEM. Os portos do mar, honde os navios cof-
tumaõ d'anco rar; e as rendas , e direito s que d'an-
tigame nte fe acoíl:umaarom de pagar das rnerca da-
rias, que a elles fom trazida s.
7 ITEM. As Ilhas, ou Infoas a jacentes ao Regno ,
a que fom mais chegad as.
8 ITEM. Os direito s , que fe pagam pelos pafia-
geiros , atravef fando os Rios cabedaaes d'huã parte
pera a outra.
9 ITEM. As portag eés, e quaaef quer outros direi-
tos, que fe pagam , fegund o Direit o, ou Cuíl:ume da
terra , das rnerca darias, e coufas , que fe trazem pera
a terra , ou levam fora della.
10 ITEM. Autho ridade pera fazer moéda .
II ITEM. As penas de bens de raiz, e movee s,
em que os malfeitores fom condap nados polos malle-
ficios , que comet eerom , que nom foffem pera alguã
parte , ou ufo julgad as , ainda que fejam poíl:as fim-
presm ente, nom apropr iadas expreíf amente aa bolfa
fifcal.
12 ITEM. Todolo s beés vagos, a que nom he acha-
do certo Senhor .
13 ITEM. Todala s coufas , de que alguus , fegun-
do Direito , fom privad os , por nom feerem dignos
de as poder a ver, afiy per Ley Imper ial, como per
Dd 2 Ef-
212 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E QYATRO

Eíl:atuto ; fal vo em aquelles cafos , em que efpecial ..


mente as Leyx permitem, que as poffam haver, nom
embargante feu defmerecimento, otl fejam rellevados
per graça geeral , ou efpecial do Rey , ou Princepi da
Terra.
14 ITEM, Os beés daquelles, que cafam com feus
dividas no graao defefo per Direito, ou ham com el-
les ajuntamento carnal, nom avendo decendentes ly-
demos em qualquer graao de linha direita lydema de...
cendente.
r 5 I TFM, Os beés dos condapnados per Sentença
no cafo , honde o condapnado perde a vida natural,
ou o eflado , ou a liberdade da peífoa , e per fua mor-
te, ou condapnaçom nom ficou alguú feu acendente,
ou decendente Iydemo ataa o terceiro graao.
I 6 ITEM. Em todo cafo de condapnaçom , hon-.
de o condapnado nom perde a vida natural , eftado ,
ou liberdade , e per Direito dos Enperadores deve
perder expreffamente os beés , fe ao tempo da con-
da pnaçom nom avia alguú decendente lydemo em
qualquer graao.
17 ITEM- Em todo cafo, honde alguú culpado
de crime capital , per que mereça perder a vida na-
tural, ou eílado, ou liberdade da peffoa , fe aufentou
por caufa do dito crime, e he citado em fua peffoa,
ou per editos, que venha peffoalmente eíl:ar a Juizo.,
e fe defender de tal crime , e nom parece ao termo ,
que lhe foi aífynado, em tal cafo eíl:abellecerom as
Leyx
Dos DIREITOS REAAES, ETC. 2r3

Leyx Imperiaaes, que fejam todos feus beés anota-


dos, que fe chamaõ em Direito efcriptos por ElRey,
e poíl:os em fieldade ; e eíl:o affy feito, feja outra vez
citado per editos em tal guifa, que a dita citaçom , e
anotaçom de beés venha , ou poífa razoadamente vir
á fua noticia; e fe ataa huií anno comprido contado
do dia, que a citaçom lhe for, ou poffa razoadamen-
te feer noteficada , nom vier peífoalmente per fy a fe
defender , e efcufar do dito crime , os ditos beés de
todo fom apricados aa Coroa do Regno, e d'hy em
diante já mais em nenhuií tempo ferá ouvido fobre
elles. Pero fe quizer vir em alguú tempo a fe efcu-
far, e moílrar fem culpa do dito crime, ferá ouvido
compridamente com feu direito, ficando já por fem-
pre os ditos beés confifcados , e feitos Direito Real ,
como dito he. Pero acontecendo tal coufa em alguú
viollador de paz , em tal cafo os beês aífy anotados
nom feeriaõ confifcados, falvo aa mingua dos acen-
dentes , e decendentes ataa o terceiro graao lydemos
do dito criminofo aufente; os quaees nom avendo hy
ao tempo , que o dito anno da anotaçom foffe acaba-
do, feeriam apricados aa Coroa do Regno, e feitos
Direito Real.
1 8 ITEM. Em todo cafo, onde per Ley do Regno
alguú deve perder os beés, nom per via de condapna-
çom , mais foomente por defobedecer ao Princepe , e
trefpaffar feus Mandamentos ; ca em tal cafo feos beês
ferom confifcados , fegundo a forma da dita Ley ,
nom
:z r4 L1v~o SEGUNDO TITULO VrnT~ E QYATRO

nom embargando que haja herdeiros Iydemos acen.


dentes, ou decendentes em qualquer graao.
I9 ITEM. Os beés ·daquelles, que fe matam por
medo d'alguú crime, de que fom acufados, fe o cri-
me he tal, que fegt.indo Direito Novo dos autenti-
cas , feendo condepnados , feus beés feeriaõ confifca-
dos.
20 ITEM. Direito Real he lançar o Rey pedido ao
tempo de feu cafamento, ou de fua Filha ; e fervillo
o Povoo no tempo da guerra peífoalmente ; e levar
mantimento ao arrayal aífy em carros, como em bef-
tas, como em barcas , ou em navios, ou em outra.
qualquer guifa, que meíler for.
21 ITEM, Geeralmente todo encarrego aífy real,
como peífoal , ou miíl:o , que feja empoíl:o por Ley ,
ou per Coíl:ume longamente approvado.
22 ITEM. Direito Real he poder o Princcpe to..
mar os carros , e beíl:as , e navios , aífy grandes , co..
mo pequenos dos feus fobditos, e Naturaaes cada vez
que lhe fezer meíl:er pera feu ferviço; e per femelhan-
te guifa lhe fom theudos , e obriguados a lhe fazer
Pontes pera pafiar, e levar fuas coufas d'huã parte
pera a outra a todo tempo, que lhe feja compridoiro.
23 ITEM. As rendas dos navios, carros, e pon-
tes, e de quaeefquer outras coufas, que forem con..
fifcadas per álguú commiífo, porque em tal cafo, tan-
to que a coufa he commetida, que fe chama em vul-
gar defcaminhada , logo per efie meefmo feito fem
ou-
Dos DIREITOS REAAE~ , ETC. 2 r5

outra Sentença he feita Direito Real , e per confe-


guinte as rendas dellas.
24 ITEM. Lançar pedidos ,e poer impofiçooés no
tempo da guerra, ou de qualquer outra neceilidade ,
que he tanto licita, que o Rey o deve a fazer com
-acordo dos do feu Confelho por ferviço de DEOS , e
bem do feu Regno , ou confervaçom do feu Eíl:ado.
2 5 ITEM. Direito Real he poderio pera fazer Of-
ficiaaes de Juíliça, aífy como fom Corregedores, Ou-
vidores , J uizes , Meirinhos , A lquaides , Taballiaés,
e quaaefquer outros Officiaaes deputados pera minif-
trar juíl:iça ; nom embargante que o poderio de fazer
Juízes ufurparom de longo tempo as Cidades, e Vil-
las univerfalmente per todas as partes do Mundo,
pero que em alguãs partes , aífy como no Regno de
Portugal, neceífariarnente devem pedir a E!Rey con-
firrnaçom delles , ante que ufem dos Officios , em
fignal de Senhorio ,que a elle principalmente perteen-
ce de os crear , e fazer per Direito.
26 !TEM. Direito Real he argentaria, que fignifi-
ca veas d'ouro , e de prata , e qualquer outro metal,
os quaaes todo home poderá livremente cavar em to-
elo lugar, com tanto que ante que o comece a cavar,
d'entrada pague a ElRey oito fcropulos d'ouro, que
vallem tanto, corno huã coroa d'ouro cada huú; e
aallem deíl:es oito fcropulos d'ouro , que affy há de
pagar d'entrada, por affy cavar qualquer metal ,
aquelle, que cavar ouro, por feer em fy mais nobre•
e
216 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E Q.!TATRO

e mais excellente metal , que ourro nenhuú , pagará


mais em cada huú anno ao dito Senhor fete fcropu-
los d'ouro; e quando qualquer outro metal, que nom
feja ouro, cavar, pagará em cada huú anno huã libra
de quatorze onças ; e aalem deíl:o pagará mais a El-
Rey de todo metal, que purificar, duas dizimas, fe o
dito metal for cavado em terra d'EIRey; e feendo ca-
vado em terra, que feja d'alguã privada peifoa, pa..
gará ao dito Senhor Rey huã dizima , e outra pagara
ao Senhor da terra , e toda a outra maioria ferá da-
q uelle, que o houver cavado.
27 ITEM. Os Paaços, que fom deputados em
qualquer Cidade, ou Villa pera fe fazer direito, e juf-
tiça , que fe dizem em vulgar , Paaços do Concelho.
2 8 ITEM. As rendas das pefcarias , que os Reyx
d'antigarnente per ufança de longo tempo acofiumaa-
rom d'aver, e levar, aífy das que fazem no mar, co-
mo nos rios; e per femelhante guifa as rendas, que
antigamente acofiumaarom a levar das marinhas, em
que fe faz o fal no mar , ou em qualquer outra par-
te.
29 ITEM. Os beés d'aquelles, que cometem cri-
me de lefa Mageílade , ou Herefia.
30 ITEM. A meetade de todo o thefouro, que for
achado em alguã Herdade d'EIRey, ou maninha, ou
do Concelho, ou lugar Relegiofo, quando for achado
per acontecimento, fem obra, e indufiria da peífoa ;
e fe for achado por obra, e indufiria da peífoa, ferá
to-
Dos DIREITOS REAAES, ETC. 2 r7

todo o thefouro d'ElRey : e no cafo que o Senhor da


Herdade per arte magica , ou feitiçaria achar na fua
Herdade thefouro, feja todo d'ElRey, caem tal cafo
he Direito Real.
3 I ITEM. Toda coufa , que he leixada em alguú
Teíl:amento , ou Coudicillo, ou poftumeira voontade
a alguú herdeiro, Teíl:amenteiro, ou legatario, ou fi_
dei-cõmiífario , e elle he roguado calladamente polo
Teíl:ador de a entregar defpois de fua morte a alguâ
peífoa nom capaz ; ca em tal cafo aquello , que aífy
he leixado calladamente por defraudar a Ley Impe-
rial , he applicado ao Fifco, e he feito Direito Real.
32 1TEM4 Os beés do Procurador d'ElRey, que
prevericou no feu feito , e per caufa da prevericaçom
malliciofa perdeo o dito Senhor Rey o feito ; ca em
tal cafo todo-los beés do dito Procurador fom confif-
cados, e feitos Direito Real , por que aífy pecou con-
tra o dito Rey feu Senhor , cujo Official he.
33 ITEM. O preço de toda coufa letigiofa, que
he vendida , ou enalheada defpois que fobre ella he
movida queíl:om realmente em Juifo, e a lide con-
tefiada ; ca em tal cafo o dito preço , ou outra coufa
qualquer , por que aífy foi enalheada , he todo con-
fifcado , e feito Direito Real : e efto nem ha lugar
quando a queítom he movida fobre auçom peífoal.
34 ITEM. Todolos beés de raiz, que alguú Offi-
cial Temporal d'ElRey compra , em tempo que aíiy
he Official , fe o dito Officio he com alguã aminiílra-
Liv. II. Ee çom ;
218 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E Q!!ATRO

çom ; ca em tal cafo logo fom confifcados, e feitos


Direito Real.
3 5 ITEM. Se alguú compra!fe alguãs caías pera
desfazer, e derribar com teençom de vender a pedra,
e madeira, e as outras coufas, que dellas fayré , ou a
negociar em qualquer outra guifa, em tal cafo o Ven-
dedor perde o preço , por que a vendeo, e o Compra-
dor outro tanto, e todo he appricado ao Fifco, e fei-
to Direito Real: falvo fe a dita Caía for vendida pera
bem , e ufo da Republica , ca em tal cafo a venda he
licita , fem outra nenhuã pena.
36 E ESTO, que dito he, fe prova todo pela Ley
unica do Codego no Titulo quaes fom os Direitos
Reaes, e pela Ley primeira no Dege.íl:o no Titulo do
Direito do Fifco, e pelas Declaraçooés , que os Direi-
tos fobre ellas fezerom.
3 7 A QYAL Declaraçom vifta per Nós, manda-
mos-la aífentar no Livro da no!fa Chancellaria , por
tal que Nós, e noífos fuceífores , e noífos Officiaaes
poffamos por ella aver comprida enformaçom do que
a noífo ferviço comprir, e a bem do noífo Povoo em
todo tempo, que o cafo requerer, bonde as Leyx do
Regno , e Coílume antigoo d'outra guifa nom deter-
minaarom.
3 8 E v1sT A per Nós a dita Ley, e Declaraçom
em ella feita , avemo-la por boa , e mandamos que
fe cumpra, e guarde como em ella he contheudo.

TI..
~ E NOM SEJA CREUDA PORTARIA, ETC. 219

TITULO XXV.
Itue nom jeja creu da Portaria nenhuã d' E!Rey ,
Jalvo per Jua Carta Jeellada do feu feello.

E LREY Dom Affonfo o ~arto da louvada me-


moria em feu tempo fez Ley, que foi achada na
noífa Chancellaria em efta forma, que fe fegue.
I ERA de mil e trezentos e fetenta annos vinte
dias de Junho, Miguel Vivas Enleito de Vifeu diffe da
parte d'ElRey huã Portaria , que tal he. Contadores ,
Ouvidores , e Sobre-Juízes , nom creades a nenhuú ,
por muito que feja da mercee d'ElRey, Portaria,
que digua por palavra da parte d'ElRey , fe a nom
der per Carta , ou per renembrança fignada do fignal
certo , e feellada do feello d'ElRey , fe a Portaria tal
for, per que ajades de desfazer o que a vedes feito, ou
per que nom <ledes cabo ao que reendes começado,
ou per que nom ajades de fazer aquello, pera que em
effes lugares foodes poílos. E eu Martim Efteves efto
efcrepvi per mandado do dito Enleito.
2 A Q11AL Ley viíla per Nós louvamos ,e confir-
mamos, e mandamos que fe guarde como em ella he
contheudo.

Ee2 TI-
220 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E SEIS

-----·--------·----
T I T U L O XXVI.
~e Je nom faça obra per Carta , ou Alvará d' alguu
Dejembargador ,Je nom for (eellado com oJeel!o
d'E!Rey.

E LREY Dom Joham meu Avoo hordenou per


Acordo do feu Confelho, que todalas Cartas da-
das per elle , ou pelos feus Defembargadores affy da
Fazenda , como da Juftiça, e outro fy dos Contado-
res , e Veedores de fua Caía , per que elle mande dar
do feu a ver , ou fazer alguã outra graça , ou mercee:
Outro fy per que mande fazer algúa coufa, que per-
teença a Direito , ou J uíl:iça , affy antre elle , e o Po-
voo , como antre outras partes , fejam feelladas do
fru verdadeiro feello das QQinas , ou do feu Cama-
feu, e d'outra guifa, que fe nom faça per ellas obra
alguã, por que o entendeo aíly por feu ferviço , e prol
do feu Povoo ; e fe alguú o contraira fezer , que lho
dhanhará gravemente no corpo , e no a ver, affy co...
mo aquelle , que paífa mandado de feu Rey , o Se-
nhor.
1 A Q1J AL Ley viíl:a per nós a vemos por boa , e
mandamos , que fe cumpra, e guarde como em ella
he contheudo.

TI.
Dos REGUEENGos, E HERDAMENTos , ETC. 221

T I T U L O XX VII.
Dos Regueégos, e Herdamentos d'E!Rey, que
Fidalgos , nem outras nenbuás pejfoas nom
poujem em elles.

E LREY Dom Affonfo o Terceiro em feu tempo


fez Ley a cerca dos Fidalgos , e Cavalleiros , que
poufavam nos feus Regueégos , e Herdamentos em
efia guifa , que fe adiante fegue.
1 DoM Affonfo pela graça de DEOS Rey de Por-
tugal, e* Conde de Bellonha (a)*. A vós Vafco
Martins Pimentel meu Meirinho Moor,Saude. Sabede
que Eu mando , e defendo , que nem Ricos-homeés ,
nem Infançoões , nem outros Cavalleiros alguús fe-
jaõ ou fados de poufar em * Cernache (b) *, nem em
feu Termo , nem em terra de Leedra , nem de Mon-
te-Negro, nem de* Vallariça (e) *, nem em outros

Herdamentos nehuús, que fcjam meus foreiros, nem
meus Regueengos. E mando a vós firmemente que
nom fofrades , que effes davanditos poufem em ne-
nhuú dos lugares fufo ditos : und' al nom façades , fe
nom creede por certo, que averia eu por ello de vós
queixume, e faria que vós pagaffedes de voffa Cafa
quanto dapno , e quanta perda elles fezeífem nos lu-
ga-
(a) do Algarve. (b J Cernançelhe (e) Villariça S, e 'T.
222 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E SETE

gares avanditos. Dante em Lixboa * a vinte e dous


(a) * dias d 'Abril. El Rey o mandou. Joham Peres a
fe z Era de mil e trezentos e quarenta e cinco annos.
2 A QY A L L~y viíl:a per Nós mandamos que fe
guarde como em ella he contheudo : e mandamos
aos Corregedores das Comarcas , e a todalas outras
Juíl:iças , que a façam a!Ty comprir , e guardar ; e fc
per ventura algu11 Fidalgo o contraira fezer, e for de
tamanho eíl:ado, e poderio, que os Corregedores das
Comarcas lhe nom po!Tam refiíl:ir, façaõ-lhe requeri-
mento da no!Ta parte , que cumpra, e guarde a dita
Hordenaçom ; e fe o fazer nom quízer , façaõ-no-lo
fabente logo per fuas Cartas , e Nós proveeremos a
ello com efcarmento em tal guifa, que outra vez nom
feja ou fado de o fazer.

T I T U L O XXVIII.

De como E!Rey deve herdar os Mouros forros mora-


dores em J eus Regnos , e Senhr;rio.

p ÜRQYE a herança dos Mouros forros moradores


em eíles Regnos , e Senhorio perteencem a Nós
em muitos cafos , a!Ty como he devuda aos Reyx
Mouros em feus Regnos , e Senhorio, ElRey Dom
Joham meu A v_oo de gloriofa memoria por feer em
cer-
(a ) doze S. e 'T,
DE COMO E1REY DEVE HERDAR, ETC. 223
certo conhecimento de todolos cafos , em que a dita
herança a elle , e aa Coroa deíl:es Regnos pertencia, e
des y por tolher muitos debates , e contendas , que fe
recreciam em cada huií dia, e efperavam de recre-
cer ao diante fobre a dita herança , antre elle , e os
ditos Mouros, mandou , e cometeo a certos Mouros
Leterados da Cidade de Lixboa, que a cerca dello
haviam j uíl:a razom de faber a verdade, lhe fizeifem
certa declaraçom de todolos cafos, em que a dita he-
rança a elle perteencia : os quaees Mouros aífy per
dle deputados , fezerom á cerca dello huã declara-
çom. E porque Nós achámos, que era imperfeita , e
muy efcura , mandámos ao Alquaide Mouro da dita
Cidade, que fezeife outra vez ajuntar certos Mouros
Leterados , e fabedores em fua Ley, que viffem, e
examinaífem com boa diligencia a dita declaraçom ,
e fe per ella achaffem, que era em alguã parte falle-
cida, ou efcura, que a fupriifem, e emendaffem co-
mo achaifem per feu direito, que o deveria feer : os
quaaes Mouros per noffo mandado affy juntos com o
dito Alcaide fezerom eíl:a nova declaraçorn , que fe
adiante fegue.
1 PRIMEIRAMENTB diíferom, que fegundo o Di-

reito dos Mouros , todo Mouro , ou Moura de dez


annos pera cima logo pode fazer teíl:amento , com
tanto que feja de boõ entendimento, e defcripçom,
ainda que tenha Tetor ; e poderá fem fua autoridade
tomar toda a terça de feus beés, e leixalla a quem lhe
aprou-
224 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E OITO

aprouver, com tanto que a leixe a tal peífoa , que


nom feja feu herdeiro ; e pode-a ainda leixar a algúa
creatura, que feja geerada no ventre d'alguã molher
prenhe per elle decrarada , ou for ao diante gerada,
com tanto que eífa creatura nafça viva; e pode-a ain-
da leixar a alguu fervo, ou ferva, ou aa Mifquita, ou
a alguã Albergaria, ou cafa d'Ooraçom, ou pera refa-
zimento d'alguã Ponte, ou Fonte, ou rnandalla dif-
tribuir por fua Alma em pobres, ou em cativos. Ou-
tro fy pode-a leixar a alguã peíloa , que já feja finada
deíl:e muncio, e em eíle cafo avello-am os herdeiros
deífe, a que foi leixada; e pode-a ainda leixar a aquel-
le , que o ferio de feridas, de que fe morreo , fe elle
fouber, que o ferio; e fe o elle nom fouber , poíl:o
que lha leixe , nom a averá , fe defpois for achado,
que o ferio ; e em eíl:e cafo ferá o teíl:amento roto, e
averam a dita terça os feus herdeiros com os outros
beés , e fe herdeiros nom rever , a verá ElRey a dita
terça, com toda a outra herança.
2 E orssEROM mais que poderá cada huú Mouro
diíl:ribuir fua terça em leguados ; e fe os legados fo-
rem tantos , que nom caibam na terça, avellos-ham
eífes legatarios foldo por livra, fegundo a cada huú
for leixado ; pero fe os herdeiros confentirem , e ou-
torgarem , que todolos ditos legados iejarn paguados,
nom o poderom defpois contradizer , fe ao tempo
da morte do dito Teíl:ador , ou defpois cm alguií tem-
po ho ouverem confentido, e outorgado; e fe alguús
her-
DE COMO ELREY DEVE HERDAR ) ETC. 22 5
herdeiros confentirem , e outros nom , os que nom
confentirem ho poderaõ fempre contradizer quanto
he aa fua parte, que lhes acontecer , nom embar-
gante que os confentidores fejam mais, e ajam maior
parte na herança ; e bem aífy nos cafos , em que
ElRey herda todolos beés , ou parte delles , ainda
que os herdeiros confentaõ na maioria , nam fará
prejuizo a elle , fe nom confentir.
3 E DISSEROM mais que fegundo Direito dos
Mouros , molher cafada, fem confentimento expreífo
do marido nom poderá enalhear feus beés , ou parte
delles.
4 E orssEROM , que defpois que alguií for enfer-
mo de doença mortal , e della fe moira , nom poderá
perfilhar outrem , nem obrigar feus beés , nem os
enalhear fem confentimento expreífo dos herdeiros ,
falvo da fua terça, como dito he.
5 E POR tanto differom , que molher prenhe def-
pois que paífam fere mezes , nom poderá enalhear
feus beés, aífy como fe foífe enferma de infirmidade
mortal : e bem aífy o que foffe julgado pera morte ,
ou pera cortamento d'alguús nembros, per quera-
zoadamente podeífe morrer.
6 PERO fe cada huu dos fobreditos efcapaíie das
ditas infirmidades mortaaes , deve feer coíl:rangido ,
que cumpra, e guarde qualquer contrauto de ena-
lheamento , que aífy fezeffe eftando no dito perigoo
de morte , e o Direito dos Mouros o coíl:range pera
L~.U H
.226 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E OITO

ello; e ainda que elle alegaífe , que aquello , que affy


fez, nom deve feer valliofo, por feer feito em tempo
de pcrigoo de morte , nom lhe aproveit ará , fe outra
alguã razom lidima pera ello nom alegar.
7 E SE alguú foffe fobre mar, ainda que foffe em
perigoo de morte poíl:o per cafo de torméta , poderá
enalhear feus beés, aíly como fe efteveífe na terra fe-
guro de todo perigoo : pero fe eílando fobre mar ,
foíle pofto em perigoo de morte per razom de bata-
lha , ou peleja, que efperaífe d'aver com feus inmi-
gos , nom poderá a tal tempo enalhear feus beés, e
[e os enalheaf fe, nom valleria quanto hy fezeíle : e
bem aífy diíferom no enalheam ento , que foíle feito
em tempo d'alguã batalha, e pelleja feita por terra.
8 E NO cafo , honde alguú per direito poderia
enalhear feus beés , entende- fe com tanto , que feja
maior de dez annos, ca feendo mais pequeno , nom o
poderá fazer fem authorid ade de feu Tetor; e fazen-
do-o em outra guifa, ferá nenhuú quanto hy fezer.
9 E DISSEROM mais, que aquelle, que for doen-
te, e enfermo de infirmida de mortal , poderá vender
parte de feus beés , ou todos polo jufto preço , quan_
to lhe poífa abaftar pera feu mantime nto , e vefiir, e
fatisfazer ao Fizico, que delle penfar, e pagar as mee-
zinhas, e quaefquer outras coufas neceífarias pera fau-
de de fua infirmid ade; e fe o d'outra guifa fezer, a
venda ferá nenhuã.
I o E s.s alguú for enfermo de tal infirmid ade,

que
DE COMO E1REY DEVE HERDAR J ETC. 2 27

que nom feja mortal , affy corno door de dentes , ou


fama , ou dor d'olhos , ou alvarizados, ou de gua-
fern , ou d'outras alguãs doares fernelhantes , de que
a morte taõ aginha norn he aazada , em tal cafo co-
mo efte poderá o enfermo vender, efcaimbar, e ena-
lhear feus beés , affy como fe foffe faaõ , fem pera el-
lo feer neceffario outorgament o dos herdeiros.
Ir E SE alguú em fua vida ouveffe feita doaçom
de todos feus beés, ou parte delles a outra peífoa, e
nom embargante a dita doaçom , ficaffe o doador em
poffe dos ditos beês ataa fua morte , ou doença , de
-que fe morreo, fem avendo effe, a que affy foi feita
a dita doaçom, a poHe delles em vida, e faude do di-
to doador; tal doaçom per Direito dos Mouros he em
fy nenhuã , e de nenhuú vigor, e fem embargo della
per morte do dito doador devem-na a ver os feus her-
deiros com os outros beés de fua herança.
I2 E BEM affy differom fe aquelle, que per virtu-
de da dita doaçorn ouveffe a poíle dos ditos beés,
que lhe af1y foffem leixados , e dados, e defpois em
alguú tempo a leixaffe ao dito doador , o qual a lo-
graffe, e ouveffe ataa íua morte , como fazia ante que
ouveffe feita a dita doaçom, em tal cafo effa doaçom,
e poffe , que della procedeo , he nenhuã.
13 ITEM. Se alguú trouveffe vinha, ou caza, ou

outra qualquer coufa de maaõ d'outra alguã peíloa,


e effe fenhor da coufa fezeffe doaçom della a aquelle,
que a de fua maaõ trazia, e efle donatario fe leixaffe
Ff 2 af-
228 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E OITO

afiy cílar em ella, como antes eíl:ava fem tomando a


potfe de novo per bem da dita doaçom , fegundo o
Direito dos Mouros , a dita doaçom he nenhuã, pois
que per bem della nom ouve a poífe , como dito he,
e a primeira potfe, que antes tinha, he avuda por ne-
nhuã; e per confeguinte morrendo eífe d1to doador,
a dita propriedade ficaria aos herdeiros ; e fe herdei-
ros hy nom houvetfe, havella-hia o Princepe da Ter-
ra.
14 E PORQYE fufodito he, que todo Mouro po-
de leixar fua terça a qualquer outro Mouro, que feu
herdeiro nom feja , eíl:o fe entende com tanto que fe-
ja feito fem mallicia , e qualquer outro conluyo ;
porque fe a dita terça foíle leixada conluiofamente a
alguú eíl:ranho, pera a dar defpois a alguú feu her-
deiro, tal leixamento ferá nenhuií, e averiaô os her-
deiros do finado todo o que aífy foffe leixado com os
outros beés da herança , e bem aíly o Princepe da
Terra em aquella parte , que ficar herdeiro do dito
finado.
15 I TE·M. ~ando o Mouro morre fem molher ,
ou a molher fem marido , ElRey nom herda com o
filho barom, nem com alguú feu divido per linha
mafcollina lydema decendente , nem com o Padre
do finado , nem coro alguú outro feu acendente per
linha lydema mafcollina em alguã coufa per Ley , e
Direito dos Mouros ; e quando huã filha ficar em fo..
lido herdeira , fem haver outros herdeiros , ella her-
da-
DE COMO ELREY DEVE HERDAR J ETC. 229

dará a meetade, e ElRey a outra meetade; e fe forem


duas filhas , ou mais , ellas herdarom os ditos dous
terços, e ho outro terço herdará ElRey.
16 ITEM. O neto filho de filha, nem bifneto,
que decenda de filha, nom fom herdeiros per Ley,
e Direiro dos Mouros.
17 I TE_M. Se a neta , ou bifneta decendente pri-
meiramente de barom , ou qualquer outro decenden-
te de cada huã dellas por linha lydema ficar herdeira
em falido do finado fem outro herdeiro , averá eífa
neta , ou bifneta a meetade da herança , e ElRey a
outra meetade ; e fe forem duas netas, ou mais fem
outros herdeiros , ellas averam os dous terços de toda
a herança , e ElRey averá o mais , que he huú terço.
18 E sE com as ditas filhas, ou netas, ou bifnetas
ficarem irmaaõs, ou irmaãs da parte da Madre , taaes
irmaaõs nom herdarom coufa alguã , nem fazem
prejuízo a ElRey.
19 E si com eífa filha , ou neta , ou bifneta pri-
meiramente decendente per linha lydema mafcolina,
como dito he , ficar Madre do finado , eífa filha , ou
neta , ou bifneta , ou qualquer outro decendente de
cada huú dos lydemos focederá a meetade , e a Ma ...
dre o fexto, e ElRey o mais.
20 !TEM, Se a Màdre ficar herdeira do finado em

folido , eífa Madre a verá o terço, e EIRey todo o


mais , que feram as duas partes.
21 ITEM. Se ficarem com fua Madre duas filhas ,
ou
~30 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E OITO

ou mais , ou netas , ou bifnetas decendentes per li-


nha Iyderna mafcolina , eífa Madre íucederá a fexta
parte , e as ditas filhas, ou netas , ou mais averám os
dois terços, e ElRey haverá o mais , que ficar, que
he o fexto.
22 E SE çom effa Madre ficar huã irmaã da parte
do Padre, e Madre , ou da parte do Padre fem ou-
tros herdeiros , effa Madre herdará o terço , e a ir-
maâ herdará a meetade, e ElRey averá o mais., que
íerá o fexto,
23 E SE com effa Madre ficarem duas irmaãs ,
ou mais da parte do Padre , e Madre , ou da parte
do Padre fem outros herdeiros, effa Madre herdará o
fexto , e as irmaãs herdarom dous terços , e ElRey o
mais.
24 E SE com effa Madre ficar huú irmaaõ, ou ir-
maã da parte da Madre fem outros herdeiros , effa
Madre herdará o terço, e o irrnaaõ, ou irmaã herda-
rá o fexto, e EIRey a verá o mais, que ficar.
2 5 E SE ficarem com a dita Madre dous irmaaõs,
ou irmaãs , ou mais da parte da Madre fem outros
herdeiros , effa Madre herdará a fexta parte , e effes
irrnaaõs , ou írmaãs herdarom o terço, e ElRey o
mais, que ficar.
26 E SE per morte do finad·o nom ficar outro her.
deiro , fe nom a irmaã da parte da Madre, effa irmaã
herdará a fexta parte, e ElRey todo o mais ; e fe fo-
rem duas irmaãs , ou mais , herdarom huú terço , e
E! Rey o mais todo. 27 A
DE coMo ELREY DEVE HERDAR, :n c. 231

27 A A voo da parte do * Padre (a)* herda a fexta


parte da herança do finado , fe ella fica herdeira em
folido , e ElRey herda todo o mais ; e fe ficarem am-
bas as Avoós juntamente fem outros herdeiros, ave-
ram todo o dito fexto, e mais nom , e EIRey a verá
todo o mais , que ficar.
28 ITEM. ElRey nom herda com o Padre, nem
com o A voo Padre delle , nem com os feus acenden-
tes per linha lydema mafcolina , nem outro fy com
o filho, nem com o neto, nem com os feus defcen-
dentes , que fejam todos da linha do Padre de barom
em barom- fem outro antremetimento de femea.
29 ITEM. ElRey nom herda com o Irmaaõ , ou
• Irmaaõs (b) * de Padre, e Madre, nem com o lr-
maaõ do· Padre , porque elles herdam todo fem EI-
Rey hy aver alguã parte.
30 ITEM. EIRey herda com o Irmaaõ, ou Irmaã
da Madre, quando o finado outros herdeiros nom ou-
ver : a faber, huú Irmaaõ, ou Irmaã averá o fexco,
e fe forem dous , ou mais averam o terço, e EIRey
herda todo o mais , que per morte do dito finado fi-
car, fe outros herdeiros hy nom ouver.
3 r ITEM. Os fobrinhos filhos de Irmaaõ da parte
da Madre , nom foro herdeiros.
32 ITEM. EI Rey nom herda com Tios, nem com
Primos, nem com Sobrinhos da parte do Padre, nem
com

(a) da Madre T. (Ó) lrmaãs


232 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E OITO

com aquelles, que delles decendem per linha lydema


mafcolina : a faber, de barom em barom.
33 ITEM. Os Sobrinhos filhos do Primo com Ir-
rnaaõ da parte da Madre, nom fom herdeiros , fe-
gundo Direito dos Mouros.
34 ITEM, O cafamento, fegundo Ley, e Direito
dos Mouros , nom he firmado , fenom per arras cer-
tas dadas , ou promettidas a tempo certo ; e per mor-
te do marido a molher averá as arras , e a herança
pela guifa, que adiante ferá declàrado ; e cafamento
per Carta de meetade nom he achado em Direito dos
Mouros.
35 ITEM. Segundo Direito dos Mouros ,o marido
herda a molher per efta guifa ; a faber , quando por
morte da molher fica o marido, e huã filha , eíla filha
herdará a meetade da herança de fua Madre, e o ma-
rido herdará a quarta parle, e ElRey a outra quarta
parte : e fe per morte da dita molher ficarem duas fi-
lhas , ou mais com etfe marido , eílas filhas herdarom
as duas partes de toda a herança de fua Madre, que
fom oito quinhooés , e da outra parte o dito marido
herdará tres quinhooés , e EIRey herdará o mais , que
fobejar de toda a herança, que parece feer huú do.
zaao della.
36 ITEM. Se per morte da dita molher ficarem
huã neta , ou duas, que fejam filhas de filho barom,
ElRey focederá a tamanha parte com eífa neta , ou
netas , como com o marido : a faber, o marido her-
da-
DE COMO ELREY DEV.li: HERDAR J ETC. 233

dará a quarta parte da herança , e huã neta a meeta-


de , e ElRey a verá o mais ; e fe forem duas netas, ou
mais, averom ellas os dous terços da herança, e o
marido a quarta parte, e EIRey averá o mais.
37 E SE per morte deífa molher ficar huú Irmaaó,.
ou Irmaã da parte da Madre, a verá o marido a mee-
tade da herança , e o Irmaaõ , e I rmaã da parte da
Madre averá a fexta parte, e ElRey averá todo o
mais de toda herança.
3 8 E SE per morte deíTa molher ficarem com ef-
fe marido dous Irmaaõs, ou lrmaãs, ou mais da par-
te da Madre, eífe marido a verá a rneetade da heran ...
ça , e eífes Irmaaõs, ou lrmaãs averam o terço, e o
mais, que ficar da dita herança, averá EIRey.
39 E SE per morte da dita inolher com feu mari-
do ficar fua Madre fem outros herdeiros , eífe marido
haverá a meetade, e a Madre a verá o terço de toda a
herança , que fom de doze quinhooés quatro, e EI-
Rey a verá todo o mais, que fobejar da dita herança,.
que parece feer a fexta parte ; a faber :, de doze qui-
nhooes dous de toda a herança.
40 ITEM. Se per morte da dita molher com effe
marido ficar foa A voo Madre de fua Madre, ou Ma-
dre de feu Padre , ou ambas juntament e, effe marido
herdará a meetade, e a dita Avoo, ou Avoos junta...
mente a fexta parte; a faber, dous quinhooés de to-
da a herança ; e o mais, que ficar, herdará ElRey ,
que fom quatro quinhooés .
Liv. Il. Gg 41 ITEM ..
234 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E OITO

4I ITEM. Poílo que o marido tenha tres, ou qua-


tro molheres, e todas, ou cada huã dellas morreífe,
elle averia de cada huã dellas tamanha parte de fua
herança , como fe huã foo molher teveffe: e nom ferá
aífy no cafo , honde e lle teveffe molheres ataa qua-
tro ,. e elle primeiramente morreíle que todas , ou ca-
da huã dellas , ca per fua morte tanto herdariam to-
das, como huã foo.
42 ITEM. A molher herda ao marido per eíla gui-
fa ; a faber, fe por morte do marido ficar molher, ou
rnolheres ataa quatro, e com ella ficarem alguús fi,.
lhos , ou filhas, ou alguús outros defcendentes , ou
acendentes. lydemos per linha mafcolina, em tal cafo
a dita molher , ou molheres ataa quatro averaõ a oi-
tava parte da fua herança, e os ditos herdeiros ave-
raõ toda a outra parte : e fe per morte do dito finado
com a dita rnolher nom ficarem cada huú dos ditos
herdeiros , e ficarem alguús Irmaaõs ou Irmaãs ly-
demos, ou alguús de cada huú delles per linha lyde.
ma mafcolina, em tal cafo herdará a molher, ou mo-
lheres ataa quatro a quarta parte da dita herança , e
os outros herdeiros averam toda a outra parte : e no
cafo , honde per morte do dito finado com a dita.
rnolher nom ficaífem alguús dos ditos herdeiros def-
cendentes , ou acendentes , ou colleteraaees lyde..
rnos , como dito he, em tal cafo a molher , ou mo-
]heres ataa quàtro levaram a quarta parte da heran..
ça, e ElRey averá todo o al que ficar,
43 ITEM.
DE COMO ELREY DEVE HERDA R, ETC. 235

43 ITEM. Em todo cafo , honde a molher , ou


molhere s ataa quatro herdam ao marido com os ou-
tros herdeiros declarados no Capitu.lo fufo dito , ou
fem elles com El Rey , efto fe entende , tirando pri-
meiram ente de toda herança a terça do finado, fe clle
defpos, e hordenou della em feu teíl:amento ante de
foa morte; e todalas dividas , que o finado devia ; e
as arras, que aa dita molher , ou molheres foram pro-
metidas pelos marido s ao tempo de feus cafame ntos;
e a defpez a, que razoada mente foi feita na fepultur a
do dito finado, fegundo a qualida de de fua peífoa; e
bem aífy todolos beés, que a dita molher , ou molhe-
res trouxer am ao dito cafame nto , ou defpois com-
prarem , ou herdaro m, ou ouverom per outro alguú
qualque r titulo que feja.
44 E SE dous cafaô fimpres mente fem te!lemu -
nhas, ou Efcript ura pruvica , ou fem declara ndo cer-
tas arras ao tempo do cafame nto, as quaaes devem
feer ao menos huú quarto de * dobra (a)*, ou fua
direita valia, fe cada huü delles morrer ante que eífe
cafame nto feja firmado per teíl:emunhas , ou per Ef-
cri ptura pruvica , ou per declaraçom das arras per fua
confi!Tom, como requere o Direito dos Mouro s, tal
cafamenco nom vai , e he avudo por nenhuú , frgun-
do feu Direito , e per morte de cada huú delles o que
ficar vivo nom a verá coufa alguã de fua herança.
45 ITEM. Segundo o Direito dos Mouros oca-
Gg 2 fa_
(q) todo A ,
236 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E OITO

famento antre elles deve feer feito em tal gui fa , que


cada huu Mouro nom aja mais de quatro molheres ,
ca fe mais molheres recebc:r , nom val o cafamento
antre elles. E requere-fe ainda mais , que as peífoas
fejaõ taaes , que fegundo Direito dos Mouros , pof-
fam cafar , ca fe alguú cafaífe com fua Madre , ou
com fua filha, ou com qualquer outra molher fua
acendente, ou decendente, ou fua Irmaã de qualquer
parte , ou filha de íeu lrmaaõ , ou Irmaã , ou com
fua Ama , que- o criaffe de leite , ou com fua filha ,
ou com fua fogra , ou entiada , ou com Irmaã de fua
molher , teendo-a em feu poder , tal cafamenw-per
Direito dos Mouros he nenhuú ; e poíl:o que delles
decendam filhos, ou. filhas, nom herdaram o Padre ,
nem a Madre, e tampouco herdaram antre fy huús
aos outros ; e fe per falecimento de cada huií dos fo-
bredicos nom ficaffe outro herdeiro , herdará ElRey
cm todo.
46 ITEM. SE per falecimento d·aiguú Mouro,.
ou Moura , ou quitamento feito antre elles, ficarem
a.1guãs novidades, que ainda nom fejam apanhadas ,
mais fiem ainda pendentes nas arvores , ou méf-
fes, fe já a eífe tempo ellas forem maduras em tal-
maneira , que logo a breve tempo fe poífaõ apanhar,
taaes novidades ferom do marido, ainda que a pro-
pric:dade feja da molher ; e fe as ditas novidades..
ao t~ml?o da morte de c~da huú delks, ou quitamen-
to
DE COMO ELREY DEVE HERDAR' ETC. 237
to antre elles feito , ainda nom forem maduras , co-
rno dito he , em tal cafo ellas ferom daquelles , cuja
for a propriedade ; e fe a propriedade for da molher ,
averá o marido , ou feus herdeiros aquello , que for
achado per juizo d'homeés boas pera ello juramen-
tados , o que razoadarnenre fe poderia defpender no
adu bio das ditas novidades.
4 7 ITEM. Todo Mouro, que fua molher quita,
feendo enfermo d'alguã infirmidade de quitamento
pera fempre, fe ella primeiro morrer que elle, nom
herdará elle alguã coufa a ella ; e fe outros herdeiros
nom rever , herdará E!Rey; e fe elle morrer da dita
doença, em a qual aífy quitou a dita fua molher, ella.
herdará a elle em fua herança, aífy como fua molher,
polto que ja longo tempo ouve!fe , que lhe foffc feito
o dito quitamento, e ainda que já defpois foífe cafa-
da com outro marido ; e fe outros herdeiros elle nom
tever , fe nom effa molher , que affy quitou , eífa mo-
lher a verá a quarta parte, e ElRey a verá todo o mais
da dita herança.
48 ITEM. Per Direito dos Mouros todocafamen-
to , que fe faz em tempo que o marido, ou a molher
he doente , nom vai ; e fe cada huú delles morrer fem
herdeiro, EIRey a verá todos feus beé s, ou parte del-
les nos cafos, honde EIRey herda com os outros her-
deiros ; e effa molher nom herdará ao marido, nem
dfe marido aa molher, affy como fe nunca foffem ca-
fados ; e fe effe marido ouveífe juntamento carnal
com
23 8 LzvRo SrcuNoo TITULO VINTE E orTo

com ella, em tal cafo ella averá fuas arras pala terça
dos beés do dito feu marido, da qual elle nom pode-
ra de(poer em prej uizo dei la , e as duas partes ficarem
fal vas a E!Rey bonde (ó herdar , ou a elle com outros
herdeiros, honde outros herdeiros ouver.
49 ITEM. Porque o cafamento dos Mouros fe faz
geeralmente por arras, e os beés do marido fom apar-
tados dos beés da molhcr, acontece por morte de ca-
àa huú dellcs, ou quitamento de cafamento, rccref-
cerem alguãs duvidas fobre as coufas , que perteen- '.
cem ao marido , e bem aífy das que perreencem aa
rnolher; e por tolher e!hs duvidas , declaramos fe-
gundo achámos per Direito dos Mouros , pertence-
rem ao Marido efias coufas, que fe feguem: primei-
ramente todas fuas roupas , e vefiidos , e armas, e
cavallos, e bdl:as, e todos fcus guarnimentos, e bem
aífy os guados com todos feus aparelhos , e perteen"'
ças , e fervas , e fervas, ouro , prata , dinheiro , cin-
tas, e qualquer outra coufa , que feja deputada pera
ufo de homé.
50 ITEM. Achámos, que aa rnolher perteécem
efias coufas, que fc fegucm: primeiramente toda rou-
pa de cama , e de mefa , faias, e ve!hdos de rnolhe-
res , abotoaduras , e chapas , e argollas , e fios de al-
jofar, e anecs, e todos outros guarnimentos, e quaeef-
quer outras coufas, que fejam deputadas pera ufo da
rnolher.
51 ITFM. Achamos per Direito dos Mouros>
que
DE COMO E1REY D!VE HERDAR > ETC. 239
que todo aquello, que o marido ouve por herança,
ou doaçom defpcis que cafado foi, ainda que feja
d'aquellas coufas , que perteençam a ufo da molher,
que emeiramente veem a effe marido, e a feus her-
deiros : e effo meeímo toda coufa, que a molher ou-
ver por herança , ou titulo de doaçom defpois do ca.
famento, ainda que perteença a ufo do homem, avel-
las-ha effa molher , e feus herdeiros , acabado o dito
cafamento.
52 ITEM. Todo aquelle, que mata outro com
vontade , nom deve herdar fua herança, ainda que
lhe perreença per Direito , e ElRey herdará toda
aquella parte, que ao matador perteécia d'avcr per
Direito : falvo fc lha o morto per fua vontade quifer
leixar, Cabendo, que o matou.
53 E SE o Mouro finado leixar ·alguú filho, ou fi ..
lha, ou Padre, ou Madre , que fejam Chrifptaaõs,
ou alguú outro fcu parente Chrifptaaõ, tal como efte
nom poderá herdar ao Mouro finado ; e ainda que
lhe o dito Mouro queira leixar fua herança ou parte
della, nom pode per Direito dos Mouros, falvo quan-
to he aa fua terça; e todo aquello, que lhe affy for
leixado ao dito Chrifptaaõ pelo dito Mouro aalem
da dita terça, ou lhe perteença av'er per Direito da
dita herança , todo herda El Rey.
54 ITEM. Segundo Direito dos Mouros, o Pa ..
dre, que negar alguú de feu filho , nom herdará ern
fua herança ; e bem affy o filho ao Padre, que o ne-
ga
240 LIVRO SEGUNDO TITULO VINT! E OITO

ga de Padre; e fe outro herdeiro hy nom ouver, her-


dará EIRey.
55 ITEM. Segundo Direito dos Mouros, fe nace
alguã creatura morta do ventre de fua Madre, ou fe
morrefTe logo fem chorando em tal guifa , que feu
choro nom fofTe ouvido, tal como eíl:e nom herdará
o Padre, nem a Madre, nem a alguú outro , e per
confeguinte nom herda outro a elle, falvo EIRey,
que herda toda a herança, que aa dita crearura per-
teencia per Direito d'aver, fc viva nacera.
56 ITEM. Se alguã creatura he engeitada em al-
guú caminho, ou aa Mifquita, ou em qualquer ou-
tro lugar, e defpois em alguú tempo gaanha alguús
beés, per fua morte herda ElRcy , fem herdando ,
nem avendo fua herança aquelle , que o criou , nem
outro alguú feu parente: pero fe filhos ouvcr, ou de-
cendentes , herdaram a elle, affy como cada huú fi-
lho, ou neto a feu Padre, ou a feu Avoo : e em todo
cafo poderá defpoer da fua terça, como lhe aprou-
ver.
57 ITEM. Mouro , ou Moura , ainda que herdei-
ro nom tenha, nom pode perfilhar filho, ou filha , e
poíl:o que o perfilhe , nom val o perfilhamento , e per
fua morte herda E!Rey em falido, ou com outros
herdeiros, fe os hy ouver.
58 ITEM. Per Direito dos Mouros he eíl:abcleci-
do, que Mouro, ou Moura nom pode exherdar ne-
nhuú de feus herdeiros de feus beês cm todo , nem
em
DE COMO ELREY .DEVE HERDAl'l, ETC. 141

em parte por caufa , e razom que por ello poffa alle-


gar , falvo fe nom for lydemo ; e pofto que o exerde
o excrdamento nom val per Direito.
59 ITEM, Diíferom os Direitos dos Mouros, que
fe per morre d'alguú Mouro a eífe tempo feus herdei-
ros , ou cada huú delles forem aufentes , E!Rcy deve
mandar fazer fecrefto na herança daquelle, ou daquel-
les, que ao dito tempo forem aufentes em maaõ d'ho-
mem feguro, e fiel per Efcriptura em tal guifa , que
quando o dito herdeiro, ou herdeiros auzentes torna-
rem aa terra, pofsã defembargadamente a ver boa re-
cadaçom de fua herança; e por o dito Senhor Rey af-
fy mandar fazer o dito fecrefto, outorgarom os Direi-
tos dos Mouros, que elle haja a dizima de todo aquel-
lo , que aífy per feu mandado for fecreftado , e per
Direito perteencia aver ao dito herdeiro, ou herdei-
ros auzentes per morte do dito finado.
60 ITEM. Ou vemos per enformaçom, que alguús
Mouros por defraudar a Nos da herança, que fegun-
do feu Direito a Nós perteence d'aver per feus faleci-
mentos , ante que mo iram , dizem, e declaram alguús
feerem feus parentes em tal graao, que per confeguin-
te ficaõ feus herdeiros, por tal que per fua morte nom
ajamos fua herança , que nos per Direito perteence,
ou hajamos menos d'aquello, que nos pertencia d'a-
ver, fe a dita nomcaçom , e declaraçom aífy per el-
les nom foífe feita, dizendo, e alegando, que per Di-
reito lhes he outorgado, que aífy o poífaõ fazer. E
Liv. IL Hh pof-
LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E OITO

pofl:o que tal feja o feu Direito, deve-fe aguardar em


terra de Mouros , honde ellcs nom ham por pena fi-
carem feus beés ao Rey da terra , porque clles ham
antrc fy o Rey por coufa piadofa, aífy como Mifqui-
ta, ou Efpital, ou outra coufa femelhante ; por quan-
to o dito feu Rey pola dita herança , que affy herda
aos Mouros , he theudo per o feu Direito a fazer, e
mantecr , e reformar as ditas Mifquita s , e Efpi-
taaes , &c. perpetua mente em todo cafo , a qual ra-
zom nom cabe em Nós, o que parece gecralme nte a
todos feer coufa bem conhecid a.
61 E POR tanto hordena mos, e poemas por Lcy,
que poíl:o que alguu Mouro, ou Moura antes de fua
morte em qualquer tempo digua, e declare alguú
outro frer feu parente em tal graao de parentef co ,
que fegundo Direito dos Mouros deva feer feu her-
deiro , tal declaraç om , ou nomcaço m feja nenhuã, e
nom aja força, ou vigor, mais que fe nunca foffe fei-
ta em tal guifa, que per ella a Nós , ou a noífos Di-
reitos nom feja feito alguú prejuízo em todo, ou em
.ilguã parte : e fique porem ao dito nomeado , ou de-
clarado por parente , refguard ado todo feu direito a
provar como verdadei ramente he feu parente do dito
finado em tal graao , que fegundo Direito dos Mou-
ros deve feer feu herdeiro ; e provand o-o , aja fua
herança , como achado for per Direito , que a deva
d'aver.

TI-
DAs JuGADAS COMO HAM DE SEER Ric., tTc. 243

T I T U L O XX VIIII.
Das Jugadas como ham de Jeer recadadas nas
terras Jugadeiras.

E LREY Dom Joham , &c. Em feu tempo fez


Hordenaço oés a cerca das Jugadas, como fe ou-
veífem de recadar nas terras Jugadeiras , das q u aees
o theor cal he.
1 DoM Joham pela graça de DEOS Rey de Por-
tugal , e do Algarve. A vós Almoxari fe, e Efcripvaõ
de Lixboa , e a outros quaeefque r , a que eíl:a Carca
for moíl:rada , faude. Sabede que a Nós foi dito per
alguãs peífoas dignas de fee , e credito , que vós per
huã noffa Carta, que outro dia man<lamos pelas Ter-
ras J ugadeiras , e Oitaveira s, coíhanged es muitas
peffoas pelas ditas Jugadas, e Oitavos, que nom de-
vedes a coflranger ; e outras peffoas coíl:rangedes
mais daquello , que eram theudos de pagar, da qual
coufa fe a Nós feguia grande defferviço , e aos mora-
dores deffe logo grandes perdas , e dapnos. E poren-
dc querendo Nós a eíl:o poer remedio com Direito ,
e ferviço noífo , e a proveito de noílos povoos , de-
claramos cm eíl:a noífa Hordenaç om qual foi , e he
noífa teençom fobre eíl:as ditas Jugadas , e Oitavos.
2 PRIMEIRA MENTE na parte dos Beeíl:eiros, man-

damos, que [e elles eram efcufados pelo Foral do di-


Hh 2 to
244 LrvRo SEGUNDO TITULO VrNTt r Novr.

to lugar , ou per privilegios , que forom dos Reyx,


que ante nós forom , nom fejam coíhangi dos pelas
ditas Jugadas , e Oitavos ataa eíl:e dia de Sam Jo-
ham, que ora foi da Era de mil e quatroce ntos e vin-
te annos. E porque as Hordena çooés dos Reyx , que
ante Nós foram , mandava m que nenhuu lavrador
nom feja Beeíl:eiro hu feus beés paífam a conthia de
trezentas libras de boa moeda acima: porem manda-
mos , que os lavradores , que forem poíl:os por Beef-
teiros pelos Anadees das Terras , fe ouverem con-
thias de trezentas libras de boa moeda, ou de tres mil
deíl:a, e d'hy acima, ou lavrarem com huú fingel de
bois, nom fejam Beeíl:eiros daqui en diante, nem fr-
ja m coíl:rangidos pera nos fervir ; e feja em elles , e
em feu querer a efcolha de nom fecrem Bceíl:eiros; e
fe o quiferem feer, paguem Jugada, ou Oitavo dês
o dito dia de Sam Joham en diante. E em cafo que
os Beeíleiros , que fom apurados pelas terras , forem
de conthia de trezentas libras de boa moeda, ou d'hy
a fundo, ou de tres mil deíl:a moeda a fundo, ou nom
lavrarem com boys, mandam os que efcufem Jugua ..
da, e Oitavo, fe polo Foral do lugar, honde mora-
rem, ou Privikgi os, ou Cartas forem efcufados de as
pagar : e eíl:e.s fejam obrigados de nos fervir como
Beeíl:eiros.
3 OuTRO sY mandam os, que todo Cavalleiro da
dita conthia de mil libras de boa moeda, ou de qui-
nhentas, fegundo as terras J hu fom feitos os* ava-
lia-
DAS JucADAS COMO HAM DE SEER REC., ETC. 245

liamentos (a)*, que foy paffado per Nós , ou pelos


Reyx que ante Nós forom, fegundo fe conthem nas
Hordenaçõe s do Regno, tal como eíle efcufe Juga-
da, e Oitavo, tambem a paffada, como a que ha de
vir, falvo fe rever conthia dobrada ; e fe nom rever
Ca vallo , pague J ugada.
4 OuTRO SY na parte dos Clerigos cafados, por-
que pelas Hordenaçooé s do Regno em rodalas coufas
civys fom da noffa Jurdiçom, queremos que fejam
coíl:rangidos polas ditas Jugadas, e Oitavos , como
cada huú dos Leigos, que Jugadas , e Oitavas pa-
gam ,affy como na dita Carta he contheudo; e fejam
efcufados das Jugadas, e Oitavas em aquelles cafos,
que o fom os Leigos da fua condiçom : e per eíla
rneefrna guifa fejam coíl:rangidos os J uizes, Vereado-
res , Taballiaaés , e Procuradores dos Concelhos, e
Aminiíl:radores , ou Procuradores das Guafarias , e
dos Efpritaaes, e Frades da Santa* Vida (h) *, que
per razorn dos ditos Officios querem efcufar Jugada,
ou Oitavo dos feus beés , que poffuem: falvo fe eíl:as
peffoas , ou cada huã dellas rever continuadam ente
cavallo recebondo pelos noílbs Almuxarifes pera nof-
fo ferviço pela guifa , que nas outras peffoas he, ou
pelos Foraaes das Villas , e Lugares, hu as fobreditas
peffoas fom moradores, forem efcufadas das ditas Ju-
gadas, e Oitavos.
5 OuTRO SY mandamos, que fe os Cafeeiros, e
la-
(a ) C.av.allciros S, e 'I, /, Cita
2
46 Lrv~o ScGUNDo TITULO VINTE E NOVE

lavradores dos Cavalleiros , e Filhos dalgo, e Efcu-


deiros lavrarem outras herdades , que nom fejam dos
ditos Cavalleiros, ou Filhos dalgo, e Efcudeiros, pa-
guem Jugadas dellas: e efto, que dito he, fe enten-
da, falvo fe os ditos Filhos dalgo , e Cavalleiros , e
Efcudciros moíl:rarcm o contrairo defto pelos Fo ...
raaes, ou pri vilegios, que lhes fejam pelos Reyx, que
foram ante Nós, outorgados, e per Nós confirma-
dos, os quaees mandamos que lhes fejam guardados
com direito.
6 ÜuTRO sY na parte dos lavradores das Igrejas,
e J\tloeíl:eiros , e Abbades, e dos outros lugares Reli ..
giofos, e dos Clerigos d'Ordeés Sagras, e d'Oordeéi
meores, que nom fom cafados, mandamos , que os
feus cafeeiros , e la vradorcs, que teverem Cafaaes, ou
~intaãs dos fobreditos encabeçadas,e povoradas ,ef-
cufem J ugada, e Oitavo; e fe as ditas Igrejas, e Moef-
teiros , e Abades , e lugares Religiofos tcveré Ald~as
povoradas de la vradorcs , os quaees lavrem Herda ..
des , que perteençaõ ao Termo das ditas Aldeas , e
fom dentro dos Termos dcllas , taaes la vradorcs ef-
cufem Jugada, e Oitavo daquello, que lavrarem nos
Termos , e Terras dos ditos lugares, e Aldeas das
Igrejas, e Moeíl:eiros , e lugares Religiofos, e das ou ..
eras nom.
7 E OUTRO sy mandamos, que fe os cafeeiros dos
fofo ditos trouxerem os ditos Cafaaes; e ~intaãs, e
Terras a pam certo, ou a dinheiros certos, taaes pa-
guem
DAS ]VGADAS COMO HAM DE SEER REC., ETC. 247

guem Jugada, e Oitavo, pois as palavras dos Foraaes


os nom efcufam: falvo fe os ditos Moeíleiros, e Igre-
jas , e Abbades, e os outros lugares Religiofos pode-
rem mofirar pelos Foraaes das terras , ou ti verem
privilegios dos Reyx, que ante Nós foram, e per Nós
confirmados, per que taaes lavradores , e cafeeiros,
como eíl:cs , nom hajam de pagar Jugada , ou Oita-
vo ; ca entom mandamos, que lhe fejam guardados
feus Privilegias, e Foraaes, ouvindo as partes, fe he
eíl:o com direito.
8 OuTRO sY na parte em que fe alguãs peffoas
dos noffos Regnos querelaarorn a Nós, que per bem
da noffa Carta, que outro dia enviamos , eram cof-
trangidos por mayor Oitavo, e J ugada, que aquello,
que ja pagavam , pelos Almoxarifes das terras , hu
Jugada, e Oitavo ha, aos quaees fizemos rnercee del-
]as; veendo fobre eíl:o o que nos pedir enviaram: Tee ..
mos por bem , e mandamos aos ditos Alrnoxarifes, e
Colhedores das ditas Jugadas, e Oitavos tambem das
noffas terras , corno das da Raynha, e dos outros Se-
nhores quaeefquer que fejam, que elles coíl:ranguam
ora os moradores dos fobreditos lugares por aquella
Jugada, e Oitavo de pam , e de vinho, e dinheiros,
e das outras coufas, que elles fempre acuíl:umaarom
de pagar nos tempos paílados dos Rcyx, e Raynhas,
que ante Nós forom ataa ora.
9 E PORQYE a mayor parte das ditas Jugadas, e
Oitavos, febre que antre Nós, e elles he contenda,
ou
24 8 LIVRO SecuNDO TITULO VINTE E NOVE

ou efpera a feer, dizendo Nós, que a vemos d'aver Ju-


gada, e Oitavo moor que aquclla, que pagam, fegun--
do nos Foraaes dos lugares he contheudo, e os mora-
dores, e os lavradores dos ditos lugares dizem, que
nom; mandamos que fe ufe, como fe fempre ufou,
falvo honde os Foraaes defpooem , per que medida
paguem, ou ajam de pagar, que per e!fa guifa fe pa-
guem : e por eíl:o, que Nós ora a!fy mandamos, nom
feja feito prejui1.o a alguú direito, ou Foral, ou pof-
fe, ou prefcripçom , ou ufo, ou cuflur:ne, fe Nos, ou
os Reyx, ou Raynhas, que ante Nós forom, ouve-
rom , ou gaanharom , ou ufarom , ou outro alguú di-
reito, fe o a viaõ , pera demandar as dicas Jugadas , e
Oitavos cnteiros.
10 OuTRO sv na parte dos Seareiros: mandamos,

que os Seareiros que pelos Foraaes ·das terras fom


obrigados a pagar Jugada ,ou Oitavo, que fcjam cof-
trangidos por cllas, atfy como nos Foraaes he con ...
theudo; falvo fe moílrarcm privikgios , que com di ...
rcito os poflam efcufar; e cm aquellas terras, hu os
Foraaes nom fazem mcnçom dos Searciros, como
ajam de pagar, mandamos, que fe ellcs fempre pa-
gaarom Jugada, ou Oitavo, que fejam coílrangidos
por aquello, que fempre acoíl:umaarom de pagar nos
tempos dos outros Rcyx ; e aquellas terras, onde os
Scarciros nunca pagaarom Jugada, porque muitos
homeés ricos , e poífuidores de muitas herdades , por
nom pagaarem Jugada , nom querem teer bois pro-
pnos.,
DAS JUGADAS COMO HAM DE SEER RlC., ETC. 249

prios, e pedem-nos empreíl:ados a feus amigos, e fa-


zem tanta lavra, e colhem tanto pam, como aquel-
les, que teem boys proprios, e dizem, que pelos Fo-
raaes dos lugares fom efcufados, porque dizem, que
quem com jugo de boys lavrar, que fe deve entender
dos boys proprios ; e porque as palavras dos Foraaes
de fua natura nom trazem tal entendimento , nem o
podem trazer, e pola interpretaçom , gue os fobredi-
tos dam aos ditos Foraaes, [e feguem enganos , e ma-
licias : Porem mandamos , que taaes peífoas , como
eftas , que affy lavrom com boys alheos, e colhem
tanto pam das herdades, que lavraõ, como aquelles ,
que boys proprios tem, que paguem jugada, como
aquelles, que lavram com feus boys: falvo fe os Fo-
raaes dos ditos lugares o contraira hordenarem , ou
moftrarem privilegios, per que fejam efcufados , ca
entam mandamos, que fejam ouvidos com feu di-
reito.
11 ÜUTRO sv mandamos, que as peffoas pobres,
que com boys empreíl:ados , ou dados por DEOS la-
vrarem alguã fua terra , e femearê , e colherem feu
pam pera fcus mantimentos, taaes como eíles nom
paguem Jugada, falvo fe polo For-al ,ou ufo antigo fo-
rem theudos de apagarem. Eporeftascoufas,que Nós
mandamos em eíl:a noffa Carta , nom entendemos fazer
prejuízo a alguú direito , ou Foral, ou poífe , ou pref-
cripçom, ou uzo , fc aos &yx, que ante Nós forom.,
gu aas Raynhas eram , ou he devudo fobre as dicas
Liv. II. li Ju-
250 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E NOVE

Jugadas, e Oitavas contra eíl-o, ou a alem defto, que


Nós ora hordenamos.
12 OuTRO SY mandamos , que nos cafos outros,
que aqui em eíl:a no!fa Carta efpecificadamcnte nom
fom poílos , nem expreífos , e que nos Foracs dos lu-
gares nom fom conthcudos exprcffarnente, aas di-
tas Jugadas, e Oitavos frjam tiradas nas noffas terras,
e da Raynha , e dos outros Senhores, que as de Nós
reem, fcgundo hc ufo, e coftume antigo, que fe ufou,
e porque fe foyaõ a tirar dcs o tempo d'ElRcy Dom
Donis a cá: nom fazendo eflo prejuizo aos Foraes ,
ou a alguú direito, fe o Nós, ou a Raynha em contrai-
ra ddlo avemos.
13 OuTRo sY por tal mandado os moradores das
ditas terras nom poífarn por cíl:o obrar, ou acabar
prefcripçom , ou po1Tc , ou outro direito contra Nós,
ou contra a Raynha , ou contra os outros Senhores
<las ditas terras.
I4 OuTRO sy mandamos , que efla noffa Carta ,
e claufulas della nom fc entcndaõ, nem ajam lugar nas
terras Rcguengas , tambcm noffas, como da Raynha,
como dos outros Senhores, a qual pelos Reys de Por-
tugal, ou per Nós os ditos Reguengos forom dados;
ca cm aquelles nom fe cfcuza, nem fe pode cfcuzar
peffoa ncnhuã, que nom pague a Nós, ou aa Raynha 1
ou aos fobreditos Senhores todolos foros, e direitos,
que dos ditos Reguengos haõ de pagar : und' al nom
façades. Dada em Lixboa a oito dias de Mayo. ElRey
o
DAS JuGADAS COMO HAM DE SEE'll REC.) !TC. 25 r
o mandou per Alvaro Peres Bacharel em Leyx, Coo-
nego da dita Cidade, e do feu Defembargo, e Juiz
dos feus feitos. Vafco Vicente a fez Era de mil e qua-
trocentos e trinta e hum annos.
15 GONÇALO Efteves , Alvaro Peres vos faço
faber, que Eu aprefentei eítas duvidas , e determina-
çooés a e!l:es Senhores do Confellho d'ElRey, que
aqui eftam, e elles acordaarom por ferviço de DEOS,
e d'EIRey, e prol do Povoo aquellas coufas , que
aqui foro contheudas , aalem daquellas, que ElRey
tem acordadas, fegundo aqui he efcripto.
16 PRIMEIRAMENTE ha hy cafaaes, e Herdades,
que foro dos Senhores; a faber, do Bifpo , e da Sé de
Coimbra, e de Santa Cruz, e de Lorvaaõ, e doutros
Moefteiros , e Igrejas , as quaees trazem lavradores
afforadas en fatiota , o.s quaaes lavradores ham de dar
aos ditos Senhores raçom , e feus foros, a delles o q ui n-
to , e a delles o fexto , e a delles ho oitavo, e affy
mais , e menos , fegundo foro afforados : e eíles lavra-
dores fom piaaés , e moram em cabeças de cafaaes ,
e parte deftas Herdades dos cafaaes, em que moram ,
trazem alugadas de maaõ de piaaés por certo preço ,
de lias por vinte alqueires-, dellas por trinta , dellas
por huú moyo , e affy mais, e menos , fegundo lhes
foro alugadas, ou afforadas: e efia·s Herdades ouve-
rom eftas peífoas , que affy ham a dita renda, delles
per herança, e delles per compra, e delles foro mo-
radores fora das Herdades dos ditos Senhorios , e dcl-
Ii 2 les
2s2 L1vRo SEcuNoo TITu10 VINTE E NovE

les em outros cafaaes dos ditos Senhorios , que fom


fora da cabeça do cafal : fe taaes , como eftes , paga-
ram?
A ESTO Manda ElRey , que fejam penhorados , e
fiquem os penhores em fuas maaõs, por nom peref-
crepverê os fcus direitos : e cíl:o faz fazer o dito Se-
nhor, por elle nom perder o feu direito, por nom fee-
rem penhorados ante do Natal. Outro fy aas Igrejas
nom faz prejuízo , fede direito nom fom theudos a
pagar.
A ESTES Senhores parece que eíl:o he bem deter-
minado.
J7 J TEM. Ha hy outros lavradores , que trazem
cafaaes afforados dos ditos Senhorios , como dito he ,
e vie-rom-fe a morrer, e leixarom as Herdades a huú
piaaõ com condiçom que, pagada a dita raçom ao
dito Senhorio, lhe deífem mais certo pam , ou mais
certos dinheiros, e as ditas peffoas moram cm os di-
tos cafaees encabeçados , em que moravam os que
lhes leixaarom as ditas Herdades: fe taaes como ef-
tes pagaram , pois afiy dam pam fabudo ?
MANDA EIRey, que taaes como eíles nom fcjaõ
ora cofirangidos pola dita J ugada.
PARECE a eíl:es Senhores, que he bem dito, e bem
determinado.
18 ITEM. Ha hy alguús Cavalleiros de conthia,
que trazem Cafaaes , e ~intaãs , e Herdades das
Igrejas, e Moeíl:ciros , e Bifpado a certos dinheiros ,
ou
DAS JuGADAS COMO HAM D!. SEEll JU:c. > ETC. 253
ou a certo pam , e eftas Herdades dam a lavrar a
piaaés, por lhes darem dellas a raçom : fe os lavrado-
res pagarom Jugada ?
MANDA El Rey , que fe os eftes Cavalleiros trou-
verem arrendados ataa nove annos , que pague tal
piam lavrador, que as Herdades trouver, Jugada; e
fe paífar os ditos nove annos, que a nom pague, mo-
rando na dita Herdade encabeçada.
CoMo quer que nom pareça razom defvairada an-
tre eíl:es cafos, pero parece a terminaçom boa ,e acor-
daõ, que affy fe compra.
19 ITEM. Ha hy lavradores, que moram em ca-
faaes de huu Senhorio ; a faber, do Lorvaõ, e d'ou-
tros femelhames, e vaõ lavrar em Herdades dos Cou-
tos do Bifpo de Coimbra : fe taaes, como eíl:es , pa-
garam? porque diz o Bifpo, que todos os que lavraõ
em feus Coutos, fom efcufados de Jugada, poíl:o que
morem fora de feus Coutos.
MANDA EIRey , que paguem, ou moll:rem taaes
privilegias , em que os Reyx efcuzaífem Jugada aos
dos feus Coutos , e confirmados per elle pela guifa .1
que o Bifpo allega.
AcoRDAM que he bem determinado : pero porque
o Bifpo per Sentença ouve livrados * dos (a) * Cou-
tos da Jugada, e defto ouve Carta d'ElRey, dizem,
que he bem, que vejades a dita Carta , e que a cum-
prades, como em ella he contheudo.

-------------------- -
20 ITEM.

{a) .dous A.
254 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E NOVE

20 ITEM. Ha hy lavradore s, que moram nos di-


tos Coutos do Bifpo , e lavram Herdades , e Cafaaes
do dito Senhorio , e lavram outros Cafaaes da See,
em que o Bifpo nom ha parte : fe taaes pagarom ?
porque os defende o Bifpo, dizendo que nom pa-
guem , pois fom no feu Couto ; e diz mais , que ao
tempo , que as ditas Herdades forom leixadas ao di-
to Bifpo, e Cabidoo, que eram todos huã peíToa, e
como quer que fc dcfpois partiffem , que nom fom
por eíTo theudos.
MANDA EIRey , que pois que os lavradores nom
moram, fenom em huú dos ditos Cafaaes do dito Se-
nhorio, e o lavraõ, que paguem , pois que ja os di-
tos Cafaaes fom partidos por annos , e tempos ; e
nom embargan do o que o Bifpo diz, moíl:re privile-
gio , como dito he.
AcoRDAM, que nom embargan do a repoí1a d'E!-
Rey, fe achardes, que os Cafaaes, que fom do Cabi-
doo, fom emcabeca dos, e eíl:am a terço, ou a quar-
to, que os nom cofirangam por Jugada, pofio que os
Cafaaes eíl:em nos Couros do Bifpo, ca tal he a Hor-
denaçom , que ElRey fez.
21 ITEM, Ha hy lavradore s, que lavraõ, e mo-
ram em huú Cafal izento do Bifpo, e lavram mais
outro Cafal , cm que o Bifpo ha maior parte , e ou-
tros Senhorios a outra parte ; do qual Cafal as Herda-
des nom fom partidas , quaees fom as do Bifpo , e as
dos outros Senhorios , fcnom o pam apanhado na Ey-
ra,
DAS JuCADAS COMO HAM DE SEER REC., TiTC, 255
ra, vem o Procurador do Bifpo, e parte o dito pam,
e leva o feu direito, e leixa o outro aos outros Senho-
nos.
MANDA E!Rey, que pague, pois nom mora fe-
norn em Cafal d'huú dos ditos Senhorios, poíl.o que
aja parte effe Senhorio, em que mora, nos outros Ca-
faaes, de que affy nom he partida a Herdade.
AcoRDAM, que he bem dito, e hordenado viíl:a a
regra , que fufo he poíl:a.
22 ITEM. Beefl:eiros de Conto , que nom ham
conthia de trezentas libras da moeda antigua , ou de
tres mil libras deíl:a , e nam teem Cartas noffas , fe-
nom dos Anadees Moores , fe pagaram Jugada , ou
fe ferom efcufados della affy das fuas Herdades pro-
prias, como das que trouverem arrendadas , ou affo-
radas ?
MANDA EIRey, que nom paguem, fe moíl:rarem
Cartas dos ditos Anadees Moores , como fom Bcef-
teiros do Conto, poílo que nom ajam Cartas fuas ;
com tanto que nom façam em ello conluyo , per que
o dito Senhor perca o feu direito.
A ESTO Mandamos , que fe vejam os Foraes dos
lugares , e os privilegios, que forom dados per El-
Rey em Villa Real ; e fe acharem que per elles nom
devem pagar Jugada aquelles , que devem feer Beef-
teiros, que as nom paguem.
23 ITEM, Beeíl:eiros Poufados, fe pagarõ Jugada
das fuas Herdades proprias afforadas , e arrendadas ?
MAN-
256 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E NOVE

MANDA ElRey , que fejam efcufados , fe tevee-


rem bceflas, e cintos , e tres duzias de viratooés, e
moftrarcm Cartas d'E!Rey, como fom apoufenta-
dos.
AcoRDAMOs, que vejam o Fora] , e o Privilegio,
fc o hi ha.
24 ITEM. Ha hy lavradores, que lavram Herda-
des dos Ouvidores: fe efcufarom Jugada aaquelles,
que lhes moflrarem voífas Cartas, em que mandees,
que fcjam efcufados della?
MANDA E!Rey, que frjam efcufados das Herda-

des, que lavrarem, e morarem encabeçadas , fc mof-


trarem os Ouvidores a dita Carta, como fom os ditos
lavradores efcufados da Jugada, affy como fom a.
Herdades dos Ca valleiros.
AcoRDAÕ, que vejam a Carta, e Privilegio, que
efks Ouvidores, e Offic1aaes teem cm razom das Ju-
gadas, que lhes deu Noífo Senhor EIRey, e que lha
guardees, fegundo em ella he contheudo.
25 ITEM. Monteiros da vofT.1. Marta de Botom
poufados fe cfcufarom Jugada das fuas Herdades pro-
prias , ou afforadas ?
MANDA E!Rey , que fejam cfcufados, fe teverem
caaés • e azeumas , e nom tomarem herdades alheas
conluiofamente ; e que nom fcjam coíl:rangidos, que
fervam moflrando Cartas de Poufados.
AcoRDAÕ que eíles Monteiros tcnhaõ vozinas
com cíl:as coufas fufo ditas.
26 ITEM.
DAS juGADAS COMO HAM DE SEER IÜC., ETC. 257
26 ITEM. Ha hy lavradores, que teê huií Cafal
do Senhorio, em que moram, e lavram Herdades
d'outro Senhorio a meas, e trazem duas juntas de
boys , e huã he do dito Senhorio, cuja he a Herda-
de, que trazem a rneas: fe pagarom Jugadas d'am-
bas?
MANDA ElRey, que nom pagué, fenom dos feus
boys, viftas as palavras do Foral.
AcoRDAM, que lhes parece bem determinado.
27 ITEM. Os lavradores , que nam lavram , fe-
nom centeo , ou cevada , fe pagaram J ugada ?
MANDA ElRey , que nom fejam ora coftrangidos
atee que fe veja fe fom theudos; e fejam penhorados,
e fiqué os penhores em fuas maaõs.
AcoRDAM, que lhes parece bem determinacio .
.18 ITEM, Ha hy lavradores, que lavram Herda-
des d'huu Senhorio, em que moram , e lavram mais
outra Herdade d'outro Senhorio , a qual lavram com
bois do dito Senhorio: fe pagaróm Jugada, pofto que
ajam parte da novidade da dita Herdade?
MANDA ElRey, que fejam efcufados.
AcoRDAM , que he bem determinado.
29 ITEM. Ha hy outras Herdades, affy como o
Regueengo do Rabaçal, e Anciam, de que E!Rey ha
huã dizima, e a Teeiga d 'Abram , e Santa Cruz ou-
tra dizima ; e de mais todo-los foros das Caías : fe
taaes pagarom ?
MANDA ElRey, que nom fejam coftrangidos que
Liv. IL Kk pa-
258 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E NOVE

paguem , pois a elle fom tributaaes, e pagam feu tri-


buto; e que por eíl:e tributo, que pagam, renunciam
os outros , aífy como fc faz nos feus Regueengos.
AcoRDAM, que lhes parece bem determinado.
30 ITEM, Ha hy huú lugar, que chamam Almof-
ter , e tem certas Herdades , e fom d'huã Capcella ,
em que dizem, que canta huú Capellam polos Reyx,
a qual Capeella he dada per vós: fe pagaram Jugada?
MANDA ElRey, que fejam coíl:rangidos que pa-
guem , ou moíl:rem privilegíos, per que fejam efcu-
fados della.
AcoRDAM, que pois ouverom Carta , que pois pa-
gavam foros, e tributos a ElRey, que nom pagaífem
Jugada, que vós vejades a dita Carta ; e fe achardes,
que da dita terra pagam foros, e tributos a ElRey,
nom paguem Jugada , fegundo no Capitulo fufo ef:..
cri pto he contheudo.
3 r ITEM, Ha hy Clerigos d'Ordeés Sagras, que
trazem Herdades arrendadas, e dellas afforadas das
Igrejas , e Moeíl:eiros, que lavram aas fuas defpezas:
fe efcufarom Jugada , pois nom fom fuas proprias?
MANDA ElRey, que fejam efcufados das que per
fy, ou aas iuas proprias defpczas lavrarem, vifias as
palavras do Foral.
Acordam, que·lhes parece bem julgado, e deter-
minado.
32 ITEM. Se os ditos Clerigos trazem Herdades
alugadas , ou arrendadas da maaõ de piaaés ?
MAN-
DAS JuGADAS COMO HAM m: SEER REC., ETC. 259

MANDA E!Rey o que dito he, falvo fe fe moflrar


que o fazem conluiofamente, por fonegar o direito a
EIRey.
AcoRDAM , que he bem determinado , e aífy lhes
parece.
33 ITEM. Ha hy piaaés, que lavraõ Herdades de
Senhorio , as quaees trazem da maaõ de piaaês por
coufa certa, ou pam, ou dinheiros, e moram em Ca-
faaes dos ditos Senhorios , as quaees trazem allugadas
da rnaaõ dos ditos piaaês por coufa fabuda.
MANDA ElRey, que paguem, pois trazem as di-
tas Herdades de maaõ dos ditos piaaés , e levam a
prol della, e de fua maaõ principalmente, e nom do
Senhorio, e moram em cafa por aluguer, e daõ o alu-
guer ao dito piam por lavrar a dita Herdade.
AcoRDAM, que he be·m determinado.
34 ITEM, Ha hy lavradores, que lavram Herda-
des de dous Senhorios , e moram em cafa foreira a
huú delles, fe pagaram Jugada ?
MANDA E!Rey, que fejam penhorados, e que fi-
quem os penhores em fuas maaõs.
AcoRDAM , que he bem determinado , e affy lhes
parece.
35 ITEM, Beefteiros de Cavallo) fe pagaram Ju-
gada das Herdades fuas proprias, ou alheas aífy allu-
o-adas , como arrendadas.
b
MANDA EIRcy , que fejam efcufados , em quafi-

to lhes durar o dito privilegio.


Kk 2 AcoR-
260 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E NOVE

AcoRDAM , que he bem determinado.


36 ITEM- Ha hy alguús lavradores, que lavrom
com cinquo , ou íeis juntas de bois feus , e alheos ,
com que fazem charrua no campo, e deftes bois nom
fom mais feus que duas , ou tres * Jugadas ( a) *, e
os outros fom de feus vizinhos , com que aparçam
por gcira : fe pagaram Jugada , fe nom das fuas pro-
prias?
MANDA EIRey, que paguem das fuas, e nom das
alheas, fal vo fe lhe forom allugadas, ou em preíl:adas
* por dia ( h) * ataa huú mez ; e que lhes fejam viílas
as Herdades, que lavrarem com os ditos bois, fe po-
deriam o dito anno lavrar com os feus ,ou com mais;
e fe bois trouverem allugados, com que lavrem tres
geiras, que levem ern femeadura * vinte e dous (e)*
alqueires, paguem huú quarteiro.
AcoRDAM, que he bem determinado.
37 ITEM.Ha hy alguús lugares, que foyam a feer
Termo de Coimbra , e fezeftes-los dcfpois jurdiçom
per fy , e os lavradores daquellas terras dizem que
nom fom theudos de pagarem a vós Jugada, pois fom
jurdíçom per fy : e efl:es fom os d'Ançaam , e affy
outros femelhantes.
MANDA EIRey, que paguem, falvo fc moílrarem
privilegias, per que os efcufe.
AcoRDAM, que he bem determinado.
3 8 ITEM. Ha hy alguús mancebos , que moram
por
la) juutu T. (h) Falta. S. e T. (e) ,·intc e hum .1, doie S.
DAS JuGADAS COMO HAM DE SEER REC., ETC. 26r

por foldadas , e feus donos lhes fazem fearas com boys


feus : fe taaes como eíl:es pagarem Jugada?
MANDA ElRey, que fe elles moram por foldada,
e fazem a dita feara com bois do dito dono, com que
a/fy vivem, nom paguem, porque a elles nom fazem,
mais fazem-lha feus donos, com que vivem ; e e!fes
donos, pofto que as lavraffem por muitas peffoas ,
nom pagariam mais do que fom obrigados.
AcoRDAM , que he bem determinado.
39 ITEM. Ha hy feareiros, que fazem fuas fearas
com a enxada : que pagaram da Jugada? A efto diz
o Foral de Coimbra, que o que cavar, pague huã
teeiga , e eíl:o diz ora, que fe entenda pela velha,
como das outras Jugadas.
MANDA ElRey, que per effa medida velha pa-
gue.
AcoRDAM, que he bem determinado.
40 ITEM. Os feareiros, que lavram com boys
alhcos,quanto pagaram de Jugada?
l'v1AN DA ElRey , que o feareiro , que fezer feara
com bois alheos ataa quatro gciras ,que* levaram ta)•
trinta e * dous ( b) * alqueires de pam em femeadura,
pague huú quarteiro ; e fe mais lavrar , pague jugada
inteira , como fe os boys feus foílem ; e ainda que
nom faça feara , mais que de quatro alqueires , paga-
rá tanto-como dos trinta e dous ; fal vo fe eíl:o feze-
rem conluiofamente por fobnegarem a ElRey o feu
direito. AcoR-
(,,) lavrou S. e T. (b) tm T.
-----·-------
2.62 L1vRo SecuND O TITULO V1NTE E NOVE

AcoRDAM , que v~jaaes a Horden açom d'EIRe y


fobre eíl:a parte derrade ira da feara dos quatro alquei-
res , e guarde -a o Almox arife: e na parte primeir a
dizem que a nom entende m bem , e lhes parece con-
tra a Horden açom primeir a das Jugada s, que EIRey
fez.
41 ITEM. Ha hy alguús , que trazem Herdad es
d'alguu Senhor io, e moram em cafas d'outro s Senho-
rios, e nom trazem outras Herdad es do outro Senho-
rio, cuja he a cafa , em que moraõ.
MANDA E!Rey , que pois nom moram cm caía
do Senhor io, cuja he a Herdad e, em que lavram ,
que paguem .
AcoRDAM , que he bem determ inado.
42 !TEM. Ha hy outras pcffoas ,que trazem I-Ier-
dadcs de dous Senhor ios , e nom hc partida , qual he
;i Herdad e d'huú, nem do outro; e moram cm
cafa,
que faz foro a huú dos ditos Senhori os , e nom a ou-
tro enduvi do, porque a cafa nom he fe nom d'aquel -
Ie, a que dá o foro: fe pagará Jugada ?
AcoRDA M, que tal como efic deYe pagar da par-
te daquell e , (Jlle nam tem cafa fua propria .
43 ITEM. Cavalle iros poufàd os, que nom teem
cavallo s. fe efcuzar om Jugada ? porque diz nas* de-
claraço oés (a) * , que ora foram feitas , prefent c os
homeés boõs de Coimb ra, e Gil Eanncs Correg edor,
que Cavalleiros poufado s , que cavallos tevcrem , fe-

--- --- --- --- --- --~ --


jam efcufados. MAN-
(a) Ordenaço,:,; A!
0AS jUGADAS COMO HAM DE SEER REC. 1 ETC. 263
MANDA ElRey 1 que nom paguem 1 falvo fe teve-
rem a conthia dobrada, e nom reverem cavallos.
Acordaó , que he bem determinado.
44 ITEM. Ha hy lavradores 1 que lavraó, e mo-
ram em cafal d'huú Senhorio, e lavrom mais outro
cafal d'outro Senhorio, e ambos os ditos Senhorios
fom privilegiados: fe taaes como efl:es pagarem Ju-
gada?
MANDA EIRey 1 que paguem, pois lavram, e mo-
ram em cafal d'huú Senhorio, e faaem fora delle a
lavrar outro cafal d'outro Senhorio.
AcoRDAM , que he bem determinado.
45 ITEM. Ha hy lavradores , que moraõ , e la-
vram herdades de muitos Senhorios, e nom fom par-
tidas, qual he a Herdade d'huú, nem do outro, fe
nom junto o pam na Eira , e.ntom leva cada huú o
feu direito mais, e menos, fegundo cada huú ha em
herança; e eíl:es lavradores , ou cada huú delles tra-
zem huã Coure_lla , que he ifenta d'huú dos ditos Se-
nhorios , em a qual os outros Senhorios nom ham
parte : fe pagaram dei.la Courella , que affy trazem
apartada d'huú dos ditos Senhorios , poíl:o que mo-
rem em cafa, de que todo]os Senhorios hajam parte?
MANDA EIRey, que paguem.
AcoRDAARAÕ 1 que he bem determinado.
46 ITEM. As duvidas , que a cá mandaíl:es efcri-
ptas em huã voffa Cart.a , fom eíl:as a faber, dizedes
que í,ilguús pri villegiados, que aviaõ parte em algu.ús
ca-
264 LIVRO SEGUNDO TITULO VINTE E NOVE

cafaaes, e outros privillegiados parte em effes meef-


rnos, ora de novo fezerom antre fy avccnças, que to-
dolos cafaaes foífem ifentos, e de todo d 'hu udos pri-
vilegiados; e que deílo nom moílram Efcripturas pu-
bricas: fe taaes como cíles, que ora fom Senhores de
novo , pagarom Jugada ?
A ESTO rcfpendem , que EIRey com direito norn
pode tolher a nenhuú, que nom faça do feu o que fe
pagar ; pero fe a vós nom moílrarem os efcaimbos
per Efcripturas, ou ceíl:emunhas, ou fouberdes, que
eflo fazem conluiofamente, e fingidiçamente , nom
com tecnçom de premudar, mandam que levedes as
Jugadas, como ante levavam.
47 ITEM. A outra duvida, em que dizedes, que
alguús Senhorios trazem os cafaaes emprazados a cer-
tos meios , ou a certos dinheiros , e ora os tornaõ a
moyaçom de terço , ou quarto : fe taaes como eíl:es
pagarom Jugada ?
A rsTo refpondem eíl:es Senhores, que os Senho-
res , e feus lavradores podem em direito fazer antre
fy os contrautos , como virem que ]hes compre , e
desfazer quando quiferem ; pero fe eíl:o fezercm fin-
gidiçamcnte, e encubertamente, e nom embargando
eflcs contrautos, que aífy fezerom, ou desfezerom cal-
ladamente , paguam pam certo , ou certos dinheiros ,
agora fcjam co!hangidos de pagar Jugada, como an-
te pagavam ; e outro fy devem moíl:rar como desfe-
1.erom os contrautos, que antes tinhaõ feitos.
48 ITEM,
DAS JUGADAS COMO HA M D! SE!R u:c., ETC, 26 5
48 ITEM. A outra duvida, em que diz.ees fe pa-
garam os homeés d'armas jugada, pofto que nom fe-
jam vaffallos?
A ESTO refpondem eíl:es Senhores, que os Foraaes
nom efcufam fenom Cavalleiros, que fom feitos de
conthia pera teerem cavallos; pero parece , que per
boa razom , e direito , pois eíl:es defendem a terra ,
como os outros Cavalleiros, que fom feitos de con-
thia, que nõ devem a pagar Jugadas das Herdades
fuas, que lavram aas fuas defpefas : e fobre efto he
bem d'averdes recado d'ElRey; e veede a primeira
Hordenaçom das Jugadas, e creo que hy acharedes
eíl:o determinado.
49 E oo que eftes Senhores acordaram, vos man-
do alla ho trelado finado per minha maaõ , quanto
perteence aos feitos das Jugadas : e nas duvidas das
Sifas, que aca mandaíl:es, nom podem dar determi-
naçom , fal vo ouvidas as partes.
50 . A ESTO ac.o rdaarom eftes Senhores per voífo
Confelho, e por * apacificamento (a) * de vo{fas
Cartas , que me mandaíl:es , e nom per maneira de
determinaçom, -e mandado : e vós veede o que vos
compre de fazer por ferviço d'ElRey , e a!fy o fa~
:zede.
51 E DESPOIS defto forom feitos huüs artigos per
mandado d'ElRey Dom Johaõ ,dos quaees o theor he
efle, que fe adiante fegue.
Uv. II. LI 52 ITEM.

(o) auçainc.nto s. e q;
266 LIVRO SECUNDO TITULO VINTE E NOV!

52 ITEM. Saberees quantos lavradores ha em effa


Comarca, de que vos he dado carrego, affy os que
fam encabeçados , como os feareiros; e eífo meefmo
cujas herdades lavram, e corno as trazem, fe ha ra-
çom , fe a pam fabudo ; e fe per Efcripturas, ou fem
ellas , e cada huú encabeçado em feu titulo ; e feito
eíl:o enviaredes, e faberedes quaees teem maneira de
pagar Jugada, e quaees fe podem efcufar verdadei-
ramente fem malícia, e engano.
53 ITEM. ~ando eíl:o fezerdes, preguntarez a
cada hu[i dos fobreditos lavradores, ou feareiros, fe
lavram outras Herdades , ou fe fazem outras fearas
fora da voffa Comarca ; e fe achardes , que fy , fabe-
reez em cujas Herdades as fazem, e porque preço , e
que tcem em ellas fcmeado ; e fe vos nõ mofirarem
como dellas pagaram igualmente Jugadas , coílran-
gede-os que pague a Nós, nom moílrando fem ma-
lícia como fom , ou devem feer dello efcufados.
54 ITEM. ~aeefquer lavradores, que trouverem
Herdades, ou Terras d'alguús Senhores, ou d'outras
peffoas poderofas, e Hordeés, ou de Jgrejas, ou d'ou-
tras quaeefquer , rcqucrede-lhes que vos moíl:rern as
Efcri pturas , pera fe per ellas veer como as trazem.
E fe em effas Efcripturas
. fe differ , ou fe moílrar ,
que as trazem por pam fabudo , paguem dfes lavra-
dores a Jugada dellas , pofto que effas Herdades fc_
jam das ditas pcífoas , Hordeês, ou Igrejas. E fe cm
cífas Efcripturas ie mo!lraõ que as trazem por qu1-
nhom;
DAS JuGADAS COMO HAM DE SEE!l llEC., ETC. 267
nhom ; a faber, a meio, ou a terço • ou a quarto , ou
quinto , ou por outra alguuã * parte (a) * , entom lhes
daae juramento a cada huuã das panes dos Avange-
lhos , fe teem outras Efcripturas, per que dem aos
Senhorios das ditas Herdades pam certo ; e fe pelo
dito juramento differem, que fy, entom paguem Ju-
gada dellas ; e fe diíferem , que nom • efcrepvede eífe
juramento, e requerede-lhe da parte de EIRey, que
nom partam, nem levantem effe pam das Eyras com
os Senhorios , nem com feus Moordomos , fem vós
ambos feerdes orefentes aa dita partiçom.
55 E FAZEE em tal guifa, que quando vos pera
ello requererem, e prcguntarem , que logo cheguees
pera entom faberdes pelo juramento dos ditos Moor-
domos do Senhor , ou Igrejas , ou Hordcés fe darn
effes la vradore-s o que diíferom, ou mofharom pelas
ditas Efcripturas. E d'aquello ,que vos affy differem.
ou poderdes faber, affinarees o direito d'ElRcy: e
nom vos partades da dita Eyra, ataa que eífe pam fe.-
ja medido, e entregue, e levantado da dita Eyra. E
fe effe Senhorio, ou fcu Moordorno levar, ou ou ver
mais, ou menos do que fe diz , ou [e moíl:rar per Ef-
criptura, entom pague o dito lavrador a Jugada do
dito paõ todo, por fe moíl:rar feer feita malícia, ou
conluyo, por EIRey nom haver o [eu direito.
56 E sE partirem eífe pam 1lepois da dita voffa
defefa, fem vos chamando pera ello, feja o dito pam

-----------·------
11 2 per-
(a) condiçom S,
268 L1vRo SEGUNDO T1TULO VrNT! E .NOVE

perdido, e os ditos Moordornos prefos ataà rnercee


d•EIRey, por fecrcm oufados de paífarcm, e fazerem
o que o dito Senhor defende. E fe os ditos lavradores
nom m-0ílrarem Efcripturas de como trazem as Her-
dades das fobreditas peí1oas , àify Fidalgos , corno
d'outras peífoas , Igrejas , e Hordeés, que allegam ,
que nõ fom Jugadeiras, entom paguem Jugada, co-
mo pagam , ou devem pagar das outras Herdades ,
que nom fom da dita condiçorn. E fe ainda as Igre-
jas ., e Hordeés, e peífoas allegarem , que fom defto
efcufadas, ou q1,1ites, ou feos lavradores, moftrem
como o fom , ou paguem os ditos lavradores dellas.
57 ITEM, <l!!aeefquer dos ditos -lavradores, que
trouverem Herdades, <l!!intaãs, ou Cafaaes arrenda-
dos, ou afforados per annos certos, ou por certo pam,
ou dinheiros em cada hum anno de Cõrnendas, e
Herdades de Moeíleiros, ou d'outras quaeefquer pef-
foas pri viligeada~, paguem J ugadas : fal vo fe os efcu-
farem , por teerem cavallos , feendo effcs cavallos
faaõs, e nom andando a alrnargem continuadamen-
te. E fe Óutras peffoas trouverem alguuãs . Herdades
dos fobreditos Privilegiados, e nom da maaõ dos Se.;.
nhorios,, mais da maaõ dos que as delles trazem, pa-
guem Jugadas, fe nom ,everem cavallos, como di-•
to he.
58 ITEM. ~aeefquer Senhores, Hordeés, Do-
nas, Cavalleiros, e outras peffoas privilegiadas, a que
per ElRey, ou pelos Reyx, que ante elle foram,. fom
da-
DAS JuGADAS COMO HAM Dt SEEft. REC., ETC. '.269

dadas alguuãs terras dentro dos Regueengos , e lhas


fezerom exentar, e fom dadas a lavradores a certo
pam , ou a dinheiro; que paguem dellas Jugadas:
falvo fe forem efcufados, por teerem cavallos, como
dito he.
59 ITEM. ~aeefquer peífoas privilegiadas, que
trouverem Herdades de companhia com alguús , que
o nom fom, paguem de todo Jugada. E per eíta gui-
fa paguem os que lavram Herdades dos privilegiados.,
fe for mais que huú em cada Herdade, ou Cafal; por
quanto vaaõ quatro, ou cinquo fazer fearas nas Her-
dades , e nenhuú delles nom he encabeçado. E per
eíl:a medês guifa paguem os que trouverem Herda-
des dos fobreditos privilegiados, fe lavrarem em ou-
tras Herdades quaeefquer alheas per qualquer guifa
que feja.
60 As Q.!JAEES Hordenaçooés per Nós viíl:as ave-
mos por boas , e Mandamos que [e guardem como
em ellas he contheudo , por que fomos certamente
enformado, que aífy foi fempre ufado longamente
ataa o prefente.

TI-
270 LIVRO SEGUNDO TITULO TRINTA

TITULO XXX.
Em que modo , e em que tempo fe faz alguu vizinho ,
porque Jeja ejcujado de pagar Portagem a ElReJ'·

E LREY meu Senhor, e Padre de louvada Memo-


ria fez huuã Ley ácerca dos vizinhos, que per
bem de fua vizinhança fe querem efcufar de pagar
os Direitos Rcaecs , da qual o theor tal he.
1 Nos Dom Eduarte, &e. Ouvemos enformaçom
per alguús Officiaaes da Noffa Fazenda , e per alguús
outros dos Noífos Regnos, e Senhorio, que per virtu-
de dos Foraaes, e Pri vilegios a elles dados pelos Reyx,
que ante Nós forom, fom efcufados os vizinhos de pa-
gar Portageés , e Dizimas , e outros Direitos Reaees ;
e que muitos enganofamente fe trafmudaô dos lu-
gares , honde eraõ moradores , e vizinhos pera os di-
tos lugares priviligiados, moíl:rando, que querem hi
morar, e vizinhar, fazendo-fe logo cfcrepver por vi-
zinhos porgouvir dos ditos privilegias per alguú tem-
po, que lhes era rneíl:er ; e defpois que acabavam o
que dezcjavam, tornaõ-fe pera honde antes moravaõ,
e eram naturaaes , abatendo aífy os Noffos Direitos
Reaes nom verdadeiramente. O que nõ avemos por
bem f.eito, nem o devemos confentir, ante fegundo
fomos enformado per Leterados da No.ffa Corte, fomos
per Direito theudo ao refrear quanto bem podermos•
e
EM Q.yE MODO, E EM Q.l1E TEMPO, ETC. 27I

e nom leixarmos minguar o Patrimoni o Real , que


nos he dado pera foportame nto de Noffo Efiado. E
por tanto confirando Nós como eíl:o poderia feer en-
mendado : Acordamo s com acordo dos ditos Lecera ..
dos fazer acerca deíl:o nova Hordenaç om pera me-
lhor feerem declarados os ditos Foraaes , e Privile-
gias , como fe haja d'entender cada hu,ú homem feer
vizinho.
2 CoNrnRMANDo-Nos ao Direito das Leix Impe-
riaaes , e aa ufança da Noffa Terra , Hordenam os ,
e poemos por Ley geeral em todos Noffos Regnos ,
e Senhorio , que vizinho fe entenda de cada huã Ci-
dade, Villa, ou lugar aquelle , que delle for natural,
ou em elle tiver alguuã dignidade , ou officio noffo,
ou da Raynha minha muito amada, e prezada Mu-
lher, ou d'oucro alguú Senhor da terra, ou do Con-
celho deffa Villa , ou lugar, e feja tal, per que razoa-
damente poífa viver, e de feito viva; e more, ou frja
livre cm a dita Villa , ou lugar de fervidooé, em que
antes era pofio , por fcer principalm ente fervo; ou íe-
ja perfilhado em ella per alguú hy morador, e o per-
filhamento confirmad o per Nos; caem cada huú def-
tes cafos he per Direito avudo por vizinho : e ferá
ainda avudo por vizinho da Villa, ou lugar, onde re-
ver feu domicilio , ou a mayor parte de todos feus beés
com teençom, e vontade de aly morar.
3 E PORQ.U E ácerca defie domicilio achamos mui-
tos defvairos antre os direitos ,, e ufanças da cerra ,
que-
272 LIVRO SEGUNDO TITULO TRINTA

querendo trazer todo a boa concordança, Declaramos


efto em eíl:a guifa ; a faber, que aly fe entenda cada
huú homé teer fru domicilio, honde cafar, ca em
quanto hi morar defpois que aífy cafodo for, fempre
ferá avudo por vizinho ; e fe per ventura fe d'hy par-
tir , e for morar a outra parte , e defpois tornar a mo-
rar ao dito lugar, honde aífy cafou , nom ferá avudo
por vizinho ; falvo morando hy per quatro annos con-
tinuadamente com fua molher, e filhos, e fazenda, os
quaees acabados, Mandamos que feja avudo por vi-
zinho : e fe alguú fe mudar com fua molher , e toda
fua fazenda , ou a mayor parte della do lugar d'onde
era natural,ou já avia cafado,pcra alguú outro lugar,
tal como eílc nom ferá avudo por vizinho , a me-
nos de morar continuadamente em o dito lugar com
fua molher, e toda fua fazenda , ou a mayor parte
della outros quatro annos , os quaees acabados , ferá
avudo por vizinho.
4 E o'ouTRA alguuã guifa, aalem dos cafos em
eíla noíla Ley contheudos , e declarados , nenhuú nom
poderá feer avudo por vizinho, nem gouvir de privile-
gio, e liberdade de vizinho , quanto a feer ifento de
pagar os Direitos Reaees, de que per bem d'alguús
Foraes, e Privilegias dos Reyx, dados a alguús luga..
res, os vizinhos fom ifentos.
5 PERO noífa teençom nom he, que per cfta Ley
cm alguuã parte fejam tiradas as ufanças antiguas de
rodalas Cidades, e Villas, e lugares dos noífos Regnos,
e
EM Q.!TE MODO, E EM Q!JE TEMPO, ETC. 273
e Senhorio , per que os moradores delles hi fom avu-
dos por vizinhos , pera foportar os encarregas dos
Concelhos , e fervidooés , honde fom moradores 1
porque quanto a eíla parte tange mandamos , que fe
guarde fuas ufanças antiguas , de que fernpre antiga-
mente ufarom, fem outra nenhuã ennovaçom , fem
embargo defta Noífa Ley. Dante em Eftrcmôs a vinte
àe Janeiro. Pay Rodrigues a fez Era de mil e quatro-
centos e trinta e * fete (a) * annos.
A Q!JAL Ley viíl:a per Nós, Mandamos que fe
cumpra , e guarde , como em ella he contheudo.

T I T U L O XXXI.
ff.lue nom leve E!Rey , ou quem deite CJ'erra , ou Alcay-
daria tever, a terça parte das cou(as, que Je ven-
derem para comer.

E LREY Dom Affonfo o Segundo em feu tempo


fez Ley , de que o theor tal he.
I MAAO cuftume antigo foya a feer affy em Coim-
bra, como em todalas Villas da NoíTe. Eftrernadura,
como em todalas partes do noífo Regno , que aífy
Nós, como os que de Nós tinhaõ Terras, ou Alquai-
darias , levavamos de todalas coufas de comer , que
vendeífem, a terça parte. E efto he em g_raõ dapno, e
Liv. II. Mm pre-
-----·-----------------
(,1) fcis A.
274 LIVRO SEGUNDO TITULO TRINTA E HUM

prejuizo dos* mifquinhos (a)*, a qual coufa pera to-


do fempre Eílabelecemos que nom valha. E Eíl:a-
belecemos que Noffos Ovençaaes, nem aquelles, que
de Nós reverem Terras , ou Alquaidarias , nom le-
vem as coufas fobreditas , fegundo o coílume fobre-
dito, mais comprem cífas coufas, fegundo direita ef-
timaçom, aífy como as comprarem os vizinhos. E
f-e algu(Ís dos noifos Ovençaaes davamditos contra
aqueeílo quizerem hir, peitem quinhentos foldos , e
façam corregimento aguifado aos que as coufas to-
marem.
2 A o_y A L Ley vifta por nos , por nos parecer
juíl:a, e razoada , Mandamos que fc guarde , como
fe em ella conthem.

T I T U L O XXXII.

~te os Almuxarifes d' ElRey nom levem alguâ coufa


do Nav io , que Je perder , ainda que Jeja
Ejlrangeiro,

E LREY Dom Affonfo o Segundo em fcu tempo


fez Ley em eíl:a forma, que fe fegue.
1 PoRQYE a Ley nom deve feer cajom de dapno
a nenhuú : Eílabelecemos , que nenhuú nom leve
coufa alguuã d'aquclles , a que aqueecer perigoo no
mar,
(a) vilinho, S.
~E os ALl',fOXARIFES D"ELREY J ETC. 275
mar, aífy dos da Noffa Terra, como dos das outras
terras , fe aqueecer que per britamento de Nave , ou
Navio, alguuã coufa, que andaffe na Na.ve, ou Na-
vio, aportaffe na Ribeira, ou em alguú porto: mais
os Senhores deffas coufas as ajã todas em paz , affy
que o Noífo Almuxarife nom leve dellas coufa al-
guuã, nem aquelles J que de Nós as Terras reverem ,
nem alguú outro; ca fem razom parece aaquelle, que
he atormentado, dar-lhe homem outro tormento. E
fe per ventura alguú contra eíl:a NofTa Coníl:ituiçom
quifer hir, reteendo-lhe per ventura o feu , ou levan-
do dos davanditos alguuã coufa, feita primeiramente
entrega comprida das coufas , que lhe filharom, ou
perdeerom, perca quanto ouver.
2 A QYAL Ley aífy per elle feita louvamos , e
a vemos por boa: refervando que honde o dito Rey
manda , que aquelles , que forem contra eíl:a Ley •
percam quanto houverem, allivando a dita pena,
acordamos que paguem em tresdobro qualquer cou-
fa, que per força ou efcondidarnente quiferem , e ou.
verem dos Navios, que affi quebrarem.

Mm2 TI-
276 LIVRO SEGUNDO TITULO TRINTA E TRF.:S

T I T U L O XXXIII.
~,e nom tenha nenhuü Porteiro, fenom quem Duver
Authoridade d' E/Rey pera e/lo.

E LREY Dom Doniz de Famofa Memoria em feu


tempo fez Ley, de que o theor tal he.
1 DoM DoN 1z per Graça de DEOS Rey de Por-
tugal , e do Algarve. A todollos Alquai<les , AI vazis,
Juizes, e Juíl:iças de meus Regnos, que efia Carta
virdes , faude. Sabede , que os Moordomos xe me
queixaram dizendo, que nom podem aver o feu di-
reito do Moordomado polas Portarias , que fazem os
meus Porteiros , que trazem os Mercadores , e os Ju-
deos, e os outros homeés. E Eu fobre eíl:o ouve con-
felho com aquelles, que fom do meu Confelho, e
achei , que em tempo de meu Vis-A voo , e de meu
Padre , ataa que hi meu Padre filhou em fy a Porta-
ria , nom ufaarom dar Porteiros , fe nom ao Arcebif-
po, e aos Bifpos, e aos Cabidoos , e aas Hordeés,
e aos Moeíl:eiros , e aos Abades , e aos Priores dos
Moefl:eiros , e Abbades ,_e a alguuãs grandes peffoas ,
e aos Juizes, hu nom andam Moordomos pera effes
Julgados, e pera as Honras, e pera os Coutos : e
tive por bem com aquellcs, que fom do meu Confe-
lho , que Eu guardaífe, e fezeffe guardar aqueíl:e
ufo.
2 HoN-
~ E NOM TENHA NENHUM PORTEIRO, ETC. 277
2 HoNDE vos Eu mando, e quero que aífy fe fa_
ça , e que nehuum nom haja Porteiro , fenom as fo-
breditas pdfoas, as quaees ouverom Porteiros no
tempo de meu Padre, e de meu Avoo , e de meu
Vis-Avoo ; e revogo todollos outros Porteiros , que
ataaqui forem feitos ; e Mando que daqui em diante
nom façaõ outras Portarias fob pena de feus corpos ;
e Mando, que lhas nom leixedes fazer, fenom a vós
me tornarei Eu porem, e peitar-medes os meus en-
coutos. E os Moordornos tenham eíta Carta. Dante
em Eílremoz a vinte e oito dias de Janeiro. ElRey o
mandou per fua Corte. Affonfo Martins a fez Era de
mil e trezentos e vinte e hum annos.
3 A Q.YAL Ley vifta per Nós, avernos por boa, e
Mandamos_ que fe cumpra, e guarde, como em el-
la he contheudo.

T I T U L O XXXIIII.

Do que haõ de pagar os 'l'aballiaaés Geraaes


do Regno a ElRey.

E LREY Dom Joham meu Avoo, &e. em feu


tempo fez huã Lcy em eíla forma, que fe fegue.
1 DoM JoHAM per graça de DEOS Rey de Por-
tugal, e do Algarve. A quantos eíta Carta virem faze-
mos faber, que a Nós he dito, que nos ditos Noffos
Re-
2
78 LrvRo SEGUNDO TrTuLo TRINTA E QYATRo

Regnos ha muitos Taballiaaés geraaes , os quaes a


Nós nom pagam penfom nenhuma polos ditos Offi..
cios, que affy de Nós ham. Porém Nós com acordo
dos do No(fo Confelho Hordenamos , que daqui em
diante fe faça per eíl:a guiza ; a faber, que os Noffos
Corregedores, a que o trellado deíl:a Noffa Hordena-
çom com o noífo feello for rnoíl:rada , que mandem
apregoar per todallas Cidades , Villas, e Lugares , a
faber , cada huú Corregedor em fua Comarca , que
todos aquelles , que forem Taballiaaés Geraaes per
Noffas Cartas , ou per Cartas dos Reyx , que ante
Nós forom , e per Nós confirmadas, que afly de todo
Regno , como nas Comarcas , e Correiçooés , e Bif-
pados , e quizerem obrar dellas daqui em diante , e
dos ditos Officios , affy como ataaqui ufaarom , que
paguem a Nós de penfom mil libras cada huú em ca-
da huú anno polo dito Officio.
2 PoREM Mandamos , que tanto que o trellado
deíl:a Hordenaçom for moíl:rado aos ditos Correge-
dores, e a cada huú delles com o Noffo feello, man-
dem apregoar per todos os fobreditos Lugares, e ca-
da huú delles das ditas Comarcas , que qualquer que
for Taballiom Geeral , e quizer obrar , e ufar do dito
Officio, como dito he, que vaa dar fiadores aconthio-
fos aos noffos .Almoxari fes das Comarcas, fegundo
lhes aqui faõ divifados; a faber, os da Comarca d' An-
tre Douro e Minho ao Noffo Almuxarife do Porto; e
os da Comarca de Traz os Montes ao noífo Almoxa-
n-
Do QYE HAÕ DE PAGAR os TABAL, , ETC. 279

rife da Torre de Meencorvo ; e os da Comarca da


Beira ao Noffo Almuxarife da Cidade de Vifeu ; e os
da Comarca da Efhemadura ao Noffo Almuxarife
das aveenças da Cidade de Lisboa; e os da Comarca
d'Antre Tejo,e Odiana ao Noffo Almuxarife d'Evo-
ra; e os do Algarve ao Nolfo Almuxarifc de Faaro.
3 E MANDAMOS que eftes fiadores lhes fejam da-
dos em cada huú anno por primeiro dia de Janeiro,
gue dem, e paguem aos ditos Almuxarifes cada huu
em fuas Comarcas as dicas mil libras cada huú em
cada huu anno de penfom , que lhe mandamos , que
pague cada huú Taballiam Geeral; aos quaes Almu-
xarifes Nós mandamos, que tomem boõs fiadores a
effes , que affy forem Taballiaaés Geeraes, que lhes
dem , e paguem cada hufi em cada huú anno as di-
tas mil libras , como dito he , pera fe per elles nom
poderem a ver as ditas mil libras, que as ajam pelos
ditos fiadores.
4 , E SABENDO os ditos Noílos Corregedores , ou
frendo certo, que alguús deffes, que affy fom Tabal-
liaaés , ufaõ dos ditos Officios , nom pagando elles
as ditas mil libras de penfom , como dito he ) que
elles os prc:ndaõ , e tenhaõ prefos , e os nom foltem
ataa que no-lo façaõ faber, e a verem fobre ello Noífo
recado pera os Nós veermos, e darmos fobre ello li-
vramento, como acharmos que he Direito. E vós
compride todo eílo, nom embargando que nas Cartas,
que elles aífy teem dos ditos Officios , faça mençom,
que
280 LIVRO SEGUNDO TITULO TRINTA E QyATRO

que lhos damos fem nos pagando penfom nenhuã por


elles.
5 E ESTo Mandamos , que fe cumpra em todol-
Jos Taballiaaés Geraaes , falvo fe for em huú , que
Mandamos, que dcolha cada huú Corregedor em
fua Comarca, qual vir que he mais idoneo, e perten-
cente pera andar com elle em a dita Comarca , pera
dar fé de todo aquello , que fezer em ella ; ao qual
Nós mandamos que ande com elle , pera fazer fé
de todo o que aíly vir fazer.
6 ÜuTRO SY Mandamos aos ditos Almuxarifes ,
e a cada hum delles , que nom coíl:rangam eife Ta-
balliaõ , que o dito Corregedor aíly efcolher pera an-
dar com elle , que nos pague as ditas mil libras , e
coíl:rangam todos eífes outros , como dito he ; os
quaees Nós Mandamos ao Efcripvaõ de cada hum
Almoxarifado , que os ponha em recepta fobrc cada
huú Almoxarife , pera Nós depois havermos dello
conto, e recadaçom.
7 E MANDAMOS aos Efcripvaaés , que regi.fiem
cada hum eíl:a Carta em feus livros apartados, honde
efcrepverem effes Taballiaaés , pera per ella recada-
rem os ditos dinheiros : e outro fy Mandamos ao Ef-
cripvaõ da Chancellaria de cada huã Comarca, que
a regiíl-e em o livro da dita Chancellaria, honde an-
daõ as outras Noffas Hordenaçooés regifladas , pera
hy andar efcripta, e os Corregedores, que hy forem,
a fazerem comprir, e guardar em todo como aqui fo-
fo
Do Q!J'E HA5 DE PAGAR. os TAnAL. , ETC. 2 81

fo dito he ; aos quaees Nós Mandamo s, que a façaõ


comprir , e guardar cada huú em fua Comarca em
todo pela guiza que dito he, e aqui he contheudo .
8 A QyAL Ley viíl:a per Nós, havemos por boa,
e Mandamo s que fe cumpra, e guarde, como em ella
he contheudo .

T I T U L O XXXV.

~ue os Beejleiros paguem Jugada em todo lugar


onde nom forem efcefados pelo Foral.

N O LrvRo da Noífa Chancellaria foi achada huã


Ley , que o muito virtuofo Rey Dom Eduarte
meu Senhor, e Padre em feu tempo fez, da qual o
theor he eíl:e , que fe adiante fegue.
1 DoM EouARTE , &c. A quantos eila Carta virem
Fazemos faber, que ·contenda foi antre Nos , e os
Beeíl:eiros do conto da Noífa Villa de Santarem per
Gonçalo do Rego feu Anadel, em logo d'Affonfo
Furtado Anadel Moor d'huã parre , e Gil Peres Pro-
curador dos Noífos Direitos em a dita Comarca por
Nós, e em Noflo Nome da outra ; aprefentan do o
dito Anadel em nome dos ditos Beeíl:eiros huã confir-
maçom fynada per Nós, e feellada do Noffo feello ,
per que lhe confirmam os os privilegia s, que lhes fo_
Iam dados pelos Reyx, que ante Nós foram , em a
Liv. II. Nn qual
282 LIVRO SEGUNDO TITULO TRINTA E CINCO

qual antre as outras coufas era contheuda huã clau-


fula, em que Manda vamos, que aquelles Beeílei-
ros , que foífem efcufados de pagar Jugadas pelos
Foraes das Terras , em que viveífem, nom foífem
coíl:rangidos de pagarem nehuã Jugada ; dizendo o
dito Anadel, que era foro da dita Villa de Santarern,
que os Beefleiros do conto dclla ouveífem privillcgio
de Cavalleiro ; e que ora os ditos Beeíl:eiros eram
coílrangidos , gue pagaífem a dita Jugada , e Oyt:a-
vo de pam, e vinho, e linho, que aviam, e lavravam.
Pedindo-nos por merce que lhe mandaífemos guar-
dar o dito privillegio, e claufulla fofo dita pela gui-
fa , que em elle era contheudo.
2 E POLLO dito Noffo Procurador foi dito, que
quanto era na parte da Jugada, o dito privillegio fe
nom devia de guardar, e que os ditos Beeíl.eiros eram
theudos, e obrigados de pagar; por quanto em vida
d'ElRey meu Senhor, e Padre, cuja Alma DEOS
haja, em tempo de feu finamento os Beeíleiros da di-
ta Villa de Santarem pagavam a dita Jugada, e Oy-
tavo fem embargo de teerem, e averem os ditos pri-
villegios em que fazia meençom, que a nom pagaf-
fem ; por quanto pelo dito Senhor fora determinado
que norn eram dello efcufados , fegundo logo perante
Nós foi moílrada huã Carta per elle fynada , e pelo
trellado d'huã Sentença, que pelo dito Senhor foi da-
da em Rollaçom com os Dezembargadores de feus
feitos, em a qual declarou , e mandou , que em qual-
quer
~ E OS BEESTl':IROS PAGUEM JuGADA, t:TC. 283

quer Foral, que differ, que o Beeíl:eiro aja priville-


gio, e-foro de Cavalleiro , que efta pallavra fe enten-
da nas cuíl:as, que o Beeíl:eiro pode levar, como Ca-
valleiro, mais que por eíl:o o Beeficiro nom fe pode
efcufar de pagar Jugada no lugar, honde a terra for
Jugadeira .
3 SEGUNDO todo efto, e outras coufas mais com-
pridamen te forom allegadas d'huã parte, e d'outra ,
as quaees viftas per Nós, porque Noífa mcrce he nom
fazer ennovaçoo és , nem outra mudança , e ufarem ,
como fe ufava em tempo" e vida do dito Senhor Rey
meu Padre ; e por quanto fomos certo , que ao tem-
po do feu fallecimen to os Beeíl:ciros da dita Villa de
Santarem pagavaõ a dita Jugada, e Oytavo: Porem
Detrimina mos , e Mandamo s, que os Beeíl:eiros do
Conto da dita Villa paguem a dita Jugada, e Oytavo
affy, e pella guifa, que entom pagavaô, fem embar-
go de feus pri villegios , e corfirmaço m delles.
4 E POREM Mandamo s aos Veedores da Noífa.
Fazenda , Contadore s, Almuxari fes, e outros quaef-
quer Juízes, e Juíliças, e pefioas, a que o conheci-
mento defto perteence r, que cumpram , e guardem , e
façam cumprir, e guardar efta Noffa Carta pela gui-
fa, que em ella he contheud o, fem outro nenhuú em-
bargo: und'al nom façades. Dante em• Cintra (a) *
a* dezanove (b) * dias de* Julho (e)*. Fernam Gil
Nn 2 a

(a ) Santarcm A. (Ó) vinte A, (e) Junho, S. Janeiro. T.


2 s4 LrvRo SEGUNDO TrTuLo TRINTA E SErs

a fez Era do Nafcimento de Noffo Senhor JEsus


CHRISPTO de mil e quatrocentos e trinta e* feis (a)•
annos.
5 A QYAL Ley vifia per Nós, Mandamos, que
fe guarde como em ella he contheudo.

T I T U L O XXXVI.

Da declaraçom feita ácerca da faca do pam, e guaados ,


que fe levam pera fira do Regno.

E LREY Dom Eduarte meu Senhor , e Padre em


fcu tempo fez Ley em eíl:a forma, que fe frgue.
r Nós ElRey Fazemos faber a vós (b) Ruy Bor-
ges de Souza Cavalleiro da Noffa Caía, e Efcripvaõ
da noffa Chancellaria, que veendo Nós como conti-
nuadamente eramos requerido dos Noffos Naturaaes,
e d'outros Eíl:rangeiros , que lhes ouveffemos de dar
faca de pam, e gaados pera fora dos Noífos Regnos,
e polla darmos, Noffa Terra muitas vezes era min-
guada do dito pam , e guaados em tal guifa , que os
moradores, e naturaes della por eíl:e aazo aviam os
mantimentos mais caros do que os a veriaõ , nom os
levando nenhuã peffoa pera fora dos ditos Regnos.
2 E PORQY E noffa teençom he a dita faca feer
ve-
(p) fc tte S, (/,) Doutor A,
DA DECLARAÇOM 9
FEITA A CERCA, ETC. 2~ 5
vedada , o mais que podermos , e que nom fejamos
per tantos , nem affy a miude por dla requerido ;
acordamos com os lffantes Dom Pedro, e Dom Han-
rique meus Irmaaõs, e com os outros do Noffo Con-
felho, que daqui em diante qualquer peíloa, que nos
faca do dito pam, e guaados requerer, e lha Nós ou-
torguarmos, que nos paguem dizima do que aífy per
bem della pera fora dos ditos Noffos Regnos leva-
rem , como ataa qui pagavam, de cincoenta huú : e
per eíl:a guiza Entendemos , que a dita faca poderá
feer refreada, quando os que a requererem virem ,
que ham de pagar della dizima.
3 E POREM vos Mandamos , que da feitura deíl:e
noffo Alvará en diante vós affy o façaaes pera nos re-
cadar a dita dizima de todallas ditas facas , que paf-
farem ; e mandees regiíl:ar eíl:e Noífo Alvará no Li-
vro da Noífa Chancellaria por renembrança da de-
terminaçom , que fobre efto demos : und' ai nom
façades. Feito em Almeirim a treze dias d'Abril. Ruy
Galvom o fez. Era de mil e quatrocentos e trinca e
• feis (a)* annos.
4 A QlJAL Ley viíla per nós, havemos por bõa,
e porem mandamos que fe guarde , e compra em to-
do cafo, affy como em ella he contheudo , per o en-
tendermos afiy por ferviço de DEOS, e noífo, e bem
dos nofios Regnos.

TI-
---------
(r-) fc~e S,
286 LIVRO SEGUNDO TITULO TRINTA E SETE

T I T U L O XXXVII.
De como E!Rey pode , e deve efpaçar as di·vidas
aos Jeus naturaes.

e ÜNSIRANDO Nós ElRey Dom Affonfo o Q!into


ácerca do boõ Regimento da Noífa Terra, em
como he outorgado per direito ao Rey da terra, que
poffa efpaçar as dividas aos devedores , e as deman-
das aos que letigam, porem acuftumaarom os Reyx
de o fazer affy alguãs vezes , com tanto que feja por
tempo razoado ; ca fe o efpaço foffe muito grande, e
defrazoado, nom o deve o Rey de fazer, porque pou-
co menos dãpno faria aa parte contraira , que fe em
todo lhe foff e tolhido feu Direito : e per femelhante
maneira dizemos, que fe o devedor for obrigado a
tempo certo, EIRey poderá tolher aquelle tempo, e
mandar que pague logo, falvo fe o efpaço foffe mui-
to grande, ca entom ho nom deve de fazer: pero que
bem podera do grande efpaço quitar alguã parte ra-
zoadamente : e pero que o Rey da terra poffa efpaçar
as dividas , e tolher os efpaços aos devedores, que
fom obrigados a tempo certo , nom poderá em todo
quitar a divida aaquelle, que he obrigado de a pagar
a feu creedor, porque efpaçar as dividas, ou tolher
os efpaços dados a ellas , he coufa de pouco prejui-
zo, e tolhellas em todo feria coufa muito dapnofa, e
prejudicial aa outra parte. 1 D1-
DE COMO E1REY PODE, E DEVE ESPAÇAR, ETC. 287

I DrREITo he , e cuíl:umo d'antigamente guar..


dado, que fe alguem emperrar Carta graciofa , por-
que fua divida , ou demanda feja efpaçada a tempo
certo , tanto que a Carta for prefentada em Juízo ,
deve fatifdar em J uizo com pinhores , ou fiadores
abaftantes , que acabado o efpaço, que lhe he dado,
pagará toda a divida, em que he obrigado, ou todo
aquello , em que for condapnado; e nom fatifdando >
como dito he , nom deve gouvir da graça emperra-
da. E porque ElRey acuftuma efpaçar alguãs vezes
as dividas per foas Cartas a alguús, por hirem a
Guerras , ou em Armadas feitas per feu mandado ,
Mandou aqui poer a forma , em que as Cartas fe ha-
jam de dar por tal , que os feus Officiaaes nom pof-
faõ errar ácerca dellas.
2 DOM Ajfoefo pela Graça de DEOS, &c. A
quantos ejla Carta virem Fazemos Jaber, que Nós que-
rendo fazer graça, e mercee a F. > tetmos por bem, e d-
paçamos-lhe todos Jeus feitos , e demandas, ajfy movidos >
como por mover, que elle ha, ou entende d' aver com quaeef-
quer pejfoas , ou e.ffas pejfaas com elle per qualquer guija
que jeja > da dada dejla Cartlf{. alaa huú anno comprido :
porim vos Mandamos que nom confentades a nenhuã pef-
foa ., que o por ello cite , nem demande em nenhuá manti-
ra ; e Je ja perante vós alguus preitos jom começados ,
gue nom conheçades delles , nem vaades per elles mais en
diante, e os lúxedes a.ffy e.fiar quedas no ponto , e eflado ,
em
288 LrvRo SEGUNDO TrTuLo TRINTA E SETE

em que eflam , ataa o dito tempo do anno acabado : falvo


Je ejfes feitos perteencem a Nos, oufam findos per.fenten-
ça , ou o dito F. ha , ou ouver ejfes preitos , e demandas
com outro homem d' Armas , que nos ferva na Guerra em
feito d' Armas ; ou J e Jom fobre cou_/as de forças , e roubos,
ou de guarda, e condejilho , ou fa!dadas, e jornaaes de man-
cebos : und' al nom façades.

T T I U L O XXXVIII.

Das Cartas empetradas d'ElRey per /alfa uiforma-


çom , ou callada a verdade , ou dadas fem
conhecimento.

N Ü's EIRey Dom Affonfo o ~into fomos enfor-


mado per Leterados da Noffa Corte , que toda
Carta de Juíl:iça emperrada d'ElRey pera alguú Juiz,
ou qualquer outro Cõmiífairo, per que lhe Nós co-
mettamos a execuçam de alguã coufa , ainda que lhe
nam comettamos outro alguú conhecimento , o dito
Juiz ou Cômiffairo deve tomar conhecimento das pro-
mitras, em que nos fundamos dar a dita Carta ; e fe
achar que fom verdadeiras , mandalla-ha comprir ; e
em outra guiza mandará que fe nom cumpra; por que
achamos per Direito, que toda Carta de Juíliça em-
petrada contem em fi calladamente huã claufula ; a
í;l-
DAs CARTAS EMPETRADAs o'ELREY, ETC. 289

faber , fe as promiffas , em que he fundada , fom ver-


dadeiras , nom embargan te que a Carta feja dada.
fem falva, e fem outro alguú conhecime nto.
I ITEM. Mandamo s, que fe a Carta da Juíl:iça
he empetrada enganofam ente per falfa enformaço m
tanto que aquelle , a que he aprefentad a pera ·a haver
de comprir, for enformad o, que per engano foi gaan-
çada , faiba fobre ello a verdade , e tanto que for em
verdadeiro conhecime nto dello , logo deve mandar ,
que fe nom cumpra, porque achamos per Direito,
que afiy fe deve de fazer por tolher os enganos.
2 ITEM. Se a Carta da Juíliça for emperrada fem
engano per falfa enformaço m ; a faber, callada a ver-
dade , ou expreffa a falfidade, em tal cafo deve o Juiz
efguardar fe a falfidade expreffa, ou a verdade cal-
lada fom taaes , que ainda que calladas ou expreffas
nom forom , a dita Carta leixara de feer outorgada ,
em tal cafo a mande comprir , nom embargan te adi-
ta verdade callada , e falfidade expreífa ; e achando
que fe a dita verdade callada fora declarada , ou a fal-
:fidade nom fora expreífa, a Carta nom fora outorgada ,
em tal cafo mande que nom feja comprida : póde-fe
poer exemplo naquelle,q ue empetra alguã Cartafobre
alguã coufa, nom fazendo mençom da demanda, que
já pende fobre ella , ou da fentença , que ja he dada
fobre ella , que tanto que aquelle , a que for enviada ,
for em conhecime nto dello , logo deve mandar, que
fe nom cumpra; e tanto que taaes razooés de falfida-
Liv. li. Oo de
290 LIVRO SEGUNDO TITULO TRINTA E OITO

de expreíla, ou verdade e aliada forem allegadas polia


parte, contra que a Carta hc gaançada , o Julgador
deve conhecer dellas no cafo, honde di1Iemos , que
concludem, e fazem a Carta nom valer, e nom deve
fazer obra nenhuã pela Carta ataa feer fabuda a verda ..
de fobre a dita razom , e fegundo ello, affy fazer a di ..
ta obra.

T I T U L O XXXVIIII.

ftue as Raynhas, e 01 ljfantes nom dem Cartas


de Privilegios a nenhuás pej}oa.s.

E LREY meu Senhor, e Padre, a que DEOS de


o feu Santo Paraifo, em feu tempa fez huã Hor-
dcnaçom, fentindo por ferviço de DEOS , e feu , e
proveito dos feus Regnos , em eíla forma , que fc fe_
gue.
1 DoM EouARTE, &e. A vós Johãne Meendes
Corregedor da Noífa Corte, que ora teendes o Carre-
go de No{fo Chanceller, faude. Sabede que nós hor-
denamos por Noífo Serviço de mandarmos Cartas
aos Noífos Corregedores das Comarcas, as quaaes
paífarom em eíl:a forma, que fe fegue.
2. A Nós differom , que aífy pela Raynha minha
Moiher, e pelos Iffantes meus lrmaaõs, como polos
Condes, e outi:as pe[oas eram dadas Cartas, e Al-
va-
~ E A RAYNHA J E os IFFANTES J ETC. 291

var.aaes em a Noffa Terra , dellas de mando , e del-


las d'encom enda, e de rogo, porque efcuzam alguãs
peffoas dos carregas dos Concelh os, e d'outras cou-
fas; e porque a Nós pareceo , que nom era razom ,
fallamos eíl:o em Confelho com a dita Raynha , e
com os ditos lffantes meus J rmaaõs , e com os Con-
des , e com os outros do Noffo Confelh o, e foi acor-
dado, que taaes Cartas, nem Alvaraae s fe nom guar-
dem , falvo aos que ou verem Nofias Cartas fignadas ,
e feelladas do Noffo feello , ou Alvaraae s affynado s
per Nós: e porem mandam os a cada huú Correge-
dor, que affy o faça logo notificar aos Juizes , e Offi-
ciaes de todollos lugares da fua Correiço m, que o fa-
çam affy comprir , e nom guardem Cartas, nem Al-
varaaes d'alguãs peffoas, foomente as Noífas, como
dito he.
3 PoREM fem embargo deílo nos praz, que adi ..
ta Senhora Raynha minha Molher , e meus lrmaaõs
poílaõ efcufar em fuas Terras quem lhes aprouver
dos encarreg os • e fervidoo és dos Concelh os, e d'ou-
tros nom.
4 OuTRO sv porque alguús teem noffos priville-
gios , perque antre as outras coufas fom efcufado s
d'averem Officios dos Concelho s , Noffa mercê he
que taaes privilleg ios nom fe entendam cm feerem
Juizes, Vereado res, e Pwcurad ores, e Almotac ees
Moores dos Concelh os, porque deíles quatro Off-
c1os, nom queremo s , que alguü feja efcufado , ante
Oo 2 Man-
292 LIVRO SEGUNDO TITULO TRINTA E NOVE

Mandamos , que taaes Officios tenbam os milhores


do lugar , fegundo fe ataaqui cuíl:umou , falvo fe ex-
pre!famente diífer no pri villegio , que deíl:es Officios
os efcufamos; e porém lhes Mandamos, que- a!fy o
façaõ logo pobricar, e guardar.
5 ÜuTRo SY que mandem da Noífa parte aos Ar-
rabys dos Judeos , e aos Alquaides dos Mouros, que
ouver nos ditos lugares , que cíla meefma maneira
tenham com os Judeos, e Mouros, de que teem car-
rego, a que acharem alguús privillegios , e o façam
aífy comprir , como dito he.
6 E NOM embargante, que eftas Cartas affy paf-
fem pelos Corregedores, Mandamos-vos que façaaes
regiílar, e aífentar eíl:a Carta toda de verbo a verbo
em o Noífo Livro da Chancellaria pera mais feer de-
vulgado , e poblicado eílo , que aífy hordenamos , e
Mandamos, como dito he. Dante * no Vimieiro (a) •
a dous dias de Mayo. Affonfo Cotrim a fez Anno do
Nafcimento de Noílo Senhor J Esus CHRISTO de mil
e quatrocentos e trinta e *quatro (b) * annos.
7 A QY AL Ley viíl:a per Nós , porque nos parece
juíla mandamos que fe guarde affy como em ella
he contheudo.

TI-
--------------------
(a) cm Obido, A. (h) oito S. e T.
DE COMO AS RA YNHAS, E os IFFANTES, ETC. 293

T I T U L O XXXX.
De como as Raynhas , e os {/Jantes haô d'ujar das
Jurdiçooés nas Vii!as, e Terras, que lhes forem
dadas per ElRey.

Q UANDO Noífo Senhor DEOS fez as Creaturas-


afly razoavees, como aquellas, que carecem de
razom, nom quiz que todas foffem iguaaes , mais ef-
tabclleceo , e hordenou cada huuã em fua virtude, e
poderio departidas , fegundo o graao, em que as
pos : bem affy os Reyx, que em logo de DEOS na
Terra fom poftos pera reger, e gove-rnar o Povoo nas
obras, que ham de fazer, affy da Juíliça, como de
graças, ou mereces, devem feguir o enxemplo da-
quello, que elle fez , e hordenou , dando , e deíl:ri-
buindo nom a todos per huã guifa , mais a cada huií
apartada mente, fegundo o graao, e condiçom, e ef-
tado, de que for.
r PoREM Nós Dom Affonfo o ~into confirando
como os Reyx , que ante Nós forom em eíles Regnos,
cuftumaarom a fazer grandes doaçooés aas Nobres, e
Virtuofas Raynhas fuas molheres per bem , e virtude
de feus Matrimonios, e grandes reus merecimentos,
de certas Villas , e Lugares com fuas Jurdiçooês al-
tas, e baixas , mero , e miClo Imperio ; e per ferne-
lhante guifa fezerom doaçooés aos lffantes , que pe-
los
294 LIVRO SEGUNDO TITULO ~ARENTA

los tempos foram em e!le! Regnos, e efpecialmente


o muito poderofo, e de grandes virtudes EIRey Dom
Joham meu Avoo de gloriofa memoria aos manificos
Princepcs lffantes feus filhos Dom Pedro Noffo Te-
tor, e Curador, e Regedor por Nós em Noffos Re-
gnos, e aos outros Iffantes Dom Henrique, e Dom
Joham, e Dom Fernando Noffos muito amados , e
prezados Tios, fegundo mais compridamente he con-
theudo nas doaçooês feitas a cada huú delles.
2 OuTRO sv confiranào os grandes dividas, que
alguús Fidalgos da Noífa Terra aviam em fua * mer-
cee (a) * , por acrecentamento de feu E fiado ; e ou-
tros por feus grandes merecimentos , e ferviços , que
fezerom a elle, e aos Reyx , que antes forom, e por
outras muitas aguifadas razooés, porque aífy a elle,
como aos outros Reyx Noífos anteceífores ca via de
lhes fazer mercee ; o dito Senhor Rey Dom Joham ,
e des y ElRey meu Senhor, e Padre t e Nós lhe fe-
zemos doaçooés de Villas, Terras, e Lugares com a
jurdiçom, mero, e mi fio imperio afTy no Crime, co-
mo no Civil , rezervando em alguãs das ditas doa-
çooês pera Nós em final de maior , e mais alto Se-
nhorio alguã parte de{fa Jurdiçom ; e em outras al-
guãs doaçoens, nom refervando expreffarnente alguã
coufa pera Nos, como quer que fempre fe entende, e
deve entender, refervando a Nós aquello, que per-
teen-
(n) linhagem 'L
DE COMO AS RAYNHAS, 'E os IFFANTES, ETC. 295
teence , e efguarda a maior, e mais alta fu periorida-
de, e Real Senh~rio : Porem acordamos, e hordena-
mos per confelho da Noíla Corte declarar em que
modo cada huu dos fu[o ditos ajam d'hufar das Jur-
diçooês nas ditas Villas , e Terras, de que lhes aíly
foi feita mercee , como dito he.
3 PRIMEIRAMENTE declaramos, que as Rainhas,
que forem em eíles Regnos, devé d'aver em codalas
Villas , e Terras , que lhes forem dadas per bem •
e virtude de feus Matrimonies , a Jurdiçom em eíla
maneira ; a faber , que os J uizes , e V creadores , e
outros Officiaaes fejam enlcgidos pelos horneés boõs
dos lugares , affy como ataaqui forom , e he contheu-
do nas Hordenaçooés do Regno fobre ello feitas ; e
todalas appellaçooés , e aggravos, que dos ditos Jui--
zes fairem aíly nos feitos Civis , como nos Crimes,
vaaõ perante o feu Ouvidor , que continuadamente
há d'andar na noffa Corte , e Rollaçom ; o qual def-
embargará os feitos crimes na dita Rollaçom, como
ataaqui cufl:umou de fazer, e hy faram fim de todo;
e os feitos civis defembargará per fy como achar per
direito ; e das fentenças , que elle hy der , poderem
as partes aggravar pera os Defembargadores da Noffa
Corte , que pera tal defembargo fom hordenados, fe
a conrhia for tam grande, de que fe deva receber ag-
gravo , fegundo forma da Noífa Hordenaçom , e co-
mo fe acufiuma d 'aggra var das fentenças do Correge-
dor da noffa Corte,. e fegundo mais compridamente
he
296 LrvRo SEGUNDO TrTuLo ~ARENTA

he contheudo no Regimento dado ao feu Ouvidor. o


qual Mandamos, que íe guarde , como em elle he
contheudo.
4 ITEM. Se cuíl:umou fempre, que o Corregedor
da Comarca, honde as ditas Terras fom , entra em
ellas, e faz hy correiçom em nome das ditas Senhoras
Raynhas , e com fua autoridade , alfy como em toda
a outra Comarca , de que he Corregedor; e defpois
que das ditas Villas , e Terras faaem , vaaõ a elle os
aggravos dos Juízes , e elle os defembarga, affy co-
rno acha por Direito ; e dos defembargos, que delle
faaem, aggravam as partes , fe querem , pera o dito
Ouvidor, que anda na Noffa Corte, como dito he,
pero que o dito Corregedor nom conhece em nenhuú
cafo d'appellaçom alguã, mais todas vaaõ geeralmen-
te ao feu Ouvidor, como dito he ; o qual quando ef-
tá em cada huã das ditas Villas , faz em ellas correi-
çom geeralmente affy, e tam compridamente, como
faz o Corregedor da N offa Corte per todo Noílo Re-
gno, e Senhorio, quando per elle anda, ou fiá em
alguú lugar affeffeguado , fegundo mais comprida-
mente he contheudo no Regimento dado ao dito feu
Ouvidor , como fufo dito he.
5 E os Iffantes meus Tyos fazem Ouvidores em
fuas Terras quem lhes apraz ; e effes Ouvidores fazem
em ellas correiçooés aíly, e pela guifa , que faz o Ou-
vidor da dita Senhora Raynha nas fuas Villas, e Ter-
ras , fem entrando em fuas Villas , e Terras nenhuú
Cor-
DE COMO AS RAYNHAS > E os I FFANTES, ETC. 297
Corregedor Noffo pera fazer correiçorn ; e dam gee-
ralrnente Cartas e defembargos affy e tam compri-
damente, como as damos Noffos Corregedores das
Comarcas ; pero que nom acufiumaarom em alguú
tempo dar Cartas de fegurança , porque ao Noílo
Corregedor da Corte perteence foomeme de as dar :
e eílo de nom entrarem Corregedores em fuas Ter-
ras nom o teem per privillegio , fe nom per graça,
que nos praz de lhes fazermos em quanto Noffa mer-
cee for.
6 ITEM. Das fentenças, e defembargos, que ca-
da huú dos ditos Ouvidores da , a.ppellam , e aggra-
vam a quem appellar, ou aggravar quer, nos Feitos
Crimes pera os Ouvidores, ou Corregedores da Nof-
fa Corte, fegundo que lhes perteence o conhecimen-
to, e nos Feitos Civis vaaõ as appellaçooés, e aggra ..
vos aos feus Defembargadores , que andaõ na Noífa
Corte, e em elles fazem fim de todo, fem mais hy
aver outro nehuú aggravo delles em nehuú cafo : e
aíly dos feitos Civis fe defembargarem per feus Def-
cmbargadores, que andam em NoíTa Corte, fem ou-
tra alçada , tambem he per graça , em quanto for
Noífa mercee, e nom per privillegios.
7 E SE alguã viuva, ou horfom , ou pefroa mife-
ravel das Terras de cada huú dos. Iffantes , que per
Hordenaçom dos Noffos Regnos teé privillegio pera
efcolher por feu Juiz o Corregedor da noffa Corte,
ou os Sobre-Juízes da Nofra Caía do Cível em todos
Liv. II. Pp feus
298 LIVRO SEGUNDO TITULO ~ARENTA

feus feitos , feendo Autores , ou Reeos , quiferem fa_


zer alguãs demandas , como Autores , ou forem de-
mandadas, nom pooerom efcolher por feu Juiz o di-
to Corregedor da Corte, nem os Sobre-Juizes, fe-
nom foornente o dito Ouvidor do lffante, cuja a Ter-
ra for ; e perante elle Ietigaróm , ou perante os Def-
em bargadores dos lffantes, os quaes lhes fom dados
por Juízes em logo dos Sobre-Juizes, que pela Hor-
denaçom antes em tal cafo feita lhes eram dados por
feus Juízes: e em todo cafo que a peffoa privillegia-
da quifer letigar perante o Juiz hordenairo, podel-
lo-a bem fazer , ca em ella eftá efcolhello por fcu
Juiz, como he contheudo na Hordenaçom Noífa fo-
bre efto feita ante , fegundo todo efto mais compri-
damente he contheudo no Regimento dado ao Cor-
. regedor da Corte : o qual Mandamos em todo guar-
dar , affy como em elle he contheudo.
8 E ESTo Mandamos affy comprir, e guardar
ácerca da Senhora Raynha , e Iffantes , por que fo-
mos certamente informado, que affy fe ufou, e guar-
dou em tempo d'EIRey Dom Joham meu Avoo,
e E!Rey Dom Eduarte meu Senhor, e Padre, a que
DEOS de o feu fanto Paraifo.
9 E QUANTO he ao Duque de Bragança, e Con-
de de Barcellos meu muito amado , e prezado Tyo ,
e aos outros Condes, Mandamos que ufem das jurdi-
çooés nas Terras , e Villas , que teé per doaçooés de
Nós , e dos Reyx , que ante Nós forom affy, e tam
com-
DE COMO AS RAYNHAS, E OS !FFANTES, ETC. 299
compridamente , como em fuas doaçooés, e priville-
gios he contheudo, e como athe qui ufarom, e cofiu-
marom depois que as ditas doaçoens, e privilegios
aífy houveram, porque affy he noífa merce de fe fa-
zer.
10 E Q!TANTOtange aos outros Fidalgos,e Prela-
dos , que de Nós, e dos Reyx , que ante Nós forom ,
teem terras , ou Villas com Jurdiçooés, Mandamos
que fejam viftas as Cartas , e Privilegias , e poder ,
que lhes he dado , as quaees Mandamos que lhes
frjam guardadas: e fe em elbs fezer mençom expref-
famente como ajam d'hufar da correiçom , Man-
damos que fe guarde ácerca dello a Hordenaçom do
Regno , em que he declaradamente hordenado, como
fe aja de fazer, a qual foi feita per EIRey Dom Fer.
nando Noífo Tio.
u ITEM. Mandamos , que aquelles , a que poder
he dado per Nós em fuas Cartas, e Privillegios pera
fazerem correiçom , nom poífam levar a dizima, vin-
tena , ou quarentena das reverias , ou fentenças que
derem : falvo fe nas ditas doaçooés , ou privilegios
lhes he outorgado , que as poílam levar ; nem levem
das citaçooés mais que huú foldo , ou íeis dinheiros
da moeda antigua , ou fegundo d'antigamente cufiu-
maarom a levar.
12 ITEM. Mandamos, que Conde, nem Meef-
tre , nem outro nenhuú de qualquer eftado, e condi-
çom que feja, dos que ham jurdiçom , nom dem Car-
Pp 2 ta
300 LIVRO SEGUNDO TITULO ~ARENTA

ta de fegurança em caía de morte , nem em outro


qualquer mais pequeno ; e fe as derem , Mandamos
aas Noffas Juíliças que as nom guardem, porque eíl:o
foomente perteence ao Corregedor da Noffa Corte ,
e aos outros Corregedores das Comarcas: fal vo aquel-
les , a que per Noffa Carta efpecial , ou dos Reyx ,
que ante Nós forom; he outorgado pera o fazer , t
efiam em pofie de as darem.

T I T U L O XXXXI.

~ue os Almuxarifes, e Recebedores , que foram d' E!Rey


Dom Affonfo, e Dom Pedro, e Dom Fernando ,fejam
quites de todo aquello, que por elles recebeerom.

E LREY Dom Joham meu Avoo em feu tempo fez


Ley, per que quitou, e deu por quites, e livres
todos aquelles , que a elle eraõ devedores em muitas
coufas, que receberem por ElRey Dom Affonfo feu
Avoo em feu tempo, e bem aífy d'ElRey Dom Pe ..
dro feu Padre, e d'ElRey Dom Fernando feu Ir-
rnaaõ, cujas Almas DEOS haja em a fua fanta Glo-
ria , como feus Officiaaes que eram , por quanto já
era longo tempo, que os ditos Officiaaes forem , e
delpois dos ditos recebimentos feguirom-fe em eíl:es
Regnos muitas guerras , e trabalhos , per que fe per-
deram muitas Efcripturas , per que os fobreditos
aviam
~ E OS ALMUXARIFES, E RECEUDORES, ETC. JOI

aviam de recadar; e pollas ditas razooés nom podiam


razoadamente poer em recadaçom as couzas, que aí-
fy receberom, e defpenderom pelos ditos Reyx: e por
tanto os deu por quites , e livres aífy a elles , como a
todos íeus herdeiros pera todo fempre jamais de to-
dallas ditas dividas.
I A QYAL Ley vifta per Nós, louvamos, e a~
provamos, e mandamos que fe cumpra , e guarde,
aífy como em ella he concheudo.

T I T U L O XXXXII.

Dos 'Thefoureiros, e Almuxarifes, e outras Qlficiaaes


d' E!Rey, que lhe furtam, ou enganefamente mal
baralam o que por elle receberam.

A CttAMOs no Livro da Noffa Chancellaria , que


EIRey Dom Affonfo o Terceiro em feu tempo
fez Ley , per que hordenou , que o feu Repoíleiro ,
Ycham, Copeiro, Saquiteiro, Cevadeiro, Forneiro,
e outros quaefquer Officiaaes de fua Cafa , e bem a1fy
de todos feus Regnos, e Senhorios, que per elle fof •
fem poftos pera em feu nome, e por elle alguãs cou-
fas houveffem de guardar, e receber, e defpender, ou
as fuas terras arrendar, e foffe achado, que em as di-
tas coufas , ou cada huã <lellas fezeífcm furto, ou en-
gano, tornaífern,. e rdlituiífem todo aquello, que affy
fur-
302 LIVRO SECUNDO TITULO ~ARENTA E DOIS

furtaffem, ou enganofamente levaffem , ou leixafTem


levar a outrem com tres tanto aallé do que affy le-
vaffem , fegundo per ElRey foffe mandado , e aallem
deffo foifem cruelmente açoutados, e degradados pe-
ra. fempre de todos feus Regnos.
1 PERO fe foife homem nobre, ou Cavalleiro d'ef-
póra dourada, ou de femelhante qualidade , tal co-
mo efte perdeffe todo aquello , que teveife d'ElRey,
e pagado, e reftituido todo o dapno, que affy ouveife
feito a ElRey , elle lhe daria outra pena , qual enten-
deffe por bem, e direito! e effa meefma pena ouveffem
aquelles , que as ditas coufas em logo dos ditos Offi-
ciaaes ouveffem de veer, guardar , ou receber.
2 A Q.!!AL Ley vifta per Nós, Mandamos que fe
cumpra , e guarde, fegundo em ella he contheudo:
porém n 'aquella parte, que falla nas penas corporaes,
Ieixamos ferem penados fegundo for Noífa mercee ,
por que fegundo a grandeza do erro, affy na quantida-
de, como no propofito, aify deve correfponder a pena.

TI..
~E os THESOUREIROS, ALMUXAJll F.ES, !TC. 303

T I T U L O XXXXIII.
Í?(Ue os 'l'hefoureiros, Almuxarifes , e Recebedores
d' ElRey nom dem dinheiros aa onzena , nem
os emprejlem fem Jeu mandado.

E LRRY Dom Affonfo o Segundo em feu tempo fez


Ley , per que hordenou , que feu Thefoureiro ,
Alrnuxarife , Recebedor , ou qualquer outro , que cm
feu nome ouveffe alguã coufa d'aver, ou receber, em
quanto feu officio teveffe em nome d'ElRey, nom def-
fe feus dinheiros aa onzena per fy , nem per outrem;
e aquelle , que o contrairo fezelfe, perdeffe quanto
ouveffe pera ElRey.
I E BEM affy hordenou , que feu Thefoureiro ,
Almuxarife , ou Recebedor , nom empreíl:affe , nem
efcairnbaffe coufa alguã, que em nome d'ElRey ou-
veffe recebido, nem deffe atenda, nem efpaço por
coufa, que lhe em nome d'ElRey ouveffe de feer pa-
ga, fem mandado efpecial d'ElRey; e aquelle, que o
contrairo fezeffe, pagaffe quatro tanto a ElRey d'a-
quello, que affy ouveffe empreftado, efcambado, ou
atendido , como dito he , e mais foífe degradado do
Regno ataa fua rnercee.
2 A QYAL Ley viíl:a per Nós, Mandamos que fe
cumpra, e guarde, como em ella he contheudo.

TI-
304 LIVRO SEGUNDO TITULO ~ARENTA E Q.!}'AT.

T I T U L O XXXXIIII.
~ue ()S Ejcripvaaés dos 'l'hefoureiros , e Almuxarifados
Jaçam Ejlromentos pruvicos dos arrendamentos , e
vendas pelos 'l'hefoureiros , e Almuxarifes
feitas.

N A No!Ta Chancellaria foi achada huã Ley feita


per ElRey Dom Affonfo o ~arco, per que hor-
denou, e manJou , que os feus Thefoureiros, Almu-
xarifes , Recebedores , e outros Officiaaes , que os
feus direitos arrcndaffem , ou vcndeffem , mandaf-
fem, e fezeífem fazer Eílormentos pruvicos de todol-
1os arrendamentos, vendas , e d'outros quaeefquer
contrautos, que dos feus direitos foffem feitos; e deu
autoridade aos Efcripvaaés dos feus Thefoureiros , e
Almuxarifes, e Recebedores , e outros quaefquer Of-
ficiaaes , como dito he , que podeífem fazer os ditos
Eílormentos publicos, cada huú em aquelles luga-
res , que lhes he mandado que efcrepvam nos ditos
arrendamentos , vendas, e pagas feitas pelos ditos AI-
muxarifes, e Officiaaes nas rendas , e direitos d'El-
Rey, a que fom dados por Efcripvaaés ; e nom fa-
çam outra Efcriptura publica, falvo nas coufas fufo
ditas; e os Livros dos ditos Efcripvaaés nom façam
fé contra os devedores no que dito he, falvo em quan-
to for contheudo noi ditos Eíl:ormentos publicas , os
quaees
Qut O PRIVILEGIO DA EXENÇOM, 'ETC, 305
quaees fe façam pelas Notas pela guifa , e maneira ,
que fe faz, e deve fazer pelos livros das Notas dos
outros Taballiaaés do Regno.
r A QyAL Ley vi!la per Nós, Mandamos que fe
guarde, e cumpra , como em ella he contheudo.

T I T U L O XXXXV.

~ue o privilegio da exençom dado ao morador da terra


nom faça prejuizo ao Senhor delta.

E LREY Dom Joham meu A voo de gloriofa me-


moria fez Ley , per que hordenou , e mandou ,
que fe elle deu terra a alguú Fidalgo, ou Cavalleiro,
ou a qualquer outro com feus direitos reaaes, e def-
pois que lhe aífy deu a dita terra, elle deu novamen-
te privillegios a alguús , que nom pagaífem Porta-
gem, ou alguús outros direitos reaaes, dos que já dera
ao dito Fidalgo, ou Cavalleiro , &e. , tal privillegio
nom empeecerá, nem fará prejuízo ao dito Fidalgo,
Cavalleiro, &c. , a que já avia dada a dita terra com
os ditos direitos reaaes : e fe os ditos privillegios fof-
fem dados ante que a dita terra foífe dada ao dito
Fidalgo, Cavalleiro, &c. , devem per elle fecr guar-
dados aífy, e tam compridamente, como em clles
foífe conthcudo, porque em tal cafo paífou a terra ao
Fidalgo, Cavalleiro, &c. , affy como a ElRey a via
Liv. II. Qs ao
306 LIVR O SEGU NDO TITU LO ~AR. ENTA E CINCO

ao temp o, que lha deu, e com todo ho outro feu cn.


carre go, de que a effe temp o era encar regad a.
1 A QYAL Ley viíl:a per Nós, Mand amos que fe
cump ra , corno em clla he conth eudo .
2 E PORQ YE ácerc a deíl:a Hord enaço m recre ciam
alguãs duvid as antrc os Fidal gos, e Cavalleiros , que
as terras da Coroa do Regn o de Nós teem com os di-
reitos reaae s, e os mora dores em ellas : ~ere ndo to-
lher as ditas duvid as , dizem os , e decla ramo s , que
fc defpois que a terra da Coro a do Regn o for dada
com os direit os reaaes per Nós , ou pelos Reyx , que
ante Nos forom , a alguú Fidal go, ou Cava llciro , &c.,
e cada huú dos mora dores em ella for feito de tal qua-
lidad e, e cond içom que fegun do Direi to Com muú ,
e Hord enaço oés do Regn o, ou Foraa es das Terra s ,
fcja privil egiad o de tal privi legio , per que feja ifento
de p1gar alguú s direit os reaae s, em tal cafo o dito
privi kgiad o gouv irá do dito fcu privi legio , e exen -
çom , ainda que o haja defpo is que a terra , hond e he
mora dor, foi dada ao dito Fidal go, Cava lleiro , &e •.
3 PonE-SE poer enxem plo no que mora em terra
Juga deira , que ao temp o que a terra foi dada ao Fi-
dalgo , Ca vallei ro, &e. era piam , ou leigo> e defpo is
he feito Cava lleiro d'Efp ora doura da, ou de conth ia •
e tem Cava llo pera fervir , e o moíl:rn ao temp o da
Eyra , ou Dorn a , ou he feiro Vaffallo por ferviç o
Noffo , e defen fom da terra , ou Cleri go , e pelo Fo-
rnl dado aa dita terra , Ca valleiro , Vaffallo , ou Cle-
n-
Q_yE O PRIVILEGIO DA EXENÇOM , ETC. 307
rigo he efcufado de pagar Jugada , ca em tal cafo
deve cada huú dos fobreditos gouvir de feu priville-
gio , aífy como fe o ouveífe ante que a terra foífe da-
da ao Fidalgo j porque em taaes cafos, e cada huú
delles , bonde alguú per Nós he privillegiado de tal
privillegio , o dito privillegio nom foomente lhe he
dado per Nós, mais ainda lhe he outorgado, e en-
corporado aífy em Direito Cõmuum, como nas Leyx
do Regno, e Foraaes antigos dados pelos Reyx, que
as terras guaançarom, aos Povo radares dellas ao tem-
po de fua povoraçom; e por tanto nom he feito agra-
vo per tal privillegio ao Fidalgo, Cavalleiro , &e .•
pois conformado he com os ditos Foraaes, e Horde-
naçooés do Regno, como dito he.

T I T U L O XXXXVI.
~ue as Herdades novamente gaançadas per ElRey
nom fejaã encorpor-adas com os Reguemgos, nem
gouvam de ftu privillegio.

A CHAMos , que ElRey Dom Pedro cm feu tem-


po fez Ley, per que hordenou , e mandou , que
fe alguuãs Herdades foífem gaançadas , e cobradas
per elle per dividas, que lhe alguús deveffem, os Al-
muxarifes as nom meteífem com as dos Regueen-
gos; e mandou aas Jufiiças que lhes nom guaroaífem
Qq 2 pri-
308 LIVRO SEGUNDO TITULO ~ARENTA E SEIS

privillegios de Reguengos, e vizinhaffem com os


Concelhos, ufando em ellas de fuas fervidooés, affy
como ufavam quando eram de feus vifinhos, porque
taaes Herdades nom avia ElRey por 1--Ierdades de
feus Regueengos.
1 A Q!!AL Ley viíla per Nós, Mandamos que fe
guarde , como em ella he contheudo.

T I T U L O XXXXVII.

De como E!Rey ha d' aver as lu-itÓ.fas drJJ Vaifal/01


per.fuas mortes.

E LR~Y Dom Joham meu Avoo de gloriofa me-


mona em feu tempo fez Ley, per que hordenou,
que em quanto os Vaffallos de feu.i Regnos. ouveffem
delle conthias, ouveffe a fua luitofa o feu filho barom
primeiro lydemo, que per fua morte ficaffe ; e nom
a vendo hy tal filho barom, que entom ha ouveffe o
feu primeiro neto barom Iydemo , que per fua morte ·
foffe achado ; e nom avendo hy tal filho, ou neto,
como dito he, encom deffe ElRey a luitofa a quem
fua mercee foffe; e que os ditos herdeiros do finado
pagaffem por luirofa o milhor cavallo, ou rnulla, ou
milhor cota, que elle ouveífe ao tempo de fua mor-
te ; e nom ficando per fua morte alguú cavallo, ou
mulla , nem coca , em tal cafo os herdeiros nom fof-
fem
DE coMo ELREY HA n•AvER AS LUIT., ETC. 309

fem theudos a pagar por luitofa , falvo outro tanto ,


quanto o finado ouver d'aver por conthia d'ElRey
huií anno.
1 A Q.YAL Ley vifta per Nós,avemos-la por boa,
e Mandamos que fe cumpra, e guarde, corno em el-
la he contheudo.

T I T U L O XXXXVIIL

De como perteence a ElRey foomente apoufentar alguem


por aver hidade de fetenta annas.

E LREY Dom Fernando hordenou em feu tempo,


que os Concelhos, nem outro alguú Fidalgo de
qualquer eíl:ado, e condiçom, e preminencia que fof-
fem , nom apoufentaífem alguú por grande hidade
que ouveífe, nem por outra algúa coufa , ou rafam,
que feer podeífe ; e fe alguú quifeiTe feer apoufenta-
do per hidade, pareceffe per peiToa perante EIRey,
ou perante os do feu Defembargo, a que dello per-
tcécia o conhicimento, nom a vendo tal neceffidade
d'alguã door, ou infirmidade, per que nom podeífe
peffoalrnente hir; e fe os Defembargadores viiTem
per afpeito, e efguardamento de fua peífoa, que po-
deria razoadarnente avcr hidade de fetcnta annos,
que entorn lhe deífem Carta pera fe tirar inquiriçom
de teíl:emunhas na terra fobre a dita h1dade, feendo
pe-
3 ro LrvRo SeouN'DO TITULO ~ARENTA E OITO

pera ello chamado Almuxarife, e Efcripvaõ do Iu.


gar, e bem affy o Procurador do Concelho pera veer
como fe tira a dita inquiriçom, e poer contraditas aas
tefiemunhas ,ou fazer contrariedade, fe a ou verem; e
acabada a dita inquiríçom, foffe levada aos ditos Def-
embargadores pera a veerem ; e fe per clla achaílem
provada a dita hidade de fetenta annos , deffen-lhe
Carta de poufado, e d'outra guifa nom lha defsé; e
fendo dada em outra guifa, mandava , que lhe nom
foffe guardada , nem elle nom foffe avudo por apou-
fentado.
1 A QYAL Ley viíl:a per Nós, Mandamos ,que fe
cumpra , e guarde , como em ella he contheudo , e
ainda fomos certamente enformado, que afsy foi fem-
pre ufado ataa o prefente.

T I T U L O XXXXVIIII.

De tomo os Almuxarifes, e Arrendadores d' ElRey de-


vem ao tempo das vendas, e arrendamentos f azer apre-
goar .fe ej[es, que querem comprar, ou arrendar,
leem alguns Creedores, a que primeirQ
ft)am obrigados.

E LREY Dom Affonfo o ~arto em feu tempo fez.


Ley, per que hordenou , e mandou , que quando
os Almuxarifes e Officiaaes d'ElRey quiferem ar-
ren-
DE COMO os ALMUXARIFES, E ARREND., ETC. 311
rendar, ou vender os direitos de ElReY., e alguús
lançarem em elles pera os comprar, ou arrendar, que
dfes Officiaaes façam apregoar pelos -lugarts, honde
effas vendas , e rendamentos fezercm , fe ha hi al-
guús, a que fejam obrigados os que nas ditas vendas,
e rendas lançarem ; e eílo fe faça per nove dias ; e fe
em eíles nove dias acudirem alguús Creedores d'a-
quelles Compradores , ou Rendeiros, os ditos Almu-
xarifes , ou Officiaaes nom façam contrautos com ef-
fes devedores, falvo fc elles ouverem tantos beés >
per que poífam feer pagadas todallas ditas dividas, e
outro fy ElRey; ou derem fiadores, per que, pagados
os primeiros creedores, ElRey pofsa livremente a\'er
fuas dividas; e fe aos ditos nove dias nom acudirem
creedores aos ditos Rendeiros , e Compradores, en ..
tom fejam as dividas d'EIRey primeiro pagadas ,pof..
to que elles ajam primeiro feus beés obrigados a ou-
trem.
1 E PORQ!J'E poderá acontecer, que os creedores
fejam embargados d'aJguú lidemo embargo, que nom
poderiaõ vir aos ditos nove dias , fc defpois vierem,
e molharem aos íàcadores como lhe os devedores
fom primeiro realmente obrigados , que os facadores
nom leixem porem de trazer os ditos beés em pre-
gam , e ailinem dia certo aos ditos crcedores, a que
vaaõ perante ElRey com efsas obrigaçooés , pera el-
le veer fe fom feitas fem malícia , e fem alguú enga-
no, e mandar que fe faça em ello o que for direito , e
agu1 ..
3I 2 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA

aguifado a falvo de fua conciencia , e refguardo das


partes.
2 A Q!JAL Ley vimos, e louvamos, e mandamos
que fe cumpra, e guarde, afsy como em ella he con-
theudo,

TITULO L.

!J?..,ue os Dizimeiros, e Almuxarifes das Alfandegas d' E/.


Rey ao tempo que dizimarem , nom confenta'ii eftar hy
outrem ,Je nom os Senhores das mercadarias, nem
comprem mercadan·a alguá nas Alfandegas.

E LREv Dom Pedro em feu tempo tez Ley , per-


que hordenou , e mandou que os Almuxarifes, e
Efcripvaaés das fuas Alfandegas em quanto ouverem
de dizimar os panos , e as outras mercadarias , nom
metam comfi.go outrem , em quanto aífy dizimarem ,
falvo os Officiaaes deífas Alfandegas , e feus donos
das mercacurias em quanto as dizimarem, e mais
nom ; nem confentam hy outros mercadores alguús
pera averem de comprar, em quanto fe os ditos pã-
nos , e mercadarias aílv dizimarem ; e depois que fo_
rcm dizimadas, entom abram as portas, e compre
quem quizer livremente: e fe o contrairo fezerem.
eftranha-lo-á a eífes Almuxarifes , e Efcripvaaés co-
mo no feito couber.
I E
~E os D1z1MEIR.os, E Au.ruxAR.IFES, ETC. 313

1 E MANDOU mais , e de.ffendeo que os ditos AI-


muxarifes , e Efcripvaaês, e outros Officiaaes nom
comprem pãnos , nem outras mercadarias nas ditas
Alfandegas, porque achou que pelas ditas compras
fe faziam enganos , e feus direitos eram defraudados :
e fe o contrairo fezeffé , que lho eftranharia como
foífe fua mercee.
2 E Nós vimos a dita Ley, e declarando em aquel-
la parte , em que de.ffendeo , que os ditos Officiaaes
nom comprem, &e. Mandamos que o que fezer o
contrairo , polia primeira vez pague em trefdobro o
que affy comprar; a faber, huã parte pera quem no
acufar, e as duas pera Nós; e pella fegunda o pa-
gue anoveado ; a faber, as tres partes pera quem o
acufar, e as fcis pera Nós; e aa terceira feja fofpen-
fo do Officio, ou privado, fegundo for Noífa mer-
cee : e quanto aos outr.os Capítulos, Mandamos que
fc cumpraõ , como em elles he contheudo , por nos
parecerem jufios..

Lz'.v. IL Rr T 1-
3r 4 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCO!NTA E HUM

TITULO LI.

Dos 'l'hefoureiros , Almuxarifes, Recehedores d' ElRey,


ou dos ljfantes , que nom levem peita por pagarem as
conthias, moradias , ou mercees, que per tl!es fam
de/embargadas.

E LREY Dom Pedro hordenou em feu tempo, que


nenhuú [eu Thefoureiro , nem Almuxarife, nem
dos Iffantes feus filhos nom levem peita alguã por
pagarem aos Vaífallos fuas conthias, nem a qualquer
outro , por lhe pagarem fua veftiaria , ou moradia ,
que d'E!Rey, ou dos Iffantes ham d'aver, ou outrn
aJguã graça , ou mercee , que lhes per ElRey , ou
Iffantes feja feita ; e aquelle, que o contrairo fezer,
moira porem , e perca todo o que ouver pera a Co-
roa do Regno.
1 A Qy A L Ley vifta per Nós a confirmamos em
aquella parte , em que defende fazerem taaes coufas,
por nos parecer muito jufta : e na parte da pena,
achamos que era muito grande , porque poderia a
peita feer tam pequena, que nom feeria coufa jufta
morrer por ello , e ainda feus herdeiros per fua mor-
te ferem privados de fua herança. E por tanto em
efta parte mingando da dita pena , Mandamos que
Thefoureiro , Almuxarife, Recebedor , ou qualquer
outro Official, que tenha carrego de Nós pera pagar
per
Dos Tm:SOUREIROS, ALMUXARIFl!:S , ETC. 3r 5
per Noífo mandado, ou defies lffantes aífy conthias,
como veíl:iarias , moradias , e quaecfquer outras
graças , e mercees, e polias aífy pagarem levarem
peitas daquelles, que as ouverem, logo per eífe meef-
mo feito fejam privados dos ditos Officios , que nun-
ca os mais ajam ; e aalem deíl:o, paguem em trefdo-
bro aas partes aquello , que aífy for certo , que delles
levaarom: e aífy mandamos, que fe cumpra, e guar-
de daqui em diante.

TITULO LII.

De como Je ham de 'Vender os beês par divida d' E/Rey,


e quanto tempo ham d andar em pregom.

E L REY Dom Affonfo o~arto em feu tempo fez


Ley , per que hordenou , e mandou que quando
fe alguús beés venderem por divida d'ElRey , nom
fe vendam a menos preço, mais vendã-fe puvrica-
mente o melhor que poderem a quem por elles mais
der : e efto fe faça verdadeiramente fem outra alguã
malicia • e engano : e que os nom comprem pera
ElRey , nem os recebam em fua divida, falvo quan-
do nom acharem Comprador, que os compre.
1 E SE alguús beés forem tomados pera ElRey
em preço de íuas dividas , fe os quizer aquelle, cujos
forom, em quanto os ElRey tever, e der aquelle pre-
Rr 2 ço.
3r6 LrvRo SEGUNDO T1Tuto CrNCOENTA E nors

ço, porque os El Rey recebeo , fejam-lhe aados , e


entregues por effe preço , fe o logo pagar : e fe pela
ventura os já nom tever ElRey , e forem em poder
d'outrem , a que os ElRey deu per alguú titulo, ou
os comprou no começo quando forom rematados, e
aquelles , cujos antes forom , quiferem dizer, e al-
legar, que forom vendidos, como nom deviam , por-
que nom foi hi gardada a follepnidade do Direito,
que pera taaes feitos he necefiaria,, ou que forom en-
ganados aallem da meetade do juílo preço, que o
poffam fazer, e allegar, e que lhes feja guardado feu
direito.
2 E DEFENDEO mais, e mandou, que nehuú Offi_
cial feu, que eíl:o ou ver de veer , nom compre taaes
beés pera fy, nem pera outrem; e fe o fezer, que
nom valha , e aallem deílo lho eílranhará, como
achar per direito.
3 A QYAL Ley vimos, e louvamos, por nos pa-
recer juíla : e adendo, e declarando mais em a dita
Ley , hordenamos , e mandamos , que quando fe al-
guús beés venderem por Noffa divida, ou de cada huú
dos Ifantes , fe forem beés movis , andem ante em
pregom primeiramente nove dias , e os beés de raiz
tres nove dias, em os quaees fejam apregoados conti-
nuadamente pelo Pregoeiro ,ou Porteiro, que dello te-
ver carrego per efcripto afiy per Taballiam puvrico ,
ou Efcripvam Noíio, a que tal officio perteença; e paf-
fado o dito tempo, entom fejam rema.tados puvrica.
mcn..
DA HORDENANÇA, Q.!,JE DEVEM TEER, lTC. 317
mente fem outra alguã malicia , ou engano , como
dito he , porque achamos, que affy foi d'antigamen-
te hordenado, e fempre ufado ataa o prefente.

T TI U LO LIIL

Da hordenança, que dnmn teer os Sacadores d' E/Rey,


e quaeefquer outros, que per Jua graça podem rema-
tar por Juas dividas, ajfy como pelas d' EIRey.

E LREY D. Affonfo o ~arco em feu tempo fez


Ley em eíta forma , que fe fegue.
1 PoRQ!!E he achado , que alguús Sacadores das
dividas d'ElRey, e Porteiros de feus Almuxarifados,
e outros quaaefguer, que ham razom de penhorar,
ou fazer eixecuçooés per graça, que elle outorga a al-
guús Prelados, Meeflres das Hoordeés, e a outras
peffoas, pera tirarem as dividas, que a elles devem ,
quando chegam a alguús lugares ., e Villas apartaõ
alguús Taballiaaés das ditas Villas, e lugares, hu che-
gam, que vaaõ com elles pelas Villas, e Termos dellas,
e fe na Villa coftrangem dez ou vinte devedores , fi_
lham logo a cada huú delles penhor por dous foldos
pera o Taballiam pola vinda, que allá fez : Outro íy
coítrangem o devedor, que pague ao Taballiaõ a Ef-
criptura, que fez em efcrepver os penhores, que o Sa-
cador, ou Porteiro filha ao devedor, ou por efcrepver
no
318 LIVRO SEGUNDO TITULO C1NCOENTA E TR!S

no Rool, ou Livro, em que anda por devedor, a pa-


ga , que fez do que devia , e fe vaõ pelos termos da
Villa a coíl:ranger alguús devedores, e ainda que em
cada. huú dia coíl:rangam muitos devedores , coíl:ran-
gem cada huú delles que paguem ao Taballiam polo
aluguer da beíl:a , em que vai , cinco foldos , e huú
alqueire de cevada, e * quatro (a) • foldos por ca-
da huã legoa, que o Taballiam fair da Villa ; e que
outro fy pague aquello , que o Taballiam diífer , que
merece pola Efcriptura , que fez em efcrepver os
penhores , que o Sacador , ou Porteiro filham ; po-
rem por arredar o dãpno, que em fe eíl:o fazer rece-
bem os devedores.
MANDA EIRey que os feus Sacadores, que por fuas
dividas ham poder pera coílranger, fe trouxerem
Efcripvaés jurados, que penhorem os devedores pe-
rante elles, e perante teíl:emunhas , que pera eíl:o cha-
mem ; e fe Efcripvaaés nom trouxerem, e lhes com-
pri-r de levar Taballiaaés publicos, que os levem fem
cuíl:a dos devedores: e os Sacadores , ou Porteiros fa ..
tisfaçam a effes Taballiaaés , fegundo fe com elles
avierem, ou fegundo os Juizes dos lugares , hu eflas
penhoras fezerem , acharem que merecem por fatis-
façom do trabalho , e Efcriptura : e [e os devedores
quizerem Eílromento do que paguam, ou da con-
thia dos penhores , que lhes filham , fatisfaçom aos
Taballiaaés polas ·Efcripturas, e polos caminhos, fe
os
{a) cinco S,
DA HORDENANÇA, Q.YE DEVEM TEER, ETC, 319

os elles chamarem. E os Sacadores das dividas d'El-


Rey , e Porteiros dados aos Meeílres , e Prellados , e
a outras pdfoas levem comfigo, fe quizerem, Tabal-
liaaés aa fua cufia , quando forem penhorar os deve-
dores , ou façam penhora perante teílemunhas , que
fe nom poífa negar aos devedores os penhores , que
lhes filharn , e que fe poffa faber a obra , que em fi-
lhando efles penhores, que efles Porteiros filharem.
2 ÜuTRo SY porque he achado , que alguns Sa-
cadores , e Porteiros dos Almuxarifados quando vaã
coílranger devedores , que trazem em Rooles obriga-
dos, que levam pera fy de quantos devedores coílran-
gem, em lugares dous foldos, e em lugares huú fol-
do , e que por efto eífes Sacadores, e Porteiros dam
efpaços a efses devedores , e efses devedores paguam
o que nom devem pagar a efses Sacadores, ou Por-
teiros.
PoREM Manda ElRey, e defende, que e!ses Saca-
dores , e Porteiros nom cofiranguaõ por taaes foldos
os devedores, nem os levem delles ; e aquelles Saca-
dores , ou Porteiros , que for achado , que os levam ,
percaõ a fua mercee, e tornem em dobro o que afsy
levarem dos devedores.
3 ÜuTRO sY he achado, que alguús Sacadores , e
Porteiros quando fazem entrega aos Compradores
d'alguús beés de raiz, que acham aos devedores ,que
pola entrega , que fazem aos Compradores dos beés
de raiz, que lhes afsy vendem , que levam defses
Com-
320 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA E TRES

Compradores por cada poffifsom , que lhes vendem ,


e entregam, vinte foldos, e que deteem as Cartas das
vendas, que dos beés, que lhes afsy vendem , fa ..
zem , ataa que paguem os ditos vinte foldos > e por
eíl:o fe torna em prejuízo do devedor, porque daria o
Comprador mais vinte foldos polos beés , fe enten-
defse , que o Sacador, ou Porteiro os delle nom leva-
ria.
PoREM Manda ElRey, e def.ende aos Sacadores,
e Porteiros , que nom levem por fazerem entregua
do que vendé , nem por outra razom , dos compra..
dores, nem vendedores os ditos vinte foldos , nem
outra alguã coufa ; e fe o fezerem , que percam a fua
rnercee, e tornem em dobro o que aífy levarem.
4 ÜuTRo SY he achado, que pero alguús devedo-
res fazem pagua do que devem, e pedem aos Sacado..
res, e Porteiros , que os efcrepvaõ por pagos nos Rool-
les, ou livros , em que os trazem por devedores, que
o nom querem fazer , fem pagando eífes devedores
certos dinheiros , por fe efcrepver ; e pera fe nom
fazer eíl:o.
MANDA ElRey, que como os devedores paga..
rem , que os Sacadores , e Porteiros o façam aífy ef-
crepver nos Roolles , e livros , hu andarem efcriptos
por devedores fem cuíl:a dos devedores ; e fe por fe fa ..
zer tal Efcriptura for achado , que levam dos deve-
dores alguã coufa , que percam a fua mercee , e tor-
nem em dobro aquello, que affy levarem. E eíl:es Sa-
ca-
DA HORDENANÇA, QyE DEViM TEER, ETC. J2 I

cadores faibam leer , e efcrepver ; e fe ElRey mandar


alguus por Sacadores, que nrm faibam leer, e efcrc-
ver, mandará com elles Efcripvaaés.
5 ÜuTRO sy he achado , que alguús, que trazem
por devedores nos Roolles, e livros, quando os que-
rem coftranger, moílram Eftormentos de como pa-
garom , ou Cartas d'efpaço, que lhes ElRey deu ,
que os Sacadores , e Porteiros os coílrangem que os
moílrem , e que lhes dem o trellado aa fua cuíla ;
e porque parece fem-razom.
MANDA ElRey, que quem quifer o trellado,

que o pague; e defende, que nom coílranguam os que


taaes Cartas , e Eílormentos moílrarem , que dem
aa fua cuíl:a o trellado delles.
6 ÜuTRo SY he achado, que alguús devedores, que
moram allongados dos lugares, em que E!Rey tem
Almuxarifes, querem fazer paga do que devem ali ,
hu moram, e que os Sacadores, ou Porteiros dizem,
que lhes he deffefo , que nom recebam dinheiro dos
devedores , e os coíl:rangem , que vaaõ pagar ali , hu
moram os Almuxarifes ; e pera nom receberem dãpno,
nem fazerem defpeza os devedores em affy virem pa-
gar aos lugares, honcie moram.
MANDA E!Rey , que fe eífes devedores deverem
per razom de Portarias , ou de Chancellaria, e qui-
ferem pagar ali, hu moram , o que devem , que nom
fejam coílrangidos pera virem pagar aos Almuxarifes;
e quanto he fe deverem per razom d'Officios , ou de
Liv. Il Ss ren-
32 2 LIVRO SEGUNDO TITULO CrNCOENT A E TRU

rendas , que pertençaõ a eífe Almuxarifado , ou pro-


mettem eífes , que devem per razom das Portarias ,
e Chancellarias ,de pagar em certo lugar, ou per con-
trautos , que fezeffem com effes Almuxarifes , fejam
coíl:rangidos pera virem pagar a effes Almuxarifes.
7 OuTRO sY he achado, que alguús Porteiros, e Sa-
cadores ham a telha das cafas por movei , e vendem..
na por movel em feendo cubertas as caías della , e
vendem-na paffados nove dias, como outro a ver mo-
vel; e porque em quanto a telha, fendo nas cafas, he
contada por parte dos beés de raiz.
MANDA E!Rey, que em quatito a caía afsy eíl:iver
cuberta della, que fe nom venda em fua parte, como
aver movel , mais que fe venda a telha com a caza.
8 ÜuTRO sY he achado, que alguús Sacadores
rrazem Rooles, e Livros , em que he contheudo , que
ajam dos devedores , contra que fom gaançadas as
Cartas das eixecuçooés , a dizima na conthia da di-
vida , em que manda comprir as Cartas ; e outro fy
das penas, a que fe obriguarom os devedores, fe acha-
rem , que as os creedores levarem; e quando vaaõ
coílranger os devedores polia dizima da divida, cof..
trangem logo por outro tanto da dizima das penas
pero que os devedores affirmaõ , que nom levaram
delles penas os creedores ; e porque fe agravaõ os de-
vedores., que levam delles a dizima das penas, fem
feendo ante chamados fc as levarom os crcedores.
MANDA ElRey, que os Sacadores nom coíl:ran-
guam
DA HORDENANÇA , QyE DEVEM TEllt, ETC. 323

guam por dizima de taaes penas fem feendo ante cer-


tos , que os creedores levarom dos devedores as pe-
nas ; e que em efi:e calo os Sacadores fejam theudos
a provar quando os devedores differem , que as nom
levarem delles : falvo quando acharem efcripro nos
Livros , e Roolles , que lhes forom dados , que os
cre.edores tirarom as Cartas das eixecuçooés pera a ver
a divida com outro tanto de penas.
9 ÜuTRO SY he achado, que alguús , que com-
prarem beés dos devedores d'ElRey, ou d'outros , a
que os effes devedores derom, ou venderem , fom
coíl:rangidos , e penhorados pellos Sacadores , e ven-
dem a elles os ditos beés fem feendo chamados, nem
ouvidos com feu direito, nem lhes dam tempo, nem
logo pera fe chamar a feus autores ; e parque fe eífes
Sacadores coíhangeffem os devedores principalmen-
te, ou feus hereos, poderiam allegar pagas, e aos que
acham trazer taaes beés, poderiaõ-fe chamar aaquel-
les , de que elks comprarem os ditos beés , que lhos'
deffende ífem.
PoREM Manda ElRey, que os Sacadores, e Por-
teiros primeiramente ajam a fua divida pelos beés ,
que acharem em poder dos devedores , ou de feus he-
reos , ou dos fiadores dos devedores; e que nom ven-
dam aos que acharem que ouverom beés de feu de-
vedor , que nom fejam hereeos , nem fiadores , fem
feendo primeiramente chamados a Juizo, e ouvidos
fe quiferem mofirar, que os beés, que elles affy ou-
Ss 2 ve-
324 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA E TltES .

verem, nom fom obrigados: e effe Sacador faça-lhe


logo moíl:rar os beés , e fe eífes devedores differem ,
que nom fom a ElRey obrigados, o Sacador aífyne
dia a eíles, que taaes bees aífy teverern , que venhaõ
moíl:rar o feu direito pera norn feerem eífes beés obri-
gados a E!Rey : e deve enviar o trellado do Rool, e
enformaçom , que achar, e os nomes das teíl:emu-
nhas, per que fe pode provar, que fom obrigados ao
Procurador d'EIRey, e de-o todo ao Almuxarife da
Comarca, em que andar, qu·e o envie ao Procurador
d'EIRey ante do dia; e fe nom vier ao dia, os Juizes
façam direito. Aos quaaes Almuxarifes Mandamos
que enviem eíl:e recado ao noífo Procurador.
1o ÜuTRO sY fe agravaõ dos Sacadores, e Por-
teiros, por que acham aas vezes, que o devedor d'El-
Rey vendeo a defvairadas peffoas os beés obrigados a
El Rey , ou herdaram os beés do devedor tres , ou
quatro hereeos , e leixaõ de coíl:ranger cada huú por
fua parte da divida, fegundo ouve dos beés do deve-
dor , e efcolhern qualquer, que a elles apraz , dos
compradores , e hereeos , e g uerem a ver per elle , e
pelos beés, que ouve do dito devedor d'ElRey , toda
a divida , a que todollos beés fom obriguados pera fe
fazer igualdade.
MANDA ElRey, que fe os Sacadores poderem em
aquella Comarca, em que forem Sacadores, a ver per
cada huú dos Compradores , ou hereeos a parte, que
a elles aqueecer de pagar, fegundo os beés , que ou-
ve-
DA HORDRNANÇA, QUE DEVEM DE TEER, ETC. 325
verem , que eram a elle obriguados , que aja per to-
dos, e nom per huú a fa divida; e fe nom achar b~és
a alguu delles em aquella Comarca , torne-fe aos ou-
tros, que ouverom beés em aquella Comarca, hu el-
le andar por Sacador , e coflrangua aquelle, ou aquel-
les, que ouverom os beés em aquella Comarca por
toda a divida.
11 ÜuTRo SY he achado , que os Sacadores , e
Porteiros quando nom acham beés aos devedores
d'ElRey, que vendem aos devedores dos devedores
d'E!Rey os feus beés ; a faber, o movel ante apre-
goado per nove dias, e a raiz per tres nove dias, e
fem feendo chamados , nem ouvidos , aífy como fe
principalmente foífem obrigados , e devedores a El-
Rey ; e pera fe nom fazer efto daqui em diante.
MANDA ElRey, que aos devedores dos feus deve..
dores nom vendam feus bens pola divida, que aíly
devem aos feus devedores, quando aos principaes de..
vedores nom acharem outros beés, fem feendo ante
chamados , e ouvidos os ditos devedores dos princi-
paes devedores perante os Juizes, que principalmen ..
te de!fas dividas devem conhecer , fal vo per eífes de-
vedores dos devedores for confefTado a fua divida pe-
rante o dito Sacador , e nom poendo defefa, ou pare-
cendo tal Efcriptura, perque elle feja obrigado ao de-
vedor d'ElRey, e nom poendo contra ello enbargo:
e fe eífes devedores negarem fer devedores dos deve-
dores principaes , os ditos Sacadores lhe affignem dia
cer-
326 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA E TRH

certo convinhavel, a que pareçam perante os ditos


Juizes, a que pertencer o conhecimento da divida
principal, como dito he; e quando for achado , que
fom devedores dos feus devedores, nom vendam feus
beés ataa que tanto tempo andem em pregam , como
andariam , vendendo-fe por divida deífes devedores
feus , a que eram obrigados. Pero fe eíl:es devedores
forem devedores do devedor principal d'ElRey per
razom d'aveença , per que eflc devedor principal he
obrigado a ElRey , poffam feer coíl:rangidos, affy co-
mo feer pode o principal devedor.
12 ÜuTRO SY he achado, que alguiís devedores
d'ElRey, que moram nos Termos allongados das
Villas , e Lugares, hu ha Almuxarifes , fazem paga
aos Sacadores , e Porreiros d'aquello, que devem, e
~s Sacadores norn os efcrepvern por pagos nos Rool-
les, que trazem, e quando vaaõ outros Sacadores, le-
vam eífes Roolles ; e pero fazem certo per teíl:emu-
nhas, ou per Efcriptura , que pagaarom aos Sacado-
res, que traziam aquelle Rool meeírno, nom os lei-
xam porem de coíhanger, por que dizem que nom
he certo, e que eífes, a que pagaarom , nom aviam
poder pera receber.
MANDA E!Rey, que ainda que norn ouveífe o Sa-
cador poder delle pera receber , fe o devedor provar
per teíl:emunhas , que lhe pagou ataa cinco libras ,
que nom feja coftrangido ., e que elle fe torne ao Sa-
cador.
13 Ou-
DA HORDENANÇA, Q.ll'E DEVEM TE!R , ETC. 327
13 ÜuTRO sy fe agravam dos Sacadores, que
vaaõ penhorar pelos Termos das Villas, e que pero
lhes frontam os penhorados , que ataa nove dias lhes
nõ tirem dali os penhores , e fe elles nom pagarem
pa!fados os nove dias , que lhos vendam ali por quan-
to por elles derem, pera ElRey feer pago d'aquello,
por que os coíl:rangem por devedores; e que lhes ven-
dam os beés de raiz d'hy em diante; e que pero que
o affy peçam , que lhes nom leixam porem de levar
os penhores pera as Villas ; e fazem-lhes pagar os al-
lugueres das beíl:as, em que os levam ; e pagam aas
vefes tanto por alluguer , quanto he o por que os pe-
nhoram ; e que pero os querem aas vezes levar em
fuas beíhs , ou em feus homeês a collo, que lho nom
querem confentir; porem pera fazer aguifado.
MANDA ElRey, que os Sacadores, e Porteiros

quando forem penhorar nos Termos , que tirem os


penhores de poder do devedor , e que os ponham per
recado em cafa d'huú feu vizinho, qual entenderem
que he pera os guardar ; e fe os devedores pedirem ,
que lhos vendam ali , e os derem por apregoad0& ,
aífy corno fe andaffem em pregorn per nove dias , e
pedirem, que lhos vendam , fe el1es nom pagarem
ataa os ditos nove dias , os Sacadores , fe entenderem
que podem a ver a divida pello que por elles alli derem,
ou que eífes devedores ham outros beés, per que po-
dem averaquello, que ficar por pagar, vendidos aquel..
les penhores , nom tirem d'hy os ditos penhores , e
me-
32 8 LrvRo SEGUNDO TITULO CrNCOE.NTA E TREs

metam-nos em pregom , e vendam~nos, aífy como


lhes he mandado ; e fe paffados os nove dias os de-
vedores nom pagarem, e outros beés nom ouverem,
per que poffarn aver a divida, e entenderem , que fe
venderom milhor nas Villas , que em aquelle lugar,
hu moram os devedores, levem-nos pera as Villas aa
cuíl:a dos devedores em homeés , ou em beíl:as , fe-
gundo a quantidade dos penhores for : pero fe effes
devedores quiferem dar bel1as , ou homeés , em que
os levem, por· efcufarem o alluguer, que os levem em
ellas per recado.
14 ÜuTRO sY fe agravaõ alguús, que gaãçam as
Cartas das eixecuçooés, per que vendam aos feus de-
vedores, ou de Sentença"s , per que vendam aaquel-
les, que lhes fom condapnados em Juizo per razom
de dividas, que lhes devam, ou de corregimento, ou
d'outras coufas , que a elles demanda, e pero que fa-
zem o que podem pera feerem compridas as Cartas ,
e as eixecuçooés feitas per ellas , nom podem achar
beés aos feus devedores, ou dos·condapnados a elles,
em que fe comprir poffarn as eixecuçooés em todo,
nem em pa~te; e pero que a mingua nom he n'a-
quelles, que taaes Cartas gaãçam pera fe comprir,
ainda que fe nom cumpraõ em todo, nem em parte,
que os coílrangem os Sacadores pollas dizimas con-
theudas em taaes Cartas , a!fy ·c omo [e foffem com-
pridas em todo; e pero os querem dc.fro fazer certo,
que elles feierom o que poderom pera feerem com-
pn-
DA HORDENANÇA , Q.!IE DlV!M TEU. , ETC. 329
pridas , e que nom acharom beés aos devedores , ou
aos condapnados, que os nom leixam porem de cof-
tranger polla dizima de toda a conthia nas ditas Car-
tas contheuda : e pera fe eíl:o nom fazer.
MANDA ElRey , que fe aquelles, que taaes Car-
tas gaãçarom , fezerom o que poderom pera feerem
compridas no tempo , que as Cartas gaãçarom , e fe-
zerem deíl:o certos os Sacadores , e que em aquelle
tempo aos devedores , ou condapnados nom acharam
beés , ou a feus hereeos , e os devedores já desfalle-
cem , nem a feus fiadores , em que fe com prir po-
deífem em parte, nem em todo , que os Sacadores fe
fofram de os coíl:ranger polia dizima da conthia, em
que os fezerom certos, que a divida nõ pode feer pa-
gada per razom dos beés, que no tempo das Cartas •
que gaãçarom, nem defpois nom acharem aos deve-
dores, ou condapnados ; e íe acharem , que forom
em culpa , porque os condapnados, ou feus fiado-
res aviaõ beés, ou ouverom defpois , em que fe po-
deram comprir, coíl:ranga-nos polla dizima , pois
que forom negrigentes ; e eílo meefmo fe acharem
que a quitaarom, ou foram em culpa, ou negrigen-
cia , ou derom efpaços , per que fe leixaarom de
compnr.
1 5 A QYAL Ley viíla per Nos avemos por boa,
e Mandamos que fe guarde , como em ella he con-
theudo.

Li7,1. IL Tt T r..
JJO LIVRO SEGUNDO T1ru1.o CrNcoENTA E Q17AT~

T I T U L O LIIII.
Dos bees , que perteencem a ElRey per cajó
de heref.ya , ou treiçom.

E LR~Y Dom Affonfo o Segundo em feu tempo


fez Ley , per que hordenou , que elle nom leve
os beés dos treedores, e aleivofos, falvo em dous ca-
fos ; a faber, fe trabalharem morte a ElRey , ou a
feus Filhos, ou a feus Parentes ; ou morte a feu Se-
nhor ; ou forem ereges vencidos per Sentenças de
feus Prellados: e em todollos outros cafos, fe herdei-
ros ouverem, ajaõ feus beês feus herdeiros; e fe nom
houverem alguús herdeiros, nem forem cafados, em
tal cafo aja ElRey todos feus beés ; e fe forem cafa-
dos , leve ElRey a meetade , e as molheres a outra
rneetade ; e fc as molheres forem prenhes ao tempo
que a treiçom for feita pello Padre, os filhos, que def-
pois nacerem , nom herdarem feus beés, e avellos-ha
E!Rey; e o que de tal maldade fe nom quifer vir afol-
ver aa Corte > e moíl:rar fem culpa do dia, que for
accufado,ataa trinta dias,perca quanto ouver ,e nun..
ca o mais aja , nem cobre , fe for em tal lugar , que
o poífa fazer.
I A QYAL Ley vifta per Nós, achamos que era
incerta , e efcura ; e por tanto fezemos acerca della
a.lguãs declaraçooés, fegundo achamos per direito, as
quaees:
Dos BENS, Q!JE 'PlRTEE NCEM A ELREv, ETC. 33r

quaees fom conthe udas no quinto Livro da Noffa


Compi llaçom no titulo dos que comete m treiçom
contra ElRey : Porem Manda mos , que fe guarde
acerca defto o que he conthe udo no dito titulo com
os ditos Capítulos , e declaraçoés em elle feitas.

TIT UL O LV.

Dos Rellegueiros , que regatam o vinho no Rellego ,


ou o querem vender de/pois que Jaae o Rellego.

A CHAMos no Livro da Noffa Chanc ellaria , que


fazendo ElRey Dom Affonfo o ~arco Cortes ,
forom -lhe requer idos pello Povoo dous Artigo s Ge-
raaes em efta forma , que fe fegue.
1 ITEM. Agrav aõ-fe por razam dos Relleg ueiros ,
que prende m alguús d'aque lles, que dizem , que ca-
hirom em cooim as por razom que vender am os vi-
nhos nos Rellegos ; e efto dizem que he contra feus
foros : pedem -vos por merec e, que mande es, que fe
nom faça.
Ao Q.YAL Artigo clle refpondeo em eíl:a forma.
A ESTE Artigo diz ElRey , que tem por bem, que:
lhes guarde m em efto feus foros, e que os nom pren-
dam por tal razom mallic iozam ente; e fe os prende -
rem, e os Juízes os manda rem foltar, que os foltem
logo • e fe os fem razom prende rem , façam-lhes os
Tt2 Ju~
332 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA E CINCO

Juizes correger toda perda, e dapno, que por ello ou-


verem recebido.
2 ITEM. Os Rellegueiros compram, e regatam os
vinhos , e os metem nas Adegas d'ElRey pera os
vrnde.r no Rellego, e o vinho que fe ha de vender na
Adega d'ElRey , e nom alhur , vendem-no em ou-
tros lugares da Villa , e des que faae o Rellego , que-
rem vender o vinho , que lhes fica na Villa , e no
Termo : e em eflas coufas diz o Povoo , que recebem
grande agravamento : pedem-vos por mercee, que
fe nom faça d'aqui em diante.
Ao QYAL elle refpondeo em efta forma.
A ESTE Artigo diz ElRey que os Rellegueiros per
fy , nem per outrem nom regatem , nem comprem
vinho pera o meterem na Adega d'ElRcy pera o ven-
der no Rellego ; nem outro fy vendã o vinho em ou-
tros lugares na Villa , fe nom nas Adegas d'EIRey,
honde he cuíl:ume de fe vender; e Manda., que def-
pois que o Rellego fair, nom vendã na Villa, nem
no Termo o vinho, que deffe Rellego ficar.
3 As QYAEES Repoíl:as affy dadas aos ditos Arti-
gos a vemos por boas , e Mandamos que fe cumpram,
guardem a!fy daqui em diante.

TL
Dos Q.!!E TEEM HERDADES NOS REG., ETC. 333

TI TU LO LVI.
Dos que leem Herdades nos Regueengos , e moram fora
dellts, que nom gouvaõ do Privillegio dos Re-
guengueiros.

E LREY Dom Affonfo o ~arto hordenou , e pofe


por Ley, que fe alguús Lavradores moram fora
do Regueengo , ainda que tenham alguãs Herdades
dentro no Regueégo , taaes , como eíles , fervaõ com
o Concelho, e façaõ vizinhança em todo, affy , e tam
compridamente, como os outros vizinhos do Con-
celho, fem gouvindo de privillegio alguú , que feja
dado aos Regueengueiros ; porque ainda que Herda-
des tenham no Regueengo, pois em elle nom mo-
ram , nom devem feer avudos por Regueengueiros,
nem gouvir de feus privillegios.
1 A QyAL Ley viíla per Nós louvamos, e Con-
firmamos , e Mandamos que fe guarde , como em
ella he contheudo.

TI-
334 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA E SETE

f I T U L O LV~I.
Dos Mercadores, que trazem mercadarias de fora
parte , ou as levam pera fora do Regno , que
nom paguem dellas mais que huma
dizima.

E LREY Dom Joham Meu Avoo de gloriofa me-


moria em feu tempo fez Ley, perque hordenou,
e mandou, que fe alguús Mercadores deíl:es Reg11os ,
ou de fora delles vierem a elles com fuas mercada-
rias , e as dizimarem nas Alfandegas, ou Almazeés ,
e ouverem A1varaaes de faca efcriptos pellos Efcri-
pvaaés das ditas Alfandegas , e Almazeés , e fynados
per feus Almuxarifes , e feellados dos feus feellos, pe-
ra tirar do Regno outra tanta mercadaria , quanta a
elle trouxeram, que lhe fejam guardados os ditos Al-
varaaes em qualquer porto de mar dos ditos Regnos;
e nom lhes levem outra dizima das ditas mercadarias
que affy levarem , falvo em aquellas mercadarias de
que fe fempre d'antiguamente cuíl:umou levar duas
dizimas; porque em taaes mercadarias mandou, que
fe guardaffe a uzança, que fe guardou nos tempos
de feus anteceffores.
1 E PORQYE alguús Mercadores affy deítes Re-
gnos , como de fora delles , compram vinhos , e os
carregam no Regno do Algarve, e mandam-os d'huú
por-
Dos MERCADORES) Q.!l'E TRAZEM MERC-., ETC. 335
porto pera outro em barcas) levando-os ao longo dos
Rios pera os carregarem nos Navios , que teem nos
ditos portos , taaes como eftes , defpois que huã vez
pagarem dizima dos ditos vinhos no porto, honde
primeiramente forem embarcados, ainda que defpois
vaaõ , e cheguem com elles nas ditas barcas ao dito
porto, honde eíliverem os Navios , em que ham de
feer carregados , nom paguem delles outra dizima)
fegundo o que acerca deíl:o antigamente foi ufado em
tempo d'ElRey Dom Pedro feu Padre) e d'EIRey
Dom Affonfo feu A voo.
2 As QYAUS Leyx viílas per Nós, Mandamos
que fe cumpram , com tanto que fe nom faça hy al-
guú engano, ou malícia, per que noffos direitos fejam
minguados , ou defraudados ; e fentindo os noífos Al-
muxarifes , e Officiaaes, que dello teverem alguú car-
rego , que fe faz hy alguã arte ) ou conluio em pre-
juízo dos noffos direitos , façam-no-lo logo fabente
per fuas Cartas) e nós preveeremos hy em tal gui-
fa , que todo feja emmendado com direito) e juf-
tiça.
:06 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA E OITO

T I T U L O LVIII.
Dos Rejidoos , como fe ham de requerer , e demandar,
e em que tempo.

E LREY Dom Eduarte Meu Senhor , e Padre de


louvada, e famofa memoria , que DEOS aja em
fua fanta Gloria , em começo de feu Real Eftado fez
Cortes, nas quaees lhe foram requeridos pello Povoo
algu us Artigos Geeraaes , antre os quaees foi achado
huú com fua repoíl:a, e determinaçom, que tal he.
I ITEM. Per outro Capitulo fe agravam dos cof-
trangimentos , que lhes fazem por parte dos Refi-
doos, porque lhes demandam Efcripturas, e provas
de como fezerom as defpezas dos Teíl:amentos de taõ
longo tempo ,que as nom podem dar ainda que quei-
raõ : pedem aa voífa mercee , que lhes ajaaes reine-
dio, e mandees, que as defpezas dos beés, que forom
defpendidos pollas Almas d'aquelles , cujos Tefta-
rnenteiros forom, ataa o tempo, que a Ley das Ef-
cripturas publicas foi pobricada , que os ditos Tefta-
rnenteiros , e feus herdeiros , e bem affy os herdeiros
dos herdeiros fejam creudos per feu juramento dos
Avangelhos; e desa publicaçom deffa Ley em dian..
te fejam creudos per Efcriptura rafa de Taballiam ,
ou per teftemunhas.
'2 MANDA ElRey, que as contas, que as dem dos
beé~
Dos RESIDOOS, COMO ~E HAM DE RE~, ETC. JJ7

beês de raiz, que forom em poder dos Teíl:amentei-


ros , ataa vinte annos contados do dia , que os rece-
beram ; e dos beés movees dem conta do dia que os
r<:ceberam , ou receberem ataa quinze annos : e eíl:o
fe entenda affy do que receberom do Teíl:ador, como
do que receberom d'alguús herdamentos , fe os ven-
deram , ou das novidades delles.
3 PERo fe em poder deffes Teíl:amenteiros forem
achados beés de raiz, que forom dos Teíl:adores, cu-
jos Tdbment eiros fom , que quarenta annos do dia,
que fe os Teftadore s finarem, pofiam os Teftamen -
teiros feer demandad os, e coftrangidos , que os entre-
guem pera fe venderem , e darem os preços delles pe-
ra os Refidoos : falvo fe eífes Teílament eiros prova-
rem per legitimas provaçooés d'Efcriptu ras, ou tef-
temunhas , como reteem em fy os ditos bees per juf-
to titulo , aífy corno per compras , ou per efcaim-
bos, ou partiçooé s, ou per alguú outro jufto titulo.
4 E QlJE em eílas coufas fejam creudos per feus
juramento s as partes das defpezas miudas, que fize-
rom ataa conthia de vallor de cem libras de boa moe-
da antigua, a refpeito das moedas d'aquelle tempo,
em que clle fez as defpezas , fegundo que as E!Rey
mandava pagar; e aífy como no tempo dos reaaes de
tres libras e mea, feja creudo ataa cinco mil libras ,
que veem cincoenta por hua; e aífy dos tempos paf-
fados, como do prefente, pofio que dello nom mof-
Liv. II. Vv. trem
338 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA E OITO

trem Efcriptura digna de fe, nem o provem por tef-


temunhas.
5 E AS defpezas , que fezerom ante do tempo>
que o dito Senhor mandou fazer as Efcripturas pru-
vicas, prove-o por Efcriptura digna de fe , ou per
teflemunhas. E as defpezas , que fezerom , defpois
que EIRey fez a Ley das Efcripturas pruvicas , def-
pois que paífar das ditas cem libras de moeda anti-
gua, como dito he , que nom fejam recebidos , fal vo
fe as moíl:rarem per Efcriptura pruvica , ou per Ef-
criptura feita per Tabaliam pofto que nom tenha
feu fignal pruvico, ou per Efcripvam, que foíre man-
dado pelo dito Teíl:ador em feu Teíl:amento, ou Ce-
dula, que o fezeíle.
6 E NA parte dos dinheiros , que levam os que
ef1:es Refidoos requerem : Manda ElRey , que os le-
vem , e ajam per eíl:a guifa , que fe fegue ; a faber,
que todo aquello, que os ditos Procuradores percal-
çarem pera os ditos Refidoos , ajam de cem libras
quarenta foldos de qualquer moeda, em que as ouve-
rem. E quanto he ao dinheiro , que levam os Conta-
dores dos ditos Refidoos das aífentadas, quando eíl:a-
vam aas contas aas partees, que perante elles manda...
vam vir, que nom levem delks nada.
7 ÜUTRO SY o dinheiro , que leva o Efcripvaõ, e
o Contador d'alguãs partes, que perante elles vinhaõ
per coníl:rangimento das quicaçooés, que lhes davam,
quan-
Dos Rr::srnoos, COMO SE HAM DE REQ:., ETC. 339

quando davam boa conta, Manda o dito Senhor, que


o nom levem daqui en diante ; e quando as partes
quizerem toda via quitaçom por feu reguardo, nom
lhes levem mais da dita quitaçom, do que lhes leva-
ria huú Tabelliam por outra tanta Efcriptura , fe lha
fezeífe ; e o Contador nom leve dello nada.
8 O qual Artigo per Nós viíl:o, e examinado com
fua repofta, avemos por boõ , e Mandamos , que fc
guarde por Ley , aífy como em elle he contheudo.

T I T U L O LVII II.

Dôs Artigos , que f oram requeridos por parte dos Fi-


dalgos a E!Rey Dom J oham na Cidade
de Coimbra.

E STES fom os Capitulas , que os Fidalgos deíl:es


Regnos deram a EIRey Dom Joham nas Cor-
tes , que fe fezerom na Cidade de Coimbra no mez
de Janeiro da Era de mil e quatrocentos e * trinta e
[eis (a) * annos dos agravos , que diziaõ , que rece-
biam; aos quaees Capítulos o dito Senhor Rey deu
fua Repoíl:a pela guifa , que fe a diante fegue.
I SENHOR. Os voífos Fidalgos, e Vaífallos fazem
faber aa Voífa Mercee, que fom muy agravados em
muitas coufas; primeiramente na parte das Sifas, que
Vv 2 lhes
(a) trinta e fc tte A . vinte e feis S.
340 LIVRO SEGUND O TITULO CINCOE NTA E NOVE

lhes fazedes pagar das coufas, que vendem , ca aquel-


las coufas, que clles vendem , que ham de fuas Her-
dades , nom he fenom pera compra rem cavallo s, e
armas pera vos fervirem , nas quaes coufas dizem,
que fom muito agravados : porque vos pedem , Se-
nhor, por mercee , que os façades francos , que nom
paguem as ditas Sifas , e os manten hades , affy como
mantin ha ElRey Dom Affonfo vo1fo Avoo os que
eram em aquelle tempo.
A ESTo refponde ElRey , que quando eíl:as Sifas
forom lançadas , que eíl:o foi com acordo de todo o
feu Povoo ; a faber , Prellados , Fidalgo s , Cidadaa õs
juntos em Cortes feitas na Cidade de Bragaa ; e eíl:o,
porque era muito neceffario por deffenfom deíl:es Re-
gnos : Outro fy que nenhuú nom foffe dellas efcufa-
do, por peffoa priville giada que foffe, nem elle dito
Senhor Rey, nem Raynha , nem os Iffantes , nem
Prellad os , nem Clerigo s, nem Fidalgo s, nem outras
nenhúas peífoas , por privilligiadas que foffcm. E eíl:o
concorda com o que foi guarda do no tempo d'El-
Rey Dom Affonf o, e Dom Pedro, e Dom Fernan -
do , nos quaees lançand o-fe em feu tempo as Sifas
dellas em certas coufas, e dellas geeraaes , nunca fo_
rom dellas nenhúas peffoas efcufadas ; maiorm ente,
porque fe algúas peffoas das ditas Sifas foffem efcu-
fadas , taaes bulras fe fariam cm ellas, que valleriam
por ello tam pouco, que feria grande prejuíz o; e por-
que fe nom poderia aver pellas ditas Sifas tanto co-
rno
Dos ARTIGOS , Q!JE FOR.AM REQ.!JER. , ETC. 34r
mo nada , a refpeito do que valeriaõ fe nenhuús nom
foífem efcufados ; e aífy nom teeria ElRey tanto
perque fe podeífe manteer, nem os encarregas de fua
terra, mayormente em tempo de guerra : e affy en-
tende que nom foodes cm eíl:o mais agravados, do
que erades em tempo d'EIRey Dom Affonfo feu
A voo, e [eu Padre, e feu lrrnaão. Enpero que a elle
praz que nom aja hy íiza d'aquello, que elles com el-
le acordaram ; a faber, d'ouro , nem prata, nem de
ca vallos , e armas , que comprarem os Fidalgos , e
feus Vaffallos, e os homeés d'arrnas, ou venderem ;
e que deíl:o fejarn efcufados tambem o comprador,
como o vendedor .
.2 ÜuTRO sY, Senhor, os voífos Fidalgos, e Vaf-

fallos fazem faber aa Voffa Merece que forn agrava-


dos nas conthias, que lhes pagam em partes do an-
no , e de mais em aquellas duas pagas , que lhes fa-
ziam no anno, e lhes pagam tarn perlongadamente,
que aas vezes paffam mais de tres, e quatro mezcs
que nom fom pagados: porque vos pedem por rner-
cee, Senhor, que lhes rnandees pagar juntamente no
começo do anno afiy corno fe fernpre fez.
A ESTO refponde ElRey, que elle fernpre traba-
lhou de lhes pagar o milhor que elle pode, e que elle
affy o faria de grado fe tiveffe corno o fazer podem~ :
mais porque, fegundo elles bem fabem , elle nom ha
fuas rendas , fenom ao~ quartees do anno , elle nom
pode pagar as ditas conthias , fenom fegundo lhe as
di-
342 LIVR.0 SEGUNDO TITULO CINCOENTA E NOVE

ditas rendas forem pagadas ; a faber , pelo anno affy


como lhas pagam ; e fe lhes milhor podeffe pagar , el-
le o faria de mui boa mente.
3 ÜUTRO SY , Senhor, os voffos Vaffallos , e Fi-
dalgos fom muito agravados em eíl:e foldo, que nos
mandaaes dar, ca vós fabees bem , que nós nom po-
demos per ellc manteer as beíl:as de cevada ; e por
mais acrecentardes em voífas fazendas , mandaae-nos
tirar de cada quartel tres dias , o que nunca tiraarom
em tempo dos outros Reyx , que ante vós forom : por
que vos pedem, Senhor, por merece, que lhes émen-
dees nos boõs cuíl:umes, e nom lhes minguedes em
elles ; ca os Fidalgos nunca fouberom peitar , falvo
os corpos a feu Rey , e Senhor, e que os pooem mui
a miude por íeu ferviço.
A ESTO refponde ElRey, que pois fe dello tem
por agravados, que a elle praz, que nom haja eíle
feu Camareiro eíles dinheiros; e que outro fy nom
haja o Efcripvaõ fe nom vinte foldos de cada hum
homem d'armas por cada quartel; e do Beeíl:eiro dez
foldos por cada quartel ; e do piam cinquo foldos ,
por cada quartel.
4 ÜuTRo sY , Senhor, nos voífos Regnos de mui
longos tempos há muitos Moorgados, os qnaees de-
cendem per herança, fegundo foi. vontade dos que
os eflabellecerom ; e ora aqueece , que quando al-
guús deíles Moorgados vagam , vós fazees doaçom a
quem voifa mercee hé , e peilas doaçooés, que aífy
fa-
Dos ARTIGO S, QYE FORAM REQ!TER., 'ETC, 343

fazedes , cobram , e manteem as poffes dos Moor-


guados de guifa , que os que em elles teem direito ,
nom o podem percalça r ; e defendem -lhas , e pooem
perlonga s com as Rendas dos Moorgad os : por que
vos pedem , Senhor, por mercee, que mandees ,
que taaes Cartas de Doaçoõe s nom valham , pois fom
dadas contra Direito, nem embargu ees aos que Di-
reito teem , e averam as poífes, e o que aífy perdee-
rom pellas voífas Doaçooê s.
A ESTO diz E!Rey que nunca taaes Doaçooê s fez,
e fe alguãs fez contra Direito, que lhas moíl:rem , e
que preíl:es he de as correger .
5 ÜuTRo iY , Senhor, os voífos Fidalgos , e Vaf-
fallos fom agravado s nas Jurdiçoo és, Honras ,e Cout-
tos, e Malladia s, que ham em voffos Regnos, nas
Jurdiçooé s , que os voffos J uizes , e Corregedores fi-
1ham conhecim ento, que nom devem de filhar, fal-
vo pellas apellaço oés, ou agravos, que venhaõ d'ante
os que fom poíl:os per elles nas Honras ; que as luas
~intaãs , Lugares , e Terras, que foiaõ a feer hon-
rados, que nom entrava hi Porteiro , nem outro Of-
ficial, falvo o que hi poinha o Senhor da Honra ; e
quando aconteci a, que aviam de fazer alguã cita-
çom , ou penhora , pediam ao Chegado r , que o Fi-
dalgo hy tinha , que a feze!fe ; e ora os Juizes das
Villas , e Lugares , e os Correged ores mandaõ citar,
e penhora r, fem guardand o eíl:as coufas.
A ESTO refponde ElRey , que nos feitos das Hon ..
ras,
344 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCO!::NTA E NOVE

1:as , e Malladias , elle nom mandou tirar nenhuú de


fua pofle, e em razom das Jurdiçooés, * e Malladias
tomadas (a) * , que fom de muitas guifas , e defvaira-
das, que moíl:re cada huú em que lhe vaaõ contra
ellas feus Juizes, e Juftiças, e elle lho mandará cor-
reger, como achar que hc Direito.
6 OuTRO sY ao que repricam fobre aqueíl:o , que
lhes tirou geeralmente, e devaffou as Jurdiçooés per
feus Meirinhos , e Corregedores, e Juízes, que pos
nos lugares, dando-lhes poder que entraffem nos Cou-
tos , e prendeffem os homeés , e os tiraífcm fora do
dito Couto , fazendo-lhes dos lugares, em que elles
ham jurdiçorn , certas peffoas vir refpondcr perante
elles , e fazendo nos ditos lugares Officiaaes per pel-
louros , e nom per enliçom , como foyam de fazer,
deffendendo aos feus Ouvidores, que nom conheçaõ
dos agravos, poendo-lhes grandes penas, fe o fezerem.
A ESTO refponde E!Rey, que elle nunca mandou
a feus Meirinhos , e Corregedores , que uzaffem de
fuas J urdiçooés , fe nom como deviam, e fegundo he
contheudo nas Hordenaçooés deíl:es Regnos feitas fo-
bre ello, e que affy lho manda. E na parte dos Jui-
zes , qu.e pos nos lugares grandes : diz que he verda-
de, que lhes deu poder que fizeffem correiçom nos
lugares per elle devifados , que eftam arredor dos lu-
gares grandes , honde os affy poinha por J uizes , e
houveffem poder fobre aquellas peffoas, de que he de

--------------------
(~ to madias, e Maladia5 A,
pre-
Dos ARTIGO S, QYE FORAM IUQlJER ., Etc. 345

prefum ir, que os J uizes daquelles lugares nom po..


dem fazer Direito ; e que eílo fez elle por bem de fua
terra , e por fe fazer Direito , e J u füça em ella, affy
do grande , como do pequeno ; e que pois fe dello
fentem por agrava dos, que elle manda aos ditos Jui ..
zes, que nom uzem daqui em diante de tal jurdiço m,
nem de tal correiço m , fenom nas Villas, em que aífy
forem poíl:os por Juizes, e em feus Termos . E ao
que dizem , que fazem os Officiaaes per pellour os.
diz ElRey, que eíl:o mandou alfy fazer, por fe fazer
mais fem malicia , e que por ello nom perdem elles
nenhuã coufa dos feus Direito s, porque afly lhes pre-
zentam os J uizes enleitos pellos pellouros , e affy os
confirm am, quando as Confirm açooés fom fuas, co-
mo antes faziam , quando hi nom havia pellouros.
E quanto he na parte dos agravo s, que dizem , que
nom leixam livrar a feus Ouvido res: diz ElRey, que
vejam as Horden açooés do Regno feitas fobre eíl:o, e
que fe guarde m, como em ellas he contheu do.
7 ÜUTRO sY , Senhor , os voffos Fidalgo s, e Vaf..
fallos fom muito agravad os, e dapnad os de fuas Her-
dades, que reem emprazadas., e afforadas por tempos
certos, e nos tempos , que forom afforadas , e arren-
dadas , era a moeda boa, e ora , Senhor , a moeda he
tal , como vós veedes ; e elles de fuas Herdad es nom
ham fenom cinquo por huú ; e em eíl:o fabees , que
recebem muy grande damno , e perda : porque vos
pedem , Senhor , por mercee , que os defemb argue-
Liv, II. Xx des,
346 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA E NOVE-

des, e lhes mandees pagar fuas rendas pellas moedas,


que forom emprazadas, e arrendadas, ou que paguem
eíl:a moeda a corno val ; e em eílo , Senhor, lhes fa-
rês Direito.
A ESTO refponde ElRey , que ja fobre eíl:o faltou
com os Prellados , e Fidalgos , e com os Procurado-
res das Cidades , e Villas , que vierom aas fobre ditas
Cortes, e ouvio as razooés, que forom allegadas pel-
las partes, fegundo elles bem fabem , e que porende
com feu confelho poerá hy tal meyo , qual entender•
que compre a feu ferviço , e a prol de fua terra.
8 OurRo sY , Senhor , os voffos Vaffallos , e Fi ..
dalgos fom agravados , dizendo, que em tempo de
voifos A voos , e de voífo Padre , e de voílo Irmaaõ ,.
a que DEOS perdoe, chegaavorn aas Villas, e luga~
res do Regno, e demandavaô aas Juftiças Bairros, e
Pouzadas cada huús como as mereciam; e que ora
vós fazedes Hordenaçom, que cada huú foffe poufar
aas Eftallageés , as quaees hi nom ha quejandas de-
via d'aver , no que dizem , que fom muito agrava-
dos : porque vos pedem , Senhor, por mercee , que
lhes mandees dar Bairros, e Poufadas affy como as
aviam em tempo dos outros Reyx d'ante vós: ca elles
entendem , que nom fezerom coufa , per que perdef-
fem feus boõs cuíl:umes, que os d'ante elles aviam.
A ESTO refponde ElRey, que eíl:o fe nom pode
fazer em Lixboa, nem no Porto, por quanto hy ham
Privillegim dos outros Reyx, e elk o jurou aos de
Lix-
Dos ARTIGOS, QyE FORAM REQyER., ETC. 34 7

Lixboa ; mais nos outros lugares do Regno diz que


lhe praz, que lhas dem as Juíl:iças dos lugares, como
fe foya de fazer.
9 OuTRO sy, Senhor, os voffos Fidalgos, e Vaf-
fallos dizem mais , que nas Cidades, e Villas , e lu-
gares do voífo Regno foyaõ de feer Juizes os Fidal-
gos, e fe hi avia huú Juiz Cidadaaõ da Cidade , ou
Villa, o outro avia de feer Fidalgo, e fya nas audien-
cias, ouvindo os Feitos, aífy como os Juízes das Vil-
las, e fyaõ nas Rollaçoés , e Confelhos , que fe faziam
nos lugares; e ora , Senhor, dizem que fom lançados
de todo eílo: por que, Senhor, vos pedem por mer-
cee, que os mantenhad es em feus cuíl:umes , e man-
dees, que quando fezerem huú Juiz da Villa, que
façaõ outro Fidalgo com elle ; e em eíl:o, Senhor, fa-
redes a Nós o que outros Reyx fezerom aos outros
Fidalgos.
A ESTo diz ElRey, que pello Regno ha alguãs Ci-
dades , e Villas , que ham eíl:es Foraaes , em que fe
faça aífy ; e ha hi outras, em que nom ha taaes Fo-
raaes ; e que elles nom acharóm , que taaes Foraaes
lhes foffem per elle britados per Ley , nem per outro
mandado efpecial , mais ante lhes mandou , e affy o
manda , que fempre lhes fejam em eíl:o guardados
feus Foraaes, e aquelles ufos , e cuíl:umes, que de
fempre forom. E ao que dizem , que ora ha hi mais
Fidalgos , e que por tanto em todollos lugares fe de-
ve eíl:o guardar: Diz ElRey , que elle jurou guardar
Xx 2 aos
348 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA E NOVE

aos lugares de feus Regnos todos feus Pri villegios ,


ufos , e cuíl:umes , e que fobre eíl:o teem já fuas Car-
tas de Confirmaçooés , e que porende nom deve hir
contra ellas.
10 E ouTRo sv , Senhor, os vofios Fidalgos , e
Vaífallos dizem, que fom muito agravados, por quan-
to fcus bairros lhes fom defcoutados , e entram-lhes
dentro em elles os voífos Meirinhos , e Algozes , e
nom tam folamente nos bairros, mais dentro nas pou-
fadas, o que nunca foi no tempo dos Reyx d'ante
vós ; e que lhes parece que fom em ello muito agra-
vados, ca elles entendem , que feus bairros fe dantes
eram bem coutados , que ora os feus Filhos o devem
feer muito melhor, porque elles vos fervirom fempre
bem , e lealmente : porque vos pedem, Senhor, por
mercee , que lhes mandees coutar feus bairros , pois
que os d'antes aviam coutados.
A ESTo refponde ElRey, que elle ataa qui fere..
geo pelas Lcyx, e Hordenaçooés , e Artigos feitos
pelos Reyx, que ante elle forom, em as quaaes he con-
theudo como fe devem guardar eíl:es Bairros ; e que
fe elle em alguãs coufas paffou as ditas Hordena-
çooés , que lho digam , e elle he preíl:es de o corre-
ger ; ou fe teem alguús outros Artigos em contrairo
d'aquelles, que os moA:rem: e que fobre aqueíl:o elle
entende de fallar com elles , e hordenar fobre ello o
que entender por ferviço de DEOS, e feu, e prol ,. e
honra delles.
II Ou-
Dos ARTIGOS, QVE FORAM REQlJER., ETc. 349

II ÜuTRo SY , Senhor, os voffos Fidalgos, e Vaf-


fallos fom muito aggravados , porque de fempre nos
Moefieiros, e Igrejas taaes, e em taaes hi haviam
comedorias, e conhecimen to; as quaees coufas agora
nom ham : porque vos pedem, Senhor, por mercee,
que os leixedes aver feus foros , e cuíl:umes ) e ufar J
como ufavaõ os d'ante elles em tempo dos outros
Reyx d'ante vós.
A ESTo diz EIRey , que fe elles direitos , ou alguã
coufa aviam em os ditos Moeíl:eiros , e Igrejas , que
per elle nunca foram coutados, nem deffefos; e que
por quanto he feito dantre partes , fe as demandar
quiferem, que elle em quanto o poder fazer com di-
reito , que lhes fara em ello direito ; e efcrepverá fo-
bre ello ao Padre Santo, por quanto lhe he dito , que
o Arcebifpo de Bragaa ouve dello huã Bulia do dito
Padre Santo, por que lho deffende, e efcumunga os
que o contraira fezerem.
r2 OuTRo sy , Senhor, fom agravados os Fidal-
gos nas Igrejas, e Moeíleiros, de que fom Padroei-
ras, ou os feus Lavradores, e poem feu direito com
elles, e os Prellados lhes nom aguardam feu direito ;
e fe elles querem manteer fuas poífes, aífy como as
manteverom os que ante forom per voífas Cartas, os
voífos Corregedore s lhes pooem taaes coufas, per que
ante leixam os feitos, ca nó podem alcançar direito :
pedem-vos por mercee , que os leixedes ufar do que
ufaarom os dante elles em tempo dos outros Reyx.
A
350 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA E NOVE

A ESTO diz ElRey , que eíl:e feito nom perteence


a elle , nem he tal, em que aja poder; e que outro fy
os Prellados , que aqui fom, lhe dizem, que nom he
direito de teerem os Padroeiras Leigos as guardas das
Igrejas quando vagarem, mais que devem hy feer pof-
tos Icollemos pelos Prellados , que recebam os fruitos
das Igrejas em mentre forem vagas, e as façaõ fervir
no Efpiritual , e Temporal , e guardem o que ficar
pera aquellc, a que proveerem da Igreja ; e que a el-
le apraz , que em eíl:o fe guarde aquello , que he
contheudo em direito.
13 ÜuTRo sY, Senhor, fom agravados os Fidal-
gos , que tem terras , em que pagam Portagem , e vós
per voffas Cartas privilligiades alguús, que as nom
paguem em outras terras , pois nunca pagaarom os
moradores dellas Portageés ; e quando vaaõ pellas
Villas , e Lugares coíl:rangen-nos que paguem o que
nunca pagaarom.
A ESTo diz ElRey, que verdade he que elle deu a
alguús Privillegios , que nom pagaffem Portageés ;
e que porem fe elle deu terra a alguus ante qm: deffe
os Privillegios, lhe praz nom lhe feerem guardados
os ditos Privillegios; e fe lhes deu a terra defpois que
lhes afiy deu o dito privillegio , em tal cafo deve feer
guardado o dito Privillegio, porque a coufa paífava
aaquelle , a que a elle deu , com feu carrego deíl:e
Privillegio, que já era dado.
14 ÜUTRO sY , Senhor, fom agravados nas ln-
qm-
Dos ARTIGOS> QYE FORAM REQylR., ETC. 351

quiriçooés devaífas , que mandaaes filhar fobre elles


tambem de malfeitorias, como nos outros rnalleficios;
e foi poíl:o per voífo Padre em Cortes , que as nom
tomaífem devaífamente fobre elles , e lhes deífem
Cartas judiciaaes quando lhes compriífem.
A ESTO diz ElRey , que na parte das lnquiriçooês,
que vejam huú artigo , que febre aqueíl:o fez ElRey
Dom Pedro feu Padre , e que lhe praz de lhes feer
guardado pela guifa , que em el!e he contheudo : e
na parte das Cartas judiciaaes, que nom acha artigo ,
nem Ley, per que as deva de dar ; enpero que lhe
praz , que as ajaõ pella guifa, que as foyaõ d'aver no
tempo dos outros Reyx.
1 5 OuTRO sY , Senhor, fom agravados os voífos
Fidalgos dos Prellados , que feus Vigarios lhes citam
os Cafeeiros, e Lavradores , que venham perante el-
les , e os fazem andar dapnando o que teem , ainda
que fejam das terras, que forom dos Reyx * com pof-
fiífoés (a) * , e filham por ello voifa jurdiçom.
A ESTO diz E!Rey , que fe os citarem nos cafos ,
em que he fua jurdiçom , que lho nom foffrerá, por-
que torvam em ello a fua jurdiçom ; e que porende
quando tal coufa acontecer , que fe aconaõ a elle ,
ou aas fuas juftiças, e lhes moíl:rem fobre que os ci ..
tam, e fe acharem , que os citam fobre coufa , de que
a jurdiçom a elles nom perteença , que lhes poerá em
ello remedio.
Ou-
(a) fazem compofiçoem 'T.
352 LrvRo SEGUNDO T1Tuto CrncOENTA E NOVE

16 OuTRO sY , Senhor , os voffos Fidalgos, e os


voffos natu raaes dos voffos Regnos fom agravados
dos voffos Corregedores , e Juizes , que cofhangem
as molheres , filhos, e netos dos voffos Fidalgos , e
Vaffallos , que morreerom em voffo ferviço, e que os
cofirangem em todollos negocios do Concelho , af-
fy nos empreílidoos , como nas outras fervidooés ,
que perteenccm ao dito Concelho : porque, Senhor,
vos pedem por mercee , que mandees, que as Donas,
que eíl:iverem em fuas Honras , que lhes guardem as
Honras , e Liberdades pela guifa, que as ouverom
em tempo dos outros Reyx, que ante vós forom , e
nom confentades , que íejam tam mal tragidos.
A EsTo reíponde E!Rey, que elle nunca tal coufa
mandou fazer , antes manda todo o contraira , e que
elle lho defendeo, que o nõ fezeffem ; e fe os feus
Corregedores , ou Juizes eíl:o fezerom , que elle lhes
defenderá, que o nom façam ; e que fe alguú o con-
traira deíl:o fezer, que lhe digam qual he, e que elle
lho eílranhará.
I7 ÜuTRo SY , Senhor, fom agravados os Fidal-
gos antigos, e velhos , que fom em hidade, que vos
nom podem fervir em armas, e taaes como eíl:es cof-
trangem as voílas Juíl:iças em todollos negocios do
Concelho, no que, Senhor, fom mui agravados, ca
taaes corno efles os Reyx, que ante vós forom, os fa-
ziaõ pouíados com conthia, que delles aviam, e lhes
eraõ guardadas todas honras, e liberdades., que aviam
to-
Dos ARTIGO S, QyE FORAM REQyE:R ., ETC. 353

todollos Fidalgo s : porque , Senhor , vos pedem por


rnercee , que lhes guardee s todallas honras , e liber-
dades, que lhes forom guardad as pelos Reyx, que an-
te vós forem ; e taaes ·c omo dres, que poufados fo-
rem, daqui em diante lhes dees a conthia , que de
VÓ3 aviam em quanto fervirom .

A ESTO refponde EIRey como ao Capitul o fufo


dito , que elle nunca tal coufa mandou fazer , ante
mandou fempre , e manda , que lhes guardem bem,
e compri dament e todos feus priville gios de Fidalgo s
poufad os, e que eíla foi fempre fua teençom , e he.
I 8 ÜuTRO sy , Senhor , os Fidalgo s fom agrava-
dos, porque muitas vezes fom nas Frontarias per vof-
fo manda do, e quando vós hides pelas Villas, e Lu-
gares , honde elles fom moradores , poufam os voffos
Officiaaes , e outros que na voffa mercee vaaõ , com
fuas molher es; o que, Senhor , parece mui defagui fa-
do : porque , Senhor , vos pedem por mercee , que
mande es, que nom poufem com ellas em nas fuas
caías de morada . E mais tomaõ, Senhor , fuas beílas,
e fuas palhas, e cevadas de fuas ~intaã s , e Cafaaes:
porque , Senhor , vos pedem por mercee , que man ..
dees , que fuas befias , e coufas fejam coutadas.
A ESTO diz El Rey , que nunca tal coufa mando u,
nem manda fazer, antes manda , que fempre fuas
cafas de morada , e outras Caías, e ~intaã s, e cou-
fas fejam muy bem guardad as , e que lhe praz de fe
affy fazer,
Liv. II. Yy 19 Ou-
354 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA E NOVE

19 OuTRO sv, Senhor, os noífos homeés de pee,


que vivem com pofco, e Amos , e Collaços, e nos
fervem na Guerra , e honde nos mandaaes , e trazem
noffo pano, fom coílrangidos nos lugares , honde vi..
vem , e fom cafados, que fervam com os do lugar , e
os fazem andar, e pagar em todollos encarreguos do
Concelho, e os apuraõ , e lhes fazem todo mal, que
podem, affy como aaquelles, que nunca andarom em
Paaço, nem fervirom Senhor nenhuú j no que, Se..
nhor , fomos por ello muito agravados : porque, Se-
nhor, vos pedimos por mercee , que mandees , que
taaes, como cíles, que nos affy fervem, e trazem nof-
fo pano, que nom andem com os dos Concelhos,
nem ajam com elles d'aver nenhuã coufa j e em efio
nos faredes. Direito , pois que nos fervem em noffo
ferviço.
A ESTo diz EIRey, que já mandou, que fe guar-
daffe fobrello a Hordenaçom d'ElRey D. Pedro feu
Padre , · na parte <los feus Cafeiros , e paniguados , e
fervidores ; e que affy manda , que fe guarde em ef-
tes, que agora fervirem com dles na Guerra em men-
tre com elles fervirem; e que affy fe deeraõ, e dam
as Cartas a quaeefquer, que as dernandaõ; e fe alguus
Concelhos, ou Corregedores , ou Juízes o contrairo
daqueíl:o fezerem , que lho diguam , e que lho fará
emmendar.
20 ÜuTRo sY , Senhor, a eíles meefmos, nos luga-
res , honde vivem , e tambem aos no.ílos Cafeeiros
por
Dos ART1cos, Q.lJE FORAM REQ]"ER., ETc. 355

por muy pouca herdade que lavram alhea , lhes de ..


mandam, que paguem Jugada; e efto, Senhor, nun ..
ca foi , fenom eles pouco tempo a ca, que fe faz ; no
que, Senhor, nós fomos muito agravados, pois que
elles comnofco vivem , e outro fy por feerem noffos
Cafeeiros : porque, Senhor, vos pedimos por mercee,
que nos defagravede s, e mandees, que fe nom faça,
nem paguem ; e em efto , Senhor, faredes Direito.
A ESTO refponde ElRey , que nos Foraaes , que
forom dados aos lugares deíl:es Regnos , he contheu ..
do , que qualquer, que lavrar com bois , que pague
Jugada, tirando fe lavrar em herdade de Cavalleiro,
e que elle o mandou guardar; e por elles veerem, que
dl:o foi pedido a ElRey por mercee pelos Cavallei-
ros, que vejam huú Livro antigo, que ha em eíl:a Ci-
dade, no qual he contheudo, que os Cavalleiros pe-
dirorn a E!Rey por mercee, que os que lavraffem fuas
I-Ierdades, fe foífem lavrar fora das fuas Herdades,
que pagaffern Jugada, e afly parece, que levar Juga-
da deíl:es, que la vrom fora das terras dos Ca valleiros •
he em favor dos ditos Cavalleiros, por fuas Herda-
des ferem bem lavradas ; e que eíl:o fe mofirará no
dito Livro, fe comprir. E ao que lhe pedirom por
mercee, que fe o Lavrador do Fidalgo, de fua Her-
dade fair, que lavre outra fora da fua, que feja de ca ..
da huú delles , que nõ pague J ugada : a eíl:o diz El-
Rey, que elle cumunalmen te nom ha Jugadas, fe
nom deíl:a Cidade de Coimbra pera fundo , que norn
Yy 2 ha
356 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA E NOVE

ha terra , honde tanto fejaõ herdados os Fidalgos ; e


que quitando a Lavradores dos privillegiados, que
Javraffem fora das fuas Herdades, e Terras , feria a
elle grande prejuízo, e aos Fidalgos nom grande prol,
ante fe lhe fegue mayor prol de nom lavrarem os di-
tos Lavradores em outras Herdades fora das fuas ,
como dito he.
21 Ou T RO s Y , Senhor, os voífos Fidalgos, e Vaf-
fallos fom muito agravados , porque nas Cidades,
Villas, e Lugares , em taaes hi há no voffo Regno,
os moradores dellas nom querem confentir , que hi
comprem, nem hajam Herdades nenhuãs nenhuús Fi-
dalgos ; no que, Senhor, fom muito agravados, ca
pois que os Cidadaaõs , e moradores das Cidades,
e Villas, e Lugares compraõ per toda voífa Terra Her-
dades , e aquello, que lhes compre por feus dinhei-
ros, eílo meefmo entendiaõ os Fidalgos de fazer hon-
de as achaffem por feus dinheiros, e nem feerem os
das Cidades, e os Lavradores mais frãquos que elles:
porque vos pedem , Senhor, por mercee, que os lei...
xeis comprar, e herdar em voílo Regno honde quer
que o poderé fazer por feus dinheiros; e ainda que as
alguús tenham compradas, ou as herdem, nom o que-
rem confentir.
A ESTO diz ElRey, que nunca fez tal defefa, mais
que fe hi há alguãs Villas, que ajam taaes privillegios,
graças , e liberdades dos Reyx, que ante elle forem,
que elle nom pode eíl:ar , que lhos nom guarde , pois
lhes
Dos AR TI e os, QYE FORAM REQ!l'ER. , ETC. 3 57
lhes foro outorgados : enpero fe alguús. lugares efio
defendem , que nom fejam privillegiados, que lhes
digaõ quaaes fom , e que elle lhes dará Cartas, per
que poffaõ fazer taaes compras, e gouvir das que ja
fom feitas ; e que fe fobre aqueíl:o quiferem deman-
dar alguús , que lhes fará Direito.
2 2 OurRo sY, Senhor, os voílos Fidalgos, e Vaífal-
los dizem, que fom agravados nas Terras, de que lhe
fezefies mercee , porque as teem em preço das con-
thias ; o que nunca foi em tempo dos outros Reyx,
fe nom das Terras, de que lhes faziaõ mercee, a viam-
nas ifentas, e nom em preço das conthi~s : porque vos
pedem , Senhor , por mercee , que lhas façaaes ifen-
tas , e nom as tenham em preços de conthias ; e em
efio , Senhor ; entenderaõ que he a rnercee, que lhes
fezeíl:es , acabada.
A ESTO refponde ElRey , que em fuas Cortes foi
hordenado , viíl:a a neceffidade do Regno , que taaes
Terras foífem contadas nas conthias d'aquelles ,a que
forem dadas : outro fy por fe guardar igualdança en-
tre aquelles , a que taaes mercees forem feitas , e ou-
tros, que taaes Terras nom tecm , e que porem xe
lhes contam em fuas conthias, rnayormente porque
ElRey naõ os cofirange , que fervam pela Terra com
gentes, mais dá-lhas que fe manrenhaõ per ellas ; e
aquelles , a que fe nom acertou de lhes dar alguãs
Terras, que lhes faz mercee em dinheiro, por fe po-
derem manteer com elle; e aos outros , a que tanta
Ter-
358 LrvRo SEGUNDO TrTULO CrNCOENTA E NOV!

Terra nom deu , ~crecentou-lhes mais dinheiro por


fe manteerem per elle honradamente.
23 ÜuTRO SY, Senhor, os voffos Fidalgos, e
Vaifallos fom mui agravados , porque nas Correi-
çooés , e Meirinhados fempre foi aver Meirinhos , e
Corregedores, e Juizes Fidalgos, aíly como he o Juiz
de Riba de Coa; e ora, Senhor, elles veem o con-
trairo do que foya de feer : porque vos pedem por
mercee , que façades Meirinhos , e Corregedores os
Fidalgos , quando eíl:as coufas ouverdes de fazer ; e
em eíl:o faredes direito , e ho que os Reyx dante vós
faziam.
A EsTo refponde EIRey , que eíl:o nom ham elles
de privillegios, que façaõ eíl:es Officiaes Fidalgos ,
nem outra peffoa nenhuã , fe nom aquelles , per que
E!Rey entender , que fe pode melhor reger a Terra,
e fc fazer Direito, e Juíl:iça ; e que os Reyx, que
ante elle foram , e elle outro fy fezerom aquelles,
que entenderam, que era mais feu ferviço aas vezes
Fidalgos , aas vezes outros ; e que elle aífy o enten-
de fazer, e que porende elle nom tolhe, que nom faça
Fidalgos Meirinhos , Corregedores , e Officiaaes
quando lhe vier aa maaõ , e o entender por feu fer-
viço , e prol de feus Regnos.
24 ÜuTRo sY , Senhor, os voffos Fidalgos, e
Vaffallos fom agravados, porque nom fom igualdadas
aas conthias com f eus Vizinhos , e com aquelles ,
com que o de direito devem feer, aífy nas linhageés,
co-
Dos ARTIGOS , Q.YE FORAM REQ.lTER,, ETC. 359
como nas fervidooés , que vós mandaaes dar oito mil
libras ao que vos ferve com quatro lanças , e ao que
vos ferve fempre com dez lanças, mandaaes dar
quatro mil libras , pero que os outros nom fejam
mais Fidalgos ; pero , Senhor , todos ham pequenas
conthias pera como fe vaaõ alçando voffas moedas ,
e viíl-as as conthias , que aviam de voífo Padre, e de
voifo Irmaaõ : porque , Senhor , vos pedem por mer-
cee, que lhes tiredes a refpeico do que tiram os Prel ..
lados dos voffos Regnos aos Priores, e Abades , que
vizitaõ , e affy lhes ponhades as conthias , e os igua.
ledes fegundo feus mericimentos.
A ESTO refponde E!Rey, que a nenhuús nom
da conthias , por teerem gentes , fe nom por fe po-
derem manteer ; e que elle as da a cada hum , fe-
gundo entende, que compre; empero que fe elles en-
tendem , que nom he feito, como deve , que venhaõ
dous , ou tres delles a elle , e que elle lhes molhará
porque o aíly faz ; e que fe alguús nom forem bem
igualdados , que elle he bem preíl-es de os igualar.
25 ÜUTRo s.i, Senhor, os voífos Fidalgos, e
Vaffallos fom muito agravados , porque dizem , que
vós fezeíl:es Hordenaçom , que nenhuús Fidalgos em
fuas Terras, nem em outro nenhuú lugar do voífo
Regno nom hajam nenhuús mantimentos , fe nom
aas vontades de feus donos , nas quaaes coufas , Se-
nhor, fom mui agravados, ca aquellas coufas , que
vallem menos , demandaõ por cllas muito mais ; e
ef-
360 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA E NOVE

eíl:o nunca foi no tempo d'antes, fe nom os Fidalgos


a verem feus mantimentos por feus dinheiros aguifa-
damente.
A ESTo refponde ElRey, que eíl:o mandou elle,
porque entendeo, que era direito, e razom, e porque
nom avia hi guerra , mais, pois fe dello ham por
agravados; que lhe praz , que ajam os mantimentos,
fegundo as Hordenaçooés d'EIRey Dom Affonfo,
e d'ElRey Dom Pedro ; a faber, que quando alguú
for per caminho, e chegar ao lugar, fe achar vian-
das, e o que lhe fezer meíl:er a vender, que as com-
pre aa voontade de feus donos ; e paífando feus donos
a razom nos preços, ou nom as querendo vender,
peçam-nas aas Jufiiças da Terra; aas quaaes mando,
que fejam bem diligentes em lhas dar, e façam eíli-
mar effas viandas, que lhes affy fezerem dar per fy,
e per outro homem boõ defle lugar, e as viandas ou-
tro fy, que lhes nom quiferem dar por aguifado pr~-
ço ; e aquello , que per elles for alvidtado, lhe façaõ
logo pagar ante que eífas viandas paffem a feu poder.
26 OuTRO sv, Senhor, os Fidalgos d'antre Dou-
ro, e Minho fom muito agravados , que as Juíl:iças
lhes nom querem dar fervidores nenhuús, aífy como
dam a todollos Fidalgos do voffo Regno , palas quaees
coufas , Senhor, fe perdem muitas das fuas herdades,
os quaees , Senhor , entendem , que nom devem feer
mais agravados, que todollos do voffo Senhorio: por-
que vos pedem , Senhor, por mercee, que lhes man-
dees
Dos ARTIGOS, QJJE FORAM REQJJER., ETC. 361

dees dar fervidores, aífy como fe daõ nas outras par-


tes do voílo Regno ; e eíl:o , Senhor , vos pedimos
por mercee, que fe entenda per todo voffo Regno.
A ESTO refponde ElRey, que lhe praz, que os
dem aos que forem fervir aa guerra , como homees
d'armas pela guifa , que os dam aos outros homees
d•armas das outras Comarcas , guardando em ello as
fuas Hordenaçooês fobre aqueíl:o feitas.
27 ÜuTRO sy, Senhor, os voífos Fidalgos fom
muito agravados pelas Inquiriçooens devaffas, que
rnandaíl:es tirar em Feito dos Regueengos, em que
mandaaes, que quaaefquer, que comprarem Herda-
des em voffo Regueengo, ou fe as houveffem per
qualquer guifa que foffe, que rnandaaes, que fiquem
a vós ; no que, Senhor, foro muito agravados ; e vós
mandaaes, que aquelles, que as teverem, que mof-
trem Efcripturas de como as houverorn , e eíl:o, Se-
nhor, ferá mui maao de fazer, ca nós fomos em pof-
fe das Herdades per noífos Avoos de taõ longe, que
nom he couía , que poffa feer , que dello moíl:remos
Efcripturas : porque vos pedimos , Senhor, por mer-
cee, que nos leixedes aver noífas Herdades , e pof-
fuir como as fempre ouverom os d'ante nós-em tem-
po dos Reyx, que ante vós foram.
A EsTo diz ElRey , que elle nom mandou esbu-
lhar ninguem , affy como elles dizem ; e fe alguú
diz , que lhe he feito agravo, venha a elle, e elle lhe
fará logo comprimento de Direiro.
Liv • .11. Zz 2 8 Ou-
362 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA E NOVE

28 ÜuTRO sY , Senhor, os voffos Fidalgos, e


Vaffallos fom agravados, porque nas Honras, e Lu-
gares, e Terras que ham em voffos Regnos , foyam
tomar pam , e vinho , e carnes , e cevadas , e palhas,
e roupas por feus dinheiros, aífy como fohyaõ de fa-
zer em tempo dos outros Reyx ; e ora , Senhor, vós
mandafles aos voffos Corregedores, e Juizes que to-
mem dcfl-as coufas Inquiriçooés , e elles , fe achaõ
alguãs coufas tomadas, e nom pagadas muito aa von-
tade de feus donos , fazem-lhas pagar, affy como
malfeitorias; no que, Senhor, fom muito agravados:
porque vos pedem, Senhor, por mercee , que os lei-
xedes ufar, como fempre ufaarom os d'ante elles em
tempo dos outros Reyx em fuas Honras , e Terras, e
Lugares , e O!!intaãs , que aviaõ.
A ESTO refponde E!Rey , que o nom mandou fa_
zer, falvo fe elles tomaõ mais viandas , que as que
ham de tomar, ou fora dos lugares, em que as hain
de tomar , porque em aguelles cafos lhas fazia pa-
gar como malfeitorias. E ao que dizem , que nas fuas
Terras lhes mandem dar carnes, e pam, e vinho, e
beíl:as por certos preços, como foyaõ d'aver : diz El-
Rey , que quando lhes alguãs das ditas coufas corn-
prirem , que lhe praz , que as peça cada huú em fua
Terra aas Jufl-iças, e que ellas lhes dem aquellas,que
lhe comprirem ; a faber, as viandas pelos preços ,
que comunalmente vallerem, e as befias por feus alu-
gueres affignados , e aguifados.
Dos ARTIGOS , Q!JE FORAM RE(U1ER.. , ETC. 363
29 ÜuTRO sy, Senhor, em noffas Ouintaãs, e
Honras ha alguús Cafaaes dos Moefieiros , e Igrejas,
os quaees Cafaaes de fempre derom nas ditas ~in-
taãs , e Honras , geiras cada fomana, e daõ mais Sa-
nhoaneiras , e outros direitos , nom embargante que
efies Cafaaes fejam dos Moefieiros , e Igrejas , as
quaaes coufas nos ora defendem os Abades, e Prio-
res , e efia defeza fazem per voífo confentimento
porque vos pedimos, Senhor , por mcrcec , que nos
leixedes ufar de noífas Herdades , como fempre ufa-
rom os d'ante nós em tempo dos outros Reyx, que
ante vós forom.
A ESTo refponde ElRey , que nunca efio defen-
deo , nem defende , que elles nom ajam todo feu di-
reito, e que fe dello o contrairo he feito, que lho di-
guam , e elle o fará emendar.
30 ÜuTRO SY, Senhor, os voffos Fidalgos, e Vaf-
fallos fazem faber a Voffa Mercee , que vós bem fa-
bedes em como no cerco de Lisboa lhes prometefies
de guardar todos feus foros, e cufiumes, que haviam,
e que ainda lhes enaderiades mais , antes que min-
guar em elles ; e eífo meefmo lhes jurafies , e prome-
tefies em efta Cidade de Coimbra quando foftes Rey :
e ora , Senhor, vos pedem por mercee, que lhes man-
tenhades feus ufos, e cuftumes, pois que lho prome-
teftes, e pois os aviam em tempo dos outros Reyx,
ca elles, Senhor, bem preftes eíl:aõ pera vos fervirem
como boõs Vaífallos.
Zz2 A
364 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA E NOVE

A ESTO refponde EIRey, que nom entende, que


lhes foífe contra feus privillegios, e boõs ufos , e.cuf-
tumes , e fe elles entenderem , que lhes foi contra el-
lfs , que lhe diguam em que , e que fe aífy for, que
lho emendará.
31 OuTRO sv, Senhor, os vo{fos Fidalgos, e vof-
fos Naturaaes dos voífos Regnos fazem faber aa Vof-
íà Mercee, que elles recebem grande agravo dos vof-
fos Rendeiros das voífas Impofiçooés , que vos poe-
des pela guifa,que Voífa Mercee he; antre asquaaes
pofeíl:es hum artigo , que qualquer , que tirar fal
de huú Termo pera outro , que pagaífe de lmpofi-
çom tres libras de cada huú rnoyo, e muitas vezes
acontece , que nom vai elle tanto; e cada huú dos fo-
bre ditos voífos Vaífallos forn moradores na Cidade
de Lixboa, e teem fuas Marinhas em Riba-Tejo, e
rnandaõ trazer do fal pera defpeza de fua caía, ou
pera falgar fua azeitona , ou pera falgar fuas fardi-
nhas , ou pera o vender na dita Cidade em fuas lojas
com medo dos inimigos, e os Rendeiros lhes deman--
daõ as ditas tres libras de Impoziçõ, e os voffos Jui-
zes ~{fy lhas julgaõ ; no que recebem grande agrava ...
rnento: porque vos pedem, Senhor, por mercee,
que taaes Impoúçooés , como eíl:as , nom fe enten-
dam em feu fal , nem em feus a veres, e os franquee • .
des pela guifa , que o fempre forom pelos Reyx , que
forom ante vós.
lTtM, Senhor, vos fazem faber que ja aconteceo
a
Dos ARTIGOS, QlJE FORAM REQytR, , ETC, 36 5
a cada huú dos fobreditos voffos Vaffallos vender o
moyo de fal a vinte libras fingrante tirado de todos
cuíl:os, e os voífos Rendeiros da Impofiçom de Riba-
Tejo levam logo tres libras de Impofiçom, e os Ren-
deiros de Lixboa outro tanto ; e o Rendeiro de Riba-
Tejo diz , que o tiram de huú Termo para outro , e
o Rendeiro de Lixboa diz que o levam ;i. da Vil-
Ia (a) * pera fora do Regno ; e ainda pedem-nos em
Lixboa a meetade da fifa • porque diz que hy he
feita a venda , e os de Riba-Tejo a outra metade ,
porque dizem que alla he feita a entrega , e affy nos
levam afifa de vinte libras por moyo, e nom querem
defrontar as feis , que levam pola lmpoziçom ; nem
querem defcontar tres libras por cada moyo,que dam
aa Barca , que traz o dito fal aa Naao; nem querem
defcontar quarenta foldos , que dam ao moyador; ou-
tro fy aas molheres., que o deitaõ na Barca : pero efte
agravo foi moílrado a Alvar-o Gonçalves Veedor da
voífa Fazenda, e elle deu em refpoíla que viífe o vof-
fo Juiz os artigos , e os julgaífe pela guifa, que em
elles he contheudo, e o voffo Juiz diífe, que a!Ty en-
tendia os ditos artigos , como os Rendeiros deman-
davaõ, e que affy os julgava ; e aífy poderees enten-
der , Senhor, .q ue eíles Fidalgos, a que eílo foi feito,
e fazem em cada huú dia, nom lhes fica a terça par-
te de feus bens ; e a muitos dcíles, Senhor, achare-
des , que mais lhes levam , e levarem per eíla guifa,
do

(r) de Lisboa T. -------------.--


366 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA E NOVE

do que elles ham, nem averam da conthia, nem das


mercees, que lhes vós fazedes, fe Voffa Mercee nom
for de o temperar d'outra guifa: porque, Senhor, vos
pedem por mercee , que vos lembreis delles , ca elles
nom tem outro Procurador, nem outro Defenfor, ca.
bem fabedes vós > Senhor , que os Prelados dos vof-
fos Regnos, e effo medês os Povoos , e os Leterados ,
e os Privados todos fom contra elles.
Diz ELREY , que eíl:a Impofiçom foi poíl:a ao fal
por feito de Guerra , e que agora elle com feu Po-
voo por feito da dita Guerra lhes pos outra , e que
porem nom fe devem dello querellar , pois he poíl:a
por bem comunal.
32 ITEM. Senhor, bem fabedes como Gonçalo
Vaafques de Mello, e Affonfo Annes das Leyx, e to-
dollos outros Cavalleiros , e Efcudeíros moradores na
Cidade de Lixboa, e Termo della , xe vos querella-
rom huú dia , eíl:ando vós na dita Cidade nos voffos
Paaços, pode haver oito annos, e mais , dizendo-vos,
que elles paffaarom , e paffavam grandes penas, e
. grande mal, e grande defprezamento na dita Cida-
de , honde faõ vizinhos , e moradores , porque feus
Padres , e feu linhagem , e os outros , que ante elles
forom em tempo de voffo A voo, e de voffo Padre, e
de voffo Irmaaõ , que qualquer coufa , que cada huú
delles avia de mandar fazer em a dita Cidade por feu
ferviço, mandavaõ-na fazer per cada huú daquelles
Cavalleiros, ou Efcudeiros, que hy eraõ moradores,
por
Dos AR TIGos , Q!JE FORAM REQ!JER. , ETC. 367

par entenderem elles , que o faziam mui bem ; e que


outro fy em cada huu anno fempre efcolhiam tres
J uizes d 'antre os ditos Fidalgos , e outros tantos dos
Cidadaaõs, e o Fidalgo, que era Juiz do Civil , efta-
va em cada huu dia no Regimento da Cidade, e
quando vinha a Carta , ou Mandado d 'EIRey , ou
acontecia alguã coufa de novo , chamavaõ aquelles ,
que boõs eram , e demandavaõ-lhes Confelho pela
guifa , que mais era fervito d'ElRey, e prol da Cida-
de , e elles affi o faziam como boõs Naturaaes; e gue
ora elles de todo efto eram lançados em guifa , que
fe nom fazia Juiz d'antre elles , nem eftava nenhuú
delles no Regimento da dita Cidade ; nem outro fy ,
Senhor , vós nom mandaaes fazer nenhuã coufa per
os ditos Fidalgos , como quer que eíl:es , que agora
fom moradores na dita Cidade , entendem, que nom
merecem menos , do que mereciam os que ante elles
forom , nem outro fy nom haviam menos feito por
voífo ferviço, nem trabalharam menos por deffenfom
da dita Cidade quando foi cercada, que os outros,
que ante elles forom ; e vós , Senhor, déftes-lhes em
repofta , que mandariades chamar Rodrigo Efteves
vo{fo Corregedor, que entaõ era na dita Cidade , e
que lhe mandariades , que lhes guaràaífem todos feus
ufos, e cuftumes , e Foral, e que ufaífem pela guifa ,
que ufavam os Fidalgos , e Vaffallos, que ante elles
forom em tempo dos outros Reyx ; e efte mandado
houve muitos embargos pera fe nom comprir.
}TEM.
368 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA t NOVl

ITEM. Pos embargo o Juiz de Thomar, e outros,


que vieraõ d' Antre Tejo e Odiana , e os que vieraõ
do Algarve, e elles , Senhor, entendem , que taõ ex•
provados fom em voffo ferviço , como a prata , que
o Ourives mete no fogo, por veer fe he fina ; e que
nom aviades porque os defafforar; e demais, Senhor,
porque teendes aqui a Caía do Civil, honde eíl:am
muitos , e boõs Leterados, e o Corregedor, que eíl:á
por vós na dita Cidade, em que parece que bem tinha-
des , que caíl:igar em cada huú , fe erraffe em feu Offi-
cio : porque , Senhor , vos pedem por mercee , que
os nom privedes de feu Direito ; e eífo medês dizem ,
e fe querellam a vós os outros Fidalgos, que fom mo-
radores nas Cidades, e Villas dos voffos Regnos, hon-
de eíl:o acontecer.
A EsTo diz ElRey, que lhes nom pode refponder
ataa que falle com os homeés boõs da Cidade de Lix-
boa.
33 !TEM. Senhor, fazem faber aa Voífa Mercee,
que elles fom muito agravados, efpecialmente aquel-
les, que fom moradores na Cidade de Lixboa , e feu
Termo, porque lhes nom mandades dar Cartas pera
a dita Cidade, e Termo , per que lhes dem Azemees ,
e Pages , e fervidores pera voffo fen,iço, e do Regno :
porque , Senhor, vos pedem por mercee, que os nom
agravedes, mais que os igualedes com feus vizinhos.
ITEM. Senhor , bem fabedes , que quando erades
cercado em a voffa Cidade de Lixboa, e tomaíl:es prei-
to J
Dos ARTrcos, Q.YE FORAM REQgtR., E.Te. 369

to ., e menagem ao Conde Dom AI varo Peres , e aos


Cava-lleiros., e Efcudeiros ., e aos outros Fidalgos do
Regno, que fe no dito cêrco acertáram por voífo fer-
viço., que vos tornaraõ por Regedor, e Governador ,
e Defenfor dos ditos Regnos ., e vos fe1erom preito ,
e menagem ., que vos nom leixaffem por outro ne-
nhum Senhor; que polo dito Conde foi dito ., que vós
rnanteveffcdes os Fidalgos em feus boõs foros ., ufos .,
e cuílumes., e em fuas liberdades , e honras, que fem-
pre ouverom dos Reyx , que ante vós forom ., e vós ,
Senhor, por volfa mercee alfy o prometefies ao dito
Conde , e a todollos outros, que vos fezerom o dito
preito , e menagem ; e elles , Senhor , entendem , que
vollo guardaarom muy cem o dito preito, e menagem,
que vos affi fezerõ pella guifa, que vollo prorneteerom.,
e gua.rdaarôm daqui em diante : porque vos pedem .,
Senhor ., por mercee , que affy o façades vós a elles
pela guifa que lho vós prometteíl:es , e o elles mere-
cem.
A ESTO 01z EIRey, que o nom pode fazer., por
quanto prometteo ., e jurou aa Cidade de Lixboa,
que o nom fezeffe.
34 ITEM. Senhor, fazem faber aa Voífa Mercee.,
que dos vinhos de fuas Herdades , que vendem aos
Ingrezes , lcvaõ os voffos Sifeiros de cada huú tonel
quatorze livras ; e ainda nos avaliam os cafcos ., poílo
que fejam velhos, ou novos , e fazem-nos pagar outra
vez afifa delles., nom embargando a fifa ., que ja pa-
Liv. JJ. Aaa ga-
370 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA E NOVi:

gamos delles, quando os compramos aos Tanoeiros


afTy que nola fazem pagar duas vezes : e ao que di.
zem, que nom levam de nós mais que as fette livras,
e que as fete pagam os Mercadores , que aífy com.
praõ os ditos vinhos : Sabede, Senhor, que o contrai-
ro he, ca elles nom querem comprar, fenom que lhos
dem fora de todos cuílos, e affy pagamos nós todo;
no que, Senhor, recebemos grandes aggravos: porque
vos pedem , Senhor , por mercee, que os franqueedes
elles, efeus a veres pellaguifa que o foram em tempo
de voffo Avoo, e de vo(fo Padre, e lhes guardees fuas
honras , e liberdades pela guifa que os fempre ouve-
rom dos Reyx, que ante vós foram, e que o ouverom
os Fidalgos , que ante elles foram.
D1z ElRey, que por feito deíla Guerra, agora
com acordo do feu Povo pofe certo encarrego ao vi-
nho, pelo qual ceífa todo al, que foyam de pagar do
dito vinho : E ao gue dizem , que aos tone_cs , que
Jbos avaliam duas vezes : Diz ElRey , que tal he a
vallia das ditas fifas ; a faber, que avalliem as coufas
aa compra , e aa venda , cada vez que re fezer.
35 ITEM. Ao que lhe pedirom por mercee, que te-
nha fempre em feu Confelho dous,_ ou tres Fidalgos..
Diz ElRey, que elle fempre no tempo paífado os
teve; a Caber, o Conde Eflabre , e o Priol do Efpri.....
tal • e o Meefhe d' A viz, e AI varo Pereira, e Vafco
Martins de :t\1elloo , e Diego Lopes Pacheco , e Jo..
ham Fernandes feu filho j_ e que affy o entende fazer
daqui endiante. E
Dos ARTIGOS, Q!!E FORAM REQ.!!ER., ETC. 371
E DEPOIS dos ditos Artigos aiTy dados ao dito Se-
nhor Rey noífo Avoo pelos Fidalgos deftes Regnos,
paffado longo tempo, forom-lhe dados outros em a
Cidade d'Evora , aos quaees elle refpondeo per Con-
felho de fua Corte em efta forma, que fe fegue.

36 ITEM- Dizem , que os Corregedores tomam


conhecimento de todolos aggravos, que de fuas ter-
ras veem perante eífes Juízes, fazendo as partes vir
perante fi, e livram logo eiTes feitos per fenrença de-
finitiva, e dante elles veem logo aos Sobre-Juízes, e
Ouvidores d'E!Rey em tal guifa, que os Senhores das
Terras perdem as Appellaçooés , que a clles devem
d'hir.
A ESTo rerponde ElRey , e manda , que os Cor-
regedores nom tomem conhecimento de nehuús ag-
gra vos, Calvo das Sentenças Interlocutorias I que ham
força de definitivas, que fegundo Direito Cõmum, e
Leyx do Regno , as partes podem appellar ; e fe. a el-
les vierem taaes aggravos , eiTes Corregedores vejaõ
eífes aggravos, fe he lugar de appellaçom , ou nom ;
e fe lugar d'appellaçom for, pronunciem logo que he
a parte aggravada , e mandem ao Juiz, que dê a ap-
pellaçom pera os Ouvidores deffes Senhores das Ter-
ras , nom fazendo Cobre eílo proceiTo vir perante fy.
nem partes , nem tomar fobre ello ouLro conhecimen-
to; e fe virem, que nom he lugar d'appellaçom, pro-
nunciem logo que nom he aggravado, e diguam aas
Aaa 2 par-
372 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA E NOV&

partes, que fe vaaõ perante fcus J uizes feguir feu Di~


rei to.
37 hEM. Dizem mais, que os ditos Corregedo-
res daõ Cartas Citatorias per petiçooés , per que de
novo refpondaõ as partes perante elles , e conhecem
dos feitos ., e fazem andar perante fy as partes , gaf-
tando o que ham , e o que poderiam livrar os Juizes
de feu foro a menos cufio das partes , e biriam entom
as alçadas ante os Senhores das Terras, e delles peran-
te vos; e polo conhecimento, que filhaõ os Correge-
dores em fy, perdem os Senhores das Terras as alça-
das.
MANDA EIRey , que nom tomem taaes conheci..
mentos , fal vo das peffoas contheudas na Ordenaçom
antiga, que lhes foi dada, perque fe ouvdfem de re-
ger, e nom ufem do contraira; e fe o contraira feze-
rem, fejam certos, que elle lho eílranhará gravemen-
te como vir, que compre , e fcgundo a coufa for : e
fe elles virem , que ufaõ como nom devem , que to-
mem Efiromentos, e os enviem a EIRey, e elle tor~
nará a ello, fazendo pagar as cu fias aas partes, e a in-
juria aos Senhores, frgundo forem.
3 8 ITEM. Dizem que os Corregedores , quando
vaaõ pelas Terras , per conílrangirnento fazem abrir
os vinhos, e trazer os mantimentos ; e pooem em el-
les almotaçarias, pel1as quaes lhes daõ os ditos man-
timentos; e defendem aos Juízes, e Almotacees, que
pofio que os Senhores das Terras efio medes man-
dem
Dos ARTIGOS, QyE .FORAM REQ.lTER.-, ETC. 373

dem fazer quando cumprir , e mefter for, que lho


nom confentam.
Defende ElRey , que o naõ façam.
39 ITEM, Dizem ,que quando algús nas fuas Ter-
ras fazem maleficios, que tangem crime, que os Cor-
regedores lhes nom querem dar Cartas de fegurança,
fal vo que refpondam perante elles ; pola qual razom
os Senhores das Terras perdem fuas jurdiçooés.
MANDA ElRey, que as nom dem, falvo das pef-
foas, de que os Juizes nom ham de conhecer, fegun-
do he contheudo na Ordenaçom ; e que aas outras
peffoas dem Cartas de fegurança perante os Juizes
das Terras.
40 ITEM. Dizem, que fealguús males fom feitos
nas Terras, em que elles ham jurdiçom, fe per ven-
tura elles querem mandar prender os que forem em
os ditos males pelos Eílados, que os Corregedores
lhes defendem, que os norn mandem prender, nem
os Juízes per feu mandado.
MANDA E!Rey , que os feus Ouvidores os poffaõ
prender , quando forem achados nos maleficios , ou
quando forem requeridos pelos Juizes, que prenciam
alguãs peffoas poderofas , que os ditos Juízes nom
poffaõ prender, com ramo que os entreguem logo
aos Juízes pera delles fazerem direito ; e fe forem
taaes peífoas , de que os Juízes nom poffaõ fazer di-
rt~ito, que os entreguem aos Corregedores : e os ditos
Ouvido.res nom tornem deíl:es feitos novamente co-
nhecimento. 41 ITEM.•
374 LrvRo SEGUNDO TITULO CrNCOENTA E NOVE

4r ITEM. Dizem, que os Corregedores devem


d'andar pelas Comarcas, e Lugares per vezes, e tem-
pos certos do anno, e ora affeentan-fe nas Comarcas
em aguelles Lugares, que lhes mais praz , e dlaõ em
e1Ies per efpaço de dous , e tres mezes , e mais , pola
qual rawm os Lugares , em que affy eíl:aõ, fom da-
pnados por aazo da dita eíl:ada, e aos outros Lugares
da dita Comarca fegue-xe-lhes dapno , por nom an..
darem per elles como, e quando compria por aazo
da dita eíl:ada.
MANDA EIRey, que os Corregedores entrem nas
ditas Terras , porque affy fe deve fazer pera eílra-
nhar , e correger os males , que fe fizerem; e manda
aos ditos Corregedores , que nos Lugares pequenos
eílem athe cinquo dias, e fe lhes mais comprir por
bem dos ditos feitos , poffaõ hi eftar ataa oito dias; e
em os Lugares grandes poffam eílar oito dias , e fe
muito necefTario for eíl:ar hi mais, por correger mi ..
lhor a Terra , poflaõ hi eílar ataa quinze dias, e mais
nam, falvo fe hi eíl:iverem por mandado d'ElRey por
fazer algumas coufas per feu mandado , ou per ne..
cellidade d'alguma door , porque em taaes cafos co..
mo eíl:es nom fe pode poer lirnitaçom; e por outra
coufa nom eílern hi mais em nenhúa guifa; e fazendo
o contraira , tomem Eílromentos , e enviem-nos a
E!Rey pera lho eílranhar.
42 ITEM. Dizem, que as Terras, que de vós teern
de juro , e d'herdade que lhes fom dadas com todo-
los
Dos ARTIGOS, Q.yE FORAM REQVER,, ~Te. 37 5

los direitos Reaaes, que vós em ellas aviades; e ago-


ra novamente fazedes mercee a alguns Lugares , que
nom paguem portagem per todo voífo Regno, e Se-
nhorio; pola qual ra:zom lhes hides contra a doaçom,
que lhes a vedes feita.
D1z ElRey, que fe alguum Privilegio, defpois
das doaçooés , deíl:o deu, manda que fe nom entenda
no que ja dado tinha, e lhe paguem fuas portageés;
ca os que dantes eram efcufados , devem-no de feer.
43 ITEM, Dizem , que alguús Corregedores , e
Juíl:iças voffas, que fem querelas dadas , e juradas , e
teíl:emunhas nomeadas , a dizer d'alguús , que lhes
nõ querem bem , riraõ lnquiriçeoés devaífas em ef-
pecial fobre elles , e fobre feus Officiaes , e per ellas
os enfamam , e lhes fazem grande dãpno, e injurias,
e guaftam o que ham em fe livrar daquela , de que
fom acufados , e quando per direito de taaes coufas
fom efcufados , nom ham dello nenhúa emmenda ;
pela qual razom recebem mui grande aggravo, tiran ..
do-fe taaes Inquiriçeeés fobre elles em efpecial.
MANDA ElRey, que nem enqueiraõ fobre elles.
devaífamente, falvo em aquelles cafos, que fom con-
theudos na Ordenaçem d'ElRey Dom Affonfo palas
malfeitorias, fegundo he centheudo na Ley d'ElRey
D. Fernando, e fc fempre aífy cuíl:umou ; e porque
fe alguús delles differem o que nom devem , que as
juíl:iças os pugnaõ como acharem , que he direito,
nom provando o que ailim diíferem.
44 ln:M.
376 LIVRO SEGUNDO TITULO CINCOENTA E NOVE

44 I TtM. Dizem , que fe alguum Fidalgo alle..


ga , que alguma quintaã fua he honrada , fe a nom
acham efcripta em ho voífo livro por honrada, que
lha devaífaõ , e mandam devalfar ; e fe per ventura
he achada no livro por honrada, pedem-vos Carta de
retificaçom, que lhes feja guardada fua honra , como
fe contem no livro, e nom lha que redes mandar dar,
o que lhe nom <levedes negar.
SEMPRl. as ElRey mandou dar, e manda que

lhas dem.
45 Os QY AAES artigos viíl:os, e examinados per
nós com os dczembargos a elles dados , achámos per
confelho da Nofla Corte, que eraó bem defembarga ..
dos: porem mandamos, que fe cumpram, e guar..
dem , aífy como nos ditos defembargos he contheu..
do, em quanto fe nom moíl:rarem fecr revogados per
alguãs Ordenaçooés novamente feitas, ou per outros
artigos defpois feitos , e dezembargados en contrai..
ro.

TI..
DAS MALFEITORIA S, QJJE OS FIDALGOS, ETC. 377

TITUL O LX.
Das malfeitorias , que os Fidalgos , e pdfoas poderofas
fazem pelas '1erras, hu andam.

E LREY Dom Fernando em feu tempo fez huma


Ley ácerca dos Fidalgos, e Cavalleiros, e pef-
foas poderofas, que pelas Terras , honde andaõ, ou
eíl:aõ , fazem malfeitorias , ou tomadias como nom
devem; da qual Ley o theor he eíle, que fe adiante
fegue.
1 PoRQJJI!: a Jufüça he fobre todollos beés , e he
virtude mais alta , e mais proveitofa , e mui necelfa-
ria a todallas coufas , e fem ella nenhúa obra nom he
de louvar; e fegundo diíferom alguús fabedores , foi
achada pera ajuda , e defenfom, e efpecialrnente dos
pequenos menos poderofos que os maiores, e podero-
fos ; e affy pela Ley de DEOS , como pela Ley dos
homeés he cõmetida , e encomendad a aos Reyx , e a
elles he mais propria,que a outro nenhuu,pera guar-
dar, e defender cada huú no feu, e nom leixar, nem
confentir a nenhuú de fazer obra de poderio , nem
prema contra os feus fobjeitos : e fegundo authorida-
de do fabedor Salamom, e outros muitos Santos , o
Rey, que o confente, ou leixa paffar fem efcarmen-
to, e fem pena, ferá avudo por quebrantado r, e def-
preçador da Ley de DEOS , cujo logo tem ; e nom
Liv. IL Bbb que-
378 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA

querendo ufar de jufiiça, de que ufar deve, pera lou-


var os boõs, e juíl:os, e penar os malfeitores , mere-
ceria de perder o nome , e Eíl:ado de Rey : e fegundo
outro fy o dito de Ariíl:oteles, feriaõ menos prezados
dos homeés, e condãpnados na Ley de DEOS: e ain-
da , fegundo differom os Santos Doutores da nofTa
Sanél:a Fe Catolica, affy como antre os homeés DEOS
fez mais alto o Rey, e lhe deu maior Eíl:ado , aífy
ante DEOS nas penas do outro mundo , fe juíl:iça
nom fizer, ou fe leixar de a fa1er, elle teera o princi-
pal logo : e porem na obra deíl:a juíl:iça os homens
boos, e grandes do Regno, como braços de Rey, de-
vem a elle feer ajudadores.
2 HoNDE, e como nós Dom Fernando pelagra-
ça de DEOS Rcy de Purtugal , e do Algarve , nom
tam feiamente pola fama, mais pola verdadeira en-
forrnaçom fejamos certo , e feja notorio per todalas
partes de noífos Regnos , que alguús dos maiores, e
mais poderofos, e mais honrados defies Regnos nom
efguardando , nem teendo mentes ao noffo Eíl:ado, e
ao poder, que nos per DEOS he dado em eíl:e Re-
gno, e como fomos thcudo de fazer jufüça aos Po-
voos noffos fobgeitos , e defende-los daquelles, que
lhes mal , ou dãpno fezerem , e como da obra , que
em efia razom fezermos , avemos de refponder ante
aquelle , que he Rey, e Príncipe de todolos Reyx,
que nos posem feu logo pera cumprir direito, e juf-
tiça em eíl:e Regno , metern-fe a andar pelas Terras ,
e
DAS MALFEITORIAS, Q.yE OS FIDALGOS, 'RTC. 379

e Lugares deffe Regno com muitas companhas de


beíl:as , e de pee , e pera comerem elles , e f uas
beíl:as filham aos Lavradores , e a outras peffoas 0
pam, e cevadas, que reem pera feu mantimento, e
pera [ementes de fuas herdades ; e lhes matam os
bois, e vacas, que tem pera fuas lavouras, e lhas co-
mem ; e levaõ todalas outras coufas, que lhes acham,
contra fuas vontades delles ; e per fua voonrade del-
les filham algumas , creendo que lhes darom por ellas
o que vallercm , e nom lhes pagaõ por ellas dinhei-
ro, nem lhe daõ penhor pelos preços dellas, affy co-
rno devem , fegundo as Ordenaçooens dos nofios Re-
gnos ; e a delles daõ Al varaaes per razom das coufas.,
e viandas , que lhes affy filham, pelos quaees Alva-
raaes nom podem haver cobro , nem paga do feu : e
que eíl:o fazem nas Terras , e Lugares , que lhes per
nos fam dadas pera fe manteerem , como nas outras
noffas , das Igrejas, e das Ordeens , que fom theudos
a defender.
3 E QYE outro fy alguús dos fobreditos com feus
Efcudeiros, e com fua companha, e outros, que fe
ajuntam com elles em nome de monteiros, vaaõ a
correr montes fora dos Lugares, e Terras, que reem,
ou lhes per nós fom dadas , moftrando aos morado-
res , hu affy querem correr monte , que o fazem por
prol delles , matando os porcos montezes , que dizem
que lhes fazem dãpno nos paaés , e vinhas , e puma-
res, e affentaõ-fe em effes Lugares a comer, e filham
Bbb 2 aos
380 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA

aos Lavradores o que lhes acham contra fuas vonta..


des : e outro fy os caaés , que teem pera guarda de
feus gaados , e de fuas coufas, e caías, em que lhes fa_
zem muy moor dãpno , que todollos porcos monte-
zes, que affy mataõ , e que matar podiam.
4 PoR eftas razooés , e polas outras fofo ditas os
moradores cm noífa Terra nom podem aver per que
mantenha.ó fi , nem íuas lavoiras , nem aproveitar
fuas herdades , per que fe ham de manteer; nem po..
dem a nos fazer ferviço, quando nos compre, nem
pagar a nos , nem a outros Senhores das herdades os
direitos, e tributos, que delles avemos d'aver pera
mantimento de noffo Eftado; e a noffa Terra he pof-
ta em grã mingua ,. e em mui grande cariíl:ia ; e as
gentes de noífo Senhorio nom fem rafom fom de nos
rnuy efcandalizados pelas obras fufo ditas , de que af..
fy ufaõ os grandes, e poderofos ; e fazem o noffo Ef.
tado feer defamado , e defprezado polo nom corre-
germos, aífy como nos pertcence, e fegµndo o en..
carrego, que a nós per DEOS defto he dado; cm que
fc moíl:ra , que eífes poderofos nom obraõ por guar..
damente de noífa honra , e de noíTo Eftado , affy co-
mo fiees amigos , que nos devem feer, mais affy co-
rno cm Terra d'alguús outros, que tiveffem por feus
imigos, dãpnando, e efiroindo a noffa Terra, que fom
theudos de guardar, e defender ; nem receando a fa ..
nha de DEOS, de que efcapar nom podemos , fe a
efio nom tornarmos, e hy nom pofermos alguu re-
me-
DAS MALFEITORIAS, Q!JE OS FIDALGOS, ETC. 381

medio , e o nom corregermos polo Eíl:ado , e poder,


que nos per elle he dado em efte Regno, pera obrar-
mos deli e contra os poderofos , e grandes , que de fy
obram como nom devem, com alguús grandes efcar-
mentos , e penas grandes de jufiiça; e porque ufaõ
dos ditos dãpnos, e malicias, que duram ja per tem-
po , pero feria caro de lei:xar aos que o fazem , por-
que cm filhar o alheo teem que efcufam por ello cuf-
ta, e defpeza do feu aver, nom poderia ja feer veda-
do , nem receado, fenom per penas, e tormentos mui
grandes.
5 PoREM eíl:abelecemos , ordenamos , e manda-
mos, que nenhuú , de qualquer eíl:ado e condiçom
que feja, nom mande filhar, nem filhe aos Lavrado-
res , nem a outras quaaefquer peífoas dos noífos Re-
gnos , pam , nem vinho , nem galinhas , nem aves ,
nem outras carnes, nem pefcados , nem outras vian-
das, que tenham , nem outras nenhuãs coufas , que
tenham, contra vontade deffes , cujas fom ; e fe per
ventura cada huú deífes poderofos fobreditos ,. ou de
Eíl:ado honrado, chegar, ou poufar per alguú lugar,
hu nom podeífe efcufar d'aver viandas pera feu man-
timento , e as nom pode achar a vender por dinhei-
ro , requeira, ou faça requerer aa Jufüça, ou ao jura..
do deífe lugar, ou deífa Terra, que lhas faça dar por
feus dinheiros a aq_uelles, que as tiverem, ou affy co-
mo valem communalmente, fegundo o eíl:ado da ter-
ra,. aaquelles, que as reverem pera vender, affim co-
mo
382 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA

mofe contem, e he mandado nas Ordenaçooés dos


noífos Regnos , que fobre eíl:o fom poftas; e pagando
logo os dinheiros por cllas , ou poendo penhores taaes
pelos preços deífas coufas, que a bem de vifta da juf-
tiça , ou dos Officiaaes jurados, que pera efto forem
poftos, valham ho dobro.
6 E A TODO tempo , que per eífes penhores forem
tirados, fejaõ pagados os dinheiros, porque forom lan-
çados, atee nove dias ao mais; e nom os tirando, nem
pagando ataa eífe dia, como dito he , que e!fes penho-
res fejam logo vendidos , e rematados a tres dias de-
pois , a quem por elles mais der , fem feendo mais fei-
ta citaçom, nem fronta nenhuã, nem outro requeri-
mento aa parte , cujos fom , e que os deitou ; e dos
dinheiros , porque forom vendidos , feja feita paga ,
e entrega a eífes , a que forem devudos com as cuíl:as ,
e perdas , e dãpnos , que forem feitas fobre efto ; e o
mais, que fobejar, feja guardado em poder de juíl:i-
ça do lugar, pera o entregar aaquellc, cujo for: e fe me-
nos valerem effes penhores , que affy forem dados , e
furem eíl:imados per effas juíliças , paguem o que del-
les minguar de fuas cafas e!fes jurados, e juíl:iças ,
que os affy * firmarem (a)* •
7 E MANDAMOS que qualquer, de qualquer eíl:a..
do e condiçom que for , que fezer contra efto o que
nom deve, que per nós aqui he hordenado, e deféfo,
filhando , ou mandando filhar , ou confentindo , que
fi-
(.1) cft.i~----,- ----•----
DAS MALFEITORrAS, QJ.iE OS FIDALGOS, ETC. 383
filhem alguãs das coufas fufo ditas per força , ou per
fua authoridade fem mandado de juíl:iça, ou de jura-
do , ou official , a que efio perteencer, pofio que pa-
gue dinheiros , ou ponha penhor , ou que dê AI vara
polo que filharern , ou confentir , que filhe qualquer
de fua companhia, e ainda que fcja no!To Vaífallo,
ou noífo morador, ou familiar dos Iffantes , ou de Con-
des , ou de ricos homeés ; e poíl:o que o façam , ou fi-
lhem per mandado de cada huú delles, que pala pri-
meira vez pague o que aífy filhar , ou mandar filhar,
ou confentir que o filhem , em trefdobro ; e pala fe-
gunda vez, que o pague em feis dobro ; e pala tercei-
ra vez moira porem.
8 E SE as ditas coufas , e cada huã dellas forem
:filhadas per vontade daquelles , cujas forem , ou per
authoridade de juíl:iça, ou daquelle , que rever officio
pera cíl:o , e nom for logo pagado o preço, e valor dei-
las , ou poíl:o penhor na maneira ,, que dito he , pague
o que aífy filhou, e recebeo , ou mandou filhar, ou
confentio , que foífem filhar, ou receber , em trefdo-
bro pala primeira vez ; e pala fegunda vez pague o
feis dobro ; e pala terceira vez , e de hy em diante ho
nove dobro, e perca os maravedis, e tença , que
de nos , ou d'outrem houver; e fe beés nom ouver,
nem teença de nós , ou d'outrem nom rever , per que
poífa pagar , fe for Fidalgo, ou pefloa honrada , ou for
de linhajem honrado, feja deíl:errado pera fernprc dos
no!fos Regnos ; e fe nom for Fidalgo , ou peífoa hon--
ra-
3 84 LIVR.O SEGUNDO TITULO SESSENTA

rada , nem Cidadaaõ , nem filho , ou neto de Cida-


daaõ honrado , e for outra vil peffoa , ou de menor
condiçom, feja açoutado publicamente com pregom.
9 E PER efta Ley , que fofo eftabelecemos , nom
entendemos tolher aos Fidalgos, nem lhes embargar
d'aver, e filharem nos lugares de fuas maladias, e
nas Comarcas, de que fe fempre affy ufou , e cuíl:u-
mou, de elles, e os de que elles decendem d'antiga~
mente, e fem outra torva, e embargo filharem, e
mandarem filhar os carneiros , e as outras viandas ,,
quando as ouverem meíl:er pera feu mantimento,
fem outro embargo, e dãpno, e fem outro mal fa-
zer ; pagando logo o preço dellas em dinheiro , ou
poendo penhor por ellas , que valha o dobro do pre-
ço, que por ellas devam de dar, por effas coufas, que
affy filharem, ou mandarem filhar ; guardando o que
em efta razom foi mandado, e hordenado pelos Reyx,
que ante nós forom , ou pelos Meirinhos , e Correge-
dores , que por nós , ou por elles andarem em effas
Comarcas ; e em outra guifa paffando effes Fidalgos
cfto, ou nom ho querendo affy guardar, ou nom pa-
gando , ou nom pocndo penhor polo que aíly filha-
rem , hajam a pena fufo dita, que per nós he poíl:a
a aquelles , que as coufas filham per authoridade de
juíliça, e por ellas nom damos dinheiros, nem pooem
o penhor na maneira, que em eíl:e cafo a vemos dito.
10 E Q1JANTo he ao que tanje aas peffoas dos
lfantes, feendo achados em culpa deíl:o, que dito he
de
DAs MALFEITORIAS, QlJE os FIDALGOS, ETC. 38 5
de fofo , e hordenado , e defefo, nos lho eflranhare-
mos pela guifa, que entendermos que a nós cabe po-
lo Eílado, que teemos , fegundo a condíçom de feu
Eftado em tal guifa , que feja exernpro a outros •
que fam de menor condiçam , e eíl:ado.
Ir E NO que tange outro fy aas peffoas de cada
huú dos ditos Condes, e Almirante, e riquos homeés,
feendo em culpa d'alguús dâpnos, ou malfeitorias
das fobreditas , mandamos, e eíl:abelecemos, que pala
primeira vez por qualquer coufa, que feja filhada per
qualquer de fua çompanha per fru confentimento, de
dez libras acimà contra a noffa defefa , e Hordena-
çom , fe nom pola maneira fufo dita , que pala pri-
meira vez percam as quitaçooés , que de nós reem, e
paguem o íeis dobro do que affy for filhado , e deíl-o
aja a parte, que acufar, por o filhado, ou dâpno, que
lhe for feito, o preço deffa coufa ,_ que lhe for filha-
da , e a eíl:imaçom do dãpno , que lhe for feito , e o
mais feja pera nós ; e fe o dãpno, ou malfeitoria for
de dez libras a fundo, pague o nove dobro, de que
aja a parte o feu direito, e o mais feja pera nós , mas
nom aja porem outra pena : e pola fegunda vez per-
caõ as Terras, e Lugares, que de nós reverem , e ou-
verem, per qualquer guifa, e titulo, que as tenham ;
e os outros feus beés proprios , que ouverem, fejam
tomados, e apricados aa Coroa do Regno de tama-
nha conthia, quer fejam effas coufas pequenas, quer
liv. II. Ccc gran-
386 LIVRO SEGUNDO TITULO SiUENTA

grandes: e pola terceira vez fejaõ deíl:errados dos no{..


fos Regnos pera fempre.
12 OuTRO SY eíl:abelecemos , e hordenamos , e
mandamos , e defendemos, que nenhuú de qualquer
Eíl:ado 1 e condiçom que feja , poíl:o que feja Ifante,
Conde, ou rico-homem , nom corra monte fora das
Terras , e Lugares, que teem de feus patrimonios ,
ou de fuas herdades, ou que lhes fom dadas per nós,
nem coimam, nem façam * affientamento (a) * quan-
do affy forem a correr monte pera comer , nem pera.
filhar nehúa coufa ; e em outros lugares fora dãs fuas
Terras,. e fous Lugares , nom filhem aos Lavradores
nenhúa coufa ; nem outro fy os caaés , que teverem ;
e fe acontecer que en correndo monte , feguindo f ua
montaria, fayaõ fora dos termos das ditas fuas. Ter..
fas , e feus Lugares ,. façaõ per tal guifa, que fe tor-
nem a comer, e filhar feu mantimento a effes Luga-
res , e Terras , ou quintaãs , que teverem • . E fe eíl:o
paffarem , ou contra ello forem , ajam as penas, que
per nós forn pofias a aquelles , que contra noffa defe-
fa , ou nos Lugares per nós defefos correm monte ,
ou rnataó porcos > ou veados. E por efio nom tolhe-
mos , que os Lavradores nom poífaõ matar effes vea ..
dos., cada huús em fuas Comarcas , ou feus Ju)ga,..
dos, hu per nós nom foro coutados, nem defefos,. que
os nom matem.

--------------
{.a) cfu:agame1J,.to S.
13 Ou-
DAS M.ALFEITORIAS, Q!JE OS FIDALGOS, ETC. 387

13 ÜuTRO sv porque, fegundo differom os Direi-


tos, e concordaarom, affy da Ley Natural, como da
Ley Civil, em maior culpa, e em maior dãpno, e er-
ro caae o que ernpara, e o que defende o malfeitor,
e a maior pena he obrigado que eífe malfeitor ; po-
rem mandamos, e eflabelecemos, que nenhuú Fidal-
go, nem outro nenhuú homem, de qualquer Eíl:ado
e condiçom que feja, que no feu poderio defender
qualquer dos que alguú dãpno , e malfeitoria feze-
rem , nos feus beés, ou forem contra eíl:o , que per
nós he hordenado , ou embargarem de fe nom com-
prir o que per nós he mandado , e lhes nom feer da-
da a pena per nós eíl:abelecida , que logo per eífe pri-
meiro feito pola primeira vez perca a conthia , que
de nós tiver per qualquer guifa; e pela fegunda vez
perca todallas terras , e jurdiçooés per qualquer gui-
fa , e per qualquer titulo , e todolos outros beés pro-
prios, que ouver, e feja todo apricado aa Coroa do
noifo Regno ; e pola terceira vez feja deflerrado de
todo noífo Senhorio.
14 E ESTAS penas fofo ditas, e declaradas quere-
mos, e mandamos que ajam lugar, e fc guardem
contra aquelles, que eíl:a noílà Ordenaçom , e dcfefa
paífarem, ou contra ella forem, dês o dia, que forem
publicadas na noffa Corte, e hu nós formos, a trinta
dias, que cada huú pode faber.
I 5 E Q.17 ANTO he polas forças , e dapnos , e mal-
feitorias , e filhadas do tempo paffado , mandamos ,
Ccc 2 que
388 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA

que fejarn corregidas , e emmendadas com as penas


em tresdobro, e feisro , e nove <lobro pela razom , e
maneira, que dito he, fem outra mayor , nem mais
grave; e dcílas conchias fufo ditas a parte, a que per-
teencer , feja entregue do caimbo , e preço da coufa,
que lhe foi, ou for filhada , e as outras partes fejaõ
pera nós , corno dito he , pera as mandarmos dar , e
defpender hu noffa rnerce for ; e fejam logo recada-
das , e recebidas per aquelles, a que nós mandarmos
pera correger os ditos dãpnos , e malfeitorias. E efio
mandamos fazer, porque avemos per enformaçom,
que effes , a que as coufas fom filhadas , fazem quita-
çom aas vezes per rogo, aas vezes com prema, e me-
do, que ham daquelles, que as ham de pagar.
16 E PORQ!JE a vemos certa enformaçorn, e noffa
creença teemos, que dos dãpnos , e malfeitorias, que
ataaqui fororn feitas pelas partes dos ditos noffos Re-
gnos , que nom fom efcufados de culpa , bonde mui
grande negrigencia ham, os noffos Meirinhos, e Cor-
regedores, que per nós fom poíl:os em cada hua Co-
marca dos ditos noffos Regnos, affinadamente pera
gardarem as Terras, e os Povoos dei las de nom rece-
berem dãpnos , e mal feitorias dos poderofos, e as nom
gardaarom , nem fezerom fazer émenda , nem corre..
girnento , nem direito deffes poderofos aaqueles , a
que os dãpnos , e malfeitorias forem feitas ; e aífy
fom theudos a nós, e aos noffos Povoes, e aos noífos
naturaaes polos dãpnos, e males que receberom, e
lhes
DAS MALFEITORIAS, Q!lE OS FIDALGOS, ETC. J 89

lhes nom forom corregidos per mingua, ou culpa


deífes Meirinhos, ou ·corregedores.
17 PoREM eíl:abelecemos , e mandamos, que to-
dolos dapnos, e malfeitorias, e forças. que for achado
que fe fezerom per quaeefquer do noffo Senhorio em
cada huã das ditas Comarcas dês o tempo que elles
entrarom por Meirinhos , e Corregedores cm effas
Comarcas, que nom forom corregidas , nem emmen-
dadas, aíly como deviaõ em todo, ou cm parte, que
fejam corregidas , e emmendadas pelos beês deffes
Corregedores • ou Meirinhos• fe o fouberom. ou lhes
foi demandado per alguem , ou dado em efiado ; e
poílo que o nom foubeífem • falvo fe mandarem dar
pregom por razom deffes males • ou malfeitorias, e
fezerom quanto perteencia a feu Officio pera as faber J
e correger.
1 8 E Esso meefmo queremos, e mandamos que
fe faça dos males , dapnos, e forças. e malfeitorias,
que fe daqui em diante fezerem em cada huúa das
ditas Comarcas per quaefquer ,. e de qualquer eíl:ado >
e candiçom que fejam, fe logo per effes Meirinhos >
e Corregedores nom forem emmendadas • e corregi-
das , fe o elfes foubcrem • ou fe lhes for demandado ,
ou denunciado , e o nom fezerem correger, como di-
to he, ou nom fezerem quanto deviam , e lhes per-
tencia pera ferem corregidas como dito heª
19 E PERA fe eílo milhor poer em obra , enten-
demos J DEOS querendo em cada huú anno per
l,

ca-
390 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA

cada húa Comarca mandar faber , e enqucrer os dã-


pnos, e forças, e malfeitorias , que fe ataaqui feze ..
rom, e daqui em diante fezerem, e de que nom he
feita emmenda, nem corregimento , nem foi, per al ..
guús da noffa merce taaes , que faibam, e poffaõ fa-
zer, e poer efto, que per nos he mandado, em obra,
e exccuçom na parte dos ditos Meirinhos, e Corre-
gedores, corno compre a ferviço de DEOS, e a noffo
Eíl:ado perteencer.
2o A QY A L Ley vi íl:a per nos , 1ou vamos, e con.
firmamos como em ella he contheudo quanto he aas
penas do trefdobro , ou feis dobro , ou anoveado. E
porque as outras penas de morte , e deíl:erros, e pri-
vaçaõ dos beés, teenças, e conthias avemos por muy
graves nos cafos , em que taaes penas fom poftas em
eíl:a Ley , fique a nos reguardado pera lhe dar-mos
aquellas penas , que nos bem parecer, e que fe reque..
rer aa grandeza, e graveza dos erros que fezerem.

TITULO LXI.
ftue os Fidalgos , e Cavalleiros nõ }ilhem na Cor/e
galinhas, nem outras aves contra vontade
de feus donos.

ANTIGAMENTE foi ordenado pelos Reyx, que an ..


te nós forom, que nenhuús Fidalgos , nem Ca-
valleiros , nem outros alguús Senhores de qualquer
Ef-
<lEE os FIDALGOS, ECAVALLEIROS, ETC. 391
Eílado , e condiçom, e prirninencia que fejam , nom
filhaífem na Corte galinhas , nem frangoos , nem pa-
tos, nem adees, nem outras alguãs aves, de qualquer
qualidade que fejam, contta voomade de feus donos,
falvo avindo-fe com ellcs no preço, o qual lhes logo
pagaffem ao tempo, que fe com elles avidfem; e fe
o contrairo fazer quizeífem , que lhes nom foffe con-
fentido. E nos a!fy o mandamos ainda agora , que fe
compra , e guarde como antigamente foi ordenado.
E nom as achando, ou nom as podendo a ver per gra-
do de feu dono, entom requeiram ás Juftiças da Ter-
ra , ás quaees mandamos , que lhas façaõ dar aquel-
las, que rneíler ou verem, polo preço , que a effe tem-
po igualmente valerem na Terra, o qual lhe façam
logo pagar fem outra alguma perlonga.
1 E QYANTO he aos galinheiros noffos, e da Ray-
nha minha molher, e Ifances, mandamos que as pof-
faõ filhar nos noífos Regueengos , aquellas , que a
nós , e a elles forem neceffarias , e paguem por ellas ,
affy como nós ordenamos, que fe paguem cm aquel-
la Comarca , honde forem filhadas ; e bem aífy man-
damos, que as filhcm fora dos ditos Regueengos, nom
as achando, e podendo-as a ver com grado de feus do-
nos, polo dito preço per nós ordenado, o qual manda-
mos , que lho paguem logo ao tempo, que lhas aífy
filharem.
392 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA E DOIS

T I T U L O LXII.
ftue os Cavalleiros , r Fidalgos, e outras pdfoas Pode-
refas nom filhem beftas defella , nem d' albarda
Jem grado de Jeus donos.

E LREv Dom Donis efiabeleceo, e fez Ordenaçom,


entendendo-o por ferviço de DEOS , porque fc
faziam em efies Regnos muitos males , perdas , e dã-
pnos , e contendas per razõ das befias , que tomavam
os Riquos homeés , e Ca\lalleiros , e outros homeés
da Terra, por efiranhar o gram dãpno,que fe ao dian-
te poderia feguir, em que mandou , e defendeo, que
Conde , ou Rico homem , ou lnfançom , nem Caval-
leiro , nem Arcebifpo, nem Bifpo, nem outro Lei-
go , nem Clerigo nõ toma-ffe , nem manda ífe tomar
nenhuma befia de fella, nem azemalla, nê outra qual-
quer beíla de carrego fem grado de feu dono.
1 E SE alguus dos fobreditos as mefter ouveífem,
que as demandaífem aas Jufiiças dos Lugares , e que
elks lhas mandaífem dar, aquellas , que razoadamen-
te meíl:er ouveffem , dando-lhes das befias da almo-
crevaria, que andaífern a gaanho, e nom lhes dando
azemala d'alguú homem boo, a faber, Cidadaaõ, ou
Vaífallo, ou Aconthiado em cavallo, ou beefteiro de
cavallo, ou beefieiro do conto, falvo fe cada huú del-
les trouxefie fuas beílas a gaanho, ca em tal cafo nom
de-
~E os CAVALU:IROS, E FIDALGOS, ETC. 393

deve fua befia feer efcufada : e aquelles , a que as di ...


tas beftas forem entregues , deffem certo recado , per
que os donos das ditas beílas nõ recebefTem perda ,
ou dãpno per fua culpa delles , e per que outro fy
ouveffem feus alugueres affy , e pela guifa , que os
ElRey manda dar em fua Cafa.
2 E MANDOU, e defendeo a todalas Jufiiças de
feus Regnos ,que nom fofreffem a nenhuú dos fobre-
dicos , que tomaffem beíl:as alguãs fenom como dito
he ; e fe alguú tomaffe befia contra vontade de feu
dono , que as Jufiiças lhe tomaffem todalas coufas,
que lhes achaffem , e per ellas entregaffem logo fem
outra contenda a feu dono da befia todalas coufas ,
que lhe affy tomarem , affy beíl:as , como carregas ,
como todalas outras coufas, corregendo-lhe o dãpno,
que por efia razom ouveffe recebido, com outro tanto
do feu, quanto as ditas befias, e coufas affy filhadas,
e embargada_s , e dãpno aíiy recebido valleffe ; e que
os Juizes tomaffem pera ElRey outro tanto do aver
daquelle, que a beíl:a tomou, ou mandou tomar, e
entregando logo a fcu Almuxarife todo, ou aaquelle,
que por elle receber os direitos em eífa Terra , efcre-
pvendo-fe todo per Tabelliam publico, pera defpois
ao diante vir a boa recadaçom.
3 E SE per ventura as Juíl:iças da terra, bonde
cíl:o aconteceífe , nom podeffem todo ello affy com-
prir por razom d'alguús poderofos, que o enviaffem
affy dizer a ElRey com toda a verdade , que deffe
Liv. ll Ddd fei-
394 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA r DOIS

feito podeffem faber , e com feello deffe Concelho , e


final de Tabelliam em tal guifa , que toda a verdade
pudetfe feer fabuda, mandando aos Tabelliaaés doo
Lugares, que Ieeffem a dita Ordenaçom aos Juízes
das Terras, em cada domaã huã vez ataa huú anno
comprido, e a regiíl:affem em feus livros por tal, que
ao depois cada huú delks com razam nom podeífe
allegar ignorancia.
4 A Q1TAL Ley viíl:a, e examinada per nós, acor..
dámos com acordo da noffa Corte, que fe cumpra, e
guarde atfy daqui em diante , fentindo-o aífy por fer-
viço de DEOS , e proveito de noffos Regnos.

T I T U L O LXIII.

De como devem efar das Jurdiçoés os Fidalgos, ou


aquelles, a que peloJ Reyx Jom ou/rogadas
alguãs '!'erras.

E LREY Dom Fernando em feu tempo fez huma


Ley de como os Fidalgos devem ufar das jurdi-
çooés nas Terras, que teem da Coroa do Regno, da
qual Ley o theor tal he.
1 EM nome de DEOS ,.que todalas coufas creou,
e eíl:abeleceo cada huã em feu graao. ~ando Noffo
Senhor DEOS fez as creaturas aífy as rafoavees, co-
mo aquellas, que carecem de razom, nom quis que
to-
DE COMO DEVEM USAR DAS JuRor ç., ETC. 395

todas foífem iguaaes , mais eftabeleceo , e ordenou


cada huã em fua virtud e, e poder io, departindo-as
fegund o o graao , em que as pos: e bem aífy os Reyx,
que em logo de DEOS em a terra farn póíl:os, em as
obras , que de fazer ham de graças , ou de mercees ,
devem feguir o exemp lo do que elle fez, e ordeno u,
dando , e defiribuindo nom a todos per huã guifa,
mais a €ada huú aparta damen te , fegundo o graao ,
condi çõ, e eilado , de que for.
2 PoREM como per nos Dom Fernan do pe1a gra-
ça de DEOS Rey de Purtug al, e do Algarve, per nof-
fo Padre , e per noífo A voo , querendo fazer graça, e
merce a alguãs peífoas noífas naturaaes , e de noffo
divido , a dellas por acrcfcentamento de honra de nof-
fos Regno s, e a outras per merec imento s, e grandes
fcrviços , que fezerom a nós, e aos Reyx, que ante
nós forom , e por outras razooés aguifa das, per que a
nós cabia de lhas fazer , lhes foffem feitas Doaçooés
de Villas , Terras , e Lugar es, com Jurdiç om, e com
mero , e mifto irnperio , aífy no Crime , como no Ci-
vil , rezervando expref famen te, corno quer que fem-
pre fe entend a , e entend er deva , aquell o, que per-
teence , e efguarda o maior , e o mais alto, e Real Se-
nhorio ; e a noífa entençom nom foífe de todos aquel-
les , a que as ditas• Doaço oés, Condiçooés com jur-
diçom forom (a)* feitas , ufarem deífa jurdiço m per
nenhu ã guifa , mais que cada huú , fegundo feu cíl:a-
Ddd 2 do,
(-") condiçocr,s, e doaçccm, e jurdi: ccns foffcm 'T.
396 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA E TRES

do , e graao de foa dignidade , ouvefle exercício , e


ufo deffa jurdiçom.
3 E PORQYE fegundo natural razom , firmada per
Ley, e per Direito dos Sabedores, affy como he de-
ferença , e dcpartimento das peffoas , affy deve feer
dos Officios , e das honras : Declarando noffa verda-
deira entençorn qual foi, e he na razom, e obra fufo
dita, e qua:tes peffoas, e de qual eíl:ado foi, e hc nof-
fa teençom d'averem jurdiçorn , e em que maneira
ufem della nas Terras, Villas, e Lugares, que teem.,
ou que lhes forom dados per nós , ou per noífos ante-
ceffores com jurdiçom, ou com mero, e mifto impt-
rio, cfbbelecemos, declaramos, ordenamos, e man-
damos , que aquelles , a que forom feitas Doaçooés
d'alguãs Villas, Terras, e Lugares per nós, ou per
noffo Padre, ou per noffo Avoo per qualquer razom,
ou per qualquer maneira, ou titulo, com jurdiçom .,
ou com mero, e miflo imperio, ajam, e ufem deífa
jurdiçom em eíl:a guifa , que fe fegue.
4 O lmNTE Dom Joham, e a Ifante Dona Ma-
ria nofios lrmaaõs, e os. Condes, e Dom Joham Af-
fonfo noffo Almirante, e Aires Gomes da Silv.a nofio
Alferes Moor, e o Moeíl:tiro d' Alcobaça nas Terras,
Villas, e Lugares, em que lhes per nós, 011 pelo dito
noffo Padre, ou noífo Avoo he outorgado de averem
jurdiçom criminal , e cível, cont ~çam per fy, e per
feus Ouvidores dos feitos deffes Lugares affy crimi-
r..aaes, como civis, que a e)les vierem dos Juízes das
ter-
DE COMO DEVEM USAR DAS }URDIÇ., ETC. 397
terras per appellaçam ; e deíl:es feitos criminaes , co-
mo civeis appellcm, e poffam appellar, e aggravar
delles pera nós; e as appellaçooés, e aggravos ferom
recebidos , e venham a nós > e aa noífa Corte ; e nos
feitos criminaaes elles meefmos, e feus Ouvidores,
hu parte desfalecer, ou fe a parte, contra que for da-
da a fenrença, appellar nom quizcr, appellem pela
juíliça pera nós , afTy como fe faz, e fe guarda pelas
outras noífas juíl:iças nas Cidades , e Villas, e Luga-
res , em que a Jurdiçom em todo he no!fa, e fcgun-
do fe contem nas Lcyx, e Ordenaçooés dos noífos
Regnos.
5 MANDAMOS, e defendemos, que elles, nem
feus Ouvidores , nem outros nenhuús por elles nom
filhem conhecimento de nenhuú criminal feito per
fimpres querela , nem per denu11ciaçom, nem per
correiçom, nem per officio de juíl:iça , nem per outra
maneira, nem fob outro collor qualquer, e nom dem
cartas de fegurança, nem perdom, nom embargando
qualquer Doaçom , Graça, e Privilegio fob qualquer
titulo, e* eixeiçom (a) *, ou liberdade, per que a.
e-ffas pefToas foífem dadas , e outorgadas ; nem outro
fy ufo , nem cu!lumc de qualquer , nem de quanto
quer tempo que o contrairo ufaffem; nem outro fy
Carta , nem refcripto ,. nem Sentença, que de nós , ou
de noffos antecefforcs fobr'efio houvefsem, ou que en-
tom

('1) condipm T.
398 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA E TRES

tom em o tempo defsas Doaçooés, ou defpois fobre


efto gaançafsem.
6 OuTRO sv mandamos, e defendemos que dos
feitos, que perteencerem , ou tangerem aos nofsos di-
reitos, que nós ajamos d'aver, ou fobre que feja con-
tenda, fe os devemos d'aver pera nós , ou nom, quer
aconteçam principalmente, quer accefsoriamente per
incidente , ou per outra qualquer maneira que feja,
nom filhem , nem ajam conhecimento per nenhúa
guiza ; e queremos, e mandamos , que efses feitos lo-
go no começo,e ao diante cada que acontecerem, fem
outro meio fejam enviados a nós, ou aaquelles, a que
per nós he dado poder de os veerem, e livrarem, pof-
to que as partes , a que perteencerem , ou tangerem ,
ho nom requeiraõ, nem peçam, ou ainda pofto que
o contradigaõ.
7 ÜUTRO sv mandamos, e defendemos, que nom
conheçam dos feitos dos apurados , ou aconthiados
pera noffo ferviço, os quaees acontecerem per razom
deílà apuraçom , ou aconthiamento , ou de feus gui-
famentos, que haõ de teer pera noílo ferviço ; nê dos
fritos das poífes das Igrejas , e Beneficias , .nem dem
fobre eífes feitos cartas nos cafos , que as nós acuftu-
mamos dar , nem em outro cafo nenhú ; nem dem
Cartas defpaço de dividas , ou qualquer obligaçom,
nem de reíl:ituiçom de fama , nem outra nenhuã Car-
ta graciofa, que em fy contenha graça qualquer gee-
ral 1 ou efpecial.
8 E
DE COMO DEVEM l/SAR DAS JURDIÇ., ETC. 399
8 E ESTo, que affy defendemos em razam dos feitos
dos ditos noffos direitos, e nos outros cafos conjuntos
após elles logo fcguintes nomeados, queremos, e man-
damos , que fe entenda , e fe guarde naó taõ Colamen-
te nas peffoas , e lugares fofo expreffos , e nomeados ,
mas ainda em todas, e .por todas as outras peffoas, de
qualquer eíl:ado, e condiçaó que fejaõ, que ham jurdi-
çaõ temporal em quaeefquer terras, e lugares de noffo
Senhorio.
9 E QYEREMOS , e mandamos , e defendemos ,
que nenhuú outro, de qualquer eirado, e condiçom que
feja, a fora as peffoas , que fufo fom nomeadas, e ao
Priol do Efpital, e aos Meíl:res das Ordeés da Caval-
Iaria, e aos d'Alcobaça, nom hajaõ nenhuã jurdiçom
Temporal, ou Sagrai, Criminal, nem Civil , em ne-
nhuú lugar , nem fobre quaeefquer peffoas dos noffos
Regnos per nenhuã maneira , pofto que lhes per nós,
ou per noffos anteceífores foífe , ou feja outorgada fob
titulo de graça, nem privilegio , nem per outra qual-
quer maneira , ou figura : fal vo íe lhe foífe dado em
efcaimbo por outro lugar , que a nós , ou a cada huú
de noffos anteceffores foífe dado , e o nós ajamos com
femclhavel jurdiçom : ou fe alguú pelo edito geeral ,
que foi feito per ELRey Dom Affonfo nofso A voo
fobre as jurdiçoés ,ao tempo defse edito,ou defpois,
v iefse, e moíl:rafse que havia alguuã jurdiçarn, e lhe foi
julgado, e outorgado pelo dito nofso A voo que a hou-
vefse per qualquer tituló , ou razom , que rnoíl-rava ,
que
400 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA E TRES

que áver devia, e que defsa jurdiçom ufou nos ter-


mos , e maneira , que lhe foi julgado , e outorgado ,
que dello ufafse, e nom ufando defpois defso d'outra,
nem de maior , nem de fora dos termos , e maneira,
que lhe foi outorgada, ou julgada ; ca de razom, e Di-
reito Natural , e Civil parefse fé duvida , que a jur-
diçom , per que mais conhecidos fam, e demoflrados
o Poderio, e Alteza do nofso Principado, que per
DEOS, e per Ley Divina, e humanal he cometida
aos Reyx em final de maior , e mais alto Senhorio ,
nom deve feer dado a outro, nem outro deve ufar del-
la no nofso Senhorio , nem nos nofsos Regnos , fenom
nos, ou aquelles, a que nós mandarmos por nós, e em
nofso nome , ou a quem nós dermos lugar., e poder
por honrado eflado , que tem de condiçom mais no-
bre , e mais alta a fob nós , afsy como efles fuio ditos
nomeados.
10 E ESTABELECE'Mos, e mandamos, que qual-
quer, que paffar, ou nom guardar eíl:o , que per
nós aqui he ordenado, ou contra ello for , perca a
jurdiçom toda , que ouver, e feja logo per effe feito
apricada, e tornada a nós; e fejurdiçom nom ouver,
perca o preíl:imo, e Terra, que de nós tever, e qual~
quer outra noffa merce, que de nós houver.
II ÜUTRo sY porque a Correiçom he fobre toda
jurdiçom , como coufa , que efguarda o maior , e
mais alto Senhorio, a que todos fom fobjeitos, afsy he
aprefa , e ajuntada ao Principado, e poderio do
Rey,
DE COMO DEVEM USAR DAS JuRDIÇ., ETC, 401

Rey , que per nenhúa guifa nom na pode de fy qui-


tar ; e a obra , e exercicio della he , e deve feer fobre
os grandes, e poderofos , e que maior lugar , e ma-
yor Eíl-ado a fob nos reem , mais que fobre os outros
pequenos, e de menorcondiçom: porem mandamos,
e defendemos , que nenhuú , de qualquer efi:ado , ou
condiçom que feja , nom aja, nem ufe per fy , nem
per outrem de correiçom , nem ponha Corregedor
pera correger por fy em nenhuú lugar , nem fobre
nehuãs peffoas de noffos Regnos ; nom embargando
qualquer privilegio , ou doaçom , ou compofiçom ,
per que lhe foffe, ou feja outorgado , nem ufo qual-
quer novo, nem amigo , que della ufaffe, ca nenhuú
outro nos notfos Regnos nom a pode a ver , nem ufar
della fe nom nós , e os noffos Corregedores , e Mei-
rinhos , a que por nós, e em noffo nome mandamos
fazer; e fegundo terminaçom de direito approvada ,
o poder, e authoridadc do Corregedor nom paf-
fa , nem pode paffar a outra peffoa fobgeita a dfa cor-
reiçom , per doaçom, que lhe feja feita, nem privi-
legio, nem eixençom , que lhe pelo Rey , ou Prince-
pe fejam dados , quer geeralmente , quer expreífa-
mente , nem per ufo antigo , que della ufe.
I 2 E MANDAMOS aos noffos Meirinhos , e Corre-
gedores , que per nós fom poíl:os nas Comarcas d<?s
noffos Regnos fobpena dos officios , e de perderem a
noffa mercee , que duas vezes no anno ao meoos en-
trem nas Terras, Villas , e Lugares , que quaefquer
Liv. II. Eee pef-
402 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA E TR'ES

pcffoas teem , e em que ham, ou ufam alguma jurdi-


çom em cada huã deffas Comarcas, pera correger hi,
e fazer correiçom, affy como lhes he mandado, que a
façaõ nas outras Villas , e Lugares deífas Comarcas,
em que ajurdiçorn eíl:á por nós em todo, e fegundo
he contheudo nas Ordenaçooés, que de nós trazem :
e mandamos , que qualquer , que contra eíl:o for , ou
que o embargar per qualquer maneira que o temptar
de fazer , perca logo per eíle feito o lugar , e Terra .,
e Jurdiçom, que tever , e fejam tornados a nós, e
mais perca toda a outra mercee , que de nós ou ver.
13 E PORQ.YE acrefcentar , ou fazer Tabelliaaés
nos noffos Regnos de direito perteence a nós taro foo ..
mente, e nom a outro nenhuú, porem defendemos,
que nenhuú nom ponha, nem poffa poer, nem fazer
Tabelliaõ em nenhuú lugar dos ditos noffos Regnos,
poíl:o que lhe per nofla doaçom , ou per noffo privi..
legio, ou dos noffos anteceffores, ou per qualquer ou ..
tro titulo feja outorgado- Pero teemos por bem , que
por honra dos fobrcditos I fantes , e Condes , e Priol
do Efprital , e Meeíl:res , e Almirante ,_ e Alferes,
que teem Eftado a nós mui chegado, que nas Ter-
ras, e Lugares, que teem, em que lhes expreífamen-
te pera efto per nós , ou per noífos antecdfores he
outorgado poder de poer ,ou fazer TabeUiaaés, pof-
fam efcolher , e enleger ao tempo, e logo que com-
pre, peffoas quaees entenderem , que fom idonias pe-
ra o dito Officio, e enviem effas peifoas a nós pera as
man-
DE COMO DEVEM USAR DAS JURDIÇ· , ETC. 403

mandarmos examinar, e veer que peífoas fom , e lhes


mandarmos dar authoridade, e noífas cartas, per que
obrem dos Officios em noífo nome , e por nos ; ou-
tro fy pera levarem da noífa Chancellaria o trelado
dos artigos, e taufaçom, que ham de guardar: e nós
pera eílo nom entendemos de levar, nem aver aquel-
la conthia, que he acuftumada na noffa Chancellaria
d'avermos dos Tabelliaaês, que per nós em todo fom
poíl:os. mais queremos, e outorgamos , que ajam el-
Jes com as outras rendas , que por razom deífes Ta-
belliados recrecerem, fegundo fe coíl:uma nas Terras
das Hordeês fobre ditas, e per noífo Avoo foi hor-
denado em efia razom. E mandamos, que qualquer,
que obrar do dito Officio de Tabelliado fem aven<lo
de nós authoridade , e noffa Carta , como dito he ,
que moira porem.
14 EsTABELECEMOS • e mandamos, que quaecf-
quer tambem das peífoas fufo nomeadas , e de maior
Eíl:ado , e condiçom , como dos outros, que nom
fom de tamanho Eíl:ado , que eíl:o nom guardarem ,
que per nos aqui he hordenado, ou contra ello forem
per qualquer maneira , ou fob qualquer collor, que
percam pera fernpre toda a jurdiçom affy alta, como
baixa, que ou verem , e lhes foffe dada em qualquer
lugar que feja , e que feja logo per eífe feito aprica-
da • e tornada a nós , e aa Coroa dos noffos Regnos ;
e mandamos aos noífos M eirinhos, e a todalas outras
Eee 2 Juf-
LIVRO SecuNDO TITULO SessE"NTA E TRE's

Jufliças dos noffos Regnos, que o façam affy com-


prir , e guardar fobpena das cabeças.
1 5 E ESTO , que aqui avemos hordenado , nom
entendemos, nem he noffa teençom de fazer prejuí-
zo, nem tirar aa Raynha minha molher, que tem par-
te do regimento do Regno , e do Eíl:ado , que nos
DEOS deu ,jurdiçooés, e quaefquer direitos, que lhe
foffem dados , e outorgados, de que ella ufe, e pode
ufar nas Villas , e Terras, e Lugares, que ella aja, e
tenha per qualquer maneira; mais queremos, e man-
damos , que os aja , e tenha , e ufe delles como lhe
forom , e fom outorgados.
16 ERA de mil e quatrocentos e treze annos aos
* treze (a)* dias de Setembro na Atougia no adro da
Igreja da dita Villa , prefente Affonfo * Domingues
( b) * , e Lourencc Anes Fogaça, e Gomes Martins, e
Alvaro Gonçalves da Merce, e Confelho de noffo Se-
nhor ElRey, e prefente muitos homês boõs de San-
tarem , e do dito logo da Atouguia, e d'outros mui-
tos lugares, em prefença de mim Pedro Annes Tabel-
liaõ do dito logo da. Atouguia pola Senhora Raynha,
foraõ publicadas efias Ordenaçooens.
17 A QYAL Lcy viíl:a per nós, louvamos, e con-
firmamos por boa , e affy como em ella he contheu-
do: refervé\ndo, que onde falla na revogaçom dos pri-
vilegias fobre os Tabelliaaés, que a nós praz , que fe

-------------·----
guar-
(a) tres 'T. (6) Dias A. e .'L Rodrigues S,
~E os SERVIÇAA"ES , ! MooRDOMos, ETC. 405

guarde , como fe guardou em tempo d'ElRey Dom


Joham meu Avoo.

T I T U L O LXIIII.

§lue os Serviçaaes , e Moordomos dos Fidalgos , e Yaf-


Jallos Jejam efcufados dos encarregas dos Concelhos.

E LREY Dom Joham meu Avoo de gloriofa me-


moria em feu tempo fez Ley ácerca dos Servi-
çaaes , e Moordomos dos Fidalgos ,. de que o theor
tal he.
1 PoRQYE muitas vezes pelos Concelhos das Ci-
dades , e Villas , e Lugares deíl:es Regnos foi dito a
ElRey , que per razom dos Privilegias, e Mercês ,
que d~lle muitos aviam, per que er.!Õ efcufados dos
Officios, e encarregues dos Concelhos , e de fervi-
1·em , e pagarem com elles em fintas , e talhas , e de
ferem Tetores , e Curadores, e de fervir nas outras
coufas- a maior parte das gentes , que em feu Regno
a via , ficavam por ello tarn poucos pera os ditos en-
carregas, que os nom podiaõ foportar, e que lhe pe-
díaõ por mercee ., que quizeffe a eíl:o poer tal reme-
dio em guifa., que elle, e fua terra poddfem feer Íe'r-
vidos , e elles nom foífem affy apremados , e deíl:roi..
dos.
2 PoREM ve.endo ElRey o que lhe aífy era dito , e
por-
406 LIVRO SECUNDO TITULO SESSENTA E Q.lJATRO

porque foi certo, que por afo dos ditos privilegias fe


faziam grandes coítrangimen tos nos que Privilegia-
dos nom eram , os quaees eram taõ poucos, que nom
podiam foportar os encarregas, revogou com Conce-
lho da fua Corte, e revoga todolos privilegias , que
por eít.o tem dados atee ora fobre as ditas coufas , e
manda , que nenhuú nom feja dello efcufado; falvo
os Serviçaaes , e Moordornos , que os Fidalgos , ou
feus Valfallos teverem em fuas quintaãs , e os outros,
que com elles viverem continuadam ente, e os fervi-
rem de fayas, e capas, que lhes elles derem, fem ou-
tro engano, e os que com elles vi verem por foldadas,
em quanto com elles affy viverem.
3 E o SERVIÇAL, e Mordomo feja huú na quin-
taã , e mais nom ; e o que morar na cabeça de fcu ca-
fal, que ora teem cada huú povoado, ou o já foi ,
que lavrar as fuas herdades proprias , e outras nom ,
em quanto as affy teverem , e lavrarem fem outra ma-
lícia , e engano ; e fe em outras herdades lavrarem •
paguem , e peitem como os outros, e fervam por el-
las outro tanto tempo do anno , quanto montar pera
lavrar effas outras herdad~s ; e fe o affy nom fezerem
manda ElRey que nom ajam privilegias.
4 E ESSE meefmo privilegio manda , e outorga.
que ajam os do feu Confelho, e os do feu Defembar-
go, e os Chancerees, e os Efcripvaaés das Chancel-
larias dambalas Cafas, e o Correo-edor
b
·da fua Corte t
e o Juiz dos feus feitos, e o Procurador dos feus fei-
tos,
~E os SERVIÇAAES > E MooRDOMos, ETC •• , -407

tos, e os Sobre Juizes, e os Ouvidores, e feus Careei-


ros, Lavradores, e homees mancebos, que com clles
vi verem , e feus cafaaes , e herdades lavrarem , como
fufo dito he.
5 E MANDA El Rey aas Juíliças de cada huu Lu-
gar, e ao feu Almuxarife, e Efcrípvam , que vejam
todo eflo como fe faz; e fe hy Almuxarífe nom ou ver,
que o vejam os Juízes com huú Tabellíam defse lu-
gar , e façam efto afsy comprir , e guardar de guifa
que nom aja hy outro engano , nem malícia , nem
ache ellc hi al ; e em cada hum Lugar façaõ huú li-
vro, em que todo feja efcripto , pera fe de todo fa-
ber a verdade , e fe fazer pela guifa que dito hc.
6 A QYAL Ley vifta per nos, confirmamola , e
mandamos que fe guarde como em ella he contheudo.

TITULO LXV.

Da lnquiriçom, que E!Rey Dom Donis mandou tira1'


per rnzom das honras, e coutos, que os Fidalgos
faziaõ como nom de·viam.

D ÜM DoN rs pela graça de DEOS Rey de Portu ..


gal , e do Algarve. A quantos eíla Carta virem
faço faber, que como a mim fofsem feitos muitos quei-
xumes per muitas vezes , e per muitas , e defvaira-
das razooés , queixando-fe dos Filhos-dalgo , e dou-
tros
408 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA E CINCO

tros da minha terra, que faziam honras como nom


deviam ; e cu fobre eíl:o fiz fazer inquiriçom de pra..
zcr dos Filhos-dalgo, e do Arcebifpo, e dos Bifpos,
e dos Abbades , e Priores da minha terra ; a faber ,
per Gonçalo Moreira , que foi pelos Filhos-dalgo ; e
pelo Priol da Coíl:a , que foi polas Ordeés ; e per Do..
mingo.c:; Paaes de Bragaa, que foi polo Povoo ; a qual
inquiriçom foi feita na era de mil e trezentos e vinte
e* oito (a)* annos , pela qual inquiriçom foram dei..
tados muitos Lugares em devafso * per afeiçom (b) *.
1 E SOFRENDO-ME eu daquello, que fora deitado
em devafso , em quanto fofse minha merece , a rogo
dos Filhos-dalgo, como d'outras , nom leixavam de
fazer honras novas , e acrefcentar nas antiguas , cada
huú como mais podia. E eu avudo confclho com os
da minha Corte , enviei la Joham Cefar, e defpois
Joharn * Domingues ( e) * dos Contos, que deitafsem
em devafso as honras, que achafsem , que fe fizeram
novamente , e que acrefcentarom * aas velhas , e Lu ..
gares , e ( d) * honras , como nom deviam : e elles ,
feitas as lnquiriçooés , deitaram em devafso as hon-
ras , que acharam feitas de novo, e acrecentadas * as
velhas (e)*, e Lugares , que acharam eíl:ar honrados,
como nom deviaõ , e per taaes que nom deviaõ.
2 E EU teendo que nom hiriam contra e!l:o , que
os meos Enqueredores faziam, fem meu mandado,
fe-
(a) nove S. (b) e perdiçom T (e) Dias A. (d) e as Vi lias , e os Lugam,
que \miaó A. (r) e Villas A . pelas Villas S. ás das Villas "I.
DA INQ.lJIRIÇO M, QYE E1REY o. DON IS, ETC. 409

fegundo o que me a viam permetido , achei , que co-


mo quer que os meus Enqucredores deitaffem em dc-
vafio as coufas, que achaarom , que fe deviam de de-
va fiar, fegundo que no mandado, e cartas, que leva-
vam, era contheud o, que nom leixavam porem Fi-
lhos-dalg o, nem Ordeés , nem Igrejas, e outros ho·
meés honrar todos eífes Lugares, que polos ditos Jo-
ham Ccfar, e Joham Domingues meus Enquered o-
res forom deitados em devaífo , e que honra vaõ ainda
mais cad:i dia.
3 E EU , avendo fobre efto Confelho com os da
minha Corte , e com os Filhos-dalgo , e com os Pre-
lados de minha terra , eftranhando taaes coufas , de
feu Confclho de todos, enviei-lhes Apariço Gonçal-
ves meu de criaçom por Enqueredor fobre efio das
honras, que fezerom de novo, ou acrecentaar-0m nas
velhas des a Inquiriçom , que fezera o Priol da Cof-
ta , e Gonçalo Moreira ., e Domingos Paaes t e fobre
feito dos outros Lugares , que algüs honrados tra-
ziam , como naõ deviam , e outro fy fobre feito doi
meus Reguengos ; e elle veeo a mim com efias In-
quiriçooés a Coimbra, e vio-as a minha Corte com
muitos Filhos-dal go, que hi fyam; a faber, o Conde
Dom Martim* Gil (a) * • e Dom Pedre Anes Portel•
e Aftànfo Sanches , e Dom Joham * Rodrigues (b) •,.
e Dom Fernam Peres, e Affonfo Donis, e Rodrigo
Anes Redondo, .e Martim Vaafques (e) Peixoto,
Li·v. IL Fff que
-----T.---·- ----- -----
(a) .Conç;ilm 'L
---
(ó) Rodrigo .d, e S. (e) e Vafco /1. e
4 10 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA E CTNCO

que eram polos Filhos-dalgo; e com muitos Preta..


dos, que hi fyam da minha terra , derom hi Senten-
ças , fcgundo he contheudo em huã minha Carta , da
qual o theor tal he.
4 DoM DoNis pela graça de DEOS Rey de Por..
tugal, e do Algarve. A quantos efta Carta virem fa-
ço faber, que como peça ha a mim foífem feitos quei-
xumes per muitas , e dcfvairadas razooés, e peífoas
queixando-fe dos Filhos-dalgo, e do Arcebifpo, e
dos Bifpos , e das Sees , e dos Abbades , e Priores , e
d'outros muitos da minha terra, porque faziam hon-
ras em muiras maneiras como nom deviam, de gui-
fa, que muitos homeés boos, e affinadamente os La-
vradores, craõ por hi apremados, querendo-fe delles
fervir dos corpos, e dos averes per prema contra di-
reito , e poufando com elles , e contra fuas vontades
hu nom aviaô morada d'antigo , nem a viam herda..
de; per que fe feguiam muitos omizios, e muitos ei-
ceífos antre os Filhos-dalgo , e os outros nas terras,
hu fe eíl:o fazia , filhando per tal maneira, e prema a
mim dos meus direitos muitos , e emalheando-me
muitos dos meus Reguengos.
5 E vrnoo a mim muitas querelas fobre efto mui-
tas vezes em Guimaraaês, e em Coimbra; e fazendo
eu fobre eíl:o minhas Corres aacima , per confelho do
Arcebifpo , e Bifpos , e Ricos homeés , e dos Fidal...
gos , e dos Prelados da minha terra , eíl:ranhando de
Ie fazerem taaes coufas, per feu confentimento, e per
feu
DA INQ!,TIRIÇOM J Q!!E ELREY D. DoNIS J ETC. 411

feu prazer delles J dei por Inquiridores fobre todalas


coufas fofo ditas Gonçalo Moreira polos Filhos-dal-
go , e o Priol da Cofia polas Hordees , e Domingos
Paaes de Bragaa polo Povoo. E feita a lnquiriçom
per elles, e poblicada geeralmente em minha Cor-
te , forom deitados muitos Lugares em devaffo per
Sentença.
6 E DESPOIS os Ricos homeés , e os Fidalgos de
minha terra pediram-me por mercee, que corno quer
que eu perdeífe per hi muitos dos meus direitos, que
me foffreífe em quanto a mim aprouveífe daquello,
que fora julgado, e que dalli a diante naõ fariam hon-
ras , nem accrefcentariam nas antiguas : e eu queren-
do-lhes fazer merce, outorguei-lho em quanto a mim
aprougueífe, a tanto que elles nom fizeífem honras.,
nem acrecentaífern nas antiguas.
7 E ORA defpois foi a mim dito, que defpois que
lhes eu efia rnercee fizera , que entom andava a Era
em mil e trezentos e vinte e oito annos , que alguús
fezerom ora novamente honras J e acrecentarom nas
antiguas contra a merce, que lhes eu fizera , e contra
a poíl:ura , que lhes ja fora poíl:a., e per elles outor-
gada. E a maneira , em que me dizem , que as fa_
zem , fom muitas , fegundo como fe fegue ; e as ma-
neiras das honras J e das outras coufas , que fe adian-
te fcguem , vio-as a minha Corte, conhecendo dcllas
com muitos Prelados, que hi forom , e com Ricos
Fff 2 ho-
4 r2 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA E CINCO

homeés , e com os Filhos-dalgo, e derom hi Sen-


tenças fobre cada huã das coufas, que fe feguem.
8 PRIMEIRAMENTE foi achado, que alguús me-
tem nas honras feus achegados , e feus Ouvidores , e
defendem , que nom entre hi o meu Porteiro , nem
venha efiar a direito perante o Juiz da terra, affi co-
rno era ufado, e cuíl:umado.
A MINHA Corte julgou, e mandou que tal coufa
nom foífe , nem fe fezeffe, e que entre hi o meu Por-
teiro , affi como antes foya , e que vaa eftar a direito
perante o Juiz da Terra.
9 O SEGUNDO artigo he tal : que alguús fazem
honra do lugar , honde lhes pagã algúa rem por en-
cenfforÍa, quer cm dinheiros, quer em ai , e fum as
herdades , honde * elles (a) * fazem as encenfforias ,
dos Lavradores.
E A MINHA Corte julgando mandou, que nom
fcjam honrados por tal razom.
10 O TERCEIRO artigo he tal : que algús fazem
honras ali , hu criam os Filhos-dalgo , e em efta gui-
fa empar:i o amo, em quanto he vivo , e desque os
amos fom mortos, em param o lugar, poendo-lhe no-
me Paramo , e em muitos lugares nom falamente ao
que mora naqueíl:e lugar , mais a quantos moram
arredor delle , e per ali fica honrado pera fempre.
A MINHA Corte julgando mandou, que efio fe

~"7'":'.:------:---------------nom--
(0) lhes A,
DA INQ!JIRIÇOM , Q!TE EtR11:v D. D _o NJS, ETC. 413

nom fizeffe, e que fe alguú Filho-dalgo for criado no


devaffo , que eu nom perca porem nenhúa coufa do
meu direito: e quanto he no meu herdamento Re-
gueengo , que nom fe crie hi nenhuú Filho-dalgo ,
nem fc defenda ncnhuú per tal criaçom feita cm tal
herdamenco.
I r O QY AR To artigo he tal : que alguús com-
pram , e gaançam os meus herdamcntos Regueen-
gos , e fazem ende honras , e nom dam a mim os
meus foros , que ende hei d'aver.
A MINHA Corte julgando mandou, que eíl:o fe
nom faça , e que fe alguma compra , ou gaança for
feita em taaes herdamentos que nom valha.
12 O QlJ r NTO artigo he tal: que alguús teem hon-
rados os cafaaes , que teem em preíl:emos dos Moef-
teiros , e Igrejas, como fe foífem feus.
A MINHA Corte julgando mandou, que os que te-
verem comprados em fua vida dos Filhos-dalgo , que
fejam honrados em fua vida, e mais nom , e nom os
outros.
13 O SEXTO artigo he tal: que alguús fazem hon-
ras dos herdamentos dos Lavradores, porque os fer-
vem de pam, e carnes, como* fe viveffem (a)* em
f uas herdades, e levam hende as luitofas, que fom
minhas de direito , e de cuíl:ume , e dizem, que por
aq uelle ferviço perco eu delles a voz , e a* cuynha ( b) *,
e

(<1) oftevcífcm T. (/,) coimha A,


414 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA E CINCO

e* achaque, e ajuda d'homeés, e a vindima, e (a) •


que nom devem hir comigo em hoíl:e.
A MINHA Corte julgando mãdou, que honde a mim
fazem , e devem fazer as fobreditas coufas , que por
ferviço , que façam ao Filho-dalgo, que eu nom per-
ca por hi os meus direitos.
14 O SETI Mo artigo he tal : que fe alguús metem
os feus filhos nas cafas dos Lavradores , e os hi teem
oito, ou quinze dias, honram per hi o Lavrador , e
dizem que per hi fica o lugar honrado, e por fua honra.
A MINHA Corte julgando mandou , que eíl:o nom
valha, nem fe faça, ca he engano.
I 5 O O1T AVó artigo he tal : que alguús Moeíl:ei-
ros , e Igrejas , e alguús outros , que trazem cafaaes ,
e herdamentos, que forom de Filhos-dalgo , e que
fom de fora das honras , e dos coutos em lugares de-
vaffos, e trazem-nos honrados como quando eraõ dos
Filhos-dalgo.
A MINHA Corte julgando mandou, que eíl:o nom
valha , nem fe faça, ca he torto conhecido, pois nom
jaz em honra , nem em couto.
16 O NONO artigo he tal: que alguus Lavrado-
res fe querem honrar , e honraõ • porque di~em,
que veem de Filhos-dalgo, pero que nom fazem vi-
da de Filhos-dalgo em nenhuã guifa.
A MINHA Corte julgando mandou , que eíles taaes
nom
(ª) 0 achaque , e anaduva , e A. os; ach;iva occupados em fuas fcmeoteiras , e
vendimas , e dizem T.
DA INQYIRIÇOM J Q.yE ELREY D. DoNIS J ETC. 415
nom ajam honra de Filhos-dalgo , em mentre que
nom fezerem vida de Filhos-dalgo , filhando meíl:er
de ferreiro, ou de çapateiro, ou d'alfaiate, ou de
cirieiro, ou d'outro mefter femelhavel a eíles per
que careça, ou lavrando por feu preço em outro her-
damento alheo em quanto tal vida fezerem ; mais la-
vrando elles em feu herdamento por proveza , que
ajam , nom percam honra de Filho-dalgo , fe a!fy ufa-
rom com os outros Reyx dante.
17 O DECIMO artigo he tal : que alguu s, porque
fam vizinhos , e moradores d'alguãs Villas de foro,
tem honrados todolos feus cafaaes , e hcrdamentos ,
que haõ nos outros Lugares , e Julgados per razom
daquelle foro , honde fom vizinhos.
A MINHA Corte julgando mandou, que per razom
deffe foro nom fe defenda o que houver alhur ganha-
do, ou comprado,, falvo fe for tal peffoa, que per ra-
zom de fy deva feer honrado feu herdamento.
1 8 O ONZE artigo he tal : que alguús fazem cafas
de morada ora de novo hu as nunca ouverom , e fa-
zem-nas nos meus herdamentos foreiros , e fazem en-
de honras , perque os d'arredor delles fom deftroidos.
A MINHA Corte julgando mandou, que e!lo fenom
faça, e que as cafas , que fe fezerom, e as honras def-
pois do tempo da Era de mil e trezentos e vinte e oito
a.nnos dês a dita Inquiriçom , que fe desfaçam , pois
que as cafas fom feitas nos meus herdamentos Reguen-
gos.
416 LIVRO SEGUN DO TITUL O SESSEN TA E CINCO

19 OuTRo sY a minha Corte julgan do mando u


que todalas honras , que forom feitas de novo , ou
acrece ntadas as velhas , que nom valham , e que fe-
jam todas em devaífo des o tempo da dita Era de mil
e trezentos e vinte e oito annos des a dita Inquir i-
çom , affy como de fufo dito he.
20 E OUTRO sy a dita minha Corte julgan do
mando u, que nenhuú norn foffe oufado de vir contra
nchuã das coufas , que em eíl:a Carta fom conthe u-
das, nem que embar gue o meu Portei ro, nem o mell
Moord omo, que nom entre naquel les Lugar es, hu
ouvere m d'entra r : e mando u ainda que fe alguú per
feu oufam ento louco quizeffe , ou quizer vir contra
cíl:as coufas , ou contra cada huã dellas , que fe foffe
homem Filho- dalgo, que lhe deitaff em em devaffo
quanto foffe aquello , que elle contra eíl:o quizeffe
honrar ; e que fe for Prelad o , ou Abbad e , ou Priol ,
ou outro homem qualqu er , que foffcm deitado s em
Regue ngos aquellcs herdam entos , de que quifere m
fazer honras.
21 E ORAEu fobre eíl:o envio alia A pariço Gon-
çalves meu de criaço m , que faça cornp rir, e guar-
dar todalas coufas , e cada huã dellas , que em eíl:a
minha Carta fom conthc udas , fegund o minha Corte
julgou ; e aquell es, que o affy fezerem , Eu lhes farei
porem bem , e merce ; e os que o aífy nam fizerem
os feus corpos , e os feus averes o lazera rom, e eu lhes
farei affy como aaquel les, que nom comp rem, nem
guar-
DA INQYIRIÇOM, QYE ELREV D. DoNrs, !Te. 4r7
guardam Carta, nem mandado de feu Rey, e Senhor.
E em tefiemunho deíl.-o dou ende eíla minha Carta
ao dito Apariço Gonçalves. Dante em Coimbra a vin-
te dias de* Outubro (a)* • ElRey -0 mandou per fua
Corte. Affonfo Reymondo a fez. Era de mil e tre-
zentos e* quarenta e feis (b) * annos.
22 E EU enviei alla entom Apariço Gonçalves
com eíl:a minha Carta das Sentenças pera fazer com-
prir, e guardar as ditas Sentenças em cada huú Lu-
gar, hu achaífe, que fe as ditas coufas faziaõ, fegun-
do a minha Corte julgou : e effe Apariço Gonçalves
andando alla, fezcrom-me alguús queixumes, que fe
eíl.-endia mais do que lhe eu mandava , e que deitava
em devaífo as honras, que eram de vedro dos Filhos-
dalgo, e que paffava as Cartas das Sentenças, que de
mim trazia. E eu por veer fe era afi}, e fe paffava el-
le o meu mandado , e as Sentenças , que eraõ con-
theudas em minha Carta ,.fiz o dito Apariço Gonçal-
ves perante mim vir., e as Inquiriçooés, que clle fo-
bre cfio das ditas honras fezera , e os Lugares , que
devaffara: pela qual razarn fiz jurar aos Santos Avan-
gelhos em maaõs do Arcebifpo de Braga o Cuíl.-odio,,
e o Dayom de Braga, e Pere Eíl.-eves, e Ruy Nunes,
que eu dey por Veedores deíl:e feito, que elles com o
Arcebifpo viffern todas eífas Inquiriçooés, e devaífa-
çooés , e todalas outras coufas , que o dito Apariço
Gonçalves fobre efto fezera ; e que fe achaffern que
Liv. II. Ggg fc_
(A-) Novembro S. (b) vinte e fcis S. quarenta e cinco T,
418 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA E CINCO

frzcra alguã coufa como nom devia , que o corregef-


fem , e fezeffem em tal maneira , que eu ouveffe o
meu direito ,e os Filhos-dalgo.o feu, e o Povoo o feu.
E todos acordadamente diíferom, que viram todalas
lnquiriçooés , e deva{façooés , que o dito Apariço
Gonçalves fezera , e o que fobre efi:o mandara fazer;
e differom , que em todo lhes parecia, que o fezera
bem , e com direito , e que em nehuã maneira nom
eram per aquello, que elle fezera , agravados os Fi-
lhos-dalgo , nem as Hordens ; e mandarom a toda a
Corte, que affy fe fezeffe nos outros Lugares, a que
avia d'hir.
23 E DESPOIS deíl:o a quinze dias de* Junho (a)*
de mil e trezentos e quarenta e nove annos o dito
Apariço Gonçalves veeo a mim a Coimbra com ou-
tras muitas coufas, que fezera, e enquerera tambem
fobre os ditos artigos , como fobre os meus Reguen..
gos , que lhe eu mandara enquerer per Confelho da
minha Corte. E como mandara da primeira fobre o
dito inquirimento, que o dito Apariço Gonçalves
trouxera, ao Arcebifpo de Bragaa, e ao Cuftodio, e
ao Dayom de Braga , e a Pcre Efl:eves, e a Ruy Nu-
nes, que viífem o dito inquirimento, porque nom era
hy o Arcebifpo, e alguús outros , que entom virom a
dita inquiriçom , eu mandei ao Bifpo do Porto, e a
Rodrigo Annes Redondo , e a Pere Efi:eves , e a Vi..
e ente Annes Cefar , e a Ruy Nunes per Confelho da
m1-
(a) Julho S,
DA lNQYIRIÇOM, QYE ELR!Y D. D0N1s, ETC. 4r9

minha Corte; a faber, Dom Frei Eítevom Bifpo do


Porto, e Rodrigo Annes Redondo, e Joham Simom,
e Pere Eíl:eves , e Pero Affonfo Ribeiro, e Meeíl:re
Johane, e Joham Lourenço Vogado em minha Cor-
te, e Vicente Annes Ceíàr, e Joham Martins Chan-
tre d'Evora, e Ruy Gomes, que viífem eífas inquiri-
çooés, e devaffaçooés, e eífas coufas,que o dito Apa-
riço Gonçalves enquerera, e fczera depois; e fe achaf-
fem, que alguã rem fezera, como nom devia, que a
fezeífem correger, como achaífem que era direito : e
elles virom eífas inquiriçooés, e devaífaçooés, e cou-
fas que o dito Apariço Gonçalves enquerera, e fezera
defpois , e todos acordadamente diífcrorn , que lhes
parecia, que fezera bem , e direito.
24 PERO porque alguús fe aqueixarom da entra-
da do Moordomo , que lhes fazi.il que per força fc
avieffem por coufa ailignada cad'ano ; porque lhes
femelhava, que era feito como nom devia, teverom
por bem, que fe nom faça daqui en diante ; e: man-
daarom , que o que fe fez ataaqui per força fobre ef-
to, que nom valha ne migalha, mais que fe algum fe
quizer avir de feu grado com o Moordomo, que fe
avenha; e que per razom da dita aveença nom fe en-
tenda, que he per hi a herdade Reguenga, nem per-
ca eu per razom della o meu direito, que me deve a
fazer, e deve haver o Moordomado, por que fe elle
avem.
25 E MANDAAROM ainda mais febre as coufas de
Ggg2 fu-
420 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA E CINCO

fofo ditas, que fe alguús fe reverem por aggravados


em alguãs das ditas coufas , que venham perante
aquelles Ouvidores , que eu hi der, e eu farei que
lhes guardem todo feu direito, pera fe correger o que
fe deve a correger com direito. Praz-me , que todos
aquelles , que fe fentirem por aggravados d'alguãs
deílas coufas, que des dia de Sam Joham Bautiíl:a
eíl:e primeiro, que ora vem , que eu mando pubricar
efta Carta, ata a huú a nno comprido, venham perante
mim , e eu lhes farei comprimento de direito ; e os
que quiferem vir venham outro fy , e farei-lhes di-
reito ataa o dito tempo. E em teíl:ernunho deíl:o lhes
dou eíl:a minha Carta. Dante em Coimbra a quinze
dias de* Junho (a)*. EIRey o mandou per fua Cor-
te. Affonfo Reimondo a fez Era de mil e trezentos
e * quarenta e nove (b) * annos.
26 A QYAL Ley viíl:a per nos, ávemos por boa, e
a aprovamos, e louvamos.

~--:-:--:--- -·----------TI---
( a) Julho S. (b) vinte hl!m S,
~E O JuDEO NOM TENHA MANCEBO, ETC. 421

T I T U L O LXVI.

fflue o 'Judeo nom lenha manrebo Chrifptaõ porJoldada,


nem a bem fazer.

E LREY Dom Eduarte meu Senhor e Padre de


louvada memoria em feendo lífante fez Ley cm
eíl:a forma, que fe fegue.
I Nós o Iffante veendo como a converffaç om
dantre os Chrifptaõ s, e os Judeos he defefa affy per
Direito Canonico, como Civil, e ainda per Leyx dos
Reyx , que em eíl:es Regnos atee ora forom , e nom
embargan te que per muitas vezes a converfaço m lh es
foífe defefa, elles porem nunca leixaarom de conver-
far com os Chrifptaõs , fazendo-.fe Lavradore s, teen-
do quintaãs, e cafaaes, que per fy lavram, e teendo
em ellas por cafeiros Chrifptaõs , que com elles vi-
vem : outro fy trazendo muitos guaados em fatos em
companhi a com outros Chri{hõs, os quaees trazem
com elles vaqueiros , e ovelheiros , e porcariços , que
lhos guardam ; e bem aífy tecm em fuas cafas aze-
mees, e mancebos e mancebas Chrifptaõ s, que os
fervem por foldadas, e a bem fazer.
2 E POREM querendo nós a eíl:o prover de tal re-
medio ,que fua converfaço m feja apartada dos Chrif-
ptaõs , com acordo dos do noífo Confelho Eíl:abelece -
rnos,
422 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA E SEIS

mos, e poemos por Ley, e mandamos, que daqui


em diante nom feja algú Judeo tam oufado , que te-
nha alguns Chrifptaõs, ou Chrifptaãs, que com elles
vivam, ou morem continuadamente por foldada, nem
a bem fazer em fuas cafas , nem quintaãs , nem ca-
faaes, que elles lavrem, o:.i adubem, por feus cafeei-
ros , nem azemees , nem mancebos , nem pegureiros
de gaados , poíl:o que effes gaados andem em fatos
mefiurados com outros gaados de Chrifptaõs. Pero fe
os Judeos, ou Mouros trouverern alguús gaados em
guarda, e poder de fatos d'alguús Chrifptaõs, pof-
faõ-no fazer, com tanto que effes Chrifptaõs tragam
os mancebos, e paíl:ores por feus, e nom fejaõ deffcs
Judeos. E qualquer Judeo, que o contraira fezer, po-
la primeira vez pague cinquoenta mil libras; e pola
fegunda cem mil libras ; e pela terceira perca quanto
ouver; e fe beés nom ouver, feja açoutado publica-
mente; e dos dinheiros , e beés fejam as duas partes
pera aquelle , que o acufar , e a terça parte pera nós.
3 E POR efio nom tolhemos a efles Judeos, que
poílaõ arrendar, ou aforar fuas quinraãs , e herdades
por certas coufas, ou trazer homeés por feos jornaaes
a adubar fuas vinhas , e herdades, e as guardar no
tempo, que lhes for meíler, e efpecialmente nos tem ..
pos , em que as haõ d'adubar , e colher os fruitos
dellas , poíl:o que cm durando effes tempos effes
Chrifptaõs eílem nas ditas quintaãs, e herdades, por-
que mandamos , que o poífaõ fazer fem embargo da
di-
~ E OS jUDE.OS NOM ENTREM EM CASA, ETC, 423

dita pena, com tanto que effes mancebos , e jornalei-


ros nom fejam molheres.
4 A Q.Y AL Ley viíla per nós , louvamos , e con-
firmamos, e mandamos, que fe cumpra , e guarde,
como em ella he contheudo.

T I T U L O LXVII.

~ue os Judeos nom entrem em caja das Chrifptaãs ,


nem as Chrijptaás em caja dos Judeos.

E LREY Dom Eduarte meu Senhor, e Padre da


glorioía memoria em feendo lffante fez Ley em
eíla forma , que fe fegue.
1 PoRQ.YE noífa teençom fempre foi, e he com a
graça de DEOS tolher, e arredar a converfaçom d'an-
tre os Chrifptaõs, e os Judeos, quanto bem podermos
por ferviço de DEOS, e prol dos noífos Regnos, ef-
tabelecemos por Ley, e mand-amos , que J udeos nom
entrem em caía de nenhuã molher d'Oordem , ou
viuva, ou virgem, que per fy em fuas cafas vivam,
nem em caía de molher cafada , nom feendo hi feu
marido ; e fe alguãs coufas com ellas ou verem de fa_
zer, e arrecadar, que lhes fallem na rua , ou aa porta
de fuas cafas , bonde ellas vi vem , ou moram , e nom
entrem em fuas cafas , nem tomem com ellas outra
converfaçom , fal vo fe for Fifico ,. ou Celorgiam , ou
Al-
LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA E SETE

Alfaiate, ou Alvane, ou Dubadores de roupa velha,


e Tecelaaés, e Beeíl:eiros de laã , e Pedreiros, e Car-
pinteiros , e Obreiros, e Braceiros, e d'outros alguús
Officios, que fejam taaes, que fe nom poífam fazer,
fe nom per efpaço d'alguú tempo; porque taaes co-
mo efres mandamos , que poífam entrar em fuas ca-
ías pera lhes darem, e fazerem aquelo , que lhes mef-
ter for, e fallar com ellas, poíl:o que comfigo nom le-
vem homeês Chrifptaaõs : e fe for mercador, ou ou-
tro alguu. d'alguma condiçom tal , que aja d'arre.ca-
dar alguma coufa d'alguma Chrifptaã, mandamos ,
que poífa hir a fua cafa , com tanto que efiem hi pre-
fentes huú, ou dous homeês, ou molheres Chrif..
ptaõs : e o que o contraira fezer pola primeira vez; e
fegunda pague eífe Judeo cinquoenta mil libras, e
fejam as duas partes pera o acufador, e a terça parte
pera nós ; e pola terceira vez feja açoutado publica-
mente.
2 E EsT A noífa Ley queremos, que aja lugar em
Lixboa , e em Sanearem , e em Evora , e em Coim-
bra, e no Porto, e em Beja, e em Elvas, e em Ef-
tremos , e em todolos outros Lugares grandes dos
noílos Regnos , e Senhorios : e que fe nom entenda
em Judeos , que andarem caminho , e paffarem per
Lugares caminhantes com mercadarias , que nõ pof-
fam hir poufar aas Judarias : nem fe emenda outro
fy em Judeos , que andarem pelos montes compran-
do mel , ou cera , ou pelles de coelhos, ou falvagi.
na,
~ E OS }UDEOS NOM ENTREM EM CASA, ETC. 425

na, ou adubando roupas, ou as fazendo; porque que-


remos que eíl:es taaes poíTam entrar, e poufar em
cafa, hu eíl-everem molheres Chrifptaâs, fem embar-
go da pena fufo dita : com tanto que fe alguú Judeo
for achado que fez alguma maldade, que aja as pe-
nas , que per direito, e pela Ordenaçom do Regno
fom dadas aaqucles , que fazem a dita maldade.
3 ÜuTRO sY mandamos, e defendemos, que Ju-
deo Ferreiro, ou Mercador, ou outro Meefteiral nom
confentam a nenhua molher Chrifptaâ, que entre em
fuas tendas, que reem apartadas , foos , fal vo com
Chrifptaõ , que feja homem grande, e nom feja mo-
ço , fem outra fofpeita , fob a pena f ufo dita ; e affy
defendemos aas molhcres Chrifptaãs , que nom vaaô
aas tendas das cazas dos Judeos a comprar alguãs cou-
fas, falvo levando comfigo huú homem ; e as que o
contraira fezerem , fe forem molhcres honradas , pa-
guem por cada vez cincoenta mil libras , e as duas
partes fejam pera quem as acufar, e a terça parte pe-
ra 11ós ; e fe forem molheres de pequena condiçom ,
pola primeira vez paguem dez mil libras ; e pala fe-
gunda vinte mil; e po!a terceira fejam açoucadas pu-
blicamente pola Villa : e por eíl:o nom tolhemos a
pena , que he dada aos Judeos , e Chrifptãos , que
per direito, e Leyx do Regno ham d'aver os que mal-
dade fezerem de feus corpos, fe lhes provado for que
fazem a dita maldade, e pecado.
4 NEM tolhemos outro fy per eíl:a Ley que nom
Li·v. II. Hhh pof-
426 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA E SETE

poffam hir aas Judiarias comprar, e vender fruiras ,


leite, azeite, mel, manteiga, quejos, ou outras mer-
cadarias , e pãnos , e ferramentas ; com tanto que le-
vem com figo alguú homem Chrifptaõ grande , e
nom feja moço ; e com tanto que vaaõ aas ditas Ju-
darias des que fair o Sol ataa que fe ponha , e nom
entrem em caías nehuãs , nem em tendas ; e fe ven-
der , ou comprar quizerem , vendaõ , ou comprem
aas portas das caías, e tendas : e as que o contrairo
defto, fezcrcm , ajaõ a pena fufo dita em eíl:a Ley.
5 E SE molher Chrifptaã entrar em cafa de Judeo
contra vontade do J udeo , e fe provar, feja efcufado
da dita pena faindo-fe efe Judeo logo fora da cafa ,
ou tenda, honde affy a dita Chrifptaã entrar , e adi-
ta Chrifptaã pague a pena contheuda cm efia Ley.
6 ÜuTRo sY Mandamos, que qualquer, que qui-
zer acufar, ou demandar algum Judeo, que for con-
tra cada huã das coufas contheudas em eíla noífa
Ley , que querele , e jure, e nomee tefternunhas aa
dita querela , e dê :fiadores abaílantes em tanta con-
thia, quanta he a pena contheuda cm cfta nolra Ley;
pera fe nom provar o que differ na dita querela , que
as Jufüças o condapnem em outro tanto, quanto elle
pedir contra aquclle , de qqe querelar , ou mais pe-
quena, fe virem que fc nom moveo com malicia, ou
engano a querelar, ou acufar, fegundo que vier em ai-
vidro dos Julgadores.
7 A Q..YAL Ley viíla per nós, porque nos pare-
eco
~ E OS JVDEOS NOM ENTREM EM CASA, ETC, 427

ceo em alguma parte feer em fy contraira , acorda-


mos de a limitar, e declarar em eíl:a guiía ; a faber,
que a molher Chrifptaã poífa entrar livremente nas
tendas dos pãnos dos Judeos Mercadores, que geral-
mente eftam abertas, com tanto que leve comfigo, e
tenha continuadamente hum homem Chriíptaõ bar-
bado, em quanto eíl:ever na Judiaria, per que fe pof-
fa razoadamente tolher toda fofpeiçom de mal , fem
entrando em outra cafa nenhúa, fenom foomente na
tenda, em que eíl:cver, em que fe vender os dttos pa-
nos; e efto poffa fazer fem pena nehúa, porque quan-
do a molher quer comprar alguus pãnos, nom os po-
de aífy defembargadamente devifar das colores da
porta , como entrando dentro na loja , onde os pãnos
eftaõ. E com eíta limitaçom , e declaraçom manda-
mos que [e guarde a dita Ley, como em ella he con-
theudo, e per nós aqui limitado , e declarado.

T I T U L O LXVIII.

~ue os Judeos nom arrendem Igrejas, nem M oejlá-


ros, nem as rendas delles.

N O LrvRo da noífa Chancellaria foi achada huã


Ley , que EIRey mf'u Senhor, e Padre de glo-
riofa memoria em feendo Iffante fr'l , de que o theor
tal he.
Hhh 2 I PoR-
428 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA E OITO

1 PoRQYE os Judeos deíl:es Regnos fe metem a


arrendar os dízimos , e ofertas das Igrejas aos Prela-
dos, Abbades, e Priores, Meefires, e Cõmenda do-
res, vindo aas Igrejas , e recebendo hi effas ofertas,
e eíl:ando cm ellas em quanto fe rezam as Oras , e
celebra ho Officio Divino, e fervindo em alguús lu-
gares, e aminiíl:ran do os Altares , do que naceo per
vezes grande efcandalo antre o Povoo, e os Clerigos,
e os Judeos, por feer coufa taõ deshoneíl a, e que aos
fiees Chrifptaõs tanto he d 'a vorrecer.
2 E OUTRO sy fe metem a feer Veedores, e Moor-
domos , e Recebedor es , e Contadore s , e a ver outrns
Officios em cafa dos Ifantes , e Condes , e Prelados ,
e Mceíl:res, e Abbades , e Priores , e Cõmenda dores,
e d'outros Cavalleiro s, e Efcudeiro s , e Senhores gran-
des , e honrados por tal, que per effes Officios fejam
defefos., e ajam aazo pera fobjugar os Chrifptaõs affy
das coufas deffes, com que vivem, como os morado-
res das terras, hondc effes Senhores tem honras, e Se-
nhorios, e poderios.
3 E PORQYE fe nunca deíl:as coufas quiferom
guardar, antes perfeveraa rom fernpre cm ellas; que-
rendo nos a tllo proveer de tal remedi o, que fua con-
verfaçom feja apartada dos Chrifptaõs , com Confc-
lho, e acordo dos Letrados da Noffa Corte, eíl:abele-
cemos , e poemos por Ley , e mandamo s, que daqui
em diante nom feja nenhuú Judeu tam oufado , que
arrende Igreja , nem Moe!leiro , nem Capella , nem
ou-
~E os Jum:os NOM ARRENDEM IGREJ. > ETC. 429

outro lugar Sagrado , ou Ecclefiaíl:ico , honde ajam


de receber dizimas , ou offertas; e fazendo o contrai-
ro , mandamos que pague por cada vez que o fczcr
cinquoenta mil libras , e fejam pera aquelle, que o
acufar, e aalem deílo feja açoutado publicamente em
tal guifa, que haja cento açoutes compridamente.
4 A QYAL Ley viíl:a pe-r nós, louvamos por boa,
e mandamos, que fe guarde como em ella he con-
theudo.

T I T U L O LXVIIII.

Itue os Judeos nvm Jejam efmfados de pagar P ortagé,


nem avudos por vizinhos em alguã Vil/a , ainda
'lue hi morem !011gammte.

E LREY Dom Eduarte meu Senhor , e Padre de


famofa memoria em feendo lfante fez huã Ley
em efta forma, que fe íegue.
1 PoRQY E per Cartas , e Privilegies , e Foraaes,
que per nós, e pelos Reyx, que ante forom, os mo-
radores , e vizinhos d'alguús Lugares fom efcufados,
e privilegiados de pagarem portageés, e paífageés, e
outras cuíl:umageés, e ora nos he dito, que os Ju-
deos morad<:>res em eíl:es Regnos queriam gouvir dos
ditos privilegies , e g raças, e mercees , e foraaes , af-
fy como os Chrifptaõs, honde fom moradores, e vi-
1.1-
430 LIVRO SEGUNDO TITULO SESSENTA E NOVE

zinhos : e porque fegundo razom , e direito os privi.-


legios , e fóros dados aos fieis Chrifptaõs nom fe de ..
vem entender aos Judeos infiees , eílabelecernos, e
mandamos, e poemos por Ley, que nenhuú Judeo
nom feja cfcufado de pagar as ditas portageés, paf..
fagcés , e cufiumageés , poíl:o que em alguú Lugar
feja morador per longo tempo, nom embargante,
que pelos ditos Foraaes , Cartas , ou pri vilegios os
Chrifptaõs moradores em effe Lugar per bem das
ditas cartas , foraaes, e privilegias fejam efcufados
das ditas portageés, pa{fageés , e cuftumagees.
2 A QY AL Ley viíta per nos, a vemos por boa , e
mandamos , que fe cumpra , e guarde , aífy como
em ella he contheudo.

TITULO LXX.

50,te os ]udeos nom gouvam do privilegio, e beneficio


da Ley da Avoenga.

E LRtv Dom Eduarte meu Senhor, e Padre de


famofa memoria em feendo lfante fez huã Ley
em efl-a forma , que fe fegue.
r PoRQ1JE alguús atee ora duvidavam fe o privi-
legio , e beneficio da Ley, e cuíl:ume deftes Regnos
dados aos netos , per que poffam tirar pela Avoenga
os beés de raiz , que forem vendidos, fo fe deveria
d'en-
~E os JunEOS NOM GOUVAM DOS PRIV., ETC. 431

d'entender aff'y aos Judeos, como aos Chrifptaõs ; e


ainda fomos enformado, que affy foi julgado alguãs
vezes; por tirar eíl:a duvida,com acordo dos do Nof-
fo Confelho eíl:abelecemos, e poemos por Ley, e
mandamos , que tal Ley , e cuíl:ume fe nom enten-
dam em os ditos Judeos ; e que elles nom ajam, nem
poffaõ aver, nem ufar do dito privilegio, e beneficio
da dita Ley , e cuíl:ume , affy nos beês , que antre fy
venderem, como nos que ja venderam, ou venderem
ao diante a alguús Chrifptaõs ; e aquelles, que ja com-
prarom, ou comprarem ao diante, os ajam livremen-
te fem embargo da dita Ley , e cuíl:ume.
2 PERO queremos, e mandc1mos, que fe o Judeo

comprar alguús beés de raiz a Chrifptaõ , e o filho


feu , ou neto Chrifptaõ quizer tirar eíles beés per
bem da dita l.ey , e cuílume da Avoenga, poffa-o
fazer, gardando as claufulas , e cautellas, e folepni-
da<les em a dita Ley , e cufiume contheudas.
3 E DEFl'ENDEMOS a todolos Vogados, e Procura-
dores , que nom façaõ vogaria, ou allegaçom contra
eíl:a noíla Ley, e coufas em ella contheudas; e aquel-
le, que o contrairo fezer, nom poíla mais procurar
em Juizo, nem fora delle, e feja privado em todo do
Officio de vogar , e procurar ; e o Juiz, que tal alle-
gaçom, ou vogaria receber, ou julgar contra efia nof-
fa Ley, mandamos que feja prefo ataa noífa mercê
pera lhe nós darmos aquella pena , que per direito
acbarrnos, que merece d'aver : Un<le huús, e outros
al
432 LIVRO SEGUNDO TITULO SETENTA

al nom façades. Dante cm Santarem a dezanove dias


d'Agofio. O Jffante o mandou. Joham Vaafques a
fez Era de mil e quatrocentos e trinta e feis annos.
4 A QY AL Ley vifia per nós , louvamos , e con ..
firmamos, por nos parecer juíla, e mandamos que
fe o(J'uarde corno em ella he contheudo.

T I T U L O LXXI.

~ue os Arrahys das Comunas guardem em ftus Julgados


os fius direitos , e cujiúmes.

E LREY Dom Johâ meu Avoo de gloriofa memoria


em feu tempo deu Cartas feelladas do feu feello
pendente aos Judeos deíles Regnos, em que mandou,
que por quanto elles aviaô, e ham d'antigamente jur-
diçom , e feus direitos apartados , que perteencem aos
Julgados dos Arrabys, e bem aífy a jurdiçom , e di-
reitos , que pertecncem aas Almotaçarias , e Almota ..
cees Judeos , os quacs direitos, e ufos das Almo~aça-
rias , e feus Arrabys defvairom em muitas coufas dos
noffos direitos , e ufos ; e porque fempre foi fua von-
tade, e dos Reyx, que ant'clle forom, os ditos Ju-
deos a verem jurdiçom antre fy affy crime como ci-
vil , e que cm cada huma Comuna aja Arraby , e Al-
motacc , per que fejam julgados fegundo feus direi-
tos , e ufos em todolos feitos, caías • e contendas,
que
~ E OS ARRABYS DAS COMUNAS GUARD., ETC. 433
que antre fy ajã , mandou , e declarou em as ditas
Cartas, que nenhuú Juiz , nem Almotace Chrifptaõ
nom tomaífc conhecimento em nenhú cafo de feito ,
que feja antre Judeo , e J udeo , e os leixem defem-
bargar aos ditos Arrabys, e Almotacees , frgundo
feus ufos , e direitos , aífy como d'antigamentc fem-
pre antre elles fora ufado , e cuíl:umado.
I As Q!!AEES Cartas vif1as, e examinadas per nós,
mandamos que fe guardem por Ley , affy como
aqui per nos he declarado; pero queremos , e manda-
mos que em todo cafo dos fobreditos , e quaeeíquer
outros que acontecer poffaõ per qualquer guifa , e
maneira que feja , fique fempre a appellaçom referva-
da pera nós , e pera os noffos Officiaes , que per nos
fom deputados pera conhecerem das appcllaçooés , e
bem affy conheçam dos aggravos ; ans guaes manda-
mos que tomem delles conhecimento , affy como das
appellaçoés , e aggravos , que faaé dante os Juízes
Chrifptaõs, e os dezembarguem pelos direitos dos
Judeos, fegundo acharem que d'antigarnente firni-
lhantes feitos fe acuíl:umarom de defernbargar.
2 E fSTo , que dito he, mandamos que nom haja
lugar nos feitos das dizimas , ou portageés , e fifas ,
e quaeefquer outros direitos Reaaes , porque taaes
feitos como eíl:es queremos, e mandamos que fe-
jam defembargados per a,1uellcs Juízes , e Defem-
bargadores , a que per nós delles he cometido o co-
nhecimento , fegundo agora delles conhecem.
Li7J. II. Iii TI-
434 LIVRO SEGUNDO TITULO SETENTA E DOIS

T I T U L O LXXII.

De como os Judeos , que fe tornaõ Chr/fptaos , ham


de dar Carta de quitaçom aas molheres, que jicaõ
Judias , pajfado bum anno.

A S Cu MUNAS dos Judeos defies Regnos nos envia-


ram moíl:rar huã Carra d'E!Rey Dom Joham
meu Avoo de gloriofa memoria feellada com o feu
feello pendente , em a qual fe contem, que os ditos
Judeos fe lhe enviaram ággravar, dizendo que alguns
Judeus caíados fe faziam Chrifptaõs , e ficavaõ fuas
molheres Judias; e que per direito dos Judeos nom
devem , nem podem cafar fem primeiramente eílcs >
que forom feus maridos , lhes darem , e outorgarem
Carta de quitamento, que antrelles he chamada gue-
te , o qual deve feer efcripto per Judeo, e feito per
regras certas , e Hordenanças Abraicas , e fe tal gue-
te affy feito nom ouverem , nom cafarom com ellas.
nenhuús Judcos, e cafando fem teendo o d ito guete ,
fc ouvere m algús filhos , fei:om fomazinhos.
1 E POREM diziam , que fegundo feu direito de-
vem taaes maricios feer conftrangidos , quedem o di-
to guete aas ditas Judias, qu.e forom fuas molheres;
e que ja de tal direito fezerom certo o Bifpo Dom Gil
Alma do feu Confelho , e a.o Doutor Di ego Martins
do feu Defembargo, e ainda aos outros da fua Rolla~
çom ;
DE COMO os JunEOS, QlJE SE TORNAÔ, ETC. 435

çom ; e que eíl:o nom embargante , algut'ts , que fe


aífy faziam Chrifptaõs , recufavaõ de dar o dito gue-
te aas Judias, que forom fuas molheres por tal , que
xe lhes rendeffem; e que por eíl:o xe lhes aaza. va ferem
defpeitadas : e que porem lhe pediatn por mercee ,
que mandaífe que lhes foffe guardado feu direito, e
que os ditos Judeos aífy tornados Chrifptaõs foffé cof-
trangidos per elle , e per fuas juíl:iças , que deífem o
dito guece , como dito he.
2 E o DITO Senhor Rey, viíl:a fua petiçom , e a
informaçom , que fobrello houve, mandou em adi-
ta carta , que lhe foífem guardados os ditos direitos ,
e que as fuas Juíliças lhes fezeífem dar o dito guete
aas ditas Judias em cal guifa, que podeífem cafar.
3 A Q1J A L carta vi!l-a per nos , e examinada , man-
damos que fe guarde por Ley com efta declaraçom ;
a faber , que o dito Judeo affy tornado Chrifptaõ aja
huú anno d'efpaço contado do dia, que for tornado aa
verdadeira Fé de J Esus CHRISTO, pera dar o dito gue-
te aa dita Judia, que foi fua molher, a qual poderá
eíl:ar o dito anno com o dito feu marido, fe quizer ; e
querendo-fe ella tornar Chrifptaã, poderom d'hy em
diante ambos viver fegundo a Fé de JEsus CHRISTo; e
querendo ficar Judia,entom poderá feer o dito feu ma-
rido cofhangido, que lhe dê logo o dito guete : e com
eíl:a declaraçom, que aífy avemos feita , mandamos
que fe guarde a dita Ley, e que as nofsas Juíliças o
façam afsy comprir , como dito hc.
Iii 2 TI-
436 LIVRO SECUNDO TITULO SETENTA E TRES

T I T U L O LXXIII.
De como ham de Jeer feitos os contrautos antre os
Chrifpt aos , e os Judeos.

E LREY Dom Pedro de louvada memoria em feu


rempo fez húa Ley em eíl:a forma, que fe fegue.
I DoM Pedro pela graça de DEOS Rey de Pur-
rugal , e do Algarve. A quantos eíla Carta virem fa_
ço faber, que os Judeos do meu Senhorio me envia-
ram dizer, que eu lhes fezera graça, e merce em lhes
outorgar per minhas Cartas , que fezeifem, e podef-
fem fazer contrautos com quaeefquer peffoas , de
compras , e vendas, e d'outras coufas pela guifa , que
os fazem os Chrifptaõs do dito meu Senhorio; e que
clles ufavam da dita graça , como era contheudo nas
Cartas, que da dita mercee de mim tinham. E que
ora em eíl:as Cortes, que fiz em a Villa d'Elvas, me
foi dito per alguãs peffoas, que elles ufavam da dita
graça corno nam deviam , e que eu a dizer delles
mandei , que frzeffe m os ditos contrautos , corno hy
nom ouveífe onzena nenhuã, ca o Judeo, que eu
achaffe, que fezeífe conrrautos , em que ouveffe on-
zena , ou conluio , que o mandaria matar porem , e
lhe tomaria os beês que ouveffe pera a minha Ca-
mara, em tal guifa que foífe em elle comprida huã
Ley d'ElRey Dom Affonfo meu Padre, a que DEOS
per-
DE COMO HAM DE SEER FEITOS OS CONT., ETC. 437
perdoe , que foi feira em tal razom. E diziaõ , que
eíl:o lhes era mui grave coufa de guifa, que antes lei-
xariaõ de fazer os ditos contrautos , que ferem obri-
gados a taõ grande péna , e que eu receberia delles
deíferviço , e elles ficariam dapnados do que aviam.
E enviarom-me pedir , que lhes quizeífe temperar
taõ grave péna como minha mercee foffe em tal ma-
neira, que elles podeífem haver mantimento, e fazer
a mim ferviço.
2 E Eu veendo o que me enviarom pedir , que-
rendo-lhes fazer graça , e merce , nom embargando
o dito meu mandado, que febre tal razom foi feito;
tenho por bem, e mando, que aquelles Judeos, que
minhas Cartas moíl:rarem , e que ajam de fazer os di-
tos contrautos , que os façam chaaõs , ou defaforados
como ás partes aprouver, e quer fejam chaaõs, ou
defaforados, que nom ponhaõ em elles pénas algu-
mas.
3 E DAQYI en diante quando effes Judeos, ou
Judias quizerem contrautar com Chrifptaõs, e Chrif-
ptaãs , feja a dlo prefente o Juiz , fc a ello prefente
poder feer, ao qual Eu mando que fe nom efcufe
dello, falvo fe ou ver alguú embargo tal, per que nom
poffa a ello feer prefente; ca fe eu achar que fe del-
lo efcufa maliciofamente, eu lho eíl:ranharei mui gra-
vemente : e nom podendo a ello feer prefente, man-
de a huú Tabelliaõ , que ftê a ello prefente com ou·-
tro Tabcllia6, que o contrauto ouver de efcre ver aa
cuf-
43 s LrvRo TITuto
SEGUNDO SETENTA E TREs

cufia do Judeo, e trcs homeés boas Chrifpta ôs , que


~o dito contraut o fejaõ prefentes por tefiemun has ,ao
menos; e entregue logo effe Judeo a coufa, que ven-
der , fe coufa for , que fe pofTa logo entregar , ou o
preço da coufa, que comprar , ou qualquer outra cou..
fa, de que quifer fazer o contraut o.
4 E ESSA coufa , ou preço entregad a , ou nom ,
feja dado juramen to pelo Juiz, ou Tabellia õ , que o
contraut o efcrepver aas panes , que effc contraut o an-
tre fy quifrrem fazer, a cada huú em fua Lcy quan-
do effe contraut o fezerem antre Chrifpta õ e Judeo ,
que digam fe o dito contraut o, pela guifa que o man-
daarom fazer , he boõ , e verdadeiro , fem onzena , e
conluyo nenhuú d'onzcna ; e fe polo dito juramen to
differem , que o dito contraut o he boõ, e verdadei -
ro, e fem onzena, e conluyo d'onzen a, como per el-
les he razoado, entom o dito Tabellia õ prefente o di-
to Juiz , ou outro Tabellia õ quando o dito Juiz hy
nom poder feer, e as ditas tefiemun has , efcrepva o
dito contraut o com o dito juramen to , que as ditas
p1rtes fobr'ello fezerem ; e outro fy como effa coufa,
ou preço foi entregue ao devedor , ou nom, fc coufa
for , de que fe logo nom poíTa fazer entrega : e os
contraut os , que fe em efh guifa fezerem , mando
que valham , e d'outra guifa nom.
5 E SE defpois acontece r que cffe Chrifpta õ ,
com que effe contraut o for feito, provar per feu jura-
mento, e per huã tcíl:emunha Chrifpta ã, ou Judia
de
DE COMO HAM D! SEER FEITOS OS CONT., ETC. 439

de creer , feendo eífa parte tal , que o Juiz entenda


que em tal cafo deva feer creúda per feu juramento,
e quando tal peffoa nom for, e provar per duas teíle-
munh!s Chrifptaaõs , ou Judeus , ou per huú Chrif-
ptaaõ , e per huú Judeu dignos de fee, e crecr , que
eífe contrauto foi, e he onzanciro, e ouve em elle on-
zena, ou outro engano de ufura , mando que o J u-
deu , cujo efte contrauto for, que o perca ; e o Chrif-
ptaaõ , que em elle for obrigado, feja delle quite ; e
a Juftiça do Lugar, hu eíl:o acontec er, faça logo en-
tregar eífc contrauto ao dito Chrifptaõ ; e torne dos
beés do dito Judeo, cujo o contrauto for, outro tan-
to , quanto montar no dito contrauto , e o entregue
pera mim ao Almuxarife do Lugar, hu eíl:o aconte-
cer, perante o meu Efcripvam.
6 E o Judeo nom aja porem outra péna nenhuã
pola primeira vez , que lhe tal razom como efla
acontecer; e pola fegunda vez como pela dita guifa a
conthia dohrada de qualquer contrauto ; e pala ter-
ceira vez tome pera mim pela guifa fufo dita aquel-
lo, que montar no dito contrauto de qualquer coufa,
que feja por huã coufa quatro ; e dês as tres vezes en
diante aja tal péna , como dito he na terceira vez.
7 E o Chrifpraaõ outro fy nom feja theudo a pé-
na alguã por eífe jurÃmento, que fez quando o con-
trauto foi feito , porque acufou , e defcubrio de[pois
a verdade do dito contrauro. E em cada huã das di-
tas fegunda , e terceira vezes , e por todalas outras
fe-
440 LIVRO SEGUNDO TITULO SETENTA E TRES

feja o Chrifptaaõ livre , e quite do dito contrauto, e


entregue delle pela J uíl:iça da terra pela guifa , que
dito hc na primeira vez.
8 E nR eíla meefma guifa fe faça nos contrau-
. tos, que os ditos Judeos fezerem, ou cada hum del-
les com os Chrirpcaaõs em razom das compras, e
vendas das herdades.
9 E QYANTO he em razom das rendas, e affora-
mentos , e ernprazamentos, e parçarias delles , man-
do, que as façam pela guifa, que as fazem os Chrif-
ptaaõs huns com os outros, falvo que façam jura-
mento em elles pela guifa , que o ham de fazer nos
outros contrautos fobreditos em tal maneira , que
nom haja hi onzena, ou conluyo, ou engano d'on-
zena.
10 E S.E defpois efTes Chrifptaaõs provarem pela
guifa fufo dita, que ouve em elles onzena, ou con-
luyo de onzena, ou outro engano de ufura, mando
que o dito contrauto nom valha, e o Chrifptaaõ fique
dcllo quite; e as Juíl:iças dos Lugares, hu eílo acon-
tecer, lhe façaõ logo entregar o dito contrauto, e pe-
ra mim outra tanta quantia, quanta montar em cada
huú defTes contrautos , pelos beés do Judeo, que c!fe
contrauto fezer, como dito he, e nom aja porem ou-
tra péna : e fc o Judco nom te\-er beés que per fy,
nem per outrem nom potra fazer entrega ao Chrif-
ptaaõ , e a mim dos ditos contrautos , e das penas
que lhe per ello mando dar pela guifa , que dito he,
fe-
DE COMO HAM DE S!ER FEITOS OS CONT., ETC. 44I

feja logo prefo, e nom feja folto ataa que o entregue,


ou lhe eu mande dar por ello outra péna , qual eu
vir que merece, e no feito couber.
1r E MANDO aos Chrifptaaõs , que em os ditos
contrautos, que com os ditos Judeos fezerem, que
fe nom acufarem , ou demandarem o engano , e on-
zena , e ufura, que entenderem de provar pela gui-
fa fufo dita, que lhes pelos ditos J udeos foi feita nos
ditos contrautos , que com elles fezerom , do dia que
os ditos contrautos forem feitos ataa dez annos , que
nom ajam pera eíl:o lugar d'hy em diante ; e poíl:o
que os defpois dos ditos dez annos queiraõ deman-
dar , e acufar , como dito he , que lhes nom valha.
E mando, que nos ditos dez annos cada huú do Po-
voo poífa acufar eífo meefmo , que a parte acufaria ,
fe quifeíle, e aja pera fy a quarta parte da pena, que
eu deífe contrauto pera mim hei d'aver.
12 E .MANDO aos Tabelliaés do meu Senhorio,
que pela guifa fofo dita façam os ditos contrautos, e
fejaõ valiofos. E em teíl:emunho deíl:o lhes mandei
dar eíl:a minha Carta. Dante na Cidade d'Evora a
cinquo dias de Outubro. EIRey o mandou per Jo-
hãne Eíl:eves feu Vaífalo, e Veedor da fua * Fazen-
da (a) * . Gonçalo Peres a fez Era de mil e trezentos
e noventa e nove annos.
13 E 0EsP01s deíl:o ElRey Dom Eduarte meu
Senhor , e Padre de gloriofa memoria em feu tempo
Li·v. II. Kkk deu
(a) Chançcllaria,
LIVRO SEGUNDO TITULO SETENTA E T!U:S
44 2
deu huã Carta Patente feellada do feu fcello pendente
aa Comuna dos Judeos da Cidade de Lixboa, da
qual o theor tal he.
14 DoM Eduarte pela graça de Deos Rey de Pur-
tugal, e do Algarve, e Senhor de: Cepta. A quantos
eíl:a Carta virem fazemos faber, que os Judeos da
Comuna da Judaria da noffa mui nobre, e fempre
leal Cidade de Lixboa nos enviaram dizer, que ata
aqui elles fempre acoíl:umaram comprar, e vender
com os Chrifptaaõs, e com outras quaeefquer pef-
foas , quaeefquer coufas movis , que vendiam , ou
compravaõ , recebendo , ou pagando logo os preços
fem fazendo antre fy outras nenhuãs Efcripturas de
obrigaçocés, nem firmidoeés, aífy como compravam
n'Alfandega da dita Cidade pãnos, e outras alguãs
coufas movis ; e que nom entendiaô , fe o poderiaõ
affy fazer fem péna alguã : pedindo-nos por mercee,
que lhes declaraffemos fe nos prazeria de o aífy faze-
rem. E nós viíl:o feu dizer e pedir, praz-nos que
elles comprem, e vendam com os Chrifptaaõs, ou
com quem lhes aprouver, aquellas coufas movis, que
o Chrifptaaõ, e o Judeo logo paga, e recebe, em que
nom quizerem antre fy fazer outra Efcriptura de fir..
midom, fegundo ataaqui acoíl:umaarom de fazer nas
compras , que affy faziaõ na dita Alfandega, dos pã-
nos , e d 'outras coufas mo vis , que logo recebiam , e
pagavam.
15 ÜuTRo sY nos enviarom dizer, que per vezes
e1..
DE COMO HAM DE SEER FEITOS OS CONT,, ETC, 443

elks queriaõ fazer , e firmar alguiís contrautos per


Efcri prura publica , e que os leixa vam de fazer , por
nom acharem taõ prefies o Juiz, perante que fe aviaõ
de fazer, e firmar, e que quando achavam o Juiz,
que nom tinhaõ o Tabelliaõ : e que nos pediaõ por
mercee, que lhes deífemos noíla Carta , per que os
Tabelliaaé s podeífem fazer os ditos contrautos peran-
te huú, ou dous homeés boõs da dita Cidade , que
mais prefies achaílem , ou perante alguú outro Ta-
belliaõ , ou Tabelliaés ; e que eíl::o feria aazo delles
fazerem mais contrautos . E nós veendo o que nos af-
fy diziaõ e pediaõ, querendo- lhes fazer graça e mer-
cee, teemos por bem, e mandamo s, que elles poITam
aífy fazer os ditos contrautos , prefente huú , ou dous
homeês boõs da dita Cidade , ou prefente huú , ou
dous Tabelliaaé s , porque comunalm ente fom refi-
dentes naquelles Lugares , que lhes fom devifados ,
fervindo feus Officios: ao qual, ou aos quaees homcés
boõs, ou Tabelliaés , preíente que o dito contrauto
fe ou ver de fazer, Mandamo s que dem juramento a.
cada huã das partes em fua Ley , fe em os ditos con..
trautos ha uíura, ou efpecia de engano; e o Tabel-
liaõ, que o dito contrauto fezer, ho efcrepva affy, fa-
zendo fegundo fe ataa gora acufiumou , e fez peran.
te os ditos Juízes. E efio lhes fazemos fem embargo
da Ordenaçom , nem defefa, que en contrario defio
feja, e das Cartas , que fobre eíl:o tem, em quanto
acharmos que o fazem bem , e como devem.
Kkk 2 16 Po-
444 LIVRO SEGUNDO TITULO SETENTA E TRES

16 PoREM mandamos a todolos Juizes, e Juíli-


ças, e Officiaes, e peffoas da dita Cidade, a que eíla
Carta for moíl:rada , que aífy o compram , e guar-
dem , e lhes façam os ditos Eíl:ormentos de com-
pras , e vendas , e outras quaeefquer Efcripturas de
firmidom, como aqui he contheudo, moftrando pri-
meiramente os ditos J udeos , ou Judias no{fas Cartas
de contrautos, per que os aITy fazer poífam : e o Ta-
belliaõ, que o dito contrauto fezer , nom efcrepva em
clle toda a dita Carta de contrauto, mas foomente
faça em fua Efcriptura della mençom : undc ai nom
façades. Dante em a dita Cidade de Lixboa a cinquo
dias de Dezembro. EIRey o mandou per Gomes Bor-
ges , que ora tem carrego de feu Chanceller Moor.
Rodrigo Anes Efcripvaõ em logo de Filipe Affonfo
a fez. Anno do Nafcimento de Noífo Senhor JEsus
CttRISTO de mil quatrocentos e trinta e feis annos. E
mandamos, que eíla Carta valha aos Judeos da dita
Cõmuna, e a outros quaeefquer, que na dita Cidade
quiferem contrautar pela guifa, que dito he, e a ou-
tro nenhuú nom.
17 A QYAL Ley,eCarta fufoditas viftas per nós,
louvamos, e confirmamos, e Mandamos que fe guar-
de, e cumpra como em ella he contheudo.

TI-
DE COMO AS CÕMUNAS DOS }UDEOS, ETC.
445

T I T U L O LXXIIII.
De como as Comunas dos Judtos ham de p agar
oJerviço R eal.

E LREY Dom Affonfo o ~arto em feu tempo fez


húa Ley em eíl:a forma, que fe fegue.
I EsTA he a Ordenaçom, que ElRey fez per a

qual guifa as Cõmunas dos Judeos de feu Senhorio


ham de pagar o ferviço d'ElRey , fegundo fe adiante
fegue.
2 PRIMEIRAMENTE todo Judeo desque for em hi-
dade de quatorze annos em diante , e for cafado, ou
viuvo, pague vinte foldos em cada hú anno. E a Ju-
dia , que for cafada , ou viu va , pague dez foldos. E
o Judeo, ou Judia nom paguem nehúa coufa ataa
que fejam em hidade de íece annos ; e des a dita hi-
dade de fere annos em diante a Judia pague dous
foldos e meio , ataa que feja em hidade de doze an-
nos : e o Judeo pague cinco foldos, ata que feja em
hidade de quatorze annos. E a Judia des que for em
hidade de doze annos em diante , e nom for cafada,
e viver em poder do Padre, ou da Madre, ou d'ou-
trem, ou fervir a outrem, pague meio maravidi, que
fom fete foldos e meio; e fe viver per fy, pague dez
foldos : e o J udeo , que for de quatorze annos em
diante, e nom for cafado , e viver em poder alheo ,
pa..
446 LIVRO SEGUNDO TITULO SETENTA E QYATRO

pague huú maraved i, que fom quinze foldos em ca ...


da huú anno ; e fe viver per fy, pague vinte foldos.
3 ITEM• Todo Judeo, ou Judia, que colher vi...
nho de fuas vinhas , pague de cada huú tonel de rnoya ..
çom quarenta foldos ; e fe vender o vinho em uvas.,
fejam eíl:imadas quantos tonecs de vinho poderom dar
effas uvas , e pague quarenta foldos de cada huú to-
nel de moyaçom , como dito he; e fe nom ou ver to ..
nel, pague a razom de quarenta foldos: e feja todo eíl.o
vifto , e efümado , e efcrito pelo Colhedo r , e Efcri..
pvaõ d'ElRey . E o Judeo, ou Judia ante que colha,
ou mande colher efie vinho, faça-o faber ao Colhedo r >
e Efcripva m ; e fe o affy nom fezer , perca-to do o vi-
nho , que aífy colher , ou mandar colher , e feja
d'E!Rey ; e fe o fezer faber aos ditos Colhedo r, e
Efcripv aõ, e defpois efconder alguú tonel , ou pipa ,
de que nom pague o direito a ElRey , perca eífe to-
nel , ou pipa , ou outro vinho, de que affy nom pagar
o direito a EIRey ; e fe outra vegada lhe affy aconte..
cer, perca todo o vinho, que ouver em effa vinha, de
que colheo vinho, que affy efconder ; e fe a terceira
vez lhe eíl:o acontece r perca todo o dito vinho , e de
mais feja-lhe eíl:ranhado no corpo , e no a ver , como
for mercee d'EIRey . E o Judeo, ou Judia, que co..
lher o dito vinho ,deve fazer certo per juramen to quan..
tos tonees, ou pipas colhe ; e provand o-fe que ouve
mais , aja as ditas penas.
4 ITEM. Todo Judeo, ou Judia, que comprar
uvas
DE COMO AS CÕMUNAS nos JuDEOS, ETC. 447

uvas pera fazer vinho, e o vender * em gros (a)* ante


que colha, pague feis dinheiros d'almude pela medi-
da de Lixboa ; e fe o quifer pera feu beber , pague
outro tanto, falvo fe for de fuas vinhas, que pague,
como dito he. E deve dizer o vendedor per juramen-
to ao Colhedor d'EIRey, e ao Efcripvaõ quanto ven-
deo, ou entregou; e fe for achado que mais vendeo,
ou entregou perca-o o Judeo , e feja d'ElRey, como
dito he.
5 !TEM. Todo Judeo, ou Judia, que vender vi-
nho a torno , pague dous foldos do almude pela me-
dida de Lixboa de guifa , que feja de tonel de moya-
çom, cinquo libras. E nom deve vender vinho ataa
que o faça faber ao Colhedor, e Efcripvam ; e fe lho
nom fezer faber, aja a péna fobredica. E manda El-
Rey. que o feu Colhedor, e Efcripvaõ vejaõ as ade-
gas dos ditos Judeos , em que os ditos vinhos colhe-
rem, pera faber que tonees ouverom ; e quantos , pe-
ra aver EIRey delles o feu direito pela maneira , que
dito he , e pera fer eíl:ranhado aos Judeus, fe lhe nom
pagarem o feu direito.
6 ITEM. Todo Judeo ,ou Judia, que fezer vinho,
e o vender a Chrifptaaõ , obrigue-fe ao Colhedor, e
Efcripvam que pague feis dinheiros do almude de
colheita ; e fe o vender a torno , pague doos foldos ,
como dito he.
7 ITEM. Todo J udeo , que matar carne pera feu
co-
(a) a lngrezes
448 LIVRO SEGUNDO TITULO SETENTA E Q..YATRO

comer, ou pera vender, ou pera * exercar (a)*, e for


de feu comer , pague da vaca jovenca de huú anno
ataa doos dez foldos , e dês huú anno em diante pa..
gue vinte foldos della ; e do carneiro , e da ovelha
doos foldos ; e de cabrom huu foldo ; e do cordeiro ,
e do cabrito , patos , capooês , e galinhas quatro di-
nheiros de cada huú ; e do frangom , ou frangaã doos
dinheiros de cada huú. E defende ElRey que nom
degole nenhuú , falvo o degolador poíl:o pelos Judeos
em cada lugar, ou quem elle mandar; e o degolador
faça-o faber ao Colhedor ; e fe o Judeo , ou Judia de-
golar fcm o degolador, aja as pénas fufo ditas.
8 ITEM. Todo o Judeo, ou Judia, que mercar
carne de Chrifpta5, e feja de feu comer, feja degolada
pelo dito degolador, corno dito he, e pague quatro di-
nheiros do arratel , pelo arratel de Lixboa ; e faça to ...
do eílo faber o dito degolador ao dito Colhedor, e Ef-
cripvaõ d ' ElRey pera averern delles o feu direito.
9 ITEM. Do pefcado, que vender, ou comprar de
huú foldo , pague huú dinheiro, e de feis dinheiros
huma mealha , e aíly do mais e do menos ; e tanto
pague do pam cozido , que comprar, ou vender , e
da fruita qualquer que feja, ou d'outra qualquer cou ...
fa , que vender, ou comprar pelo rneudo , affy co-
mo ferraduras , efporas , e outras quaeefquer coufas;
e do alqueire de trigo, que comprar , ou vender pela
medida de Lixboa , ou de Santarem, quatro dinhei ..

------ ------ ---·-- --


ros;
( a) emxercat
DE coMo AS CõMUNAS oos Juorns, ETC. 449

ros ; e do alqueire de cevada , ou milho, ou centeo,


ou legume doo~ dinheiros , e affy do mais , e do me-
nos; e do alqueire da farinha do trigo oito dinheiro s ;
e da fegunda quatro dinheiros , e affy do mais, e do
menos. E virom ao Colhedo r , e Efcripva m d'E!Rey
cada domaã, que lhes dem , e paguem todo o direi-
to d'EIRey das ditas coufos ; e fe o afTy nom feze-
rem , que ajam as penas fofo ditas ; e fe fobnegar em
o direito, que E!Rey ha d'aver das ditas coufas ,
percam- nas , e fejaõ d'ElRey , ou lhe paguem a ef-
timaçaõ dellas.
10 ITEM. Todo Judeo, que mercar de qualquer
peffoa que feja pera fy , ou pera outrem , mercada -
rias , ou lhas derem pera as vender , affy como mel ,
cera , azeite , pãnos, prata , ouro , ferro , cobre , ou
outras mercadarias quaeefqucr * em gros (a)* ,pague
quatro dinheiros da livra; e o Judeo , que as vender,
pague outro tanto ; e eílo aja lugar no troco, k o fe-
zerem. E eílas mercada rias, que aífy mercare m, ou
trocarem , façaõ-no fabente ao dito Colhedo r, e Ef-
cripvam logo, fe a mercada ria for feita na Villa, on-
de forem effes Colhedo r, e Efcripva m ; e fe for feita
fora da Villa, façaõ-no perante o Tabellia õ deífe lo-
go, hu comprar , ou vender, fe hi Tabellia õ ouver;
e fe hi Tabellia õ nom ouver, façaõ-no perante tefte-
munhas , e em effe dia , fe poderem , ou em outro dia
façaõ-no fabente ao Colhedo r, e Efcripva m; e fe o
Liv. II Lll af-
---- ---- --
(,,) pelo meudo ou em groffo .d,
1
450 LIVRO SEGUNDO TITULO SETENTA E Q!IATRO

aífy nom fezerem , e fobnegarem o direito a E!Rey,


ajam as penas fufo ditas.
1r ITEM. Todo Judeo, que comprar, ou ven-
der, ou trocar beíl:as , ou gaados, p·ague quatro di-
nheiros da livra; e eífo meefmo fe comprar, ou ven-
der cartas de maravidis, ou d'outras quaeefquer cou-
fas que fejam , tambem herdades de pam , como de
vinho , ou olivaaes, ou outras quaeefquer herdades ,
ou outras coufas, que fejam movel, ou raiz, ou de
natura de cada huã dellas.
12 !_TEM, Todo Judeo, ou Judia, que ouver her-
dades, caías, olivaaes , pumares, ortas, ou outra raiz
qualquer, falvo vinhas, pague ho oitavo do renovo,
que DEOS hi der, como por Jugada, nom lhe fecn-
do desfalcadas as cuftas, que fobre eíl:o fezer : falvo
fe for herdade , de que aja de dar foro , que lhe feja
defalcado o dito foro.
13 ITEM. Todo Judeo ,ou Judia, que ouver gaa-
dos, beíl:as, colmeas, pague o dizimo do renovo.
14 ÜuTRO sY manda , e defende, que Judeo,
nem Judia, que aja quinhentas libras, ou de hi aci-
ma, nom fejam atrevidos de fair fora de feus Regnos
fem mandado d'ElRey; ca aquelle, ou aquelles, que
fe forem fem feu mandado, perderom os a veres, que
ouverem, e ficaram por d'ElRey ; e os corpos eíl:a-
rom aa fua merece, como aquelles, que paífaõ man-
dado de feu Rey , e Senhor.
15 A
DE coMo AS CÕMUNAS nos Juorns, 'ETC. 451

I 5 A Ordenaçom E!Rey mandou, que fe


QYAL
guardaffe pera todo fempre per todo feu Regno, e
Senhorio, e mandou em ella poer o feu feello penden ..
te. Feira em Vallada a* quinze (a)* dias de Novem-
bro. Bertholameu Johãnes a fez per mandado do di-
to Senhor Rey Era de mil e trezentos e noventa an-
nos.
16 A Q!JAL Ley vifta per nos , mandamos que
fe cumpra, e guarde como em ella he contheudo.

T I T U L O LXXV.

De como os Judtos nom ham de levar armas quando


forem a receber ElRey, ou fazer outros jogos.

E LREY Dom Joham meu Avo de muito louvada


memoria em feu tempo fez Ley, de que o theor
tal he.
1 Dom Joham pela graça de DEOS Rey de Pur-
tugal, e do Algarve. A quantos efta Carta virem fa-
zemos faber, que nós veendo como des pouco tempo
a cá os Judeos das Cõmunas das Cidades , Vi lias , e
Lugares do noffo Senhorio quando faem fora dos Lu-
gares , honde Cõmunas de Judeos ha , receber com
trebelhos a nós , ou aa Rainha minha molher, e If-
fantes meus filhos ; e outro fy quando fahem a alguãs
LII 2 VO-

(.-) dcicíeis S. e T.
452 LIVRO SEGUNDO TITULO SETENTA E C1NCO

vedas , ou jogos pera alguãs honras , e feflas dos ho-


meés boõs deífes Lugares, honde vivem, ufaõ d'ale-
vantar arroidos , pelos quaees fe feguem ancre elles
muitas feridas, e mortes , e grandes omizios ; e pero
lhes eíl:o per vezes per nofias Juíl:iças fora defefo,
nom o leixaarom de fazer , ante o ufaarom d 'hi em
diante mais , levando armas aífy cotas , e cafquetes
nas cabeças, como efpadas , e cuitelos , e outras ar-
mas , fazendo com ellas muito mal , como dito he~
2 E PORQY E a nós perteence poer a eíl:o tal re-
medi o, que elles poífaõ viver em affeílego, e nom
ferem oufados daqui em diante fazerem taaes coufas,
tolhendo, e tirando ho aazo , per que fe eílo poderia
fazer, hordenamos, e eíl:abelecemos , e por Ley poe-
mas, que daqui em diante nom feja nenhuú Judeu
taõ oufado, que quando affy forem as Cõmunas dos
Judeos, honde effas Cõmunas ouver, a vodas, ou a
feíl:as , ou a receber-nos , ou á Raynha, ou Iffantes ,
ou fazer outros jógos , que leve armas veíl:idas , nem
efpadas, nem outros cuitelos; e fe alguús entom qui-
ferem fazer jogos d efgrima, que levem efpadas bo-
tas, e roupas de jogo; e fazendo o contrairo, manda-
mos que as armas, que affy levarem fejam perdidas,
e as Cõmunas dos Judeus, que as armas levarem , pa-
guem por cada vez que o fezerem mil dobras d'ouro
pera a noífa Camara; e fe da parte d'alguã Cõmuna
fe alevantar alguú arroido , o que o levantar moira
porem.
3E
Dt COMO os JuoEOs NOM HAM DE LEV., ETC. 453

3 E POREM mandamos a todolos Corregedores ,


Meirinhos , Juízes , e Juíliças, e Arrabis das ditas
Cõmunas do noífo Senhorio, que façaõ comprir, e
guardar eíl:o, que per nos he mandado; e os Almu-
xarifes dos Lugares, honde eíl:o acontecer, que reca-
dem, e façam recadar logo pera nós as ditas mil do-
bras , fobpena de as pagarem de fuas cafas ; unde
huús , e outros al nom façades. Dada em a Cidade
d'Evora a feis dias de Março. ElRey o mandou per
Johãne ·;f Meendes Efcripvaõ de Gooes (a);(• feu Vaí-
fallo, e Corregedor por elle em fua Corre Era de mil
e quatrocentos e quarenta annos.
4 E DESPOIS deíl:o quando mandamos reformar
eíl:as Ordenaçooés, as Cõmunas dos Judeos. fc enviaa-
rom ágravar a nós da dica Ordenaçom, dizendo que
lhes era muito odiofa, porque nom parecia coufa ra-
zoada , que por huú Judeo levar huã arma a feme-
lhantes jogos, e autos fcm culpa da Cõmuna, ella ou-
veffe de pagar taõ grande pena , ca ligeiramente po-
deria acontecer, que huú Fidalgo,. ou Cavalleiro fal ...
laria com alguú J udeo feu acoílado, que aos ditos jo-
gos levaífe alguma arma pera defpois nos pedir a dita
pena, do que a dita Cõmuna nom feria em culpa al-
guã: pedindo-nos por mercee, que emendaffemos a
dita Ley em tal guifa , que aquelle , que a dita Ley
quebrantaffe , foffe penado fegundo noffa mercee fof-
fe, e a Cõmuna nom recebeffe por ello prejuizo quan-
do
-----------
(a) de Goes Efcrivaõ A. Efcti.evam de Goes S.
454 LIVRO SEGUN DO TITUL O SETEN TA t CINCO

do nom foífe aazado r, nem confen tidor de a dita Ley


feer quebra ntada.
5 E NOS vifio feu requer imento , por nos parece r
feer razoado , Acord amos de a emend ar em cíla gui-
fa; a faber, quand o algum Judeo em fimilhantes jo-
gos , ou em cada huú delles levar alguã arma das de
fofo ditas, fem manda do, aazo, ou confen timent o
deíla Cõmu na, manda mos que tal J udeo íeja noffo
cativo , e feus beés todos noflos pera de todo fazer-
mos o que naifa mercee for: pero fe elle for cafado
ao tempo que aconte cer que elle quebra nte a dita
Ley, fique a fua molhe r falvo todo feu direito , e feus
beés. E a dita Cõmu na nom aja péna algúa por ello,
íalvo fe ella manda r a alguú Judeo , que ao dito tem-
po leve alguã das ditas armas , ou lhe der aazo, ou
confen timent o pera a levar, fabendo que a leva ; ca
cm taaes cafos , e cada huú delles manda mos que a
dita Cõmu na pague a dita péna conthe uda na dita
Ley feita pelo dito Senho r Rey meu Avo: e em todo
cafo aquell e, que levar a dita arma , ferá noífo cati-
vo, e feus beés feraô apricad os aa Coroa dos noffos
Regno s , como dito he.
6 A QYA L Ley vifia, e examin ada per nós com a
limitaç om , e declar açom affy per nos feira, manda -
mos que fe guarde por Ley daqui em diante , por-
que nos parece que com juíl:a razom deveria affy feer
limita da, e declarada. E fe os ditos Judeos , que affy
forem em os ditos recebim entos , ou vodas , ou fef-
tas,
DE COMO OS JuDEOS HAM DE VIVER, ETC. 455
tas, forem dez, ou dalli arriba, que levem armas ,
porque nom he de prezumir que tantos as podeílem
levar fem confentimento da Cõmuna , mandamos
que em tal cafo a Cõmuna pague a pena, que lhe
per ElRey meu Avoo foi poíla.

T I T U L O LXX VI.

De como os Judeos ham de viver em Judarias


aparJadamente.

E LREY Dom Joham meu A voo de louvada memo-


ria em feu tempo fez Ley, de que o theor "tal _he.
1 DoM Joham pela graça de DEOS Rey de Pur-
tugal, e do Algarve. A todo!os Juizes, e Juíl:iças dos
nofTos Regnos , que eíl;a noiTa Carta virdes , ou ho
trelado della em pubrica forma feita per authoridade
de Jufiiça, faude. Sabede, que nós avemos per infor_
maçom , que em alguús Lugares dos noílos Regnos
os Judeos, que hi ha, nom vivem todos apartadamen-
te em fuas Judarias , fegundo he ordenado per nós,
e pelos Reyx, que ante nós forom ; e que algús delles
vivem miíl:icamente antre os Chrifptaõs, e andam de
noite aas deforas fora das d iras J udarias : do que a
nós nom praz , nem ho a vemos por bem feito , fe
affy he.
2 E POREM vos mandamos, que cada huu de vós
em
456 LIVRO SEGUNDO TITULO SETENTA E SEIS

em voffos Julgados façades apregoar, que todolos Ju-


deos fe vaaõ morar dentro nas Judarias, que lhes fom
apartadas ataa certos dias convinhav ees, que lhes pera
ello aílinardes ; e que outro fy defpois que for noite
nom faiam fóra de fuas J udarias. E aquelles, que o
contraira fezerem , vos os prendee , e nom os folte-
des frm noffo mandado ; e fazee-lhes tomar pera nós
todos feus beês. E [e em alguús deffes Lugares nom
ou ver J udarias , ou forem taõ pequenas , em que to-
dos noni. poílaõ caber, vos os apartade, ou lhas acref-
centade, fe pequenas forem, de guifa que poflaõ em
ellas caber em aquelles Lugares , que forem mais
convinha vees.
3 E EM eílo feede bem diligentes , e avifados de
guifa , que o fcrviço de DEOS , e noffo feja em ello
gardado ; fenom feede certos , que a vos nos tornare-
mos por ello, e vo-lo eíl:ranhare mos: unde al nom fa_
çades. Dada em na Cidade de Braga a trinta dias de
Setembro. E!Rey o mandou. Alvaro Gonçalves a fez,
Era de mil e quatrocen tos e trinta e oito annos.
4 A QY t\L Ley viíl:a , e examinad a per nós, áve-
mos por boa , e mandamo s que fe guarde como em
clla he contheudo , e que íe entenda nas Villas gran-
des , e em outros Lugares , honde ouver ataa dez Ju ...
deos , e d'hi pera cima ; porque achamos , que affy
foi ordenado per ElRey Dom Pedro de louvada me-
moria em artigos geraes per elle acordados , e termi ...
nadas nas Cortes, que fez na Villa d'Elvas.
TI-
~ E OS JUDEOS NOM SEJAM PRESOS, ETC, 45 ]

T I T U L O LXXVII.
~ue os Judeos nom Jejam prefos por dizerem contra
el!es, que fe tornarom Chrifptaaõs em Cajlel/a ,
Jalvofeendo delles querei/ado.

N O LIVRO de noffa Chancellaria foi achada huã


Ley, que ElRey Dom Joham meu Avo em feu
tempo fez, da qual o theor talhe.
1 DoM JoHAM, &c. A vós Corregedo r, Juizes, e
Juíliças da Cidade de Lixboa, e a toda las outras
Jufüças dos noffos Regnos , que deílo ou verem de
conhecer, a que eíl:a carta for moftrada, ou o trelado
della em publica forma, faude. Sabede, que a Comuna
dos J udeos da dita Cidade de Lixboa nos enviou dizer,
que nos Regnos de Caflella, e d' Aragom foram fei-
tos muitos roubos, e males aos Judeos, e Judias ef-
tantes á aquella fazom nos ditos Regnos, matan-
do-os, e roubando- os, e fazendo-lhes grandes premas,
e coftrangim entos em tal guifa , que alguus delles fe
faziam Chrifptaõs contra fuas vontades, e outros fe pu-
nham nomes de Chriíl:aaõs nom feendo bautizados com
padrinhos , e madrinhas , fegundo o direito quer ;e ef-
to faziam por efcapar da morte ataa que fe podeffem
poer em falvo; e que alguús deífes Judeos, e Judias
fe vieram aos ditos noffos Regnos, e trouveram fuas
molheres, e filhos , e fazendas , dos quaes moram ,
Liv. JJ. Mmm e
458 LIVRO SEGUNDO TITULO SETENTA E SETE

e vivem alguús delles em efia Cidade, e alguús em


outras Cidades , e Villas , e Lugares do noffo Senho..
no.
2 E QyE ora lhes he dito, que nós davamos nof-
fas cartas , perquc alguús delles fejam prefos , e que
fazemos merece, e doaçam de feus beés a alguãs pef-
foas , por quanto nos fora dito , que elles forom affy
Chriíptaa õs, e fe tornaarom Judeos : no que elles di-
ziam, que recebiam grande aggravo, e fem-razo m,
e enviaram- nos pedir por mercee , que lhes ouvef-
femos a ello alguú remedio com direito, e lhes deí-
femos noffa Carta, perque os nom prendeffe m, nem
lhes tomaffem feos beens por tal razom.
3 E NÓS veendo o que nos dizer , e pedir envia.
rom , e porque noffa mercee , e vontade he , que os
Judcos , e Judias do noffo Senhorio , affy os natu-
raaes delle, como os que fe pera elle vierom viver, e
morar, ou vierem ao diante, que elles, e feos beés
fejam guardados , e defefos , e que os nom prendaõ ,
nem lhes tomem feos beés contra direito , e como
nom devem : Teemos por bem, e mandamo s-vos,
que nom prendaaes , nem mandees prender nenhuú
Judeo, nem Judia deíl:es taaes femelhantes ; nem
lhes mandedes , nem coníentaaes a outros nenhuús ,
que lhes tomem, nem mandem tomar feos beés em
nehuã guiía, pofto que contra elles feja dito, ou que-
rellado , que forom Chrifptaa õs, e que fe vierom aos
ditos noffos Regnos , e vi vem em elles por Judeos , e
co-
~E os JunEOS NOM SEJAM PRESOS , ETC. 459

como Judeos : falvo feendo antes delles querellado


de querella dada, e jurada , e teíl:emunhas nomead as,
que forom feitos Chrifptaaôs , como o direito quer;
e entom prended e effes Judeos , e Judias , de que affy
for querellado de taaes querellas , e fazee delles com-
primen to de direito , e Juíl:iça ; e ao menos que tal
acufaço m , e querella affy norn feja dada contra elles,
como dito he , vós os nom prendaaes , nem man-
dees prende r , nem confentaaes a outros nenhuns
que os prenda m , nem tomem , nem embarg uem
feos beés.
4 ÜuTR.o sY vos manda mos, que antes que effes
querellofos , e acufadores affy recebades a taaes acu-
façooé s, e querell as, que lhe requeirades que vos dem
fiadores aconthiofos , e abonados , moradores , e vi-
zinhos deíl:es Regnos noífos, pera, fe defpois nom
fairem verdadeiras fuas querellas , e acufaçooés em
todo, como dito he, a verem de compo er, e corre-
ger per feos beés a effes Judeos , e Judias, de que af-
fy querell arem , e fezerem prender , todalas cuíl:as ,
e defpezas , perdas , e dãpnos , que xe lhes feguire m
por ello ; e de mais pera averem outra alguma p~na,
fegundo a malicia , em que forem achado s: e eíl:a fia-
doria , que eíl:es querellofos affim ham de dar, fe en.
tenda naquellas peffoas , que nom forem abonad as,
nem ouverem beés de raiz em eíl:es noífos Regnos ,
que valhaõ cem mil libras, pera pagarem , e compoe -
rem todo o que dito he.
Mmm 2 5 ÜLT-
460 LIVRO S!GUN'DO TITULO SETENTA E SI:TE

s ÜuTRO sv mandamos que effes Judeos, e Ju-


dias , de que affy for querell'ado, como dito he , que
1hes façades fequeftrar feos beés , e poelos em maaõs
de homeés fiees per conto e recado , pera defpois fe-
rem entregues a quem drreito for ,dando-lhe perafeu
mantimento aqueUo, que for necdfario : e fe vos ef-
fes Judcos , ou Judias derem fiadores no valor , que
valerem os ditos beés, por elles nom enlhearem os di-
tos beés , recebede-lhe os ditos fiadores , e leixade-
lhes teer feos beés : e fazede de guifa, que fe guarde
direito, e Jufi.iça, e os ditos Judeos nom recebaõ
em ello aggravo, nem fe enviem fobrello mais ag-
gravar a nos.
6 OuTRO SY vos mandamos, que defpois que
taaes querellas forem dadas , que effes, que as derem,
nom poffaõ fazer aveença-s com as partes; e em cafo
que as façam , que nom valham ; e fem embargo
das dita-s avcença-s , fe ponha o feito pola juíl:iça con..
tra effes prefos aa cufia dos que as ditas querellas de-
rem , e fe figua ate final Sentença , pera feer dada pe-
na a effes Judeos, fe culpados forem, fe nom pera fe-
rem effes querellofos punidos, fegundo dito he; e
em cafo que aveenças hi aja feitas, per que efies Ju ..
deos nom poffaõ aver, nem percalçar nenhuã coufa
deffes querellofos, que eífo, que elles affy aviaõ d'a-
ver, feja pera as obras, fegundo nós* mandarmos (a)*.
7 A
(a) mandamos,
DA FORMA > EM QYE HA DE SEER FEITA, ETC. 461

7 A QYAL Ley vifta per nós, a confirm~unos aífy


como em ella he contheudo.

T I T U L O LXXVIII.

Da forma , em que ha de Jeer feita a doaçow , que


E!Rey fezer dos bens d' algum Judeo , por com-
prar ouro, ou prata , ou moedas.

E LREY Dom Joham meu Avoo de gloriofa me ..


moria em feu tempo fez huma Ley, de que o
theor tal he.
I DoM Joham pela graça de DEOS Rey de Pur-
tugal, e do Algarve , e Senhor de Cepta. A vos Affon-
fo Vaafques Corregedor por nos na Correiçom d 'An-
tre Tejo , e Odiana , e a outro qualquer , que voífo
logo tiver , a que eíl.a noífa Carta for moíl:ráda, faude.
Sabedc, que por quanto alguús d,a noífa Corte, e ourr~
algús nos pediram alguús beés d'alguús Judeos, dizen-
do que os feus beés eram noífos , e os podiamas
dar de direito, por quanto comprarom ouro , ou pra-
ta , ou moedas contra noífa defrfa ; os qua-ees beés
lhes nós da vamos per noífas Cartas de Doaçooés fei-
tas fimprezmente fem fe obrigando os querellofos ,
nem dando fiadores a taaes querellas, nem promctten-
do de com elles fazer a veenças ; das quaaes Doa-
çooés ja paífarorn rnuy muitas pelos V cedores da
nof-
462 LIVRO SEGUNDO TITULO SETENTA E OITO

noffa Fazenda. Por ende nós com os do no!fo Con-


fel ho, e Defembargo, acordamos , e fezemos huã
forma de Doaçom , pela qual mandamos , que paífem
daqui em diante as ditas Doaçooés, e nom em outra
guifa ; e que pelas Doaçooés, que ja eraõ paífadas , fe
nom fezeffe obra , fe foífem mais , ou menos , que
eíla , que vai encorporada em efta Carta, da qual o
theor tal he.
2 DoM Joham, &c. A vos Juízes de tal Lugar. Sa-
hede que F. nos dilfe , que F. e F. Judeos mercadores mo-
radores em dfa Vil/a comprarom , e venderom, e vendem,
e compram ouro , e prata , e moedas Jem avendo de nós li-
cença pera el!o ; a qual cou_/a era contra a Ley , e Horde-
naçom per nós feita , pola qual razcm diz , que todos faus
beés ajfy movys , como de raiz , eraõ nojfos , e perteenciam
a nós , e os podiamos dar de direito : e pedio-nos , que lhe
fezdfemos mercee, e Doaçom delles.
3 E Nos veendo , o que nos elle pedia , j'e ajfy he que
os ditos Judeos comprarom, ou venderom ouro, ou prata,
e moedas contra a nq/Ja dejefa , e Jeus beés perteencem a
nos ; e querendo-lhe fazer graça e mercee , por quanto elle
querellou , ejurou, e nomeou tejiemunhas perante o Go1re-
gedor da nq/Ja Corte , que bem , e verdadeiramente dava a
dita querei/a , e a entendia de provar , promeltendo de nom
fazer com elles aveença, e feguir ofeito ataa definitiva, e
fazendo-a , que todo o que fojfe dado , ou promettido em
a·veença , fof!e pera nós , e nom pera o que a aveença ft-
,zelfe , e demais que Je Jcguijfe ofeito pola parte da jujli-
ça
DA FORMA, EM QyE HA DE SEER FEITA, !TC. 463

ça aa cufla do querellofo ataa definitiva ; da qual querella


nos fez certo per Ejcriptura pubrica ; e Je obrigou mais ,
9ue nom lhe provando a dita querella , e os ditos Judeos
.fojfem abfoltos,e livres della fem pena nenhuã, que elle lhes
pagalfe outro tanto, quanto delles poderia aver , Je a dita
querei/a fojfe pro·vada ; e deu pera ello fiadores abonados,
que mojiraarom logo beés defembargados dei dito F. perafe
em elles fazer eixecuçom ,Je os ditos ]udeos fojfem abfoltos
da dita querella, Jenom tanto que pela Sentença, que con-
tra elle fojfé dada, fojfe feita eixecuçom nos bees delles di-
los fiadores , fem Jeendo per'l. el/o mais citados , nem cha-
mados.
4 PoR tanto teemos por bem, efazemos-lhe delles li-
vre , e pura doaçom antre vivos valedoira defle dia pera
Jodo fempre pera elle , e pera todos feos herdefrvs , e foceffo-
res , que depos elle vierem, de todos feus bees ajfy movys .,
como de raiz , q11e elles em ejfa Vil/a , efeu 'l'ermo , e e,n
outros quaeefquer Lugares do no.ffo Senhorio teverem, hrm-
de quer que forem achados. E porem vos mandamos, que
prefente os ditos Judeos, e algumas partes , a que perteen-
cer, Je achardes que ajfy he como elle diz, e que pola di-
ta razomftus beesfom no.ffos, e que os podemos dar de di-
reito , metádes em po/fe delles o dito F. , oufeu certo Pro-
curador, e lhe leixedes lograr, e aver, e pofluir, dar, e
doar, vender, e efcaimbar, e fazer delles, e em. elles to-
do o que lhe aprouver , aJfy como de jua coufa propria ,
por quanto nos lhe fazemos de/les Doaçom o mais firmem en-
te ,
464 LIVRO SEGUNDO TITULO SETENTA E OITO

te , que a nos podemos fazer ,/e a outrem primeiro nom fom


dados per nojfa Carta. Dada em tal Lugar, &e.
5 PoREM vos mandamos que fe perante vos pen-
derem alguús feitos , que fejam , ou forem hordena-
dos fobre as ditas Doaçooés, que concertedes as di-
tas Doaçooés com eíla noífa nota , que em eíl:a naifa
Carta vai encorporada ; e fe achardes que fom taaes
como eíl:a , hide pelos ditos fritos em diante, e fe nom
forem taaes como ella , vós nom façades per ellas
obra nenhuuã, nem vades pelos ditos feitos em dian ..
te. E vos fazede-o aífy faber aos Juizes das Cidades,
Villas , e Lugares da voífa Correiçom , que afiy o fa ..
çam , e tenhaõ eíl:a maneira fofo dita , por quanto
aífy he noíla rnercee de fc fazer : unde al nom faça-
des. Dada em Sanearem a feis dias d'Outubro. EIRey
o mandou per Vafco Gil de Pedrofo Licenciado em
Leix feu Vaífallo , e do feu Defembargo. Joham Fer..
nandes a fez Era de mil e quatrocentos e * cincoen-
ta (a)* e cinco annos.
6 A QYAL Ley viíla per nos louvamos ) e confir.
roamos como em ella he contheudo.

--------·--- ------
TI-
(11) quuenta A.
DE coMo o Juorn CONVERSO AA FE', ETC. 465

T I T U L O LXXVIIII.
De como o Judeo converjo aa Fé de JEsus CHRISTO

deve herdar aJeu Padre, e aJua Madre.

E LREY Dom Affonfo o Segundo da efclarecida


memoria em feu tempo fez Ley, per que horde--
nou, e mandou , que o Judeo nom exherdaífe feu fi ...
lho, ou filha que fe tornaíle Chrifptaaõ , ou Chrif-
ptaã, mais tanto que eífe filho , ou filha for tornado
aa Fé de JEsus C1-1RrsTo, logo aja todo o direito de fua
herança de guifa, que ja mais nunca feja tornado a
viver antre feus parentes; e nos aífy o mandamo s, que
f.e guarde , e cumpra por Ley.
I E PORQYEpoderia recrecer duvida como o di ...
to filho Chrifptaaõ averá de herdar a feu Padre , ou
a f ua Madre Judeos , declaramo s a dita duvida em ef...
ta guifa, que fe fegue ; a faber, fe o dito filho Chrif...
ptaaõ for foo, que nom aja outro irmaaõ, ou irmaã
Judeo, ou Judia, declaramo s, e mandamo s que her-
de ao dito feu Padre , e Madre, afiy como fe elles
foífem Chrifptaa õs; a faber , as duas partes de todos
f.eus beés , as q uaes lhes logo fejaõ entregues como
dito he; e ainda que fejam muitos filhos, e todos jun-
tamente fe tornem Chrifptaaõ s, nom averarn mais de
feu Padre, ou Madre, Judeo, ou Judia do que di-
to he em huú foo filho, corno fufo he declarado ; e
Liv. IL Nnn a
466 LIVRO SEGUNDO TITULO SETENTA E NOVE

a terça parte ficará falva ao Padre, ou aa Madre pera


della fazerem fua voontade em todo tempo e cafo ao
diante , fegundo direito dos Judeos , fem ja mais em
alguú tempo o dito filho Chrifptaaõ herdar em ella ,
falvo feendo.lhe leixada pelo Padre , ou Madre ante
de fua morte.
2 E NO cafo que o dito filho Chrifptaaõ tenha outro
irmaaõ Judeo, ao tempo que aífy for tornado aa Fé
de JEsus CHRISPTO, mandamos que eífe filho ChriC.
ptaaõ aja logo a rneetade de todollos beés , que o Pa-
dre , e Madre a eífe tempo ouverem, e a outra mee-
tade fique aos ditos Padre, e Madre: e a vendo mais
que huú irmaaõ Judeo, em tal cafo aja foomente
a terça dos ditos beés, e as duas partes fiquem aos
ditos Padre, e Madre. E o dito filho Chrifptaõ nunca
ja mais aja efperança d'aver, e herdar em feus beés,
falvo quanto lhe for dado, ou leixado per elles antes
de fua morte per fua vontade: e bem aífy nom ajam
efperança os ditos Padre, e Madre na herança do di-
to filho Chrifptaaõ.
3 E TORNANoo.si;: defpois Chrifptaaõ cada huú
dos outros filhos , a verá logo a terça parte de todolos
beés, que os ditos feus Padres , e Madres a effe tem-
po ouverem ; e aífy cada huú dos outros filhos araa
norn ficar nehuu , fem a vendo efperança de mais her-
dar ao Padre , e Madre , nem eífe Padre , e Madre a
e!fes filhos.
4 E .EM todo cafo, honde o filho Judeo tornado
Clu:if..
DE coMo o JunEo CONVERSO AA FE', ETC. 467

Chrifptaaõ for cafado, e herdar a feu Padre , e Ma-


dre , fegundo fufo dito, e declarado he, deve defcon-
tar na herança , que logo ouver quando for tornado
aa Fé de noífo Senhor JEsus CHRI&PTO, todo aquello
que dos ditos feu Padre , e Madre ouve, fe ainda am-
bos forem vivos ; e fe já a effe tempo alguú delles for
morto, averá toda fua herança deffe morto enteira-
mente fem defcontamento alguú , e em na parte do
que ainda for vivo defcontará o dito cafamento, fe ..
gundo que lhe logo herdar , como dito he.
5 E coM efia declaraçom mandamos que fe guar--
de a dita Ley, como em elia he contheudo, e per
nós declarado como dito he.
6 E PORQUE alguãs vezes acontece, que o Judeo •
ou Judia cafado , ou cafada fe torna Chrifptaaõ , ou
Chrifptaã, e he contenda antre o converío, ou con-
verfa, e o que fica Judeo, ou Judia como feus beê's
averam de feer partidos antre clles , mandamos que
quando tal cafo acontecer , fe faça antre elles parti-
çom em eíl:a guifa, que fe fegue.
7 Se alguú J udeo, ou Judia cafado fe tornar Chrif-
ptaaõ, ou Chrifptaã , o converfo efcolha huã deíl:as
coufas , qual quizer ; a faber, ou parta com fua mo-
lher, fe ficar Judia , igualmente, ou fe antes quifer,
fejam vifios os beés , que cada huú delles trouve ao
tempo do cafamento, e aquello que trouve, eífo Ie..
ve.
8 E SE o cafamento antre elles for feito per Car-
Nnn 2 ta
468 LIVRO SEGUNDO TITULO SETENTA E NOVE

ta d'arras, e o que fe tornar Chrifptaaõ, ou Chrifptaã


quizer aver o que trouve ao cafamento, fegundo os
cafamentos , que fe fazem per cartas d'arras : Man-
damos que fejam em fy valiofas, falvo fe o que fe
tornar Chrifptaaõ , ou Chrifptaâ o contradiffer , di..
2endo que nom foi aífy como em ellas he contheu-
do ; em tal cafo feja elle recebido a provar o que dif-
fer per teíl:emunhas ; e a prova , que fe ouver de fa-
zer , feja ao menos per tres teíl:emunhas , que nom
fejam fofpeitas; e fe provado for , nom fc dê fe aa
carta das arras, mais foomente aa prova , que aífy for
feita , como dito he : e efl-o mandamos aífy , porque
avemos per enformaçom que alguãs vezes acuíl:uma-
vam os J udeos de poer nas cartas das arras mais do
que he verdade.
9 E sE acontecer , que os beés , que o marido , e
a molher a!fy trouverem ao tempo do cafamento,
defpois crecerem per alguã guifa, tornando..fe cada
huú delles Chrifptaaõ, e nom avendo a eífe tempo
alguú filho , ou filha, fe o converfo, ou converfa ef-
colher antes os beés que trouxe ao cafamento,. que
a meetade de todos, em tal cafo deve aver eífe con-
verfo , ou converfa do crefcimento as duas partes , e
o que ficar Judeo, ou Judia leve o terço.
10 E SE ao tempo que cada huú delles for torna-
do aa Fé , elles ouverem huú filho foom ente , e fe tor-
nar Chrifptaaõ , e o Padre, ou Madre, converfo, ou
converfa antes quizer a meetade de todolos beés , em
tal
DE COMO o JUDEO CONVERSO AA FE' , ETC, 469
tal cafo a verá aquel, que ficar Judeo, ou Judia, a ou-
tra meetade, e o dito filho Chrifptaaõ, ou Chrifptaã
a verá logo as duas partes deífa meetade, que aconte-
cer a feu Padre, ou Madre, que affy ficar Judeo, ou
Judia : e fe per ventura acontecer que effe marido,
ou molher, que fe tornar Chriíptaaõ, ou Chrifptaã,
queira antes aver os beés , que trouve ao cafamento,
em tal cafo a verá as duas partes do dito crefcimento,
e o marido, ou molher, que ficar Judeo, ou Judia,
a verá a parte, que trouve, com a terça parte do cref-
cimento, e o dito filho, ou filha d'antre elles averá
logo as duas partes de todo effo, que affy ficar a feu
Padre, ou Madre, Judeo, ou Judia, affy do princi-
pal , como do crefcimento.
11 E AINDA que fejam muitos filhos , e junta-
mente fe tornem Chrifptaaõs, nom averam mais de
feu Padre, ou Madre, Judeo, ou Judia, do que dito
he em huú foo filho, como fufo he declarado, e a ter-
ça parte ficará falva ao dito feu Padre, ou Madre, Ju-
deo, ou Judia , pera della fazerem toda fua vontade
fegundo o direito dos Judeos, fem jamais em alguú
tempo o dito filho, ou filhos Chrifptaaõs herdarem ,
nem averem delles coufa alguã contra vontade dos
ditos feu Padre, ou Madre, aindé\ que em alguú tem-
po eífe Padre, ou Madre fe tornaífe Chrifptaaõ.
12 E EM cafo que os ditos Padre , ou Madre ao
dito tempo ajam alguú outro filho, ou filha, Judeo,
ou Judia, mandamos que o dito filho, ou filhos Chrif-
ptaaõs
470 LIVRO SEGUNDO TITULO SETENTA E NOVE

ptaaós ajam logo a meetade de todo aquello , que fi-


car a feu Padre, ou Madre, Judeo, ou Judia per
qualquer guifa que feja, e a outra meetade fique ao
dito Padre, ou Madre, Judeo, ou Judia: e avendo
mais que huú filho, ou filha, Judeo, ou Judia, em
tal cafo o filho , ou filhos , que fe tornarem Chrif-
ptaõs , ajam logo a terça parte de todo aquelo, que
affy ficar ao dito feu Padre , ou Madre , Judeo , ou
Judia, como diro he, e as duas partes fiquem ao dito
Padre, ou Madré. E os ditos filho, ou filhos, Chrif-
ptaaõ, ou Chrifptaaõ s , nunca ja mais ajam efperan-
ça de herdar, nem aver mais de fua herança , nem
beés contra fua vontade; nem o dito Padre, ou Ma.
d re , J udeo, ou Judia aos ditos filhos Chrifptaaõs em
alguú tempo.
13 E ACONTECE NDO ao defpois que algú dos ditos
filhos , que aífy ficaram Judeos , fe torne Chrifptaa õ,
averá logo a terça parte de todolos bcés , que o dito
feu Padre, ou Madre, Judeo, ou Judia ouverom
em partiçom com o dito feu marido, ou molher, con-
verfo, ou converfa; e bem affy de cada huü dos ou-
tros filhos J udeos , que fe tornarem Chtifptaaõs ao
diante ; e pelo que. logo affy ouverem , devem feer
contentes , e fatisfeitos de toda a herança do dito feu
Padre , ou Madre , que affy ficar J udco , ou Judia,
fem mais ja delles a verem em alguú tempo contra fua
vontade , ainda que em alguú tempo fejam tornados.
Chrifptaa õs, como dito he no Capitulo fofo efcripto.
14 E
DE COMO o JUDEO CONVERSO AA FE', ETC. 47 r
14 E EM todo o cafo, honde o filho Judeo tor-
nado Chrifptaaõ for cafado , e herdar a feu Padre, e
Madre , fegundo fu[o he declarado, deve defcontar
na herança , que logo ouver, quando for tornado aa
Fé de JEsus CHRISTo, todo aquello que do dito feu
Padre , e Madre ouve em cafamento , fe ainda· am-
bos forem vivos ; e fe a effe tempo alguú delks for
morto , averá toda fua herança deífe morto enteira-
mente fem defcontamento alguú ; e na parte do que
ainda for vivo defcontará o dito cafamento , fegun-
do a quantidade em que herdar , como dito he.
15 ITEM. Dizemos que o dito filho atfy tornado
Chrifptaaõ deve herdar em todo cafo a quaaefquer ir-
maaõs, e outros parentes affy, e pela gu ifa como a el-
les herdariam ,fe Chrifptaaõs foífem, guardando ácer-
ca de tal herança os Direitos Imperiaaes, e Leix do
Regno , affy corno em ellas he contheudo.

T I T U L O LXXX.

Dt11 penas , que averam os Judeos , ft forem achados


fora da Judaria de/pois do fino d'Ooraçom.

N A NOSSA Chancellaria foi achada huã Ley feita


per ElRey Dom Joham meu A voo de gloriofa
memoria , de que o theor tal he.
1 DoM Joham pela graça de DEOS Rey de Pur-
tu-
LIVRO SEGUNDO TITULO ÜIT[NTA
47 2
tugal, &c. A todo los J uizes, e Juíliças dos no!Tos Re-
gnos faude. Sabede que as Cumunas dos Judeos dos
noffos Regnos nos enviarom dizer, que ellas rece-
biam mui grande aggravo per huã Ordenaçom dos
noíTos Regnos , na qual era contheudo, que qualquer
Judeo , que foffe aehado de noite fora da J udaria .,
foífe prefo ataa noífa mercee , e perdeífe os beés pe-
ra nós; a qual pena era mui grave , e a Ordenaçom
muito odiofa , por que de ligeiro podiaõ cair nas pe-
nas della por fuas neceffidades , ainda que foífe fem
culpa deífes Judeos : e enviarom-nos pedir por mer-
cee , que minguaífemos de tal pena, e levantaífemos
a dita Ordenaçom , ou a revogaíTemos , e lhes pofef-
femos outra qualquer que noíTa merece foífe , per que
elles podeffem viver.
2 E NÓS veendo o que nos dizer , e pedir envia ..
rom , a vudo Confelho com os da noífa Corte , revo-
gamos a dita Ordenaçom, e daqui em diante Ordena-
mos , e Eítabelecemos , e poemas fobre ello tal Ley,
que qualquer Judeo de idade de quinze annos a ci-
ma, que for achado pela Villa , ou Lugar , honde for
morador , defpois que o fino d'Ooraçom for acabado
de tanger, pola primeira vez pague cinquo mil libras ,
e feja prefo, e nom falto ataa que as pague, poíl:o que
digua que norn tem per honde as pague ; e pala fe-
gunda vez pague dez mil libras da Cadea , e nom fe-
ja folto ataa que as pague , como dito he na primei-
ra vez ; e pola terceira vez feja açoutado publicamen..
te,
DAS PENAS, Qp! HAV'ERAM OS juDEOS, ETC. 473
te , e feita em elle a dita eixecuçom , feja folto f<:m
pagando outra pena.
3 E DESTAS penas deíl:es dinheiros feja a meeta de
pera o Alquaide da Vi lia , ou Lugar , que o prender ,
ou dos Meirinhos da Corte, ou das Correiçooés, fe
os elles prenderem , e acharem, e a outra meetade
Íeja pera os feitos dos prefos pobres, que em effes Lu-
gares jouverem nas Cadeas; e fe per outras peffoas fo-
rem achados, que nom feja Alquaide, ou Meirinho ,
ou feus homeés, damos-lhe poder que o poffam pren-
der, e acufar, e levem effa meetade, que o Alquai-
de , ou Meirinho, ou feus homeés aviaõ de levar ,
fe per elks fofiem prefos.
4 E ESTA Ley, e penas fufoditas nom hajam lu-
gar em eíl:es cafos ; a faber , fe algú J udeo vier de fo-
ra da Villa de caminho , ou d'alguã quintaã , ou lu-
gar , e lhe anoitecer no caminho , que poffa vír ca-
minho direito pera a Judaria.
5 ÜuTRo sY fe alguú andar caminho, e de noi-
te chegar a alguú Lugar, e a taaes oras , que a J uda-
ria ja feja çarrada , que poffa dormir na Villa em
Eíl:alagem , ou em outra poufada, honde dormirem
outros homens.
6 ITEM. Se vier em barca per mar de noite , que
poffa fair honde a barca portar, e hir-fe feu caminho
direito pera a Judaria, honde a ou ver, ou pera outra
cafa , ou Eíl:alagem , honde alguús Chrifptaaõs efü-
verem , pera hi com elles dormir.
Liv. IL Ooo 7 ITEM
LIVRO SEGUNDO TITULO OITENTA
474
7 ITEM. Se afguú Judeo tiver quintaã, ou Lugar
fora da Cidade, ou Villa, ou Lugar, bonde Juda-
ria nom ouver, que poffa eíl:ar em feu Lugar, e de
noite requerer e bufcar aquelles , que o ouverem
d'ajudar a adubar feus beés, e fazer as coufas, que
lhe comprem, com tanto que os nom achem dentro
em cafas com molheres Chrifptaãs , nom eíl:ando hi
feus maridos, ou outros homeés de feu devido.
8 ITEM. Se em tangendo o fino lhe acontecer
efiar em alguú Lugar dentro na Cidade , ou Villa , e
elle como ouve o fino vem feu caminho direito pera
a Judaria , ou cafa onde poufar , fe hi Judaria nom
ou ver , que nom feja prefo, pofto que a Oraçom fe ..
ja dita ante que elle hi poffa chegar.
9 ITEM. Se alguú Judeo for chamado d'alguã.
tal peífoa , que deva hir a fua cafa , ou lhe for gran-
de neceffidade hir allá por coufa , que ao Chrifptaaõ •
ou ao J udeo feja meíl:er, que poffa allá hir, com tan ..
to que leve candea , e Chrifptaaõ cornngo em quan-
to for , e vier pala Villa ; e affy o poífam fazer Fiíi-
cos , ou Ccllorgiaaés , ou outros Meíl:eiraaes , fe pera
feus Officios , e Meíl:eres forem chamados.
I o ITEM. ~e fora das Villas , e Lugares poffaõ
andar caminho de noite, e atraveffar per effas Villas,
fe o caminho per hi for.
II ÜuTRo sv fe alguús Judeos forem rendeiros
das Sifas d'ElRey, que poffam andar , e guardar , e
recadar fuas rendas de noite, com tanto que tragam
com-
DAS PENAS, Q!!E HAVERAM OS JuDEOS J ETC. 475
com figo Chrifptaaõs , e os nom achem em cafa fof_
peita.
I2 Nos quaees cafos queremos , e mandamos
que efta noffa Ley nom aja lugar , e eílo poffaõ elles
fazer fem receo da pena fufo dita. E porem vos man-
damos , que affy a façades daqui em diante comprir,
e guardar , e nom confentades a nenhuú , que contra
ella vaa em nenhuã guifa que feja : unde ai nom fa-
çades. Dante na Cidade de* Lixboa (a)* a doze dias
de Fevereiro. ElRey o mandou per Johãnc Meen-
des Corregedor na fua Corte. Era de mil e quatro-
centos e cincoenta annos.
13 ITEM. Nos foi moftrada huã Carta d'ElRey
Dom Eduarte meu Senhor, e Padre de louvada me-
moria , per que hordenou , e mandou que em todolos
cafos fufo ditos , e cada hu ú delles , em que o J udeo
deveffe feendo achado defpois do fino d'Ooraçam
fora da fua Judaria , vindo de fora da Vilia , de feer
relevado da pena contheuda em a dita Ley , em to..
dos deve feer relevado faindo-fe de fua Judaria ante-
menhaã de madrugada pera alguã parte fora da Vil-
la , ou do Lugar , honde for morador ; porque pa-
rece feer a razom igual daquelle , que de madruga-
da fair da Judaria pera fora da Villa por alguma ne-
ceilidade evidente , aa daquelle , que vindo de fora
da Villa per femelhante neccilidadc chega de noite
Ooo 2 def-

(O) Braga 'T.


476 LIVRO SEGUNDO TITULO ÜITENTA E HUM

defpois do fino d'Ooraçom aa Villa , e Judaria, hon...


de he morador.
14 A QY AL Ley , e Carta fufo ditas per nos vif-
tas, e examinadas, avemos por boas , e mandamos
que fe guardem como em ellas he contheudo.

T I T U L O LXXXI.
De como o ./lrraby Moor dos Judeos , e os outros
Arrabys devem d'hufar defuas Jurdiçooês.

E LREY Dom Joaõ meu Avoo de louvada me-


moria em feu tempo fez Ley , de que o theor
tal he.
I DoM Joaõ pela graça de DEOS Rey de Portu-
gal, e do Algarve. A quantos eíla Carta virem faze-
mos faber, que perante nos parecerom os Procura-
dores das Comunas dos Judeos da Cidade de Lixboa,
e outros Judeos de nofios Regnos, e fe aggravaarom
de Dom Judá Cofem noffo Arraby Moor , e derom
delle muitos Capítulos dizendo, que lhes fazia mui-
tos aggravos , e fem-razoés , ufando do dito Officio
como nom devia, e tomando conhecimento dos fei ..
tos , e coufas, que a elle nom perteenciam.
2 E POR tirarmos dantre elles contendas, fezemos
perante nós vir os privilegias, que per nós foram da-
dos a Meefhe Moufem , que foi noífo Arraby Moor,
por
DE coMo o ARRABY MooR nos JuoEos, ETC, 4 77

por quanto o nós demos ao dito Dom Judá pela gui-


fa que o avia o dito Meeílre Moufem : outro fy fe_
zemos vir Sentenças , e Cartas , e privilegias. , que
as Comunas fobre eíl:o a viam , e as Hordenaçooês
feitas per ElRey Dom Pedro noífo Padre, e de E!Rey
Dom Fernando noílo Irmaaõ, a que DEOS perdoe,
pera veermos a jurdiçom , que os Arrabys ouverom
ataa ora, e como o Arraby ora della avia d'hufar. E
viíl:o todo, fezemos huã Hordenaçom, que fe adian..
te fegue , em na qual declaramos o livramento, e jur-
diçom, que o Arraby ha d'aver, e corno elle , e feus
Ouvidores della ham d'hufar.
3 PRIMEIRAMENTE mandamos a todolos noífos
Juizes, e Corregedores das Comarcas , e Defembar-
gadores, e Sobre Juízes, e Ouvidores, que nom co-
nheçam de nenhuú feito Civel, nem Crime, que fe-
ja antre Judeo, e Judeo de qualquer eíl:ado, e con-
diçom que feja , nem dê Cartas nenhuãs direitas ,
nem outras ; e fe as derem , mandamos , e defende-
mos aos noífos Chancelleres , que as nom affeellem ;
e fe as derem , ou forem aífeelladas dos noífos feellos,
mandamos que nom valham , nem façam per ellas
obra , e eíl:es que as derem fejam theudos de paga-
rem a nós os noífos encoutos ; por quanto he noífa
roercee , que todolos feitos de qualquer maneira que
fejam antre Judeo, e Judeo , fejam viílos, e def-
embarcrados per elle , ou per feus Ouvidores , e feel-
º '
lados do noífo feello , que o dito Arraby Moor trou-
ve~ 4 E
4 78 LIVRO SEGUNDO TITULO OITENTA E HUM

4 E OUTRO sY mandamos, e defendemos a todo-


los Judeos dos noífos Regnos , que nom querelem ,
nem denunciem, nem demãdem huús aos outros per-
ante nenhuãs Juíl:iças das fofo ditas, falvo perante
o dito Arraby Moor , ou perante feus Ouvidores ,
ou perante os Arrabys das Terras , fob pena de nos
pagarem mil dobras d'ouro ; e aquelle , que contra
eflo for, mandamos ao Arraby Moor que o prenda, e
tenha prefo ataa que pague a dita pena.
5 ITEM. O Arraby Moor trazerá huú noífo fcello
feito das nofias armas, aífy como o fomos outros nof-
fos feellos das Correiçooés , e as leteras delle digam :
Seel!o do* Arraby (a) * Moor de Purtugal, e efse feel-
lo feja dado a huú Chrifptaaõ , ou Judeo , que com
o Arraby Moor ande , de boa fama , e condiçom ,
e o traga , e feja Chanceller ; e com efse feello fejam
aífeelladas todalas Cartas , fentenças , e defembargos,
que pelo dito Arraby Moor, ou per feu Ouvidor, que
com elle andar , forem afünadas ; e levem de Chan-
cellaria pela taufaçom da noffa Chancellaria.
6 ITEM, Nas Comarcas per nos adiante devifa-
das , honde ham de feer poíl:os Ouvidores pelo dito
Arraby Moor, ferá dado a cada huu Ouvidor huú feel-
lo das nofsas armas, e as leteras daredor diram: Seel-
lo * do Ouvidor ( b) * das Comunas d' Antre Doiro e Minho,
e afsy das outras Comarcas : e eíl:e feello feja dado pe-

______ ______
lo Arraby Moor a huú Judeo , ou Chrifptaaõ, que fe4

(a) Arra6iado S. (6) da Ouv idQrÍa


, ,_ p
DE coMo o ARRA BY MooR nos JuDEOs, ETC. 479
ja morad or no Luga r, honde o Ouvid or ouver d'eíla r,
que feja boo , e de boa fama , e condi çom , e affeelle
com o dito feello todalas Sente nças, e defem bargo s,
que per elle paf.sarem.
7 ITEM, O Arrab y Moor trazer á fempre com figo
per bonde andar huú Ouvid or, que feja Judeu , Le-
terado , e de boa fama , e condi çom, que ouça os fei-
tos, que a elle perten ceré, e que elle per fy defem -
barga r nom poder .
8 ITEM. O Arraby Moor dará todalas Cartas di-
reitas nos feitos civis , que forem antre J udeo, e J u-
deo , as quaees Cartas feram feitas em nofso nome ,
e affignadas per elle , ou per efse feu Ouvid or , que
elle pera ello trouxe r , e feelladas do nofso feello , que
elle trouxe r • e nom do feu.
9 ITEM. Todal as Carta s, que per elle pafsarem ,
honde a coufa , fobre que fe dam , for finda , em que
nõ ha mais* diíl:inçom (a)*, ou Cartas de Confi r-
maçoo ês d'Arra bys das Comu nas, ou d'outr os Offi-
ciaees , que a elle perteençam de confir mar, ou Car-
tas direitas , per que fe faça direito , e juíl:iça , feraõ
dadas em nofso nome , como f ufa dito ho : e as ou-
tras que fam Cartas teftem unhav ees, ou d'agg ravos ,
ou frontas , ou proteftaçooés , que peran te elle forem
pedid as, de que ainda a nós perteença o conhe ci-
mento de fobre feu livram ento, ou mand ado avermos
de corre ger, fejaõ dadas pelo Arraby Moor em feu
no-

(o) diftribuiçaó 'L


4 80 LrvRo SEGUNDO TcTuLo OITENTA E HUM

nome poendo feu ditado: Juda Cefem Arrahy Moor por


meu Senhor ElRey das Comunas dos Judeos de Purtugal,
e do Algar·ve. A quantos ejla Carta virem, ou cuvirem.
A vos Arra/Jy de tal Lugar, fegundo em eífes livramen-
tos requerer ; e feerom feelladas do dito nofso íeello.
10 ITEM. Nom dará Cartas de fegurança, falvo
naquelles cafos , que as damos Corregedores das Co-
marcas , que per nós fom poíl:os ; e as que afsy der ,
feram dadas em feu nome, e nom no nofso, poendo
o ditado: Juda Cefem, &e. A vos Arraby da Comuna dos
Judeos de tal Lugar. Sabede que eufeguro F. que Jlêper-
ante vos a direito, &e. Segundo a forma das Cartas de
fegurança..
1I ITEM. Quando chegar a alguú lugar, honde
nós nom formos, fará Correiçom per eíl:a guifa; man-
dará aos Tabelliaães, que venham perante ellc, e pe-
dir-lhes-a os eíl:ados , affy os geraaes , como os eípi-
ciaacs, e os geraaes com acordo dos Officiaaes , e ho...
meés boõs das Comunas honde for, defembargará,
e os efpiciaaes corregerá , mandando prender aquel-
les , que culpados forem , e entregallos-ha aos Arra-
bys, que façam delles direito , e juíl:iça.
I 2 ITEM. Mandará apregoar, que fe hi ou ver ai ..
guús , que recebeffem mal , ou fem-razom dos Arra-
bys, e dos Vereadores, e dos outros Officiaaes da Co-
muna, ou d'alguús poderofos, que vaaõ a eUe, e que
Jho fará correger.
13 ITEM. Defpois que eíl:o fezer, elle , ou aquel-
le
DE coMo o ARRABY MooR Dos JuoEOs, ETC. 48r
Je feu Ouvidor, que com elle andar, feente-fe na au-
diencia com os Arrabys, e veja os feitos, que peran-
te elles andam, e faça-os logo defrmbargar fem de-
longa nenhúa; e fe achar que alguús deffes feitos fom
detheudos per mingua dos Arrabys, faça-os logo def-
embargar, e pagar pelos beés dos Arrabys as cuftas
aas partes , que per foa mingua em effes feitos feze-
rom. E o Arraby Moor, ou feu Ouvidor, que affy
com elle andar, nom tomará nenhuu ddfes feitos em
fy pera os defembargar ; nem tomará conhecimento
de nenhuú feito civil , nem crime per nova ciraçom,
ou per fimpres querella , fal vo fe for dos Arrabys , e
Vereadores, Procuradores, e Tabelliaaés, e d'outros
Judeos poderofos , de que os Arrabys dos Lugares
fem malícia , e engano differem, que nom podem fa-
zer direito, e juíl:iça; e eíl:es feitos deíl:as peffoas, de
que lhe damos conhecimento, faça em guifa, que os
livre nos Lugares , honde os elle achar, e nom os ti-
re d'hy; e fe os livrar nom poder em quanto for nos
Lugares, cometa-os a huú homem bõo Judeo do Lu-
gar, honde os feitos forem, ao mais prazer das par ..
tes que o fazer poder; e fe o hi tal nom poder achar,
cometa-os no primeiro Lugar, e mais ácerca do Lu-
gar honde as partes forem moradores., aos Arrabys
deffe Lugar, ou a huú homem bom Judeo, em que
fe as partes louvarem , ao qual, ou aos quaees aílina ..
Tom tempo convinhavel a que os poífam livrar, pera
Liv. li. Ppp ave ..
482 LIVRO SEGUNDO TITULO OITENTA E HUM

averem acabamento qual devem fem dãpno das par-


tes.
14 ITEM. Nom tomará conhecimento de nenhuús
feitos de almotaçaria , porque he izenta dos Conco-
lhos.
15 ITEM. Nom tomará conhecimento per nova
citaçom, nem per fimpres querella, nem per aggra-
vo, nem per appellaçom de nenhuús feitos de inju-
rias verbaaes , porque o conhecimento deíl:es feitos
perteence aos Arrabys das Comunas de os ouvirem ,,
e livrarem com os Vereadores , e per elles ferem fin ..
dos; falvo naquelles cafos , que forn antre as peffoas
Contheudas na Ordenaçom do Regno feita fobre tal
razom.
16 ITEM. Saberá corno eftam os beés dos Orfoõs
em feus tempos, e em cuja rnaão, e guarda ; e fará
tomar , ou tomará conta a feus Tutores , e Curado-
res ; e aos que Tutores , e Curadores nom reverem ,
mande aos Arrabys que lhos dem ataa dia certo , e
fob certa pena.
I 7 ITEM. Tomará, ou mandará tomar, em quan-
to em effe Lugar eftever , as contas dos beés das Co-
munas aos Procuradores, e Thezoureiros, e fará poer
em recadaçom todalas rendas , e dinheiros, e beés
delles ; e os que achar devedores mandalos conftran-
ger per feu Porteiro, que paguem o que affy deve.
rem : e pera tomar eíl:as contas nom os levará fora do
Lugar , ou Lugares.
18 ITEM.
DE COMO o ARRABY :rvfooR nos Juoios , ETC. 483
18 ITEM. Aquelles que lhe forem dados em ef-
tados, e merecerem de feer prefos, mandalos-ha pren-
rler ; e corno forem prefos , entregalos-ha aos Arra-
bys dos Lugares , como dito he; e os que prender
nom poderem , leixa-los-ha. em rool a effes Arrabys •
e mandar-lhes-ha que os prendam; e fe achar def-
pois que effes Arrabys fom cm ello negrigentes, que
os efcarmente, como achar que he direito.
19 ITEM. Coíl:rangerá, e mandará coílranger as
Comunas , que tenhaõ Leterados pera enfinar nos
Lugares, honde fe cuíl::umou de os aver, e affy Ca-
pellaaés tantos, como fe !empre acuftumou ; e fe ef-
fas Comunas nom poderem achar effes Leterados , e
Capellaaés polos preços, que entenderem que he ra-
zom , que o Arraby Mor coftranga eífes Leterados, e
Capellaés , que fervam , e lhes faça dar as foldadas ,
que elle , com os Arrabys , e Vereadores , e homeés
boos Judeos per juramento acharem, e acordarem
que merecem outras peífoas.
20 ITEM. Nem efmolas o Arraby Mor nam fará,.
nem mandará fazer, nem defpender dos beés das Co..
munas contra fuas vontades.
2I ITEM. Fará, e mandará fazer, e correger cal-
çadas, ou Hedificios publicos, ou privados, fe os hi
ouver.
22 ITEM. Nos Lugares, hu EIRey for, o Arraby
Moor nom fará correiçom , porque a correiçom em
cffes Lugares perteence ao Corregedor da Corte, que
Ppp 2 ha
484 LIVRO SEGUNDO TITULO OITENTA E HUM

ha poder de correger fobre todolos Officiaaes , e Se-


nhores do Regno ; e o Corregedor fazendo correi ..
çom , ou feendo chamadas perante elle alguãs das
peffoas poderofas fufo ditas, e o Arraby Moor hi for,
remeta-os a elle, ou a feu Ouvidor, que com elle an-
dar, e mande-lhe que as defernbargue logo fem de-
longa , e affy aos que mandar prender; e fe o Arraby
Moor, ou feu Ouvidor forem negrigentes, e os nom
defernbargarem corno, e aos tempos que devem, que
lho efcarmente como vir que he direito ; e nas outras
coufas o Corregedor fará correiçorn fegundo a feu
Officio perteence.
23 ITEM. O Arraby Moor nom poerá, nem fará
nenhuú Arraby em nenhuú Lugar; e fe ora fom pof...
tos , fejam logo revogados ; e as Comunas façam , e
tirem os Officiaaes per pelouros , fegundo he con-
theudo na noffa Ordenaçorn ; e os que fairem por Ar-
rabys , venham ao Arraby Moor com a enliçorn , e
confirme-a em cada huú anno ; e elle lhes dê dello
cartas feitas em noífo nome affinadas per elle, ou pe-
lo feu Ouvidor, que elle trouver comfigo, e aifeella ..
das com o dito noffo feello.
24 ITEM. Pera os feitos das Comunas ferem bem
defembargados , e as partes nom fazerem grandes
defpezas , Mandamos ao Arraby Moor que ponha
huú Ouvidor na Cidade do Porco pera os d' Antre
Doiro, e Minho; e outro na Torre de Meencorvo
pera os de Tra-los-Montes ; e outro em Vizeu pera.
os
DE coMo o ARRABY MooR nos Juorns, ETC. 485
os da Comarca da Beira d'aquem da Serra ; e outro
em Covilhã pera os de Riba de Coa pela Serra aallem
ataa contra o Tejo; e outro em Santarem pera os da
Eíl:remadura; e outro em Evora pera os d' Antre Te-
jo, e Odiana ; e outro em Faarorn pera os do Algar-
ve , e mais norn ; e fe outros mais, ou em outros Lu-
gares fam póíl:os , fejam loguo revogados. E effes Ou-
vidores averam cada huú feu Efcripvaõ Chrifptaaõ,
ou Judeo, que feja de boa fama, e que faiba bem ef-
crepver, e fervir o Officio, jurando que tenha fegre-
do nos feitos, que com elle fallarern , e que bem e di-
reitamente ufe do dito Officio;. e leve das Efcripturas
feu direito, e guarde as Ordenaçooés , que fom dadas
aos Efcripvães da noffa Corte. E affy traga o Arraby
Moor com figo huú Efcripvam jurado Chrifptaaõ ,
ou Judeo , que faiba bem leer , e efcrepver, e feja de
boa fama , e tal que bem e direitamente ufe do dito
Officio ; e eíl:e efcrepva todolos defernbargos, e fei-
tos, e livramentos, e Efcripturas, que o Arraby Moor,
ou ho Ouvidor, que com elle andar, defembarga-
rem , e mandarem fazer.
'.2 5 ITEM, Eftes Ouvidores nom tomem conheci ..
mento de nenhuús feitos, fal vo daquelles , que das
Comarcas devifadas a cada huús vierem per aggra-
vo , ou per appe11açom ; nem dem cartas , nem ou ..
tros defembargos , falvo os que a effes feitos perten-
cerem ; e as cartas , que affy derem , fejam dadas em
nome do Arraby Moor, como fufo dito he , e nom
em
4g6 LIVRO SEGUNDO TITULO OITENTA E HUM

em noffo nome ; e outro fy o Arraby Moor, nem feus


Ouvidores por nenhuús feitos nom poerom efcumu-
nhom , nem pena defcomunhom , fal vo naquelles ca-
fos, em que os feus direitos a mandam poer , em que
fe outra eixecuçom nom requere, nem fe pode fa-
zer.
26 ITEM. O Arraby Moor nom dê cartas de gra-
ça, nem de mercee, nem privilegios, perque alguús
fejam efcufados de pagar fintas , nem talhas, nem
fervir com as Comunas , nem outras nehuuãs , que
nom fejaõ direitas; e as que dadas teem fejaõ revoga-
das ; e [e as mais der, que nom valhaõ , nem fe faça
per el las obra.
27 ITEM. O Arraby Moor, nem feus Ouvidores
nom dem Alvaraaes, per que mandem fazer algúa
coufa , que a direito, e jufiiça perteença ; e guarde a
Ordenaçom , em que eíl:o he defefo aos noffos Offi-
ciaaes , e de delles cartas , como fofo dito he ; e fe
contra efio alguús Alvaraaes der, que lhos nom com-
pram , nem fe faça per elles obra.
28 ITEM. Mandamos ao Arraby Moor, que a~
cartas , que der , fejam bem viíl:as , e examinadas em
tal guifa, que fejam direitas , e que per ellas nom fe-
ja feito prejuízo ao direito das partes , nem defenda
em ellas que nom recebam aggravos, nem appella-
çoões ; e fe as der, que os Arrabys, e Jufiiças, fem
embargo de taaes cartas , conheçam dos feitos, e ou-
çam as partes , e recebam as razoões • e embargos li-
de-
Dt coMo o ARRABY MooR nos JuoEos , I.Tc. 487

demos , que cada huú allegar, e dem aggravos , e


appellaçoões nos cafos , que os com direito, e Orde-
naçom do Regno devem dar.
29 ITEM. Mandamos, e defendemos ao Arraby
Moor, e a feus Ouvidores, que nom prendam, nem
mandem prender nehuús, falvo fe delles ouverem
querellas juradas , e tefiemunhas nomeadas , e em
taaes feitos , que fegundo a Ordenaçom do Regno o
devem feer ; e antes , nem defpois que prefos forem ,
nom tirell1 , nem mandem tirar inquiriçom devaífa
fobre nehuú, falvo fe for nos cafos, em que fe deve
tirar : e guardem em ello as Ord~naçoões do Regno.
30 ITEM. Os feitos, que nas terras, ou perante o
Arraby Moor forem ordenados , mandamos que fe
tenha em elles tal regra , a faber. ~e nos feitos cri-
mes os Arrabys dos Lugares os ouçam, e defembar-
guern , e das Sentenças , que derem , dem aggra vo ,
ou appellaçom pera o dito Arraby Moor; e fe a par-
te nom quifer aggravar, ou appellar, que appellem
elles polla Juíl:iça: e do Arraby Moor venham eíTcs
aggravos, ou. appellaçoões a nós, e nem fique nehuú
feito crime, em que a Jufüça íegundo direito e Or..
denaçom do Regno aja lugar, findo per feus livra-
mentos , mais em toda guifa venham a nós. E nos
feitos Civys, que os Arrabys dos Lugares defembar-
garem, fe alguã parte aggravar, ou appellar, vaaõ
eífes aggravos, e appellaçooes ao Arraby , ou a feus
Ouvidores ; e fe das Sentenças , que elles derem , a
par-
4 88 LrvRo SEGUNDO Trruto OrTENTA E HUM

parte appellar, ou aggravar, que lhes dem effes ag-


gravos , e appella\oões pera nos ; e fe as partes ag-
gravar, ou appellar nom quiferem, dem-lhes effas
Sentenças, e livramentos em cartas feitas em noffo
nome , e feelladas do noffo feello , como dito he ,
quando paffarem pelo Arraby Moor, ou pelo Ouvi-
dor, que elle comfigo trouver ; e as que forem dadas
pelos outros Ouvidores das Comarcas , fejam feitas
em feus nomes , e do Arraby com os ditados fu[o ef-
criptos , e mandem per ellas fazer obra, e eixecu-
çom, aífy como per no!fas Sentenças.
3 r ITEM. As appellaçooés , e aggravos , que affy
ouverem de vir ao Arraby Moor, venham aos ditos
Ouvidores, fegundo as Comarcas forem ; e das Sen-
tenças , que elles derem , nom venha mais aggra vo ,
nem appellaçom ao Arraby Moor , mais venhaõ logo
fcm outro meo a nós: pero fc o Arraby Moor eíl:ever
em a Comarca, as apclaçoeés , que vierem pera onde
elle eítever , e ouverem de paffar per hi , e hirem ao
Ouvidor, que na Comarca efiiver, o Arraby Moor as
ha de tomar, e livrar per fy, ou per [cu Ouvidor, que
comfigo trouver, e delle appellar, ou aggravar pera
nós, fegundo dito hc.
32 ITEM. Dos feitos, que polo Ouvidor, que
comftgo trouver, forem defembargados , de que a el..
le perteence o conhecimento , como fofo dito he ,
nom devem receber aggravo, nem appellaçom pera
o Arraby Moor, mais logo delle ham de vir a nós.
33 ITEM.
DE coMo o ARRABY MooR t>os JunEOs, ETC. 489

33 ITEM. Mandamos, que o Arraby Moor tenha


Porteiro jurado, que faça as penhoras e eixecuçoões
pelas Sentenças e livramentos, que elle, ou feu Ou-
vidor der : outro fy que elle polos direitos, e rendas,
que a feu Officio perteeneem, poffa mandar penho-
rar nos beés dos Officiaes das Comunas; e fe effes ou-
verem alguma razom a nom pagarem , que a ve-
nham ou enviem moíl:rar perante elle; e fe elle del-
lo nom quifer conhecer , poffaõ delle appellar, e ag-
gravar pera nós, e elle dê-lhes o aggravo, ou appel-
laçom em tal cafo: e d'outra guifa contra direito nom
mande penhorar, nem cofiranger, porque ferá theu-
do a lho correger. E quanto he por alguãs dividas ,
fe lhas alguús deverem , cite os devedores perante
os Arrabys dos Lugares , e figua feu direito perante
elles , como he mandado nas outras peffoas , e fei-
tos.
34 ITEM. Se acontecer, que alguús Ouvidores do
Arraby Moor fem hordem de J uizo fezerem alguús
aggravos a alguãs peffoas , effes aggravados venham
perante o Arraby Moor, e digam-lhe o aggravo, que
lhes feu Ouvidor fez , e fe lho nom quifer correger,
entonce venham a nós, e faremos-lhe direito: e quan-
to he dos que fe fentirem aggravados delle , ou do
Ouvidor , que com elle andar , ou dos outros Offi-
ciaaes , que elle com figo trouver , poffaõ vir a nos,
ou ao Corregedor da noffa Corte, que he feu Juiz,a
que perteence em noílo nome o conhecimento del-
Liv. 11. Qqq les ,
490 LIVRO SEGUNDO TITULO 01T.ENTA E HUM

les, e faremos-lhe direito fem embargo da pena das


mil dobras , que lhe he poíl:a.
35 ITEM. Mandamos ao Arraby Mor, que nom
traga com figo , nem per honde elle andar , cadea ne-
húa ; e os que prefos ouverern de feer, poíl:o que fe-
jarn das pe{foas, de que elle deve d'aver conhecimen-
to , faça-os teer, e gardar nas prifooés das Comunas
dos Lugares, honde elle eílever.
36 ITEM. Mandamos aos Arrabys das Comunas,
que vejam as Sentenças, e mandados , e defernbar-
gos ,que forem dados pelo dito Arraby Moor ,ou per
feus Ouvidores, e que os cumpraõ e guardem., e fa_
çaõ per elles obra , fegundo em elles for contheudo;
e fe o elles fazer nom quiferem, mandamos aas nof-
fas Jufiiças dos Lugares, a que as ditas Sentenças, e
defembargos forem moíl:rados , que os compram e
guardem , e façam cumprir corno em elles for con.
theudo , com tanto que fejam daquelles , que fom
contheudos cm efia noffa Ordenaçorn ; e fe contra eI-
la forem , mandamos e defendemos a todolos Arra-
bys, Juízes, e Jufiiças, que as nom compram nem
guardem , nem façam per ellas obra nehúa.
37 E MANDAMOS ao Arraby Moor, e aos ditos
feus Ouvidores , que vejam a dita Ordenaçom , e a
guardem como em ella he contheudo, e nom façam,
nem mandem fazer coufa algúa contra ella ; ca fejam
certos, que fe o contrairo fezerem , que lho faremos
pagar per feus beés, e correger os dãpnos, e cuílas
aos
DE COMO o ARRABY MooR nos Junrns , 'ETC. 491

aos dapnificados, e mais eftranhar-lho-em os nos cor-


pos, e beés como a aquelles, que nom comprem
mandado de feu Rey , e Senhor : unde a! nom faça-
des. Dante cm a mui Nobre, e leal Cidade de Lixboa
a tres dias do mez de Maio. ElRey o mandou per
Johãne Meendes Corregedor na fua Corte. Fernam
• Vaafques (a)* a fez Era de mil e quatrocentos e
• quarenta ( b) * annos.
3 8 A QYAL Ley vifta per nos, mandamos que
avendo hi Arraby Moor, que fe guarde como em el-
la he contheudo.

T I T U L O LXXXII.

flue os Judeos nom Jejam prefos por dizerem contra


elles, que fizerom moeda f a(fa, ou comprarom
ouro, ou p rata ,/alv oJ eendo p rimeiro
del/es querei/ado.

N O LrvRo da noífa Chancellaria foi achada huã


Ley d'ElRey Dom Joham meu Avoo de glo-
riofa memoria, de que o theor tal he.
1 DoM Joham per graça de Deos Rey de Purtu-
gal, e do Algarve, e Senhor de Cepta. A vos Juízes
da Cidade do Porto, e a todolos Juízes , e Jufüças
dos noífos Regnos , a que efia carta for moftrada , ou
Qqq 2 O

(a) Va;is (b) cincoc nta A.


492 LIVRO SEGUNDO TITULO OITENTA E DOIS

o trelado della em publica forma , e a outras quaef-


quer peffoas, e Officiaaes, a que deíto o conhecimen-
to perteencer per qualquer guifa que feja, faude. Sa-
bcde, que a Comuna dos Judeos dcffa Cidade nos
enviou dizer per Juda Negro morador na Cidade de
Lixboa, que algumas peffoas deffa Cidade, e d'ou-
tros Lugares denunciam , e levantam fama d'alguús
delles, dizendo que fezerom , e fazem moedas fal-
fas , e que trautam , e ufaõ dellas , e que compram , e
vendem , e comprarem , e venderam ouro, e prata
(a), e moedas, ebulhooés, equeasfundirom, e
fundiam • e faziaõ as ditas coufas , e cada huã dellas
contra a noffa dcfefa; e que quando vos aiguãs pef-
foas requerem , que prendaaes alguus J,udeos da dita
Comuna, que pero vos da fua parte he dito, e reque-
rido que o nom façades, por quanto fc eíto faz mali-
ciofarncnte, e polos ditos Judeos a verem aazo d'ave-
rem medo, e lhes peitarem, poíto que o Judeo, con-
tra que for dito , fe nom feenta em ello por culpado,
com temoor de feer prefo , e lhe ferem efcriptos feus
beés, fazem aveenças com aquelles, que affy delles
denunciam, e lhes dam do que teem; e que nom em-
bargante todos eíl:es aggravos> que aífy recebem, que
vós prendedes, e queredes prender aquelles , de que
vos afI:v foi denunciado , ou fobre que fama levan ..
tam , e que lhes fazedes efcrepver feus beés fem vos
delks dando querella jurada, e teíl:emunhas nomea-

---------------
das,
,.. ) dinheiros Y-,
~.E OS JuDEOS NOM SEJAM PRESOS> ETC. 493

das, per que o <levedes de fazer ; em a qual couza di-


zem, que lhes he feito aggravo, e fem-razom : e que
porem nos pediam por mercee, que lhes ouveífemos
a ello remedio com direito.
2 E Nós veendo o que nos afTy dizer, e pedir en-
viarom, reemos por bem , e mandamos-vos, que os
nom prendaaes , nem mandees prender por taaes de-
nunciaçooés , e famas, que delles fejam dadas , nem
levantadas , nem lhes tomedes por ello feus beés, fal-
vo fe delles for qucrellado , e a querella for jurada, e
as teíl:emunhas nomeadas, e fe fe o quercllozo obri-
gar nom provando a que relia , e fcendo o Judeo folco
fem pena, que lhes pague outro tanto , quanto eífe
querellofo a veria, fe foífe provado ; e fobre a obriga-
çom dar fiadores avondofos, que fe obriguem, que fe
o querellofo nom provar a querella., que deo, e for
por ello condepnado per Sentença ao Judeo prefo, que
elles fiadores moíl:rem logo os beés defembargados
do dito querellofo, em que logo fe faça eixecuçom
pela dita Sentença ; e nom os mo!lrando , que pela
Sentença fe faça logo eixecuçom nos beés deífes fia-
dores, fem feendo pera ello mais citados, nem cha-
mados ; e fe tal querella. com tal fiadoria der , vos
prendede aquelle , de que vos aífy for querellado; e
fe eífes , que prefos forem , derem fiadores aos beés ,
vos nom lhes comedes feus beés , e leixade-lhos cfrar
em feu poder, ataa que o feito , que contra elles for
hordenado, feja defembargado per direito, e Senten-
ça
494 LIVRO SEGUNDO TITULO OITENTA E DOIS

ça quem ha d'aver os ditos beés ; e a] nom façades.


Dada em a Cidade de Lixboa a fete dias de Maio.
E!Rey o mandou per Johãne Meendes Corregedor
em a fua Corte. Pere Eíl:eves a fez Era de mil e qua-
trocentos e cincoenta e cinco annos.
3 A <UT A L Ley vifta per nós , mandamos que fe
guarde , corno em ella he contheudo.

T I T U L O LXXXIII.

Do Privilegio dado ao Judeo, que fe torna Chri/ptaaõ.

E LREY Dom Joham meu Avoo de louvada me..


rnoria em feu tempo fez húa Ley em efia for-
ma , que fe fegue.
1 DoM Joham pela graça de Deos Rey de Purtu..
gal, e do Algarve, e Senhor de Cepta. A quantos ef-
ta Carta virem fazemos faber , que nós Eíl:abelece-
mos , e poemos por Ley , e Ordenaçom , que pola
Santa Fé de Noífo Senhor , e Salvador J.Esus CHRrs-
TO feer eixelçada, e multiplicada , porque aquelles,
que fom infiees, aífy Judeos, como Mouros, quanto
mais forem favorizados , e ouverem favor alguú aal-
lem do que ham os Chrifptaaõs, porque elles em feen ..
do Judeos fom relevados d'alguús encarregos, dos
quaees o nom fomos Chrifptaaõs;, porem por ave--
rem razom de mais tofiemente fe tornarem aa Fé de
JE-
Do PRIVILEGIO DADO AO Juow, ETC. 495

JESUS CHRISPTO Noífo Salvador, tal como eíl:e, que


fe affy tornar aa dita Fé, feja cfcufado de teer cavai-
lo, pofto que aja conthia pera o teer fegundo noffa
Ordenaçom ; e mandamos , que feja dello efcufado.
E aífy mandamos aos noffos Coudees de todalas n.of-
fas Cidades, Villas , e Lugares , honde forem mora-
dores, ou elles quiferem viver em noífos Regnos, affy
de Purtugal , como do Algarve , que os nom coíl:ran-
gam pera teerem os ditos cavallos, poíl:o que tenham
a dita quantia , fegundo per nos he Ordenado pera os
teerem, como dito he ; e mandamos, que poíl:o que
as ditas peífoas , ou cada huã dellas fejam poílas nos
livros das coudellarias, ou dos beeíl:eiros , ou das vin-
tenas do mar, que fejam delles tirados, e rifcados, e
fejam de todo livres , e quites , e liberdadas , e nom
fejam pera ello mais coíl:rangidos.
2 ÜuTRO sY mandamos, que effes , que fe affy
tornarem aa dita Fe , nom fejam coftrangidos pera
teerem nenhuãs outras armas , nem beeíl:as de garru ..
cha , nem de pollee, nem fejam poílos por beefl:eiros
do Conto, nem em vintena do mar , nem outras ne-
nhuãs armas, poíl:o que tenham conthia pera as tee-
rem, porque noffa mercee he ferem de todo livres, e
quites, e izentos, e per nehuã guifa pera ello coíl:ran-
gidos.
3 E ESTE noífo Ordenamento mandamos que fe
entenda naquelles, que fe ja tornaram aa dita Fé tam-
bem como naquelles , que fe daqui cm diante torna-
rem,
496 LrvRo SEGUNDO TITULO OrTENTA E TRn

rem , porque feja ·igual razom do privilegio affy a


huns como a outros. E em teílemunho deílo mandá..
mos affy fazer eíle noffo Ordenamento , e Ley • a
qual mandámos efcrepver no noffo Llvro da Chan..
cellaria, e que dello vaaõ logo Cartas teftemunhavees
a todalas Cidades , e Vjlla~ dos nofTos Rcgnos , pera
feer fabudo efic noifo eíl:abeJecimento. Feito cm Ten..
tugal primeiro dia de Novembro, e publicado no di ..
to dia, e logo aos* cinco (a) * dias do dito rnez, pre-
fente o Doutor * Diego (b) * Martins do Dezembargo
d'ElRey ; e Eu Phillipe Affonfo eíl:o efcrepvi. Era
do Nafcimento de No1fo Senhor J Esus CuRISTO de
mil e quatrocentos e vinte e dous annos.
4 A QY A L Ley vifra, e examinada per nos , con-
firmamos , e mandamos que fe guarde , e compra >
como em ella he contheudo; e adendo , e declarando
em ella , mandamos que aja lugar nom foomente na.
quclle Judeo, que fe tornar Chrifptaaõ , mais ainda
em qualquer Chrifptaaõ , que cafar com alguma
Chrifptaã, que antes foife Judia, porque ouvemos
por certa enformaçom , que afTy foi ufado, e pratica-
do pelos Reyx Dom Joham ., e Dom Duarte meus
A voo, e Padre de gloriofa memoria, e ainda o enten ..
demos affy por ferviço de DEOS, e Eixalçamento da
Santa Fé Catholica.
5 E COM efta declaraçom , e adiçom mandamos ,
que fe guarde a dita Ley , como fufo dito he , e per

---------~---·--
nós declarado. T 1-
(4) dez 'I. (6) Luiz T,
~E O] UDEO POSSA DEMANDAR, ETC. 497

T I T U L O LXXXIIII.
~e o Judeo pofla demandar Jua divida ao Chrifptaaõ,
po.flo que fejam pajfados vinte annos, nom embar-
gante a Ley antes feita en contrairo.

E LREY Dom Affonfo em feu tempo fez Cortes


geeraaes na Villa de Santarem , em que lhe fo-
rom por parte dos Povoas requeridos certos artigos ,
antre os quaees lhe foi requerido huú em dl:a forma,
que ie fegue.
I ITEM. Dizem, que noffo Padre pôs por Ley, e
mandou que fe guardaífe, que todolos Judeos, que
teveffem cartas, e obrigaçooés, ou prazos de dividas,
e as nom demandaffem do dia que effas obrigaçooés
foffem feitas ataa vinte annos, que defpois que as
nom podeffem a ver , nem demandar, nem lhe foffem
theudos a ellas aquelles , que lhes eram obrigados , e
foi fua mercee de a revogar defpois deílo arrogo d'al-
guús : pedindo-nos por mercee, que fe guarde a dita
Lei.
Ao QyAL Artigo refpondeo o dito Senhor Rey em
eíl:a guifa. Diz E!Rey que fe guarde daqui adeance
fobre eíl:o o Dereito Cõmuum.
2 O QyAL artigo com a dita repoíl:a viíl:o, e exa-
minado per nós , mandamos que fe guarde por Ley,
affy como em clle he concheudo , e fufo declarado.
Liv. II. Rrr TI-
498 LIVRO SEGUNDO TITULO OITENTA E CINCO

T I T U L O LXXXV.
flue os Judeos nom Jejam Ojficiaaes d' ElRey, nem
dos lffantes, nem de quaeefquer outros
Senhores.

E LREY Dom Affonfo o Segundo da famofa me-


huã Ley, de que o
moria em feu tempo fez
theor tal he.
1 PoRQYE aquelles , que fom honrados pelo San-
to Bautifmo, nom devem feer aggravados dos Ju ...
deos , os quaees per nos affy como per teíl:emunhas
da morte de JEsus CHRISTO devem feerdefefos folla-
rnenre, porque fom homeés; porem mandamos, e
eíl:abelecemos por Ley, que nós, nem noífos foceífo ..
res nom façamos Judeo noffo Ovcnçal , nem lhe en-
comendemo s coufa alguma , per que os Chrifptaaõs
em alguma guifa poffam feer aggra vados. Enpero
nom defendemos aos outros , que lhes os feus fervi-
ços nom poffaõ encomendar .
2 E achámos no Livro da noífa Chancellari a,
que defpois ElRey meu Senhor, e Padre de gloriofa
memoria em feendo lífante fez outra Ley fobre eíl:e
rneefmo cafo em efta fotma, que fe fegue.
3 ÜUTRO SY mandamos, e defendemos aos If-
fantes , Arcebifpo, e Bifpos , Condes , e Meeftres ,
Abbades , e Priores , Comendado res, Cavalleiros ,
Ef-
QpE os Jum:os NOM SEJAM ÜFFICIAAES , ETC. 499

Efcudeiros, e quaeefqucr outros Senhores grandes, e


honrados dos noffos Regnos, que nom tenhaõ , nem
tragam em fuas caías , nem em fuas terras, quintaãs,
e lugares por feus Veedores, Moordomos , ou Rece-
bedores, ou Contadores , ou Efcripvaaés nehuú Ju-
deo , de qualquer condiçom que feja; e qualquer que
o conrrairo fezer , fe for Iffante, ou Arcebifpo, ou
Conde, ou Meeíl:rc , ou Priol do Efpi tal , ou Priol
de Sanéta Cruz , ou Abbade Beento , pague mil do-
bras d'ouro; e os outros de mais pequena condiçom
paguem quinhentas; e todo feja pera nós: e o Judeo,
que aceptar ho Officio de cada húa das ditas peffoas,
feja açoutado publicamen te, e aja cento açoutes com-
pridos.
4 As QY AEES Leyx ambas viíl:as, e examinadas
per nós , confirmamos , e mandamos que fe cum-
pram , e guardem corno em ellas he concheudo.

T I T U L O LXXXVI.

~ue os Judeos tragam finaaes vermelhos.

N O LIVRO da noffa Chancellaria foi achada huã


Ley feita per ElRey Dom Joham meu Avoo de
gloriofa memoria, de que o theor tal he.
1 ERA de mil e quatrocentos e vinte nove annos,
vinte dias de Fevereiro na Cidade de Evora. O Muy
Rrr '.2 No-
500 LIVRO SEGUNDO TITULO ÜlTEN.TA E SEIS

Nobre Senhor Dom Joham per graça de DEOS Rey


de Purtugal , e do Algarve , porque lhe foi dito per
alguús do feu Povoo em Cortes, que os Judeos do
feu Senhorio pola maior parte nom traziaõ fignaaes ,
quaees deviaõ trazer , e eífes, que traziam , eram taõ
pequeno s, que fe nom pareciam , e outros os tr.aziaõ
de duas, e tres pernas, e mais nam, e os traziam def-
cofeitos , e-baixos em taaes lugares., que fe nom pa-
reciaõ , e os cobriam de guifa, que fe nom eíl:rema..
vam, nem devifa.vaõ dos Chrifpta aõs, o que era gran-
de perigo , e dapno ao Povoo: o dito Senhor Eíl:abe-
leceo, e poufe por Ley , que todolos Judeos do feu
Senhorio tragam fignaaes vermelhos de feis pernas
cada huú no peito a cima da boca do eíl:amago ; e
que eíl:es fignaaes tragam nas roupas, que trouverc m
veílidas em cima das outras ; e fejam os fign~aes tam
grandes, como o fou feello redondo ; e que os tragam
bem defcube nos, de guifa que pareçam ; e qualque r,
que o nom trouver, perca as roupas, que trouver vef-
tidas, e feja prefo ataa merece d'ElRey ; e aquel que
o trouver mais pequeno que o dito fcello, ou ho trou~
ver dcfcofeito, ou a fundo da boca do eíl:omago, ou
o trouver cuberto, perca a roupa , em que o trouver,
e jaça quinze dias na Cadea ; e deíl:as roupas aja a
meetade aquelle que o acufar, e a outra meetade feja
pera as fontes , e pontes , e calçadas do Lugar , hon-
de forem achados.
2 A Q.VAL Ley viíla per nós a avemos por boa,
e
Do JuoEo, QYE ROMPE A IGREJA, ETC. 501

e mandamos que fe guarde , como em ella he con-


theudo.

T I T U L O LXXXVII.

Do Judeo , que rompe a Igreja per mandado d' a!guum


Chr!Jptaaõ.

E LREY Dom Affonfo o Terceiro em feu tempo


fez Ley , per que ordenou , e mandou , que fe
Judeo rompeífe alguma Igreja per mandado d'alguú
Chrifptaaõ, foífe queimado aa porta deffa Igreja; e o
Chrifptaaõ, que lhe tal rompimento mandou fazer,
fe foífe Ca valleiro , pagaífe a E!Rey trezentos mara-
vedis, e mais foífe degradado do Regno por huú an-
no ; e fe foífe Efcudeiro , ou piom , ou outro homem
de femelhante condiçom , que morrcffe porem.
1 A QYAL Ley vifla per nos, declaramos em ef-
ta guifa ; a faber , fe o que mandou fazer tal rompi-
mento for Cavalleiro, ou Fidalgo de foliar , e clle
nom era noífo Official, que o mandafie fazer por nof-
fo ferviço, em tal cafo mandamos que frja degrada-
do pera fora do Regno por dous annos , e mais peite
a nos cento efcudos de ouro ; e fe for d'outra qual-
quer condiçom mais pequena , mandamos que moira
porem. E com efta declaraçom mandamos que fe
guar-
502 LIVRO SEGUNDO TITULO OITENTA E OITO

guaroe , e cumpra a dita Ley , affy como em ella he


contheudo , e per nos fufo declarado.

T I T U L O LXXXVIII.

~ue nom valha te/lemunho de Chrifptaaõ contra Judeo


Jem tejlemunho de Judfu , e o Juiz ·valha contra
elles no que Je pajfar per-ante elle.

E LREY Dom Donis da famofa memoria em feu


tempo fez huma Ley em eíla forma, que fe fe-
gue.
1 DoM Donis per graça de DEOS Rey de Pur-
tugal , e do Algarve. A quantos efia Carta virem fa-
ço faber , que Guadelha Arraby Moo.r dos meus Re..
gnos me moíl:rou huma minha Carta, de que o theor
tal he.
2 DoM Donis per graça de DEOS Rey de Pur..
tugal , e do Algarve. A todalas Juíliças dos meus
Regnos faude. Sabede, que os Judeos dos meus Re-
gnos xe me enviarom queixar , que vos, e voffos
Concelhos lhes fazedes muitos aggravos, e defafora ..
mentos como riom <levedes ; e que catades contra el..
les , e contra feus a veres muitas carreiras em muitas
guifas , per que perdem muitos dos feus direitos ; e
que outro fy lhes perlongades feus feitos de guifa,
que defpendem hi mais do que a demanda vai; e que
nom
~E NOM VALHA TESTEM. DE CHRISPT. , ETC. 503
nom podem aver aquello, que lhes devem , nem fa-
zer a mim o meu ferviço, affy como eu tenho por
bem; e que lhes nom guardades fuas Cartas, que teem
minhas , e de meu Padre, e de meus A voos, e que
lhes hides contra ellas ; e que queredes que provem
contra elles , e contra feus averes per Chrifptaaõs
fem Judeos. E eíl:o nom tenho eu por bem, fe afTy
he; porque vos mando que vos nom os agravedes,
nem dcfaforedes, nem vaades contra elles, ntm lhes
paffedcs fuas Cartas , que teem minhas, e de meu
Padre, e, de meus Avoos; e mando que nom valha
contra elles, nem contra feus averes nenhum teíle-
munho em nehuma couza, fenom per Chrifptaaõs, e
Judeos.
3 ITEM. Xe me aqueixarom que alguuns Chrif-
ptaaõs querem provar contra elles ,e contra feus ave-
res per Chri fptaaõs fem Judeus nas demandas , ou
preitos , que paífaõ com elles em concelho perante
vos , ou perante os Tabelliaaês.-Sobre eíl:o tenho por
bem, e mando, por hi nom a ver bulra, nem delon-
ga, nem engano, porque os Judeos nom * feem (a) *
em concelho , que os Tabelliaaés efcrepvam todallas
demandas, ou feitos, que os Judeos ouverem com
Chrifptaaõs perante vos, aquelles que forem em ma-
neira de Juizo, ou de* quitaçom (b) *, ou d'entrega
de pagamentos, ou de corregimento fobre quaeef-
quer coufas , de guifa que fe nom poífa defpois ne-
gar,
(a) eltcm A. (L, J inquirifOffi S, ---------
504 LIVRO SEGU.NDO TITULO OITENTA E OITO

gar, nem vir por razom de duvida a outra prova ; e


eífa Efcriptura pague cada huma das partes, affy co-
mo fczer a feu feito; e quando alguum Judeu em
concelho* fe ver (a)*, mando que os Tabelliaaés o
ponhaõ hi por teftemunha polos outros homeés boõs,
que hi * fe verem (b) * quanto he nos feitos, que fo-
rem antre os Chrifptaaõs, e os J udeos.
4 PERo mando que os J uizes poffaõ feer teftemu ..
nhas antre elles,em quanto forem Juizes, em aquellas
coufas , que antre elles julgarem , ou fe fezcrem em
maneira de Juizo.
5 E ASSY mando que valha eíl:o antre vós, e el-
les, e em outra guifa nom , e vós afiy o fazede guar-
dar ; e al nom façades , fenom a vós me tornarei eu
porcnde ; e mando aos Tabelliaaés, que regiftem ef-
ta carta , e que a leam em concelho huma vez cada
domaa; e mando que os meus Judeos tenham eíla
carta em teílemunho. Dante em Coimbra primeiro
dia de Janeiro. ElRey o mandou per fa Corte. Eíl:eve
Annes a fez Era de mil e trezentos e trinta e * dois
( e) * annos.
6 E differom-me , que eíla carta que lha aguar-
da vaõ em todo meu Senhorio, e que lha nom que-
riam guardar nas minhas audiencias ; e pedirom-me
por mercee, que lha rnandaffe aguardar nas ditas mi-
nhas audiencias: porque tenho por bem, e mando,
que a dita minha carta feja guardada tambem nas au-
dien-
(t1J d1evcr A. e S. (h) nom cfüvercm A. (e) tres .d.
~ E NOM VALH A TEST IM. '.t>! CHRT SPT., ETC,
SOS

àienc ias, como em todo meu Senh orio, affy como


em ella he conth eudo ; a qual cana logo foi leúda , e
publi cada em Santa rem nas minh as audiencias aos
vinte e dois dias de Julho Era de mil e trezentos e
feffenta e dois annos peran te o meu Sobre -Juiz , e
peran te os meus Ouvi dores da minh a Corte ; e em
tefiem unho defto lhes mand ei dar eíl:a minh a carta
com o dito theor . Dant e em Santa rem a vinte e fete
dias de Julho . ElRe y o mand ou per Joham Lour en-
ço, e per Eílevom Ayres feus Vaffallos. Pero de Va-
lença a fez Era de mil e trezen tos e feífenta e dois
annos .
7 E Nós adend o , e decJarando em a dita Ley,
hordenam<?s, e mand amos que aja lugar , quand o for
conte nda antre Chrif ptaaõ , e Jude o, e o Chrif ptaõ
quize r dar em prova outro Chrif ptaaõ contr a Jude o;
e fe em effe cafo o Judeo quiíe r dar por refiem unha
alguú Chrif ptaaõ , poífa-o fazer ., e valha feu teíl:e-
munh o contr a o Chrif ptaaõ fem outro teíl:emunho de
Jude o; e quere ndo effe Judeo dar por teíl:emunha.
outro Judco contr a o dito Chrif ptaaõ , nom o pode rá
fazer , nem valha feu teíl:e munh o, falvo dand o com
elfe Judeo outro Chrif ptaaõ por teíl:emunha.
8 E SE for conte nda antre Jude o, e Jude o, em
tal cafo poder á cada hum delles dar por tdlem unha
Chrif ptaaõ contr a Jude o, e vallcrá feu teíl:e munh o,
affy como fe foífe antre Chrifptaaõ , e Chrifptaaõ .
9 E EM todo cafo , bond e for conte nda antre
Liv. II. Sss Chrif.
506 LIVRO SEGUNDO TITULO ÜIT"ENTA E OITO

Chrifpta aõ, e Chrifpta aõ, vallerá teílemun ho de Ju-


deo com outro teíl:emunho de ChrifptàaÕ , e o teíle-
rnunho do Judeo foo nom vallerá , fal vo per confen-
tirnento daquelle , contra que for dado por teíl:emu-
nha : pero feendo alguú feito crime taõ grave, que
caiba em elle pena de corpo , e feendo cometid o em
lugar hermo , ou folitario , ou de noite a tal tempo>
que nom poífa feer viíl:o, ou tefiemun hado per alguú
Chrifpta aõ, em tal cafo mandam os que fique em
Juizo dos Julgador es , efguarda ndo a qualidad e do
malleficio , e o tempo , e lugar honde foi feito , e a
condiçom do Judeo, que he dado por teíl:emu nha, e
affy recebam , ou reprovem feu teíl:emu nho, fegundo
lhes bem parecer, e acharem per direito.
1o E COM eíl:a declaraçom affy per nos feita man-
damos que fe guarde a dita Ley d'ElRey Dom Do-
nis , fcgundo em ella he contheud o , e per nos adi-
do , e declarad o , como dito he.

TI..
Do QyE DOESTA CHRISP TAAÕ, ETC. 507

T I T U L O LXXXVIIII.

Do que doejia Chrijptaaõ, que foi Judeo , que rejponda


/obrei/o perante o Juiz jecu/ar.

E LREY Dom Joham meu Avoo de gloriofa me..


moria em feu tempo hordenou , que fe o Judco
fe tornaíle Chrifpt aaõ, e lhe alguú chamar tornadi -
ço, ou Judeo, e elle quer por ello demand ar o que o
doeftou , que as Jufüças Ecclefiaíl:icas nom ham del-
Jo de conhec er, e que a nós perteence dello oco-
nhecim ento, por ambos ferem leigos, e da noffa Jur..
diçom.
1 E POREM mandam os , e defendemos a qual..
quer, a que chamar em Judeo, que fe tornou Chrif-
ptaaõ , ou outro doeílo femelh ante, que o nom de-
mande por ello perante o Juiz Ecclefiaíl:ico , mais
perante as nofTas Juíl:iças, e nos lhe daremos tal
emencia , e corregi mento , como acharmos per direi..
to, e na Ordena çom do Regno fobrello feita he con-
theudo ; e fe o demand ar perante as J uíl:iças Eccle..
fiaíl:icas pala dita razom, que pague a aquelle , que o
acufar , trinta coroas , ou o vallor, que a aquelle tem-
po vallerem , pera a no{fa Chancellaria.
2 A QYAL Ley vifta per nos, mandamos que fe
guarde , como em ella he contheu do.
Sss 2 TI-
508 LIVRO SEGUNDO T1Tu10 NovENTA

T I T U L O LXXXX.
~ue o Judeo ao Sabado nr;m jeja coflrangJdo re/pondtr
em Juiz.a,

E LREY Dom Joham meu Avoo de louvada me..


moria em feu tempo fez huma Ley , da qual o
theor tal he.
1 DoM Joham pela graça de DEOS Rey de Por-
tugal, e do Algarve. A todalas Juíl:iças dos Noífos
Regnos , a que eíl:a Carta for rno{hada, faude. Sabe-
de , que quando nos agora chegámos aa Cidade de
Lixboa , nos foi dito pelas Comunas dos Judeos dos
noffos Regnos , que elles querendo guardar feu Saba-
do, e Pafroas, fegundo em feu direito era outorga..
do, que nom hiam aas audiencias das nofTas Juíli-
ças, teendo que em os ditos tempos nom procede-
riam contra elles ; as quaees nom queriaõ dello co-
nhecer , e hiam per feus fritos em diante ; e fe elles
a ello nom vinhaõ, davaõ reverias , e fentcnças co11,..
tra elles; no que diziaõ, que recebiam grande aggra-
vo : e pediram-nos por merce, que lhes ouvefTemos
a ello algum remedio com direito.
'.l E Nos veendo o que nos aíly pediam , manda-
mos, e defendemos aas nofTas Juíliças, que nom cof.
iranguam os Judeos que aos Sabados , e aas Pafcoas
fuas refpondam perante elles, nem dem reverias•
nem
~E O JUDEO AO SABA DO, ETC. 509
nem Sentenças contra elles, e poflo que as dem, que
nom valham, nem fe faça per ellas eixecuçom. E de-
fendemos aos ditos Judeos, que nom vaaõ a ello ; e
os que a ello forem, a faber, a preitos, e demandas,
que fejam prefos quinze dias , e percam as roupas
pera os noílos Meirinhos, ·e Alcaides , ou quaeefquer
outros, que os acufarem : a qual defefa e mandado
a requerimento da dita Comuna logo mandamos
apregoar pela dita Cidade. Dada na dita Cidade a
quatorze dias de Outubro. Era de mil e quatrocen-
tos e quarenta e hum annos.
3 A Q!JAL Ley vifla per nos a vemos por boa, e
mandamos que fe guarde , como em ella he con-
theudo.

T I T U L O LXXXXI.
Do Judeo, que bebe na taverna.

E LREY Dom Joham meu A voo de famofa me..


moria em feu tempo fez Ley, per que ordenou
e mandou, que todo Judeo, que na taverna Chrif-
tenga bebeffe, pagaffc cincoenta reaes brancos. E nós
afli o mandamos e confirmamos: a qual pena man-
damos que feja pera o Alcaide Moor do Lugar, hon-
de efie cafo acontecer. Pero queremos que efto aja
lugar nas Cidades, e Villas (a), honde ouver Comu-
nas
(n) e Lugares A, e S,
510 LIVRO SEGUNDO TITULO NOVENTA E HUM

nas de Judeos , em que fe venda vinho atavernado;


ca honde nom ouver taverna de Judeos, em que fe
venda vinho Judengo atavernado , nom a verá lugar
a dita Ley, porque nos foi moílrada huma carta do
dito Senhor Rey D. Joham , per que defpois limitou
a dita Ley, como dito he.
r E coM a dita limitaçom, e declaraçom manda-
mos que fe guarde a dita Ley , aífy como em ella he
comheudo , e per nós aqui declarado.

----------------
T I T U L O LXXXXII.
Se for contenda anlre Chrifptaciõ, e Judeo, a quem
perteencerá o conhecimento de/la.

E LREY Dom Fernando da efrlarecida memoria


em feu tempo fez Cortes na Cidade de Lixboa,
e foron-lhe por parte dos Concelhos requeridos cer-
tos artigos geraaes , aos quaees elle refpondeo per
Confelho da fua Corte. E antrelles lhe foi requerido
huú, do qual com a repoíla , que a elle foi dada, o
theor he elte , que fe adiante fegue.
1 Ao QY E dizem no cincoenta e nove artigo, que
de direito os Mouros, e Judeos nom devem aver Jur-
diçom , nem Senhorio fobre os Chrifptaaõs, e ufa-fe,
que os Mouros ham por feu Juiz o* Alcaide Moor
feu (a) •, e os Judeos feu Arraby Moor, e outros Of-
fi_
-------------
(o) feu Al cayde Mouro S. e T.
SE FOR CONTENDA ANTRE CHRJSPTAAÔ, [TC. 5 II
ficiaaes, como haõ os Chrifptaaõs, os quaes conhecem
dos feitos, que ham os Chriíl:aõs com elles; o que he
defefo per direito, e pela Santa Efrriptura: e que fof-
fe noíla mercee de mandarmos, que fe nom faça, e
que o feu Arraby , e Alcaide conheçam dos feus fei-
tos , que elles antre fy ouverem , a fora nos que ou-
verem os Chrifptaõs com elles, que os Juízes os li-
vrem.
A ESTE Artigo refpondernos , que elles harn Pri-
villegio, e lho outrogarom os Reyx, que ante nós fo-
rorn , por alguãs razoés aguifadas : e porem manda-
mos que lho guardem pela guifa , que em elle he
contheudo.
2 O QlJAL artigo com a dita repoíl:a declaramos
em efia guifa, que fe fegue ; a faber, que nas Cida-
des, e Villas (a), honde per nós he hordenado, que
aja Juízes, que em efpecial conheçam de todol'os fei-
tos, que forem antre os Chrifptaaõs, e Judeos > elles
conheçam deífes feitos em todo cafo , que a feitos ci-
vis perteença, fegundo agora fazem : e nos outros Lu-
gares, honde taaes Juizes nom fom deputados efpe-
cialmente > mandamos, que nos feitos civees , que
nom ajam dependencia d'alguú crime, em que o
Chrifptaaõ feja autor, e o Judeo reeo, feja o Judeo
demandado perante feu Arraby, porque fegundo di-
reito o autor deve de feguir o foro do reeo : e bem af-
fy mandamos que fe faça , fe for contenda antre
Mou-
(a) e Lugare1 S.
sr 2 LIVRO SEGUNDO TITULO NOVENTA E DOIS

Mouro , e Judeo : e no cafo, honde o Chrifptaaõ for


reeo, e o Judeo autor, feja o Chrifptaaõ demandado
perante o Juiz Chrifptaaõ de feu foro: e em todo fei-
to crime feja o Judeo acufado pelo Chrifptaaõ per-
ante o Juiz do Crime do Lugar, honde o cafo acon-
tecer ; e bem affy feja acufado o Chrifptaaõ pelo Ju-
deu perante o Juiz Chrifptaaõ do Lugar, honde o
crime for cometido , como dito he, dando íempre
appellaçom nos cafos, em que manda a Hordenaçom
fobre ello feita.
3 E TODO eíl:o, que dito he, nom aja lugar nos
feitos das dizimas, e portageés, e fifas, e quaeefqucr
outros direitos Reaaes ; porque taaes feitos como ef-
tes mandamos que fejam trautados perante aguelles
Juízes, a que pelas Hordenaçooés do Regno oco-
nhecimento delles perteence: e bem afTy em qualquer
outro cafo, honde per nofTa graça efpecial , ou qual-
quer outro mandamento outra coufa feja hordena.
da~

TI-
DE coMo os TABELLIAAENs nos JuoEOs, ETC. 513

T I T U L O LXXXXIII .
De como os Tabel!iaaes dos Judeos haô de fazer
Juas EJcripturas.

E LREY Dom Joham meu Avoo de g1oriofa me-


moria em feu tempo fez Ley em eíla forma ,
que fe fegue.
I DoM Joham pela graça de DEOS Rey de Pur-
tugal , e do Algarve. A quantos efla Carta virem fa-
zemos faber , que a nós he dito , que os Tabelliaaés
das Comunas dos Judeos dos ditos noífos Regnos fa-
zem rodalas Cartas, e Efcripturas, e Eílormentos
per Abraico. E vendo nos em como fe dello feguia ,
e fegue perda, e dapno a nos, e ao noffo Povoo: Po-
rem nós com acordo dos do noílo Confelho Ordena-
mos, e mandamos, que qualquer Judeo, que for Ta-
belliaõ deffas Comunas dos Judeos, nom faça Car-
ta , nem Eíl:ormento , nem Efcriptura per Abraico ,
fenom per linguagem ladinha portuguez ; e fazendo
elles , ou cada huú delles o contraira deíl:o , manda-
mos que morra por ello. E porem mandamos que af-
fy fe guarde em todo noffo Senhorio.
2 A QY AL Ley viíl:a per nós, achámos que era
muito odiofa na parte da pena, porque fegundo di-
reito, e cumunal razom, a pena deve fempre corref-
p0nder ao maleficio , e nom parece feer coufa razoa-
Liv. II. Ttt da ,
51 4 LIVRO SEGUNDO TITULO NovENTA E TRES

da, que por taõ leve crime alguú homem aja de mor-
rer. E porem limitando a dita pena, mandamos que
a dita Ley aja lugar no Tabelliam , que fezer a dita.
Efcriptura em letera Abraica por fazer falfidade , e
de feito a fez ; e no cafo, bonde o dito Tabelliam fe-
zeffe a dita Efcriptura verdadeiramente fem fazendo
outra falfidade, ainda que a fezeffe em Abraico , tal
como efie mandamos que feja açoutado publicamen-
te , e perca o Officio, e nunca o mais poffa aver em
alguú tempo.
3 E coM efia limitaçom , e declaraçom manda-
mos que fe guarde a dita Ley , affy como em ella he
contheudo , e per nós aqui declarado, como dito hc.

T I T U L O LXXXXIIII.

~ue nom façam tornar nenhum Judeo Chrifptaaõ


contrafaa vontade.

A CoMUNA dos Judeos da Cidade de Lixboa nos


enviaram mofirar huma Carta do virtuofo Rey
Dom Joharn meu Avoo de gloriofa memoria,de que
o theor tal he.
1 DoM Joham pela graça de DEOS Rey de
Purtugal , e do Algarve. A quantos efta Carta virem
fazemos faber, que as Comunas dos Judeos dos di-
tos no fios Regnos per Meefire Moufem noffo Fifico •
e
~ l NOM: l'AÇAM TORN. NENHUM Juo.' ETC. 515
e Arraby Moor dos ditos Judeos, nos moíl:rou huma
letera do noífo Senhor o Papa Bonifacio Nono, bulia-
da do feu verdadeiro feello do chumbo, colgado por
fios de íirgo vermelho, e amarelo, com figuras de duas
cabeças no dito feello , com humas leteras em cima
dellas de huma parte , e da outra outras leteras , que
dizem , Bonifacio Pappa Nono ; a qual letera era ef-
cripta em purgaminho, da qual o theor della, que
nós mandámos examinar, e trasladar do latim em
linguagem na noffa Chancellaria , de verbo a verbo
tal he.
2 BoNIFACTO Bifpo fervo dos fervos de DEOS pe-
ra fee; havida defta coufa memoria pera todo fem-
pre. Porque a nós pertence por noffa Proviforn afiy
dar ajuda a cada hum , que o feu direito feja guarda-
do, e fem dapno confervado, affy he que nos vifto o
theor de huma letera do Papa Cremente Sexto noffo
antece'ífor de boa memoria, feita fobre a defenfom dos
Judeos, bullada fob a Bulla do chumbo do dito nof-
fo anteceffor, feita fegundo cufiume de Corte de Ro-
ma , as quaees fe começavam ja a dapnar, confumir,
e romper per vilhice , a qual nós fezemos efguardar,
e diligentemente examinar na noffa Chanceltaria ; e
vifta e examinada aa petiçam , e infiancia dos fobre-
ditos Judeus, em efla noffa letera a fezemos trc"ladar,
e de verbo a verbo poer, da qual letera o theor tal
he.
3 CRIMENTE Bifpo fervo dos fervos de DEOS.
Ttt 2 A
5r6 LIVRO SEGUNDO TITULO NovENTA E Q.!JAT.

A todolos verdadeiros Chrifptaaõs, que efta letera vi-


rem faude, e beençom Apoftolica. Porque fegundo
aos Judeos nom deve feer dada licença nas fuas figna-
gogas ufarem maiores coufas , que aquello, que lhes
he outorgado per a Ley, aífy em aquellas coufas, que
lhes fom outorgadas , nom lhes deve per nenhúa pef-
foa feer feito prejuizo alguú. E como quer que os fo-
breditos Judeos queiram durar em fua pedia , e en-
duramento, e nom queiram conhecer as palavras dos
Prophetas, e as puridades das Santas Efcripturas , pe-
las quaees podiam vir aa Fé dos Chrifptaaõs, e a co-
nhecimento de fua faude; pero quando quer que nof-
fa deffenfom , e ajuda demandarem , e a manfidade
da piedade dos Chrifptaaõs , nom lhes deve feer ne-
gada.
4 E Nos querendo feguir as carreiras dos Padres
Santos noffos anteceffores Papas Caliíl:o , Eugenio ,
Aleixandre, Celeílino , Innocencio , Gregorio , Ni-
colaao * Onino ( a) •, Nicolaao o ~arto, recebemos
as petiçooês , e querellas dos ditos Judeos , e outro-
gamos-lhe a defefa , e deffenfom de noffo poderio. E
porem efiabelecemos, e mandamos , que nenhum
Chrifptaaõ nom coíhanga os ditos Judeos per força,
ou contra fua vontade, ou tallante a receber o Sacra-
mento do Santo Bautifmo; e fe alguú Judeu per fua
vontade fogir pera os Chrifptaaõs com propoíito de
receber fua fé, defpois que a fua vontade for clara, e

-- -- ---------
(a) o Ncno A. Allcono S.
pu-
~ E NOM FAÇAM TORN. NENHUM Juo., ETC. 517

puvrica, entom feja feito Chrifptaaõ fem outra mal-


leza , ou callupnia; ca nom he de prefumir, que
aquelle Judeu aja verdadeira fé de Chrifptaaõ, que ha
a fé dos Chrifptaaõs contra fua vontade.
5 ÜuTRO sv mandamos, que nenhuú Chrifptaaõ
nom feira , nem mate , nem roube de íeos dinheiros ,
ou de feos beés Judeu alguú , nem lhes mudem feus
cofiumes fem mandado , e J uizo do Senhor da terra,
ou do Regno , ou da Cidade, em que os ditos J udeos
morarem.
6 ÜuTRo sv mandamos , que nenhuú Chrifptaaõ
nom torve, nem embargue as fefias , e folepnidades
dos ditos Judeus com armas, ou com paaos, ou com
pedras , ou per outra qualquer guifa.
7 ÜuTRo sv queremos, que nenhuu Chrifptaõ nom
confiranga Judeu alguú, que lhe faça ferviço, ou obra
per força, falvo aquelles ferviços, que elles eram acuf-
tumados de fazer nos tempos paífados.
8 ÜuTRO sv querendo tirar, e embargar as mal-
dades , e malezas d'alguús Chrifptaaõs, mandamos>
que nenhuú Chrifptaaõ nom brite, nem mingue os
cimiterios dos Judeus , nem cave em elles, ou deífo-
terre os corpos ja foterrados , por dizer que quer hi
bufcar ouro, ou prata, ou dinheiros.
9 E MANDAMOS, que fe alguú Chrifptaaõ, defpois
que for fabedor do theor defies noffos mandados ,
contra elles quifer vir, o que DEOS nom queira, per-
ca fua honra , e feu Officio , fe o ouver, ou feja feri-
do
51 8 LtvRo SEGUNDO TITULO NovENTA E QYAT.

do de fentença d'E[cumunhom, falvo fe logo feu pe-


cado correger com digna, e boa fatisfaçom.
1o PERo queremos, que aquelles Judeus ajam
aquella guarda , e defenfom defie noífo privilegio •
que nom * andarem , ou nom minguarem (a)* alguã
coufa contra a fé dos Chrifptaaõs. Dante em Avi-
nham tres nonas de Julho no fexto anno do noífo
Pontificado.
1r E Nos inclinados ás petiçooés dos ditos Ju-
deus, e aas fobreditas leteras , e privilegios, e theor
delles, per noffa Authoridade Apoíl:olica ennovamos ,
e damos-lhe authoridade, e ajuda , e defendimento.
Pero per eíl:a nom entendemos dar a nenhuã peffoa
direito alguú de novo, mas foomente queremos con-
fervar , e guardar o antigoo ufo. E mandamos , que
nom feja nenhuú tam ou fado, que vaa contra eíl:a nof-
fa Carta de ennovaçom, e vontade , e confirmaçom,
quebrando-a, ou per oufamento fandeu a ella contra-
dizendo; e fe alguú fezer o contraira, ou tenptar pe-
ra o fazer , feja certo, que averá a fanha, e a maldi-
çom de DEOS, e de Sam Pedro, e de Sam Paulo
feus Apoflolos. Dada em Roma ante Sam Pedro a
dous dias de * Junho (b) * no anno primeiro do no!fo
Pontificado.
12 E orssr-Nos , que por quanto era poíla defefa
pelos Reyx, que ante nós forom , que nehuú fem fua
Carta nom poblicaffe nehüas leteras, que nos pedia

----------------------- --
por
(a) cuidarem, nem maginarem S. (b) Julho
~ E NOM FAÇAM TORN. NENHUM Juo., l!TC. 519
por mercee por fy , e polas ditas Cumunas dos ditos
Judeus, que per noífa authoridade lhe rnandaffemos
dar o trelado della fob noífo feello , e mandaffernos
aos Tabelliaaés, e Juíl:iças dos ditos noffos Regnos ,
que fem embargo da noífa defefa a poblicaífcm, e
lha mandaífemos guardar, corno em ella he contheu-
do.
1 3 E Nos viíla a dita letera , como era faã, e fem
antrelinha , nem outro vicio , nem rafura nenhuã, e
por feer milhar , e mais efpecificada, e declarada de
poblicar a alguiís Taballiaaés , que latim norn fabem:
Teemos por bem, e mandamos a qualquer Taballiam
de noífos Regnos , a que a dita letera, ou efia noffa
Carta for rnoílrada, que a pobliquem nas audiencias,
e praças , e em outros lugares quaeefquer, perante
quaefquer Juizes, e Juíliças, affy Ecclefiafticas, como
Sagraaes , que lhes for requerido, e dem teílemunhos
deílas publicaçooês , fe lhes forem pedidos , e de-
mandados da parte das ditas Cu munas , e Judeos, fob
feus fignaaes, fem embargo das noífas defefas, e Or-
denaçooés , que fobre tal razorn fom feitas.
14 E MANDAMOS a todolos Juizes, e Juíliças dos
ditos noífos Regnos, que lha façaõ comprir, e guar-
dar como em ella he contheudo , e lhes nom vaaõ
nem confentam a nenhuã peífoa, que Jhes contra ella
vaa em nenhuã guifa que feja : unde al nom façades.
Dante na Cidade de Coimbra a * dezafete (a)* dias
de
(•l dezoito T.
------------
520 LIVRO SEGUNDO TnuLo NovENTA E QYAT.

de Julho. E!Rey o mandou per Lourence Anes Fo-


gaça feu Vaílallo, e Chanceller Moor. Gonçalo Anes
a fez Era de mil e quatrocentos e trinta annos.
15 A QYAL Carta mandamos que fe guarde por
Ley , aífy como em ella he contheudo.

T I T U L O LXXXXV.

Do Judeu , que Je torna Chrijptaaõ ; e defpois


Je /.orna Judeu.

E LREY Dom Affonfo o Segundo em feu tempo


fez huã Ley, em a qual amre as outras coufas
he contheudo huú Capitulo , que tal he.
1 ÜuTRO sY dizemos, e defendemos, que defpois
que o Judeu for tornado Chrifptaaõ aa Fé de JEsus
CHRISTO , que nom torne mais aa Fé, que antes ti-
nha ; e fe o fizer, perca porende a cabeça , fe de[pois
que for amoeíl:ado ,fe nom quifer tornar, ou emmen-
dar.
2 A QYAL Ley viíla per nós , mandamos que fe
guarde, como em clla he contheudo: e adendo, e de-
clarando em ella, ordenamos , e mandamos, que fe
alguú , que fempre foi Chrifptaaõ, fe tornar Judeu
per fua vontade , tal como eíle moira porem , fem
feendo mais amoefhdo; porque nom parece feer cou-
fa razoada, nem Conforme ao direito , que aquelle,
que
Do Juo1m, QYE S'E TORNA CHRISPTAAÕ, :ETC. 521

que naceo de Chrifptaaõ , e de Chrifptaã, e foi bau-


ti~ado fegundo ordenança da Santa Igreja , e fempre
· v1veo como Chrifptaaõ , e defpois fe tornou Judeu,
que aja mais de feer amoeíl:ado pera fe tornar aa Fé,
em que nafceo, e em que foi criado; e porem man-
damos , que o que tal coufa fezer moira porem fem
mais feer amoeíl:ado.

T I TU L O LXXXXVI.

Itue nenhum Judeu nom faça contrauto onzaneiro


com Chrifptaõ , nem com outro Judeu.

E LREY Dom Affonío o ~arta em feu tempo fez


huma Ley , de que o theor talhe.
I Toootos Reyx, e outros quaeefquer Prince-
pes , que Chrifptaaõs fom , devem fazer muito por
ferem guardados os mandados de DEOS , e confirar
muito os caminhos , per que o ferviço de DEOS per
elles feja acrefcentado , e os feos fobgeitos bem regi-
dos nas coufas Temporaaes, e muito mais em aquel-
lo , que tange a fal vaçom de fuas almas. Porem nós
Dom Affonfo o Quarto pela graça de DEOS Rey de
Purtugal , e do Algarve, havendo fempre vontade
d'acrefcentar o ferviço de DEOS, de que todo bem
recebemos , e querendo aproveitar aos beés tempo-
raaes, e muito mais aas almas daquelles, que nofios
Liv. IL V vv fob ..
LIVRO SEGUNDO TITULO NoVENTA E sus
fobjeitos fom, e veendo que alguãs coufas , que ufaa-
rom em noffo Senhorio em tempo de noffos predecef...
fores, que eram em deíferv iço de D EOS , e em da pno
dos beés temporaae s, e das almas dos noffos fobgei-
tos : ~erendo a efto a ver remedia , de confelho dos
da nofia Corte eílabelece mos, e hordenam os as Leys,
que fe adiante feguem.
2 PoRQYE onzenar, e fazer contrautos ufureiros
he contra o mandado de DEOS • e em dapno das al-
mas daquelles, que delles ufam , e eftragame nto dos
bens daquelles , contra que fe ufam de poer: porem
eílabelece mos , e ordenamos por Ley , que nenhuú
Chrifptaaõ, ou Judeu nom onzene , nem faça con-
trauto ufureiro per nenhúa guifa que feja.
3 E PORQUE alguús mais com receo de perder
feus beés, que por temor de DEOS, fe cavidarom
d'hufar deílo : Porem mandamo s, e defendem os, e
efiabelece mos, que fe provado for pelo devedor con-
tra alguú creedor , que defpois da pablicaçom defia
Ley onzenou , ou fez contrauto uforeiro com el ,
aquelle creedor, contra que provado for, nom aja
auçom nenhuã contra o devedor a!fy no principal ,
como na ufura. E fc per ventura o devedor ante que
prove, que no emprefiido o ouve onzena , ou que o
concrauro foi ufureiro, pagar ao credor todo, ou par-
te daquello, em que parecia, que era obrigado, man-
damos que fe quizer provar, que em aquelle cmpref-
tidoo houve onzena, ou que o contrauto foi ufurei-
ro,
(lpE N~NHUM JtrDEU' NOM FAÇA CONT., ETC. 523
ro , feja recebido aa prova guardando a hordem do
Juizo ; e fe o provar • o creedor lhe entregue todo o
que delle recebeo aífy o principal como a uÍUrL
4 E PORQ.Yf: aquelles, que ernpreíla<lo tiram , ou
fazem outros comrautos , por muito rn.efieirofos que
fom, fegundo as vontades dos creedores, porque ajam
razom de lhes acorrerem com aquello, que lhes com~
pre, fazem muitas confiífooés do que nom he, e re..
nuncíam os direitos, que os ajudam contra aqucllas
confiífooés , que fazem ; porem eílabekce mos, que
fe alguú confeffar, que recebeo alguú empreíl:id oo, e
ataa faffee,na dias queira dizer que o nom recebeo ,,
poíl:o que o confeff.1ffe, mandamos que o poffa dizer,
e que feja a ello recebido• fegundo ja per nós , e per
nofTo Padre efio foi mandado. E fe acontecer , que o
devedor a efie mandado dos feífeenta dias renunciar ,
dizendo em rnmpo do contrauto que renuncia ao di-
reito, que diz , que ante dos feífeenta dias poífa vir
contra a fua confiífom , mandamos que tal renuncia-
çom feja nenhúa.
5 E PERA nom averem os homeés razom de fe ef...
tragar conter.den do , fe tal renunciaço m como eíl:a ,
achando-a efcripta pelos Tabelliaaé s, vallerá ou nom;
porem eíl:abelecemos , que os Tabelliaaé s a nom ef-
crepvam , nem os Efcripvaaés das noífas audiencias,,
nem outros quaeefque r, que taaes obrigaçooés ajam
de fazer : e fe contra cíl:o forem , ajam pena de fal-
fairos.
Vvv 2 6E
524 LIVRO SEGUNDO TITULO NOVENTA E SEIS

6 E PORQ1TE os homeés acham muitos caminhos


pera ufarem de malicias , e a nós perteence de as to..
lher, confirando que alguús devedores fob collor def-
ta noffa Ley perlongam as dividas aos creedores di-
zendo> que os contrautos eram ufureiros , corno quer
que o nom foffem ; porem eíl:abellecernos, que fe o
tempo, a que a divida deve feer pagada, for paífado,
demandando-a o creedor , e o devedor digua, que o
empreíl:idoo, ou conrrauto foi ufureiro, nom embar-
gando eífo que diz, o Juiz , perante que o feito for>
filhe aquello, em que achado for que o devedor he
obrigado , fe outro direito por fy nom pofer , e po-
nha-o em maaõ de dous homeês boõs ; e fe defpois
for provado pelo devedor , que o ernpreíl:idoo , ou
contrauto foi ufureiro, o dito Juiz lhe faça entregar
o que lhe tornou; e- fe o per ventura provar nom po-
der, entom feja entregue de fua divida o creedor com
todalas perdas >e dapnos, que xe lhe por a dita r:azom
feguirem.
7 A QYAL Ley vifia per nós, avemos por boa ,e
mandamos que fe guarde affy como em ella he con..
theudo : pero declarando ácerca della na fegunda
pane, em que falia dos que fazem muitas confiílooés
daquello, que nom hc, renunciando os direitos, que
os ajudam contra aquellas confiífooés , que aífy fa-
zem, dizemos que aja lugar nos contrautos feitos an-
tre os Chrifptaaõs, ou antre Chrifptaaõ, e Judeu, cm
que o Judeu faça alguã <:onfiffom daquello, que nom
he
SE o CHRISPTAAÕ FEZOBLIGAÇ,A oJuo.,ETc. 525
he em favor do Chrifptaaõ; e quando o contrauto for
feito antre Chrifptaaõ, e Judeu, em que o Chrifptaaõ
fa ça tal confülom contra. íi em favor do Judeu, man ..
damos que fe guarde a Ley , que a diante he efcri..
pta, feita pelo dito Rey Dom Affonfo em tal cafo.

TI TU LO LXXXXVII.

Se o Chrijptaaõ f ez ob!igaçom ao Judeu por dinheir(},


pqj/a dizer, pajfados dous annos , que os no1n
recebeo.

E LREY Dom Affonfo o ~arco em feu tempo


fez huã Ley, de que o theor tal he.
1 AGUISADA razom he, que aquello, que he ef-
tabelecido c'.m prol e favor do Povoo, nom feja tor-
nado em feu dapno. E porque nos Dom Affonfo o
~arco confirando a prol do noffo Povoo , e veendo
em como recebiam muito dãpno per razom dempref-
tidos , que recebiam dos Judeos com grandes ufuras,
que lhes pagavam , hordenámos noíla Ley, e pobli-
car fezémos , em que defendemos aos ditos Judeos ,
que nom fezeffem os ditos empreíl:idoos, nem outros
contrautos ufureiros, dando-lhes certas penas na dita
Ley contheudas, fe contra ello fezeílem. E ora he-nos
dito per homeés dignos de fe, que por razom da dita
defefa os ditos Judeos fazem outros contrautos com
os
526 LIVRO Si::GUNDO TITULO NovENTA E SETE

os Chrifptaaõs , per que os ditos Chrifptaaõs rece-


bem muito maior dãpno dos feus a veres, que aquel-
lo, gue recebiam antes da dita defefa.
2 POREM querendo nos levar a diante o que em
prol do dito Povoo foi hordenado, e arredar as mali-
cias dos Judeos , por nom feer aqui eíl:abelecido, e
em dãpno do Povoo tornado , hordenamos, e efiabe-
leccmos por Ley, que fe os Chrifptaaõs fezercm con-
trautos alguús com Judeos, que os ditos Chrifptaaôs
fiquem obrigados por alguã coufa aos ditos Judeos,
que os ditos Chrifptaaõs poffam dizer cm qualquer
tempo , que fejam demandados pelos Judcos, pofl:o
que paífados fejam doos annos , que nom receberam
aquello , por que os ditos J udeos os demandarem ; e
nom lhes empeeça confiffom alguã , fe a fezerem,
ante que demandados fejam, affy que o encarrego da
prova feja dos Judeos ; e fe nom provarem , que os
Chrifptaaõs receberom todo aquello, que pelos ditos
Judeos for demandado, fejam abfoltos da dita de ..
manda, poíl:o que provem effes Judeos parte daquel-
lo , que per elles he demandado. E fe per ventura
pelos ditos Chrifptaaõs eíl-il eixeiçom for renuncia ..
da, Teemos por bem que tal rcnunciaçom lhes nom
empeeça.
3 E PoRQ.UE poderia acontecer, que em engano
deíl:o os ditos Judeos pagariam dinheiros, ou outras
coufas, de que fezeífem os contrautos, prefenre tefie-
munhas, aos que com eUes eífes contrautos fezeífem,
aven-
Sr o CHRfSPTAAÕ FEZ OBr.TGAÇ. Ao Juo., cTc. 527

avendo feita fua falia com effes devedores, que lhes


tornaífem parte daque-llo, que lhes afsy defsem: Po-
rem ceemos por bem > que fe efto for provado, que o
Judeu perca a divida verdadeira, e o Chrifptaaõ ou-
tro tanto como o que tornar; e eíl:o feja todo pera a.
prol Comunal daquella Vilia, hu o comrauto for fei-
to. E pera e.fio fe milhor guardar, cada huu do Po-
voo pofsa eíl:o acufar, e efte acufadm aja a terça parte
daquello , que provar, e o ai feja pera a prol Comu-
nal da dita Villa, como dito he.
4 A QYAL Ley viíl:a per nós, a vemos por boa, e
mandamos que fe guarde affy como em ella he con-
theudo.

TI T U LO LXXXXVIII.

~ue as pagas, e entregas f eitas p elos Chrijptaaõs,


e Judeos , fe p ojfam f azer Jem p refença
do Juiz.

N O L1vRo da noffa Chancella:ria foi achada huã


Ley d'ElRey Dom Affonfo o ~arto, de que
o theor tal he.
1 OuTRo sY reemas por bem , que cada huu do
Povoo poífa acufar os Judeos, que contrautos ufurei-
ros fezerem, pera a verem aquella pena , que he poíl:a
na noífa Ley ante deíl:o feita contra os ufureiros ; e
eífe
528 LIVRO SEGUNDO TITULO NOVENTA E OITO

e!fe acufador aja a terça parte daquello, que provar ,


e as duas partes fejam pera a prol Comunal da Villa ,
honde os contrautos forem feitos : fal vo fe o devedor
quifer acufar o dito creedor , e provar , que o dito
conrrauto foi ufureiro ; no qual cafo Teemos por
bem , que a divida affy do principal , como da ufura
f.eja todo em prol do dito devedor , aífy como na nof-
fa Ley frita ante deíl:a he contheudo.
2 E PORQY E ja na noffa Ley he contheudo, que
os contrautos ,que forem antre Chrifptaaõs, e Judcos
nom fejam valliofos , fe perante o Juiz nom forem
feitos , afsy as pagas, como as entregas, falvo em
certos lugares , e feria grave coufa aos Judeos de ave-
rem os Juízes, pera feerem prefentes aas pagas , e
entrrguas: Porem temos por bem, que fazendo os di-
tos Judeos os contrautos perante o Juiz, como n1 di-
ta noffa Ley he contheudo, poíl:o que as pagas , e en-
tregas nom fejam feitas perante o Juiz , provando el-
les per Efcri prura pu brica, ou per teíl:emunhas Chrif...
ptaãs, e nom per confiffom da parte , como fofo di ..
to he, que lhes íeja avondofo , poíl:o que nom fejam
feitas eífas pagas, e entregas perante o Juiz.
3 A QYAL Ley viíl:a per nós, louvamos , e confir-
mamos , e mandamos que fe guarde como em ella
hc contheudo.

Avnros em cima fallado dos Judeos converfos


aa Fé de JEsus CttRISTO, e bem aífy dos que fempre
per-
DA JuRDI Ç., QyE OS MOURO S ANTRE SY, ETC. 529

perfev eraaro m em fua Ley , e das fuas coufas , que a


elles pertee ncem: agora entend emos a fallar dos Mou-
ros , e das coufas a elles perteen centes .

T I T U L O LXXXXVllII.

Da jurdiçom, que os Mouros antre Jy ham , ajfy


no Civel, como no Crime.

E LREY Dom Affonfo o Primei ro de muito efclare..


cida memo ria em começ o de feu Real Efiado deu
Carta de Foro aos Mouro s forros da Cidade de Lix-
boa , e das Vil las d 'AI madaa , e de Palme lia , e de
Alcac er, de que o theor tal he.
1 EM NOME DE DEOS AMEM . Eu Rey Dom
Affonf o de Portug al emfeem bra com meu filho Rey
Dom Sanch o faço Carta de fieldade , e firmido oé a
vós Mouro s, que foodes forros em Lixboa , e em Al-
madaa , e em Palmel la , e em Alcac er, affy que em
minha terra nehuú mal , e fem razom nom receba -
des, e que nehuú Chrifp taaõ, nem Judeu fobre vos
nom aja poder de vos empee cer , mais aqudle , que
vós da gente, e fe voffa fobre vós por Alquai de enle-
gercks , effe medês vos julgue .
2 E ESTo vos faço per tal , que <ledes a mim em
cada huú anno fenhos marav idis de cada huã cabeça
dês aquelle tempo , que o mantim ento neceífario
Liv. IL Xxx gaan-
530 LrvRo SEGUNDO Tnu10 NovENTA E NOVE

gaançar poderdes; e que <ledes a mim Alfitra, e Aza-


qui , e a dizima de todo voffo trabalho ; e todallas
minhas vinhas adubedes, e vendades os meos figos,
e o meu azeite , como venderem os moradores da
Villa a terça parte dos meos moyos.
3 PoREM efia Carta fempre aja firmidom, e for ..
teleza, e nehuú nom volla oufe de britar, nem os
voffos fóros. Feita a dita Carta em Coimbra no mez
de Março Era de mil e duzentos e oito annos: e Eu
fobre dito Rey Dom A ffonfo emfeembra com meu
filho Rey Dom Sancho a vós Mouros efta Carta ,
que fecr feita mandei, afortellego, e confirmo , e em
ella eíl-e meu fignal ponho. T eftemunhas , que pre...
fentes foram, Miguel de Coimbra Bifpo , &e.
4 A QgAL Carta mandamos que fe gu~rde por
Ley , afiy como em ella he contheudo ; e fe os ditos
Mouros defpois ouverom alguãs liberdades pelos
Reyx , que ante nós foram, ácerca do dito foro , que
ufem dellas, affy como ataaqui fempre ufaarom. E
quanto he aa jurdiçom , que per ella he dada aos Al-
quaides dos Mouros , nom embargante que foomen-
te falle em certos lugares, mandamos que aja lugar
geeralmente em todolos Comrnuuns dos Mouros for..
ros dos noffos Regnos, e Senhorio nos feitos, que
antre fy huíh com outros ouverem , affy civis, como
crimes ; porque fomos enformado, que aífy lhes foi
outorgado pelos Reyx , que ante nós foram , dando
fempre appellaçooés , e aggravos pera nós , e noífos-.
Of..
SE FOR CONTENDA ANTRE CHRISPTAAÕ, ETC. 5JI
Officiaaes nos cafos , em que pelas Ordenaçooés do
Regno fe devem dar ., aífy como fempre ataaqui foi
ufado.

TITULO C.

Se for contenda antre Chrijptaaõ, e Mouro, a quem


perteencerá o conhecimento delta.

E LREY Dom Affonfo, que foi Conde de Bol-


lonha , de famofa memoria em feu tempo deu
Privilegio aos Mouros forros da Cidade de Lixboa,
em o qual fe contem , que fe alguú Mouro ouveífe
queixume d'alguú Chrifptaaõ, que o demandaífc
perante os Alvazys de Lixboa : e per femelhante, fe
alguú Chrifptaaõ ouveffe queixume d'alguú Mou-
ro, que o demandaífe perante o Alquaide dos Mou-
ros.
1 E PORQYE defpois de!lo EIRey Dom Joham
meu Avoo de glorioza memoria eíl:abeleceo, e hor-
denou certos Juizes deputados pera conhecerem dos
feitos , e contendas , e debates , que foífem antre os
Chrifptaaõs ª e os Mouros, como ainda agora fom :
Porem hordenamos, e mandamos, que nas ditas Ci-
dade. , e Villas , honde taaes Juizes aífy fom depu-
tados , clles conheçaõ em todo cafo civil de todolos
feitos J e contendas , que forem antre Chrifptaaõ, e
Xxx 2 Mou-
532 LIVRO SEGUNDO TITULO CEM

Mouro , ainda que o Mouro feja Reeo ; e nas outras


Cidades, e Villas , honde taaes Juízes nom ha ,
mandamos que o Autor figua o foro do Reeo , aíly
como per direito he ordenado antre os Chrifptaaõs ;
e bem affy mandamos que fe faça , fe for contenda.
antre Judeo , e Mouro. E em todo o cafo , quando
for contenda fobre feito crime antre Chrifptaaõ, e
Mouro, nu antre Judeo , e Mouro, rnandarn~s que
feja o conhecimento dos Juizes do crime deifa Cida..
de , ou Villa , honde tal cafo acontecer.
2 E coM efta adiçom , e declaraçom mandamos
que fc guarde por Ley o dito privilegio d'E!Rey Dom
A ffonfo, o qual queremos , que com a dita adiçorn •
e declaraçorn aja lugar geeralmente em todolos Mou...
ros forros dos noífos Regnos , e Senhorio.

TITULO CI

Í!<},Je os Alquaides dos Mouros guardem em fitts


Julgados antre jy os feus direitos , ufos ,
e cojlumes.

O CoMMUM dos Mouros da NofTa Cidade de


Lixboa nos enviou moíl:rar huã carta d'ElRey
Dom Affonfo o ~ano, cuja alma DEOS aja em a
fua fanta Gloria , de que o theor tal he.
1 DoM Affonfo pela Graça de DEOS Rey de
Pur..
~E os At(WAIDE S Dos MouRos, ETC. 533

Purtugal, e do Algarve. A todolos meus Sobre Jui-


zes , e Ouvidore s, e a todalas Juftiças de meus Re-
gnos , que eíl:a carta virdes , faude. Sabede, que
Meeíl:re Alie meu Fifico me diffe por fy, e por todo-
los outros Mouros de meu Senhorio, que quando
acontece, que alguús Mouros ham demandas antre
fy huús com os outros perante cada huús de vós, que
lhes nom queredes guardar o direito da fua Ley, co-
mo lhe ataaqui foi guardado , tambem no tempo
d'EI Rey Dom Don is meu Padre , a que DEOS per-
doe , como defpois no meu, e outro fy nos dos ou-
tros Reyx , donde eu venho ; e que pero que perantt
vós alleguem , e digam, que vos fobre ello moíl:ra-
rám pnvilegio s, ciuetem, dizem que lhos nom guar-
dades; e que em eíl:o recebem agravamento grande:
e pedio- me por mercee , que lhes ouveffe a eíl:o re ...
medio alguú.
z E Eu veendo o que me pedia , e quererido-lhes
fazer graça , e mercee : Tenho por bem , e mando.
vos , que faibades como fe ataaqui guardou , e ufou
eíl:o , que me affy o dito Meeftre Alie diífe , taõbem
no tempo dos outros Reyx, que ante mim forom 1
como no d'ElRey meu Padre, e 1neu Senhor, e guar-
o-ade-lho vós affy daqui em diante pela guifa, que
achardes , que fe lhes ataa ora guardou , e ufou , e
nom lhes vaades contra ello : unde al nom façades.
E em teftemunho defio mandei dar ef.la minha Carta
ao dito Meeíl:re Alie , e Mouros do meu Senhorio.
Da-
.534 LIVRO SEGUNDO TITULO C!NTO E HUM

Dada em Eílremoz a* dezafete (a) * dias de Feve-


reiro. ElRey o mandou per Mcefire Pero, e per
Meeflre Gonçalo das Leyx feus Vaífallos. Johane
• Annes (b) * a fez Era de mil e trezentos e fetenta e
* oito (e) * annos.
3 A QYAL Carta viíl:a per nos , mandamos que
fe guarde por Ley geralmente contra todolos Mouros
forros dos noffoi Regnos , e Senhorio, e que em to..
dalas contendas , que antrc elles ouver, fejaõ julga-
dos pelos direitos da fua Ley ; e bem affy pelos ufos,
e cofiumes , que antre fy ateequi ufarom , e cofiu-
rnarom : e os noffos Juízes, e os outros Officiaaes da
jufliça aífy lho guardem , e façam cumprir, e guar-
dar, porque fomos enformado, que affy foi antiga-
mente ufado antre elles como dito he.
4 Prno queremos , e mandamos , que em todo..
los cafas fobre ditos , e em quaaefquer outros de
qualquer condiçom que fejam , fempre fique a appel-
laçom , e o aggravo reguardado pera nós , e péra os
noffos Officiaaes , que per nós pera ello fom deputa-
dos ; aos quaaes mandamos , que tomem conheci-
mento d:is ditas appellaçooês , e aggravos fegundo
a forma das noffas Ordenaçooés, e as defembarguem
pelo direito, e Ley dos Mouros, fcgundo acharem,
que d'antigamente femelhantes feitos fe cuftumaarom
de defembargar.
5 PERO eíl:o, que dito he, mandamos que nom

(a) defr(cis S. (l) Mrndes A. e S. (e) fcttc T.


~E os ALQ!:TAlDES DOS MOUROS, ETC. 535
aja lugar nos feitos das dizimas , e portageés , fifas ,
e quaeefquer outros direitos Reaaes ; porque taaes
feitos como eíl:es, ainda que fejam antre huú Mouro,
e outro, ou mais , queremos, e mandamos que fejam
defembargados per aquelles Officiaaes , a que per
noífa Ordenaçom , ou mandado delles perteence o
conhecimento ; os quaaes os defembarguem fegundo
as noífas Leyx, e Ordenaçooés fobrello feitas ; e
quando ellas fobre tal cafo nom defpofercm , defem-
barguem-nos fegundo acharem per Direito Cõmum,
aífy corno fe gceralmente cufiuma em todolos outros
feitos.

TITULO CII.
!flue os Mouros vi-vam em Mourarias apartadas
dos Chrijptaaõs.

E LREY Dom Joham meu Avoo de louvada me-


moria em feu tempo fez Ley, per que ordenou•
e mandou , que todolos Mouros forros de feus Rc-
gnos , e Senhorio vi veífem em Mourarias apartada-
mente, fora da companhia, e converfaçom dos Chrif-
ptaaõs ; e fe em alguús Lugares nom ouveffc Mou-
rarias apartadas , ou foífem taõ pequenas, em que
todos nom podeffem caber, mandou que lhe fof-
fem apartadas , e acrefcentadas em aquelles lugares,
que pera ello foffern mais convinhavees, aífy, e pe-
la
536 Lrvito SEGUNDO TITULO CENTO E 001s

Ia guifa , que he hordenado, e eftabelecido ácerca


do apartamento dos Judeos.
1 E Nos affy o hordenamos , e poemas por Ley,
e mandamos que fe veja a dita Ley feita ácerca dos
Judeos, a qual mandamos que fe guarde, e cumpra
em todo ácerca do apartamento dos Mouros , affy
como em ella hc contheudo.

TITULO CIII.

Dos trajos , que haõ de trazer os Mouros.

A CoMUNA dos Mouros da noffa muy nobre , e


leal Cidade de Lixboa nos enviou moíl:rar huã
Carta do muy virtuofo, e excellente Rey Dom Eduar-
tc meu Senhor , e Padre de gloriofa memoria , de
que o theor tal hc.
I DoM Eduarte pela graça de DEOS Rey de
Purtugal, e do Algarve , e Senhor de Cepta. A vós
Corregedor , e Juizes , e Alcaydes , e Officiaaes da.
noffa muy nobre, e leal Cidade de Lixboa, e a ou-
tros quaeefquer , a que o conhecimento deíl:o per-
teenccr per qualquer guifa , a que eíl:a Carta for mof-
trada , faude. Sabede , que o Comum dos Mouros
forros da Mouraria deffa Cidade nos enviou dizer,
que elles ufarom fempre , e cufiumarom de trazer
fobre fuas roupas albernozes , e efcapulairos , e ba-
Ian..
Dos TRAJOS , Q.17! HAÕ DE TRAZER , ETC. 537
landraaes, fegundo mais compridamente fe continh?,
nas Cartas , e pri vilegios , que dei lo teem dos Reyx,
que ante nós foram , e per nós outorgados, e confir-
mados com feus boos ufos ., e cuíl:umes, que fempre
ufarom , e cuftumaarom : E que ora nom embargan-
te efto , que o Alquaide pequeno da dita Cidade lhes
defendia , que nom trouxeífem os ditos albernozes ,
e os queria por ello prender , no que lhes era feito
grande aggravo; pedindo-nos por mercee , que lhes
ouveffemos fobre ello remedio com direito , e lhes
rnandaíTemos guardar as ditas Cartas , e privilegias,
e que ufaífem dellas , e de feos boos ufos , e cuíl:u-
rnes, de que fempre ufaarom, e cuílumaarom, maior-
mente que os ditos albernozes era trajo ufado, e cuf-
tumado em terra de Mouros~
2 E NÓS veendo o que nos aífy dizer , e pedir
enviaram, ante que lhes fobrello deifemos outro def-
embargo , e livramento , fezemos perante nos vir
as ditas Cartas , e privilegias , e Ordenaçam fobre
cfto feita , dos trajos , que os ditos Mouros devem
de trazer : outro fy fezemos perante nós vir o dito
Alquaide pequeno , e foi fobrello ouvido. E viíl:o ,
e examinado todo per nós em Rollaçom com os do
noffo Defembargo , achamos , que os ditos Mouros
eraó aggravados pelo dito Alquaidc em os prender,
e lhes tomar feos vefüdos.
3 E POREM teemos por bem, e mandamos, que
trazendo os ditos Mouros os ditos albernozes , aífy
Liv. IL Yyy co-
53 g LIVRO SEGUNDO TITULO CENTO E TRES

como fempre trouvcrom , e em fuas Cartas he con ..


theudo, ou capuzes em cima de íeus veílidos, ou ba ..
Jandraaos , como cm íuas Cartas he conthcudo , ou
trazendo fuas aljubas , qual ante quiferem , que lhes
.nom fejam coutadas as ditas roupas , nem fejam por
cllo prefos , nem feito outro alguú defaguifado ; e
andem affy como fempre andarem , viílo como o
trajo , que ora trazem , he affaz devifado dos dos
Chrifptaaõs , e o fempre af(v treuverom , e podem
trazer per bem de fuàs Cartas , porque nom he con ..
tra a noífa Hordenaçom.
4 E POREM vos mandamos , que daqui em dian-
te affy o compraaes , e guardees , e façaaes comprir,
e guardar , frgundo per nós aqui he mandado , e em
fuas Cartas he contheudo : unde al nom façades.
Dada em a dita Cidade de Lisboa* vinte e dous (a) li!
dias do mez de Novembro. E!Rey o mandou per
Affonfo Giraldes, e per Luis Martins feos Vaffallos,
e do feu Defembargo. * Rodrigue ( b) • Anoes Efcri.
vam em logo de Phillipe Aflonfo a fez. Anno do
Nacimento de Noffo Senhor JEsus CttRISTO de mil
e quatrocentos e trinta e feis annos.
5 A QYAL Carta viíl:a per nós com as Hordena-
çoões fobrello feitas pelos Reyx, que ante nós forem ,
declaramos em cfia guifa , que fe fcgue. Primeira-
mente mandamos , que quando trouverem as ditas
aljubas , que as tragam com feos * aljubctes ( e) * ,
fe-
------
(a ) 'T.
doze (b) Affonío 'T. (e) alquicee s S. ;iljurte, T,
Dos TRAJO S , Q!JE HAÕ DE TRAZE R , ETC. 539

fegun do que as fempre trouve rom , e acuíl:umarom


a nazer , e outro fy tragua m as mang as dellas tam
* largas (a)* que poffam revolver em cada huã dellas
huã * alda (b) * de medir pano.
6 E SE Q.YISEREM trazer albern ozes, tragaõ-nos
çarrados , e cofeitos com feos efcapullairos , aíry co-
mo agora trazem ; e fe quiferem trazer ballandraaes ,
ou capuz es , tragaõ fcmpr e com elles efcapullairos
detra s, como de fempr e trouxe rem : e o que nom
trouxe r cada huã das ditas roupa s , perca a roupa »
que troux er , e feja prefo araa noffa mercee ; e tra-
zendo as ditas roupas , fe nom forem taaes , como
devem , fegundo fufo he declarado , perca õ-nas ., e
jaçam na <:adea quinz e dias.
7 E EM todo cafo mandamos , que defias roupas
aja a meeta de o Alquaide peque no do Lugar ., hu
efio acont ecer, ou o noffo Meiri nho, ou cada huú
dos feus home és , que com elles andar em , e acufa~
l'em os ditos Mour os , e a outra meeta de feja pera as
ponte s., e fontes , e calçadas do dito Luga r, hu efio
acont ecer, porqu e achamos que todo efio, que affy
per nós he declarado , foi hordenado antiga mente
pelos Reyx , que ante nós forom.
8 E COM dla declar açom mand amos , que fe
guard e a dita Carta por Ley geera lment e em todolos
Mour os forros de noífos Regnos , e Senhorio , fegun -
do em ella he conth eudo • e per nós aqui emad dido »
e declarado. Y yy 2 T 1-
~-- --- --- --- ---
(11) longas
S. vara
--
(6) mei2 alla S, meia 'T.
540 LIVRO SEGUNDO TITULO CENTO E QYATR.O

T I T U L O CIIII.

De como as portas dás M ourarias dcvew Jeer çarradas


aojino da Trindade.

E LREY Dom Joham, &e. em feu tempo fez Ley,


per que hordenou, e mandou, que as portas das
Mourarias foffcm çarradas , tanto que tangeílcm o fi-
no da Trindade , com certas claufulas, e condiçoões ,
e pena aos Mouros , que defpois do dito tempo fof-
fem achados fóra das ditas Mourarias, affy e pela
guifa, que per elle foi horde.nado áccrca dos Judeos
em tal cafo. E porem vos mandamos , que a dita
Ley feita em tal cafo ácerca dos Judeos fe guarde ,
e cumpra em todo ácerca dos Mouros : e efto fe en-
tenda geeralmente em todolos Lugares , honde ou-
ver Mourarias apartadas dos Chrifptaaõs em nofios
Regnos.

T 1..
Ql!E OS MOUROS NOM ENTREM EM CASA, ETC. 541

TITU LO CV.
!tue os Mouros nom entrem em cafa de uenhuã molher
CbriJPtaã , nem Cbrifpt aã em eaja de
nenhuü Mouro.

E LREY Dom Joham, &c. em feu tempo fez Ley,


per que hordeno u , e mandou , que as molheres
Chrifptaãs nom entraífer n nas Mouraria s , nem o~
Mouros em cafa das Chrifpta ãs , fenom em certos
tempos , e com certas claufulas , e condiçoões , aífy
e pela guifa , que per eHe foi hordena do, e eíl:abe-
lecido ácerca das Chrifpra ãs nas Judiarias , e dos
Judeus nas cafas das Chrifpta ãs, fegundo mais com-
pridame nte em a dita fua Ley he contheud o , e
per nós ante deíl:o ja declarad o. E porem vos man-
damos , que a dita Ley feita em tal cafo ácerca das
Chrifpraãs nas Judarias , e Judcus nas cafas das Chrif-
ptaãs fe guarde, e cumpra em todo nos Mouros , que
entrarem nas caías das Chrifpra ãs, e bem aífy nas
Chrifptaãs , que entrarem nas Mouraria s ; porque tal
foi a teençom , e voontade do dito Senhor Rey Dom
Joham meu A voo , e tal he a nofia , fentindo -o affy
por ferviço de DEOS, e noífo , e bem dos noífos
Regnos.

Tf...
LIVRO SEGUNDO TITULO CENTO E SEIS
54 2

TITULO CVI.

~ue os Mouros nom tenhaô por Jervidores Chr/fptaa'ós,


nem arrendem as dizimas, nem ofertas
das Igrejas.

E LREY Dom Eduarte meu Senhor, e Padre de lou-


vada memoria em feendo lffante fez Ley , per-
que hordenou, e mandou, que os Mouros nom tevef-
fem por fervidores alguús Chrifptaaõs , nem arren-
daffem as dizimas , nem ofertas das Igrejas, nem de
Capellas , afTy ê pela guifa, que per elle foi horde-
nado ácerca dos J udeos : e nos affy o hordenamos
e eíl:abelecemos por Ley. Porem mandamos que a
dica Ley feita ácerca dos Judeus em o dito cafo fe
entenda, e guarde em todo compridamente ácerca
dos Mouros, com todalas claufullas, e condiçoões em
a dita Ley contheudas, porque aífy foi hordcnado
pelo dito Senhor Rey, e nós aífy o confirmamos.

TI-
~E os MouROS NOM SEJAM ÜFFIC •• ETC. 543

T I T U L O CVII.

flue os Mouros nom fe jam Ojficiaaes d'ELRey , nem de


nenhuú dos Ijfanles , nem d'outros quaerfqucr
Senhores.

E LREY Dom Eduarte meu Senhor, e Padre de


louvada memoria em feendo Ifante em fru
tempo eíl:abeleceo por Ley, que os Mouros nom fof-
fem feos Officiaaes , nem de cada huú dos l fa ntes •
ou Condes , e bem aífy de nenhuú Prelado , ou qual-
quer outro Senhor, affy e pela guifa , que per elle foi
hordenado ácerca àos Judeos cm tal cafo. E nos alfy
o hordenamos por Ley , e mandamos, que fe veja a
dita Ley feita pelo dito Senhor Rey , e confirmada
per nos ácerca dos Judeos no dito cafo, e fe guarde,
e cumpra em todo ácerca dos Mouros com todalas
claufullas , e condiçoens em ella contheudas , porque
affy foi hordenado pelo dito Senhor Rey , e nos affy
o mandamos, e entendemos por ferviço de DEOS,.
e no!fo , e bem de noífo Povoo.

TI.
544 LIVRO SEGUNDO TITULO CENTO E OITO

T I T U L O CVIII.
~ue os Mouros nom gouvam dos Privi!egios , per que
os Chrijptaaõs como vizinhos dos Lugares fom
izenlos de pagarem portagcés , e outras
cujlumagees.

E LRrv Dom Eduarte meu Senhor , e Padre de


louvada memoria em feendo lfante fez Ley ,
per que hordenou , que nom embargante que per
Cartas , e pri vilegios , ou foraaes , que per EIRey
feu Padre, ou pelos Reyx , que antl's forom , frjam
efcufados , e priviligiados os moradores, e vizinhos
d'algús Lugares, que norn paguem portageés, e p:if-
fageés , e outras cuftumageés , os Mouros de fcos
Regnos , e Senhorio , que morarem em os ditos Lu-
gares, nom gouviífem de taaes privilegias , graças,
e mcrcees, e fbraaes dados aos Chrifptaôs ; e que
em todo cafo os Mouros pagaffem eífes direitos , aífy
como os que hy nom moram , nem fom hi vizinhos.
1 A QYAL Ley viíl:a per nós mandamos que fc
guarde , e compra, como fofo dito he, e pela gui-
fa , que per elle dito Rey , e Senhor foi hordenado,
e per nos ja confirmado em tal cafo ácerca dos Ju..
deos ; porque o entendemos affy por ferviço de
DEOS , e noffo , e bem de noffos Regnos.

TI.
~ E OS MOUROS NOM GOUVAM, ETC. 545

-·-------------
T I T U L O CVIIII.

~e os Mouros nom gouvam , nem ujem do beneficio


da Ley da Avoengua.

N O LrvRo da noffa Chanccllaria foi achada huâ


Lcy, per que ElRey Dom Eduarte meu Senhor,
e Padre de famofa memoria em feendo lffame eíl.a-
beleceo, e mandou, que o cuílumc, e beneficio da
Lcy da Avoenga fe nom entendeffe, nem ouvelfc lu-
gar em os Mouros de feus Regnos, e Senhorios ; e
que ellcs nom podeffcm gouvir, nem ufar do cufl:u_
me , e beneficio da dita Ley, aífy nos beés, que an-
tre fy vendeffcm, como nos que vendeffem , ou ja
ouveffem vendidos a alguús Chrilptaaõs ; e que effcs ,
que os ouveffcm comprados, ou compraffern , os
ouveífem livres fcm embargo da dita Ley , e cuíl:u-
me ; pero fc Mouro compraffe beés ao Chrifptaaõ >
e o feu filho, ou neto Chrifptaaõ quifeífe tirar effes
beês per virtude da dita Ley , e cuíl:ume , podeífe-o
fazer.
I A QYALLey viíl-a per nós, ávemos por boa: e
porque o dito Senhor Rey fez femelhante Ley ácer-
ca dos Judeos com certas claufullas, e cautellas, a
qual mandou que fe guardaífe ácerca dos Mouros ,
porem nos afiy o mandamos, como em ella hc con-
Liv. II. Zzz theu-
546 LIVRO SEGUNDO TITULO CENTO E DEZ

theudo, porque o fcntimos affy por ferviço de DEOS,


e noffo , e bem de noffos Regnos.

TI Tu Lo ex.
Do Pri-vi!egio dado aos A1ouros , que Jc tornam
Chr!fptaaos.

E LREv Dom Joaõ, &e. em feu tempo fez Ley,


per que efiabeleceo , e hordenou por exalfamen-
to da Santa Fé de Noffo Senhor , e Salvador JESUS
CH RfS PTo, porque aciuelles, que fom lnfiees, e fe

tornaõ aa n offa verdadeira Fé Catolica, fejam favo-


rizados aallcm do que o fom aquelles, que fempre
foram Chrifptaaõs , que qualquer Mouro que fe tor-
nar aa Fé de Jrsus CHRISPTo Noffo Salvador, foífe
efcufado de tcer cavallo, pofio que ouveffe conthia
pera o teer, fcgundo a Hordenaçom do Regno : e af-
fy mandou a todolos Coudees das Cidades , e Villas ,
e Lugares dos feos Regnos , honde foílem moradores,
ou elles qu ifeffem morar, que os nom cofirangeffem
pera teer os ditos cavallos, poílo que teveflem conthia,.
per que fegundo a Hordenaçom do Regno os devef-
fem teer: e mandou mais, que pofto que os ditos
Mouros affy tornados Chrifptaaõs , ou cada huú del-
Jes foffem poílos nos ditos lugares das Coudcllarias ,
ou dos Ileíl:eiros , ou das Vintenas do mar, que foífem
dcl-
Do PRIVILEGIO DADO AOS MouRos, ETC. 54 7

dellas tirados , e foífcm quites de todo, e liberda-


dos, e livres, e nom foífem pera cllo mais coíl:rangi-
dos, nem pera teer nenhuãs outras armas , nem beef-
tas de garrucha, nem de pollee , poílo que teveífem
conthia pera as terem , porque fua mercee foi de fee-
rem de todo quites, e livres , e izentos, e per ne-
huã guifa pera ello coíl:rangidos : e mandou , que a
àita Hordenaçom ouveífe lugar, aífy nos que antes ja
eraõ tornados Chrifptaaõs , como em aquelles , que
ó defpois foífem, que a dita Hordenaçom foi feita ,
porque lhe pareceo leer igual razom aífy a huús , co-
mo a outros.
1 A QyAL Hordenaçorn a vemos por boa; e aden-
do , e declarando em ella dizemos, e mandamos que
aja lugar nom foomente em aquelle Mouro , que fe
tornar Chrifptaaõ , mais ainda em qualquer Chrif-
ptaaõ que cafar com alguã Chrifptaã, que ja foífe
Moura; porque avemos por certa enformaçom, que
aíly foi ufado , e praticado pelos Reyx Dom Joham ,
e Dom Eduarte meos Avoo, e Padre da gloriofa
memoria em feu tempo.
2 E coM eíl:a adiçom , e declaraçom mandamos
que fe guarde a dita Ley , como fufo dito he , e per
nós he adido , e declarado.

Zzz 2 TI-
548 LIVRO SEGUNDO TITULO CENTO .E ONZE

TITULO CXI.

~ue o Chr,jptaaõ nom compre herdade de Mouro fem


ejpecial authoridade de E!Rey.

E LREY Dom Eduarte meu Senhor, e Padre de


famofa memoria em feendo Iffante fez huã Ley
em eíl:a forma , que fe fegue.
1 AcoRDA o Senhor lffante em Rollaçom com
os do Defernbargo d'EIRey , que viíl:o huú Eíl:ro-
mento de aggravo, que foi tomado per Ornar Cabe-
ça , e Adeella Almocadem em nome de todolos
Mouros moradores em a Villa de Loullé , dante
Martim Anes Priol de Saõ Cremente , e Vigario na
dita Villa, per razom de certos aggravos, que do dito
Vigario recebiam em os coíl:ranger, que paguem di-
zima das herdades, que ham no quarto de Chillei-
ros, e Figueiraaes * de Vi lias ( a) * , que polo pri..
meiro Rey , que a terra tomou aos Mouros , lhe foi
lcixado com certas condiçoões , antre as quaees era,
que ouveffem o quarto dos herdamentos da dita Villa
de Loulé ifento de todo o tributo, e foro , e que foo-
mente pagaffern a dizima das novidades , que ouvef..
fcm , a E!Rey ; Manda o dito Senhor , que fc tenha
efla maneira.
2 QuANTO he ao primeiro aggravo, em que di ...
zem,
(•) de Balhas S, e vinhas T.
~ E O CHRISPTAAÕ NOM COMPRE HERD,, ETC. 549
zem , que alguus Chrifptaaõs vieram per tempos a
cobrar alguãs herdades no dito feu quarto , que pri-
meiramente foram de Mouros , e que defpois as lei-
xaarom dapnificar , e forem tornadas em matos, das
quaees já a Igreja nom avia dizima grandes tempos
avia , e que os Mouros as vieram tomar de fefmar ia,
e as prãtaarom , e rompeerom ; e que outras alguãs
lhes forom dadas per alguús Chrifptaaõs com condi-
çom, que as prantaífem , e prantadas , e aproveita-
das , que os Mouros ouveífem as tres partes, e os
Chrifptaaõs , que as derom , huú quarto ; e que das
ditas herdades, que aífy reem, pagam a dizima a El-
Rey , e os Chrifptaaõs do feu quarto pagam a dizi ..
ma aa Igreja ; e que nom embargando todo eflo,
que fom coíl:rangidos , e cfcomungad os, que paguem
a dizima aa Igreja das herdades, que afiy ouverom
de fefmaria , e das que aífy aproveitarom , que forom
dos Chrifptaaõs : Manda, que pois os Chrifptaaõs
ouverom as ditas herdades no feu quarto , pofio que
dapnificadas foífem , que eftas, que elles Mouros ou-
verom de fefrnaria, que fe provar, que ante foram
de Chrifptaaõs , que os ditos Mouros paguem de fuas
novidades, que ouverem , primeiramen te a dizima a
ElRey , e defpois paguem das ditas novidades outra
dizima aa Igreja : e efto fe faça affy , por quanto as
ditas herdades primeiramen te forom de Mouros , e
defpois vieram a poder de Chrifptaaõs.
3 E DAS herdades, que os Chrifptaaõs ham no
di-
LIVRO SEGUNDO TITULO CENTO E ONZE
55º
dito quarto, que primeiramente foram de Mouros ,
e agora fom dclles Chrifptaaõs , e per elles Mouros
aproveitadas, manda o dito Senhor, que eíl:e meef-
mo modo fe tenha ; que os Chriflaaõs de fuas novi-
dades , que ouverem , paguem primeiramente húa
dizima a ElRey, e do que lhes ficar paguem outra
dizima aa Igreja ; pois que as herdades primeira-
mente foram de Mouros, e ainda agora fom fuas ,
e de Chrifptaaõs.
4 E Q!!ANTO hc das herdades, que femprc fo-
rom de Mouros , e o ainda agora forn , e nunca fo_
rom de Chrifptaaõs , defpois que a terra foi tomada
a elles Mouros , manda ElRey que foomentc pa-
guem os Mouros das fuas novidades a dizima .a
EIRey, e aa Igreja nom paguem dizima nehuã: e
eílo fe entenda aífy das novidades, que fom no dito
quarto , corno fora delle : e que eíle modo fe tenha
em qualquer parte deíl:es Regnos., em que Mouros
beés ouverem , e reverem.
5 E SE per ventura as herdades , que os Mouros
ora tecm, ou ao diante teverem, forom de Chrif-
ptaaõs , defpois que a terra foi gaançada aos Mou-
ros , Manda o dito Senhor que das novidades , que
ou verem, paguem primeiramente a dizima aa Igreja,
e do que ficar paguem outra dizima a El Rey : e eílo
fe faça affy , pois primeiramente as ditas herdades
foram de Chrifptaaõs.
6 E DEFENDE o dito Senhor que daqui em dian4
te
~ E O CHRISPTAA5 NOM COMPRE HERD., ETC. 55r
te nom feja nehuú Chrifptaaõ taõ ou fado, que com-
pre herdades a Mouros no quarto, nem fora delle;
e qualquer , que o contraira fezer, perca o preço ,
que por cllas der, e a venda feja nehuã , e as herda-
des fejam tornadas a aquelles Mouros, que lhas ven-
derem : e que fe os Mouros quiferem vender fuas
herdades, que as vendam a outros Mouros como
fi, de guifa que nom paífem a rnaaõ de Chrifptaaõ.
7 E Q1'ANTO he ao fegundo aggravo, em que
dizem, que o dito Vigario manda a dous Chrifptaaõs
avaliar as fuas vinhas, e figueiraaes , defpois que
nom teem fruito , que diguã, que figos , e uvas po-
dem dar, e que per tal avaliamento cm lugar de le-
,·arem huã dizima, levaõ tres, e quatro , manda o
àito Senhor, que tal valiamento fe nó faça, e que os
Clerigos tenham aquelle modo e maneira com os
Mouros, que teem com os Chrifptaaõs, em levar fuas
dizimas, quando as delles ouverem d'aver, pelo mo-
do que dito he~
8 E MANDA ao Veedor da Fazenda, Contadores,
e Almuxarifes, que ora fom na dita Comarca, e pe-
los tempos forem, que façaõ comprir e guardar ef-
ta fua Sentença, e acordo, fegundo que em ella he
contheudo , e nom confentam aos Clerigos , que por
razom das dizimas façaõ outros aggravos aos ditos
Mouros, fe nom aífy como per elle he determinado;
e que efto feja publicado ao dito Vigario , e a outros
quaaefquer Clerigos, que o dito Senhor lhes enco-
men ..
552 LIVRO SEGUNDO TITULO C.ENTO E ONZE

menda, que nom procedam a Sentença d ·Ercomu..


nhom, nem façam evitar os Mouros da converfaçom
dos Chriíptaaõs; e íe deílo em alguma parte duvi-
darem , que enviem feu Vigario, ou Procurador pe-
rante o Juiz, e Defembargadores de feos feitos, e per
direito, e Hordenaçooés, e cuíl:ume lhes ferá mof-
trado, fegundo que he mandado : e fazendo o dito
Vigario, e Clerigos deílo o contraira, e querendo
proceder contra os ditos Mouros, manda aas fuas
Juíliças, que nom evitem os ditos Mouros de feos
Juizos, nem os prendam , nem levem delles penas,
quanto he pala dita razom.
9 A QY A L Ley viíl:a per nós, ávemos pnr boa ,
e mandamos que fe guarde e compra , affy e pela
guifa que em ella he contheudo.

T I T U L O CXII.
Dos Mouros, que fom achados de noiteforá
das Mourarias.

E LREY Dom Joham, &c. em feu tempo fez


Ley, per que hordenou e mandou, que as por-
tas das Mourarias geeralmente foffem çarradas tanto
que acabaffrm de tanger o fino d'Ooraçom, com cer-
tas claufulas, cautelas, e condiçooés, affy e pela guifa
que per clle mccfmo foi hordenado em femelhante
ca-
Dos Mouaos , QyE soM ACHADOS, ETc. 553
cafo ácerca dos Judeos : e nós aífy o hordenamos , e
poemos por Ley. E porem mandamos, que fe veja a
dita Ley feita pelo dito Senhor Rey , e per nos ja an-
tes deíl:o confirmada ácerca dos Judcos , e fe cum-
pra, e guarde em todo acerca dos Mouros com to-
dalas claufulas , cautellas , e condiçooés em ella con-
theudas, porque aífy o entendemos por ferviço de.
DEOS , e noífo , e bem de noífos Regnos ; ca bem
parece feer igual razom da dita Ley aífy acerca dos
Mouros, como dos Judeos.

T I T U L O CXIIL
Dos que acham os lvfouros cativos , quefogem , quanto
ham de levar por achadego.

E LREY Dom Eduarte meu Senhor, e Padre da


louvada memoria, em feendo Iffante fez L ey em
efia forma, que fe fegue.
r Nos o Iffante a vemos per certa enformaçom,
que a maior parte dos Mouros cati vos de todo o Re-
gno fogem 1 e fe vaaõ, a-ffy per confentimento d'al-
guús, que os levam , e encaminhaõ , como por hi
nom a ver nehuú, que fe trabalhe de os bufcar, e a ver
aa maõ quando fogem , poíl:o que o faibam , por
entenderem que dello lhes nom vem alguú proveito;
e per eíl:a guifa os perdem feos donos , e os nom co-
Liv. II. Aaaa braõ
554 LIVRO SEGUNDO TITULO CENTO E TREZR

braõ mais: e por os ditos Mouros nom averem aazo


de fogirem, e alguús fc trabalharem de os bufcar, e
achar , e teerem pera ello vontade , e dezejo , hor-
denamos eíl:o, que fe fegue , que fe faça daqui em
diante~
2 PRIMEIRAMENTE mandamos , que todos aque-
les, que acharem, ou poderem aver alguús Mouros
cativos, que affy fogirem, por cada huú Mouro ajam
dachadego mil reaes brancos ; e que elles os nom
dem , nem entreguem a feos donos, e fe fervaõ del-
les como de feos cativos, ataa que lhes feja feito pa-
gamento dos ditos mil reaes.
3 A Qy A L Ley viíl:a per nos á vemos por boa , e
mandamos que fe guarde como em ella he contheu-
do.

T I T U L O CXIIII.

Dos que coefelham , e ajudam , ou encobrem os Mouro.J


cativos pera fogirem.

E LREY meu Senhor, e Padre,. &c. em feendo


Iffante fez Ley em eíla forma , que fe fegue.
I AcoRDAMos pola malícia,. e maldade, que fa.
zem alguús Chrifptaaõs, e Mouros forros, e Judeos,.
levando alguús Mouros cativos , que fogem , e rnof-
traó-lhes os caminhos , e fc vaaõ com elles aos poer
cm
Dos Q.yE CONSELHAM, E AJUDAM, tTC. 555
em falvo pera fóra defies Regnos : taaes como eíl-es,
de qualquer *Naçaõ(a)*que forem ,que o fezerem,e
com elles forem achados , mandamos , que quaaef-
quer, que acharem per efia guifa, que os poffaó a ver,
e os ajam por feos prifoneiros , e os pofTaõ render , e
fervir-fe delles, affy como fe os ouveffcm de boa
guerra.
2 ÜlJTRO s Y hordenamos , e mandamos , que
aquelles , que forem aazadores , e confentidores , ou
encobridores dos ditos Mouros fogirem pera fora da
terra, que quaaefquer, que os por ello acufarem , e
lho provarem , poífaõ per elles , e per feos bcés aver
tanto , quanto os ditos Mouros vallerem .; e os donos
dos ditos Mouros ajaõ dos fobreditos encobridores
outro tanto, como aquello, em que forem avaliados.,
que os ditos Mouros valiam ; e paguem pera EIRey
meu Senhor outro tanto, em tal guifa que os paguem
em tresdobro do que aífy valerem; e fc efies, que af-
fy forem achados em tal erro , nom reverem beés,
per que paguem, mandamos que fejam prefos, e nom
fejam foltos atee que fatisfaçom o comprimento da
paga dello, aífy a ElRey meu Senhor, corno aos Se..
nhores dos ditos Mouros, como aos acufadores.
3 A QYAL Ley vifia per nos ávernos por boa, e
mandamos que fe guarde como em ella he contheu-
do.

Aaaa 2 TI-
(!! ) condiçom S.
556 LIVRO SEGUNDO TITULO CENTO E QVINZE

TITULO CXV.

Do Mouro 1 que rompe a Igreja per mandado


d' algum Chrifptanô.

E LREY Dom Affonfo o Terceiro, &e. em feu


tempo fez huã Ley , per que hordenou , e man-
dou que nom foffe alguú Mouro taõ oufado de rom-
per a Igreja per nenhuã guifa > ainda que lho a1guú
Chrifptaaõ mandaffe fazer> dando certa pena ao que
o contrairo fezeífe, e lho fazer mandaífe , aífy como
per elle meefmo foi hordenado á-cerca dos Judeos. E
nos afiy o hordenamos por Ley, e mandamos que fe
veja aífy a dita Ley pelo dito Senhor Rey feita áccr-
ca dos Judeus, e per nos ja ante defto declarada, e
{e guarde em todo ácerca dos ditos Mouros , aífy co-
mo em ella hc contheudo , e per nos adido, e decla-
rado.

TI-
DE coMo os TABALLIAAENS nos MouR. l ETC. 557

T I T U L O CXVI.

De como os Taballiaaês dos Mouros ham de fazer


as Fjcripturas publicas.

E LREY Dom Joham meu Avoo, &e. cm feu


tempo fez Lcy, per que hordenou e mandou ,
que os Taballiaaés Mouros, ou qualquer outro> que
Tabaliiaaõ for antre elles, nom fezeífem alguú con-
trauto, ou qualquer outra Efcriptura pub1ica , affy
em proceífo , como cm outra parte qualquer, por
letera Araviga , ou qualquer outra , falvo per lerera
Criílengua Portugues ; e qualquer que o contrario
fezelfe morreífe porem.
1 E Nos , viíla a dita Ley , achámos que era
muito odiofa na parte da pena ; porque fegundo Di-
reito e comunal razom a pena deve fempre corref-
ponder ao maleficio ; e nom parece feer coufa razoa-
da, que por taõ leve crime alguú homem aja de
morrer. E porem limitando a dita pena , mandamos
que a dita pena aja lugar no Taballiaõ, que fezer a
dita Efcriptura cm letera Araviga por fazer falfida-
de, e de feito a fez; e no cazo, honde o dito Tabal-
liaõ fezefTe a dita Efcriptura verdadeiramente fem
fazendo outra falfidade, ainda que a fezelfe em Ara-
viguo, tal como efk mandamos que frja açoutado
pu..
5 58 LIVRO SEGUNDO TITULO CENTO E DEZASEIS

publicamente, e perca ho officio, e nunca ja mais o


poífa aver em alguü tempo.
2 E coM eíla limitaçom , e declaraçom manda ..
mos que fe guarde a dita Ley , affy como em ella he
contheudo, e per nos declarado , como dito he.

T I T U L O CXVII.

Dos Mouros , que nom levem armas quando forem


receber E!Rey, ou fazer outros Jóg·os.

E LREY Dom Joaõ , &c. cm feu tempo eftabele-


ceo por Ley , que quando os Mouros foílem ao
receber, e bem affy á Raynha , ou fazer outros jógos
alguús , nom levaífem armas alguãs, fob certa pena,
aífy e pela guifa que per elle meefmo foi hordenado
em femelhante cafo ácerca dos Judeos: e nos affy o
hordenamos. E por quanto a dita Ley feita ácerca
dos Judeos foi per nos limitada, e declarada fobre a
pena poíl:a em tal cazo aa Cumuna , mandamos que
com a dita limitaçom, e declaraçom fe guarde , e
cumpra em eíl:o a dita Carta dos Mouros, e Comuú
delles ; porque bem parece feer igual toda a razom
affy dos Mouros, como dos Judeos, e por tanto deve
feer igual a pena a todos.

TI-
~R OS MOUROS FORROS NOM SEJAM, ETC. 559

T I T U L O CXVIII.

~ue os Mouros forros nom Jejam pre:fos por fugida


d'a!guns cativos, /alvo fe primeirammte for
de!!es quere!!ado.

E LREY Dom Joham meu Avoo, &e. deu fua Car-


da Cidade de Lixboa ,
ta ao Comü dos Mouros
de que o theor tal he.
I DoM Joham pela graça de DEOS Rey de Portu-
gal, e do Algarve, e Senhor de Cepta. A todolos Jui-
zes , e Juftiças dos noffos Regnos , a que eíla Cana
for moílrada, faude.Sabede, que o Comuú dos Mou-
ros de Lixboa nos enviou dizer, que tanto que a al-
guú Cav.. lleiro, ou :1. alguã outra peffoa fogia alguú
Mouro dos capei vos, que logo lançavam maaõ por d-
ks ,fem achando os cativos cm feu poder, fazendo-os
por ello efpeitar, levando delles o que teem fem
dando querella jurada, e cm ella tefl:cmunhas nomea-
das, e que fe lhes nom peita vam, que os faziaõ meter
a tormento ; pala qual razam muitos dos ditos Mou-
ros fogiam, e fe hiam pera fora da terra, por nom
ferrem deshonrados : e que nos pediam por mcrce ,
que a cíto lhes ouveíf-emo:; algú remcdio com direito ,
e lhes deffemos noífa Carta , per que os nom prendef-
fem , nem lhes fezeífem outro nenhuú defaguifado ,
fal-
560 LrvRo S.EGUNDO TrTuto CENTO E DEZOITO

falvo fe os dítos cativos foffem achados em feu po-


der , ou deffem delles querellas juradas , e em ellas
teíl:emunhas nomeadas.
2 E Nos veendo o que nos dizer , e pedir envia-
rem : Teemos por bem , e mandamos-vos que daqui
em diante os nom prendaaes , nem mandees prender ,
nem lhes façades , nem confentades feer feito mal,
nem outro nenhuú defaguifado, quanto he pola dita
razom : fal vo fe effas peffoas , e Ca valleiros querella-
rem, e jurarem , e nomearem teíl:emunhas ; e fazen-
do-os de outra guifa prender, mando-vos que os fol-
tedes, e lhes façades todo correger per feos beés; e per
tal guifa o fazede, que os ditos Mouros nom rece-
bam aggravo, como nom devem, e fe nem enviem
a nós febre ello mais aggra var : unde al nom façades.
Dada em a Cidade d'Evora a cinco dias do rnez de
* Maio (a)*. ElRey o mandou per Diego Martins
Doutor em Leyx fcu Vaffallo, e do feu Defembargo.
E por quanto aqui nom era o noffo feello pendente,
Mandamos feellar eíla noffa Carta com o feello do
Iffante. Joham Fernandes a fez era de mil quatro-
centos cincoenta .e nove annos.
3 A QYAL Carta viíl:a per nos, mandamos que
fe guarde por Ley geeral em todolos Mouros forros
dos noífos Regnos , e Senhorio , porque fomos cer-
tamente enformado , que affy foi fempre uzada , e
guardada em tempo do dito Senhor Rey meu Avo,

--------------·---,-. --
(•) Março S, e 'T.
e
~ E NOM FAÇAM TORNAR MouRo, ETC. 561
e d'E!Rey meu Senhor e Padre , cujas almas DEOS

__________________
aja em a fua fanta gloria ; e ainda parece feer igual
razom affy em huús, como nos outros.
,

T I T U L O CXVIIII.

~,e nom façam tornar Mouro Chrifptaao contra


(ua vontade.

E LREY Dom Joaõ , &e. em feu tempo fez Ley,


per que eíl:abeleceo, que nenhuú Chrifptaaõ
nom coílrangua alguú Mouro , que per força, e con-
tra fua vontade aja de receber Sacramento de Bautif-
mo ; e fe alguú Mou.ro per fua vontade fogir pera os.
Chrifptaaõs com prepozito de receber fua fe , defpois
que a fua vontade for clara , e publica , entom feja
feito Chrifptaaõ fem nenhuã malicia , ou calupnia ;
ca nom he de prefumir , que aquelle Mouro aja ver-
dadeira fé de Chrifptaaõ , que ha a fé dos Chrifptaaõs
contra fua vontade.
I A Q.YAL Ley viíla per nos mandamos que fe
guarde em todo ácerca dos Mouros , affy como em
dla he contheudo.

Liv. II. Bbbb TI-


s62 LivRo SrnuNoo TnuLo CENro E VINTE

TITULO CXX.

~tte nom mate alguü, ou/eira o Mouro, nem lhe


roube oftu , nem viol!e Juas Jepulturas , nem.
lhes embargue faas fejlas-.

E LReY Dom Joham, &e. mandou , que nehuú


Chrifptaaõ nom mataffe, nem feriffe os J udeos,
nem os roubaffe dos feus beés, que teveffem , nem
lhes quebrantaffe feos cufiumes fern feu mandado :
Outro fy querendo tirar , e embargar as maldades
d'alguús Chrifptaaõs, mandou que nehuú Chrifptaaõ
nom britaffe, nem violaffe os cimiterios dos Judeos,
nem cavaffem , ou defoterraífem os corpos ja enter-
rados, por dizer que querem hi bufcar ouro, ou
prata , ou dinheiros : Outro fy mandou , que nehuú
Chrifptaaõ norn torvaíle , nem emb::irgaffe as feftas
dos Judeos , ou com paaos , ou com pedras , ou per
outra qualquer guifa: Outro fy mandou, que nehuú
Chrifptaaõ nom coílranga Judeu alguu, que lhe faça
ferviço , ou obra per força , falvo aquelles ferviços >
que elles forom , ou fom acufturnados de fazer , ou
dar nos tempos paífados.
1 A QYAL Ley vifta per nos mandamos, que affy
como foi efiabelecida ácerca dos J udeos , fe guarde,
e cumpra em todo ácerca dos Mouros forros dos nof-
fos Regnos , e Senhorio; porque foomos certamente
en-
~ E NOM MATE ALGUM, OU FEIRA, 'ETC. 563

enformado que os Reyx , que ante nos forom em ef-


tes Regnos, osouverom fempre em fua guarda, e en-
comenda , e nos bem affy os a vemos recebidos ; e
por tanto com aguifada razom nom devemos a con-
fentir , que lhes feja feito roubo, nem dapno, nem
ofenfa , ou injuria em feos corpos , ou em feos beés.
E porem mandamos aas Juíl:iças dos noffos Regnos
que façam todo efro affy comprir , e guardar , e ef-
carmentem aquelles, que o contraira fczerem, nos
corpos, e averes , fegundo o cazo for, e acharem
que per direito merecem.

T I T U L O CXXI.

Do M ouro , que fe torna Chrifptaaô , e dtfpois


Je torna Mouro.

E LRcY Dom Affonfo o Segundo em feu tempo


eftabeleceo por Ley , que defpois que o Judeu
foffe tornado aa fé de JEsus CHRISTo, nom torne
mais aa fe , que antes tinha; e fe o fezeffe, que mor-
refie porem , defpois que foffe amoefiado , fe nom
quizeffe tornar , ou emendar.
1 A QYAL Ley mandamos, que affy como foi ef-
tabelecida ácerca dos J udeos, fe guarde, e compra em
todo ácerca dos Mouros. E enadendo em a dita Ley
dizemos , que fe alguú filho de Chrifptaaõ, e de Chri f-
Bbbb 2 ptaã,
564 LIVRO SEGUNDO TITULO CENT. E VINT. E HUM

ptaã, que fempre foi Chrifptaaõ, em noífos Regnos,


e- Senhorio fe tornar Mouro, tal como ei1:e mouira
porem morte cruel , e deshonrada , fem mais feencto
amoeíl:ado , que corregua , e enmcnde , ou fe torne
aa fe : e fe tal Chrifptaaõ for tornado Mouro em ter-
ra , e Senhorio de Mouros per força , ou per alguã
prifom , ou maao tratamento, que lhe feja feito , fe
defpois tornar a terra de Chrifptaaõs, aja termo de
vinte dias contados do dia , que entrar na dita terra
de Chrifptaaõs, pera fe reconciliar com a Santa Igre-
ja, e tornar aa noífa Santa fé , que antes tinha ; e fe
ataa o dito tempo ho affy nom fezer, mandamos que
moira porem: o qual tempo mandamos que lhe nom
corra, avendo elle alguú legitimo embargo, per que
o fazer nom podeífe ; e reconciliando-fe com a Santa
Igreja em o dito tempo, Mandamos que o poífa li-
vremente fazer fem avendo pena alguã : falvo mof-
trando-fe que durante o dito tempo elle converfava
com Mouros , fazendo autos de Mouro ; ca em tal
cafo feendo achado , ante que o dito tempo feja paf-
fado , deve a morrer por ello.

T J.
Do PRIVILEGIO DADO Aos RENDEIROS, ETC. 565

TI T U LO CXXII.
Do Privilegio dado aos Rendeiros das rendas d' ElRey
no!fo Senhor.

N Os E!Rey Fazemos faber a vós Arcebifpo de


Bragua Regedor por nos na noífa Cafa da So-
pricaçom, e a vós Pero Vaz de Meello do noífo Con-
felho, e Regedor por nos da noflà Cafa do Civil, que
eílá na Cidade de Lisboa , e a todolos outros Corre-
gedores, Juizes, e Juíliças, e ao Arraby Moor, a que
cile Alvará for mofhado, que os Rendeiros das noffas
rendas da dita Cidade nos diíferom , que elles teem
noffos AI varaaes , e condiçooés de feos arrendamen-
tos , per que de todos feos feitos aífy Civis, como
Crimes os Veedores da noífa Fazenda, aífy os que an-
dam em a noífa Corte, corno o que íla cm a dita Ci-
dade, fejarn fcos Juízes, e outro nehuú nom; e gue
fern embargo de mofharem a àita condiçom , e Al-
varaaes dos ditos Veedores de como fom noífos Ren-
deiros, que vós tornaaes conhecimento dos ditos fei-
tos , e os nom querees remeter a elles pedindo-nos
fobrello remedia com direito.
1 E NÓS confirando ácerca dello principalmente
o ferviço de DEOS , e des y bem do noffo Povoo,
querendo-o manter cm direito, e Jufbça, e guardar
aos Rendeiros feos Pri vilegios, e condiçooés de feo">
ar-
566 LlVR.O SEGUNDO TlTULO CENTO E VINT. t DOIS

arrendamentos, vos mandamos, que daqui em dian-


te nom tomees conhecimento de quaaefquer feitos
crimes, civel, ou criminalmente entemptados, nem
ci viis , aífy fobre auçooés reaaes , como peífoaaes an-
tre alguãs peífoas , de qualquer eíl:ado ou condiçom.
que fejam , e os noffos Rendeiros, em que elles fejaõ
reeos, quer os ditos crimes, ou contrautos, por que os
ditos Rendeiros forem acufados , ou demandados ,
foífem feitos , ou cometidos ante dos feos arrenda-
mentos, quer defpois.
2 PERO que nos feitos crimes queremos, e man-
damos , que feendo delles querellado aas noífas Juíl:i-
ças, a que dello perteença o conhecimento, e as que-
relias forem juradas , e perfeitas , de taaes crimes ,
per que fegundo as Hordenaçooés dos noffos Regnos
devaõ feer prefos , effas Juíl:iças os mandem prender,
e prefos os remetam aos Veedores da noffa Fazenda,
tanto que pera ello forem requeridos, e fejam em ver-
dadeiro conhecimento, que fom noffos Rendciros,pe-
ra elfes Veedores fazerem delles direito, e compri..
rnento de juíl:iça , quer eífes crimes, por que aífy fo-
rem prefos , e accufados , fejam cometidos ante de
feos arrendamentos , quer defpois.
3 E ESTO mandamos fem embargo de quaaefquer
privilegias, e franquezas per nós outorgadas a eífes
autores , per que poífaõ trazer feos contemptores aa
noffa Corte, ou a alguús certos Juizos; porque que-
remos que fcm embargo de taaes privilegios fejam
fuas
Do PRIV ILEG IO DAD O AOS REN DEIR OS,
ETC. 567
o di-
fuas dem anda s pera nte os dito s Veedores , com
to he.
4 E EM todo cafo , que effes Ren deir os
quif erem
por cou-
acuf ar , ou dem anda r algu ãs outr as peífoas
inal ~
fas , e feitos civis , ou crim es cive l , ou crim
que os
men te ente mpt ado s, quer emo s, e man dam os
ros , ou
dem ande m pera nte os feos J uizes hord enai
as fe-
quae efqu er outr os -, que lhe per noífos priv ilegi
ento s ,
jam outo rgad os, fem embargo dos arre ndam
tem -
que das noffas rend as tenh aô feitos em qual quer
gou -
po ; porq ue em tal cafo nom quer emo s que
a aos di-
vaõ da dita fran quez a , e libe rdad e outo rgad
tos Ren deir os,. com o dito he.
5 E NO cafo , hond e algu ú for cond apna do per
, e eífe
fent ença , per que fe deva faze r eixe cuço m
r noffo
cond apna do defpois da dita fent ença fe feze
dita fen-
Ren deir o, man dam os que a eixe cuço m da
dita fen-
tenç a fe faça per man dado daqu ellc , que a
os p elo
tenç a deu ; e fe algu ús emb argo s forem poft
nça , ou
dito cond apna do aa eixc cuço m da dita fente
algu ús
rem ataç aõ da eixe cuço m, e fobr e recr ecer em
os per
agg ravo s, man dam os que fejam defemba rgad
fenr en-
aque lle Julg ado r, ou Julg ador es, que as ditas
cuço ões,
ças dero m , e man dara m fazer as ditas eixe
Julg a-
ou rema taço ões : e effes defe mba rgos , que eíTe
s emb ar-
dor , ou Julg ador es aífy dere m fobre os dito
noti fi-
gos , tant o que os aífy dere m , façaõ-nos logo
res
car aos Veedores da noífa Faze nda , ou Con tado
das
568 LIVRO SEGUNDO TITULO CENTO E VINT. E DOIS

das Comarcas , pera elles , e cada huú delles hi pro-


veerem , e fazerem o que entenderem , que fe em tal
cafo deve fazer por noffo ferviço ; e nom ho fazendo
elles affy , fejam certos que todo dapno , que fe por
ello a nos feguir , e recrecer , ferá carregado fobre el-
les, pois que per fua mingua fe feguio, polo nom no-
te ficarem aos Officiaes da notla Fazenda , como dito
he.
6 E BEM affy mandamos, que fe alguú em feen-
do Rendeiro for condapnado per Sentença do Veedor
da noffa Fazenda , ou Contador de cada huã das nof-
fas Comarcas, e defpois da dita condapnaçom leixar
de feer noffo Rendeiro , e fe acerca da eixecuçom ,
ou remataçom , que fe fezer pela dita Sentença , e
condapnaçom , forem dados alguús embargos pelo
dito condapnado, ou per alguú outro, a que effo
pertcença , fejam viíl:os , e defembargados per aquel-
le Veedor , ou Contador , que deu a dita Sentença,
e nom per alguú outro.
7 E TODO eíl-o, que dito he , mandamos que fe
cumpra , e guarde em todo , fem embargo que os
ditos arrendamentos dos ditos Rendeiros contenham
em fy alguãs claufullas a ello contrairas em parte , ou
em todo , porque affy he noffa mercee de fe fazer.
8 E ESTA meefma maneira queremos que te-
nham os noffos Veedores da Fazenda do Algarve , e
da Cidade do Porto , e bem affy os Contadores das
Comarcas dos noffos Regnoi com todollos Rendeiros
def-
Do PRIVILEGIO DADO Aos RENDErnos, ETC. 569
deffas Comarcas , em que forem Veedorcs , ou Con-
tadores , ~arque .affy he noífa mercee de fe fazer , po-
lo entendermos affy por noffo ferviço , e bem de
noffos Regnos , fem embargo da pena do Arraby
Moor., a qual Nos relevamos é\OS que demandarem
os ditos Rendeiro3. E mand'lmos aos ditos Veedores,
e Contadores , que ouç,1m os ditos Rendeiros nos ca-
fas fufo ditos, em que lhes damos dello conhecimen-
to, e os defembarguem como acharem que he di-
reito , dando appellaçcm e aggra vo aas partes , nos
cafos que o Direito outorga , pera nos , ou noffos
Defembargadores , a que dello perteence o conheci-
mento. E mandamos que efte noffo Alvará feja
poíl:o no Livro das noffas Hordenaçoõcs por Ley.

T I T U L O CXXIII.

Da pena, que merecem os que abrem as Cartas


mandadeiras d' EIRey , ou da Rainha ,
ou d'outros Senhores.

D ÜM Affonfo pela graça de DEOS Rey de Pur-


tugal , e do Algarve , e Senhor de Cepta. A
quantos eíl:a Carta virem fazemos faber , que nós foo-
mos per verdadeiro , e certo conhecimento que ou-
vemos , enformado , que alguús abrem, e veem affy ,
as noífas Cartas , como d'alguüs outros , que a nos,
Liv. II. Cccc ou
570 LIVRO SEGUNDO TITULO CENTO E VINT. E TR&t

ou a alguãs outras peífoas fom enviadas , do que fe


fegue a nós deíferviço , e a muitos efcandalo. Porem
hordenamos , e poemos por Ley, que qualquer que
abrir noffa Carta finada per nós , e feellada com o
noffo feello , na qual fejam contheudas alguãs coufas
de fegredo, que efpecialmente perteençam á guarda
de noffa Peffoa , ou Eftado , ou da Rainha minha mui-
to prezada , e amada molher , ou aguarde em defen--
fom de noffos Regnos , e o fegredo della defcobrir ,.
de que a nós poderia vir alguú empeecimen to , ou,
deífervíço, que moira porem.
1 E ESTA pena averã os. que abrirem as Cartas ,
e defcobrirem os fegredos dellas , que alguús Senho-
res , ou outras peffoas enviarem a nós çarradas , e
feelladas com feos feellos, que effo meefmo efpecial-
mente perteençam á guarda noífa , ou de noffo Efüt-
do , ou da Raynha minha molher , ou. de noífos Re-
gnos, como dito he.
2 E SE as ditas Cartas nos fobreditos·cafos abrir
e os fegredos nom de[cobrir, fe for vaffallo , ou pef-
foa a elle igual , ou de maior condiçom , perca os
bcés que ouver, e feja degradado do Regno pera
fernpre ; e fe o nom for, feja açoutado publicamen -
te, e degradado, como dito he.
3 E se foomente abrir outras noffas Cartas fina-
das per nós , e feelladas com noffo feello , nas quaees
nos enviamos dizer alguãs coufas , que a nós praz,.
ou perteencem a noffo ferviço , que nom foro taaes
co-
DA PENA J QyE MERECEM OS QyE ABREM, ETC. 571
como as que acima declaramos, fe for Vaífallo, ou
peíioa a elle igu:il , ou de maior condiçom , feja de-
gradado doos anos pera Cepta ; e fe nom for, feja
açoutado publicamente , e degradado por huú ano
pera a dita Cidade , e percam a noífa rnercee , fe em
ella vi verem.
4 E ESTA pena ajam outro fy os que abrirem
noífas Cartas finaladas per noffos Officiaaes , e feella-
das com o noffo feello , que fom de dc[cmbargo da
Jufüça, ou pera n:cadar o noffo aver.
5 E TODO o que diffemos das nofsas Cartas fe en-
tenda nas da Rainha , e nas que a ella enviarem , fe-
gundo a defferença , que nas nofsas fazemos.
6 E SE abrir Cartas dos lffantes meu lrmaaõ, e
Tios , Duques , e Condes, ou d'outras pefsoas , que
a nós fom chegadas per devido , e eílado , fcelladas
com feos feellos , fe for Va[sallo, ou peffoa a clle
igual , ou de maior condiçom , feja degradado pera
Cepta em quanto noffa mercee for, e fe o nom for,
feja açoutado publicamente. E eílo fe guarde nas Car-
tas das molheres, que aos ditos Senhores fom iguaaes
em eíl:ado e condiçom.
7 E QlTANTO he nas Cartas das outras peffoas,
Mandamos , que os que as abrirem , fejam punidos
eftirnando a pena , fegundo as peffoas que as envia-
rem , e a quem foffem enviadas , e o que em ellas
for contheudo , e a peffoa, que as abrir. Dante na
Ci-
572 LIVRO SEGUNDO TITULO CENTO E VINT • .E TRES

Cidade d'Evora a cinquo dias do mez de Março. An-


no de Noífo Senhor JEsus CHRISTO de mil e quatro-
centos e cincoenta annos.

DE O G R A T I A S.
Esta edição "fac-símile"
das ÜRDENAÇÔES A FONS INAS - Livro II,
foi impressa em offset e encadernada,
para a Fundação Calouste Gulbenkian
nas oficinas da Gráfica de Coimbra .
A tiragem é de 2000 exemplares.
Junho de 1998
Depósito Legal N .º 124932/98
ISBN 972-31-0275-7
EDIÇÕES DA FUNDAÇÃO
CALOUSTE GULBENKIAN

Manuais Universitários
299 volumes publicados

Textos Clássicos
14 volumes publicados

Próxima publicação:

Dei Delitti e Delle Pene


Beccaria

Cultura Portuguesa
37 volumes publicados

Próxima publicação:

Obras Completas de Paulo Quintela, III vol.

capa de Vítor da Silva


SÉRIE DE CULTURA PORTUGUESA
DAS EDIÇÕES DA FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN

Aparecendo embora depois de outras, talvez que esta série do Plano


de Edições da Fundação Calouste Gulbenkian possa considerar-se
anterior às que a precederam: pois não foi sempre na Cultura Portu-
guesa que se pensou ao projectar e fazer tudo quanto já existe no
referido Plano? Agora e aqui trata-se apenas de explicitar, criando
um lugar próprio reservado .aos testemunhos válidos da singularidade
e da autenticidade da nossa cultura, seja qual for o quadrante onde
se localizem. Interessa-nos documentar o que somos e temos sido no
campo _das letras e das artes, da reflexão e do saber; procuramos
atingir a realidade colectiva nacional, que se· criou pensando e agindo,
aprendendo e inventando, conhecendo ou descobrindo os outros, mas
sentindo-se sempre diferente deles. Uma realidade que é viva e se
interroga à medida que vive: o clássico e indecifrado enigma histórico
de tudo o que é humano e existe no tempo.

ISBN 972-31-0275-7

9 89723 102758

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