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ANN AES
DA
MARINHA POE.TUGUEZA
POR
TOMO I.
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LISBOA
Na Tipografia da mesma Academia.
183 9.
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ARTIGO
EXTRAHIDO DAS ACTAS
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PREFAÇÃO.
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ANNAES DA MARINHA PORTUGUEZA.
i i.
PARTE PRIMEIRA,
MEMOBIA PRIMEIRA.
(i) Monarchia Lusitana, tomo 8.°, L.° aa, Cap." 15 , e 16. Ve-
de também í enuo Lopes , Cap.0* 4a , e seguintes»
35
he ja do anno de 1371. Hum feliz estrategema salvou
a Esquadra da ultima ruina : tinhao-se tomado duas
embarcações inimigas carregadas de azeite, e o Almi
rante Paçanha, aproveitando-se de huma noite escura ,
e de huma forte corrente, as largou incendiadas pelo
Rio abaixo, o que metteo os Hespanhoes em tal con^'
fusão, que cortarão, ou largarão logo as amarras , pa
ra as deixar passar; e as Galés Portugiiezas, que as se-
guião de perto em linha mui cerrad. t , ganharão 6 mar
largo , e navegarão para Lisboa a salvamento.
1370 — Partio de Lisboa em Março para Barcelo
na httma Esquadra de sete Galés, para trazer a Infan
ta D. Leonor, filha de D. Pedro, Rei de Aragão, com
a qual EIRei D. Fernando se contratara a casar , o-
que não teve effeito. Estas Galés hião soberbamente
adornadas, com particularidade a Capitania; e toda
a gente , que as guarnecia , incluindo os remeiros , vesy
tidos de seda de varias cores. Ignoro o nome do Che
fe, que 'oorpmandava a Esquadra , senão era o Conde
D. João AfFonso Tello , a quem hia encarregada a
commissão de conduzir a Infanta , e a distribuição do
grande cabedal que EIRei mandava (1) p2ra differen-
tes despesas. ■ ■ r
, -i\ Na noite de 13 de Fevereiro, deste mesmo anno
houve tão grande tormenta em Lisboa , que naufraga
rão muitos navios mercantes, é a maior parte, de huma
Esquadra, que- se estava armando, em que se affògou.
muita gente. (a).
(O Ff- Manoel dos Santos no tomo 8.° da Monarchia Lusitana,'
L* 2a, Cap ° 16, diz, que a Esquadra levara quatro Itiil marcos óê-
curo, que hoje' valerião 1 :i 52^000 cruzados. Duarte Nunes- de Leão
na sua Chrouica d'ElRei D. Fernando, d»z que levava desoito 'quintaé*
de atiro ; e Fernão Lopes na Curou ica deste Rei , Cap.3 48 , escreve j
que erão até quatro mil marcos de ouro , e prata nenhuma.
(2) Fernão Lopes, Cap.° $9 — Duarte Nunes, Ghronica do mes
mo Rei. • : ''.'■".' : ' • 'i ■ >
5 ii
3G
(i) O Arcebispo Cunha diz (Cap.° 94), que" foi" ganha no dia a],
'.) ii
. «8
tec<r, largando o Castello; o qual, por ser o- ponto
mais forte, reservou EIRei para .as suas armas.
Ignora-se o numero dos inimigos que morrerão ,
ou ficarão cativos, porem he. incontestável que devia
ser mui crescido: dos Portnguezes dizem , que sd falta
rão oito, que parece incrível. O despojo foi riquíssi
mo, tanto ern.metaes preciosos, e objectos de commer-
cio, como em artilharia, e munições navaes , e de
guerra , alem de quatro Galés achadas no Porto.
Nomeou EIRei para Governador ao Conde de
Vianna, que. pedio este Cargo por se haverem escusado
delle outros Fidalgos, a quem primeiro o offerecêra.
Deixou-lhe de guarnição perto de três mil homens (i),
e algumas embarcações , com abundantes provisões de
toda a espécie; e a % de Setembro partio para PortUr
gal , e foi desembarcar em Tavira.
Não apparece, na relação desta grande expedição
marítima huma sd palavra , que denote o uso da arti
lharia a bordo dos navios Portuguezes, havendo-a ja
nas baterias das Praças; e ainda que hum Escritor nos
so, mui curioso indagador das cousas da Marinha, diz,
que na tempo deste Monarcha se começou a usar de
artilharia grossa nos navios, (i), devia ser nos últimos
annos do seu Reinado..
141 8 — Estando Ceuta cercada por terra de hum
grande Exercito de Mouros (3) , mandou o Rei de
Granada huma Frota de sessenta e quatro velas, em
ue entra vão onze Galés, e vinte Galeotas, carregadas
\ e tropas, e por Commandante de tudo Muley Qaide>
10
74
reis, que immensas aves de varias espécies tão innocen-
tes, que se deixa vão colher á mão.
Avisado logo o Infante D. Henrique da importan
te descoberta, e querendo remunerar os serviços dos
dous beneméritos Cavalleiros, dividio a Ilha era duas
Capitanias , e as repartio por elles.
Aqui occorreo hum facto, que seria inacreditá
vel , se o testemunho unanime dos Historiadores o não
abonasse, e foi; que tratando os dous novos Donatá
rios de começar a cultura dos seus terrenos, cora algu
mas famílias, que para alli transportarão , mandou
João Gonçalves da Camará roçar , e queimar algum
mato no sitio do Funchal, e communicando-se o in
cêndio aos bosques, de que a face da Ilha estava co
berta, não foi possível extingui-lo, senão no fim de
sete annos, com perda irreparável de preciosas madeiras
próprias da construcção naval ; por cuja razáo sentio o
Infante sobremaneira este desastre, como quem tinha to
dos os seus pensamentos applicados ao augmento, e
prosperidade da Marinha. O Padre Cordeiro affirma ,
que com as madeiras desta Ilha se começarão a fazer
navios grandes de gavia ,' e castello d'ovante não ha
vendo amantes mais que Caravelas do Algarve , e Ba
rineis em Lisboa (i).
Fez o Infante plantar na Ilha bacello de Malva
sia , que mandou vir de Chipre , e cana de assucar que
Jhe veio da Sicília, com Mestres para o fabricarem,
sendo este género naquelles tempos de grande preço ^
e estimação ; e achou-?e, que o assucar da Madeira ex
cedia em qualidade a outro qualquer.
A Historia desta rica, e deliciosa Ilha he tão co»
nhecida , que tenho por inútil ser mais extenso.
1424 — Como o Infante D. Henrique tinha com-
CO L« i/jCap.» 6.»
75
prado a Maciote Betancourr o dominio das Ilhas de
Lançarote, Forre Ventura, Gomeira , e Ferro, perten
centes ao grupo das Canárias , cuja historia "melhor se
poderá ver nos nossos Escritores , que largamente tra-
tao desta matéria , determinou conquistar as que resta-
vão por submetter (i), e neste anno fez partir para es
se fim huma Esquadra, com dous mil e quinhentos in
fantes, e cento e vinte cavallos, e por seu General em
Chefe D. Fernando de Castro, Governador da sua Ca
sa (2). Porem os resultados deste armamento não cor
responderão ás suas esperanças, nem ás despensas que se
fzerâo; porque D. Fernando de Castro, depois de re
duzir ao Christianismo alguns dos boçaes moradores
(O Hum erudito Académico publicou ha poucos annos huma Me»
mona (Vede as Memorias para a Historia das Navegações, e Descobri
mentos dos Portuguezes; no tomo 6.", parte j.1 das Memorias da
Academia das Sciencias de Lisboa , pelo Senhor Macedo) , sobre a an
tiguidade do descobrimento daquellas Ilhas, em que pretende serem ja
■conhecidas dos Portuguezes no anno de 14 J4, ou no seguinte. Clarke
/az menção (The Progress of Marítima Discoverjr, L* 1.', Cap.°
2.0) de huma embarcação Franceza, que por causa de naufrágio apor
tou alli entre os annos de 1 $26 , e 1334; e parece ser a mesma, de
que com incertesa falia João de Barros (Década 1 . , l,° 1 .' , Cap.^
12), col locando com tudo este facto em época ma;s moderna.
Eu farei aqui duas únicas reflexões: 1.' Não parece verosímil,, que
hum Monarcha de tantos talentos , como l). Affonso IV. , em cujo Rei
nado se diz haver acontecido aqúelle descobrimento, não procurasse ti
rar delle as importantes ventagens, que naturalmente devia esperar, se
fkesse reconhecer todas aquellas Ilhas, que se avistáo hu mas das outras,
e estabelecesse relações com os seus habitantes ; mas vemos , pelo con
trario, que se perdeo ate a memoria do seu descobrimento, a.' Obser
vando a posição geográfica das Canárias, e a navesaçáo que fazem os
navios na sua volta para as Costas de Portugal, ou de França , segundo
os ventos dominantes nas differentes Estacões do anno , he moralmente
impossível, que algum delles não descobrisse as Ilhas, Snlvagem e da
Madeira ; o que não consta haver acontecido.
(2) Barros, Década l.», L.° i.°, Cap.» 12 — Galvão, Tratado
dos Descobrimentos, pag. 21 — José Soares da Silva, Memorias d'El»
Rei D. João I., tomo i.°, cap.« Sc5.
10 ii
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daquellas Ilhas, se rccolheo a Portugal, e o Infante
foi obrigado a mandar depois Antão Gonçalves com
huma expedição de menos força , para proteger os no
vos convertidos contra a fúria dos outros selvagens.
1429 — Recebida por Procuração nos Paços do
Castello de Lisboa a 24 de Julho deste anno a Infanta
D. Isabel, com o Duque de Borgonha Filippe o Bom
(1) , partio desta Capital em huma Armada de trinta e
nove embarcações, e dia de Natal do mesmo anno che
gou ao Porto da Ecluse, n«; Flandres, onde a esperava
aquelle poderoso Principe. Acompanhou-a na jornada
hum dos seus irmãos, que alguns dizem ser o Infante
D. Henrique, e outros o Infante D. Fernando.
143 1 — Partio de Sagres em hum navio, por or
dem do Infante D. Henrique, Fr. Gonçalo Velho Ca
bral , Commendador de Alraourol , com instrucçôes de
navegar direito a Oeste, e se descobrisse alguma terra,
voltar logo cora a noticia (2). Com poucos dias de
viagem avistou huns penedos, que examinou, e aos
quaes deu o nome de Formigas (3) , e dalli tornou pa
ra Sagres; provavelmente, porque algum máo tempo
de cerração lhe obstou a fazer maiores progressos ,
aliás descobriria então a Ilha , que achou no anno se
guinte, e não está longe daquelle Baixo.
A 30 de Outubro deste mesmo anno de 143 1 se
concluio era Medina dei Campo o Tratado de Paz
perpetua entre Portugal, c Castella ; eis-aqui hum exr
dia, e de noite com todo o tempo; náo havendo outro baixo, que
hurm pedra (a Pérola') ptoxima a Cabo Carneiro. 2.' Que João Pereira
não foi com mil homens observar os panos ntais praticáveis para as
nãos de alto bordo , porque essas não andáo per cima de montes ; foi
examinar se seria possível atravessar o Exercito a serra pedregosa de Bu
lhões. }.a Que Tanger está situado quatro milhas alem de Cabo de Es
panei , que forma a bocca Occidental do Estreito da banda da Africa :
desta Praça contão-se nove légua* á Almina de Ceuta , extremo orien
tal do mesmo Estreito; e Tetuão dista perto de seis léguas para o Sul
da Almina, ja dentro do Mediterrâneo: donde resulta, que a Armada
Portugueza, sahindo de Ceuta para Tanger , não podia fazer caminho
yot Tetuão. 4V Que Almeria não está na Costa de Africa , mas na de
Kespanha.
Estou persuadido, que o nosso Historiador, vertendo esta narrati
va de algum Escriptor Francez, tomou equivocadamente o substantivo
Armtc por Arnwda , em vez de o tomar por Exercito; e cabido neste
erro, foi tropeçando em outros.
De resto, seria necessário fazer huma Dissertação para notar todos
os descuidos, que em matéria de Geografia se encontrão na sua Histo
ria Geral, aliás muito estimável a outros respeitos; como v.g. pôr Ca
bo de Mastros ao Noite de Cabo Verde (tomo 7 , L.0 27, Cap.° a,
pag. 102), e Alcácer Ceguer no Estreito de Gibraltar (ibi , L.° 2Í ,
Cap.° 2.0 , pag. 184); e comprehender a Ilha do Ferro entre as de Ca
bo Verde (ibidem, pag. 111), com outras similhantes faltas.
(1) Esta Cidade está situada na Lat. N. de 35° 3?' 40"; "e í z°
10' 45" de Long. Asna Kalva tem três milhas de comprimento, milha
e mela de saco, e lie formada relas pontas de Tanger, e ÍVaiabara; e
desabrigada dos Levantes. Cs Poituguezes tinhão construído hum bom
J2 ii
92
(1) Este Rio, ou antes braço de mar, entra pela terra dentro cou
sa de outo léguas, e he cheio de baixos, com alguns Ilhotes. A sua pon
ta do Norte fica perto de quarenta milhas ao Sul da Angra dos Cavai-,
los , e está situada em 2?" 42' de Lat. , e 2° 11' de Long. A' roda
delia ha hum recife de pedra, como observou o Capitão Glãss, Inglei
em 1 7 60.
(») Galvão, pag. 2) —Faria na sua Ásia, tomo 1., e j. no fim.
— CÍironica do Príncipe D. João, Cap." 8. — Soares da Silva, tomo
I., Cap." 84.
(j) São o mesmo, que as Canoas do Brazil , embarcações construi-
das de hum só pão, cavado por dentro, e algumas tão grandes, que
Cem sessenta pis de comprido.
14
ias
a qlie deo o nome de Ilha das Garças , pelas muitas
que matou , colhendo-as á mão , c lhe servirão de re
fresco: e fazendo depois alguns desembarques na terra
firme, sem achar outra alguma presa, voltou para o
Reino.
1444 — Vendo os moradores de Lagos a prosperi
dade que começava a ter o Commercio marítimo , por
meio destes descobrimentos, que ja produzião quanti
dade de ouro, e de escravos, e que todas as embarca
ções nelles empregadas vinhao descarregar áquella Ci
dade, pela habitual assistência do Infante D. Hcnriqu*
em Sagres, formarão, com sua licença, huma Compa
nhia, que se obrigou a pagar-lhe o quinto de todos os
géneros, que exportasse daquelles Paizes: e em conse
quência armou seis Caravelas , de que o Infante deo o
commando geral a Lançarote, que fora seu Moço da
Camará, e a quem dera o Almoxarifado de Lagos; e
os outros Commandantes erão Gil Annes, que primeiro
dobrou o Cabo Bojador*, Estevão AfFonso, Rodrigo
Alvares, João Dias, € outro (1).
Chegou a Esquadra á Ilha das Garças, onde ma
tou muitas, c querendo assaltar a Ilha de Nar (huma
das de Arguim), por levarem informações de que po-
derião alli fazer boa presa nos naturaes do Paiz, re-
solveo-se cm conselho mandar primeiro espiar a Ilha ,
e cerca-la depois com as lanchas , para lhes cortar a re
tirada para o Continente; e em consequência deste ac-
cordo, partirão de noite Martim Vicente, e Gil Vas-
3ues,.cada hum em sua lancha com quatorze solda-
os, e alguns marinheiros, mas as correntes, que por
(1) Vede a Historia Tmolana, desde o Livro $.° atí ao Livre 9.".
— Faria, Ásia Porturuiva , tomos i.°, e j.° nos lugares ja citados -
Soares da Silva, Memorias de D. João I., tomo 1 ., Capítulos 90, e 91
— Damião de Góes, Chronica do Príncipe D. João, Capítulos 8. , e 9.
— Galvão, pa». 3; Clarke , tomo k, L*i., Cap.4 2. — Anuo His*.
torico, tomo 2. pag. )+.
109
(1) Barros (Década 1., L.* 1., Cap.° 9) põe esta descoberta em
1446 — O Padre Cordeiro (L.# 2., Cap.° 8) dá as Ilhas de Cabo Ver
de descobertas em 1445 ; e he bem sabido , que o Cabo foi descober
to antes — Galvão (pag. 34) diz, que o Cabo se descobrio em 1446:
O Anno Histórico (tomo 2. , pag. 2) diz , que em 1 445 — Faria , e
Suares da Silva (nos Jugaros acima citxdos), dizem , que foi descoberto
em 1446 — Damião de Góes (Cap.° 8.) segue quasi a opinião de Ca-
damosto , e suppóe a descoberta em 1445 — Eu ponho o descobrimen
to em 1444, porque em 1445 foi asua primeira viagem, eelle cdá por
descoberto no anno antecedente.
(2) CaboVeide, situado r^Lat. N. dei4Q 45' eLong. o» jj' 4$",
112
pelo frondoso arvoredo, que o cobria; e vendo que a terra,
alem delle, se encurvava muito para Leste, formando
como huma penitfsula , e que o vento lhe ficava pontei
ro para continuar o seu reconhecimento, ancorou em
huma Ilhota próxima do Cabo, onde matou muitas Ca
bras, que lhe servirão de refresco, e deixando nella ar
vorada huma Cruz de páo, regressou a Portugal, onde
foi rçccbido pelo Infante com aquellas honras e mer
cês , que elle costumava fazer aos que tão bem o ser-
vião.
1U45' — Neste anno mandou o Infante a Gonçalo
de Cintra (i), seu Escudeiro, e homem valeroso , por
Commandantc de hum navio, para continuar os desco
brimentos, o qual indo em demanda de Cabo Branco,
para passar á Ilha de Arguim, em que hum Mouro
Azenegue (2), que levava por interprete, lhe promet-
lie o ponto mais Occidental da Africa , e lie formado por huma pen in
sula , que sahe do Continente para Oeite mais de cinco léguas, sen»
do a sua menor largura de seiscentas toezas. Da parte do N.E. tem douj
montinliús , a que cliamão as Mamai , e servem de reconhecimento aos
Navegantes. Segundo alguns Sábios , que modernamente examinarão a-
quelle terreno, estes dous montinhos são testas de hum antigo Voicão.
Do extremo Occidental do Cabo se estende huma perigosa restinga de
pedras, que entra muito pelo mar. A ponta do Norte do Cabo chama»
se ponta da Almadia; • Cabo Manoel a sua ponta mais do Sul. Entre
estas duas pontas estão três pequenas Ilhas, chamadas da Magdalena, ou
dns Pássaros. Em huma delias desembarcou Diniz Fernandes, se he cer
to, que o fez em huma Ilhota que está pegada no Cabo, como diz-
Karros; iras eu persuado-me, que elle desembarcou na Ilha Gorea , que
tein abrigo , e fica só distante delle cousa de duas léguas,
(O Vede Faria e Sousa, Ásia Portugueza, tomo i. no fim — Soa
res da Silva nas Memorias de D. João J., tomo I. , cap." 84 — Ear-
ros, Década 1., L.° !., Cap.° 9 —> Galvão, pag. 24 — Góes', Chroni-
ca do Príncipe D. João, Cap.° 8., onde colloca esta viagem no anno
de 1444.
(2) Os antigos Portuguezes chamaváo Azenegues aos Povos , que
habitavao da margem do Rio Senegal para o Norte, os quaes parecem
ser huma rac,a mixta de Aiabes, e Mouros Earberescos, e são da cor de
113
tia boas presas, entrou em huraa Bahia cousa de deze-
seis léguas ao Norte daquelJe Cabo onde o Azenegue
lhe fugio: e sobre o desgosto deste acontecimento, te
ve outro, porque vindo hum Mouro velho pedir-lhe o
levasse para Portugal , por estarem lá cativos, segundo
dizia, alguns seus parentes, depois que examinou 4 sua
vontade o navio (único fim a que viera) , desertou
igualmente.
Agastado , e corrido Gonçalo de Cintra destes en
ganos , a que o arrastara a sua nimia boa fé , intentou
vingar-se assaltando huma Aldeã visinha", e guarnecen
do a sua lancha com doze homens, entrou nessa noite
por hum esteiro, onde na vasante ficou em seco, e sen
do visto de manhã pelos naturaes, o atacarão mais de
duzentos, e alli o matarão , com Lopo de Alvellos, e
Lopo Caldeira , ambos Moços da Camará do Infante,
o Piloro Álvaro Gonçalves, e outros quatro homens,
salvando-seorestodelles a nado. Estes forão os primeiros
Portuguezes , que acabarão naquelles descobrimentos. A
Caravela voltou logo para o Reino só com alguns ma
rinheiros , e duas mulheres que haviao cativado em ter
ra , ficando áquelle lugar o nome de Angra de Gonça
lo de Cintra (i). O Infante sentio por extremo este
desastre.
Parece, que neste mesmo anno, por ordem do In^
fante, se começou a construir hum Forte na Ilha de
Arguim , que era então o centro do Commercio da
. (1) Esta Cidade, pela siin illiança do nome, parece ser a mesma a
que Tarros chama Tungnttita , e os Viajantes Estrangeires Tinibeiiclvu,
onde o Major lnglez Denham viveo muito tempo de 1.819 em diante,
e a situa no seu iOappa em I $° 8' de Lat. N. , e 19" 5' de Long., dis
tante mais de duzentas léguas da Bailia de Benim, na Costa Occidental
de Africa, que lie o ponto que lhe fica mais próximo. Estes Hai.es inte
riores são ainda mui pouco conhecidos, a pezar das diligencias do Go
verno Britânico.
(2) Este Commercio durava ainda neste século , porque Mung Par
ker faz delle menção.
()) Este grande Rio tem mais de meia légua de becea : a ponta
do Norte da sua entrada, chamada Ponta de Barberia, «clia-se na Lat.
N. 15o $2', e na Long. de i° \i' 45". A barra antiga era mui
to (mais ao Sul, mas no anno de 1812 huma grande cheia ahrio ou
tra nova, que ainda se conserva. O canal da entrada tem 100 toezas
de largo, e de nove ate dezoito pés de fundo, o qual diminue muitas
vezes , de modo que não lie seguro passar a barra em navios, que de
mandem mais de doze pés de agua , porque o mar quebra sempre no
banco: passido este, achão-se quatro braças de fundo. Os Navios podem
.'subir seis, ou sete léguas pelo Rio acima, e as embarcações pequenas
mais de sessenta. A Ilha de S. Luiz, Capital dos estabelecimentos Fran-
cezes , fica poucas léguas afastada da entrada ; he pequena, toda de arca,
situada na Lat. de 1 6o 4' 10', e na Long. de lc 41' 4$'', e divi
de o' Rio em dous braços: o de Leste tem jeo toesas de largo, e o de
Oeste JOO; nnqtielle lis que dão fundo os navios, próximo á Ilha de S.
Luiz. O Rio tem mitras Ilhas, todas cobertas de arvoredo. Na estação
das chuvas Qque de ordinário acaba em Outubro) cresce o Rio a vinte
119
o panno com qUe navegavão etc. , fossem estas cousas escriptas com
bom methodo , ou não.
.^Eu estou persuadido, que ainda existem alguns Diários Originaes
dos nossos antigos Navegantes; oxalá que saião á luz para honra da
Nação !
(O Vede a Segunda Viagem de Cadamosto nas Memorias da Aca
demia ja citadas.
129
©■Norte , e lhes pareceo verem para o Sul a modo de
outras; assim as Ilhas agora descobertas erao quatro.
Desta primeira Ilha se dirigirão as Caravelas ás
outras duas , que não ficavão tanto a sotavento da der
rota , que deviao seguir para a sua coramissão, e ro
deando huraa delias, que parecia cheia de arvoredo,
descobrirão a boca de hum Rio, qtie julgarão seria de
boa agua, e surgirão para se proverem delia. Aqui des
embarcarão alguns homens da Caravela, e caminhando
pela margem do Rio, acharão algumas lagoas de excel-
lente sal ; daqui embarcarão muito , e os navios reno
varão a sua aguada. Colheo-se quantidade de grandes
tartarugas , cuja carne era tão branca , como a de vitel-
la , e de óptimo gosto, e por isso salgarão muitas para
a viagem ; e o peixe era innumeravel , algum de espé
cies novas, e muito saboroso. O Rio tinha de largo
hum tiro de seta, e podia entrar nelle qualquer em
barcação de 75/ toneladas. Nesta Ilha se demorarão
dous dias, matando infinitos pombos, e puzerão o no
me de Boa Vista á primeira que descobrirão; e a esta
segunda ode S. Tiago, por ter ancorado nella dia de
S. Filippe, e S. Tiago (i).
Partirão as Caravelas na volta de Cabo Verde,
e em poucos dias avistarão terra em hum lugar chama
(1) Parece- que seria o Rio de S. Pedro, oito ou nove legoat ao*
Sul do Gambia.
(2) Devia ser n Rio de Santa Anna, ou a boca do Norte do Rio
das Ostras, que ambos ficáo ao Sul do Rio de S. Pedro.
(<) O Rio de Casamansa está situado (a. ponta do Norte) na lati»
tudí de 12o 28', e longitude de i° jo', e dista do Gambia sessenta
milhas, com pouca differença. Podem entrar nelle embarcações media
nas , porque tem duas milhas de largo-, e de três a quatro braças de
fundo. Toda a Costa , entre elle e o Gambia , he guarnecida de reci
fes , a que I12 perigoso aproximar-se. Da banda do Norte da sua entrada
fica huma Ilha pequena, chamada dos Mosquitos. Este Rio communi-
oa-se por dous braços com o Gambia, e por quatro, ou cinco com o de-
Çacheo, Habitão o Pajz entre elle e o Gambia os Arr iates, e Falupos>
133
Continuando a sua viagem , virão mais adiante
cousa de quinze milhas hum Cabo, cujo terreno era
mais alto, e avermelhado, e por isso lhe puzerão o
nome de Cabo Roxo (i); e além delle acharão outro
Rio, que lhes pareceo ter de largura hum tiro de bes
ta, e denominarão Rio de Santa Anna ; e mais adiante
outro da mesma grandeza, a que chamarão de S. Do
mingos (2); de Cabo Roxo a este ultimo Rio arbitra
rão a distancia em quarenta e cinco milhas, pouco mais
ou menos.
Continuando a seguir a Costa por outra singradu-
ra, chegarão á boca de hum grandíssimo Rio, que pri
meiro cuidarão ser hum golfo (3), cuja largura reputa
rão ser de mais de quinze milhas ^ e dobrando a ponta
do Sul da sua foz, descobrirão algumas Ilhas ao mar;
e desejando saber algumas noticias do Paiz, derão fun
do. No dia seguinte vierão duas Almadias, huma mui
to grande com trinta Negros, e outra com dezeseis, e
(O N&5 atliei ' este- Cabo mareado nas Garras-; mas sem duvida he
•alguma ponta de terra fronteira á Ilha de Arguin». '<.
id
138
vivião humas Tribus independentes das outras, e mui
tas vezes em guerra pela posse de hum pedaço de terra
de hervagera , ou de hum poço. E que o seu idioma
era quasi idêntico ao dos Mouros da Barberia.
De resto, João Fernandes, ainda que foi logo des
pojado dos vestidos por estes Azenegues, não recebeo
delles outro damno , e habituando-se em breve ao seu
modo de vida, e de sustento, mereceo a confiança de
Huade Meimora , hum dos principaes Azenegues , que
vivia com mais commodidades que os outros; e foi
quem o mandou com alguns dos seus a esperar os na
vios (i).
• 1446 — Neste anno Gonçalo Pacheco, Thesourei-
10 da Casa de Ceuta , rico Cidadão de Lisboa , armou
huma embarcação á sua cusra , com a necessária licen
ça do Infante , para a mandar á Costa de Africa (2) ,
cujo cominando deo a Diniz Anncs da Grã , Escudeiro
do Infante D. Pedro ; e em sua conserva forão Álvaro
Gil, Ensaiador da Moeda , e Mafaldo (não se lhe sabe
o nome), por Commandantes de duas Caravelas. Che
gados a Cabo Branco, acharão hum escrito de Antão
Cl) Ainda que Barros ( Oap. l j , paf. 1 1 6 ") noméa aqui a ponta de
Santa Anita , não me parece isto e\acto; porque Diniz Fernandes, e
Palaçano vinhão de Arjjuún , cujas Ilhas ficáo ao Sul daquella ponta,
ou Cabo de Santa Anna , situado na Lar. N. ao° jj ', e Long i' íç'
Ora na posição em que estavão as duas Caravelas, só tinháo que dobrar
o Cabo Mirick fcuja Lat. são 19o 17 ', e a Long. 1" 20 ) distante mais
de vinte , e cinco léguas ao Sul do Cabo de Santa Anna , 'para hiiu»
ao Senegal. .... }'
147
abrio, e encalhou na Costa, salvando-se a guarnição na*
Caravela, que correndo com o vento, checou a Cabo
Verde; e querendo Diniz Fernandes desembarcar, não
pôde, pelos Negros lhe defenderem a praia com serás
hervadas. Aqui fez o tempo outra mudança , de que
Diniz Fernandes se-servio para voltar ao lugar do nau
frágio da Fusta, e como o casco ainda ex'»tia, desem
barcou em terra com Pala :a no e a sua melhor gente,
a fim de aproveitar o que podesse; e sahindo-lhe de re
pente setenta Mouros defra's de hum montes de arêa,
onde os aguarda vão escondidos, fôrão de tal maneira re
cebidos dos Portuguezcs (suspeitosos da cidade), que a
maior parte alli morreo, escapando só os que fugirão.
Depois desta acção, que fez honra aos dois Comman-
dantes , se fez Diniz Fernandes á vela, e chegou a Por
tugal a salvamento.
Assim, de tantas embarcações, que sahirao este
anno para esta expedição só se perdeo huma Fusta. :
1446 — Deo o Infante o commando de huma Cara
vela a Nuno Tristão (, 1 ) , com ordem de passar além
do Cabo dos Mastros , ultimo termo do descobrimento
de Álvaro Fernandes, o que elle executou, descobrindo
hum grande Rio, em cuja boca surgio; e mettendo-se
na lancha com vinte e dous homens , em que entravão
os principaes do navio , entrou com a maré pelo Rio a
buscar alguma Povoação, e foi encontrar-sè com treze
Almadias guarnecidas de oitenta robustos Negros , que
o esperavão em sitio apropriado, por terem já visto o
navio, e a direcção que trazia a lancha.
Chegado Nuno Tristão a certa distancia das Alma-
(l) Rui cte Pina, Chronica <te D. Affonso, Capítulos iji e i}a.
— Itinerário desta Viagem, escrito por Nicoláo Walckenstein, Prova»
á Historia Genealógica, tomo 1. pag. 601.
I -<■>
(1) Ruy de Pina diz, que EIRei levou 220 navios, e nSo declara a
força do Exercito ; mas já tinha sido determinado em Conselho, que
este constaria de vinte e cinco mil homens. Góes diz, que a Armada era
de iia velas, com vinte e seis mil homens. O antigo manuscrito do
Prior do Crato D. Vasco de Almeida traz 280 navios, e vinte e dous
mil homens de tropas, com a circunstancia notável de custar este arma
mento cento e quinze mil dobras Severiín de Faria (Noticias de Portu
gal, Discurso 1. § 15) concorda com Ruy de Pina no numero das embar
cações , e não menciona o das tropas. Duarte Nunes (C'ap. 28.) segue
a Ruy de Pina, dando 220 velas a esta Armada, e em quanto ao exer
cito só diz , que no Cons-.-lbo se determinara ser de vinte mil homens.
Nesta diversidade de opiniões cada hum seguirá a que lhe parecer mais
authorizada ; em quanto a mim, creio que o Exercito era de vinte e
cinco mil homens; e a Armada, pelo menos, de a$o navios.
1.61
Alcácer com os navios mais pequenos, que venciáo me
lhor a corrente.
Sem perda de tempo se preparou tudo para come
çar o desembarque ; mas como os dois navios , em que
btao os Infantes, haviao fundeado a duas legoas dedis-
tancia , com outras quarenta embarcações, os mandou
EilUi chamar ; e quando chegarão o acharão á testa de
huma linha de escaleres, e -lanchas carregadas de tro
pas. Apenas EIRei vio o Infante D. Henrique, póz a
sua flotilha em movimento, e á voga arrancada toma
rão terra ao mesmo tempo todas as embarcações. Esta-
vão formados na praia quinhentos Mouros de cavallo, e
muitos mais de pé, que querendo-se oppór ao desembar
que, forão rechaçados, e carregados com tanto vigor r
que rotos, e desbaratados , huns fugirão para Alcácer,
outros para as montanhas, deixando bastantes mortos
no campo, Dos Portuguezes ficarão muitos feridos, e
mortos o Commendador Ruy Barreto, e Ruy Gonçal
ves de Marchena ; e no alcance dos inimigos se adian
tou tanto João Fernandes da Arca, Fidalgo valoroso,
e celebre Cortezão daquelle tempo, que chegou ao pé.
das muralhas, e ahi o matarão de huma pedrada, com
geral sentimento de toda a Corte.
Naquella noite desembarcou a Artilheria, e todos
06 petrechos, e instrumentos da expugnação ; e no dia
seguinte assaltarão os Portuguezes as trincheiras avança
das, que os Mouros tinhão levantado para cobrir, e de
fender as proximidades da Praça ; e apezar de grande
resistência , as entrarão, forçando-os a recolher-se den
tro das muralhas. O Infante D. Henrique tentou que
brar as portas, o que lhe não foi po?sivel, pela sua for
taleza , e pela quantidade de tiros de arremesso, e ma
térias incendiadas que os defensores lançavão sobre as
tropas , o que as obrigou a afastar-se do pé das mura
lhas, sendo já posto. o Sol, em quanto não chegayâc»;
•21
r<ftj
algumas mamas , e outros engenhos com que renovarem
o assalto.
EIRei, que corria a cava lio com o Infante D: Fer
nando por roda» as partes onde se pelejava, picado da
resistência dos Mouros , foi ao Quartel do Infante D.
Henrique, para ordenar que proseguisse, e fosse geral-
o assalto, a tempo que este Príncipe já começava a es
calada, a qual durou até á meia noite, defendendo-se o»
Mouros com valor indómito. Então o Infante, não que
rendo sacrificar os seus soldados, mandou retirar as tro
pas; e havendo entretanto construído huma bateria em
sitio vantajoso, em que se collocou hum grosso canhão;
» poucos tiros cahio hum lanço de muralha , de que »
desanimados os Mouros, capitularão no dia 18.
Concedeo-lhes EIRei , por generosidade , sahirem
lodos livremente com as suas familias , e efeitos, dei
xando os Christãos cativos que tivessem ; cuja Capitu
lação se cumprio á risca* Despejada a Villa, consagrou-
90 logo a Mesquita, e nella deoElRei graças aoOmni-
potente pela victoria. Dilatou-se elle em Alcaçar cinco
aias , e deixando por seu Governador a D. Duarte de>
Meneses, com a gente, Artilheria, e munições de guer
ra necessárias , e víveres para três mezes, entrou no di*
33 em Ceuta, cuja grandeza comparada com a peque
nez de Alcaçar, lhe dto motivos de sentimento, eo ac-
cendeo em desejos de emprehender maiores conquistas.
O Rei de Féí, sabendo do cerco de Alcaçar, par
ti© a soccorre-la, e sabendo no caminho estar toma
da, recolheo-se a Tanger , a fim de reunir o seu Exer
cito para a sitiar, de que avisado em Ceuta EIRei por
©. Dnarte de Menezes, chamou as pessoas do seu Con
selho , em que se resolveo , que devia voliar a Portu
gal , mas que por não dar a entender que fugia , envias
se- hum» Carta ao Rei de Fés , desafiando-o para huma.
batalha campal . visto achar-sc com forças sutfítientes*
163
/"'
IT9
(i") O mesmo Barros no lugar citado. Este Rio está situado na'
Costa Occidental da Africa na latitude N. $° l j', e longitude 15o 1 $',
obra de trinta legoas áquem do Cabo de Três Pontas
£a) Não achei a época em que estes dous Descobtidores partirão pa-
ratastia conrmissão. Vede Barros no lugar acima citado. — Galvão
■
mada na Bahia he de j° 54', e a longitude de 26o 50'. Outros as»x
signáo-lhe differente posição. Em tempos antigos tiveráo os Poitugue-
zes alli hum Forte.
(1) A Ilha de S. Thomé está Leste Oeste com o Rio de Gabão,
pouco mais ou menos. O Porto he da banda de Leste , e tem pouco
fundo; mis surge-se fora deite em cinco, e seis braças, arca, com abri.
£ o dos ventos , menos da banda de Leste , que he perigoso. No Forte a
/atitude N. he de 27', e a longitude de 25o 20' 40'. A Ilha do Prín
cipe está na latitude N. de i° 22', e longitude de 25o 57' 40". Terri
bum bom Porto da banda de E. N. E. , com fundo de cinco e meia ate
seis braças e meia na entrada, todo limpo. Antes de chegar ao Porto
tem duas Enseadas com bom íunrto , e capazes de muitos navios- e
m«is outra da parte de Oeste com qum?e braças fie fundo limpo e boa
a geada. Em outro tempo tirava-se grande interesse destas duas Ilhas >
como direi adiante.
(2,") Esta Ilha lie mui fértil , e alta. Tem o ancoradouro da banda
do Norte, com fundo de arca branca, e de seis braças para cima. La
titude S. i° 25', e longitude 2 j° 45'.
(i) Latitude do Gabo 2"? 7'S,, e longitude 2%* 45'.
IP4
PARTE PRIMEIRA.
SEGUNDA MEMORIA,
COMPItEHENDENDO DKSDB O ANNO UR 148 L
ate'* AO ANNO DE 1521.
(1) Não encontrei este nome em Carta alguma; e ainda que Barrai
dií, que o Padrão Santo Agostinho foi assentado em I j° de latitude S. ,
quem sabe se haverá aqui algum erro de impressão? He certo, que
ainda ha poucos annos existia em Cabo Negro (situado em 16" $ ' de
latitude S. ) hurna columna de jaspe com as Armas de Portugal; e por
isso algumas Cartas lhe chamão Cabo cio Padrão.
O) Talvez foi collocado este Padrão na Angra de Santo Ambrósio ,
em 21" 6' de latitude Sul.
190
narcm os Negros a servir-se dos bois na uilnrrâ das
terras. Com este Embaixador enviou a Portugal mui
tos mancebos de boas famílias, rogando a EIRet os
mandasse baptizar, e ensinar tudo quanto fosse neces
sário para poderem doutrinar os Povos quando voltas
sem a Congo.
Com isto se recolheo Diogo Cam a Portugal, on
de chegou no anno de 1489, e foi recebido d'ElRei
com as honras, e mercês, que costumava liberalizar aos
Vassallos beneméritos.
<■ .1486 — Neste anno (1) descobrio João Affbnso àé
Aveiro o Reino de Benim , situado alem da Mina, coját
Capital estava sobre hum dos braços , em que se divide
o Rio do mesmo nome, em que elle mrgio, e parece
que antes havia entrado no Rio dos Escravos (2). Des
fie Paiz trouxe João Affonso a primeira pimenta dei
Guiné , que appareceo em Portugal. O Rei enviou com
elle hum Embaixador a D. João II. , que o tratou com
grande magnificência , e o tornou a mandar a Benim
com ricos presentes, e cartas para aquelle Príncipe, con-
vidando-o a abraçar a Fé Catholica ; e com elle forão
Sacerdotes , e também Feitores para crearem liuma Fei*
toria, que abrangesse o Commercio da pimenta, e o d09
escravos, de que havia quantidade.
Mas o Christianismo não prosperou naquelle Rei
no, porque o seu Soberano só buscava aproveitar-se da
amizade dos Portuguezes, para se fazer temido dos seus*
27 ii
212
(O Ruy de Pina nSo faz menção deste Conselho, que refere Gar
cia de Rezende, que me parece mui verosímil que houvesse».
215
(1) Góes (no bigar citado) diz , que isto foi no mez de Janeiro
fie 1497. _
(a) As bandeiras da Esquadra de Vasco da Gama er5t> como esta;
e quando, passados annoj , houverão na índia Esquadras pertencentes
tíquelle Estado, as suas bandeiras tinhão no meio as Armas Keacs, e por
baixo delias a Cruz da Ordem de Cliristo ; costume , que durou até aos
princípios do século passado. Couto, Memorias Militares , tomo 1.
pag. 25 1. Também parece, que as Náos da índia trazião pintadas nas
gavias humas grandes Cruzes vermelhas, pois, segundo Castanheda, por
este signal conheceo Affonso de Albuquerque a Esquadra de Diogo Men
des de VasconceJlos , que bia de Portugal ; mas ignoro quando se intro-
duzío este costume Castanheda, Liv, j. Cap. 54.
Devo advertir aqui, que o Capitão Mor, ou Commandante eniChe-
fe de huma Esquadra, ou Divisão de Ndos da Carreira da índia, trazia
ba-.ideira no tope grande , como General; e ainda que se encontrasse
com outra Esquadra qualquer , não recebia ordens do seu Chefe. Esta
232
freem inerte ia durava ató ao seu regresso a Portugal, ainda que te redu
zisse a Esquadra ao seu único navio.
233
todos os Comraandantes na Ermida de Nossa Senho
ra, que o Infante D. Henrique fundara naquelle sitio,
em que estavão alguns Freires do Convento de Thomar
para administrarem os Sacramentos aos navegantes. No
dia seguinte 8 dejulho concorreo alli muita gente, huns
por devoção, outros para se despedirem dos que par-
tião j e Vasco da Gama embarcou-se acompanhado de
huma devota Procissão, que os Freires ordenarão, se
guida de toda a gente da Cidade, entoando a Ladainha,
até chegarem á praia , onde estavão os escaleres da Es
quadra; e ajoelhados todos, o Vigjrio da Casa os ab-
solveo na forma das Bulias, que o Infante D. Henrique
obtivera para os que fallecessem nestes descobrimentos ,
e conquistas ; acto que se concluio com lagrimas, como
era natural acontecer em tal occasião. .
Constava a Esquadra de três navios de Guerra (i),
O} Esta Ilha he bem conhecida, está na latitude Sul 15o }', e lon
gitude 58o a/.
246
Pouco depois voltou com algum refresca da terra ,
9 hum recado do Xeque, que moveo Vasco da Gama,
com parecer dos Comraandantes , a entrar no Porto de
Moçambique, o que fez, indo Nicoláo Coelho diante
sondando, cujo navio tocou da popa em huma restinga
da Ilha, onde deitou o leme fora; porém dando logo
em maior fundo, foi surgir junto da Povoação; e apôs
ell.e toda a Esquadra. Esta Povoação era de casas pa
lhaças, excepto a Mesquita, e as do Xeque. Os habi
tantes erão Mouros estrangeiros, que alli se estabelece
rão , e commerciavão com Quilôa , e Sofalla; c os na-
turaes do Paiz erão Negros, que moravão na terra fir
me.
Nas Memorias relativas á Ásia , e Africa Orientat
exporei o resto desta interessante Viagem; e agora por
antecipação direi a conclusão que teve.
Vasco da Gama na sua torna-viagem para Portu
gal perdeo o navio S. Rafael no mesmo baixo, entre
Quilôa e Mombaça , em que tocara á ida ; e por então
lhe ficou o nome do Baixo de S. Rafael , salvando-se
toda a gente, que se repartio pelos outros dous navios.
A 20 de Março de 1499 dobrou o Cabo de Boa Espe
rança. Próximo ás Ilhas de Cabo Verde se apartou del-
le com tempo Nicoláo Coelho, que a 10 de Julho che
gou á barra de Lisboa ; e sabendo que o seu General
ainda não era chegado , quiz tornar a busca-lo , o que
El Rei não consentio.
Vasco da Gama ancorou na Ilha de S. Tiago, e
entregando o navio a João de Sá, seu Escrivão, arretou
huma Caravela, e foi á Ilha Terceira, na qual falleceo
seu irmão Paulo da Gama , que vinha mui doente, e fi
cou sepultado no Mosteiro de S. Francisco. Desta Ilha
partio Vasco da Gama para Lisboa , onde chegou a 29
de Agosto, sendo recebido d' El Rei, e de toda a Corte
com as maiores honras, festas publicas, e demonstrações
de alegria. As mercês que então, e depois lhe fez EIRei,
forao dar-Ihe o Dom para.elle, e seus irmãos, o Offi-
cio de Almirante dos Mares da índia, e trezentos mil
réis de renda, o Titulo de Conde da Vidigueira, e a
faculdade de empregar cada anno na índia duzentos
cruzados era mercadorias, livres de direitos , o que no
rempo de João de Barros produzia em Lisboa sete mil
cruzados , tudo isto de juro , e herdade. E ordenou
mais EIRei , que ao escudo das Armas da sua família
acrescentasse bania peça das Armas Reaes do Rehio
(Barros, Cap. ir.).
ijoo — Com a volta de Vasco da Gama a Portir-
gal mudarão os discursos, que os homens até alli fazião
•obre as vantagens da descoberta, e conquista do Orien
te . vendo em Lisboa especiaria, aljôfar, e pedraria,
próducçoes daquelles ricos Paizes, que antes olhavão
eom admiração quando os Venezianos as trazião a este
Reino. E como pela viagem de D. Vasco da Gama ,.
Sc conheceo-, que o tempo próprio para sahir de Lisboa-
era em Março, e o espaço de tempo que restava da
época da chegada de D. Vasco da Gama até Março
do anno seguinte de 1500, era mui curto, fez EIRei
Conselho sobre o modo que teria no proseguimento da-
quella conquista, attentas as informações que dava D.
Vasco da Gama , e assentou-se em se mandar huma
grande força naval , que desse áquelles Povos huma alta
ídéa de Portugal ; e igualmente foi fogo determinado o
numero de Náos , e de soldados , e o Chefe da expedi
ção, para que foi escolhido Pedro Alvares Cabral.
A 8 de Março de i^oo foi EIRei com toda a Cor
te ouvir Missa á Ermida de Nossa Senhora de Bêlera ,
defronte da qual ancorou naquelle dia a Esquadra. Es
teve arvorada no Altar, em quanto se disse a Missa,
huma bandeira da Ordem de Christo, que o Bispo de
Ceuta D. Diogo Ortiz (que pregou nesta occasiao) beit-
248
(1) A narração desta famosa Viagem foi feita á vista dos seguintes
Escritores: Barros , Década i. Liv. 5. Capitules I. e a. — Castanlieda,
Liv. 1. Cap. jo e seguintes. — Góes, Patê 1. Capítulos 54, $;, e
$7. — Collectão de Noticias para a Historia das Nações Ultramarinas,
etc. Tomo 2. N. ? , qtie contem a Navegafão do Capitão Pedro Alua
res Cabral , escrita por luim Piloto Portuguez, , qwt hia na lua Armada,
Capítulos i., 2.,e ). — A mesma Collecção, Tomo j. N. I , onde
se adia a Noticia do Braiit , Cap. 54. — Corografia Frazilica do Padre
Manoel Alvares Cabral, impressa no Rio de Janeiro em 1817 , na Ir>
troducção da qual (pag. u c seguintes) vem hunia Carta escrita a
EIRei D. Manoel, datada de Porto Seguro no i.° de Maio de i;:o,
por Pedro Vai Caminha, que hia embarcado na Náo de Pedro Alva ej
Cabral. — Epilogo Manuscrito dos Vice-Reis, e Governadores da ín
dia, etc. , por Pedro Barreto de Rezende , Secretario do Vice-Rei Conde
de Linhares. — O Padre Fr- Manoel Homem na sua Memoria da De-
scripção das Armas Castelhanas, etc, Cap. ao. — Além de cutros vá
rios Escritores , que foi necessário consultar, pela diversidade de opi
niões , que «e encontra em alguns factos , e datas.
(2) Os nossos Escritores são unanimes em comporem esta Esquadra
de treze navios de Ciuerra , sem fazerem menção do Transporte de
mantimentos; porem Pedro Vaz Caminha, e o Piloto Portugucz d»
.mesma Esquadra , cujas Relações vão citadas , dizem, que se com.pur.ha
x
249
(1) O original tem o ramo de E.S. E. , mas lie hum erro palpável
e por hso substituí o rumo do S. O. , que lie a direcção da Costa.
2C4
seu Roteiro (pag. 576), que antigamente huo todos os annos dos Por
tos de Aveiro, Vianna, e outros, mais de cem Caravelas áquella pesca,
e ainda no seu tempo (elle nasceo em 1650, e falleceo em 1719) se
liáo nas Cartas Francezís , e Inglezas os nomes Prrtuguezes de quasi to
dos os Cabos, Portos, e Eahias da Tetra Nova , de que hoje restão al
guns, posto que alterados; como v. gr. as Ealiias da Trepessa , e da
Grão Presença , convertidas em Eahias de Trepasses , e de Pleisande.
(1) Karios, Década I. Liv. 7. Capítulos 2. , e 4. — Castanheda,
Liv. 1. Capl 5$., e 64. — Góes, Parte 1. Capítulos 77., e 8c.
Ç2) Author da única Historia conhecida desta Viagem, a quem se«
guirei , por ser testemunha ceular dos factos que narra. Vede a Collec-
c5o de Noticias para a Histeria das Nações Ultramarinas , Tomo 2.
N.° 6.
35
274
Levava clle por commlssao examinar, e reconhecer o
Estreiro da Arábia (i), e cruzar em quanto a estação
lho permitcisse, sobre o Cabo Guardafui , para interce
ptar o Commercio dos Mouros.
A 6 de Abril partio de Lisboa Affbnso de Albu
querque, dirigindo-se a Cabo Verde, á vista do qual
tez conselho com os Pilotos sobre a melhor derrota
que deveria seguir para o Cabo de Boa Esperança, evi
tando a navegação , que commummente se fazia ao lon
go da Costa de Guiné, perigosa pelos seus muitos bal
aras , correntes, e calmarias ; c determinou-se , que a Es
quadra se engolfasse de setecentas a oitocentas legoas.
ííavegando pois nesta volta vinte e oito dias, avistou-se
Jiuma tarde a Ilha da Ascensão, debaixo da qual estiverão
toda a noite em risco de se perderem com temporal de
travessia. Apartados da Ilha , seguirão o bordo do S.O.
tanto tempo, que se acharão abarbados com a Costa do
Brasil, onde ancorarão (não se sabe em que Porto), e
tiverão coramunicação com os naturaes, que erão an-
thropofagos. Do Brasil continuarão a sua derrota para o
Cabo de Boa Esperança , e soffrêrão huma grande tor
menta , com que correrão a arvore seca , e nella se es
palharão os navios, e foi a pique o chamado Catharina
Dias.
O navio, em que hia embarcado João de Empoli,
(O O Estreito da Arábia he formado de huma parte pela Africa
Oriental, e da outra pela Arábia. Passa-se daqui ao Mar Vermelho, que
não he realmente senão a continuação do mesmo Estreito, o qual fai
em certo ponto huma garganta mais estreita de communicarção , a que
se deo o nome de Estreito de liabel-Mandel. Por meio deste extenso
Canal se tinhão os Árabes senhoreado do Commercio da índia, antes da
Viagem de D. Vasco da Gama, e continuarão a commerciar por muitos
«unos, ainda que á custa de grandes perdas e riscos. Na segunda parte
«testas Memorias explicarei mais diffusamente e»ta matéria, anajysando o-
piano, que o Grande Albuquerque tinha formado para a conquista total
da Índia.
276
vio a 6 de Julho o Cabo de Boa Esperança , que do
brou , e seguindo a Costa , foi ancorar na Aguada do
S. Braz, onde fez agua, e se proveo de vaccas a troco
de huma campainha por cabeça, por ser este o artigo
que os Negros estimavão mais ; andavao eiles vestidos
de pelles, erão mui brutos, e ninguém entendeo a sua
linguagem. Sahindo desta Aguada , continuou a correr a
Cesta, e tendo soffrido algumas tormentas, chegou a
Sofala, e d'aqui seguio para Melinde, onde devia esperar
por Affonso de Albuquerque, segundo as instrucções
que levava, mas não pôde ferrar o Porto, ainda que
nisso trabalhou muito, a fim de tomar hum Piloto, que
o levasse á índia; porem as correntes o arrastáiao até
Patê. Aqui foi obrigado a dar fundo cm quatro braças
entre parecis; e vendo a estação avançada, deliberou-se
o Commandanre a atravessar para a índia; e tendo na
vegado quinze dias, encontrou Affonso de Albuquerque
com os outros dous navios da sua Esquadra, com gran
de alegria de todos; e navegando dexonserva, foiao
avistar Monte Deli, e chegarão a Cananor a li de Se
tembro.
Francisco de Albuquerque sahio no dia 14, e fez
mais breve jornada , porque ancorou em Anchediva no
niez de Agosto; mas perdco-se-lhe no caminho, sem sa-
ber-se como, o navio de Pedro Vaz da Veiga.
Apôz estas duas Esquadras partio António de Sal
danha, e o seu Piloto dirigio tão mal a derrota , que o
levou á Ilha de S. Thomé, havendo-se já separado da
sua conserva o navio de Diogo Fernandes Pereira.
Desta Ilha o conduzio a huma Bahia ao Norte do
Cabo de Boa Esperança , asscgurando-lbe que já o ti-?
»ha pasmado. Aqui ancorou António de Saldanha , que
se achava só com o seu navio, por se ter igualmente
apartado delle Ruy Lourenço: e na incerteza do Jugar
em que estava, subio a huma mon^ulia mui alta, acha- -
36 ii
276
dantes. Góes escreve , que er3o cfeíeseis Náos , e seis Caravelas , e não?
otaittc nenhum Comimiidaiite ; por isso o segui.
286
sabindo este da Sé com os Commandantes, e Fidalgos
àn sua Esquadra , toda a Nobreza da Corte o acompa
nhou até ao Cae* da Ribeira, onde embarcou.
A z$ de Março de 15-05: se fez á vela a Esquadra
com quinze Náos e seis Caravelas , indo EIRei ao mar
para a ver sahir , e navegando com bom tempo, avistou
a 30 a Ilha da Madeira, e depois a da Palma-, e se
guindo a sua derrota para Cabo Verde, a 6 de Abril
ancorou no Porto de Ale, em que se achava fazendo
escravatura huma Caravela Porrugueza , e sendo por es
ta via sabedor o Regulo do Paiz da chegada do Gover
nador, mudou-se com a sua família -para huma Aldeã
fronteira ao ancoradouro, á qual D. Francisco de Al
meida o mandou visitar com hum presente , e elle The
correspondeo com outro de refrescos da terra. Aqui
completarão a sua aguada os navios', huns nesta Bahia ,
outros na de Besenegue, que fica pouco distante, em
que consumirão nove dias.
A 15" de Abril continuou o Governador a sua via
gem, soffrendo antes da passagem da Linha alguns dias
de calmaria: e como havião navios ronceiros, que fazião
atrazar os outros, convocou os Commandantes, e Pilo
tos, e com o seu parecer organizou duas Esquadras (1):
huma , que tomou para si, de treze Náos, e a Caravela
de Gonçalo de Paiva , para navegar de noite com farol
na sua proa ; e a outra composta das Náos de Sebastião
de Sousa, e Lopo Sanches, e das cinco Caravelas restan
tes, entregue a Manoel Paçanha , que hia embarcado
de passageiro na Náo Conceição com seu genro Sebas
tião de Sousa. Os motivos, que teve o Governador pa
ra lhe fazer semelhante honra , forao ter EIRei nomea-
(1) Barros faz esta divisão de Esquadras no Porto de Ale; mas Cas
tanheda diz , que foi na occasiáo da passagem da Linha , o çue me pa»
wceo mais provável , pelo receio que devião causar as calmarias de ser
prolongada a viagem.
286
do Manoel Paçanha por Governador da Fortaleza de
Ancliediva, e suspeita que também hia nomeado em se
gredo seu successor no Governo da índia.
Passada a Linha no dia 5 de Maio, achando-se a
outra Esquadra fora da vista do Governador, e lia ven
do calma podre, e mar muito banzeiro, a Náo Bella,
Commandante Pedro Ferreira, que era velha, abrio pe
la segunda vez hutna agua tão grossa , que foi a pique:
salvou-se unicamente a gente, e hum caixote de prata
da Capella do Governador, nos escaleres da Esquadra,
sendo Pedro Ferreira o ultimo individuo , que sahio da
Náo, como devia fazer.
Os Pilotos pôr segurarem- a passagem do Cabo,
empenharão-se tanto no bordo do Sul , que chegarão a
40o de latitude, onde o frio era intolerável, e acharão
ventos mui fortes., e trovoadas. A 26 de Junho dobra
rão finalmente o Cabo , julgando-se distantes delle cen
to e setenta e cinco legoas.
A 2 de Julho sobreveio huma trovoada com tanto
vento, que fez em pedaços as velas das Náos do Gover
nador, e de Diogo Corrêa, e levou desta três homens
ao mar, de que ainda poderão colher hum, apezar do
grosso mar, por ser grande nadador. Abonançando o
tempo, e dissipada a cerração, achou-se de menos a Náo
de João Senão , pela qual esperou o Governador , e não
apparecendo , seguio seu caminho. A 19 de Julho via
as Ilhas Primeiras, e expedindo a Caravela de Gonçalo
de Paiva para Moçambique, a saber as novidades da
índia , foi surgir em Quiloa no dia 22. O resto para a.
segunda parte das Memorias.
i^OS" — Desejando ElRei que fosse quanto ante»
construída a Fortaleza deSofala, de que já tinha encar
regado Pedro de Anaia , que não pôde sahir com D.
Francisco de Almeida , pelo desastre acontecido á sua
Náo, fez armar a toda a pressa três boas Náos, e ou-
*-
287
tros tantos navios menores , de qne lhe deo o cominan
do em Chefe para ir cumprir aquella commissão, deven
do ficar por Governador da Fortaleza, que fizesse, com
Os três navios para sua guarda ; e remetter para a índia
as três Náos, a fim de tornarem a Portugal com carga
de especiaria. Os Commandantes que hi;1o debaixo das
suas ordens erão Pedro Barreto de Magalhães na Náo
Santo Espirito ; João Leite na Náo Santo António ;
Francisco de Anaia, filho de Pedro de Anaia , no navio
S. João-, Manoel Fernandes era outro, e João de Quei
rós no navio S. Paulo.
A 18 de Maio de ijo? sahio a Esquadra de Lis
boa , e seguindo sua viagem, sendo pela altura de Ser
ra Leoa , querendo João Leite fisgar do gorupés hum
dourado, cahio ao mar, e afogou-se. Os Pilotos, que
carece se havião combinado com os da Esquadra de D.
Francisco de Almeida, forão buscar 45° de latitude,
onde o frio era tão intenso, que se gelava a agua , e o
vinho, e a gente não podia trabalhar por falta de bom
vestuário próprio de similhante temperatura.
Virando depois no bordo do N. E. , tiverão ventos
furiosos, e tempos escuros, cora que os navios se espa
lharão, ficando Pedro de Anaia com o de Francisco de
Anaia, e Manoel Fernandes-, e a 4 de Setembro do
brou o Cabo das Correntes (1), e foi ancorar na barra
de Sofala.
Aqui veio ter a Náo Santo António, e o navio São
r*au!o, cujo Cornmandánte, chegando ao Rio da Alagoa
com necessidade de agua , desembarcou acompanhado
de vinte homens, tendo o desacordo de levar comsigo
o Piloto, e o Mestre; e mettendo-sc meia legoa pela ter-
(1) Barros , Década 2. Liv. 10. Cop. 2., e Década {. Liv. t. Cap. 1.
— Góes, Parte j. Capítulos 66 e 67. ~ Castanbeda, Liv. j. Cep. I 55,
couta só quatro Nio» nesia Es^uaJu.
321
quantidade de âmbar ; e como o vento era contrario
para voltar a Matatana, foi-se para Moçambique.
15 if. — AfFonso de Albuquerque , depois de con
quistar Goa, Ormuz, e Malaca , três das principaes
chaves do Commercio da índia, pedio a EIRei D. Ma
noel o Titulo de Duque de Goa , e licença para acabar
nclla a sua vida, mais gasta de trabalhos, que de annos;
mas os seus inimigos tiverão a arte de insinuar no ani
mo sincero o" EIRei algumas suspeitas contra a sua fide
lidade, exagerando a afreiçâo que lhe tinháo os Porru-
goezes, que serviáo na Ásia. e os Reis, c Povos daquel-
Jes ricos Paizcs, que todos folgarião de o ter por seu
Governador, ou seu alliado; d'onde concluião, que per-
tendia por aquelle meio tornar-se independente de Por
tugal.
Estas pérfidas suggestões. , attribuidas naturalmente
pelo Monarcha ao zelo do Real serviço, o fizeráo re
solver a mandar por Governador da índia (1) Lopo
Soares de Alvarenga , que não sendo amigo de AfFonso
de Albuquerque, parecia por isso mesmo mais capaz de
o fazer embarcar para o Reino , a pezar de qualquer
obstáculo que occorresse (2). Levava elle Instracçóes
sobre dous artigos da maior importância: o primeiro
para arrazar a Cidade de Goa, e abandonar a Ilha, se
assim parecesse bem ás principaes pessoas, que servião
na índia (3); c o segundo para não occtipar a Cidade
de Adem (4) quando fosse ao Mar Roxo (5"). Este pro
jecto era talvez o resultado das intrigas dos inimigos de
Mandado.
»» Eu Fernão de Magalhães, Cavalleiro da Ordem
> de S. Tiago, e Capitão General desta Armada, que
» Sua Magestade enviou ao descobrimento da Especía-
> ria, &c. Faço saber a Vós, Duarte Barbosa , CapL
» tão da Não Victoria, e aos Pilotos, Mestres, e Con-
> tra-Mestres d'ella , como eu tenho sentido, que a to-
> dos vos parece coisa grave estar eu determinado de ir
» adiante, por vos parecer que o tempo he pouco para
> fazer esta viagem , em que himos. E por quanto eu
y sou liomem, que nunca engeito o parecer, e conselho
, de ninguém , antes todas minhas coisas são pratica-
> das, e communicadas geralmente com todos, sem que
> pessoa alguma de mim seja affrontada , e por causa
> do que aconteceo no Porto de S.Julião sobre a mor-
» te de Luiz de Mendonça , e Gaspar de Quesada , e
> desterro de João de Carthagena , e Pedro Sanches ,
> Clérigo, vós outros com temor deixais de me dizer,
» e aconselhar tudo aquillo , que vos parece que lie ser-
» viço de Sua Magestade, e bem, e segurança da dita
> Armada, e não mo tendes dito, e aconselhado: errais
y ao serviço do Imperador Rei Nosso Senhor, e is con-
> tra o juramento, e pleito, e homenagem que me ten-
> des feito. Pelo qual vos mando da parte do dito Se-
y nhor, e da minha rogo, e encommendo, que tudo
> aquillo que sentis, que convém á nossa jornada, as-
> sim de ir adiante , como de nos tornar , me deis vos-
> sos pareceres por escrito cada hum per si : declarando
» as causas, e razões porque devemos ir a diante, ou nos
> tornar, não tendo respeito a coisa alguma , porque
353
>j deixeis de dizer a verdade. Com as quaes rasões , e
>» pareceres direi o meu , e determinação para tomar
»» conclusão no que havemos de fazer. Feito no Canal
» de todos os Santos defronte do Rio do llhco , em
» quarta feira 21 de Novembro, em 53°, de 15:20 annos.
» Foi notificado por Martim Mendes, Escrivão da di-
» ra Náo em quinta feira 22 dias de Novembro de
» 15*20 annos. »
Resposta.
(1) Vede Góes, Parte 4., C;ip. 70. - Resende, Hid? dá. Infanta.
D. Brites para Saboiai — Acenheiro, pag. $41/ • '.-■•* . .
366
CO Severim , Discurso 7.
(2) Faria, Ásia Poitugueia, tomo j. no fim.
367
•vios que elle mandou ao Oriente, de que se perderão
vinte» e seis; mas eu só achei duzentos e cincoenta e
oito, e naufragados dezenove á hida ,. e onze na rorna-
viagem. As arribadas forão também raras neste tempo,
c comrouns nos subsequentes , em que tanto ellas , co
rno os naufrágios cre.-cerão fora de proporção com o
que antes acontecia. Em lugar competente apontarei as
causas desta differença.
s
369
., >
TERCEIRA MEMORIA,
ADVERTÊNCIA.
(l) Vede a Chronica d' EIRei D. João III por Francisco Freire, aa
Farte 4. , e também as Noticias de Portugal por Severim de Faria , 00
teu Discurso 2. §. 15.
>
371
D. Joáo III., Parte 1. Cap. 54. — Couto, Década 10. Cap. li. —
Fr. Manoel Homem , Memoria da Disposição das Armas Castelhanas
Cap. )2. — Extracto das Armadas, etc. Folheto escrito (segundo se
diz) pelo Doutor Jorge Coelho, Lisboa j 7 j6.
(O Ff- Manoel Homem, na obra já citada. — Tarros , Década J.
Liv. 7. Cap. 9. — Conto, Decida 10. Cap. 16. — Extracto das Ar
madas já citado. — Faria , Ásia Portugueza. — Pedro Barreto de Re»
zende, no Epilogo manuscrito dos Vice-Reis, etc, escrito em t 6 > , .
— Chronica d'ÈlRei D. Joáo III. Parte 1. Cap. 4.6. — Castanheda,
Liv. 6. Cap. 48. — Não achei o numero de Soldados que esta Esquadra
levou.
"X
875
tfos , Simão Sodré foi a Ormuz; D. António de Almei
da, e Pedro da Fonceca a Chaul; e o resto invernou
em Moçambique, cm cuja entrada se perdeo Aires da
Cunha ,'salvando-se a gente, e a carga da Náo.
IC24. — Este anno partio para a índia o seu Des-
cubridor, cora Titulo de Vice-Rei, o Almirante Con
de da Vidigueira D. Vasco da Gama (1). Constava a
Esquadra de sete Náos grandes da carreira, três Ga
leões, e cinco Caravelas, huraa redonda (hum Patacho) ,
e quatro Latinas , levando de guarnição , e transporte
três mil soldados (2) , de que huma grande parte erão
Fidalgos , ou Cavalleiros , e Moradores da Casa Real ;
além de hum reforço de Artilheiros, e marinheiros para
guarnecer as embarcações daquelle Estado. Embarcou
o Vice-Rei na Náo Santa Catharina, a mesma que con-
duzio a Sabóia a Infanta D. Brites. Commandavão as
Náos, D. Henrique de Menezes, o Roxo, Affonso Me
xia, Pedro Mascarenhas, Lopo Vaz de S. Paio, Fran
cisco de Sá, Francisco de Brito, e António da Silveira
de Menezes. Erao Commandantes dos Galeões, D.
Fernando de Monroy, Fidalgo Hespanhol , no S. Jor
ge; D. Simão de Menezes, e D. Jorge de Menezes; e
das Caravelas, Lopo Lobo, na Biscainha; Pedro Ve
lho, Christováo Rosado, Ruy Gonsalves, e Mosem
(t) No atino de- 1529 part/ráo de Diepe três navios Francezes para»
aludia: hum naufragou na Ilha de S. Lourenço , a cuja equipagem,
pertencia, este homem; o.itro, de que era Capitão, e Piloto lium Por-
tuguez de apprllido Rozadu , perdeo-se na Ilha de Samatra ; e o tercei
ro foi ter a Dio com quarenta homens. Era seu Capitão, e Piloto outra
Porfiiguez chamado Estevão Dias Brigas, que por. crimes fugira- de Por
tugal. O Governador Mouro de Dio prendes por artificio todos os Fran
cezes, e os remetteo- á Corte, do seu Soberano , onde quasi todos se fi-
zerão Mali imefanos , e aob.irão mal.
Neste annr» de 1 5 fo partio de Inglaterra luim navio chamado Pau
lo de Plymouth, de 250 toneladas, de cue era Capitão Guilherme-
Jiawkirn; , armado á sua própria custa, e fez a primeira viajem da sua
Nação ao Brasil , para omnceteiar com os índio*.. No anno seguinte fez.
outra; e dahi pnr diante continuarão os Inglezes a frequentar as Con
quistas, e Colónias de Portugal. (Historia do Brasil de Roberto Southey,,
Tomo i.. Cap.. 12.) ' v
S98
dos em caixas, que o mar lançou na Ilha', se conheceo
o successo da sua viagem.
Em Maio do mesmo armo de i^o partio de Lis
boa Vicente Pegado, creado d'ElRei, nomeado Gover
nador de Sofala e Moçambique, com hum navio, em
que elle hia, e huma Caravela commandada por Bal-
tliasar Gonçalves ; cujas embarcações erão destinadas a
aruiar no trato de Melinde para Sofala. A Caravela ar
ribou a Lisboa.
iyjo. — EIRei D. João III. deve considerar-se co
mo o Povoador do Brasil , que até á época em que su-
bio ao Tlirono, estava só em partes reconhecido, e em
nenhuma povoado, porque as guerras da índia, e as al
tas esperanças que dava o seu Commercio, attrahiao ro
da a attençao dos Portuguezes para o Oriente. As espe
culações mercantis fonnavao então o espirito dominan
te do século, e cada século tem seu espirito particular,
que o distingue dos outros. EIRci pensou sabiamente,
que hum Paiz tao fértil , tão extenso , cheio de bons
Portos, como o Brasil, cuja navegação era muito me
nos longa , e difficil que a da índia , merecia toda a sua
consideração, e o emprego das providencias mais con
venientes para estabelecer nelle Colónias , que pouco e
pouco domesticassem os seus selvagens habitantes , e
praticando a agricultura, se utilizassem dos produetos
de huma terra virgem , e das preciosas madeiras de io
da a espécie, que ofFerecião os seus antiquíssimos bos
ques, em muitas partes á beira d'agua.
Como era impossível , que o Erário podesse fazer
foce a hum projecto gigantesco, que exigia enormes des-
pezas, forraou-se pelos annos de 15-31 , pouco roais ou
menos, hum plano geral de Colonisação, que abrangia
desde Pernambuco até ao Rio da Prata, demarcando, e
dividindo toda aquella immensa Costa em Capitanias
de cincoenta legoas de frente cada huma ( houve
399
nisto algumas alterações), com hum fundo illimitado^
por nao ser ainda conhecido o Continente. Estas Capi-
ranias deo EIRei em diferentes épocas, desde 15*32 em
diante, debaixo de certas condições, e de juro, e herda
de, ás pessoas que tinhão meios para estabelecerem ali
Colonins á sua própria custa (1).
Para dar principio a este systema mandou EIRei
neste anno de 15*30 a Martim Aftbnso de Sousa, do seu
Conselho, de cuja capacidade fazia grande estimação,
por Commandante de huma Esquadra, cem a qual pa
rece que elle encorporou alguns navios afretados á sua
custa , em que se embarcarão algumas pessoas offereci-
das para povoarem o primeiro estabelecimento Colonial,
que se hia a-ear no Brasil; attendendo a que Martim
Affbnso de Sousa levava Instrucções para examinar a
Costa, que corre do Cabo Frio ao Rio da Prata, e eri
gir huma Colónia onde melhor lhe parecesse, com au-
thoridade de conceder terras de Sesmaria aos que as qui-
zessem cultivar (2).
A Esquadra sahio de Lisboa depois de 20 de No
vembro, e na sua viagem encontrou alguns navios de
Corsários Francezes, de que tomou hum. No primei
ro de Janeiro de 1531 chegou á boca de huma vasta
Bahia, a que deo o nome de Rio de Janeiro; e Martim
Affonso de Sousa , não ousando aventurar a Esquadra
em hum Porto desconhecido , surgio fora , e desembar
cando em huma praia adjacente a hum notável penhas
co (o Pão de Assucar), explorou o P.iiz, e fez por mar
outro reconhecimento cora lanchas armadas, em que
(1) Chronica d'ElRei D. João III. Parte 4. Capítulos )4, 39, 41,
e 4+ ' .
5tí ii
o
444
posta, se lhe accrescentou hum Forte de madeira, e
terra construído sobre hum monte que a dominara,
obra que EIRei encarregou a D. Affonso de Noronha,
Governador de Ceuta, com grandes poderes, a quem
enviou hum reforço de quatro mil soldados, parte Por-
tuguezes, e parte Hespanhoes, alistados na Andaluzia,
com mil e trezentos Artífices, e trabalhadores, e mui
tos navios de guerra, e de transporte, que sari ira o de
Lisboa em Abril de I5"49. E apôs elle partio D. Pedro
Mascarenhas com três navios de guerra , sendo Com-
mandantes de dois Thomé de Sousa , e Manoel Jaques;
e com elle forão embarcados seu sobrinho D. João
Mascarenhas (que com tanta gloria defendeo a Praça
de Dio), e os Engenheiros Manoel da Arruda, e Dio
go Telles. Levava D. Pedro Mascarenhas ordem para
examinar de novo o estado das Praças de Africa, sem
exceptuar Alcácer, porque EIRei não queria resolver-se
a final , sem pleno conhecimento de causa , sendo mui
natural, que houvesse divergência de opiniões sobre a
escolha das Fortalezas, que seria conveniente conser
var.
Por ultimo decidio-se abandonar Arzilla, pela ruin
dade do seu Porto, e em consequência mandou EIRei
a Luís do Loureiro, Orficial de grande merecimento,
com huma Náo, e vinte e cinco navios de guerra, e de
transporte, com ordem de reunir ao seu commando a
Esquadra , que cruzava no Estreito de Gibraltar com-
mandada por Luis Coutinho , constando de seis Cara
velas bem armadas, cujos Commandantes erão António
Pessoa, Rui Gonsalves; Francisco Lopes, Jorge Gomes,
e Francisco de Madureira ; e que afretando mais em
barcações até completar o numero de sessenta , passasse
a Arzilla, e recolhesse todos os Militares, e morado
res (que deviao ir estabelecer-se em Tanger), munições,
artilhcria, e mantimentos ; e arruinasse com minas o
445
Castello , e muralhas da Villa , e derribasse as Igrejas.
Esra resolução communicou EIRei ao Imperador Car-
Jos V. , como costumava praticar era todos os negócios
de Africa. ■ • •
No mez de Junho partio Luis do Loureiro a execu
tar esta delicada commissao; mas chegando logo noti
cia a EIRei de que Dragut intentava passar o Estreito
com huma numerosa Armada de Galés, mandou apres
sadas Ordens a D. Pedro Mascarenhas , para que reunin
do em huma só Esquadra todos os navios de guerra do
seu particular commando aos de Luis do Loureiro (sus-
pendendo-se entre tanto a evacuação de Arzilla), se di
rigisse ao Porto de Santa Maria , e ajuntando-se com,
D. Bernardino de Mendonça, General das Galés do Im
perador, buscassem ambos o Almirante Othomano, e
lhe dessem batalha. Ao mesmo tempo enviou-lhe huma
Náo grande, e bem guarnecida, advertindo-o, que se
carecesse de maiores forças, o avisasse, porque em bre
ve o reforçaria com outras embarcações. Achando-se
porém falsa a noticia da Armada Turca, proseguio-se
o negocio de Arzilla.
15-40, — A 11 de Maio (1) deste anno (outros di
zem que em 15-44) sahio de S. Lucar o Capitão Fran
cisco de Orelhassa com três navios, e quinhentos ho
mens, para emprehender a conquista do Kio das Ama
zonas. Tocou nas Ilhas Canárias, e nas de Cabo Ver
de, onde os seus soldados contrahírao moléstias, que
diminuirão o seu numero, e chegado ao Amazonas, e
intentando subir por elle, perdeo gente, e navios; e por
fim acabou de trabalhos, e desgostos , e os que escapá-
iao se recolherão á Margarita.
Depois deste accontecimento , vagando pela Costa
de Pernambuco Luiz de Mello da Silva, Fidalgo de
(O Chtonica de D. João HL
57
450
Caravelas commandadas por Simão Rodrignrs , e R117
Fernandes, cora insrrucçoes para se reunirem na Ilha
Terceira a outras três Caravelas , que estava armando
Pedro Annes de Castro, e a hum Galeão que a!i se re
parava ; e o commando desta Esquadra deo EIRei a
João da Silva do Couto, filho daquelle Pedro Annes,
tendo de guarnição nos seis navios mais de quinhentos
soldados. O seu destino era cruzar sobre os Açores até
chegarem as Náos de rorna-viagem da índia , para as
escoltar a Lisboa , como se fazia todos os annos.
Lisuarte Peres de Andrade foi nomeado para cora-
mandar a Esquadra, que devia guardar a Costa de Por
tugal, e constava de hum Galeão, três Caravelas, e duas
Zabrasj as primeiras que os Portuguezes construirão,
as quaes por terem remos , e serem mais alterosas do
que as Galés, soffrião melhor o mar , e podião chegar-
se a terra com c.ilmaria ; porque os Corsários muitas
vezes se acolhião á sombra da terra, onde os navios re
dondos não ousavão arriscar-se. Esta Esquadra levou
quatrocentos soldados, entre elles muitos homens no
bres. Qiiasi todo o Verão gastou Lisuarte Peres em
alimpar a Costa de Corsários, de que tomou alguns, em
que achou géneros conhecidos, por serem de proprieda
de Portugueza.
iffo. — Achando-se em Lisboa o Soberano de Be-
íez (1), e querendo rctirar-se, mandou EIRei tres na
vios bem armados para o transportar, cujo commando
deo a Tgnacio Nunes Gato, o qual se devia reforçar no
caminho com duas Caravelas , que cruzavao no Estrei
to de Gibraltar.
Chegada esta pequena Esquadra ao Porto de Belez,
e salvando com toda a artilheria no desembarque do
Rei, acconteceo achar-se nas Lagunas, perto de Belez,
J
45-1
o Rei de Argel Arde-Aerais acabando de espalmar vm-~
te c quatro Galés, e ouvindo o ruido da salva, se em-.
tareou a toda a pressa ; e chegando a Belez , vio a Es
quadra Portugueza ancorada. Ignario Nunes, que não
podia fazer-se á vela por estar calmaria podre , metteo
á espia, e reboque os seus navios em linha o melhor que
lhe foi pôssivel; e como. as Gales tinhão a vantagem do
remo, que lhes facilitava .tomarem todas as posições,
cercarão os cinco navios, é os atacarão por todas as par
tes ao mesmo tempo. Era impossível resistir a forças
tão superiores, mas os Portuguezes oppozerão huma re
sistência tão obstinada, que a 'vicroria custou muito san
gue aos inimigos. Por ultimorforão os cinco navios to
mados, e conduzidos a Argel, onde EIRei mandou de
pois resgatar todos os cativos. •- .-* «-
r^ÇT. — A Esquadra da índia (i) foi este anno de
oito Náosr comina ndada por Diogo .Lopes de Sousa,
embarcado em a Não Esperança ; e os outros Comman-
dantes Lopo de Sousa, no Galeão S. Jeronymo; Jacomo
de Mello, no Rosário; Francisco Lopes de Sousa, na
Algarvia; Messer Bernardo v na Santa Cruz; D. Diogo
de Almeida , no Espadarte; Aires Moniz Barreto, na
Serveira ; e D.Jorge de Menezes, na Barrileira.
Sahio a Esquadra a 10 de Março. D. Jorge de Me
nezes arribou a Portugal. D. Diogo de Almeida, indo
por fora da Ilha de S. Lourenço, chegou a Cochim a
10 de Outubro. Aires Moniz foi ter a Ormuz ; os ou
tros cinco Commandantes entrarão juntos em Goa a 10
de Setembro. . j
1551- — A 14 de Março partio de Lisboa (z) para
a índia huma Esquadra de seis Náos, commandada por
CO Faria, Ásia Portugueza. — Couto, Década 6. Liw 9. Cap. 16.
.— Pidro Barreto. — Ghronica de D. Joáo 111. Parte 4. Cap. 88.
(2) Faria , Ásia Portugueza. — Pedro Barreto. — Couto , Década 6.
Liv. 10. Cap. 6. — Chronica de D. João III. Parte 4. Cap. 94. j
57 ii
462
Fernão Soares de Albergaria, embarcado em a Náo Sao
Boa Ventura; e os outros Commandantes Francisco da
Cunha, no S. Pedro; Braz da Silva, no S. Filippe ; D.
Jorge de Menezes (que arribara o anno passado), na
Barrileira ; António de Figueiredo, no S. Tiago; e An
tónio Moniz Barreto, no Zambuco.
Esta Esquadra, como quasi todas as outras , nave
gou espalhada. O Chefe Francisco da Cunha, e Braz
da Silva entrarão em Goa a 8 de Setembro. D. Jorge
de Menezes, e António de Figueiredo invern?rão em
Moçambique, por chegarem tarde. António Moniz Bar
reto foi encalhar no Rio de Seitapor, a trinta legoas de
Goa, onde se salvou toda a gente, e a maior parte da
carga. . . . • , . ••
1572. — A 3 de Fevereiro deste anno de ijfi (1)
sahírão de Cochim para Portugal seis Nãos , de que
chegarão quatro a salvamento. As outras duas erão a
S. Jeronymo, Commaodante Lopo de Sousa, que nunca
mais appareceo , e o Galeão S. João , que comraandava
Manoel de Sousa de Sepúlveda , Fidalgo que havia fei
to grandes serviços na índia, e levava corasigo a sua
mulher D. Leonor de Sá, com dois filhos de peito. Esta
Náo, cuja carga excedia o valor de hum milhão, vinha
mui mal fabricada , com huma única andaina de panno
(coisa incrível!), e essa Cm tal estado, que de contí
nuo se arriavão as velas para se remendarem , e coze
rem , perdendo assim as occasides de aproveitar os bons
ventos, que teve para adiantar caminho, e dobrar o Ca
bo de Boa Esperança em monção favorável.
Tendo visto a Costa de Africa, seguirão ao longo
delia prumando com tempo bonançoso até ao Cabo das
Agulhas, e a u de Abril estavao vinte e cinco legoas
**4- , • :. „ - - .. :
64
soe
«e de exercer as foncçoes de General cora o mesmo ra-
lor, e habilidade.
Na entrada da Cidade , e de Inim Forte , que lhe
servia de Cidadella , morrerão muiras pessoas, por não
darem quartel os Francezes. O Governador interino da
Ilha Francisco Gonsalves da Camará Cachavao-se nesta
occasião era Lisboa seu tio Simão Gonsalves da Cama
rá , Governador proprietário , e o Bispo) ficou prisionei
ro no Forte com sua mulher, e muitas Senhoras nobres,
que se havião ali recolhido : e no saque geral, que derão
os invasores, commettêrão estes atrocidades mais pró
prias de bárbaros, que de homens civilizados.
Chegou a Lisboa a noticia desta escandalosa in
vasão , e em quatro dias se aprestou huma Esquadra de
oiro Galeões , e quatorze Caravelas , commandada por
Sebastião de Sá , em que se embarcarão muitas pessoas
rllustres; mas chegando á Ilha da Madeira no dia z6
de Outubro , achou terem os Francezes abandonado a
Ilha dez dias antes, levando em dinheiro, e géneros
commerciaes o valor de mais de milhão e meio, e dois
savios que se acha vão no Porto.
Soube logo Sebastião de Sá , que os Francezes se
havião dirigido a Canárias para venderem os roubos-, e
em vez de sahir no mesmo instante em seu seguimento,
deteve-se tantos dias na Madeira , que quando chegou
áquellas Ilhas, tinhão-se elíes retirado dois dias antes.
Não escapou Gaspar Caldeira á justiça Divina ;
trazido a Lisboa a 16 de Fevereiro de 1 5*68 , foi execu
tado doi« dias depois por sentença da Relação, junra-
mente com António Luiz, e Belchior de Contreiras, Pi
lotos Portugueses complices do mesmo attentado.
1567. — A Esquadra da índia (i) foi este anno de
V
tar , « servír-se d'elles na sua marcha por terra a Mo-
nomotapa.
Francisco Barreto era infeliz nas viagens maríti
mas. Sábio do Lisboa a ií de Abril, e estando já fora
da Barra, saltou o vento a Oeste, que o obrigou a en
trar, e veio dar fundo em Belém. Durou o mio tempo
dezoito dias; a 8 de Maio tornou a saliir, e com outra
tempestade desarvorou a Náo de Lourenço de Carva
lho, que arribou a Lisboa.
Proseguírão as duas a sua derrota, e acharão na Li
nha setenta e dois dias de calmarias, por cuja causa ar
ribarão á Bahia , onde entrarão a 4 de Agosto. Provi
das de agua, e mantimento, partirão desta Cidade, sof-
frerão trinta e seis dias de capa no Cabo de Boa Espe
rança , e ancorarão em Moçambique a 16 de Maio do
anno seguinte. Do resto desta expedição, em que Fran
cisco Barreto acabou a vida, tratarei nas Memorias do
Oriente.
1570. — A Esquadra da índia (1) constou esre an
no de quatro Náos, commandada por Jorge de Men
donça, na Santa Catharina; e os outros Comrnandantes
D.João de Castello Branco, na Annunciada ; Nuno de
Mendonça , no S. Gabriel ; e Lourenço de Carvalho, no
S. Luiz.
Sahio a Esquadra de Lisboa a 7 de Março, e che
gou a Goa a 7 de Setembro.
A 10 -de Novembro partio para a índia Manoel
de Mesquita, commandando o Galeão S. Leão, que in
vernou em Moçambique.
15:70. — Nomeado D. Luiz Fernandes de Vascon-
cellos (2) para Governador do Brasil , sahio de Lisboa
(1) Couto, Decida >o. Cap. 16. — Discursa» sobre los ComnM»-
cios de las Índias. — Pedro Barreto de Reiende.
(2) Memorias dEJRej D. Sebastiío, tomo j. Iãy. 1. C»p. 37 ; e
lÀv. a. Cap. j.
$)1
1 5" de Junho deste anno com sete navios, € huma ca
ravela, em que levava muitas famílias, e Sacerdotes, fe
outras pessoas qne hiáo estabelecer-se naquelle Paiz. Che
gando á Ilha da Madeira, como alli se devesse dilatar,
talvez para receber algumas famílias, pedio-lhe licença
o Capitão do navio S. Tiago (que era mercante) para
deixar o Comboi, e seguir viagem á Ilha da Palma, em
razão de levar muitos generos para ella , e querer carre
gar outros ; o que D. Luiz lhe concedeo.
Sahio o S. Tiago da Madeira no dia 30, e depois
de vários contrastes do tempo , que o obrigou a perder
alguns dias , achou se a 15 de Julho ao amanhecer de
fronte do Porto da Palma , e á vista de cinco navios de
Corsários da Rochella, de que era Chefe Jaques Sorb,
Almirante da Rainha de Navarra. Este, com o seu na-
"vio grande, bem guarnecido, e artilhado, abordou o
S. Tiago, cujo Capitão, e equipagem se defenderão va
lorosamente, animados pelas exhortaçôes do Venerável
Padre Ignacio de Azevedo, da Companhia de Jesus, e
dos seus quarenta companheiros, que hião para as Mis
sões do Brasil; mas como era tão desigual a contenda ,
foi o navio entrado, e todos os Religiosos feitos em pe
daços, ou arrojados vivos ao mar: tanta era a raiva dos
Hugonote&l Depois desta barbara victoria , conduzio
Soria para França a sua presa, coberto de vergonha, e
de infâmia. Parece que a Rainha de Navarra lhe estra
nhou asperamente esta selvagem deshumanidade.
D. Luiz Fernandes , sabendo na Madeira a desgra
ça acontecida ao navio S. Tiago, e não a podendo vin
gar, sahio com outro navio do Comboi para o Brasil;
e empenhando-se na Costa de Guiné, soffreo longas cal
marias, e lhe adoeceo quasi toda a gente. Por ultimo
avistou terra do Brasil ao Norte de Pernambuco, e não
Íodendo dobrar o Cabo de Santo Agostinho, arribou á
lha de S. Domingos, e o outro navjo á de Cuba-
512
Reparado do modo possivet, tentou D. Luiz Fer
nandes montar bordejando a Costa do Brasil, o que não
.pôde conseguir, como era natural, e arribou segunda
vez ?.s Antilhas, d'onde seguio a sua viagem até ver as
Ilhas dos Açores. Ancorou na Terceira v e como q seu
navio não estava capaz de navegar, afretou hum mer
cante, e fez-se á vela para o Brasil a 6 de Setembro de
«6 ii
624
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Interregno.
Por morte d'ElRei D. Henrique I. ficarão nomea
dos Governadores do Reino o Arcebispo de Lisboa D.
Jorge de Almeida , D. João Mascarenhas , Francisco de
Sá , Diogo Lopes de Sousa , e D. João Tello de Mene
zes , os quacs começarão logo a entender nas coisas do
Governo, de que a principal era julgar a quem perten
cia a Coroa; objecto mais fácil de discutir, que de re-
«olver, tanto pela divergência de opiniões entre os Go
vernadores, e confusão geral era que se achava Portu
gal , como pelo armamento formidável , que por mar, e
lerra fazia Filippe II. Mas como esta matéria pertence
exclusivamente a Historia do Reino , me cingirei ás
transacções marítimas acontecidas neste Interregno.
iç&o. — A Esquadra (1), que os Governadores do
Reino mandarão este anno á índia , constava de quatro
Náos, e era commandada por Manoel de Mello da Cu
nha , no S. Francisco ; e os outros Commandantes Gon
çalo Coelho Castello, em S. Luiz ; Manoel Marques de
Mello, era S. Salvador; e João de Betancor, em S. Gre
gório.
Partio a Esquadra a 3 de Abril , e arribou a Náo
S. Salvador; as outras três chegarão á índia no mez de
Setembro.
(1) Faria, Ásia Porrugueza. — Epilogo de Pedro Barreto de Rezst>
ée. — Couto, Década 10 Cap. 16.
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DA
MARINHA PORTUGUEZA
POR
TOMO II.
LISBOA
Na Typografia da mesma Academia;
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PARTE PRIMEIRA.
QUARTA MEMORIA,
Esquadra de Portugal.
Galeão S. Martinho, em que embarcou o Duque,
de 1 coo toneladas , 600 soldados, 177 marinheiros, e
48 peças de artilheria. Dos soldados só oitenta crão Por»
loguezes.
Galeão S. João, de 1100 toneladas, 311 soldados,
X74 marinheiros , e co peças.
Galeão S. Marcos, de 790 toneladas, 291 solda
dos, 117 marinheiros, e 33 peças.
Galeáo S. Filippe, em que hta o Mestre de Cam
po D. Francisco de Toledo, de 900 toneladas, 445- sol
dados, 117 marinheiros, e 40 peças.
Galeão S. Mattheus, em que embarcou o Mestre de
Campo D. Diogo Pimentel , de 750 toneladas, 277 sol
dados , 120 marinheiros , e 94 peças.
Galeão S. Tiago, de 520 toneladas, 300 soldados
Portuguezes do Terço de António Pereira, 93 marinhei
ros , e 14 peças.
Galeão de Florença , de 961 toneladas, 400 solda
dos Portuguezes do Terço de Gaspar de Sousa, 86 ma
rinheiros, e 52 peças.
Galeão S. Christovao, de 35*2 toneladas, 500 sol»
4 ii
28
dados Portuguezes do Terço de António Pereira, ft
marinheiros, e 20 peças. .
Galeão N., de gço, toneladas, 25:0 soldados Por
tuguezes, do Terço de Gaspar de Sousa, 81 marinheiros,
e 20 peças.
Zabra Augusta, de 166 toneladas, $ç soldados, $7
marinheiros, e 13 peças.
Zabra Júlia, de 170 toneladas, 44 soldados, 72
marinheiros, e 14 peças.
Total da força desta Esquadra: Dez Galeões, e
duas Zabras , contendo 7059 toneladas , com 3286 sol
dados, 1172 marinheiros, e 384 peças.
Esquadra de Biscaia.
Seu General D. João Martines de Recalde, com o Pos
to de Almirante de toda a Armada.
Náo Santa Anna, em que hia o Almirante, de
769 toneladas; 32J soldados, 114 marinheiros, e 30
peças.
Náo Gargarim, de 1160 toneladas, 256 soldados,
73 marinheiros, e 28 peças.
Náo S. Traga, de 666 toneladas, 214 soldados,
102 marinheiros, e 25- peças.
Náo Conceição, de 468 toneladas, noventa solda
dos, 70 marinheiros , e 16 peças.
Náo Conceição, de 418 toneladas, 164 soldados,
€1 marinheiros, e 18 peças.
Náo Magdalena > de 580 toneladas, 103 solda»
dps, 67 marinheiros, e 18 peças.
Náo Maria, de 665 toneladas, 172 soldados, ico
marinheiros, c 24 peças.
Náo Manoela, de jao toneladas, «e soldados,
J4 marinheiros, e 12 peças.
Náo. Santa Máfia de Monte Maior , de 707 tone
ladas, 20Ó soldados, 45 marinheiros, e 18 peças.
Patacho Maria, de 70 toneladas, 10 soldados, 13?
marinheiros , e 8 peças.
Patacho Santa Isabel , de 71 toneladas , 20 solda
dos, 24 marinheiros, e 10 peças. . 1
Patacho N. de 96 toneladas , 20 soldados , 16 ma
rinheiros , e 6 peças.
Total da força desta Esquadra : Nove Náos, e trea
Patachos, contendo 6180 toneladas, cora 180J solda*
dos, 75- o marinheiros, e 213 peças.
Esquadra de Castella.
Seu General D. Diogo Flores de Valdez
Galeão S. Chrisrovão, em que hia Valdez, de 70c*
toneladas, 205^ soldados, 120 marinheiros, e 36 peças,
Gahao S.João Baptista, de 560 toneladas, 207 solda»
dos, 136 marinheiros, e 24 peças.
Galeão S. Pedro, de 5^30 toneladas, 141 soldadosy
131 marinheiros, e 24 peças.
Galeão S. João, de £30 toneladas, 163 soldados;
113 marinheiros, e 24 peças.
Gdeão S. Tiago Maior, de 5-30 toneladas, 2 IO
soldados, 132 marinheiros, e 24 peças.
Galeão S. Filippe , e S. Tiago , de 5-30 toneladas;
151 soldados, 116 marinheiros , e 24 peças. 1
Galeão Ascensão, de j 30 toneladas, 199 soldados,
114 marinheiros , e 24 peças.
Galeão Stnhora do Rosário, de 5:30 toneladas, icj
soldados, 108 marinheiros, e 24 peças.
Galeão S. Miguel , de 5:30 tondada9, 160 solda
dos, rol marinheiros, e 24 peças.
Galeão Santa Anna, de 2?o toneladas, 01 soldar
«tos,a8o marinheiros ,. e 24 peças»
80
» N4o Senhora N. , de 800 toneladas, 174 «oídjdoí,
I23 marinheiros, e 24 peças.
Não Trindade, de 872 rondadas; 180 soldados,
I22 marinheiros, e 24 peças.
Náo Santa Catharina , de 882 toneladas, 190 sol
dados , 15" 9 marinheiros , e 24 peças.
Nio S. João Baptista , de 652 toneladas, 192 sol
dados , 93 marinheiros , e 24 peças.
Patacho Senhora do Rosário, de 180 toneladas,
20 soldados , 15 marinheiros , e 14 peças.
Patacho Santo António de Pádua , de 170 tonela
das , 20 soldados, 46 marinheiros, e 12 peças.
Total da força desta Esquadra : Dez Galeões , Qua
tro Náos, e dois Patachos, contendo 8776 toneladas,
com 2453 soldados, 1719 marinheiros, e 374 poças.
Esquadra da Andaluzia.
Seo General D. Pedro de Valdez.
Esquadra de Guipuscoa.
Esquadra de Levante.
Seu General Martin) de Bertendera.
Náo Aragoneza, em que hia o General, de 1294
toneladas, 344 soldados, 80 marinheiros , e 30 peças.
Náo Laura, de 728 toneladas, 203 soldados, 71
marinheiros, e 35" peças.
Náo Santa Maria, de 820 toneladas, 33c solda-
dos, 84 marinheiros, e 35" peça*.
Náo S. João, de 800 toneladas, 270 soldados,
€3 marinheiros , e 26 peças.
Náo Trindade Valenceira, de noo toneladas, 281
soldados , 79 marinheiros , e 42 peças.
. : Náo Annunciada, de 703 toneladas, 196 soldados,
79 marinheiros , e 24 peças.
Náo S. Nicoláo, de 834 toneladas, 274 soldados,
Si marinheiros, e 26 peças.
Náo Juliana, de 860 toneladas, 32J soldados, 701
rlnheiros , c 32 peças.
Nilo Santa Maria d© Piza , de 666 toneladas, 236
soldados, 71 marinheiros, c 18 peças. . . \t
.]:.- $&q Trindade , de 700 toneladas, 307 soldados",
79 marinheiros, e 22 prças. • i. T<oLs.b
Total da força desta Esquadra :. Dez. Náos , con
tendo 8joj toneladas, com 17^0 soldados, 757 imri-;
nheiros , e 280 pejas. t j, i ■» t %«
-! •■> iòt , » ' .!i.*OI .' •'■.'• \P ■ * '.' r'i t:B>">
.:- '. >'' . 1 ' . *••"■ ' •: i«:k:. ?cbsb
r1'1!'» r-: Esquadra de Urcas (1). ' <-.'j\>
*»j.... 1 ;r. í; ■.'..:.'!%. ."■'.•:.'. . L „..-■ . - - . '.l".v.j1
(1) As Urcas eráo navios grandes, mui bojudos do meio para van»
te, e esguios do meio para ré, de popa chata ; .o patino, c :i,astieação
como as Mãos.
Tomo 11. 5
Barca' de Âiicípe', de 4?o toneladas , 20Ò soldado?,
je marinheiros, e 26 peças. :•: . '.&
, Falcão Branco Menor , de 3C0 toneladas , 76 sol-
dados, 27 marinheiros, e 16 peças.
+: :Santo André, de 400 toneladas, 15*0 soldados Pcr-
tugttezes do Terço de Gaspar de Sousa , 28 marinhei*
tos, e 14 peças. ...... .' . ...... ■.. .
Casada Paz Pequena, de 3^0 toneladas, 162 sol
dados , 24 marinheiros, e 15- peças.
Cerco Voador, de 40Õ toneladas, 200 soldados
Portuguezes do Terço de António Pereira, 22 marinhei
ros, e r8 peças. .-..."
Pomba Branca , de 250 toneladas, ç6 soldados , 20
marinheiros, e 12 peças. \ •<— ,.-■> .«' i J . ';
Ventura , de 160 toneladas,. 5 8 soldados, 1^ ma
rinheiros , e 4 peças. ■ • *i ■■*'. 1
Santa Barbara, de 370 toneladas, 70 soldados, 22
marinheiros, e 10 peças.
S. Tiago, de 600 toneladas, 56 soldados, 30 ma*
íDnherros , e 19 peças.
David, de 200 toneladas, 50 soldados, 24 mari
nheiros, e 7 peças. - ■
Galgo, de 400 toneladas, 40 soldados, 22 mari
nheiros, 9 peças.
S. Gabriel, de 280 toneladas, 35- soldados, 20 mari
nheiros . e 4 peça.
Isaías, de 280 toneladas, 30 soldados, 16 mari
nheiros, e 4 peças.
Total da força desta Esquadra ; Vinte e duas Ur-
Cfls , conten.lo 9480 toneladas, com 2882 soldados, 583
marinheiros, e 361 pejas. ■ , .
is ■
1 • ,
35
"Esquadra âc Zabrasye Patachos. *V
Seu General D. António Furtado de Mendonça»
Patacho Senhora do Pilar de Saragoça , em que
hia o General, de 300 toneladas, 109 soldados, 51
marinheiros, 11 peças. 1 *
Paracho Caridade Ingleza, de 180 toneladas, 70
soldados, 36 marinheiros, e 12 peças.
Patacho Santo André Escossez, de 150 toneladas,
40 soldados ,' 19 marinheiros , e 3 peças.
Patacho Senhora do Porto, de 5^ toneladas, 30
soldados, 33 marinheiros, e 8 peças. -
Patacho Senhora da Conceição da Graça, de 70 to
neladas , 30 soldados,
Patacho Senhora 4a
da marinheiros,
Vigonha, dee 5100
peças.' — ,r>
tortcladas
ao soldados, 31 marinheiros, e 10 peças.
Patacho S. Jeronymo, de 5J toneladas, ao solda»
dos, 37 marinheiros, «4 peças.
Patacho Senhora da Graça, de J7 toneladas, io :
soldados , 34 marinheiros , e 5- peças.
Patacho Senhora da Conceição, de 75" toneladas,
20 soldados , 39 marinheiros , e 6 peças.
Patacho Senhora de Guadalupe, de 70 'tonelada»,'
ao soldados , e 42 marinheiros. -"I
Patacho S. Francisco, de 70 toneladas, 10 solda
dos, e 37 marinheiros. **rl
Patacho Conceição de Castro, de 70 toneladas, 20
soldados , e 17 marinheiros.
Patacho Senhora da Fresneda , de 70 toneladas^ 20
soldados , e 77 marinheiros.
Zabra Trindade, 23 marinheiros, e 2 peças. r '• 2
Zabra Senhora de Castro, 26 marinheiros, e 2
peças. , < '
Zabra Santo A-ndré, iç1 marinheiros, e 2 peças.
Zabra Conceição de Vai Maceda , 27 marinheiros % •
e 2 peças. 5 ii
Zabra Conceição de Soturna Riba', 31 marinheiro*.
Zabra Santa Catharina ,23. marinheiros.
iÊabra Assumpção, 23 marinheiros, e 2 peças.
Zabra S. Joio de Caraças, 23 marinheiros.
: Total da força desta Esquadra: Treze Patachos,
eoito Zibr.is, contendo 1321 toneladas, com 439 sol
dados, 646 nurinheiros, e 79 peças. ,.) •
-• »! '.•'■" '■■■'' n.-T: ; .
i 1 . j • - -• 1 1 o : . ' ;r ■ í •■.
Esquadra de Galcaças de Nápoles,
L r• ■ • . • ' » - -■-<"■ • ■ ■ •
Seu General Diogo de Moncada.
• "'■." > ■" ....*. 1 . ■ . • - '.
S. Lourenço, em que hia o General , 262 solda
dos, 124 nurinheiros, 300 forçados, e 5*0 peças.
S. Luiz, 178 soldados, 112 marinheiros, 30S for
çados y e fo, peça s* j .;
Gerona, 169 soldados , 120 marinheiros, 300 for
çados. ,.6,5:0 ipecas. >
Napolitana, 264 soldados, 112 marinheiros, 300
forçados, e 5*0 peças.
Total da força desta Esquidra : Quatro Galeaças,
com 873 soldados, de 46S marinheiros, e 1200 for
çados. ',:.< :
-:.:.:,: o; *:':> ' .: >: -■? ■.-.-■':■
Esquadra das Galés de Portugat» ■■ •• .e-í>
CS ... ' ' • '..- •-'-> . '■ "?.'-■ ':•:.■:
Seu General D. Diogo de Medrano.
Galé Capitanea , 106. soldados, 106 marinheiro?,
300 forçados , e c peçasJ -
£ Princeza, 90 soldados, 90 marinheiros, 300 força
dos, e 5" peças. -
Diana, 94 soldados, 94 marinheiros, 300 forçados,
c 5/ peças* '-7! ^r , «!>«< -< . ' . \ •.> •_•
r '.
vy "Harto, ?* rsòldados» 72 marirmeirot, 30a forçaÂ
dos -, e c peças., . .: 1 • '. ...u:; .k ..;•;,-.
Força desta Esquadra : Quatro Galés > cora 30&
soldados , 306 marinheiros , 1100 forçados, e 20 peças.
; - HiSò mais vinte Caravelas' carregadas , de- munições,
«bagagens, e doze Faluas para expedições das ordens
dos Generaes. .; .iavd
fii; Constava toda Ata "Armada de «fcnto e quarenta e
seirt velas (não- contando as Faluas), em que hàvião dezv
«nove desde trinta até cincoenta peças; e trintare no
ve desde 3(inre?:até<rrihra peças;<!>olmto tirsn«portie*?
e.iembaircações de força insignificante. Qs marinheiros,
que pbr bu ca calculo moderado devetiSó ser dezoito mil;
ní^:,pa»Éaráo: de .oito mil. homens, excluindo os das
Caravelas^ de que ignoro oi numero. Os forçados erâor
dojs mil e quatroceotofeí; a artillieria compunha«se de
dfljs atilo e i. quarr^ent^^^hhõe^i^jdpajiqàiaes' mil! 1©.
quinhentos erão de bronze^ e as munições» para. elles biar*
regul*ctas> a •cin$oebt»,'tirosrpor. peçajjtMqub seria •sufK-
ciente pap huoiã.(batalha*^ > , ™p , <;irv>[,;^ i.rní.sM »b
-, O Exercito;, ;de.> rransporte^de ;qos 'jera- Mestre! de
Cpmpo, Gençral ; D- Francisco de .Bobadilha., di»idia-sé*
ero^ cinco Terços Htspanhoes. e dois Vorruguezes, aque!*
les de vintô e seis Companhias, :e estes de cinco; eis aqui;
a.Ç>rç4;de cada hum. O ter^o de Ç>. Francisca de To•*
ledo, 2694 homens; o de D. Diogo Pimentel, 249?;
o deD^Nicoldo de Lnzon, 285*4; o de NieolaVrde \l\a t
2Ç8i\ e o de Di 'Agostinho Mexia, i^.''^0[,'Ter^p?
Pomjgiiez de 'tTaspXr . de Çouia '^fa 0*e rrtrí "fiòn^ens',.. el
Opirãest.uiz, Ferreira, ManoeLGibval, João ide Tri-.
{jueirosu-Manoel'Teiacei»*s ,1e Pedro Rodrigues de Ay.i-.
a: o Terço '■•<!<? António Pereira , de igtnl mimero de1
praças T, Tln.fiU íptó.'Çapít^es rVqja/rc Bor.'Vs de Sousa,
Gpnpaló Rodrigues ^ÇjaU«?ir:a 1 Domingos Zagatlo, Cos-
sae Êíabo , e Luiz de Uzeda. Servião como Voluntários
/
atrxaa' s»{a Y14 Aventureiro»,. 'e i83 Entrete&iJõs ,
quasi tudo pessoas da maior distincçao, com 619 cria-
•015; qinrnaJ òccasióes íinhâo exercido de soldados. O
corpo dos Artilheiros não excedia a ico homens, ccra-
mandado pelo Tenente General D. Affbnso de Céspe
des. Assim o total do Exercito era de 16^)335 com
batentes. ■•■»
o í -Os mriar d» ^uerfa-tinAâoide ^guímiçáo própria
trinta e duas Companhias de soldados com 3689 ho
mens , os quaes qua rrdo desembarcassem, - levar ião o Ex
ercito a pouco «mis de vinte mil homens (r)t ■-'
, A Repartição da Saode compunha-«e do Almiran
te em Chefe I>. Martinho- de Alarcão , hum Sub-inspe
ctor, quatro Curas, cinco Médicos,' hum Cirurgião Mor,
miatro Cirurgiões , cinco Ajudantes de Cirorgja , e ou
tros sessenta e quatro ' empregados. "Eráo CapeJJães da
Armada , e Exercito 151 Religiosos de virias ordens de
Heepanha, e Portugal . :.••*; »/td .h t's <o:-
A 17 dV' Ma jade; rfflo* whio de Lisboa o Duque
de Medina Sidónia , que devera ter saindo no principio
do roez , senão fora o embaraço que causou o inecpera-
do fallecimento do Marquez de Santa Cruz, acconteci-
do naquelle momento, cuja fatalidade fez dilatar aeí*
pedição. Honw tormenta que a Armada foffreo logo
depois da sua sahida, a metteo em confusão, e desor-
• *c' ,'."..• ' ' "'''.' o ; *' ' < • ■ *. ' í -•*
(l) Os Historiadores »nriáo sobre a força desta Arrnada , ji vjfue tt
deo o nome de Invencível. Hume dii, que se compcnlva de: 1 ;o nas, jt»,
em que entravlo perto d» too "Galeões-, maturei que lodos os que ali
afi se praticavão na Europa, çom ió{ô peças grossas de bronze, e 19^295
soldados. O Tridente Lritannicn afritiiu, q«w constara -èe i ia navios
glandes, com » 1 65 canhões, e 2i$;8o homem de tropas. Faria exetuin-
dp Caravelas , e Faluas, d á-lhe 1 20 embarcações, e quasi vinte mil sol
dados. António cio Couto de Castello tranco, assigna-lhe 1 %* navios,
ia Fahías, i8çJoJ7 homens.- Eu, Jeçui o Manuscrito, de que já fia men
ção, por conter noticias autherrticas tiradas dos Registos dos Aneáes
de Lisboa, e Cadiay o 'j\:.sn'c .*;Ij'jsU 'Ai íum j t uúirj ;uS
éenv, por fahâ éVdiioipiiM>- e donhecimeotos niuti'4
co>, e pelas ruins manobras; dei ião pesados navios,
guarnecidos de poucos . marinheiros , e muitos d'dlea
nul com mandados: em '> consequência todos se espalha
rão, seguindo diferentes ,,surnos, e algumas cm bar»
Cações de remo forão engolidas das ondasL A final reu-
ftio se a Armada no Porto da Corunha em meado deju*
nho. .-. :no ir. ítthr.l i .:"> ■v' t*-m : ~i :'
--.. As forças navaes, de que a Rainha Isabel podia,
dispor para resistira está invasão , reduzião-se a trint*
e quatro navios, de guerra ♦ dois -de mil toneladas^ e o
rf«to de qiiinhentías até cincoenta , os quaes levarão dó
guarnição £21 f homens, e 764 peças de arrilhcria. A.
pobrcsa da Coma { toda a isua renda. apenas chegava na-*
quslle cetnpaiai çoo<j>cqq librasesmluiasr)- rinha, malio*
grada ns ardentes desejo* desta jlLusJtrc.Prinçeza de au-
goientar a M irinha flLraJ ; e laie^se hoje asm reweza ,'
•sue D numero total dos marinheiros dos seus Estados- j
não chegava a i^fysoo homens. T:ío mesquinho era
aindi o seu-Commercio !• O perigo commum, e a Poli
tica de Isabel desperravão o enrhusiasmo da Nação; <f
aJém de copiosos empréstimos de dinheiro, rodas as Ci
dades miritimai apresta v.io navios á sua custa Londres
armou trinta e oito, guarnecidos de três mil homens;
outras Cidades armarão quarenta e três, com icol ho*
rxuns. Alguns particulares associados derao dezoito na
vios, com 820 homens , e quinze transportes carre
gado» de munições ; além de outras quarenta «■ tréfr
das. melhores, embarcações costeiras armadàsy '■€ ;tpipo*'
ladas com 2170 homens. Assim as forças de Ingl**
terra eacedfefo a 170 vasos •, e posto que a maior parte
pequeno*, com tudo mui próprios ípara insidiar ' a Ar«<
roada Hespanhola em hum canal estreito , cheio de bai
xos , sujeito 1 correntes viriaveis, grandes marés, e sú
bitas mudanças de vemos k de que os Hcspanhoes nãj
♦íhhío «pertencia. Os sot>crirro« dos HbJIandczes; e
Flamengos forao também de grande auxilio aos Ingle-
ics: aquellas duas Nações insurgidas contra a Hespa-
nha , tendo o- 'rtiaior interesse-- em que se mallograsse a
expedição^ arriarão duas Esquadras;" a primeiray com»
mandada pbr Justino de NJsiauy bloqueou os Portos era
que o Duque de Parma '■ajuntava' oiseu' Exercito ; e a ser
Sunda, combinou-se com outra Ingleza ás ordens JeLord
eymorir, formando ambas quarenta- navios, que se es
tacionarão sobre Dunkerke, e Newporr*rí'n »>■!<■ n :-^?;f>
o 3 .AvtRsMiha Isabel entregou o commando em chefe
dà sua Marinha ao Grão Almirante Lord Havard Et-
fifrigham, rendo debaixo das suas ordens Drake, Haw-
kinsj/e^ôpbibec^nos mais iiabeis 'marinhuros da sua
Kação ; e< para defender o Pâiz., BOíxaso-sde se realizar
o desembarque dos Hesp3nhdes.{',orgaBÍzou três Exerci*
{c^iQ^risavirq de vinrb.mil homens para 'guarnecer os
posaar^dà Costa mais 'expostos ; o segundo ric vinte e
QOÍ6 millniantesvéimilrcavaèlos; eommandado por Lord
Lticesten, '. que! -se ipostotuem Til bury , cobrindo a Ca^
pital^e.ó* terceiro de trinta -e quatro mil Infantes, e oii
mil Cavalios, ás ordens de Lord Hunsdon, prompto a
marchar onde fosse necessário.- Estas numerosas tropas
não inspiravão confiança aos homens sábios de Inglater
ra ; a sua esperança estava na Marinha.
-<. A U de Maio sahio das Dunas Lord Effingtam,
e- reunindo em Plyraout.h a sua Esquadra com a do Vi-
ce-Almirante Drake , partlo com perto de noventa na
vios, para cruzar entre Ushant, e Scilly, c dar bataJAa
aos HespânhoeS. .-■>,, •■ • ,i c.\\! f.
i^A noticia da wibada destes á Corunha chegou a Zn-
glaterra com circunstancias tao exaggeradas, que a Rai
nha Isabel se persuadio, que a expedição não teria Jo
gar, neste anno, e o seu génio económico lhe fez expedir
qr&Q8, ao Grão Almirante para desarmar alguns dos
41
maiores navios , mas este respondeo pedindo licença pa*
ra conservar todos armados , mesmo á sua própria cus
ta ; e como pelas embarcações ligeiras, que trazia de
observação, lhe constou não haver noticias da Armada
Hespanhola, resolveo-se a ir buscalla á Corunha, para
a atacar antes que se refizesse das suppostas avarias , que
se dizia haver soffrido. Em consequência , sahio a 8 de
Junho com vento Norte , e chegando no dia 10 a qua
renta léguas das Costas de Hespanha, foi com certeza
informado, que os Hespanhoes não tinhão padecido gran
de estrago: aproveitando-se então de hum vento Sul,
voltou immediatamente a Plymout , e ancorou a 12.
Entretanto o Duque de Medina Sidónia largou da
Corunha , e tomando hum pescador Inglez, este lhe dis
se , que a sua Armada tinha andado no mar, e saben
do da tempestade, que espalhara a de Hespanha, se
recolheo a Plymout, onde os navios se estavão desar
mando por se julgar que a invasão já se não verificaria
aquclle Verão. Sobre esta noticia pouco exacta parece
que o Duque formou o projectov de destruir os lnglezes
naquclle Porto, a fim de ficar senhor do mar, e operar
depois livremente, posto que as suas Instrucções lhe or-
denavão , que corresse o Canal encostado á Costa de
França até chegar ao Passo de Cale, e se ajuntasse ali
com o Duque de Parma , que devia sahir de Newport
com o seu Exercito embarcado nos transportes já prepa
rados ; e que evitasse nesta viagem toda a acção decisi
va com a Marinha Ingleza , no caso de a encontrar.
Os Hespanhoes avistarão quasi ao pôr do Sol o Ca
bo Lizard, e tomando-o pela ponta de Ram-Head , que
lhes ficava quarenta milhas mais a Leste, e he próxima
a Plymout , affastárão-se de noite para o mar, a fim de
virem no outro dia atacar os lnglezes. Porem hum Pira
ta Escossez, que cruzava no Canal, correo a Plymout a
avizar Lord Erllngham, o qual apezar do tempo contra-
Tomo II. -6
42
rio, trabalhou com tanta actividade, que tirou a maior
parte dos seus navios fora do Porto.
No dia 21 (outros dizem a 20) appareceo da ban
da de Oeste a Armada Hespanhola, navegando cora ven
to S. O. , e grande força de vela, formada em huma li
nha curva , que occupava hum espaço de mais de duas
léguas. Lord Effingham tinha neste momento debaixo
das suas ordens perto de cem navios, e deixando adian
tar os Hespanhoes, ficou a barlavento delles , determi
nando aos seus Commandantes , que evitassem toda a
acção de perto. Feitas estas disposições, seguio a reta
guarda dos Hespanhoes, e na sua Náo a Ark Rcyjl
rompeo o fogo contra hum grande Galeão , que julgou
ser a Capitanea inimiga, com a qual se bateo por al
gum tempo, sem resultado decisivo : o mesmo faziio
entretanto com vantagem Drake , Hawkins , e Forbi-
her contra os navios Hespanhoes mais atrazados , apro-
veitando-se da ligeireza dos seus próprios navios, que
manobrando melhor , podiao aproximar-se, ou retirar-
se á vontade; quando ao contrario as embarcações Hes-
panholas, mui alterosas , pezadas, e ronceiras , e cora
pouca marinhagem relativamente í sua grandeza , ma-
nobravao mal , e perdiáo a maior parte dos tiros , que
passavão por alto aos Inglezes , cujas embarcações erao
mui razas; e assim proseguirao hum combate em retira
da, em que perderão dois Galeões, hum da Esquadra
de Biscaia em que hia o pagador João da Guerra (com
muito dinheiro"), no qual pegou fogo por accidente ,
ou maldade de hum Artilheiro Hollandez ; e o outro,
que era a Capitanea da Esquadra da Andaluzia , que se
atrazou por haver perdido hum mastro abordando com
outro navio; e ambos fòrão tomados pela Esquadra de
Drake. Esta primeira acção durou duas horas.
O Duque de Medina Sidónia expedio D. Luiz de
Gusmão a participar ao Duque de Parma a sua entrada
43
no Canal, para qire se reunisse com elle, ignorando
achar-se bloqueado pelos Hollandezes. Ao anoitecer es
tava a sua Armada a quatorze milhas da ponta de Start,
e na manhã de z% a sotavento de Berry-Head , achan-
do-se a maior pane dos navios Inglezes mui longe pe
la sua popa , o que deo tempo ao Duque de Medina.
Sidónia para pór os seus navios em melhor ordem, £
dar algumas instrucções aos Commandantes.
A noite de 21 foi calmosa , e ao amanhecer do dia,
seguinte, estando o vento pelo Nordeste, e achandp-ae
os Hespanhoes pelo travez da Ilha do Wight, e a bar
lavento, arribarão sobre os Inglezes para os combater»
e salvarem o Almirante Recalde, que se havia atrazado,
com as Galeaças, e corria periga de ser cortado. Os>
Inglezes seguirão o seu sysrema de combater a certa»
distancia, pira evitarem as abordagens, que os Hespa
nhoes procura vão, e não podião conseguir dar-Ihes. Nes
ta acção , que durou todo o dia, e que não foi mais do
gue huma serie de combates particulares, o Galeão S.
Martinho sofFreo grandes avarias ; porém reunio a si O
Galeão de Recalde, e só foi tomada huma Galeaça*
que deo á costa.
A 24 nenhuma das Armadns procurou atacar a ou
tra : os Inglezes por estarem faltos de munições, e o»
Hespanhoes porque querião adiantar caminho, para che
garem a Galé : o Duque de Medina Sidónia expedio Ro
drigo Tello com outro aviso ao Duque de Parma , fa-
zendo-lhe as maiores instancias para que embarcasse o
Exercito, e viesse ajuntar-se com elle. O Duque come
çou com effeito o embarque, mas protestando não sa-
hir de Newport , sem que o mar estivesse livre da Es
quadra Hollandeza , que bloqueava toda aquella Costa;
pois que as suas embarcações de transporte não erão
feitas para combater; e seria a maior das imprudências
bir voluntariamente sacrificar o melhor Exercito da Mo
6 li
44
/■'
de Lima , com sua mulher D. Beatriz , e outras pessoa*
nobres. ■ *■
No primeiro tempo, que lhe deo, começou a Náo
a fazer agua pela roda de proa, a qual poderão tomar;
e chegando a 26o, abrio hurua muito maior nos delga*
dos de proa, e outra nos de popa, consequências do seu
máo fabrico; e ainda que ao favor do bom tempo, que
sobreveio, remediarão cm parte estas avarias, estando a 1 r
de Março em mais de 32 , oitenta léguas ao mar da Cos
ta do Natal , saltou o vento ao Sudoeste , que os obri
gou a virar no bordo do Norte, e crescendo o mar,
abrio a Náo tanta agua pelos mesmos logares, que em
breve teve seis palmos de agua no porão. Alijarão-se ao
mar quantos fardos e caixote* vinhão no convez, e em-
pregarao-se todos os individuos, sem excepção de pes*
soa, no trabalho das bombas, e gamotes; porém cres
cendo muito a agua, assentou-se em buscar a terra mais
próxima para encalhar , e correrão para cila em tra-
quete.
No dia 14 acabou de encher-se o porão, e entupi-
rão-se as bombas com a pimenta extravazada dospaioes;
mas á força de trabalho conseguio-se desentupillas , e
alijou-se ao mar toda a fazenda a que se pôde chegar
de que a Náo vinha riquíssima. No dia seguinte cobria
a agua os baileos do porão, e sendo o vento Sudoeste
de aguaceiros mui rijos, deixou o leme de governar, e
fez-se o panno em pedaços. Neste aperto , concordou-se
em deitar a lancha fora, para ao menos se salvarem os
que nella coubessem , por se fazerem perto da terra ,
que ao Sol posto foi vista; indo então correndo ao Nor-
iloroeste ; e como o Piloto se receava dos recifes da
Costa , seguio de noite o rumo de Nordeste , com
intenção de a vir buscar de dia.
A 16 pela manha não virão a terra, e tratarão
àe deitar a lancha fora, o que se fez com muito perigo.
48
e grande desordem, porque todos queriáo embarcar pri
meiro, e sobre isso se ferião, e matavão huns aos outros,
Porultimo a lancha, tendo já muita gente dentro, af-
fastou-se para fora, e foi tomar-pela popa da Não a
mulher de D. Paulo de Lima, e D. Joanna de Mendon
ça , Fidalga viuva y que trazia comsigo huma filha de
pito annos, que lá lhe ficou , pela não quererem largar
as suas escravas, apezar dos rogos, e lagrimas da tris
te mãi. O Padre Fr. Amónio do Rosário, Dominicano,
recolheo-se a nado, depois de haver confessado , e absol
vido a toda a gente, e a lancha começou a navegar com
cento, e dez pessoas, c poucos mantimentos, e agua;
ç como hia mui carregada , e contra as vagas que vi-
nhao da Costa , não pôde avançar caminho , e ama-
nheceo ao pé da Náo, na qual se fizerão entretanto al
gumas jangadas tão ruins, que apenas cahirao na agua,
se desfizerão, ou virarão; e nisto foi el la a pique à vista
dos da lancha, que nem hum homem salvarão delia , antes
deitarão ao mar alguns dos seus companheiros, por se
achar a embarcação sobrecarregada ; e sem outro desas
tre, abordarão no dia seguinte a hum pequeno Rio da
Terra dos Fumos, chamado então Rio de Simão Dore,
nome do primeiro Portuguez, que alli foi ter, situado
em 27o, 20' de Latitude, quarenta léguas ao Sul da Ba
hia de Lourenço Marques. Aqui deitarão em terra dois
homens para reconhecerem o Paiz, os quaes acharão
huma Aldeã de Cafres, que os tratarão bem , e os
acompanharão á praia, trazendo algumas provisões para
venderem aos da lancha ; e não a vendo , porque se ha
via levado para aproveitar o Ponente que ventava, mar
charão os dois Portuguezes por terra aré que acharão a
lancha, que estava surta, havendo-lhe acalmado o venta
Seguirão depois a sua viagem para a Bahia de Lou
renço Marques , onde chegarão a salvamento , e desem
barcarão na Ilha do Inhaca, que he deserta, e sem
água* , e si acharão algumas cabanas, que os Portugue-
za do navio de Moçambique, que andava empregado
no Commercio do marfim, tinhão construído para se
abrigarem. Aqui queimarão a lancha, com receio de
que alguns dos seus fugissem nella de noite para Sofala ,
c aproveitarão a pregadora, que lhes servia para compra
rem aos Cafres o que lhes fosse necessário: mas como per
derão o meio único que lhes restava para passarem á
terra firme do Inhaca, que distava quatro, ou cinco lé
guas , morrendo todos de fome e sede na Ilha, victi-
mas da sua própria ignorância , senão accontecesse te
rem os Cafres percebido o clarão das fogueiras, que
clles fizerao aquella noite, o que os induzio a virem
no dia seguinte em duas pequenas embarcações a saber
o que era; e poucos, e poucos transportarão todos á Al
deã do Inhaca , Regulo d'aquelle estado, e grande ami
go dos Portuguezes, o qual lhes forneceo alguns man
timentos," huns a credito, outros em troca de ferro, e
de géneros salvos do naufrágio.
O Conimandante Estevão da Veiga , o Sota-Pilo-
to Gaspar Ferreira, e outros onze homens resolverao-se
a hir por terra a Sofala, distancia perto de cem léguas-,
o que conseguirão á custa de grandes trabalhos, fo
mes , e sedes; e de Sofala passarão a Moçambique. O
mesmo projecto seguio, e realizou Fr. Nicoláo do Ro-
zario, com alguns outros indivíduos. D. Paulo de Li
ma, e o resto dos Portuguezes escolherão ficar nas ter
ras do Inhaca, onde morrerão muitos de doenças, c
necessidades, e entre elles o mesmo D. Paulo de Lima,
Official dos de maior merecimento e reputação do seu tem
po. Os que escaparão, embarcárão-se no anno seguinte
para Moçambique no navio do marfim, entrando neste
numero as três Fidalgas D. Beatriz, D. Joanna, e D.
Maria.
Tomo II. 7
..j^gç.-; A Rainha: Isabel (i), que aproveitava toda*
as occaMÓes de causar embaraços á Monarchia Hespa-
njiola , enviou este anno hum grande armamento contra-
Isisboa , onde o. Prior, do Crato affirmava ter muitos-,
partidistas , e que farião huma insurreição geral a favo*
dos seus imaginários direitos, á Coroa Portugueza, huma,
vez que fossem protegidos por alguma Potencia..
Consrava o Exercito Inglez de quatorze mil homens^
commnndados por Joao.Sir; Norris ; e a Enquadra de seis
navios de guerra, os únicos que Isabel forneceo á sua
custa , com 60$) libras esterlinas para despezas da et-.
pedição; e os aventureiros interessados nesta empresa
correrão com o dispêndio de outros vinte navios, qoe*
armarão em guerra , e cento e quarenta transportes. Era?
Almirante Sir Francisco Drake, cujas, equipagens che»
gavao a quatro mil marinheiros. Alguns navios- Ho!lan>.
dezes reunirão-se aos Inglezes, para parreciparem do
saque, e presas que se fizessem. O Prior do Crato em-
barcourse co.n o Almirante. Esta expedição hia mil
provida de viveres, e munições, cuja falta se começou
a. sentir no principio da viagem.
A. i-8 de Abril sahio de Plymout o AlmiranteDra*
kev e.a. 4 de Maio entrou na Corunha, esperando to
mar despojos, e viveres; mas ainda que commetteo
grandes, hostilidades, e queimou os arrabaldes, foi obri
gado a levantar- o cerco. da Praça; e d'alli seguio par»:
a Costa de Portugal, em cujo caminho se lhe rcunio o
ConJe de Essex , que levado do seu espirito audaz, e
romanesco, havia» sahido para esse rim de Inglaterra
com huma pequena Esquadra armada á sua custa.
1
""' A i(5 de Maio consegairao os* Inglezes desembar
car era Peniche-, que não estava em termos de faZeí
muita resistência , « d'aqui marcharão para Lisboa era,
nnmero de doze mií Infantes, e alguma Çavállariaj
sem achaTem opposifão -até «e alojarem fio arrabalde
de Santa Citharina. - **
Governava «o flerno de Portugal o Cardeal Archi-
duque Alberto, a quem Elllei Filippe avisou a tempo
dos projectos do inimigo-; e era consequência reunio el-
Je em Lisboa todas as tropas disponíveis ; e no Tejo
«chava-se D. Affonso Baçan com dezoito Galés bera
armadas, para auxiliar os Fortes-, que defendrão a err-
•trada , a qual não pôde, ou não quiz comrrietter o Al
mirante Drake, como devia, segundo o plano de cam
panha combinado entre eíle -e o General Norris, esco-
jh.ndo ames -entrcter-se em aprisionar navios neotrosj
que navega vão para Lisboa.
, O General Norris, vendo que a presença do seu
Exercito, não causava no Povo a commoção, que elle
esperava, segundo as promessas do Prior do Crato, é
não tendo artilhem de cerco para baíeT as muralhas,
falto já de munições , e ainda mais de mantimentos-}
que as tropas Portuguezas, batendo a campanha, lhe
não deixavão buscar, assustado também com a chega^
da de outra Esquadra Hespanhola de Galés-, determi^
nou em Conselho de Guerra retirar-se em quanto erâ
tempo, por não se expor a perder o Exercito. Felizmen
te Drake tinha ganhado Cascaes por traição do Go*
vernador , e alli se embarcarão os Inglezes com gran
de precipitação , e se dirigirão a Vigo., que destruirão*,
e o Paiz crrcumvizmho, e por ultimo chegarão a In
glaterra no principio de Julho, tendo perdido por doen
ças , fomes , e combates metade do seu Exercito ; e de
mil e cem Voluntários Nobres*, que nelle servião, ape
nas escaparão, trezentos e.cincoenta. E ainda a perda
7 ii
teria maior j-senão enconfrassenvttt yíagem 'a Esquadra
do Conde de Cumbfrland„.que lhes deo algumas proviíòes:
!yp0 — A 8 de Mato (0 partia dç.Lisboa Para a
índia o Vicc-Rei Mathias de Albuquerque com huma
Esquadra de cinco Náos, embarcado no Bom Jesus ,
cm que hia o Piloto Mór Vicente Rodrigues, huma da»
maiores Náos d'aquelle tempo: os outros Com mandan
tes erao, Lopo de Pina, na Nio Conceição ; João Lo
pes de Azevedo, na Santa Cruz v Pedro Gonçalves no
S. Joãoi e Álvaro de Paiva no S. Filippe.
As ultimas quatro Náos desta Esquadra arribarão
& Lisboa, só o Vice-Rei chegou a avistar a Costa da
índia, mas não a podendo tomar, nem menos Masca
te, ou Ormuz, surgio na Ilha de Socororá , e falran-
do-lhe a amarra, tentou hir a Moçambique, e as cor
rentes o levarão quasi sobre o baixo de João da Nova,
de que o livrou huma mudança de vento , e assim to
mou Moçambique a to de Janeiro de icoí, tendo per
dido por doenças a maior parte da genre; e sahmdo
d'alli em Março em algumas Galeoras, entrou era Goa
a ic de Maio; pouco depois chegou a sua Náo, que
ficara em Moçambique invernando*
A 19 de Outubro partirão para a índia, Ruy Go
mes da Gran, no Galeão S. Lucas ; Diogo Pereira Ti-
báo, na Na veta Santo Espirito > e Gaspar Fagundes, na
Caravela Santa Catharina»
O Galeão desapparcceo na. viagem ; a Na veta foi
tomada pelos Inglczcs ao terceiro dia da sua sabida,
só a Caravela chegou a Moçambique, e em Setembro
do anno seguinte entrou em Goa.
O Governador da índia Manoel de Sousa Coflt?»
nho, não vendo chegar este anno nenhum navio doRei-
(0 Epilogo de Pedro Barreto — Faria, Ásia Portugueza — Discursoj
soktt los Coajajercioj - Década 1 1 supplementário Capítulos 12, e 14.
no expedio para Portugal a N^o S. Francisco dos Ao*
jos, construida naqueUç; Estado , a qual se veio per
der era Moçambique. - • --■ . - r.t
', 1591 — A 4 de Abril (1) sahio de Lisboa a Esqua
dra da índia , cornmandada por Fernando Furtado de
Mendonça, embarcado em a Náo Madre de Deoj; .c
os Com mandantes das outras erão Sim?o Vaz Velho-,
do S. Bartholomcu ; Julião de Faria Cerveira , do S.
João; António Teixeira de Macedo, da Santa Cruz;
João Trigueiros, do S. Christovão ; e D. Francisco
Mascarenhas , do S. Luiz , com destino a Malaca.
Esta Esquadra chegou a Goa por todo o mez de
Setembro.
1591 — A Esquadra da índia (1) constou de cinco
Náos, seu Chefe Francisco de Mello, embarcado no
Santo Alberto; e os outros Commandantcs, Sebastião
de Alvellos , no S. Paulo ; Luiz de Souto , na Concei
ção; Nuno Rodrigues deTarora, no S. Pantaleão; t
'Braz Corrêa, na Nazareth.
Partio a Esquadra de Lisboa a 7 de Abril; e ar
ribarão com avarias ao Porto da sahida o S. Paulo, e
a Conceição* As outras Náos chegarão a Goa nos fins
de Setembro.
1592 — A 10 de Janeiro deste anno sahírão da ín
dia para Portugal as Náos Bom Jesus, S. Bartholomcu,
"Madre deDeos, Santa Cruz, e S. Christovão ;, esta
.ultima chegou a Lisboa a salvamemo.
O Bom Jesus , em que se embarcou o Governador
Manoel de Sousa Coutinho com toda a sua família,
naufragou nos baixos do Garajáos, sem escapar pessoa
alguma. O S. Bartholomcu desappareceo na viagem ,
(1) Epilogo de Pedro Barrei» — Faria, A*ia Portuguesa — D!<cur-
ios vhte los Conamercioj. — Década 11 supplemenraria , Cap. 14
(a) Ep togo de Pedro Earrera — Discursos srbre los Cowmerciofc
— latia, Ai» Ptitugueza, -, Dtead* »i. jupplenientaiia, Cap. ai.
^Mh '&W-se onde , n«m como; A Madre de Deoç, et
"Saiítá-Cfuz, chegahdoseparadas aos Açores, foráo en
contradas pela Esquadra Ingleza do Capitão Norton-,
■tfómposra "aè sete nàvros : o Cotnmandante da Sarna
^Grus , querendo salvar a gente, e a carga, encalhoa
ha Ilha das Flores nó cíiaf- 9 de Julho, e depois de d;$-
<mbarcar tudo quanto The foi possiveí, pôz fogo á Nío.
-A Madre de Deos, cercada dos navios Inglezes, se
•defendeo com valor desesperado por quasi hora e meia,
<e por último rendeo-se a 19 de Agosto a forças táo su
periores.
^ íjTo* '■— A Enquadra da índia (O foi este am» de
cinco Náos, commandada por D. Luiz Coutinho, em
barcado no SFHippe; e os outros Gommanda ntes eráo,
'João Lopes de Azevedo, nó S. Francisco; Lopo de Pi.
•na , no S. Bartliolomeu; António Teixeira de Msce-
do, no S. Christováo^ e Pedro Gonçalves no S. Pedro.
Sahio de Lisboa D. Luiz Coutinho a 4 de Abril,
e chegou com a sua Esquadra a Goa aos fins de Dezem
bro.
I5"93 —A 2 de Janeiro deste anno (2) partio deCõ-
-chim para Lisboa Francisco de Mello na Náo Chagas,
acabada de construir em Goa , e debaixo do>eu com'-
*mando vinhão as Náos Nazareth, Santo Alberto , e S.
Pantaleão. Esta ultima chegou a salvamento' a Portu
gal.
A Nazareth , Commandante Braz Corrêa, sahio
'♦de Goa tão sobre-earregada , que dando-íhe hum renjpo
-em -iy"- de Latitude Siri, abrió* tal quantidade d*igr»
«pelos delgados da pôpà , que «V niSo podia vencer ape
CO Epilogo de Pedro Barreto. — Faria, Asis Portu?ueza. — Dis-
. cursos sobça los ^mmrBercjos«ri)ecada ir. wppferaentafia ás de tto>
go do Couto , Cap. 27. „;. ,, t> , , j . . . . ..,, , .%
^--Ç*) Historia 1'ragioo-fllaritinia, tomo t. _ A mesma Decaia «ap«
plerneiitaiia, G.ipitujps,t(je 12 »á^„ , . . -. 1 , .. .\ ... -
*fi
legoas , sem alteração da boa ordem , e disciplina j caso bem. rato ea»
taes circunstancias I
ííenou-se fogo , que entrassem na agna os homens msrtf
fortes, e de huns' a outros se atravessassem piques, elpé-.
gados a elles passarão os mais fracos, e as mulheres*
Os doentes forão levados aos hombros nos catres de^Do-»
na Isabel, e de sua filha, as quaes atravessarão o Rio
levadas de braço por Francisco da Silva, e João de Va
ladares; e do mesmo modo passou Nuno Velho. Gas-
tou-se todo o dia nesta operação, e chegados todos à
outra margem, fizerão grandes fogueiras, em que seeaú
xugárão; e armando as suas rendas debaixo de copadas,
árvores, passarão assim a noite, havendo antes colhido
pelo mato muitos murtinhos, c maças de anafega.
A f , logo que amanheceo, subirão hum monte, e
depois outros , e passarão ;a -calma a* sombra de humas
arvores, refresca ndò-se eom-melancias que porolli havia.
Neste tempo apparecêráo três Negros em hum alto: man
dou Nuno Velho a elles hum escravo Seu , qae; "enten
dia" alguma cousa da lingua do -Pàífe, o qual o« trouxe)'
comsigo. Saudarão elles a Nuno Velho com palavras
differentes das -que usa vão os outros, e dtsserâo que o
povoado estava perto, e hum delles foi chamar outros
oito, que ficárSo dt-traz do -Outeiro. Reunidos todos
com os Portuguézes , e tencto diminuído a-icalma, cami
nharão de companhia, e sendo já t8fde, dlsserão>o*Ne-í
gros, que visto não poderem alcançar naq-áella noite o
povoado, pernoitassem nas- suas casas, o que parecer*
nem a Nuno Velho, e elles guiarão para hum valle mui-
fundo, coberto de mato espinhoso, que mais parecia ha-
biíaçãbde feras, que de gente, o que fez prevenir as ar
mas aos Portuguézes, suspeitosos de alguma traição. Com
tudo seguirão os Cafres, c entre huns altos, e ásperos
rochedos virão seis casaes, em que elles vivião com suas
mulheres ; e aqui se alojarão com a costumada vigia.'
Os Negros, vendo que lhes era impossível roubar
algum gado,- que era só- ò.que. intentavão) porque desse
10 ii
It.
etercicio, e da caça que matava©, J*e que viviáo aaqueíj
le deserto, temendo-se do castigo que mereciao, fugirão"
aquella noite IevaHdo suas mulheres, e algum milho
que tinliao, deitando somente nas casas laços, e arma»
dilhas. •
A 6 pela manha , descobrindo-se a ruga dos Ne
gros, mandou Nuno Velho, que o Piloto marcasse o
Caminho , e este o dirig-io a Leste ;, e tendo-se marcha
do algum espaço, sem se yer povoado, enviarão-se al
guns homens a dois montes^ que demora vau hum. a Les»
»e, e outro ao Nor.deste ; mas nem huns, nem outros
descobrirão cousa alguma. Coraeçaráo-se com isto a
amotinar os mais impacientes-, reprovando o caminho
do sertão, por deshabitado, e pudindo a vozes, que os le
vassem ao mar. O Piloto, e o Mestre lhes mostrarão,
que a sua derrota era a mais breve para o mar, o que.
sendo approvado por Nuno Velho, se aquietarão; e mar
chando por aquelle rumo-, derao cm hum caminho tri
lhado, que seguirão de vagar até á noite, que se aloji-
são ao longo de huma ribeira , em que havia pouca le-
»hav e muito feno.
r No dia 7 caminharão toda a maahã por camioJk»
seguido , que perderão de tarde em hum valle, e torna-
são. a achar outro em hum- dos montes, que subirão,
tendo visto ao meio dia de longe dois Negros , que fu
girão. Passourse a noite ao meio de hum bosque sem
agua , onde se acabou o deserto, havendo ainda, no Ar
raial doze vaccas.
-- A 8,. começando a caminhar, encontrarão quatro*
Negros-,, que com outros muitos já- tinhão descoberto-
aos Portuguezes , mas não ousavão chegat-se. Mandou
Nuno Velho a elles António Godinho com o Lingua.
António, e dando-lhes huns pedaços de cobre, vierão
ao Arraial mais de cincoenra, e os principaes derão boas
informações da fertilidade ,. e povoação do Paiz i e che-
/
gartdo ao ponto, em que o caminho se dividia em dois*;,
que conduzião a duas diffcrcrhes Aldeãs, disputarão en
tre si os Cafres a qual dcU.es iriao primeiro os Portu-
guezes-, porém socegarão-se com alguma cousa que se
lhes deo, e a certeza de que se comprarião as suas vac-
cas , c logo todos cantando, e bailando se encaminha
rão para hum valle de muito arvoredo, e agua, onde
por ser já tarde, e a Aldeã ficar dalli meia légua, se
assentou o Arraial. Mas os Negros concorrerão com
muito milho, legumes, leite, e manteiga, que venderão
por poucas tachas, e pedaços de pregos. Estes Cafres
erão bem dispostos , e mais verdadeiros , e azevixados
que os outros do Sul, e entre elles vinhão alguns man
cebos vestidos de esteiras de tabúa, que he traje de mo<
ços nobres. Pelas duas horas depois da meia noite che
gou hum Negro chamado Inhanze , filho do Regulo
daquclle Paiz, com huma vacca de presente a Nuno Ve-
Jho; e hum recado de seu pai, em que se desculpava de
não o vir logo visitar, o que faria pela manha. Nuno
Velho respondeo agradecendo o obsequio, e deo-lhe hum
pedaço de cobre, e hum prego, com que se foi conten
te.
Parcceo conveniente a Nuno Velho demorar-se nes
te valle os dias 9, e 10, tanto para a gente descançar
da jornada , como para se prover de vaccas. O que sa
bido pelos Cafres circumvisinhos , trouxerão muita fari
nha, gergelim, leite, manteiga, gal linhas, e carneiros
em tanta quantidade, que sobejavão no Campo, e já não
havia quem quizesse comprar cousa alguma, sem ser ne
cessário matar vaccas , antes se comprarão mais vinte e
quatro por pequena porção de cobre. Pelas onze horas
chegou o Ancosse, chamado Mabomborucassobeta, a-
companhndo de cincoenta Negros de zagaias ,, trazendo,
çomsigo sua mai. Nuno Velho os recebeo com a devi
da cortezia ; e assentando-se todos três em huma alcali-.
9&
h , lhe retárou a historia do seu naufrágio , e concluía
dizendo, que por ter noticias suas, levadas pela fama, fi
zera de propósito caminho pelos seus Estados só a firrt
de o ver. Ficou o Ancosse mui vão com este cumpri
mento, e prometteo-lhe guias, e rúdo quanto houvesse
nas suas Aldeãs, o que Nuno Velho agradeceo dando-
Ihe a tampa de hum caldeirão, e hum ramo de coral,
fe a sua mãi humas contas de cristal. E sendo horas,
jantarão com elle, e ás três se retirarão com toda a sua
comitiva. O Piloto tomou a altura do Sol , e achoo 20*
45' de latitude.
A II partirão deste valle, a que derão nome da
Misericórdia , deixando nelle quatro escravos , c levando
dois guias, que o Ancosse deo a Nuno Velho, despedin-
do-se delle aquella manhã. Dirigio-se o caminho ao
Nordeste, e subindo hum monte, cuja descida era de
pedra, acharão no valle três Aldeãs, e passadas estas,
e mais hum ribeiro, e hum monte, em que comprarão
duas vaccas, chegarão já tarde a outro monte, e descen-
do»o por entre mato espinhoso, encontrarão huma serra,
que vinha do Nordeste ligar-se com o monte , no qual
lhes anoiteceo com grande escuro, e por isso não desce
rão ao valle, onde havia agua-, e acamparão sem cila.
No dia 12 acabarão de descer o monte ás dez ho
ras, e seguindo por hum valle sombreado de arvoredo,
vadearão luma ribeira com agua pela coxa ; e como nel-
Ja acabavão os Domínios daquelle Regulo, despedio Nu
no Velho os guias que trazia, e mandou chamar outro,
cujo nome era Mocongolo , a quem pertencia o Territó
rio em que se achava , o qual veio logo visitallo corrt
huma vacca de presente, e deixando-lhe outros guias,'
se retirou para o esperar na sua Aldeã. Continuou-se a'
marcha, e foi-se estabelecer o alojamento ao longo de"
huma fresca ribeira , que corria por hum valle entre úJ
tos penedos, cobertos de grandes, e copadas arvores.
79.
/
m
lho lhes deo. Nesta jornada todas as despesas" { cfíe fò-
râo mui grandes) correrão por conta deste Fidalgo.
Prompto o navio para navegar, não mudou o ven
to com a Lua , e foi necessário aguardar outra conjunc-
çáo, o que vendo alguns Portuguezes, enfadados da pe-
?uenez do navio, resolverão marchar por terra até So-
àla , distancia de cento e cincoenta léguas; e apezar de
tudo o que Nuno Velho lhes disse para os dissuadir de
similhante projecto, partirão vinte e oito, de que foi por
cabo hum soldado chamado Balthasar Pereira, aos quaes
se derão armas, munições, e effeitos de Commercio; po
rém não obstante isso, commettêrão taes desordens pelo
caminho, que era já bem conhecido, qui mui poucos
ohegárão a Sofala.
-s A 22 de Julho sahio finalmente Nuno Velho daquel-
le Rio, e a 6 de Agosto entrou em Moçambique, ha
vendo- soffrido antes numa tempestade, em que se vio
quasi perdido.
Achou nesta Ilha a guarnição d-i Não Nazareth-,
que alli ficou condemnada; e a Náo Chagas , que não
podendo dobrar o Cabo de Boa Esperança , pelos ma'os
tempos que nella encontrou , veio invernar naquelie ftw-
to. >'■
15^93. — Esta Náo, como era nova , The tnettêrío na
índia superabundância de carga (1), e vinha com e/Fei
to riquíssima , com muita gente, e alguns Fidalgos de
passageiros. Francisco de Mello, irmão do Monteiro
Mor, seu Commandanté, soccorreo liberalmente os nau
fragados, e recebeo a bordo quantos quizerão embarcar,
assim como boa parte da carregação da Nazareth , com
cujo excesso de peso ficou a Náo tão mertida , que co
meçou a fazer alguma agua. Era Mestre delia Manoei
Dias, e Piloto seu filho João da Cunha.
gens chegavão a cem homens, pela maior parte marinheiros índios. Dej-
tes recebeo elle a seu bordo alguns, que acceitárão o serviço Hollandez :
dos outros mandou huns poucos de presente ao Rei de Cândia, inimi
go capita! dos Portuguezes, e mandou deitar o resto ao mar. Tal he
o facto narrado no Jornal de Cornelio Jansz Vennip, Prloto do seu pró
prio navio. — Vede a mesma Coilecçãa no tomo 2. já citado.
CO Faria, Ásia Portugueza. — Epilogo- de Pedro EarTeto.
(2) A Companhia Hollandeza mandou este anno á índia huma Es*
quadra de quatorze navios, e hum Hiate, commandada pelo Almirante
Wybrandt Van Waarwik (vede a citada Collectão, tomo 2.1), tendo
por Vice-Almirante Sebalde de Weert ; os navios eráo: O Maurício (em
que hia o Almirante) de 800 toneladas; a Zelândia, de 800 tonela
das; a Hollanda, de 700 tonelada»; o Nassau, de 6'io toneladas; o Sol ,
de $00 toneladas; a Lua, de 500 toneladas; o Messingue, de 500 to
neladas; o Erasmo, de 500 toneladas; o Jardim de Kollanda , íte 400
toneladas; a Estreita, de j6o toneladas; a Virgem de Enchuise, de «5»
toneladas; o Ganso , de 280 toneladas; a Concórdia, de 24c tonela»
das; o Rotterdam, de 260 toneladas; e o Miate Pombinha, ,.e 50 to
neladas. Estas embarcações hião bem artilhadas, e levavão tnais de mil
bornens,
A 1 j de Maio sahio primeiro de Hollanda o Vice-Altnirnnte Weett
a 17 de Junho o Almirante V aarwik com o resta
m
embarcado em a Náo S.João; e os outros Commandan-
tes Sebastião da Costa, na Senhora da Paz; Sebastião
Macedo de Carvalho, no S. Francisco; Constantino de
Mello, no S. Roque; Vicente Paes Castcllo Branco, no
S. Mattheus; e Vicente de Sousa, no Galeão Conceição.
Sahio a Esquadra de Lisboa a 25 de Março, e che
gou a Goa no mez de Setembro.
Determinando-se em Goa (r), que o Galeão S.Tia
go voltasse carregado para Portugal (ainda que construí
do para a guerra), deitarão-lhe hum entrecosrado para
o fortificar, e metterao-lhe no porão quatro mil quin-
taes de pimenta, e nos baileos, coberta, convéz , roí
da, tombadilho, e até dentro da lancha, e á roda do ca
brestante erão tantos os caixotes, e fardos a cavalete,
que não podia passar hum homem entre elles; e ainda
não satisfeitos desta espantosa carga, pozerão fardos, e
camarotes de vento nas mezas , e em postiças armadas
por fora do costado , de maneira que o Galeão vinha en
terrado no mar, e era impossivel marear o panno em
qualquer momento critico. Em recompensa não tinha
partido da índia desde muitos annos hum navio tão im
portante.
A ^S de Dezembro de 1601 sahio António de Mel
lo e Castro no Galeão com perto de trezentos homens,
entre marinheiros, soldados, e escravos; e além destes,
vinhão trinta Fidalgos , e pessoas nobres , como cráo D.
da Esquadra. A 24 de Julho descobrio a Madeira , e a f de Agosto a
Ilha da Eoa Vista. A 2 j achou-se junto ao Cabo das Palmas, e a c de
Setembro reconheceo a Ilha de S. Thomé, que não pôde tomar. Ali
vio o Rio de Gabão, e a 24 ancorou no Cabo de Lopo Goraalres, p«»
ra fazer agua. Sahio a 28 ; a 1 1 de Outubro chegou á Ilha de Anro
Fom , onde por forqa de armas , e com perda de gente , íer. aguada , eo-
ilieo algumas fructas, e queimou , e saqueou tudo quanto pôde alcançar.
Largou desta Ilha no dia 21 , e a 12 de Dezembro dobrou o Caio de
Boa Esperança.
: (1) Vede a Historia Tragico-Maritima, torno a
129
Pedro Manoel, irmão do Conde da Atalaia ; D. Filippé
de Sousa, D- Manoel de Lacerda, Francisco de Mello?
e Castro, filho do Commandante; Ruy Pereira, Simão
Ferreira do Valle, Duarte Barbosa de Alpoem, Álvaro
Velho, João Falcão, Fernando Ortiz de Távora, Pedro
Mexia , o Padre Fr. Félix, e outros.
Vendo António de Mello, que o Galeão governava
mal, ordenou, com o parecer dos Officiaes, que se ali
jasse ao mar o que fosse indispensável para ficar mais
boiante ; e assim se fez , obrigando-se todos ás perdas
do alijado, por serem efFeitos de marinheiros, e grume
tes. Navegando na volta de Moçambique, na forma do
seu Regimento, não o pôde tomar, por ser o vento con
trario a isso, e bom para seguir viagem. A 2? de Fe
vereiro de i6oz passarão o Cabo de Boa Esperança com
tudo largo , e mar bonança , como até alli não passara
navio algum.
Montado o Cabo, preparou-se a artilhem , e fize-
rão-se todas as disposições para se poderem defender,
por terem noticias na Índia de haverem passado ao Sun-
da muitos navios Hollandezes. Agitou-se aqui a ques
tão , se devião ir á Ilha de Santa Helena, ou seguir pa
ra Lisboa , onde podião chegar até Maio. O Regimen
to, que António de Mello trazia de Goa, dado pelo
Vice-Rei Aires de Saldanha, ordenava:
» Que a derrota fosse á Ilha de Santa Helena,
» como Sua Magesrade mandava ; e que achando sur-
99 to algum navio inimigo, o accommettesse , parecen-
99 do-lhe que seguramente o podia fazer, com tanto que
>» não se desgarrasse do surgidouro. E que chegando
*9 á Ilha, surgisse na primeira ponta, chamada o Espa-
99 ravel , porque estando a Bahia oceupada de Náos ini-
99 migas, ficava seguro de não poderem ir a clle, por
»» ser o vento sempre por cima da terra, contrario a
99 quem estava dentro , que não podia ganhar aquella
TomJI. 17
130
de Doação, que Filippe IV. fez a Benta Maciel Parente, de juro, c her
dade , daqiielle pedaço (te Costa comprehendido entre o Cabo do Norte
e o Rio de Pinçon, passada a 14 de Julho de \6i6, comprehendendo
as Ilhas, que estivessem dez léguas ao mar do dito espaço de Costa.
Vede Eerredo, Liv. 9. pag. 294.
(O Epilogo de Pedro {.'arreto. — Faria, As» Portugueza, tomo j.
Parte {. Cap. 11. diz, que as Náos erão Indicas. — Viagem de Eduar
do Terri ás índias Orientaes , no tomo 1. das Viagens de Th*renot,
Paris, 166). Fen í hia nr> navio Carlos, cuja relação principalmente
segui, por ser testemunha ocular, e náo suspeita no que be relativo
ao valor de D. Majioel de Menezes*
176
-
195
iózi. — A Náo Conceição (i), acabada de fazer na
índia, partio de Goa no primeiro de Março de 1621;
era seu Commandante Jeronymo Corrêa Peixoto, que ti
nha ido de Portugal commandando a Náo Guia; e por
esta ser mui velha , passou com toda a guarnição para a
Conceição, que ainda estava no estaleiro.
Sahio também com ella a Náo Penha de França ,
em que vinha por Chefe daquella Esquadra Gaspar de
Mello; e com vento prospero forao de conserva ver a
terra ao Norte do Cabo de Boa Esperança, com cincoen-
ta e três dias de viagem. Chegando com vento em po
pa á vista do Cabo , saltou-llies o vento á proa tão ri
jo, e com tanto mar, que huma vaga arrebatou hum pas
sageiro; e andarão quarenta e quatro dias ao pairo, sem
poderem dobrar o Cabo. Neste tempo separou-se a Con
ceição, por culpa dos seus Officiaes , que vinhão cora.
iúézs de chegar primeiro a Lisboa.
. \ No fim destes dias de pairo, as correntes levarão a
Náo para fora do Cabo, e então quiz saber o Comman
dante, se tinha agua bastante para chegar a Portugal; e
parecendo pouca a que se achou, resolveo-se, por voto
dos Ofticiaes, ir a Santa Helena, porque o Regimento
assim lho mandava em caso de necessidade, prohibindo
expressamente arribar ao Brasil, ou a Angoli. Sobre
isto houverao muitas dissensões entre elle e D. Luiz de
Sousa, que vinha por passageiro com sua mulher, c fa
mília, e não lhe parecia bem a arribada a Santa Hele
na , com receio de achar alli alguns navios Hollandezes.
Chegada a Náo a Santa Helena, não encontrou em
barcação alguma; e sendo necessário dar-se huma espia,
\.
199
fico, que por mui' gordo, e ferido não podia andar. Des
te modo forão caminhando com mil incommodos, e mi
sérias, sempre ao longo da Costa. ~ — «» -
Nos fins de Novembro hião já todos tão cançados,
que ao passar de hum rio, lanharão nelle todo o âmbar,
e almíscar; e os que transporta vão as Senhoras, se escu
sarão de continuar a marcha com siroilhante pezo. Por
esta causa deixarão atraz huma donzelta , com a oua(
queria ficar hum irmão seu de poucos annos; e não o
consentindo os companheiros, a I li morreo de dor- á vis
ta da irmã. Já fallecião alguns de pura fraqueza, e os
mais fortes , não querendo aguardar pelos mais débeis ,
conspirarão se para se apoderarem de todos os diaman
tes, e abandonarem os companheiros. Soube disto Pedro
ae Moraes, e matou o cabeça da conjuração.
.. Era meado de Dezembro , quando os que ainda Ie»
vavão quatro Senhoras, não quizerão continuar acueiJe
serviço; offerecerão-se dez mil cruzados a quem as levas
se, e ninguém quiz. Ficarão abandonadas dez pessoas,
entre eltas Lopo de Sousa, e. Beatriz Alvares com hum
.filho de dezescis annos, que por nenhum caso quiz aban
donar sua mni. Deixarao-se-lhes os seus escravos para os
ajudarem a buscar modo de sustentar-se; mas estes bár
baros os assassinarão , e reunirão-se ao corpo principal
da gente; porém descoberto o seu delicro, forro enfor
cados. A fome obrigou alguns indivíduos a comer a car
ne dos justiçados, e dos outros que hião morrendo. Fal-
feceo o Commandante Pedro de Moraes; succedeo-lne
Francisco Vaz de Almada ; e havendo pouco mais de
cento e cincoenta homens, metade incapazes de pelejar,
os assaltou o Regulo Mocaranga com mil Cafre?, e ma
tando alguns Portuguezes , despojou os outros do que le-
yavão. Os que escaparão a este ultimo desastre em nu
mero dç trinta e hum indivíduos, chegarão finalmente a
Sofala, havendo caminhado perto de quinhentas legas.
20»
r
211
Pedro Heyne, intrépido cíhabil mflrmlieft-o ínglez; Gèb
neral das tropas oCorooeí Hans Vandorr, soldado .tio
reputação; Cominandance da Artilheria Guilherme- ,Ston
pe ; e CotHirnssnrio Geral Hugo António. ■;:/. odift
Sahio a Esquadra de Hollàndjl a n de Dezembríi
de 1623 , levando o seu General «Ordens íelladas,nqu«
devia abrir em Cabo Verde (outros' dtaeai , que passidà
st linha); mas não obstante o segredo, aures da sua ^jar-
tida soube-se em Lisboa por cartas de Arnsterdam;i que
o seu destino era para o Brasil^ e avisadar logo a Corte
de Madrid, nenhum caso fez da advertência ; ou por dar
mais credito ás vozes espalhadas na Hollanda, de que o
projecto era atacar as índias de Castella , ou por se em
baraçar pouco com a perda das Conquista» de Portugal;
e talvez essa mesma perda entrava nos cálculos da falsa
Politica daquelle Gabinete. : ...... . ■ <. <,. ■«,.
Em Janeiro deste anno de 1614 chegou a Esquadra
á Ilha de S. Vicente, buma das de Cabo Verde, onde
6e deteve seis semanas, armando oito Patachos peque
nos , de que hião todos os aparelhos , e peças lavradas
nos porões dos navios, armado cada hum com quatro
canhões. Abertas aqui as InstrucçÕes particulares, cau
sou nas guarnições grande alvoroço ser a expedição á
Bahia , esperando cada hum; fazer a sua fortuna com os
despojos de tão rico Paiz.
Partio a Esquadra da Ilha, e navegando desunida,
achou-se a 16 de Abril o General Willekens com ò seu
único navio á vista do Morro de S. Paulo, dez léguas
ao Sul da Bahia, e resolveo esperar bordejando a Esqua
dra naquella paragem , como fez , accendendo de noite
faróes, e dando tiros de peça, para que não passasse sem
elle a ver, e neste cruzeiro se dilatou vinte e três dias.
Era Governador dos Estados da B^hia Diogo de
Mendonça Furtado , que sendo avisado de andar naquel-
les mares hum grande navio de guerra estrangeiro , que
11 ii
212
não buscava o Porto, e fazia de noite signaes, infcrio que
esperava por outros, de que se separara ; e fez armar dois
navios com a roelhor gtwerqinrtiiíhari mandando a sen
filho António de Mendonça Furtado , que o fosse atacar.
Sahio este a 24 de Abril, e no dia seguinte entrou arri
bado, com os mastros do seu próprio navio rendias.
O Governador , mudando de parecer, enviou dois Pata
chos mui veleiros com instrucções , que fossem reconhe
cer o navio estrangeiro, e se elle mandasse algum escaler
a seu bordo, o apresassem, e fugissem para se saber dos
prisioneiros quem era , e o que por ai li fazia. Os Pata
chos partirão a 7 de Maio, e no outro dia avistarão de
longe a Esquadra Hollandeza, a qual conhecerão logo,
e por isso se recolherão a dar a noticia.
■-■ Acl>ava-se o Governador falto de tudo quanto era
necessário para resistir a huma invasão Toda a sua tro
pa de linha consistia em oitenta soldados , e alguns Au
xiliares : as fortificações, além de defeituosas, estavão
quasi destruídas; e faltavão as armas, artilheria , e mu
nições. Ao primeiro aviso, que teve da apparição daqaeí-
le navio estrangeiro, convocou elle das Aldeãs, e Enge
nhos do Recôncavo toda a gente capaz de combater.
Reparou alguns entrincheiramentos , e construio outros
de novo, assim como hum Forte na Marinha da Gda-
de, em que montou algumas peças; e cortou as bocas
das ruas. Estavão surtos no Porto dezoito navios deCom-
mercio, dos quaes escolheo os melhores para fazer huma
tal qual linha de defensa na frente daGdade; e no For
te de Santo António, situado na entrada da Bahia, es-
tabeleceo huma pequena guarnição, sendo este ponto da
maior importância , por estar no flanco esquerdo da Ci
dade. O mesmo fez em hum Reducto na praia de Ta-
pagipe, que ficava no flanco direito. Os moradores acu
dirão ao chamado do Governador; mas costumados a
huma vida molie, em breves dias se enfastiarão dosexcx*
213
cicios de armas, rondas, e guardSs que os obrigavão a
fazer; e com pretexto da falta de mantimentos, rom
perão em queixas clamorosas, abrigados pelo Bispo D.
Marcos Teixeira , que estava persuadido de que os Hol
landezes só vinhão a fazer presas marítimas, e não con
quistas. Assim foi o Governador obrigado a despedir al
guma gente no fim de vinte e três dias ; e outra muita
se retirou sem licença.
A entrada dos dois Patachos, que annunciavão a
vinda dos Hollandezes, pôz a Cidade de S. Salvador em
consternação : mais de três mil homens fugirão para os
bosques, levando o que tinhão de mais precioso; e mui
tos Officiaes não forao dos últimos a dar o exemplo, a
pesar dos rogos, e ameaças do Governador, e das exhor-
taçôes do Bispo, que já conhecia o seu erro; porém tu
do foi de balde.
A 9 de Maio amanheceo a Esquadra Hollandeza na
boca da Bahia, em numero de trinta e três velas. Cin-
-co dos maiores navios derão fundo na ponta de Santo
António, e o resto foi surgir na fronteira da Cidade, e
começou a bater as fortificações. Tinha o Governador
mandado na véspera os Capitães Gonsalo Bezerra, e Ro
drigo de Carvalho Pinheiro com as suas Companhias,
que consistião em 180 Portuguezes, e huma Companhia
de índios frecheiros commandada pelo Capitão AfFonso
Rodrigues, para tomarem posição na praia de Santo An
tónio, e obstarem a qualquer desembarque: e os Offi
ciaes, que commandavão alguns pequenos postos naquel-
las visinbanças , receberão ordem, de acudir á mesma
praia, em caso de ataque. Era porem tal o terror pâ
nico dos defensores, quasi todos Ordenanças, e paizanos
irai armados, e peior disciplinados, que quasi sem op-
posição deixarão desembarcar os Hollandezes em nume
ro de mil homens, os quaes marcharão até ao Mosteiro
de S* Bento, sendo o Paiz tão coberto, e difficil, que
214
podião ser alli anniquilados. Era isto já ao anoitecer, e
os soldados Hollandezes, cançados, e abatidos do calor,
e quasi todos bêbados, ou se deiravão a dormir, ouse
espalhavão a buscar agua ; de maneira , que se aquelta
noite os atacassem duzentos homens resolutos, nem hum
só escaparia.
Os navios Hollandezes, que batião a Cidade, o fize-
rao com grande fúria ; e ainda que os Portuguezes respon-
dião ao seu fogo, este era tão superior, que todas as for
tificações ficarão desmanteladas , e algumas embarcações
tomadas, e outras queimadas. Restava o Forte novo,
que os Hollandezes assaltarão nessa noite, e ganharão fa
cilmente, morrendo vinte dos defensores: depois encra
varão as peças, e recolherão-se a bordo. Os Portugue
ses , vendo-os retirados, tornarão a oceupar o Forte, que
o Governador mandou abandonar , vendo impossível a
sua conservação.
No dia seguinte 10 occnpárão os Hollandezes todos
os Fortes da marinha, e os de Santo António, e Tapagi-
*pe. Os moradores, dando tudo por perdido, tinbão des
amparado de noite a Cidade, com o Bispo. Ficou somen
te no Palácio o Governador, seu filho, o Capitão Louren
ço de Brito Corrêa , o Sargento Mor Francisco de Al
meida de Brito, o Ouvidor Geral Pedro Casqueiro da
Rocha, o Alferes Manoel Gomes, e seis criados. O avi
so desta deserção foi levado naquella manhã aos Hollan
dezes por hum Judeo chamado Diogo Lopes de Abran
tes; e entrando logo na Cidade as tropas, que oceu pavão
S. Bento, chegarão ao Palácio , d'onde sahio o Capitão
Lourenço de Brito a dizer-lhes, que o Governador esta
va alli com muita gente, e se renderia se lhe concedes*
sem sahir com todos os seus livremente, aliás se defen
■N deria , e na ultima extremidade poria fogo á pólvora.
Concederão os Hollandezes tudo, centrando a oceupar
a parte inferior do Palácio, o Governador imprudente»
215
mente desembainhou a espada; acção de que elles toma—
rio pretexto, percebendo a pouca gente que havia na.
casa, para annullarem a capitulação, e o remettcrem pre-,
so para bordo do Almirante, e depois para Hollanda.
Seguio-se a isto saquearem a Cidade, em que acha
rão, além de muito ouro, e prata, grandes armazéns atu
lhados de géneros do Paiz, e da Europa, de que manda
rão quatro navios carregados para Holíanda.
O General Vandort entrou no dia n na Bahia, e
sentio muito os excessos commettidos pelas suas tropas.
Tratou immediatamente de fortificar a Cidade, sobre tu
do da banda do mar, em que concirno o Forte novo, e
levantou mais dois, e diversas baterias bem guarnecidas
de-arul-heria. Favoreceo a fortuna os Hollandezes, tra
zendo áquelle Porto muitos navios Portuguezes, huns da
Europa, outros de Angola carregados de escravos, que
elles empregarão nas fortificações, as quaes por isso me
drarão muito em pouco tempo. Entre os navios assim
tomados foi hum Hespanhol, em que vinha D. Francis
co Sarmento Soutomaior, que acabava o lugar de Cor-,
regedor do Potozi , com sua mulher , e filhos , e outras
familias, a bordo do qual se acharão setecentas mil pa
tacas em pinhas, e moeda. ,-
Os moradores da Bahia, recolhidos nos bosques, e
mattos, rcsolverão-se a fazer os maiores esforços para re-
ganharem o que com tanta ligeireza largarão, já desen
ganados de que os Hollandezes querião conservar a Ci
dade, para dalli estenderem as sua-s conquistas. Por com-
ruum consentimento tomou o Bispo o commando geral ,
auxiliado por alguns Orriciaes práticos na guerra do ser
tão. Toda a gente Portugueza capaz de combater ex
cedia pouco a mil e quatrocentos homens , e duzentos e
cincoenta índios, com poucas munições, e nove peças de
artilheria ; mas a natureza do Paiz tornava formidável
este pequeno numero de homensj animados do maior fur;
216
-
221
vara , Conselheiro de Guerra , Capitão General da Ar
mada do Estreito, e Almirante do Mar Oceano. Era
Mestre de Campo General das tropas Portuguezas, e
Hcspanholas, Pedro Rodrigo de Santo Estevão, Mar
quez de Cropani ; e Tenente General Diogo Rodrigues,
que servia de Quartel Mestre General. Mestres de Cam
po D. João de Orelhana , Carlos Caraciolo , Marquez de
Torrecuço (do Terço Italiano), e D. Pedro Osório.
Embarcarão de Aventureiros muitos Fidalgos, e pessoas
distinctas por nascimento, ou empregos.
Como o Armamento de Lisboa se achou prompto
no mez de Novembro, quando o de Cadix estava ain
da muito atrazado, resolveo-se que a Esquadra Portu-
gueza fosse esperar a de Hespanha nas Ilhas de Cabo
verde, sendo-lhe indispensavelmente mais vantajoso ir
a Cadix, para sahir dalli a Armada toda junta. Partio
D. Manoel de Menezes a 22 de Novembro de 1624
com a sua Esquadra : a 29 avistou a Ilha da Madeira ;
a 6 de Dezembro passou entre Tenerife e a Palma ; e a
19 tomou as Ilhas de Cabo Verde. O Galeão Concei
ção, em que hia António Moniz Barreto , separou-se da
Esquadra no dia 14 de Dezembro , e no mesmo dia 19
foi dar fundo sobre o baixo de Santa Anna, junto á Ilha
do Maio (1), errando o seu Porto, no qual estavão sur
tos sete navios da Esquadra ; e falrando-lhe as amarras ,
naufragou na noite de 21, salvando se a maior parte da
gente, toda a artilheria , o aparelho, e quasi toda a car
ga ; e por ultimo deitou-se fogo ao casco.
Em quanto isto se passava na Hespanha , navegava
da Bahia para Angola o Almirante Heyn , onde chegou
a 30 de Outubro ; mas vio taes disposições de defensa
(havendo chegado primeiro o soccorro de Portugal), que
(1) Chamado Recife do Norte na bella Carta Ingleza de iSjs,
quasi duas milhas afastado da Ponta do Norte da Ilha. Os sete navios
cstaváo no Porto situado na parte, do SuL .,
222
não ousou desembarcar; e contentando-se com algumas
fáceis presas nas embarcações de trafico, voltou dulli á
Capitania do Espirito Santo. A ia de Março do anno
seguinte desembarcou aili, com o intento de ganhar a
Villa da Victoria , Capital da Província ; porém foi re
chaçado com perda pelo Donatário Francisco de Aguiar
Coutinho, auxiliado de Salvador Corrêa de Sá, que seu
pai Martim Corrca de Sá mandava do Rio de Jane/ro
era soccorro da Bahia cora duzentos homens, e por hum
feliz acaso entrara no Porto do Espirito Santo. Não foi
Heyne mais venturoso em huma segunda tentativa em
que perdeo huma lancha com perro de quarenta homens.
E fazendo-se á vela para a Bahia , chegou á ponta de
Santo António, d'onde descobrio a Armada de Hespa-
nha surta no Porto; o que o obrigou a seguir derreta
para a Europa.
1625-. — A Esquadra da índia Ci) reduzio-se este
anno a duas Náos : S. Bartholomeu , em que embarcou
o Chefe Vicente de Brito c Menezes: e Santa Helena
de que era Commandante João Henriques.
Sahírão de Lisboa a 2 de Abril; chegarão a Goa
nos princípios de Setembro ; e na torna-viagem se per
derão na Costa de França , como adiante direi.
1626. — A 14 de Janeiro deste anno (2) sahio de
Cadix a Armada Hespanhola , que constava de vinte e
hum navios de guerra, sete navios afretados, e armados,
e sete transportes; pela maneira seguinte:
ESQUADKA DO ESTREITO.
Esquadra da Biscaia.
Galeão S. João Baptista, onde hia o Capitão Generat
Martim de Valecilla , de 600 toneladas, 248 Soldados,
114 Artilheiros, e marinheiros, e 28 peças.
Galeão S. José, de 400 toneladas, 136 Soldados, 48
Artilheiros, e marinheiros, e 16 peças.
Galeão Santa Thcresa , de 446 toneladas, 172 Solda
dos, 77 Artilheiros, e marinheiros, e 20 peças.
Galeão Senhora da Atalaia, de 446 toneladas, 184
Soldados, 66 Artilheiros, e marinheiros, e 16 peças.
ESQOADBA. DE Na POLÉS.'
Transpories.
Patacho S. Jorge, de 200 toneladas, 150 Soldados j
113 Artilheiros, e marinheiros.
Patacho Senhora do Carmo, de 200 toneladas, ijTCj
Soldados, e 113 Artilheiros, e marinheiros.
Caravela S.João Baptista, 17 Soldados, e 30 Arti
lheiros, e marinheiros.
Caravela Remédios, 17 Soldados, e 30 Artilheiros,'
e marinheiros.
Tartana S. João, 27 Soldados, e 21 Artilheiros, e ma»
dinheiros.
Tartana S. Pedro Maior, 27 Soldados, e 21 Artilhei
ros, e marinheiros.
Tartana S. Pedro Menor, 27 Soldados, e 21 Artilhei
ros, e marinheiros.
Os navios de guerra levavão munições para quareiH
ta tiros por peça.
Total das guarnições , excluindo Officiaes, Aventu
reiros, e creados; Soldados delnfanteria 5*232 ; Artilhei
ros, e marinheiros 1878; Peças de artilheria 642.
A 6 de Fevereiro cbegou D. Fradique de Toledo
á IHia de S. Tiago de Cabo Verde : arriou D. Manoel
de Menezes a bandeira do tope grande, e salvouo com
cinco tiros de canhão, a que D. Fradique respondeo com
três tiros, arriando igualmente a sua bandeira, que logo
TomolL 2V
.226
ambos tornarão a içar, e ao mesmo tempo sahírão nos
seus escaleres a visiwr-se.- Chegou primeiro D. FraJi-
que á Capitanea Portugueza , e ahi esperou que D. Ma-
-uoel voltasse de bardo da sua , havendo-se desencontra
do no caminho. Passados os primeiros cumprimento?,
'voltarão ambos para a Capitanea de Hespanha , onde
conferirão sobre as futuras operações.
Publicou-se a bordo de todos os navios a ordem de
suecessão no Commando geral da Expedição, que EIRei
determinava se praticasse em caso de faltar o General
em Chefe, a qual era a seguinte: Primeiro suecessor D.
João Fajardo ; segundo D. Manoel de Menezes; tercei
ro o Marquez de Cropani ; quarto Martim de Valeciíla;
,€ ultimo D. Francisco de Azevedo.
A li de Fevereiro sahio toda a Armada da ílb*
.de S. Tiago; passou a Linha a $■ de Março; e soffitrn-
do algumas calmarias, adoecerão muitas pessoas a bordo
dos navios Hespanhoes , porém fallecêrão poucas.
A 29 avistarão terra da Bahia , e tomarão língua
lia Torre de Garcia de Ávila, onde souberlo o estado
das cousas, e que os Hollandezes já sabião da sua via-
.da, por haverem tomado hum Patacho expedido de Lis
boa com avisos a D. Francisco de Moura. No mesmo
cdia derao fundo defronte da Ponta de Santo António, e
alli veio D. Francisco de Moura a bordo de D. Fradi-
oue, e lhe contou que os Hollandezes tinhao na Cidade
dois mil e quatrocentos homens, e cento e oitenta ca
nhões nas baterias, e haviao feito muitas presas, tanto
no mar, como em navios entrados no Porto, sem sabe
rem que estava oceupado por elles. Que agora tinhao
abandonado os arrabaldes do Carmo, e S. Bento; e que
á sombra de três Red uc tos construídos na Marinha , es-
tavão ancorados os seus navios em numero de vinre e
seis, sendo seis de guerra de 30 a 40 peças, e os ourros»
dos que ach4rão np Porto, ou apresarão depois j e tinha©,
227
K
229
Os descobriSo do alto da praia, e ndles deixarão der pe- <
ças desmontadas. Mandou D. Fradique occupar logo;'
ambos os Forres, o que lhe facilitou o desembarque da
arrilhcria grossa, e munições de guerra pata fortificar ;os ,
seus Quartéis. -, .!•.:. .:j . < ,'■
A 4, pelo meio dia, fizerão os Hollandezcs huma •
sortida da parte de S. Bento, com dois destacamentos
de trezentos homens cada hum, commandados pelo Co
ronel JoãoQuif, soldado intrépido, e intelligente, o qual
cahindo de súbito sobre o Terço Hespanhol de D. Pe
dro Osório, cujas guardas estavão com pouca vigi», pôz
todo aquelle Quartel em confusão ; e se tivesse maiores
forças, poderia causar grandes perdas. Acudio ao reba
te D. Pedro Osório com a Companhia de D. Henrique
de Alagon, .sustentada pelas de D. Pedro de Santo Es
tevão, e de D. Ramires de Haro : coinbateo-se. cora gran
de, valor de ambas as partes; mas chegando suecessivos
reforços conduzidos pelo Marquez de Cropani, retira- .
rao-se os Hollandezes com tanta cautela, que attrahírao
os seus contrários dentro do alcance das muralhas, d'on-
de lançarão sobre elles huma saraiva de balas de canhão,
e de mosquete. Morrerão nesta acção o Mestre de Cam
po D. Pedro Osório, os Capitães D. Pedro de Aguilar,
D. Alonço de Espinosa , e D. Pedro de Santo Estevão,
sobrinho do Marquez, de Cropani; c os Alferes D.João
de Torre Blanca, e D. Diogo Manrrque, com sessenta
c cinco soldados. Ficárãd feridos os Capitães D. Henri- •-
que de Alagon, sobrinho de D. Fradique, D. Diogo
Ramires de Haro ,- e D. Diogo de Gusmão;, e o AJferes
D, Pedro de Medrano; e noventa soldados.
A 5* rapntarão-se quatro canhões nas baterias de
S. Bento , e continuarão a desembarcar as munições de
guerra , e mais petrechos necessários naquelle Quartel.
A! noite fizerão os Hollandezes outra sortida, em que
230
■•
diários, que nenhum damrtofizferío, por estarem já lon
ge os dois Galeóes, e toda a Armada d vela , na. falsa
hypothese da fugida da Esquadra Hollandeza; de ma
neira, que este erro feliz salvou naquella noite, a Mari
nha Hespanhola.
A 7 o Marquez de Cropani tinha desmontado a
artilheria dos sitiados da banda de S. Bento , e arruina
do parte da muralha; o que elles reparavão com trin
cheiras, e cortaduras que faziâo por dentro.
A 8 huma bateria de quatro canhões construída no
Quartel de D. Fradiquc começou a atirar aos navios
• Hollandezes, e os maltratou muito. No mesmo dia hu
ma bala disparada da Praça levou huma perna ao Mor
gado de Oliveira Martim Aífonso de Oliveira e Miran
da, Fidalgo de grande reputação, que falleceo com ge
ral sentimento.
A IO, recebendo o Marquez de Cropani hum re
forço de quatro canhões, formou huma bateria de oito
♦.peças a menos de tiro de mosquete. das muralhas, junto
á porra de S. Bento.
A 12 desembarcarão dos navios oitocentos soldados
• para o Quartel do Carmo.
A 14 mandou D. Fradique estabelecer hum aloja
mento no sitio das Palmeiras , a meio tiro de mosquete
àa muralha , com huma bateria de seis canhõeí. No
.mesmo dia chegou Salvador Corrêa de Si com, o-soc-
corro do Riò de Janeiro, que constava de duzentos e cin-
-coenta homens , entre Porruguezes de espada , e rpdela y
e índios frecheiros , todos embarcados em duas Carave
las, e duas grandes canoas. Pelas dez horas da noite en
trou no Porto hum Patacho Hollandez, cuiie. fallou a hum
dos navios da Esquadra ; e reconhecendo que esrava entre
inimigos, virou de bordo, e escapou. Este Patacho. trazia
noticia aos sitindos da vinda de huma formidável Esquí-
.<ira em seu auxilio» .......... T; ; ,
232
A 16 mandou D. Fradique construir huma bateria
de seis canhões defronte da casa dos Jesuítas, onde os
Hollandezes tinháo vinte e quatro peças montadas, que
fazião muito damnoaos sitiantes; e déo o cominando
delia ao Tenente General da Artilhem Sebastião Gra-
nero. ' ' '
A 17 a bateria de S. Bento tinha arrasado numa
trincheira , que os sitiados havião construído de novo; e
lhes desmontou três peças nella assestadas. Na manha
deste dia chamou D. Fradique para o Quartel General
do Carmo ao Marquez de Cropani , havendo destacado
para o das Palmeiras os Mestres de Campo D.João de
Oreliana , e António Moniz Barreto.
A 19 começarão a jogar vigorosamente as baterias
do Carmo, e assim continuarão nos dias seguintes, der
ribando metade da muralha, e descavalgando mais de
vinte peças. Veio hum desertor Inglez da Cidade, que
disse, que os Francezes, e Inglezes querião capitular, mas
os Hollandezes não. Outro desertor confirmou o mes
mo.
A 20 construio D. Manoel de Menezes com a gen
te da sua Esquadra huma bateria na praia , contra os
navios Hollandezes, com a qual metteo alguns no ruo-
do.
- A 23 levantou o General Valevilla outra bateria
junto á de D. Manoel, da qual bateo os Fortes da Ma
rinha.
A 26 augmentarão-se as baterias do Carmo cora
quatro peças, de modo, que a Praça era agora batida
por trinta e quatro canhóes de calibres 35, e 22, e o fo
go continuava de noite , e de dia : os aproxes estaváo
por todas as partes na borda do fosso.
A 27 chegou hum desertor Francez , que relatou a
D. Fradique como tinha havido huma insurreição con
tra o Governador Guilherme Schoutons , em que esis foi
1
233
deporto, e escolhido em seu lugar o Coronel Quif; e
que tratavão de capitular. Com effeito Schoutens não ti
nha o animo, e talentos necessários para o commando,
que nelle recahio pelo acaso da sua antiguidade. Augmen-
tava mais a sua frouxidão a falsa idéa em que estava de
ser impossível á Hespanha mandar huma expedição á
Bahia , antes que a sua Republica lhe enviasse hum po
deroso soccorro; e tão emperrado se conservava nesta opi
nião, que quando entrou a Armada Hespanhola, ainda
cria que era a Hollandeza. A guarnição era composta em
grande parte de mercenários Francezes, e Inglezes; que
não tinhão interesses nacionaes que os movessem a pro
longar a resistência até á ultima extremidade; e por ou
tro lado escandalizados das más disposições, e conheci
da pusillanimidade de Schoutens, moverão huma subleva
ção, cujo resultado fica referido. Porém o brilhante va
lor de Quif não pôde restabelecer a disciplina em tropas
tão mal organizadas : além disso , estava já a todos pa
tente, que ao menos de chegar promptamentc de Hollan-
da huma Esquadra capaz de destruir os Hespanhoes, a
Cidade seria forçada a capitular; e sendo incerta a épo
ca da vinda do soccorro , poderia ser entretanto ganha
da por assalto ; projecto que D. Fradique muitos dias an
tes tinha proposto emprehender , e não foi approvado.
Resolutos a final os Hollandczes a capitular, salií-
rao no dia 30 da Cidade o Commandante da Artilheria
Guilherme Stope, o Comraissario Geral Hugo António,
e o Capitão Francisco Duchs, todos três do Conselho,
e vierao ao Quartel de D. Fradique , com quem se acha-
vão o Marquez de Cropani, os Mestres de Campo D.
João de Orellana , António Moniz Barreto , e D. Fran
cisco de Almeida, o Doutor D. Jeronymo Qyijada de
Solorrano , Auditor Geral do Exercito , o Tenente de
Mestre de Campo General Diogo Rodrigues, e o Sargen
to Mor João Venâncio de S. Felice, todos do Conselho,
Tomo II. 30
234
.
277
pequenos Fortes de S. Francisco, e S. Jorge, em que
consumirão até ao dia 4 de Março.
Mathias de Albuquerque retirou-se para os bosques
com todos os moradores de Olinda , e do Recife , e foi
tomar posição a huma legoa dos inimigos , onde con-
struio hum campo entrincheirado, a que chamou Arraial
do Bom Jesus, e dalli evitava aos inimigos tirarem van
tagens da campanha.
Chegada a Madrid a primeira noticia da perda de
Pernambuco, mandou EIRei ordem a Lisboa, para se
lhe enviarem successiva mente alguns soccorros, em quan
to se não preparava hum armamento maior. Partirão
primeiro duas Caravelas commandadas por António de
Araújo, e Gomes da Costa, levando cada huma trinta
soldados, e algumas munições; e após ellas mais outras
sete, cujos Commandantes erao Francisco de Freitas,
Paulo de Parada (que occupou grandes Postos, e morreo
Conselheiro de Guerra em Hespanha), António de Ma
dureira Trigo, Francisco Duarte, Manoel Quaresma Car
neiro, João de Magalhães Barreto, e Bento Maciel Pa
rente, conduzindo cada huma de trinta a quarenta sol
dados, e algumas muniçóesr
Estas , e outras embarcações , que hião de Portugal
com soccorros, aportavão onde podião, porque os Hol-
landezes cruza vão de continuo sobre a Costa de Pernam
buco: humas arribavão ao Rio Grande, e á Parahiba,
outras tomavão Portos quarenta, e cincoenta léguas ao
Sul do Recife, de modo que a conducção dos soldados,
e munições ao Campo do Bom Jesus custava infinitos
trabalhos, e grandes perdas, e ás vezes muitos mezes de
demora.
Huma destas Caravelas achou-se junto á Bahia da
Traição cercada de dois navios Hollandezes, de hum
dos quaes se destacou huma lancha com trinta homens
para a abordar : os Portuguezes , não podendo escapar^
278
Navios Hespanboes.
; , ■>. >b
Galeão S. Tiago de Leste, em que hia o General
Oquendo, de 900 toneladas, 280 Soldados de Infanta
ria, 180 Artilheiros, e marinheiros, e 44 peças.
Galeão Santo António, em que hia o Almirante, de
700 toneladas, 218 Soldados, 126 Artilheiros, e mari
nheiros, e 28 peças.
Galeão Capitanea das Quatro Villas, de 700 tonela
das, 210 Soldados, lio Artilheiros, e marinheiros, e 28
peças. -
Galeão S. Boa Ventura, de 5-00 toneladas, 160 Sol
dados, 83 Artilheiros, e marinheiros, e 22 peças.
Galeão S. Martinho de Guipuscoa, de 45-0 toneladas,
166 Soldados, 75" Artilheiros, e marinheiros, e 18 pe
ças.
Galeão S. Pedro das Quatro Villas, de 45:0 toneladas,
170 Soldados, 74 Artilheiros, e marinheiros, e 20 pe
ças.
Galeão S. Bartholomeu, de 444 toneladas, 185" Sol
dados, ioy Artilheiros, e marinheiros, e 18 peças.
Galeão Capitanea de Mazabrady, de 601 toneladas,
18c Soldados, 105" Artilheiros, e marinheiros, e 30 pe
ças.
Galeão Almirante de Mazabrady, de 622 toneladas,
172 Soldados, 112 Artilheiros, e marinheiros, e 26 pe
ças.
Galeão S. Carlos, de ^eo toneladas, 173 Soldados, 87
Artilheiros, e marinheiros, e 24 peças.
230
Transportes. .
37 ii .'
292
r»-. !. • ^
'■iJ^JTtèoVo rs."
Soldo de dois Calafates 34èooo
Ditei de hum Tanoeiro ijèooo
Dito de hum Cirurgião 18&000
I5":4f 1^014
Mantimento para 114 praças de Mari
nha para dez mezes, custando cada
ração por mez a 2&200 rs. ... 2:5-08^000
Dito para 151 praças de Infanteria pa
ra seis mezes •• -. •.-.-.... 1:003^000
Custo de 24 peças , doze de bronze , e
doze de ferro, pezando huma por outra
a 15 quintaes, sendo o custo do quin
tal de bronze a 15&000 r«. ,. e o de
ferro á 3A640 rs# . •» ••'". ." .
Para munições de guerra ,. e trem noto
de artilheria . . -. .. •. / '► . 1:381^:06
1 . .
-
347
ria; e ao Almirante Martheus Esfrondati levou humâ
palanqueta a cabeça: ficou logo o seu Galeão em des
ordem , e em quanto os Officiaes disputa vão entre si
o Commando. foi cercado, e tomado por cinco navios
Hollandezes, como já havia sido o navio Engueven ,
.Dinamarquez afretado. ■
A tomada do Galeão de Esfrondati accendeo em
ira a Oquendo, e a todos os Officiaes Hespanhoes, que
com hum novo vigor atacarão os Hollandezes; mas
Tromp evitou a acção , e pelas quatro, horas da tarde
navegou para Cajé, levando a reboque o Galeão, que
a pouco espaço largou, por não se empenhar em ou
tro combate. A falta de pólvora foi o motivo desta in
tempestiva retirada, segundo elle próprio confessou de
pois a D. Francisco Manoel. •
D. António de Oquendo , achafldo-se mais perto
•das Dunas, que os Hollandezes de Cale, foi dar fundo
naquelle Porto.
Não estavão naquella época em boa intelligcncia
as Cortes de Londres, e de Madrid, e por isso a en
trada de tão grande Armada nas Dunas despertou sus
peitas, e ideas differentes em Carlos I. , e nos seus Mi
nistros, e mesmo nos Chefes dos partidos em que se
dividia aquella Nação, tendo huns os seus interesses
identificados com' os da Hollanda , e outros com os da
França. Augmentou-se esta inquietação com a chegada
do Almirante Tromp, que no dia seguinte veio dar
fundo com vinte e quatro navios hum pouco mais ao
mar das Dunas, como para embaraçar aos Hespanhoes
& communicação com a Flandes, e até a sahida d'aquel-
le Porto.
Tromp havia recebido em Cale quatrocentos quin-
taes de pólvora, e outras munições de guerra, de que
tinha grande necessidade; e remettendo para Hollanda
os navios maltratados, com o Vice-Alrairante De Witt,
44 ii,
"348
pedio . novos reforços , que os Estados Geraes prepara
rão com tão extraordinária actividade, que cm breves
dias chegarão ás Dunas cento e dez navios , entre em
barcações de guerra, e de transporte, incluindo dezese-
te Brulotes ; além dè huma Esquadra , que ficou cruzan
do no Canal para interceptar os soccorros, que viesseai
da Flandes.
; O Cardeal Infante estabeleceo a sua residência era
Dunquerque, e d'alli mandou o Mestre de Campo D.
.Simão Mascarenhas a tratar com Oquendo sobre o mo
do de transportar a gente, e dinheiro, e as munições
-que vinhão na Armada destinadas para aquelíes Esta
dos. Assentou-se em hum Conselho secretíssimo-, Om
■o Infante mandasse de Dunquerque o maior numero
de embarcações ligeiras de pesca , ou trafico , que Ibe
fosse possível, as quaes amanhecendo nas Dunas en
tre a Armada , e encostando-se cada huma a seu na
vio , voltariao de noite cari egadas , sem serem vistas
do inimigo. Para melhor assegurar o bom resultado
deste projecto, ordenou D. António de Oquendo, que
treze navios estivessem promptos a fazer-se á vela, sem
lhes dizer quando, nem para que.
Na manhã de 27 de Setembro se acharão junras
no Porto das Dunas cincoenta e seis embarcações de
Flandes , que os Hollandezes julgarão virem com refres
cos para a Armada Hespanhola , e para levarem os
seus feridos; e nesta hypothese não fizerao opposiçao al
guma. A*s nove horas da noite salmão os treze navios,
que estavão promptos, com todos os barcos carrega
dos, favorecidos de huma espessa névoa, e pelas nore
da manhã entrarão a salvamento era Dunquerque, que
distava quinze léguas , á excepção de sete , ou oito com
trezentos soldados, que as Fragatas Hollandezas toma
rão. O Almirante Tromp avisado deste suecesso , nua
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