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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOFÍSICA

GEO213 – TRABALHO DE GRADUAÇÃO

APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE TRATAMENTO E


INTERPRETAÇÃO DE DADOS SÍSMICOS
ORIUNDOS DA BACIA DE JEQUITINHONHA,
BA-BR

RAONI DE CARVALHO COSTA ALVES

SALVADOR – BAHIA
AGOSTO - 2008
Aplicação de técnicas de tratamento e interpretação de dados sı́smicos oriundos
da bacia de Jequitinhonha, BA-BR

por
Raoni de Carvalho Costa Alves

GEO213 – TRABALHO DE GRADUAÇÃO

Departamento de Geologia e Geofı́sica Aplicada


do
Instituto de Geociências
da
Universidade Federal da Bahia

Comissão Examinadora

Dr. Marco Antonio Barsottelli Botelho - Orientador

Dra. Jacira Cristina Batista de Freitas

Dra. Rosângela Corrêa Maciel

Data da aprovação: 28/08/2008


Dedico este texto à minha famı́lia,
pai, mãe, mulher, irmãos, tios, tias,
primos, primas; aos meus amigos e
colegas; aos mestres e mestras, e a
todos os estudantes que por ventura
venham consultá-lo.
RESUMO

O presente trabalho foi desenvolvido no intuito de treinar a aplicação das técnicas de


processamento e interpretação mais utilizadas pelos geofı́sicos na exploração sı́smica.

Obteve-se linhas sı́smicas marı́timas bidimensionais construı́das na bacia de Jequitinho-


nha (na Bahia) - uma das bacias sedimentares integrantes do conjunto de bacias de margem
continental passiva do litoral brasileiro, formada durante o processo de abertura do oceano
Atlântico e simultânea separação dos continentes sul-americano e africano. Estas linhas fo-
ram levantadas pela PETROBRAS e fornecidas pelo projeto Desenvolvimento de Técnicas
de Migração Pré-empilhamento para Imageamento sob Quebra da Plataforma Continental,
o qual participa o LAGEP do CPGG.

Durante o processamento foram desenvolvidas quatro estratégias: uma aplicando de-


convoluçãospiking do traço e também preditiva pré-empilhamento; uma aplicando decon-
volução spiking do traço pré-empilhamento; uma aplicando filtragem de freqüências pós-
empilhamento; e outra realizando o empilhamento após aplicação de ganhos. Os resultados
que forneceram uma imagem com os refletores mais nı́tidos na região da quebra da plata-
forma, foram devidos à estratégia que não utilizou filtros; contudo, nestas seções, os traços
sob a área da plataforma apresentaram-se com baixa resolução temporal. Já nesta área sob
a plataforma, a estratégia que aplicou filtragem de freqüências pós-empilhamento forneceu
seções com maior resolução nos traços.

A interpretação foi realizada unindo informações geológicas com as informações sı́smicas


oriundas das seções empilhadas, geradas neste trabalho, e das seções migradas fornecidas pelo
projeto. O resultado foi a construção de um modelo ilustrativo expondo os contornos das
estruturas e dos refletores interpretados, assim como sua disposição espacial.

iii
ABSTRACT

This work were developmented to use the techniques of data process and interpretation,
witch the geophysicists usually has applied to seismic exploration.

Was get off shore bidimensionals seismic lines from Jequitinhonha0 s basins (in Bahia) -
it is one of the sedimentary basin from the brasilian continental margin, created during the
formation from the South America and Afric continents. The survey of this lines were done
by PETROBRAS, and the data was given by the project ” Desenvolvimento de Técnicas de
Migração Pré-empilhamento para Imageamento sob Quebra da Plataforma Continental ”,
witch LAGEP from the CPGG takes part.

Four strategies were developmented during the data process: using both, preditive and
spiking deconvolution before the stack in the first one; than in the second using only the
spiking deconvolution before the stack; the third using pass-band filter after stack; and a
fourth stacking after the automatic gain control and the esferical divergence correction. The
images that showed the most strongger refletions under the breack continental plataform
were given from the strategy that was stacking after gain. However, in this sections, the
traces become thicks under the continental plataform. At this zone the pass band filter after
the stack increased the traces temporal resolution.

The interpretation was done joining geologic and seismic informations from the stack
sections in this work, and from the migrated sections given from the project. The result is a
drawn of a model that show the contours from the interpreted reflections and features, and
also shows the hers spacial behaviour.

iv
ÍNDICE

RESUMO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . iii

ABSTRACT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . iv

ÍNDICE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . v

ÍNDICE DE FIGURAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . vii

INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

CAPÍTULO 1 Geologia geral e local da área estudada . . . . . . . . . . . 3


1.1 Bacias Sedimentares Litorâneas do Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.1.1 Caracterı́sticas Estruturais e Tectônicas . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.1.2 Caracterı́sticas Estratigráficas e Sedimentológicas . . . . . . . . . . . 5
1.1.3 Evolução Geológica da Margem Brasileira . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.2 Bacia do Jequitinhonha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

CAPÍTULO 2 Aquisição dos Dados Sı́smicos . . . . . . . . . . . . . . . . 12

CAPÍTULO 3 Processamento dos Dados Sı́smicos . . . . . . . . . . . . . 20


3.1 Geometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.2 Edição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.3 Aplicação de Ganhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.3.1 Divergência Esférica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.3.2 Absorção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.4 Filtragem de freqüências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.4.1 Passa-banda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.4.2 Rejeita-banda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.4.3 Corta-baixa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.4.4 Corta-alta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.5 Deconvolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.6 Análise de Velocidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.7 Empilhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

CAPÍTULO 4 Interpretação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

v
CAPÍTULO 5 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

vi
ÍNDICE DE FIGURAS

1.1 Bacias sedimentares brasileiras com destaque para as bacias marginais (Fonte:
Fundação Phoenix) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 (esquerda) Modelo de configuração para os continentes sul-americano e afri-
cano no estágio de mar restrito, com notória influência da cadeia Rio Grande-
Walvis no controle sedimentar; (direita) Configuração atual dos continentes.
(Modificado: Souza-Lima, 2003) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.3 Localização da bacia do Jequitinhonha. (Fonte:ANP) . . . . . . . . . . . . . 9
1.4 Mapa localizando algumas principais estruturas da bacia do Jequitinhonha.
(Fonte: PETROBRAS) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.5 Carta estratigráfica da bacia do Jequitinhonha. (Fonte: ANP) . . . . . . . . 11

2.1 Localização das linhas construı́das pela equipe sı́smicas 214 da PETROBRAS
na bacia do Jequitinhonha, em destaque de branco com os rótulos de identi-
ficação ao lado de cada uma (Modificado ANP e PETROBRAS) . . . . . . . 13
2.2 Parâmetros de aquisição das linhas processadas neste trabalho . . . . . . . . 14
2.3 Secção da linha 214 − 2660 construı́da a partir da famı́lia de afastamento
comum para o receptor de afastamento mı́nimo (x = 150 m) . . . . . . . . . 15
2.4 secção da linha 214 − 2681 construı́da a partir da famı́lia de afastamento
comum para o receptor de afastamento mı́nimo (x = 150 m) . . . . . . . . . 16
2.5 secção da linha 214 − 2700 construı́da a partir da famı́lia de afastamento
comum para o receptor de afastamento mı́nimo (x = 150 m) . . . . . . . . . 17
2.6 secção da linha 214 − 2970 construı́da a partir da famı́lia de afastamento
comum para o receptor de afastamento mı́nimo (x = 150 m) . . . . . . . . . 18
2.7 secção da linha 214 − 2980 construı́da a partir da famı́lia de afastamento
comum para o receptor de afastamento mı́nimo (x = 150 m) . . . . . . . . . 19

3.1 Cálculo do CMP (CDP) e do offset a partir das coordenadas das fontes e dos
receptores; projeção do cdp na superfı́cie em um meio isotrópico . . . . . . . 22
3.2 Diagrama ilustrando algumas famı́lias de coordenada comum em um levan-
tamento sı́smico em função das coordenadas das fontes, dos receptores, dos
CMP0 s e do offset . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.3 Exemplo de janela de silenciamento dos dados no pacote Focus da Paradigm
Geophysical. À esquerda temos o dado de entrada com os respectivos picks
definindo a zona de silenciamento; à direita temos o dado de saı́da após a
aplicação do silenciamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

vii
3.4 Linha 214 − 2660; tiro 1320. À direita está representado o dado de entrada
gerado na etapa de geometria; à esquerda está representado a saı́da gerada
pela etapa de edição. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.5 Frente de onda se espalhando a partir do centro (fonte) ilustrando a de-
pendência da intensidade com a distância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.6 Exemplo de correção de divergência esférica utilizando o módulo GAIN do
pacote Focus, para o tiro 1 da linha 214 − 2660. . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.7 Gráfico de porcentagem versus freqüência para um filtro passa-banda . . . . 30
3.8 Gráfico de porcentagem versus freqüência para um filtro rejeita-banda . . . . 30
3.9 Gráfico de porcentagem versus freqüência para um filtro corta-baixa . . . . . 31
3.10 Gráfico de porcentagem versus freqüência para um filtro corta-alta . . . . . . 31
3.11 Filtro passa-banda aplicada pelo módulo FILTER no registro do tiro 1215 da
linha 214 − 2660 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.12 Janela para escolha dos picks e conseqüente definição das funções velocidade 36
3.13 Aplicação da correção NMO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.14 Campo de velocidades de empilhamento e campo de velocidades suavizado da
linha 214 − 2660 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.15 Campo de velocidades de empilhamento e campo de velocidades suavizado da
linha 214 − 2681 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.16 Campo de velocidades de empilhamento e campo de velocidades suavizado da
linha 214 − 2700 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.17 Campo de velocidades de empilhamento e campo de velocidades suavizado da
linha 214 − 2970 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.18 Secção empilhada da linha 214 − 2660 segundo a estratégia 1 . . . . . . . . . 42
3.19 Secção empilhada da linha 214 − 2660 segundo a estratégia 2 . . . . . . . . . 43
3.20 Secção empilhada da linha 214 − 2660 segundo a estratégia 3 . . . . . . . . . 44
3.21 Secção empilhada da linha 214 − 2681 a partir da estratégia 1 . . . . . . . . 45
3.22 Secção empilhada da linha 214 − 2681 a partir da estratégia 2 . . . . . . . . 46
3.23 Secção empilhada da linha 214 − 2681 a partir da estratégia 3 . . . . . . . . 47
3.24 Secção empilhada da linha 214 − 2700 a partir da estratégia de processamento 3 48
3.25 Secção empilhada da linha 214 − 2700 a partir da estratégia de processamento 2 49
3.26 Secção empilhada da linha 214 − 2700 a partir da estratégia de processamento 4 50
3.27 Secção empilhada da linha 214 − 2970 a partir da estratégia de processamento 3 51
3.28 Secção empilhada da linha 214 − 2970 a partir da estratégia de processamento 2 52
3.29 Secção empilhada da linha 214 − 2970 a partir da estratégia de processamento 4 53

4.1 Resultado da interpretação exposto na secção empilhada da linha 214 − 2660;


apontando quatro grandes refletores em concordância. . . . . . . . . . . . . . 56
4.2 Resultado da interpretação exposto na secção empilhada da linha 214 − 2700;
apontando quatro grandes refletores em concordância. . . . . . . . . . . . . . 57

viii
4.3 Resultado da interpretação exposto na secção empilhada da linha 214 − 2970;
apontando quatro grandes refletores em concordância. . . . . . . . . . . . . . 58
4.4 Resultado da interpretação exposto na secção migrada da linha 214 − 2980;
apontando quatro grandes refletores em concordância. . . . . . . . . . . . . . 59
4.5 Modelo ilustrativo expondo, em perspectiva, o relacionamento espacial dos
refletores interpretados, assim como o das zonas de cisalhamento rúptil. As
linhas tracejadas em roxo representam as interceções das seções sı́smicas . . . 60

ix
INTRODUÇÃO

Devido a sua alta resolução, alta precisão e grande poder de penetração na terra, o
método sı́smico tornou-se a técnica geofı́sica mais importante em termos de investimentos e
de número de profissionais envolvidos. A aplicação dos métodos sı́smicos está relacionada
principalmente à exploração de hidrocarbonetos, uma vez que a localização de poços ex-
ploratóirios e prospectos raramente são feitas sem informações sı́smicas. Entretanto temos
exemplos de importantes aplicações do método sı́smico na investigação de água subterrânea e
na geotecnia. Técnicas sı́smicas têm pouca aplicação na exploração mineral, contudo podem
ser úteis na identificação de paleocanais onde possivelmente alguns metais pesados podem
ter sido acumulados.

Os métodos sı́smicos envolvem medições de terremotos (ondas sı́smicas) gerados por


fontes de energia controladas e móveis; estas medições são feitas por sismômetros, geofones
ou hidrofones (a depender do tipo de levantamento: terrestre ou marinho), em pontos de
registro localizados a uma distância da fonte relativamente pequena. O dado é registrado em
fitas magnéticas na forma digital, e seu processamento computacional pode realçar o sinal
(aumentar a razão sinal/ruı́do), extraindo informações pertinentes utilizadas na interpretação
geológica.

A técnica fundamental da exploração sı́smica consiste na medição da variação da am-


plitude e dos tempos de trânsito que uma onda sı́smica, artificialmente gerada, gasta desde a
fonte até uma série de canais receptores - geralmente distribuidos ao longo da mesma direção
tomando a fonte - passando por diversos caminhos no interior da terra. Estes registros podem
evidenciar eventos como reflexão, refração e difração.

A despeito do caráter indireto do método, a maioria dos trabalhos sı́smicos resultam no


mapeamento de estruturas geológicas que, até certo ponto, vem descobrindo hidrocarbonetos;
igualmente, levantamentos geotécnicos, mapeamento de aqüı́feros e outros estudos requerem
acurados conhecimentos de estruturas de subsuperfı́cie, os quais podem ser fornecidos de
valiosas informações sı́smicas.

Este trabalho foi construido no intuito de treinar os procedimentos tradicionalmente


aplicados durante o tratamento (processamento computacional) e a interpretação dos da-
dos sı́smicos, utilizando conceitos referentes à sı́smica de reflexão, construindo, assim, um
material eminentemente didático. Fez-se um estudo da geologia geral e local da bacia de
Jequitinhonha - área de estudos - baseado em informações oriundas da literatura referida na
bibliografia deste texto. Processou-se dados sı́smicos bidimensionais, levantados na área de

1
2

estudos pela equipe sı́smica 214 da PETROBRAS, utilizando as técnicas clássicas do pro-
cessamento CMP e três diferentes estratégias de processamento. Após o processamento, foi
selecionada as linhas que apresentaram as imagens com a melhor qualidade, e realizou-se a
interpretação qualitativa estrutural destas linhas.
CAPÍTULO 1

Geologia geral e local da área estudada

1.1 Bacias Sedimentares Litorâneas do Brasil

As bacias sedimentares do litoral brasileiro - Pelotas, Santos, Campos, Espı́rito Santo,


Mucuri, Cumuruxatiba, Jequitinhonha, Almada, Camamu, Recôncavo, Tucano, Jatobá,
Jacuı́pe, Sergipe-Alagoas, Paraı́ba-Pernambuco, Potiguar, Ceará (Mandaú), Barreirinhas,
Pará-Maranhão e Foz do Amazonas (figura 1.1) - podem ser atualmente classificadas como
bacias de margem continental passiva - salvo a bacia aulacógena Recôncavo-Tucano-Jatobá
- as quais, à luz da teoria da tectônica de placas, evoluı́ram do processo de deriva conti-
nental resultante da ruptura do paleocontinente Pangea - mais especificamente da parte sul,
Gondwana - durante a formação dos atuais continentes da América do Sul e África, e do
oceano Atlântico Sul no Jurássico superior, a aproximadamente 135 milhões de anos (ver
escala de tempo geológico em anexo). Estas conclusões baseiam-se em estudos geológicos e
geofı́sicos destas bacias, os quais apontam certas semelhanças nas caracterı́sticas estruturais
e estratigráficas correlacionáveis nas mesmas. Contudo, as bacias da margem continental
brasileira apresentam diferenças estratigráficas e estruturais, as quais favoreceram a divisão
da margem continental em duas principais provı́ncias: a provı́ncia leste-sudeste e a provı́ncia
norte (Ponte & Asmus, 2004).

Para facilitar o entendimento das caracterı́sticas geológicas destas bacias, serão discu-
tidas separadamente caracterı́sticas estruturais e tectônicas, caracterı́sticas estratigráficas e
sedimentológicas, e modelos de evolução geológica para aquelas duas provı́ncias da margem
continental brasileira.

1.1.1 Caracterı́sticas Estruturais e Tectônicas

A provı́ncia leste-sudeste extende-se da bacia de Pelotas até a bacia Paraı́ba-Pernambuco,


podendo ser subdividida em duas áreas, uma que abrange as bacias de Pelotas à Sergipe-
Alagoas, e outra que engloba a bacia de Paraı́ba-Pernambuco. Apresenta um estilo tectônico
de regime tracional o qual foi datado com idades entre o Jurássico Superior e o Cretáceo

3
4

Figura 1.1: Bacias sedimentares brasileiras com destaque para as bacias marginais
(Fonte: Fundação Phoenix)

Inicial (andares pré-aptianos, Berriasiano à Valanginiano) e conhecido como reativação We-


aldiana da Plataforma Brasileira (Ponte & Asmus, 2004).

Na área de Pelotas à Sergipe-Alagoas, em geral encontramos falhas normais com dezenas


de quilômetros de extensão e rejeitos verticais variáveis, atingindo máximos de até 5000 m;
a maioria destas falhas dispõem-se paralelas aos alinhamentos do Pré-Cambriano Superior
gerados na orogênia Brasiliana ou Pan-Africana (500 - 600 m.a.) durante a formação do
paleocontinente Gondwana (Mohriak, 2003); predominam falhas sintéticas (ou homotéticas)
mergulhando para leste, as quais formaram altos estruturais que serviram como barreiras
aos sedimentos durante os estágios iniciais da evolução das bacias (Ponte & Asmus, 2004),
todavia, surgem falhas antitéticas em localidades restritas, as quais delimitam grabens que
geraram sub-bacias. Um padrão escalonado de falhas com alternância de horsts e grabens é
tı́pico nesta área, exceto nas bacias de Pelotas e Santos, onde somente é possı́vel constatar a
5

atuação de um regime tectônico distensivo mediante um graben estreito e alongado, paralelo


à costa, na bacia de Pelotas (Ponte & Asmus, 2004). A configuração estrutural da área
juntamente com sua evolução epirogenética permitiram o acúmulo de pacotes sedimentares
de até 8 km de espessura. O magmatismo desta área é evidenciado estratigraficamente em
dois perı́odos datados radiometricamente, um no Cretáceo Inferior (127 a 121 m.a.) e outro
no Cretáceo Superior e Terciário Inferior (85 a 41 m.a.), o qual gerou o banco de Abrolhos
e Royal Charllote responsáveis pelo alargamento da plataforma continental nas bacias de
Jequitinhonha, Cumuruxatiba e Espı́rito Santo.

As direções da maioria das estruturas da área de Paraı́ba-Pernambuco encontram-se


transversalmente às direções dos alinhamentos pré-cambrianos. Falhas sintéticas associadas
a blocos estruturais dispõem-se paralelas à linha de costa e à borda da plataforma continental,
de direções norte-sul, e cortam as estruturas pré-cambrianas de direções leste-oeste. Dois
elementos são marcantes no arcabouço estrutural da bacia, denominados de lineamento Patos
ou Paraı́ba, e Floresta ou Pernambuco, os quais são considerados falhas transformantes pré-
cambrianas de direções leste-oeste. A atividade magmática desta área é representada pela
ocorrência da formação litologicamente diversificada conhecida como vulcânicas do Cabo de
idades variando entre 90 e 85 m.a. (Ponte & Asmus, 2004).

A provı́ncia norte extende-se da bacia de Potiguar até à Foz do Amazonas. Apresenta


tanto elementos condizentes aos alinhamentos pré-cambrianos quanto elementos oblı́quos
aos mesmos (paralelos à costa); dentre as estruturas mais importantes temos falhas normais
sintéticas, singulares falhas reversas e anticlinais alongados paralelos à costa, o que sugere
dois estilos tectônicos, um compressional e outro tracional. As falhas normais sintéticas
dispõem-se em um padrão escalonado, o que proporcionou a deposição de pacotes sedimen-
tares que chegam a exceder 10 km de espessura. As estruturas compressionais, falhas reversas
e anticlinais, são de idade cretácica. O magmatismo datado do Cretáceo Inferior é bem me-
nos intenso em relação à margem leste-sudeste; ademais, não foram registradas ocorrências
ı́gneas do segundo perı́odo (Cretáceo Superior a Terciário Inferior). Todavia há registros
de atividade vulcânica recente (Paleógeno/Neógeno e Neógeno) na área continental emersa
(fonólito de Mecejana, 30 m.a.; basaltos de Cabuji, 20 m.a.) e nas ilhas do arquipélago de
Fernando de Noronha (12 a 2 m.a.) (Ponte & Asmus, 2004), além das ocorrências associadas
às zonas de falhas transformantes de Romanche e São Paulo.

1.1.2 Caracterı́sticas Estratigráficas e Sedimentológicas

Em termos estratigráficos, as bacias sedimentares da margem continental brasileira apresen-


tam sequências correlatas e geograficamente contı́nuas (Souza-Lima, 2003). Na provı́ncia
leste-sudeste, em geral, temos três seqüências de ambientes deposicionais distintos, as quais
6

caracterizam uma tı́pica bacia de margem continental que passou pelos estágios de frag-
mentação e deriva: seqüência inferior clástica, não-marinha; seqüência intermediária, eva-
porı́tica; e seqüência superior, carbonática e clástica, marinha (Ponte & Asmus, 2004). Na
provı́cia norte, temos a coluna estratigráfica igualmente dividida nas três seqüências prin-
cipais: seqüência inferior, seqüência intermediária e seqüência superior (Ponte & Asmus,
2004).

A seqüência inferior clástica, não marinha, da margem leste-sudeste, apresenta uma


unidade basal pré-rifte formada por folhelhos avermelhados com intercalações de arenitos
arcosianos, sotopostos a uma cobertura de arenitos médios a grosseiros; a espessura média
destes sedimentos varia de 300 a 500 m, mantendo uma continuidade litológica lateral con-
siderável, e, baseado em fósseis ostracóides, possuem idades situadas entre o Jurássico Su-
perior e final do Valanginiano; a ocorrência completa desta unidade encontra-se nas bacias
de Sergipe-Alagoas e do Recôncavo-Tucano e são correlacionadas com formações das bacias
africanas do Gabão e do Congo (Ponte & Asmus, 2004); outros autores afirmam que estas
unidades estão sobrepostas em discordância erosiva com remanescentes de rochas paleozóicas
e pré-cambrianas (Mohriak, 2003). A unidade superior da seqüência inferior clástica, não ma-
rinha, da margem leste-sudeste apresenta arenitos, folhelhos e subordinados calcários, além
de interpostas cunhas de conglomerados sintectônicos; apresentam espessuras de sedimentos
variando de centenas à milhares de metros; as bacias do Recôncavo e de Sergipe-Alagoas
apresentam as secções mais completas desta unidade; são considerados sedimentos flúvio-
deltaico-lacustrinos de idade cretácica inferior também correlacionados com formações das
bacias do Gabão e do Congo; estes sedimentos correspondem à fase rift da evolução da mar-
gem brasileira. Por sua vez, a seqüência inferior da margem norte é composta por sedimentos
terrı́genos continentais correspondentes à fase rifte.

A seqüência intermediária, evaporı́tica, é composta por siliciclásticos do Aptiano Inferior


(carbonatos, folhelhos e arenitos) associados a evaporitos (predominantemente halita com
anidrita subordinanda, e sais potássicos na bacia de Sergipe-Alagoas) do Aptiano Superior
a Albiano Inferior; é representada por um cinturão contı́nuo de aproximadamente 700 km de
largura estendendo-se de Santos (a norte da cadeia Rio-Grande) à Sergipe-Alagoas (exceto
Recôncavo-Tucano-Jatobá). A determinação da espessura real da seqüência é dificultada
pela presença de estruturas de movimentação do sal, como os diápiros, almofadas de sal,
cascos de tartaruga, muralhas de sal (Mohriak, 2003), além de falhas lı́stricas, extensionais
e compressionais. As seqüências evaporı́ticas aptianas associadas a sedimentos terrı́genos
são ausentes na secção norte da margem brasileira, a qual apresenta apenas os siliciclásticos
referentes à fase transicional.

A seqüência superior, carbonática e clástica, marinha é contı́nua em toda plataforma


continental e bacias da costa brasileira - exceto na bacia do Recôncavo-Tucano-Jatobá -
aparecendo tanto na provı́ncia leste-sudeste quanto na provı́ncia norte. Caracteriza-se pela
7

presença de sedimentos de idades abrangendo do Albiano Inferior ao Recente; somente na


bacia de Pelotas temos esta seqüência sincrônica à seqüência intermediária. A porção basal da
seqüência é composta predominantemente por rochas carbonáticas, exceto em Pelotas onde
os terrı́genos dominam. O intervalo temporal de deposição destes carbonatos aumenta em
sentido sul-norte, iniciando no Albiano e perdurando até o Santoniano; em Sergipe-Alagoas
eles variam do Maastrichiano até o Eoceno. A porção superior da seqüência é formada por
folhelhos e arenitos finos com calcários subordinados, de idades cretácica inferior à recente;
estas unidades apresentam um padrão progradacional tı́pico de margem continental, com as
fácies variando de sedimentos proximais mais grosseiros a distais mais finos.

1.1.3 Evolução Geológica da Margem Brasileira

A partir da análise das seqüências estratigráficas e das caracterı́sticas estruturais, foi possı́vel
distingüir, à luz da teoria de deriva continental, os estágios tectônicos de sinéclise, pré-rifte,
rifte, transicional (proto-oceano) e deriva (marinho aberto) (Souza-Lima, 2003), concernen-
tes à evolução geológica das bacias da margem continental brasileira; o arcabouço estrutural
da provı́ncia leste-sudeste indica um modelo de margem divergente; entretanto, devido à
presença de estruturas compressionais, sugere-se um modelo de margem transformante (com
eventos transtensionais com cisalhamento puro, e transpressionais, com cisalhamento sim-
ples) para a evolução geológica da margem continental norte.

Figura 1.2: (esquerda) Modelo de configuração para os continentes sul-americano e


africano no estágio de mar restrito, com notória influência da cadeia Rio
Grande-Walvis no controle sedimentar; (direita) Configuração atual dos
continentes. (Modificado: Souza-Lima, 2003)
.
8

A fase de sinéclise corresponde à sedimentos depositados em depressões intracratônicas


no Gondwana; os registros atuais desta fase encontram-se eminentemente nas bacias pa-
leozóicas intracratônicas brasileiras (Solimões, Amazonas, Parnaı́ba e Paraná). A fase pré-
rifte está relacionada com o soerguimento crustal devido à ascensão térmica resultante da
atuação de plumas mantélicas (hotspots) na astenosfera; esta elevação produziria depressões
periféricas além de falhas incipientes cotroladoras dos depocentros locais que serviriam como
zonas propı́cias para depósito de sedimentos. A evolução do pré-rifte para o rifte foi aproxi-
madamente simultânea (inı́cio do Cretáceo), marcada pelo aumento do estiramento crustal
gerado na fase anterior, e pela superação do limite elástico da crosta e conseqüênte ruptura
em um padrão de falhas escalonadas e blocos (horsts e grabens) mais ou menos simétrico;
um retardo localizado na formação do rifte se deu na bacia do Jequitinhonha; nas bacias
mais ao sul - de Espı́rito Santo à Pelotas - e em algumas à norte - Potiguar e Barreirinhas - a
evolução tectônica foi alimentada por atividade vulcânica associada ao estiramento crustal.
O estágio de proto-oceano é identificado pela presença de sequências evaporı́ticas (sal); pode-
se conjecturar que a sedimentação desta fase foi fortemente influenciada pelo alto estrutural
do lineamento Pernambuco-Ngaoundéré, a norte, e pela cadeia Rio Grande-Walvis, mais a
sul separando um ambiente marinho restrito de um ambiente marinho parcialmente restrito
(figura 1.2 (esquerda)); o estágio de deriva continental ou marinho aberto caracterizou-se
inicialmente pela formação de amplas plataformas carbonáticas, este sistema de deposição,
devido a fatores controladores da sedimentação (como clima e tectônica), progressivamente
foi cedendo lugar à atuação de um sistema de deposição siliciclástico, atualmente vigente
(figura 1.2 (direita)).

1.2 Bacia do Jequitinhonha

A bacia do Jequitinhonha pertence ao grupo de bacias litorâneas brasileiras. Está localizada


na porção nordeste da margem leste do Brasil, entre os paralelos −14◦ 350 e −16◦ 290 , e os
meridianos −39◦ 330 e −37◦ 210 , aproximadamente entre as cidades de Ilhéus e Porto Seguro,
em frente à foz do rio Jequitinhonha, no sul do estado da Bahia (figura 1.3). A maior parte
de sua área (∼ 9500 km2 ) encontra-se em zonas offshore (submersas), ou seja, é uma bacia
eminentemente marı́tima, sendo que somente 500 km2 estão em zonas onshore (emersas).
Ao norte, a bacia faz divisa com a bacia de Almada, com limite determinado pelo alto de
Olivença; nesta porção, sua batimetria descreve uma plataforma continental relativamente
curta, com espessuras da lâmina d0 água variando progressivamente até 50 m; a partir desta
profundidade, temos o inı́cio de um talude suavemente ı́ngreme, chegando a 3000 m de pro-
fundidade do fundo do mar. Ao sul da bacia, temos uma plataforma relativamente mais
alongada - devido à presença do complexo vulcânico Royal Charlotte, o qual é responsável
pelo alto estrutural que define o limite com a bacia de Cumuruxatiba, a plataforma continen-
tal pode chegar até cerca de 85 km de extensão - e um talude mais ı́ngreme com batimetria
9

Figura 1.3: Localização da bacia do Jequitinhonha. (Fonte:ANP)

de 50 m a 3000 m.

Em termos estruturais a bacia do Jequitinhonha é descrita com o modelo assimétrico


de meio-grábens, com um padrão de falhas escalonadas, com depocentros em sentido offshore,
apresentando dominância de falhas normais e de extensão (figura 1.4); estas últimas, conjetura-
se que foram oriundas do aporte térmico incomum o qual gerou o complexo vulcânico Royal
Charlotte, responsável pelo patamar elevado do embasamento da bacia na sua parte sul.
Na sua porção distal, a bacia apresenta estruturas compressionais associadas à tectônica
gravitacional, com fluxos salinos com vergência em sentido offshore.

A cobertura sedimentar da bacia do Jequitinhonha está sobreposta a rochas ı́gneas e


metamórficas pré- cambrianas, pertencentes ao embasamento cristalino da bacia. Os regis-
tros de suas unidades litoestratigráficas, datam para um inı́cio de sedimentação no Aptiano
(Cretáceo ∼ 123Ma), com a deposição do grupo Nativo - com a formação Mariricu - em
ambientes flúvio-lacustre na fase rifte (membro Mucuri), e marinho restrito na fase golfo ou
de transição (membro Itaúnas); a idade do inı́cio de sedimentação na bacia, evidencia um
10

relativo atraso comparado às demais bacias da margem brasileira. No Albiano (∼ 113Ma)
tem-se o inı́cio da deposição do grupo Barra Nova, com as formações São Mateus e Regência,
em ambiente parálico nerı́tico, o que favoreceu a construção de uma plataforma carbonática,
no regime de margem continental passiva. Aproximadamente no inı́cio do Santoniano (∼
88Ma) temos o advento da deposição do grupo Espı́rito Santo em ambientes abissal (fomação
Urucutuca), batial (formações Abrolhos e Caravelas) e nerı́tico (formação Rio Doce) em re-
gime de margem continental passiva; ao final do Terciário depositou-se a formação Barreiras
em ambiente nerı́tico sob regime de margem passiva; após a deposição da formação Bar-
reiras tem-se o inı́cio das sequências quaternárias atuais. A figura 1.5 representa a coluna
estratigráfica da bacia do Jequitinhonha.

Figura 1.4: Mapa localizando algumas principais estruturas da bacia do Jequiti-


nhonha. (Fonte: PETROBRAS)
11

Figura 1.5: Carta estratigráfica da bacia do Jequitinhonha. (Fonte: ANP)


CAPÍTULO 2

Aquisição dos Dados Sı́smicos

A área de estudo está localizada na bacia do Jequitinhonha, limitada norte e sul respec-
tivamente pelos paralelos −15◦ 10 e −15◦ 450 , e encerrada oeste e leste respectivamente pelos
meridianos −39◦ 290 e −38◦ 290 , como mostra a Figura 2.1. Os levantamentos em questão
foram realizados pela equipe sı́smica 214 da PETROBRAS no setor offshore da bacia, for-
necendo dados sı́smicos marinhos ao longo das linhas sı́smicas bidimensionais destacadas na
figura 2.1. As linhas sı́smicas estão sobrepostas à zona de quebra da plataforma continental e
inı́cio do talude, e totalizam nove linhas, as quais foram cedidas em formato SEGY - formato
padronizado pela Society of Exploration Geophysicists - ao Laboratório de Geofı́sica de Ex-
ploração de Petróleo (LAGEP) do Centro de Pesquisa em Geofı́sica e Geologia (CPGG) da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), para serem incorporadas ao projeto de pesquisa que
investiga a qualidade dos dados no talude continental. Das oito linhas destacadas, somente
quatro foram processadas até a etapa de empilhamento e interpretadas, pois apresentaram
qualidade e integridade aceitáveis para os objetivos do trabalho. Devido a este fato, abaixo
serão descritos unicamente os parâmetros de aquisição das linhas envolvidas neste traba-
lho, as quais foram divididas em duas categorias segundo suas respectivas direções: linhas
NE-SW e linhas NW-SE.

As linhas NE-SW são: 214 − 2660; 214 − 2681; 214 − 2700; e 214 − 2720. Destas linhas
apenas as três primeiras integram este trabalho; a linha 214 − 2720 foi eliminada da etapa
de processamento devido à baixa qualidade dos dados e à falta de integridade, uma vez que
os dados em sua maioria apresentavam-se incompletos e muitas vezes altamente ruidosos,
comprometendo informações pertinentes. As linhas NW-SE são: 214 − 2970; 214 − 2980;
214−3020; e 214−3030. As linhas 214−2980, 214−3020 e 214−3030 também não passaram
na seleção das linhas integrantes da etapa de processamento deste trabalho, pelos mesmos
motivos que a linha 214 − 2720; contudo, a linha 214 − 2980 foi fornecida migrada pelo
projeto, e devido a isto, participou da etapa de interpretação. Os parâmetros de aquisição
descritos abaixo foram coletados dos relatórios do observador referentes a cada linha. A
Figura 2.2 exibe uma tabela com os parâmetros de aquisição das linhas processadas neste
trabalho.

A linha 214 − 2660 pertence ao grupo de linhas NE-SW; ela foi construı́da a partir

12
13

Figura 2.1: Localização das linhas construı́das pela equipe sı́smicas 214 da PE-
TROBRAS na bacia do Jequitinhonha, em destaque de branco com
os rótulos de identificação ao lado de cada uma (Modificado ANP e
PETROBRAS)

de 1578 tiros; cada tiro dispunha de 120 canais de recepção sob o arranjo in line offset,
separados entre si de 25 m; a distância da fonte ao receptor mais próximo (afastamento
mı́nimo ou minimum offset) foi de 150 m e o intervalo espacial entre os tiros foi igual
ao afastamento entre os receptores (25 m), o que totalizou aproximadamente 39.4 km de
linha sı́smica, com azimute de 50◦ N. Este arranjo foi acoplado a uma embarcação de 40 m
de comprimento, a qual distava 33, 5 m das fontes; esta embarcação foi responsável pela
movimentação no sentido NE do conjunto fonte-receptores durante a aquisição. As fontes
utilizadas na aquisição foram do tipo canhão de ar (air gun), o qual é um dispositivo de
ar comprimido a alta pressão que emite, mediante explosão, um pulso sı́smico capaz de se
propagar através da água e das formações geológicas e, após a interação com os refletores,
ser registrado nos canais. Após o instante inicial, em que a fonte gera o pulso, os receptores
registraram, em um intervalo de amostragem de 4 ms, a chegada das ondas durante 7 s.
A Figura 2.3 ilustra uma secção da linha 214 − 2660 construı́da a partir da famı́lia de
afastamento comum para o receptor de afastamento mı́nimo.
14

As linhas 214 − 2681 e 214 − 2700, pertencentes à categoria de linhas NE-SW, foram
construı́das sob as mesmas configurações da linha 214 − 2660 - intervalo entre receptores,
número de canais, intervalo entre tiros, afastamento mı́nimo, taxa de amostragem, tempo
de registro, arranjo fonte-receptor, embarcação, tipo de fonte - diferindo apenas no número
de tiros realizados durante a aquisição e sentido de movimentação da embarcação. Para a
linha 214 − 2681 foram realizados 1674 tiros, totalizando aproximadamente 41.8 km de linha
sı́smica no azimute 230◦ N (sentido SW); para linha 214 − 2700 foram realizados 1590 tiros,
totalizando 39.7 km de linha sı́smica no azimute 50◦ N (sentido NE). As Figuras 2.4 e 2.5
ilustram respectivamente secções construı́das a partir da famı́lia de afastamento comum para
os receptores de afastamento mı́nimo, para as linhas 214 − 2681 e 214 − 2700.

As linhas do conjunto NW-SE foram construı́das com as mesmas configurações das


linhas do conjunto NE-SW, diferindo no número de tiros realizados e no sentido adotado
durante a aquisição. A linha 214 − 2970 foi construı́da sob 2169 tiros em sentido NW no
azimute N320◦ . As Figuras 2.6 e 2.7 ilustram as secções de afastamento comum para os re-
ceptores de afastamento mı́nimo, respectivamente para as linhas 214−2970 e a eliminada, da
etapa de processamento, 214 − 2980. As seções de afastamento mı́nimo permitem vislumbrar
aproximadamente a geometria da subsuperfı́cie antes do processamento CMP clássico.

Figura 2.2: Parâmetros de aquisição das linhas processadas neste trabalho


Figura 2.3: Secção da linha 214−2660 construı́da a partir da famı́lia de afastamento comum para o receptor de afastamento
15

mı́nimo (x = 150 m)
Figura 2.4: secção da linha 214−2681 construı́da a partir da famı́lia de afastamento comum para o receptor de afastamento
16

mı́nimo (x = 150 m)
Figura 2.5: secção da linha 214−2700 construı́da a partir da famı́lia de afastamento comum para o receptor de afastamento
17

mı́nimo (x = 150 m)
Figura 2.6: secção da linha 214−2970 construı́da a partir da famı́lia de afastamento comum para o receptor de afastamento
18

mı́nimo (x = 150 m)
Figura 2.7: secção da linha 214−2980 construı́da a partir da famı́lia de afastamento comum para o receptor de afastamento
19

mı́nimo (x = 150 m)
CAPÍTULO 3

Processamento dos Dados Sı́smicos

O processamento de dados digitalizados consiste em uma etapa fundamental e de grande


importância na prospecção sı́smica. Sua execução fornece imagens as quais costumam ser
interpretadas como a representação aproximada da subsuperfı́cie local; a partir de então,
cria-se modelos geológicos descrevendo estruturas rúpteis e dúcteis, além de descontinuidades
de diversas naturezas - erosivas, estratigráficas, litológicas, dentre outras. A dedicação no
processamento é primordial para se obter uma imagem com qualidade notável; para isso
é necessário conhecer fenômenos fı́sicos relacionados com a propagação de ondas elásticas
em meios rochosos, além da maneira como foi feita a aquisição dos dados; então poderemos
aplicar, mediante fluxogramas computacionais, uma análise matemática para corrigir efeitos
naturais que comprometem a qualidade do dado - como ruı́dos espúrios, atenuações, reflexões
múltiplas, ondas diretas e ondas superficiais como as ondas Rayleigh (ground roll ) , dentre
outros - aumentando com isto a razão sinal/ruı́do.

Etapas básicas de processamento são realizadas estabelecendo fluxogramas de proces-


samento, os quais assumirão diversas formas a depender da qualidade do dado levantado
e do objetivo a ser alcançado. Tradicionalmente, mediante a técnica do ponto comum em
profundidade (CDP), aplicam-se as seguintes etapas básicas, não necessariamente na mesma
ordem: geometria, edição, aplicação de ganhos, filtragens, análise de velocidades e empilha-
mento. Atualmente a indústria sı́smica é dotada de inúmeros softwares para processamentos
de dados; estes pacotes de programas realizam procedimentos diversos fundamentados nas
teorias fı́sicas e matemáticas concernentes à prospecção sı́smica, facilitando, deste modo, a
produção de imagens; muitos profissionais trabalham atualmente no desenvolvimento e na
aplicação destes pacotes, sendo copioso o investimento financeiro nesta área.

Abaixo serão descritas, em termos de suas definições e fundamentações teóricas, cada


etapa utilizada para processar as linhas selecionadas neste trabalho, e serão expostos os pro-
cessos e parâmetros intrı́nsecos de cada etapa os quais foram aplicados nas linhas processadas,
assim como seus resultados. Para o processamento das linhas foram utilizados os seguintes
pacotes disponı́veis nas máquinas da rede de informática do LAGEP: Focus, licenciado men-
salmente pela empresa Paradigm Geophysical ; e SU (Seismic Unix ), criado em linguagem
C por Jack K. Cohen e Shuki Ronen, ambos do Centro de Fenômenos Ondulatórios (CWP)

20
21

da Escola de Minas do Colorado, e distribuido gratuitamente pelo endereço eletrônico na


World Wide Web http://www.cwp.mines.edu/cwpcodes. O processamento basicamente foi
realizado utilizando o pacote da Paradigm; o pacote gratuito serviu na edição durante a
fase de importação dos arquivos contendo os dados, eliminando informações impertinentes
contidas nos cabeçalhos destes arquivos.

3.1 Geometria

O levantamento de dados sı́smicos consiste em dispor em um sistema de coordenadas espa-


ciais, receptores e fontes. Os receptores - freqüentemente chamados de canais1 - registram
a variação da amplitude das frentes de onda sı́smica, de maneira discreta sob um intervalo
de amostragem (sample rate), durante um certo tempo de registro (record length); o regis-
tro de cada canal neste record length é denominado traço; os traços são gravados em fitas
magnéticas e depois transformados para a forma digital; as frentes de onda sı́smica são ini-
cialmente geradas pela fonte no ponto de tiro (shotpoint), onde é liberada energia em um
amplo espectro de frequências. Conhecer e determinar as posições exatas de cada fonte e seus
respectivos receptores, os tipos de arranjos utilizados, o número de tiros realizados durante
o levantamento, assim como a taxa de amostragem e número de amostras por traço, consiste
na etapa primordial do processamento sı́smico; estas informações devem estar contidas no
relatório do observador; a partir de então pode-se calcular o número máximo de estações,
assim como o espaçamento entre elas e suas relações com as fontes e os receptores, através
da equação 3.1.
N ◦ estmax = N ◦ est1◦ tiro + ∆est · (Ntiros

− 1) (3.1)
Na equação 3.1, N ◦ estmax representa o número máximo de estações em um levantamento
sı́smico seguindo somente um arranjo de fonte-receptores; N ◦ est1◦ tiro é o número de estações
do primeiro tiro; ∆est é o incremento de estações por tiro; Ntiros

é o número de tiros realizados
no levantamento. Também se calcula as coordenadas de outros elementos pertinentes à
geometria definidos através das coordenadas das fontes e dos receptores; os dois principais
0
elementos adicionais são as coordenadas dos CMP s (common mid point), ou seja, o ponto
médio comum à fonte e ao receptor no plano de superfı́cie, e o afastamento entre a fonte e o
receptor (offset). Sendo Gx a coordenada do receptor e Sx a coordenada da fonte, definimos
o CMP como
Gx + Sx
CM P = (3.2)
2
Se o sistema for linear e isotrópico - o que não é o caso da maioria dos ambientes
geológicos - a coordenada do CMP seria a projeção, no plano da superfı́cie, do CDP (com-
mon dip point), ou seja, do ponto comum em profundidade, determinado pela primeira
reflexão em uma interface submersa. Para facilitar o tratamento matemático e a compre-
ensão dos fenômenos fı́sicos, costuma-se considerar os ambientes geológicos terrestres como
22

aproximações de sistemas lineares e isotrópicos; por este motivo, o cálculo das coordena-
das do CMP, s é classicamente conhecido como o cálculo das coordenadas dos CDP, s, e esta
consideração tem produzido resultados satisfatórios.

O offset por sua vez é definido como

OF F SET = Gx − Sx (3.3)

As Figuras 3.1 e 3.2, ilustram, respectivamente, o cálculo do CMP, do CDP e do offset


e um diagrama esquematizando os eixos coordenados com representação de algumas famı́lias
comuns em um levantamento sı́smico sob um tı́pico arranjo end on.

Figura 3.1: Cálculo do CMP (CDP) e do offset a partir das coordenadas das fontes
e dos receptores; projeção do cdp na superfı́cie em um meio isotrópico

Devido à geometria ser a etapa primordial, ou seja, a base do processamento sı́smico, ela
não pode empolgar o luxo de erros, uma vez que nesta etapa estarão definidas informações
referentes à aquisição, estabelecendo, deste modo, os arranjos e número de tiros utilizados
no levantamento, qualquer espécie de informação que não venha descrever fielmente estes
parâmetros acarretarão em erros que perdurarão nas etapas procedentes do processamento.

No Focus, a geometria é construı́da mediante quatro planilhas fundamentais: a que


define as coordenadas e o número de estações (Station); a que define as coordenadas e as
estações referentes à cada tiro; a que define os arranjos utilizados durante a aquisição; e a
que calcula as coordenadas e a cobertura dos CDP0 s. Os parâmetros de aquisição das linhas
processadas que estão descritos no capı́tulo 2 (Aquisição dos Dados Sı́smicos) foram os mes-
mos utilizados na etapa da geometria para todas as linhas. Após computar os parâmetros da
23

geometria nas planilhas do Focus, construiu-se um fluxograma, com módulos do pacote, para
carregar a geometria e gerar um arquivo de saı́da para ser utilizado nas etapas posteriores.

Figura 3.2: Diagrama ilustrando algumas famı́lias de coordenada comum em um


levantamento sı́smico em função das coordenadas das fontes, dos recep-
tores, dos CMP0 s e do offset
24

3.2 Edição

Durante a aquisição podem ocorrer diversos problemas que comprometem a qualidade dos
dados. As vibrações corriqueiras do ambiente, algum evento imprevisı́vel que provoque vi-
brações anômalas (um peixe esbarre em um receptor), defeitos ou erros na fabricação ou
montagem dos canais, ruidos elétricos naturais do equipamento de aquisição, baixa intensi-
dade da fonte, dentre outras situações, alteram notoriamente a qualidade dos dados. Traços
ruidosos, sem amplitudes significativas, zerados ou que fujam do padrão dos demais em uma
famı́lia de tiro comum, devem ser identificados e editados. O processo de edição consiste em
eliminar, zerar, omitir ou silenciar os traços, ou parte deles, os quais estejam apresentando
alguma anomalia de caráter descrito acima.

A edição pode ser feita em qualquer parte do processamento, desde que os processos
aplicados ao dado venham resultar em ocasionais ruı́dos. Todavia, classicamente costuma-se
aplicar a edição na etapa do pré-processamento. Os softwares atuais apresentam métodos
interativos para edição, onde pode-se visualizar o dado e identificar rapidamente os traços
indesejados, ou parte deles; o Focus, por exemplo, realiza este tipo de procedimento intera-
tivo.

Foi realizado o silenciamento de parte dos traços nas linhas processadas; estas partes
representavam os registros das ondas diretas e de ruı́dos superficiais, e estavam localizadas
acima dos registros da primeira reflexão, referentes à reflexão primária no fundo do mar;
a figura 3.3 ilustra o processo de silenciamento no Focus. Nas linhas processadas foram
omitidos traços ruidosos, considerados fora do padrão dos demais. Nas linhas 214 − 2660 e
214 − 2681 foram omitidos os traços dos canais 12, 56, 59 e 82; a figura 3.4 exemplifica os
dados de entrada oriundo da etapa de geometria, e os dados de saı́da gerados pela edição
da linha 214 − 2660 para o tiro 1320. A linha 214 − 270 apresentou os traços das famı́lias
de tiro comum no intervalo do tiro 345 ao 482, além dos tiros 525, 1495, 1589, não ı́ntegros
e/ou bastante ruidosos, portanto foram eliminados. Foram omitidos os canais ruidosos 15,
60, 63 e 86 para as demais famı́lias de tiro comum.

3.3 Aplicação de Ganhos

Durante a propagação da onda elástica em um meio rochoso, fenômenos fı́sicos atuam pro-
movendo a diminuição da amplitude do sinal sı́smico, ou seja, a atenuação do sinal. Como
o traço sı́smico representa a variação da amplitude com o tempo, se aquela for atenuada,
sua evidência ficará omitida e o dado perderá qualidade. Devido a isso, aplicam-se os ga-
nhos nos dados, ou seja, corrige-se os efeitos naturais de atenuação das amplitudes das ondas
sı́smicas. No caso deste trabalho, vamos nos ater à divergência esférica e à absorção, contudo
é relevante evidenciar que o particionamento de energia nas interfaces durante os eventos de
25

Figura 3.3: Exemplo de janela de silenciamento dos dados no pacote Focus da


Paradigm Geophysical. À esquerda temos o dado de entrada com os
respectivos picks definindo a zona de silenciamento; à direita temos o
dado de saı́da após a aplicação do silenciamento

Figura 3.4: Linha 214 − 2660; tiro 1320. À direita está representado o dado de
entrada gerado na etapa de geometria; à esquerda está representado a
saı́da gerada pela etapa de edição.
26

reflexão e refração, é um efeito adicional no decrescimento da amplitude com a distância.


Os pacotes disponı́veis no mercado possuem módulos de ganho automático AGC (automatic
gain control ), os quais aumentam a visibilidade do traço adicionando às amplitudes atenu-
adas, a média entre os valores de amplitude da vizinhança (janela) pré-estabelecida de um
ponto em um traço; esta janela irá percorrer todo o traço competindo a cada ponto, a adição
do ganho.

3.3.1 Divergência Esférica

Quando uma fonte de energia puntual gera uma frente de onda tridimensional em um meio
isotrópico e linear, esta frente de onda normalmente assume um formato esférico (Figura
3.5). Considerando o teorema da conservação da energia total de um sistema, e supondo
que não há conversão de energia, é evidente que à medida em que a onda se propaga, o raio
da frente de onda esférica aumenta, conseqüentemente a área e o volume da esfera também
aumentam; todavia, a energia gerada pela fonte e transmitida pela frente de onda permanece
constante e é uniformemente distribuida pela área e pelo volume da esfera, fazendo com que
a densidade de energia diminua; para uma onda harmônica, a energia cinética por unidade
de volume máxima (densidade de energia) é representada por
1
E = ρω 2 A2 (3.4)
2

onde A é amplitude da onda, ω é a freqüência angular da onda, e ρ é a densidade do


meio elástico no qual a onda se propaga. Definindo a intensidade da onda como sendo a
quantidade de energia que atravessa um elemento de área normal ao raio da frente de onda
por unidade de tempo, obtemos, para uma onda harmônica
1
I = EV = ρV ω 2 A2 (3.5)
2
onde I é a intensidade da onda, e equivale à potência média; E é a densidade de energia;
e V é a velocidade de propagação da onda. Na Figura 3.5 ilustramos uma frente de onda
esférica em dois instantes; assumindo que o fluxo de energia (produto da intensidade pela
área da frente de onda) seja constante e que a área da frente de onda seja proporcional ao
seu raio, obtemos as seguintes relações
I2 S1 r2 E2
= = 12 = (3.6)
I1 S2 r2 E1
sendo Si e ri , i = 1, 2 são respectivamente a área da frente de onda e o tamanho do raio
da frente de onda. Isto representa o efeito da diminuição da amplitude causado pelo espa-
lhamento geométrico, conhecida como divergência esférica, determinando que a amplitude
seja inversamente proporcional ao raio. Estudos apontam que as atenuações por divergência
esférica são mais importantes para baixas freqüências e pequenas distâncias à fonte.
27

Foi corrigida a divergênca esférica nas linhas processadas utilizando o módulo GAIN
do Focus. A figura exemplifica o resultado da aplicação do módulo GAIN para o registro do
tiro 1 da linha 214 − 2660.

Figura 3.5: Frente de onda se espalhando a partir do centro (fonte) ilustrando a


dependência da intensidade com a distância

3.3.2 Absorção

A absorção é o fenômeno de conversão da energia elástica, transmitida pela onda sı́smica,


em calor; quando uma onda sı́smica aravessa um meio, provoca-no uma compressão gerando
calor, após esta compressão o calor provoca uma fase de expansão e é absorvido pelo meio; se
o meio é totalmente elástico, o calor gerado na compressão será igual ao calor absorvido na
expansão durante a passagem da onda elástica; contudo, as rochas não são meios totalmente
elásticos e durante a passagem da onda, uma fração da energia elástica é convertida em calor,
provocando um decrescimento de natureza exponencial na intensidade - e conseqüentemente
na amplitude - da onda; podemos representar matematicamente este decrescimento por

I = I0 · e−ηx (3.7)

Onde I e I0 são respectivamente as intensidades final e inicial da onda em pontos


28

Figura 3.6: Exemplo de correção de divergência esférica utilizando o módulo GAIN


do pacote Focus, para o tiro 1 da linha 214 − 2660.

distintos separados pela distâcia x; η é o coeficiente de absorção do meio.

Este fenômeno é mais evidente a grandes distâncias da fonte sı́smica, onde o sinal perde
a visibilidade. A absorção também atua sobre as freqüências, uma vez que as frequências mai-
ores possuem maior capacidade de agitar as partı́culas, elas são mais facilmente convertidas
em calor, fazendo com que freqüências menores sejam menos atenuadas e consequentemente
se aprofundem mais no substrato rochoso.

3.4 Filtragem de freqüências

Quando uma fonte de energia gera uma frente de onda sı́smica, esta é considerada como resul-
tante da superposição de diversas ondas; estas por sua vez diferem em termos de amplitude,
fase e freqüência. No levantamento sı́smico, somente freqüências dentro de um determinado
espectro são pertinentes. A determinação deste espectro varia dentre os estudiosos. Segundo
Telford (Telford et al., 1990), as frequências das ondas sı́smicas que englobam eventos de
reflexão concentram-se no intervalo de 15 à 50 Hz. Entretanto é necessário avaliar o espectro
de freqüência contido no dado bruto (não processado) e objetivar o tipo de evento que se
deseja enfocar - reflexões profundas ou rasas, refrações, etc - para então poder aplicar o filtro
no dado. Geralmente, as freqüências mais baixas (menores que 15 Hz) são consideradas
como as ondas superficiais Rayleigh também conhecidas como ground roll, e as freqüências
mais altas (segundo Telford, no caso de eventos de reflexão, maiores que 50 Hz) são tratadas
29

como ruı́dos.

Para se realizar o processo de filtragem de freqüências é pertinente avaliar o espectro


de freqüência do dado antes de aplicar os filtros; ao fazer esta avaliação, transformamos o
dado para o domı́nio da freqüência; este procedimento é efetuado pelo artifı́cio matemático
denominado transformada de Fourier. Para realizar a operação contrária, ou seja, transfor-
mar o dado para o domı́nio do tempo, utiliza-se a transformada inversa de Fourier. O ponto
importante das transformadas é que a informação não é perdida com a transformação. O
sistema de equações abaixo, denominado par de transformadas, é utilizado para realizar as
operações descritas acima sobre uma amostragem contı́nua
Z ∞
gt = Gν · ej2πνt (3.8)
−∞

Z ∞
Gν = gt · e−j2πνt (3.9)
−∞

Onde gt é uma razoável função bem comportada no domı́nio do tempo e Gν é a sua


transformada no domı́nio da freqüência; t é o tempo, ν a freqüência e j o operador complexo

j = −1. A primeira equação representa a transformada inversa de Fourier, enquanto a
segunda representa a transformada direta. Para uma distribuição discreta, o que é o caso
dos dados sı́smicos, utilizamos o seguinte par de transformadas

gt = Σν Gν · ej2πνt (3.10)

Gν = Σt gt · e−j2πνt (3.11)

Após empolgar condições de trabalhar em ambos os domı́nios (tempo e freqüência),


pode-se estipular fluxogramas eficazes na filtragem de freqüências. Segundo Yilmaz (Yilmaz,
1987) um fluxograma menos dispendioso - em termos computacionais - pode ser desenvolvido
trabalhando com os dados no domı́nio do tempo, definindo no mesmo domı́nio um operador
filtro o qual será convolvido com o dado bruto; este mesmo autor expõe a situação em que
se trabalha com os dados no domı́nio da frequência - com a aplicação das transformadas de
Fourier - o operador filtro neste caso, devido ao teorema da convolução, será multiplicado
pelo dado bruto. Os filtros utilizados são de diversas formas, dentre os mais comuns são o
passa-banda, rejeita-banda, corta-baixa e o corta-alta. Abaixo temos uma sucinta descrição
destes quatro tipos de filtro.

3.4.1 Passa-banda

Dentre os filtros de freqüências existentes, o passa-banda é o mais comumente utilizado. Seu


princı́pio consiste em eliminar as freqüências fora de um certo intervalo pré-determinado.
30

A estipulação deste intervalo fica a critério do objetivo do processamento, e necessita da


escolha de quatro freqüências para estabelecer a banda; o filtro tomará a primeira freqüência
como valor inicial e deixará passar gradualmente os valores que se encontram no intervalo
entre a primeira e segunda freqüência estabelecidas; alcançada a segunda freqüência, pre-
servará 100% dos valores até atingir a terceira freqüência, e então começará a decrescer
gradativamente até atingir a quarta. A figura 3.7 ilustra o procedimento do filtro.

Figura 3.7: Gráfico de porcentagem versus freqüência para um filtro passa-banda

3.4.2 Rejeita-banda

O filtro rejeita banda realiza o procedimento contrário ao do passa-banda, deixando passar


freqüências fora do intervalo (banda) estipulado. A figura 3.8 mostra o comportamento do
filtro rejeita-banda.

Figura 3.8: Gráfico de porcentagem versus freqüência para um filtro rejeita-banda

3.4.3 Corta-baixa

Também conhecido como passa-alta, seu fundamento consiste em eliminar os valores abaixo
de uma freqüência primária, e deixar passar gradativamente os valores acima desta freqüência
até atingir uma segunda freqüência estabelecida, para a partir de então preservar 100% dos
valores. A figura 3.9 ilustra o comportamento do filtro corta-baixa.
31

Figura 3.9: Gráfico de porcentagem versus freqüência para um filtro corta-baixa

3.4.4 Corta-alta

Também denominado passa-baixa, realiza o procedimento contrário do corta-baixa. A figura


3.10 mostra o comportamento deste filtro.

Figura 3.10: Gráfico de porcentagem versus freqüência para um filtro corta-alta


32

A filtragem de freqüência realizada em todas as linhas utilizou o módulo FILTER do


Focus, aplicando um filtro do tipo passa-banda na fase pré-empilhamento para a banda
de freqüências de 15, 20, 45 e 50 Hz. Aplicou-se também um filtro passa-banda pós-
empilhamento com a banda de freqüência de 12, 15, 50 e 55 Hz. Um exemplo da aplicação
deste filtro na fase pré-empilhamento é ilustrado na figura 3.11.

Figura 3.11: Filtro passa-banda aplicada pelo módulo FILTER no registro do tiro
1215 da linha 214 − 2660

3.5 Deconvolução

Embora algumas estratégias de processamento apliquem a deconvolução após o empilha-


mento, o processo de deconvolução é comumente realizado antes do empilhamento e no
domı́nio do tempo (Yilmaz, 1987). Seu uso é aplicado na compressão do traço sı́smico (de-
convolução do traço ou deconvolução spiking) que geralmente permite obter um aumento
na resolução temporal do traço (enfatizando os refletores), e na atenuação ou supressão de
múltiplas (deconvolução preditiva) causadas pelas reverberações, no caso de levantamentos
marinhos, da energia sı́smica na base e no topo da lâmina d0 água (múltiplas de curto perı́odo),
ou causadas por eventos de longo perı́odo. Para isso, adota-se o modelo convolucional do
traço sı́smico, ou seja
xt = p t ∗ e t + η t (3.12)
onde xt é o traço sı́smico; pt o pulso sı́smico (ou wavelet), et a resposta impulsiva ou função
refletividade do meio; ηt é um ruı́do aditivo geralmente desprezado. O sinal ∗ designa a
33

operação de convolução; a deconvolução seria a operação inversa - assim como a divisão é


a inversa da multiplicação e diferenciação a da integração - ou seja, uma convolução com
o filtro inverso do pulso; a partir desta operação pode-se calcular a função refletividade do
meio, partindo de uma estimativa da assinatura da fonte (wavelet) geralmente desconhecida.
No caso de sismogramas marinhos contendo reflexões múltiplas, podemos escrever o modelo
convolucional do traço sı́smico livre de ruı́dos como (Yilmaz, 1987)

xt = w t ∗ m t ∗ e t (3.13)

Desta vez o pulso foi representado por wt ; mt representa as múltiplas, e et agora representa
a função refletividade da terra excluindo as múltiplas associadas com as reverberações nos
limites da camada de água.

Um filtro inverso de um pulso possui a seguinte propriedade

ht ∗ p t = δ t (3.14)

onde ht é o filtro inverso do pulso e δt é um pulso unitário representado pelo o delta de


Kronecker, onde para t = 0 teremos δ0 = 1, e para os demais valores de t, δt será nulo.

Se convolvermos o filtro inverso do pulso com o traço sı́smico, obteremos a resposta


impulsiva do meio. Para calcular o filtro inverso do pulso podemos aplicar a transformada
Z no pulso, a qual transforma o vetor (discreto) pulso em um polinômio em função da
coordenada Z, cujos coeficientes são os elementos do vetor; a partir daı́ podemos expandir o
inverso do polinômio transformado para um número determinado de coeficientes, truncando
assim o operador filtro inverso; o número de coeficientes escolhido nesta expansão é conhecido
como comprimento do operador da deconvolução. Devido ao erro natural decorrente do
truncamento do operador, podemos escolher um filtro que torne o somatório dos erros ao
quadrado mı́nimo, e um filtro calculado com esta intensão é denominado filtro Mı́nimos
Quadrados. Contudo, o filtro anterior é somente útil para pulsos bem comportados, ou seja,
de fase mı́nima (onde a energia do pulso é concentrada no inı́cio da distribuição). Para
resolver este problema foi desenvolvido o filtro ótimo de Wiener, o qual pode ser aplicado
para qualquer pulso e é calculado pela equação abaixo
     
r0 r1 r2 · · · rn−1 a0 g0
 r1 r0 r1 · · · rn−2   a1   g1 
     
     
 r2 r1 r0 · · · rn−3    a 2  =  g2  (3.15)
   
 .. .. .. ..   ..   .. 

 . . . ··· .   .   . 
rn−1 rn−2 rn−3 · · · r0 an−1 gn−1

onde ri , ai e gi , com i = 1, 2, 3, · · · , n − 1, são respectivamente a autocorrelação do pulso,


os coeficientes do filtro inverso ótimo de Wiener, e a correlação cruzada (croscorrelação)
do pulso com a saı́da desejada. Um método bastante utilizado - devido ao seu caráter
34

computacionalmente econômico - para a obtenção do filtro inverso ótimo é conhecido como


recursão de Levinson. Na prática algorı́tmos que baseiam-se na teoria do filtro ótimo de
Wiener são conhecidos como algorı́tmos de Wiener-Levinson.

No software utilizado existe o módulo DECONA que utiliza um algoritmo de Wiener-


Levinson e realiza a deconvolução mediante quatro janelas de tempo fixas. As janelas uti-
lizadas em todas as linhas processadas foram: 0 a 1750 ms; 1740 a 3500 ms; 3490 a 5250
ms; e 5240 a 7000 ms. Aplicou-se a deconvolução do traço e a deconvolução preditiva. Para
todas as linhas, durante a deconvolução do traço, utilizou-se um operador de comprimento
igual a 160 ms e luz branca nula (0%). Na aplicação da deconvolução preditiva, para as
linhas 214 − 2660 e 214 − 2681 foi utilizado um operador de comprimento igual a 160 ms,
distância de predição de 32 ms, e luz branca de 0%, no intuito de atenuar as múltiplas de
curto perı́odo.

3.6 Análise de Velocidades

A análise de velocidade consiste na etapa do processamento onde se determina as velocidades


das camadas que formam o meio. A determinação das velocidades não pode ser feita de
maneira aleatória pois alguns princı́pios teóricos são levados em conta durante a análise de
velocidade.

Se tratando de ondas compressionais, temos que as velocidades das camadas crescem


com a profundidade; cada rocha tem seu espectro de velocidades determinado experimental-
mente por diversos estudos, e em geral a velocidade das ondas compressionais cresce com o
aumento da densidade, da rigidez e da compactação da rocha, diminuindo com o aumento
da porosidade; como o aumento da pressão litostática compete à rocha uma maior tendência
para a compactação e conseqüentes aumentos na rigidez e densidade, pois a pressão força a
união das partı́culas que formam a rocha diminuindo os espaços entre elas, pode-se justificar
o aumento das velocidades com a profundidade. Uma carta estratigráfica da área sobre a
qual se levantou os dados sı́smicos pode auxiliar na escolha dos picks de velocidade; contudo
a mudança na velocidade pode não significar necessariamente mudança no tipo litológico, e
sim uma variação local nas propriedades fı́sicas as quais controlam a impedância da camada
- densidade, porosidade e rigidez, por exemplo. Por isso leva-se em conta um atributo adici-
onal, fundamental nos dados sı́smicos: a coerência. A coerência consiste em uma espécie de
assinatura de um evento sı́smico, determinando que os trechos dos traços sı́smicos referentes
a um mesmo evento se apresentem de maneira idêntica ou aproximadamente igual; isto nem
sempre é possı́vel pois já foi discutido em secções anteriores que as amplitudes iniciais do sinal
sı́smico podem ser contaminadas por ruı́dos diversos, além de sofrerem atenuações devido ao
espalhamento geométrico e à absorção; todavia, o grau de coerência pode ser quantificado,
auxiliando na escolha dos picks de velocidade, e confirmados pela correção NMO explanada
35

abaixo.

Ao se trabalhar com sı́smica de reflexão, ou seja, evidenciando somente os eventos de


reflexão no dado, interessa apenas esclarecer as posições exatas das superfı́cies refletoras; para
isto utiliza-se a correção normal moveout (NMO) a qual horizontalizará as hipérboles que
descrevem os eventos de reflexão. A correção NMO é o critério matemático principal para
reconhecer um evento de reflexão (Telford, 1990). Para o modelo de refletor plano separando
dois meios de impedâncias distintas, designamos V , t, x e h como sendo, respectivamente, a
velocidade da onda compressional no meio, o tempo de percurso para a reflexão primária no
ponto C, o qual será registrado pelo geofone de coordenada x, o offset, e a profundidade do
refletor. O relacionamento entre t e x é obtido mediante a definição clássica de velocidade
para um movimento uniforme (norma da aceleração nula) juntamente com a aplicação da lei
dos cossenos para um triângulo retângulo (teorema de Pitágoras), nos fornecendo a equação

x2 4h2 x2
t2 = + = + t20 (3.16)
V 2 V 2 V 2

a qual descreve uma hipérbole. O termo t0 representa o tempo de percurso para o caso ideal
de offset nulo (x = 0), ou seja, o receptor na mesma coordenada da fonte, e conseqüênte
incidência normal. Excrevendo a equação 3.16 de maneira apropriada e aplicando a expansão
binomial para a primeira ordem, obtemos
h 1 ³ x ´2 i
t = t0 1 + (3.17)
2 V t0
que nos dá o normal moveout (NMO), ou seja, a diferença de tempo de percurso da onda
refletida registrado em dois receptores diferentes, considerando um dos receptores na mesma
coordenada da fonte (x = 0), como se estivesse em um arranjo denominado zero-offset. A
equação abaixo quantifica o NMO

x2
∆tn = t − t0 ≈ (3.18)
2V 2 t0
logo, se aplicarmos a correção NMO e obtivermos uma horizontalização satisfatória nas
hipérboles, significa que foram reconhecidos eventos de reflexão e foi determinado um campo
de velocidades coerente. Segundo Yilmaz (1987), se obtivermos uma sobrecorreção (hipérboles
crescentes), significa que determinamos um campo de baixas velocidades; o análogo ocorre,
ou seja, ao obter uma subcorreção (hipérboles decrescentes) implica que determinou-se um
campo de altas velocidades; idealmente devemos obter, após a correção NMO, as hipérboles
transformadas o mais próximo possı́vel de uma linha horizontal para que possamos reconhe-
cer o evento como uma reflexão.

Para que o cálculo do NMO seja efetivo, deve-se estipular uma famı́lia de CMP - ou
limitar um intervalo de CMP0 s suficientemente pequeno (super gathers) - a qual englobará
todos os traços que possuem mesma coordenada CMP, para que o refletor, o qual, na não
36

linear realidade geológica, geralmente encontra-se mergulhando ou geometricamente irregu-


lar, possa ser considerado aproximadamente um plano paralelo ao plano de superfı́cie. É
possı́vel aplicar o modelo de refletor plano a uma famı́lia de CMP porque estaremos tra-
tando com a reflexão em somente um ponto, e pela sua definição matemática, este ponto
pode ser considerado, no caso limite, um segmento de reta infinitesimal de um plano. Este
tipo de procedimento caracteriza a denominada técnica de processamento CMP.

Figura 3.12: Janela para escolha dos picks e conseqüente definição das funções
velocidade

A análise de velocidades das linhas processadas foi realizada no Focus a partir das saı́das
geradas na etapas de deconvolução preditiva, no caso das linhas 214 − 2660 e 214 − 2681,
deconvolução do traço, no caso das linhas 214−2700 e 214−2970, e de pré-processamento, no
caso de todas as linhas; a escolha dos picks, para definição das funções velocidade, baseou-
se na identificação das hipérboles de reflexão, na visualização da janela de quantificação
das coerências, e na satisfatoriedade na horizontalização das hipérboles, interpretadas como
reflexões primárias, após a aplicação da correção NMO. Como exemplo temos as figuras 3.12
e 3.13 ilustrando a janela interativa de procedimentos da análise de velocidades no Focus e
o resultado após a aplicação da correção NMO utilizando o módulo VELDEF no CMP 2631
da linha 214 − 2660.

Foram selecionadas famı́lias de CMP0 s em intervalos de 100 CMP0 s, e geradas as super


famı́lias (a partir da função super gathers contida no pacote) para a escolha dos picks e
determinação das funções velocidades. Os campos de velocidades gerados pela análise de
velocidades de cada linha processada, estão representados pelas figuras 3.14 a 3.17.
37

Figura 3.13: Aplicação da correção NMO

Figura 3.14: Campo de velocidades de empilhamento e campo de velocidades sua-


vizado da linha 214 − 2660

3.7 Empilhamento

Após a correção NMO, aplica-se o empilhamento dos dados; o empilhamento consiste em


sobrepor todas as saı́das de uma famı́lia de CMP e torna-las uma só. Isto realçará a imagem
resultante do processamento, aumentando a razão sinal/ruı́do do traço, sendo possı́vel visu-
alizar ou interpretar, com maior clareza, algumas estruturas estimadas durante o processo.
A amplitude resultante do empilhamento é calculada como a média aritimética das amplitu-
des de todos os traços correspondentes a uma famı́lia de CMP comum em um determinado
38

Figura 3.15: Campo de velocidades de empilhamento e campo de velocidades sua-


vizado da linha 214 − 2681

Figura 3.16: Campo de velocidades de empilhamento e campo de velocidades sua-


vizado da linha 214 − 2700

Figura 3.17: Campo de velocidades de empilhamento e campo de velocidades sua-


vizado da linha 214 − 2970
39

instante; a equação 3.19 expõe o mensionado


N
1 X
A(t) = ai (t) (3.19)
N i=1

onde A(t) é a amplitude calculada durante o empilhamento referente ao instante t do registro


do traço; N representa o número de traços que compõem a famı́lia de CMP; i é o rótulo
do traço; ai (t) é a amplitude pré-empilhamento referente ao traço i no instante t. Dando
seqüência ao cálculo de amplitudes e geração do traço empilhado, agrupa-se os traços empi-
lhados de cada famı́lia de CMP comum lado a lado e interpola-se os pontos coerentes; este
processo gera uma imagem denominada secção empilhada.

O Focus possui o módulo STACK, o qual foi utilizado para realizar o empilhamento nos
dados após a definição do campo de velocidades e aplicação da correção NMO. Foram obtidas
duas secções empilhadas para cada linha processada, seguindo duas estratégias de proces-
samento diferentes; para as linhas 214−2660 e 214−2681 utilizou-se as seguintes estratégias:

Estratégia 1

1. Pré-processamento:

(a) Geometria;
(b) Edição;
(c) Correção de divergência esférica;
(d) Aplicação de ganho automático (AGC);
(e) Filtragem de freqüências.

2. Deconvolução:

(a) Deconvolução do traço (spiking)


(b) Deconvolução Preditiva (curto perı́odo)

3. Análise de Velocidades

4. Correção NMO

5. Empilhamento

6. Filtragem de freqüências e Silenciamento (Mute)

Estratégia 2

1. Pré-processamento:
40

(a) Geometria;
(b) Edição;
(c) Correção de divergência esférica;
(d) Aplicação de ganho automático (AGC);

2. Análise de Velocidades

3. Correção NMO

4. Empilhamento

5. Filtragem de freqüências e Silenciamento (Mute)

Estratégia 3

1. Pré-processamento:

(a) Geometria;
(b) Edição;
(c) Correção de divergência esférica;
(d) Aplicação de ganho automático (AGC);

2. Análise de Velocidades

3. Correção NMO

4. Empilhamento

Para as linhas 214 − 2700 e 214 − 2970 foram utilizadas as estratégias 2 e 3, descritas
acima, e 4, descrita abaixo:

Estratégia 4

1. Pré-processamento:

(a) Geometria;
(b) Edição;
(c) Correção de divergência esférica;
(d) Aplicação de ganho automático (AGC);
(e) Filtragem de freqüências.
41

2. Deconvolução:

(a) Deconvolução do traço (spiking)

3. Análise de Velocidades

4. Correção NMO

5. Empilhamento

6. Filtragem de freqüências e Silenciamento (Mute)

As figuras 3.18 a 3.25 ilustram as secções empilhadas de cada linha processada.


42

Figura 3.18: Secção empilhada da linha 214 − 2660 segundo a estratégia 1


43

Figura 3.19: Secção empilhada da linha 214 − 2660 segundo a estratégia 2


44

Figura 3.20: Secção empilhada da linha 214 − 2660 segundo a estratégia 3


45

Figura 3.21: Secção empilhada da linha 214 − 2681 a partir da estratégia 1


46

Figura 3.22: Secção empilhada da linha 214 − 2681 a partir da estratégia 2


47

Figura 3.23: Secção empilhada da linha 214 − 2681 a partir da estratégia 3


48

Figura 3.24: Secção empilhada da linha 214 − 2700 a partir da estratégia de processamento 3
49

Figura 3.25: Secção empilhada da linha 214 − 2700 a partir da estratégia de processamento 2
50

Figura 3.26: Secção empilhada da linha 214 − 2700 a partir da estratégia de processamento 4
51

Figura 3.27: Secção empilhada da linha 214 − 2970 a partir da estratégia de processamento 3
52

Figura 3.28: Secção empilhada da linha 214 − 2970 a partir da estratégia de processamento 2
53

Figura 3.29: Secção empilhada da linha 214 − 2970 a partir da estratégia de processamento 4
CAPÍTULO 4

Interpretação

Após o empilhamento das linhas foi dado inı́cio à interpretação qualitativa das linhas
selecionadas devido à qualidade dos seus resultados. Assumiu-se que eventos coerentes de-
finidos nas seções empilhadas e migradas, eram reflexões oriundas de uma interface entre
dois meios com impedâncias contrastantes. Um dos aspectos mais importantes nesta inter-
pretação, foi considerar que importantes refletores eram compostos por componentes menores
de reflexão, as quais unidas definiam uma interface individual. Buscou-se construir uma ima-
gem interpretada condizente com o modelo geológico da bacia de Jequitinhonha atualmente
aceito pelos geocientistas, e que se apoiasse nas informações obtidas das linhas processadas
e fornecidas.

Para que uma interpretação seja precisa, o intérprete necessita se familiarizar com
algumas informações pertinentes como mapas e perfis geológicos, perfis de poços, dados
gravimétricos e magnetométricos (potenciais), seções sı́smicas não migradas e migradas no
tempo, análise de velocidades além de outros dados gerados durante o processamento -
como a função refletividade. Como o intuito deste trabalho era simplesmente treinar a
aplicação dos procedimentos realizados durante o processamento e a interpretação dos dados
sı́smicos, realizou-se a interpretação somente com os conhecimentos geológicos contidos na
literatura pesquisada (referenciada no final deste texto), e na avaliação das seções empilhadas
selecionadas, geradas neste trabalho, juntamente com seções migradas fornecidas pelo projeto
Desenvolvimento de Técnicas de Migração Pré-empilhamento para Imageamento sob Quebra
da Plataforma Continental. Informações de poços não foram encontradas.

Utilizou-se o software Corel Draw versões 13.0 e 12.0 para traçar os contornos durante a
interpretação. As seções interpretadas foram as das linhas 214 − 2660, 214 − 2700, 214 − 2970
e 214 − 2980, sendo que somente as três primeiras foram empilhadas durante a etapa de
processamento deste trabalho, contudo, o projeto referido acima tinha disponı́vel as seções
migradas das quatro. As linhas 214 − 2660 e 214 − 2700 são paralelas entre si e interceptam
obliquamente as linhas 214 − 2970 e 214 − 2980, também paralelas entre si. Iniciou-se com
o traçado, em cada seção, das feições mais óbvias, definidas pelas reflexões mais fortes; após
a identificação dos principais refletores, buscou-se estabelecer a continuidade espacial deles
e, em seguida, correlacioná-los com possı́veis zonas de cisalhamento rúptil (falhas normais

54
55

sintéticas e antitéticas ou fraturas) - estas foram identificadas justamente devido às descon-
tinuidades dos refletores. Foram identificados em cada secção, quatro principais refletores
delimitando quatro grandes zonas sismoestratigráficas. Estes refletores foram contornados
cada um com uma cor diferente (laranja, amarelo, verde e azul), enquanto as falhas foram
contornadas com cor vermelha.

Localizou-se a interseção das linhas e correlacionou-se os refletores identificados em cada


seção interpretada, formando um sistema quadrado. Com isso se pode fazer uma amarração
dos refletores interpretados e buscou-se identificar alguns elementos de estratigrafia sı́smica;
os elementos identificados, em caráter interpretativo, foram truncamento erosional, represen-
tado pelos refletores azuis, e concordâncias, identificadas pelo relacionamento dos refletores
em cada seção; é sugerido que na linha 214 − 2660 um possı́vel contato em on lap seja identi-
ficado ao se observar o comportamento do refletor verde. Nas linhas 214 − 2660 e 214 − 2700
foram identificadas uma estrutura sinforme em sua zona mais distal; esta estrutura pode
ser a assinatura de um paleocanal soterrado, ou de um efeito sutil de deformação dúctil
devido ao contato direto com uma zona de cisalhamento. As Figuras 4.1 a 4.4 ilustram a
interpretação em cada seção empilhada e migrada, as quais foram selecionadas para fase
de interpretação. A Figura 4.5 consiste em um modelo interpretado meramente ilustrativo,
expondo, em perspectiva, a disposição espacial dos refletores interpretados em cada seção
assim como suas interseções.
Figura 4.1: Resultado da interpretação exposto na secção empilhada da linha 214 − 2660; apontando quatro grandes
refletores em concordância.
56
Figura 4.2: Resultado da interpretação exposto na secção empilhada da linha 214 − 2700; apontando quatro grandes
refletores em concordância.
57
Figura 4.3: Resultado da interpretação exposto na secção empilhada da linha 214 − 2970; apontando quatro grandes
refletores em concordância.
58
Figura 4.4: Resultado da interpretação exposto na secção migrada da linha 214−2980; apontando quatro grandes refletores
59

em concordância.
Figura 4.5: Modelo ilustrativo expondo, em perspectiva, o relacionamento espacial dos refletores interpretados, assim
como o das zonas de cisalhamento rúptil. As linhas tracejadas em roxo representam as interceções das seções
60

sı́smicas
CAPÍTULO 5

Conclusões

As técnicas de processamento aplicadas às linhas marinhas processadas neste trabalho


não forneceram imagens perfeitas. Contudo, serviu de treinamento para futuros trabalhos
acadêmicos ou profissionais. Além disto, as seções empilhadas, geradas neste trabalho, em
conjunção com as seções migradas, fornecidas pelo projeto Desenvolvimento de Técnicas de
Migração Pré-empilhamento para Imageamento sob Quebra da Plataforma Continental, e
com as informações geológicas da bacia de Jequitinhonha, coletadas na literatura referida,
serviram de base para a realização da etapa de interpretação.

Foi possı́vel perceber que a aplicação da deconvolução do traço (pelas estratégias de pro-
cessamento 1 e 4) aumentou a resolução temporal de alguns refletores; a deconvolução predi-
tiva (estratégia de processamento 1) serviu para atenuar algumas múltiplas de curto perı́odo
na região da plataforma continental; e visivelmente as seções deconvolvidas apresentaram-se
menos ruidosas; todavia, as deconvoluções aplicadas comprometeram as imagens tornando os
eventos de reflexão pouco nı́tidos. A filtragem de freqüências aplicada antes do empilhamento
também deve ter contribuido para o comprometimento destas informações da subsuperfı́cie.

A estratégia de processamento que forneceu a imagem com melhor destaque nos refleto-
res, foi a que realizou o empilhamento sem aplicação de filtros (estratégia de processamento
3). Contudo estas imagens não forneceram uma boa resolução temporal na área sob a pla-
taforma continental, uma vez que os traços apresentaram-se grossos. Para contornar este
efeito, aplicou-se um filtro de freqüências após o empilhamento, o qual aumentou a resolução
dos traços naquela região, porém reduziu um pouco a nitidez das reflexões na zona do talude.

Durante a interpretação, foi possı́vel visualizar o comportamento espacial dos refletores


em diferentes direções e posições, assim como correlacionar possı́veis zonas de cisalhamento
rúptil (fraturas ou falhas) no espaço. Isto foi devido à definição e análise das zonas de in-
terseção das seções a partir dos refletores mais evidentes, e construção do modelo ilustrativo
em perspectiva, o qual expôs o relacionamento espacial dos refletores de cada seção. Ade-
mais, conseguiu-se visualizar, em termos interpretativos, os elementos sismoestratigráficos:
truncamento erosional e concordâncias, além de um possı́vel contato em on lap do refletor
verde nas seções da linha 214 − 2660. O resultado da interpretação apresentou-se condizente

61
62

com as informações geológicas coletadas na literatura, uma vez que a bacia de Jequitinho-
nha formou-se no processo de deriva dos continentes sul-americano e africano, seu arcabouço
estrutural deve conter elementos de deformação rúptil como falhas normais sintéticas e an-
titéticas, além de possı́veis elementos compressionais na parte distal devido a fluxos de massa
pela ação da gravidade, e suas seqüências estratigráficas devem estar depositadas sobre uma
descontinuidade erosional que as coloca em contato com o embasamento pré-cambriano.
Agradecimentos

Agradeço à minha famı́lia, em especial a meu pai, Carlos Geraldo Alves, e à minha
querida mãe, Lêda Regina de Carvalho Costa, por terem me gerado, amado e me criado até
o ponto em que estive pronto para enfrentar este mundo e esta civilização.

Agradeço ao meu irmão, Orion de Carvalho Costa Alves, pela sua fraternidade.

Agradeço à minha companheira, mulher e amiga, Paloma Kali Bitner, pela sua mara-
vilhosa presença e ajuda, e pelo seu amor, carinho e dedicação.

Agradeço a meu orientador Marco Antonio Barsottelli Botelho, pela orientação e pelo
esforço necessário para que esta etapa fosse concluı́da.

Agradeço aos professores e professoras do curso de graduação em geofı́sica, em especial


ao professor Amin Bassrei pela valiosa colaboração; à professora Jacira Cristina Batista
de Freitas, por participar da banca examinadora, pelos importantes ensinamentos e pelo
indiscutı́vel carinho e carisma; e à professora Rosângela Maciel, pela honrosa participação
na banca examinadora deste trabalho e por outras colaborações.

Agradeço aos meus amigos e colegas da graduação, em especial a Emmannoelle, Enock,


Luı́s Alberto, Martoni, Moisés, Nei Davi, Ricardo, Roberto Tiago, Rogério Porciúncula,
Silmara e Tatiana Reis, pela amizade e pela ajuda, na vida, durante o curso e na confecção
deste trabalho.

Agradeço a Joaquim Lago e Tiago pelas informações sobre as ferramentas dos sistemas
digitais e informatizados e pelo apoio técnico.

Agradeço ao chefe do departamento professor Joaquim Xavier Cerqueira Neto pelos


ensinamentos e pela colaboração na execução desta etapa.

Enfim, agradeço à vida, por me manter vivo e com condições de concluir este trabalho.

63
Referências Bibliográficas

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