Você está na página 1de 374

ORDENAÇÕES

MANUELINAS
LIVRO V

FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN


-1
ORDENAÇÕES
MANUELINAS
LIVRO V
ORDENAÇÕES
MANUELINAS
LIVRO V

FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN


© Esta edição é uma reprodução «fac-simile» da
edição feita na Real Imprensa da Universidade
de Coimbra, no ano de 1797.

Reservados todos os direitos de harmonia com a lei


Edição da Fundação Calouste Gulbenkian
Av . de Berna / LISBOA
COLLECÇ AÕ
DA
....
LEGISL AÇAO
ANTIGA E MODERNA
DO

REINO DE PORTUGAL.
PARTE!.
DA L E G IS LAÇA Õ A N T I G A.

Por Refoluçaõ de S. MAGESTADE de 2, de


Setembro de J 78 6.
ORDENAGOENS
DO

SENHOR REY
D. MANU EL.
LIVRO V.

COIMBRA :
N/1 REAL IMPRENSA DA UNIPERSJDADE.
ANNO DE MDCCLXXXXVII.
TAVOADA
D O Q_U I N TO L I V R O.

TITULO I. Da ordem que o Julguador


terá nos feitos crimes. pag. 1
TIT. II. Dos Hereges> e Apoílatas. 14
TIT. III. Da lefa Mageíl-ade, e dos que co-
metem traiçam contra o Rey, ou feu Real
Efiado , ou fazem outros crimes atraiçoa-
da mente. 15
TIT. IIII. Dos que dizem mal d'EIRey. 15
TIT. V. Como palfará. folha dos que forem
prefos por feito crime. 26
TIT. VI. Dos que fazem moeda falfa, ou a
defpendem , ou a cerceam. E do Ouriuez
que faz algúa falíidade cm fuas obras. 29
TIT. VU. Da pena, que auerá o que falfar fi-
nal, ou feio do Rey , ou outro final , ou
feio autentico, ou fe.zer efcripturas falfas.
E do Efcriuam, que . nom pofcr a fubfcri- -
çaõ conforme aa . fuílanc.ia da Carta > ou
Aluará aífinada por EIRey. 33
TIT. VIII. Do que differ teíl:emunho falfo,
e do que lho fezer dizer, ou o cometer que
o digua. _ 3S
TIT. IX. Dos que vfam d'efcr ipturas , ou te-
ílernunhas -falfas. 37
TIT. X. Do que mata ou fere na Corte, ou
em qualquer parte do Reyno, ou tira ar-
ma.
VI . TA V o AD A.

ma na Corte. E do que tira com beefta ,


e do efcrauo que arranca arma contra feu
frnho~ 38
TIT. XI. Das penas pecuniarias dos que ma-
tam , ou ferem, ou tiram arma na Corte. 45
TIT. XII. Dos que cometem pecado de fodo-
m1L 47
TIT. XIII. Dos que dormem com fuas pa-
rentas , e affiis , e cunhadas. 50
TIT. XIIIJ. Do que dorme por força om
qualquer rnolher, ou traua della, ou a le-
ua por fua vontade. 51
TIT. XV. Do que dorme com molher cafada. 54
TIT. XVI. Do que matou fua molher pala
achar em adulterio. 59
TIT. XVII. Do que dorme com molher cafa-
da de feito. e nom de Dereito. 62
TIT. XVIII. Do que cafa, ou dorme com pa-
renta , ou criada , ou efcraua branca
d'aquelle com que viue. 65
TIT. XIX. Do que cafa com duas molheres.
E da que cafa com dous maridos. 66
TIT. XX. Do Official d'E!Rei que dorme com
molher que perante elle requere. 69
TIT. XXI. Do Judeu, ou Mouro que dorme
com algüa Chriíl:aã .. E Chriíl:aõ que dor-
me com Moura, ou qualquer outra Infiel. 70
TIT. XXII. Do que entra em Moeíl:eiro , ou
tira Freira, ou dorme com ella, ou a re-
colhe em cafa. 7I
T A V O A D A. VII

TIT. XXIII. Do que dorme com moça vir-


gem , ou viuua honeíla por fua vontade ,
ou entra em caía d'outrem pera com cada
hüa dellas dormir, ou com efcraua bran-
ca de guarda. E do que dorme com mo-
lher, que anda no Paaço. 72
TIT. XXIV. ~e nom tragua ninhuü homem
barreguã na Corte. 76
TIT. XXV. Dos barregueiros cafados J e de
fuas barreguãs. 78
TIT. XXVI. . Das barreguãs dos Creliguos.
E dos outros Religiofos. 82
'IIT. XXVII. Do Frade que for achado com
algüa molher , que loguo feja entregue
a feu maior. 8S
.TJT. XXVIII. Das barreguãs que fogern a
aquelles com que viuem , e lhe leuam o
feu. 86
TIT. XXIX. Das alcouuiteiras , e alcouuitei-
ros , e dos que em fua cafa con.fentem. as
molheres fazerem mal de fou corpo. 87
TIT. XXX. Dos Refiaes. 89
TIT. XXXI. Do homem que fe veíl:e em tra-
jos de molher, ou molher em trajos de ho-
mem , e dos que trazem mafcaras. 90
TIT. XXXII. Do que cafa com molher vir-
gem , ou viuua, que eíl:euer em poder de
feu pay, ou rnãy, ou auo ,, ou fenhor, fc:m
fua vontade. 9J
VIU TA V o AD A.

TIT. XXXIII. Dos feiticeiros , e das vigilias


que fe fazem nas Igrejas. 92
TIT. XXXII II. Dos que arreneguam, e blas-
femam de Deos , e dos feus Santos. 96
TIT.XXXV.Dos que tiram os prefos do poder
da Jufüça, ou das prifoês em que jazem.
E dos prefos que aíli fam tirados, ou fo-
gem da cadea. 100
TIT. XXXVI. Dos que refiíl-em, ou defobe-
decem a qualquer Official da Noffa Ju-
ftiça. I0'.2
TIT. XXXVII. Dos furtos, e que nom tra-
guam guazulas, nem outros arrificios pe-
ra abrir porcas , nem as fechem de fora. 109
TIT. XXXVIII. Da pena que auerá o que to-
rna algüa coufa por força, e quando por
ello deue morrer. 114
TIT. XXXIX. Como os Eftalajadeiros fam
obriguados aos furtos , e dãnos que em
foas eflalagees fe fezerem. 1r s
TIT. XL. Das peffoas que fam ·efcufas d'auer
pena d 'açoutes, ou outras penas viis. E dos
cafos em que o nom deu em feer. 116
TIT. XLI. Da pena que aueram os que acham
aues , e efcrauos , ou quaefquer outras
couías , e as nom e_ntreguam a feus do-
nos , nem as apreguoam. I 18
TIT. XLII. Em que cafos deuem prender os
malfeitores, e receber querelas , e aíli dos
cm
TA V o AD A. IX

em que a Juíliça ha luguar, e fe apella-


rá por parte da Juíl:iça , e a cuja cufia fe
fará a acuíaçam. 122
TIT. XLIII. Dos que querelam maliciofa-
mente , ou nom prouam fuas quer.elas. r 4J
TIT. XLIII[. Em que cafos fe procederá por
editos contra os malfeitores, que fe abfen-
tarem , ou acolherem aas cafas dos pode-
rofos por nom ferem prefos , nem citados
em peffoa. E dos que 0s encobrem def-
pois que fam condenados. 144
TIT. XL V. ~e nom façam vodas, nem b::i-
ptifmos de foguaça, nem os amos peçam
por caufa de feus criados · I 56
TIT. XLVI. Dos cxcomunguados, e da pena
que ham de paguar. J58
TIT. XLVll. Dos excomunguados apellados. 159
TIT. XL VIII. Como fam defefas as cartas,
e dados. I 60
TlT. XLIX. ~e nom dem Carta de fcgu-
rança em cafo de feridas abertas atee paf-
farem trinta dias, e em cafo de morte atee
tres mefes. 163
TIT. L. Das íeguranças reaes , como, e .por-
que deuem feer dadas. I 66
TIT. LI. Da pena que aueram os que fezerem
aífuada, ou quebrarem .portas. I 70
TIT. LII. Dos Coutos ordenados pera fe cou-
tarem os horniziados , e dos cafos de que
em elles deuem feer defefos. 171.
Liil. Y. **
X TA V o AD A.

TIT. LIII. ~e os Alcaides Moores nom to-


mem fobre fi ninhuú prefo. I 78
TIT. LllII. Do Alcaide, ou Carcereiro, que
foica o prefo fem mandado da Jufüça , ou
o traz folto , ou lhe foge por fua culpa ,
e maa guarda , ou faz cadea onde a nun-
ca ouue. E que nom leuem a roupa do
prefo que fogir. I 81
TIT. LV. Dos Aduoguados, e Procuradores,
que vfam de aduoguar por ambas as par-
tes. I 84
TIT. LVI. Dos Officiaes d'EIRey que rece-
bem ferúiços , ou peitas, e das partes que
lhas dam , ou prometem , e dos que del-
le.s defamam. I 85
TIT. LVI l. Q.!e ninhuü litiguante impetre
Carta algüa, nem roguo pera defpacho de
feu feirn. 19l
TlT. LVII 1. Dos Defembarguadores, e Jul-
guadores , que nom guardam as Ordena-
çoes , ou as interpretam. E que tomam
conhecimento dos feitos que lhe nom
pertencem. I 94
TIT. LlX. Da pena que aueram os Officiaes,
que leuam mais do contheudo em feu
Regimento. I 97
TIT. LX. Dentro de quanto tempo fe faram
as execuçoés das penas corporaes , e que
os condena.dos fejam primeiro confeffa-
dos. · 199
TA V o A o A. XI

TIT. LXI. Da pena que aueram os que ou-


tro apellido chamarem nos arroidos , ou
voltas, fenom o <l'ElRey. 2or
TIT. LX li. Dos Almoxarifes, e Rendeiros, e
Jurados que fazem auenças, e dos que ti-
ram guado, ou beíl:as do {;Urral do Con-
celho. 201
TIT. LXlll. ~e os Corregedores, e Juizes
norn conílranguam homens do Concelho
pera guardar os prefos , faluo quando fo-
rem de caminho. 203
TIT. LXIIII. Dos tormentos, e em que ca-
fos feram dados aos Fidalguos , e Caua-
leiros. 204
TIT. LXV. Dos Bulroes, e lnliçadores. 206
TIT. LXVI. Dos que fazem, ou dizem inju-
rias aos Julguadores , ou a feus Officiaes. 2Io
TIT. LXVII. Em que cafos os Caualeiros, e
Fidalguos , e femelhantes peffoas deuem
feer prefos. 2I3
TIT. LX Vlll. Dos que fazem carcere pri-
uado. 216
TIT. LXIX. Q!e os Prelados, e Fidalguos
nom lancem pedidos, nem empreíl:idos
em fuas Terras , nem leuem feruentias
dos moradores dellas , nem recebam del-
les couCa algua, nem lhes dem apoufen-
tadorias. 21 8
TIT. LXX. Qte os Concelhos nom façam
xu TAVOADA,

concertos com os Senhores , e Fidalguos


fobre fuas rendas. E aíli que ninhüa pef-
foa [e concerte com outra , por lhe fazer
deípachar em Nofla Corte alguü neguo-
c10. 221
TIT. LXXI. Dos que encobrem os que que-
rem fazer mal. 223
TIT. LXXII. Dos vaadios.. 224
TIT. LXXIII. Se o que for acufado por alguü
crime, e liure por fentença , ou perdam ,
fe ferá mais acuíado por elle. 225
TIT. LXXIV. D'aquelles,que dam aa prifam
os malfeitores. 229
TIT. LXXV. Do que aleuanta volta em Juízo
perante a Juíliça, ou arranca em Igreja,
ou Preciffam. 231
TIT. LXX VI. Do homem que he ferido de
noite , ou no hermo. E da molher forçada
no -hermo. 233
TIT. LXX VII. Dos que ajudam a fogir, ou
encobrem os catiuos que fogem. 234
TIT. LXXVIII. ~e nom coníentam aos
moradores de Caílella, que venham em
aíluadas a eíles Reynos pera malfazer. 235
TlT. LXXIX. Das cartas defamacorias, que
fe lançam por mal dizer. E dos mexeri-
queiras. 235
TIT. LX X X. Dos que abrem as cartas man-
dadeiras d.' ElRey, ou da Raynha , ou
d'ou ..
TA V o AD A. XIII

d'outros Senhores ; e dos do Confelho , e


Defembarguadores que defcohrcm os fe-
gredos. E do que differ mentira a EIRey
em pcrjuiw d'algüa parte. 237
TIT. LXXXI. Das coufa!- que fam defe-
fas, que norn leuem a Terra de lvfouros.
E bem affi que ninhuü Chriílão vaa ao
Reyno de Fez fem Noffa licença , e que
os Mouros fe nom forrem com dinheiro
do Reyno. 240
TIT. LXXXII. Dos Chriíl:ãos Nouos ,e Mou-
ros, e Chriílâos Mourifros, que fe vam
pera Terra de Mouros , ou pera as partes
d' Africa , e dos que os leuam. 244
TIT. LXXXIII. Da pena que aueram os que
poem foguos. 24 7
TIT. LXXXIIII. ~e nom cacem perdizes,
nem lebres , nem coelhos com boi , re-
des , nem fio. 252
TIT. LXXXV. Dos daninhos. 254
TlT. LXXX VI. Das pedras falfas, e contra-
feitas. • 255
TIT. LXXXVII. Da pena que aueram os Bar-
queiros, e Almocreues , e quaefquer ou-
tras pelfoas , que molham o pam que tra-
zem, ou lhe lançam terra, e do que falía
a cera. 256
TIT. LXXXVIII. ~e nom leuem pera fóra
do Reyno pam , nem farinha, nem gua-
dos ,
XllH TA V o A o A.

dos , nem couros, nem pelies, nem ouro.,


nem prata , nem caua-llos, nem armas,
nem vam fazer, nem vender carauelas fóra
do Reyno. 257
TIT. LXXXIX. Do Regimento dos Alcaides
das facas fobre a paílàgem dos guados , e
outras coufas defefas pe ra fóra do Reyno. 266
Tl T. XC. ~e os Prelados , e Fidalguos nom
acoutem os malfeitores em feus Coutos ,
e Honras, e Bairros, nem cafas. E dos de-
uedores que [e acolhem a ellas. 2 81
TIT. XCL ~e nom feja dado fobre fiança
preío por feito crime, ante que feja con-
denado. 286
TIT. XCII. Dos que fe liuram fobre fiança. 289
TIT. XCIII. Da pena que aueram os que fe-
zerem defafio. 290
TIT. XCllll. Em que cafos o condenado aa
morte poderá fazer teílamento. 292
TIT. XCV. Dos que arrancam marcos fem
auétoridade de .J uíliça, ou confentimento
das partes. 293
TIT. XCVI. ~e pcífoa algüa nom tire ouro,
nem prata , nem outras CDufas das minas,
e v1e1ros. 294
TIT. XCVII. Dos que compram colmeas
pera matar as abelhas dellas. 29 5
TIT. XCVIII. Da pena que aueram os que fo-
gem das armadas , ou aceptam nauegua-
çoes fóra de Noffos Reynos. 296
TA V o AD A. XV

TIT. XCIX. Qie todos os que teuerem efcra-


uos de Guinee os baptizcm. 300
TIT. C. Da pena que au erá o que matar beílas,
ou cortar aruores d e fruico. E que tanto
que o guado fe decepar fe esfole loguo. 301
TIT. CI. ~e nom aja hi al feloeiros. 302
TIT. CU. Das coufas que fam d efefas , que
fe nom t ragu am por doo. 303
TIL.. Clll. Dos que fazem muficas de noute. 303
Tl T. Cllll. Qie ninhüa peíloa peça pera in-
uocaçam algü a fem rnoílrar NoHa Carta
pera ello. 304
TIT. CV. Como os. Efcriuaês, e Meirinhos ,
e outros Officiaes ham de trer armas , e
caualos , e que os priuilegiados tenham
lança. 305
TJT. CVI. Que ninhua peíloa tragua comfi-
guo homens cfrudados. 309
TIT. CVII. Em que Luguares nom entraram
os degradados da Corte , ou de certo Lu.-
guar, e do que norn manrern o degredo. 3 ro
TIT. CVJII. ~e ao tempo da prifam fe faça
auto do habito, e tonfura do prefo. 3I2
TIT. CIX. ~e ninhüa peffoa tenha em fua
caía rofalguar, nem outro femelhante ma-
terial , nem os Boticairos os vendam fe_
nom a certas peífoas. 3 16
TIT. CX. Da maneira que fe. terá com os
prefos, que nom poderem paguar aas par-
tes as contias,. em que forem condenados. 31 7
XVI TA V o A DA.

TIT. CX f. Q!e ninhüa peífoa faça coutadas. 3 2 r


TIT. CXII. Das penas que aueram os que fem
licença d'EIRey forem , ou mandarem aa
Mina , ou qualquer parte de Guinee , ou
hindo per fua licença nom guardarem feu
Regimento. 324
TIT. CXIII.Q!e peífoa algüa nom tenha con-
chas , coriis, contas pardas , nem outras
pertencentes ao trauto da Mina , nem
traute nellas , nem tragua da India as
coufas que fam defefas, que fe nom pof.
fam trazer , nas Ordenaçoés que pera a
India Temos feitas, e as penas que aue-
ram os que o contraira fezerem , e das
coufas que fam defefas, que fe nom leuem
aas Ilhas do Cabo Verde , e do Foguo. 343

O Q_U I N-
O QUINTO LIVRO
DAS

O R D E NA C O É S. 5

T I T U L O P R I M E I R O.
Da ordem que o Julguador terá nos feitos crimes.

D ESPOIS Q__UE ALGUÜ FOR PRESO


nom ferá foi to, amenos que a parte a cujo requeri.
rnento for prefo, ou a quem a acuíaçam pertencer,
feja eirada ; a qual cicaçam fe fará fegundo fórma de
Noffas Ordenaçoes. E defpois que for citada manda.
rá o Juiz ao Acufador, que venha com libelo contra
o Reo, do qual lhe ferá dada a viíla , pera lhe re-
fponder, e alcguar por fua parte algüas exccpçoes fe
as teuer, e quifer. E pronunciando fobre o libelo
mande ao Acufado, que conteíl:e negando, ou con-
feffando, e nom querendo conteftar o Juiz conteíl:e
por ç:lle por neguaçam : e fe o Reo conteíl:ar por con-
fiílam , o Juiz julgue, e determine o feito fegundo
viir que he jufüça ; e fe o neguar, mande-lhe que
venha com feus artiguos de contrariedade, ou defe-
fa , affinando-lhe pera ello termo conueniente, e fe
nom vier no termo que lhe for affinado dará luguar
aa proua, fem lhe pera ello ferem affinados mais ter-
mos : porem feno dito termo que lhe affi foi affina-
Liv. //. A do
2 0 ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. f.
do elle vier com ella, e lhe nom for recebida por
nam feer em fórma pera receber, e elle a quifer cor-
reger , pode-lo-ha fazer ; e fe a correger , e iífo mef-
mo lhe nom for recebida, e pedir outro terceiro ter-
mo pera a correger, ou viir com outra, fer-lhe-ha
dado ; e nom a corregendo da terceira vez, nom lhe
ferá mais recebida· a dita contrariedade , nem dado
mais termo pera ello. E pera a contrariedade feer re-
cebida , a deue fazer em artiguos que dereitamente
fejam contrairas aos da acufaçam principal, e nccef-
fariamente concludam a elles contrariedade , porque
cm outra guifa nom ferá de receber-: pode-fe poer
exemplo por eíl:a guiía : huu homem he acufado,
que matou outro na Cidade de Lixboa na rua noua
em huü dia de Pafcoa aas dez horas do dia .; fe elle
quer fazer a eíla acufaçam contrariedade , deue dizer
em ella, que aqueIIe dia de Pafcoa, e em aquella ho-
ra, em que o artiguo da acufaçam diz, que elle ma-
tou o dito homem , elle eílaua em Alanquer, ou em
Torres Vedras , ou em outro Luguar tam remoto, e
a.longuado da dita Cidade , que por ninhüa guifa elle
nom poderia cheguar aa dita Cidade, nem feer viíl:o
nella em aquella hora, e tempo da dita morte cometi-
-da ; e fazendo a dita contrariedade em eíl:a fórma ,
ou em qualquer outra, que concluda feer impoíliuel
elle auer cometido o maleficio, de que he acufado,
ferá recebida •. E pronunciando fobre os dítos arti-
guos de contrariedade , com que affi vier, ou de defe-
fa I fe com defefa vier, mande aoAcufador que venha
com
DA ORDEM Q.YE O JuLG. TERA~ NOS FECT. CRIM. J

artiguos de repricaçam fe os teuer , e fendo-lhes re-


cebidos poderá o Reo viir com trepicaçam , na qual
repricaçam e trepricaçam (e procederá na fórma que
dito he na contrariedade. E pronunciando fobre a di-
ta treprica dará o J u Iguador tempo conuenience aas.
partes , pera darem fua proua aos arciguos recebidos;
guardando acerca das dilaçoes que der , o que te-
mos dito no terceiro Liuro no Titulo Das dilafo'is
que fe dam aas partes. E mandará aas partes , que
nomeem as teíl:emunhas , por que entenderem pro-
uar feus artíguos , guardando acerca dello todo o
que temos dito no dito terceiro Liuro no Titulo Da!
ttjiemunhas que drnem feer preguntadas. E acabada a in-
quiriçam do principal virá a dita parte contraira
com arciguos de contraditas em fórma, guardando
acerca das ditas contraditas , e prouas dellas, todo o
que dito Auemos no terceiro no dito Titulo Das con-
traditas. E acabadas affi detodo as ditas inquiriçoes,
fe antes d'abertas, e pubricadas, e antes que o Reo
aja fabedoria do em ellas contheudo por qualquer
guifa que fej~, o Reo quifer viir com algüa contra-
riedade por ainda nom teer vindo com ella, ou fe já
veo com ella ; hora lhe foffe recebida, hora nom ;
e poíl:-o que os fobrediros tres termos fejam paffados ,
fe eíla outra contrariedade, com que hora vem, nom
for contraira a aquella com que já veo, e for de re-
ceber, feer-lhe-ha recebida, e nom lhe fendo recebi-
da , nom a poderá mais correger no cafo que os tres
termos eram já paíTados, quando com efta contra-
A2 rie~
4 O QpINTO LrvRo DAS ÜRDEN. Tn. I.
riedade veo. E tanto que as in.q uiriçoês forem aber;..
tas, e pubricadas, nom receba mais artiguos , nem
proua, a ninhüa das partes, e mande oJulguador dar
a viíla ao Acufador, e bem aíli ao Reo, fe for prefo, e
fendo o Rco feguro, feer-lhe. ha dada a vifl:a do feito,
( com as inquiriçoés e razoes do Acufador çarradas
e alfelladas ) pera aleguar de [eu dereito.
1 E PERÓ fe o Juiz de feu officio quifer pregun-
tar algüas teíl:emunhas pera boa enformaçarn, e bem
de juíliça, pode-o fazer, affi por parte do Acufador >
como do Acufado, e ainda em toda a caufa crimi-
nal o Juiz de feu officio defpois das inquiriçoés
abertas e pubricadas pode de nouo receber teílemu-
nhas, tambem á acufaçam, como á defençam; e Di-
zemos que o pode fazer de feu officio , porque a re-
querimento dalgüà das partes nom o faram, faluo fe
o cafo era tal, que ainda que lho nom requereram
elle o. fezera de feu officio. E conclufo aíli o dito fei-
to, elfes Juizes que delle conhecem deem em elle
liuramento, como acharem que he juftiça. E Decla-
ramos,, que em todo feito crime de morte , ou feri-
das, ou qualquer outro femelhante crime, o Reo pode
'1iir em todo tempo, aíli antes d'abertas, e pubri-
cadas, como de[pois, com fua defefa, fe nella con-
feífar que matou , ou ferio , ou fez o maleficio per
que he acufado, e que o fez em defendimento de feu
corpo , a qual lhe ferá recebida , poílo que no feito
o teueffe neguado , e feitos artiguos de contrarieda-
de. E fe da fentença definitiua, que for dada , algüa
das
DA ORDEM Q!JE o Ju1c. TERA' NOS FEIT, CRIM. 5
das partes apellar, recebam-lhe apellaçam fegundo
a fórma das Noffas Ordenaçoés fobre ello feiras , e fe
hi nom ouuer parte que apelle, apellem elks pola
Juíl:iça , nos cafos onde de uem poer frito pola J ufii-
ça contra o prefo, nom querendo a parte principal e
qucrelofa acufar ; porque no cafo onde fe drue poer
feito por parte da Juftiça contra o· prefo , nom que-
rendo a pane querelofa acufar , ou demandar fua
emenda , fempre os Juizes apellaram pola Juíliça,
ainda que o Acufado nom apelk, fcgundo mais lar-
guamente Diremos nefl:e Liuro no Titulo Em que ca-
Jos deuem prender os malfeitores &t.
2 E NOMSOOMENTE deuem apellar da fentença defi-
nitiua, mas ainda de qualquer interlucutoria que tra-
gua tal agrauo , que fe nom poffa de[pois repairar no
cafo d'apellaçam, aíli como fe o Juiz julguaffe meter
o prefo a tormento; cá dando loguo fua fentença
á execuçam já nom poderá o prcfo repairar no cafo
d'apellaçam aquelle dãno, que hi recebeífe, fe nom
for juílamente atormentado. E por tanto fe de tal
fentença a parte apellar , feer-lhe-ha recebida apel-
laçam; e fe a parte nom apellar, o Julguador apel-
lará por parte da Jufüça.
3 E MANDAMOS, que quando alguü feguro, ou
prefo fc liurar de morte dalgüa peffoa , nom feja
obriguado a citar os parentes , que eíleuerem fóra
de Noffos Reynos, e Senhorios, e ferá obriguado a ci-
tar os parentes do morto, que em Noílos Reynos efle-
uerern, ate.e o fegundo grão inclufiue. E os outros
pa..
6 O ~INTO LrvRo DAS 0RDEN. TIT. I.

parentes aalem do feg1Jndo gráo atee o quarto gráo,


poíl:o que no Reyno cíl:em , e bem affi os que eíl:e-
uerem fóra do Rcyno~ em qualquer gráo que fejam,
poderá citar fe quifer ; e nom os querendo citar,
nom ferá a ello confhangido ; os quaes graos fe con-
taram i:~gundo Dereico Canonico. Porem os ditos
parentes dentro do quarto gráo, ou os abfentes que
citados nom foram, poderam defpois acufa-lo, poílo
que já foffe liure por fenrença, aguai fcntença lhe
(erá guardada fegundo diremos neíl:e Liuro no Titulo
Se o que foi acufado p or alguü crime &e.
4 E ~ANDO alguü Seguro deípois de fe aprefen-
tar na Audicncia fe abfenrar , ou fendo prefo fugir
da cadea , em tal cafo fe vaa por o feito em diante
aa fua reuelia, fem mais feer citado por editos.., nem
por outra maneira, atee fentença final inclufiue. E
Mandamos a todos os Julguadores , que tanto que
o libelo for aprefentado, fe o Acufado a e/Te tempo
for já prefo , façam loguo viir ao dito feito o Auto
da prifam , e habito, e tonfura , pera que fe faiba,
· quem o prendeo , e em que tempo, e o façam poer
no feito, fem hir pelo feito em diante atee o dito
Auto nom feer junto ao dito feito; e fe ao tempo do
libelo o Acufado nom for prefo , e defpois em o pro-
feguimento do feito for prefo , tanto que affi prefo
for fe ponha loguo o Auto no feito, fem mais hir
polo feito em diante atee o dito Auto nom feer jun-
to ao dito feito. E o Efcriuam , ou Tabaliam que for
do feito, que mais eícreucr no feito fem feer junto
o
0A 1
ORDEM QyE O JuLG, TERA NOS FEIT. CRIM. 7

o dito Auto, corno dito he , ferá priuado do Officio,


e nunca o mais aja, e mais paguará aas partes todas
as cuílas , que fe por caufa do dito retardamento de
fe o dito Auto nom ajuntar fezerem , em dobro;
e fe fe nom retardar por foa caufa , por o Auto nom
frer em fua mam , paguará as ditas cufias em dobro
aquellc, ou aquelles , por cuja caufa fe retardar. ·
5 E M A NDAMOS, que tanto que algüa peífoa fe
chamar aas Ordes, loguo feja prefo, fegundo a qua.
}idade de fua pefloa , e do cafo porque he acufado;
porque vindo cafo pera íee-r remetido, ha de feer re.
metido prefo , e nom folco. '\
6 E o QlJE for acufado, ou d-emandado por feito
crime, em que caiba pena d'açoutes, ou outra alem
de degredo temporal, nom fe pode liurar pór Pro.
curador , m as parecerá peífoalmente em Juízo, fal-
uo fe for prefo. E fendo acufado por feito em que
nom caiba pena d'açoutes, nem outra moor que de
degredo temporal , fe guardará em todo, o que dif-
femos no terceiro Liuro no Titulo Dos que podem e de-
ttemjeer citados, que pare~am pejjoalmenle em Juiz o.
7 E TE RAM cuidado os Julguadores de faberem,
fe os que perante elles fe liuram de alguüs maleficios
por Carta de fegurança , fe feguem os termos deli as,
e parecem em as Audiencias ordenadas , como fam
theudos e obriguados ,. e achando que nom pare-
cem, e quebram os termos de fuas Cartas , os pren-
dan, , e mandem . prender loguo. E o Tabaliam ou
Efcriuam do feito ferá obriguado, como pafrarem
quin...
8 O ~uno LrvRo DAS 0RoEN. TrT. I.
quinze dias fem fe falar ao feito do dito Seguro , de
o notificar ao Julguador , pera proceder como for
juíliça, e nom o notificando ao dito termo perca o
Officio. Peró poíl:o que algüas peíloas quebrem as
refidencias das Cartas do feguro, fobre que andarem
a feito, fe ellcs fe tornarem a offerecer em Juizo atee
dez dias perante aquellas J ufüças onde trouuerem
feus feitos ordenados pera os feguirem, (os quaes dez
dias fe contaram do dia que em Juízo nom parece-
rem) Auemos por bem, que nom fejam por iffo pre-
fos, nem fejam fuas Cartas de feguro auidas por que-
bradas• nem fcram obriguados a tomar outras Cartas
de fcgurança; e eíl:o vindo as ditas peffoas e Seguros
naquella qualidade que era ante do quebrantamento
<las ditas reftdencias, pera fe delles poder fazer com..
primenco de dereito, e juíl:iça.
8 E AINDA fe algüa peffoa andar a feito por Car-
ta de feguro por razam dalguü maleficio, e quebrar
os termos da dita Carta, e for requerido que o pren-
dam por affi quebrar as refldencias delta Manda-
mos que cm tal cafo nom feja prefo, fe dellc nom
for querelado por razam do dito maleficio, nem ou-
uer ainda contra elle proua • por que fe moíl:re, ou
prefuma , que elle fez o maleficio de que fe fegurou,.
mas deue frer auido como fe nunca tomara Carta de
fegurança; e por aquelle modo que a Juíl:iça podia
proceder contra elle , fe nom tomara Carta de fegu-
rança , por effe mefmo proceda em eíl:c cafo ; affi
que o tomar da dita Carta de feguro, e o qucbranta-
men.
DA ORDEM Q.YE O JULG. TERA' NOS FEIT. CR[ M. 9

mento della , o nom obrigue a ninhuüa pena.


9 E Q.YANDO o feito de qualquer Seguro vier por
apellaçam aos Defembarg uadores da moor alçada,
fe terá eíl-a maneria : ie o tal Seguro for acufado por
querela, [empre ferá obriguado feguir o dito feito
na moor alçada em peffoa, poíl:o que palas teftemu-
nhas da querela que já fam preguntada s ie nom
proue contra elle coufa algtia ; e nom vindo em
peíloa , os ditos Defembarg cadores o mandaram
prender, e num daram liuramento no dito feito atee
o dito Seguro nom frer prefo; faluo [e o Acufador
parecendo em peffoa requerer o defpacho no feito,
e jurar. que o requere [em malícia. E fe o Seguro
for acufado por algüa deuaffa, e fe liurar por Carta
de feguro neguatiua, e for pronunciad o que nom de-
ve fccr acufado polas taees culpas, em taees cafos •
fe no cafo da apellaçam acharem que he fem culpa•
nom deuem mandar prender o dito Seguro, pois pc ..
los Autos fe nom moílra culpa tal por que o deua
feer , nem menos deuem dar defpacho na dita apcl-
laçam atee o Seguro em peffoa viir requerer que lha
defpachem , fe lhe bem vier ; e [e aos ditos Defem-
barguadore s parecer, que o dito Seguro teem algüa
culpa, entonce o mandaram prender, c fendo pre-
fo lhe daram defpacho; e [e fe liurar por Carta de fe-
guro com defeía • fempre ferá obriguado parecer em
peífoa, como que foffe acufado por querela. E nom
parecendo. , o mandaram prender.
10 E DEFENDEMO S, que os ditos Seguros nom ve-
Liv. V. B nham,
10 Ü ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. I.
nham, nem entrem nas Audiencias, onde fe o feu feito
trautar, com arma algüa , poílo que tenha Noffo pri-
vilegio pera poder trazer armas por todo Noífo Rey-
no, fob pena de as perder pera o Meirinho, ou Alcai-
de, ou feus homens que na Audiencia lhas tomarem.
11 E BEM ASSI Mandamos, que os que quiferem
acufar alguüs prefos, ou aquelles que por obriguaçam
deuem feguir feus feitos em peffoa , nom fejam re-
cebidos a acufa-Jo por Procurador foomente, mas li-
tiguem , e pareçam em peífoa nas Audi encias, onde
eífes prefos , ou Seguros fe liurarem , e nom fe par-
tiram da dita acufaçam, affi como eífes Seguros, ou
prefos, fem licença efpecial dos Juízes, perante quem
andarem, os quaes nom lha daram fem ca11fa euiden-
te, e neceífaria; e partindo-fe os ditos Acufadores da
dita acufaçam ante de o feito fcer finalmente con-
clufo fobre a fentença definitiua , ou nom vindo
a acufar por fuas peífoas , como dito he, Mandamos
que loguo fejam lança.dos de partes, emenda, e cor-
regimento. E os taees reueis poderam feer condena-
dos, quando o feito fe finalmente determinar, nas
cuílas, e emenda , fe o cafo pera ello for. Porem
fe dentro de dez dias, contados do tempo que foram
lançados de parte, tornarem a Juízo, querendo tornar
á acufaçam , feram a ello recebidos, tomando o feito
no ponto, e eílado em que. entonce eíl:euer ; e fen-
do defpois outra vez lançado por nom parecer , nom
·ferá ja mais tornado a receber por parte , pofto que
torne a parecer. Emperó fe o Acufador profeguir acu ..
[a ..
DA ORDEM QYE O JuLG. TERA' NOS FEIT. CRIM. Il

façam em peífoa em a primeira inilancia ataa con-


cluíam fobre a definiriua, poder-fe-ha pubricar a fen.
tença, poíl-o que prefente nom feja. E quando o fei-
to, que o Acurador profeguir ataa fentença definitiua,
vieer por apellaçam , e confiando o Acufador de feu
den:ito nom for requerer o dito feiro no cafo da
apellaçam , nom ferá por iffo lançado de parte , nem
ferá dado viíla a feu Procurador. pois elle nom pa-
rece , mas aa fua reuelia fc defembarguará o feito
eomo for de reiro , aili por elle • como contra elle,
poílo que o Acufador nom pareça em peffoa. E eilo
nom aucrá luguar nas molheres que acufarem ; por-
que poderam por Procurador acufar affi na primeira
inílancia , como no ca!o da apellaçam, dando fiança
aas curtas, e emenda, e corregimento , fegundo ao
Julguador_parecer ; porem feram obriguadas pare-
cer, quando lhe por os Juízes for mandado.
12 ÜuTRo s1 Auemos por bem por bom defpa-
cho , e breuidade dos feitos, que quando os Noífos
Deíembarguadores , ou quafquer outros Julguadores
mandarem citar-algu.as partes querclofas pera dize-
rem fe querem acufar algüas peffoas, que por ra-
zam de fuas querelas tomaram Cartas de feguro, ou
fam prefos, fe as querelas forem taees, em que a
Juftiça aja luguar, loguo nas taees Cartas Citatorias
mandem aas Juftiças que as citarem, que dando os
ditos querelofos em repoila , que nom querem acu-
far pelo contheudo em taees querelas, preguntem as
teítemunhas nomeadas nellas.
B2 13 E
12 o QEINTO LIVRO DAS ÜRDEN. TJT. 1.
13 E DEFENDEMOS aas Noffas Jufiiças, que dos
feitos conhecerem , que quando as partes forem lan-
çadas d'acufaçam, que nom confintam, que pregun-
tem mais teílemunhas que as nomeadas na querela
polos querelofos, e as que o Tabaliam onde nom
ouuer Prornetor, ou o Prometor da J ufiiça por ju-
ramento dos Auangelhos differ , e nomear , de que
teern enformaçam que podem faber a verdade do
tal cafo, o qual termo do dito juramento ferá aílina-
do pelo Julguador que lhe o dito juramento der, fob
pena que o Prometor da Juíl:iça , ou Tabaliam que
o contrairo fezerem, perderem os ditos Ofücios. E o
Julguador que confentir que as ditas teílemu nhas fe
tirem fem lhe dar o dito juramento, e aílinar o di-
to termo como lho deu , paguará dous mil reaes pe-
ra os Catiuos, e a dita condenaça.m aíli do Julgua-
dor, como do Tabaliam ferá loguo feita pelo Juiz
do feito.
14 E ESTO MESMO que Dizemos, quando as par-
tes faro acufadas pola Juíliça por razam das quere-
las por os querelofos ferem lançados de parte, Man ..
damos que fe guarde, e aja luguar, quando forem
acufadas por culpas de deuaffas por as partes , a que
toca nom quererem acufar ; porque em tal cafo nom
poderá o dito Tabaliam ou Prometer da Juíliça dar
mais teílemunhas , que as da deuaffa, e as que na
deuaffa forem referidas ; e fe mais quifer dar , ferá
com o dito juramento fob as fobreditas penas.
15 E MANDAMOS, que quando algüa pefioa for
pre.
DA ORDEM Q,!.l'E: O Ju1G, TERA' NOS FEJT, CRJM, 13
prefa em Noffa Corte, ou na Caía do Ciuel, e con-
tra ella ouuer algüa deuaífa, que antes que fe ponha
libelo contra ella , nem fe faça outra algüa d eligen-
cia, loguo o Julguador, que de tal feito ouuer de co-
nhecer, lhe pergunte polas contraditas , que teem
aas ditas ceftemunhas , que affi contra elle fam tira-
das , nomea ndo-lhe cada hüa teílemunha fobre fr ,
e faz endo efcreuer todo o que diíler acerca da dita
contradita. E quando d efpois fe a dica deuaffa dcer
em proua , lhe daram os nomes das teíl:emunhas
para formar as ditas contradita s , e nom lhe frram
recebidas outras razoés de contraditas , faluo as que
elle ja teuer apontadas no A mo que o dito J ulguador
com elle fez . E fe lhas nom teuer apontadas nom lhe
feram recebidas, faluo fe o dito prefo j urar, que aa
fua noticia veo de nouo a dica razam de contradita>
e parecer aos Defcmbarguad ores, que dos ta('es feitos
conhecerem , que o nom alegua malici ofamente •
.16 E MANDAMOS, que quando alguü feito crime
vier por apellaçam fobre excepçam d 1 Ordês , e for
lançado da s Ordês, e fe ouuer de proceder mais no
dito feito contra clle, que procedam fem o mais tor-
narem a citar pera falar a bem de feito, pofto que.
pera o dito Juizo nunca ouueíle feito Procurador.
17 E MANDA Mos, que em todos os feitos, que em
cada húa das Noffas Caías , affi da Sopricaçam ,
como do Ciucl , forem defembarguad os , quando
pronunciarem fobre contraditas , ponham loguo em
lembrança affinada por todos os que nella forem da
fen..
14 O ~tNTO Lrv!lo DAS ÜRDEN. TIT. II

fentença, que fe poera prouando-fe as contraditas ,


ou nom fe prouando ; e deípois no final os mefmos
que foram na lembrança poerarn a fentença , fegun-
do lhe parecer que as contraditas veem prouadas ,
ou nom prouadas. E quando fe o defembarguo po-
frr que · nom recebem as contraditas , os mefmos
que foram no dito defembarguo feram na fentença
final , e nom outros.
18 E POR QY E no terceiro Liuro temos dado a
ordem qu e fe deue teer principalmente nos feitos
ciueis , affi a cerca da ordem do Juizo, como do
proceífar dos feitos, affi na primeira iníl:ancia, como
na caufa da apellaçam, que aqui nom he declarada,
Mandamos que fe guarde ilio mefmo nos feitos cri-
mes, em quanto fe a elles poder apricar , e nom for
contraira aa ordem , que por eíla Ordenaçam , ou
por outras expreífamente Damos nos feitos crimes.

T I TU L O II.
Dor Hereges e Apojlatas.

o CONHECIMENTO do crime da hereíia per-


tence principalmente aos Juizes Eccleíiaílicos, os
quaes deuem veer e julguar os feitos dos hereges fe-
gundo acharem por Dere'ito. E quando ·eJlcs conde-
narem alguüs hereges por foas fentenças , porque a
elles norn pertence fazer as taees execuções por
. ie-
Dos HEREGES E APosTATAS. r s
ferem de fan g ue , deuem remeter a Nós os condena-
dos , com os procelTos que contra elles forem orde-
nados , ou as fencenças qu e contra élles derem , pera
os Noífos Defembarguadores verem os ditos proceí-
fos, ou fentenças, aos quaes Manda mos , que as cum-
pram, punindo os ditos hereges condenados como
por dereito deuem ; e aalem da s penas corporaes ,
que aos culpados no dito maleficio forem dadas, fe-
ram feus bens confifcados, pera fe delles fazer o que
Noffa merce for, poílo que filhos tenham.
I PERó fe alguü Chriíl:aõ leiguo, quer ante fof-
fe Judeu, ou Mouro, quer nacetle Chrillaõ, fe tor-
nar Judeu, ou Mouro, ou a outra feéb, e affi lhe
for prouado, Nós tomaremos conhecimento de tal
como efte , e lhe daremos a pena fegundo Dereito ,
porque a Igreja nom há ja aqui que conhecer fe
erra na Fee , ou nom ; e íe cal cafo for que elles fe
tornem aa Fee, ahi fica aos Prelados de lhes darem
fuas penitencias eípirituaes.

---------- -------
T 1 T U L O III.
Da !eJa ,Wagejlade, e dos que cometem traiçam contra o
Rey, ou.feu Real Ejlado, ou faz em outros crimes alrai-
çoadamente.

L ESA Mageíl:ade quer dizer traiçam cometida


contra a Peífoa do Rey, ou feu Real Eftado, que he
a
16 O ~TNTO LrvRo DAS ÜRorn. Tn. III.
a pior coufa , e mais abominauel crime que no ho-
mem pode auer, a qual os antiguos fabedores tanto
auorreceram, e eíl:ranháram , que a comparáram a
gatem , porque como eíla infermidade enche todo o
corpo [em fe nunca mais poder curar, nem foomen-
te empece ao que a tem, mas ainda a toda a linha-
gem delle defcendente , e aos que com elle conuer-
fam, polo qual hc apartado da comunicaçam das
outras pc!Toas , affi o erro da traiçam nom foomenre
condena o que a comete, mas ainda empece, e in-
fama todos os que de fua linha defrendem, po!lo
que culpa nom tenham.
E os cafos em que /e cometeJam ejfa.
I PRIMEIRA MENTE fe alguü trauta!Te morte de
fcu Rey, ou da Raynha fua molher, ou dalguü dos
feus filhos , ou filhas lidimos; ou a ello de!Te ajuda,
confelho, ou fauor.
2 ITEM fe o que teuer Caíl:ello, ou Fortaleza do
Rey, ellc ou aquelle que de íua mam teuer fe aleuan-
tar com ella , e a nom entreguar loguo aa Pe!Toa do
Rey , ou a quem pera iílo feu efpecial mandado te-
ueífe.
3 ITEM fe em tempo de guerra alguü fe fofle
pera os imiguos do Rey pera guerrear contra fcus
Reynos.
4 ITEM fe algut1 deífe confelho aos imiguos
do Rey per carta ou per qualquer outro auifo em
feu deferuiço , ou de feu Real Eíl:ado.
5 ITEM fc alguü feze!fc confelho , · e confedera-
çam
DA LESA MAGESTADE,

çam contra o Rey , e feu Eíl:ado, ou trautaffe de


fe aleuantar contra elle , ou pera iílo deífe ajuda ,
confelho, ou fauor.
6 ITEM fe ao que foíle prefo por qualquer dos
fobreditos cafos de traiçam alguü deíle ajuda, ou
ordenaffe como de feito fugiíle , ou foíle tirado da
prifam.
7 ITEM fe alguü mataíl'e, ou feriffe de prepofito
em prefença do Rey algüa peífoa, que efieueffe em
fua companhia.
8 ITEM quando al guü em defprezo do Rey que-
brantaffe , ou derribafTe algüa imagem , ou armas
reaes poíl:as em femelhança do Rey, e por fua hon-
ra , e reuerença.
9 E EM todos efle s cafos , ou cada huú delles he
propriamente cometido o crime da lefa Mageíladc ,
e auido por treedor o que os cometer. E fendo o
cometedor conuencido , e condenado por cada huú
delles, morrerá naturalmente morte cruel, e todos
feus bens que ouuer ao tempo da condenaça1:1 [e-
ram confifcados pera a Coroa do Reyno , poíl:o que
fi1hos te~ha affi machos como femeas, ou outros al-
guüs defcendentes, ou afcendentes auidos antes , ou
defpois de teer cometido tal maleficio.
10 E SENDO o tal crime notaria feram fe'us bens
confifcados per eífe mefmo feito, fem outra algüa
fentença.
1r E QY ANTO ao que fezefTe confelho , e confe-
dcraçam contra o Rey , fe loguo fem ·outro alguü
Liv. V. C tref-

3
18 O ~TNTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. III.

tref Jaílo , e ante que per outrem fo[fe defcoberto ,


cllc o defcobriffe , em tal cafo merece perdam , e
ainda por ello lhe de 1_1e fcer feita merce fegundo o
caía merecer , fe elle nom foi o principal traut ador
de1le co n[clho, e confederaçam; e nom o defcobrin•
do elle lo:,.>,UO, fe defpois per efpaço de tempo o dcf-
cobriílc ante qu e o Rey diffo foffe íabedor, nem obra
per ello feita , ainda merece fecr perdoado fem auer
outra merce. E cm rodo cafo que de[cobriffe o tal
coníelho fendo ja per outrem dcicoberto, ou poílo
em ordern pera fe defcobrir , frri auido por come-
tedor da leía Mageílade , fem frer releuado da pena
que por ello merecer, p ois o reuelou em tempo que
o Rey ja fobia, ou efhua de maneira p era o nom po-
der deixar de faber.
I 2 E EM quaL1uer deíl:es cafos acima declarados,
onde os filhos fam exclufos da herança do padre , fe
forem baroés , ficaram infamados pera fempre, d~
maneira que nunca poffam auer honra de cat1ala-
ria , nem d'outra. dignidade , nem oHi.cio , nem po-
derarn herdar a p~-tre nte , nem a outro e!h,t!1ho ,
nem abinteílado , nem per te!hrn ci1to cm que fi_
quem herd ei ros , nem auer couCl algüa que lhe fcja
dada , ou lcixada affi antre vivos como per qual-
quer poílrimeira vontade; faluo fendo primeiramen-
te reílituidos p~r o Rey â íua prim ei ra fama, e eíla-
do, a qual pena aucram pala maldade que fcu pay
comcteo.
13 P.rnú as filhas dos taees treedores poderam
her-
DA LESA MAGESTADE, r9
herdar a fuas madres, e a outros parentes aíli per
linha dereita afcendentes , e defcendentes, como
per linha tranfuerfa , e quaefquer outros eílranhos
aíli abinteílado o que lhes dereicamente pertencer ,
como per teíl-amento, ou qualquer out ro j uílo ti-
tulo de ultima vontade , ou de antre viuos , e eíl:o
nom fendo as taees peífoas , a que fe ouuer de fo ce-
der, culpadas no tal cafo , porque entam fuas fa-
zendas feram confi[cadas.
14 E o QYE em qual quer dos ditos cafos come•
teffc traiçam, fe teu er bens de Morguado, ou Feudo,
ou Foro, que deu effem viir per geraçam de[cenden-
te, ou andar em peffoas, fe elle por juftiça morrer,
nom auerá o Fifco os ditos bens , mas auelos-ha
aquelle a quem per bem da iníl:iruiçam, e condiçam
do feu Feudo, Morguado, ou Aforamento pertence-
rem. E fugindo o dito culpado da Terra de maneira
que fe nom po{fa em elle comprir a pena da Juíl:i-
ça , em tal cafo auerá o Fifco os ditos bens em quan-
to viuer o dito culpado, pois que os elle nom pode
auer pola maldade que cometeo , e morto elle os
auerá aquelle a que de dereito pertencerem fegundo
fórma da tal ordenança , e iníl:ituiçam de feu con-
traél:o fcm os mais auer o Fifco por razam da dita
maldade.
1 5 PERÓ fe alguü trouxeffe Feudo , Morguado ,
ou Foro do Rey , quer in pcrpctuum , quer em pef-
foas , e cornetteffe tal crime de lefa Mageftade per
que feus bens deueflem feer confifcados, em tal cafo
C2 cfie
20 Ü ~INTO LIVRO DAS ÜROEN. TIT. III.

effe Morguado, F cudo, ou Foro ferá tornado ao Rey,


pera fa-z.er delle o que for fua mercc.
I 6 E isso mefmo fendo effe Feudo, Morguado,
ou Foro d'algüa Igreja deue feer loguo tornado aa
lgreja donde proccdeo.
17 E SE o Foro foffe dado por algüa peffoa pri-
uada a alguü foreiro perpetuamente , e effe foreiro
cometeffe a dita maldade , fr o tal Foro per bem de
feu contraL'1o poddTe paffar a alguü herdeiro eíha-
nho, cm tal cafo paffará ao Rey naquella maneira
que o tinha o foreiro que a dita maldade com eteo :
e fe per bem do diw contracto o foro nom podia
paffar a alguü herdeiro eíl:ranho, entam nom pafTa.-
rá ao Fifco , mas virá ao defcendente , ou afcenden-
te daque!lc a que primeiramente o dito foro foi da-
do, que pera ello feja capaz; e nom auendo hi tal
defcendente , ou a[cendente capaz , tornar-fe-ha ao
fenhorio , donde procedeo.
18 E SEN oo effe Fo~o dado em certas peífoas que
fc hajam de nomear , !aguo deqe feer tornado ao fe•
nhorio , donde procedeo , porque effe , que a dita
maldade cometeo , nom pode de[pois de cometida
nomear pcffoa algüa; e fe _antes algüa nomeaçam te-
ueffe feita he anichilada, e auida por ninhüa, como
fe nunca fora.
19 E SENDO cafado o ·que o dito crime cometer,
fe for per carta de metade fegundo coíl:ume do Rey-
no, auerá a molher toda íua metade em faluo , e [e
for per carta de dote, e arcas, auerá todo feu dote . e
fuas
DA LESA MAGESTADE. 2I

fuas arras ao tempo que forem vencidas, e qualquer


outra coufa que ouuer d'auer por bem de feu con-
traé1:o dotai , fem embarguo da maldade pelo mari-
do cometida , faluo fe ella per fua vontade ouueffe
no dito crime participado. E bem affi feram paguas
primeiramente todas as diuidas , que o trecdor OU•
ueffe feitas , e o que ouudfe mal leuado.
20 E QY ANTO a outros cafos que o de rei to tam-
bem chama crime de lefa Mageflade da primeira ca•
beça , affi como fe al g uü trautaffe morte de alguü
afcend entc do R ey, ou de fc cndente afóra os acima
decl arados , ou Irmaõ ào Rey , ou Tio do Rey Ir-
maõ de feu Pay , ou de fua May daquella parte, de
qu e o Rey no focede, fendo a tal petfoa, contra que fe
dk cafo cometer, lidima, quer feja macho, quer fe-
mea. Item fe o Rcy em fua peffoa per {i mefmo fe-
guraffc algüa pelfoa, ou gente de algüa Comarca,
Cidade, ou Vi lia, e aquelles, de que affi dcíle a dita
fegurança, a quebrantaffem , cm efl-es cafos nefle ca-
pitolo declarados , os cometedores e feitores delles ,
ou de qualqu er d elles, morreram morte natural, e
feu s bens fcram confiicados, pofto que defcendentes,
ou afcendenres tenham; porem nem elles feram aui-
dos por treedores , nem feus filhos ficaram infama-
dos, nem inabiles pera foccder, nem exclufos das
Honras , Ofticios, e Dig ni dades.
21 E PORQY E aalem dos cafos fobreditos ha hi
outros, em que fegundo dereico fe comete o crime
de lefa Mageftade, que o dercito chama Capita/os da
/e-
22 O ~INTO LrvRo DAS ÜRDEN. Trr. III.
Jegunda cabeça, aíli como fe alguü tira<re per força de
poder da J uíl:iça o condenado per Noíla fentença ,
que leuaffem a jufliçar por Noffo mandado, ou de
Nolfos Officiaes, que pera ello Noffo poder, e autori-
dade teueHem.
22 ITEM fe Nos forem dados arrefces , e alguü
os matalfe , feri!Te , ou olfendeífe fem juíla cauía ,
fabcndo que Nos eram dados em arreteês , e durando
por arrefees , ou lhes delfe ajuda, fauor, aazo , ou
confelho, pera fogir de Noífo poder.
23 ITEM fe alguü quebrantaffe Noífo carcere , e
delle tiraífe o prefo que ja era condenado , ou em
Juizo ouuelTe confeífado o maleficio por que era pre-
fo, por fe delle nom fazer juíliça.
24 1TEM fe alguü mataffe, ou feriffe feu imi-
guo fendo prefo em Noffa prifam , tomando delle
vmguança.
25 ITEM fe alguü mataffe, ou feriffe alguu NoC-
fo Official da Jufüça , que Officio de j ulguar tenha
fobre feu Officio.
26 ITEM fe alguü Corregedor, ou Juiz foíle en-.
uiado por Nós a algua Comarca, Cidade , ou Vilia ,
e defpois por algüa razam ccífaffe feu Officio, e
Mandaífernos laa outro Official nouo com Noífas
cartas, e poderes pera ello fufficientes, e o primeiro
Corregedor , ou Juiz lhes nom quifeffe obedecer ,
em eíles cafos, e outros femelhantes, que o Dereito
chama da fegunda cabeça , alem d'aucrem as penas
que por Dereito Comum , e Nolfas Ordenaçoés de-
uem
DA LESA MAGEST ADE • . 23
uem d'auer , perderam feus bens os cometedors dos
fobreditos caías, e feram confifcados, poílo que te-
nham dcfcendentes , ou afcendentcs lidimos. E ne-
íl:as mefmas penas affi as que merecerem fegundo
forma de Dereito, e NofTas Ordcnaçoês, como per-
dimento de fazenda do modo que dito he, encorre-
ram quaefquer Capitaes Noífos , ou Feitores , ou
quaeíquer Noílos Officiaes de qualquer qualidade
que fejam, que nom entreguarem os taees carreguos,
ou Officios , que teuerem , aaquelles que pera ello
leuarem Nofias Prouifoês.
27 E HA ainda hi outra maldade que nom he
lefa Mageíl:ade , e o Dereito lhe chama maldade
atraiçoadamenre, e aleiuofamcnte feita, a qual fe
comete cm eíl:as maneiras, conuem a íaber, .quando
alguú fob moníl:rança de amizade mata, ou fere, ou
:fàz outra algi:ia offenía a feu :uniguo , fem com elle
auer reixa, nem contenda; am como fe ihe dormiffe
com a molher, ou filha, ou irmãa, ou lhe fczdfe
alguü roubo, ou furto.
2 8 ITEM fe alguü viuendo com fenhor por foi-
dada , ou a bem fazer, lhe dormiífe com a moiher ,
ou filha, ou irmãa, ou feriífe, ou mataíle, ou lhe fc-
ze(fe outra offenía peífoal , ou alguu grande furto ,
ou roubo.
29 E EM eíles caías e em outros femelhantes ,
em que alguü comete!fe eíla maldade atraiçoada , e
aleiuofamente , como dito he, a pena corporal frrá
muito mais graue, e maior, do que fe daria em ou-
tro
24 0 ~INTO LIVRO DAS ÜRDFN. TIT. III.
tro femclhante maleficio, em que tal qualidade de
malícia nom coubcífc ; peró feu s bens nom feram
confifcados, faluo no caía onde alguú mataífe !eu
fenhor, com que viueífe como dito he, porque en-
tam, aalem da pena corporal, feram feus bens confif-
cados , poíl.o que o condenado filhos tenha, ou ou-
tros defcendentes , ou afcendcntes.
30 E EM todos os caías, e capitolos em eíle Ti-
tulo acima declarados abaíl:aram pera meter o cul-
pado ·a tormento mais pequenos -indícios~ que onde
taees qualidades nom ouuer; e aquellas teílemu-
nhas, que em outros cafos nom poderiam ceílcmu-
nhar , neíl.cs poderam feer teílemunhas , e valeram
feus ditos; peró fe o que teílemunhar for imiguo ca-
pital do acufado, ou amiguo efpecial do acufador ,
feu tefiemunho nom fcrá muito crido, mas fua fee
deue feer minguoada fegundo a qualidade do tal
odio, ou amizade. E nefies caías nom gouuirá o acu-
fado de priuilegio alguü per que nom deua feer me-
tido a tormento, nem auer pena vil, porque de to-
do he priuado.
31 E ONDE a traiçam folTe cometida cm cada
huú dos cafos declarados cm o primeiro Capitolo
deíle Titulo, onde o cu! pado deu e feer condenado
a morte natural , e perdimento de bens, e feus filhos
infamados, e inabíles como dito he, fe o dito cul-
pado morrelTe ante de fcer prefo , ou acufado , ou
infamado pela dita maldade , ainda defpois da fua
morte fe pode bem inquirir contra elle, por tal que _
achan-
Dos QYE DIZEM MAL o'ELREY. 25
achando-fe verdadeiramente culpado ferá fua me-
moria danada , e feus bens confifcados pera a Coroa
do Reyno ; e fendo fem culpa fica fua fama e me-
moria coníeruada em todo feu eíl:ado, e feus bens
aos herdeiros.
32 E Q.1/AN'DO a dita maldade foíle cometida em
cada huü dos outros capitolos, onde a infamia , e
incapacidade nom paífa aos filhos , em taees caíos ,
morto o culpado ante de feer acufado, prefo , ou di-
famado, loguo o dito crime fica de todo extinto ,
que ja mais fe -nom poderá delle inquirir por caufa
de fua memoria, e bens , porque em todo ficará
inteira , e os bens .faluos a feus herdeiros.

T I T U L O IIII.
Dos que dizem mal d'E!Rey.

S E alguií diífer mal de fcu Rey nom ferá julgua-


do por outro alguu Juiz fe nom por Elle mcfmo •
ou por aquella peíloa, ou pe{foas, a quem o Elle em
eípecial cometer, e lhe ferá dada a pena fegundo a
qualidade das palauras, e peffoa, e lempo, e modo,
e tençam, com que forem ditas; a qual pena fe po-
derá extender até morte inr/iifiue, tendo taees qua-
lidades por onde o mereça.

Liv. P. D TI ..
26 Ü ~INTO LIVRO DAS ÓRDEN. TIT. V.

T I T U L O V.
Como pa!fará falha dos que forem prefos
por feito crime.

TODO aquelle que for prefo por feito crime


nom feja folto atee paífar folha polos Tabaliaês, e
Efcriuaes do Luguar onde affi foi prefo; e o Julgua-
dor, que o mandar faltar fem do dito prcfo primei-
ramente feer corrido folha, paguará dez cruzados ,
ametade pera quem o acufar, e a outra metade pera
os catiuos; e aalem diffo fendo deípois achado cul-
pas do dito prefo, que affi foi falto, em poder d'alguú
Tabaliam ou Efê:riuam do tal Luguar, ferá o dito
Julguador, que o affi mandou faltar, punido fegundo
parecer aos Julguadores, que do cafo ouuerem de
conhecer, auendo reípeito aa qualidade das culpas,
que o prefo, de que affi nom foi corrida a dita folha,
tinha ao tempo que foi falto. E nom paífaram a dita
folha pola Comarca nem pola Correiçam , faluo
quando os ditos Julguadores teuerem enformaçam ,
que o tal prefo tem em outra parte feito alguü ma-
leficio. Nem i!fo mefmo nom paílàram folha das
peffoas que forem preías por ferem achadas de
noure defpois do fino d 'acolher; faluo fe das ditas
peíloas ouuer enformaçam que fam malfeitores.
I E PORQyE muitas vezes os Tabaliaês ou Efcri-
uaês refpondem nas ditas folhas que tem culpas, e
as tresladam > e leuam o dinheiro aas partes , e def-
po1s
CoMO PASSARA' FOLHA DOS Q!JE FOREM PRESOS, 27

pois fe acha que as ditas culpas nom fam obrigua-


torias, e affi ficam as partes danificadas em pa-
guarem as culpas que nom eram obriguatorias ,
Mandamos a todos os Efcriuaes, e Tabaliaes do Rey-
no que, quando ouuerem de refponder na dita folha
que reem culpas, vejam primeiro fe fam obriguato-
rias , em modo que fe nom forem obriguatorias as
nom dem por culpas, e achando que fam obrigua-
torias , daram foomente os Autos, ou teíl: emunhas
que no diro prefo tocarem ; e fe reuerem duuida fe
fam obriguatorias , ou nom , primeiro que o dito
Eícriuam, ou Tabaliam reíponda, vaa ao Julguador
que a dita folha manda correr , e lhe digua a duuida.
que reem , e fe ao Julguado.r parecer que nom fam
obriguatorias , affi o declare por huú termo, que fe.
rá efcripto por o Tabaliam , e ailinado por o Juiz ,
e ferá efcripto, e ailinado polo Juiz na mefma de-
uafla. E fe ao Julguador parecer que faro obriguato-
rias, ou que ne\las há alguü indicio contra aquelle
de que fc corre folha, entonce mande ao Eícriuam ,
ou T abaliam, que dee as ditas culpas, e as treslade,
e o Juiz affinará em huG termo que o Tabaliam dif-
fo fará , em modo que o dito Tabaliarn , ou Eícri-
uam nunca dee culpas, que nom forem obriguato-
rias , fe nom por mandado do Julg uador que a dita
folha mandou correr ; ou fe a folha for corrida por
Carta Precataria d'alguu Julg uador fóra do Luguar
onde affi fe correr a dita folha , e fobreuier a dita
duuida ao Efcriuam, ou Ta.baliam, entoncc as amo-
O 2 fira-
'.28 o ~JNTO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. V.
firará ao Juiz do dito Luguar que a dita Carta Pre..
catoria mandou comprir. Porem fe na Carta Preca-
toria for contheudo , que lhe enuiem algua in-
quiriçam, ou deuaíTa , manda-la-ham toda affi como
he pedida, pofto que as teíl:emunhas nom toquem
no acufado; affi como fe faz quando algui:"1 fe quer
liurar de morte de homem, porque cntam fe junta
toda a deuaíla ao feito.
2 E Q.UANTO aos que fe liuram folros por Carta,
de feguro, Mandamos que o Juiz, que do dito fei-
to conhecer na primeira iníl:ancia·, mande correr
folha antes que dee fentença final , fe a parte, ou
partes , de que fe affi o Seguro fegurou , nom acufa-
rem; por.que acufando, nom he neceíTario correr fo-
lha: e nom mandando o dito Julguador correr a fo-
lha , como dito ne, encorrerá nas penas fobreditas,
Do que foi ta o prejo /cm correr folha.
3 E o Tabaliam , ou Efcriuam, que refpondendo
aa folha nom deer as culpas, ferá priuado do Offi-
cio , e fc fe prouar que as fonegou maliciofamente ,
auerá a pena de falfario.

TI-
Dos Q.UE FAZEM MOEDA FALSA IT e. 29

TI TU LO VI.

Dos que fazem moeda /alfa, ou a difpmdtm, ou aa r-


ceam. E do Ouriuez , que faz algíia fa!Jidade
em Juas obras.

M OEDA falfa . ne couía muito perjud~cial aa


Repubrica, e por tanto deu e feer mui afpera mente
punido quem em ello for culpado, polo qual Man-
damos que todo aquelle • que falfa moeda fezer, ou
der a ello fauor, ajuda, ou confelho, ou for dello fa-
bedor, e o nom defcobrir , moura morte natural de
foguo , e todos feus bens fejam confifcados pera a
Coroa do Reyno.
1 E DECLARAMOS , que moeda falfa he toda
moeda que nom he feita por Noffo Mandado, em
qualquer maneira que fe faça , ainda que feja feira
daquella forma , e rnateria, de que he feira a Nof-
fa verdadeira moeda, que fe faz por Noílo Mandado;
porque, frgundo dereiro e razam, ao Rey, ou Prin-
cepe da Terra pertence foomente fazer moeda , e a
outro alguü nom, de qualquer dignidade, e primi-
nencia que feja.
2 E s~ a caía, ou qualquer outra propriedade,
onde a moeda falfa for feita , nom for do culpado
em o dito maleficio, e o fenhor della no dito tempo
efteueffe tam perto dclla , e teueffe com o culpado
tanta conuerfaçam, que razoadamente fe podeífe con-
geiturar que dello deueria feer fabedor , ferá con ..
fjf..
30 o ~[NTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. VI.

fifcada; faluo fe o dito fenhor tanto que do dito


maleficio foífe fabedor o defcobriffe a Nós J ou a
Noffas Juíliças ; cá em tal cafo nom perderia o fe-
nhor fua cafaJ ou propriedade, onde a moeda falfa
foífe feita, pois do dito maleficio nom era confenti-
dor : porem fe o dito fenhor da cafa, ou proprie-
dade ao tempo do maleficio eíl-eueffe di tam longe,
que razoadamente nom fe pod cffe congeiturar que
dello foffe fabedor, em tal caío nom perderá fua
caía ou propriedade, onde o maleficio foíle feito.
3 PERó Mandamos , que eíle capitolo prece-
dente nom aja luguar na viuua , ou orfaõ, que feja
menor de quatorze annos ; porque ainda que em fua
cafà, ou outro luguar foffe feira moeda falfa, e cada
huü delles eíl:eueffe di tam perto que razoadamente
deudfem faber dello parte, eíl:o nom embarguante,
deuem feer releuados da perda de fua cafa, ou lu-
guar, onde aili a dita moeda foi fabricada; faluo mo-
ílrando-fe que eram dello fabedores, cá entam nom
feram releuados da dita pena.
4 _ E NO crime da moeda falfa nom gouuirá ni-
nhuü priuilegiado de priuilegio pefioal, que tenha
de Fidalguo, ou Caualeiro , Cidadam, Vaífallo, ou
qualquer ou rro femelhante, porque fem embarguo
delle lerá atormentado, e punido como cada huü do
pouo , que priuilcgiado nom feja.
5 ÜUTRO sr víando algüa peffoa de moeda falfa •
conuem a faber , comprando-a , ou vendendo-a , ou
defpendcndo-a, ou paguando com ella algúas diui-
das,
Dos QYE FAZEM MOEDA FALSA ET e. 3r

das , a que feja obriguado, fabendo que era falfa ,


fe na moeda que affi juntamente , e por hüa vez
comprar ou defpender, ou no que della comprar ou
de[pender por duas vezes , montar mil reaes, Man-
damos que moura por ello , e perca todos feus bens,
ametade pera quem o acuiar, e a outra pera Coroa
de Noífos Reynos. E effa mefma pena auerá qualquer
peffoa a que for legitimamente prouado, que por tres
vezes , ou mais comprou , ou defpendeo afabendas
tanta moeda falfa, que chegue a contia de quinhen-
tos reaes ; e o que menos contia de moeda falfa com-
prar ou defpender , fabendo que he falfa, em qual-
quer quantidade, ferá degradado pera fempre pera
a Ilha de Sam Thome, e todos feus bens fejam con-
fifcados, dos quaes auerá ametade quem os acufar.
6 E TODO aquelle que cercear moeda d'ouro, ou
de prata, ou a diminuir , ou corromper per qual-
quer maneira , fe as cerceaduras ou diminuiçam que
affi tirar, quer juntamente , quer por partes, vale-
rem mil reaes, moura por ello morte natural, e perca
todos feus bens , ametade pera No{fa Camara , e a
outra pera quem o acufar ; e fe menos valerem em
quanta quer quantidade que feja, Auemos por bem
que feja degradado pera fempre pera a Ilha de Sam
Thome, e perca todos feus bens, os quaes fe repar-
tiram pola dita maneira.
7 OuTRO s1 Mandamos, e Defendemos, que ninhuu
Ouriuez, affi de prata, como d'ouro, nom faça falfi-
dade algüa nas obras de prata, ou . d'ouro que fezer
pe-
32 o ~INTO LIVRO DAS ÜROEN. TIT. VI.

pera vender, metendo-lhes algüa ligua, porque aley,


e bondade , e valia do ouro , ou prata feja abatida;
nem iffo mefmo metam nas obras, que lhe algüas
peíloas mandarem fazer, mais baixo ouro, ou prata
do que os donos das ditas obras quiferem , e man-
darem: e qualquer que maliciofamente o conrrairo
fezer, fe a falfidadc , ou falfidades que teuer fritas
cheguarem á verdadeira Yalia de huü marco de pra-
ta moura por ello, e nom chcguando aa dita valia,
fej a degradado pera fempre pera a Ilha de Sam Tho-
me , e cm cada huü defl:cs cafos fua fazenda ferá
confifcada.
8 l TEM Mandamos , e Defendemos , que ni-
nhüa peíToa de qualquer condiçam que frja em ro~
dos No{fos Reynos, e Senhorios, nom desfaça, nem
mande desfazer ninhüa moeda de prata, de qual-
quer forre e qualidade que fcja , ainda que a dita
moeda feja de fóra dos ditos Noífos Reynos; e fa-
zendo o contrairo 1 fe-rá degradado dez annos pera
cada hu ü dos noffos I ugares d' A frica , e mais per-
ca a metade de toda fua fazenda, ametade pera Nof-
fa Camara , e a outra me ta de pera quem o acufar.
E eílas mefmas penas auerá quem quer que apartar
a moeda , que for de maior peío do que deue feer,
e a vender a pefo. E fendo Noffo Official , que teuer
carreguo de receber Notros dinheiros, oque cada hüa
das fohreditas coufas fezer encorrerá por iflo em
pena de morte natural , e mais perderá por itro toda
íua fazenda por a fobredita maneira.
TI.
DA PENA Q.YE AVERA' O Q.YE FALSAR SINAL ETC, 33

T I TU L O VII.

Da pena , que aun·á o que falfar final , ou filo do Rey ,


ou outro.final, ou filo autentico, ou fizer efcripluras
fa!fas. E do Efcriuam, que nom pqfer afubfrr-ir;aõ co,1-
forme aafujfancia da Carla, ou Aluará ajjinado por
E! ReJ',

T ODA peffoa de qualquer eílado, e çondiçam ,


que por fi, ou por outrem fal íar Noílo final, ou feio,
ou defpois de Naifa Carta, ou Aluará feer por Nós
affinado, emader, ou minguoar, ou mudar algüas pa-
lauras, ou letras, por que fe mude em algü.a parte a
fentença, ou tençam da dita Carta, ou Aluará, mou-
ra por ello, e perca feus bens pera a Coroa de Noffos
Reynos , fe defcendentes , ou afcendentes lidirnos
nom teuer.
1 OuTRO sI Mandamos, que todo Efcriuam em
qu'alquer Doaçam, Carta, Aluará , ou outra Proui-
fam, que fezer pera auer de feer por Nós affinada,
ponha muito verdadeiramente nas fubfcriçoês dellas
toda a fubílan c ia elas fobreditas Efcripturas , fem
minguoar coufa algüa daquello, que for da fub-
fiancia, em tal maneira que Poffamos polas ditas
fubfcripçoes faher •toda a verdade do fubílancial das
taees Efcripturas, e nom feja neceífario as Auermos
de veer todas. E quem o contra ira fezer , fendo o
que affi leixou de poer de tal fubílancia, que pareça
que com malicia foi leixado , Mandamos que feja
Liv. V. E de-

4
34 O ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. VII.
degradad o pera fempre pera a Ilha de Sam Thome,
e perca roda fua faz enda, a metade pera quem o acu-
far, e a outra pera Noffa Camara, e pola tal Efcri-
ptura nom fe fará obra algüa, nem ferá de e fe él:o
alguü, poíl:o que fem malicia foífe 1eixado de poer.
2 Ü u TRO s1 todo aquelle que falfar , ou mandar
falfar final d'alguü Noffo Oefembarg uador no que
a feu Officio pertencer, ou feio d'algüa Cidade, Vil-
la, ou Concelho, ou outro qualqu er feio autenti-
co, ou emader, ou diminuir, ou mudar algüa coufa
defpois da Carta aílinada , ou affellada , por que fe
mude em a\gua parte a tençam della , ou falfar por
qualquer maneira algüa Efcriptura pubrica, ou final
pubrico de alguü Tabaliam, ou Efcriuam, que Noffa
auétoridade renha pera fa zer final pubrico, feja de-
gradado pera fempre pera a Ilha de Sam Thome,
e perca os bens pera a Coroa dos Noffos Reynos , fe
defcendentes, ou afcendentes lidimos nom teuer.
3 E o QYE fa!far final de qualquer outro Julgua-
dor em coufa que a feu Officio pertencer, ou alguü
Aluará , a qu e fegundo Noffas Ordenaçoes fe deueria
dar fee, fe verdadeiro fofre, como a Efcriptura pu-
brica , fej a degradado dez annos pera a Cidade de
Cepta, e perca os bens pera a dica Coroa.
4 E os Tabaliaes que fezerem Efcriptura falfa,
Mandamos que mouram morte natural, e percam
todos feus bens pera Cor~a de Nofros Reynos, e eíla.
mefma pena auerá o Efc riuam judicial que fezer al-
gu ü Auto falfo. E neíles cafos poilo que de Nós
ªJªm
DA PEN A QYE A \'ERA' O QYE FALSAR SINAL ETC. 35
ajam perdam , nom lhe fcrá guardado, porque o
Auem os p or fur rc pticio.
5 E o Q.1' E ordenar que alguü Tabaliam, ou F!"cri-
uam fa ça Ercriptura falfà., ora o Taha\Í ;lm íeja d ei lo
fabedor, ora nom, fe a Eícriprura for de qualidade
que fe poderia por ella ncguociar valia de huü marco
de pnta, e di pera cima, poílo qu e fe nom neg uo-
cee, morrerá mane natural, e perderá feus ben~;
e fendo de menor qu ,1 lidadc, fer:í deg radado pera a
Ilha de S;im Thomc pera fempre , e perderá os bens.
E a teílernunha, ou teíl:emunhas, que ao fazer da
dit:i. Efc riptura inrcruierem, fabendo que fr faz falfa,
encorrcram nas ·me[mas penas.

T I T U L O VIII.

Do que di(/e1· leflemrmho f flljo , e do que lho fez.er


dizer, ou o cometer que o digua.

Q UALQYER peíloa, que teílemunhar falío em


qualquer cafo que feja, moura por ello morte natu-
ral , e perca todos feus bens pera a Coroa de Noílos
Reynos : e ctla mefma pena auerá aquelle, que en-
duzir, e corromper algüa teílemunha fazendo-lhe
teílemunhar falfo em feito crime de morte , ora frja
a abfoluer, ou a condenar ; porem fc for pera abfol-
uer, nom fe fará nelle execuçam atee N o-lo fazerem
faber , declarando-nos as caufas por que foi mouido
E2 a
36 O O!::r:-:To LIVRO DAS ÜRDEN. Tl'r. VIU.
a tal fazer , e fe for cm outros crimes , que nom
frj am de morte , e affi nos ciueis , ferá degradado
pe ra frm pre pera a Ilha de Sam Thome, e perderá
fua fazenda , fe d efcendemes, ou afcendentes lidi-
mos nom tcuer. E em todos eíles calos fobreditos ,
nem em cad:i huü delles nom poderá a parte auer
perdJ m Je N ós ; e fc o ·ouuer, M andamos que lhe
nom fcja guarJado , porque o Auemos poi: fubre-
pticic.
1 E PORQi.J E ha hi muitas peffi>as, que fobornam
teíl:err-,unh as pera que tdtemunhem falfamente , e
p :1r as teitemunhas nom quererem dar feus teílcmu-
nhos falfos • as nom dam em proua , Auemos por
bem , que i.;rouando.fe que as fobornaua, prome-
tendo-lhe dinheiro, ou qualquer outra coufa por que
tcíl:emunhaíle falfo, poílo que a ceftemunha o nom
l}Uifeffe aceptar, e poílo que non deíle ceíl:emunho,
nem foffe apíefrmada por teíl:emunha • Mandamos
que fe a caufa, pera que aíli fobornaua, for ciuel , e
for pia, fcja açoucado pala Vilia com baraço, e pre-
guam , e fendo peffoa em que nom caiba açoutes ,
feja degradad o dous annos pera cada huu dos Lu-
guares d' Alem em Africa; e fe for feito crime em
que nom caiba morte, auerá iffo mefmo as fobredi-
tas penas ; e te for em cafo de morte pera condenar.
feja degradado pera a Ilha de S1m Thome dez a1111os,
e mais fcrá açouraJo, fc for piam; e fe for a abfoluer,
feja degr.1J:.iJo deL annos pera cada huuü dos Noífu&
Luguares d' Alem.
TI..
Dos Q.YE VSAM D'.ESCRIPT. ou TESTEMUNH. FALS. 37

TI TU LO IX.

Dos que vfam d'efiripturas, ou tej}emunhas fa!fas.

TANTO que algüa peífoa aprefentar alguas


teíl:emunhas, ou efcripturas em alguü feito, fe def-
pois a tal efcriptura for achada falfa, o que a affi
aprefentou ferá degradado dez annos pera Cepta ,
e perca os bens pera Coroa de Noífos Reynos , fe
defcendentes , ou afcendentes lidimos nom teuer.
E bem affi fe defpois a teílemunha , ou teíl:emu-
nhas que deu, forem achadas falfas, auerá aquella
pena , que no Timlo precedente he poíl:a aos que
induzem, e corrompem algüa teíl:emunha, fazendo-
lhe teíl:emunhar falfamente ; o que auerá luguar ,
poílo que defpois de as aprefentar digua , que nom
quer vfar das taees efcripturas, ou teíl-emunhas fal-
fas. Porem fe a dita parte aleguar, e prouar algüa
razam, por que pareça ao Julguador que do feito
conhecer, que elle nom fez a dita falfidade, nem
deu a ella ajuda , nem confelho, nem fauor , nem
podia della feer fabedor, feer-lhe-ha recebida; e pro-
uando tanto por que deua feer rcleuado das ditas
penas , nom lhe !eram dadas.

T 1-
38 O ~TNTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. X.

TI TV LO X.
Do que mata ou fere na Corte, ou em qual<1uer parte do
Reyno, ou tira arma na Corte. E do que tira com
heejla , e do efcrauo que arranca arma contra Jeu
Jenhor.

Q UALQ1JER pefToa que outrem matar, ou


mandar matar, moura por ello morte natural. Po-
rem fe a morte for em defendimen to , nom auerá
pena algüa; faluo feno dito defendimento excedeo
aquella temperança , que deuera , e podera reer,
porque em tal cafo ferá punido feg undo a qualidade
do dito cxceífo. E fe a morte for por alguü cafo
fem malicia, ou vontade de matar, ferá punido, ou
releuado fegundo fua culpa, ou inocencia, que em
tal cafo teuer.
1 PERÓ fe alguü Caualeiro ou Fidalguo de gran-
de folar matar alguem , nom feja julguado aa morte
fem No-lo fazerem faber, pera Veermos a peífoa,
eíl:ado , linhagem , e condiçam , aíli do matador,
como do morto, e qualidade , e circunflancias do
dito morto , e Mandarmos o que for feruiço de
Deos , e bem da Repubrica.
2 E QYALQYER peífoa que matar outra por di-
nheiro , fer-lhe-ham ambas as maõs decepadas , e
moura morte natural , e mais perca fua fazenda ; e
ferindo outra pdfoa por dinheiro, moura por ello
morte natural. E eíl:as mefmas penas auerá aquelle
que
Do QYE MATA otr FERE NA CoRT.E. 39

que mandar matar, ou ferir outrem por dinheiro ;


feguindo-fe a dita morte, ou ferimento.
3 E sE algüa pefioa de qualquer condiçam que
feja matar outrem com beeíla , aalem de por ello
morrer morte natural , lhe feram decepadas as maõs
ao pee do pelourinho. E fe com a dita beeíla ferir
de prepofito com farpam , palheta, feeta, ou vira-
tam, poílo que nom mate, moura por ello morte
natural. E fe ferir em rixa com cada hum dos ditos
tiros, poíl-o que nom mate, fe for Vaífallo, ou Efcu-
deiro, e d i pera cima, feja degradauo dez arrnos com
huü pregam na Audiencia pera a Ilha de Sam Tho-
mee; e fe for piam, feja açoutado, e degradado pu-
bricamente com baraço e preguam pola Villa por
dez annos pera a dita llha. E fe tirar de prepofico
com a dita beefia com cada huú dos ditos tiros pera
matar, ou ferir, e nom ferir, fe for piam, feja degra-
dado pubricamente pala Villa com baraço e pre-
guam por dez annos pera os Luguares d'Alem em
Africa; e fe for Vaífalo , ou Efcudeiro, e di pera ci-
ma, feja degradado com pre-guam na Audiencia por
dez annos pera cada hum dos Luguares d' Alem em
Africa. E fe tirar com a dita beefia em rixa com
cada hum dos ditos tiros, e nom ferir, fe for Vaffa-
lo, ou Efcudeiro, e di pera cima, feja degradado com
huü preguam pera cada hum dos Luguares d 'Afri-
ca por dous annos ; e fe for piam, feja degradado
com baraço e preguam pala Villa por outros dous
annos pera cada hum dos ditos Luguares.
4
40 Ü QUINTO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. X.
4 E MANDAMOS, que qualquer peífoa que ferir,
ou injuriar, ou diífer, ou fezer qualquer injuria , ou
oflenfa a outra peíloa, que com etle trouxer deman-
da, ou lho mandar fazer, auerá a pena afli ciuel
como crime em dobro, que ouuera fe com ellc nom
trouxera demanda. E [e ferir, ou injuriar, ou polo
dito modo fezer qualquer offenfa, ou injuria a alg uü
Procurador do Concelho, com que elle, ou algüa
peífoa que lhe pertença trouxer demand a , ou a
qualquer que contra elle procurar, ou requerer qual-
quer feito, ou caufa, ou lho mandar faz er, au e rá a
pena em trefdobro afli ciuel como crime, que ou-
uera fe com elle nom trouxera demanda.
5 E QYALQYER peífoa que for achado de noute
defpois das Aue Marias na Noífa Cidade de Lixboa,
ou na Noífa Corte, ou no Luguar onde eíleuer a
Noíl"a Cafa da Sopricaçam, ou do Ciuel, com beeíla
armada , feja preío , e da cadea pague quatro mil re-
aes, e feja açoutado pubricamente com baraço e
preguam por a Villa, e degradado por dous annos
pera a Ilha de Sam Thorne ; e fendo peífoa de qua-
lidade em que nom caiba açoutes , feja degradado
por tres annos pera a dita Ilha, aalem de paguar o
dito dinheiro. E effas mefmas penas auerá fendo
achado com a dita beeíla defarm:ida, prouando-fe
que a leuaua pera mal fazer. E fendo achado dentro
em qualquer Cidade ou Villa de Noífos Reynos de
noute com beefla armada, ajam as fobreditas penas
de dinheiro, e açoutes, e degredo, fegundo a dife..
ren-
Do QJlE MATA ou FERE NA CoRTE. 41

rença das peffoas ; como dito he. Das quaes ~ere-


mos, e N os praz, que onde a Noffa Corte eíl:euer, e
for comprehend ida algüa peffoa em cada huü dos
ditos cafos, que o N o ífo Corregedor feja Juiz diffo,
e nom outra ninhúa Juíl:iça. E das d itas penas de
dinheiro os Alcaides Moores dos Luguares , onde
a Noffa Corte efleuer, leuaram aquellas partes que
por bem de NofTas Ordenaçoes ham d'auer, e affi.
quaefq ue r outras peíloas que por as ditas Ordena..
çoes nellas teuerem parte; a qual parte aueram como
fe por e íl:a Noífa Ordenaçam as nom Acreccnta(fe_
mos , e do que ficar tirando as ditas partes, ferá
am etadc pera quem as ditas peffoas tomar nas fo._
brcditas coufas, e os acufar, e a outra metade ferá
pera os cam10s.
6 ÜuTRo sr Mandamos , que qualquer cfcrauo,
ora. feja Chri!laõ , ora fóra da Lcy, que matar feu
fenhor, ou filho de feu fenhor, que feja atinazado ,
e lhe fejam decepadas as maõs. e moura morte na-
tural na forca pera frmpre. E fe ferir feu fenhor íem
o matar., moura por ello morte natural. E fe arran-
car algüa arma pera o d ito feu fenhor, pofio que o
nom feira, feja açoutado pubricamente pola Villa
com baraço e preguam, e fer-lhe-ha decepada hüa
maõ.
7 E BEM a!Tt Mandamos, que qualquer peffoa de
qualquer qualidade, e condiçam, que mandar dar cu-
tilada polo rofio com efeéto a outra qualquer peffoa,
ou lha deer, confiando f ua tençarn, e prepofico nom
Liv. V. F íeer
42 0 ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. X.
fcer outro , fenom de lhe dar a dica ferida polo ro-
fto, fe for piam feja-lhe decepada hüa maõ, e de-
gradado pera a Ilha de Santa Ilena pera fempre, e
perca fua fazenda pera a Coroa de Noffos Reynos.
E eílas mefmas penas aueram os que forem em
companhia do que affi deu a dita cutilada ; refal-
uando porem que nom aueram cortamento da maõ ,
e em luguar di!fo feram açoutados pubricamente, fe
forem pelfoas em que pena d 'açoutes caiba. E aalem
das dicas penas ferá julguado ao que affi foi ferido
fua injuria fegundo a qualidade de fua pe!foa , com
tanto que lhe nom feja julguado menos de dez mil
reaes , por muito baixa peffoa que feja o que affi foi
ferido, a qual injuria, que lhe alfi for julguada, ferá
primeiro tirada da fazenda , que affi Auemos por
perdida; o qual perdimento de fazenda em cada
huü dos ditos cafos nom auerá luguar , quando o
dito malfeitor teuer defcendentes, ou afcendentes li-
dimos. E por fe eílc deliél:o mais euitar, Auemos por
bem, que qualquer que defcobrir quem o feme-
lhante maleficio fez, ou mandou fazer, ou a ello
deu ajuda, e der maneira como feja prefo, aja a me-
tade das fazendas fobreditas , que fe affi perderem ,
e mais, pofio que participante no cafo foífe, lhe Per-
doamos toda a pena , a que por bem do dito male-
ficio por efta Ordenaçam for obriguado ; e nom po-
dendo prouar o dito maleficio contra aquelle que
affi diz que o fez, Mandamos que a confiífam, que
de fi mefmo fez. eífe que o affi de.ícobrir , lhe nom
empeça. 8E
Do Q!JE MATA ou n:u NA CoRTE. 43

8 E QY ALQ!JER pelfoa de qualquer eíl:ado, e con-


diçam que feja , que ferir a outra peífoa em rixa em
Noíia prefença , ou na cala onde Nós eíl:euermos ,
moura morte natural , e perca fua fazenda pera a
Coroa. E fe arrancar arma pera com ella ferir , ou
offender algua pelfoa fem com ella ferir, ferá degra-
dado dez annos pera Alem , e mais perderá ameta-
de de fua fazenda pera a Coroa de NolTos Reynos •
e mais auerá as penas abaixo conrheudas do que
fere ou arranca nos No!fos Paaços , fegundo a dife-
rença das peffoas. E fe for pera efhemar , ou defen-
der outrem, ou por qualquer outra via que arma
tirar , nom fendo o cafo com elle , ferá degradado
quatro annos pera Alem.
9 E SE tirar arma dentro nos Paaços, onde Nós
efteuermos , ou em fcu circuito da primeira porta
pera dentro, pera com ella ferir, ou offender outra
peífoa algúa , ora com ella feira, ou offenda , ora
nom, fe for Fidalguo de folar, ou de cota d'armas,
feja degradado pera cada huü dos Noffos Luguares
d •Alem por quatro annos , e em todo o tempo, que
affi feruir os ditos degredos, nom auerá foldo , nem
mantimento Noffo pera fi , nem pera os feus, mas
firua aa lua cuíla. E fe for Caualeíro, Efcudeiro ,
ou ValTalo, que Fidalguo, ou de cota d'armas nom
for , ou outra peíloa de mais baixa condiçam , ora
com ella feira, ou offenda, ora nom, feja prefo, e
lhe decepem húa maõ. E fe cada huü das fobreditas
pefloas arrancar arma dentro nos Paaços , onde Nós
F2 eíl:e-
44 O ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. X.
Eíl:euermos, ou em feu circuito da primeira porta
pera dentro, pera efl:remar, ou defender outrem , ou
por qualquer outra via arma tirar, nom fendo o cafo
com elle , ferá degradado huü anno pera Alem.
10 E QJJANTO aos que tiram arma na Cidade,
ou Villa , ou Luguar, onde Nós Eíleuermos , ou a
Cafa da Sopricaçam fem Nós, ou em feus arraualdes,
pera com ella ferir, ou offender outrem fóra de Nof-
fos Paaços, e feu circuito, fe for piam filho de piam,
ou de mais baxa condiçam , e com ella nom ferir ,
feja açoutado pubricamente com baraço e preguam
pola Villa, ou Luguar, onde eílo acontecer; e fe com
ella ferir de prepofito, decepem-lhe hüa maõ, fem
mais feer açout..tdo; e fe for em rixa, ferá açoutado,
e degradado pera Alem por dous annos. E fe for Ca-
ualeiro, Valfalo, ou Efcudeiro, ou d'outra ferrie-
lhante qualidade que norn feja piam filho de piam ,
nem for Fidalguo, e com ella nom ferir, feja de-
gradado com huü preguam na Audiencia por dous
annos pera Cepta ; e íe com ella ferir de prepofüo ,
ferá degradado por quatro annos ; e fe ferir em rixa,
ferá degradado por tres annos. E fe for Fidalguo de
folar, ou teucr cota d'armas, e arrancar arma, ora
com ella feira, ora nom , ferá degradado pera Alem
atee Nolfa merce, e em todo o tempo, que aíli feruir
os ditos degredos , nom auerá foldo, nem manti-
mento No(To pera fi , nem pera os feus , mas firua
aa fua cufta.
11 E POR as penas fobreditas nom Tolhemos,
que
0.AS PENAS PECUNJAR, DOS QYE MATAÔ, 45
que aas partes affi danificadas, ou injuriadas,- nom
fejam julguadas íuas injurias, emendas , ou corregi-
mentos, fegundo as qualidades de fuas peffoas , e
graueza dos ditos deliétos. E mais aucram cm todos
os cafos fobreditos quaefquer outras penas em
Noílas Ordenaçoes contheudas , e que merecerem
fegundo a graueza de feus deliétos.
12 E ESTAS penas fobredicas dos que arrancam,
ou ferem no Paaç0 , ou na Corte, nom aueram lu-
guar no que der, ou ferir com pao , ou pedra , mas
feer-lhe-ha dada a pena que merecerem, frgundo o
defacatamento, e dãno que fczerem. Nem aueram
luguar nos que tirarem arma, ou ferirem cm feu
defendimento, nem naquclles que tirarem arma pe-
ra eílremar , e nom ferirem acintemente , faluo nos
cafos neíla Ordenaçam exceptuados.
13 E QYANTO aos que ferem em aíluada, guar-
àar-fe-ha o que Diremos neíl:e Liuro no Titulo Como
Jam defifas as a/fuadas.

TI TU LO XI.

Das penas pecuniarias dos que matam, ou ferem,


ou tiram arma na Corte.

T 0D0 aquelle que matar em Noífa Corte onde


Nós Eíleuermos , ou no termo do Luguar onde
Nós Eíleuermos atee hüa legoa, qualquer pelfoa, fe
for
46 O ~INTO LtVRO DAS ÜRDEN. TIT. X.

for em rixa noua , pague cinco mil e quatrocentos


reaes, e fe for de prcpofiro, pague o dobro ; e eíl:o
como for condenado por razam da dita morte em
qualquer pena.
1 E sE a dita morte for no Luguar onde a Noffa
Caía da Sopricaçam eíl:euer fem Nós , ou em feus
arraualdes, pague a mefma pena polo modo que
dito he.
2 E o que tirar ·a rma na Corte , ou arraualdes ,
ou no Luguar ·onde a Cafa da Sopricaçam eíl-euer
fem Nós , ou em feus arraualdes , e com ella nom
fe rir, pague quirihemos e quarenta reaes; e fe com
ella ferir 1 pague mil e oitenta reacs ; e íe for aleija-
mento, pague o .dobro. E fede prepofito tirar arma,
ou ferir, ou aleijar, pague o dobro do que paguaria
fendo cm rixa. Pcró nom he Noffa tençam polas di-
tas penas ferem releuados os que femelhantes deli ..
étos fczerem das penas pecuniarias contheudas nos
Foracs dos Luguares onde forem feitos os ditos ma-
lefi cios. E cíl:as penas fobreditas nom aueram lu-
guar no que affi. tirar arma , ou ferir, em defendi-
mento de feu corpo, e vida.
3 NEM auerá luguar nos cfcrauos catiuos, que
com pao, ou pedra ferirem ; e bem affi nom auerá
luguar em qualquer peffoa que for de idade de
quinze an110s pera baixo , que com qualquer arma
ferir, ou matar, ora fcja catiuo, ora forro. Nem nas
molheres, que com pao , ou pedra ferirem , nem em
quaefquer pelfoas que tirarem armas pera efiremar •
e
Dos QlJE COMETEM PECADO DE SODOMIA. 47

e nom ferirem acinremenre. Nem auerá Juguar em


quem caíliguar criado, ou fua molher, ou fru filho,
ou feu efcrauo. Nem em meflre, ou piloto de nauio,
que caíliguar cada huú dos marinheiros, ou feruido-
res do nauio, cm quanto eíleuerem fob feu manda-
do ; porem fe em cafliguando ferirem com arma ,
nom feram releuados das dicas penas.

T I TU L O XII.

Dos que cometem pecado de fodomra.

QUAL Q__U E R pelfoa de qualquer qualidade


que feja, que pecado de fodomia por qualquer gui-
fa fezer, feja queimado, e feito por foguo em poo,
por tal que ja mais nunca do feu corpo , e fepultura
poffa feer auida memoria , e todos fcus bens fejam
confifcados pera a Coroa dos Noffos Rey nos , poílo
que tenha defcendentes ou afcendentes ; e mais pelo
mefmo cafo feus filhos, e defcendcntes , ficaram
inabiles, e infames , affi propriamente como os
daquelles, que cometem o .crime da lefa Magcílade
contra féu Rey e Senhor.
1 E PORQll E Dêmos fórma como os maos te-
nham mais temor de cometer os taees pecados com
rcceo de fecr fabido, e cometendo-os ajam de feer
mais afinha defcobertos , pera de feus pecados aue-
rem puniçam, Nos praz, que qualquer peffoa que
fe_
48 O OErnTo LrvRo DAS ÜRDEN. TrT. XII.
fezer certo que alguu he culpado no tal pecado ,
aja o terço de fua fazenda, ficando em fua efcolha o
querer dizer a Nós, ou a Noílo Corregedor da Cor-
te , em !egredo, ou em pubrico , qual mais quifer ,
porque em qualquer defi.as maneiras em que o faça,
fazendo-o aíli certo , auerá a terça parte da fazenda
do tal culpado: e querendo o tal que nom feja def-
coberto , Nós Mandaremos aualiar a cal fazenda ,
tanto que o culpado for condenado, e fe lhe dará
o dito terço , fem peffoa algúa faber diílà parte ; e
nom tendo o dito culpado fazenda , por que aquclle
que o aíli dcfcobrir po{fa auer cincoenta cruzados •
Nós lhos Mandaremos dar da No!fa; porem eíl:a
parte, de que ouuer de feer paguo aa cuíl:a da No!fa
fazenda, nom auerá fenom dando maneira , como
o tal culpado poíla feer prefo.
2 E rsso mefmo Nos praz, e Auemos por bem,
que qualquer pe!foa que fouber certo, que alguú he
culpado neíle pecado , e o nom differ em pubrico,
ou em fecreto , q1:1al elle mais quifer, conuem a fa-
ber, a Nós, ou ao Nolfo Corregedor da Corte, perca
toda foa fazenda, e mais feja degradado pera fem-
pre fóra ·de Noffos Reynos, e Senhorios , e poderá
feer o tal que o aíli fouber, e nom defcobrir, acufa-
do por eíl:a culpa, no próprio modo, e maneira, pu-
brico, ou fecreto, a Nós, ou ao No(fo Corregedor, affi
como propriamente culpado no pecado , e auerá o
que lho alft prouar a terça parte de fua fazenda, ou a
eíl:imaçam della, quando fecretamente a quifer auer;
e
Dos QYE COMETEM PECADO DE SODOMIA. 49

e nom tendo fazenda algüa, por que po!Ta auer vinte


cruzados,Nós lhos Mandaremos dar da Noífa. E mais
Nos praz que poílo que alguü feja culpado no tal
maleficio, vindo-nos deícobrir, e fazer certo, e dar
maneira como feja prefo aquelle com que affi pecou ,
lhe Perdoamos toda pena ciuel, e crime contheuda
neíla Ordenaçam ; e fe o nom poder fazer certo ,
Nos praz que a fua confiífam , que de íi mefmo tever
feita , lhe nom perjudique. E todo o aqui conrheudo
~eremos que fe entenda e cumpra naquelles, que
antes da feit.ura defl-a Ordenaçam tenham pecado no
dito cafo , como fe ha de entender por bem della.
nos que daqui em diante nelle pecarem I e aili Man-
damos que feja julguado.
3 E A PEN A que Dizemos que auerá aquelle que
o fouber , e o nom defcobrir , nom auerá luguar
naquelle, que nom for acufado por ello antes que foífe
dado por teíl:emunha , fe quando for dado por tdre-
munha o defcobrir em feu teílemunho. E eíla Ley
Q_1ercmos tambem que fe entenda, e aja luguar nas
molheres , que eíl:e pecado hüas com outras come-
terem , aíli como nos homens.
4 ÜuTRO sr qualquer homem , ou molher, que
dormir carnalmente com algüa alimaria, feja quei-
mada , e feira em poo ; peró por tal condenaçam
nom ficaram feus filhos, nem outros dcfcendentes,
em efte cafo inabiles, nem infames, nem lhes fará
perjuizo alguü acerca da foce!Tam , nem aos ou~
tros que por Dereito feus bens deuam herdar.
Liv. V. G T l-
50 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XIH.

T l T U L O XIII.
Dos que dormem com faas parentas, e ajfiis, e cunhadas.

T ODA peífoa de qualquer condiçam que feja,


que dormir com fua filha, ou qualquer outra fua def-
cendente, ou com fua mãy , ou com qualquer outra
fua afcendente , fejam queimados ambos, e feitos
por foguo cm poo.
1 ÜuTRO sr Mandamos, que o irmaõ que dor-
mir com fua irmã mouram ambos morte natural.
2 E TODO homem que dormir com fua tia ir-
mã de feu pay, ou mãy, ou com fua prima com
irmã , ou qualquer outra fua parenta no íegundo
gráo , feram degradados ambos por dez annos pera
Noífos Luguarcs d' Alem em Africa. E os outros pa-
rentes trafuerfaes atee o quarto gráo inclujiue feram
degradados por quatro annos pera cada huü dos Nof.
fos Luguares d' Alem em Africa com baraço e pre-
guarn, ou preguam na Audiencia, fegundo a dife-
rença das pelfoas.
3 E o QEE dormir com fua nora, ou madraíl:a,
poíl:o que fejam viuuas, ou com fua enteada, poíl:o
que a mãy da dica enteada já íeja finada , ou com
fua fogra, pofto que a filha da dita fogra já feja fi-
nada , mouram ambos morte natural.
4 E QYALQ!!ER homem~ que dormir com algua fua
cunhada no primeiro gráo d'afinidade, fejam de ..
gradados dez annos pera a Ilha de Sam Thome. E fe
for
Dos QJJ'E DORMEM COM SUAS PARrNTAS ET e. 51

for no fegundo gráo, feram degradados cinco annos


pera cada huü dos Luguarcs d'Alem em Africa. E fc
for no terceiro, ou quarto gráo, feram degradados
dous annos pera cada huü dos ditos Luguares com
baraço e preguam, ou preguam na Audiencia, fegun-
do a diferença das peífoas ; e eílo poílo que algüa das
peífoas , por cuja caufa fe caufou o cunhadio, feja fi-
nada. E porem fe nos ditos cafos, ou peffoas ouuer
outra qualidade, por onde por affi auetem ajunéta-
mento carnal merecem maior pena, que a contheuda
em cada huü dos caías deíla Ordenaçam , nom to-
lhemos que a nom aja, fegundo o cafo for, e a dif...
pofiçam do Dereito, e Nofias Ordenaçoes fobre dlo
feitas. E aaletn das fobrcditas penas perderam feus
bens naquelles gráos. que Diífemos no fegundo Li-
uro, no Titulo D os derei1os Reaes.
5 E Q.YEREMÓs que fe em cada huú dos cafos fobre-
ditos a molher, com que affi fe ouuer o dito ajun-
él:arnento carnal , for menor de treze annos , ou fen-
do maior fe veer loguo a queixar, e defcobrir aas
Nolfas Juíliças , Aucrnos a ella por releuada de to-
das penas , que polo dito crime nefia Ordenaçani
contheudo podiam merecer.

T I-
52 o ~rnTo L1vRo oAs ORDEN. T1T. xnn.
T l T U L O XIIII.

Do que d-orme por força com qualquer molher, ou Ira ..


ua dei/a, ou a leua por Jua vontade.

T ODO homem de qualquer eílado, e condiçam


que feja, que forçofamente dormir com qualquer
molher, poílo que efcraua , ou molher que guanhe
dinheiro por feu corpo feja , moura por ello. Porem
quando for com efcraua, ou molher que guanhe di-
nheiro por feu corpo, nom fe fará execuçam atee
No-lo fazerem faber , e por No{fo Mandado.
1 E ESSA mefma pena auerá qualquer pe!foa , que
pera a dita força der ajuda , fauor , ou confelho.
E poílo que o dito forçador defpois do dito malefi:..
cio feito cafe com eífa molher forçada, ainda que o
cafamento feja feito per vontade della, nem por i{fo
ferá releuado da dita pena, mas morrerá affi como
fe com ella nunca ouueffe cafado. E toda eíla Ley
Entendemos em aquellas que verdadeiramente fo-
rem forçadas, fem darem ao feito ninhuü confenri-
mento voluntario , ainda que defpois do feito con-
fumado a ello confintam, ou dem qualquer aprazi-
mento ; por que tal confentimento dado defpois de
feito nom releuará o dito forçador em ninhüa guifa
da dita pena.
E MANDAMOS que fe alguü homem trauar d'algüa
molher, que for por a rua , ou por qualquer parte~
nom fendo pera dormir com ella, que foornence por
am
Do Q!JE DORME POR FORÇA COM QYALQ!JER MOLH. 53
àm della trauar feja preto , e jaça trinta dias na ca-
dea , e pague mil reaes pera o Meirinho, ou Alcai-
de, ou qualquer outra peffoa que o acufar. Porem
fe aalem de affi trauar della trabalhar pera dormir
com ella , auerá a mais pena que merecer , fegundo
defpofiçam de Dereito.
3 E SE alguu homem engualhar algüa molher
virgem , ou hone!la , que cafada nom feja , por da-
diuas , ou afaguos, ou prometimentos, e a tirar • e
leuar fóra da cafa de feu pay , may, tutor, cura-
dor, fenhor, ou outra pefToa fob cuja gouernança •
ou guarda dleuer, ou de qualquer outro Luguar onde
andar, ou efieuer por licença, ou mandado, ou con-
fentimento de cada huü dos fobrediros; ou ella affi
engualhada , e induzida fe for acerto Luguar donde
a aíli leuar, e fogir com ella , fem fazer outra ver-
dad~ira força a ella, ou aos fobreditos, e o leuador da
moça for Fidalguo de folar , ou outra peífoa poíla
em dignidade , ou honra grande , e o pay da moça
for peffoa plebea, e de baixa maneira, ou alfaiate,
çapateiro , ou outro official, nom femelhante nem
igual em condiçam , nem eílado, nem linhagem ao
leuador, em tal cafo o dito lcuador ferá rifcado
de Noffos Liuros, e perderá qualquer tença graciofa,
ou em foa vida que de Nós teuer, e ferá degradado
pera cada huü dos Noílos Luguares d' Alem em
Africa, em quanto for Noffa merce. E qualquer
outro de menor condiçam , que femelhante fe-
zer, moura por ello. E bem affi auerá luguar a dita
pena
54 O ~· NTO LIVRO_ DAS ÜRDEN. TlT. XV.

pena de morte nas outras pelfoas , onde ouuer igua-


lança de linhagem. Porem fe o tal leuador, que le-
uou a dica molher por fua vontade , poH:o que a di-
ta rnolher feja de muito menor condiçam que o lc-
uador , a leualTe contra vontade do dito feu pay, ou
may, tutor , ou curador, ou fenhor com quem
viuer , ou outra peíloa fob cuja gouernança , ou
guarda eíl:euer, fendo prefcnte cada hüa das ditas
peíloas , e refifündo-lhe o dito leuador , ou bra-
dando cada hüa das dicas peíloas, em tal cafo Man-
damos que moura.
+ E POR QYANTO fe muitos chamam Fidalguos,
e tomam apellidos das linhagees como lhes apraz,
Mandamos , que quando tal cafo acontecer , e ouuer
duuida em fua fidalguia , ante que o julguem, No-lo
façam faber pera Vermos , e Determinarm os as
qualidades antre as peffoas.

--- ------ ------ ---


T 1 TU LO XV.
Do que dorme com molher cajada.

E ST ABELECEMOS que todo homem, qUe fe-


zer adulterio com algüa molher cafada , e que em
fama de cafada eíleuer , moura por ello ; porem fe
. de folar , e o marido da
for Caualeiro , ou Fidalauo
b

molh~r, com quem affi o dito Caualciro, ou Fidalguo


domuo , for de menor condiçam , conuem a faber ,
fen..
Do QYE DORME. COM MOLHER CASADA. 55
fendo o adultero Fidalguo, e o marido nom , ou fen-
do Caualeiro, ou Eícudeiro o adultero , e o marido
piam , norn fe fará nelle exccuçam atee No-lo faze-
rem faber , e verem íobre iifo No{fo Mandado.
1 E TODA rnolher, que fezer adulterio a feu ma-
rido, moura por ello ; e fe a dita molher pera fazer
adultcrio fe for com alguem per fua vontade da caía
de feu marido , ou donde a fcu marido teuer, Man-
damos, que fe o marido della querelar, ou a acufar,
que moura ; e aquelle , com que ella fe foi , moura
por iffo, fem mais No-lo fazerem faber. E fe a dita
molher for leuada por força, e contra fua vontade ,
moura aquelle que a leuar, e nom el!a ; e fe o mari-
do alguü dãno por eíla razam receber em fua fa-
zenda , fcja-lhe corregido polos bens daquelle, que
lha affi leuar.
2 E POSTO QYE o marido querele de fua molher,
e a acufe, fe lhe perdoar cm qualquer tempo que fe.
ja , afft ante da acufaçam, como durando, como
defpois de feer condenada por fcntença , Mandamos
a qualquer Noffa Juíliça, fob cujo poder a tal mo-
lher eíleuer prefa, que tanto que o marido lhe per-
doar perante a mefma Juíl:iça, ante quem pender o
feito, fendo· do dito perdam primeiramente feito
aífento aílinado polo dito marido , e Efcriuam, ou
Tabaliam do feito, e por elle Juii., f<:ia loguo foica,
fe por ai nom for prefa, fem mais apellaçam. E todo
efto, que dito he , auerá. luguar, quando foomente
for acufada d'adulterio fimprcs; e fendo ella nom
foo-
56 O ClEINTO LIVRO DAS ÜRDEN. TiT. XV.

foomente acufada d'adulcerio, mas que pecou com


alguu Mouro,ou Judeo, ou parente, ou diuido d 'afi.
nidade, em tal gráo que deua auer pena de juíliça,
em tal cafo , fe lhe o marido perdoar , Auemos por
bem que lhe feja releuada a pena, que deueria auer
por o dito adulterio, e aja aquella pena, que deue
auer por pecar com Judeo , ou Mouro , ou diuido •
como dito he.
3 E MANDA Mos, que nefte cafo do adulterio fe ..
ja foornente recebido o marido a querelar affi da
molher, como do adultero, e nom outra ninhüa pef..
foa; e ainda que por algüas inquiriçoes deuaffas, affi
geeraes, como efpeciaes, fc moílre claramente alguü
adulterio feer cometido, nom fejam por taees inqui-
riçoes prefos effes adulteros, nem adulteras; faluo
moftrando-fe por ellas, que eífe adulterio foi come-
tido com algüas das peffoas contheudas no parrafo
precedente.
4 E PORQ.!!E quando o marido perdoa aa molher.
aas vezes acufa o adultero, e outras vezes leixa o
feito aa Juíl:iça, dizendo expreffamente que leixa o
feito aa Juíl:iça, ou que o nom quer acufar, ou nom
refpondendo coufa algüa aa citaçam , ou he lançado
de parte por nom viir acufar, e outras vezes lhe
perdoa , pofto que o marido nom poffa perdoar ao
adultero, foomente á adultera, em fauor do matri-
monio ; porem , por que pareceria efcandalo ao po-
uo , fendo a adultera reconciliada com feu marido ,
feer o adultero juftiçado , Auemos por bem, que .
quan-
Do QyE DORME COM MOLHER CASADA. 57
quando o marido perdoar aa molher, e acufar o adul ..
tcro, elle nom moura morte natural , mas 1eja de-
gradado pera fempre pera a Ilha de Sam Thome. E
leixando o feito do adultero aa J uíl:iça, dizendo ex-
preílamente que leixa o feito aa J uíl:iça , ou que o
nom quer acu{ar, ou nom refpondendo coufa algúa
aa citaçam , ou fendo lançado de parte por nom viir
acufar, ferá degradado dez annos pera huu dos Nof-
fos Luguares d ' Africa. E quando perdoar ao adulte-
ro , ferá degradado fete annos pera Cepta. E todo
eíl:o auerá luguar, quando o adultero for foomente
acuíado por íimprez adulterio, porque fe aalem do
adulterio foíle acufado por leuar molher cafada por
fua vontade , ou por força , ou de fua cafa , ou dou ..
tro luguar onde eíleueffe, em tal cafo nem a recon-
ciliaçam da molher, nem o perdam do marido lhe
podem aproueicar, nem o releuará da pena que me-
receo por a affi leuar, pofto que á adultera aproueite,
e a releue da dita pena , perdoando-lhe feu marido
como dito he.
5 E EM todo cafo, onde a molher for condenada
aa morte por adulterio, auerá o marido , que a acu-
far, todos feus bens, ali dotaes, como quaefquer ou-
tros, affi moueis, como de raiz, que a elfe tempo te-
uer, ou lhe por Dereito pertencerem, nom tendo fi ..
_lhos, ou outros de[cendentes que ouueffe do dito
marido, ou doutro marido, fe ja dantes outra vez
fora calada , ou auidos de qualquer outra peíloa, que
por Dereito Comum, ou Noflas Ordenaçoens lhe po-
delfem foceder. Li·v. V. H 6 E
58 O ~INTO LrvRo DAS ÜRorn. Tn. XV.
6 E SENDO cafo que a dita molher acufada polo
dito adulterio for condenada em algüa outra pena ,
que nom feja morte natural , em tal cafo o dito ma-
rido nom vencerá os bens ; e fe a molher for abfolu-
ta do dito pecado, de que o marido a acufa , por nom
prouar o adulterio , fendo o cafamento prouado por
confiffam da dita molher feita a principio antes que
foffe dado luguar aa proua , auerá a molher todos os
bens do marido que a eíle tempo teuer , ou lhe por
Dereito pertencerem, nom tendo o marido filhos , ou
outros defcendentes , como DifTemos no cafo que o
marido vence os bens. E fendo abfoluta por fe nom
prouar o cafamento, nom vencerá em tal cafo os
bens do dito marido.
7 E QYANDo o marido acufar fua molher, ou o
adultero por adulterio, pofto que nom poíla prouar
por teftemunhas que ouuiram as palauras de prefen-
te , fe prouar que foram aa porta da Igreja perante
o Cura , ou qualquer outro Creliguo , que efteueffe
em auto pera os receber , e que fe tornaram pera ca-
ía como recebidos e cafados , e com eíla voz e fama
de cafados di por diante viueram em hüa caía theu-
da e mantheuda , como marido e molher , por ef-
paço de huu anno, abaílará a femelhante proua pera
proua do cafarnento, quanto pera efte cafo foomen-
te , poíl:o que as teftemunhas nom vi!fem dar as
maõs, nem ouuiífem as palauras do recebimento.
8 E SENDO prouado que alguü homem confentio
a fua molher que lhe fez.eífe adulterio, feram ambos
açou ..
Do QYE .MATOU SUA MOLHER ET e. 59
açou·tados com fenhas capelas de cornos , affi elle
como ella , e degradados pera fempre pera a Ilha de
Sam Thome, e o adultero ferá degradado pera fem-
pre pera a Ilha do Príncipe, fem embarguo de o
marido lhes querer perdoar.

TITULO XVI.
Do que matou Jua molber pola achar em adulterio.

A CHANDO alguü homem cafado fua molher


em adulterio licitamente poderá matar affi a ella ,
como a aquelle, que achar com ella em o dito adul-
terio ; faluo fe o marido foffe piam, e o adultero
foífe Fidalguo de folar, ou Noffo Defembarguador,
ou peffoa de maior qualidade. Peró quando alguu
mataffe algua das fobreditas peíloas achando-o com
fua molher em pecado de adulrerio , nom morrerá
por ello , mas ferá degradado pera cada huú dos
Noffos coutos, ou Luguares d' Alem , com preguam
na Audiencia, polo tempo que aos Julguadores bem
parecer, fegundo a peffoa que matar , nom paílan-
do de tres annos.
1 E NOM foomente poderá o marido matar fua
molher, e o adultero que achar com clla em o dito
adulterio, mas ainda os pode licitamente matar fen-
do certo que lhe cometeram adulterio, e entenden-
H2 do-o
60 o ~INTO LIVRO DAS Ü;{OEN. TIT. XVI.

do-o affi prouar ; e prouando deípois o dito adulte-


rio por proua licita, e aba fiante, fegundo o Dereito
quer, ferá liure fem pena algúa, faluo nos caíos
fobredítos , onde feram punidos fegundo em cima
dito he.
2 E EM cafo que o marido matar fua , molher
licitamente como dito he , nom au erá roufa algua
dos bens que em dote lhe foffem dados , ou por fo-
ceffam , ou doaçam a dita molher ~uueffe ; e fc te-
uerem outros bens que ambos ouudTem acquirido,
efies auerá o marido infoüdo, fem os herdeiros da
molher auerem parte algúa, porque foomente aue-
rá os ditos bens todos da molher, quando a acufar
por odito adulterio, e for condenada polo dito adul-
terio aa morte, ou quando a matar juntamente com
adultero polos achar ambos no adulterio, porque en-
tam os vencerá todos , como quando a acufaífe , e
foífe condenada.
3 E SENDO o dito marido que affi matou fua mo-
lher condenado, que moura morte natural por a ma-
tar fem caufa, fe elle quando fe affi posa feito con-
feffou , que a matara por feer fua molher , e lhe teer
feito aqulrerio, e por nom prouar fua defefa for con-
denado que moura morte natural, em tal cafo os
herdeiros da molher venceram os bens do marido;
nom tendo o marido filhos, ou defcendentes outros
doutra rnolher , que de Dereito Comum , ou Noffas
Ordenaçoens lhe poffam foceder. E fendo cafo que
o marido feja condenado em outra algüa pena, que
nom
Do QYE MATOlJ suA MOLHER .ET e. 61

nom feja morte natural , em tal cafo os herdeiros


nom venceram os bens do dito matador.
4 E NO cafo que o marido matar fua molher, ou
o adultero por lhe fazer adulterio, nom abaílará
pera proua do cafamento a proua que Diílemos no
Titulo precedente, no cafo que a acufa , mas ferá
neceílario pera fcer liure da dita morte fem pena al-
güa, que proue o cafamento por teílemunhas que
ouuiílern as palauras do recebimento ; peró nom
prouando o dito matrimonio por teílemunhas como
dito he, e prouando-o da forma que Diffemos no
Titulo precedente, nom morrerá morte natural, mas
ferá degradado pera fempre pera a Ilha de Sam
Thorne. E nom prouando o matrimonio corno dito
he no Titulo precedente, poflo que moftre eflormen-
to dotai , e prouc eíl:arem em voz e fama de marido
e molher, morrerá morte natural, pois por fi quis
tomar vinguança , nom tendo cada hüa das ditas
prouas.
5 E DECLARAMOS, que no cafo onde o marido
pode matar fua molher, ou o adultero como em ci-
ma Differnos, que poderá leuar comfiguo as peffoas
que quifer pera o ajudarem, com tanto que nom fe-
jam imiguos da dita adultera , ou adultero, por outra
caufa afóra a caufa do dito adulterio; e eíles que
cornfiguo leuar fe poderam liurar, como fe liuraria o
marido prouando o matrimonio , e adulterio. Porem
fendo imiguos como dito he, em tal cafo feram pu-
nidos fegundo Dereito, poíl:o que o marido fe liure.
T 1-
62 O ~INTo L1vRo oAs ORoEN. Tn. XVII.
T I T U L O XVII.

Do que dorme com molher cefada de feito , e 110m


de Dereito.

S E ALGUÜ homem pecar com molher que for


cafada de feito, e nom de Dereito, por caufa dalguü
diuido ou cunhadio, que antre o marido e amolher
aja, ou outro qualquer impedimento, porque o ma-
trimonio nom feja valiofo , affi deue morrer, e auer
aquella pena como fe o dito cafamento por Dereito
foífe valiofo , fe ao tempo do dito pecado eHa foíTe
auida , e trautada por cafada daquelle, que a ouuer
recebida por molher , e theuda em fama pubrica
de molher, nomeando-fe pubricamente por marido
e molher, e por taees auidos geeralmente na vezi-
nhança onde moram ; porque em tal cafo efguar.
daram os Dereitos muito a tençam que ouue o dito
adultero de pecar com molher cafada , penfando
que o era, ainda que o ella nom feja , pois o cafa-
mento por Dereito nom valeo ; e por tanto deue
auer aquella pena , que he dada a aquelle _ que pe..
cou com molher cafada. E dfa mefma pena cor-
poral auerá aquella , com que o dito pecado for co-
metido; faluo [e o marido era fabedor do impedi-
mento por que o matrimonio nom era valiofo , por-
que em tal cafo ella nom morrerá per Juftiça, nem
o marido a poderá matar, mas auerá ella quando for
acufada polo dito adulterio a pena que bem parecer
aos
Do QYE DORME COM MOLHER CASADA ET é, 63
aos Julguadores, auendo refpeito aa qualidade do
impedimento, e effa mefma pena arbitraria auerá o
marido , quando a no dito cafo matar. E nom auerá
o marido os bens da molher com que affi de feito ,
e nom de Dereito for cafado, por razam de parentef-
co, ou cunhadio, fe por Juíliça em pena de morte
a fczer condenar, pofto que dantre ambos nom fi-
que filho, nem outro alguü defcendente.
I E SE alguú homem peca1fc com aJgúa mo-
lher , que nom foffe cafada de feito , nem de Derei-
to , a qual efteueífe em poder doutro f'm fama de
marido e molher, e por tal auida, e trautada delle
na mefa e no leito, e por taees eram auidos por
toda a vezinhança, e Villa onde forem moradores , e
elles ambos affi fe nomeauam continuadamente affi
nos contraétos , como em quaefquer outros autos ,
efie tal nom deue morrer, que he a verdadeira pe-
na de fimpres adulrerio; pois a molher com que
pecou nunca foi cafada de feiro , nem de Dereito;
peró auerá outra pena , que feja aaquem de morte fe-
gundo aluidro do J ulguador , aqual pena auerá por
a maa , e corrupta ·tençam que ouue de pecar com
molher cafada , cuidando que o era , pois fobia que
por tal era auida , e trautada affi do marido como
de toda a outra gente geeralmente; porem o Julgua-
dor nom poderá neíle cafo arbitrar men0s de dez
annos de degredo pera cada huú dos Noffos Lugua-
res d' Alem. E ncíl:e cafo deíle capitolo ella ferá de-
gradada quatro annos pera huü dos Noífos Luguares
d'Alem J
64 O ~lNTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XVII.

d' Alem , pola ofenía que fez aa Repubrica, que cui-


daua que era cafada. Porem {e aalem da proua fo_
bredita contheuda neíle capitala , o marido quando
acufar fua molhcr, ou o adultero, mo{trar eílormen-
to pubrico de contraél:o do caíamento, em tal cafo
affi o adultero como adita molher feram degrada-
dos dez annos pera a llha de Sam Thome, e ella
perderá íua fazenda pera o marido, nom tendo e!la
filhos , ou outros defcendentes, que lhe ajam de fo-
ceder.
'.2 E ACONTECENDO que alguü homem acufa ffe
fua molher por lhe fazer adulterio com algüa certa
peíloa. e por nom prouar o adulcerio ella foffe abfo-
luta, e defpois da morte do dito marido clla cafar,
ou dormir com aquella mefma peífoa por que o ma-
rido a acufara , ferarn ambos condenados affi elle
como ella em morte natural. e que percam as fa-
zendas pera os herdeiros do dito primeiro marido
que a affi acufou, fe os acufar quiferem ; porem fe
ella teuer filhos, ou outros defcendentes que lhe pof-
fam foccder, nom aucram os herdeiros do primeiro
marido que a affi acufarem os bens della, mas aue-
los-ham os dito.s feus defcendentes ; e nom queren-
do os herdeiros do primeiro marido acufar, podelos-
ha acufar qualquer do pouo, e a fazenda que os her-
deiros auiam d'auer acufando , ferá amctade pera
quem acufar, e a outra metade pera a Nolfa Camara.

T 1-
Do QYE CASA OU DORME COM PARENTA ETC. 65
T I T U L O XVIII.

Do que ca/a , ou dorme com parenta , ou criada , ou


e_fcraua branca daquelle com que viue.

TODO homem que com outrem viuer, quer por


foldada, quer a bem fazer, e cafar com a filha , ou
madre, ou irmã, ou prima com irmã daquelle ou
daquella com que viuer , quer cíleem das portas
adentro, quer fóra de caía, [em mandado, ou licen-
ça do fenhor com que viuer ; ou dormir com cada
hüa das fobreditas , quer dentro em cafa. de feu fe-
nhor, quer fóra; ou cafar, ou dormir em cafa de leu
fenhor com criada que eíleuer das portas adentro ,
e nom fcruir fóra de cafa , moura por ello morte
natural; e nom lhe ferá recebido defefa por dizer
que era cafado com a dita criada, e que cafou fóra
de cafa de feu fenhor, como [e prouar que dormio
com ella em cafa de [eu fenhor , ou fóra , ora acri-
da eíl:euelfe por foldada, ora a bem fazer.
1 E CASANDO ou dormindo com algüa fegunda
com irmã daquelle ou daquella com quem viuer •
que eíl:euer em cafa do dito fenhor, ou fenhora com
que viue, ora durma com ella, ou cafe fóra da dita
cafa , ora em cafa ; ou dormir , ou cafar com criada
daquelle com que viuer, que nom eíleuer das porcas
adentro, e feruir fóra de cafa , quer com ella durma.
ou cafe fóra de caía, quer em cafa, ferá degrada-
do pera fempre pera a Ilha de Sam Thome. Peró
Liv. P. I naquel-

-6
66 O QEINTo LtvRo DAS On.oEN. TIT. XIX.

naquelle que for condenado por tal crime em cada


hum dos fobreditos cafos aa morte nom fe fará exe-
cuçam atee No-lo fazerem faber, pera Vermos o
cafo com fuas qualidades , e circunftancias , e afli
Mandarmos o que for Noffa Merce.
2 E SE dormir com algüa cfcraua branca daquel-
le com que affi viuer, que eíl:ee das portas adentro
guardada , feja degradado para fempre pera a Ilha
de Sam Thome.

TI T U LO XIX.

Do que cefa com duas molheres. E da que caja com


dous maridos.

TODO homem que fendo cafado , e recebido


com húa rnolher, e nom fendo della apartado per
Juizo da Igreja fe com outra cafar, e fe receber•
moura por ello ; e todo dano que as molheres rece-
berem , e todo o que dellas leuar fem razam, corre-
gua-fe por os bens delle como for Dereito. E efta
mefma pena aja toda a molher que dous maridos re-
ceber, e com elles cafar, ora ambos os matrimonios
fotrem inualidos por Dereito , ora huü delles.
I PoRBM fe o condenado aa morte polo dito ca-
fo , e maleficio, for menor de vinte e cinco annos ,
ou for homem Fidalguo , e por tal auido, e a fegun ...
da molher com que cafou for de baixa condiçam,
ou
Do Q!!E CASA COM DUAS MOLHERES n e. 67

ou fe o dito condenado fendo-lhe fogida aprimeira


molher cafou com a íegunda, fem faber certo que
era a primeira viua, ou em outros cafos femelhan-
tes, nom fe fará execuçam fem primeiramente No-lo
fazerem fabcr.
2 PERÓ qualquer homem que fendo cafado , e
tendo a molher viua, a leixar, e eíl:euer com outra
pubricamente em cafa, theuda e mantheuda, nome-
ando-fe , e trautando-fe por marido e molher , e
fendo dos vezinhos por taees auidos por efpaço de
dous annos, ou poíl:o que com ella nom eíl:ee tanto
tempo, fe elle comcteo , ou mandou cometer a dita
molher, ou feu pay, ou parentes, pera com ella ca-
far, e foi com cita aa porta da Igreja pera ahi lerem
recebidos • ou fe foram apregoados na Igreja e feitos
os bãnos ordenados, e defpois eíleue com ella, poílo
que nom eílee mais de huú dia, e fendo o primeiro
cafamento verdadeiramente prouado por teíl:emu-
nhas, que ouuiffem as palauras do recebimento, ou
por fua confiff":1.m feita cm Juízo, e neguando elle o
fcgundo cafamento • e nom fe podendo prouar por
teílemunhas, que lhes ouuiffem dizer as ditas pala-
uras formaes do cafamento, íerá por taees indicias
metido a tormento , o qual lhe ferá dado íegundo
aqualidade de fua peffoa ; e pofto que no tormento
nom confeffe o fegundo cafamento, Mandamos que
polo enguano que fez aa molher, com que affi eíl:e-
ue, e injuria que a ella, e a feu pay • e parentes fez,
tendo.a, e nomeando-a por molher, e por lhe come-
i 2 ter
68 O ~INTo LrvRo DAS ÜRDEN'. Trr. XIX.
ter cafamento, e hir com ella aa porta da Igreja, ou
por fe fazer apreguoar, e fazer os ditos bãnos , íeja
degradado por quatro annos pera a No/Ta Cidade de
Cepta, ou por mais tempo, fe aos Julguadores pa-
recer, que por fua malicia , e enguano, e dano que
fe diffo feguio, maior degredo lhe deuem dar, o qual
degredo lhe feja dado com baraço , e preguam pola
Villa, ou com huü preguam na Audiencia, fegundo
a quali<;fade, e diferença das peffoas: e quando o pri-
meiro cafamento fe nom prouar verdadeiramente
por teíl:emunhas, que ouuifiem as palauras como dito
be, foomente por cada huú dos fobreditos indícios ,
nom ferá metido por ello a tormento pera proua do
dito primeiro cafamento.
3 E POR eíl:e mefmo modo fe proceda contra
qualquer molher cafada, que for por parte da Jufti-
ça acufada, por fe dizer que tendo o marido viuo {e
foi cafar com outro; porque em tal cafo, fendo o pri-
meiro cafamento verdadeiramente prouado, e do
fegundo auendo proua foomente dos fobreditos indi-
cios, ou de cada huü delles, e nom fe podendo pro-
uar por verdadeira proua de viíl:a, e ouuida das pa-
Iauras formaes de matrimonio , feja metida a tor...
mento pera confeffar o fegundo cafamento, e ne-
guando feja degradada polo modo fobredito. E eíl:o
porem auerá luguar, quando o marido a nom quifer
acufar polo adulterio que lhe cometeo , ou quando
ao tempo d'acufaçam o marido for ja finado ; por
quanto fendo o primeiro marido viuo, e acufando-a.
polo
Do ÜFFic. o'ELREv Q.U! DORME coM MOL. ET c. 69

polo adulterio , nom ferá metida a tormento pera


confeffar o fegun<lo cafamento, porque a proua foo- ·
mente do adulcerio abaíla , pera feer julguada aa
morte.

--------------------
TITULO XX.

Do Ojficial d' E/Rey que dorme com molher que perante


elfe requere.

D EFENDEMOS , que ninhuu Noffo Defem-


barguador, nem Official da Juíliça, nem outro alguu
Noífo Official affi da Corte, como de Noílos Reynos,
nem Aduogado , nem Procurador , nem Efcriuam ,
nem Porteiro , nem Meirinho, durma com molher
algüa , que preito ou defembarguo requeira peran-
te e\les ; e o que o contraira fezer , fe for Official
Creliguo, perca todo o que de Nós teuer , e mais o
Officio; e fe for Leiguo, perca o Officio, e mais
feja degradado pera cada huu dos No/Tos Luguares
d' Africa por huu anno. E por efta No/Ta Ley nom to-
lhemos as outras penas que por Dereito mais mere-
cerem , fendo as ditas molheres com que affi dor-
mirem cafadas , ou de outra algüa qualide , por que
deuam em outra maneira feer punidos.

.T I-
70 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XXI.
TI TU LO XXI.

Do Judeu, ou Mouro que dorme com algüa Crijlaá.


E Cbrijiaõ que dorme com Moura, ou qualquer
outra Infiel.

Q U ALQ_UER Criílaõ que ouuer ajuntamento


carnal com algüa Moura , ou com qualquer outra
Infiel, ou Criílaã com Mouro, ou Judeu, ou com
qualquer outro Infiel, moura por ello; e eíl:o quando
tal ajuntamento foífe feito por \lontade, e a faben-
das, p::>rqúe fe algúa molher de femelhante condi-
çam foíle forçada, nom deue ella morrer, nem por
ello auer pena ; foomente auerá a dita pena aquelle
que cometelfe a tal força. E iífo mefmo o que tal
pecado ·fezeífe por ignorancia , nom fabendo, nem
auendo juíl:a razam de faber, como a outra peífoa era
doutra Ley , nom merece por ello pena , e foomente
ferá punida aquella peífoa, que da dita infidelidade
foffe fabedor , ou ouueífe juíla razam de o faber ; cá
fe em algüa culpa folTe por o faber, ou teer juíla.
razam de o íaber , ferá punido fegundo a culpa em
que for achada.

TI..
Do QYE ENTRA EM MoEsT. ou TIRA FREIRA. 71
T I T U L O XXII.

Do que entra em Moejieiro , ou tira Freira , ou dorme


com e/la , ou a recolhe em cafa.

Q UALQYER peíloa, de qualquer qualidade e


condiçam que feja , que entrar em alguü Moeíleiro
de Freiras de Religiam aprouada , e for tomado den-
tro , ou lhe for prouado que entrou , ou efieue de
dia , ou de noute dentro no Moefieiro em algüa ca-
ía, ou luguar que feja de dentro do ençarramento do
Moeíl:eiro , que pareça que era pera algüa coufa ili-
cita nelle fazer, paguará cem cruzados pera o tal
Moeíleiro, e mais moura por ello morte natural.
1 E QyALQyER peífoa, a que for prouado que
tirou algüa Freira dalguü Moefieiro, ou que a dita
Freira por feu mandado, e induzimento fe foi a cer-
to lug,uar, donde aíli leuou, e fe for com e!la , fe for
piam moura por ello, e fe for pcífoa de moor qua-
lidade pague cem cruzados como dito he pera o di-
to Moeíl:eiro, e mais ferá degradado pera fempre
pera a llha de Sam Thome. Porem a execuçam da
morte nom fe fará nos fobrediros cafos, fem primei-
ro No-lo fazerem faber.
2 E SENDO prouado, que dormia com algüa Frei-
ra de Religiam aprouada fóra do Moeíl:eiro, em ca-
fo que a elle nom tiraffe , paguará cincoenta cruza-
dos pera o dito Moefteiro , e mais ferá degradado
dous annos pera as partes d •Africa, e a alem difio fe
for
72 o ~JNTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XXIII.
for piam ferá açoutado pubricamente com baraço
e preguam.
3 E DEFENDEMOS que ninhüa peífoa nom aco-
lha, nem receba em fua cafa , nem poufada Freira
algúa fem NofTa licença efpecial , poíl:o que a dita
Freira tenha qualquer Prouifam pera poder andar
fóra do Moeíleiro ; e recolhendo-a, ou tendo-a em
cafa fem Noífa licença , perca toda fua fazenda ,
ametade pera quem os acufar , e a outra metade
pera Nofla Camara.

T I T U L O XXIII.
Do que dorme com moça virgem , ou viuua honejla por fua
vontade, ou entra em cafa doutrem pera com cada hüa
de/las dormir , ou com efcraua branca de guarda. E do
que dorme com m?lber, que anda no Paaço.

M ANDAMOS que qualquer homem, que dor-


mir com molher virgem por fua vontade, cafe com
ella fe ella quifer, e ella for conuinhauel, e de con-
diçam pera com ella cafar, e nom cafando com
ella, ou nom querendo ella cafar com elle, feja con-
denado em aquella contia pera cafamento da moça ,
que for aluidrada polo Julg~ador, fegundo fua qua-
lidade, e fazenda, e condiçam de feu pay: e fe bens
nom ouuer por onde pague , fe Fidalguo for, ou de
qua-
Do QYE DORME COM MOLHER VIRGEM ET e. 73

qualidade que nom deua feer açoutado , ferá degra-


dado pera cada huú dos Luguares d' Africa , em
quanto for Noffa Merce; e fe for peffoa em que cai-
ba açoute, feja açoutado com baraço e preguam
pola Vil la, e degradado pera cada huü dos ditos
Luguares d' A frica em quanto for Noífa Merce : e
poílo que lhe a fobredita pena nom feja dada por
nom teer bens , fe defpÔis em vida della elle ouuer
alguüs bens , ferá obriguado paguar ametade da dita
condenaçam foomente. Peró fendo prefo pola dica
razam, e poendo cauçam d'ouro, ou .prata , ou di-
nheiro em Juízo, que razoadamente ' poffa abaílar
fegundo a qualidade das peffoas aa dita virgindade ,
e emenda de feu cafamento , feja foi to, e figua o
feito peffoalmente, · affi como fe anda[e por Carta
de Seguro : e fendo condenado por fentença final ,
feja fatisfeita efla molher de fua virgindade por a
cauçam ; e nom abaflando a cauçam aa dita conde-
naçam , e cuílas fobre ello feitas , pague-fe polos
bens do Juiz, que tam pequena cauçam tomou.
1 E SENDO querelado de alguü . homem , que
por força corrompeo algüa molher de fua virginda-
de, em tal cafo Mandamos, que refponda prefo atee
o feito feer findo, e defembarguado: e quando acha-
do for que foi querelado maliciofamente , feja-lhe
corregido , e emendado fegundo for Dereito ; peró
fe abertas , e pubricadas as inquiriçoés for achado ,
que a dita vingindade foi corrompida por fua von-
tade fem outra força algüa, em tal cafo poondo cau-
Liv. V. K çam
74 O ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XXIII.

çam d'ouro, ou prata, ou dinheiro em Juizo idonea,


fegundo Auemos fofo clico, feja folto, e figua pe{foal-
rnence atee feer findo.
2 PoREM Mandamos, que as ditas molheres aíli
corrompidas fc:m outra força demandem fuas vir-
gindades , e fatisfaçam dellas, atee huü anno, con-
tado do dia que leixarem de teer affeiçam com
ellas ; e paffado o dito tempo nom poífam mais de-
mandar fuas virgindades, e fatisfaçam dellas, faluo
por via de: refiituiçam , fe for menor de vime e cin-
co annos, ou tendo juíl:o impedimento por onde no
dito tempo nom podelTe demandar.
J E Tooo eílo, que dito he em eíle Titulo, auerá
Iuguar em qualquer homem, que dormir com mo-
lher viuua , que honeíl:amente viuer, que nom paf-
far de vime e cinco annos, eíl:ando em poder de feu
pay, ou auo da parte do pay.
4 EMPERÓ fendo prouado, que algúa peffoa en-
trou em cafa d'outro pera dormir com algüa mo-
lher liure , que na dita caía eíleueffe por qualquer
maneira que feja , fe o morador da cafa, em que aíli
entrou, for Efcudeiro de linhagem, ou for Caualci-
ro, e a peffoa que lhe affi entrar em femelhante caía
for piam, feja açoutado , e degradado cinco annos
pera a Ilha de Sam Thome com baraço e pre-
guarn ; e fe for Efcudeiro, ou peffoa em que nom
.caiba açoutes , feja degradado com hum preguam
na Audiencia por outros cinco annos pera Alem ,
e fe a peffoa em cuja caía entrou for de maior
qua-
ÔO QYE DORM.! COM MOLHER. VIR.CEM tT C. 75
qualidade, auerá maior pena de degredo fegundo a
qualidade da peffoa : as quaes penas auerá foomente
por a entrada pera com ella dormir, pofro que com
ella nom dormiffe; e fc com ella dormir fendo vir.;.
gcm , ou viuua , da qualidade que em cima dito
he, ·aalem d 'auer as ditas penas fegundo a diferen-
ça das peffoas, lhe paguará feu cafamento fegundo
em cima neftas Ordenaçoes Oiffemos. E fe pola dita
maneira entrar pera dormir com algüa efcraua bran-
ca de guarda, que efteueífe das portas adentro, aue-
rá as ditas penas crimes fegundo a diferença das
pefioas , ora dormiífe com ella , ora nom.
5 PoREM fe a peífoa, que polo fobredito modo
entrar na dita cafa, quifer cafar com ·aquella peffoa
com que affi entraua a dormjr. e ella itfo mefmo
quifer, e o morador da caía a quem a tal offenfa for
feita, onde affi entrou, niffo confentir, e lhe perdoar;
ferá releuado das ditas penas acima contheudas.
6 E o Q.YE dormir com algüà molhcr, que an-
dar cm Noífa Caía, Qu em Cafa da Raynha, ou
Principe , aalem das fobreditas penas , e d'ouçras
que fegundo Oereito, e Noffas Ordenaçoés merecer•
perderá toda fua fazenda , amctade pera Noífa Ca-
mara , e a outra metade pera os catiuos.

T J.,
76 O ~INTo LrvRo DAS ÜRDEN'. TIT. XXIV.

T I T U L O XXIV.
~ue nom tragr1a ninhuü homem barreguã na Corte.

DETERMINAMOS que ninhüapeffoa,de


qualquer condiçam que feja , nom tragua: manceba
na Corte , nem a tenha em ella theuda; e quaefquer
peffoas que o contraira fezerem na Corte, e as di-
tas mancebas teuerem theudas em fuas poufadas,
ou fóra dellas, poíl:o que ellas e elles fejam folteiros ,
por a primeira vez fe for Caualeiro, OLI di pera ci-
ma, pague vint<: cruzados d'ouro, e fe for Efcudei-
ro pague dez cruzados , e fe for homem de pee,
pague cinco cruzados , e feram degradados cada huü
delles huü anno fóra da Corte.
1 E AS molheres, a que for prouado que eftam
por mancebas de cada huü dos fobredicos , pola
primeira vez fejam degradadas por huü anno fóra
da Corte , e paguem dous mil reaes ; e mais fe fo_
rem pefcadeiras, paadeiras, ou reguateiras , ou vfa-
rem d ' outros fem elhantes meíl-eres na Corte, norn
poífam mais de raees officios e meíleres vfar na
Corte , nem em Nofla Cidade de Lixboa. E por que
el1o íeja dado milhor a execuçam , Damos luguar ,
que qualquer do pouo poffa acufar , e demandar
q uaefquer pe(foas , que as ditas mancebas em a
Corre teuerem; e bem affi as ditas molheres que por
foas mancebas el1euerem , e ajam pera fi as ditas
penas do dinheiro. E fendo o tal Cortefaõ caíado,
aue-
~ E NOM TRAG. NINHUM HOM. BARREGUAM. 77

auerá a pena de barregueiro cafado aalem das fo_


breditas penas.
2 E QYANDO alguü Meirinho, ou Alcaide, ou
qualquer do pouo querelar das taees peífoas, o Cor-
regedor, ou Juiz que tal querela receber, lhe dee
juramento, e mande, que polo juramento que fez
digua , que daa a dita querela bem , e verdadeira-
mente , e nomee rodas as teíl:emunhas, que do tal
maleficio faibam parte , e por que fe poffa prouar,
poendo-lhe feus proprios nomes , e fobrenomes , e
alcunhas , e os meíleres de que vfam, e onde fam
moradores , em maneira que claramente fe poífa fa-
ber, quem fam as taees teílemunhas, e nom fe pof..
fam outras tomar em feu Iuguar, e nomeando-as
neíl:a fórma lhe feja recebida fua querela , e em
outra maneira nom. E fendo aquella pelfoa de que
affi foi querelado prefa , ou liurando-fe por Carta
de fegurança dos ditos cafos , ou qualquer delles ,
nom fe1am ao querelofo nem aa Juíliça ( nom que-
rendo o querelofo acufar) recebidas mais teílemu-
nhas, que aquellas que na querela forem nomeadas,
e fegundo o que ellas diíferem fe julgue o feito fem
delongua, e o mais breuc que feer poífa; peró fe
do dito crime, de que foi querelado, hi ja ouuer al-
güa proua por inquiriçam deuaíla, ou judicial , po-
der-fe-ham dar os taees te11emunhos em proua ,
affi polo querelofo, como pala Juíliça, nom que-
rendo o querelofo acufar , e fegundo elles fe julguará
como for Dereico.
78 O QJINTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XXV.

3 E MANDAMOS, que elle crime nom potra feer


acufado por Meirinho, nem por outra ninhüa pelfoa,
fem primeiro dar querela perfeita como em cima
dito he, a qual querela nom poderam dar, nem lhe
ferá recebida, fe ao tempo que a quiíerern dar, fo_
rem ja apartados do dito pecado, auendo tres meíes
que eílam apartados.
4 PERÓ fe as ditas molheres culpadas em feme-
lhante maleficio, antes de feerem por ello prefas ,
poílo que ja dellas feja querelado , fe ainda nom fo-
rem começadas a acufar, fe cafarem , ou entrarem
em algúa Religiam aprouada , feram releuadas das
ditas penas , que polo dito pecado, e maleficio me-
reciam. E cafando-fe na cadea defpois de ferem
prefas polo dito crime , · ou começadas d'acufar ,
poíl:o que foltas andem , nom feram por ello releua-
das de auerem as penas contheudas neíl:a Noffa Or-
denaçam , fendo em o dito pecado conuencidas.

TI T U LO XXV.

Dos barregueiros cajados, e de Juas harreguãs.

Ü RDENAMOS, que qualquer homem cafado,


que teuer barreguã theuda e mantheuda , feja de-
gradado por a primeira vez por tres annos pera cada
huú dos Noffos Luguares d' Alem , e da prifam pa-
guará a quarentena da valia de todos feus bens , ti-
ran-
Dos BARREGUEIROS CASADOS ET e. 79
rando a parte que a fua molher pertencer; e pola fe_
gunda vez que for comprehendido no dito pecado
com a dita barreguã, ou com outra, auerá a dita
pena de degredo , e paguará a dita quarentena em
dobro; e pola terceira vez ferá degradado polo dito
modo, e paguará a quarentena em trefdobro; e cada
vez que for comprehendido no dito pecado, nom
ferá folro fem Noffo efpecial Mandado. E fe a dita
quarentena de cada vez que for comprehendido
nom cheguar a tres mil reaes, femprc ~cremos
que feja condenado em tres mil reaes ; e fe a qua-
rentena mais valer , ferá condenado foomente na
quarentena.
1 E QYALQYF.R molher, que eíl:euer por manceba
theuda e mantheuda de alguü homem cafado, pola
primeira vez feja açourada pubricamentc; , e degra-
dada pola Villa com baraço e preguam por huü
anno pera huü Couto, e mais paguará ametade da
quarentena que feu barreguaõ deueria paguar, fe po-
lo dito maleficio condenado foffe. E pola íegunda
vez que for comprehendida no dito pecado com o
dito barreguaõ , ou com outro, auerá a dita pena
criminal , e paguará a dita quarentena em dobro ;
e pala terceira vez paguará a dica quarentena em
trefdobro , e mais ferá açoutada , e degradada como
dito he. E nom cheguando a dita metade de qua-
rentena de feu barreguaõ , cada vez que a ouuer de
paguar, a dous mil reaes , ferá condenada nos ditos
dous mil reaes.
2E
80 O ~INTO LrvRo DAS On.DEN, TrT. XXV.
2 E N As fentenças dos degredos que affi forem
dadas contra os ditos barregueiros , ou barreguãs ,
Mandamos que fempre lhes feja defefo, que nom
eíleem ambos em huü Luguar durando o tempo de
feu degredo; e fe o que por razam do dito maleficio
for degradado leuar fua manceba ao Luguar do
degredo, Auemos por bem que por eíle mef mo feito
lhe fique dobrado o dito degredo fem remilfam, e
ella ferá loguo Jaa açoutada , e deitada fóra do Lu-
guar, onde o degradado com ella efleuer, fem mais
o Juiz do dito Luguar onde affi eíl:euer, apellar ,
nem receber apellaçam.
3 E AS fobreditas penas de quarentena dos bens
dos ditos barregueiros, e a mea quarentena das fuas
barreguãs, e affi a pena pecuniaria, feram apricadas,
e as aueram aquellas peíloas, e por aquella maneira
que temos determinado no primeiro Liuro no Ti-
tulo Dos Alcaides Moores.
4 E MANDAMOS, que quando o Meirinho , ou
Alcaide, ou feus homens, ou qualquer do pouo que..
relar de taees peffoas , o Juiz que tal querela rece,_
ber lhe mande , que jure a dita querela , e nomee
loguo todas as teftemunhas ; e poíl:o que defpois
queira dar outras teftemunhas , lhe nom feram rece-
bidas, fegundo Temos dito no Titulo precedente, o
qual Mandamos, que fe guarde em todo em as que..
relas e acufaçoes dos bàrregueiros cafados , e fuas
barreguãs.
5 PERÓ fe as ditas molheres culpadas em ferne-
lhan-
Dos BARREGUElROS CASADOS ET e. 81

lhante maleficio, ante de ferctn por ello prefas, fe


cafarem, ou entrarem em Religiam, [e guardará em
todo o que Diffemos no parrafo final do Titulo pre-
cedente.
6 E MANDAMOS, que eíl:e crime nom poffa feer
acufado por Meirinho , nem por outra ninhüa pef...
foaJ fem primeiro dar querela perfeita, como no Ti~
tulo precedente Diffemos, a qual querela nom pode-
ram dar, nem lhe ferá recebida. fe o tempo que a
quiferem dar ouuer já feis mefes , que effes , de que
affi querem querelar, fam apartados do dito pecado.
7 E Q!JEREMos por fe eíl:e pecado mais euitar,
que pera proua do cafamento daquelle que fe diz
feer barregueiro cafado , aíli quando elle for acu-
fado , como a dita barreguã , abaíl:c prouar-fe , que
o dito barregueiro eíl:aa em voz e fama de cafado ,
poíl:o que fe nom proue., que foram á porta da Igre-
ja, nem que os viffem receber, nem mais outro
Auto. E bem affi abaíl:ará pera proua da barreguice ,
como eíl:am em voz e fama de barregueiros, e que
fam cuíl:umados, e viíl:os entrar huú em cafa de
outro, porque a tal fama, junta com o que fe affi
proua que os veem , e acoíl:umam entrar huü em
caía do outro, Auemos por fufficientc proua neíle
cafo, poíl::o qut! fc nom proue bem fazer; por que
neíte cafo eíl:a proua Auemos por fufficiente pera
a dita condenaçam.

Liv. V. L TI-
82 0 ~INTO LIVRO DAS ÜROEN. TIT. XXVI.

T l T U L O XXVI.

Das barreguãs dos Crel/guos. E dos outros Reli'giofos.

TODA molher que for barreguã de Creliguo , ou


Frade, ou de qualquer outra peffoa religiolà, fendo-
lhe prouado que eíl:aa • ou eíl:eue por fua barreguã
theuda e mantheuda fóra de fua cafa, auendo delle
mantimento, e veíl:ir, ou poíl:o que fe nom proue o
que dito he , fe fe prouar que eílaa em voz e fama
de fua barreguã, e affi que em efpaço de íeis mefes
contínuos foi viíl:o o dito Creliguo , ou Beneficiado
entrar em fua cafa , ou ella em cafa do dito Creli-
guo , ou Beneficiado , ou Rcligiofo, fete ou oito ve-
zes , poíl:o que cada hüa das ditas vezes fe nom
proue fe nom por hüa foo teíl:emunha , Mandamos
que pola primeira vez que no dito pecado for con-
vencida, por cada huú dos modos fobreditos, pague
dous mil reaes, e feja degradada por huü anno fóra
da Cidade, ou Villa, e feus Termos, onde eíl:eue por
manceba ; e pola fegunda vez que lhe for prouado ,
que eíl:eue por manceba com a dita peífoa , ou com
outra de femelhante condiçam , pague a dita pena
de dinheiro, e feja degradada fóra de todo o Bifpa-
do por huü anno i e pola. terceira vez f~ja pubrica-
mente açoutada , e degradada fóra do .Bifpado atee
Noíla Merce; e fe defpois tornar ao dito pecado, feja
degradada pera fempre pera a. Ilha de Sam Thome.
Po-
DAs BARREG. nos C1uuc. E nos ouTROs Rnrn. 83
Porem fendo prouado que eftauam , ou efiam por
mancebas theudas e manrheudas notoriamente em
caía de cada huü dos fobreditos, em tal cafo Man.
damos, que affi pala primeira vez , como pala [e_
gunda fejam açoutadas pubricamente, e degrada-
das fóra do Biípado atee No{fa Merce ; e mais pa-
guaram as penas pecuniarias fobreditas , como di-
to he.
1 E AS fobrcditas penas de dinheiro feram apri-
cadas ., e as aueram aquellas peffoas, e por aquella
maneira que Temos determinado no primeiro Li-
uro no Titulo Dos Alcaides Moores.
2 E SE alguú Creliguo, ou Beneficiado teuer al-
güa efcraua comfiguo em caía, que com elle viua ,
e alguü quiíer della querelar, dizendo que dorme
com ella , e a teem por manceba , Mandamos que
lhe nom feja recebida tal querela, nem feja por ello
prefa, nem acufada; faluo fe o dito querelofo nà que-
rela por juramento affirmar que he notorio e mani-
feílo, que tem deli e filhos, e que os baptizou , e cria,
e nomea por feus filhos, por que com tal dedara-
fªm fe receberá a dita querela.
3 E QY ANDO alguü Meírinho, ou Alcaide., ou
feus homens, ou qualquer do pouo querelar de taees
peífoas , o Juiz, que tal querela receber, lhe mande
que jure a dita querela , e nomee loguo todas as te-
ftemunhas; e poflo que defpois queira dar outras te-
.f iemunhas , lhe nom feram recebidas, fegundo Te-
mos dito no parrafo final do Titulo ~e nom tragua
L2 111-
84 0 ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XXVI.

11inhuü homem barreguã na Corte , o qÚal Mandamos


que fe guarde em todo em as querelas , e acufaçoes
das barreguãs dos Creliguos , e pefToas religiofas.
E fe as ditas molheres culpadas em femelhante ma-
leficio ante de ferem por ello prefas fe cafarem ,
ou entrarem em Religiam, fe guardará em todo o
que Dilfemos no parrafo final do dito Titulo.
4 E MANDAMOS, que eile crime nom poífa feer
acufado por Alcaide , nem Meirinho ,-nem por outra
ninhüa peffoa , fem primeiro dar querela perfeita ,
como em cima dito he ; a qual querela nom pode-
ram dar , nem lhe ferá recebida , fe ao tempo que a
quiferem dar ouuer ja huü anno , que effas de que
aíli querem querelar fam apartadas do dito pecado.
5 E DETERMINAMOS , e Mandamos, que toda
pelToa, que querelar d'algüa molher por manceba
de Creliguo , ou Religiofo, ou de homem cafado ,
ou Cortefaõ , ou d'alguü homem de barregueiro
cafado , ou Cortefaõ, defpois que teuer querelado
nom faça auença com ninhüa das ditas peíloas, nem
com outrem por fua parte, nem receba dinheiro ,
nem coufa algüa de ninhüa peffoa por nom acu-
far cada húa das ditas pelfoas, de que teuer querela-
do , antes que a fentença ( de que nom aja apella-
çam) feja dada ; e fazendo o contrairo, paguará de
pena vinte cruzados , arnetade pera quem os acufar ,
e a outra metade pera os catiuos , e mais fe for pef..
foa em que caiba açoutes , ferá açoutado pubrica ..
mente; e fendo Nolfo Official, _aíli Meirinho J como
Al-
Do FRADE Q.YE FOR ACHAnocoM ALG. MOLH. ET e. 85
Alcaide, ou outro alguü que Noffo Officio tenha ,
aalem dos ditos vinte cruzados de pena , por eífe
mefmo cafo perca o dito Officio que aíli reuer, e
eíl:o aalem de qualquer outra pena , que por bem de
Noflas Ordenaçoes as ditas pelfoas por os ditos ca-
fos, ou cada huü delles, merecerem. E eílas mefmas
penas auerá qualquer peíloa , que leuar , e receber
dinheiro, ou qualquer coufa de qualquer outra pef-
foa, por nom querelar d'outrem de cada huü dos
ditos crimes; e Praz-nos que os que aili derem di-
nheiro, ou qualquer outra coufa d'auença, ou por lei-
xar d 'acufar, ou de querelar em cada huü dos cafos
fobreditos, poílam acufar quem lho leuou , e pro-
uando-o , auerám arnetade dos ditos vinte cruzados
como dito he.

T I T U L O XXVII.

Do Frade que for achado com algúa molber , que loguo


Jeja entregue ajeu maior.

M ANDA MOS a todas No/Tas Juíl:iças, que


nom prendam , nem mandem prender, nem tenham
um Noílas prifoes Creliguo alguü , ou Frade, por
teer barreguãs , faluo fendo-lhes requerido polo
Prelado , ou Viguairo , ou feus Maiores de cuja
jurdiçam for. E quanto aos F,·ades, que forem acha-
dos fóra do Moe!l:eiro com algüa molher , Man-
da-
86 o ~rnTo LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. xxvnr.
damos que os tomem , e tornem loguo ao Moeílei-
ro , e os entreguem a fru Maior , fem mais hirem
aa cadea.

--------
T I T U L O XXVJII.
Das barreguás que fogem a aquel/es com que viue,11,
e lhe leuam ofiu.

S E algüa molher folteira eíl:euer por barregui


de homem folteiro, ou cafado , ou de Creliguo, ou
de Frade , ou pcffoa religiofa , e lhe ella fogir, e le-
uar qualquer coufa de feu barreguam, roubado, ou
furtado , Mand amos que em tal cafo ella nom po!Ta
por ello íeer demandada , nem conílrangida , que
torne ao dito barreguam o que lhe affi leuar, nem
aja por ello pena algüa.
1 Prnó feendo ella manceba d'homem cafado ,
nom Tolhemos a fua molher poder ciuelmente
demandar o que a dita barreguã de feu marido lhe
furtou, ou leuou, affi como poderia demandar qual-
quer coufa , que feu marido deffe aa dita fua bar-
reguã.

T 1-
DAS ALCOUV[TEIR/\S, E ALCOUVJTEJROS .ET C, 87

T 1 T U L O XXIX.

Das alcouuitciras, e alcouuiteiros , e dos que em jiw cefa


co,!fentem as molheres f"z erem mal de Jeu corpo.

Q U A LQ!JER peífoa affi homem , como mo-


1hcr, que alcouuetar algüa molher cafada, ou con-
fentir que em foa cafa faça maldade de fcu corpo,
moura por ello , e perca todos feus bens , amecade
pera Noífa Camara, e a outra metade pera quem o
acufar. E fe alcouuetar algüa Freira profeffa que
eíl::ee em Moeíl:eiro, ou con[entir que a dica Freira
em fua caía faça maldade de feu corpo , feja açou-
tada, e degradada pera fempre pera Ilha de Sam
Thome , e perca feus bens pola fobredica maneira.
1 E SE alcouuetar algüa moça virgem, ou viuua
honefla de boa fama , ou confencir que em fua caía
faça maldade de feu corpo,. feja açoutada , e degra-
dada pera fempre fóra da Villa, e Termo, e perca
todos feus bens pola fobredica maneira. E qualquer
que pelo dito maleficio for a primeira vez acufada ,
e cm a dita pena condenada, fe defpois cometer ou-
tro qualquer maleficio da fobredita qualidade d'al-
couuetaria, fendo por ello a fegunda vez acufada,
e lhe for prouado , feri degradada pera fem pre pera
Ilha de Sam Thome , e perca feus bens pala fobre-
díta maneira.
1 E SE algüa peíloa alcouuetar filha , ou irmã
daquelle, ou daquella com que viuer > ou for feu pa-
m-
88 O ~INTO LIVRO OAS ÜRDEN. TIT. XXIX.

niguado, ou de quem reccbeo bem fazer, Oll con-


fcncir que em fua caía faça maldade de feu corpo,
moura por ello , e perca feus bens pola fobredita
mat1eira ; e fe alcouuetar algüa criada daquelle, com
que affi viuer polo fobredito modo, qt1e eíl:ec guar-
dada das portas adentro, ferá degradada dez annus
pera llha de Sam Thome.
3 E TOOA pelToa que alcouuetar algüa Chriíl:aã
pera Mouro, ou Judeu , ou qua.Jquer outro Infiel,
ou coníentir que em fua cafa faça maldade de fcu
corpo, moura por .ello, e perca feus bens pala fobre-
dida maneira.
4 E QYALQYER peffoa que der confentimento a
fua filha que tenha parte com alguü homem pera
com ella dormir, poíl:o que nom feja virgem, Man-
damos que feja açoutada com baraço e preguam
pola Villa , e degradada pera fempre pera Ilha de
Sam Thome, e mais p erca feus bens pala fobredita
maneira ; e fendo de qualidade em que nom caiba
açoutes , auerá foomente a dita pena de Ilha de
Sam Thome.
5 E EM todos os cafos fobreditos , em que algüa
molher for condenada por alcouueteira em algüa
das pe~as fobreditas onde nom aja de morrer, ou
hir pera Ilha de Sam Thome, tragua fempre polai-
na , ou emxarauia vermelha na cabeça fóra de fua
cafa, e affi fe ponha na fentença , e nom a trazendo
fcja degradada pera fcmprc pera a Ilha de Sam
Thome.
6E
Dos R E F r A E N s.

6 E TODA pe(foa , a que for prouado , que al-


couuetou algüa das fobreditas peíloas , poíl:o que fe
nom proue que a dita alcouuetaria ouue.lTe efeéco,
Mandamos que em tal cafo polo dito cometimento
fcja degradada dez annos pera a Ilha de Sam Tho-
me, fe ella ouuera de morrer pola dita alcouuetaria,
fe a efeéco viera ; e nos outros cafos, em que nom
ouuera de morrer, ferá degradada quatro annos pera
cada huü dos No.lTos Luguares d' Alem em Africa.

TITULO XXX.
Dos Rejiaes.

D EFENDEMOS, que ninhüa peffoa nom te-


nha manceba theuda em mancebia , de que receba
bemt;izer, ou ella delle ; e quem o contrairo fezer,
affi elle como elia feram açoutados pubricamente
pola Vi lia, ou Luguar, onde eílo acontecer, e mais fe-
jam degradados pera cada huü dos Luguares d' Alem
em quanto for Noífa Merce, e mais cada huü delles
pague mil reaes pera quem os acufar : peró fendo
elle Efcudeiro, ou andando em trajo, e auro de
Efcudeiro , em tal cafo Mandamos , que elk feja
foomente degradado da Villa, e Termo pera fempre
com preguam na Audiencia , e mais pague os ditos
mil reaes, e ella aja a pena fobredita.
1 Pmó fe as ditas molheres culpadas em feme-
Liv. V. M lhan-
90 O ~INTO LrvRo DAS ÜRDEN. TIT. XXXI.
lhante maleficio , ante de ferem por ello prefas, fe
cafarem , ou entrarem em Religiam , fe guardará
em todo o que Diffemos no Titulo fi;__ue nom tragua
ninhuü homem barreguá na Corte , no parrafo final ..

-----------------
T I T U T O X XXI.
Do homem que Je vejle em trajos de molher, ou molher
em trajos de homem, e dos que trazem ma/caras.

D EFENDEMOS, que ninhuu homem fe vifia,


nem ande em trajos de molher, nem molher em
trajos de homem. Nem iffo mefmo andem com
rnafcaras , faluo fe for pera algüas feíl:as , ou jogos;
e quem o contrairo de cada huüa das ditas coufas
fezer, fe for piam feja açoutado pubricamente, e fe
for Efcudeiro. e di pera cima , ferá degradado dous
annos pera Alem, e mais cada huü, a que cada hüa
das ditas coufas for prouado , paguará dous mil
reaes pera quem o acufar.

T 1-
Do QYE CASA COM MOLHER VIRGEM ET e. 9r
T I T U L O XXXII.

Do qrte cafa mm mo!her ·i•,·rgem , Óu viuua , que ejleuer


em p oder de Jeu pay, ou mãy, ou auo, oujenhor.
ftm Jua vontade.

DEFENDEMOS, que ninhuü homem cafe com


algüa molher virgem, ou viuua honefia, que nom
paífarem de vinte e cinco annos, que efiee em poder
de feu pay, ou mãy , ou avo, viuendo com elles em
fua cafa, ou eflando em poder d'algua outra pefToa
com que viuer, ou a em cafa teuer, fem confentimen•
to de cada hüa das fobreditas peífoas ; e fazendo o
contraira, perderá toda fua fazenda pera aquelle em
cujo poder a tal molher efiaua, e mais ferá degra-
dado huü anno pera as partes d' Alem ; e fe aquelle
aguem affi Damos a dita fazenda, a nom quifer, feja
amerade della apricada pera Noífa Carnara, e a outra,
metade pera os catiuos. E eíl:as mefmàs penas de fa-
zenda, e degredo , aueram a tefiemunha , ou teíl:e-
munhas , que ao tal cafamento com cada hüa das
ditas peíloas feiro pola fobredita manc;ira efieuerem.
1 PoREM fe cíle, que affi cafar fern confentimen-
to de cada hüa das ditas pefToas, for peffoa que no-
toriamente feja conhecido que ella cafou milhor com
elle , do que a feu pay , ou mãy , ou outra pefToa em
cujo poder eftaua poderam cafar, nom encorrerá
elle , nem as teílemunhas cm a pena contheuda
nefta Ley.
T 1-
92 O QurnTo LIVRO DAS ÜRDEN. 11T. XXXIIL
T I T U L O XXXIII.
Dos feiticeiros, e das vigilias quefc fazem nas Igrejas.

ESTABELECEMOS, que toda peffoa de qual-


quer qualidade, e condiçam que feja, que de luguar
fagrado, ou nÇ>m !agrado, pedra d'ara, ou corpo-
raes, ou parte de cada hüa dellas tomar , ou qual-
quer outra coufa fagrada, moura por ello morte na-
tural.
1 E rsso mefmo qualquer peífoa, que em cir-
culo , ou fóra delle, ou em encruzilhada , efpritos
diabolicos inuocar, ou a algüa peífoa der a comer ,
ou beber qualquer coufa pera querer bem , ou mal a
outrem , ou outrem a elle, moura por ello morte na-
tural. Peró em eíl:es dous cafos fobreditos nom fe
fará execuçam, atee No-lo primeiro fazerem faber,
pera Vermos a qualidade da peífoa , e o modo em
que fe taees coufas fezeram> e fobre ello Mandarmos
o que fe aja de fazer.
2 OurRo s1 nom feja algüa peíloa tam oufada,
. que pera adeuinhar lance forces , nem varas , pera
achar auer , nem veja em agoa , ou em criílal, ou
em efpelho, ou em efpada , ou em outra qualquer
coura luzente, nem cm efpadoa de carneiro , nem
façam pera adeuinhar figuras, ou imagens algüas de
metal, nem de qualquer outra coufa , nem fc tra-
balhe de adeuinhar em cabeça de homem morto, ou
de qualquer alimaria, nem tragua cornfiguo den-
te,
Dos FEITIC. E DAS VIGIL; QYE SE FAZ. NAS IGR. 93

te, nem baraço de enforcado , nem qualquer outro


membro de homem morto , nem faça com as ditas
coufas , ou cada hüa dellas , nem com outra algüa
( poílo que aqui nom feja nomeada ) efpecie algüa
de feitiçaria, ou pera adeuinhar, ou pera fazer d ãno
a algüa peffoa, ou fazenda, nem faça coufa alg üa,
porque hüa peíloa queira bem, ou mal a outra , nem
pera liguar homem , ou molhcr pera nom poderem
aver ajuntamento carnal. E qualquer que as ditas
coufas , ou cada hüa dellas fezer, Mandamos que
feja pubricamente açoutado com baraço e preguam
pola Villa , ou Luguar , onde tal crime acontecer , e
feja ferrado em ambas as faces com o ferro que
pera iffo Mandamos fazer de huü .ff., por que feja
fabido polo dito ferro, que foram julguados, e con-
denados por o dito maleficio , e mais feja degra-
dado pera fempre pera a Jlha de Sam Thome , ou
pera cada hüa das outras Ilhas a ella comarcaãs ; e
alem da · dita pena corporal paguará tres mil reaes
pera quem o aculàr.
3 E PORQ_U ANTO Nos he dito, que em Noffos
Reynos, e Senhorios , antre a gente ruíl ica fe vfam
muitas abufoes, aili como paílarem doentes por fil_
uaõ, ou machieiro, ou lameira virg em, e a ili vfarn
benzer com efpada que matou homem, ou que paf-
faffe o Doyro, e Minho tres vezes. Outros cortam
folas em figu eira baforeira. Outros cortam cobro em
lumiar de porta. Outros tem cabeças de faludadores
emcaíl:oadas em ouro , ou em prata , ou em outras
cou-
94 o Q.2TNTO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. XXXIII.
coufas. Outros apreguoam os demoninhados. Outros
Jeuam as imagens de alguüs Santos acerca d'agoa, e
ali fingem que os querem lançar em ella, e tomam
fiadores, que fe atee certo tempo o dito Santo lhes
nom der agoa, ou outra coufa que pedem , que lan-
çaram a dica imagem na agoa. Outros reuoluem pe-
nedos, e os lançam na agoa pera auer chuiua. Ou-
tros lançam jueira. Outros dam a comer bolo pera
faberem parte d'alguú furto. Outros tem mcndra-
colas en fuas caías , com intençam que tendo-:is ,
por ellas aueram graças com fenhores, ou guanharam
nas coufas , em que trautarem .• Outros paífam agoa
por cabeça de cam pera coníeguir alguü proueito.
E porque taees abufoes , e outras femelhantes nom
Deuemos confentir , Mandamos , e Defendemos ,
que peffoa algüa nom faça as ditas coufas, nem cada
híía dellas; e qualquer que o contrairo fezer, fc for
piam , ou di pera baixo, feja pubricamente açoucado
com baraço e preguam pola Villa , e mais pague
dous mil reaes pera quem o acufar. E fe for Vaflà-
lo , ou Efcudeiro , ou di pera cima , ou molher de
cada huü deíles , f~ja degradado pera cada huü dos
Noffos Lug11ares d' Alem em Africa por dous annos,
e mais pague quatro mil reaes pera quem o acuíar.
E eftas mefmas penas auerá qualquer peffoa que dif-
fer algüa coufa do que he. por viir, moíl:rando , e
dando a entender que lhe foi reuelado por Oeos , ou
por alguü Santo , ou em vifam , ou em fonho , ou
por qualquer outra maneira; e efio íegundo a dife-
ren-
Dos FEITIC. E DAS VIGIL. Q!)E. SE F.AZ. NAS lcR. 95

rença , e qualidade das pelfo.is : conuem afaber ,


d'açoutes. e dous mil reaes no piam, e de femelhante
forte; e no Vaílalo, e di pera cima, de dous annos
de degredo , e quatro mil reaes. Peró efio nom auerá
luguar nos Aílrologos ; que por fciencia, e arte de
Aíl:rologia , vendo primeiro as nacenças da peffoa,.
diíferem algüa coufa fegundo feu juízo , e regra da.
dita fciencia.
4 ÜuTRO sr Defendemos, que pelfoa algüa nom
benza caens, ou bichos, nem outras alimarias, nem
vfe diífo fem pera ello primeiramente auerem Nolfa
Auétoridade, ou dos Prelados, pera o poderem fazer;
e qualquer que o contrairo fezer, feja pubricamen..
te açoutado fe for piam , e di pera fundo , e pague
mil reaes pera quem o acufar; e fe for Vaífalo, ou
Efcudeiro , ou di pera cima , feja degradado por
huü anno pera cada huü dos Noífos Luguares
d' Africa, e mais pague dous mil reaes pera quem o
acufar.
5 ITEM Mandamos, que peífoa algüa nom faça
vodos , nem vigílias de dormir, e comer , _e be..
ber em Igrejas , nem fe ajuntem a comer , e be-
ber por raiam das Milfas, que mandam dizer, que
chamam Miffas dos Sabados , nem guardem por
deuoçam o Sabado, ou quarta feira, nom fendo cada
huü dos ditos dias mandado guardar por ordenança
da Igreja, ou por conftituiçam do Prelado: e qual-
quer peífoa que cada hüa defias coufas nefie capito-
lo contheudas fezer , feja prefa , e da cadea pague
quinhentos reaes pera quem o acufar. 6 E
96 O ~INTo LrvRo DAS ÜRDEN. TrT. XXXIIII.
6 E isso mermo D efendemos, que nom façam
vodos de comer , e de b eber, poílo que fóra das
Igrejas fejam, e que diguam , que os fazem por de-
uoçam d'alguüs Santos, fob pena de todo o qu ê pera
o tal vodo fe receber fe pag uar em dobro da ca-
dea per aquellcs, que o affi pedirem e receberem,
nom tolhendo porem os vodos do Santo Efprito, que
fe fazem na feíla do PentecoO-e ; por que foomente
eftes Concedemos que fe façam , e outros ninhuús
nom.
7 PoREM nos Iuguares onde cuílumam comer,
quando leuam os finados , o poderam fazer fem
pena algüa , nom comendo dentro no corpo das
Igrejas.

T I T U L O XXXIIII.
Dos que arreneguam , e blasfemam de Deos ,
e dosf eus San/os.

T ODO aquelle , que por qual q uer maneira diífer


que arrencg ua , ou nom c ree, ou defcree de No{fo
Senhor, ou de Noífa Senhora , ou da fua Fee , fe
for Vaflallo, ou d'outra tal qualidad e , que nom feja
piam filho de piam, ou fe for E(cud eiro, ou Caua-
leiro , que Fidalguo nom .for, fej a degrad ado huü
anno pera Cepta com huú preg uam na Audiencia ,
e pag ue dous mil rcaes pera quem o acufar; e [e
for Fidalguo feja degradado huü anno pera cada
huü
Dos Q.YE ARR!NEGUAM E BLASFEMAM DE DE.OS. 91

huü dos Noífos Luguares d' Alem , e pague tres mil


reaes pera quem o acurar; e fe for piam filho de
piam , leuem-no ao Pelourinho, e metam-lhe hua
agulha d'albarda pola \ingoa, e dem-lhe vinte açou-
tes com baraço e preguam , e em quanto lhos derem
tenha a dica agulha na lingoa metida, e mais pague
m il reaes pera quem o acufar.
I E o QY E pefar de Noffo Senhor, ou de Noífa Se-
nhora , ou da fua Fee , ou diífer outras femelhantes
palauras , [e for piam, filho de piam , dem-lhe vinte
açoutes ao pee do Pelourinho com baraço e preguam
fem agulha, e pague quinhentos reaes pera quem o
acufar; e fe for d'outra 1naior condiçam feja degra-
dado fei s mefes pera Alem, e pague pera quem o
acufar ametade da pena do dinheiro, que paguaria
arreneguando , fegundo a diferença das peífoas.
2 EMPERÓ fe algüa peffoa de qualquer condiçam
por algüas outras palauras mais enormes, e feas, blas-
femar, ou arreneguar de Noífo Senhor , cu de Noífa
Senhora, ou da fua Fee, ou dos feus Santos, fique em
aluidro dos Defembarguadorcs , ou daquelles que
Noífa Alçada teuerem , lhes darem outras maiores
penas corporaes , íegundo lhes per Dcreito parecer ,
auendo refpeito aa graueza das palauras , e qualida•
de das peífoas, e do tempo, e luguar onde forem ditas.
3 E o que arreneguar de qualquer outro Santo,
fe for Vaffallo , ou Efcudeiro, Caualeiro , ou Fi-
dalguo , pague mil reaes , ametade pera a Piedade,
a outra metade pera quem o acufar ; e fe for piam
Li'V. V. N pa ..
98 O ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN, TIT. XXXV.

pague feis centos reaes , ametade pera quem o acu-


far, e a outra metade pera a Piedade.
4 E o que pefar de alguü Santo , fe for Va(Tallo,
e di pera cima , pague quinhentos reaes pera quem
o acufar ; e fe for piam pague duzentos reaes pera
quem o acurar.
5 E POREM Mandamos, que em todos os cafos
fobreditos, onde por efla Nofia Ordcnaçam cabe pe-
na d'açoutes, ou degredo, nom po(fa algüa pelToa
feer acufada por Meirinho, nem Alcaide, nem por
outra ninhüa peíloa do pouo , fem primeiro dar
querela perfeita ; e nos cafos onde nom cabe fenom
pena de dinheiro, poderam acurar fem querela, e per-
ante quaefquer Juíliças: e porem affi no cafo da que-
rela , como da acufaçam fcm querela, nom lhe ferá
recebido querela , nem ferá recebido a acufar fenom
atee huü anno, do dia que o dito crime aconteceo ;
e todos os Autos que em outra maneira forem feitos
Auemos por ninhuüs.
·6 EMPERÓ quanto aas peffoas, que arrenegua-
rem , ou pe!arem de Deos, ou diíferem algüas pala...
uras deshoneíl:as contra Deos, ou contra Noífa Se-
nhora , que fegundo difpofiçam deíl:a Noífa Ley de-
uam feer punidos, Auemos por bem que as peíloas
que o fouberem , poíl:o que nom querelem , poílam
em fegredo denunciar por juramento ao Corregedor
da Corte dos Feitos Crimes , e nomear as teílcmu-
nhas que do tal maleficio fabem parte ; e bem affi
po1fam denunc;iar a cada huü dos Noffos Ouuidores
da -
Dos Q,yE ARRENEGUAM E BLASFEMAM DE DEOS. 99

da Cafa do Ciuel, quando a Jurisd1çam a elles per-


tencer , ou a qualquer Defembarguador que com
Alçada Mandarmos a alguü Luguar, ou Comarca,
fe em eíle Luguar , ou Comarca eíl:o acontecer : e
feitas aili as ditas denunciaçoes, Mandamos ao dito
Corregedor, Ouuidor , ou De(embarguador, a que
taees denunciaçoes a ili em fegredo forem dadas, que
citadas as partes, contra quem for denunciado , pre-
guntem as teíl:emunhas que lhe forem nomeadas, e
achando culpados os de que aili for denunciado, os
condenem nas penas fobreditas. a ili de dinheiro ,
como corporaes , fegundo merecimento de fuas
culpas ; e da pena pecuniaria em que o prrfo for
condenado , aja o denunciador ametade do dinheiro
em que o culpado for condenado, e a outra meta-
de ferá pera a Piedade ; e fendo o tal denunciado
achado fem culpa, o denunciador ferá condenado
nas cuftas, com~ fe delle teueíle querelado.
7 E QYANoo alguüs forem por cada huü dos
fobreditos cafos acufados foomente por parte da
Juftiça, nom auendo hi outro querelofo , acufador,
ou denunciador , as penas do dinheiro, em que fo-
rem condenados , fejam todas pera a Piedade.

TI..
100 Ü ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. XXXV.
T I T U L O XXXV.

Dos que tiram os prefos do podrr da Jujiiça • ou das


prr/ôes em quf' j azem. E dos prt:Jós que aj/i fam.
tirados ,. ou fogem da cadea.

Q UALQ!)ER peffoa , de qualquer eílado e


condiçam, que defpois de alguü fe er prefo em poder
de alguü Official da Juíliça, que poder tenha pera
prender, ou de qualquer outro do pouo, que ouuelfe
achado o dito prefo em al g uü rnaleficio, tirar o dito
prefo de feu poder , encorra nas penas que encor-
reria, fe reíifüífe aa Juftiça tirando armas contra
ella, fegundo for a qualidade dos Officiaes da J uíl:i-
ça, a que tirar o prefo, fegundo Diremos no Titulo
feguinte. E tirando cfa maõ de qualquer outro do
pouo como dito he , fe for piam , ou homem de pe-
quena condiçam , feja açoutado pubricamente pola
Villa, e degradado pera Cepta por dous annos ; e fe
for Va!Jallo , ou Efcudeiro , ou de femelhante ou
maior condiçam , fcja degradado pera Cepta por
quatro annos; e aalem das ditas penas crimes, o
que aíli tirar o dito prefo paguará aas panes con-
trairas, por cuja caufa fc prendia, todo o intereífe de
dinheiro, em que for condenado o dito prefo, que
affi foi tirado , fendo acufado por editos ; norn o po-
dendo auer as ditas partes polos bens , e fazenda do
dito preío que afE foi tirado, e por editos acufado,
e conJepado._
l E
Dos QYE TIR. os PRESOS DO PODER DA JUSTIÇA ETC. lOI

1 E sr o dito prefo jouucífe já na prifam apri-


foado em poder de Carcereiro, e fob fua guarda,
todo aquelle que por força o tirar de fru poder , ou
der a ello ajuda, quebrando as portas , ou ferrolhos
da prifam, ou furando as paredes , ou telhados , ou
quebrando os ferros das cadeas cm que jouuctTe
prefo, ou tomando-lhe por força as chaues, e abrin-
do os ferros , e portas , ou tirando-o por força em
qualquer outra maneira de feu poder, ou poíl:o que
o prefo nom feja tirado, fazendo cada hüa coufa das
fobrcditas, moura por ello. E fe o dito prcfo, que affi
for tirado do carcere, foílc já condenado, ou em Juí-
zo ouueífe confcílado o makficio por que era prefo ,
aalem de morrer, perderá mais feus bens ; fe nom
teuer defcende-ntcs , ou afcendentes lidirnos.
2 E srnA' auido por prouado o malelicio de qual-
quer prefo , ou prcfos , que fogirem da cadea, quan-
do aíli for quebrada; poílo que fe lhe nom proue,
que por fcu mandado fe fez.
3 E os prefos que por fi , fem outra força , ou
ajuda de fóra fogirem, feram punidos fegundo al-
uidro do Julguador, auendo refpeiro aas qualida-
des das peífoas , e culpas que nas ditas fogidas teue-
rem.

T 1-
102 O ~INTo LrvRo DAS ÜRDEN. Tn. XXXVI.
T I T U L O X XX VI.

Dos que re/ijlem , ou d~(ohedecem a qualquer Ojficial


da No.fia Jujliça.

Q U ALQ!J ER peffoa que refifl:ir contra alguü


dos Corregedores de Noífa Corte , e da Noífa Cida-
de de Lixboa , ou Derembarguadores de cada hüa
das Cafas , afü da Sopricaçam , como do Ciuel , ou
Meirinhos da dita Noíla Cone , ou Alcaide da dita
Cidade de Lixboa , querendo-os prender , ou man-
dando-lhes_ fazer coufa que a feu Officio , e poder
que tem, toque , e na dita refülencia em alguü dos
fobreditos ouueffe feriment-0, qLJem o fezer morrerá
por i!To morte natural. E porem por tal fentença fe
nom fai:á cxccuçam , atee primeiramente No-lo fa-
zerem faber, pera Nós Vermos a graueza do cafo,
e qualidade das peífoas , e Mandarmos o que Ouuer-
mos por bem. E quem aos fobredit-os, ou a cada huú
delles refiíhr com armas , poíl:o que hi nom aja fe-
rimento, feja degradado pera a Ilha de Sam Thome
pera fernpre. E fc algüa peífoa refi.ílir a alguú dos fo-
breditos nom tirando armas, ou lhe differ p:ilauras
injuriofas fobre coufas àe feu Offici0 , ferá degrada ..
do pera os Noffos Luguares d' Alem por dez annos.
1 ITEM qualquer peífoa que reíiíl:ir contra alguü
Corregedor das Comarcas de Noffo Reyno, e Ilhas ,
ou Ouuidores, que por Nós fam poíl:os , e feus Mei-
rinhos, e na dita rdiíl:encia o ferir, fer-lhe-ha dece ..
pa-
Dos ou J 03
1
QlJE RESIST. DESOBEDECEM A JUSTIÇA.

pada hüa maõ, e mais ferá degradado pera a Jlha


de Sam Thome pera fempre. E fe refülir com ar-
mas, poílo que o nom feiram, ferá degradado pera
os Nofios Luguares d' Alem por dez annos. E fc lhe
refiílir nom tirando armas, ou lhe diíler palauras in-
juriofas, quem a dita offenfa lhes frzer ferá degra-
dado pera os ditos Lug uares d'Alem por fri s annos.
2 1TEM qualquer peffoa que refülir contra alguü
Noffo Juiz de Fóra, ou Ouuidores da s Ordens, e
affi de quaefquer peffoa s que poder tenham pera os
poer, e feus Meirinhos , e Juízes Ordinarios das Ci-
dades de Noffos Reynos , e Senhorios , e Villas no-
raueis delles, e fcus Alcaides, e na dita refiflencia
ferir , fer-lhe-ha a maõ decepada , e hirá degradado
por doze annos pera a Ilha de Sam Thome. E fe lhe
reíiílir com armas , poflo que nom feira, ferá degra-
dado pera os Noffos Luguares d' Alem por feis an-
nos. E fe lhes rcfiíl:ir norn tirando armas, ou os in-
juriar verbalmente, ferá degradado pera os Noffos
Luguares d' Alem por quatro annos.
3 ITEM quem refiflir contra alguü dos Juízes
Ordinarios , Vereadores , Almotacees, e Alcaides
das Villas, e Concelhos de Noffo Reyno , e Senho-
rio, e Porteiros, Jurados, e Vintaneiros delles, e ho-
mens dos Meirinhos de Noffa Corte , e Comarcas,
e Ilhas, e affi homens dos Alcaides, affi da dita Ci-
dade de Lixboa, como dos outros Alcaides das Ci-
dades, V ilias, e Concelhos dos ditos Noffos Reynos,
e Senhorios , e na dita refiíl:encia fer.ir cada huü
dei-
104 O ~rnTo LrvRo DAS ÜRDEN. T1T. XXXVI.

delles , fer-lhe-ha decepada hi:'"ia maõ, e ferá degra-


dado pera cada huú dos Noffos Luguares d' Alem
por dez annos. E fe lhe refifür com armas , poíl:o
que o nom feiram , ferá degradado pera os Noífos
Luguares d' Alem por quatro annos. E fe lhes refi-
í\:ir nom tirando armas , ou os injuriar com palauras
injuriofas , frrá degradado pera os Noífos Luguares
d' Alem por dous annos.
4 ITEM fe algüa das ditas Juíl:iças atrás declara-
das , e feus homens , que poder e mandado tenham
pera prender , quifercm prender algüa peffoa , re-
querendo- lhe da NofTa Parte que fe dee aa prifam, e
nom o quifer fazer , fogindo, ou por outra qualquer
maneira, pollo que nom refiíl-a, ferá degradado por
huü a1rno pera os Noffos Lugu::i.rcs d' Alem.
5 E SE o ferimento> refiíl:encia, ou injuria ver-
bal, que a algüa das ditas juíliças foffe feita por ai ..
güa peffoa, for tal, que o dito Oflicial, e pdfoa a que
fc fezer, mereça por iffo emenda , e fatisfaçam de
dinheiro , auela-ha , e fcr-lhe-ha julguada aalcm
de todas as outras penas atrás declaradas , a qual
emenda , e fatisfaçam ferá tres tanta pena pecuni ..
aria , como a dita peffoa poderia auer d::i.quella que
o offendco, fc Official da Juíliça nom fora.
6 E NO cafo em que por eíla Ordenaçam Damos
pena. de cortamento da maú, fe nom entenderá nos
Fidalguos, nem nos Caualeiros de linhagem , por
que a eíl:es, quando forem comprehendidos em cafos,
por que fegundo a declaraçam deHa Ley mereçam
a
Dos (UTE RESIST. ou DESOBEDECEM A' JusTIÇA, 105

a rnaõ cortada , fer-lhe-ha por iffo dado outra pena,


qual parecer que merecerem por o dito cortamento
da rnaõ, <le que os releuam, e mais aueram o de-
gredo fegundo nos capitolos do dito cortamento da
maõ he contheudo.
7 E POR eíla nom Tolhemos , que o que ferir ,
ou matar alguü Noífo Official da Juftiça , que perca
os bens , fegundo he contheudo no Titulo Da /efa
Magejlade~
8 E MANDAMOS que aalem das fobredítas penas,
todo aquelle que refül:ir, ou offender com armas ,
ou fem armas, por cada huü dos modos acima con-
theudos, a qualquer Official da Juíliça de NoíTa Cor-
t.e , ou do Luguar onde a Noffa Corte efieuer, fejam
mais condenados cada huü daquelles que affi refiíl:ir,
ou offend.e r polo fobredito modo , em trinta cruza-
dos d'ouro pera o Official da Juiliça a que affi for
feita a dita reíifiencia, ou offenfa. E fc o tal Official
da Jufüça for Meirinho., ou Alcai<le, ferá ametade
pera ell e , e a outra metade pera os feus homens.
E fe for feita aos fcus homens foomente , ou alguu
Porteiro, fejam condenados cada huú dos que affi re-
fül:irem, ou offenderem, em vinte cruzados pera os
ditos homens , ou Porteiro. E nom acufando o dito
Official da J uíl:iça cada huú dos fobreditos dentro
de vinte dias, do dia que a tal refiíl:encia, ou offen-
fa foi feita, em tal cafo a dita pena de dinheiro feja
pera as defpefas da Roiaçam, e norn pera o dito
O fficial.
r.
Liv. o 9 E
106 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XXXVI.
9 E MANDAMOS iffo mefmo, por fe mais euitar o
dito delitl:o,que ninhüa peffoa, de qualquer qualida-
de que feja, nom acolha , nem encubra , nem com-
figuo tragua em Noffa Cone ninhiía peffoa, que for
culpado em fazer, ou ajudar a fazer refiíl:encia, nem
offenfa algüa a qualquer Official da J ufliça de Nof-
fa Corte , ou do Luguar onde a Noffa Corte eíl:euer.
E fazendo o contrairo, poíl:o que feu criado, ou
criados fejam, e fendo-lhe prouado , que fabendo
como os taees refiíl:iram , ou offenderam pola fobre-
qita maneira, ou que tinham razam de o faber, os
·mais trouxeram comfiguo, ou acolheram, ou encu-
brira m, paguem por cada huü que aíli encobrir,
acolher , ou comfiguo trouxer , trinta cruzados ,
ametade pera o Offi.cial da Juftiça, a que affi a dita
refiíl:encia, ou offenfa for feita, e a outra metade
pera a Piedade. E nom acufando o dito Official den-
tro de quinze dias , do dia que o dito Official o fou-
ber, Mandamos que a dita metade, que pera elle
Apricamos, feja pera as defpefas da Rolaçam. E mais
por affi feer negrigente na dita acufaçam Auemos por
bem , que nom aja os trinta cruzados , que lhe no
precedente capitolo Damos , daquelle ou daquelles
que lhe a dita refiíl:encia, ou offenfa fezeram, deíl:es
que aHi clle foube, que andauam na Corte por os a
tal peifoa encobrir, ou comfiguo trazer, e a nom
acufar; e neíl:e cafo feram os ditos trinta cruzados
pera as defpefas da Rolaçam, como em cima Diife-
rnos quando o Official da Juíl:iça os nom acufa den-
tro
Dos QyE R ESIST, ou DESOBEDECtM A
1
JlJSTIÇA. 107

tro de vinte dias; e aalem dello Mandamos, que o


dito Official da J ufl-iça , que am nom acufar cada
huü dos fobrediros , que am comfiguo trouxer, ou
acolher, ou encobrir cada huü dos ditos delinquen,..
tes dentro do dito tempo, fendo-lhe prouado que
o foube, pague trinta cruzados pera quem o acufar ,
e feja fufpenio do Officio feis mefes.
10 ÜUTRO s1 Determinamos ,que quando algüa
peffoa, de qualquer condiçam que feja , refiíl:ir , ou
tornar maõ contra cada hüa das Noílas Juftiças ,
que o prender queira , ou tenha prefo, pera fe delle
defender que o nom prenda, que a dita Noffa Jufüça
o potra liuremente matar em dle auto da refiíl:encia
fem pena algüa ; e nom foomente o pode matar de-
fendêndo-fe como dito he, mas ainda o pode matar
fem pena, ainda que fe nom defenda , fe elle fogir
por nom feer prefo, e os Officiaes da Juíliça em ou-
tra guifa norn o poderem prender. Peró em tal cafo
o Julguador efguardará o modo, e temperança, que
o Official da Juftiça teue em ferir I ou matar o que
affi queria prender, e fogia por nom feer prefo, que
achando que o podera prender por algüa guifa, fcm
o matar, ou ferir, deem-lhe pena fegundo a culpa
em que o acharem; cá nom deue o Official da Juíli-
ça ligeiramente proceder a matar, ou ferir aquelle
que prender quer, ainda que fugua , fc nom quando
já por outra guifa algüa o norn poder prender. E eílo,
em quanto fala no que foge , Mandamos que aja Iu-
guar no malfeitor, que auia de feer prefo por alguü
O 2 ma-
108 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XXXVI.

rnaleficio graue , porque fe ouueíre de feer prefo por


alguü maleficio em que nom coubeíle pena de morte
natural , e o Official da Jufüça for dello fabedor ,
nom o deue matar por fogir, ainda que d'outra gui;.
fa prendelo nom poífa; e matando-o auerá pena de
juíl:iça , fegundo no cafo couber.
11 E SENDO cafo, que por cada huü dos fo..
breditos cafos íe acoute a alguü Noífo Couto , ou
Bairro de outra alguü peíloa , de qualquer eíl:ado e
condiçam que feja, po11o que por Nós, ou Noíros
Anceceffores, lhe feja priuilegiado pera lhe valer,
Mandamos que 1.he norn valha, e feja !aguo di tira-
do, fem embarguo de quaefquer claufulas , e condi-
ç és, que nos ditos priuilegios fejam poíl:as, por-
que Noíla tençam e vontade he, determinadamente
nom ferem guardados em os ditos maleficios.
12 E QyllRENDo tomar Carta de Seguro os que
em ·os ditos maleficios forem culpados, nom a pof-
fam auer, faluo do Noífo Corregedor da Corte, por-
que os Auemos por referuados , aíli como fam ou-
tros maleficios referuados aa Corte, como Diífemos
no primeiro Liuro , no Titulo Do Corregedor da Cor-
te dos Feitos Crimes el e.

TI-
Dos ruRTos, E Q1TE NOM TRAG. GAZUL. ET e. 109

T I T U L O XXX VII.

Dos furtos, e que nom traguam gaz.ulas, nem outros


artificias pera abrir porta;, nem as fechem de f óra.

M ANDAMOS, que qualquer c9ufa


peífoa, que furtar
alhea, que
huü marco de prata , ou outra
valer tanto como o dito marco de prata , e efiimada
em fua verdadeira valia, que a dita prata valer ao
tempo do furto, moura por ello.
I Prnó fe for prouado , que algüa pelfoa abria
algüa porta, ou entrou em algüa cafa, que eílaua fe-
chada , por a porta , ou jaryela, ou telhado , ou por
qualquer outra maneira , e que furtou meo marco
de prata , ou fua valia , e di pera cima , moura por
ello morte natural. E poíl:o que fe lhe nom proue ,
que furtou coufa algüa da dita caía, ~eremos
que foomente polo abrir da porta, ou entrar em cafa
como dito he com animo de furtar, feja açoutado
pubricamente com baraço e preguam, e deforelha-
do, e degradado pera fempre pera a Ilha de Sam
Thome.
2 E Q.!1ALQ1TER pelfoa que furtar valia de quatro-
centos reaes , e di pera cima , nom fendo furto de
qualidade porque deua morrer, feja açoutado pubri-
camente com baraço e preguam , e deforelhado.
E fendo de valia de quatrocentos reaes pera baixo,
ferá açoutado pubricamente com baraço e preguam,
ou
110 Ü QyINTO LIVRO DAS ÜRDEN.TJT. XXXVII.
ou lhe ferá dada outra qualquer menor pena corpo-
ral , que aos Julguadores bem , e De reiro parecer ,
auendo refpeito aa quantidade, e qualidade do fur-
to, e affi aa qualidade do ladram. Peró fe for efcra-
uo, quer feja Chri{taõ, quer infiel, e furtar valia
de quatrocentos reaes pera baixo, com tanto que
nom feja menos de cem reaes, ferá açoutado pu-
bricamente com baraço e preguam, e deforelhado ;
e fe for de cem reaes pera baixo ferá açoutado foo-
mente.
3 E FAZENDO alguü trcs furtos por deíuairados
tempos. fe cada huú dos ditos furtos por fi valer
huü cruzado ao menos , em tal cafo Mandamos ..
que moura por ello o dito ladram , pofio que já por
o primeiro, ou fegundo, ou por ambos foífe punido.
4 E DETERMINAMOS• que qualquer pefioa que
furtar algüa prata , ou ouro de Igreja , de dentro da
Igreja , ou Modleiro , ou d'algüa cafa que dentro
do circuito da dita Igreja, ou Moefieiro eíleuer, ou
furtar algúa efcriptura d'alguü cartorio das taees
Igrejas, ou Moefteiros, moura por ello morte natu-
ral, poíl:o que nom achegue a valia de marco. Po-
rem neíl:e cafo nom fe fará _execuçam fem No-lo
primeiro fazerem faber.
5 MANDAMOS , que quando algüa peffoa comprar
algüa coura que verifrmelmente pareça fegundo a
qualidade da coufa, e da peíloa que a vende, que
he furtada , ou que nom he daquelle que a vende• e
deípois fe prouar que a dita coufa era furtada, que
aquel-
Dos FURTOS, E QYE NOM TRAG. GAZUL. ET e. Ir I

aquelle que a affi. comprou feja punido, como [e a


furtara, e nom lhe feja recebida autoria algüa.
6 OuTRO s1 Defendemos, que em a Corte, e em
a Cidade de Lixboa ninhüa peffoa, de qualquer for-
te e qualidade que feja , nom compre coufa algua,
que valha de cincoenta reaes pera cima, faluo dos
Preguociros, e Adelas que pera ello farn Officiaes, Oll
dos proprios Officiaes que as taees coufas fezerem; e
comprando-as alguü de fóra das maõs dos fobredi-
tos , e prouando-fe que fam de furto , em tal cafo
~cremos, que o comprador pague em quatro do-
bro a valia da dita coufa aalem do principal, que
auerá o dono da coufa. E o dito quatrodobro da pe-
na ferá arnetade pera a Piedade, e a outra pera
quem o acufar , e ferá pagua a dita pena da cadea..
E nom cheguando o dito quatrodobro a dous mil
reaes, ~eremos que feja condenado em dous mil
reaes, e aalem diífo o em tal comprehendido a pri-
meira vez jaça na dita cadea quinze dias. E pola fe-
gunda vez aalem da pena dos ditos dobros , e prin-
cipal, ferá degradado o que tal compra fezer huü
anno pera cada huú dos Coutos do Reyno , fem
nunca pera fua de[culpa lhe feer recebido Autor , a
que ·as comprou, pofto que o alegue por fua de-
fefa.
7 ÜuTRo s1 fendo algüa peífoa cometida por al...
guü ladram , ou por outrem que compre algüa cou-
fa furtada , Mandamos que elle o poífa prender , e
cmreguar aas Noífas Jufüças com a dita couía fur-
ta-
112 O ~INTo LivRo DAS ÜRDEN. Tn. XXXVII.
tada. E prouando.fe que he furtada ~e remos, que
cffe que aíli o prendeo aja a valia da dita coufa fur.:.
tada , que lhe aíli vendiam, pola fazenda do dito la-
dram, que aíli prendeo ; e nom tendo o ladram fa_
zenda por onde pague, ~cremos que o aja da Arca
da Piedade, com tanto que nom paffe de cinco cru-
zados.
8 E POR QYANTO alguüs furtos fe fazem por al-
guas peffoas nom começando em furto, por as coufas
furtadas a principio virem aa fua maõ por vontade
de feus donos, aíli como farn Feitores, Recebedores,
Moordomos, e outras pefloas de que fe fia dinheiro,
ou qualquer fazenda , e aili Ouriuezes , ou outros
Officiaes macanicos. E bem aili fe alguem empre-
íl:aífe a alguú feu amiguo joias , ou prata , ou caua-
los, ou outras quaefqucr coufas, e eHe fogiffe com
ellas , ou as vendeífe; ou recebeffe alguu depofico ,
e fogiffe com elle , ou o vendelTe , Mandamos que
nefies cafos fejam punidos os ditos malfeitores fe-
gundo o aluidro do Julguador, e atee morte natural
indujiue , fe lhe tanto parecer que merece , fegundo
for a qualidade do cafo, e das peífoas, ecirc unílancias
delle; porem em todo cafo que o furto for de dez
marcos, ou fua valia, morrerá morte natural , e nom
fe fará execuçam de morte fem primeiro No-lo fa-
zerem faber.
9 OurRo SI Mandamos que toda peífoa de qual-
quer condiçam que feja , que for achado , que traz
gazulas em qualquer parte de Noífos Reynos, que
fe-
Dos FURTOS' E Q!JE NOM TRAG. CAZUL. ET e. I JJ

feja açoutado pubricamente, e degradado pera a


Ilha de Sam Thome por dous annos , e fe for de
qualidade em que nom caibam açoutes , frja degra-
dado por tres annos pera a dita Ilha. E qualquer fer-
reiro, ou official a que for prouado, que fez quaef-
quer gazulas, auerá a fobredita pena.
10 E SENDO algüa pefio a achada defpois do fino
de correr tangido com alguüs outros artificias, que
fe mofhc que he pera abrir, ou quebrar arcas , ou
portas, ou as lançar fóra do couce, auerá a fobredita
pena d'açoutes, e degredo fe for piam ; e fe for de
qualidade cm que nom caiba açoutes, auerá a dita
pena de tres annos de degredo pera a Ilha de Sam
Thome.
11 E DETERMINA Mos, e Mandamos, que todos
os ladroes que forem de condiçam em que caiba
açoutes, que daqui por diante forem prefos em Nof-
fa Corte , e na Cidade de Lixboa , e forem conde-
n ados em pena algüa das fobreditas , nom fendo de
morte · natural , fejam ferrados no roíl:o com huü
ferro , que tenha hüa forca, e mais eílee em huú co-
lar poíl:o aa porta da ribeira da dita Cidade todo
huú dia , e onde a Noífa Corte eíl:euer , nom fendo
na dita Cidade, ao pee do pelourinho.
12 E DEFENDF.Mos, que ninhüa peffoa feche por..
tas algüas de noute por fóra contra vontade de feus
donos, ou fem o elles faberem , e o que o contrairo
fezer, fe for piam, feja açoutado pubricamenre com·
baraço e preguam pola Villa ; e fendo de maior con-
Liv. V. P di-
1 r4 O ~INTO L1vRo DAS ÜRDEN. TIT. XXXVIII.
diçam ferá degradado dous annos pera cada huü
dos Luguares d' Alem ; e fe quando a ili fecharem
as ditas portas fezerem alguu outro maleficio , ou
quando as affi fecharem forem com aíluada, feram
punidos fegundo por outras Noffas Ordenaçoes me..
recerem.

T I T U L O XXXVIII.

Da pena qt,te auerá o que toma algüa couja por força ,


e quando por e/lo deue morrer.

PESSOA algüa de qualquer qualidade , e condi-


çam que feja, nom tome coufa algüa por força , e
contra vontade daquelle , que a em feu poder teuer,
e tomando-a aili por força como dito he , fe a coufa
aili tomada valer de mil reaes pera cima moura por
ello morte natural , e fe for de valia de mil reaes , e
di pera baixo auerá as penas que ouuera, fe a dita
coufa furtara, fegundo for a valia da dita coufa, como
Diffemos no Titulo precedente : e todo eíto auerá
luguar, poíl:o que aguelle que affi tomou a dica coufa
alegue, que offerecia o preço da dica coufa ao poílui-
dor della, ou que lhe leixou o dito preço, porque
como for contra fua vontade, e por força , Auemos
por bem , que ajam as fobreditas penas. Porem fe
forem mantimentos de viandas , e o que as tomar
por força, e contra vontade de feus donos, for Caua..
lei..
CoMo os EsTALAJAD. SAM OBl'llG. AOS Fl1RT. ET c. r [ s
Ieiro, e di pera cima, ou femelhante pelfoa , nom
auerá luguar a pena deíla Ordenaçam , mas auerá as
penas que Diffemos no fegundo Liuro no Titulo
Itue os Senhores e Fidalguos nom tomem & e.

TI T U LO XXXIX.

Como os Ejlalajadeiros .fam obriguados aos furtos,


e dãnos que em juas ejlalageés f e f ezerem.

POR QUANTO Somos enformados que fe fazem


muitos furtos a algüas peíloas , que poufam em efta-
lageés, e outras cafas em que os aguafalham por feus
dinheiros, e affi fe cometem outros dãnos, e crimes,
Auemos por bem , que todo Eftalajadeiro, ou qual-
quer outra pe!foa que aguafalhar gente por dinheiro,
cada noute antes que fe vaa deitar çarre as portas da
fua eftalagem , ou cafa, pera o que terá fua chaue ,
ou chaues, de todas as portas que a dica cafa teuer ,
em modo que como as portas forem fechadas nom
poffa al g uem fahir fem lhe pedir licença; e como
for menhaã, e fe aleuantar, nom abrirá a porta, nem
leixará fahir ninhüa peífoa fóra atee nom preguntar
a toda a gente , que em fua cafa , ou eílalagem dor-
mir aquella noute, fe lhe falece, ou lhe foi furtada
al g üa coufa , ou lhe foi feito alguü mal , e dizendo
alguem que lhe falece qualquer coufa, ou lhe foi feito
alguü mal, nom leixará fahir ninhüa peffoa das que
P 1 ali
I 16 O ~INTo L1vRo DAS ÜRDEN. TrT. XL.

ali dormiram, fem primeiro o notificar ao Juiz da


Cidade, Villa , ou Luguar onde eíl:o acontecer, e
fem mandado do dito Juiz defpois que lho notifi-
car ; e nom fazendo a dita deligencia como dito he,
Auemos por bem , que o dito eíl:alajadeiro, ou peífoa
que a dita gente aguafalhou , feja obriguado a pa-
guar todo o furto , e dãno que fe prouar , que foi
feiro aa peífoa, que fe affi queixar.

-------------------
TI TV LO XL.
Das pef!oas que fam efcufas d'auer pena d•ar;outes, ou
outras penas viis. E dos cefos em que o nom deuem
feer.

POR Q!JANTO muitas pelfoas, quando fam


condenadas em penas d•açoutes, ou degredo com
baraço e preguam , ou fe temem de ferem condena-
dos nas ditas penas, ou cada hüa dellas , aleguarn ,
que nom deuem feer nas femelhantes penas conde-
nados, nem fe deu em nelles executar , affi por ra-
zam de fua linhagem, como por priuilegios que pe-
ra ello tem, fobre o que muitas vezes vem em duui-
da, quaes deuem feer releuados; ~erendo dar certa
regra, Mandamos que nom fejam executadas as fe-
roelhantes penas em os Efcudeiros dos Prelados , ou
Fidalguos, ou d'outras peífoas, poíl:o que Prelados •
ou Fidalguos nom fejam , que coíl:umam trazer
Efcu-
DAS PE.SS, QlJE SAM ESCUS, D'AVER PENA D'AÇOUT, J l7

Efcudeiros a caualo, ora o caualo feja do Efcudeiro,


ou de feu Senhor, nem cm moços da eílribeira Nof-
fos, ou da Ra ynha , ou Príncipe , ou dos Infantes ,
Duqu.es, Meílres, Marquefes , Prelados, Condes, ou
de qualquer do NoíTo Confclho , nem em Pages de
Fidalguos, que por Fidalguos eíl:euerem aífentados
em Noífos Liuros I nem em Juizes, e Vereadores,
e Procurador das Villas I ou Concelhos , nem nos
filhos dos Juízes, e Vereadores das ditas V ilias,
nem em M eftres , ou Pilotos de nauios de guauia ,
que andarem em Nauios Noífos , ou de cem toneis ,
e di pera riba, ainda que nom fejam NoíTos, nem
nos Amos, ou Colaços de Caualeiro de linhagem, e
di pera riba, ou dos Noífos Defembarguadores, nem
naquellas peffoas que prouarem, que coíl:umarn fem-
pre teer caualo de efiada em fua eílribeira. E eíl:o,
poíl:o que piaés , ou filhos de piaes fejam , nem nos
Mercadores que trautarem com cabedal de cem mil
reaes , e di pera cima.
1 EAvEMos por bem, que emluguar das ditas
penas d'açoutes com baraço e preguam fejam con-
denados em dous annos de degredo, com preguam
na Audiencia , pera cada huü dos Noffos Luguares
d' Alem , e fe aalem da pena d'açoutes for mais de-
gradado pera a Ilha de Sam Thome, ou Príncipe ,
ou outra femelhante Ilha por alguu tempo, ferá o de-
gredo, que em luguar d'açoutes lhe Mandamos dar,
de mais huü anno pera a dita Ilha foomente. E fen-
do o dito degredo pera cada hüa das ditas Ilhas pe-
ra
I 18 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XLI.

ra fempre, nom lhe ferá dado mais pena em lu-


guar d'açoures.
2 E QY ANDO foomente for condenado em degre-
do com baraço e preguam fem açoutes , ferá em lu-
guar do dito baraço condenado em mais huü anno
de degredo aalem do tempo em que vai condenado
pera o dito luguar, pera que vai degradado, com huü
preguam na Audiencia. E fe o degredo for pera
fempre, por que fe lhe nom pode acrecentar mais
pena , ferá o preguam pola Cidade ou Villa com
hüa cadea no pee.
3 E MANDAMOS que ninhüa peíloa, affi das fobre-
ditas. como d'outra qualquer qualidade que feja, nom
feja eícufo das ditas penas , nem de outra qualquer
pena viil, quando for acufado , ou condenado por
ladram• ou feiticeiro, ou alcouueteiro, ou moedeiro
falío , porque a taees como eO-es nom ferá recebida
ninhüa excepçam d'abonamento alguü, antes feram
executados como qualquer peífoa viil.

TI TU LO XLI.

Da pena que aueram os que acham aues , e efcrauos .•


ou quafquer outras coufas , e as nom entreguam
a Jeus donos , ne~J as apreguoam.

T O D O aquelle que achar aue alhea , ou outra


qualquer coufa, tanto que fouber cuja he, lha entre-
gue
DA PENA Q!YE AVERAM OS QYE ACHAM AVES ETC. II9
gue loguo, poíl:o que requerido norn feja ; e nom a
entreguando, e vfando della fem vontade de feu
dono , feja coníl:rangido que a torne a feu dono, e
mais {erá punido como fe a principio a furtára de
cafa de feu dono; e nom fabendo cuja he effa coufa
que aíli achou, manda-la-ha apreguoar em luguares
pubricos, e cuílumados, ante de trinta dias paffados,
e nom a mandando aíli apregoar , e vfando della
defpois do dito tempo, feu dono lha poderá deman-
dar, e lhe ferá julguada, e mais ferá punido de for-
to , como dito he. E vindo feu dono a demandar
e{fa coufa achada, no cafo onde o achador furto nom
cometeo , paguará primeiramente ao achador todas
as cuílas , e d efpefas que fez por achar, e confer-
uar e!Ià coufa que achou, e mais fe for caçador pa ..
guar-lhe-ha achadego, conuem a faber , do açor
prima cem reaes , e polo açor terçoo , e falcam pri-
ma cincoenta reaes , e por guauiam prima vinte
reaes.
1 E SE o que aíli for achado for feruo catiuo,
o achador o fará faber ao fenhor do efcrauo , ou ao
Juiz da cabeça do Alrnoxorifado da Comarca em
que for achado , do dia que o achar a quinze dias ,
e nom o fazendo aili faber auerá a pena de furto,
como dito he. E o Juiz deffe Luguar o notifique por
fua Carta ao Luguar onde o dono do efcràuo morar,
ou ao dito dono, e aa fua cufta fe leue o dito reca-
do, e aa pe{foa que teuer tal efcrauo por auél:oridade
de Jufüça fe dará por feu mantimento dez reaes
ca-
120 Ü 0EINTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XLI.
cada dia , e os dias que fc delle feruir nom auerá
coufa algüa polo dito mantimento , e mais auerá o
dito achador de íeu achadego , fe o dito eiê:rauo for
negro , trezentos reaes , e por efcrauo branco , ou
da India mil reaes. E por que muitas vezes aconte-
ce , que os efcrauos affi fogidos nom querem dizer
cujos fam , e aas vezes dizem que fam de hui:"1s fe-
nhores fendo d'outros, de que {e fegue fazerem-fe
grandes defpefas com o dito efcrauo , Mandamos
que o Juiz do Luguar onde affi for tazido o dito
efcrauo lhe faça dizer cujo he, e donde he, por tor-
mento de açoutes , que lhe dará fem mais figura de
Juizo, nem apellaçam, nem agrauo, com tanto que
os ditos açoutes nom paílem de trinta, e dcfpois que
no dito tormento affirmar cujo he, entonce faça as
diligencias fobreditas.
2 E PORQY E Somos certo , que muitas pefToas
prendem muitos efcrauos dentro na Cidade de Lix-
poa, dizendo que andam fogidos, e os leuam ao tron-
co, ou aa cadea, onde os leixam jazer fem fazerem
outra deligencia , de que fe fegue grande perda , e
defpefa a feus donos , Mandamos que tanto que affi
alguú efcrauo for prefo antes que o meta na cadea,
nem em outra algúa parte, o leue ao Corregedor da
dita Cidade , ou a qualquer outro Julguador, e lhe
digua como o kua prefo por andar fogido. O qual
Julguador lhe fará as preguntas necelfarias, pera veer
fe anda fogido, e diíl:o fe fará aífento; e fe ao dito
Julguador lhe parecer que anda fogido, o mandará
ao
DA PENA QyE AVERAM OS QyE ACHAM AVES ETC, 12.I

ao tronco , ou aa cadea, ou a feu dono, fe for mora-


dor na Cidade. E achando-fe que paffa de oito dias •
ou mais que anda fogido, mandará pag uar d'acha-
d ego ao que o achou cem rcaes foomente • fe o dono
for morador na dita Cidade; e fe fe prouar que anda
fogido fendo feu dono morador fóra da Cidade , ou
fendo o efcrauo achado fora dos muros da Cidade, e
de feus arraualdes , poílo que feu dono feja morador
na Cidade, e poílo que nom fejam pafiados os oiro
dias, paguar-lhe-ham o achedogo como Diífemos no
parrafo precedente~
3 E NAS outras couías que achadas forem , o
achador feja obriguado geeralmente em todo tempo
entregar iífo que achou , fem poder demandar acha-
dego , faluo k lhe for prometido.
4 E SE alguü achar lobo, ou aue caçador, que
leue prefo alguü cordeiro , ou outra couía algüa , e
lha tolher com feus caes , ou por outro qualquer
modo que feja, M andamos que a torne a feu dono
fem outro alguü achadcgo, e dcuem-lhe fecr pagas
as defpefas que fez por tolher effa coufa; e nom que-
rendo tornar iffo que affi tolheo, retendo-o forçofa-
mentc contra vontade de feu dono, cometerá furto.
5 ÜuTRO sr achando alguú algüa aue • ou ali-
rnaria féra em laço, ou em cepo, que outro armaíle,
em luguar que fegundo Dereito e Cuílume fe de-
uem armar , deue entrcguar iffo que affi achou em
laço alheo fem outro achadego.
6 E QYANTO aas beíl:as, e guado, Mandamos que
Liv. V. Q fe
122 Q ~lNTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XLII.
fe guarde o que Diífemos no Liuro terceiro no Ti-
tulo Como /e ham d'arrecadar, e arrematar as coujas
achadas de vento.

T l T U L O XLII.

Em que cafos deuem prender os malfeitores , e receber


querelas , e q(Ji das em que a Jujliça haa luguar , e ft
apel!ará por parle da Jujliça, e a cuja cujla /e fará
a acufaçam.

MANDAMOS a todos os Juizes, e Juíliças de


Noffos Reynos , e Senhorios , que poíl:o que algüas
pefioas queiram dar querela d'outras peffoas que lhe
di(Teram maas palauras, ou que faltaram com elles
pera os matar , ou pera lhes fazer outro mal , nom
lhes recebam querela, porem poderam demandar
fuas inj urias, e danos, dando petiçam, e ferá a parte
a que tocar citada pera o tirar das tefl-emunhas, nos
quaes cafos os Juízes as mandaram tirar, e proce-
deram fegundo fórma de Noffas Ordenaçoês. E os
cafos em que fe deu e , e pode receber querela, fam
os feguintes. ~ando for querelado d'alguern , que
fendo Chriit:aõ , ora antes foíTe Judeu, ou Mouro,
ora naceffe Chri(hõ , e que fé tornou defpois a fazer
Judeu, ou Moúro , ou a outra fec'h, ou que corne-
teo crime da lefa Mageíl:ade , ou que he roubador
d'efira-
EM QyE CASOS DEVEM PREND, OS MALF. ETC. I 2J

d'eíl:radas , ou matou alguem, ou que dormia com


molher d'ordem, ou que cometeo pecado de ince-
íto, ou que forçou algüa rnolher, ou que he fodo-
mitigo, ou alcouueteiro, ou falíario , ou feiticeiro,
ou forteiro, ou adeuinhador , ou que pos foguo em
paês, ou em vinhas , ou em outras coufas, ou que
he ladram, ou que ferio feu pay, ou ma}', ou que
fez affuada, ou quebrantou cadea, ou que faltou por
cima do muro, eíl:ando a Cidade, ou Villa çarrada ,
ou guardada, ou que fendo Carcereiro lhe fogiram
prefos, ou que fez moeda falfa, ou a defpendeo acin-
te, ou a cerceou, ou que diíle teílemunho falfo , ou
que o fez dizer, ou que cafou, ou dormia com criada
daguelle com que viue, ou que cafou com duas mo-
lheres , ou molher que cafou com dous maridos, ou
que fendo Official d"ElRey dormia com molher que
perante elle requeria, ou que fendo Infiel dormia
com algua Chriílaã, ou Chriílaõ que dormio com
algüa Infiel, ou que fendo degradado nom comprio
o degredo, ou que ajudou a fogir catiuos, ou que k-
uou coufas defefas pera Terra de ln fieis fem Noílà li-
cença, ou que foi, ou mandou refguatar aa Nolfa Ci-
dade de Sam Jorge da Mina, ou aas partes, e mares
de Guinee, ou que tirou arma na Corte, ou que arre-
neguou , ou pefou, ou por outra maneira pos indiui-
damence a boca em Noffo Senhor, ou nos Santos, ou
que arrancou em Preciffam, ou na Igreja, ou que tirou
com bceíla, poílo que nom feriffe, ou que he barre-
gueiro cafado, ou barreguã de homem caiado, ou
~2 bar-
124 O ~INTo LrvRo DAS ÜRDEN. Tn. XLII.
barregueiro Cortcfaõ, ou barreguã de homem Corte-
faõ, ou que he manceba de Creliguo, ou d'outro Re--
ligiofo, ou que he refiam, ou que reíiílio, ou defobe-
deceo aa Juftiça, ou que fez carcere priuado, ou que
tolheo alguu prefo aa J uíl:iça, ou que fendo prefo fo-
gio da cadea, ou que fendo Julguador deu o prefo fo-
brc fiança, ou fe differ que cometeo alguü cafo , no
qual he poíla cerra pena d'açoutes, ou de degredo
temporal, ou di pera cima, por algüa Noffa Ordena-
çam, a quem o tal cafo cometer; porque neíles cada
huü do pouo pode querelar, faluo fc for imiguo;
porque em tal cafo lhe nom ferá recebida querela ,
e fendo-lhe recebida querela por elle calar a imiza-
de , e defpois lhe for prouada a imizade por onde
a querela fique ninhüa, condenará o tal querelofo nas
cufias. Porem fe o tal querelofo for Alcaide, ou
Meirinho, ou cada huu dos feus homens, poderá que-
relar, poílo que imiguo feja, nos cafos onde por
Noílas Ordenaçoês lhe he expreffarncnte apricada
algüa pena de dinheiro por razam d'alguüs crimes,
nos quaes aalem da dita pena do dinheiro lhe he
poíla por Noífas Ordcnaçoes pena corporal. E bem
aíli todo imiguo poderá querelar d'algua peffoa que
he treedor, ou apoíl:ata , ou culpado em falfa moe-
da, ou que falfou final Noílo, ou fez e[criptura fal-
fa, ou que deu teflemunho falío, nom embarguance
que feu imiguo feja.
I E AVEMos por bem, que qualquer peffoa pofto
que feja Alcaide , ou Meirinho , que querelar d'ou-
trem
EM Q!!E CASOS DEVEM PREND. OS MALF. ETC. l 25

trem por contcmplaçam d'alguü feu imiguo, o qual


lhe ouueíle fegurado as cuílas , ou qualquer dãno
que por caufa da dita querela lhe pode(fe viir, que
a tal querela, e acufaçam feja ninhüa ; e o imiguo,
que polo dito modo fez o dito concerto , auerá
aquella pena , ou penas, que aueria aquella petroa de
que foi querelado, fe o dito maleficio lh e fora ver-
dadeiramente prouado, e a querela fora licitamente
dada.
2 E BEM affi fe pode, e deue receber querela,
que der qualquer peffoa que for ferida, fe moílrar fe-
ridas abertas, e fangoentas, ou pifaduras, ou nodoas
inchadas, e negras , quer digua que foi de prepo-
füo, quer em rixa; e nom as molhando nom lhe fe-
rá recebida querela por razam de feridas , que di-
gua lhe ferem . dadas; faluo fe moílrar alguü Auto
feito por alguü Tabaliam com auétoridade de Juiz,
em que der fee que lhe vio as ditas feridas da fór-
ma fobredita , e que proteílou querelar , tanto que
foubeffe quem o ferira ; porque em tal cafo dentro
de huu anno , poílo que já efiee faro das ditas feri-
das , viflo o dito Auto poderá perfazer a dita quere-
la. E eílo fe affi perfizer dentro de huü anno, do
dia que foi ferido ; porque nom a dando .dentro no
dito anno nom lhe ferá recebida tal querela , foo-
mente poderá acufar fem querela quem lhe bem
vier. E bem affi fe querelar d'algüa peffoa que lhe
cometeo adulterio com fua molher , ou da dita fua
molher, ou que lhe cortaram algüa aruore, ou aru9J
res que dem fruito. 3 E
I 26 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TJT. XLII.
3 E EM todos os cafos fobredicos a Jufiiça haa
luguar, e fc apellará por parte da Juíliça, quando
cada hüa das partes nom apellar, ou deíi!lir da acu-
façam , e eílo affi da fentença definitiua dada em
cada huü dos ditos cafos, como da interlucutoria que
aja força de definitiua; faluo no cafo da adultera ,
quando o marido lhe perdoar, ou no cafo do feri-
mento, quando a querela foi dada em rixa noua , e a
parte perdoar, e for faõ das ditas feridas, e fem alei-
jam, nem diformidade do roílo, em tal cafo tanto que
a parte affi perdoa a Juíl:iça nom ha mais luguar 1
e efle Julguador, que do cafo conhecer , mandará
foltar o acufado fe for prefo, fem mais apellar por
parte da J uíliça, faluo fe pala inquiriçam que já a
efie tempo for tirada fe moíl:rar, que o cafo foi de
prepofico, porque em tal cafo auerá a Juíl:iça luguar,
como nos cafos fobreditos , poíl:o que a parte nom
diffeífe que fora de prepofito. E fendo dada a que-
rela fem nella declarar que foi de prepofito , ou em
rixa noua, em tal cafo fe da fórma da querela fe
concludir que foi em rixa noua, nom auerá a Juíli-
ça luguar, como em cima dito he , quando expref-
famente diz na querela, que foi em rixa; e conclu-
dindo-fe da fórma da querela , que foi de prepofico,
auerá a Juíl:iça luguar , como fe na querela diífera
expreífamente que fora de prcpofito.
4 E BEM affi todo Julguador apellará por parte
da Jufüça , quando cada hüa das partes nom apellar
como dito he, quando ao feito d'alguü acufado, em
que
EM QYE CASOS DEVEM PREND, OS MALP'. ETC, I 27

que dee liuramento, for junta algüa deuaífa, ou


inquiriçam judicial pera o liuramento da dita pefioa
que fe affi Iiura, poíl:o que hi nom aja querela, e
poílo que ellc Julguador pronuncie o dito acufado
por liure, ou que a Juíl:iça nom ha luguar contra
elle pola dita deuaíla, nom fendo cafo de ferimmto
em rixa como dito he.
5 E SEN oo cafo que o dito acufado, defpois que
fe começar de liurar, ouuer perdam de Nós do cafo
por que fe affi liurar, Mandamos que fe o feito já
pender por apellaçam na Corte , ou na cafa do Ci-
uel, ou perante alguü De[embarguador , que Nós
Mandarmos com alçada , que o dito perdam fe offe-
reça perante os ditos Julguadores, que da apella-
çam conhecerem. E fendo o perdam conforme aas
culpas affi o pronunciaram, e nom leuaram d'affina-
tura mais de dous vintes. E fe o feito ainda nom
for apellado, e o Juiz que do feito conhece for
Corregedor d'algüa Comarca, ou Ouuidor por Nós
pofio, ou Juiz de Fóra pofto por Nós em algüa
Cidade , ou Luguar, elle verá fe o perdam he con-
forme aas culpas , e fe o pronunciar por conforme
nom ferá obriguado a apellar, e pronunciando-o por
nom conforme, apellará fe nom couber em fua alça-
da: e fe o Juiz que do feito conhecer for Juiz Or-
dinario , que fahiífe por eleiçam fegundo fórma
de Noffa Ordenaçam, veja o dito perdam com as
culpas, e parecendo-lhe que nom he conforme, affi o
pronuncie I e apeilará i e fe lhe parecer que he con-
for-
128 0 ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT- XLII.
forme, ponha feu parecer, e enuie os proprios Autos
com o dito feu parecer ao Corregedor da Comarca ;
e fe o Corregedor da Comarca for no parecer do dito
Juiz, aíli o pronuncie fem mais apellar; e fe nom
for no feu parecer apellará, fe nom couber em fua
alçada.
6 E SE o dito perdam for auido antes que o per-
doado feja acufado, fendo do dito perdoado dada
algüa querela , ou auendo deuaffa , e ellc refül:ar o
perdam ao pee da querela , ou deuaífa , em tal cafo
o Juiz nom procederá mais pola dita querela , ou
deuaífa, fe lhe parecer que he conforme; e parecen-
do-lhe que nom he conforme , entonce o prenda, e
mande feu parecer ao Corregedor da Comarca ,
nom fendo elle Juiz de Fóra, poílo por Nós como
dito he. Os quaes, aili o Corregedor, como o Juiz
de Fóra teram a fórma neíl:e cafo que em cima
Diífemos.
7 E o Juiz, ou Julguador que nom apellar pera
Nós em cada huü dos cafos fobreditos , onde Man-
damos que apellem nom cabendo em fua alçada,
íerá priuado do Officio , e nunca o mais aja , e mais
auerá aqueila pena , que aquellc, cujo feito lcixou
d'apel1ar, merecia por íuas culpas, e mais paguará
vinte cruzados , ametade pera quem o acufar , e a
outra pera Nolfa Camara.
8 E MANDAMos, que quando fe ouuer de receber
querela fe dee juramento nos Santos Auangelhos ,
cm que o querelofo poerá a maõ, fe daa a dita que-
re.
EM Ql.lE CASOS DEVEM PRENO. os MALF. RT e. r 29

rela bem , e verdadeiramente , e jurando-o affi , e


nomeando teílemunhas pera a dita querela, poendo-
lhes feus proprios nomes , e fobrenomes , e alcu-
nhas , e meíleres de que vfam, e onde fam morado-
res, em maneira que claramente fe poffa fabcr quem
faro as teflemunhas, e nom [e poífam ao diante to-
mar outras em feu luguar, e a parte affinará a dita
querela ; e fe nom fouber, ou nom poder affinar,
abaíl:ará o final do Juiz com a fee do Tabaliam, em
que faça rncnçam de como o querelofo nom fabia, ou
nom podia affinar; e bem affi dará fiança abafiante
a toda perda, e dãno, e cuíl:as , e emenda 1 e corre-
gimento, que fe fezerem fobre a dita querela, quan-
do a tal querela norn for de cafo que a elle toque,
ou pertença, e a deer como cada huü do pouo ,
a qual fiança ferá ao menos de vinte mil reaes; por-
que dando a querela de cafo que a elle toque, ou
pertença, nom ferá obriguado dar fiança ; e eíl:o
nom Je entenderá nos Meirinhos ., e Alcaides, quan-
do as querelas forem taees , de que fe lhe potra fe-
guir alguü proueito.; porque entonce daram fiança ,
e fendo affi dada por efla fórma o Juiz a receberá, e
affinará, e d'outra forma a dita querela ferá ninhüa.
9 E , '!:. o querelofo for Creliguo, ou Beneficiado,
ou qualquer outro Religiofo, ou homem d 'Ordem que
non feja de J urifdiçam Secular , nom lhe recebam
a querela , poíl:o que fcja de cafo que a elle toque,
ou pertença, fem dar fiança; e os fiadores que affi o
dito Creliguo der feram leiguos , e fc obriguaram •
Liv. V. R que


130 O ~INTo L1vRo DAS ÜR.DEN. TrT. XLII.

que fendo o dito querelofo condenado em cuílas, ou


em emenda, e corregimentos , que loguo por a mef-
ma fentença, em que o querelofo he condenado , fe
faça execuçarn nos bens deffes fiadores, em todo, e
por todo , fern mais pera ello ferem citados • nem
demandados, foomente feram requeridos pera a ex-
ecuçam.
IO E SEJA auifado todo Julguador , que nom re-
ceba querela, faluo fendo o que daa a dita querela
morador na foa Jurifdiçam, ou quando o crime for
cometido na foa Jurifdiçam, pofto que o querelofo
nella nom feja morador. E porem querelando pre-
fente o Corregedor da Corte, ou da Comarca onde
o tal maleficio fofie cometido, fer-lhe-ha recebida
a querela , e querelando em outros Luguares a que-
rela ferá ninhüa.
I I E Tooo Julguador, que ouuer de receber que-
rela em qualquer cafo, fe elle Juiz, ou Tabaliam, ou
Efcriuam com que toma a qu,.rela, nom conhecer o
querelofo, primeiro que lhe receba a dita querela
lhe mandará, que aprefente hüa teíl-emunha conhe-
cida , a qual digua que conhece feer o querelofo
aquella peíloa por que fe nomea, e onde he mora-
dor, e todo aífentará o Efcriuam , ou Tabaliam na
querela, fem a dita teíl:emunha affinar na dita que-
rela. E o Julguador que d'outra maneira receber a
dica querela paguará todas as cuílas , que por effa
caufa fe fezerem , porem a querela ferá valiofa.
12 E D.EFEND.t:Mos, e Mandamos aos Tabaliaes,
e
EM QyE CASOS DEVEM PREND. OS MALP. ETC. fJI

e Efcriuaês , que nas querelas que tomarem nom


efcreuam outra razoes, nem palauras , nem emadam
mais que aquello que as partes diíferem , efcreuendo
o feito , e cafo, pola guifa que o a parte querelofa
diífer, e contar, e mais nom; e o Tabaliam, ou Efcri-
uam que o contraira fezer, perca loguo o Officio, ·
e feja prefo pera lhe Mandarmos dar a pena de fal-
fo, ou outra , qual Noíla Merce for.
13 E SE os querelofos quiferem acufar, e deman-
dar, vam por eíles feitos em diante, atee que nellcs
deem liuramento com Dereito ; e fe acufar nom qui-
ferem, tomem eífes Juízes o feito pola Jufiiça , nos
cafos onde a Juíl:iça ha luguar, e façam as·acufa-
çoens aas c uíl:as dos querelofos , fe bens teuerem ,
ou de feus fiadores; e íe norn teuerem bens, nem da-
do fiança, feram loguo prefos, e fendo os acufados
prefos por razam deílas querelas traguam os quere-
lofos onde os acufados jouuerem , e far-fe-ha acu-
façam aas cufias dos Concelhos, onde os maleficios
forem feitos, e os ditos querelo(os nom feram foltos
atee que pagu em aos Concelhos todas as cuíl-as que
deueriam paguar, fe os feitos em peífoa feguiílem,
com todos os dãnos que os Concelhos por effa caufa
recebeífem. Peró fe os acufadores amoftrarem per-
ante os Juízes da Terra hu eífas acufaçoes forem fei-
tas, que os nom podem feguir por pobreza que ham,
fe defio as Juíl:iças forem certas , e jurarem etfes
acufadores que nom leixam de fazer as ditas acufa-
çoês por malícia , mas foomente por pobreza , di-
R2 guam
132 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XLII.
guam neíl:e cafo, aalem das teíl:emunhas nomeadas
na querela, os nomes das mais teílemunhas por onde
entenderem, que fe prouaram effas acufaçoes , e
entam nom fejam prefos, nem lhes façam mal por
eíla razam, e os Concelhos paguem eílas cuíl:as, nom
tendo o querelofo dado fiadores como dito he. Peró
fe eífes acufadores vierem a tempo de terem por on-
de paguem as ditas cuftas, façam-lhas paguar.
14 E s E as acufaçoes forem feitas na Corte, e
os acufadores querelofos fezerem certo de fua po-
breza , e jurarem , e nomearem teílemunhas como
dito he, façam os Efcriuaens d' Audiencia, hu effes
feitos ouuer, as efcripturas fem dinheiro, (dos quaes
defpachos nom paguaram chancelaria algüa ) as
quaes deueram paguar os acufadores ; e fe manda-
rem aas Terras tirar algüas inquiriçoês fobre effas
acufaçoes, paguem eífas inquiriçoes , que nas Terras
forem filhada s , das rendas dos Concelhos , hu effes
maleficios forem feitos, e as enuiem aa Corte , e
affi hirá na Carta, que fe pague aa cuíl:a do Conce-
lho. E fe acontecer , que os acufadorcs em alguu
tempo tenham donde paguar as ditas cuíl:as, façam ..
lhas paguar como em cima dito he.
1 5 E PORQYE alguüs querelofos querelam de mui ..
tas peíloas , metendo nas querelas grande numero
dellas , e muitas vezes poem nas ditas querelas
taees, que nom fam culpados , de que fe feguem
grandes opreffoes , Mandamos, que quando por al-
güas peHoas for de muitos querelado, loguo nas taees
que-
EM Q.YE GASOS DEVEM PREND. OS MALF. ETC. IJJ

querelas declarem, e diguam os querelofos , quaes


fam os principaes culpados nos cafos das ditas que-
relas , e deftes a!Ti nomeados poífam prender , e
prendam logo atee cinco, e mais nom, em caío que
mais principaes nas ditas querelas fe nomeem; e efto
fendo a querela daquelles cafos que nefta Ordena-
çam abaixo Declaramos, que por a querela foomen-
te podem prender , e os outros mais contheudos na
dita querela nom feram prefos em ninhuú cafo,
faluo quando fe moílrar por inquiriçam tanto por
que o deuern feer. Porem nom Tolhemos aa partee
querelofa fe os quifer acufar fem ferem prefos, que
o poffa fazer, os quaes fe liuraram em peífoa ,. fe-
gundo abaixo neíl:a Ordenaçam Diremos.
16 ÜuTRO sr Mandamos, quando alguG Eílran-
geiro querelar, e fezer prender alguú morador de
No/Tos Reynos , e Senhorios, e fe for pera fóra de
Noffos Reynos , e Senhorios , que feja loguo falto o
dito prefo, fem mais fe apellar por a Juíl:iça, e nom
feja mais acufado nem demandado polo contheudo
em tal querela, e acuíaçam ; e fe por a dita quere-
la fe andar liurando por Carta de feguro, e o quere-
lofo defpois de citado fe for como dito he , nom fe
procederá mais pola tal querela, porque a Auemos
por ninhüa , faluo fe o dito querelofo Eílrangeiro
teuer dado fiança aas cuílas , ou fe do tal maleficio
ouuer proua algua por inquiriçam deuaífa, ou por
euidencia do feito , ou por confiífam da pane,
ou por qualquer outro modo de proua , porque
em
134 o QEINTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XLII.
em cada huü defies caíos fe procederá contra elle
pola Juíliça, fe o maleficio for tal em que a Juíliça
aueria luguar, fe o dito querelofo nom foffe Efüan-
ge1ro.
17 E POR QlTANTO Temos vifto por experiencia o
grande dãno que {e em Noffos Reynos feguia das pri-
foes , que fe faiiam, por feer ordenado que por qual-
quer querela jurada, e tefiernunhada, e recebida
prendeífem aquelles, de que affi era querelado, ~e-
rendo euitar os ditos dãnos com tal ordem , que os
maleficios nom fiquem por punir, nem o Noffo pouo
receba tanta opreífam , e que fe faça toda juíl-iça ,
Mandamos, que toda peffoa de que for querelado por
querela perfeia , em cada huü dos caíos feguintes ,
feja loguo prefa. Conuem a faber, quando for quere-
lado d'algua peífoa que he apoílata, ou que cometeo
crime de lcfa Mageílade , ou roubador de eílradas ,
ou que matou homem, ou molhcr, ou que cometeo
pecado de inceílo , dormindo com algüa fua afcen-
dente , ou com fua irmaã , ou cunhada irrnaã de fua
molher , ou irmaã que dormio com feu irmaõ , ou
com feu cunhado irmaõ de feu marido , ou com fua
fogra , ou nora , ou enteada , ou madrafia. E bem
affi com fogro, ou genro , ou enteado, ou padrafio ,
ou que forçou qualquer molher , ou que he fodomi-
tigo, ou que he akouueteirçi , ou alcouueteiro dalgüa
rnolher pera alguü homem, ou que em fua cafa con-
fentio , que algúa molher , das contheudas no Ti-
tulo das Alcouueteiras , dormitre com alguú ho-
mem,
EM QYE CASOS DEVEM PREND. OS MALF. fT C. JJ5
mem , ou que he falfario, ou que hc feiticeiro de
tal feitiço , que fegundo Noífa Ordenaçam merece
morte natural, ou degredo pera a Ilha de farn Tho.
me, ou que pos fogo em paes, ou em vinhas, ou em
outras coufas acintemente , ou que he ladram de
qualquer furto que feja de cem reaes , e di pera ci-
ma, ou que he adultero , ou adultera , fendo quere-
lado por o marido, ou que ferio feu pay , ou mãy ,
ou que ferio em affuada , ou que deu cutilada polo
roíl:o á traiçam , ou de prepofito, ou quebrantou al-
güa cadea pera tirar prefos , ou que fez moeda fal-
fa, ou a cercea , ou deípende fabendo que he falfa,
ou o que dilTer teíl-emunho falío, ou que o fez dizer,
ou que c.:afa , ou dorme com criada daquelle com
que viue, ou que cafou com duas molheres, ou mo-
lhcr que cafou com dous maridos fendo ambos vi-
uos , ou Chriflaõ que dormio com algüa Infiel, ou
do Infiel que dormia com algüa Chriílaã , ou que
fendo Carcereiro lhe fogiram os prefos por fua cul-
pa , ou que ferio dentro nos Paaços onde Nós E11:e-
uermos, ou em feu circuito da primeira porta pera
dentro, nom fendo Fidalguo, ou que fendo piam
arrancou arma nos Paaços, ou em feu circuito como
dito he, ou que fendo piam ferio na Cidade, ou Villa,
ou Luguar onde Nós Eíl:euermos , ou a Noíl'a Cafa
da Sopricaçam fem Nós , ou em feus arraualdes ,
ou que ferio com beefta, ou que arrancou efpada,
ou punhal em algüa Igreja , ou Moefteiro , ou Pre-
ciífam , ou fe querelar dalgúa peffoa que cometeo tal
ma-
136 o ~lNTO LIVRO- DAS ÜIWE'.N. TIT. XLII.

maleficio , em que por Noffas Ordenaçoes he expref-


famente poíl:a pena de morte , ou degredo de dez
annos pera a Ilha de Sam Thome, e di pera cima ,
ou de cortamento de maõ.
18 E <UJANTO aos outros crimes, que nom forem
dos fobreditos , poílo que feja querelado por quere-
la perfeita, Mandamos que norn prendam palas fe-
melhantes querelas , fem embarguo de em algüa
Notfa Ordenaçarn di zer , que fejam prefos por a tal
querela, atee contra elles feer tant-0 prouado, porque
mereçam feer prefos. Porem fe fe os caees querelofos
quiferem loguo, tanto que dam· as dicas querelas , e
lhe forem recebidas, ou atee vinte dias contados do
dia que a dica querela for recebida, dar ao dito Jul-
guador, que lhe a querela recebeo , cres ou quatro
teftemunhas, Mandamos aas Notfas Juíl:iças, que as
ditas querelas tomaram, e receberam , que lhas pre-
guntem fecretamente com o Tabaliam que recebeo
a querela, polo contheudo na dita querela, fem a
parte feer pera ello citada, e rnoílrando-fe por as di-
tas teílemunhas tanto porque deua feer prefo, o que
ficará em arbítrio do dito Julguador , entonce o
prenda.
I 9 E NOM dando o dito querclofo as ditas teíl:e-
munhas fumariamente atee o dito tempo, ou dan-
do-as, e nom fe achando tanto por ellas porque deua
feer prefo , e o dito querelofo qu1fer acufar aquelle
de que affi querelou , manda-lo-ha citar , e dará li-
belo contra elle, e affi aprefentará a querela. E bem
affi
EM Q.YE CASOS DEVEM PREND, OS MALF. ETC. TJ7

affi fuípeitando aquelle de que aíli he querelado,


como a querela he dada delle , e querendo-fe del-
la liurar, mandará citar o querelofo, e tanto que ca-
da hüa das citaçoés for feita , ferá obriguado aquel.•
le de que am he querelado parecer nas Audien-
cias , aíli como feria fe tomafle Carta de Seguro ne-
guatiua, fegundo Temos dito quando o Seguro he
obriguado parecer , neíl:e Liuro no Titulo Da ordem
que o Julguador dcue tee-r nos Feitos Crimes.
20 E MANDAMOS, que neíl:es cafos onde por as
ditas querelas nom deuem loguo ,os querelados feer
prefos , que todos os querelofos, a que forem recebi-
das as ditas querelas , acufem os malfeitores de que
affi querelaram , do dia que lhes forem recebidas as
ditas querelas atee huü anno, nom fendo aquelles
de que a!li he querelado já prefos por algüa inqui-
riçam , ou proua. E fe os malfeitores forem fogidos,
ou abfentes , ou eíl:euerem acolhidos em cafa d'al-
guü poderofo onde os nom poderem citar , entonce
os querelofos os acufcm por editos, fegundo fórma
de Noíla Ordenaçam neíle Liuro no Titulo Em que
arfas Je procederá por editos. E nom acuíando os ditos
querelofos dentro no dito tempo, a Juíl:iça procede-
rá contra elles, e os acufará polas ditas querelas ,
fegundo fórma de Noffas Ordenaçoes. E os ditos
acufados feguiram as Audiencias como feguros ,
como em emcima dito he. E poíl:o que defpois an-
tes de o Reo feer liure o querelofo queira viir a acu-
far, nom ferá ouuido , pera lhe feer julguada emen-
Liv. r. S da,
138 o 0EINTO LIVRO DAS ÜRDEN.TIT. XLII.
da , nem corregimento, fe já a Jufiiça por o armo
feer paífado proceder contra elle. Porem fe quifer
ajudar a Juíliça podelo-ha fazer.
2 r E sEJA o Tabaliam auifado fob pena de perdi-
mento do Officio, que tanto que paffar o dito anno,
do dia que a querela for recebida, notifique ao Jul-
guador corno elle cem hüa querela de que he paffa-
do o anno íem por ella fe fazer obra , pera o dito
J ulguador por ella proceder fegundo fórma defta
Ordenaçam; a qual notific-açam efcreuerá ao pee da
querela, e o Juiz affinará.
22 E NOM Tolhemos, que em todos os malefi-
cios que forem feitos a algüa peffoa, de que pode
querelar fcgundo forma de Nofias Ordenaçoes, por
lhe a elle tocar, e pertencer, fe querelar nom qui-
fcr, poder demandar judicialmente contra a parte
contraira fua juftiça, e feu intereffe, e injuria, fen-
do a dita pane pera ello citada. Porem ie a parte
affi citada fe quifer liurar, nom fe poderá liurar por
feu Procurador, mas parecerá em peffoa nas Audi-
encias, e nom parecendo nom ferá ouuido feu Pro-
curador ; faluo fc o crime porque affi for acufado for
tam lcue, em que nom caiba moor pena que de
degredo temporal, ou di pera fundo , porque em
tal cafo fc poderá liurar por Procurador. Porem efto
nom auerá luguar fe elle tornar Carta de Seguro, e
fe com ella aprefentar, porque em tal cafo poíl:o
que o crime feja muito leue, fempre ferá obriguado
parecer em Juizo, e nom parecendo nom ferá ouui..
do por Procurador. 23
EM Qgt CASOS DEVEM PREND. OS MALI'. ETC. I 39

23 E QYANTo ao Acufador Mandamos, que fem-


pre pareça em peífoa nas Audiencias, faluo fe o cri-
me for tam leue, em que nom caiba moor pena.
que de degredo temporal, e di pera fundo, fe o Acu-
fado noin tomar Carta de Seguro; porque toman-
do-a fempre o Acufador parecerá, pois o Acufado
ha de parecer como emcima dito he.
24 E EST0 que emcima dito he no parrafo E 110m
'Tolhemos nom auerá luguar quando alguü quííer
acufar outra peífoa de morte d'alguü homem , ou
molher; porque em tal cafo o nom poderá acu-
far, fem primeiro delle querelar; faluo fe a outra
parte o citar que o venha acufar, por teer tomado
Carta de Seguro , ou por feer prefo por algüa de-
uaffa , que fe por caufa da dita morte tiraífe.
25 E BEM aíli Mandamos, que ninhuü Juiz,
Alcaide , Meirinho , e peífoa que tenha carreguo de
Noíla J uíl:iça, nom prenda , nem mande prender
ninhúa peffoa , fenom aquellas de que for querelado
de taees querelas, porque fegundo Noffas Ordena-
çoês Mandamos prender, ou contra elles fe acha-
rem culpas de deuaíla porque o deua feer, ou por
taees caufas que fegundo Noffas Ordenaçoés mere-
çam feer prefos, fob pena de quem o contraira fe-
zer encorrer em pena de dez cruzados pera os pre-
fos das Noffas cadeas , e alem diílo auerá aquelle
cafüguo que for Noffa Merce. Nas quaes penas o
condenará o Juiz que mandar faltar o prefo. E fe o
mefmo que o prendeo o mandar· faltar, poderá feer
S2 de-
140 0 ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XLIT.
demandado perante qualquer [eu Superior. Porem o
Alcaide , nem Meirinho , nem feus homens nom
prenderam por querela que lhe feja moíl:rada fem
mandado do Juiz;. faluo nom fe achando o Juiz,
como DifTemos no Liuro pómeiro no Titulo Do Al-
caide pequeno. E Mandamos que daquellas pefToas ,
que aíli forem prefas, nom façam de feus feitos fen-
tenças pera paffc1rem pola Chancelaria , poílo que os
feitos venham por apellaçam , fe eíleuerem os pre-
fos noLuguar, ou a cinco legoas,, onde os taees Jul-
guadores defpacharem os ditos feitos, foomente fi-
cará aílinado no proceílo polos Defembarguadores ,
e Juízes que a derem, pera ficar em poder do Efcri-
uam , que d::: tal feito for, e as partes leuaram Alua-
raes affinados por os Defernbarguadores , pera fua
guarda , de que paguaram foomente a ailinacura que
Temos ordenada de fe leuar dos Aluaraes, .e nom le-
uararn affinatura de taees fentenças.
26 E MANDAMOS que todo . Juiz, ou qualquer
outra Juftiça, que for negrigente em comprir qual-
quer Carta Precataria d'outra Juíl:iça , em que lhe
for mandado, ou requerido que prenda algúa pef-
foa, pague vinre cruzados, ametade pera quem o
acufar, e a outra metade pera a NofTa Camara , e
mais ferá degradado huü anno pera Alem ; e fendo
o cafo por que fe manda prender graue , ou aconte-
cendo de forte que pareça ao Julguador da moor al-
çada que merece mais pena, fer-lhe-ha dada a mais
pena, fegundo o cafo merecer.
EM Q17E CASOS DEVEM PREND, OS MALF, ETC. 141

27 ÜuTRO sr Mandamos, que ninhúa parte con-


denada em alguü feito ciuel, ou crime , poífa quere-
lar da parte, que contra elle ouue a dita fentença
de condenaçam , de ninhu ü cafo que feja em que
caiba querela, atee a dita fentença feer executada
com efeéêo em todo o em que for condenado de
dar, ou entreguar aa parte; faluo fe for cafo de fe_
1·idas abertas , que. os ditos condenados rnofirarem ,
e jurarem que lhe foram dadas, ou mandadas dar
polas partes , que contra elles ouueram fentenças.
E tanto que a dita execuçam com efeéêo for feita ,
entam poderam os condenados querelar das dicas
partes que as taees. fentenças contra elles ouueram ,
com tanto que nom querelem fenam de coufas que
a elles pertençam , ou daquelles rnaleficios, de que
os irniguos podem por Dereito , ou Noífas Ordena-
çoés querelar.
28 E PORQ11E muitas vezes acontece as partes
viirem nos feitos com artiguos de fobornaçarn, ou
falíidade, ou com outros femelhantes, e nom lhe fo..
rem recebidos , ou fendo-lhe recebidos nom ferem
os de que fe alli queixaram polos taees artiguos
condenados, e defpois hirem a outros Juízos quere ..
lar dos• mefmos cafos , de que já nos ditos feitos fe
trautou, e lhe fam as taees querelas recebidas, ~c-
rendo a efio prouer por fe euitarem femelhante.s ma-
licias, e opreífoés, Auemos por bem, que as quere-
las , que forem de coufas que toquem aos feitos que
já foram julguados , fe nom recebam fenom por
aquel-
142 O ~INTo LtvRo DAS ÜRDEN, TrT. XLII.

aquelles que foram J uizes na moor alçada , pofto


que as taees fentenças fej am dadas por taees Defem-
barguadores, ou Sobrejuizes, ou Corregedores do
Ciuel , ou outros femelhantes , que nom teem po-
der pera receber querela , porque Nós lhe Damos
poder pera as receberem nos cafos fobreditos , fendo
pera receber ; faluo fe os taees Julguadores furem
Creliguos, porque entam ~eremos que as taees
querelas fe nom poffam dar fenom perante o Corre-
gedor da Corte dos feitos crimes , naquelles feitos
que na Cafa da Sopricaçam foram defpachados, ou
perante os Ouuidores da Cafa do Ciuel, nos feitos
que na dita Caía do Ciuel forem defpachados. Os
quaes Julguadores , que aíli ham de receber as ditas
querelas, antes que as recebam vejam os feitos que
antre o querelofo e o querelado foram trautados , pe-
ra fe por elles primeiro enformarem , fe os ditos
querelofos vieram já nelles com artiguos da mate-
ria das querelas que querem dar, e achando que já
vieram com elles, nom lhe recebam as ditas quere-
las , poíl:o que os artig uos lhe nom folfem recebi-
dos ; faluo fe lhe ficaíle acerca delles fcu dereito ref-
guardado exprelfamente; e quaefquer querelas que
em eíl:e cafo em outra maneira furem dadas as Aue-
mos por ninhüas.

T 1-
Dos <UJE <UJERELAO MALICIOSAMENTE n e. 143

T I T U L O XLIII.

Dos que querelam maliciofamente, ou nom prouam


Juas querelas.

TEMOS por bem, e Mandamos , que íe alguü


querelar d'outro , e o Reo acufado for liure por fen-
tença da dita querela, e rnaleficio, por fe nom pro-
uar o contheudo em a dita querela, feja o tal quere-
lofo neífa mefma fencença condenado nas cuíl:as, e
em todo o dãno e perda, que o dito Reo por razam
deffa querela, e acufaçam receber , o que todo pa-
guará da cadea.
1 EMPERÓ fendo o querelofo achado em mali ..

eia , ferá condenado nas cuíl:as em dobro , ou em


trefdobro, íegundo a malícia em que for achado ,
como mais larguamente Temos dito no terceiro
Liuro no Titulo Da condenaçam das cujlas.
2. E ALEM deílo, fe o Julguador achar que o
querelofo querelou maliciofamente, ou que he reuol-
tofo, e vfeiro de dar taees querelas , e fazer feme ..
lhantes acufaçoes, dar.lhe-ha mais aquella pena
crime arbitraria , que lhe bem , e Dereito parecer•
fegundo a qualidade da malícia, e a proua que
dello ouuer•.

TI•
144 O OErNTo LrvR.o DAS ÜRDEN.TIT. XLIIII.
T I T U L O XLIIlI.

Em que cefos fe procederá por editos contra os malfeito-


res, que fe aijentarem , ou acolherem aas cafas dos
p oderefos , por nom ferem prefos , nem citados em
peffoa. E dos que os encobrem defpois que Jam conde-
nados.

QUANTO conuem a bom regimento da Repu-


brica os malfeitores nom paffarem fem pena, e
quanto atreuimento tomam , quando feus crimes
nom fam punidos , ou por elles ham menor pena ,
do que juftamente auer deuiam, a efperiencia o de-
moftra manifeíl:amente. Porem querendo Nós a efto
prouer, Mandamos ao Corregedor da Noffa Corte >
e aos Corregedores das Comarcas, e aos Ouuido-
res poíl:os por Nós em Noffas Terras , e a todos
os Juizes de Fóra poíl:os por Nós nas Cidades, e
Villas de No!fos Reynos , e Senhorios , que com
muita deligencia prouejam as deua!fas , e inquiri-
çoes tiradas fobre os m aleficios de mortes , e outros
graues , em que prouados caberia pena de morte
natural , ou ciuel. E contra as peffoas que acharem
culpadas façam cada huü dos ditos Julguadores em
os ditos Luguares de fua jurifdiçam poer editos ,
aíli no dito Luguar, onde fe o feito ouuer de pro-
ceílar , e am nos Luguares, e Praças de!les, onde os
malfeitores forem moradores ao tempo do malefi-
c10,
EM QYE CASOS SE PROCEDERA' POR EDITOS ETC, 145

cio, ou onde tem feus bens , e parentes, onde ao


J ulguador parecer que mais a finha virá á noticia do
dito culpado, que do dia que eíl:es editos fam pofios
a dous mefes , ou naquelle termo que lhes parecer
mais conuinhauel , fe venham liurar, e mofirar fem
culpa dos ditos maleficios em que fam culpados, de-
clarando nos ditos editos, que nom vindo, nem pa-
recendo ao dito tempo que lhes affi for affinado, fe
procederá contra elles aa fua reuelia; e achando-fe
culpados feram condenados aa morte, ou naquella
pena que for Dereito; e nos ditos editos fe poerá iífo
rnefmo que notificam aos parentes do morto , ou
partes a que tocar a acufaçam, que venham acufar fe
quifercm o dito culpado ; fendo certo que nom vin-
do as ditas partes, que nos ditos Luguares onde os
editos fam poflos, ou em feus Termos viuerem, a acU-
far em quanto o dito feito durar , que nom feram
mais receb1dos a acufaçam defpois que o feito for
findo.
1 E ESTA fórma de proceder por editos teram os
Ouuidores da Cafa do Ciuel acerca dos maleficios
fobreditos cometidos na Cidade de Lixboa , e feu
Termo.
2 E PASSADO affi o dito tempo dos editos que affi
poferem , e affinarem aos ditos malfeitores, proce-
dam loguo contra elles , e proceflem o feito aa fua
reuelia , atee o fazerem conclufo febre final , e fa-
bida a verdade os condenem naquella pena que por
Dereito merecerem , e das fentenças que affi contra
Liv. V. T os

li
146 o ~I\fTO LIVRO DAS ÜRDEN'. T1T. XLIV.
os ditos malfeitores derem , apellaram pera Nós por
parte da Jufüça, fe os Julguadores que affi os fen-
tenciarem nom teuerem alçada fobre o tal maleficio.
3 E A NTEs que mandem as apellaçoes faram poer
huü Aluará de editos de oito dias, por que lhe noti-
ficam como a dita fentença he dada no dito feito, e
apellada , que a certo termo, que lhe loguo no dito
Aluará ferá aíli limirado, vaa feguir a dita apellaçam;
e poílos affi os ditos editos nom ferá neceílario os
Juizes da moor alçada poerem outros editos, os quaes
Juizes que da apellaçam conhecerem deípachararn
o dito feito finalmente, condenando, ou abfoluendo
o dito acufado, fegundo acharem que he Dereito.
4 E QY A N To aos outros maleficios onde proua-.
dos nom cabe pena de morte natural , ou ciuel , e a
Juíliça pode auer luguar fegundo fórma de Noffas
Ordenaçoes , ~eremos , e Mandamos que fe os
ditos malfeitores fe acoutarem a cafa de alguüs po-
derofos , ou fe abfentarem em tal maneira, que ligei-
ra mente, e fem muita dificuldade nom poffam feer
preíos, nem citados em peffoa, pera fe delles fazer
comprimento de Juíl:iça , e as partes injuriadas, ou
danificadas quiferem demandar emenda , e corre-
gimento, e fuas injurias, e dãnos, fejam a ello re-
cebidas, e fejam-lhe dadas Cartas de editos na fór-
ma emcima declarada ; e fe nom vierem eíles mal-
feitores liurar-fe dos excdfos que lhes forem poíl:os
ao tempo contheudo nos ditos editos , proceda-fe
contra elles em fua abfencia atee definiciua ; e fabi-
da
EM (U1E CASOS SE PROCEDERA' POR EDITOS ETC. 147

da a verdade fejam condenados em emenda, e cor-


regimento pera as partes injuriadas , e feja loguo
feita execuçam realmente, e com efeéto, por effa
fentença em os bens do condenado, affi como feria
fe dada foffe em fua prefença; e fe o cafo tal for que
aalern da emenda , e corregimento da parte, o mal-
feitor mereça auer outra pena de juíl-iça, feja loguo
por eíles Julguadores condenado em ella em eífa
mefma fentença, dando-lhe pena de dinheiro , ou
degredo temporal, ou atee Noffa Merce, mandan-
do que fe faia fora da Cidade, ou Villa , ou fóra do
Bifpado, ou Comarca, ou dando-lhe outra qualquer
pena , fegundo os J ulguadores virem ; poendo logo
expreífamente em effa fentença , que a certo dia fe
faia fóra , e nom entre mais dentro durando o tem-
po de feu degredo , e fe o contrai ro fezer , e nom
obedectr ào que lhe for mandado , que o ham por
degradado por o tempo dobrado, ou que pague cer-
ta contia de dinheiro por fua defobediencia ; e nom
fe prouando contra· elles coufa , por que mereçam
condenaçam, os abfolua. E em eíl:es cafos onde pro-
uados nom cabe pena de morte natural , ou ciuel , a
Jufüça nom procederá por editos contra os abfen-
tes , fe a parte a que toca os nom quifer acufar por
editos.
5 E EM todos os fobreditos cafos , em que con-
tra alguú abfente fe proceder por editos , e for con-
tra elle dada fentença , por que feja condenado aa
morte , ou degredo , ou a outra pena corporal , feja
T 2 lo-
148 O ~INTO L1vRo DAS ÜRDEN'. TrT. XLIV.

Joguo a fentença pubricada com huú preguam na


Audiencia, e o Efcriuam do feiro faça log uo a Car-
ta da dita fentença, e feja affellada com o Noffo feio
redondo , e feja poíla por o Efcriuam no pelouri-
nho , e feia hi dado outro preguam da juftiça, que
aili Mandamos fazer em effe condenado , polo ma-
leficio que fez.
6 E SE for condenado que feja metido a tormen-
to , por hi nom auer proua inteira , nom fe pubri-
cará , foornente faram quanto poderem polo pren-
der, pera fe nellc faze r a dita d eligencia.
7 E SEN no condenados os ditos abfentes por os
Juizes da moor alçada, elles os pronunciaram por
bãnidos ; e fendo affi pronunciados por bãnidos
Mandamos a todos os Juízes, e Juíl:iças, que apeli-
dem fobre elles toda a Terra , pera os auerem de
prender ; e como for.em prefos , {e a condenaçam for
de morte natural ,. fejam loguo enforcados, ou de-
golados , fegundo na fentença for contheudo ; e fe
forem condenados em outra menor pena de morte ,
aili lhe fej am loguo dadas , e em todo as fentenças
contra elles executadas, fem mais apellaçam, nem
agrauo. Porem fe defpois de condenado, antes que
feja prefo, fe elle por fua liure vontade fe vier me-
ter na cadea , e quifer aleguar qualquer defefa , ou
contrariedade, que prouada o releuaria de todo de
pena , e fora ab[oluto fe a principio fe viera liurar,
e aleguara , ~eremos que lhe feja recebida , e fe
dilate a execuçam .atee fe dar [obre ello final liura-
rnen-
EM Q!lE CASOS SE PROCEDERA' POR EDITOS ET e. r49
menta ; com tanto que do dia que affi for condena-
do a huü anno fe venha meter por fua vontade na
cadea, porque vindo defpois do dito tempo , nom
ferá mais ouuido com defefa algua. Porem fe na dita
fencença aalem da pena corporal lhe for dada ou-
tra pena de dinheiro, e já for executada em feus
bens , poílo que [e venha meter _na cadea antes do
dito anno como dito he , e queira prouar , ou proue
tanto por que feja abfoluto , nom fc desfará a dita
execuçam , que ja na dita íua fazenda pola dita fen-
tença condenatoria for feita , foomente ferá ouui-
do quanto aa pena corporal como dito he. '
8 E AVE .Mos por bem, que nos cafos, onde affi
os ditos abfentes forem condenados aa morte natu-
ral , que qualquer do pouo os poffa matar fem pena,
fendo certo , que aquelles íam os proprios bãnidos,
que por os Juizes da moor alçada fam condenados
aa morte , e nom outros.
9 E PORQ!lE muitas vezes acontece , que fe pro-
cede por editos contra alguüs abfentes, eftando elles
em alguús NoíTos Coutos , ou Igreja acoutados, ao
tempo que fe poferam os editos, por os Julguadores
o nom faberem , Mandamos que enuiando os ditos
acufados Procurador, pera aleguar que fe nom pro-
ceda contra elles , por affi eíl:arem em os ditos Nof-
fos Coutos, ou Igreja, e que he cafo que lhes val ,
fejam recebidos pera aleguar , e prouar o que dito
he foomente ; e achando que he affi como alegua o
dito Procurador, ceifaram da dita acufaçam por
editos, 10 E
r 50 O ~INTO L1vRo DAS ÜRorn. TrT. XLIV.

10 E DEFENDEMOS, e Mandamos a todas as peí-


foas de qualquer eftado, e condiçam que fejam, que
defpois que os ditos malfeitores, e culpados em os
ditos maleficios forem condenados , e fuas fentenças
de condenaça~1 pubricadas , os nom traguam com-
figuo , fabendo que affi farn condenados , nem os te-
nham em fua cafa, nem em outra parte encobertos ,
antes os defcubram , e diguam aas Juíl:iças ; e fazen-
do o contraira, fe o que os affi comfiguo trouxer, ou
encobrir, for Fidalguo , ou Vaílallo , ou pefToa hon-
rada , e os taees malfeitores forem condenados em
pena de morte natural , pague por cada vez cem
cruzados d'ouro pera Noffa Chancelaria; e fendo os
taees culpados condenados em degredo pera a Ilha
de Sam Thome por qualquer tempo, ou pera cada
huü dos Luguares d' Alem pera fempre, ou em cor-
tamento de maõ , pague cincoenta cruzados pera a
dita Chancelaria; e fendo os taees condenados em
outras menores penas quaefquer que fejam , pague
vinte cruzados pera a dita Chancelaria ; e fendo pef-
foas de baixa condiçam em que caiba pena d'açoutes,
os que affi comfiguo trouxerem, ou encobrirem os
culpados, e condenados por alguüs maleficios por
fentença defpois de fer pubricada , Mandamos que
fejam pubricamente açouutados, e degradados atee
Naifa Merce.
11 E EM dres cafos procedam os Corregedores
das Coma·r cas, e os Juizes contra elles, julguando-0
por fentença, e dem apellaçam pera Nós.
12 E
EM QJJE CASOS SE PROCEDERA' POR EDITOS ETC. 15 I

12 E o QYE em cima dito he do que encobrir,


ou trouxer comfiguo malfeitor , defpois de íeer con-
denado , nom fe entenda nos parentes do banido
atee o quarto gráo , porque eíles Queremos que
nom paguem mais de trinta cruzados , fe a conde-
naçam for de morte ; e fe a condenaçarn for de de-
gredo de Ilha de Sam Thome por qualquer tempo,
ou pera as partes d' Alem pera fempre , ou de cor-
tamento de maõ, paguará quinze cruzados ; e fe a
condenaçam for de outra menor pena qualquer que
feja , paguará fete cruzados : porem efto nom auerá
luguar nos afcendentes por linha dereita affi do ma-
rido , como da molher , e bem affi nos irmaõs de
cada huü delles; por que eíl:es nom aueram pena al-
gúa por os affi encobrirem.
1J ITEM em todo cafo onde alguu culpado de
crime capital, por que mereça perder a uida natural,
eílado, ou liberdade da peíToa, fe abfenrou por caufa
do dito crime, poderá feer citado em fua peíloa, ou
por editos , que venha peffoalmente eíl:ar a Juízo, e
fe defender de tal crime; e nom parecendo ao ter-
mo que lhe foi affinado, em tal caío Mandamos que
fejam todos feus bens anotados , que fe chama em
Dereito efcriptos por E!Rey, e poílos em fieldade; e
efto affi feito, feja outra vez citado por editos , em
tal guifa que a citaçam , e anotaçam de bens, ve-
nha ou poífa razoadamente viir a fua noticia ; e fe
atee huü anno comprido, contado do dia que os ditos
editos forem poíl:os, nom vier per fi pelioalmente a
fe
J 52 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XLIV.
fe defender, e efcufar do dito crime , os ditos bens
feram de todo apricados aa Coroa do Reyno, e di
emdiante já mais em ninhuü tempo ferá ouuido fo-
bre elles. Peró fe quifer viir em alguü tempo a fe
efcufar, e moíhar fem culpa do dito crime, ferá ou-
uido compridamente com feu dereito, ficando já pe-
ra fempre os ditos bens confifcados , e feitos Dereito
Real. Peró acontecendo tal coufa em alguü violador
de paz , em tal cafo os ditos bens aili anotados nom
feram confifcados, faluo aa minguoa dos afcendentes.,
e defcendentes atee o terceiro gráo lidimo do dito
criminofo abfente, os quaes nom auendo hi ao tem-
po que o dito anno da anotaçam fofie acabado , fe-
ram apricados aa Coroa do Reyno, e feitos Dereito
Real. E a dita anotaçam , e perdimento de bens f e
nom fará , fe nom perante o Corregedor da Noíla
Corte em Rolaçam, e nom perante outro alguü Jul-
guador , pofro que dos ditos bens Tenhamos feita
merce a algua peífoa per a anotaçam dos bens. Os
quaes editos fenom poeram, fenom quando for tan-
to prouado por deuaífa, ou inquiriçam contra o ab-
fente, porque ao menos mereça fer metido a tormen-
to. Porem quando hi ouuer proua pera condenaçam
total do culpado, nom fe procederá á anotaçam ,
quando fe ouuer de proceder pala Juíl:íça; e quan-
do ouuer hi parte que queira acufar, eíl:ará em efco-
]ha da parte acuíar pera anotaçam , auendo hi proua
pera iffo, ou acufar pera condenaçam.
14 E SE polas dcuaífas das mortes que forem ti-
radas
EM 1
QJJE CASOS SE PROCtDERA POR. EDITOS ET C. I 53
radas, fe achar prouado, que os matadores mataram
de prepofito, ou mandaram matar, os Juízes man-
daram loguo efcreuer toda a fazenda do dito culpa-
do , e a focreílaram em maõ de pefioa fiel ; e fe a
molher , ou os filhos do morto quiferem acufar o
dito culpado a anotaçam , e perdimento dos bens •
o poderam fazer perante o Corregedor da Noífa Cor-
te ; e o dito Corregedor viíla a deuafia em Rola-
çam , e achando que he prouado contra o que fe diz
culpado, que elle matou de prepofito, ou mandou
matar, mandará poer editos affi na Corte, como no
Luguar do maleficio , nos quaes lhe declarará , que
fe dentro de huü anno , contado do dia em que os
editos foram poílos nos Luguares pubricos , fenom
vier em peffoa aprefentar em Juízo pera fe liurar •
que feus bens feram confifcados ; e paffado o dito
anno , e nom fe vindo affi aprefentar, íeram feus
bens confifcados , e entregues aa molher , e filhos
do dito morto, ou a cada huü delles que acufar, por-
que delles lhe Fazemos rnerce fem mais diífo tirar
outra Carta , nem Prouifam ; e fe os filhos do dito
morto forem menores , feus Tutores , ou Curadores
teram carreguo de requerer que os bens do matador
fe efcreuam , e fe ponham em focreíl:o , e que fe fa-
çam os editos corno emcima dito he , pera o que
Damos efpaço aa dita molher, e filhos do dito mor-
to, que do tempo da morte a dous annos primeiros
feguíntes os poffam acufar, e demandar , e no dito
tempo nom Faremos merce dos ditos bens do ma-
Liv. V. V ta-
154 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XLIIIT.
tador a outra ninhúa peffoa, em quanto ouuer mo-
lher, ou filhos do morto ; faluo fe expreffamente
elles differem que os nom querem auer , nem de-
mandar: e paffados os ditos dous annos fem a mo-
lher , ou filhos acufarem, e demandarem os ditos
bens , ou nom auendo hi a dita molher , ou filhos ,
ou pofio que os aja os nom queirain expreffamente
demandar, ou poíl:o que queiram acufar nom ou-
uer proua inteira da dita morte, e que folfe de pre-
pofito, em cada huü deíl:es cafos fe procederá con-
tra os culpados a anotaçam dos bens por parte da
Juíl:iça, naquella forma, e por aquella proua, que
Diffemos no parrafo fupra proximo.
I5 PER ó nom fe poderá proceder juntamente
contra huü abíente a anotaçam dos bens, e encarta-
mento , e condenaçam de pelfoa , mas procedendo-
fe contra alguü abfente a anotaçam dos bens, e fen-
do condenado que por fua contumacia perca os
bens , poder-fe-ha defpois proceder contra elle ,
quanro aa pena corporal gue por o dito maleficio
merecer. E fc fe primeiro proceder contra o dito
abfente qGanto á pena corporal , ora feja condenado
em qualquer pena , ora feja abfoluto , nom fe po-
derá mais proceder contra elle a anotaçam dos bens.
16 E MANDAMOS que em todo cafo que prouado
mereceria pena de morte , e for prouado contra al-
güa peílàa tanto porque rnereça feer prefo , quer
por deuaíla , quer por inquiriçam judicial, e a dita
peífoa andar abfentc, e nom eíl:euer prefo, fer-lhe.
ha
EM QyE CASOS SE PROCEDERA' POR EDITOS ETC. I 55
ha focreílada fua fazenda , affi mouel , como de
raiz, e nom lhe ferá dado coufa algüa della, atee
nom feer liure do dito cafo. E fe for cafo em que
prouado mereceria perdimento d e fazenda , quer
feja prefo, quer abfente , fendo tanto contra clle
prouado porque mereceíle feer prefo, fer-lhe-ha fo_
creílada iffo mefmo a fazenda , e nom lhe ferá en-
tregue coufa algüa della , atee nom moíl:rar liura-
mento do dito cafo ; faluo quando for prefo lhe fe-
rá dado della pera feu liuramenco, e mantimento,
aquello que ao Julguador que de feu feito conhecer
b em parecer. Porem fe elle for cafado nom fera m
focreíl:adas a fua molher em ninhuü dos cafos fo-
breditos a fua parte das nouidades, que lhe de Derei-
to nos ditos bens pertencer. E fendo o cafo tal que
prouado nom mereceria pena de morte, e for ta I em
que prouado algL1a parte teria nello intereffe alguü ,
e ouuer contra elle tanto prouado ( quer por deuaf-
fa , quer por inquiriçam judicial ) porque mereceria
feer prefo , e elle andar abfente , e fe nom vier li-
urar , em tal cafo nom poderá vender bens alguüs
de raiz que teuer atee feer liure ; e vendendo-os , a
parte affi ofienfa, que defpois vencer feu interelfe ,
terá auçam aos ditos bens, aíli como que eíl:eueílem
em poder do dito vendedor, que os vender.

T 1-
156 O ~INTO L1vRo DAS ÜR.DEN. TrT. XLV.
TITULO XLV.

~e nom façam vodas , nem baptifmos de faguaça , nem,


os amos peçam por caufa defeus criados.

POR Q U A N TO Ouuemos por enformaçam ,


como em Noffos Reynos, e efpecialmente nas Co-
marcas da Beira , e antre Douro e Minho, e Detra-
lofmontes , e Riba de Coa, fe vfa e cuíluma de fa-
zerem vodas , e baptifmos de foguaças, em que os
homens gafiam,. e defpendem muito de fuas fazen-
das, e aalem diílo dos ajuntamentos das taees vo-
das , e baptifmos fe feguem mortes de homens, e
outros maleficios , ~erendo fobre ello prouer, De-
fendemos , e Mandamos que ninhuü Fidalguo, ora
fej.a Senhor de Terra, ora nom, Alcaide Moor, Ca-
ualeiro , Efcudeil'o , nem outra peíloa de qualquer
qualidade , e condiçam que feja , nom faça por fi ,
nem por entrepoíl:a peífoa daqui em diante voda de
foguaça , ou dinheiro , nem polTam conuidar pera o
jantar, ou cea dos noiuos pelToas a\güas , faluo os
parentes dentro do quarto gráo; e quem o contraira
fezer, affi os que conuidarem, como os que forem
conuidados. , e forem aos ditos conuites, poílo que
nom leuem dinheiro, nem foguaça, nem coufa al-
güa , nem a deem pera a dit.a vocla , fej am açouta-
dos , e degradados com baraço e preguam pola Vil-
la por dou s annos pera cada huü dos Noffos Lu-
guares d' Alem ; e fendo de tal qualidade em que
nom
~ E NOM FAÇAÕ VODAS, NEM BAPTJSMOS ETC. J 57
nom caiba pena d'açoutes , nem de degredo com
baraço e preguam pola Villa, fejam degradados por
quatro annos pera cada huü dos ditos Noífos Lu-
guares d' Alem com preguarn na Audiencia. E os
parentes dentro do quarto gráo nom daram pera a
dita voda coufa algüa , e dando-a encorreram nas
mefmas penas fegundo a diferença das pefToas. E em
eíl:as penas , fegundo a dita diferença da qualidade
das pefToas , encorreram todos aquelles polo modo
fobredito, que por fi, ou por outrem conuidarem, e
os que forem conuidados, e forem aos conuites dos
jantares , ou ceas, que fe fezerem por caufa d'alguüs
baptifmos.
1 E BEM aili por que alguüs amos de alguüs Se-
nhores de Terras, e Fidalguos de Noífos Reynos ,
que lhe feus filhos criam, quando lhos leuam pera
fuas caías, defpois que os acabam de criar, pedem
a muitas pefToas, que lhes ajudem com_ paõ; vinho,
vacas, e carneiros , aues, e outras coufas , pera k-
uarem aas ditas pefToas cujos filhos criam, como
de feito lhas leuarn , o que nom Auemos por bem •
antes Mandamos que ninhuü amo de ninhüa peífoa
nom peça a peífoa algüa polas fobreditas maneiras ,
nem tomem o que lhe affi derem , e fazendo o con.
traira aueram as penas que emcima Pofemos aos
que fazem vodas, ou baptifmos de foguaça, frgun-
do a diferença da qualidade das peífoas.
2 E QYEREMos que por os cafos todos contheu-
dos ne.íl:e Titulo, nom poífa feer demandada, nem
acu-
1 58 O ~INTO LrvRo DAS ÜRDEN. TrT. XLVI.

acufada peffoa algüa , faluo dentro de huü anno do


dia que os ditos cafos cometerem, e palfado o dito
anno fenom forem antes prefos, ou citados por ello,
nom poderam mais polos ditos cafos feer acufados ,
nem demandados.

---~--- ----·--- -----


T I T U L O XLVI.

Dos excomungados , e da pena que ham de paguar.

Q UALQYER que for excomanguado, tanto


que for denunciado por excomunguado ao pouo
( nos Luguares em que fe deue denunciar) por feu
Prelado, ou por aquelle que ouuer poderio de o
excomunguar , fe fe nom abfoluer, e fahir da dita
. excomunham ao tempo que lhe for afiinado polo
Juiz Eclefiafüco , e for contra elle pedida em a
Noífa Corte , e Cafa da Sopricaçam , e impetrada
ajuda de braço fecular , Mandamos gue feja prefo
por qualquer Jufüça de No(fos Reynos, a que for
requerido com a dita Carta de ajuda de braço fecu-
lar, e pague di em diante a pena , que Diífemos no
primeiro Liuro no Titulo Dos Alcaides Moores.

T 1-
Dos EXCOMUNGUADOS APEL LADOS. 159

T I T V L O XL VII.

Dos excomunguadns apellados.

MANDAMOS que knd~ algüa fentença dada


por Juiz Eclefiaílico contra alguü Creliguo, ou Be-
neficiado , ou contra Leiguo , no cafo em que he de
fua jurifdiçam , pofio que a fentença dada contra o
Creliguo nom feja fobre poffe de Beneficio, fe o
Creliguo ·, ou Leiguo apellar pera a Corte de Roma
no cafo que podem apellar, e pendendo a apella- ·
çam , e ante que o tempo do frguimento della feja
acabado , pedir Carta porque pendendo a dita apel-
laçam fe nom proceda contra elle por Noffas Juíli-
ças, nem feja prefo , nem euitado, nem lhe leuem
penas d'excomunguado , Auemos por bem de· lhe
feer dada a cada huü delles , quando mofirarem por
efcriptura pubrica que apellaram, (pofio que as apel-
Iaçoês lhe nom fejam recebidas) e feguem fuas apcl-
laçoês ; por quanto aili foi fempre vfado , e prati-
cado , e fe cufiumou fempre as femelhantes Cartas
cm Noíla Corte ferem dadas por os Defembargua-
dores do Paaço.

T J..
] 60 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XL VIII.
T I T U L O XLVIII.

Comofam defefas as cartas, e dados.

M ANDAMOS, e Defendemos, que peffoa al-


güa de qualquer qualidade que feja , em todos Nof-
fos Reynos , e Senhorios , nom jogue cartas , nem as
tenha em fua cafa, nem poufada , nem as tragua
comfiguo , nem as faça , nem as tragua de fóra ,
nem as venda.
r E QY ALQYER que canas fezer, ou as trouxer
de fóra do Reyno , ou as vender em algüa parte de
No!Tos Reynos , e Senhorios, Mandamos que feja
prefo , e da caclea pague vinte cruzados fe for piaõ ,
e feja açoutado pubricamente com baraço e pre-
guam ; e fe for d'outra moor condiçam feja degra-
dado huü anno pera Nofia Cidade de Cepca, e pa-
guará quarenta cruzados.
2 E QY ALQY ER peffoa a que for prouado, que
joguou com cartas qualquer joguo, ou lhe forem
achadas em cafa, ou as trouxer comfiguo , pague
da cadea fe for piaõ dous mil reaes, e fc for d'outra
moor condiçarn paguará dez cruzados, e mais perca
todo o dinheiro que fc prouar que no dito joguo
guanhou, ou que lhe no dito joguo for achado.
E eíl:o fe nom entenderá no dinheiro que nas bolfas ,
ou em outra parte comfiguo teuerem , que nom te-
nham metido , ne·m pofto no joguo.
3 E NESTAS mefmas penas, que Dizemos do que
faz
COMO .SAM DEFESAS AS CARTAS E DADOS. 161

faz as cartas, ~eremos, e Nos praz, que encorram


aquelles que joguarem os dados; faluo fe joguarem
os joguos que fe em tauoleiro com tauolas joguam •
os quaes joguos de dados com tauolas em tauoleiro
nom Vedamos , porque os homens tenham em que
fe defenfadarem.
4 E sE for prouado que algüa peífoa fez dados •
ou cartas por qualquer maneira falíificados , ou que
com os ditos dados, ou cartas , fabendo que eram
falfos joguou , ou lhe forem achados em feu poder
falfificados , fe for piam fcja açoutado pubricamente
com baraço e preguam , e degradado dez annos pera
a Ilha de Sam Thome , e fe for de moor co1_1diçam
ferá degradado os ditos dez annos pera a Ilha de
Sam Thome foomente , e mais pague , affi o piam
como de moor condiçam, anoueado todo o que com
as ditas cartas , ou dados falfos guanhar; e gua-
nhando vinte cruzados , ou fua valia, com as ditas
cartas, ou dados falfos, e di pera riba , ou fua va-
lia , aalem das noueas feram degradados pera fern-
pre pera a Ilha de Sam Thome ; e todo eílo aalem
de paguar a pena que emcima Diffemos dos que jo-
guam com cartas, ou dados.
5 E MANDAMOS que peíloa algüa de qualquer
condiçam e qualidade que feja , nom leue dinheiro
de tauolagem por joguarem em fua caía, nem lhes
dee de comer, nem de beber em fua cafa por di-
nheiro aos que joguarem em fua cafa ; e o que o
contraira fezer pague cincoenta cruzados , e feja de..
Lv. V. X gra-

12
162 O ~INTO L1vRo o.As ÜRDEN. Tn. XLVIII.
gradado dez annos pera a Ilha de Sam Thorne ;
e fendo piam aa!em dello ferá açoucado pubrica-
rnenre.
6 E os que em os fobreditos cafos de joguar
cartas , ou dados forem culpados, poderam feer ci-
tados , e acu fa dos , ou d emandados do dia que co-
meterem cada huú dos ditos maleficios atee quatro
mefes primeiros feguinres ; e os que em os outros
cafos fobredicos de fazer cartas , ou vender , ou tra-
zer , ou joguar com cartas , ou dados falfos , ou por
terem tauolagem como dito he , poderam feer acu-
fados atee huú anno, e mais nom •.
7 DAs quacs penas fobrcditas de dinheiro, con-
theudas em toda eíla Ordenaçam , ametade ferá pe-
ra quem os acufar, e a outra metade pera Nofià Ca-
mara. E quanto ao dinheiro, ou ouro, ou prata que
for achado no joguo, ferá ametade do que o achar .,
e a outra metade do Alcaide Moor do Luguar, on-
de affi for achado joguando , fegundo no Titulo
D os Alcaides Moores no Liuro primeiro he dito. As
quaes penas de dinheiro fe nom entenderam . nos
efcrauos catiuos, mas em luguar da pena do dinhei ...
ro feram açoutadcs ao pee do pelourinho , onde lhe
feram dados vinte açoutes ; faluo fe o fenhor do
efcrauo quifer paguar a dita pena de dinheiro por
elles.

TI-
~E NOM D&l!M CART. DE S~GUR. EM CASO DE l"ERID. I6J

T I T U L O XLIX.

~e nom deem Carla de Jeguran~a em cafo de feridas


aberlas alee paf)arem trinta dias, e em cafo de morte
atee Ires mejes.

MANDAMOS que no cafo de feridas abertas,


e fangoentas, ou pifaduras, ou nodoas negras, e in ..
chadas , fc nom deem Cartas de fegura-nça atee fe-
rem paffados trinta dias , do dia que o maleficio foi
feito atee a dada deíl:a Carta, e que afli vaa poíl:o
neífas Cartas de fegurança , fe os ditos trinta dias
faro paffados & e. E no cafo de morte de homem ,
ou rnolher, Mandamos que fe nom deem as ditas
Cartas de fegurança atee ferem paífados tres mefes 1
contados do dia que a morte acontecer; e fe algüa
Carta paífar ante do dito tempo fem Noffo cfpecial
mandado , ou de quem pera iífo Noffa auél:oridade
teuer, nom feja guardada.
1 E ESTO aja luguar quando o que ouue Carta
de fegurança negua o maleficio, porque no cafo
onde elle confeífar o maleficio , e alegua por fi algüa
defefa, fendo tal a defefa que por Dereito, ou Noífas
Ordenaçoês lhe deua feer recebida , em tal cafo
Mandamos que fe dee Carta de fcgurança em todo
tempo , fem aguardar mais alguü dia.
2 PERÓ no cafo de morte onde alguü pedir Car-
ta de fegurança com defefa Mandamos , que ante
X2 que
164 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XLIX.
que lhe feja concedida, as inquiriçoês deua{fas fobre
a dita morre feitas, e tiradas, fejam viílas em Rola-
çam polo Corregedor da Noffa Corte, a que de taees
feitos pertencer o conhecimento , e por outros Def-
embarguadores , que ao menos com o Corregedor
fejam cinco ; os quaes vejam as-ditas inquiriçoês , e
fe por cllas acharem o que a dita Carta pede clara-
mente culpado em o dito maleficio, em tal guifa •
que razoadamence emendam que nom pode feer re-
leuado da pena, nom lhe daram Carta de fegurança,
porque bem parece, e fe moftra que a pede mali..
ciofamente ; e fe polas ditas inquiriçoês deuaílas o
feito nom for muito claro, em tal guifa, que aos
Julguadores pareça· que razoadamente fem · outra
falfidade -fe pode prouar a razam , e defefa aleguada
por parte do que pede a dita fegurança, em. tal cafo
lhe feja dada a dita Carta de fegurança com a dita
defefa. E quando as inquiriçoés todas, affi do princi..
pal , como da defefa , forem abertas, e viílas em Ro..
laçam, poderam eífes Defembarguadores, que do
dito feito - conhecerem , veer o dereito affi da parte
da. Juftiça, como do dito Seguro, e fazer dereito
fegundo polo feito acharem.
3 ÜuTRo s1 Mandamos, que as peffoas que as
ditas Cartas de íeguro pedirem , e as quebrarem , e
nom feguirem os termos -dellas , poífam impetrar
atee tres Cartas de fegurança dos No!fos Corregedo..
res , e Defembarguadores, que pera ello fam depu-
tados pera. as dar , e conceder ; e fe a quarta Carta
qu1-
~ E NOM DEEM CART. DE SEGUR. EM CAS. DE FERJD, 165
quiíerem pedir, e impetrar, nom lhe íeja dada fem
Noffo e(pecial mandado por Nós affinado. Nas
quaes Cartas declarará fempre as que ja quebrou ,
e d'outra maneira nom lhe valerá a que dereita-
rnente impetrar. E quando affi impetrar a fegunda,
ou terceira Carta , paguará aas ditas partes as cuíl:as
do retardamento em dobro. pera que poeram cau-
çam antes que lhe feja pa!fada a Carta frgunda , ou
terceira, a qual cauçam ferá a que parecer ao que
lhe a dita Carra paífar, e affi paguará a affinatura da
fegunda, ou terceira Carta em dobro, fe o dito Jul-
guador ouuer de leuar affinatura ; é tanto que lhe
concedidas forem , tornará a citar as partes , pofio
que as já teueffe citadas polas Cartas, ou Carta que
affi quebrou.
4 E QY ALQYER peffoa que teuer defembarguo
pera auer Carta de feguro , poderá com ella andar
feguro tres dias contados do dia que ouuer o defem-•
barguo, os quaees lhe fam dados pera tirar fua Çar-
ta , fendo a petiçam conforme aa querela, e paílados
os tres dias lho nom guardem fcm mofirar Carta
pa!fada pola Chancelaria ; faluo fe por culpa , ou
impedimento do Efcriuam a nom podeffe auer, o
qual Efcriuam neíl:o ferá crido por feu juramento.
5 E MANDAMOS ao Noffo Corregedor da Corte,
que em as Cartas de fegurança, que paffar de mor-
tes d'algüas peffoas , mande poer claufula nas ditas
Cartas, pera os Juizes dos Luguares onde as mortes
aconteceram , que enu1em as deuaífas que fobre as
di ...
166 o ~INTO LIVRO 'DAS ÜRDEN. TIT. L.
ditas morres fe tiraram acerca das malfeitorias , e
aíli os treslados das querelas dadas fobre as ditas
mortes , fe as hi ouuer, e preguntem deuaffamcnte
as tefiemunhas em cllas nomeadas, fe nas ditas dc-
uaílas preguntadas nom foram.

---------·---------
TITULO L.

Das feguranças reaes, como ·' e porque deuem fe.er dadaJ.

S E alguü homem fe temer d'outro por algüa ju-


fta razam, e pedir aas Jufüças da Terra que o fa-
çam delle ícgurar, e defpois que o Juiz for infor-
mado da razam porque fe affi teme , e pede fegu-
rança, fe viir que tem jufta razam pera fe temer ,
mandará viir perante fi aquelle de que pede fegu-
rança, ou hirá a elle, ou mandará o Alcaide de{fa
Cidade, ou Villa onde fe acontecer, fegundo a qua-
lidade da peíloa for, e requerer-lhe-ha da parte Nof-
fa que fegurc aquelle que pede delle fegurança , e
fe o fegurar, mandar-lhe-ha dar dello aili huü Eíl:or-
mento pubrico , ou Carta teíl:emunhauel, fegundo
que for o Juiz ; e nom o querendo fegurar, o Juiz o
fegurará de Nofla parte de dito, e feito , e confelho,
e alem deíl:o punirá aquelle que nom quifer dar a
dita fegurança per feu mandado por o defprefo que
lhe aili fez, a qual pena ferá fegundo a qualidade da
pef-
DA S S E G U R A N Ç AS R E A E S E T C. 167
peffoa, e a razam que ouuer , e diífer, porque nom
fez o mandado do Julguador; e fe for pdfoa d'efta-
do, e juíla razam nom aleguar, poer-lhe-ha pena de
dinheiro , ou o emprazará, que a certo dia pareça
perante Nós per peffoa a fe efcufar, porque nom
comprio o mandado de Noffa Juíliça; e fe for outra
peíloa, degrada-la-ha da dita Cidade, ou Villa, ou o
mandará prender atee que dee a dita fegurança, e
eíla fegurança he geeralmente chamada Segurança
Real.
1 E SE alguü vier aa Noífa Corte agrauar-fe d'al-
güa peffoa, que lhe fez fem razam, e o ameaça, e por
temor que delle ha pede delle fegurança, e aleguar
algüas taees razoes porque aja razam de fe temer
delle, fer-lhe-ha dada por o Corregedor da Corte ,.
dos Feitos Crimes Carta de Segurança Real pera o
Corregedor da Comarca, ou Juiz da Terra, fegundo
for a qualidade da peífoa que ouuer de fegurar., os
quaes, Corregedor, ou Juiz , teram acerca da dita
fegurança a maneira fobredita.
2 PERó fe alguü pedir a dita fegurança do Se.
nhor da Terra onde viuer, ou que tenha fobre elle
jurifdiçam , nom lhe ferá dada a dita Carta fenom
com grande e juíla razam , e moftrando primeira-
mente por efcritura pubrica , ou alguü fumario co-
nhecimento, taees agrauos auer delle recebidos , per
que lhe deua com juíla razam feer concedida a dita.
fegurança.
J E NOM dará o dito .Corregedor Carta de Segu-
ran-
168 O ~tNTo LIVRO DAS ÜRDEN. TrT. L.

rança Real a alguü Concelho , e bem aíli a nom da-


rá contra Concelho , mas da-la-ha contra pefloas
particularmente nomeadas.
4 E MANDAMOS , que qualquer peffoa que fobre
fcguro poílo por algüa Noffa Juíbça ofender, ou
injuriar outra que delle teueffe o dito feguro, aja a
pena, affi ciuel , como crime, em dobro da que me-
recera pola dita ofença, ou injuria, fe o dito fe-
guro antre el!es nom fora poflo ; e fe a pena que
merecera fem o dito feguro feer poílo for tal, que fe
nom potra dobrar, aíli como morte natura,!, ou ciuel,
ou outra femelhante que fe nom pofra dobrar, fique
em arbitro do Julguador dar-lhe outra mais pena
fegundo o cafo merecer. E efta mefma maneira fe
terá em quaefquer cafos , onde por Noffas Ordena-
çoés Mandamos polo femelhante modo dobrar as
penas.
5 E Q!IANDO alguü ferir, ou mandar ferir qual-
quer peifoa que com elle trouxer demanda , poílo
que antre elles nom aja feguro, fcnom fe prouar que
foi mouido ao ferir por outras injurias, ou caufas
que pera el!o teueffe. foomente por affi andarem em
demanda , aalem das penas que por outras Noffas
Ordenaçoês merecer, perderá todo o dereito, que
na caufa fobre que _era a demanda pretendia teer,
em fua vida daquelle que aíli ferio, ou mandou ferir,
e feus herdeiros por fua morte o poderam profeguir.
6 E srnoo alguú grande defuairo antre taees, e
cam grandes pelToas, de que fe podelfe feguir grande
dãno
DAS S E G U R A N Ç A S R E A E S E T e. I 69

dano ao Reyno , e ao pouo , e Noffo defieruiço , em


tal cafo N ós com Acordo do Noffo Confelho, Man-
daremos viir prefente Nós aquelles antre que prin-
cipalmente he o femelhante defuairo , e prefente o
Noffo Confelho lhe Diremos como Acordamos per
feruiço de Deos, e Noffo , Poermos entre elles a dita
Segurança fem requerimento de cada huü delles, mas
foomente por bem de Noffos Reynos, e Noíl'o fer-
uiço Acordamos de poer antre elles Segurança Real
por Noffa Peffoa, Declarando-lhe, que a Damos por
Nós por tal que elles ou cada huü delles ajam ra-
zam de airecear o rompimento della , e de encorrer
nas penas que encorrem aquelles que as ditas Segu•
ranças per Nós poíl:as quebram.
7 E PORQY E alguas vezes acontece feer def-
uairo , e homezio antre taees peffoas , que ham por
abatimento ped irem a Nós , nem a Noffas Juíli-
ças taees Seguranças , emperó nom fam daquelle
eílado , e grandeza , de que fam as peíloas de que
em o capitolo precedente Falamos , em taees cafos
confirando Nós o feito, e tempo , e a qualidade das
peffoas, fe Nos parecer que Deuemos per Nós nello
entender, os Mandaremos chamar aa Noífa Cort-e,
poílo que Nos nom feja requerido per algüa parte, e
per o Corregedor da Noífa Corte com dous Efcri-
uaes lhe Mandaremos, que fe fegurem ; e fe o fazer
nom quiferem Procederemos contra elles aa prifam
em alguü Caílello , ou em outro Luguar atee que fe
fegurem , ou lhe Darem os outras penas , fegundo Nos
bem parecer.
Liv. Y. Y, T 1-
170 o ~lNTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LI.
TITULO LI.

Da pena que aueram os que fizerem ajfuada , ou


quebrarem porias.

Q U A L Q_U E R peífoa de qualquer qualidade


que feja, que com ajuntamento de gente, aalem dos
que em fua cafa teuer, entrar em cafa d'alguem pera
lhe fazer mal , e o ferir a elle, ou a qualquer outro
que na dita cafa eíl:euer, moura por ello morte na-
tural ; e poíl:o que o nom feira , fe for piam feja
açoutado pubricamente pola Villa com baraço e pre-
guam, e degradado dez annos pera a Ilha de Sam
Thome ; e fe for Efeudeiro, ou Caualeiro, e di pera
cima, ferá degradado dez annos com preguam na
Audiencia P~.ra cada huü dos Noífos Luguares
d' Alem .. E fe o 'dito ajuntamento de gente que afli
fez for pera fazer mal , ou dãno a algüa peífoa , e
nom entrar em caía algüa, poíl:o que com o dito
ajuntamento nom faça mal, nem dãno, fe for Fidal-
guo feja prefo, e degradado quatro annos pera Alem.
e pague cem cruzados , ametade pera quem o acu-
far , e a outra metade pera Noífa Camara ; e fendo
Efcudeiro , ou Caualeiro , feja prefo , e degradado
pera Alem por tres annos , e pague cincoenta cruza-
dos pola mefma maneira ; e fendo piam feja açou-
tado pubricamente com baraço e preguam , e pague
vinte cruzados polo meímo modo , e nom os tendo
íeja degradado dous annos pera Alem. E efias mef.
mas
DA PENA QgE AVERAM OS QYE FESE.REM ASSUADA. I7t

mas ,penas , fegundo a diferença dos cafos acima ne-


fta Ordenaçam ditos , e da qu·a lidade das peffoas ,
aueram aquelles ou aquclle que for na dita aíluada ,
e ajuntamento pera fazer mal. ou dãno • poíl:o que
norn feja o que fez o dito ajuntamento ; faluo no
cafo de morte natural. por que foomente auerá o que
em tal ajuntamento for, em luguar de morte natural,
morte ciuel.
1 E SE fezer ajuntamento de gente da maneira
fobredita pera hir fazer mal, ou dãno, poflo que
com ella nom vaa nem faia a fazer mal , em tal cafo
Mandamos que foomente polo dito ajuntamento que
fez de gente pera fazer mal encorra aquelle que o
am fez nas penas do dinheiro fobreditas foomente,
fegundo a diferença da qualidade das peffoas fobre-
dit:is.
2 E QYEREMOS que o Juiz do Luguar onde cada
huü dos fobreditos maleficios acontecer feja obri-
guado tirar deuaífa , poíl:o que lhe nom feja reque-
rido , e proceder por ella contra os malfeitores corno
for Dereito.
3 E QYALQYER peffoa que por força entrar em
a1güa cafa quebrando as portas, ou lançando-as fóra
do couce. ora comfiguo leue gente d'affuada, ora
nom , e for pera ferir, matar, roubar, ou forçar, ou
tomar molher. ou injuriar a algüa peífoa que dentro
na cafa eflee. poíl:o que ninhüa das fobreditas coufas
faça, ferá degradado pera fempre pera a Ilha de Sam
Thome, e mais paguará a injuria aa parte pola for-
y 2 ça
172 O ~INTO LrvRo DAS ÜRDEN. TrT. LII.

ça que lhe aíli fez, auendo refpeél:o aa qualidade das


peCfoas, e aalem dello , fe lhe alguü dãno ou ofenfa
fezer, ferá punido fegundo o dãno, ou ofenfa que lhe
fezer.
4 E MANDA Mos que todo aquelle que ferir, ou
matar algua peffoa com virote ferrado, poílo que de
affuada nom feja, aja as penas que Temos ordena-
das a aquelle que fere, ou mata com feeta, ou vira-.
tam.

T l TU LO LII.
Dos Coutos ordenados pera fe coutarem os homiz i'ados,
e dos cafos de q_ue em elles deuem Jeer defefos.

P ORQYE muitos naturaes, e moradores deíl:es


Reynos por alguus homizios, que lhes aconteciam,
andauam homiziados fóra da Noífa Terra, e delles,
por Noífos Reynos, nom fe vindo liurar, por Tolher-
mos os dãnos que fe diCfo feguiam, e poderiam fe_
guir, e bem affi por fe milhor pouoarem os Luguares
dos eftremos, foram feitos Coutos dos Luguares de
Maruam, Noudar, Sabugal, Caminha, Miranda,
Freixo D'efpada cinta, e outros Luguares, os quaes
foram coutados, e priuilegiados, fegundo em feus
priuilegios he contheudo. E porem Mandamos, que
todos os homiziados de quaefquer maleficios que fo-
rem ( tirando os que abaixo fam declarados J poffam
fe-
Dos CouT. ORDEN. PERA SE COUTAR. os HOJ\,l fZ. 173

feguramente hir pouoar, e morar a cada huü dos di-


tos Luguares , e Coutos ordenados, com tanto que
morem dentro no Luguar do Couto, ou feus arraual-
des, e norn nos Termos delles. E porem valer-lhe-ham
como Coutos os Termos dos Luguares dos taees Cou-
tos pera nelles nom ferem prefos ; e quando affi fo-
rem, fe aprefentaram loguo aos Juízes dos ditos Cou-
tos , aos quaes Mandamos que cada huü no feu Jul-
guado faça fazer huü liuro, em que fe efcreuam po-
lo Efcriuam pera iífo ordenado todos os homiziados
que hi forem morar, e o dia cm que a elle cheg ua-
rem , e faberá cada huú Juiz fe viuem hi, e fazem
vezinhança polos tempos que deuem ; os quaes ho-
miziados nom andaram polo Reyno, faluo dous rne-
fes no anno, pera o que os Juizes dos ditos Coutos
lhe daram licença por fuas Cartas , por que poffam
hir , e andar feguros por Noífos Reynos pera arre-
cadarem feus bens, e as outras coufas que lhes com-
prirem , os quaes dous mefes lhe nom dará, fem pri-
meiro morar no dito Couto íeis mefes, do primeiro
anno que fe aili aífentar : e acabado o primeiro anno
nos outros annos lhe dará em cada huü anno os di-
tos dous meles , em qualquer parte do anno que lhos
pedir , ·com tanto que tenha fua cafa de morada no
dito Couto , ou arraualdes como dito he. Porem
quando o cafo, por que fe aili for affentar no Couto ,
for tal, que prouado mereceria morte, nom lhe da-
ram a primeira licença dos dous mcfes, fe nom paf-
fado huü anno defpois de morar no dito Couto.
I E
174 0 ~DITO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LII.

1 E MANDAMOS aos Juízes, e Juíliças de No!Tos


Reynos , que os leixem andar feguros , e os nom
prendam, nem lhes façam outra fem razam, duran-
o dito tempo , com tanto que nom entrem nos Lu-
guares , e feus Termos, onde forem feitos os ditos
maleficios , nem no Luguar, e arraualdes onde Noffa
Corte eíl:euer, ou a Cafa da Sopricaçam. E fe em du-
rando os ditos dous rnefes, em que affi andar polo
Reyno o dito homiziado, comerer al g uü mal eficio de
qualquer qualidade que feja , nom fendo morte , ou
feridas em rixa, perderá o priuileg io do Couto, e
ferá punido polo malencio, ou rnalefi c ios , por que
era coutado, e de que trazia a dita licença do efpaço,
aíli como fe nunca fora affencado no Couto. E quan-
to aos maleflcios que aíli cometeo nos ditos dous
mefes, feram fempre punidos em todo cafo.
2 E os peícadores poílam hir pefcar pala coíla
do mar nos Noífos Reynos ,· e tornem com os pefra-
dos aos Luguares dos Coutos, e nom portem em ou-
tra Terra, nem ponham coíl:eira em outra parte;
peró fe com fortuna forem teer a alguüs portos de
Noífos Reynos , fejam hi feguros , e os nom pren-
dam , com tanto que nom faiam dos nauios fóra, e
como ouuerem tempo fe vam logo fua viagem.
3 E PORQJ!E o Luguar de Noudar he muito defpo-
uoado , e hi nom podem auer os mantimentos tam-
bem como lhes cumpre, Mandamos que cada vez
que quiíerem hir a M oura, e a feus Termos, o pof-
fam fazer, nom eílando nelle mais que tres dias de
ca-
Dos CouT. ORDEN. PFRA SE COUTAR, os HOMJZ. 175

cada uez que affi forem, tendo no dito Luguar de


Noudar fuas caías de morada, e morando ahi por
todo o anno, ao menos feis meíes como dito he.
4 E MANDAMOS que as Noffas JuHiças nom pren-
dam os homiziados que nos ditos Coutos eHeuerem
coutados por a fobredita maneira, faluo fe for caío
de traiçam , ou fodomia , ou moeda falfa, ou falfarios
de efcripturas falfas , ou finaes No/Tos, ou de NolTos
Officiaes no que a feus Officios tocar , ou os que le-
uarem as molheres a feus maridos, e as reuerem
comfiguo no Couto, ou o que ferir alguü Official
No!fo de Juíliça, ou lhe refülir fobre reu Oílicio,
porque neíl:es lhe nom valerá ninhuú Couto , poílo
que a alguüs dcllcs a Igreja lhe pode/Te valer. E ilfo
mefmo em todos os cafos onde a Igreja nom vai ,
nom valerá o Couto; faluo nos cafos onde a Igreja
nom defende o malfeitor por nom caber pena de
fangue, por que neíl:es valerá o Couto, poíl:o que a
Igreja os nom defenda.
5 E ouTRo s1 Auemos por bem , que os ditos
Coutos nom valham , nem defendam os homiziados ,
que cometerem os maleficios aaquem de dez leguoas
dos ditos Coutos, contando as leguoas de rei tamente
da Villa, ou Cidade, onde, ou em cujo Termo foi co-
metido o dito maleficio, ao Luguar do Couto onde
effes malfeitores fe acoutarem. E com eftas declara-
çoes , e limitaçoes, Mandamos que fe entendam, e
cumpram os priuilegios dados por Nós , ou Noífos
Anteceffores, e por Nós confirmados aos Coutos
fobreditos. 6 E
176 o ~INTO LIVRO OAS ÜRDF.N. T1T. LII.
6 E DECLARA NDO ainda mais acerca dos ditos
Coutos, e priuilegios a ellcs dados, Ordenam os , que
fe for querelad o d'alguü , que a cada huü dos ditos
Coutos feja acoutad o, em tal fórma, que nom deu a
gouuir de priuileg io defie Couto, fegundo a fórma
fofo declara da, e e(fa querela for perfeit a, e jurada
com teftemu nhas nomead as , em cal cafo os J uizes
deffe Couto, onde o malfeito r am acoutad o eikuer ,
a que tal querela for dada , ou lhe for mofüad a Car-
ta do Correge dor da Corte , ou dcíla Comarc a , ou
de qualque r Noffo Defemb arg uador, ou dos Juizes
do Lugua-r onde o malefici o for com etido , de como
lhes foi dada querela em a fórma fofo dita, e lhes
mandem , roguem , e cnc omende ndem que prendam
o dito malfeito r aíli acoutad o em o dito Couto, dada
affi a tal querela , ou vifla cada hua das ditas Cartas,
o prendam loguo, fc a que rela for de qualidad e pera
por clla loguo prender , íegundo No{fa Ordena çam,
e façam em ellc poer boa recadaça m , em tal guifa
que nom fugua , e fe faça dclle comprim ento de De-
reico, e Juíliça.
7 E TANTO que effe malfeito r for prefo, ou arno-
ílrada a dita querela no cafo que por a querela nom
podem prender , querend o a parte qu erclofa acufar
fegundo a fórma da dita querela, recebelo -am os Juí-
zes do Couto á acufaça m ., conhece ndo fooment e fo_
bre o dito Couto fe lhe deue valer, ou nam , vendo
as inquiriç oês , que já fobre o dito male fi cio forem
tiradas; e fc eiradas nom forem façam-nas tirar, guar-
dan-
Dos CouT. ORDEN. PERA SE COUT. os HOMIZ, r77

dando acerca dello ordem de Juízo, atee o feito feer


conclufo. E fe elles acharem por o dito feito , que o
dito malfeitor nom deue guouuir do dito priuilegío
do dito Couto, e o affi julguarem por fua fentença »
e o malfeitor nom quifer apellar, elles nom apella-
ram por parte da Juíliça, mas remetam loguo elTe
prefo bem arrecadado ao luguar onde o maleficio
foi cometido, pera fe hi delle fazer comprimen to
de Dereito acerca do maleficio principal ; e fe o di-
to malfeitor quifer apellar de lhe affi nom guarda-
rem o Couto, recebam-lh e a apellaçam.
8 E sE os ditos J uizcs acharem por effes feitos »
que os ditos prefos no cafo das ditas querelas de-
uem guouuir dos priuilegios dos ditos Coutos , e o
affi julguarem por fuas fentenças , fe a parte quere-
lofa , ou o Acufador apellar deffa fentença, recebam-
lhe os Juízes a apellaçam pera Noíla Corte, e affi-
nem termo razoado aas partes pera em eHo profe-
guírem feu de rei to, fegundo a d iíhncia do Luguar
do Couto aa Noft'l Corte. E nom querendo a parte
querelofa apellar , ou agrauar da dita fentença, em
tal cafo nom apellem os Juízes mais della por parte
da Juíl:iça , mas faltem loguo o dito pref o , e lei-
xem-no viuer no dito Couto i e vfar do dito priuíle-
gio delle, aíli como em elle viuia, e vfaua ante que a
dita querela delle foíle dada como dito he. E iffo
mefmo façam no cafo onde a dita parte querelofa
foi citada pera profeguir fua acufaçam , e nom pare-
ceo ao termo que lhe pera ello foi affinado , ou fe
Liv. V. Z em

13
r78 O ~INTo L1vRo DAS ÜRDEN.TrT. LIII.
em elle pareceo, e defpois defemparou a dita acufa-
çam, nom a querendo profeguir em diante.
9 E SE a]guü for prefo fóra do Luguar do Couto,
e fe chamar ao Couto , moíl:rando Joguo como for
prefo licença dos Juízes do dito Couto porque affi
fahio delle , Mandamos , que feja leuado prefo ao
Luguar do Couto, e os Juízes do dito Couto , pro-
cedam como emcima dito he, e nom a moil:rando
loguo ferá ouuido polos Juízes do Luguar, em que
a!Ii for prefo , pera fe veer fe lhe valerá o dito Cou-
to, ou nom.
1o E TODO o que dito he nos fobreditos Coutos
do Reyno , Mandamos que aja luguar nos que fe
coutarem a cada huü dos Noífos Luguares d' Alem
em Africa, e em outra maneira lhe nom fejam guar-
dados, nem lhe valham aos homiziados, fenom da
maneira fobredita.

T I T U L O LIII.

~ue os Alcaides Moores nom tomem fobre fl


ninbuü prejo.

D ETERMINAMOS, e Mandamos, que daqui


em diante ninhuü Alcaide Moor de ninhüa Cidade,
Villa, nem Luguar de Noffos Reynos, e Senhorios,
tome fobre fi ninhuü prefo que eíl:ee prefo na cadea
do Caftello, nem na cadea da Villa, poíto que fóra
do
~E os ALc. MooR. NOM TOM. SOBRE SI PRES. 179

do Cafiello eíl:ee, nem o tome da rnaõ de qualquer


peffoa que tenha poder de prender por qualquer ca-
fo, de qualquer qualidade que feja prefo, ora feja
de pouca fubíl:ancia, ora de grande, e o leixem eílar
prefo nas cadeas fem dellas os poder tirar , nem to-
rnar fobre fi por ninhuü modo• nem maneira que
feja ; fob pena que o Alcaide Moor que o contraira
fezer paguar cincoenta cruzados d'ouro pera a
parte que for danificada , e o tal prefo acufar, ou
demandar, ou pera as defpefas da Nofla Rolaçam ,
fe o tal prefo parte nom teuer; e mais polo meímo
feito perderá o dito Alcaide Moor todos os dereiros ,
e poder que teuer na cadea , ora a cadea eftee no
Caíl:ello, ora fóra delle, e nom poffa nella poer mais
Carcereiro , nem auer carcerages, nem ninhüa outra
coufa que na dita cadea teuer, e lhe pertencer; por
quanto polo rneímo feito Nos praz de Fazer, e de
feito Fazemos merce por efta Noífa Ordenaçam aa
Cidade , ou Villa da tal cadea, pera nella di em
diante auerem os Juízes, e Officiaes, de poer Carce-
reiro , e arrecadarem , e leuarern pera o Concelho as
carcerages, corno o tal Alcaide Moor fazia. E Man-
damos aos Juizes, e Officiaes da tal Cidade, ou Vil-
la, que tirem loguo o Carcereiro , que o tal Alcaide
Moor teuer poíl:o, e ponham outro em feu luguar,
e feja tal peffoa que feja fegura, e fiel, e mandem lo-
guo arrecadar pera .1 Concelho as carcerages dos
prefos , e nom coníentam mais ao dito Alcaide
Moor, que mais entenda em coufa da dita cadea.
Z2 E
180 o ~JNTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. Lllf.

E pofto que os Juízes, ou outras quaefquer Juíl:iças


requeiram, que os ditos Alcaides Moores lhe tomem
alguü prefo, o nom poderam tomar; faluo fe o Juiz
viir que he algüa peífoa poderofa , que correria rif-
co de eftar na cadea da Villa, e o Alcaide Moor te-
uer torre no Caíl:ello em que o potra teer fegura-
mente , em tal cafo vendo o Alcaide Moor que he
affi como o Juiz diz , e requerendo-lhe o dito Jul-
guador que torne o femelhante prefo, o poderá to-
mar pera o teer affi prefo em ferros na dita torre
fem della o poder leixar fahir; e trazendo-o fóra da
torre com ferros , ou fem elles , encorrerá nas penas
acima neíl:a Ordenaçam declaradas.
I E POR QYANTo acontece muitas vezes, que os
Alcaides Moores Ieixam por íi outras peífoas em
nome d' Alcaides Moores, Mandamos que os que
affi ficarem em feu luguar, e tomarem os ditos pre-
fos em cada huú dos ditos cafos, encorreram na dita
pena dos cincoenta cmzados , ora fejam Alcaides
Moores de Cidades, ou Villas, que tenham Caftel-
los , ora os nom tenham , e os Alcaides Moores que
os affi leixaram , encorreram nas mais penas defla
Ordenaçam acima dicas.

T 1-
Do ALc. ou CARCER. QYE SOLTA o PRESO ET e. 18r

T I T U L O LIIII.

Do Alcaide, ou Carcereiro, que falta o prefoflm mandado


da Juflira, ou o traz.folio, ou lhe foge por /ua culpa,
e maa guarda, ou f az cadea onde a nunca ouue. E que
nom leuem a roupa do prefo que fogir.

Ü S Carcereiros , ou Alcaides , que carreguo te-


uerem de cadeas , ou prifoés pubricas , feram deli-
gentes em trazerem os prefos aas Audiencias , e os
foltarem quando lhes for mandado polas Juíl:iças,
que pera ello poder tenham.
1 E DE F ENDEMOS aos ditos Carcereiros, e Alcai-
des que nom leuern feruiço alguü, nem peita dos
ditos prefos , nem d'outrem que lhas dee por feu
refpeéto fob pena de perderem os Officios, e mais
ferem punidos fegundo o fcruiço , e peita que le-
uarem.
2 OuTRO s1 Mandamos aos ditos Alcaides, e
Carcereiros, que nom traguam foltos os prefos, nem
deem confentimento que ninhüa peffoa, que lhes
prefa entregue for ande folta; e o que o contrairo
fezer pague por cada vez que trouxer o prefo foi-
to, ou o leixar andar falto , tres mil reaes. Peró fe
for prefo por cafo que mereceria pena de morte , e
o trouxer falto , pague dez mil reaes, das quaes pe-
nas, ametade ferá pera quem o acufar, e a outra
metade ferá pera Noffa Camara; e fe for Alcaide
Moor
182 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT, LIIIT.
Moor o que affi trouxer os ditos prefos folcos , pa-
guará as ditas penas em dobro. E eíla mefma pena
aueram os Carcereiros. ou Alcaides , que tcuerem os
prefos na Vilias chaãs , ou cercadas, em algüas cafas
fóra dos Caíl:ellos , ou cafas ordenadas pera cadeas.
E alem das ditas penas fogindo os ditos prefos, e
perecendo juíl:iça, aueram aquellas penas ciueis , ou
e rim inaes , que merecerem, fegundo declaraçam fei-
ta no capitolo feguinte.
3 E PORQYE muitas vezes os prefos fogem das
cadeas, e prifoês, e Caíl:ellos onde jazem, por culpa,
e maa guarda dos Alcaides , e Carcereiros , de cuja
confiança de.pende grande parte da Juíliça, Determi-
namos , que fe o prefo fogir por malícia, ou mani-
feíla culpa do Carcereiro, effe Carcereiro morrerá
por ello, fe aquelle que lhe fogir for acufado por
tal maleficio, que fe prouado foffe deueria morrer; e
fendo acufado por outro qualquer maleficio menor,
ferá effe Carcereiro açoutado pubricamente , e de-
gradado dous annos pera Cepta , e em todo cafo
emendará o dâno aas partes, que por a dita fogida.
forem danificadas.
4 E POSTO QY E o Carcereiro ouueíle encomenda-
da a guarda da cadea a alguü outro que a guarda!fe
de fua maõ, e neíl:e tempo fogiffe o prefo, nom leixa-
rá por tanto o dito Carcereiro auer a dita pena como
dito he. E outra tal pena auerá aquelle a que o dito
Carcereiro tinha encomendada a dita cadea, em tal
guifa que ambos aueram igual pena, e huü nom ferá
efcufado polo outro. 5 Ou-
Do ALc. ou CARCER. Q.!JE SOLTA o PRESO ET e. 183

5 OuTRo sr Mandamos, que fe por fogida d'al-


güs prefos ficarem na prifam algüas roupas , ou
quaefquer outras coufas, nom as leuem , nem ajam
os Alcaides, nem Meirinhos, nem Carcereiros, nem
homens feus , mas paguem-fe, e correguam-fe palas
ditas coufas as prifoés, e ferros, ou quaefquer dãnos
que os ditos prefos fezerem na dita priíam.
6 Ou mo s1 Defendemos, que ninhuü Alcaide,
nem Carcereiro feja tam oufado, que folte ninhuÜ
prefo da prifam em que o teuer, fem mandado da
Jufiiça; e o que o contraira fezer, fe o dito prefo
era prefo por feito ciuel , pague aas partes todo o
dãno que por a dita foltura receberem , e fendo pre-
fo por feito crime , e for folto fem peita, prendam
loguo o dito Carcereiro , ou Alcaide que o foltar, e
façam delle dereito, e juíl:iça, dando-lhe aquella
pena que acima Temos dito, que aja o Carcereiro,
a que foge o prefo por fua malícia. Peró fe o dito
Alcaide for Alcaide Moor de Caílello, nom o pren-
dam , e façam-no loguo faber a Nós, pera Mandar-
mos aquello, que Nos parecer dereito , e juíl:iça.
7 E Q.!JANDO o Carcereiro, ou Alcaide foltar al-
guü prefo, ou prefos por peira , Mandamos que fe-
ja prefo, e aja aquella pena que aueria, fe elle fur-
taffe aquello que de peita leuou com todas as quali-
dades, que os furtos tem acerca das penas que por
elles fe deuem dar, e aalem dello fe a dita peita nom
cheguar á quantidade por que deua morrer , auerá.
mais aquella pena que he pofia aos Carcereiros a
que
184 O QyrNTO LrvRo DAS ÜRDEN. TIT. LV.

que fogem os prefos por malícia, ou rnanifeíl:a cul-


pa como emcima dito he.
8 E BEM Ass1 Mandamos, que ninhuü Meiri.
nho, nem Alcaide, nem feus homens foi tem ninhúa
peífoa, que preía teuerem, ou prenderem por man ..
dado da Juíl:iça ( ou por o acharem cometendo al-
guü crime ) fem mandado efpecial da Juíl:iça , que
poder tenha pera o mandar foltar ; e o que o con-
traira frzer auerá as penas fobreditas poíl:as ao Car-
cereiro, que folta o prefo fcm mandado da Juíliça.
9 OurRo s1 Mandamos , e Defendemos , que
ninhuü Meirinho, nem Alcaide faça tronco , nem
cadea onde nunca foi feita , nem a ouue; e fazen-
do o contraira maliciofamente feja degradado com
preguam na Audiencia huü anno pera Cepta ., e
mais pague toda perda , e dáno, que fe por ello fo,.
guir , e as partes receberem.

T I T U L O LV.

Dos Aduaguados, e Procrmidores, que vfam


de aduoguar por tLmbas as p.1r/es.

S E alguü Aduoguado , ou Procurador ouuer re-


cebido d'algüa parte alguü dinheiro, ou outra coufa
por aduoguar , ou procurar feu feito, e demanda, ou
defpois que for feito Procurador, e o aceptar , poíl:o
que ainda nom tenha dinheiro recebido, tendo ja
fa-
Dos ÜFFic. o'ELREY QyE RECEB. SERvrços ETc. 185

fabidos os fegredos da demanda ,e defpois aduoguar,


ou procurar, ou aconfelhar pubrico, ou fecreto pola
outra parte. aalem de feer contado por falfo, feja
degradado pera fempre pera a Ilha de Sam Thome,
e nunca mais vfe do Officio.

TI TU LO LVI.

Dos OJ!iciaes d' E/Rey que recebem feruiros, ou peitas,


e das parles que lhas dam, ou prometem, e dos que
delles difamam.

DEFENDE MOS a todos os Julguadores, e Def-


embarguador cs, e affi a quaefquer outros Officiaes,
affi da Jufüça, como da Noffa Fazenda, e bem affi
da Noffa Cafa, de qualquer forte, e qualidade que fe-
ja, e a!Ii tambem aos da guoucrnança das Cidades ,
Villas , e Luguares, e outros quaefquer que fejam ,
que nom recebam pera fi, nem pera filho feu , nem
peífoa que debaixo de feu poder e guouernança eíl:ee,
ninhüas dadiuas, nem prefentes de ninhüa- peffoa
que feja • poíl:o que com elles nom traguam reque-
rimento de defpacho alguü. Nem iffo meímo ni-
nhuüs dos fobreditos Officiaes poílam feer fazedores
dos outros Officiaes , que forem feus fuperiores, nem
pera elles comprar, nem lhes vender , nem empre-
fiar coufa algüa do feu ; e quem o contrairo fezer
Liv. V. Aa per-
186 O ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LVI.
perderá qualquer Officio, ou Officios que teuer, e
mais paguará vinre por huü do que receber, ame-
tade pera quem o acufar , e a outra metade pera a
Noífa Camara. E aquelle que o tal preíente der, ou
enuiar, perderá toda íua fazenda, i(fo mefmo ametade
pera a Nolfa Camara, e a outra metade pera quem
o acufar, e perderá qualquer Officio, ou Officios, e
carreguos, e mantimentos, fe os de Nós teuer, e
ferá degrado cinco annos pera Alem. E os Officiaes
que afii algüas coufas derem aos ditos Officiaes íeus
fuperiores, ou lhe algüa coufa feiwrizarem , ou pera
elles comprarem , ou lhe venderem, ou empreíla-
rem, aalem de affi perderem fuas fazendas , perde-
ram os ditos Officios, e carreguos, mantimentos, e
ordenados que com elles teuerem , e feram degra-
dados por cinco annos pera cada huü dos Luguares
d' Alem, e mais nom poderam nunca auer o tal Offi-
cio, ou carreguo que affi teuerem. E as ditas fazen-
das, e Officios, que affi fe ham de perder, dos que
aífi as ditas coufas deram , venderam, compraram ,
empreflaram , ou neguocearam pera outros Offi-
ciaes, Auemos por bem , que fe poffam demandar
atee dez annos , e di por diante nom fe poffarn mais
demandar. Nom Tolhemos porem , que os fobredi-
tos poffam receber todo o que lhe dar quiferem fcus
afcendentes , ou defcendentes , e outros parentes
tranfuerfaes atee o fegundo gráo , contado íegundo
Dereico Canonico inclujiue. E aífi poderarn receber
( daquellas pe/Toas, que com elles teuerem razam de
pa-
Dos ÜFFIC. o'ELREY Q.!JE RECEB. sERvrços ET e. 1 87

parentefco, ou cunhadio atee o quarto gráo, ou ten-


do com elles tam eíl:reita amizade, ou outra razam
por onde com Dereito nom podiam feer Juizes de
fuas caufas) paõ, vinho , carnes , fruiras, e outras
coufas de comer, que antre os parentes • e amiguos
fe cuftumam dar , e receber.
1 E TRAZENDO feito perante elles, ou requeren...
do qualquer defembarguo, ou defpacho, e receben...
do qualquer coufa daquelle que affi trouxer, ou re-
querer, ou d'outrem que lho por e11e der, Manda-
mos , que fendo cada huü de todos os fobrediros
Officiaes Official que tenha Officio de julguar, que
perca pera a No{fa Coroa todos feus bens que ouuer,
e mais o Officio que de Nós teucr. E fe a peita paf...
far de cruzado, ou fua valia , aalem das fobreditas
penas ferá degradado pera fempre pera a Ilha de
Sam Thome. E fendo de cruzado, e di pera baixo 1
ferá degradado por cinco annos pera cada huü dos
Luguares d' Africa, aalem do perdimento dos bens 1
e Officio. E fendo a peira de valia de dous marcos
de prata, ou di pera cima, aalem do perdimento de
fua fazenda morrerá morte natural.
2. E SENDO o que affi recebeo a dita peita outro
Official que nom tenha Officio de julguar , e a rece-
beífe trazendo perante ellc , ou requerendo qualquer
defpacho, aalem de perder o Officio paguará trinta
por huü do que receber, amerade pera quem o acu-
far I e a outra metade pera Nofla Camara.
3 E TENDO cada huü de todos os fobreditos ace...
Aa 2 pta-
188 0 ~TNTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LVI.

ptada a promeífa d'algüa coufa , nom a tendo rece-


bida, perderá o dito Officio como dito he, e mais
paguará o trefdobro da promeffa que teuer aceptada,
e todo pera a Coroa de Noífos Reynos.
4 E Q.YALQ!JER peffoa de qualquer condiçam que
fcja , que der, ou prometer ouro, prata , dinheiro •
paõ, vinho, azeite, ou outra qualquer coufa a alguú
Juiz , ou Defembarguador, ou a qualquer 0l!tro
Official de qualquer Officio que feja, ainda que de
Nós nom aja mantimento com o dito Offic10 , em
quanto peranre elle andar o feito, ou requerer alguü
defembarguo de qualquer condiçam , e qualidade
que feja, ~eremos que aalem das penas fobreditas
perca todo o dereito, que na tal caufa teuer, e feja
loguo apricado aa parte.
5 PERÓ fe eíl:e que aili prometeo, ou peirou ao
diro Julguador, Defem barguador , ou qualquer outro
Official , o reuelar e defcobrir a Nós dentro de huü
mez, e ante que dello Sejamos fabedor por outra
parte de como affi peitou , ou prometeo a dica pei-
ta ao diro Official, e foi por elle aceptada, e Nos fe-
zer dello certo por taees prouas dignas de fee, por-
que Sejamos dello certeficado , em tal cafo elle feja
releuado das ditas penas, e lhe fique todo feu derei-
to conferuado affi, como fe nunca ouueíTe peitada•
nem prometida a dita peita. E fe já a di ra fentença
for dada feja ninhüa em todo cafo, ainda que feja
contra elle. E fendo impetrado alguü derpacho em
fauor daquelle, que a dita peita deu , ou prometeo 1
fe-
Dos ÔFFic. o'E1REY Q!JE RECRB. SER v1ços ET e. 1 89

ferá valido polo affi defcobrir, nom fendo em per-


juizo de algüa peífoa particular. E defcobrindo-fe
por outra maneira o tal defpacho , ou coufa que lhe
for impetrada por aquelle que a dita peita recebeo ,
ou a promeífa della aceptou , ferá ninhuü como que
nom foffe impetrada, ou auida. E no cafo em que o
que o defcobrir o nom poder prouar, Auemos por
bem que a fua confiífam feita pola dita maneira lhe
nom perjudique couía algüa.
6 E DEFAMANDO algüa pcíloa d'alguü Noífo Offi-
cial ( quer em Juizo , quer fora delle ) que leuou al-
güa peita, ou que aceptou o prometimento della, ou
que fez alguü erro em feu Officio maliciofamente ,
e o nom prouar, Mandamos que feja condenado na
injuria , e emenda , e corregimento pera o tal Offi-
cial em dobro daquello que merece o tal Official por
lhe dizerem tal defamaçam ; porque ~eremos que
feja arbitrado em dobro, e mais auerá a pena crime
que for Noffa Merce, auendo refpeito aa qualidade
das pefioas aíli do que defamou , como do Official
de que fe diffe a tal defamaçam.
7 ÜuTRo s1 Defendemos aos Juizes das Noffas
Alfandeguas, e aos Efcriuaês, Tefoureiros, Alrno-
xarifes , e Recebedores dellas, e aos Efcriuaês , e
Recebedores que tem carregue de efcreuer Noffos
Dereitos , ou rendimento de Noífas Rendas, ou da
Noífa Fazenda, e aos Contadores que tomam as con-
tas, affi da Noffa Fazenda, como das Noífas Rendas,
e aili a quaefquer Officiaes de Noifa Fazenda , de
qual-
190 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN.TIT. LVI.
qualquer forte , e qualidade que fejam, e aos Arren-
dadores , e outros quaefquer Noffos Almoxarifes, e
Recebedores , que nom leuem coufa algüa dos Ren-
deiros a elles fubditos , pofio que por fuas vontades
de graça, e fem feu requerimento) lha queiram dar,
nem tenham parçaria com elles, nem com ninhuü
Official a elles fubdito, em ninhüas rendas; fob pe-
na de quem o contraira fezer perder o Officio, e pa-
guar vinte por huü do que receber; e o que lho der
auerá a mefma pena de vinte por huü , e fc tcuer
Officio o perderá iffo mefmo, e fe teuerem parçaria
de renda cada huü perderá toda a contia por que a
dita renda for arrendada, e mais o Officio que teuer.
8 E EM eíl:es cafos deíl:a Ordenaçam nom abaíla-
ram tres tefiernunhas fingulares pera perdimento
dos Officios, mas requerer-fe-ha proua abafiante,
fegundo difpofiçam de Dereito.
9 E PORQ.YE os hofpedes, que vam poufar com os
Noífos Defembarguadores , lhe impidem muitas ve-
zes os defpachos dos feitos , Mandamos que ninhuü
Noífo Defembarguador nom poífa acolher, nem aco-
lha ninhuü hofpede em fua cafa, ou poufada, faluo
fe for feu afcendente, ou defcendente, ou irmaõ feu,
ou de fua molher, ou criados feus, ou amos. E fazen-
do o contrairo Nós lho Eílranharemos , e Daremos
a pena que for Noffa Merce. E o Noffo Regedor,
ou Guouernador Nos dirá quando os taees Defem-
barguadores o affi nom comprirem. Nom Tolhemos
porem que huüs Defembarguadores nom poufem
com
Dos ÜFFIC. o'ELRl!Y Q!TE RECEB. SERvrços ET e. 19r

com os outros, porque nom fe podem eíl:oruar em


feu defpacho.
1o E DEFENDEMOS, e Mandamos que daqui por
diante ninhuü Official de Noíla Juíliça, que Officio
tenha de julguar , e aíli o Meirinho de Noffa Corte,
e Alcaide de Lixboa, nom tccebam, nem aceptem
de algüa peflàa de Notfos Reynos , affi eclefiaílica ,
como fecular, Igrejas , prazos graciofos, rendas ,
tenças, de qualquer force e qualidade que fejam ,
eclefiaílicas, nem feculares, nem pera filho feu,
nem petfoa que debaixo do feu poder e guouernan-
ça eílee. E quem o contraira fezer, perderá o Offi-
cio , ou Officios que de Nós teuer, e mais fua fa-
zenda , a metade pera quem o acufar, e a outra pera
Notfa Camara. E aquelles que algüas rendas, tenças,
prazos , e Igrejas, pelo fobrediro modo d'algüas pef-
foas teuerem , dentro de quatro mefes aueram Pro-
uifam No!Ta per Nós aílinada, pela qual Ajamos
por bem elles terem, e poífuirem as fobreditas cou-
fas. E nom auendo as taees Prouifoes ao dito tem-
po encorreram nas ditas penas. E a fobredira de-
fefa Auemos por bem, e Mandamos que aja luguar,
e fe guarde inteiramente em todos os outros Offi-
ciaes da Noífa Cafa , Camara, e Fazenda, aíli em
NotTa Corte, como fóra de lia, e fob as ditas penas.
11 E PoLo mefmo modo Defendemos, que ni-
nhuü dos fobrediros Officiaes contheudos nefl-a Or-
denaçam nom pofla comprar, ( de ninhuü litiguan-
te, ou re9.uerente que perante elle litiguar, ou re-
que-
192 O ~INTo LtvRo DAS ÜRDEN. Tn. LVII.
querer defpacho alguü ) nem menos lhe vender cou-
fa algüa , em quanto perante elles o tal litígio , ou
requerimento durar; e comprando-lhe , ou venden-
do-lhe algüa coufa como diro he , aueram as penas
ciueis, e crimes fobreditas, affi o comprador como
o vendedor, como que a dita coufa, que affi foi com-
prada ou vendida, fora dada de peita, e aceptada
fegundo a diíl:inçam da valia das coufas peitadas
acima ditas.
12 E isso mefmo Mandamos, que todos aquelles
Officiaes de Juíliça , que Officio tem dejulguar,
nom poífam roguar a ninhüa peífoa que quite, ou
remira , ou alargue algüa coufa a qualquer outra
peífoa ; e fazendo o contraira encorrerá o tal Offi-
cial , que affi roguar, nas penas em que encorrera, fe
recebera delle todo aquello porque affi roguaua ,
poílo que a parte affi roguada lhe nom qui[ciie fazer
o dito roguo.

T I T U L O LVII.

~ue ninhuú litiguante impetre Carta algüa nem roguo


pera defpacho de flu feito.

N INHUA peffoa que _feito tragua ante Noffas


Juíl:iças, de qualquer forte e qualidade que os Juizes
fejam , nom aja roguo de peífoa algüa em fauor de
fcu feito por carta, nem fem carta. E quem o con-
trairo
~ E NJNH, LITIG. IMPET. CART. ALG. ETC. 193

trairo fezer , e a dita carta deer , ou enuiar por fi ,


ou por outrem ao Julguador de feu feiro, ou em CU•
jo fauor o tal roguo fe fezer , prouando-fe que por
fcu confentimento, ou roguo, ou aazo fe ouue a di-
ta carta , ou deu ao dito Ju-lguador, ou fe fez o dito
roguo, pague vinte cruzados pera a outra parte,
e mais todas as cuftas que forem feitas atee aquelle
eíl:ado, em que eíl:eucr o feito no tempo em que a
carta d'encomenda fe ouuer, ou roguo fe fezer. As
quaes cuíl:as pollo que a parte que as leuar feja ven-
cida as nom tornará, e ficaram femprc com elle. E fe
o cafo for em cada húa de Noílas Rolaçoes , e algüa
das partes requerer ao Regedor, ou Guouernador
que dee juramento a alguü Defembarguador, que for
Juiz de feu feito, fobre a fufpeita que tem de lhe
pola outra parte feer feito alguü roguo, ou dada al-
güa carta, e quifer eíl:ar por o dito juramento, o di-
to Regedor, ou Guouernador lhe daram o dito jura-
mento , o qual juramento abaílará pera a parte feer
condenada, fe na dità pena fe achar que encorreo.
E quando a parte nom requerer o dito juramento ,
entam fem feer dado ao dito Defcrnbarguador po-
derá fazer fua proua, e o Dcfembarguador nom ferá
conílrangido a jurar. E eílo nom auerá luguar na-
quelles, que ouuerem cartas, ou roguos daquelles ,
com que teuerem razam de parcntefco, ou cunha-
dio atee o quarto gráo, ou taro eftreira amizade, ou
outra tal razam por onde fegundo Dereito nom po-
deriam feer Juízes de fuas caufas, porque por os
li-,;. V. Bb taees

1-+
194 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LVIII.
taees poderam efcreuer, e falar, como poderiam fa-
zer por fi mefmos, fem a parte por que fe aíTi fezer
auer pena algüa , com tanto que quando lhe affi fa-
larem por as taees peíloas feja em luguares pubri-
cos, e nom vam a cafa dos ditos Defembarguadores
falar por elles.
1 E SE a parte nom quifer dar proua , ou a nom
teuer pera prouar como a dita carta , ou roguo foi
feito por confentimento , ou aazo da outra parte , e
requerer que feja dado juramento aa dita parte con-
traira, fer-lhe-ha dado, e ferá conílrangido a jurar
como a dita carta , ou roguo , nom foi dada por feu
coníentimento ; e nom querendo jurar, ferá conde-
nado como fe contra elle foíle prouado , que por feu
confentimento fe fez. Porem no cafo que requerer o
diro juramento, nom poderá a parte que o affi re-
querer dar mais proua pera aquello que requerer•
que a dita parte jure.

--------
T I T U LO LVIII.
Dos De(embarguadores, e Julguadores, que nom guar-
dam as Ordenaçoes, ou as inlerpretam. E que tomam
conhecimento dosfdlos que lhe nom pertencem.

M ANDAMOS, que todos os NolI'os Defembar-


guadores , e todos os Corregedores , e Ouuidores ,
Julguadores, que nom comprirem, e guardarem
Nof-
Dos DESEMB. E JuLG. Q!JE NOM GUARD. ASÜRD. 195

Noffas Ordenaçoes inteiramente fendo-lhes alegua-


das , paguem aas partes, em cujo fauor as dicas Or-
denaçoes forem aleg uadas , vinte cruzados , e mais
fejam fufpenfos de feus Officios atee Noífa Merce,
e por eífe mefrno feito ficaram fufpeitos aas ditas
panes em os feitos de que affi forem Juizes, e os
dcfembarguos, ou fentenças em que aíli nom guar-
daram as ditas Ordenaçoes, fejam ninhuüs.
I E Ass1 Auemos por bem, que quando os Def-
embarguadores que forem no defpacho d'alguü fei-
to, todos , ou alguü delles teuerern algüa duuida em
algüa Noífa Ordenaçam do entendimento della,
vam com a dita duuida ao Regedor, o qual na Mefa
grande com os Defembarguadores que lhe bem pa-
recer a determinará, e fegundo o que hi for determi-
nado fe poerá a fentença. E fe na dita Mefa forem
iífo mefmo em duuida, que ao Regedor pareça que
he bem de No-lo fazer faber, pera a Nós loguo deter-
minarmos, No-lo fará faber, pera Nós niílo Pro-
uermos. E os que em outra maneira interpretarem
Noífas Ordenaçoes , ou derem fentenças em alguií
feito, tendo alguú delles duuida no entendimento
da dita Ordenaçam, fem hirem ao Regedor como
dito he, feram fufpenfos atee NofTa Merce. E a de-
terminaçam que fobre o entendimento da dita Orde-
naçam fe tomar, mandará o Regedor efcreuer no
liurinho pera de[pois nom viir em duuida.
2 E BEM affi Mandamos a todos os Noílos Def-
embarguadores , e a todos os Corregedores , e Ou..,
Bb 2 Ul-
196 O ~INTO LrvRo DAS ÜRDEN. Tn. LVIII.
uidores , Juizes de Fóra, e Juízes Ordinarios da
da Noffa Cidade de Lixboa, que nom conheçam
dos feitos, que lhes claramente norn pertencerem ,
e os remetam a feus Juízes competentes , tanto que
requeridos forem por cada húa das partes, do dia que
poferem nelle o primeiro defembarguo atee oiro
dias primeiros, fob pena de paguarem aas partes as
cuftas em dobro de todo o retardamento, e dos Au-
tos que perante os taees Juízes incompetentes fo-
rem feitos , por quanto os Auemos por ninhuGs.
3 E AVEMOS por bem que quando fe algüa parte
quifer agrauar dos ditos Julguadores , ou de cada
huú delles, que lhe nom guardam, e cumprem Nof-
fa Ordenaçam, fe o cafo, em que diz que fe nom
guardou , for de tal qualidade que fe loguo pode
ag rauar por petiçam , ou eftormento d'agrauo , ou
Carta teftemunhauel , o Juiz, ou Juizes fuperiores,
que do dito agrauo podem conhecer, proueram tam-
bern fobre a execuçam deíl:a Noíla Ordenaçam , e
daram a pena della aos inferiores , nom fendo o tal
inferior Noffo Defembarguador ; e fe o Julguador,
de que fe a pane agraua, ou o cafo de que fe agraua
for tal , que dellc nom poífam agrauar, aíli por feer
interlucutoria, em que ao tempo que fe pronuncia
nom fe poffa agrauar , como por caber em fua alça-
da quando foffe definitiua, ou fendo o tal Julguador
Noífo Defembargua-dor , neíles cafos, e cada huü
delles o Regedor da Juíliça com quatro ou cinco
Defembarguadores conhecerá do cal agrauo , em
que
Dos DESEMB. E JULG. Q!IE NOM GUARD. J\S ÜRD, 197

que fe affi a parte agraua delhe nom feer guardada


Noíl"a Ordenaçam , e executará em todo as penas
nefia contheudas. E-fe o tal agrauo for d'alguíí Def-
embarguador da Caía do Ciuel, ou d'alguü Julgua-
dor d'algúa Cidade , Villa, ou Luguar da Comarca
da Eíl:remadura, de tal cafo que fe delle ouuera apel-
laçam ouuera de viir aa Caía do Ciuel, o Guouerna-
dor com outros tantos Dcfembarguadores da dita
Caía conheceram dello , e daram á cxecuçam as pe-
nas deíl:a Noffa Ordenaçam.
4 E PORQYE as partes fe nom agrauem, como
nom deuem, Mandamos que achando-fe polos ditos
Superiores , que do dito agrauo ham de conhecer,
que fe nom agrauaram bem , fejam condenados nas
cuíl:as em dobro do retardamento, que fe por caufa
do tal retardamento feguirem aas partes contrairas ;
e nom auendo hi parte contraira, feram condena-
dos os que affi fe mal agrauarem em mil reaes pera
as defpefas da Rolaçam.

TI TU LO LIX.
Da pena que aueram os Officiaes, que !euam mais
do contheudo em Jeu Regimento.

DEFENDEMOS a todos os Officiaes da Juíli-


ça , e de Noffa Fazenda , e a quaefquer outros Offi-
ciacs de Noffo Reyno, de qualquer qualidade e con-
di-
198 O ~INTO LrvRo DAS ÜRDEN. TIT. LIX.
diçam que fejam, a que hc ordenado por Regimento
o que ham de leuar aas partes, que nom leuem mais
que aquello que polos ditos feus Regimentos lhe he
limitado, e ordenado qt1e ajam de leuar; e o que o
contraira fezer, e mais leuar, por qualquer quanti-
dade que lhe for prouado, que Ieuou aalem do or-
denado, que nom cheguar a quinhentos reaes , feja
degradado dous annos pera Alem , e perca íeu Offi-
cio , e mais pague anoueado todo o que mais leuou
aalem do ordenado por feu Regimento , das quaes
noueas fe tirará femprc pera a parte, a que foi Ieua-
do mais do contheudo em o dito Regimento, as du-
as partes, e as íete ficaram ametade pera quem o
acufar, e a outra metade pera Noífa Camara. E fe
a mefma parte acufar leuará a metade das noueas, e
a outra metade ferá pera Nolfa Camara. E prouan-
do-fe, que leuou quinhentos reaes juntamente, ou
por partes, aalem do feu ordenado, ora os leue de
hüa íoo pefloa, ou de diuerfas , íeja degradado tres
annos pera Alem. E prouando-fe que leuou dous mil
reaes affi juntamente, ou por partes como dito he,
aalem do íeu ordenado, feja degradado pera a Ilha
de Sam Thome, em quanto for Noffa Merce. E pro•
uando-fe que leuou fcis mil reaes affi juntamente,
ou por partes como dito he, aalem do feu ordenado,
feja degradado pera íemprc pera a Ilha de Sam Tho-
rne. E cm todos os cafos fobrcditos perderam os
Officios, e mais paguaram todo o que aíli aalem do
ordenado leuar~m anoueado como dito he. E O!!e-
re-
DA PENA Q11E AVER. OS ÜFFIC, Q11E u :v, MAIS ET e. 199

remos que fe nom poffam ekufar das ditas penas por


cuíl:urnes , nem vfanças geeraes, nem efpeciaes que
poífam aleguar, poílo que muito antiguas frjam ,
nem por fentenças que fobre ello tenham.
1 E SE a alguü Officio nom for ordenado Regi-
mento do que ha de leuar,. Mandamos que dentro
de quatro mefes da pubricaçam deíl:a Notfa Orde-
naçam o venham requerer a Nós, pera lho Mandar-
mos dar, fob pena de perder o dito Officio, pera o
Nós Darmos aquem for Noífa Merce.

TI TU LO LX~
Dentro de quanto tempo Je /aram as execuçoes das penas
corporaes, e que os condenados fijam primeiro con-
fejfados.

Q U A N DO Nós condenarmos agüa peffoa


aa morte, ou que lhe cortem alguü membro, por
No!fo proprio moto fem outra ordem , e figura de
Juizo , por ira, ou por fanha que delle Ajamos, a
execuçam da tal fentença feja perlonguada atee vinte
dias.
1 PERÓ naquelle , que for condenado por via , e
ordem de Juízo, fendo primeiramente ouuido com
feu dereito, tanto que for condenado por Nós , ou
por Noílos Defembarguadores , que pera ello te-
nham Noffa Auétoridade , loguo feja feita execuçam
o
200 0 ~INTO LIVRO DAS ÜRD_EN. TIT. LX.
o mais cedo que honeíl:amente fe poffa fazer • dan-
do lhe tempo que razoadamente fe poffa confeífar,
faluo fe o condenado aa morte efleuer prefo no luguar
onde Nós a eífe tempo Eíl:euermos ; cá em tal cafo
ante de fe nelle fazer execuçam de morte N0-lo fa-
ram faber.
2 E AVEMos por bem que aaquellas peífoas,que
por Juíliça ouuerem de padecer , fe digua , e noti-
fique fua fentença a taees oras que lhes fique tempo
pera fe confeífarem, e conhecerem ante No{fo Senhor
de fuas culpas. E fe no Luguar onde fe fezer jufiiça
do condenado ouuer Confraria da Mifericordia, fe-
ja-lhe notificado pera hirem com elle , e lhe darem
confolaçam.
3 E MANDAMOS a todas as Juíl:iças de Noffos Rey-
nos, a que as Cartas pera fe fazer algüa execuçam de
pena crime , ou pera deligencia de tormento forem
aprefrntadas , que loguo neffe dia que lhe apreíenta-
das forem atee o outro a mais tardar as cumpram,
e dem em todo aa cxecuçam , fob pena de cincoenta
cruzados , ametade pera quem os acufar, e a outra
pera os catiuos, e mais de feer priuado do Officio, que
nunca o mais aja ; e [e lhe vierem com embarguos
a fe nom executar• loguo da hi a trcs dias os çarre,
e atrele , e remeta aos J ul g uadores • que a fentença
deram , fob as penas fobre.ditas.

TI-
Dos ALMox. RENO. E JuR. Q!Ji FA7.. AVENÇAS. 201

TITULO LXI.

Da pena que aueram, os que outro apelido chama1'em


nos arroidos , ou voltas , fenom o d' ElRey.

N INHUÜ nom feja tarn oufado, que por ar-


r-oido que fe aleuante chame outro apelido, faluo
A.que d'ElRey; e o que por outro apelido chamar feja
degradado por cinco annos fóra do Luguar, e Termo
onde eíl:o acontecer, com huü preguam na Audien-
c1a.
------------ --------
T I T U L O LXII.
Dos .Almo,.:arifes, e Rendeiros, e Jurados que fazem
aumças , e dos que tiram guado , ou bejlas do curral
do Co1uelho.

D EFENDEMOS , que ninhuu Almoxarife, nem


Moordomo nom faça auenças fobre as coimas , e pe-
nas , que fam poftas por razam das armas tiradas, e
das feridas , e dos outros maleficios , ante que elfas
coufas fejam feitas , e julguadas ; e as auenças que
aíli forem feitas nom valham , e o Alrnoxarife , ou
Moordorno que as fezer , ou confentir, feja theudo
a todo dãno, e perda, que fe dello feguir, e pague
outro tanto de pena como for a coima, ou a pena que
ha de paguar aquelle com que a auença for feita.
E bem affi fe alguu Jurado, ou Rendeiro do verde
Lru. V. Cc de
202 O ~rNTo L1vRo DAS ÜRDEN. TrT. LXII.
de Nolfos Reguengos, e Terras Juguadeiras, ou de
alguú Concelho fezer auença fobre algua coima ,
que ainda nom feja feita, ou fe for feita ainda lhe
nom for julguada, feja açoutado pubricamente pola
Villa , ou Luguar onde efto acontecer , e mais de-
gradado della por huü anno.
1 E BEM affi Defendemos • que ninhúa peífoa
nom tire befta, ou boi, ou vaca, ou qualquer outro
guado do curral do Concelho , em que for metido
polo Rendeiro, ou Jurado, ou qualquer outra pef-
foa, pala achar em luguar coimeiro; ou em dãno;
e qualquer pelToa que o tirar fem licença do Rendei-
ro, Jurado, ou pelToa que o affi meteo, ou de Jufli-
ça que pera ello tenha poder, ou fem poer penhor
abaíl:ante na maõ do curraleiro, ou da vezinhança
quando hi nom ouuer curraleiro , ou fe nom poder
achar, pague dous mil reaes pera o Concelho, e
feja degradado huú anno fóra da Villa, e Termo ; e
fe for efcrauo , e feu fenhor os nom quifer paguar,
dem-lhe dez açoutes ao pee do Pelourinho.

TI•
~E os CoRREG. E JuIZES NOM CONSTRANG. [TC. 103

T I T U L O LXIII .

.teue os Corregedores, e Juizes nom conjlranguam homens


do Concelho pera guardar os prefos ,/aluo qumtdo forem,
de caminho.

D EFEND'EMOS aos Corregedores das Comar-


cas, que nom coníl:ranguam os Juizes das Villas , e
Luguares de fuas Correiçoes , que lhes dem homens
do Concelh9 pera lhes guardarem os prefos que elles
trazem em fuas prifoes , faluo quando forem de ca-
minho de huü Luguar pera outro, ou quando for pre-
fo algüa pefToa por tal cafo , e de tal qualidade, por
que pareça que fe deue poer mais guarda , affi por a
qualidade da peíloa, e maleficio , como por a fraque-
za da prifam. E eílo mefmo aja luguar nos Ouuido-
res, que teuerem Nofia Autloridade pera fazerem
Correiçarn , e trazerem cadeas nas Terras de fuas
Ou uidorias.
1 E PoRQYE os que fam coníl:rangidos pera leua-
rem os prefos de huü Concelho a outro nom rece-
bam grande trabalho • e perda em os leuarem a Lu-
guares alonguados donde elles moram , Mandamos
que em todos os Lug ,ares , affi das Ordens , e Pre-
lados, como de quaefquer Grandes, e Fidalguos,
recebam os prefos, que a elles forem leuados dos Lu-
guares feus Comarcaõs, pera di os leuarem a outros
Concelhos pera onde ouuerem de feer leuados, ten-
do-fe em eíl:o tal temperança , que os que forem ef-
Cc 2 cu-
204 o ~INTO LIVRO DAS 0RDEN'. T1T. LXIV.
cufos de taees encarreguos nom fejam pera ello con-
firangidos. E os que aíli o nom comprirem feram
punidos como he contheudo no Titulo da Ordenan-
fª da brtl/a no Liuro primeiro.
2 ÜuTRO sr Mandamos, que nos Luguares onde
os Alcaides Moorcs farn obrigados de poerem Car-
cereiros , quando lhes fogir o Carcereiro os Juizes
lhes requeiram que dem outro ; e nom lho dando
Mandamos , que os Ju1zes, e Officiaes o ponham aa
cufia dos ditos Alcaides Moores , e nom conílran-
guam os homens do Concelho que lhes guardem os
ditos prefos , fe'.":,' undo já dito Auemos no primeiro
Liuro no Titulo Dos Alcaides Moores.

T I T U L O LXIV.
Dos tormentos, e e11t que cafos.feram dados aos Fidalguos,
e Caualeiros.

SEGUNDO Dereito norn fe pode dar certa fór-


ma, nem doél:rina , quando, e em que cafos deue o
prefo fer metido a tormento ; porque pode f eer con-
tra elle huii foo indicio, que ferá tam grande, e tam
euidente, que abaíl:ará pera o meterem a tormento:
conuem a Caber , fe elle ouueffe confeílado fóra do
Juizo que fezera o maleficio porque era acufado; ou
ouue1Te contra elle hüa teílemunha, que diílelfe que
lho vira fazer , ou fama pubrica que procedefle de
pef-
Dos TORM. E EM Q.YE CAS. SERAM DAD. AOS FIDALG. 205

pelfoas de auél:oridade, e dignas de fee; ou fe erre pre•


fo foífe abfentado da Terra polo dito maleficio, ante
que delle folfe querelado com alguü outro pequeno
indicio ; e poderam feer contra elle muitos indícios
que feram tam leues , e tam fracos que todos juntos
nom abafiaram pera feer metido a tormento : e por
tanto ficará no aluidro do Julguador, o qual verá
bem , e examinará toda a inquiriçam dada contra o
prefo. E fe achar tanta proua contra e!le que o moua
a crer que elle fez aquello em que he culpado, man-
dalo-ha meter a tormento , e em outra guifa nom.
E quando o acufado for metido a tormento, e em
todo neguar a culpa que lhe he pofta, fer-lhe-ha re-
petido o tormento em rres cafos , conuem a faber ,
fe quando primeiramente foi poílo no tormento auia
contra elle muitos e grandes indicias , em tanto
que pofio que elle negue o maleficio no tormento ,
ainda porem o Julguador nom leixe de crer que elle
fez o maleficio. Icem fe defpois que hüa vez foi me-
tido a tormento fobreuieram contra o prefo outros
nouos indicias. Item 1e o acufado no tNmento con-
feffou o maleficio por que he prefo, e acufado e
deípois quando for requerido pera ratificar a con-
füfam em Juizo negou o que auia confrHado no tor-
mento; cá em cada huú deíl:es cafos pode .• e cleue ao
acufado feer repetido o tormento , e frr-lhe-ha feita
a repetiçam affi e como ao Julguador parecer feer
juílo, o qual ferá bem auifado que nunca condene
ninhuü que aja confdfado no tormento a menos que
ra-
206 o ~INTO LIVRO DAS ÔRDEN. TIT. LXV.
ratifique fua confiffam em Juízo , o qual Juizo fe
fará fóra da cafa onde lhe affi foi dado o tormento;
e ainda fe deue fazer a ratificaçam detpois do tor-
mento por alguüs dias, em tal guifa que já o dito
prefo num tenha door do tormento que ouue; cá em
outra guifa fe prefume por Dereito, que com doar,
e medo do tormento que ouue, a qual ainda em elle
dura receando a repetiçam , ratificará a dita confif-
fam , ainda que verdadeira nom feja.
1 E SENDO Fidalguo de Solar, ·ou Caualeiro, ou
Doutor em Leys, ou em Degredos, ou cm Fiíica, ou
Vereadores, e Juízes d'algüa Cidade nom feram me-
tidos a tormento cm alguü cafo, mas cm loguo de
tormento lhe ferá dada outra pena que feja em alui-
dro do Julguador, faluo em crime da Lefa Mageíla-
de , ou em crime de falfidade , ou feitiçaria , ou
moeda falfa , ou fodomia ; cá fegundo Dereito em
taees cafos , e cada huu delles nom gouuem de pri-
uilegio da Fidalguia, ou Caualaria , ou Dotl:orado,
mas feram punidos , ou atormentados como cada
huü outro do pouo.

TITULO LXV.
Dos Bulroes , •e lnliradores.

B ULRAM, e lnliçador he aquelle que apenha


particularmente hüa coufa a dous, nom paguando a
di-
Dos BuLROENS E lNLIÇADORES. '1.07

diuida ao primeiro creedor , nom fendo a dita coufa


abaíl:ante pera fatisfazer aos credores ambos. E bem
affi o que vende a peífoas defuairadas pam, vinho.,
azeite • mel , e outras coufas antemaõ, prometendo
paguar loguo no primeiro anno de fuas herdades.,
marinhas. vinhas, colmeas, afirmando a cada huü
delles, que todo aquello auerá em ellas o dito anno,
nom tendo taees herdades, oliueiras , vinhas, de
que razoadamente poífa auer o que affi vende como
dito he. E o que pede dinheiros empreílados de
muitas partes, prometendo , e fazendo muiras fegu-
ranças por efcriptura, ou palaura, que loguo a breue
tempo paguará, e defpois que tem o dinheiro em feu
poder diz, que nom tem por onde paguar, e que o
citem. E por refrear taees maleficios , e outros fe-
melhantes que fe nom façam daqui em diante ,
Mandamos, que quando for querelado com juramen-
to, e teílemunhas nomeadas aas Noífas Juíliças d'al-
guü por Bulram, e Inliçador, que taees couías, ou
outras femelhances fez, declarando em as ditas que-
relas a bulra, ou bulras, que fez como dito he,
e as peífoas a que as fez , ft.rá loguo prefo aquelle de
que a ili for querelado, e nom ferá folto atee que pa-
gue da cadea todo aqucllo que affi deuer, e for obri-
guado, polos ditos modos bulrofos, e enguanofos,
e mais perderá pera Nós a terça parte da contia, ou
extimaçam que valerem as coufas, que affi o dito
Bulram inliçou , vendeo, apenhou , ou trocou , ou
por qualquer outra guSa por o dito modo buirofo
en-
208 O ~TNTO LrvRo DAS ÜRDEN. TrT. LXV.

enlheou , e outra terça parte pera aquella pefioa, ou


peífoas que a ili forem danificadas polas ditas bulras,
e enliços ; e aalem deílo aja a pena de degredo , ou
outra, íegundo for o cafo da bulra que am fezer , e
o Julguador entender que affi merece atee morte
exc/ujiue, nom fendo porem em ninhuü dos fobre-
ditos cafos menos a condenaçam do degredo, que
dous annos pera cada huü dos Luguares d' Alem.
1 E QYALQYER peífoa, de qualquer condiçam e
qualidade que feja, que fe aleuantar com dinheiro, ou
diuida, ou qualquer fazenda alhea , e fogir, ou fe
pofer onde a parte dclle nom poífa auer dereito , fe
a diuida, com que fe aleuantar, for de cem cruzados,
e di pera cima, moura morte natural ; e fendo de
cem cruzados pera baixo, nom decendo de cincoenta
cruzados , feja degradado por oito annos pera a Ilha
de Sam Thome , e fendo de cincoenta cruzados pera
baixo ferá degradado o tempo , e pera onde aos Jul-
guadores bem parecer, as quaes penas affi de morte,
como as outras aueram luguar, poílo que polas taees
diuidas , com que fe affi aleuantaram , podefiem fa-
zer ccílam.
:2 E QYALQYER peíroa que vender algúa propri-
edade, ou arrendar algüa ·coufa em que caiba arren-
. damento, vendendo-a , ou arrendando-a por fua,
nom fendo fua, nem tenc,lo razam de a aver por fua
paguará em quatro dobro a valia da dita coufa ; e
fendo coufa de valia de dez mil reacs pera baixo,
ferá degradado quatro annos pera Alem. E fendo
cou-
Dos BuLRROENs E INUÇADORES, 209

couía de valia de dez mil reaes atee vinte mil, ferá


degradado pera frmpre pera a Ilha de Sam -Thome;
e fendo de valia de vinte mil reaes pera cima mou-
ra morte natural. E eílas mefmas penas aueram fe-
gundo a di!linçaõ acima dita os que venderem hüa
coufa duas vezes a defuairadas peffoas.
3 E QYALQ.l!ER peffoa que comprar, ou por qual-
quer titulo ouuer qualquer coufa d'outrem , faben-
do, ou tendo razam de faber, fegundo aluidro do
Julguador, como nom era daquelle que lha vendeo,
ou trefpaífou , e que a ouue por máo titulo, auerá
as penas affi pecuniarias, como corporaes , que em-
cima Pofemos a aquelle que vende a coufa que nom
he fua, fegundo a diíl:inçam acima poíla,
4 E sE algua peífoa que teuer alguü cafal, ou ou-
tra propriedade, e paguar alguü foro, ou penfarn da
dita propriedade, a outra algua peífoa como feu
foreiro , ou cenfionario, e a for tomar noua mente
d'emprazamento da maõ d'outro fenhorio fem con-
fentimento daquelle a que affi pagua a penfam , fe
for piam feja açoutado, e fe for Efcudeiro , e di pera
cima J ferá degradado dous annos pera Alem.

Lrv. P. Dd T 1-

15
210 Q QulNTO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. LXVI.

T I T U L O LXVI.

Dos que fa.zem , ou dizem injurias aos Julguadores ,


ou a Jeus Ojficiaes.

S E alguü fezer, ou diífer algúa coufa que nom


deua a alguü Noífo Defembarguador, ou Ouuidor ,
Corregedor, ou Juiz, ou outro qualquer Julguador,
que por Noffa Auél:oridade tenha Ofücio de julguar,
ou mandar em alguü auto fobre feu Officio, ou cou-
fa que a elle pertença, affi em Juizo como fora del-
le , fe for em fua prefença , e a hi teuer Tabaliam ,
ou Efcriuam que todo viífe paífar , faça loguo fazer
huü auto dilfo ao Tabaliam, ou Efcriuam, que pre-
fente eíl:euer , o qual dará de todo foa fee como paf-
fou , e polo dito auto mande preguntar as teíl:emu-
nhas, que prefentes forem, por o dito Tabaliam, ou
Efcriuam com huü Enqueredor, fem o dito Julgua-
dor a ello feer prefente, e ferá a parte pera ello ci-
tada pera veer jurar. E tanto que tiradas forem elle
mefmo o julguará, e punirá fegundo a qualidade <las
pe/Toas, e achar por Dereito, e Noffas Ordenaçoés
que merece pala dita culpa. E nom tendo o dito Jul-
guador Tabaliam , nem Efcriuam prefente , quando
affi lhe foi feita, ou dita a dita injuria, o dito Jul-
guador fará fazer huü auto a huü Tabaliam , ou
Efcriuam a [eu dito. E fendo prefente no Luguar
alguü Superior do dito Julguador, remeta o dito
Julguador o dito auto a elJe, o qual Superior man-
dará
Dos QYE FAZ. ou DTZFM TNJU~. AOS J ULG. ET e. 21 l

dará preguntar as teílemunhas que lhe bem pare~


cer, e dará determinaçarn no dito feito. fegundo lhe
parecer juíliça. E nom eílando no dito Luguar Su-
perior, em tal cafo defpois de teer feito o dito auto
mande ao dito Tabaliam , ou Efcriuam com que
fez o dito auto , e a huü Enqueredor que perguntem
polo dito auto as teílemunhas, que o dito J ulguador
nomear, e tirada affi a dita inquiriçam , o mefmo
Julguador a que a ili foi dita, ou feita a dita injuria,
julgue polos ditos autos o que lhe parecer juíliça.
O qual auto por onde aíli ham de feer preguntadas
as teílemunhas nos cafos íobreditos , quando a inju-
ria foi em prefença do Julguador, fará o dito Juf-
guador fazer naquelle mefmo dia, em que lhe a inju-
ria for feita, ou dita, polo qual auto fe preguntaram
as teíl:emunhas ,como emcima dito he; e o Julguador
que o dito auto nom mandar fazer, ferá degradado
huü anno pera Cepta; e os Tabaliaes. ou Efcriuaes
no cafo que prefentes forem , efcreuam o dito auto ,
e ponham em eftado como o Juiz por elle nom
mandou proceder, pera defpois lhe feer dada a dita
pena, e o Julguador que vier mandará preguntar
polo dito auto que achar feito, affi com fee do Ta-
baliam, como polo auto que foi feito a dito do Jul-
guador, as teíl-emunhas que no dito auto achar no.
meadas, e procederá contra os culpados como achar
por Dereito.
1 E srNoo a dita injuria feita, ou dita ao dito
Julguador em fua abfencia, terá a mefma maneira
Dd 2 que
212 Ü ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN'. TIT. LXVI.

que cmcima Diffemos, no cafo onde lhe he feita,


ou dita em fua prefença, como emcima dito he.
E fará fazer o dito auto do dia que vier á fua noti-
cia atee rres dias, e nom o fazendo no dito tempo
nom o poderá mais fazer , mas terá o modo de de-
mandar fua injuria como qualquer do pouo. E fen-
do cada huü dos ditos autos feitos em outra fórma
ferá ninhuu.
2 E FAZENDO alguem injuria a alguü outro Offi-
cial fobre feu Officio , conuem a faber , Alcaide , ou
Meirinho, ou feu homem , ou Tabaliam, ou Por-
teiro, ou Efcriuam, ou qualquer outro fernelhante
que nom tenha poder pera julguar, ora o dito Jul-
guador feja prefente , ou abfenre, loguo fem eíl:re-
pito, nem figura de Juízo, citando porem a parte
contraira pera veer jurar as teíl:emunhas, mande fo-
bre ello fazer auto, e tirar inquiriçarn , e fumaria.
mente fabida a verdade lhe faça comprimento de
Dereito , em tal guifa, que os ditos Officiaes oufa-
damente poffam fazer comprir os mandacfos Noífos,
e dos ditos Noílos Julguadores, fem medo, nem re-
ceo de ninhuü grande, ou poderofo lhe por ello fa-
zer ofenfa, ou algüa outra fem razam.
3 E EM todos os cafos fobreditos o Julguador,
que delles , ou cada huu delles conhecer, dará apel-
Jaçam, e agrauo de fua fcntença aas partes, que del-
la quiferem apellar, e agrauar; e nom apellando ,
apellará por parte da Jufüça, fem emba rguo de o
cafo caber na fua alrada, !aluo no cafo on<le for jul-
gua-
EM QYE CAS. os CAVAL. E FIDALG. DEV. SEER PRES, 213

guado polo Superior; porque fe couber em fua alça-


da, nom ferá obriguado a receber apellaçam , nem
apellar por parte da Juftiça.
4 E NO cafo onde a injuria foffe feita ao Julgua-
dor, nom por razam de feu Officio , mas por caufa
d'algüa imizade antigua , ou rixa noua que aconte-
ceíle antre elle e o injuriante, nom poderá eífc Jui ...
guador condenar por tal injuria que lhe alli feja fei-
ta, mas pode-lo-ha prender fe o cafo tam graue for,
que mereça feer prefo para fe delle fazer compri-
mento de Dereiro; e nom fendo de qualidade pera
feer prefo empraza-lo-ha, que a certo dia pareça pef-
foalmente perante Nós fobre a dita caufa, e notifi-
cará a Nós o cafo como paffou , em tal guifa , que
Miniftremos juíliça fegundo o cafo for.

T I T U L O LXVII.

Em que cajos os Caualeiros, e Fidalguos, efemelhantes


pejfoas deuem ftcr prefos.

MANDAMOS que os Fidalguos de Solar, e Ca-


ualeiros, e os Noífos Defembarguadores, e os Do-
él:ores em Leys, ou em Degredos , ou em Fifica , fei-
tos em eíl-udo vniuerfal por exame (e fuas molheres,
em quanto com elles forem cafadas , ou eíl:euerem
viuuas honeftas defpois de fuas mortes) nom fejam
pre-
2r4 O ~INTO LrvRo DAS ÜRDFN. TIT. LXVII.

prefos em ferros, fe nom por feitos, em que mere-


çam morrer morre natural, ou ciuel; e por os outros,
em que nom caiba a dita pena de morre, feram
prefos fobre fuas menagens, as quaes deuem fazer
aos Juízes que os prenderem , ou mandarem pren-
der, os quaes lhe tomaram as ditas menagens, e lhe
daram por prifam o Caíl:ello da Cidade , ou Villa ,
ou a fua Cafa, ou Cidade, ou Villa, ou Luguar, fe-
gundo for a qualidade do crime, e cafo, por que o
prender.
1 E Q!JANDO algüa peffoa nom quifer dar a me-
nagem , todauia o aueram por prefo !obre ella , e
far-fe-ha diffo auto , e valerá a dita prifam como
que a dera ; e nom a comprindo lhe ferá auida por
quebrada , como que verdadeiramente a dera ; e por
a defobediencia de a affi nom querer dar , fe for Fi ..
dalguo paguará dez cruzados , e fendo Caualeiro
paguará cinco cruzados , ametade pera quem acu-
far, e a outra pera os catiuos •
.2 E POREM fe d'alguú Caualciro, ou Fidalguo >
for querelado, ou elle for acufado d'alguü malencio,
por que nom mereça pena de morte, fe o dito male-
ficio for cometido contra outro Caualeiro , ou Fi-
dalguo, pofto que nom feja igual a elle , Manda-
mos que em aquelle cafo em que outra algúa peffoa
de mais baixa condiçam . deueria feer prcfa em fer-
ros , o Caualeiro , ou Fidalguo íeja prefo fobre fua
menagem em o Caftello da Cidade , ou Villa, onde
o feito for ordenado • ou em outra caía honefia , fe
hi
EM (UJE CAS. os CAVAL. E FIDALG. DE.V. SEER PRES. 2 [ 5
hi Caflello nom ouuer, fegundo aluidro do Julgua-
dor.
3 E MANDAMOS que os Fidalguos de grandes
eflados, e poder, nom fejam prefos em ninhuü ca-
fo, fem Noffo efpecial mandado. E quando taees
cafos acontecerem as Jufüças No-lo faram faber ,
declararando-Nos as culpas que dellcs teuerem, pera
niffo Prouermos como for juíliça.
4 E SENDO o dito prefo fobre f.ua menagem acu-
fado, no cafo que lhe foi dada a Cidade, ou Vilia por
prifam , ferá obriguado viir feguir a apellaçam em
peffoa , e andará affi prefo fobre fua menage no lu-
guar onde fe ouuer de liurar , fem fahir do dito lu-
guar, onde fe affi liura no caía da apellaçam; porem
fe o tal prefo quifer antes ficar em fua caía prcfo fo-
bre fua menage, fem della poder fahir atee auer li-
uramento, poderá feguir foa apellaçam por Procura-
dor, e ficará affi prefo em fua caía como dito he.
5 E NO cafo onde loguo a principio lhe foi dacfa
a caía, ou Caflello por prifam fem della poder fa-
hir, poflo que o dito prcfo queira viir em peífoa
feguir fua apcllaçam , pera no cafo da apellaçam
efiar prefo em cafa como eílaua , nom poderá viir ,
nem fahir da dita caía , antes mandará requerer fua
apellaçam por Procurador fe quifer. E Mandamos,
que ninhuü Julguador, des que hüa vez tomar a me•
nage a algíía peíloa, nom lha poffa mais alarguar ;
faluo fe delle nom ouuer apellaçam , nem agrauo
naquelle cafo.
TI-
216 O ~mm LrvRo DAS ÜRDEN. Tn. LXVIII.
T I T U L O LXVIII.

Dos que fazem carcere priuado.

MANDAMOS, que ninhuü, de qualquer eíl:ado


e condiçam que feja, faça por fi carcere priuado •
retendo em elle alguü homem, ou molher de qual-
quer qualidade que feja, por coufa algúa. E Decla-
ramos auer feito carcere priuado aquelle que por fi ,
ou por outrem retem alguü como prefo em algüa
cafa , ou em outro qualquer luguar, onde feja re-
theudo, e guardado, em tal guifa que nom feja em
toda fua liberdade , poílo que nom tenha ninhüa
prifam; e aquelle que o fezer fe for Vilaõ, e de pe-
quena condiçam, feja açoutado pubricamente, e de-
gradado pera Cepta por cinco annos; e fe for Vaílal-
lo, ou de femelhance condiçam, feja degradado pera
a dita Cidade por cinco annos , e mais pague tres
mil reaes pera a Noílà Chancelaria; e fe for Caua-
. lciro, ou Fidalguo de Solar, feja degradado pera
Cepta por quatro annos.
I E DECLARAMOS , que fe entenda auer cometi-
do carcere priuado o que reteuer algüa pe{foa con-
tra fua vontade por vinte e quatro horas; e retendo-
º menos de vinte e quatro horas , pofto que nom
caia em a pena fobredita de carcere priuado , auerá
outra qualquer pena pubrica, que ao Julguador pa-
recer, fegundo a qualidade das peffoas , e tempo.
E porem nom Tolhemos em cada huii dos ditos ca...
fos poderem demandar fuas injurias. 2 P1:-
Dos QYE FAZEM CARCERE PRIVADO. 217

2 Prnó fe o marido achaífe com fua molher em


adulterio alguü tal homem , que por Dereito nom
deua matar , affi como Fidalguo de Solar, Caualei-
ro, ou d'outra femelhante qualidade , tal como eíl:e
poderá elle reter prefo polo dito efpaço fem come-
ter carcere priuado. E bem aili poderá o creedor re-
ter feu deuedor prefo, achando-o fogindo. ou que-
rendo fogir por lhe nom paguar fua diuida , nom
podendo auer focorro de Juíliça, pera com fua au-
étoridade o prender. Porem retendo cada huü deíl:es
mais do dito tempo, encorrerá em crime de carcere
priuado : e fe o Julguador íouber, e for em conhe-
cimento que alguú fez , ou cometeo carcere priuado
como dito he, e nom proceder contra elle por in-
quiriçam , e acufaçam , perca o Officio que de Nós
teuer~ E Mandamos em eíle cafo, que todo Julgua-
dor poffa deuaifamente enquerer por faber compri-
damente a verdade, tanto que dello ouuer enforma-
çam , e por a inquiriçam deuafla que affi tirar pro-
ceda , como viir que o cafo requere, em tal guifa,
que o crime feja em todo cafo punido.
3 PERó Mandamos , que eíl:a Ley nom aja lu-
guar em aquelle que encarcerar Jeu feruo, ou filho s
polos caíl:iguar de algüas maas manhas , e cuíl:umes
que ouucrem, cá em tal cafo os poderá cada huü
prender.

Liv. Y. Ee T J..
218 0 ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN.TJT. LXIX.
T I T U L O LXIX.

~ue os Prelados, e Fidalguos nom la11tem pedidos, nem


emprejlidos em fuas- 'Ierras , nem leu em feruentias dos
moradores dei/as, nem recebam dellés coufa algíia )
nem lbes dem apoufentadorias.

POR Q!JANTO lançar pedidos, peitas, e em-


prefüdos, he coufa que foomente pertence ao Rey ,
e Supremo Senhor, Defendemos , que ninhuüs Pre-
lados ,.nem outras peffoas de qualquer efiado, e con-
diçam que fejam, nem Capitaês de Ilhas em fuas
Terras, Villas, e Luguares lancem peita, pedido .,
emprefüdo, feruiço de coufas algüas , nem outra
ajuda. E fazendo alguü o contraira Mandamos , que
pola primeira vez perca a Jurifdiça(fl da Cidade ,
Villa , ou Luguar ,. em o qual fezer o que dito he.
E pala fegunda vez perca a dita Cidade , Villa, ou
Luguar, em o qual eíl:o fezer. E eíl:a m€fma pena
ajam os que requererem os moradores de fuas Ter-
ras , Villas , Luguares , Aldeas , e Pouoraçoês em
particular pera algüa das fobreditas coufas , por fi •
ou por outrem , ou por fuas Cartas , fe taees requeri..
mentas aíli forem geeraes, que toquem quafi a to-
dos os moradores , e que pareçam feer feitos em de-
fraudamento deíl:a defefa , por poderem colorada-
mente dizer , que nom lançaram em geeral as ditas
peitas, pedidos , emprefiidos, feruiços, ajudas, nem
como a congregaçam de Concelho. 1 Ou-
~ E OS PREL, E fIDALG, NOM LANC. PEDID. ETC. 219

1 OuTRO s1 Mandamos. e Defendemos aos di-


tos Senhores , Prelados , e Fidalguos , que em fuas
Terras nom tomem por conflrangimenco por ni-
nhuü preço pam alguü, em quanto teuerem feus ce-
leiros, nem iílo mefmo lançem o feu pam que teue..
rem polas caías dos Lauradores ; e qualquer que o
contrairo fezer, pola primeira vez pague cem cru-
zados pera a Noíla Camara, e pala fegunda vez feja.
fufpenfo de qualquer jurifdiçam que teuer , em
quanto Noíla Mercc for, e pola terceira perca a dita.
jurifdiçam de todo; e Mandamos aos Corregedores•
e Ouuidores das Comarcas , que prouejam fobre
ello, e o façam aíli dar a execuçam fob pena de pri..
uaçam dos Officios.
2 E ASSl Mandamos, e Defendemos aos fobre.
ditos , que nom conftranguam fcus Lauradores , e
moradores das fuas Terras, que aas foas proprias
defpefas lhes traguam triguo, nem ceuada aos Lu-
guares onde eíl:euerem , nem lhes façam leuar aos
portos do mar o pam que teem de fuas rendas, nem
outras coufas. E quando taees frruentias lhes forem
neceffarias, as ajam por [cus dinheiros fegundo cu-
fiume, e pre~o da Terra , paguando loguo muiro
bem todo. E qualquer que o contra iro fezer, encor..
rerá nas penas íobreditas ; faluo fe alguü por bem de
feu Foral, ou priuilegio o poder fazer.
3 ÜuTRO sr Mandamos, e Defendemos aos fo..
breditos , que em fuas Terras nam tomem ninhüas
mercadorias de mel, cera, azeite, panos .de linho•
Ee 2 bu-
220 o QEINTO LIVRO DAS 0RDEN. T1T. LXIX.
bureis, laãs, faluagina, nem outras ninhüas merca-
dorias aos moradores de fuas terras , nem iílo mef-
mo a algüas outras peffoas , que as ditas mercado-
rias trouxerem aas ditas fuas Terras pera venderem,
contra fuas vontades. E iífo mefmo lhes nom defen-
dam, que as nom vendam a outrem fenom a eHes,
nem que as nom leu em pera outras partes, e auen-
do-as me!ler as comprem aas vontades de feus do-
nos ; e fe alguüs o contrairo fezerem aueram a pena
acima dita.
4 E DEFENDE Mos que os fobreditos Senhores, ou
Alcaides Moores de qualquer Cidade, Vi lia, ou Lu-
guar de Noffos Reynos, nom recebam de ninhuü feu
Vaffallo, ou morador na Terra , em que affi teuer
Jurifdiçam ,. ou Senhorio , ou de que for Alcaide
Moor, ninhuü: pam, nem graõ, nem vara, nem car..
neiro, nem cabrito , nem leitam , nem outra coufa
algua de qualquer forte, e qualidade que feja , fob
pena daquello que lho affi deer feer degradado huü
anno fóra da Villa , e Termo. E fe forem Officiaes,
que affi derem qualquer das coufas fobreditas em
nome do Concelho , feram degradados os ditos Offi-
ciaes quatro annos pera as partes d' Africa, e nunca
mais ajam Officios do Concelho ; e o que o receber
fe for Alcaide Moor auerá a pena que for Noffa Mer-
ce ; e fe Jurifdiçam teuer na dita Cidade ,. Vilia, ou
Luguar , nom poffa mais julguar em coufa daquelle
de que affi receber. E fe julguar em coufa que a elle
per-
~E os PRn. E FIDALG. NOM LANc. PEDID. IT e. 221

pertença, todo feja ninhuü , e mais auerá a pena


que for Noífa Merce. Nom Tolhemos porem , que
cada hüa peffoa particular nom polTa mandar, ou
dar a cada huü dos fobreditos Senhor , ou Alcaide
Moor , algúa caça, ou gualinhas, ou outra coufa de
comer, cujo valor nom paffe de trinta reaes, fe lho
por fua vontade quifer dar, o que o Senhor, ou Al-
caide Moor poderá receber quando lho derem, nom
dando elle geito pera lho mandarem ; nem auerá
luguar eíla detefa nos feus criados , que delles teue-
rem cafamento recebido, ou outra fatisfaçam, nem
nos feus amos , e colaços , cafeiros , ou lauradores ,
e parentes dentro do quarto gráo , e aíli peffoas que
delle teuerem recebido alguü bemfazer.
5 E isso mefmo Defendemos a todos os Offi-
ciaes das Camaras das Cidades , e Villas, e Lugua-
res de Noífos Reynos , e Senhorios , em que alguüs
Senhores , ou Fidalguos teuerem Jurifdiçam, ou Se-
nhorio, ou forem Alcaides Moores , que lhes nom
deem apoufrntadoria de cafas, ou camas ; faluo fe
o teuerem por fuas doaçoes, ou priuilegios , e os
Juízes, e Officiaes que lha derem feram degrada-
dos dous annos pera hu ü Couto de Noílos Reynos ,
e mais paguaram os p-itos Juízes, e Officiaes que
lha affi derem, ou cada huú delks que lha der , vin-
te cruz-ados , ametade pera quem os âcufar, e a ou-
tra metade pera os catiuos. E aquelle que contra
vontade de feu dono fe apoufentar em cafa, ou rou-
pa
222 Ü ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LXX.

pa d'alguem , paguará outros vinte cruzados , ame-


tade pera quem o acuíar, e a outra pera os catiuos •
e mais ferá degradado dous annos pera Alem.

T l TU LO LXX.

filue os Concelhos nom façam concertos com os Senhores ,


e FrdalguosJobre fuas rendas. E aj/i que ninhüa pejfoa
fe concerte com outra , por lhe fazer dcfpachar em
Noj]a Corte alguü neguocio.

D EFENDEMOS a todos os Juízes, e Officiaes,


e pouo das Cidades , e Villas, e Luguares de Noífos
Reynos , e Senhorios • em que alguüs Senhores , e
Fidalguos de Nós tenham rendas, e dereitos da Co-
roa , que fobre as ditas rendas, e dereitos, nom fa.
çam com os diws Senhores , nem Fidalguos ni-
nhuüs concertos , nem conuenças , nem delles ace..
ptem fobre iífo graça., nem quita de coufa algüa ;
faluo quando pera ello teuerem Noífo e[pecial man-
dado , e auétoridadc. E fazendo alguü partido, con-
uença, ou concerto, percam e paguem di em dian-
te a Nós , e aa Coroa de Noffos Reynos , todo o que
polos taees concertos , e conuenças [e obriguarem
de dar aos taees Fidalguos , e Senhores, e os ditos
Senhores, e Fidalguos percam pera Nós o que por os
taees concertos e conuenças delles ouueífem d'auer.
I E
Dos QyE ENCOBREM os QyE Q.yEREM FAZER MAL. 223

1 E PORQ.YE alguas partes que veem , ou en-


uiam aa Noffa Corte requerer feus neguocios, e cau-
fas que nom fam de jufüça, fe concertam na dita
Corte com algüas peffoas, que ajam de requerer , e
acabar os ditos neguocios por cerra coufa , e eílo
por os taees aas vezes os defefperarem, e lhes faze-
rem feus defpachos difficulcofos, os quaes fe por fi
os requereffem a Noífos Officiaes, a que pertencem,
feriam breuemente, e bem defpachados íegundo ra-
zam , e juftiça foffe, Defendemos,. que ninhüa pef-
foa de qualquer forte, e qualidade que feja, nom fa-
ça os taees concertos , nem os acepte , puílo que lhe
fejam requeridos ; fob pena de quem o contraira fe-
zer paguar anoueado , o que affi polo dito concer-
to lhe for dado , ou prometido , e por elle aceptado,
ametade pera quem o acufar, e a outra metade pera
os catiuos , e mais ferá degradado pera os Noffos
Luguares d'Alem por dous annos.

T I T U L O LXXI.

Dos que encobrem os que querem fazer mal.

E STABELECEMOS > e Mandamos, que nom


feja ninhuu tam oufado , que tenha , nem encubra
em fua cafa , nem em outro luguar , peífoa algüa
que queira matar, ou fazer outro mal a outro ninhLiü
em Noífos Reynos, e Senhorios; e fe alguüs poufa-
rem,
224 Ü ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN.TIT. LXXI.

rern , ou fe acolherem encubertamente em algüa ca-


fa , ou em outro luguar , o Senhor da caía, ou quem
cm ella morar , fendo dello fabedor os deite loguo
fóra, e façam faber aa Jufüça da Terra ante que fe
o mal faça ; e os que affi o nom fezerem , fe de fuas
caías fahirem pera matar, ou fazer outro mal , ajam
aquella pena que merecer aquelle, ou aquelles que
o mal fezerem. E poí1o que os que o dito mal feze-
rem , fe poffam efcufar. e defender, que o fezeram
por Dereito , nom fejam porem efcufos da dita pe-
na os que os encobrirem; faluo fe aquelles de cujas
cafas fahirem , ou encobrirem , forem taees peffoas,
a que o Dereito permita de poderem feer nos taees
feitos com cites.

T 1 T U L O LXXII.

Dos vaadios.

MANDAMOS, que qualquer homem que nom


viuer com fenhor, ou com amo, nem teuer Officio,
nem outro meíler em que trabalhe, e guanhe fua
vida , ou nom andar neguoceando alguü neguocio
feu, ou alheio, paílados vinte dias do dia que che-
guar a qualquer Cidade,. Villa, ou Luguar, nom to-
mando dentro nos ditos vinte dias amo, ou fenhor •
com que viua , ou meíl:er em que trabalhe, e gua-
nhe fua vida ;. ou fe o tomar, e de[pois o leixar , e
nom
SE O QYE FOI ACllS. POR ALG, CRIM, E LIV. ETC, 225

nom continuar. feja prefo, e açoatado pubricamen-


te ; e fe for petToa em que nom caiba açoutes , feja
degradado pera as partes d'Alem por huü anno.

--------
TITULO LXXIU.
Se o que foi acujado por alguú crime, e liure por fenten ..
fª ou perdam , /e Jerá mais acefado por el!e.

MANDAMOS, que fe alguü for liure por Nof..


fa fentença, ou de Noffos Julguadores, em qualquer
cafo por que mereceífe pena corporal, di em diante,
pois he liure por fentença, nom feja mais acufado
polo dito cafo ; faluo fendo achado, que die que affi
fe liurou foi liure por falfa proua, ou por conluio
alguú, que elle, ou outrem por elle ouuefie feito na
primeira acufaçam i cá em taees cafos poderá outra
vez feer acufado, e ferá prefo tanto que for prouado
que fe liurou por conluio, ou falfa proua. E fe fe mo..
íl:rar que algüa outra peffoa foi no dito conluio com
aquelle , que fe affi liurou, ora feja Acufador, ora
Official de Juftiça, ferá punido fegundo aluidro do
Julguador, aucndo refpeito aa culpa que teue no
dito conluio , e qualidade do caío , e das peíloas.
1 E BEM ASSI fe algua peífoa for liure de algüa.
morte> e por nom citar todos os parentes dentro do
quarto gráo, alguú dos que nom foram citados o
quifeffe defpois de afli feer liure acufar ; ou no cafo
Liv. V. Ff on-

16
226 o 0EINTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LXXIII.
onde o que fc affi liurou citaffe alguü Tutor, ou Cu-
rador d'alguü orfaõ, a que pertençia a dita acufaçam,
o qual Tutor , ou Curador o nom acufaffe , e defpois
o dito orfaõ o quife!fe acufar ; ou quando algüa pef-
foa ouuelTe de Nós perdam por lhe perdoar o Tutor
d'alguü orfam, a que a acufaçam pertencia, Manda-
mos , que nos ditos cafos os ditos parentes , que affi
nom foram citados, e bem afTi os ditos orfaõs, conuem
a faber ,as machos atee hidade de vinte e quatro an-
nos, e as femeas atee hidade de vinte e dous annos,
o~ poffam acufar nouamente, como que nunca foram
liures , ou como que nunca ouueram perdam , com
tanto que querelem primeiro ; porem nom feram
prefos por ninhíia guifa polo dito cafo, de que affi
fam liures, pofto que delles feja querelado nouarnen-
te : mas os que aíli os quifcrem acufar lhe foram no-
tificar por Noffas Juftiças, como os querem acufar,
e do dia da dita notificaçam, que lhe affi for feita•
a feffenta dias poderá tomar Carta de feguro pola
dita morte , ou fe poer em cobro ; e paffado o dito
tempo nom tendo tomada Carta de feguro poderam
feer prefos por a dita querela nouamente dada , ou
achada. E paffados os ditos feílenta dias , fe o dito
querelado nom for prefo por a dita querela , o que-
relofo o fará citar por editos dentro de termo d'ou-
tros feffenta dias , e profeguiram a acufaçam aa fua
reuelia atee fentença definitiua ; e nom citando den.
tro dos ditos fefienta dias , ou nom proíleguindo a
dita acufaçam, ferá lançado, e nom ferá mais ouuido
[o_
SE O QyE l'OT ACUS. POR ALG. CRIM. E LIV'. ET e. 227

fobre a dita acufaçam. e a Juíl:iça procederá pola dita


querela.
2 E SENDO o Reo abfoluto, e julguado por bem
liure, ferá condenado nas cuílas em dobro, e em
toda perda e dãno , que pola dita querela o acufado
receber, e todo da cadea , e mais em outra pena cri-
me, fe ao Julguador bem parecer.
3 E SENDO cafo que algüa peíloa tome Carta de
feguro nom fendo em cafo de morte, e citaíl"e a par-
te , ou partes de que fe affi fegurou, as quaes partes
delle ao tempo da citaçam nom teuelfern dado que-
rela dos ditos cafos contheudos na dita Carta de fe-
guro , e as dicas partes aili citadas diffeífem , que
por entonce nom queriam acufar, e que proteíl:a-
uam ao diante acufar ., e o dite feguro fe liurar, e
de[pois o dito eirado o quifer tornar a acufar polo
dito cafo, de que affi ja he liure, em tal cafo Man-
damos , que o poífa acufar dentro de feis mefes do
dia que foi citado. E a dita fentença que aili o dito
feguro teuer auida pala dita Carta de feguro, lhe
ferá guardada como a mefma Carta de feguro. E paf-
fado o dito termo de feis mefes, nom ferá mais ou-
uido. E efto que di-to he nom auerá luguar naquelle
que era prefo, quando a dita parte foi citada; porque
nom o querendo acufar, entonce nom ferá mais ou-
uido. defpois que o dito prefo for liure por fentença.
4 E MANDAMOS que fe alguü ouuer Carta de
perdam d'algüa morte de homem , em que fe dígua
feer culpado • e cm a Carta de perdam for poíl:a
Ff 2 clau-
n8 O ~INTo Lnao DAs ÜRDEN. T1T. LXXIII.
claufula , conuem a faber , Se outras parles hi nom ba;
a que a acufaçam da dita morte pertença &e., fe defpors
fe achar algüa parte daquelles que requeridos deue-
ram feer, que nom teuer dado perdam, e quifer acu-
far tal homem affi perdoado em tal perdam , fe te-
nha e{h maneira ; conuem a faber , fe o perdoado
moíl:rar que fez deligencia pera faber todos os pa-
rentes do morto, fazendo polos Juízes dar juramen-
to ao pay , e mãy do dito morto, fe os hi ouucr , ou
a filhos, auendo-os· hi, ou a outro parente do quar-
to gráo o mais cheguado, e auendo perdam de todos
os diuidos polo parente, a que for dado juramento>
nomeados , quer viuam neíles Reynos, quer em ou-
tros, fendo o dito morto natural deíl:es Reynos , fa,.
bendo certamente onde fam ; faluo fe forem cati..
uos , ou trazidos em gualee por força , ou fendo em
algüas partes que com eftes Reynos guerra teue-
rem , e auendo ainda certidam dos Juizes donde fof-
fe morador, e tambem donde foffe natural o dito
morto, que outros parentes dentro do quarto gráo
lhe nom fahem, que em tal cafo tendo o perdoado
eftas deligencias tam compridamente feitas , que
peró a dita daufula de perdam feja pofia , que pofto
que algua parte pareça parente dentro do quarto
gráo , que requerida deuera feer, que acufar o dito
perdoado queira, que tal Carta de perdam em todo
a tal perdoado nom valha, pera por ella ficar da dita
morte perdoado, mas que lhe feja a dita Carta to-
mada , e rota ; porem elle feja repofto em fua liber-
dade,
D'AQYELLES, QY! DAM AA PRISAM os MALF. 229

dade, e lhe feja affinado termo a que fe guarde, e po-


nha em faluo, e que feja certo, que fe mais for acha-
do, ferá punido fegundo for Dereiro, e Juíliça : e
eíle repoer em fua liberdade Mandamos que fe lhe
faça, pola deligencia que affi fez fazer, porque pare-
ce que norn leixou d'auer perdam de tal diuido , fal-
uo polo nom faber; porque fe cal deligencia nom
fez , Mandamos, que o perdam lhe nom feja guar-
dado em maneira algüa. E fe o dito parente diuido
dentro do quarto gráo, que aíTI quifer acufar, fezer
certo, como o dito perdoado delle foube parte anre
de elle auer a dita Carta do perdam , o tal perdoado
nom fcrá repoílo em fua liberdade. E eíl:o auerá lu-
guar em quaefquer perdoes de mortes, ou d'outros
maleficios-, onde partes ( aalem dos ofendidos) de-
uam perdoar, que fe daqui em diante derem, e bem
affi em quaefquer que dados fejam atee hora.

TI T U L O LXXIV.
D'aqudles, quedam aa prijam os malfeilores•.

QUALQUER peíloa, que der aa priíam cada


hum dos culpados , e participantes em moeda falfa,
ou em a cercear, ou por qualquer outro artificio min-
guoar, ou corromper a verdadeira, ou falfar Noffo Si-
nal , ou Selo, ou da Raynha Minha Molher, ou do
Principe Meu Filho, ou falfar final de qualquer Vee.
dor
230 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LXXIV.

dor da Noifa Fazenda, ou Defernbarguadores, ou de


qualquer outro Nolfo Official Moor, e affi de quaef-
quer outros Officiaes de Nolfa Caía, em coufas que
toquem a feus Officios; ou matar, ou ferir com bee-
fta , ou matar com peçonha , ou a der ainda que
morte della fe nom figua., ou matar atreiçoadamen-
tc. ou quebrantar prifoes, e cadeas de fóra por for-
ça, ou fezer furto de qualquer forre e maneira que
feja, ou pofer fogo acinre pera queim:tr peífoa, ou
fazenda , ou forçar molher , ou fezer feitiços , ou te-
ftemunhar falfo , ou Carce.reiro que foltar prefos por
fua vontade. ou quem ·entrar em Moeíl:eiro de Frei-
ras com prepofito dcihonefto , ou Tabaliam , ou
Efcriuam que fez falfidade em feu Officio; e tanto
que affi der á priíam os ditos malfeitores , ou cada.
huu delles , e lhes prouar , ou forem prouados cada
huú dos ditos maleficios , fe elfe que o affi deu aa
prifam como dito he, for participante em cada huü
dos fobreditos maleficios, em que aquelle que he
prefo he cül pado, Nos praz que fendo igual na cul-
pa feja perdoado liuremente ; poíl:o que nom tenha
perdam das partes. E fe nom for participante no
mefmo maleficio , ~eremos que aja perdam pera
fi ( tendo perdam das partes ) de qualquer malefi-
cia que tenha, poflo que graue fcja; e eflo nom fen-
do maior da quelle, em que he culpado o que am deu
. aa prifam ; e fe nom teuer perdam das partes Nos
praz de lhe perdoar liuremente qualquer degredo
que ceuer pera os N oífos Luguares d' Africa , atee
qua.
Do QYE LEVANTA VOLT.A EM Jutzo ETC. 231

quatro annos > ou culpa > ou maleficio que teuer co-


metido, por que mereça degredo atee os ditos quatro
annos. Porem ello fe entenderá que o fobredito, que
o cal der aa prifam , nom aja perdam de mais pena,
nem degredo. qu~ d'ourro tanto quanto o malfeitor
que affi der a aprifam merecer.
1 E AALEM dos fobreditos perdoes, que affi Ou-
torguamos, Nos praz , que fendo o malfeitor, que
affi foi dado aa prifam , falteador de caminhos , que
aquelle, que o affi defcobrir, e der aa prifam, e lho
prouar, aja de Nós vinte cruzados de Merce.

T I T U L O LXXV.
Do que aleuanta volta em Juízo perante a Jujliça ,
ou arranca em Igreja , ou Precijfam.

DEFENDEMOS, qUt~ nom feja ninhuü tam ou-


fado , que aleuanrc volta , nem arroido em J uizo
perante as Juíl:iças, ou contra ellas; e o que o con-
traira fezer , fe de prepofito aleuantar a-rroido em
Juízo contra a Jufliça , ou contra outrem em fua
prefença, e ferir, moura por ello; e fc nom ferir, fique
em aluidro do Juiz lhe dar aquclla pena que lhe
bem parecer , aalem das mais penas que por outras
NotTas Ordenaçoes merecer ; e alcuantando-o em
rixa noua fem outro propofico, Mandamos, que eífa
Juftiça o apene loguo , fegundo a qualidade das pef-
foas
232 o ~[NTO LIVR.O DAS ÜRDEN. TIT. LXXV.

foas , e da culpa que em tal arroido teuer : e em to-


do cafo aíli de rixa noua como de prepofito faça a
Juíl:iça efcreuer aos Tabaliaês, ou Eícriuaês, todo o
auto que fe perante elle paffar, pera fe ao deípois
poder veer fe obrou em ello como deuia ; e nom o fa_
zendo aíli, Mandamos aos Tabaliaês, e Efcriuaês, que
ponham todo em eíl:ado cont.ra ella, pera defpois fe
veer fe o leixou de fazer por fauor de algüa das par-
tes, e aíli auer aquella pena que por Dcreito mere-
cer.
1 E BEM affi Mandamos, que qualquer peffoa de
qualquer qualidade, e condiçam que fcja, que dentro
em Igreja, ou Moefteiro arrancar eípada , ou pu-
nhal pera ferir outrem, ou em Preciffam onde for
o Corpo do Senhor, ou em qualquer luguar onde o
Corpo do Senhor for , ou eíleuer , feja degradado
pera fempre pera a Ilha de Sam_Thome. E fazendo
o dito arrancamento em Preciffam, onde nom vaa o
Corpo do Senhor , feja degradado dez annos pera a
dita Ilha; e ferindo algüa peffoa , auerá por ello ,
aalem da dita penã., aquella pena que por Dereito,
e Noffas Ordenaçoes por tal cafo merecer , e qu~
aueria, fazendo o dito ferimento em qualquer outra
parte ; porque foo polo dito arrancamento cncorrerá
nas penas deíl:a Ordenaçam.

TI-
Do HOMEM QyE HE FERIDO DE NOITE ET e. 233

T I T U L O LXXVI.

Do homem que he ferido de noite, ou no hermo.


E da molher forçada no hermo.

SE alguü for ferido de noite, ou efpancado, que


lhe fiquem nodoas negras, ou inchadas, fe elle nom
teuer proua , põde-o prouar ddl-a maneira , conuem
a faber, fe bradar de noite quando o ferirem , ou
efpancarem, dizendo Fere-me foam, ou Ejlo me.fez,
fe alguüs homens faem aas janelas , OLI aa s portas , e
veem eílar na rua aquelle, de que o dito ferido, ou
efpancado daa voz, e brada , fica aíli o maleficio
prouado.
1 ÜuTRO s1 pode ainda feer prouado , fe o ante
tinha ameaçado, dando elle vozes, e bradando de
noite em hermo, ou em pouoado, que o fere aquelle
que o ameaçou , pofto que o nom viíle ninguem.
2 E BEM ASSI fe em alguü luguar hermo alguü
foffe ferido , ou efpancada, ou algüa molher foffe
corrupta de fua virgindade por força, de noite , ou
de dia, e o dito ferido , ou e[pancado , ou corru-
pta bradaffem loguo no dito hermo Foam , ou Foaõs
me fez iflo , moftrando loguo as ditas feridas , ou no-
doas, ou final de corrompimento de fua virgindade,
e fendo aquelle foam, ou foaõs, de que aíli bradaua,
que lhe o dito mal fezera , amoílrado polo que aíli
brada , e viíl:o por algüas peífoas no dito luguar ,
fica o dito maleficio prouado.
Liv. V. Gg 2 E
234 O ~ r NTo L1vRo DAS ÜRDEN. Trr. LXXVII.
3 E EsTo que dito he auerá luguar, faluo fe effe
de que afli foi bradado, e voz dada , aleguar , e pro-
uar tal defefa, ou contrariedade, que por Deréiro, e
Noílas Ordenaçoes feja de receber, e o releue; por-
que cm tal c:afo nom terá condenado aqu elle de que
afli foi bradado, ou dada voz por tal proua como
dito he.

------------------
T I T U L O LXXVII.

Dos que ajudam a fogir, ou encobrem os catiuos


que fogem.

DEFENDEMOS, que ninhüas peffoas fejam


tam oufadas , que leuem fóra de Noffos Reynos ni-
nhuü efcrauo catiuo pera os poer em faluo , e fahi-
rem de NoíTos Reynos , nem lhes mofi:rern os cami-
nhos por onde fe vam , e poíTam hir. Nem outro fi
fejam aazadores , nem confcntidores, nem encobri-
dores dos ditos eícrauos fogircrn. E qualquer peíToa
que o comrairo fezer, !\1andamos, que fendo achado
leuando alguü catiuo pera o poer em faluo, aquclle
que o afli leuar fendo Chriílaõ ferá degradado pera
a Ilha de Sam Thome pera [emprc; e fendo Judeu,
ou Mouro forro, ferá catiuo do fenhor do·catiuo ,
que afli leuaua; e fendo Mouro , ou Judeu catiuo,
ferá açoutado , e deíorelhado. E fendo-lhe prouado
que o leuou , pofto que com elle nom feja achado,
aue-
~ E NOM CONSENT. AOS MORAD. DE CAsT. E_T e: 235

auerá as mefmas penas , e mais paguará a valia do


efcrauo a feu dono.
1 E QYANTO aos aazadores, encobridores, ajuda-
dores dos dito,s caciuos que fogirem, encorreram nas
penas fobreditas.

T I T U L O LXXVIII.
~ue nom confentam aos moradores de Caflella, que ve-
nham em ajfuadas a ~f}es Reynos pera malfazer.

MANDAMOS, que nom feja ninhuü tam oufa-


do, que de fóra dos Noffos Reynos venha com affua-
da , nem por outra guifa pera mal fazer com armas.
E quaefquer que o contraira fezerem , perderam as
armas que · trouxerem , e fejam prefos atee Noffa
Merce; e fazendo alguü crime, ou maleficio , aue-
ram a pena que por Dereico, e Noffas Ordenaçoes
merecerem.

TI T U LO LXXIX.

Das cartas difamatorias, que /e lançam por mal dizer.


E dos mexeriqueiras.

POR Ql.JANTO alguüs efcriptos de trouas, e


outras cartas de maldizer fe lançam cm alguüs Iu-
Gg 2 gua-
236 O ~INTO LrvRo DAS 0RDEN. TrT. LXXIX.

guares pera fe darem, ou dizerem a aquelles, de que


defejam de defamar, Mandamos, que fe alguü tal
efcripto achar aberto, e o leer, que loguo o rompa,
de tal maneira , que fe nom poffa leer, fem mais fa_
lar , nem pubricar o que fe nelle achou ; e pubri-
cando-o, ou molhando-o , ou fe algüa peífoa em ello
falar, Mandamos que aja aquella pena, que aueria
aquelle que o fez.
2 E SE o tal efcripto, ou carta, que affi achar,
for çarrada, e nom teuer fobrefcripto, abra-a, e fe
viir que he de maldizer, loguo a· rompa como dito
he; e fe d'oucra~. coufas for, pode-a dar a quem viir
que veem cnuiada : e pubricando o dito efcripto , ou
carta de maldizer, que affi achar, ou amoflrando-a a
algüa pelfoa, aja aquella pena que aueria o que a
fez.
2 E Q.!,TANTO ao que fezer o tal efcripto, ou car-
ta , ou trouas de maldizer , Mandamos , que aja
maior pena da que merecia, {e o parceiramente, e
em prefença daquelle, que doeíl:a, ou defamou , o
dilfelfe , auendo-fe refpeito aa qualidade das pala-
uras , e defamaçam , e affi das peífoas, contra quem
os taees efcriptos, ou trouas fam feitas. O que Q!!e-
remos que feja grauemente punido.
5 E POR euitar mexericos MandJmos, que fe
a1g üa peífoa di!Ter a outrem, que outrem diífe mal
deli e, que aja a mefma p ena, affi ciuel, como crime,
que mereceria, fe lhe ellc mefmo diífeíle aquellas
palauras, que diz que o outro delle diífe, poíl:o que
,1ueira prouar que o outro o diffe. T 1-
Dos QYE ABR, AS CART. MANDAD. o'ELREY ET e. 237

T I T U L O LXXX.

Dos que abrem as carias mandadeiras d' El Rey , ou da


Raynha , ou d'outros Senhorrs; e dos do Confelho, e
Defembarguadores que defi:obrem os fegredos. E do que
dijfer mentira a EIRey em perjuizo d'algiia parte.

MANDAMOS, que qualquer que abrir Noífa


Carta affinada por Nós , na qual fejam contheudas
alguas coufas de fegredo, que efpecialmente perten-
çam a guarda de Noífa PeíToa , ou Eílado , ou da
Raynha Minha muito prezada e amada Molhcr,
ou do Pnncipe Meu febre todos muito amado e
prezado Filho, ou a guarda, ou defenfam de Noffos
Reynos , e o fegredo della defcobrir , do que a Nós
poderia viir alguü impedimento, ou deíleruiço, que
moura por ello.
1 E ESTA pena aueram os que abrirem as cartas,
e defcobrirem os fegredos dellas , que alguüs Senho-
res, ou outras algüas peífoas enuiarem a Nós çarra-
das, que itfo mefmo efpecialmente pertençam aa
guarda Noífa, ou do Noffo Eíl:ado, ou da Raynha
Minha Molher, ou Principe, ou de Noífos Reynos
como dito he. E fe as ditas cartas nos fobreditos ca-
fos abrir , e os fegredos dellas nom defcobrir, fe for
Vaífallo, ou peífoa de igual ou de maior condiçam,
perca os bens que ouuer , e feja degradado pera ca-
da huü dos Noífos Luguares d' Alem em Africa pera
fem-
238 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TlT. LXXX.
fempre ; e fe o nom for. feja açoutado pubricamen-
te, e degradado pera fempre, pera cada huü dos di-
tos Luguares. E fe foomente abrir outras Noffas cara
tas çarradas, que forem affinadas por Nós, nas quaes
Mandamos dizer algüas coufas que a Nós praz, ou
pertence a Noffo feruiço, que nom fam taees como
as que em cima Declaramos, fe for Vaffallo, ou pef-
foa de íemelhante, ou maior condiçam , feja degra-
dado quatro annos pera Cepta ; e fe o nom for, feja
açoutado pubricamente , e degradado por dous an-
nos pera a dita Cidade, e feja rifcado de Noífos Li-
uros fe for Noílo morador. E na mefma pena encor-
rerá o que abrir qualquer carta que pera Nós vier ,
de qualquer peífoa , que feja do que lhe aprouuer ,
ou pertencer a Nofio feruiço. E eíla meíma pena
ajam os que abrirem Noffas cartas aílinadas por
Noífos Defembarguadores, e Officiaes da Juiliça >
ou da Fazenda, e aífeladas com Noífo Selo.
2 E TODO o que Diífemos de Nolfas cartas, fe
entenda nas da Raynha , e nas que a Elia enuiarem.
E bem afli nas do Principe, fegundo a diferença
que nas Noíf.'\s Fazemos.
3 E sE abrir cartas dos Infantes, Duques, Me•
íl:res , Marquefes , Condes , ou Prelados honrados ,
ou d'outras peífoas, que a Nós forem muito chegua-
das em diuido , fe for Va{fallo, ou peífoa a elle
igual , ou de maior condiçam , feja degradado pera
Cepta, em quanto No{fa Merce for; e fe o nom for,
feja açoutado pubricamente.
4 E
Dos QYE ABR.As CART. MANDAD. o•ELREY ET e. 239

4 E ESTo fe guarde nas cartas das molheres, que


aas ditas peífoas fam iguaes em eíl:ado , e condi-
çam.
5 E Q!JANTO he aas cartas das outras peífoas,
Mandamos , que os que as abrirem fejam punidos,
efümando a pena fegundo a qualidade das peíloas ,
que as enuiarem , e a quem forem enuiadas , e o que
em ellas for contheudo, e a peífoa que as abrir.
6 E MANDAMOS que toda peíloa do Noffo Con-
felho de qualquer eíl:ado, e condiçam que feja, que
defcobrir os fegredos , que Nós com elles em Con-
felho Praticarmos, e Falarmos , em coufas que efpe~
cialmente pertençam á guarda de Noífa Peífoa , ou
Eíl:ado , ou da Raynha , ou Principe, ou guarda, ou
defenfam de Noífos Reynos, ou de coufa que a elles
fe poífa feguir alguü dãno, ou de que a Nós poderia
viir alguú impedimento, ou defieruiço , moura por
ello.
7 E SE o fegredo for de outras coufas , que per-
tençam a Noífo feruiço , que nom fam de qualidade
das fobreditas , ferá degradado o que affi o deícobrir
pera as partes d' Alem em Africa, em quanto for
Nofla Merce. E alem dello ficará infame, e priuado
de mais feer do Noffo Confelho.
8 E E.STAS mefmas penas aueram os que defco-
brirem o Coníelho , que lhe Nós Mandarmos fazer
apartadamente, fem Nós nelle Efiarmos prefente ,
fegundo as qualidades fobreditas do dito Confelho.
9 E DH.ERMINAMos, e Mandamos, que qual-
quer
240 Ü ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LXXXI.

quer Defembarguador Noffo, ou Guouernador • ou


Regedor, que defcobrir qualquer fegredo da Juíliça,
que em Rolaçam , ou como Notfo Official fouber •
ou defcobrir as vozes , ou o que paffar na Rolaçam ,
que defcobrindo-fe feria perjuizo a Noffo feruiço ,
ou a bem de Juíl:iça das partes, feja priuado do
Officio, e inhabile pera nunca mais auer Officio de
julguar, e mais auerá a pena de fee perjuro.
1o E DETERMINAMOS, que toda peífoa, que Nos
vier dizer algua mentira em perjuizo d'algua parte,
e fobre o que Nos affi differ nom impetrar Aluará
Nolfo, feja degradado dous annos pera Alem, e mais
pague vinte cruzados pera a parte , em cujo perjui-
zo Nos affi diffe a dita mentira , e mais ficará em
arbitrio do Julguador lhe feer dada rnoor pena, fe-
gundo a qualidade da peffoa , em cujo perjuizo for,
e da coufa que Nos affi foi dita, e affi de julguar aa
parte foa injuria, fe for cafo de injuria.

T I TU LO LXXXI.
Das cou_fas que .fam deft:.fas • que nom leuem a 'ferra de
Mouros. E bem aj/i que ninhuü Chrijlaõ vaa ao Rey-
no de Fez fem No/Ja licença , e que os Mouros fe nom
forrem com dinheiro do Reyno.

D EFENDEMOS que ninhüas peffoas affi de


Noífos Reynos , e Senhorios, como efrrangeiros que
nel-
DAs cous. Q.!.'E SAM DEFEs. uv. A TER, DE MouR. 24r

nelles eílcm , nom leu em, nem vendam , nern· man-


dem vemkr a ninhüa Terra d e Mouros ninhüas ar-
mas de qualquer forte e qualidade que fejam, offen-
1iuas , e defenfiuas , nem iffo mefmo poluora , nem
maceriaes pera fe fazer l nem nauios , ·o u madeira
pera os faz er, nem linho cancue, nem outra ninhüa.
maneira de artelharia , nem coufa algüa outra de
que fe os ditos lnfi eis poffam aproueitar em auto de
guerra, fob pena de qualquer que o fezer perder
todos feus bens moueis , e de raiz, conuem a faber,
a metade pera Nós , e a outra metade .pera quem o
defcobrir e acufa.r, e mais feja degradado pera fem-
prc pera a llha de Sam Thome. E eíl:a mefma pena
aueram quaefquer Eíl:rangeiros, ou Nolfos Naturaes,
que forem achados em cada huü dos Noffos Lugua-
res d'Alem em Afri<:a com as ditas armas, e coufas
fobreditas , tendo.as fecretas.
I E sEsoo a algúas peffoas das fobreàitas to-
madas, em paflando pera vender em Terra de Mou-
rds , armas , ou ferro, ou nauios , ou artilharia., ou
poluora, ou outras quaefquer coufas neceffarias, ou
proue-itofas pera feito de guerra, ou prendendo-os,
e ·tomando-os em Terra de Mouros com cada hüa.
das coufas fobreditas, Mandamos que aalem de per-
derem todas as coufas que lhe forem achadas , e to-
rnadas , e perderem todos feus bens , amctade pera
Nós., e a outra metade pera quern as tomar, fejam
feitos feruos daquclles que os tomarem, fegundo por
Dereito Canonico, e Commum he determinado.
Li·u. V. Hh 2 Ou ..

J7
242 O QprNTo L1vRo o.As ÜRDEN •. T1T. LXXXI.
2 OuTRO s1 Defendemos, que ninhüa peffoa de
qualquer condiçam que feja , affi dos Nofios Natu-
raes J. como Eftrangeiros, leue a Terra de Mouros
imiguos da Noíla Sané'ta Fee Carholica , e Noffos,
pam, vinho, azeite, fal, cera, mel, feuo, nem mer-
cadoria algüa , durando a dita guerra , fegundo pa-
las Conftituiçoês dos Padres Sanétos he determina-
do; e aqu elle que o contrairo fezer, fe for Eíl-rangci-
ro , por elfe mefn o feito perca toda a mercadoria
que affi leuar, e os bens que teuer cm Noílos Rey-
nos , e Senhorios , e affi fe perca o nauio em que for
carreguada; e fe o mercador, ou fenhor do nauio for
Noffo Subdito, ou Natural, aalem de perder a mer-
cadoria , perca todos feus bens ,, e fejam pera a Co-
roa de Noífos Reynos.
3 PERO Auemos por bem, que os Noífos Subdi-
tos, e Naturaes, poífam leuar pam , vinho, azeite,
e as mercadorias contheudas em eíle precedente ca-
pitolo, a Terra de Mouros, foomente pera tirarem ,
e remirem catiuos Chriftãos que laa jouuerem. E eíl:o
Mandamos, que poífam affi fazer por Noífa auélori-
dade, e mandado eípecial , porque em outra guifa,
nom feram releuados da dita pena, poíl:o que di-
guam que leuam as ditas coufas pera remirem Chri-
ftãos, fe pera ello nom mofirarem No!To mandado
efpecial.
4 ÜuTRo s1 Defendemos, que daqui em diante
ninhuu Chriílaõ Noffo Natural , nem Efhan-geiro,
que eftante feja em Noífos Reynos, e Senhorios, de
qual-
DAs cous. QlJE SAM DEFEs. uv. A TER. DE MouR. '143
qualquer condiçam, e qualidade que feja, poíl:o que
feja alfaqueque , nom vaa a ninhüa Cidade, Villa ,
nem Luguar de Terra de Mouros dos Reynos de
Fez; faluo com Noífa licença, e efpecial mandado 1
que pera iífo lhe Mandarmos dar por Nós aílinado 1
ou de cada huú dos Capitaes d' Alem I em cujo Lu-
guar eíl:euer, quando forem por cauía de feruiço de
Deos, ou Noffo, fob pena, de quem o contraira fe-
zer , perder toda fua fazenda , affi mouel, como de
raiz, a metade pera Naifa Camara , e a outra pera
quem o acufar, e mais feja degradado pera a Ilha
de Sam Thome atee Noífa Merce.
5 E BEM Assr Mandamos, que ninhüa peffoa
nom forre Mouro, nem Moura, que teuer catiuo,
por ouro , nem prata, nem dinheiro, que em Noffos
Reynos aja , nem por tempo cerro que aja de íeruir
com fegurança ; faluo por preço de dinheiro, que o
dito Mouro, ou Moura aja de fóra de Noffos Reynos,
ou por refguate que fe de11e faça por outro Ch.riftão,
ou Chriílaã , que catiuo feja em Terra de Mouros ,
ou por caualos , e mercadorias que de Terra de
Mouros trouxer. E qualquer que o contraira fezer ,
e lhe for prouado , o Mouro , ou Moura que fe affi
forrar, fc perca pera Nós; e iífo mefmo fe perca.
qualquer dinheiro, ou coufa que o dono , e fenhor
delle aja , ou tenha recebido pola dita rendiçam.
6 E EsTo que dito he , nom auerá luguar nos
Mouros, e Mouras catiuos, que ouuerem Noífa li-
cença ., pera em Noífos Reynos viuerem, e morarem,
Hh 2 por
244 O ~INTO L1vRo DAS On.DEN. Trr. LXXXII.

por que eíl:es taees fe poderam refguatar , e forrar


com o dinheiro do Reyno, e por qualquer outra ma-
neira , que com feus fenhores fe concertarem , os
quaes viueram fempre em Noffos Reynos, e fe nom
hiram delles fem Noífa efpecial licença; e hindo-fe.
e fendo tomados. no mar, ou nos Luguares d' Alem ,
ou do Eíl:remo pera fe hirem , feram catiuos de
quem os tomar.

T I T U L O LXXXII.

Dos Cbrifléios Nouos, e Mouros , e Cbrifiâos Mourifcos,


que fe vmn pera 'Ft1rra de Mouros, ou pera as partes
d' A/rica, e dos que os lmam.

DEFENDEMOS , e Mandamos, que ninhuü


Chriíl:ão Nouo que foffe Judeu, ora feja Noffo Na tu ..
ral , ora Eíl:rangeiro , fe vaa , nem paffe de Noífos
Reynos pera ninhüa Terra de Mouros, fob- pena de
quem o contraira fezer perder toda fua fazenda , e
feer catiuo, fendo tomado no proprio auto de fua fo-
gida, e hida, ou em qualquer outro auto porque co-
nhecidamente pareça elles fc quererem hir, ou fogir
pera as ditas partes contra eíl:a Noffa dcfefa. E ne-
ftas rnefmas penas encorreram os que fe forem com
fua cafa mouida pera qualquer Luguar d' Alem em
Africa, pofto que de Chrifiãos feja, fem Noffa efpe-
cial licença. l E
Dos CHRISTAÕs Novos, E MouRos, ET e. 245

1 E DEFENDEMOS que ninhüa peffoa de qual-


quer condiçam , e qualidade que feja, leue os ditos
Chriíl-aõs Nouos pera as dicas partes, como dito he.
E qualquer peffoa que lhe for prouado, que os le-
uou pera Terra de Mouros , moura por ello morLe
natural , e perderá toda fua fazenda. E fe os leuar
pera cada huü dos Luguares d 'Africa , que de Chri-
frãos feja, com fua cafa mouida, fem Noíla licença ,
ou fe prouar que os queria leuar pera Terra de
Mouros , perderá fua fazenda , e ferá degradado
quatro annos pera Alem. E fe fe prouar que os que ..
ria lcuar pera cada huü dos ditos Luguares d' Afri-
ca como dito he, perderá toda fua fazenda foomen-
te ; das quaes fazendas, que por eíla Noífa Ordena-
çam Dizemos que fe percam , ferá arnerade pera
a Noffa Camara , e a outra metade pera quem os
acufar.
2 ÜUTRO s1 vendo Nós como muitos Chriílaõs
Nouos que foram Mouros, e affi alguüs Mouros for-
ros fe veem de Caílella, ou d ' Aragam, ou d'outras
partes a eíl:es Noífos Reinos, pera delles fe paílarem
a Terra de Mouros, onde fe tornam Mouros, e dahi
fazem guerra aíli a Noffos Reynos, corno aos de Ca ..
fiella , o que he tanto contra feruiço de Deos , e
NoíTo, e affi outros inconuenientes que fe dello Ce-
guem, Poemas por Ley, que ninhuú Chrifião Nouo
que foff'e Mouro fendo forro , nem ninhuü Mouro
forro de Caílella, ou d' Araguam, nem de quaefquer
outras partes que fejam, nom venham , nem entrem
em
246 o ~TNTO LIVRO DAS ÜRDiN. TIT. LXXXII.
em Noífos Reynos, e Senhorios , poíl:o que diguam,
que vem com tençam de neguociar, fob pena , que
fendo achados em Nolfos Reynos, das Arrayas pera
dentro, ferem catiuos, e ferem pubricamente açou-
tados , e ferrados no rofto, pera fe faber como fam
catiuos, e perderem fuas fazendas , a metade pera
quem os acufar , e a outra metade pera No!Ia Cama-
ra. E eflas mefmas penas aueram os Mouros que por
Nós deftes Reynos foram lançados.
3 E MANDAMOS que ninhüa pelfoa de qualquer
condiçam, e qualidade que feja, leue os ditos Mou-
ros, nem Chriílaõs Nouos fobreditos fóra de Noífos
Reynos por Mar, nem por Terra. E qualquer peífoa
que os leuar pera Terra de Mouros, ou lhe for pro-
uado que os leuou, moura por ello morte natural , e
perderá toda fua fazenda ; e o l\auio, em que os te ..
uar, fe perderá iífo mefmo, pofio que nom feja feu:
e fe os leuar pera outra qualquer parte que nom feja
Terra de Mouros , ou fe prouar que os queria Ieuar
pera Terra de Mouros , perderá o dito nauio em
que os leuou, ou queria leuar , poíl:o que nom feja
feu, e mais toda fua fazenda, e ferá degradado qua-
tro annos pera 0s Luguares d' Alem cm Africa ; e fe
algüa peíloa os teuer, ou fe prouar que os teue cn-
cubertos em algüa cafa, ou luguar, encorrerá na
mefma pena de ·perdímeeto de fazenda , e degredo.
As quaes fazendas, e nauios, nos cafos fobreditos fe-
ram ametade pera a Noffa Camara, e a outra pera
quem os defcobrir , e acufar.
T 1-
DA PENA Q!!E AVERAM OS Q..YE POEM FOGVOS. 247

T I T U L O LXXXIII.

Da pena que aueram os que poem foguos.

D EFENDEMOS que peífoa algüa de qualquer


qualidade , e condiçam que feja , nom ponha foguo
em parte algüa. E poendo-fe alguu foguo em luguar
de que fe poíla feguir dãno, Mandamos aos Juizes, e
Officiaes das Cidades, Vil las, e Luguares onde fe raees
foguos aleuantarem, que acudam, e façam a elles acu-
dir com muita deligcncia, pera preíl:es fe auerem de
apaguar,, fazendo pera iffo os conílrangimentos , que
lhes neceffarios parecerem. E tanto que o foguo for
apaguado • fe alguü dano teuer feito cm paes, ou vi-
nhas, ou oliuaes., ou em outras nouidades, ou aruo-
res de frui to , colmeas, ou em coutadas de matos,
e foueraes, paciguos , ou em outros aruoredos, quer
fejam proprios dos Concelhos, quer baldios, os Juí-
zes vam: loguo com alguas peffoas, que niífo bem en-
tendam, eftimar o dãno, que o foguo fez. As quaes
peffoas foram ajuramentadas, que bem e verdadei-
ramente façam a dita extimaçam, fendo prefente a
parte, ou partes , a que o dãno tocar, fe em eífc Lu-
guar cfteuerem, ou o Pi-ocurador do Concelho, fe o
dãno outra parte nom teuer, da qual extimaçam da.
ram certidam feita . por Tabaliam pubrico aas par-
tes que a requererem , e ao Procurador do Concelho,
do que a eHe tocar, a qual fe, á affinada polos A ua-
liadores pera por clla cada huu requerer> e arrecadar
a
248 0 ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LXXXIII.

a extimaçam de fcu dãno polos bens do danador. E os


matos , e paciguos dos Concelhos, e baldios, fc efü-
maram , auendo refpeito aa perda , que os Conce-
lhos receberem , aa minguoa das ditas coufas, que
affi forem queimadas. E quando o foguo fezer dãno
como dito he, Mandamos aos Juizes 1 que em o dia
que o foguo for apaguado , ou ao mais tardar atee o
olltro dia, comecem fobre iffo tirar inquiriçam de-
ua11à, e acabem atee quinze d ias primeiros feguin-
tes, fob pena de paguarem dous mil reaes cada huu,
ametadc pera os catiuos , e a outra metade pera
quem os acufar; em a q1:1al inquiriçam pregumaram
aquelbs peífoas por que mais afinha poílam faber a
verdade, e que mais razam tenham de faber quem o
tal foguo pos , a qual tiraram no Luguar, ou Lugua-
res que pera iílo lhes mais conueniente.<, parecerem :
e em os Concelhos de pequena pouoaçam pregunta-
ram atee feis teíl:cmunhas , e em os outros moores
atee doze ; e em as Cidades, e Villas grandes atee
vinte , e mais nom. Pcró fe por cllas fe nom prouar
quem . o foguo pos, e os Juizes ouucrem de nouo no-
ticia de algüas peffoas, por que fe poífa prouar, pre-
guntalos-ham , poílo que feja m aalem do dito nume-
ro; e iffo mcfrno fe por menos tefkmunhas for pro4
uado, e fabido quem pos o foguo, nom pregumaram
outras mais, poíl:o que caibam no dito conto. E fe o
que pofer o dito fog uo confeífar cm Juizo que o pos,
nom tiraram Cobre iffo deuaffa algua , e fe a já ceue-
rem começada , nom vam por ella mais crndiantc.
I E
DA PENA QiJE AVERAM OS QjJE POEM FOGUOS. 249

E quando do foguo fe nom feguir dãno alguu ao


Concelho, nem a outrem , nem fe aqueixar diíTo
pefToa algúa, nom tiraram os Juizes a dita inquiri-
çam, nem faram fobre iílo Auto alguú. E fe alguü
fe achar culpado no poer do dito foguo, de que dãno
fe feguir, fe for e[crauo feja açoutado pubricamen-
te , e ficará em prazer de feu dono paguar o dãno ,
que o cal foguo fez , ou dar o dito efcrauo pera fe
vender, e do preço que fe delle ouuer paguar o
dãno; e fe o que pofcr o foguo for liure., fe for piam
feja prefo, e da cadea paguará todo o dãno que te-
uer feiro, e mais ferá degradado com baraço e pre-
guam pola Y.illa por dous annos pera cada huü dos
dos Noffos Luguares d' Alem; e fendo Vaffallo, ou
Efcudeiro , feja degradado polos ditos dous annos
pera Alem com huü preguam na Audiencia, e mais
paguará o dãno a feus donos; e fe for Caualeiro , ou
Fidalguo, Mandamos aas Nofias Juíl:iças, que aalem
de fazerem paguar aos danificados o dãno que do tal
foguo teuerem recebido polos bens dcífe Caualciro ,
ou Fidalguo, No-lo façam loguo faber pera lhe Dar-
mos aquelle caíl-iguo que Nos bem parecer, fegundo
o dãno que frzer. E qnando algüas pdfoas culpadas
no dito maleficio forem abfentes, Mandamos que
fe proceda contra elles por editos , ·e nom acudindo
a elles procedam os Juízes á fua reuelia, e dem con-
tra elles fcntenças , fcgundo fórma dcíta Noffa Or-
dcnaçam ; e tendo nos taees Luguares algüs bens mo-
Liv. V. li ue1s ,
~50 O ~lNTO L1v. DAS ÜRDEN.TIT. LXXXIII.
ueis , ou de raiz , por elles mandem paguar os dãnos
que acharem que fe fezeram.
J E PORQJJE alguüs por caçarem em as queima-
das , ou pera fazerem caruam, ou pa ílarem com feus
guados, poem efcond idamente foguos nos matos pera
fe das ditas queimadas milhor poderem aproueitar ,
do que fe algúas vezes fegue muito dãno, os quaes
nom fam por ello demandados, nem punidos, por fe
nom faber que elles poferam o tal foguo e pera que
fe de taees coufas refreem, Mandamos que peífoa al-
güa, de qualquer qualidade que feja, nom cace em
queimada do dia que o foguo for pofio, de que fe
alguü dãno fegu.ir , a trinta dias , nem entre alguü
a paíl:ar com fcu guado nel la atee a Pafcoa florida;
e carnoeiro alguü nom faça nella caruam atee dous
annos: e os que o contraira fezerem, fe outro certo
danador fe nom achar, feram obriguados por feus
bens paguar todo o dãno que o tal foguo frito tcuer,
como fe os propiios danadores fo!fem , fem mais
por ello auerem outra pena.
2. E o que dito Auemos nom auerá luguar em
aquellas peffoas , que poferem foguo por licença, e
auétoridade dos Juízes, ou Officiaes que pera darem
as taees licenças tenham poder ; nem iífo mefmo
em os que em fuas herdades , e cafaes , ou vinhas ,
ou matos, e quacfquer outras terras fuas, ou que
traguam arrendadas , poferem foguos pera queima-
rem alguüs reíl:olhos, ou moucas, e outro mato pera
fa-
DA PENA Q.YE AVERAM OS QYE POEM FOGUOS. 25r
fazerem fuas lauoiras , e fementeiras , ou pera poe-
rem bacelo, ou fazerem outros adubios tomo fe cu-
fiuma fazer, poendo porem os taees foguos em os
tempos , e meles, que palas Poíluras, e Ordenaçoes
dos Concelhos nom for defefo ; por que efl:es feram
foomentc obriguados paguar o dãno fe o fezerem , e
nom encorrerarn por iifo em outra pena algüa.
3 E MANDAMOS aos Procuradores dos Concelhos,
que quando os dãnos dos foguos tocarem aos ditos
Concelhos, requeiram e arrecadem a extimaçam del-
les palas cenidoes, que delles teram. E arrecadando
o dinheiro dos ditos dãnos, ferá entregue ao Tefou-
reiro , e carreguado polo Efcriuarri fobre elle em re-
cepta; e onde nom ouuer Tefoureiro , feja carregua-
do fobre o Procurador, e delle fe nom fará coufa al-
güa fem Noffo Mandado. E quando por culpa do
Procurador ficar tal pagua, ou parte della pot arre-
cadar pera o Concelho, ~eremos que elle por fi ,
e por feus bens feja obriguado paguar ao Concelho ,
o que affi por fua culpa nom for arrecadado.
4 E QllANTO aos que poferem foguo acintemen ..
te em cafas , ou em outros edificios , ou em paes ,
ou cm vinhas , oliuaes, ou aruores de fruito , Man-
damos que fejam punidos, fegundo defpofiçam de
Dercito Comum.

li 2
252 O ~INTO L1v, DAS ÜRDEN. Tn. LXXXIIII.
T I T U L O LXXXIIII.

!flue nom cacem perdizes, nem lebres, nem coelhos com


boi , redes, nem fio,

DEFENDEMOS geeralmente em todos Noffos


Reynos, que peffoa al g üa nom mate, nem cace per-
dizes , lebres, nem coelhos com bois, nem com fios
d'arame , nem com outros alguus fios , nem tome
ninhu Üs ouos das ditas perdizes, fob pena de quem
o contrairo fezer paguar da cadea dous mil reaes
por cada vez que niffo for achado , ou lhe for pro-
uado dentro de dous mefes , e mais perder as ar-
madilhas ; nas quaes penas iffo mefmo encorreram
aquelles em cujo poder, ou cafa, as ditas armadilhas
forem achadas , ora fejam fuas, ou alheas.
1 E BEM ASSI Defendemos em todos Noflos Rey-
nos, nos mefes de Março, Abril, e Mayo, peíloa
algüa norn mate, nem cace coelhos, nem !aparos
com caés , nem com beeíl:as, nem ao piado , nem
com foram , nem redes , nem com outra ninhüa ar-
madilha, com que os poffam matar, auendo refpei-
to a nel1e tempo feer fua criaçam , e fe nelle os
mataffem fe perderia; fob pena de quem o contrairo
fezer, por cada vez que for achado caçando, ou íe
lhe prouar dentro de tres mefes que caçou, ou ma-
tou os ditos coelhos em cada huü dos ditos tres me-
fes, paguar mil reaes , e mais perder os caês , e fo_
ram , e becíla , e todas as armadilhas com que affi
matar , ou caçar os ditos coelhos. '2 E
~ E NOM CACEM PERDIZES, NEM LEBRES ETC. 253

2 E AA LEM da dita defefa geeral em Notros Rey-


nos , Defendemos em efpecial em os Luguares fe_
guintes , conuem a faber, Lixboa, Euora , Santa-
rem, Sintra, Montemor o nouo . , Arra yolos , Vimi-
eiro, Eílrcmoz , Soufel , Fronteira , Viana, Vidi-
gueira, Beja , Alcaçouas_, Coimbra , Torres nouas ,
Porto de Moos, Tomar, Torres Vedras, e Almada,
que peffoa algüa nom mate, nem cace perdizes com
candcos , nem com red·es de ceuadoiro , nem com
perdiguam , ou perdizes de chamado; fob pena de
quem o contrairo fezer paguar, por cada vez que
for achado caçando, ou fe lhe prouar dentro de feis
mefes que caçou com as dicas redes , candeos, per-
diguam, ou perdizes de chamado, ou fendo-lhe
achadas em feu poder , ou cafa, em cada huü dos
ditos Luguares , ou feus T ermos , as diras redes ,
candeos, perdiguoes, ou perdizes de chamado, dous
mil reaes da cadea. E caçando com boi em cada
huü dos ditos Luguares , e feus Termos, ou fendo-
lhe prouado dentro de dous. mefes que caçou com o
dito boi, ou fendo-lhe achado em feu poder, ou em
cafa , pague dez cruzados , e feja degradado dous
annos pera cada huü dos Noífos Luguares d'Afri-
ca. Das. quaes penas pecuniarias acima em toda efia
Ordenaçam contheudas ametade ferá pera a Noffa
Chancelaria, e a outra metade pera quem o acufar.
E Mandamos aos Juízes de cada huú dos ditos Lu-
guares , que quando tirarem deuaífa geeral fobre os
Officiaes da Juíliça , que em cada huü anno fam
abri-
254 O ~INTO LrvRo DAS On.oEN. TrT. LXXXV.
obriguados tirar, preguntem na dita deuaíla por eíl:e
cafo de caçar com boi nos Luguares acima nomea-
dos. E achando alguú nello culpado o prendam , e
procedam contra elle , fegundo fórma de Noífas Or-
denaçoés , e nefte cafo em que affi forem culpados ,
e acufados pola deuaffa, poderam feer acufados ,
polto que os tres mefes fejam pairados. E fe em al-
guüs deíl:es Luguares ouuer outros Regimentos Nof-
fos , em que fejam poíl:as outras moores penas , ou
defefas, guardar-fe-ham como nellas for contheudo.

------·------------
T I T U L O LXXXV. ·
Dos daninho,.

POR fe euitarem os dãnos, que fe nas proprieda-


des fazem com guados, e beíl:as, e pera que cada
huü feja fenhor liuremente do feu, Ordenamos, e
Mandamos , que qualquer pefioa que acintemente
meter , ou mandar meter guados , ou beíl:as em
pam , vinhas, oliuaes , ou pomares, no tempo em
que fam coimeiros palas Pofluras das Camaras, fen-
do-lhe prouado dentro de feis mefes , pala primeira
vez fcja degradado tres mefes fóra da Villa, e Ter--
mo, e pola fegunda vez , que lhe for prouado, feis
mefes pera huú Couto do Reyno , e pala terceira
huü anno pera cada huu dos Luguarcs d'Alem , e
mais de cada vez paguará o dãno que fezer, e c01-
mas, fegundo as Poíl:uras <las Camaras. 1 E
0AS PEDRAS FALSAS, E CONTRAFEITAS. 255
1 E SEN oo achado o guado , ou beíl:as nos ditos
paes. vinhas, oliuaes, ou pomares nos ditos tem-
pos defefos tres vezes em huü mes , em tal cafo fe-
ram degradadas as ditas beíl:as , ou guado íeis rnefes
fóra do Termo da Cidade , Villa, ou Luguar, onde
o dono do guado ou beíl:as morar , e affi do Termo
onde affi foram achadas as tres vezes. E neíle cafo
abaílará pera proua das ditas achadas a fee do Ju-
rado, ou peffoa ,. que tenha poder pera coimar , e
dar fee, que fe achar efcripta no liuro das achadas ;
ouuindo primeiro porem os donos das d.itas beílas ,
ou guados , e procedendo fumariarnente fem outro
proceffo.

T I T U L O LXXX VI.

Das pedras fa!fas, e contrafeitas.

D EFENDEMOS que ninhua pefioa de qualquer


condiçam que feja , affi Ouriuez , como qualquer
outra peffoa , · nom encaíl:oem , nem ponham pedra
algüa, falfa , nem contrafeita , affi como fam robiis >
diamantes , efmeraldas , çafiras , torquefas balaes >
jacintos, pcrlas, aljofar groffo, e rniudo, nem ni-
nhüa outra pedra de qualquer forre , e qualidade que
falfa feja , em ninhuü anel d'ouro , nem de prata,
nem de metal dourado , nem praceado, nem em ni-
nhüa outra coufa , nem peça que feja. E qualquer
que
256 O ~INTO L1v. DAS ÜRDEN.TIT. LXXXVII.

que o contraira fezer. encorra em pena de perdi-


mento de todos feus bens , aili moueis , como de
raiz , a metade pera Arca da Piedade, e a outra pera
quem o acufar. E eíla Noffa Ley nom auerá luguar
nas coufas , que lhe mandarem fazer pera coufas de
feruiço das Igrejas.

T I T U L O LXXX VII.

Da pena que aiteram os Barqueiros , e Almocreues , e


quaefquer outras peJ!oas, que molham o pam que tra-
zem• ou lhe lançam te,-ra, e do que /alfa a cera.

Q UALQYER Carreteiro, Alrnocreue, ou Bar-


queiro, ou qualquer outra pe{foa que pam ouuer
d'entreguar, ou vender, ou leuar de hüa parte pera
outra, e lançar acintemente nelle terra , ou agoa,
ou qualquer outra coufa por lhe crecer, e furtar o
dito crecimento, fe o dãno e perda, que fe receber
do tal pam , valer dez mil reaes, moura por ello.
E fe o dito dãno e perda for da valia dos ditos dez
mil reaes pera baixo feja degradado pera a Ilha de
Sam Thome pera fempre.
l E SE algüa peffoa falfificar cera, ou qualquer
outra mercadoria , fe a falíidade que nella fezer Va-
ler huü marco de prata, que moura por ello. E fe
for da valia do dito marco pera baixo, feja degrada-
. do
~ E NOM LEV. PERA FÓRA DO RtYNO PAM ETC. 257

do pera a Ilha de Sam Thorne pera todo fempre.


E porem nom contraétando a dita mercadoria nom
fe fará execuçam nelle atee No-l·o fazerem faber.
E eíl:as mefmas penas aueram os que medirem , ou
pefarem com medidas , ou pcfos falfos.

T I T U L O LXXXVIII.
~ue nom /n:;em pera fóra do Reyno pam, nem fari-
nha , nem guados, nem couros, nem pe!les, nem ouro,
nem prata, nem caualos, nem armas, nem vam fa ..
zer nem vender carauelas fóra do Rey110.

POR quanto fem embarguo de polos Reys Nof-


fos Anteceílores fernpre feer defefo com grandes pe•
nas , que deíles Reynos fe nom tire parn , nem fari-
nha , nem guados pera fóra delles , muitos fe atre-
uem ao fazer, nom areceando as ditas penas, de que
fe fegue grande dãno a Noífos Reynos, por caufa de
os mantimentos fe aleuantarem em mui maiores pre-
ços, do que feria fe pera fóra leuados nom foffcrn.
E Vendo iífo mefrno como hi ha caufa, Iouuado Nof-
fo Senhor , de neíles Reynos fe aurr meíl:er de gua ..
fiar mais mantimentos que em outros tempos polos
difcobrimentos das Indias, e outras Terras, e Ilhas
que nouamente fam defc;obertas , e cada dia fe def-
cobrem , a que Mandamos noífas gentes, e armadas,
~erendo prouer ao ao dãno que niifo fe faz, e Dar
Liv. r. Kk mais

18
258 O ~rnTo L1v. DAS ÜRDEN.TrT. LXXXVIII.
mais certo remedio, Mandamos que daqui em dian-
te ninhúa peffoa de qualquer condiçam qúe feja nom
tire, nem mande tirar por fi, nem por outrem ,
deíles Noílos Reynos, e Senhorios, pera fora delles,
por mar nem por terra fem Noífa licença ninhuus
guados, nem trigo , nem farinha, ceuada, milho,
nem outro pam de qualquer natura que feja, nem
couros vacüs, nem pelles cabrüas. E quem quer que
o contraira fczer, e com as dicas coufas defefas , ou
cada hua dellas for achado em luguar defefo ; ou lhe
for prouado que as paflou, encorrerá em perdimento
de todos feus bens e fazenda , ametade pera quem
o acufar , e a outra metade pera Noffa Camara, e
alem deílo feja degradado pera todo fempre pera a
Ilha de Sam Thome ; refaluando porem Alcaides
Moores de Fortalezas e Ffdalguos , que Auemos
por bem que foomente paguem anoueado, o que affi
das dicas coufas palfarem , ou mandarem paífar, e
fejam degradados dous annos pera Cepta. E nas di..
tas penas de perdimenros de fazendas , e degredos
pera a dita Ilha, ~eremos que encorram quaefquer
Juizes, e Alcaides das facas, ou outros quaefquer
Noffos Officiaes , que a efto derem confentimento •
fauor, e ajuda, ou fabendo-o nom defenderem, nem
contradiíferem a tirada e leuada das ditas coufas ,
poíl:o que ao tirar dellas outro confentimento nom
dem. E bem affi quaefquer meftres , ou fenhorios
de nauios, que femelhante pam , ou guado leuarem
fem Noífa licença.
I E
~ E NOM U:V, PERA FÓRA DO REYNO PAM ET e. 259

1 E sE algüas peífoas ouuerem de Nós a dita li-


cença pera tirarem alguü guado, ou pam pera fóra,
ou couros, ~eremos que aquelles, a quem a Con-
cedermos, aalem da dizema que das taees licenças
em Noífa Chancelaria por regra della harn de pa-
guar , paguem mais outra dizema pera a rendiçam
dos catiuos daquello que fe montar, no que por tal
licença ouuer de paílar; e os taees Aluaraes, ou Car-
tas de licença que affi Ourorguarmos, Mandamos que
fe nom façam fem primeiro verem certidam do Te-
foureiro, ou Recebedor da rendiçam dos cativos, fei-
ta por feu Efcriuam, e affinada por ambos, de como
affi paguaram a dita dizema, e fica fobre o dito Te-
foureiro, ou Recebedor , carreguada em recepta ; e
fendo feito o tal Aluará , ou licença, fem nelle feer
declarado como affi paguou a dita dizema, Manda-
mos que fe nom guarde, nem aja efeél:o alguü.
2 E MA_NDAMos que aquelles, a que affi Dermos
as ditas licenças, nom vfem dellas fcm primeiro apre-
fentar as proprias ao Juiz da Terra, ou Alcaide das
facas dos Luguares por onde ouuerem de paflar as
ditas coufas, pera que lhe affi Dermos as ditas licen-
ças; aos quaes Juízes, e Alcaides Mandamos, que
tanto que lhe aprefentadas as ditas licenças forem ,
as tomem, e aílentern , e cofam no liuro da Camara
da dita Villa, donde nom fejam mais tiradas, por
tal, que com ellas nom paffem outras vezes as ditas
couías por outras partes. E Mandamos que poíl:o
que feja aprefentado o treslado dellas em pubrica
Kk 2 fór-
260 O ~INTO L1v. DAS ÜRDEN.TIT. LXXXVIII.
fórma , nom façam por os taees treslados de licença
obra algüa. E fendo achado , ou prouado , que paf-
fou as ditas coufas pera que tinha licença , fem fazer
a fobredica deligencia, ~eremos que encerram nas
fobreditas penas, como qu.e nom teueram as dicas
licenças.
3 OuTRO s1 porque algüas peffoas tiram o dito
pam polos portos do mar de Noílos Reynos, dizen-
do que o Ieuam aa Ilha da Madeira , e Luguares
d'Alem, onde fabem que tem valia, o que affi fa-
zem por lhe deli o defpois nom feer cornada conta ,
nem ferem obriguados trazer arr.ecadaçam dos Lu-
guares, pera onde dizem que o querem leuar , ~e-
rendo remediar efte enguano, Auernos por bem, que
daqui em diante quaefquer peffoas, que quiferem ,
e poderem tirar o dito pam por qualquer porto do
mar dos ditos Noífos Reynos pera outros Luguares
delles, ou de Noffos Senhorios, ante que carreguem
dem fiança abaftante em Camara aos Juízes, e Offi ..
ciaes do Luguar, onde o tal pam carreguarem, que
a huü certo tempo conuinhauel , que lhes por elles
ferá affinado fegundo a diftancia do caminho , e
de[pofiçam do tempo, traram certidarn autentica
dos Juízes, e Officiaes do Luguar onde o tal pam
leuarem , de como hi he defcarreguado, e da foma
delle. E qualquer pe{foa que carreguar o dito parn
fem dar a dita fiança , ou dando-a nom trouxer a
dita certidam ao tempo que lhe foi affinado que
trouxeífe, nom fendo impedido por alguü cafo for-
tui-
~ E NOM LEV. PERA FÓRA DO REYNO PAM ETC. 261

tuito, e que conhecida mente por tal feja auido, en-


corra nas penas fobreditas , em que encorrem aquel-
les. que o di.to pam leuam fóra de Noífos Reynos
fern Noífa licença. E eílo fe nom entenderá quanto
ao dar das fianças nos Noffos Naturaes , que trouxe-
rem pam das Ilhas dos Açores pera Noffos Reynos,
e Senhorios.
4 ÜuTRO sr Mandamos, e Defendemos, que ni-
nhüa peífoa de qualquer eílado, e condiçam que fe-
ja , nom tire por fi , nem mande tirar pera fóra de
Noífos Reynos por mar, nem por terra , ouro , nem
prata amoedada , nem por amoedar , nem dee aju-
da, nem fauor pera fe poder leuar. E qualquer que
o contra.iro fezer aja as ditas penas, fegundo a qua-
lidade , e diferença das peíloas, como dito he~
5 E os Luguares em que poderam feer tomadas
por perdidas as ditas moedas, e ouro, e prata, e as
outras coufas defefas , ferá por eíla guifa , conuem
a faber, aos Eftrangeiros feram tomadas tanto que
com e lias entrarem na derradeira Villa que efieuer
junto com o efhemo, ou pallarem por ella; porem
quando entrarem em a dita Villa nom lhe fcram to-
rnadas antes que poufe. E eíl:ando já poufado, fe nom
teuer aílemado, e regiílado no liuro dos regiíl:os as
ditas coufas defdàs, como as alli meteo pera alli
fazer feu trauto , ou as tornar a leuar pera Noífo
Reyno , poder-lhe-ham feer tomadas as ditas cou.
fas. E aos Chriftãos Naturaes de No{fos Reynos nom
feram tomadas nos ditos Luguares, faluo quando
fo-
262 O ~INTO Lrv. DAS ÜRDEN. TIT. LXXXVIII.
forem achados com as ditas coufas dentro de mea
legoa do eílremo ; porem fe dentro da dita mea le-
goa do cíl:remo ouuer algüa Villa acaílellada, norn
lhe feram tomadas , poíl:o que dentro nella fejam
achados com as dicas coufas defefas , faluo quando
foílem achados aalem da dita Villa. Peró fe algüa
peffoa for pera fóra dos Reynos , e leuar joias de ou-
ro, ou prata de fua peíloa , que norn paffem de
cincoenta cruzados, nom lhe feram tomadas , e po-
delas-ha leuar fem pena algüa : nem iífo mefmo
feram tomadas aas peffoas que forem deíl:es Reynos
pera os de Caílella as moedas que leuarem pera f ua
defpefa, e lhe forem neceífarias, fegundo a qualida-
de de fuas petToas , e diílancia dos Luguares pera
onde forem , as quaes lhe feram taxadas polos Jui-
zes, e Alcaides das facas, fe prefentes forem no Lu-
guar por onde paffarem , fazendo primeiro antes
que poufem a dita deligencia do regiílo.
6 ITEM Mandamos, e Defendemos, que nom
feja ninhüa peíloa tam oufada de qualquer condi-
çam que feja, que tire, nem mande tirar, nem dee
ajuda, nem confcntimento pera fe tirarem de Nof-
fos Reynos caualos , nem rociins, e egoas , nem ar-
mas , faluo fe leuar lança, e efpada , e punhal de
fua peífoa ; porque eíl:as podcram leuar fem as regi-
ftar. E qualquer que o conúairo fezer, perca as di-
tas coufas anoueadas , ametade pera quem o acufar,
e a outra metade pera Nofla Camara, e mais feja
degradado dous annos pera Cepca,
7 E
ClEE NOM LEV. PERA FÓRA DO REYNO PAM ETC. 263

7 E os Naturaes deíles Reynos , que nelles fo-


rem moradores , hindo pera Caílella poderam leuar
quaefquer beíl:as caualares , e muares I affi femeas ,
como machos, e affi de feia , como d'albarda , con-
uem a faber, as que lhe forem neceífarias pera fuas
caualarias, e carreguas, com tanto que as regiíl:em ,
e fe obriguem que as tornaram , ou outras tam boas
ou milhores por ellas, poíl:o que moradores nos pro-
prios Luguares do eíhemo fejam ; e norn moílran-
do , ou prouando como as tornaram , ou lhe morre-
ram laa, ou trouxeram outras tam boas ou milhares
por ellas , encerram nas penas fobreditas ; a qual
conta lhe nom poderam tomar mais que atee feis
rnefes, do dia que as rcgiílarem. E os Eílrangeiros
nom poderam tirar deíl:es Reynos ninhüas das ditas
beílas com regiflos, nem fem elles ; e fe algüas das
daas beflas trouxerem de Caíl:ella pera efies Rey-
nos , antes que defcarreguem , ou entrem em ca-
ía , o hiram notificar ao Alcaide das facas, ou ao
Juiz da Terra, nom eílando hi o Alcaide. E fe ou-
uerem de pa!Tar pera diante, e efperarem tornar as
ditas beíl:as, as regillaram; e nom as regifiando, e
tornando-as a tirar , fendo-lhe tomadas , as perde..
ram , po!to que queiram prouar que as meteram de
Caílella. E quanto aos afnos, pode-los-ham paífar,
affi Eíl:range1ros, como Naturaes, fem regi fio alguü.
8 E LEVA1{A o Alcaide das facas, ou aquelle
1

por quem ouuerem de paffar as certidoes dos regi-


fios, por affinar cada certidam do regiíl:o, quer de
Na-
264 O ~INTO L1v. DAS ÜRDEN.TIT. LXXXVIIL
Natural , quer de Eftrangeiro , dez reaes , e o Efcri-
uam das facas leuará d'aífemar o dito regiílo em
feu liuro , que pera ello terá, e affi de fazer a dita
certidam íeis reaes. E eíl:o a!Ti do Alcaide, como
Efcriuam, quer as coufas que fe regiíl:arem fejam
muitas , quer poucas , como for hüa foo peíl'oa que
regnl:a, e as coufas que fe affi regiftarem forem fuas,
ou elle foo dellas teuer carreguo. E affi leuará cada
huü delles da certidam que derem do dinheiro, que
cada peífoa leua pera fua defpefa , que lhe polo dito
Alcaide ha de feer taxado , o Alcaide quatro reaes ,
e o Elcriuam tres reaes, quer o dinheiro que lhe ta-
xar feja muito , por fua peifoa o merecer , quer
pouco.
9 E PORQYE a paffagem das coufas defefas fe
milhar pofla impedir, Nos praz, que qualquer pef-
foa que defcobrir aos Noffos Alcaides das facas, ou
a quaefquer Noffas Juíliças, onde eíl:am a1güas cou-
fas defefas pera paílarem pera fóra de Noffos Rey-
nos fem Noffa licença , e fendo achadas por feu def-
cobrimento e ordem , que pera iífo der, ajam os
taees que o affi defcobrirem a terça parte de todo o
que affi por feu defcobrimento for achado, e toma-
do; fendo porem as ditas coufas tomadas naquelles
Luguares, em que por Noífas Ordenaçoes, e Regi-
mentos fe deuem perder , ·e das outras duas partes
ferá hüa pera o Alcaide das facas, que as ditas cou-
fas tomar , e a outra pera Noffa Camara.
10 OurRo s1 Oucorguamos, e Nos praz, que os
Al-
~ E NOM LEV. PERA ~-ÓRA DO REYNO PAM ETC, 265

Alcaides Moores dos Caílellos, e Corregedores, Juí-


zes , Meirinhos , e Alcaides pequenos, e todas ou-
tras pelfoas de qualquer forte que fejam , poílam
tomar , e mandar tomar os guados , e quaefquer
outras coufas defefas que [e paffarem pera fóra de
Nolfos Reynos fem Noffa licença , affi como fe pro-
prios Alcaides das facas foffem ; e do que affi toma-
rem , e mandarem tomar , ajam ametade , e a outra
metade pera Noffa Camara; tornando porem as taees
coufas naquellas maneira , e nos Luguares em que
por bem dos ditos Noffos Regimentos, e Ordena-
çoés fe deuem perder. E Mandamos aos ditos Al-
caides das facas , que lhe nom ponham niffo embar-
guo alguü , porque alTI Nos praz por milhar fe re-
medear o dãno que niílo fe faz.
I 1 E BEM ASSI Mandamos , e Defendemos, que
ninhüa peffoa , de qualquer condiçam que feja ,
nom venda aos Eflrangeiros carauelas , nem náos
pera fóra do Reyno, nem as vaa laa fazer a Eftran-
geiros, nem as frete pera fóra do Reyno mais que
por huü foo anno, e nom huu anno apos outro, nem
tire pano de treu que fe nefle Reyno faça , nem ma-
deira , nem tauoado pera fazer nauios fóra do Rey-
no , fob pena de qualquer que o contraira fezer feer
prefo atee Noífa Merce , e perder todos feus bens
pera Nós,

Liv. Y. T 1-
~66 O ~INTO L1v. DAS ÜRDEN. TIT. LXXXIX.

T 1 T U L O LXXXIX.

Do Regimento dos /1/caidn das .facas fôb re a paf!agem


dos guados • e outras cou/as defefas • pera f óra do Reyno.

OS Alcaides das facas ham de feer poílos por


Noílas Cartas em os Luguares do eíhemo, e nom
em outros que fam dentro do Reyno, aos quaes
Mandamos que com muita deligencia , e fi eld ade ,
feruam os ditos Officios, e cumpram todas as cou-
fas adiante declarad as.
I E PERA que os ditos Alcaides poffam faber as
peffoas que deuem ac uíar, Mandamos a todolos
Ju ízes das Villas, e Luguares de todo o Reyno, que
n as deuaílas que em cada huü anno Mandamos ti-
rar fobre os Juizes , e Officiaes, pregunte m fe fa_
bem algüas peffoas que paífaram guado, ou outras
coufas defefas pera fóra de Noffos R eynos , e por
eíl:e capitolo preguntaram fob as penas de Noffa Or:.
denaçam , pot1 as aos que nom preguntam todos os
capitolos d as ditas d et.ia(fas , quando as aíf1 tiram.
E fe polas ta ees deuaffas acharem algüas peífoas cul-
padas prende- las-ham, norn fendo porem F idal g uos;
porque das taees p effoas N o-lo faram fab er como as
affi acham culpadas , pe ra lhe Mandarmos a m aneira
que com ellas íe tenha, e aalem deílo d a ram os di-
tos Juízes em rol aos Alcaides das facas da Comar-
ca, onde for em os culpados por as ditas deuaffas 1
pera
Do REGIMENTO. nos ALCAIDES DAS SACAS ET e. 267

pera os auerem de acufar, fegundo fórma deíl:e Re-


gimento.
2 1T.KM Manda mos aos Alcaides das facas , que
requeiram aos Juizes das Vilias, e Luguares da íua
Comarca, que mandem aos Tabaliaês dos Lugua-
res donde affi forem Juízes, que lhes dem cm rol
por elles affinado todos os Paffadores, que acha-
rem culpados nas inquiriçoês, deuaifas , e autos,
que reuerem pera os acu[arem, fegundo fórma do
que por eíle Regimento Ordenamos da maneira que
niffo ajam de teer.
3 1TEM ~eremos, que os culpados nas ditas de-
uaffas, e inquiriçoês, que fobre os Paíl'adores aHi fe
tirarem , venham refponder aas acufaçoês que por
dias lhe fezerem perante os Juizes dos Lug.uares ,
por onde a!fi paffarem as ditas coufas defeías , pofro
que nelles nom viuam, e morem em outras Villas ,
e Luguares , por alonguados que {ejarn daquelles,
por onde affi palTaram as dicas couías defefas.
4 OuTRO s1 Ordenamos, que tanto que aili forem
prelos os Culpados na paffagem das ditas coufas de-
fefas, fej am demandados polos ditos Alcaides das fa-
cas judicialmente perante os ditos Juizes; e qual-
quer das partes, que for condenada, poderá apellar
fe quifer da fentença que os d itos Juizcs dere.m, e os
ditos Juizes lha recebam pera os Juizes dos No{fos
Feitos , pera a defpacharern como for Dereito e
Jufüça. E fe a fcntença for dada em fauor da par-
te, e quifer eftar por ella, em tal cafo apellará o tal
LI 2. Juiz
268 O OErnTo L1v. DAS ÜRDEN.TIT, LXXXIX.
Juiz, ou Juízes, por NolTa parte. E qualquer das di-
tas apellaçoês virá aos ditos Juizes dos No!fos Fei-
tos pera as verem, e deípacharem como dito he.
5 E AVEMos por bem que todo No!fo Natural
po{fa comprar no Luguar, e Termo onde viuer ,
qualquer guado que ouuer meíl:er pera fua lauoira ,
e criaçam. E bem affi o Carniceiro do tal Luguar
o que lhe for necelfario pera o talho do dito Lu-
guar, fem outra licença, nem deligencia, fem por
ello encorrerem em pena algüa.
6 PoREM qualquer Eíl:rangeiro, que neíl:es Rey-
nos viucr, podf'.-á comprar aquelle guado, que pera
fua lauoira lhe feja neceífario , e mais nom ; o qual
poderá corr,prar no Luguar onde viuer, e nom em
outro, poílo que nom tenha Carta de vezinhança.
E eílo defpois de paffado huü anno de viuenda no
tal Luguar com fua molher e cafa , ou viuuando no
dito Luguar, fe ouuer huü anno que no dito Luguar
viue, e antes de p:i.lfado o dito anno o nom poderá
comprar. E qualquer que o contraira fezer, e lhe
for prouado, ~erernos que encorra na pena que
encorrem, e que he poíl:a aos Paffadores. E neílas
meímas penas cncorreram as peífoas que lho ven.
derem.
7 OuTRO sr Mandamos, que ninhuüs guados,
que de Cafl:clla vierem parlar a eíl:es Nolfos Reynos,
nom andem paíl:ando a menos de cinco leguoas a
dentro do dito eílremo; e fe menos quiferem andar,
que os ma1oraes , e paílores dem fiança fegura , e
abaíl:an-
Do REGIMENTO DOS ALCAIDES DAS SACAS IT e. 269
abaílante, aos Juizes do Luguar mais cheguado aos
termos onde paftarem , a qual ficará afientada na
Camara do dito Luguar , pola qual fiquem obri-
guados a nom paílarern , e nom fahirem com os di..
tos guados fóra de Noffos Reynos fem ferem viíl:os •
e contados, perante o Noffo Alcaide das facas da
Comarca onde andarem , polo Contador dos ditos
guados , eftando hi ; e fenom efteuer hi , perante o
Portageiro; e eíl:ando todos no Luguar far-fe-ha per•
ante todos , querendo o Portageiro hi eftar : e eCla
maneira fe terá affi na entrada , como na fahida do
dito guado , a qual fahida ferá polo mefmo porto
por onde entrarem. E fazendo o contraira deílo os
ditos maioraes , e paíl:ores , percam todos feus gua-
dos, e fejam prefos , e ajam a pena dos Paífadores.
8 ITEM Mandamos, que ao tempo da entrada
dos paílores, e guados dos Reynos de Caílella pera
os Noffos, e affi dos No{fos pera os de Caílella, fc-
jam polos Noífos Alcaides das facas da Comarca
por onde entrarem, e polos ditos Ofüciaes, contados
como dito he, e e feri ptos por o Efcriuam em feu li-
uro do regiílo mui verdadeiramente polo miudo 1 e
com toda boa declaraçam, conuem a faber, de quan-
to o guado he , e cujo he , e de que Luguares, pera
da tornada polo dito regiílo fe veer fe cada huu
mete , ou tira mais, ou menos , do que foi contado,
e regiílado, em maneira que pola boa conta , que
di{fo fc tomar, fe faça todo bom recado, e [e nom
potra tirar mais d'aquello que no dito Rcyno entrou
aos
270 O ~INTo L1v. DAS ÜRDl!N. T1T. LXXXIX.
aos ditos paílos. E quando fe achaífe que mais leua-
uam d'aquello que meteram, perder-fe-ha, e·aalem
diífo aueram as penas que fam dadas aos proprios
Paíladores.
9 E AVE Mos por bem , que os dizemos dos gua.
dos , que cá nacerem , fe paguem em proprio gua-
do , e nom a dinheiro , fob pena d'aquelles que os
ditos dizemos a dinheiro receberem • perderem o
dito dinheiro, que affi receberem , em rresdobro ,
das quaes penas auerá ametade quem os acufar, e a
outra metade a Naifa Camara.
10 OuTRO s1 Ordenamos, que em cada Villa ,
ou Luguar do eílrcmo, que feja porto ordenado , aja
Contador dos guados, e Eícriuam , os quaes feram
dados por Noffas Cartas, e aueram por feu trabalho,
tanto huü como outro, aa cu(b dos donos dos gua-
dos que affi contarem, aíli da entrada, como da fa:..
hida de Noffos Reynos, conuem a faber , de cada
cento de carneiros, e de ouelhas , e de qualquer outro
guado miudo , leuaram quatro reaes cada huü, e
por eíl:e refpeito do mais , e do menos; e de guado
vacü leuaram dez reaes cada huú de cada cento ,
e affi por eíle rcfpeito do mais , e do menos; e nom
aucrá mais luguar o outro mantimento, que a eíles
Officios antiguamente era ordenado , e foomente
aueram feus falarias por efla maneira , que agora
Ordenamos. E mais leuaram o dito Contador , e
Efcriuam hidas os dias que fóra andarem , affi como
leuam os Tabaliacs, com tanto que pofto que laa
an-
Do REGIMENTO DOS ALCAIDES DAS SACAS ET e. 271

andem mais de tres dias npm lhe fejam contados


mais dias.
1l ITEM os ditos Contador, e Efcriuam dos gua-
dos contaram, e efcreueram todos os bois, que pe-
lo Luguar do porto , onde forem Officiaes, entrarem
dos Reynos de Caílella pera eftes Noífos com car..
retas, conuern a faber, quantos fam , e de que fi-
naes, e cores, e cujos fam. e de que Luguares, e
com toda outra boa declaraçam, pera fe faber, e veer
ao tempo da tornada delles, fe tiram, ou leuam mais
dos que meteram; e os que affi os nom efcreuerem ,
ou leuarem mais do que trouxeram , por cada hüa.
deíl:as coufas frjam perdidos , e affi fc entenda eílo
naquelles que de Noffos Reynos entrarem pera Ca-
ftella com carretas ; e eílo foomente fe entenderá
nos Luguares dos ditos portos,. em que afü cíl:o ham
de prouer, e vecr os ditos Officiaes.
12 E o dito Contador, e Efcriuam pola conta ,
e efcriptura que fezerem dos ditos bois de carretas ,
na maneira que dito he, leuaram de cada cento de
bois outros dez reaes, como do outro guado que
entrar a paíl:ar , e affi eíles feram obriguados a tor-
nar por onde entraram , e ficaram efcriptos na ma..
neira que com o outro guado fe ha de fazer. Peró
Declaramos, que fe por outro alguü porto quiferem
tornar por lhes viir milhar, o poderam fazer, to-
mando porem pera effo Aluaraes de guia , em que
declarem quantos bois meteram , pera outros tantos
poderem tirar , e .mais nom ; e narn o fazendo affi ,
en-
272 O QyrnTo L1v. DAS ÜRDEN. TIT. LXXXIX.

encorram aquelles que o contrairo fezerem na pena


dos Paffadores.
13 ÜUTR0s1 fe alguüs Paffadores,ououtras pef-
foas paffarem deíles Noflos Reynos pera fóra delles
alguas coufas defefas, aos quaes os ditos Noffos Al-
caides das facas nom poífam refiílir por fi mcfmos.
pera os prenderem , e lhes tomarem as ditas coufas
defefas , que affi pafT.'lrem fegundo fórma de Noífo
Regimento , e Ordenaçoês fobre o tal cafo feitas •
Mandamos aos Corregedores das Comarcas , onde o
tal acontecer• e a todas as outras Noífas Juíl:iças • e
Officiaes , e pcffoas a que pertencer , e a que polos
ditos Alcaides for requerido , que loguo com grande
deligencia mandem com elles , e vam em peífoa fe
comprir, aíli pera a prifam dos taees • e comadia do
que affi paffarem , e leuarem defefo , como pera
qualquer outra coufa , que pera boa execuçam do
que Mandamos fobre eíle cafo lhes os ditos Alcai-
des das facas da NofTa parte , e por Noffo feruiço
requererem , e o façam inteiramente • e com grande
cuidado , e deligencia , por feer couía que tanto
cumpre a Noffo feruiço fe prouer. E qualquer dos
fobreditos que nom comprir, ou niffo poíer tam maa
deligencia , que por fua minguoa Leixemos de feer
feruido , Auemos por bem que encorra em pena de
cincoenta cruzados d'ouro pera os ditos Alcaides
das facas, ou Official dellas que tal requerimento lhe
fezer ; e aalem da dita pena lhe Daremos qualquer
outra que Nos bem parecer e pera Podermos feer
cer-
Do REGIMENTO nos AtcATDF.:s DAS SACAS ET e. 273

certo do q11e niílo fe faz, e Mandarmos todo dar


aa execuçam , os ditos Alcaides das facas tomaram
Eílormentos pubricos de como affi o diro requeri-
mento fezeram aas ditas Juíl-iças, quaefquer que fo-
rem , e de como foram a iffo negrigentes pera por
elles Prouermos , como Nos bem parecer acerca da
execuçam das ditas penas. E eíla pena fe nom en-
tenda nos Alcaides Moores, nem Corregedores, por-
que acerca deíles Premeremos como for Noífa Mer-
ce quando forem culpados, o que delles nom Efpe-
ramos e Encomendam os-lhes, que pera prouifam
dos femelhantcs cafos deem aos ditos Alcaides das
facas todo o fauor, e ajuda que poderem, e de co-
mo o elles fezerem No-lo faram os ditos Alcaides
faber , pera aos que nitro Nos nom feruirem bem
Darmos aquelle caíliguo que for Noffa Merce.
14 E PORQYE Somos enformado que nas com-
pras que fe fazem, affi polos Carniceiros amoílrando
Cartas d'obriguaçoes , como por os que compram
por Cartas de vezinhanças, dizendo que fam pera
fuas lauoiras, e criaçoes, fe fazem muitos conluios,
donde fe fegue grande deuaffidam ,-e dãno aa tirada
do guado de Noílos Reynos , ~erendo niffo reme-
diar Ordenamos, que daqui por diante fe tenha nif-
fo a maneira abaixo declarada ; conuem a faber, to-
do Carniceiro , ou peffoa obriguada a cortar em ca-
da huü dos Luguares de Noffos Reynos , quando
quiíerem hir comprar guado pera auer de comprir
fuas obriguaçoes , pedirá Carta de certidam de fua.
L"ll. V. Mm obri-
274 O ~INTO L1v. DAS ÜRDEN. TIT. LXXXIX.

obriguaçam dos Officiaes da Cidade , ou Villa , em


que affi for obriguado, e por elles lhe fcrá paílada ,
feita por o Efcriuam da Camara, e affinada por elles
todos, em que declarem a fórma de tal obriguaçam,
e affi o anno em que a ha de comprir. E os ditos
Officiaes feram auiíados, que a tal certidam lhe nom
dem , foomente daquella foma de guado que o tal
obriguado teuer por comprir ao tempo em que afli
a dita certidam lhe for dada; e quando affi lha de-
rem fer-lhe-ha por elles dado juramento dos Auan-
gelhos , que declare fe tem já auido , e comprado
alguu guado pera ajudar a comprir com o que ain-
da lhe falecer da ohriguaçam , que ao tal tempo te-
uer, por que della lhe feja defrontado, e fe lhe nom
dee; faJuo d'aquello que verdadeiramente lhe falecer
pera auer de comprir fua inreira obriguaçam , e a.
fobredita certidam fe lhe paflará na maneira que
dito he em hüa folha de papel inteira , pera que no
que em limpo ficar fe auerem de poer as deligen-
cias , que abaixo feram declaradas, que Mandamos
que na fobredita Carta de certidam fe ponha: e def-
pois que o tal Carni-ceiro , ou obriguado tal certi ..
dam teuer , hindo a aquelle Luguar em que guado
queira comprar, a aprefentará aos Officiaes da Ca-
ra delle em Camara , e por elles lhe ferá dito que
vaa bufcar o guado, que achar no Termo do dito
Luguar , que lhe queiram vender, e tragua em rol
as peffoas que lho vendem , e quanto cada hüa ; e
trazendo o tal rol aos ditos Officiaes , elles lhe paffa-
ram
Do REGIMENTO DOS ALCATD!S DAS SACAS IT C. 27$

ram feu affinado abaixo da ccrtidam que affi leua


do Luguar onde he obriguado , polo qual lhe daram
luguar, que elle poffa comprar o íobredito guado
contheudo no dito rol, declarando-lhe as peífoas, e
quanto de cada húa , no meímo mandado que lhe
por elles ha de feer dado, o qual ferá feito polo
Efcriuam da Camara , ou Ta baliam pubrico, quan-
do o Eícriuam da Camara hi nom eíl:euer; e por eíl:a
mcíma maneira o fará em cada Luguar que for,
aprefentando a cercidam do guado que ha de com-
prar, e aíli do que já tem comprado, auendo as li-
cenças pera as taees compras fazer na maneira fo-
bredita, e eíl:o atee encher a copia da certidam, que
leua do Luguar em que fica obriguado, do guado
que ha de comprar. E fe o tal Carniceiro, e obri-
guado comprar alguü guado fem primeiro fazer as
taees deligencias, ou cada hua dellas , encorrerá cm
pena de paguar anoueado todo o guado que affi
comprar. E po!l-o que faça todas as fobreditas deli-
gencias • fe comprar mais que a foma da dita certi-
dam do que ha de comprar, ou comprando mais
em cada Luguar, ou d'outras peffoas, do que lhe he
concedido polos Officiaes, pot1:o que da foma prin-
cipal nom paífe , paguará iífo mefmo anoueado o
que aíli comprar, aalem dos ditos mandados , e cer-
tidam. E no cafo em que o comprador perder o
guado que comprar anoueado , conuem a faber ,
por comprar a pefToas que lhe nom fejam nomeadas
pola certidam , que das Camaras ha de leuar , as
Mm 2 taecs
276 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN.TIT. LXXXIX.
taees peffoas que affi lhe venderem , que forem fóra
da dita ccrtídam, e rol, que dos Officiaes da Cama-
ra ham de leuar , perderam o preço que valer o
guado, que lhe affi venderem, fem mais outra nouea.
15 E Q!,JANTO aos que com Cartas de vezinhan-
ças forem comprar pera fuas criaçoes, ou lauoiras ,.
ter-fe-ha a maneira fobredita, que Mandamos com
os Carniceiros dos guados, conuem a faber, d'apre-
fentarem as Cartas na Camara : e nom poderam
comprar, faluo aquella foma de guado, e a aquellas
peffoas que polos Otnciaes lhe for concedido , o que
iífo mefmo fe poerá abaixo da certidam , ou nas co-
fias da Carta da vezinhança , como Mandamos que
fe faça nos ditos Carniceiros obriguados ; e antes do
tal mandado fe dará juramento dos Auangelhos ao
que tal Carta de vezinhança leuar , fe tem neceíli-
dade do dito guado, ou he pera elle, e fem primei-
ro lhe feer dado o dito juramento, fe lhe nom dará
luguar pera o comprar; e comprando alguü guado
nom guardando primeiro o modo fobredico , encor4
ra em pena de paguar anoueado todo o que com-
pr:ir , e o vendedor perderá foomente o preço que
ouue polo guado que lhe aíli vendeo.
16 E MANDAMOS, que ninhüa peífoa nom com-
pre guado pera tornar a vender, nom fendo das pef-
foas obriguadas a talhar em alguü Luguar, os quaes
compraram fazendo as deligencias fobreditas , ou
quando o quiferem Jeuar a vender aa NotTa Cidade
de Lixboa, ou ao Alguarue, ou aa Nolfa Corte.
E
Do REGIMENTO DOS ALCAIDES DAS SACAS IT e. 277
E quando pera os ditos Luguares o quiferem com-
prar, falo-ham faber no Luguar, onde aíli quiferem
comprar, aos Juizes, e Officiaes delle em Camara,
e fe obriguaram a certo tempo moíl:rar certidam
dos Officiaes da Camara dos ditos Luguares, ou do
No!fo Almotace Moor, quando vier aa Nolfa Corte,
nom efiando Nós na dita Cidade , de como ralhou ,
ou vendeo na NoJTa Corte, ou nos ditos Luguares ; e
nom a leuando ao tempo em que ficarem obrigua-
dos, encorrarn nas penas que encorrem os Paffado-
res. Emperó o que ouuer de comprar pera affi trazer
aa No!la Corte, ou aos ditos Luguares, auerá certi-
dam dos Officiaes da Camara do Luguar onde com-
prar , naquella maneira que fe ha de dar aos Carni-
ceiros obriguados , e aos das Cartas da vezinhança ,
e fem ella o nom poderá fazer fob as penas pofias
aos fobreditos Carniceiros obriguados, e aos das Car-
tas das vezinhanças. E comprando pera reuender o
dito guado, e reuendendo-o, encorram nas penas
que encorrem os que reuendem pam. E porem cada
huú poderá tirar o feu guado que teuer de fua cria-
çam, pera o hir cortar em qualquer Luguar de Nof-
fos Reynos , onde quifer, com tanto que tragua cer-
tidam do Luguar em que o cortar, dentro de quatro
mefes do dia que o dito guado tirou donde o trazia.
E fe o nom cortar no dito tempo, e diffcr que o traz
de paílo em qua·lquer Luguar de Noffos Reynos, fe_
rá obriguado a trazer certidam de quatro em quatro
mefcs , de c:omo laa traz o·dito guado. E nom era ..
:z.cn-
278 0 ~INTO LIVRO DASÜRDEN.TIT. LXXXIX.

trazendo a dita certidam , ou cada hüa dellas no di-


to tempo , perderá o dito guado, ou fua valia , a me-
tade pera quem acufar, e a ou era metade pera a Nor-
fa Camara.
17 E A'.\1'.ETADE de todas efhs penas , affi dos
Carniceiros obriguados , como daquelles que com
Cartas de vezinhanças comprarem, ou fem ellas, fe-
rá pera quem o acufar, e a outra ametade pera Nof-
fa Camara.
18 E oRDElllAM0S, que todo NofTo Natural , e
morador em Notlos Reynos, polfa fazer carneirada •
com tanto que nom pafie cada hüa carneirada de
quinhentos carneiros. E quando fe os ditos carnei-
ros ouuerem de comprar , Mandamos , que faça as
deligencias que he obriguado a fazer o que compra
alguü guado com Carta de vezinhança, ou pera le-
uar a Lixboa, ou aa NofTa Corte, fegundo neíla
Ordenaçam he contheudo ; e nom fazendo as ditas
deli gene ias encorrerá nas mefmas penas. E Defen-
demos fob as ditas penas, que ninhuü nom po!fa fa-
zer, nem trazer as ditas carneiradas menos de cin-
co leg uoas da arraia de Ca(l-ella, as quaes carneira.
das ~eremos que nom polTa fazer ninhuü Fidal-
guo, nem Alcaide Moor, nem Comendador, faluo
fe os Carneiros forem de fua criaçam , ou de feus
dizemos ; porque em tal cafo as poderam fazer atee
quinhentos carneiros, com tanto que as nom tragua
dentro de cinco leguoas d'arraia; e fazendo-as maio.
res, ou d'oucra maneira , ou trazendo-as dentro das
cin-
Do REGIMENTO DOS ALCAIDES DAS SACAS !T e. 279
cinco Ieguoas , perderam todo o guado em quatro
dobro, e mais feram degradados dous annos pera
cada huü dos Noffos Luguares d' Alem.
19 E DEFENDEMOS, e Mandamos, que daqui ern
diante ninhúas peffoas de qualquer condiçam , e
qualidade que fejam, nom paguem a ninhuüs paflo-
res Caílelhanos, que a efl:es Reynos vierem guanhar
fuas vidas em guados, fuas foldadas , e foomente
lhas paguaram a dinheiro; fob pena que qualquer
paíl:or que fua foldada receber no dito guado o
perder, poíl:o que o nom pafle, e quem lho paguar,
outro tanto , ametade pera quem o acufar, e a outra
pera Noffa Camara.
20 E MAN0AMos aos- Alcaides das facas, e Cor-
regedores, e Ouuidores, Juizes, e Juíl:iças, que
fempre trabalhem de faber fe fe guarda efie Nolio
Regimento , como nelle he conrheudo, e façam dar
á execuçam as penas nelle concheudas nos culpados.
2I E DAMOS poder aos Alcaides Moores das fa-
cas das Comarcas onde os ouuer , que elles proue-
jam fobre os Alcaides pequenos dellas , e tenham
muito grande cuidado de faber fe feruem feus Offi-
cios como deuem , e cumpre por Noffo feruiço, e
guardam, e cumprem em todo efl:e Noffo Regimen-
to ; e achando q.ue alguú , ou alguüs delles o nom
fazem affi verdadeiramente, e bem como fam obri-
guados, os poffam fuípender de feus Officios, e fe
forem Caualeiros os prender fobre fuas menages ,
quando fuas culpas, e qualidade dcllas o requerer,
e
280 O ~rNTo Lrv. DAS ÜRDEN. T1T, LXXXIX.
e di pera baixo íejam preíos em ferros ; os quaes
Alcaides Moores das dicas facas Nos faram loguo
faber as culpas , e erros em que os acham, pera
Mandarmos entender em feus caíl:iguos, e fe defpa-
charem como for Dereico. Peró porque aja hi quem
ferua os ditos Officios, Damos iífo meímo poder aos
ditos Alcaides Moores das facas, que com os Juízes,
e Officiaes da Villa , ou Luguar de que forem os di-
tos Alcaides [ufpenfos, enlejam pdfoas que os ditos
Officios feruam, que fejam pera ello autos, e per-
tencentes, e que com toda verdade o façam em quan-
to affi os outros forem fuípenfos, e Nós os nom Pro-
uermos ; e ads que affi poferem ferá dado juramento
dos Auangelhos que o façam fielmente, e guardem
em todo Noífos Regimentos.
22 ITEM Mandamos a todos os Alcaides Moores
de Fortalezas, Corregedores, Ouuidores , Juízes,
Alcaides pequenos, e outras quaefquer Juíliças, e
Officiaes , e peífoas de qualquer qualidade que fe-
jam, que nom vam contra as coufas deíl:e Noffo Re-
gimento, antes em todo o cumpram , e guardem, e
façam comprir, e guardar, como nelle he contheu-
do, fob pena de qualquer que o contraira fezer, en-
correr em pena de cincoenta cruzados d'ouro, ame.
tade pera Noffa Camara, e a outra pera quem o acu-
far ; e mais feram emprazados que a huü certo tem ..
po , que lhe os ditos Alcaides Moores das ditas fa ..
cas aílinaram , pareçam em Nofla Corte perante
Nós, a dar razam por que o nom compriram, e do
dito
~E os PREL. E Fm. NOM AcouT. os MALF. ET e. 281

dito emprazamento , e dia do aparecer Nos faram


certo os ditos Alcaides Moores das facas por auto
pubrico, pera dello Sermos certo. E Mandamos iífo
mefmo a todos os Tabaliaes , que façam as efcri-
pturas, e ernprazamentos, e autos , que polos ditos
Alcaides Moores das facas for requerido por Noífo
feruiço, de graça e fem por ello leuarem ninhuü di-
nheiro , nem outro interdfe, fob pena de perdimen-
to dos Officios, de que Faremos Merce a quem Nof-
fa Merce for.

TI T U LO XC.
!f.?_,ue os Prelados, e Fidalguos 110m acoutem os malfeito-
res em Jeus coutos, e honras , e bairros, nem caJas.
E dos deuedrJres que Je acolhem a e/las.

D EFENDEMOS que ninhuü Senhor de Terras,


Prelado , nem Fidalguo , nem outra pe{foa de qual-
quer eílado, e condiçam que feja, nom faça noua-
mente coutos , nem bairros coutados , nem acolha ,
nem acoute nelles , nem em coutos antiguos , e hon-
ras , pofio que aprouadas polos Reys antiguos fof-
fern , ninhuüs malfeitores, nem degradados. E fa-
zendo os ditos coutos, ou emparando nelles os ditos
malfeitores , pera nom ferem prefos palas Noffas
Jufiiças, perderá a jurifdiçam que no tal luguar te-
uer , e norn tendo jurifdiçam ferá degradado dous
Liv. V. Nn annos
282 o ~[NTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XC.
annos pera A'lem , e paguará duzentos cruzados.
E fe alguüs Alcaides Moores trouxerem alguüs mal-
feitores , ou degradados configuo, ou os acolherem
em fuas Fortalezas, ou cafas , feram fufpenfos das
ditas Akaidarias moores, e rendas, e dereicos dellas
atee Noffa Merce , e mais paguaram duzentos cru-
zados d'ouro.
1 OuTRO sr Mandamos que nom aja hi bairros,
nem fe guardem , nem· valham a peífoa algüa que á
Juíliça f~ja theuda , e obriguada, quanto pertence
aa execuçam da Juíliça, fem embarguo de quaef-
quer priuilegios , e Cartas paífadas em contraira.
E em todas as outras coufas contheudas em feus pri-
uilegios , de que fempre efieueram em poffe, pode-
ram delles vfar como em fuas Cartas, e priuilegios
por Nós confirmados for contheudo.
2 E POR QY ANTO alguüs malfeitores , que fam
notoriamente culpados em alguüs maleficios, andam
por partes de Noffos Reynos , e por ferem ch egua-
dos a alguüs poderofos os nom pódem as Noffas
Juíriças prender, Mandamos a todos os Corregedo-
res , Juizes, e Juíl:iças de Noffos Reynos, que fa-
çam toda a deligencia que poderem pera poderem
faber os luguares onde eílam os taees malfeitores , e
onde fe acolhem; e façam por tal guifa, que os pren-
dam em quaefquer caías , e luguares onde forem
achados , tirando aquelles luguares que por Noffas
Ordenaçoes fe mandam guardar.
3 PoREM fe os taees malfeitores efteuerem em
cara
~ E OS PREL, E FIO. NOM ACOUT, OS MALF, ETC, '28J

cafa de alguüs Senhores de Terras , ou Fidalguos


principaes, e forem os Corregedores, ou Juíliças
certos por teftemunhas que os trazem configuo, ou
tem em fuas cafas, requerelos~ham que os entreguem•
ou lhes lcixem bufcar fuas cafas ; e nom os queren-
do entregar, nem lcixar bufcar fuas cafas, os aueram
por prefos em fuas maõs, e entam procederam con-
tra eífes em cujas rnaõs forem auidos por preíos ,
nom os entreguando da hi a oito dias, como contra
Carcereiros que nom dam conta dos prefos, que lhe
fam entregues.
4 E VINDO cafo que o Corregedor, ou feu Mei-
rinho, ou Alcaide, ou qualquer outra Juíliça quei-
ra prender alguü malfeitor por feer culpado em cal
malcficio, por que mereça morte natural, e o mal-
feitor fogir, e fe lançar em cafa de alguü Grande,
conuem a faber, Duque, Mdhe, ou Conde, Arce-
bifpo , Bifpo , ou outro podcrofo , ou Fidalguo Prin-
cipal , Mandamos que aquella peffoa das íobreditas,
em cuja cafa o dito malfeitor, que a Juíliça per-:
feguir, fe acolher, feja theudo de o entreguar , ou
confentir que a Jufüça o bufque em fuas caías; e
fazendo o contrairo, fe a Juíliça for tam poderofa,
que poífa entrar em fuas caías , e paaços a buícalo, e
prendelo , que o faça , fem a tal peffoa fe poder dello
com razam agrauar. E norn querendo elle confentir
que a Juíliça loguo entre em fua caía a bufcalo, que
clle feja theudo por affi nom entregar, ou loguo nom
confentir bufcalo, a aquella pena que as Ordenaçoês,
Nn 2 e
284 0 ~It-lTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XC.

e Dereito dam a quem tira o malfeitor das maõs


da Juíliça; e o Corregedor, ou Juiz Nos faça aíli
todo fabcr per autos pubricos , e Nos enuie todo o
que affi teuer do dito malfeitor, e,ernprazem adi-
ta peífoa que peffoalmente pareça perante Nós, pois
nom quis affi leixar Joguo bufcar a cafa, ou entre..
guar o dito malfeitor. E fendo o maleficio d•outra
qualidade que nom mereça morte natural , entonçe
o requererá , e procederá da maneira que Diffemos
no parrafo precedente.
S ÜUTRO s1 porque algüas peíloas deuedores por
nom paguarem a feus creedores , ou por nom ferem
demandados por razam d'alguüs crimes , ou inju-
rias que tem feitas, fe acolhem aas cafas de alguüs
Fidalguos, e peífoas poderofas, Defendemos, que
peffoa algGa de qualquer qualidade , e condiçam
que feja , no Luguar onde Nós eíl:euermos, ou em a
Cidade de Lixboa, poíl:o que hi nom Eíl:emos, fe
nom a colha a cafa d'alguü Grande, ou Fidalguo de
folar, com rcceo de feer demandado por alguíi [eu
creedor , ou crcedores , ou por nom feer acufado, ou
demandado por razam d'alguü crime que tenha co-
metido, quer feja tal em que a Jufliça aja luguar,
quer nom. E fazendo o contraira , eíl:ando em tal
cafa mais que huü dia, o Julguador a que de tal cafo
pertencer o conhecimento, fendo informado por du-
as teíl:ernunhas, como affi eftá acoutado, e nom anda
pubricarncnte pola Villa pera poder feer em peffoa
citado , faça-o loguo citar por feu Aluará de editos ,
por
~E os PREL, E Fro. NON ACOUT. os MALF, ET e. 285

por que o aja loguo por citado, que atee oito dias pe-
remptoriamente pareça perante elle pera feer ouuido
com aquelle ou com aquellcs, que o querem deman-
dar, que affi o ha por citado pera todos os autos ju-
diciaes, e pera veer jurar as teíl:emunhas, e fe neceíla-
rio for pera ouuir fentença, e pera execuçam della 1
e arremataçam de feus bens fe condenado for; a qual
ciraçam Auemos por boa e valiofa , poílo que feja
certo o luguar onde eílá; e por ella proceda o Jul-
guador no feito , e o determine como achar que he
Dereiro , e mande fazer penhora, e arremataçam
aos tempos ordenados , fem pera iíTo feer neceffaria
outra citaçam , nem requerimento da parte condena-
da; os quaes Aluaraes fe poeram na dica Cidade aa
porta da Rolaçam, e nos outros Luguares, onde Nós
Eíl:euermos , aa porta do Paaço.
6 E sE o cafo por que fe affi acoutar a cafa de
cada huü dos fobreditos for crime, e paílado o dito
termo da citaçam dos editos, que polo dito modo
deue feer feira, fe nom vier liurar, e poer a dereito,
Mandamos que fe proceda contra elle aa fua reuelia 1
e aalem da pena que por Dereito merecer, polo ma-
leficio que teuer cometido, fe nom for pena de mor-
te natural, ou ciuel, paguará mais dous mil reaes pera
o Morador, ou Alcaide que o acufar; o que fe nelle
executará, poíto que polo maleficio principal nom
feja condenado.

T 1-
286 O ~INTo L1vRo DAS ÜRDEN. Tn. XCI.
TITULO XCI.

~te nom Jeja dado fobre fiança prtfo por feito crime ,
ante que jeja condenado.

M ANDAMOS que todo aquelle, que for prefo


por feito crime, nom feja dado fobre fiança, fob pe-
na do que o der paguar dous mil reaes , fe for pre-
fo por erro que nom mereça pena de fangue; e fe
for prefo por tal maleficio, que fendo verdade mere-
ceria pena de fangue, ou d'açoutes, ou degredo pe-
ra alguü Luguar certo, pague feis mil reaes ; e íe
for cafo porque fe verdade foífe deueffe d'auer pena
capital , pague vinte mil reaes , a metade deltas -pe-
nas feja pera quem o acufar, e a outra metade pera
Nós , e aalem defias penas pecuniarias fejam po-
rem os que aíli deram fobre fiança os prefos obri-
guados affi aas partes contrarias , como aa Jufüça ,
em outras quaefquer penas ciueis , e criminaes ,
pecuniarias , e corporaes , a que por Dereito Co-
mum , ou Ordenaçoes de No!fos Reynos eram theu-
dos os ditos prefos. E eíl:o que affi Ordenamos aja
luguar, ora fejam muitos os que affi derem a fiadores,
ora poucos, ora huü , affi que o que huü paguar , e
a pena que ouuer , nom releue os outros , mas cada
huü por fi pague a pena como fe foo por fi o deífe;
e quantas vezes o derem, tantas vezes caiam na pena
defl-a Ordenaçam: e aquello que a Nós, ou aa parte
principal, ou a quem o acufar for julguado, Manda-
mos
~ E NOM SEJA DADO SOBRE FIANÇA PRESO ETC. 287

mos que o pague da cadea. E eftas mefmas penas


aueram os que derem os ditos prefos a qualquer pef-
foa que os tenha , e guarde como Carcereiro, ou por
qualquer outra guifa , ora os dem ao tempo que os
prendem, ora defpois de os terem na cadea; porque
~cremos, que todos fejam preros em cadea pubri-
ca; faluo no cafo que Dilfemos no Titulo ~e os
Alcaides Moores nom tomem emfi ninhuii pnfo, em que
Permitimos que o Alcaide Moor os polTa tomar.
r EMPERÓ os Noffos Defembarguadores affi da
Nolfa Cara da Sopricaçam, como do Ciuel, pode-
ram dar em fiança os prefos, que por elles forem
condenados em degredo pera as partes d'Alem ,
defpois de feita execuçam affi dos preguoês , ou
d'açoutes fe nelles forem condenados, como do di-
nheiro , e cuílas em que forem theudos. A qual fi-
ança ferá de vinte cruzados por cada huú anno do
dito degredo , em que affi for condenado, e affina ..
ram termo de tres mefes aos ditos degradados, a que
enuiem cerridam dos Capitaes dos ditos Luguares ,
de como fe laa aprefentaram, fob pena de perde-
rem as ditas fianças pera o Efprital de todos os
Sanélos, nom aprefentando as ditas cercidoês ao di ..
to tempo; as quaes fianças, defpois de affi ferem to-
madas , as mandaram entreguar em o dito Efpri-
tal grande de todos os Sanélos ao Proueedor delle ,
e aos Officiaes que pera as ditas fianças fam ordena-
dos; e tanto que teuerem a certidam dos ditos Offi-
ciaes do Efprital por elles affinada, de como já tem
to-
288 0 ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XCI.

tornada a dita fiança, foltaram os ditos degradados,


pera liuremente hirem feguir feus degredos; e as di-
tas certidoes que dos Capiraes d' Alem trouxerem,
de corno · fc laa aprcfentaram, feram obriguados fob
pena de encorrerem no perdimento das dicas fian-
ças, de as aprcnfentar dentro do dito tempo aos di-
tos Officiaes do dito Efprital, e as fazerem regiíl:ar
ao pee das ditas fianças.
2 E isso mefmo ~eremos, e Nos Praz, que os
Corregedores das Comarcas, e Ouuidores poílos por
Nós , e os Juizes Ordinarios das Cidades, e Vilias •
ou Luguares de Noffos Reynos , ou Senhorios, pof-
farn dar em fiança os degradados pera os diros Lu-
guares d'Alem. que nas cadeas de feus Julguados
jouuerem prcfos ; e a fiança ferá na fórma , e manei-
ra , que no parrafo precedente Dilfemos.
3 E QYANDO os que aili forem degradados pera
Alem , defpois de terem fatisfeita a condenaçam, fe
cm algüa coufa forem condenados, cfieuerem dous
mefes na cadea, e nom acharem quem os tome em
fiança a fe hirem aprefentar, Mandamos que os foi-
tem , e lhes affinem termo de dois mefes, do dia
que forem foltos , a que vam começar de feruir feus
degredos no Luguar d' Africa, pera onde forem de-
gradados. E fendo achados defpois de paffados os
ditos dous mefes fcm mo{har certidam , corno fer-
uiram o dito degredo , feram condenados nas penas
de Noffas Ordcnaçoés , que fam poílas aos que nom
cumprem feus degrc:dos.
T 1-
Dos QYE SE LIVRAM SOBRE FIANÇA. 289

TITULO XCII.

Dos que /e liu1-am / obre fiança.

·MANDAMOS, que daqui em diante quando


Mandarmos que algüas peffoas fe liurem de alguüs
cafos fobre fiança , affi por Nós , como por yuae(-
quer peffoas, que Noflo poder efpecial pera dar cm
fiança tenham , que as ditas fianças que a!Ti derem
fejarn obriguadas aa emenda , e corregimento , e
cuíl:as , que forem julguadas aa parte que acufar , e
demandar aquelle, que fobre fiança fe liurar. fem
embarguo que as dicas fiança s fejam apropriadas to-
das pera o Nolfo Eíprital grande de todos os Sane-
tos ; porque ~cremos que as partes contrairas ajam
primeiro polas ditas fiança s fuas emendas , e corre-
gimento , e cuílas que lhe forem julguadas , e. efto
quebrando as fianças.
1 E Qh)ER.EMO~ , que os que affi Dermos pera fe
liurarem fobrc fianças , tanto que os feus feitos fo_
rem concluías pera final fentença na moor alçada ,
fc polo feito fe mofhar , que merecem feer condena-
dos , fejam !aguo preíos , e os fiadores ficaram déf-
obriguad.os da dita fiança , tanto que elles forem
prefos, fe já d'antes norn reuercm quebrada a dita
fiança, ou encorrido em perdimento della.
2 E MANDAMOS, que quando o que fc affi liurar
fobre fiança , fe chamar aas Ordens, ora fc chame
ante de feer prefo, ou <lefpois de fccr prefo I e aas
Lf-;;. r. Oo di-

20
~90 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. XCIII.
ditas Ordens for remetido , por effe mefmo feito fe
perca a fiança pera o Efprital de todos os Sanétos.
3 E MANDA Mos , que quando algüa peíloa for
dada fobre fiança, pera fe liurar atee certo tempo, e
e defpois por alguüs refpeél:os lhe Reformamos mais
alguü tempo , ora lho Reformemos hüa vez, ora
muitas, fempre a fiança ficará obriguada como d'an-
tes era , fem os fiadores , nem abonadores poderem
aleguar, que nom fiaram mais que atee certo tempo;
o que iffo mefmo auerá luguar em quaefquer fianças
que forem feitas pera quaefquer Noílos contraél:os,
ou rendas Noffas. E poflo que os fiadores nas fian-
ças diguam, que fiam com contraira condiçam , fem
embarguo defla Ordenaçam .• a tal claufula nom va-
lerá coufa algüa.

T I T U L O XCIII.

Da pena que muram os que fez.erem defafio.

D EFENDEMOS , que ninhua peffoa de qual-


quer condiçam que feja , affi Nofio Natural , como
Eftrangeiro, pofto que feja Official d'armas , em
feu nome, ou d'outrem nom feja tam oufado, que
em Noffos Reynos, e Senhorios, fcm Noffa efpecial
licença , e auétoridade, rete, e defafie outro, ou o
requeira pera fe com elle matar ., ou que lho fará
conhecer maõ por maõ , ou com muitos , ou com
pou""'.
DA PENA QJ}E HAV. OS Q.!lE FEZ. DEÚFIOS. '.2.9(

poucos, íob pena de por eíle mefmo feito perder


todos feus bens moueis , e de raiz , pera a Coroa de
Noffos Reynos , e mais perder quanto de Nós te-
uer, e feer rifcado de Nofios Liuros, fe Noffo mora.-
dor for, e feer degradado pera as partes d' Alem atee
Noffa Merce: peró fe as ditas palauras forem ditas
em rixa noua , e defpois de ditas nom feguirem
mais alguü auto de defafio , nom aueram polas di-
tas palauras affi em rixa dicas a pena defte Titulo.
E fc o Retador dcfafiar Caualeiro, ou Fidalguo no-
taucl de folar , o que fique em Noffo aluidro, ou o
requerer pera fe com elle matar. ou que lho fará
conhecer • aja as ditas penas emcima contheudas,
e mais ferá açoutado pubricamente fe for Piam ; e
eílas rnefinas penas aja aquellc, que o reto por os
fobreditos modos fezer em Noffos Reynos a alguü
outro. poíl:o que fóra eíl:ce delles , fe ellc arretado for
Noífo Natural , e Sugeito : e neíl:as mefmas penas
encorreram aquelles, que o reto a elles feito acepta-
rem fcm Noífo efpecial Mandado. E eftas mefmas
penas aueram quaefquer que forem por Padrinhos ,.
ou alfeguradores , ou que acompanharem os fobre-
ditos no dito defafio.

T J..
2.92 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XClIII.
T I T U L O XCIIII.

Em que cafos o condenado aa mor/e podertÍ fazer


tejlamento.

ACHA MOS, que fegundo Dereiro qualquer


pelfoa , que por fentença for condenada aa morte ,
nom pode fazer teíl:amento; e fc o fezer, nom vale-
rá coufa algua ; e poílo que em qualquer tempo an-
tes da dita condenaçam tenha feito teíl:amento , tan-
to que for condenado loguo o tal teílamento perde
toda fua vertude , e he por Dereito de ninhü vi-
guor , aíli como fe nunca foíle feito ; porque a con-
denaçam o faz feruo da pena em que he condena-
. do, e por confeguinte he priuado de todos os autos
ciueis , que requerem auél:oridade do Dereito Ciuel ,
affi como he o teílamento , e polo confeguinte os
bens dos taees condenados vem a feus herdeiros,
ou a Nós, fegundo de[pofiçam de Dereito, e Noffas
Ordenaçoés.Porem confirando Nós acerca deíl:o, por
Nos Parecer coufa muito graue, e em algua manei-
ra contra a humanidade , porque a pena corporal
por qualquer deliéêo que feja dada he pera a Jufü-
ça fatisfaél:oria, e pera o bem da alma nom deue
auer tanto luguar , que o que cada huü pera falua-
çam della , e remiimento de fuas culpas ante Nof-
fo Senhor, pode fazer de feus bens, lhe feja em todo
tolhido, poíl:o que por affi feer aa morte condena-
do por fen10 da pena deua feer auido , polo qual
por
Dos Q.YE ARRANC. MARC. SEM AUT. DE JUST. ET e. 293
por eíl:e refpeito principalmente , e por o Auermos
par feruiço de Deos , e bem de muitas almas , cujos
corpos por Jufliça padecem ; Auemos por bem , e
· Determinamos, que quaefquer peffoas que por Jufh-
ça ouuerem de padacer, poffam fazer feus teílamen-
tos, pera em elles foomente tomar fuas terças, e dif-
poer dellas , deíl:ribuindo-as em tira-r catiuos , e em
cafar orfaãs , e em fazer efmolas aos Efpritaes , e em
mandar dizer Mitras, e pera corregimento de Mo-
efieiros , e Igrejas; e em outras algüas coufas, e def-
pefas, norn poderam as ditas terças ddlribuir. E eíl:o
porem nom auerá luguar em os que morrerem por
caufa de herefia , ou traiçam , ou fodomia.

TITULO XCV.

Dos que arrancam mm·cos Jem aufloridade de Juj/J"ra,


ou conjentimenlo das parles.

Q UALO!:JER peffoa, que fem auél:oridade de:


Juíl:iça, ou confentimento das partes a que perten-
cer, arrancar alguü marco que for poílo em algua
herança por demarcaçam, [e for homem de pequena
condiçam feja açoutado pubricamente por effa Villa,
ou Luguar onde eíto acontecer , e degradado dous
annos pera Cepta; e fe for Vaffallo, ou di pera cima~
feja degradado dous annos pera a dita Cidade fem
9utros a~outes. E metendo marco nouamente fem
au.
294 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN.TIT. XCVI.
auél:oridade de Juíliça, ou das partes a que tocar ,
auerá as mefmas penas , e mais paguari a valia da
propriedade; que affi quis ernalhear com o meter do
dito marco , ametade pera a parte, e a outra metade
pera Notfa Camara. E arrancando alguü o dito mar-
co nom fabendo que era marco , mas foomenre com
tençam de furtar a pedra , ou outra qualquer coufa,
que hi fo.ífe pofta por demarcaçam, em tal cafo Man-
damos que aja pena de furto, fegundo a valia da cou•
fa furtada, pois que ouue tençam de furtar, e furtou
coufa alhea.

TI T U LO XCVI.
~,ú pejfoa algüa tire ôuro , nem prata , nem outras
110,n

toefas das minas , e vieiros.

PORQYE algüas peffoas fc antremetem a cauar,


ou mandar cauar nas minas , e vieiros fem Noffa li ...
cença, norn lhe pertencendo, por feer coufa que
pertence a Nós, Defendemos , e . Mandamos, que
ninhüa peíloa de qualquer condiçam , e qualidade
que feja , nom mande cauar , nem tirar , nem caue,
nem tire das minas , ou vieiros, que cm qualquer
parte de Noíl"os Reynos , ou Senhorios efteuerem •
ninhuü ouro, nem prata, nem cobre, nem eftanho,
nem tinta , nem pedras preciofas de qualquer qua-
lidade que fcjam, fem Noffa licença. E qualquer
que o contra.iro fczer perderá toda fua fazenda,
ame-
Dos Q.!1E COMP. COLM. PERA MAT. AS ABELH. DEL. 295
ametade pera quem o acufar, e a outra metade pe-
ra a Noífa Camara, e ferá degradado pera fempre
pera a Ilha de Sam Thome. E pofto que algüa pef-
foa alegue, que eftá em poffe de cauar, e tirar quaef-
quer das fobreditas coufas nas minas, e vieiras de
fuas terras fem Noffa licença, nom lhe ferá guarda-
da, poíl:o que inmemorial feja ; faluo quando mo-
fi:rar doaçam , em que exprcffa e efpecialmente das
ditas coufas lhe feja feita merce ; porque poíl:Ó que
nas doaçoés eftem algúas claufulas geeraes, ou efpe-
ciaes, porque pareça includir as ditas coufas, nun-
ca fe entende polas taees palauras ferem dadas as
ditas coufas , faluo quando efpecial e cxpreffamente
na dita doaçam forem dadas.

T I T U L O XCVII.
Dos que compram co!meas pera matar as abelhas de!!as.

MANDAMOS, que fe algüa peffoa comprar al-


güu colmea, ou colmeas pera foomente fe aprouei ..
tar da cera , e matar as a bdhas , fe for Piam feja
açourado , e fe for peffoa em que nom caiba açou-
tes ferá degradadado dous annos pera A'lem; e affi
o que for açoutado , como degradado , paguará em ,
quatro dobro todo o que valiam as colmeas que a!fi
comprar , de que as abelhas matar , ametade pera
quem acufar, e a outra metade pera os catiuos.
TI-
296 o 0EINTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XCVIII.
T I T U L O XCVIII.

Da pena que aueram os que fogem das Armad,u, ou


aceptam naueguaçoesfóra de No!fos Reynos.

S E alguü Mcíl:re , ou Piloto , Contrameflre , Ma-


rinheiro, Bombardeiro, Efpinguardeiro, Beeíl:eiro,
Grumete, e qualquer outra pcífoa . deíla forte, que
nas Noílas Armadas for, e leixar a náo, ou nauio em
que for ordenado, e della fe for fem licença e auél:o-
ridadc de Noffo Capitam Moor que da tal Armada
for, ou do Capitam da Náo, ou nauio cm que aíli. for
ordenado, fe pola ventura do corpo d' Armada por
alguú cafo fe partiífe , ora a dita Armada vaa pera
coufà. de guerra, ora de mercadoria, encorrerá qual-
quer deíles acima declarados, que o aíli. frzerem, pe-
na de paguar em quatro dobro todo o que teuer re-
cebido de feu fo!Jo, e mais ferá pubricamente açou-
tado , fe for peffoa de qualidade em que a dita pena
d'açoutes deua caber. E fe algüas peífoas fóra da con-
,diçam dos fobreditos,dequalquer forte que fejam,o
fezerem , encorreram cm a dita pena de quatro do-
bro de todo o que teuerem recebido de feus foldos,
e pagualo-ham da cadea, e mais feram degradado~
pera cada huü dos Noffos Luguares d'Alem por qua-
tro annos cada huu: e huus é outros aalem diílo aue..
ram mais por pena por o femelhante fazerem , que
perd.eram todos , e quaefquer priuilegios. Noffos que
teuerem, e quaefquer outros de qtlalquer forte que
pof...
DA PEN. Q!TE AVER. OS Q.!TE FOG. DAS ARM. ETC. 'l91
poffam feer, fem mais os poderem tornar a aucr, nem
delles gouuir, nem vfar por modo alguu; e pofto que
os ajam, porque poderá feer que paílara por efqucci-
mento, nom lhe feram guardados , nem aueram efe_-
élo , e mais aalem diíl:o perderam quaefquer Officios
Noífos que teuerem, ou das Cidades, Vilias, e Lu-
guares onde viuerem, fem mais a elles poderem feer
refiituidos, nem os ditos Officios Noffos , nem dos
ditos Concelhos poderem auer nouamente, nem nel-
les, nem em quaefquer outros que fejarn, ou poffam
feer, poderem entrar; e fe os ouuerem, porque corno
dito he poderá paffar por íe nom faber que o feme-
lhante erro tenham cometido, Praz-Nos que por eíle
cafo lhes poífarn feer pedidos , e dados os ditos Offi-
cios, e os percam polo mefmo feito, como por pro-
prios erros que nelles fezeífem , e por que com De-
reito os deueífem perder: e iífo mefmo nom entra"'.'
ram em ninhuús outros Officios , nem carreguos de
Concelho honrados , das Cidades, Vi lias, e Luguarcs
onde aíli viuerem, poílo que de tempo limitado fe-
jam; porque de todo ~cremos que fejam apartados,
por pena do femelhante erro affi cometerem contra
No!fo feruiço , e fuas honras. E eílas mefmas penas
~cremos , e Mandamos, que fe dem a cxecuçam
naquelles, que efiando as náos , e nauios das ditas
Noílas Armadas no porto da Noíla Cidade de Lix-
boa , ou em qualquer outro porto onde fe armarem,
defpois de ferem aílentados em rol, e teuerem rece-
bido foldo , as náos e nauios leixarem ; porque Nos
Liv. Y. Pp Praz.
298 o INTO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. XCVIII.

Praz , que encorram em todas as ditas penas como


aqui he declarado, por entam o fazerem , como fe
defpois de partidas em qualquer outro porto o fezef-
fcm, polo defauiamento que aas ditas náos fe fegui-
ria aas fuas partidas , auendo de bufcar outra gente.
1 E PORQJ! E alguüs Mercadores, e outras peífoas
armam náos e nauios por Noílas licenças pera as
Jndias, e pera outros refguares daquellas partes, por-
que receberiam grandes perdas, e defauiamentos po-
lo femelhante lhe fazerem, Praz-Nos que aquelles
que o femelhante ( nas náos e nauios dos ditos Mer-
cadores, e peífoas que pera a dita India carreguarem)
cometerem , encorram em pena de perdimento pera
os ditos Mercadores anoueado o qoe affi delles teue-
rem recebido de feu foldo, as quaes noueas pagua-
ram da cadea ; e affi fe entenderá naquelles, que as
náos e nauios dos ditos Mercadores leixarem nos por-
tos onde armarem, defpois de affentados em feus ro-
les , e terem recebido foldo , fem nas outras penas
deíla Ordenaçam encorrerem , nem fe darem mais
a execuçam ; faluo quando as taees náos e nauios dos
diros Mercadores forem em companhia, e conferua
da Armada, e Fróra, em que for No!To Capitam
Moor; porque quando com elle, e em fua companhia
forem , fe executaram naquelles, que o femelhante
cometerem , todas as penas contheudas , e declara.
das atrás em eíl:a Noffa Ordenaçam. E quando fo..
rem apartadamente por fi, nom auerá luguar em
mais que nas ditas noucas foomente , como aqui he
declarado. l Ou-
DA PEN. Q.!)'E AVER. OS QyE FOG. DAS ARM. liT C. 299
2 OuTRO s1 Defendemos, que ninhuüs Pilotos ,
Meílres , Marinheiros , que Noílos naturaes forem ,
daqui em diante nom aceptem ninhuíis partidos em
ninhüas naueguaçoês , nem Armadas. que fóra de
Noílos Reynos e Senhorios fe façam , nem vam cm
dias em maneira algüa • fob pena fe o contrairo
fezcrem, e lhe for prouado, percam por effe mefmo
feito todos feus bens, ametade pera Noffa Camara •
e a outra metade pera quem os acufar; e mais fe-
jam degradados por quatro annos pera a Ilha de
Sanél:a llena ; porque pois em Nolfos Reynos tem
bem em que guanhar fuas vidas em Noílas Arma-
das, e naueguaçoes, nom he razam que fendo Nof-
fos Naturaes façam em outra parte as ditas naue-
guaçoes. E eflo fe nom entenderá naquelles que fo-
rem pera fazerem guerra a Mouros.
3 E DETERMINAMOS, e Mandamos, que os que
forem apercebidos pera Nos auerem de fcruir em al-
güas partes por Nolfas Cartas , ou Aluaraes, ou por
Noílos Officiaes, que pera iffo tenham Noífo Man-
dado, ou Regimento, e nom forem aos tempos por
Nós ordenados aos taees feruiços , nom auendo Pro-
uifam Nofia por que os Ajamos por efcufos, percam
todo o que de Nós teuerem , de qualquer qualidade
que feja , e nom aueram de Nós mais moradia•
nem tença , e feram degradados dous annos pera as
partes d' Alem.

Pp2 T 1-
300 o ~INTO LIVRO- DAS ÜRDEN. T1T. XCIX.
T I T U L O XCIX.

Jlue todos os que teuerem eJcrauos de Gui11ee


os baptizem.

MANDAMOS que qualquer peffoa, de qual..


quer eftado e cond iç1m que feja , que efcrauos ou
efcrauas de Guinee teuercm , os façam bapcizar, e
fazer Chriílaõs atee feis mefes, fob pena de os per-
derem, os quaes ~eremos, que fcjam pera quem
os demandar ; os quaes feis mefes fe começaram do
dia que os ditos ,:fcrauos ouucrem, e forem em pof-
fe del\es: e fe alguüs dos ditos efcrauos, que paífem
de idade de dez annos fe nom quiferem tornar Chri-
fiaõs fendo por feus fenhores requeridos, façam-no
cntam faber feus fenhores aos Priores, ou Cu-ras das
Igrejas , em cujas Fregueíias viuerem, perante os
quaes faram hir os ditos efcrauos , e fe elles fendo
polos ditos Priores, e Curas amoeílados, e requeridos
por feus fenhores perante teflernunhas, nom quiferem
feer baptizados , nom encorreram os fenhores dos
ditos ekrauos em a dita pena. E fendo os ditos ef-
crauos em hidade de dez annos, ou de menos hi-
dade , entam em toda maneira os façam baptizar
atee huü mes do dia que os ditos efcrauos ouuerem ,
e forem em po!fe delles ; por quanto neíl:es da dita
hidade nom hc neceffario efperar por feu confenti-
mento.
1 E ~ANTo he aas crianças, que em Noffos Rey-
nos
DA PEN. (UTE AVERA O QYE MATAR BESTAS ETC. JOI

nos e Senhorios nacerem das efcrauas , que das ditas


partes de Guinee vierem, Mandamos, que os feus fe-
nhores fob as ditas penas as façam baptizar aos tem ..
pos que os .filnos dos Criítaõs e Chriftaãs fe deuc:m 1
e cufiumam baptizar.

T l TU LO C.
Da pena qut auerá o que malar hjlas, ou cortar aruo-
res de/rui/o, E que tanto que oguadofa decepar
/e esfole loguo.
Q U ALQYER peffoa que matar beíla de qual-
quer forte que íeja, ou boi , ou vaca alhea por ma-
licia , fe for na Villa , o em qualquer cafa , pague a
extimaçam em dobro, e fe for no campo pague-a
em tresdobro, e todo pera feu dono. E o que cortar
qualquer aruore de fruito em qualquer parte que
efteuer, paguará a extimaçam della a íeu dono em
trefdobro , e aalem dello íe o dãno que affi fezer ,
quer nas beflas, ou guado, quer nas amores, for de
valia de quatro mil reaes , ferá açoutado, e mais ferá
degradado quatro annos pera Alem. E íe for de va-
lia de trinta cruzados, e di pera cima , feja degrada-
do pera fempre pera a Ilha de Sam Thome.
1 E Tooo carniceiro, e peífoa que guado matar,
loguo tanto que o decepar o degole, e mate, e esfo-
le, e alimpe de fcus debulhos , e ares fique de todo
lim..
301 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDtN. TIT. CI.
limpa fem e!l-ar decepada ninhuü tempo, pouco, nem
muito; fob pena que prouando-fe que defpois de
decepada eíleue alguü tempo viua por pouco que
feja, encorra aquelle que o fezcr em pena de perder
a res , ou refes em que lhe for prouado que o fez, e
mais paguar por cada hüa dous mil reaes ; conuem
a faber, ametade do dito dinheiro e refes pera a ren-
diçam dos catiuos , e a outra metade pera quem o
acuíar. E iffo mefmo Defendemos fob as ditas pe-
nas, que a res, que ouuerem de matar pera vender,
nom a corram affi no curral, como fóra delle, acinte
fem neceffidade; porque Aµemos por informaçam
que do tal correr fe apoílema a carne , e que o fa_
zem por mais pefar ; as quaes penas neíle parrafo
contheudas ~eremos que nom fejam demandadas
paffados quatro mefes, defpois que nellas encorrerem.

TI T U LO CI.
Í?<_ue nom aja hi alfeloeiros.

MANDAMOS, que daqui em diante ninhuü


homem, nem moço, de qualquer qualidade que feja,
venda , nem poffa vender alfeloa em ninhüa parte
de Noffos Reynos , de praça , nem em efcondido.
E qualquer que o contraira fezer feja prefo, e açou-
tado pubricamente com baraço e preguam pola Ci-
dade, Villa, ou Luguar onde for prefo. Emperó fe
al-
DAS COUS.QYE SAM DU.QYI SE NOM TRAG. POR DOO. JOJ

a1güas molheres quizerem vender alfe1oa, affi nas


ruas, ou praças , como em fuas caías, ou poufadas,
podelo-ham fazer fem pena.

T 1 TU L O CII.
Das coufas que fam defefas, que Je 110,n traguam por doo.

M ANDA MOS, que ninhüa peffoa de qualquer


qualidade , e condiçam que feja , nom tragua , nem
tome por ninhüa outra peíloa ninhuü vefüdo de
burel, nem almafegua, nem capelo de ninhuü outro
doo preto , nem panos d'armar , nem repofieiros ,
nem guarda portas , nem almofadas, nem eftrado ;
porque todo Defendemos que daqui por diante fe
nom faça, nem vfe, ainda que feja por Rey , nem
Raynha, nem Filhos feus; fob pena de quem o con-
trairo fezer paguar dous mil reaes, ametade pera
quem o acufar , e a outra metade pera os catiuos.

TI TU LO CHI.
Dos que faz.em muficas de noute.

e ONSIRANDO Nós quantos males fe feguem


das muficas, que muitas peífoas cuíl:umam fazer de
nou-
304 o ~INTO LIVRO DAS ÜROrn. TIT. cun.
noute, affi de cantar, como com alguüs Eílormentos
de tanger aas portas d'outras peffoas , ~erendo-
os euirar Defendemos , que daqui por diante ninhüa
pet:roa de qualquer qualidade , e condiçam que feja •
nom fe ponha foo, nem com outros a tanger• nem
a cantar aa porta de outra ninhüa pdfoa , defde que
anoutecer atee que feja o fol fahido; e fendo acha-
dos de noute afii fazendo as ditas muficas, Manda-
mos que fejam prefos , e jaçam na cadea trinta dias
fem remiífam , e mais paguem da cadea dez cru-
zados, e percam os Eíl:ormentos que lhe affi forem
tomados, e as armas, todo pera o Meirinho, ou Al-
caide que os prender, e pera os feus homens.

------·--- --------
T I T U L O CII li.

!zy.e ninhüa peffoa pera pera inuocaram algüaftm mojlrar


No/]a Ca rta pera e/lo.

D EFENDEMOS , que ninhüa pefioa nom feja


tam ou fada, que peça efmolas pera inuocaçam de
alguü Sanéco, fenom aquelles que moílrarem Noffas
Cartas aíleladas do Noffo Selo, em que loguo ham
de feer nom eados por (eus nomes aquelles que ou-
uerem de pedir as ditas efmolas. e arrecadar as Con-
frarias ; os quaes nom preguaram , nem daram Car-
tas de indulgencia, e ferá foomente nomeado huú
em cada Bifpado, e mais nom. E qualquer que nom
mo-
CoMo os EscR. E MErR. E ouTR. ÜFFIC. ET e. 305

moflrar Noffa Carta propria, nom lhe feja guardado


o treslado em pubrica fórma, poíl:o que a amoílre.
E fe algüas peffoas em outra maneira pedirem pera
as ditas inuocaçoes , fenom com as ditas Cartas
Noffas, Mandamos a quaefquer Corregedores, Jui-
zes, Alcaides , e M eirinhos, que fendo requeridos
por parte da rendiçam dos catiuos , que os prendam,
e lhes tomem loguo quanto trouxerem , e ouuerern
de feus peritorios, e o entreguem pera a dita rendi-
çam aos Mempoíleiros della , e os fobreditos pedi-
dores nom fejam foltos fem Noífo Mandado.

TI TU LO CV.
Como os Ef i:riuaes , e Meirinhos, e outros Ojficiaes ham
de teer armas , e caualos, e que os p riuitegiados te-
nham lanças.

ÜRDENAMOS que todos os Tabaliaês das No-


tas, e Judicial de todas as Cidades, Villas, e Lu-
guares de NofTos Reynos, Juizes dos orfaõs , e Efcri-
uaés das Camaras perpetuas, ou a tempo limitado,,
e Efcriuaes dos orfaõs, e Alrnocaçaria, e Efcriuaés
d'ante os Corregedores das Comarcas , e Chancele-
res d'ante os ditos Corregedores, Alcaides Moores
das ditas Correiçoes, e Efcriuaes d 'ambas as Cafas,
affi da Sopricaçam, como do Ciuel, tirando aquel-
les que teuerem de Nós moradias ainda affentadas
Liv. V. Q..q em

21
306 o G.EINTO LIVRO DAS ÜRD,EN. TIT. CV.

em Noffos Liuros , e que agora lhe fejam ainda pa-


guas, Efcriuaés d'ante os Ouuidores dos Meíl:rados,
e Senhores de Terras, e Fidalguos outros que Jurif-
diçam teuercm, e Meirinhos d'ante elles, cada huü.
deftes feja obriguado teer , e tenha continuadamente
em fua cafa, e comfiguo hüas coiraças, e huü capa-
cete , ou cafco , e hüa adargua , e hüa lança , pera
quando comprir nas coufas de feus Officios, e por
bem de Juíl:iça, com as ditas armas feruirem, o po-
derem fazer, ou em qualquer outra coufa em que
por Noffo feruiço lho Mandarmos; e neíl:a mefma
maneira Mandamos, que fejam obriguados de teer
as fobreditas armas os Nofios Almoxarifes dos Al-
moxarifados de todo o Reyno, e Efcriuaes delles ,
e os Recebedores das Cafas d'arrecadaçam de Noílos
Dereitos em a Cidade de Lixboa , e em quaefquer
outras Cidades, Vil las , e Luguares, em que as ditas
recebedorias por Officio tenham, e affi os Efcriuaes
das ditas cafas, e recebedorias , e Efcriuaes das Si-
fas, e feitos dellas , Alcaides das facas , e Contadores
dos Noffos Contos da dita Cidade , e Efcriuaes del-
les , e o Contador dos Contos da dita Cidade , e
Efcriuam delle, e Veedor das obras da Cidade, e
Efcriuam do Tefouro della, e Efcriuaês dos Noffos
Contos das Comarcas , e os Corretores da Cidade de
Lixboa, e do Porto , e Efé:riuaes da Noífa moeda
deftas Cidades, e outros Noffos Officiaes das ditas
moedas , que de Nós mantimento teuerem ; fob
pena de qualquer deíl:es Officiaes , affi da Jufti-
ça, como da Fazenda aqui declarados, que as ditas
CoMo os EscR. E MEIR, E OUTR. ÜFFrc. ET e. 307
armas affi nom teuerem, perderem polo mefmo cafo
feus Officios pera os Darmos a quem Noffa Merce
for. E Apraz-Nos, que fendo-lhes prouado como as
affi nom tem , lhe poílam por ilfo leer pedidos os
ditos Officios , como fe pediria por qualquer erro
outro , que nelles façam pera com Dereito os deue-
rem perder; e a aquelles que os dicas Officios polo
dito erro de nom terem as <liras armas Nos pedi-
rem, Faremos delles merce por Noffas Cartas de Se
ajji he , fendo taees peffoas que nelles caiba pera os
auerem , prouando-lhe como affi nom tem as ditas
armas ; e fe por ventura nom forem pe!Toas em que
os taees Officios bem coube/Tem , lhe Faremos por
iffo merce de dinheiro como Nos bem parecer.
1 E BEM ASSI Mandamos, que os Efcriuaês das
Caías affi da Sopricaçam , como do Ciuel, e os
Efcriuaês das Correiço~s, e aíli os Tabaliaês da Ci-
dade de Lixboa, e d' Eu ora , e B~ja, Eluas, Oliuen ..
ça , Eílremoz, Moura , Serpa , Campo Maior. Ar-
ronches , Monte Moor o Nouo , Coimbra , Santa-
rem, a Cidade do Porto, Guimaraês, Barcelos, Bra-
guança, Chaues. Villa Real, Lamego, Vifeu, Guar-
da, Couilhaã, Torres Vedras , Crato , Abrantes ,
Tomar, Torres Nouas, Caílelo Branco, Niía, Fron-
teira, Tau ira, Lagos , Faram , Silues, Loule, Villa.
Noua de Portimam , Setuual , Alcaçar, Mertola ,
Almodouar, Mefejana, Ourique, Aljulhel , affi do
Judicial, como das Notas, e os Efcriuaés das Ouui-
dorias dos Meíl-rados tenham continuadamente ca-
Q._2 ua-
308 o ~JNTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. CV.
ualos aalem das ditas armas , fob as penas fobredi-
tas, E vendendo os ditos caualos, ou lhe morrendo,
fernm obriguados a auer outros dentro de tres me-
fes fob as ditas penas. E quanto ao vender fe enten-
deram os ditos trf s mefes por todo huü anno, ora
os venda muitas vezes, ora hüa.
2 ÜuTRO s1 Ordenamos , e Mandamos , que
qualquer Vaífalo Noffo, que priuilegio de Va!falo
de Nós tenha , que norn teuer coiraças , e capacete
com fua babeira , lhe nom fcja guardado feu priui-
legio, e fique deuaífo. E affi mefrno Mandamos ,
que qualquer peffoa outra que priuilegio de Nós te-
uer, de qualquer forte de priuilegio que feja , ou
que feja guardado por priuilegio de peffoa com que
viuer , em qualquer maneira que polo priuilegio da
tal peífoa guardado for, que nom teuer lança de
vinte palmos, ou di pera cima, em fua cafa, lhe nom
feja guardado priuilegio que teuer, ora feja o priui-
legio dado a fua peffoa , ora fe lhe guarde por re-
fpeito da peífoa cujo for , e com que viuer ; e eíl:es
affi Vaífallos corno outros, affi priuilegiados aqui
declarados , que affi Mandamos que tenham as ditas
armas, nom as tendo , )\,fandamos aos Juízes, e Ju-
füças da Terra que os aj am affi por deuaffos, e lhe
nom guardem os ditos feus priuilegios ; e guar-
dando-lhos nom tendo affi as ditas armas, aueram
aquellas penas que merece quem guarda peffoa que
priuilegiado nom he dos encarreguos , em que he
obriguado a feruir , e mais qualquer outra crime,
e ciuel 1 que for Nolfa Merce. T 1-
~ E NINH. PESS. TRAGUA COMSIG. HOM, ESCUD. J09
TI TU LO CVI.

~e ninhüa pef!oa tragua comjiguo homens efmdados.

DEFENDEMOS, que nom feja ninhuü tam ou-


fado de qualquer eíl:ado e condiçam que feja , que
tragua comfiguo pola Cidade , Villa , ou Luguar
em tempo de paz, ou treguoa, homens efcudados ,
nem adarguados; e qualquer que os trouxer fe for
Fidalguo, ou peffoa de eíl:ado, pola primeira vez ,
pague cincoenta cruzados , e pola fegunda cento , e
pola terceira alem dos cem cruzados auerá a mais
pena que for Noífa Merce ; e fe for Efcudeiro , ou
Caualeiro, pague vinte cruzados por cada vez, e
fendo niffo com prendido tres vezes, ou mais, auerá
a mais pena de degredo que for Noífa Merce ; e fe
nom for Efcudeiro , ou Caualeiro , e for de mais
baixa forte, pola primeira vez pague tres mil reaes ,
e pola fegunda vez pague [eis mil reaes , e pola ter-
ceira vez perca os bens todos que teuer.
1 E POR Qy ANTo Nós algüas vezes Concede-
mos por alguüs juíl:os refpeitos a algüas pefioas que
pofiam trazer armas ofenfiuas , e defenfiuas, Decla-
ramos , que Noffa tençam he, que foomente fe en-
tenda que poífam trazer couraças, e cafco, e faia de
malha , ou jubam e calças de malha , e que as tra-
guam de forte que andem honeflamente cubertas, e
ninhüas armas ofenfiuas nom poderá trazer por
bem da dita licença , fenom efpada, e punhal , ou
dargua. T l•
310 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. CVII.
T I T U L O CVII.
Em que Luguares nom entraram os degradados da Cor-
te , ou de certo Luguar , e do que nom manteue o de-
gredo.

M .ANDAMOS, que qualquer homem, ou mo-


lher, que for degradado de alguü Luguar por cerlo
tempo , que em rodo aquelle tempo nom entre no
Luguar, onde ante moraua , ao tempo do degredo ,
nem tambem entre em Noífa Corte ; porem fe al-
guü, ou algüa for degradado de Noffa Corte, nom
lhe Tolhemos que nom poífa tornar a ent-rar, e
cíl:ar no Luguar onde moraua ; e No!fa Corte En-
tendemos neíl:e cafo o Luguar, e arrabalde foomen-
te onde Efteuermos com NoíTa Corte, e nom onde
efteuer a Noífa Rolaçam , quando de Nós cfleuer
apartada, nem fe entenda as cinco leguoas por Cor-
te neíl:e caío ; e o que o contraira deíl:o fezer, e eíl:a
No!fa defeía paffar , e entrar nos Luguares aqui de-
fefos, feja loguo prelo , e aquelle tempo que lhe ain-
da ficar por feruir mude-fe-lhe pera huü Couto do
Reyno : e os que affi forem degradados fóra de cer-
to Luguar, ou da Corte, poderam hir feruir feus
degredos fóra dos ditos Luguares onde quer que
quiferem , fem ferem obriguados amoíl:rar certidam
donde feruiram , foomente acabado o tempo porque
affi foram degradados fóra do dito Luguar , ou da
Corte, fe tornaram liuremente onde quiferem.
1 E
EM Q!JE LuGUAR. NOM ENTRAR. os DEGRAD. t:T e. 311

1 E sE alguü degradado for achado fóra do Lu-


guar pera onde foi degradado fem moílrar certidam
pubrica , por onde fe poffa faber que tem comprido
feu degredo, feja loguo prefo, e aquelle tempo que
lhe ainda ficar por feruir , pofio que pera fempre
fotTe degradado, fe era degradado pera alguü Couto
dos Luguares do Reyno, feja-lhe mudado , e o vaa
feruir, e comprir aos Luguares d' Alem, e fe era pe-
ra Alem va-o comprir aa Noffa llha do Principe; e
o que pera a Ilha do Príncipe , ou de Sam Thome
for degradado , fe por tempo, dobre-fe-lhe o degre-
do, fe pera fempre, moura por ello, quebrantando
o dito degredo.
2 E MANDAMOS aos Noffos Capitaês dos Lugua-
res d' Alem, e aili. a todos os outros Capitaes , e Offi-
ciaes de qualquer eíl:ado, e condiçam, ou premi-
nencia que fejam , e aos luizes dos Coutos de Nof-
fos Reynos, que a degradado alguü nom aleuantem
o degredo, que lhe por Nós, ou por qualquer No(fo
Official fcja poíl:o , nem lhe dcm licença pera hir a
outra algüa parte , porque o leixe de manteer ; por-
'lue a Nós foomente pertence em No{fos Reynos , e
Senhorios de o fazer, e nom a outro alguü ; faluo fe
lhe por Nós efpee:ialmente for outorguado que o
poffa fazer. E qualquer Noffo Official que o con-
trairo fezer, Nós lho Eíl:ranharemos, fegundo o cafo'
for, e aalem deílo o que elle fezer nom feja valiofo,
como coufa feita contra Noffo Mandado , e defefa.
E o tal degradado encorrerá nas penas que encorrem
aquelles, que nom cumprem os degredos. 3 E
JI2 0 ~INTO LIVRO DASÜR.DEN.TIT. CVIII.
3 E AVEMOSpor bem que todas as peífoas, que
degradadas forem pera cada huü dos Coutos dos
Noífos Reynos, poífam liuremente fe quiierem hir
feruir feus dcgredos aos Noffos Luguares d'Alem ,
ou acabar de feruir , fe j á começado teuerem a feruir
nos ditos Coutos, fem mais Nos pedirem, ou man-
darem pedir licença, nem Prouifam pera iffo; e fer-
uindo nos Luguares d' Alem a metade do tempo, que
auiam de feruir nos Coutos , poderam viir fem lhe
feer poílo irnpedimenro alguü , trazendo certidam
em fórma affinada polos Contadores, de como laa
feruiram, e de quanto tempo; aos quaes Mandamos,
que lhes dem as dicas certidoes por elles aílinadas ,
pera refguardo de fua Iuíl:iça.

--------
T I T U L O CVIII.

~lfe ao tempo da prijam fe faça auto do habito ,


e to,yura do prejo.

M A N DA M OS, que os Defembarguadores •


Corrregedores, Juizes , Juíl:iças , Alcaides , Meiri-
nhos , Efcriuaes, e Tabaliaes , que fe em as priloés
de quaefquer peffoas acertarem, fejam theudos e obri-
guados de preguntarem aas peffoas que aili prende-
rem, tanto que forem prefos, fe tem Ordens Me-
nores , e o que refponderem affi o efcreuam , ou fa-
çam efcreuer e aifentcm por auto • e bem affi os ve-
fü-
Q_y E .AO TEMP. DA PRIS. SE FAÇ. AUT. DO HAB. ET e. 3 J J

ftidos , e trajos, em que forem achados, e as coores ,


e feiçam -, e longura delles, e bem affi fe traz coroa,
e a grandeza della, e a compridam dos cabellos da
dita coroa , e quanto defdizem em compridam dos
outros cabellos da cabeça ; e nom o fazendo affi o
Julguador que hi prefente efi:euer aa dita prifam, e
bem affi qualquer Tabaliam, Efcriuam, ou Tabalia..
es , ou Efcriuaês., que hi prefentes forem , percam
os Officios. E pofto que outros Offi-ciaes eftem aa dita
prifam onde efteuer qualquer Julguador, que affi
prende o dito prefo , ou manda prender, tirando os
ditos Tabaliaes, ou Efcriuaes., nom perderam os di-
tos Offióos. E nom eftando hi Julguador ao tempo
da prifam , encorreram na dita pena todos os outros
Officiaes , affi Meirinhos , como Alcaides , como
Efcriuaês, como Tabaliaês, que fe na dita prifam
acertarem.
1 E .ESCREVENDO como tinha coroa, e nom de-
clarando a grandeza , ou efcreuendo os veílidos ) e
trajos, e nom efcreuendo as coares, ou a longura del-
les , ou cada hüa das fobreditas coufas efpecificada-
mente , nom encorreram em perdimento dos Offi-
cios, mas o Efcriuam, ou Tabaliam, que o dito auto
efcreuer , e nom declarar cada hua das ditas coufas
como dito he, ferá fufpenfo do Officio atee Noifa
Merce , e mais paguará as -cu.fias que fe fezerem em
fc tornarem a fazer as ditas declaraçoê.s,.
2 E SE ao tempo da prifam hi nom for Taba ..
liam, ou Efcriuam alguu, que efcreua o dito auto,
Liv.r. Rr en-
314 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT, CVIII.
entam o que o affi prender tanto que o prender lhe
oulhe loguo affi a cabeça, como os vcíl:idos e tra-
jos, e fe hi eíl:euerem algúas teílemunhas vejam iílo
mefmo os d itos veíl:idos , e coroa , e leuem o dito
prefo aa cadea.
3 E. ANns que entreguem o prefo ao Carcerei-
ro , o dito Carcereiro ferá obriguado a preguntar a
aquelle, ou aquelles, que lhe aíli trazem o dito prefo,
fe lhe foi já feito o dito auto do habito e tonfura ao
dito prefo por alguü Tabaliam, ou Efcriuam , que
prefente cíleueffe aa dit.l. prifam ; e dizendo-lhe que
hi eíleue alguú Tabaliam, ou Efcriuam prefente
aa prifam , o cfcreuerá affi o dito Carcereiro em feu
liuro, efcreuendo o nome do Tabaliam, ou Efcriuam,
que lhe aíli he dito que fez o dito auto, e o que lho
affi dilTer ailinará no dito liuro; e fe lhe differ que
nom efleue hi Tabaliam, ou Efcriuam , entam lhe
faça pregunta por juramento dos Auangelhos a
aquelk , ou aquelles que lhe affi entreguam. o dito
prefo, da coroa,. e dos veíl:idos • e trajos , que o dito
prefo tinha ao tempo que o prenderam, e quaes eram
as teílemunhas que prefente eíl:auam ao tempo que
o prendeo, e todo efcreua o dito Carcereiro decla-
radamente como emcima he contheudo; e fará aíli ..
gnar ao pee aquelles que o afli differem , e no dito
auto affignaram duas teíl:emunhas, que eftararn pre..
fentes aas prcguntas, que o dito Carcereiro fàer
a aquelle ,ou aquelles ,que lhe entreguam o dito pre-
fo; ao qual auto , que aili o dico Carcereiro fezer, fe
dará
~ f . AO TEMP, DA PRIS. SE F'AÇ. AUT. DO HAB, ETC, Jl S

. dará inteira fre, como que foffe feito por Tabalia m


· pubrico ; e nom fabendo o Carcereiro ler, nem efcre-
uer pera fazer o dito auto, ou nom fendo prefente
o dito Carcereiro como muitas vezes fe acontece, em
tal cafo o dito Carcereiro, que nom fabe ler 1 -nem
efcreuer, ou a molher do dito Carcereiro, ou as guar-
das que na cadea ficam, quando o Carcereiro hi nom
efiá , primeiro que tomem a entregua do dito prefo
mandaram chamar huü Tabaliam, ou Efcriuam da
dita Cidade, Vilia, ou Luguar, o qual fará as ditas
preguntas por juramento dos Sanétos Auangelhos
a aquelle, ou aquelles, que o trazem prefo, da fórma
que neíle capitolo Diífemos, que o Carcereiro quan-
do fabe efcrener ha de fazer. E o Carcereiro, que to-
mar o prefo fem fazer o dito auto da fórrna que dito
he , perderá o Officio de Carcereiro, e mais pagua.
rá dez cruzados pera os prcfos pobres da cadea > on.
de affi for Carcereiro.
4 E os Juízes da rnoor alçada, que do feito do di..
to prefo conhecerem, feram Juízes pera condenar• e
executar os ditos Tabaliaês, e Efcriuaês, e Carcerei-
ros, e Officiaes fobreditos quaefquer que forem , que
nas ditas penas encorrerem , fem os remeterem a ni-
nhu üs outros Julguadores; faluo fe o Juiz, que affi
teuer alçada no dito prefo, nom for Noffo Defembar..
guador; porque em tal cafo pronunciará fobre o perdi-
mento do dito Officio o que lhe parecer, dando apel-
laçam e agrauo pera aquelles, a que o conhecimen-
to pertencer , fegundo a qualidade do Officio fobre
que affi pronunciar. Rr 2 T 1-
316 o ~INTO LIVRO, DAS ÜRDEN. TIT. CIX.
TITULO CIX.

ftue ninbuüa pdfoa lenha em ji1a cefa rojalgar, nem


ou/rofamelhanle maleritll, nem os Boticairos os ven-
dam fenom a artas pelfoas.

M A N DA MOS , e Defendemos , que ninhüa


peffoa de qualquer condiçaõ que feja nom tenha em
fua caía pera vender ninhuü rofalgar branco, nem
vermelho, nem azar nefe, nem folirnam , nem agoa
delle, nem fimonea, nem a pio , faluo fe for Boticai-
ro examinado, e que licença tenha pera teer botica,
e vfar do Officio ; e qualquer das outras pcífoas , que
em fuas caías algúas das ditas coufas teucr pera ven-
der , nom fendo os ditos Boticairos , Qieremos que
perca toda fua fazenda, a metade pera Noífa Cama-
ra , e a outra metade pera quem o acufar , e dcfco-
brir, e mais feja degradado pera a Ilha de Sam Tho-
rne em quanto for NofTa Merce. E .a mefma pena
terá qualquer peífoa, que as ditas coufas de fóra trou-
xer, e as vender a outras peífoas , que nom forem
Boticairos dos fobreditos.
1 E DEFENDEMOS iílo mefmo aos Boticairos que
as nom vendam , nem defpendam fenom com os
Officiaes, que por neceffidade dos Officios que tem as
ajam meíl:cr; fendo porem os ditos Officiaes conheci.,.
dos por elles, e taees, de que fe prefuma que o nom
deuem dar a outras peífoas ; e Defendemos aos taees
Officiaes que o nom vendam, nem dem a outras ni-
nhüas
DA MANEIRA Q!!E SE TERA' COM OS PR[SOS ETC, 3 I7
nhüas peíloas; porgue dando-o os ditos Officiaes a ou..
tras alguas peffoas , e feguindo-fe diffo alguü dãno,
aueram por iffo aquella pena, que juíl:o e razam fejaJ
fegundo o dáno q.uc diffo fe feguir.
'.2 E isso mefrno os Boticairos os poderam meter
em fuas mezinhas, fegundo polos Fiíicos, e feus•Dou-
tores for mandado. E qualquer Boticairo que o con-
tra iro fezer, e a outras peffoas que nom fejam Offi-
ciaes conhecidos os vender, ou der, Auemos por
bem que pola primeira vez pague cincoenta cruza-
dos de pena , ametade pera Notfa Camara , e a ou-
tra pera quem os acufar e dcfcobrir, e pala fegun-
da vez , aalem da dica pena, ficará a Nós a lhe Dar-
mos qualquer outra mais pena que Noífa Merce for.

-------·----------
T l Tu Lo ex.
Da maneira que Je lerá com os prefos, que nom poderem
paguar aas partes as contias, em que forem conde-
nados.

POR QUANTO nas Noffas prifoês muitas vezes


fam retehudos e embarguados alguus prcfos por di-
uidas de dinheiro, que dependem de feitos crimes>
e cuílas que dos ditos feitos dependem , e por ferem
pobres• e defemparados, e nom terem quem por el.
les pague as taecs condcnaçoês , jazem perecendo
aa fóme nas ditas prifoés, e ~ercndo Nós a ello
pro-
318 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. Til'. ex.
prouer, Mandamos que fe tenha nelles eíla maneira •
conuem a íaber , que todos os prcfos, que efietierem
em as ditas prifoes por diuida que dependa de feito
crime , e cufias da parte do meímo feito, fc forem
degradados , aalem das condenaçoes do dinheiro.
porque affi fam retehudos e cmbarguados , fendo os
taees degredos pera os Noffos Luguares d'Alem por
annos certos, jazendo huü anno na priíam de[pois
de ferem julguados , nom fatisfazendo aa parte o di-
nheiro da condenaçam, feram cnuiados os taees prefos
aas Noffas Ilhas de S. Thome, ou do Príncipe, con-
tando-lhe huü anno de feruiço das ditas Ilhas por
dous annos dos Luguares d' Alem. E poílo que os
taees prefos cumpram os tempos de feus degredos
nas ditas Ilhas, nom feram dellas cnuiados a Noffos
Reynos , atee nom paguarem inteiramente a conde-
naçam aa parte a que forem obriguados , e fatisfa-
zendo fe poderam viir liuremente.
r E SE os que affi forem degradados fatisfeze-
rem aas ditas partes ante de comprirem o tempo dos
feus dcgrcdos , e o que lhes ficar quizerem ante viir
comprir a cada huú dos No!fos Luguares d' Alem•
feram trazidos das ditas Ilhas , defcontando-lhe o
que tcuerem feruido do primeiro degredo d' Alem,
a ra1.am de huü anno por dous, como dito he.
2 E QlJANTO aos que forem degradados pera
fernpre pera os ditos Luguares d' Alem , feram tam ..
bem kuados aas ditas Ilhas , e nom feram tornados
aos Luguares de feus degredos atee nom comprirem
pn-
DA MANEIRA Q!lE SE TERA' COM OS PRESOS ETC. 319

primeiro com a pagua do que cada huü for obri-


guado das ditas diuidas ; e fatisfazendo > os podcram
trazer aos ditos Lugu ares pera nelles feruirem, fe-
gundo fórma de fuas condenaçoes.
3 E os que forem degradados pera fempre pera
as Noíras Ilhas de Sam Thome , ou do Principe,
feram leuados a ellas de[pois de pa{fado huü anno,
que fc contará do dia da fua condenaçam em diante»
que eftaram nas ditas prifoês fem mais nellas ferem
retehudos polas ditas diuidas e cuílas » como aos dos
Luguares d' Alem fc ha de fazer.
4 E sEN Do os ditos prefos condenados em di-
nheiro foomente por alguü crime fem outro degre-
do, defpois que jouuerem huú anno na cadea conta-
do do dia da condenaçam. feram enuiados aa Nof-
fa Ilha de Sam Thome, e laa efiaram atee que gua-
nhem e paguem, como emcima dito he.
5 E TODO o que os ditos degradados por tempo
certo• ou pera fempre, guanharcm o tempo que nas
ditas Ilhas eíleuercm ,. fe entreguará aos No.tros Al-
rnoxarifes dellas , e fe carreguará prefrnte os Capi-
taes polos Efcriuaes de feus Officios fobre os ditos
Almoxarifes em reccpta, pera fe enuiar a Noílos Rcy-
nos, e entreguar em Noífa Cafa de Guiuee ao Feitor
della, a quem os ditos Capitaes efcreueram o dinhei-
ro que lhe affi mandam , e o nome das peffoas de
quem fe ouue, pera de fua maô fe entregar aas par-
tes , a que os taees degradados forem obriguados , e
cada huü auer a contia em que por fentença lhe os
taees
JlO O ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. CX.
taees prefos degradados forem obriguados, e todo
poder viir a boa recadaçam.
6 E MANDAMOS a todos os Corregedores, Juízes,
e Juíl:iças de Noífos Reynos, que tanto que o ditó
anno for comprido, que enuiem os taees prefos loguo
com muita diligencia aa cadea da No!Ta Cidade de
Lixboa, pera dahi ferem enuiados aas ditas Ilhas ,
como erncima dito he, poíto que cada hüa das par-
tes o norn requeira , e ambas o contradiguam.
7 E QlJANTo aos que jouuerem prefos em algüas
Cidades , Vil las, ou Luguares de Noífos Rcynos, que
nom forem detchudos, faluo por cuílas que deuam a
quaefque-r Officiaes que nom fejam da Nofla Corte,
nem Cafa do Ciuel, fendo tam pobres que nom te;..
nham por onde paguar , e jazendo quatro mefes na
cadea defpois de a fentença , que contra elles for da-
da, fer paífada em coufa julguada , paguando a me-
tade das ditas cuíl:as aos ditos Officiaes a que forem
deu idas, Mandamos que nom fejam mais retehudos
pala outra metade, antes fejam loguo foi tos, e fique
feu dereito refguardado aos ditos Offieiaes pera aue-
rem a outra metade polos mefmos prefos que afli
Mandamos faltar, fe em alguü tempo vierem a teer
por onde paguar.
8 E QlJANTO aas cuíl:as que forem deuidas polos
ditos prcfos aos Officiaes da Noffa Corte , e Cafa do
Ciuel, fc guardará o que he dito em feus Títulos.
9 E MANDAMOS que fe alguü prefo ferir outra
qualquer peífoa que na cadea eíl:euer , e o tal fcri-
men-
~ E NINHCJMA PESSOA FAÇA COUTADAS. Jll

mento for de prepofito, q1:1e lhe feja hiia maõ dece-


pada , e aalem dei.lo aja a mais pena que merecer,
frgundo ocafo for.
10 E MANDAMOS que nos cafos onde por Noffas
Ordenaçoes, por a parte que teuer dada algüa quere-
la feer lançada de parte, a Juíl:iça ouuer luguar, e
o Tabaliam, ou Prometor ouucr de viir com libelo,
em tal cafo dee a querela por libelo, e por ella fe
preguntem as teíl:emunhas 1 como fe auiam de pre-
guntar por o libelo , fem fe mais dar outro libelo
alguü , faluo fe por o Reo acufado for requerido que
lhe declarem algüa coufa, que na querela nom for
declarado I que fegundo Dereito fe auia de declarar
no libelo , o que nom auerá luguar na Caía da So-
pricaçam, e do Ciuel , porque o Prometor fará o li-
belo o mais breue que poder conforme -aa -querela.
E Mandamos, que cm ninhuü feito nom razoe pera
final ninhuü Prometor, nem Tabaliam por parte da
Juíl:iça, faluo em alguü cafo quando lhe for manda..
do por acordo da Rolaçam.

-------------------
TI TU LO CXI.
~ue ni11híia pe[loa faça coutadas.

DEFENDEMOS, e Mandamos, que peffoa al-


güa de qualquer eíl:ado, dignidade , e condiçam que
feja , nom faça coutada, nem defefa , affi nos mon-
Liv. V. Ss tes ,

22
322 o ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. CXI.
tes , e terras, de porcos moncefes , veados , coelhos ,
perdizes, e paftos ; como nos rios , e lagoas, de pei-
xes , e aues •.
1 Üul'RO sr nom façam coutadas nos matos ma-
ninhos, e cbarnecas , porque defendam que nom
cortem lenha, nem tirem cortiça , nem arranquem
cepa fem lhe paguar alguü tributo ; e fazendo-as,
Mandamos que fejam ninhüas , e mais o Senhor
de Terras , ou peífoa , que as ditas coutadas ou ca-
da hüa dellas fezer, ou mandar fazer, feja fufpenfo
da jurifdiçam que teuer na Vilia, ou Luguar, e feu
Termo , em que affi fezer as ditas coutadas; e o
Official , que por elles teuer cai:reguo de executar as
ditas penas das coutadas, por cada, vez que deman-
dar, ou executar algüa pena por razam das ditas
coutadas, ferá degradado dous annos pera Alem , e
paguará vinre cruzados, amctade pera quem o acu-
far, e a outra metade pera aquelle que affi foi de-
mandado ou executado.
2 E DEFENDEMOS, e Mandamos aas Noíl'as Ju-
füças que as nom guardem, nem julguem por ellas
taees tributos e coimas , nem penas algúas , nem
confentam fazer penhora por ellas , e alcem loguo
taces coutadas, e defefai..
3 E Q1JANTO aas Noífas coutadas feitas por Nós,
ou polos Reys Noífos Anteceífores, que por Nós nom
fejam reuoguadas , Mandamos que fe guardem e
cumpram , fegundo he contehudo em NolTos Regi-
mentos fobre ello feitos ; e as outras coutadas e de-
fefas,
~ f : NTNHUMA PESSOA FAÇA COUTADAS. J2J

fefas, que algüas pelfoas por Noffas Cartas e pnu1-


legios teuerem , ou por Cartas dos Reys paífados , e
por Nós confirmadas, Mandamos que lhes fejam
guardadas. E querendo os que taees coutadas de pa-
ftos e lenhas teuerem vfar dellas contra os que teue-
rem herdades , que confrontam e vezinham com as
ditas coutadas , Mandamos que em tal cafo as ditas
herdades, que aíli confrontam com as ditas coutadas,
fejam iífo mefmo coutadas foomente pera os que fe-
mdhante-s coutadas e defefas tem, e em as ditas her-
dades lhes leuem aquellas penas e coimas, que os do-
nos , e fenhores das coutadas leuam aos que com el-
las affi ·Confrontam , e em todo com elles vezinhem
como os que as ditas coutadas ceuerem com clles
quiferem vezinhar.
4 E sE os que teuerem as ditas coutadas as qui..
ferem guardar, nom poderam iífo mefmo entrar nas
coutadas, e paftos, e refios do Concelho, poíl:o que
com elles nom confrontem; e entrando, paguaram as
penas ao Concelho, que elles podem leuar nas fuas
coutadas.
5 E Q!,JANTo aas penas que fam poílas polo dito
Regimento, e Ordenaçam, ou por Noílàs Cartas aos
que quebram as ditas coutadas, Mandamos que fe-
jam demandadas atee cres mefes, do dia que affi que-
brarem as ditas coutadas ; e paílados os ·ditos crer
rnefcs nom fe poffam mais demandar as ditas pe-
nas, faluo quando Nós nas Noffas coutadas Mandar-
mos que em mais tempo poffam feer demandados.
Ss 2 T L.
324 O ~INTO LrvRo DAS ÜRDrn. TIT. CXII.
T I T U L O CXIJ.
Das penas, que aueram os que jem licenra d' E!Rey fo-
rem, ou mandarem aa Mina, ou qualquer parle de
Gui11ee, ou hindo per Jua licença nom guardarem Jeu
R fgimenlo.

P OR QlJANTO as Ordenaçoes e Leys , que atee


qui fam feitas fobre as coufas dos trautos e refguates
da Noíli Cidade de Sam Jorge da Mina, e trautos
de Guinee ~'nom andam em tal ordem , nem em tal
declaraçam ~amo deuem , e conuem por Noílo fer ..
uiço, e foíl:imento, e melhor conferuaçam dos ditos
trautos , dos quaes aalem de Noílo particular ferui-
ço, a que tehudo fomos prouer, iífo mefmo refulta,
e fe trauta de grande proueiro comuü mui vniuerfal
a todos No{Tos Reynos, e Senhorios delles , e maior-
mente efguardando as muitas excomunhoes em que
muitos cncorrem : e como outro íi polas Leys, que
atee ora fam feitas, nom foram confirados, nem pro-
uidos muitos cafos , que cada dia acontecem, e a
miude vem em contenda e duuida , pera que he ne-
celfai ro pera boa gouernança dar-fe Ley fobre todo
que ajam de guardar e feguir ; viílas outro fi e exa-
minadas as Ordenaçoes, que acerca dos ditos trautos
da Mina, e refguates de Guinee, foram feitas por
E!Rey D. Afonfo Meu Tio, e por EIRey D. Joam
Meu Primo, que fonta gloria ajam , ~crendo acer-
ca de todo prouer , Determinamos, e Fazemos Ley
no modo que fe adiante fegue. 1 DE-
DAs PEN. Q!JE AVl!R, os Q!JE sEM LIC, o• E1REI ETC', 325

1 ÜEFEl'iUEMos, e Mandamos , e Poemos por


Ley, que peffoa algüa de qualquer eílado e condi-
çarn , aili natural, como eíl:rangeiro, nom vaa, nem
enuie tora de Noílos nauios, em nauios outros alguüs
aas ditas partes, Terras, e Mares de Guinee, e lndias,
e qua-efquer outras Terras, e Mares, e: Luguares de
No!fa Conqui(b , trautar, reíguatar, nem guerre-
ar fem Noffa licença, e auét:oridad'e, fub pena que
fazendo o contrairo moura por cllo morte natu-
ral , e por effe mefmo feito perca pera Nós todos
feus bens moueis e de raiz. E eíla mefma pena de
morte e perdimento de bens ajam todos aquelles,
que roubarem, ou romarem os nauios, ou algúa cou-
fa delles, que aas dita-s panes forem , ora fejam das
Noffas proprias armaçoes. , ora d'aquelles que laa fo-
rem, ou enuiarem per Noffa licença e auétoridade,
ora daquelles que por bem de NoíTos contraétos o
poderem fazer. E affi mefmo aueram as ditas penas
todos aque!Ies, que forem achados nos mares, e mar-
cas das ditas partes, poílo que outra coufa nom fc-
zeffem , nem lhe fotre prouado, faluo ferem nos di-
tos mares, e marcas delles achados. Porem quanto
aos que foomente forem achados fem outra coufa
terem feita , ou fazerem nos ditos mares, e marcas ,
nom fe dará aa execuçam a dita pe11a de morte , fem
primeiro Nos feer feiro faber , pera fobre iffo Man-
darmos o que Ouuermos por mais Noílo feruiço.
2 E POR ESTA Noíla Ley Damos luguar e licen-
ça a todo Capitam , Piloto , Meíl:re, ou Senhorio
dos
326 o ~(NTO LIVRO DAS 0RDBN, T1T. CXII.
dos NoíTos nauios, ou dos Noífos Trautadores, e bem
affi a outra qualquer gente de Noffos Reynos , e Se-
nhorios,. que aas ditas partes e mares por feus pri-
uilegios, ou por Noffas licenças poderem hir, que
os taees nauios nas ditas partes , marcas, e mares
acharem , que os poffam tomar , e os traguam com
toda fua gente prefos , e a bom recado , como a pef-
foas que Nos deffcruiram , e feram entregues ao
NolTo Juiz de Guinee, e por elle ( em Noffa Rela-
çam ·) julguados , onde lhe ferá dado defpacho de
feus feitos , fegundo per Noffas Ordenaçoês fe deua
fazer, e fuas culpas o merecerem. E d'aquello que
aos taees for tomado nos ditos nauios ., e julguado
por perdido pera Nós , aueram aquelles , que os affi
tomarem, a metade , e todo o mais ficará pera Nós.
E porem eílo fe nom entenderá em quaefquer efcra-
uos que , por nom ferem tomados como deuem , fo-
rem auidos por liures.
3 E BEM ASSl Defendemos, que pe{foa algüa de
qualquer qualidade, e condiçam que feja, nom Ieue,
nem mande aas ditas partes, e refguates de Guinee,
mercadoria algüa de qualquer forte , genero , e qua-
lidade que feja , ora feja das de Noffos Reynos , ora
das que de fóra delles vem pera os trautos das ditas
partes, ora d'aquellas que ha em Guinee, que fe ven-
dem e refguatam nas ditas partes nos Luguares de
Noffos trautos. E que ifio mefmo nom leu em , nem
mandem outra algüa coufa, ainda que nom eftee em
cuftume de fe refguatar, como for coufa que em al-
gua
DA PEN. QYE AVER. os QQE SEM LIC. o' E1REY ET e. 327
gü·a parte de Guinee teuer valia • poílo que de pou-
co valor feja , refaluando aquellas coufas que per
Noffos Regimentos e Licenças Teuermos ordenado
pera os taees poderem refguatar. E todos os que o
concrairo defio fezerem, fendo nello com prendidos,
ou fendo-lhe prouado per legitimas prouas , feram
punidos nas penas ciueis e crimes nefta Noíla Ley
abaixo declarada ; conuem a faber, fe for Capitam
da Noffa Cidade de Sam Jorge o que em cada hüa
das ditas coufas encorrer, de leuar ou mandar leuar
mais, que aquello que per Noffos Regimentos , ou
Aluaraes lhe for ordenado , como nefte Reyno valer
feis marcos de prata o que aili mais leuar • por elfe
rnefmo feito perderá pera Nós roda fua fazenda, e
aili todo aquello que teuer de Nós , e feu foldo da
dita Capitania , e mais lhe ferá dada qualquer outra
pena crime atee morte natural indufiue, que fegun-
do a qualidade de fuas culpas, e modo que teue em
Nos defferuir, Nos parecer que merece. E fendo Al-
caide Moor • ou Feitor , ou Efcriuaes da Feitoria ,
ou outros quaefi.1uer Noffos Officiaes da dita Cidade,
ou outros quaefquer moradores della , aili os que
eftam em taixa , como fem taixa , e bem affi quaef-
quer Capitaês , e Efcriuaês de Nol1as carauelas , que
em cada hüa das ditas culpas encorrer, fe o que mais
leuarem, ou mandarem leu ar, aalem do ordenado va-
ler na Mina, ou em outra qualquer parte de Guinee.
pera onde a tal mercadoria leuarem , a dira contia
dos ditos íeis marcos de prata , perderam por eífe
mef-
328 O ~INTO L1vRo DAS ÜRDEN. TrT. CXII.

mermo feito pera Nós toda fua fazenda, e o que te-


uerem de Nós , e todos feus foldos , e ordenados , e
alem deílo encorreram em pena de morte natural ;
e eílo fendo nello comprendidos , ou vindo-lhe pro-
uado per legitimas prouas; na qual pena, como aqui
he declarada , encorreram o dito Capitam , e todos
outros acima nomeados , -norn foomence fe o que affi
leuarem , ou mandarem leuar per hua foo vez, alem
do ordenado valer a dita contia dos ditos feis mar-
cos de prata; mas iífo mefmo ~eremos, e l\1anda-
mos , que encorrarn ne!la , Ieuando, ou mandando
leuar per duas, ou tres, ou mais vezes tanta mer-
cadoria, ou tantas -outras quaeíquer coufas , as quaes
juntas valham a dita contia dos ditos feis marcos de
prata no modo acima declarado ; e nom cheguando
:1.a valia dos ditos feis marcos de prata aquellas cou-

fas, que affi mais leuarem , em qualquer contia que


feja, aalem de Noífos Regimentos , perderam pera
Nós todos feus foldos e mantimentos , e mais encor-
reram em qualquer outra pena ciuel e crime , que
for No!fa Merce atee perdimento de todas fuas fa.
zendas , e degredos pera fempre pera as Ilhas de
Anno Bom, ou Santa Hena, qual mais Nos pro-
uer ; e fe forem peffoas em que caibam açoutes, fc-
ram loguo açoutados, como paílar de mil reaes pera
cima a valia do que affi Ieuar, alem do que lhe for
ordenado.
4 E EM todas as penas acima declaradas ~ere-
mos, e Mandamos, que encorram o dito Capitam, e
to-
0As nN. QYE AV ER. os Q.YE SEM uc. I>' ELRtv !Te. 319
todolos outros fobreditos , nom tam foomente fe le..
uarem ou enuiarem as ditas mercadorias, ou coufas
aalem do ordenado, que valham a dita contia dos di..
tos feis marcos de prata, mas confentindo a outrem,
ou encobrindo, nom o manifeftando aa Jufiiça, tan-
to que dello forem fabedores; a qual culpa lhe ferá
dada aíli aos que as leuarem, ou enuiarem , ou en-
cobrirem na ora e momento que as ditas mercado-
rias , ou coufas forem metidas dentro no batel , bar-
ca, ou almadia, pera dali ferem leuadas aa carauela ,
ou nauio em que ouueífem de hir aa Mina, ou a ou-
tra qualquer parte de Guinee, fem NolTa licença e
auéloridade. O que fe entenderá iffo mefmo nas mer-
cadorias , ou coufas que em Guinee I ou em qualquer
outra parte de Noffos Reynos forem auidas I e em ..
barcadas ; porque pdfoa algüa fem Noíla licença e
auél:oridade fe nom deue a entremeter em poer em
caminho pera víar de coufa algüa em Noffos trautos.
Polo que todos os que o contraira defia NofT'a Ley
daqui em diante vfarem , fendo nello comprendidos •
ou fendo-lhe prouado per legitimas prouas, feram
punidos nas penas ciueis e crimes acima ditas , dado
que as ditas mercadorias , e coufas em efeélo nom
foffem leuadas , nem refguatadas ; porque eíle feu co..
meço, e defejo I e culpa de encobrimento, e defpoi-
mento pera Nos defferuir, ~eremos que feja puni-
do, como que fe efeitualmentc foffe por todo acaba-
do e comprido.
5 E .PROVANDO-SE que cada huú dos fobreditos,
Liv. V. Te ou
33 0 o ~tNTo LrvRo oAs ORDEN. T1T. cxn.
ou qualquer outra peffoa de qualquer qualidade que
feja. refguatou contra Noíla defefa qualquer coufa. que
valha huü marco de prata, ou di pera cima, moura
por ello morte natural ; e fendo a valia de marco
pera baixo ferá punido como que furtafle o que affi
reíguatou, e mais perderá feus bens pera Nós , ora
a valia feja de marco, ou de menos , a qual valia fe
oulhará fegundo valer no Luguar onde fez o refguare.
6 E POR Q.lTANTO muitas vezes Mandamos fazer
armaçoes pera Cantor, e pera outras partes, onde os
Capitaê's leuam poder pera por fi refguatar as ditas
armaçoês, Declaramos, que fe os ditos Nolfos Capi..
taês , e bem a ili os de Noffos Trautadores, ou Pilo-
to, ou Meíl:re, como outra qualquer pelfoa, que poder
leuar pera fazer os ditos refguaces , nom fezer ver-
dade no refguate das mercadorias que kuam , e efto,
foneguando do que verdadeiramente refguatam tanta
mercadoria que valha huü marco de prata , ou di
pera cima, moura morte natural; e valendo valia de
marco pera baixo auerá a pena como que o furcaíle,
e mais perderam pera Nós fua fazenda , ora a mer-
cadoria feja de valia de marco, ou de menos.
7 ITEM Poemas por Ley , que fe aas Guardas das
Noffas carauelas, e nauios das ditas partes, que eftam
na Cidade de Lixboa, for prouado que leixaraõ paf-
far , ou leuar a algüa pefloa algüa mercadoria , ou
coufas pera as ditas partes, e refguates, como a coufa.
que lhe affi for prouado que leixou paffar valer con-
tia de quatro marcos da prata • cuja valia fe regula-

DAs PEN, Q.YE AVER, os QYE SEM uç. o'ELREY ETC. 331
rá polo que por ella fe acha no Luguar do reíguate,
como atrás fica declarado no capitolo do Alcaide
Moor , e Feitor, e outras peffoas nelle declaradas, a
tal Guarda , ou Guardas que nefio forem compren-
didos , ou lhe vier prouado por legitimas prouas •
mouram por ello morte natural , e mais percam pera
Nós toda fua fazenda ; e eíla mefma pena auerá o
Meirinho da Noífa Cidade de Sam Jorge da Mina•
que na dita culpa encorrer : e quando valer menos o
que affi leix:aram pa!Tar , feram julguados como fica
declarado que fe julguem os que leuarern , ou con-
fentirern leuar menos contia dos íeis marcos de pra.
ta , affi de mil reaes pera cima , como de mil rcaes
pera baixo.
8 ÜuTRO s1 Poemos por Ley, que qualquer pef-
foa que tomar, ou receber em fi, ou em fua caía ma-
lagueta, ou outra e[pecearia, ou outra qualquer mer-
cadoria que de Guinee venha, fem primeiro feer tra-
zida toda a tal mercadoria aa Noffa Cafa de Guinee ,
e defpachada dentro nella per Noffos Feitores, e Offi-
ciaes della , perca pera Nós polo mefmo feito todíl
fua fazenda ; e eíl:a pena fe lh(." dará, valendo po-
rem a tal couía de mil reaes pera cima , e valendo
di pera baixo feram prefos, e paguaram por huü real
dez reaes.
9 E PORQ!JE quando os nauios deíla. Cidade par-
tem pera os ditos trautos e refguatrs de Guinee, mui-
tas vezes tomam alguüs outros portos, tendo pera
ello neceffidade , e outras vezes nom a tendo , com
Tt 2 fun-
331 o ~INTO LIVRO DAS ÜROEN. TIT. CXII.
fundamento de Sermos defferuido, ~erendo acerca
dello prouer, Defendemos, que ninhuü Capitam de
nauio que pera as ditas partes de Guinee vaa , affi
das Noffas proprias armaçoés, como de Trauradorcs,
nom tome aa ida pera as diras partes de Guinee ni-
nhuü outro porto , faluo aquelle do refguate pera
que for endercnçado; nem iífo rnefmo lancem cm
outra algüa parte ninhuü homem dos que no tal na-
uio leuar, fob pena de perdimento de todos feus bens
e fazenda , e mais feer degradado cinco annos pera
Cepta; refaluando, quando com extrema neceffidade
d'alguü dãno do nauio, e remedio de fuas faluaçoês
nom podeffem al fazer , porque neíle cafo de tal
neceílidade fe poderá hir remediar onde lhe milhar
vier > nom lcixando onde affi forem ninhüa peíloa •
como dito he : e hindo affi , e fahindo em terra alguü
do tal nauio, ou nauios pera fe prouerem do que lhe
cumprir , feram quando affi fahirem bufcados pelo
Capitam, e feu Efcriuam perante toda a campanha 1
nom fahindo porem mais homens que aquelles, que
forem neceffarios pera a prouifam da tal neceffidade;
e o dito Efcriuam, cada vez que affi os taees fahirem
íóra, fará em feu liuro affento da bufca e deligencia
que fe fez nos taees, pera fempre fe poder veer como
{e guardou o que niíl:o Mandamos : e fe com efta
neccITTdade os taees nauios toéa[fem em algüa das
Noílas Ilhas das dicas partes, e em Luguar onde
eíl.em Noffas Juíl:iças, faram eílas deligencias com
ellas; e aquella peífoa que enuiarem aas ditas Juftiças
ferá
DAs PEN. QYE AVER. os Q..YE SEM LIÇ. n'ELREY ETC. 333

ferá bufcada, e das Juíliças tomará o Capitam e


Efcriuam ellormento pubrico de como fe comprio
com ellas todo o aqui declarado , e de todo o mais
que paffar , pera trazerem pera fua guarda. Porem
Declaramos, que por quanto alguiis nauios de Noífos
Trautadorcs , e affi dos das Ilhas de Sam Thome, e
do Principe, e Anno Bom , pera mantimentos dos
efcrauos mandam tocar os feus nauios em Bizeguiche,
e em outros portos d'ali derredor , pera ali tomarem
mantimento de milho , e couros pera repairo dos
cfcrauos que ham de trazer , efies, quando lhe for
mandado pelos ditos Trautadores, e Capitaes das di-
tas Ilhas que o façam , poderam ali tocar, e fe pro-
uer das ditas coufas foomente, nom leixando porem
ali ninhüa pe/Toa das que leuarem , fob a dita pena fe
o fezerem , comprindo porem os taees Capitaês de-
fies nauios a deligencia aqui declarada naquelles, que
enuiarem aa terra.
10 E CHEGUANDO os ditos nauios, que pera as di ..
tas partes de Guinee forem, aos Luguares e refguates
pera que forem aderençados , affi como na Noffa Ci-
dad e de Sam Jorge, ou em qualquer outra parte onde
Noflo Capitam , e Feitor , e Officiacs d1iuerem •
Mandamos que nom lancem os Capiraes dos ditos
nauios batel fóra , nem peíloa algüa fahirá do dito
nauio em almadia, nem em outra algua coufa, fem
primeiro pera ello ef perar , e auer recado, e manda-
do do Capitam que no tal Luguar eíleuer., fob pena,
que fazen o contrairo perca pelo mefmo feito pera
Nós
334 o OE1NTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. CXII.
Nós toda foa fazenda , e mais feer degradado por
dez annos pera a Ilha de Sam Thome ; e fendo peífoa
em que caiba açoute, ferá açourado.
11 ITEM da tornauiagem quando os taees nauios
tornarem pera eíl:es Reynos, fendo-lhe necefJario com
eílrema neceffidade, no modo que dito he , tomar al-
guü porto na coíla de Guinee, ou em qualquer das
Noffas Ilhas , Mandamos que fe tenha e guarde na
bufca de lias a maneira fobredita, como fe ha de fazer
aa hida , nom lcixando per modo alguü peffoa ni-
nhua na terra ; porque aalern da pena aqui declara-
da quando o fi:zerem , porque feria com malícia ,
aueram mais qualquer outra pena ciuel e crime, que
for Noífa Merce.
12 E vrnoo os taees nauios da tornauiagem
aportar a Lixboa, ou em qualquer outro Luguar, cm
que o Juiz de Guinee, e Noífo Feitor, e Officiaes
eíleuerem, polo que fe trabalharam quanto nelles for,
nom lançará o Capiram , nem mandará lançar batel
fóra , nem homem , fem primeiro ferem os ditos
Juiz, e Feitor, e todos outros NofJos Officiaes orde-
nados dentro no tal nauio , e ferem primeiro bufca-
dos fegundo fórma de Noílos Regimentos ; e com
feu de(pacho, e mandado fe lançará o dito batel fó-
ra., e fahirá acompanha, e nom em outra maneira,
fob pena de o Capitam perder pera Nós toda fua fa_
zenda, e mais feer degradado por cinco annos pera
Alem; e fahindo algúa peíToa (em mandado dos di-
tos Juiz, e Officiaes , perderá a foldada , -e mais ferá
açou-
DAs PEN. Q.Yr AVER. os Q.~a: SEM uç. o'EtREY ET e, 335

açoutado pubricamcnte, {e for pefToa em que caiba


açoutes , e nom fendo pefToa em que caiba açoutes,
ferá degradado pera a Ilha de Sam Thome por tres
annos , e mais perderá todo fcu ordenado.
r 3 E NESTA meima pena de perdimento de bens
e degredo , Mandamos que encorra o Capitam •
quando da tornauiagem tornar a alguú porto, fa\ ..
uo o de Lixboa, podendo viir fem rifco, e affi mef-
mo o Piloto do nauio pelo carregue principal que
tem da naueguaçam dos nauios.
14 E CUJ AN oo acontecer de os taees nauios to-
marem outros portos de Noffos Reynos fóra de Lix..
boa, norn fendo com malicia, e o fezerem por nom
poderem ai fazer ( do que o Efcriuam do tal nauio
fará aífento em feu liuro, pera fempre fe poder faber
a caufa por que fe fez ) nos quaes portos de fóra de
Lixboa per bem de Noífos Regimentos os ditos Nof..
fos Capitaes ham de lançar o Noífo ouro fóra pera o
trazerem por terra, quando o fcmelhante acontecer,
feram obriguados de guardar e cumprir cm todo o
Regimento, que fobre ello eflá dado, ou fe der, da
maneira que niífo ham de teer, fob as penas nelle
declaradas.
15 E DEFENDEMOS que ninhüa peffoa de qual-
quer condiçam, e qualidade que feja, que em a Noífa.
Cidade de Sam Jorge eíl:euer, em quanto nella eíl:e-
uer nom faça coroa de ordens , nem a tragua aberta,
de maneira que façam diferença os cabelos do lu-
guar da coroa aos outros cabelos da cabeça , mas
que
336 O ~INTO LIVRO DAS ÜRDEN. TrT. CXII.
que todos fejam iguaes, fob pena, quem coroa trou-
xer perca polo dito cafo toda fua foldada. e mais o
que della teuer vencido do tempo atrás. E polo mef-
mo cafo Mandamos ao Capitam da dita Cidade •
que loguo o tal ou taees Nos enuie pera dres Reynos
na primeira paffagem, fob pena que nom o fazendo
affi perca de [eu ordenado outro tanto como valer o
foldo do tal, ou taees que as ditas coroas abertas trou-
xerem; e qualquer que a coroa fezer ao outro dos
que na dita Cidade eíleuerem, encorrerá na dita pena
do perdimento de todo feu ordenado. E porque iíl:o
pofla feer milhor prouido Mandamos, que todo mo-
rador. e peíloa que na dita Cidade eíleuer, feja obri-
guado de em fim de cada huü mcz ( fob a dita pena)
fe aprefentar perante o dito Capitam , e huú Efcri-
uam da Feitoria, qual pera ello o Capitam ordenar,
pera lhe fecr viíla a cabeça fe traz coroa , e fe fazer
aífcnto di{fo em liuro que pera ello ferá ordenado,
ao qual Efcriuam Mandamos que o dito liuro faça,
e ncllc efcreua os ditos aílentos fob outra tanta pena
fe o affi nom fezer.
16 E ESTA mefma maneira Mandamos, que fe
tenha e guarde ac erca das d itas coroas em todolos
Capitaês, Pilotos , Mefhes • Marinheiros , Grume-
tes, e toda outra campanha. que andarem e naue-
garem nos nauios das ditas partes de Guinee, pera affi
nelles fe entender, e mais aakm do dia que a efies
Rcynos cheguarem dez dias primeiros feguintes nom
faram as ditas coroas , fob pena de perderem todos
feus
DA PEN, Q!JE AVER, os Q!J! SEM Llç. n'ELREY ET e. 337
feus ordenados da viagem , pofto que ja recebidos
os tenham.
17 ITEM qualquer peíloa de qualquer qualidade
e condiçam que feja, que trouxer da Noffa Cidade de
Sam Jorge da Mina ouro fóra da recadaçam, feja
punido como fe verdadeiramente o fur:taffc, fegun-
do a quantidade do ouro for.
18 E DEFENDEMOS que ninhúa peffoa , de qual-
quer condiçam e qualidade que frja, nom dee, nem
ponha , nem per maneira algua fündie em ninhuü
nauio, que pera as partes de Guinee for, ninhua mer-
cadoria, pouca, nem muita, fob pena, que fendo-lhe
prouado que o fez perca por o mefmo cafo o batel ,
barca, ou nauio em que fe lhe prouar que o leuou ,
e mais encorra em pena de morte natural, e per-
dimento de todos feus bens e fazenda pera Nós. E
efto valendo a tal mercadoria, que lhe affi for proua-
do que fundiou , ou meteo nos ditos nauios , valor
dos ditos feis marcos de prata; e fendo di pera bai-
xo encorrerá nas penas que atrás Diffemos no parra-
fo E bem ajji Defendemos, quando menos for dos di-
tos feis marcos : e eíla mefma pena auerá luguar e
fe comprirá em todos aquelles que dos nauios da
Mina fundiarem em outros quaefquer nauios ouro,
ou qualquer outra coufa, que da Mina venha.
19 E MANDAMOS, que daqui em diante ninhuú
Capitam , Efcriuam , Piloto, Meftre, Marinheiro,
e toda outra companha , que nos nauios de Guinee
nauegar , nom leue ninhüa arca, barca , bueta. fei.
L~ Vv ram,

23
338 O ~INTO L1v. DAS ÜRDEN. Tn. CXII.
ram , nem outra algua vafilha, que de dous fundos
feja, fob pena que fendo-lhe prouado que o leuou
perca todo feu ordenado da viage,m . E fendo peífoa
em que caiba açoutes feja açoutado pubricamente. E
nom fendo pera açoutes ferá degradado por dous
annos pera cada huü dos Luguares d' Alem.
:20 E DAQYI em diante ninhüa peiToa de qual-
quer qualidade e condiçam que feja nom fe lance
com os negros em ninhúa parte de Guinee, nem fe
Jeixe laa ficar com os ditos negros por ninhua necef-
fidade, nem razam que pera ello po!fa aleguar, fob
pena,que fazendo-o moura por ello morte natural, e
P-erca todos Jeus bens moueis e de raiz pera Nós, e
o Capitam do nauio, ou Meíl:re , ou Piloto, que
a gouernança do tal nauio teuer , nom auendo hi
proprio Capitam , que o cal leixar ficar, ou o con ..
fentir, como lhe for prouado que o podéra refifür ,
ou auer aas maõs, e nom o fezer , encorra na mef-
ma pena.
~I ITEM Declaramos, e Nos praz, que aquellas
peffoas que defcobrirem , e fezerem certo das cou-
fas , e culpas acima contheudas , e por fua deligen-
cia alguús forem condenados, ou com prendidos nas
penas deftas Noífas Ordenaçoes, ajam o terço de
todo aquello que pera Nós fe ouuer , e arrecadar , e
elles teuerem defcubcrto, e folicicado. E Mandamos
ao Juiz. dos feitos de Guinee, que lho faça loguo dar,
e entregar , conuem a fabcr, o terço do que fe arre-
cadar, e vier a lume. E Praz-Nos que pera as acufa.
çoês
DA PEN. Q.!1! AVIR. os Q!7E SEM uç. n'EtREY ET e. 339
çoes dos cuJpados, nas coufas neílas Noífas Ordena-
çoés contheudas, nom aja tempo limitado, mas que
em todo tempo poíTam todo-los fobreditos culpados
feer requeridos, acufados , e punidos , fegundo fór ..
ma deitas Noífas Ordenaçoés.
22 E DESCOBRINDO algüa peffoa em fegredo ao
Nofio Juiz , e Procurador das coufas de Guinee, al~
güa coufa , per que algúa peíloa loguo feja com-
prend ido nas ditas coufas, e culpas , e penas dei-
las , nefie cafo Damos poder aos fobreditos que de
todo o que fe arrecadar per tal defcobrimento feito
em fegredo, elles lhe pofiam dar, e dem fecretamen-
te o feu terço fem mais pera ello frer neceifario ou-
tra mais pubricaçam nem aucroridade de Juftiça ; e
nefte cafo lhe Damos pera ello inteiro poder, fazen-
do-fe porem recadaçam no liuro do Recebedor das
taees coufas das ditas condenaçoês da parre, que foi
dada a aquellc que affi em fegredo o defcobrio , po-
fto que no tal aífento feu nome do ·defcobridor fc
nom declare. Porem quando efie terço fe affi ouuer
de dar ao tal defcobridor, ferá com fabedoria do
Noífo Feitor de Guinee, e com fua auétoridade fe
lhe dará, e o dito Feitor com o dito Juiz e Procu-
rador affinaram no affento do liuro do Efcriuam, pera
fempre fe poder faber como fe fez affi por todos
tres , e em outra maneira íe nom fará.
23 E TODAS as fobreditas Ordenaçoês aqui decla-
radas, e cada hüa de lias por fi fe entendam , cum-
pram, e guardem nas minas, e trautos de Çofala , e
Vv .1 aíli
340 O ~rNTo Ltvtto DAS 0RDF.N. TrT. CXII.

affi nos trautos e refguates de Arguim, e em todos os


outros Noffos rraucos. e refguates defdc Arguim atee
as ditas minas de Gofala, affi como fe entendem , e
ham de comprir e guardar na dica Cidade de Sam
Jorge, e todos outros trautos de Guinee; e affi fe
daram em todo aa execuçam > por todos ferem con-
formes ao maneo das coufas dos trautos da dita Ci-
dade, e dos outros trautos das ditas partes •.
24 E QYEIHMOS outro fi , e Mandamos , que
daqui em diante fc nom poífam refguatar ninhuüs
gatos d'algalea em ninhüa parte de Guinec. ; faluo
com Nolfa efpecial licença e auél:oridade , fob pena.
de os perderem pera Nós, e mais a pena crime que
for NolTa Merce.
25 E PROQYE Somos certificado, que os Capi-
taês e companha das carauelas, e Noífos nauios, que
Mandamos aa. Noíla Cidade de Sam Jorge da Mina,
por hirem aa Ilha. de Sam Thome ,. e affi aa do Prin-
cipe trautar e mercadeiar , tomam achaques de te-
rem cíl:reitas neceilidades, pelas quaes com razam
deuem tomar cada húa. das dicas Ilhas pera nellas fe
repairarem. e em vez de comprir affi a Noffo ferui-
ço compram nas ditas Ilhas muitos efcrauos , e os
trazem pera eíks Reynos, e affi fazem outras com-
pras e vendas- de que Somos defferuido, afóra as de-
moras que por eílas coufas fazem, .e ~erendo .acer-
ca dello prouer , Defendemos> e Mandamos aos Ca,.
pitaês dos ditos noífos -nauios, e car.auelas, que aITT
Mandamos.aa dita Cidade de Sam Jorge da Mina ,
que
DA Prn. QYE AVER. os Ql!E SEM uç. o'E1Rn ET e. 34t
que nom vam aas ditas Ilhas de Sam Thome, e do
Princepe, e vindo a ellas , ou a cada h úa dellas por
terem pera i!fo extrema neceílidade pera fua fegu-
rança , e naueguaçam , Defendemos que nom tra-
guam nos ditos nauios ninhuüs efcrauos, nem coufas
outras algüas , poílo que fejam a.u idas, e compradas
d'aquellas pe!foas que as podem na dita Ilha vend er~
e poíl:o que dellas traguam recad açoes, fob pena que
trazendo alguüs efê:rauos, aíli os ditos Efcriuaés,
corno Capitaés , corno Marinheiros, e quaefquer
outras peífoas que 110s ditos nauios vierem, os per-
derem pera Nós, e mais perder.em todos feus foldos,
e ordenados, que de Nós ouuerern d'auer da viagem,
e aalem diffo qualquer outra pena crime , e ciuel
que for Noífa Mcrce. E iífo mefmo A uernos por
bem, que fe entenda nefie modo na Ilha de Santia-
go, e nas outras Ilhas do Cabo Verde , e na Ilha
Terceira,.e da Madeira, e cm quaefqucr outras llhas,
em que tocarem os taees nauios , poílo que com
eílrema neceffidade feja; porque de ninhúa no m po-
deram trazer os ditos cfcrauos, nem coufa o urra al-
güa das que nellas aja , fob pena , de todo o que
trouxerem, de qualquer forte e qualidade que for, o
perderem, e mais por. iífo feus foldos, ordenados , e
encorrerem nas outras penas atrás declaradas , corno
dito hc:-.
26 ITEM por quanto·no Noífo Feitor, Tefourei ..
ro, Recebedor. Efcriuaês da NoíTa Cafa da Mina e
tra.utos de Guinee cm efies Re ynos ,. eílaa mui gran-
de
342 O ~INTo LIVRO DAS ÜRDEN. TrT. CXII.
de parte da conferuaçam , e guarda deíl:as Noffas
Leys, e Ordcnaçoês, Mandamos aos fobreditos , e a
cada huú delles por fi, que em todo, o que por bem
de feus Officios lhe couber , vigiem , e trabalhem
quanro nelles for, porque eílas No!fas Leys, e Orde•
naçoes fejam em todo compridas e guardadas , e
nom enuiem , nem confcntam leuar aas ditas partes
de Guinee , nem a ninhuu dos trautos della , nem
pera ello dcm fauor , nem confentimento, ninhuas
mercadorias , nem coufa algüa , frgundo que aqui
por Nós he defefo , e mandado, fob pena, que fc al-
güa coufa enuiarem , ou confentirem enuiar, ou pera
ello derem fauor, ou confentimento, encorram nas
mefmas penas , em que Mandamos que encorram o
Capitam , Feitor , e Efcriuaes da Cidade de Sam
Jorge da Mina , fegundo que na Ordenaçam que ne-
fles fala he compridamente declarado, e aalem di{fo
perderam feus Officios pera delles Prouermos a
quem Noífa Merce for.

TI-
Cl!!E l'ES. ALGUMA NOM T!NHA CONCHAS ETC. 343

T l T U L O CXIII.

~,e peffoa algüa nom tenha co11chas, coriis, contas par-


das , nem outras pertencentes ao trauto drz 1'r1ina, nem
traute nellas, nem tragua da lndia as coufas quefiun
deftfas, que Je nem poflam trazer, nas Ordenaçoês que
pera a lndia 'l'emosfeilas , e as peuas que muram os
que o co-nlrairo f ezerem , e das coufas que Jmn defefas
']Ue Je nom leuem aas Ilhas do Cabo //erde, e do Foguo.

D E F EN D E M O S que toda péJToa d,e qual-


quer qualidade, e condiçam que feja, afli eílrangei-
ro , como natural, nom feja tam oufado, que tenha,
ou poífua, ou traute nefies Noffos Reynos ou de fó-
ra pera dles , ou d'elles pera fóra, conchas, coriis,
contas pardas, ou das Olltras, que na Mina valem ,
ou ao diante valerem, que de Guinee vem • ou Iam ..
beis, fob pena, de feer pubricamente açoutado, fe for
peífoa em que caiba pena d'açoutes , e mais perder
per eífe mefmo feito pera Nós toda fua fazenda. E
fendo peíToa em que nom caibá a dita pena d'açou-
tes, ferá degradado por cinco annos com huü pre-
guam na Audiencia pera a Ilha de Sam Thome, ou
Santa II ena, e mais perderam iífo mefmo pera Nós
per eífe rnefrno feito toda fua fazenda ; e efio, fendo
nello comprendidos, ou fendo-lhe prouado per le-
gitimas prouas; a qual pena fe dará affi aos que
meterem as ditas coufas, ou cada hüa dellas de fóra
de Nofios Reynos, ou as ncíles Reynos teucrem, oll
poi:.
344 O ~INTO LrvRo DAS 0RD. T1T. CXIII.
polTuircm, ou nellas trautarem daqui em diante.
1 hEM ninhüa peífoa nom trazerá da lndia ni-
nhüa das coufas, que por Nós fam defefas, que fe de
laa nom traguam, nas Ordenaçoes, e Regimento que
pera a I ndia Ternos feito , o qual Mandamos, que
acerca do nom trazer das ditas coufas,como de todo
o nelle contheudo, fe cumpra e guarde fob as penas
nelle contheudas , poílo que neíl:as Ordenaçoés nom
feja encorporado.
2 ÜuTRO sr todos os defcaminhados, que feda.
qui adiante tomarem , affi de Guinee , como das ln-
dias, aITi os que tomarem as Guardas, como Reque-
redores , ou outras quaefquer pelfoas , neffa ora que
forem achados , e tomados, feram leuados peran_re o
Juiz de Guince e Indias , e affi leuaram as peffoas,
em cuja maõ as acharem , quando as acharem em
poder d'algucm, o qual Juiz com huú Efcriuam
d'ante elle fará auto com declaraçam da enforma-
çam, que ouuer per juramento dos que o dito defca..
rninhado lhe trouuerem, pera fe proceder como per
Dereito o deue fazer, e pera as partes a que efto to..
car fabercm como palTa, e ferem ouuidos , qua,pdo
pertenderem de tccr de rei to alguü. E iílo mefmo
mandará viir perante fi o Recebedor das taees cou-
fas, e Efcriuam de fua recepta , pera o que for fem
duuida fe receptar fobre elle, e o duuidofo fe depo-
fi_car, e fc pocr todo a bom recado, como comprir a
Noffo fcruiço, e a bem das partes a que tocar.
J ITEM Mandamos, que dos defcaminhados que
fcm
QyE PES. ALGUMA NOM TENHA CONCHAS ET C. 345 .
fem duuida cftcuerem, o dito Juiz faça loguo en-
tregar perante fi aos que taees defcaminhados trou-
uerem o terço, e affi o outro que fc loguo nom po..
der determinar, tanto que forem julguados por per-
didos. Porem o que for achado e tomado pelas Guar-
das , a eíles fe dará ametade como ja Temos man-
dado per Noffo Regimento.
4 E DEFENDEMOS que peffoa algüa de qualquer
forte, e qualidade, feja tam oufado, que Jeue , nem
mande daqui adiante de ninhua parte de Noffos Rey-
nos, nem de fóra delles , aas Ilhas do Cabo Verde , e
do Foguo ferros da feiçam que os Negros os querem
em Guinee , e porque muito fazem, de que podem
fazer, e fazem nas ditas partes ferros d'azagaias , e
outras armas e ferramentas ; nem os faça neíles Rey-
nos , nem vaa fazer fóra dclles , nem mande fazer,
fob pena de pelo meímo cafo perder toda fua fazen ..
da, ametade pera Noffa Camara , e a outra pera
quem o acufar, e mais feer prefo e degradado pera.
a Ilha de Sam Thome por cinco annos. E iífo mef-
mo Defendemos , que daqui em diante petroa algua
nom leue , nem mande de ninhüa parte de Noffos
Reynos , nem de fóra delles, aas ditas Ilhas do Cabo
Verde, e do Foguo, manilhas de latam , e de eílanho •
e laquecas de toda forte , latam de toda forte, cri-
ftalino de toda forte, matamúgo, panos da lndia •
capas de Chaul, brocadilhos de Frandes, camifoes
de feda , ou de coores da feiçam que os trazem os
negros , pãnos vermelhos • e amarelos , que fe cu..
Liv. Y. Xx frumam
346 O ~tNTO LIVRO DAS ÜRDEN. TI.T. CXIII.

flurnarn leuar a Guinee, fob pena , de fe perderem


em trefdobro, a metade pera Noffa Camara, e a outra
. metade pera quem o acufar. E fendo morador nas
ditas Ilhas, e encorrendo na dita pena , . ferá deltas
degradado por dous annos, aalem da pena do perdi~
mento das ditas mercadorias , como dito he ; e os
que laa nom forem moradores feram degradados por
outros dous annos pera cada huü dos .Coutos deftes
Reynos.

Fim do Qyinto Li'Uro.

À Pag. 51 , §. 5. li11. 4• veer lea-fe vier


65 , §. ini,. lin. 4 e I 5. a crida lea-fe a criaJa
I
108 , §. II. lin. 3. alguü lea-fe algüa
133, lin. I 1. partee lea-fe' parte
176, §. 6. /in. 14. encómcndendem /ea-fe cncómendt:in
230, /in. 24 e 25. maleficia lca-fe maleticio
265, lin~ 10. naquellas maneira lta-fe naquella &e.
274, lin. 24 e 25. Cara /ea-fe Camara
290 , §. 3. lin. 3. Reformamos lea-fe Reformarmos
293, lin. 5. paclacer /ea-fe padecer
295, T. 97. /in. I e 2. alguü lea-fealgüa
296 , Jin. 11 e I 2. pena ltti-fe cm pena
301 , T. 100. lin. 3. o em /ta-fe ou em
E PERA que na lmpreffam ddlas Ordenaçoes,
que ora Mandamos imprimir, fe nom poffa acrecen-
tar , nem rninguoar coufa algüa, Mandamos que lhes
feja dada fee, e auél:oridade, fendo affinado no fim de
todos cinco Liur.os por dous dos quatro Defernbar-
guadores feguintes, conuem a faber, o Doutor Joam
Cotrim , e o Doutor Joam de Faria, e o Doutor Pe-
. ro Jorge , e o Licenciado Chriftouam Eíleuez, que
pera ello Ordenamos. E nom fendo affinados por
dous delles , como dito he , nom lhe ferá dada fre
algüa ,. nem credito. E nom fe poderá mais vender
toda a obra deíles cinco Liuros, que por quatrocen-
tos reaes. E vendendo-os algúa peffoa por mais pre-
ço, paguará cem cruzados , amecade pera quem o
acufar, e a ou era metade pera os catiuos, e mais fe-
rá degradado dous annos pera Alem.
E ESTES Liuros fam cinco Liuros, conuem a fa-
ber: Primeiro. Segundo. Terceiro. ~arco. ~into.
E cada huú delles. leua os quadernos e folhas fcguin-
tcs, conuem a faber.
O PRIMEIRO Liuro tem vinte quadernos, con ..
uem a faber: a b e de f g h. i k l m no p q r f e v.
E todos fam quadernos de oito folhas cada huü. E
tem clx. fo.
O SEGUNDO tem noue quadernos, conuem a Ca-
ber: a b e de f g h i. Todos fam quadernos de oito
folhas cada huü , tirando .h. que tem dez folhas.,
e .i~ que. tem quatro folhas , e tem lxix. fo.
o
O TER.CEtRo tem doze quadernos , conuem a fa-
ber: a b c d e f g h i k 1 m. Todos fam quadernos
de oiro folhas cada huü. E tem xcvj. fo.
O Q.!JARTO tem oito quadernos, conuem a faber:
a b e d e f g h. Todos faro quadernos de oito folhas
cada hu ü, tirando .h. que tem dez folhas. E tem
lxv. fo.
O Q!TINTO tem daze quadernos, conuem a fa-
ber ·: a b e d e f g h i k l m. Todos fam quadernos
de oito folhas cada quaderno, tirando .m. que tem
dez folhas, e tem xcviij. fo.
E AALU4 defio cada Liuro tem fua Tat1oada de to-
dos os Títulos que fe nelle contem, e aas quantas fo-
lhas fe achará cada Titulo: e mais o primeiro Li-
uro no começo tem huü Prologo com as Noffas
Armas de Portugal.

Fim.
EDIÇÕES DA rl.!NDAÇÀO
CALOUSTE GULBENK IAN

Manuais Universitários
J75 volumes publicados

Próximas publicações:

Mecânica dos Materiais - C: Moura Branco


Introdução à Tribo/agia - A . P ina da Si lva

Textos Clássicos
Esta ed ição "fac-símile"
10 volumes publicados
das Ü!IDENAÇÕES MANUELINAS - Livro V
foi impressa em offset e encadernada, '
para a Fundação Calouste Gulbenkian
nas oficinas da Gráfica de Coimbra. Próxima publicação:
A tiragem é de 3.000 exemplares.
Dezembro de 1984 Crítica da Razão Pura - Kant
Depósito Legal n.0 7056/ 84

Cultura Portuguesa
10 volumes publicados

Próxima public~ção:

Obras de Sobral Cid, li vol.

capa de Vítor da Silva


SÉRIE DE CULTURA PORTUGUESA
DAS EDIÇÕES DA FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN

Aparecendo embora depois de outras, talvez que esta série -do Plano
de Edições da Fundação Calouste Gulbenkian possa considerar-se
anterior às que a precederam : pois não foi sempre na Cultura Portu-
guesa que se pensou ao projectar e fazer tudo quanto já existe no
referido Plano ? Agora e aqui trata-se apenas de explicitar, criando
um lugar próprio reservado . aos testemunhos válidos da singularidade
e da autenticidade da nossa cultura, seja qual for o quadrante onde
se localizem. Interessa-nos documentar o que somos e temos sido no
campo das letras e das artes, da reflexão e do saber ; procuramos
atingir a realidade colectiva nacional, que se criou pensando e agindo,
aprendendo e inventando, conhecendo ou descobrindo os outros, mas
sentindo-se sempre diferente deles. Uma realidade que é viva e se
interroga à medida que vive: o clássico e indecifrado enigma histórico
de tudo o que é humano e existe no tempo.

Você também pode gostar