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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PESCA

CARACTERIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO E DOS CONSTRUTORES DE


JANGADA E A EVOLUÇÃO DA FROTA NO ESTADO DO CEARÁ.

MARILDO MACIEL MONTENEGRO

Monografia apresentada ao Departamento


de Engenharia de Pesca do Centro de
Ciências Agrárias da Universidade Federal
do Ceará, como parte das exigências para a
obtenção do título de Engenheiro de Pesca.

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL


JULHO/2007
COMISSÃO EXAMINADORA:

Prof. Marcelo Augusto


1/ ezerra, M.

Orientador

/ 7--
Reynaldo Amorim Marinho, M. Sc.
Membro

Prof. Tito Monteiro da Cruz Lotufo, D.Sc.


Membro

VISTO:

Prof. Moisés Almeida de Oliveira, D.Sc.


Chefe do Departamento de Engenharia de Pesca

Prof. Raimundo Nonato de Lima Conceição, D.Sc.


Coordenador do Curso de Engenharia de Pesca
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

M784c Montenegro, Marildo Maciel.


Caracterização da construção e dos construtores de jangada e a evolução da frota no
estado do Ceará / Marildo Maciel Montenegro. – 2007.
57 f. : il.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro


de Ciências Agrárias, Curso de Engenharia de Pesca, Fortaleza, 2007.
Orientação: Prof. Me. Marcelo Augusto Bezerra.

1. Jangadas - Brasil, Nordeste. 2. Jagadas - Construção. 3. Engenharia de Pesca. I. Título.

CDD 639.2
AGRADECIMENTOS

Especialmente a minha mãe, a minha tia Cleide, tia Zildete, minha irmã Marilia
e ao meu pai.
A toda minha família, pelo lado materno e paterno
Aos meus amigos de infância, Giuliano, Edinho, Junior "Durval", Junior "
Gordão" e todos aos quais ainda tenho o prazer de conviver até hoje, indo para as
festas e jogos do Fortaleza F.C.
A minha eterna companheira Fátima que conseguiu dar-me forças nos últimos
3 anos para concluir o curso, principalmente neste último semestre.
Aos meus amigos do Departamento de Engenharia de Pesca.
Ao Prof. Moisés, que entendeu toda minha situação no final do curso.
Ao Prof. Marcelo Tubarão por ter aceitado e dado uma grande força à
monografia nos acréscimos do 2° tempo.
Aos meus novos amigos de Artes Plásticas do CEFET-CE, Glau, Cris,
Mônica, Sandra, Lucinha, Andréia, Lara, Linconn e aos outros que não lembro dos
nomes.
A todos os carpinteiros e pescadores do estado do Ceará que me ajudaram
com muita satisfação na coleta de dados para este trabalho, especialmente, o
pescador Bolinha, da Prainha; Seu Batista, do Paracuru e Seu Aluízio do Mucuripe.
A todos que não lembro e os que não conheci até o presente momento.
A Deus, em especialmente à minha mãe,tia Cleide e tia
Zildete, ao meu pai e a todas as pessoas que me ajudaram a
realizar este curso.

Dedico
"Jamais aceitaria a posição que muitos têm assumido: considerar a metodologia
como conjunto de princípios e normas epistemológicas, lógicas e até tecnicista
firmadas aprioristicamente, distantes do laboratório e do campo, e pré-colocadas
como condição necessária e suficiente para todo cientista"

Délcio Vieira Salomon


SUMÁRIO

RESUMO iii
LISTA DE FIGURAS iv
LISTA DE TABELAS vi
LISTA DE QUADROS vii
LISTA DE APÊNCIDE viii
LISTA DE ANEXO ix
1.Introdução 01
2. Material e Métodos 05
3. Resultados e Discussões 07
3.1. A Jangada 07
3.1.2. Origem 07
3.2. A importância da embarcação no Brasil 07
3.3. Características dos tipos de jangada, segundo o material utilizado 08
3.3.1. Tradicionais de piúba ou "pau" 08
3.3.2. Jangadas de Tábuas 09
3.4. Elementos e equipamentos para navegabilidade 12
3.4.1. Vela 12
3.4.1.1 Dinâmica da vela 14
3.4.2. Banco de vela 14
3.4.3. Tranca 15
3.4.4. Bolina 16
3.4.5. Espeq ue 17
3.4.6. Banco do mestre ou de governo 18
3.4.7. Leme 19
3.4.7. Calçadores 19
3.5. Implementos 20
3.6. Processo construtivo de uma jangada de tábua 22
3.6.1 Local da Construção 22
3.6.2 Utensílios 22
3.6.3 Diferenciação das embarcações, segundo as dimensões 23
3.6.4 Construção 25
3.6.5 Custos de Construção 27
11

3.7. Construtores de jangada 30


3.8. Frota de jangadas e paquetes no Estado do Ceará 33
3.8.1. Distribuição da frota, por município 33
3.8.2. A frota de jangada 33
3.8.3. A frota de paquete 35
5. Conclusão 37
6. Referências Bibliográficas 40
111

RESUMO

O objetivo principal deste trabalho foi caracterizar a jangada no


Estado do Ceará, fazer um levantamento dos construtores no litoral cearense e
demonstrar os custos e materiais, tais como o tipo de madeira e ferramentas
utilizadas, além de uma análise simplificada da evolução da frota de jangada e
paquete no Estado do Ceará. No princípio quando os portugueses aportaram
aqui no século XVI os silvícolas usavam embarcações de toras de madeira
roliças juntas entre si, em número de cinco e medindo cerca de 7 metros de
comprimento por 2 metros de largura. A embarcação tradicional chamada de
jangada de pau, tinha casco formado por toros de piúba, armados
longitudinalmente e fixados transversamente entre si por cavilhas com outras
peças no convés com o banco de vela, de governo, espeque, mastro e vela. A
jangada moderna feita de tábuas tem a forma achatada, mas, em verdade, são
respeitadas as normas e condições da construção antiga, somente alterando o
material do casco. No aspecto externo, tem a semelhança com a jangada de
piúba. Na construção da jangada de tábua não foram preservadas as medidas
de largura e comprimento em comparação à jangada de piúba, aprimorando no
"talho e acabamento", tendo cerca de 1,60 a 1,80 metros de largura por 6 a 8
de comprimento total em média e três elementos a mais. No Ceará há
ocorrência de três tipos de jangadas, a tradicional ocada com comprimento
acima de 6 metros, o bote abaixo de 6 metros e o paquete. Carpinteiro é o
nome vulgar que os pescadores no Ceará dão ao profissional com habilidade a
construir uma jangada. Ao total, trinta e um contatos com os profissionais da
carpintaria naval foram realizados em doze municípios ao longo do litoral do
Ceará. Não foi possível obter dados sobre o tema em todas as praias, faltando
oito, no total de vinte colônias. Foi apresentada uma relação dos principais
construtores de jangada e paquete nas colônias do litoral cearense. Através
dos dados fornecidos pelo ESTATPESCA referentes ao Estado do Ceará no
período de 1999 a 2005, a frota de embarcações artesanais com a utilização da
jangada e do paquete teve um crescimento significativo, com destaque para
este último que dobrou de quantidade. Neste período, houve uma clara
evolução do tamanho da frota pesqueira artesanal, com destaque na
quantidade de paquete.
iv

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 — Gravura de uma paisagem brasileira, jangada ao centro 02


Figura 2 — Desenho de uma jangada no Nordeste do Brasil 03
Figura 3 — Jangada com toros de piúba 08
Figura 4 — Jangada de piúba, vista da proa 08
Figura 5 — Vista da popa, com banco de governo 09
Figura 6 — Vista frontal da proa 09
Figura 7 — Jangada de tábuas, Prainha — colônia Z-9 10
Figura 8 — Entrada do porão com escotilha aberta 11
Figura 9 — Vista do porão pelo lado de dentro, altura entre 60 a 80 cm 11
Figura 10 — Vista lateral da jangada com escotilha e a caixa térmica 11
Figura 11 — Vela latina estendida ao mastro 13
Figura 12 — Partes genéricas da vela 13
Figura 13 — — Banco de vela, com detalhe da carlinga e dos cabrestos 15
Figura 14 - Vista lateral do banco de vela. 15
Figura 15 — A tranca sem a vela apoiada nos espeques 16
Figura 16 — Mão-de-tranca, detalhe para a forquilha 16
Figura 17 — Conjunto de encaixe da bolina 16
Figura 18 — Calço da bolina 16
Figura 19 — Croqui - jangada de tábua, bolina encaixada. 17
Figura 20 — Bolina fora do calço 17
Figura 21 — Desenho do espeque 18
Figura 22 - Vista da popa, com detalhe para o espeque 18
Figura 23 — Desenho do banco de governo. 18
Figura 24 — Vista da popa, com detalhe para o banco de governo 18
Figura 25 — Conjunto do leme 19
Figura 26 — Detalhe para o leme e seu local de encaixe 19
Figura 27 — Vista lateral dos calçadores 20
Figura 28 — Vista frontal dos calçadores 20
Figura 29 - Cuia de vela. 21
Figura 30 — Fateicha 21
Figura 31 — Remo de mão (reminho) 21
Figura 32 — Remo de Governo 21
v

Figura 33 — Samburá 21
Figura 34 — Toaçu 21
Figura 35 — Vista geral de um bote a vela, característico do litoral leste do
Ceará 24
Figura 36 — Vista lateral de um bastado, característico do litoral leste do
Ceará 24
Figura 37 — Jangada com cerca de 7 metros de comprimento 25
Figura 38 — Paquete com menos de 3 metros de comprimento, sem o espeque
25
Figura 39 — Desenho demonstrando as partes do casco 25
Figura 40 — Casco em construção 25
Figura 41 — Colocação do banco de vela 26
Figura 42 — Carpinteiro fazendo abertura no convés 26
Figura 43 — Cavilhas, usadas para encaixar as peças 26
Figura 44 — Furando a madeira para colocar a cavilha 26
Figura 45 — Encaixando a cavilha 26
Figura 46 — Distribuição da frota cadastrada de jangada no Estado do Ceará
por município, nos anos de 1999 e 2005 34
Figura 47 - Distribuição da frota cadastra de paquete no Estado do Ceará por
município, nos anos de 1999 e 2005 36
Figura 48 - Gráfico demonstrando frota de paquete e jangada no Estado do
Ceará, entre período de 1999 e 2005 36
vi

LISTA DE TABELAS

Tabela I — Custo da construção de um paquete (preenchido com isopor)...


27
Tabela II — Custo da construção de uma janganda (ocada, com 7,0 m) 28
Tabela III — Detalhamento dos itens de construção de jangada na
praia do Morro Branco, Beberibe do Morro Branco, Beberibe 29.
Tabela IV - Distribuição da frota cadastrada de jangada no Estado do
Ceará por município, no período de 1999 a 2005 34.
Tabela V — Distribuição da frota cadastrada de paquete no Estado do
Ceará por município, no período de 1999 a 2005 35.
vii

LISTA DE QUADROS

Quadro I Implementos e suas funções 20


Quadro II — Partes e elementos da jangada com seu tipo madeira para
construção 23
Quadro III — Lista dos principais carpinteiros de jangada e paquete
distribuídos nas colônias e praias do litoral do Estado do Ceará 32
viii

LISTA DE APÊNDICE

APÊNDICE — I
Formulário para coleta de dados sobre a construção de jangadas e
construtores 41
ix

LISTA DE ANEXOS

ANEXO — I
Glossário dos tipos de embarcação-projeto estatpesca/ibama 42
CARACTERIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO E DOS CONSTRUTORES DE
JANGADA E A EVOLUÇÃO DA FROTA NO ESTADO DO CEARÁ.

MARILDO MACIEL MONTENEGRO

1 - INTRODUÇÃO

A jangada foi a primeira embarcação registrada oficialmente no Brasil


por Pero Vaz de Caminha, em 26 de Abril de 1500 (CASCUDO, 1957 ).
Posteriormente outros visitantes, como Jean De Lery, Pero De Marsales e
Jorge Marcgrav, destacaram-se em observações mais ou menos detalhadas,
destas embarcações, usadas pelos nativos, conforme a Figura 1. A
denominação dada pelos primeiros europeus a este meio de transporte, foi de
"jangada", nome de origem indo/malaio, omitindo o nome usado pelos nativos,
piperis ou de uso corrente na época, almadia (CASCUDO,1971). Findou
chamado de jangada, mais próximo das balsas indianas que dos igapebas ou
piperis - canoas de um único tronco. O primeiro registro descritivo e completo
com vela latina, bolina e remo de governo foi feito por Henry Kaster (figura 2)
na costa de Pernambuco no século XIX (ARAÚJO, 1985).
Várias foram as viagens históricas da velha jangada cearense. A
primeira delas foi, de Fortaleza para Rio de Janeiro com duas jangadas e oito
tripulantes, a fim de celebrar o centenário da independência, em setembro de
1922. Logo em seguida, no ano de 1941, Manoel Olimpio de Meira (Jacaré)
com outros três jangadeiros chegam a então capital do Brasil, Rio de Janeiro e
foram recebidos pelo presidente Getúlio Vargas, a quem denunciaram as
condições de abandono dos pescadores nordestinos. (FORTALEZA, 2006)
Somente um exemplar da antiga jangada de piúba resta em Fortaleza,
no museu da Empresa Cearense de Turismo - EMCETUR. A jangada ficou
pesada em comparação com a antiga, porém ganhou novos elementos, tais
como caixa térmica, escotilha para acesso ao porão e um conjunto de leme
para o governo, que auxiliam para uma pescaria mais longa e distante da
costa.
-2

A jangada é uma embarcação propulsionada a vela, com casco de


madeira em forma achatada, forrada internamente com isopor (para os
paquetes), sem quilha, com convés e um pequeno porão acessado por uma
escotilha. Seu governo é feito pelo uso combinado do leme, ou remo de
governo, vela e bolina (CAMARA, 1973).

Figura 1 — Gravura de uma paisagem brasileira, jangada ao centro,


Fonte: Jorge Marcgrav - 1643

Normalmente, as jangadas atuais conduzem uma caixa térmica com


gelo para acondicionar o pescado. Face à semelhança entre a jangada e o
paquete, o Projeto ESTATPESCA costuma diferençá-los somente pelo
comprimento.
A jangada do Nordeste, como alguns tipos de balsa, de ocorrência no
Pacífico, é uma das raríssimas embarcações manobráveis a vela e bolina,
possuindo, por isso as qualidades de navegabilidade semelhantes a qualquer
veleiro. A jangada com equipamentos e implementos para navegação é usada
para pesca artesanal e em algumas praias do litoral cearense para passeios
turísticos.
Percorrendo a costa litorânea do Ceará, ao longo das colônias de
pescadores a jangada é uma embarcação com constante ocorrência, com
ressalvas para o fim do litoral oeste, onde predominam as canoas e botes a
vela.
Segundo CASTRO E SILVA, a pesca artesanal tem participação
significativa no crescimento do esforço de pesca. Dentro desse parâmetro a
jangada tem grande destaque, pois ela está presente em praias distantes da
capital e onde não existe esforço de pesca com embarcações a motor.
Assim, além de instrumento da subsistência familiar, a jangada tem sido
ao longo de mais de um século, um instrumento de denúncia e símbolo de uma
categoria que tem orgulho do seu trabalho e guardam um bem material
sociocultural.

Figura 2 — Desenho de uma jangada no Nordeste do Brasil


Fonte: Henry Koster - 1809

O construtor de jangada desempenha função importante, pois sem ele


muito pescador não teria o meio de transporte para ida ao mar. O carpinteiro
naval que muitas vezes não é pescador tem conhecimentos técnicos para
-4

colocar no mar até quatro homens em cima de alguns paus ou tábuas, sem
naufragá-los.
O objetivo principal deste trabalho é caracterizar a jangada no Estado do
Ceará, fazer um levantamento dos construtores no litoral cearense e
demonstrar os custos e materiais, tais com o tipo de madeira e ferramentas
utilizadas pelos próprios construtores para construir uma jangada e um
paquete. A evolução da frota de jangada e paquete no período de 1999 a 2005,
foi possível a partir dos dados e tabelas do projeto ESTATPESCA - Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA.
Para efeito de caracterização da jangada e levantamento dos
construtores foi realizada uma pesquisa de campo diretamente com os próprios
construtores na suas colônias e praias no período de outubro de 2006 a maio
de 2007 com auxilio do formulário que consta no apêndice I.
5

2 - MATERIAIS E MÉTODOS

Os dados que serviram de base para ao presente trabalho foram obtidos


através de entrevistas com pescadores e construtores de jangadas de todas as
colônias do litoral do cearense, utilizando-se um formulário como instrumento
de pesquisa. Os dados referentes à frota de jangada entre o período 1999 a
2005 foram obtidos junto ao Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos
Pesqueiros do Litoral Nordeste — CEPENE.
De conformidade com os assuntos tratados neste trabalho, os dados
referentes à frota são provenientes das seguintes fontes:
(a) Dados sobre a jangada-
As origens, características das jangadas e levantamento dos
construtores tiveram por base:
(1) entrevistas;
(2) observações in loco;
(3) desenhos;
(4) croquis;
(5) fotografias;
(6) consulta na internet;
(7) consulta bibliográfica.

A caracterização da jangada e a listagem dos construtores foram obtidas


através de entrevistas, com pescadores e construtores de jangada nas colônias
litorâneas do Estado do Ceará. A observação do método, formas, tamanhos
das embarcações e acessórios contribuíram para o presente estudo.
Os entrevistados relataram as técnicas, métodos e materiais
empregados na construção de uma jangada ou paquete.
O referente estudo foi realizado através de visitas às praias e seus
referidos municípios de: Bitupitá em Barroquinha, Trapiá em Camocim,
Jericoacoara em Jijoca, Aranaú em Cruz, Pontal do Presídio em Acaraú,
Almofala em Itarema, Caetanos em Amontada, Baleia em Itapipoca, Mundaú,
Flecheiras, Guagirú, Lagoinha em Paraípaba, Pécem, Cumbuco e Iparana em
Caucaia, Mucuripe em Fortaleza, Prainha e Iguape em Aquiraz, Caponga e
Barra Nova em Cascavel, Morro Branco, Praia das Fontes e Uruaú em
-6

Beberibe, Pontal do Maceió em Fortim, Canoa Quebrada e Majorlândia em


Aracati e por última Redonda, Barrinha, Quitéria, Melancias, Peixe Gordo e
Manibú em Icapuí.
Foram realizadas seções de fotos em todas as praias visitadas durante a
pesquisa. O destaque especial das fotos evidencia a importância do foco nas
próprias embarcações, seus acessórios e as ferramentas necessárias para a
construção de uma jangada ou um paquete.

(b) Frota de jangada e paquete


A análise dos dados sobre a quantidade de embarcações foi feita com
base em:
(a) o cadastramento de embarcações do Projeto Estatístico Pesqueiro
(ESTATPESCA) desenvolvido pelo IBAMA no Estado do Ceará, no período de
1999 a 2005;
(b) consulta bibliográfica.

A composição quantitativa da frota de jangada e paquetes foi obtida pelo


estudo anual do Projeto ESTATPESCA realizado pelo Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis — IBAMA referente ao
Nordeste, definido entre o período de 1999 a 2005. Todos dados e tabelas
estão disponibilizados pela intemet no site do Centro de Pesquisa e Gestão de
Recursos Pesqueiros do Litoral Nordeste - CEPENE
(www.ibama.gov.br/cepene). Foi verificado o número de embarcações
artesanais, restringindo-se à análise da quantidade de jangadas e paquetes,
por município ao longo do litoral cearense.
-7

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1. A jangada

3.1.2. Origem

A jangada é de origem asiática. Na Índia os ingleses chamavam de


jangar o termo é derivado da língua malaiala xangadam e mais remotamente
dos sânscritos sanghata, tendo a palavra o sentido de ligagem ou união de
tábuas flutuantes ou de canoas agrupadas. Os portugueses que serviam na
Índia trouxeram o vocabulário para o Brasil. Este nome correspondia
perfeitamente às embarcações usadas pelos nativos do Norte, entre a Bahia e
o Maranhão, que por eles mesmos denotavam de piperis ou igarapeba
(CASCUD0,1957).

3.2. A importância da embarcação

O papel da jangada como instrumento econõmico na subsistência


familiar é bem definido, mesmo com os momentos de insustentabilidade no seu
esforço a pesca artesanal vivendo atualmente.
No âmbito histórico-político a jangada desempenhou uma participação
importante, transportando pescadores, mercadores ou mesmo pessoas.
Quanto à importância e à participação da jangada CASCUDO (1942)
comenta, o seguinte:
"Durante o século XVIII, a popularidade da jangada não decai.
Ao decorrer de toda a Guerra dos Mascates, é a jangada maneira, o
veículo de pronta escapula para conduzir conspiradores ou fugitivos
para as praias distantes. Para trazer víveres ao Recife para os
"nobres" do século XVIII de Olinda é a jangada o meio incomparável
iludindo a vigilância dos barcos, das patrulhas e fortins espalhados ao
longo da costa]...] Contra o monopólio do sal pela marinha
portuguesa, as jangadas nordestinas carregaram o sal de Macau, de
Areia Branca, do Aracati e desapareciam, viajando durante a noite e
passando a carga nas madrugadas aos portadores misteriosos que a
-8

distribuíam numa atividade de formigas. Para o Nordeste, o monopólio


de sal foi a mais inútil das leis portuguesa graças à jangada.[...] A
jangada está formada e provou a sua presença e utilidade desde os
primeiros dias do Descobrimento do Brasil até nossas tardes
contemporâneas quando ela já viu transatlânticos, submarinos e
aviões a jato".

3.3. Características dos tipos de jangada, segundo o material utilizado.

3.3.1. Tradicionais de piúba ou "pau"

O casco é formado por toros de piúba (Figura 3), armados


longitudinalmente e fixados transversamente entre si por cavilhas'. As
embarcações primitivas fixavam os toros com lanços e nós de cipós. Este
procedimento construtivo, não teve evolução.
O primeiro dado significativo é o corte das extremidades dos toros,
popa e proa, em bico de gaita, para melhor cortar água.

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Figura 3 — Jangada com toros de piúba, Figura 4 — Jangada de piúba, vista da proa
Fonte: site jan . adanantes.free.fr. Fonte: site jangadanantes.free.fr

Segundo ARAÚJO (1985), no Ceará e principalmente na colônia Z-8,


os toros não são utilizados "in natura", além do corte, o aparo das extremidades
(bico de gaita), são cortados nos primeiros terços médios, proa e popa, com
corte vertical e transverso, em forma de cunha. Posteriormente, é remendada a

1 - Peça de madeira ou de ferro semelhante a um prego sem cabeça com várias espessuras,
servido para encaixar de toros ou tábuas de madeira.
9

fim de criar no plano horizontal uma concavidade com vista superior a


necessária convergência (encurvada) na direção da proa, criando melhores
condições de navegabilidade, conforme a Figura 4.
Os toros devem ter entre cinco e oito metros de comprimento, sendo
selecionados por suas espessuras (dois-a-dois), para comporem os pares do
"meio" com circunferência de 1,0 a 2,0 metros; as "bordas" com 1,30 a 1,60
metros e os mimburos2 de 1,30 a 1,40 metros. (ver figura 5)
Com esta ordenação na disposição dos toros, que lembra vagamente
os primitivos catamarãs estabelece-se um componente técnico, de alta
significação para navegabilidade do casco, no embate com as ondas.

Figura 5 — Vista da popa, com banco de Figura 6 — Vista frontal da proa,


•overno, Fonte: site jangadanantes.free.fr Fonte: site jangadanantes.free.fr

Na construção das jangadas de piúba, os toros são colocados sobre


duas outras transversais chamadas "maiás", um colocado mais abaixo que o
outro, intencionalmente, para que a proa fique sempre mais alta que a popa.
Os construtores da época preferiam esta condição, quando a embarcação
enfrentava as ondas(JANGADANANTES). Esse formato era chamado pelos
jangadeiros de "jangada selada", sendo ilustrado na Figura 6.

3.3.2. Jangadas de tábuas


As primeiras jangadas de tábuas surgiram por volta de 1940 no Rio
Grande do Norte, precisamente no Rio do Fogo e em Genibaú, tendo como
construtor inicial José Monteiro da Cruz ( CASCUDO, 1957).

2 -Toros subseqüentes (externos) dos chamados Bordos. Toros extremos.


- 10 -

De acordo ARAÚJO (1985), que recolheu depoimentos do jangadeiro e


hoje construtor Francisco José Maria ("Chico Turco"), natural de Rio Grande do
Norte, os primeiros fabricantes no Ceará foram Wilson Bindá, marinheiro
aposentado, Aloísio Apolônio, Eduardo "Catarinense", filho de alemães e o
lagosteiro americano Senhor Morgan.
A jangada de tábuas tem a forma achatada, porém, são respeitadas as
normas e condições da construção da jangada tradicional, somente alterando o
material do casco para tábuas de madeira. No aspecto externo, tem a
semelhança da tradicional com casco de piúba.
Preserva praticamente as dimensões de largura e comprimento da de
piúba, aprimorando apenas no "talho e acabamento", mostrada na figura 7.
Tendo cerca de 1,60 a 1,80 metros de largura por 6 a 8 de comprimento em
média.

Figura 7 — Jangada de tábuas, Prainha — colônia Z-9


Fonte: Marildo Maciel
Três inovações se destacam na moderna jangada sendo elas: 1) a
escotilha, abertura retangular sobre o convés com tampa em forma de caixa,
através da qual se atinge o porão. Neste são guardados utensílios,
mantimentos e proporciona descanso aos jangadeiros na pesca em alto-mar
(Figuras 8 e 9). A tripulação varia de acordo com o tamanho da embarcação e
vai de 3 a 6 pescadores. A pescaria pode durar cerca de 3 a 4 dias.

Figura 8 — Entrada do porão com escotilha Figura 9 — Vista do porão pelo lado de dentro,
aberta. Fonte: Marildo Maciel altura entre 60 a 80 cm. Fonte: Marcelo Bezerra

A seguir, 2) a geladeira ou caixa térmica: feita de madeira, revestida


externamente de zinco, flandres ou madeira e, internamente com entremeios
de isopor. Ela é usada a bordo para preservação do pescado no gelo (Figura
10).

Figura 10 — Vista lateral da jangada com escotilha e a caixa térmica. Fonte:


Marildo Maciel
- 12 -

E por fim 3) o leme, que também é uma ocorrência nova na jangada de


tábua. Trata-se de uma prancha pesada, articulada através de "dobradiças com
pino", e um cabo removível, a cana do leme. Este conjunto é usado quando o
nível da água o permitir, quando chega à praia vindo da pescaria o leme é
retirado para a jangada fazer o rolamento, com toros de coqueiro, até uma área
elevada longe do alcance das ondas.

3.4. Elementos e equipamentos para navegabilidade

Os elementos são peças importantes para a navegabilidade da


embarcação, auxiliando na direção, velocidade e parada da jangada. A jangada
ainda possui equipamentos para dar suporte e funcionalidade aos elementos
durante a navegação.

3.4.1. Vela

Segundo RODRIGUES (1940), a vela na jangada é de influência


holandesa, sendo as velas atuais denominadas de latinas e com formato
triangular diferentes das quadrangulares usadas em meados de 1643,
baseadas em registros da época. Este elemento condicionante dá eficiência e
velocidade à embarcação (figura 11).
A vela compreende um triângulo de lados curvos feita de algodãozinho,
porém, alguns pescadores atualmente usam outro tipo de tecido chamado
"brim". Existe entre as colônias uma alternância entre outros tipos de tecidos
como o tergal e a lona.
Existe uma divisão para a vela usada pelas jangadas cearenses, em
duas partes genéricas: testa, trecho próximo ao mastro, e corpo, o restante do
pano (figura 12).
A construção se dá com um risco em forma triangular na areia da praia,
tendo como referencial o mastro; cobre-se este risco com as peças de tecido
cortadas, alinha-se e coze-as.
- 13 -

Os pescadores e construtores chamam de entralhar ou palombar o ato


de colocar a vela no mastro, sendo a mesma costurada com fio forte, de
preferência nylon untado com cera, ao mastro. Este fio é chamado de
envergue.
O envergue é urgido ao mastro, sofre antes um tratamento de protensão
ou estiramento, esticando-se o mesmo entre duas árvores, normalmente,
coqueiros ou estacas com um peso (bloco de pedra ou de ferro) pendendo, do
meio da corda, por vinte e quatro horas ou até mais. Deste modo o envergue
não encolherá, evitando assim que posteriormente a vela fique sacuda (cheia
de sacos ou bolsões).
De acordo com CASCUDO (1942), os pescadores empregam a palavra
limiar à vela, que significa deixar a vela boa. Um processo de enchê-la de limo
verde, que se consegue colocando-a de molho com sangue de peixe e água
salgada e deixando-a exposta ao sereno, tendo assim uma vida útil de dez
anos. Entretanto, atualmente esta prática caiu em desuso devido à qualidade e
durabilidade dos novos tecidos ofertados no mercado têxtil.

Figura 11 — Vela latina estendida ao Figura 12 — Partes genéricas da vela.


mastro. Fonte: Marildo Maciel Fonte: Nearco Barroso
- 14 -

3.4.1.1 Dinãmica da vela

De acordo com os relatos dos pescadores existem cordames para dar


dinãmica a vela, durante a navegação são eles: a amura (parte inferior da vela)
de onde parte uma corda pequena com o mesmo nome e é amarrada debaixo
da carlinga (prancha de madeira localizada na parte inferior do banco de vela),
esticando a vela para baixo. Do punho vem a ligeira, corda que se amarra nos
espeques, segurando e mantendo o jogo, o balanço e o equilíbrio do mastro,
regulando as oscilações do mesmo.
A vela é estendida em sua parte inferior pela tranca vara grossa que se
apóia, encaixando, no mastro, pela extremidade em forma de forquilha, a mão-
de-tranca.

3.4.2. Banco de vela

Estrutura localizada na proa mista de madeira e cordas. O tipo de


madeira pode ser o cajueiro, pois é macia e resistente ao atrito do mastro. É
formado por uma base de fixação chamada "carlinga", apoiada em dois
dormentes, que por sua vez são cravados ao casco (figuras 13 e 14).
A carlinga é uma prancha reforçada, fixada transversalmente ao casco,
com cinco furos (rebaixos) circulares que servem de calço para a base do
mastro. Estes rebaixos correspondem ás várias posições da vela, durante a
navegação. A trave superior do banco de vela, é chamada de trave de escora
e serve para fixação do mastro. Apoiada sobre pernas fixadas na carlinga,
sendo a mesma reforçada por ligamentos de cordas fortes e duráveis, os
cabrestos.
- 15 -

Figura 13 — Banco de vela, com detalhe da carlinga e


Figura 14 — Vista lateral do banco de vela.
dos cabrestos.
Fonte: Marildo Maciel
Fonte: Marcelo Bezerra

O mastro é formado com duas ou três peças roliças emendadas com


cavilhas e cordas, tendo em média de cinco a seis metros. É utilizado o
mangue como madeira para o mastro.

3.4.3. Tranca

A vela é estendida na sua parte inferior pela tranca, vara grossa que se
apóia, encaixando-se, no mastro, pela extremidade em forma de forquilha,
denominada de mão de tranca, com detalhe para as figuras 15 e 16.
Da ponta da tranca parte a escota, corda que, passada pelos calçadores
com amarração simples; é presa ao remo de governo na antiga piúba e na
cana do leme na atual de tábua. A escota regula a maior ou menor exposição
da vela ao vento, conforme seja puxada ou não pelo mestre jangadeiro, que
fica no governo da embarcação.
- 16 -

Figura 15 — A tranca sem a vela apoiada nos Figura 16 — Mão-de-tranca, detalhe para a forquilha.
espeques. Fonte: Marildo Maciel Fonte: Marildo Maciel

3.4.4. Bolina

O pescador chama a bolina de "o juízo da jangada". Na verdade, é um


elemento importante no sistema de navegação à vela. É uma prancha de
madeira que mede cerca de 2 polegadas de espessura por 12 de largura e 1,80
a 2,10 metros de comprimento em média. Tem papel semelhante ao da quilha,
que sendo removível, mergulha pelos calços da bolina, conforme as
necessidades da navegação e direção do vento (Figuras 17 e 18).

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Figura 17 — Conjunto de encaixe da bolina, Figura 18 — Calço da bolina.


Fonte: Nearco Barroso Fonte Marcelo Bezerra
- 17 -

Na jangada de paus existiam duas bolinas, localizados à direta e


esquerda do convés entre os toros do "meio" e "bordo".

Figura 19 — Croqui - jangada de tábua, bolina Figura 20 — Bolina fora do calço.


encaixada, Fonte: Nearco Barroso. Fonte Marildo Maciel

Nas jangadas de tábuas, a bolina vem logo atrás do banco de vela,


uma só fenda, ao longo do eixo longitudinal, inserida pelo calço da bolina. Peça
única, fixada por entre a cavername de vante no prolongamento do patião
(Figura 19 e 20).

3.4.5. Espeque

São três paus atravessados por um outro, a travessa que ficam


localizados na popa; o do meio, mais saliente termina em gancho e é
denominado forquilha. O espeque é utilizado para suporte de acessórios e
mantimentos dos jangadeiros. Ficam pendendo nele através de alças feito de
cordas: barril com água doce, o toaçu3 ou fateixa4, cabaça com comida, o
samburá onde leva o peixe na pesca de ir-e-vir, o bicheiro. No espeque
amarra-se a ponta da ligeira que vem do punho da vela. (Figuras 21 e 22)

3 - Peça de ferro com pontas que serve com âncora.


4 - Bloco de pedra envolvido com pontas de madeira, servindo o mesmo para âncora.
- 18 -

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Figura 21 - Desenho do espeque Figura 22 - Vista da popa, com detalhe para o
Fonte: Nearco Barroso esibeeue.

3.4.6. Banco do mestre (ou de governo).


Peça única, apenas uma simples tábua de cajueiro medindo cerca de
1,40 metros de comprimento em média, uma polegada de espessura, e 8 a 10
de largura, apoiada sobre quatro estacas (tornos) roliças.
Local de ordens e comando, onde o mestre sentado, controla a escota e
o leme de governo, de quase 1,5 metros de folha, com 1 ou mais cabos,
calçado a uma das fêmeas. (Figuras 23 e 24)

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Figura 23 - Desenho do banco de governo Figura 24 - Vista da popa, com detalhe para o
Fonte: Nearco Barroso banco de governo. Fonte: Marildo Maciel
-19-

3.4.7. Leme

Trata-se de uma prancha pesada, articulada através de "dobradiças com


pino", e um cabo removível, a cana do leme.
Este conjunto é usado quando o nível da água o permitir, quando a
embarcação chega à praia vindo da pescaria o pino das dobradiças e retirado e
o leme é suspenso ao convés para a jangada fazer o rolamento, com toros de
coqueiro. Pois o leme atrapalharia o rolamento da jangada, encalhando a
mesma na areia, isso acontece devido o leme fica com 60% do seu corpo
abaixo da popa. (figuras 25 e 26)

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Figura 25 — Conjunto do Leme. Figura 26 — Detalhe para o leme e seu local


Fonte Nearco Barroso de encaixe. Fonte: Marildo Maciel

3.4.8. Calçadores

São os dois maiores e mais fortes tornos cravados sobre o convés;


estão assentados obliquamente entre si na popa, logo atrás, à direita e
esquerda do banco do mestre, servem para amarrar ou passar a escota, corda
que vem da ponta da tranca. (figuras 27 e 28)
- 20 -

Figura 27 — Vista lateral dos calçadores Figura 28 — Vista frontal dos calçadores
Fonte: Marildo Maciel Fonte: Marildo Maciel

3.5. Implementos

Tanto na jangada de piúba como na de tábuas, no geral, os implementos


usados são: remos de governo, remo de mão (reminho); samburá; cuia de vela;
quimanga, pinambaba, bicheiro, toaçu e fateicha.
Quanto ao cordame, no Ceará, temos: arrocha de popa, vaivém, cabos
de espeque, corda de vela, punho, guinda, mura, ligeira, escota, palomba e
envergue. (Ver o quadro I e a seqüência de figuras 29 - 34)

Quadro 1 — Implementos e suas funções


IMPLEMENTO USO OU FUNÇÃO
Bicheiro Anzol grande com haste de ferro, usado para retirar o
pescado pesado do mar.
Cuia de vela Concha de madeira, com a qual se molha a vela.
Fateicha Armação de Madeira com um bloco de pedra no centro,
preso pela poita usada com âncora.
Ligeira Corda vinda do punho da vela e amarrada nos espeques,
segurando a vela.
Mura Corda que parte da parte inferior da vela, servindo para
esticar a vela para baixo
Peia Corda que prende a tranca. É amarrada pelo mastro.
-21-

IMPLEMENTO USO OU FUNÇÃO


Pinambaba Haste de ferro com três ou quatro ganchos onde os
pescadores deixam as linhas de pescar
Poita Corda que prende a fateicha ou o toaçu.
Quimanga Cabaça onde se coloca a ração dos pescadores
Remo de governo Utilizado para governar e direcionar a embarcação.
Remo de mão Usado na ausência do vento e servindo para
(reminho) deslocamento em distâncias reduzidas
Samburá Cesto feito de cipó, onde o pescado é colocado.
Toaçu Bloco ou pedaço de ferro com ganchos soldados, preso
pela poita, usado como âncora.

Figura 29 - Cuia de vela Figura 30 — Fateicha


Fonte : Marildo Maciel Fonte: Marildo Maciel

Figura 31 — Remo de mão (reminho) Figura 32 — Remo de Governo


Fonte: Marildo Maciel Fonte: Marildo Maciel

Figura 33 — Samburá Figura 34 — Toaçu


Fonte: Marildo Maciel Fonte: Marildo Maciel
-22-

3.6. Processo construtivo de uma jangada de tábua.

3.6.1. Local da construção

O local onde se constrói embarcações denomina-se estaleiro, porém, foi


constatado que ao longo do litoral cearense, a construção se dá também em
cabanas sem paredes, cobertas de palhas de coqueiro ou da vela,
denominadas pelos pescadores de "latada".
Particularmente na colônia Z-7 (Cumbuco), os construtores utilizam
sombras de árvores em frente da suas residências para o processo construtivo.
Contudo, outros construtores que dispõe de uma residência com uma garagem
ou quintal amplo, utilizam os mesmos para tal trabalho.

3.6.2. Utensílios
Hoje o construtor utiliza furadeira elétrica no local da antiga pua, a enxó,
a plaina, a serra, o serrote, o esquadro, a régua, o compasso, lápis para
marcações nas tábuas e etc.

3.6.3 Material

O mastro é feito de mata-matá e/ou mangue-vermelho que é madeira


flexível e resistente. A tranca é de bambu ou mangue, a mão-de-tranca é usado
o cajueiro, o remo é de piquiá. A Bolina e o calço são de piquiá ou angelim. O
espeque, os bancos de vela e de governo são feitos de cajueiro. O leme e sua
cana são de piquiá ou louro-vermelho, devido a sua resistência ao mar (ver
quadro II).
- 23 -

Quadro II — Partes e elementos da jangada com seu tipo madeira para


construção.
ELEMENTOS TIPO DE MADEIRA UTILIZADA
Banco de governo Cajueiro e Maçaranduba
Banco de vela Cajueiro e Piquiá
Bolina e calço da bolina Piquiá ou Angelim
Casco e convés ("tabuado") Louro-vermelho e Piquiá
Costela ou caverna Piquiá
Espeque Cajueiro
Leme e cana Piquiá e Louro-Vermelho
Remo Piquiá
Roladeira ou forra Maçaranduba
Mastro Mata-Matá e Mangue
Tranca Bambu ou Mangue
Mão-de-Tranca Cajueiro
Fonte: Pesquisa realizada entre novembro de 2006 e
maio de 2007, nas colônias do litoral cearense.

Após a construção da embarcação, o casco e o convés apresentam


pequena fresta entre as madeiras justapostas, consequentemente, realiza-se a
calafetagem. São utilizados para o acabamento ou calafetagem da jangada: pó
de madeira, cola para madeira, cavilhas, óleo de mamona, cal virgem, estopa e
isopor.

3.6.4 Diferenciação das embarcações, segundo as dimensões.

Embarcações acima de 6 metros são descritas como jangada, abaixo de


6 metros, e menor que este comprimento são denominadas de bote ou catraia,
(ARAÚJO, 1985). No entanto, esta definição gera dúvidas ou muda
completamente em alguns locais. Por exemplo, nos municípios de Icapuí
localizado no litoral leste do Estado Ceará e em Barroquinha no extremo oeste,
há uma categoria de botes a vela com a sigla BOC, identificada pelo
ESTATPESCA e que podem alcançar 8 metros. (Anexo 1). No entanto, há
- 24 -

distinções, sendo as mais significativas a forma da vela e o mastro fixo no


Bastardo. As figuras 35 e 36 ilustram estas características distintas.

Figura 35 — Vista geral de um Bote a vela, Figura 36 — Vista lateral de um Bastado,


característico do litoral leste do Ceará. característico do litoral leste do Ceará.
Fonte: Marcelo Bezerra Fonte: Marcelo Bezerra

Face à semelhança entre a jangada e o paquete, alguns pescadores,


carpinteiros e também para o Projeto ESTATPESCA costumam diferenciá-los
somente pelo comprimento — os paquetes medem até 5,69m (27 palmos) e as
jangadas acima disso. Os paquetes realizam viagens mais curtas, de apenas
um dia, e atuam com uma tripulação de 2 a 3 pescadores. As jangadas (figura
37) realizam viagens mais longas de até 5 dias, com 3 a 4 pessoas.(CASTRO
E SILVA, 2004). Segundo relato de alguns carpinteiros e pescadores, as
jangadas maiores levam entre 5 e 6 pescadores.
Ainda de acordo com o Projeto ESTATPESCA, referente ao glossário
dos tipos de embarcação (Anexo 1), a jangada é descrita como embarcação
movida a remo, vara ou a vela, com quilha, confeccionada de madeira, que
possui urna para acondicionar o material de pesca. Já o paquete é uma
embarcação movida a vela, com casco de madeira revestido internamente com
isopor, com quilha, também conhecida como: jangada, catraia etc. Porém, vale
salientar que jangadas e os paquetes não têm quilha como as demais
embarcações de madeira e movidas a vela — bastardo, canoa e bote. No caso
dos paquetes, o casco de madeira é preenchido internamente com isopor e os
menores não possuem o espeque (figura 38). A Catraia não tem banco de vela
e é movida a remo ou vara.
- 25 -

Figura 37 — Jangada com cerca de 7 metros Figura 38 — Paquete com menos de 3 metros
de comprimento. Fonte: Marildo Maciel de comprimento, sem o espeque.
Fonte: Marildo Maciel

3.6.5 Construção

A construção se dá em algumas fases, a primeira delas é a construção


virada da armação do casco, a caverna, os bordos, escoras (dormentes) e o
patião. A armação é preenchida com isopor quando a embarcação tem menos
de 6 metros de comprimento, acima desse comprimento a embarcação é dita
como "ocada" e dispõe de espaço chamado de porão com acesso por uma
escotilha usado para descanso dos pescadores ou guarda de alimentos ou
utensílios. Após esta fase a armação é coberta com tábuas de madeira e virada
para colocação das outras peças. (figuras 39 e 40)

1 - ESCOTILHA
2 - CALÇO DA BOLINA
3 - RODA DE PROA
4 - PATIM') (QUILHA)

Figura 39 — Desenho demonstrando as partes do Figura 40 — Casco em construção


casco, Fonte: Nearco Barroso Fonte: Marildo Maciel

Especialmente foi notado que na colônia Z-9, precisamente na Prainha,


o construtor de jangada Luiz Queimado utiliza cavilhas de louro-vermelho de
vários diãmetros e tamanhos (figura 40), unidos com cola para madeira no
- 26 -

encaixe das peças e tábuas no convés em vez de pregos. Segundo ele há uma
melhor resistência e durabilidade com as cavilhas de madeira no encaixe.
Na fase seguinte com a jangada virada de convés para cima, é colocado
o banco de vela logo a frente da proa, com uma inclinação de 60 a 70 graus,
para apoiar o mastro nesta mesma inclinação (figuras 41 e 42).

Figura 41 — Colocação do banco de vela Figura 42 — Carpinteiro fazendo abertura no


Fonte: Marildo Maciel convés. Fonte: Marildo Maciel

Segundo o carpinteiro José Sabáia da praia de Barro Preto, o mastro


deve ficar nesta inclinação a fim de proporcionar uma navegação mais rápida,
pois dará maior resistência da vela ao vento. (figuras 43 e 44)

Figura 43 — Cavilhas, usadas para Figura 44 — Furando a madeira Figura 45 — Encaixando a


encaixar as peças. para colocar a cavilha. cavilha.
Fonte: Marildo Maciel Fonte: Marildo Maciel Fonte: Marildo Maciel
- 27 -

Em seguida vem o banco de governo e o espeque localizado na popa e


por último as dobradiças ou ferragens da cana do leme localizada atrás da
popa dado suporte pelo patião.
Após o término desta fase é preparada uma massa à base de óleo de
mamona e cal virgem, que é colocada nas fendas e buracos entre as tábuas
unidas com estopa, a fim de obter uma vedamento do casco e do convés. Esta
operação denomina-se calafate, servindo para não fazer água no diz do
pescador, que significa a entrada de água dentro do casco. Para os pequenos
acabamentos é colocado pó de madeira com cola especifica para madeira -
marca é Cascorez de secagem rápida.
A última fase é fazer o mastro e encaixá-lo no banco de vela, logo
depois colocar ou palombar no dizer do pescador, a vela no mastro junto da
tranca e logo em seguida vem a pintura da embarcação.

3.6.6. Custos de construção

Os valores apresentados na tabela I e II não estão relacionados aos


preços dos materiais de acabamento do casco e da vela, pois muitos dos
construtores conseguem de graça, pois existe uma cultura de troca de material
entre eles. Portanto, na maioria dos casos, os preços apresentados estão
abaixo do valor total real do produto.

Tabela 1 - Custo da construção de um paquete (preenchido com isopor)


MATERIAL Unid. Quantidade Valor
Madeira (piquiá) m3 1 R$ 1.200,00
Isopor blocos 10 R$ 550,00
Vela m 5 R$ 100,00
Cordas verba 1 R$ 200,00
Mão-de-Obra verba 1 R$ 500,00
Total R$ 2.550,00
Fonte: Média de valores entre as colônias do litoral cearense. Referente a pesquisa realizada
entre novembro de 2006 e maio de 2007
- 28 -

Tabela II — Custo da construção de uma janganda (ocada, com 7,0 m)


MATERIAL Unid. Quantidade Valor
Madeira (piquiá) m3 1 R$ 2.800,00
Vela m 7 R$ 150,00
Cordas verba 1 R$ 200,00
Mão-de-Obra verba 1 R$ 1.500,00
Total R$ 4.650,00
Fonte: Média de valores entre as colônias do litoral cearense. Referente a pesquisa
realizada entre novembro de 2006 e maio de 2007

Foi constatado nas praias de Cumbuco, Pécem, Prainha e Iguape que


algumas madeiras utilizadas na confecção de certas peças e elementos do
convés como, por exemplo, o banco de mestre, os calçadores e a tranca, são
extraídas livremente de matas próximas ao local de construção, pelos próprios
carpinteiros ou trabalhadores informais. Das madeiras extraídas são elas: o
bambu, cajueiro e o mangue. Sendo assim os referidos elementos do convés,
não são relacionados aos custos da construção de uma jangada pelo
carpinteiro.
De acordo com o carpinteiro José Paulino da praia do Pacheco sobre a
compra de madeira para o casco, do tipo piquiá e o louro-vermelho, é feita na
madeireira Marabá localizada na rodovia CE 085 n°.1000, município de
Caucaia.
Com base nos relatos dos pescadores e carpinteiros das colônias Z-9,
especialmente das praias de Barro Preto, Iguape e Prainha, a compra de
madeira para o casco e alguns elementos do convés é realizada na Madeireira
Rio Verde localizada na rodovia CE 040 s/n, município de Aquiraz.
Ainda sobre a compra de madeira, o carpinteiro Aluízio Apolônio que
trabalha na Praia do Mucuripe localizada na colônia Z-8 comenta a existência
de um revendedor de todo tipo de madeira para a construção, ao qual os
carpinteiros da colônia fazem o pedido diretamente e o mesmo deixa no local
de construção.
Dos carpinteiros entrevistados nas colônias do interior no Estado do
Ceará, não existe um repasse dos custos de certos itens para o valor da mão-
- 29 -

e-obra e eles também não sabem como mensurar tais custos para um valor
real da construção.
Vale ressaltar que nos custos apresentados nas tabelas I e II os
carpinteiros não relacionaram algumas despesas como energia elétrica,
impostos, tinta, tranca, mastro, costura da vela, calafate, custo das
ferramentas, licenciamento, deslocamento da embarcação até a água etc.
etc. portanto, o custo final da construção de uma jangada é maior do que o
constatado diretamente na pesquisa junto aos carpinteiros.
Verificou-se, que existe a prática de troca (escambo) ou simples oferta
de alguns materiais ou ferramentas entre os carpinteiros do litoral cearense.
Isso é bem evidente nas colônias do interior. No qual implica possivelmente na
redução dos custos da construção, porém os próprios carpinteiros não
evidenciam e nem relatam este fato.
Segundo o carpinteiro José Martins Soares (Zé do Doca) da praia do
Morro Branco, Beberibe, conseguiu exprimir com facilidade os itens
necessários para construção de uma jangada com comprimento entre 6 e 7
metros e os mesmos são apresentados na tabela III.

TABELA III - Detalhamento dos itens de construção de jangada na praia do


Morro Branco, Beberibe
Valor Unit. Valor Total
Descrição Unid. Quant.
(R$) (R$)
Bancos (vela e mestre) unid 2 40,00 80,00
Caixa isotérmica verba 1 250,00 250,00
Cordas verba 1 200,00 200,00
Calço unid 1 100,00 100,00
Estopa kg 2 8,00 16,00
Forra metro 10 4,00 40,00
Leme unid 1 40,00 40,00
Lixa folha 4 2,00 8,00
Madeira (Piquiá) m3 1 2.000,00 2000,00
Massa pacote 2 2,50 5,00
Mastro (Mata-matar) unid 1 150,00 150,00
Pranchas unid 4 50,00 200,00
Prego kg 10 12,00 120,00
Solvente litro 3 4,00 12,00
Tinta verba 1 200,00 200,00
Tranca unid 1 150,00 150,00
Vela verba 1 150,00 150,00
- 30 -

Total parcial 3.721,00


Mão-de-obra verba 1 1.500,00 1.500,00
Total Geral= R$ 5.321,00
Assim, ao se considerar as despesas de itens não relacionados, o custo
ficaria pouco acima dos R$ 5.500,00.

3.7. Construtores de jangada

Carpinteiro é o nome vulgar que os pescadores em geral dão à pessoa


que constrói embarcações de madeira. É um profissional bastante respeitado
pelos pescadores o qual é possuidor de conhecimentos, métodos, técnicas,
medidas e materiais a serem utilizados na construção, manutenção e reparo.
A Capitania dos Portos emite habilitação com carteira e certificado de
Construtor Naval para todo aquele trabalhador que confecciona barcos de
madeira, mas para isto o interessado deve se submeter a um curso ministrado
pela própria Capitania dos Portos. Desta forma, pode se torna um profissional
habilitado da categoria a fim de obter direitos trabalhistas.
Possidônio Soares Filho, filho de Possidônio Soares um dos primeiros
construtores no Estado do Ceará é o atual presidente da Colônia Z-8 do
Mucuripe — Fortaleza e Batista Pires construtor da Colônia Z-5 (Paracuru) são
exemplos de antigos construtores de jangada que adquiriram tal habilitação
perante a Capitania dos Portos.
Na colônia Z-8, precisamente na praia da Volta da Jurema, Aluízio
Apolônio também possuidor de habilitação da Capitania dos Portos, afirma ser
ele o primeiro construtor a usar uma furadeira elétrica na construção de uma
jangada. Ainda na mesma colônia existe na ativa, Raimundo Nogueira
Segundo CARUSO (2004), José Sabóia é construtor desde os tempos
da jangada de piúba e atualmente reside entre as praias de Barro Preto e
Iguape na colônia Z-9. Segundo ele, foi o inventor da jangada com isopor, pois
as jangadas abaixo de 6 metros não tinham uma boa estabilidade e ele
resolveu preencher o casco com isopor, retirando a escotilha e acabando com
o local de descanso dos pescadores. Este tipo de embarcação é utilizado
especificamente na pescaria que dura apenas um dia ou dois. Quando a
- 31 -

pescaria é de dormida — passam a noite no mar, os pescadores "dormem" no


convés.
Na colônia Z-17, no município de lcapuí existem vários construtores,
mas atualmente não há construção de novas jangadas, somente reparos e
manutenção. Existem muitas jangadas oriundas de Fortaleza. A principal
ocorrência de barcos na composição da frota local é o bote a vela.
Nesta mesma colônia habitam na Praia de Quitéria, Manoel de
Pombinha; na Praia de Melancia, José Laércio; na Praia de Peixe Gordo, José
de Briza; na divisa com Rio Grande do Norte, Barra de Manibú existem muitas
jangadas ocadas, porém o construtor reside em Tibau, município do Rio
Grande do Norte; em Redonda, Francisco Nascimento.
Ao total, trinta e um contatos com os profissionais da carpintaria naval
foram realizados em doze municípios ao longo do litoral do Ceará. Não foi
possível obter dados sobre o tema em todas as praias, faltando oito, no total de
vinte. O quadro III a seguir relaciona os principais trabalhadores do ramo da
construção naval, de embarcações de madeira, no litoral do Estado do Ceará.
- 32 -

Quadro III — Lista dos principais carpinteiros de jangada e paquete, distribuídos


nas colônias e praias do litoral do Estado do Ceará.
COLÔNIAS / PRAIAS CONSTRUTORES
Z-01 / Camocim Sem informações
Z-02 / Acaraú Não consta construtor
Z-03 / Itapipoca / Praia da Baleia João Lourenço do Nascimento, Marcos
Aurélio e Francisco Alves.
Z-04 / Mundaú / Trairi Sem informações
Z-05 / Paracuru João Batista Pires, João Pires do Santos,
José Monteiro da Silva
Z-06 / Pecém Francisco Manoel, José Preto e Francisco
Eduardo.
Z-07 / Caucaia / Cumbuco José Paulino
Z-08 / Fortaleza / Mucuripe Aluízio Apolônio, Raimundo Nogueira e
Luciano Pereira.
Z-09 / Aquiraz / Iguape José Sabóia , Francisco Medina, José
Carlos e José Jacinto.
Z-10 / Cascavel / Caponga Francisco Willimi, Pedro Luiz e Francisco
Erandir
Z-11 / Beberibe José Martins Soares, Francisco de Assis
Z-12 / Aracati Sem informações
Z-17 / Icapuí / várias Manoel de Pombinha, José Laércio
José de Briza e Francisco Nascimento
Z-18 / Amontada / Caetanos João Domingos e Jeto Pereira
Z-19 / Itarema Sem informações
Z-20 / Cascavel / Barra Nova Sem informações
Z-21 / Fortim João Avelino Barros e Raimundo Régis
Z-23 / Barroquinha / Bitupitá Sem informações
Z-25 / São Gonçalo / Lagoinha Edmilson Silva
Z-30 / Jijoca de Jericoacoara Sem informações
Fonte: Pesquisa realizada entre novembro de 2006 e maio de 2007,
nas colônias do litoral cearense.
-33-

3.8. A frota de jangada e paquete no Estado do Ceará.

3.8.1. Distribuição da frota, por município.

Os dados apresentados nas tabelas IV e V são referentes ao período de


1999 a 2005, realizados pelo Projeto ESTATPESCA do Instituto Brasileiro do
Meio-Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA nos 20 municípios
costeiros cearenses. A disposição dos municípios nas referidas tabelas inicia
do litoral leste para o litoral oeste. Verifica-se que a partir de Fortaleza, a capital
do estado, há seis municípios para leste e treze para oeste.

3.8.2. A frota de jangada.

Segundo a tabela IV, podemos notar uma concentração de jangadas no


litoral Leste, a partir do município de Aracati seguindo com número
substanciais até o município de Fortaleza.
Ainda na tabela IV, é evidente o pequeno número de jangadas, a partir
do município de Caucaia em direção ao município de Barroquinha no final do
litoral Oeste do Estado do Ceará. Vale ressaltar a completa ausência dessa
embarcação entre os municípios de Trairí e Barroquinha no período de 1999 a
2005. A figura 46 demonstra claramente o intervalo entre estes municípios.
Complementando a análise da tabela IV, observamos um decréscimo de
sessenta e cinco jangadas cadastradas no Estado do Ceará, compreendendo
os ano de 1999 com 374 embarcações e finalizando no ano de 2005 com 309
embarcações cadastradas. Portanto, houve uma redução de 17,4% e os
municípios de Fortaleza e Beberibe foram os que mais reduziram, dezoito
embarcações cada.
- 34 -

Tabela IV — Distribuição da frota cadastrada de jangada no Estado do Ceará


por município, no período de 1999 a 2005.

MUNICIPIO 1999 1 2000 1 2001 1 2002 2003 1 2004 1 2005


Icapui 2 2 2 2 2 2 4
Aracati 41 39 33 33 33 41 38
Fortim 15 16 12 11 11 9 9
Bebenbe 94 102 89 97 97 106 76
Cascavel 31 28 28 29 29 31 27
Aquiraz 46 51 48 53 51 49 42
Fortaleza 108 119 103 99 97 99 90
Caucaia 12 8 5 4 4 2 6
S.G. do Amarante 10 7 9 7 6 7 11
Paracuru 9 8 5 4 4 4 5
Paraípaba 6 6 6 6 3 6 1
Trairi O O O
Itapipoca O O O O
Amontada
Itarema O O
Acará") O 1 O 2 2 O
Cruz
Jijoca O O O
Camocim
Barroquinha
Total 374 387 340 347 339 356 309
Fonte: Projeto ESTATPESCA / IBAMA(1999-2005)

o Icapui
o Aracati
❑ Fortim
o Beberibe
quantidade de embarcações

120 Cascas.el
110 o Aquiraz
100 o Fortaleza
90 o Caucaia
80 e S.G. do Amarante
70 ❑Paracuru
60 o Paraípaba
50 o Trairi
40 - Itapipoca
o Amontada
30 -
ttarema
20
Acaraú
10 -
❑Cnrz
o Jijoca
1999 2005 ❑Camocim
o Barroquinha
anos

Figura 46 — Distribuição da frota cadastrada de jangada no Estado do Ceará por município, nos
anos de 1999 e 2005 _ Fonte: Projeto ESTATPESCA 1BAMA
-35-

3.8.2. A frota de paquete.

De acordo com a tabela V, a frota de paquetes apresenta crescimento


do litoral Leste para o litoral Oeste, destacando-se com números
representativos entre os municípios de lcapuí e Itapipoca.
A partir do município de Acaraú evidenciam números baixos em
comparação ao litoral Leste, com uma total ausência no município de
Barroquinha, no período de 1999 a 2004 (figura 44).
Com podemos ver na tabela V, a frota de paquetes cadastrados no
Estado do Ceará sofre um acréscimo considerável durante o período que
corresponde aos anos de 1999 a 2005. Demonstrado assim no ano de 1999,
1.673 embarcações cadastradas e no final do período referente ao ano de
2005, 3.220 embarcações cadastradas (figura 45).

Tabela V — Distribuição da frota cadastrada de paquete no Estado do Ceará por


município, no período de 1999 a 2005.

MUNICIPIO 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005


lcapui 138 147 191 199 210 216 377
Aracati 184 192 181 185 215 221 394
Fortim 153 149 157 157 176 183 335
Beberibe 156 160 159 145 170 188 269
Cascavel 112 122 129 137 145 157 167
Aquiraz 98 115 113 123 125 127 162
Fortaleza 44 44 86 98 98 96 197
Caucaia 75 71 76 76 89 75 107
S.G. do Amarante 133 117 105 108 110 109 167
Paracuru 123 134 146 183 183 193 169
Paraípaba 92 94 91 88 88 93 114
Trairí 210 209 209 208 210 216 384
Itapipoca 71 74 88 99 112 128 188
Amontada 18 26 28 35 35 32 44
Itarema 36 38 45 48 50 53 73
Acaraú 12 9 15 14 14 15 37
Cruz 6 3 2 2 2 2 23
Jijoca 11 11 8 5 5 5 3
Carrocim 1 1 2 2 5 11 9
Barroquinha O O O O O O 1
Total 1673 1716 1831 1912 2042 2120 3220
Fonte: Projeto ESTATPESCA / IBAMA(1999-2005)
-36-

o lcapui
1 o Aracati
420 o Fortim
u) 390
s
❑Beberibe
360 O Casca'el
,5
4•5' 330 o Aquiraz
12 300 o Fortaleza
o Caucaia
270 e S.G. do Amarante
§ 240 o Paracuru
o 210 o Paraipaba
4) 180 o Trairi
,0 150
13 ❑Itapipoca
P 120 ❑Amontada
9
cz 90 O Itarerna
=
o. 60 o Acarai
30 o Cruz
❑Jijoca
o
o Camocim
1999 2005 o Barquinha
anos

Figura 47 — Distribuição da frota cadastra de paquete no Estado do Ceará por município, nos
anos de 1999 e 2005. Fonte: Projeto ESTATPESCA / IBAMA

Figura 48 — Gráfico demonstrando frota de paquete e jangada no Estado do Ceará, entre


•—• • •- • ate" • I" • : • Li •
-37-

5. CONCLUSÃO
As jangadas ovadas exigem maior cuidado por parte do dono, pois
devido a esse fato, o seu casco racha com facilidade se exposto ao sol
prolongado. Quanto está na areia da praia durante a espera da pescaria ou em
manutenção, é preciso colocar palha de coqueiro com areia sobre o convés e o
casco e se possível debaixo de uma sombra para evitar rachaduras. Este
mesmo tipo de jangada tem facilidade de naufrágio. Pois quando virada o seu
porão enche de água e vai a pique. Entretanto, elas são apropriadas à pesca
em alto mar, podendo utilizar aparelhos de pesca de variados tipos desde
linha-de-mão até rede-de-arrasto para camarão. A pescaria com jangada ocada
pode durar até sete dias devido a possibilidade do descanso dos pescadores
no porão.
Os paquetes não praticam a pesca em alto-mar, quando são utilizados
praticam a pescaria costeira, na qual pode se avistar serras ou até prédios no
auxílio à orientação da navegação, a pescaria dura apenas um dia, chamada
de ir-e-vir pelos pescadores.
Segundo o carpinteiro José Paulino da praia do Pacheco, que falou
sobre a exposição do paquete ao sol ele relatou que os problemas com
rachaduras no casco quando o mesmo é exposto ao sol prolongado são
menores que a jangada ocada. Possibilitando a embarcação ficar sem proteção
alguma contra o sol, devido ao fato de ser preenchida internamente de isopor,
faz com que o casco fique reforçado contra as rachaduras provocadas pelo sol.
No glossário do Projeto ESTATPESCA encontrado no anexo I, afirma
que a jangada é possuidora de quilha, mas na verdade o glossário se refere ao
patião, peça na qual é localizada atrás da popa servindo de suportar ao
conjunto do leme e não tem função alguma de quilha para a navegação.
Quanto ao paquete o glossário afirma a ausência correta de quilha. Nos
veleiros tradicionais, a quilha é fixa, porém nas jangadas e paquetes, a bolina é
retirável e exerce sua função.
As jangadas e os paquetes de um modo geral exercem um papel social
importante nas colônias do litoral cearense, pois são através delas que muitas
famílias tiram seu sustento diário e se mantêm unidas.
- 38 -

Os métodos e materiais utilizados na construção da jangada


modernizaram-se e ainda sofrem algumas alterações, desde o tempo da
jangada com casco de piúba. A jangada casco de tábuas tem maior
durabilidade e resistência e, portanto, apresenta uma depreciação cinco vezes
menor do que a antiga de piúba. A jangada tábua tem uma vida útil de três a
cinco anos enquanto a de piúba durava em média um ano.
O construtor atualmente, não é só carpinteiro de jangada ou de paquete,
e também carpinteiro de utensílios domésticos, trabalha como mestre-de-obras,
marceneiro, comerciante ou pescador.
O carpinteiro naval teve que se encaixar em outros mercados
profissionais, dominar novos materiais e ferramentas ou viver da pesca. Aquele
construtor que na década de 90 tinha até oito jangadas para construir e outras
dez para consertar durante o ano em média, atualmente tem nenhuma para
construir e com sorte uma para consertar ou fazer manutenção.
Em virtude disso o retorno de um investimento na construção de uma
nova jangada se torna inviável, deixando o mercado de construção de jangada
impraticável em certas colônias no Estado do Ceará.
Em toda a abrangência do litoral da colônia Z-17 localizada no município
de Icapuí, a jangada é colocada em segundo plano. Os botes a vela, barcos a
motor e outras embarcações maiores são predominantes na região.
No litoral oeste a partir do município de Amontada a ocorrência de
jangada é diminuta, considerando que nesta mesma região há uma presença
considerável de canoas propulsionadas a vela e barcos a motor, em virtude,
provavelmente, da direção dos ventos em relação a costa. Contudo os
pescadores têm preferências por embarcações maiores e mais rápidas- os
bastardos, a fim de obter uma maior produção e lucro rápido. Vale ressaltar
que na praia de Bitupitá, município de Barroquinha a pesca é feita em currais,
havendo total ausência de jangada e paquete cadastrados no período
correspondente de 1999 a 2004, apresentado pelo Projeto ESTATPESCA
(tabelas IV e V).
Existe um decréscimo da frota de jangada acima de 6 metros no litoral
cearense no período de 1999 a 2005, porém há um acréscimo substancial na
frota de paquete, que dobrou de quantidade no mesmo período de tempo,
como é demonstrado na figura 45.
- 39 -

Todavia, estes números podem refletir uma tendência de


insustentabilidade na pescaria artesanal com o uso do paquete, pois durante a
pesquisa os pescadores relataram em todas as praias à escassez do pescado
na atualidade. Os mesmo fizeram comparações com a produção pesqueira na
década de 70 e 80 com a produção nos anos atuais, quando uma jangada na
década de 80 em apenas uma ida ao mar pagava todos os custos de sua
construção. Atualmente o pescador tende a passar o ano todo para efetuar o
mesmo pagamento ao carpinteiro.
Devido ao raio de ação do paquete ser limitado, atua em regiões rasas e
próximas à costa. O aumento da frota de paquete pode ocasionar num curto
prazo de tempo em uma queda na produtividade nestas regiões, principalmente
pela captura de lagostas jovens.
A queda da produtividade pesqueira com uso de embarcações
artesanais já é evidente e demonstrada pelo Projeto ESTATPESCA. O IBAMA
é o órgão fiscalizador e avaliador dos períodos de defeso para a lagosta e o
pargo, com a finalidade de atenuar o processo de extinção dessas espécies
com alto valor comercial.
Por mais que a jangada sofra um decréscimo na sua frota e um
acréscimo insustentável na frota de paquete, este tipo de embarcação
artesanal ainda tem seu valor como símbolo sócio-econômico e cultural de todo
o litoral cearense, pois é através destas embarcações que muitas famílias tiram
o seu sustento o ano inteiro.
Mesmo não existindo construtores de jangada ou paquete em certas
colônias do Estado do Ceará, os pescadores e moradores das mesmas
colônias têm o conhecimento da sua existência e importância para outras
famílias e pescadores nas regiões onde a embarcação tem ocorrência.
A jangada desempenhou e ainda desempenha papel importante na vida
socioeconômica das famílias que vivem da pesca artesanal. Sendo, ela o único
meio de sustento alimentar e financeiro para algumas famílias de pescadores.
Contudo a jangada ainda é um símbolo para nossa cultural regional e
instrumento econômico para os pescadores artesanais.
-40-

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAUJO, Nearco Barroso Guedes de. Banco do Nordeste do Brasil. Jangadas.


1a ed. Fortaleza: BNB, 1985. 45 p.

CASCUDO, Luis da Câmara. Tradição, Ciência do Povo — 1971255p.

, Luis da Câmara. Jangadeiros. Rio de Janeiro: Ministério da


Agricultura; Serviço de Informação, 1957. 145 p.

, Luis da Câmara. Jangada: uma pesquisa etnográfica. Rio de


Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1957. 268 p.

, Luis da Câmara. Viagens ao Nordeste do Brasil. São Paulo, 1942.


548p

CAMARA, Alves. Embarcações do Brasil. Serviço de Documentação Geral da


Marinha Naval e Oceanográfica. Rio de Janeiro, 1973. 256 p.

CASTRO E SILVA, Sônia Maria Martins de. Universidade Federal de São


Carlos. Caracterização da pesca artesanal na costa do Estado do Ceará,
Brasil. São Carlos, 2004. 262 p. Tese (Doutorado) Universidade Federal de
São Carlos. Centro de Ciências Biológicas e da Saúde.

CARUSO, Raimundo C. Aventuras dos Jangadeiros do Nordeste. Florianópolis:


Panam Edições Culturais, 2004. 458 p.

ESTATPESCA, Relatório Técnico dos anos de 1999, 2000, 2001, 2002, 2003,
2004 e 2005. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/cepene>. Acesso em
18/03/2007.

FORTALEZA, Prefeitura Municipal de. Revista Farol. Fortaleza: V. 1. p. 24-37,


out. 2006.

JANGADANANTES. Site com conteúdo sobre jangada. Disponível em


<http://www.janqadanantes.free.fr>. Acesso em 25/04/2007.

RODRIGUES, José Honório et al. Civilizações Holandesas no Brasil. São


Paulo: Brasiliana, 1940.259 p.
-41-

APÊNDICE — I

FORMULÁRIO PARA COLETA DE DADOS SOBRE A CONSTRUÇÃO DE


JANGADAS E CONSTRUTORES

Nome:
Tamanho: até 3,5m 4-5 m acima de 6 m

Madeiras
Casco: c/ isopor s/ isopor
Bolina:
Banco de Vela:
Banco de Governo:
Espeque:
Mastro:
Leme:
Tranca:

Tempo de construção:

Custos
Madeiras:
Isopor:
Vela:
Colônia: Z- Praia:

Cordas:
Mão-de-obra:
- 42 -

ANEXO — I

GLOSSÁRIO DOS TIPOS DE EMBARCAÇÃO-PROJETO


ESTATPESCA/IBAMA

Denominação Tipo Descrição


Baiteira BAV Embarcação movida a vela, não possui
casaria, com convés fechado. Existem
algumas baiteiras que não têm convés,
sendo semelhantes às canoas. Possui
quilha, entretanto o formato diferencia-se do
bote a vela. Seu comprimento não
ultrapassa 6 metros.
BRE Embarcação movida a remo, com casco
Bote a remo chato, de pequeno porte, conhecida também
como catraia, baiteira, paquete a remo etc.
Bote a vela BOC Embarcação movida a vela, com casco de
madeira e quilha, convés fechado, sem
casaria (cabine), com comprimento
geralmente inferior a 11 metros, conhecida
também como bote a vela, barco a vela,
baiteira, bastardo etc.
Bote motorizado BOM Embarcação movida a motor, com casco de
madeira ou fibra, com quilha, convés
fechado, sem casaria (cabine) e geralmente
menor do que 10m, conhecida também
como janga.
Canoa CAN Embarcação movida a remo ou a vela, sem
convés, confeccionada em madeira Gagueira
ou marmeleiro) de fundo chato ou não, com
comprimento variando entre 3 e 9 metros e
vulgarmente conhecida como bateira, caíco,
curicaca, igarité, biana, patacho, canoa de
casco, batelão, iole etc.
Canoa motorizada CAM Embarcação movida a motor com potência
entre 11Hp e 22Hp, casco de madeira e
comprimento que chega atingir 8m.
Conservação do pescado: "in natura" ou
conservado em pequenas caixas
isotérmicas com gelo
Denominações: canoa ou bote a vela
Geleira NID Embarcações recolhedoras de pescado
Jangada JAN Embarcação movida a remo, vara ou a vela,
com quilha, confeccionada de madeira,
possui urna para acondicionar o material de
pesca
- 43 -

Denominação Tipo Descrição


Lancha LAN, Embarcação motorizada, com casco de
BMO, madeira, comprimento abaixo de 15 metros,
BPP, com casaria (cabine) no convés, podendo
BMP ser na popa ou na proa, conhecida
vulgarmente como barco a motor, saveiro de
convés, janga, barco motorizado etc. Pode
ser classificada em pequena, média e
grande.
Lancha Industrial LIN Embarcação motorizada, com casco de
ferro, geralmente maior que 15 metros, com
casaria (cabine) no convés, podendo ser na
popa ou na proa, também conhecida como
barco industrial, barco de ferro etc. Pode ser
classificada como pequena, média e grande.
Montaria MON Embarcação movida a remo, com casco de
madeira, com até 10 metros de
comprimento, capacidade de até 0,5t e
conservação do pescado "in natura".
Também conhecido como bote a remo,
tasquinho, reboque ou reboquinho.
Paquete PQT Embarcação movida a vela, com casco de
isopor revestido de madeira, sem quilha,
também conhecida como: jangada, catraia
etc.
- 43 -

Denominação Tipo Descrição


Lancha LAN, Embarcação motorizada, com casco de
BMO, madeira, comprimento abaixo de 15 metros,
BPP, com casaria (cabine) no convés, podendo
BMP ser na popa ou na proa, conhecida
vulgarmente como barco a motor, saveiro de
convés, janga, barco motorizado etc. Pode
ser classificada em pequena, média e
grande.
Lancha Industrial LIN Embarcação motorizada, com casco de
ferro, geralmente maior que 15 metros, com
casaria (cabine) no convés, podendo ser na
popa ou na proa, também conhecida como
barco industrial, barco de ferro etc. Pode ser
classificada como pequena, média e grande.
Montaria MON Embarcação movida a remo, com casco de
madeira, com até 10 metros de
comprimento, capacidade de até 0,5t e
conservação do pescado "in natura".
Também conhecido como bote a remo,
casquinha, reboque ou reboquinho.
Paquete PQT Embarcação movida a vela, com casco de
isopor revestido de madeira, sem quilha,
também conhecida como: jangada, catraia
etc.

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