Você está na página 1de 10

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/283603898

Bacia do Pará-Maranhão

Article · January 2007

CITATIONS READS

33 1,988

4 authors, including:

Pedro Victor Zalán Jorge Picanço Figueiredo


Zag Consultoria em Exploração de Petróleo Federal University of Rio de Janeiro
87 PUBLICATIONS   2,200 CITATIONS    27 PUBLICATIONS   2,837 CITATIONS   

SEE PROFILE SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Paleoceanography of the Brazilian Equatorial Margin (BEM) View project

Brazilian Eastern Margin View project

All content following this page was uploaded by Pedro Victor Zalán on 05 May 2016.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Bacia do Pará-Maranhão

Emilson Fernandes Soares1, Pedro Victor Zalán2, Jorge de Jesus Picanço de Figueiredo1,

Ivo Trosdtorf Junior1

Palavras-chave: Bacia do Pará-Maranhão l Estratigrafia l carta estratigráfica

Keywords: Pará-Maranhão Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução metria de deformação e do preenchimento sedimen-


tar da bacia se assemelham às de uma bacia de
margem passiva com separação ortogonal.
A Bacia do Pará-Maranhão é uma bacia ex- A exploração da bacia foi concentrada nas
clusivamente marítima e situa-se na margem equa- décadas de 70 e 80, tendo resultado em uma des-
torial brasileira aproximadamente entre os meridianos coberta subcomercial de óleo leve em carbonatos
47oO e 44oO e os paralelos de 10S e 10N, e ocupa cenozóicos (poço 1-PAS-11). O último poço perfu-
uma área de aproximadamente 48.000 km2. Seus rado na bacia foi em 1993, conseqüentemente, ne-
limites sudeste (com a Bacia de Barreirinhas) e noroes- nhum dado estratigráfico novo advindo de poços
te (com a Bacia da Foz do Amazonas) são arbitrários foi incorporado ao conhecimento geológico dessa
e imprecisos, dado que não se conhecem feições bacia da margem equatorial desde a publicação
tectônicas significativas que compartimentem tais pioneira da Petrobras sobre as cartas estratigráficas
bacias. A oeste, a Plataforma de Ilha de Santana das bacias brasileiras (Feijó, 1994). Os dados aqui
constitui uma barreira de embasamento raso, a par- apresentados para a Fase Rifte da bacia são basea-
tir do qual a bacia se estende para as águas rasas e dos nos resultados de projetos diversos contratados
profundas, até à cota batimétrica de 3.000 m. A Zona pela Petrobras e, obviamente, em trabalhos publi-
de Fratura São Paulo se projeta para o interior da cados anteriormente. Para a Fase Drifte, os resulta-
crosta continental aproximadamente no limite norte dos apresentados são frutos de cuidadosa reinter-
da bacia, através de dois ramos bem definidos. pretação dos dados de poços existentes, amarrados
A origem e evolução desta bacia foram pouco com as linhas sísmicas disponíveis, à luz dos con-
estudadas. Ressaltam-se aqui o trabalho de Zanotto ceitos mais modernos da estratigrafia de seqüên-
e Szatmari (1987), Brandão e Feijó (1994) e Silva cias. A nomenclatura utilizada para a litoestratigra-
(2007), assim como alguns trabalhos internos da Pe- fia da bacia foi mantida semelhante à utilizada por
trobras. A bacia situa-se inteiramente num segmen- Brandão e Feijó (1994), que é a mesma da Bacia de
to oblíquo da margem continental de direção NO-SE. Barreirinhas (Feijó, 1994), devido às similaridades
Nestes trechos da margem equatorial a separação litológica e estratigráfica do preenchimento sedi-
continental se processou de forma oblíqua e a geo- mentar entre ambas.

1
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação da Margem Equatorial e Bacias Interiores/Interpretação
e-mail: emilsonsoares@petrobras.com.br
2
E&P Exploração/Gestão de Projetos Exploratórios

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 321-329, maio/nov. 2007 | 321


O preenchimento sedimentar da bacia é comple- mente oblíquas aos mesmos. A Zona de Fratura Oceâ-
xo. Inicia-se com depósitos basais atribuíveis ao nica São Paulo, que é praticamente o limite norte da
Paleozóico, parte de seqüências intracratônicas pretéri- bacia, nucleou-se no contato entre a Faixa Móvel
tas que se estendiam sobre as plataformas pré- Araguaia/Gurupi (neoproterozóica) e a parte
cambrianas do Gondwana, e que foram capturadas den- paleoproterozóica do Cráton de São Luís (Faixa Móvel
tro dos grábens iniciais da bacia. Seguem-se depósitos Santa Luzia-Viseu). A zona de sutura entre os dois do-
sinrifte (transtensionais) e inter-rifte de idades aptiana e mínios do Cráton de São Luís (Faixa Móvel Santa Lu-
albiana; cobertos por Seqüências Drifte (Neo-Albiano ao zia-Viseu paleoproterozóica e a parte infracrustal ar-
Recente) típicas de subsidência termal de margem pas- queana) condicionou a localização de importante mu-
siva. Magmatismo basáltico é reportado no Neocretáceo, dança no trend e estrutural da Bacia do Pará-Maranhão,
Eoceno e Mioceno. bem como a do Arco de Gurupi, que divide as bacias
A formação da Bacia do Pará-Maranhão iniciou-se de Bragança-Viseu e São Luís.
através de dois eventos de rifteamento de idade aptiana
(Seqüência Rifte II) e albiana (Seqüência Rifte III). Entre es-
tes dois eventos, caracterizados por depocentros bem níti-
dos e camadas de crescimento, ocorre uma seção de espes-
sura homogênea constituída por refletores plano-paralelos, Superseqüência
sem tectônica sin-sedimentar, de idade aptiana, atribuíveis
à Formação Codó. Por suas características tectono-sedimen- Intracratônica
tares, esta seqüência indica uma interrupção no processo
de rifteamento e pode ser interpretada como tendo sido Semelhantemente à Bacia de Barreirinhas, uma
depositada em uma bacia do tipo sag Pós-Rifte II ou sag seqüência de refletores plano-paralelos pode ser vista
Pré-Rifte III. Escolhemos adotar a segunda hipótese neste na parte inferior das seções sísmicas da Bacia do Pará-
trabalho devido ao fato dessa seqüência ocorrer em áreas Maranhão. Ao contrário de Barreirinhas, onde esta
extensas do embasamento adjacente, sempre abaixo do seção foi perfurada, nada se pode afirmar quanto à
Rifte III, mas nem sempre acima do Rifte II. idade da mesma. A idade devoniana para esta se-
A Fase Drifte inicia-se no final do Neo-Albiano e se qüência é sugerida por similaridade e pela sua conhe-
estende até o Recente. A interpretação da evolução cro- cida ocorrência na margem continental conjugada
noestratigráfica da seção Drifte permitiu o reconhecimen- africana (Gana), onde arenitos devonianos são produ-
to de 11 seqüências de 2ª ordem, de acordo com os con- tores no campo de Takoradi. Litoestratigraficamente
ceitos descritos por Mitchum e Van Wagoner (1991). Uma corresponderiam ao Grupo Canindé, constituído da
particularidade da Bacia de Pará-Maranhão é a espessa base para o topo pelas Formações Itaim (arenitos),
seção carbonática de idade cenozóica que predomina na Pimenteiras (folhelhos) e Cabeças (arenitos).
parte de águas rasas.

embasamento Superseqüência Rifte


A Bacia do Pará-Maranhão desenvolveu-se Seqüência K40
inteiramente sobre o Cráton de São Luís, rompido de
maneira praticamente ortogonal à sua trama estrutural Arenitos e folhelhos de idade aptiana ocorrem
durante a separação África-América do Sul. O Rifte do abrangentemente na Bacia do Pará-Maranhão e corres-
Pará-Maranhão possui geometria de meio-gráben com pondem a sedimentos sinrifte continentais, com visíveis
borda flexural a sudoeste (Plataforma de Ilha de Santana) acunhamentos e espessamentos em seções sísmicas. Seu
e borda falhada a NE, estando esta última atualmente mapa de isópacas sísmicas mostra alguns depocentros
situada na bacia conjugada africana, na Costa do Marfim. pouco desenvolvidos que se espessam de SO para NE
Os vários grábens constituintes das Seqüências Rifte II e III contra falhas de bordas de grábens com direção NO-SE.
se estendem paralelamente à elongação da bacia e são Um alto estrutural intrabacinal, interpretado como pro-
freqüentemente cortados por zonas de transferência forte- vável zona de acomodação, ocorre ao longo da exten-

322 | Bacia do Pará-Maranhão - Soares et al.


são da bacia, na direção NO-SE, dividindo os grábens do continuar na parte basal da Superseqüência Drifte (Neo-
Rifte II praticamente ao meio, controlando depocentros albiano a Cenomaniano). Como mencionado anteriormen-
imediatamente a NE e SO do mesmo. Como esta se- te, a discordância que capeia os pacotes sinrifte tem idade
qüência não havia sido ainda reconhecida na época da próxima de 102 Ma.
publicação da última carta estratigráfica (Brandão e Feijó,
1994), e poucos poços a atravessam, ela aparece no
presente trabalho como unidade litoestratigráfica sem
denominação formal, à espera de uma maior quantida-
de de descrições litológicas e datações paleontológicas
Superseqüência Drifte
para sua melhor definição.
No presente trabalho, a Seqüência Drifte se encontra
subdividida em 12 seqüências estratigráficas que variam em
Seqüência K50 duração de 1,6 a 17 Ma, que, segundo classificação adota-
da por Mitchum e Van Wagoner (1991), são de 2ª ordem. O
A Formação Codó foi identificada em alguns critério adotado para essa compartimentação foi a identifi-
poços pela associação litológica de calcilutitos e folhe- cação de hiatos paleobioestratigráficos no registro sedimen-
lhos lagunares e pela assinatura sísmica caracterizada tar através da técnica de correlação gráfica (Wescott et al.
por refletores plano-paralelos com espessura relativamen- 1988; Neal et al. 1998; Aubry 1995) aplicada em 20 dos 33
te constante. Sua localização entre as duas fases de poços desta bacia. Tais hiatos foram relacionados a discor-
rifteamento e feições sismoestratigráficas caracterizam dâncias erosivas que limitariam as seqüências propostas. A
esta sucessão como depositada em uma bacia tipo sag idade de cada discordância foi obtida pela identificação da
Inter-Riftes. Como explicado acima, optou-se, neste tra- queda global do nível dos mares mais representativa no in-
balho, considerá-la como um depósito relacionado a uma tervalo de cada hiato, com base na curva de Haq (1988),
bacia sag Pré-Rifte. Esta unidade também não havia recalibrada para Gradstein et al. (2004). Este método se mos-
sido reconhecida na coluna estratigráfica publicada por trou bastante consistente, alcançando um excelente nível
Brandão e Feijó (1994). Entretanto, seu conteúdo litológico de correlação entre os hiatos e a variação eustática global.
e a assinatura sísmica são tão características da unidade Outros critérios complementares foram adotados
litoestratigráfica Codó que não hesitamos em usar esta para a determinação e/ou corroboração dessas seqüên-
terminologia no presente trabalho. cias, tais como a interpretação sísmica, a correlação com
bacias vizinhas e a análise da termocronologia baseada
em dados de traços de fissão em apatitas.
Seqüência K60 Seguindo-se um encadeamento cronológico que vai
desde o break up no Neoalbiano, aproximadamente 102
A Seqüência K60 (Rifte III - Albiano) corresponde Ma, até o presente, temos inicialmente uma seqüência
a sedimentos siliciclásticos (arenito lítico, siltito cinza a mista carbonático-siliciclástica inferida por correlação com
castanho-avermelhado e folhelhos esverdeados) conti- a Bacia de Barreirinhas, denominada litoestratigraficamen-
nentais a parálicos, interpretados como leques deltaicos te como Grupo Caju. Seguem-se a ela três seqüências
depositados em ambientes marinhos (Brandão e Feijó, siliciclásticas já no domínio litológico do Grupo Humberto
1994). Litoestratigraficamente correspondem ao Grupo de Campos (Formações Areinhas e Travosas). O conjunto
Canárias. Os poucos dados disponíveis não permitem descrito se caracteriza por uma tendência transgressiva,
subdividir os litotipos nas formações constituintes deste excetuando-se a última seqüência onde se inicia a fase
Grupo. Os depocentros mapeados para esta seqüência regressiva. Acima dessas temos o surgimento de uma pla-
indicam que os grábens do Rifte III se formaram a partir taforma carbonática (Formação Ilha de Santana) já no
da reativação de falhas normais do Rifte II. Maastrichtiano, de tendência regressiva a agradacional, à
Camadas carbonáticas sinrifte III podem ser medida que se expande até dominar completamente o
encontradas em alguns poços da parte central da registro sedimentar na área plataformal. Finalmente, no
bacia (1-MAS-12 e 1-MAS-11). Pela idade dos car- topo da coluna estratigráfica, temos a seqüência domina-
bonatos (Eoalbiano e Mesoalbiano, respectivamen- da por sedimentos inconsolidados que caracterizam a sedi-
te) considera-se que os mesmos sejam litoestratigra- mentação do Pleistoceno ao Recente.
ficamente equivalentes ao Grupo Caju. Portanto, as- A seguir, será apresentada uma breve descrição
sim como na Bacia de Barreirinhas, a deposição car- individualizando cada uma das seqüências estratigráficas
bonática se inicia já na Fase Rifte, podendo ou não propostas neste trabalho.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 321-329, maio/nov. 2007 | 323


Seqüência K70-K82 Observa-se no dado sísmico desta bacia um mag-
matismo básico possivelmente vulcânico que possui cor-
relação estratigráfica com o mesmo evento na Bacia da
A ocorrência desta seqüência foi inferida por cor-
Foz do Amazonas, datado de aproximadamente 90 Ma
relação com a Bacia de Barreirinhas, uma vez que não
(Ar-Ar). Datações radiométricas realizadas por Misuzaki
foram encontrados microfósseis e palinomorfos de idade
et al. (2002) na Província Borborema, no Nordeste do
correspondente a este intervalo de tempo em nenhum
Brasil, corroboram a existência desse evento magmático
poço da bacia até então (Cainelli e Moraes Jr., 1986).
nessa idade. Segundo os autores tal evento estaria as-
Na bacia vizinha essa seqüência é caracterizada
sociado com a efetiva separação entre as placas da Amé-
em poços por uma sedimentação carbonática em plata-
rica do Sul e da África. Outros eventos vulcânicos que
forma mista, formada por calcarenitos bioclásticos/
ocorrem na bacia, de idade mais jovem que 80 Ma, são
oncolíticos, calcilutitos, margas, folhelhos e clásticos, to-
atribuídos à atividade de hot spots (Misuzaki et al. 2002).
dos pertencentes ao Grupo Caju. Depositada em ambiente
marinho raso, naquela bacia ela pode atingir mais de
1.000 m de espessura sedimentar. Seqüência K100-K120
As camadas carbonáticas do topo da Seqüência Rifte
são o único registro sedimentar do Grupo Caju encontrado A Seqüência K100-K120 tem duração aproxima-
em poços da Bacia de Pará-Maranhão até o momento. da de 9 Ma. Seu topo é marcado por uma discordância
Provavelmente essa seqüência está preservada em águas a cerca de 70 Ma, que embora apresente correlação
profundas e áreas não amostradas da bacia. com um rebaixamento global do nível dos mares
(Ma1=70,8 Ma), conforme registrado na curva de eustasia
Seqüência K84-K86 global (Gradstein et al. 2004), este não parece ser de
magnitude suficiente para produzir uma discordância
como a observada. Contudo, estudos recentes em tra-
Sobrepondo-se à plataforma mista do Grupo
ços de fissão em apatitas mostraram um evento de soer-
Caju, ocorre esta seqüência siliciclástica delimitada no
guimento das áreas continentais da Margem Equatorial
seu topo por uma discordância intraturoniana que pos-
em torno de 70 Ma. Dessa forma, o evento tectônico
sui excelente correlação com uma significativa queda
pode estar relacionado à causa da discordância que
global do nível dos mares registrada na curva de eustasia
marca o topo da Seqüência K100-K120, tendo um con-
global. Um importante evento anóxico ocorre nesta pla-
trole predominantemente tectono-eustático.
taforma siliciclástica no Turoniano, então caracteriza-
da por sedimentação marinha transgressiva.
Essa seqüência se caracteriza litoestratigraficamen- Seqüência K130-E20
te na sua porção proximal, por arenitos quartzosos, bran-
cos, de granulometria grossa (Formação Areinhas), prove- Esta seqüência começa no final do Cretáceo
nientes de um ambiente parálico/deltaico. Nas porções mais Superior e se estende até o Paleoceno Superior, com
distais se encontram folhelhos cinzentos e siltitos, com even- duração aproximada de 12 Ma. O limite superior é
tuais intercalações de arenito quartzoso fino (Formação marcado por uma discordância, cujo cruzamento com
Travosas), segundo descrito por Feijó et al. (1984). a curva de eustasia global mostra boa correlação com
uma acentuada queda no nível global dos mares.
Seqüência K88-K90 No Maastrichtiano implanta-se uma platafor-
ma carbonática incipiente, que se expandiu no tem-
A Seqüência K88-K90 possui duração de cerca de po geológico e acabou por dominar toda a platafor-
12 Ma e é limitada no topo por discordância na porção ma continental. Nas bacias vizinhas da Foz do Ama-
intermediária do Campaniano (discordância do Meso-Cam- zonas e Barreirinhas, a sedimentação carbonática só
paniano). Esta discordância também apresenta excelente seria expressiva mais tarde no Paleoceno. Apesar do
correlação com a curva de eustasia global, onde se encon- início da plataforma carbonática, a sedimentação sili-
tra registrado neste período um rebaixamento global do ciclástica permanece dominante nesta seqüência.
nível dos mares. A discordância do Meso-campaniano, junto A sedimentação carbonática, que se inicia no
com a discordância do break up, constituem as duas prin- Maastrichtiano e que domina até o Recente, é co-
cipais discordâncias da Margem Equatorial Brasileira, po- nhecida litoestratigraficamente como Formação Ilha
dendo ser identificadas em todas as bacias deste conjunto. de Santana, sendo caracterizada por uma enorme

324 | Bacia do Pará-Maranhão - Soares et al.


variedade de biocalcarenitos e biocalcirruditos nas amplas frentes de empurrão, à medida que se alcança do-
áreas de plataforma rasa, calcarenitos finos e calcilu- mínios de água profunda.
titos na plataforma externa. No talude ocorrem mar- A deformação gerada por essa tectônica promoveu
gas, folhelhos, lamitos seixosos e eventualmente uma alteração da fisiografia do assoalho marinho da época,
turbiditos (Feijó et al. 1984). determinando a formação de altos e baixos estruturais. En-
quanto que os altos estruturais ficaram sujeitos à erosão (zo-
nas de cavalgamento), nas partes baixas se criou um espa-
Seqüência E30 ço de acomodação nos rejeitos das falhas lístricas e no flanco
anterior das frentes de empurrão. Como conseqüência, es-
O hiato bioestratigráfico que define o limite su- ses baixos estruturais se tornaram regiões preferenciais de
perior desta seqüência é identificado apenas no sul captação de sedimentos durante a deposição das seqüên-
da bacia. Na área remanescente ele não ocorre, sen- cias posteriores até o Mioceno Superior.
do esta seqüência agrupada com a seguinte, forman-
do a Seqüência E30-E50. Seqüência E60-E70
Amplia-se o domínio da plataforma carbonáti-
ca que adquire um caráter misto à medida que depó- As duas discordâncias que limitam esta seqüência
sitos siliciclásticos deltaicos se intercalam localmente foram interpretadas pela identificação de hiatos deposicio-
à sedimentação carbonática. nais em poços e a correlação com quedas da variação glo-
À medida que a extensão da plataforma carbo- bal do nível dos mares, segundo Gradstein et al. (2004).
nática se expande, ocorre o avanço do limite da plata- Embora dolomitos já ocorram nas seqüências anterio-
forma enquanto, simultaneamente, represa a sedimen- res, aqui temos sua mais significativa ocorrência na bacia, as-
tação siliciclástica, confinando-a a uma área cada vez sociada ao rebaixamento do nível dos mares que, pela mudan-
mais proximal. Apenas em alguns pontos da platafor- ça do perfil de equilíbrio do lençol freático, gerou fluxos de
ma, onde se implanta uma drenagem de maior água meteórica para dentro da plataforma carbonática expos-
possança, a sedimentação siliciclástica tem expressão ta. Tais fluxos foram, provavelmente, o principal causador do
suficiente para sobrepor a plataforma carbonática, for- processo de formação dos dolomitos encontrados nos interva-
mando-se, ali, uma sedimentação de caráter misto. los do Eoceno Superior e Oligoceno Inferior.
Tem sido interpretada, em dados sísmicos, a ocorrência
de intenso magmatismo básico datado como Mesoeocênico
Seqüência E40-E50 por correlação estratigráfica com estratos de idade inferida que
se encontram sismicamente em situação de onlap sobre os
Perfazendo um intervalo de tempo de aproxi- corpos ígneos. Há fortes indícios do caráter extrusivo deste mag-
madamente 8 Ma, esta seqüência marca a expansão matismo, tanto pela aparência de corpos circulares em mapas
da plataforma mista, com uma deposição caracteriza- magnetométricos quanto pela forma cônica nas seções sísmi-
da por arenitos deltaicos da Formação Areinhas, inter- cas, o que sugere uma morfologia de edifícios vulcânicos. Po-
calados aos carbonatos da Formação Ilha de Santana. rém, tal interpretação é especulativa, uma vez que até o pre-
O limite superior da seqüência está relaciona- sente momento estas rochas não foram amostradas.
do a uma importante superfície erosiva no Meso- Como evento análogo, podemos citar o vulcanismo
eoceno, onde se implantaram sistemas de vales incisos Royal Charlotte no Arco de Cabo Frio e em Abrolhos, que
que escavaram a plataforma carbonática. Esta super- ocorre neste mesmo período (Zalán, 2004). Entretanto, a com-
fície é facilmente identificada na sísmica como um pleta ausência de amostras para datação radiométrica impe-
refletor que divide estratos subhorizontais acima, de de uma correlação direta entre esses eventos.
estratos com mergulho pronunciado abaixo, marcan- Esse magmatismo tem especial importância na tectôni-
do uma clara discordância angular. ca gravitacional instalada na porção em águas profundas da
Além disso, na porção de águas profundas da área norte da bacia, pois o relevo estrutural gerado por ele
bacia, tem início um processo de tectônica gravitacio- serviu de anteparo aos cavalgamentos do domínio
nal, responsável pela formação de falhas lístricas em compressional, permitindo que ele ali se instalasse ao mesmo
domínio extensional, situado dominantemente no ta- tempo em que possivelmente também atuou como mecanis-
lude e no início da bacia, passando ao domínio mo disparador de tal tectônica. A partir desta seqüência, a
transicional, caracterizado por anticlinais suaves e, pos- plataforma carbonática adquire um caráter agradacional.
teriormente, a um domínio compressivo dominado por

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 321-329, maio/nov. 2007 | 325


Seqüência E80-N10 representada por argilitos e sedimentos argilosos in-
consolidados, com maior ou menor teor de carbona-
to, preenchendo o fundo oceânico.
Com uma abrangência em torno de 12 Ma, ocor- Durante o Holoceno, a sedimentação foi pou-
reu nesta seqüência o maior evento transgressivo do co significativa, restringindo-se ao retrabalhamento
Terciário em quase toda Margem Equatorial, que está da seção clástica proximal na porção de plataforma
associado ao mar de Pirabas, cuja expansão máxima da rasa/média e ao acúmulo de sedimentos carbonáti-
plataforma carbonática teve lugar nessa bacia. cos retrabalhados na borda da plataforma (Cainelli e
Possui excelente correlação com o mesmo evento Moraes Jr., 1986).
nas bacias vizinhas de Barreirinhas e Foz do Amazonas.

Seqüência N20-N30
A discordância que marca o topo desta seqüência é
agradecimentos
uma das mais expressivas da Margem Equatorial. Sendo bem
identificada na sísmica e confirmada por dados de poços, ela Ao colega Arnaldo Tanaka pelas inestimáveis
também é observada em superfície (Rossetti, 2001). contribuições feitas a este trabalho, tanto no desenho
A Seqüência N20-N30 está quase que totalmente res- quanto no texto. Também agradecemos aos editores
trita ao Mioceno Médio (andares Langhiano e Serravaliano). do Boletim de Geociências da Petrobras pela oportuni-
Nesta seqüência também ocorre um magmatismo dade e incentivo dispensado.
básico estimado como Mesomiocênico. A datação dessas
rochas ígneas foi feita por correlação estratigráfica com es-
tratos de idade inferida, que se encontram sismicamente
em situação de onlap sobre os corpos ígneos. Através dos
mesmos critérios citados na interpretação da ocorrência
magmática da Seqüência E60-E70, podemos inferir que se
referências
trata também de um evento vulcânico, embora não se pos-
sa afirmar pela falta de dados mais conclusivos.
bibliográficas
AUBRY, M. P. From cronology to stratigraphy:
Seqüência N40-N50 interpreting the lower and middfe eocene stratigraphic
record in the atlantic Ocenan. In: BERGREN, W. A.;
Esta seqüência, que perfaz um intervalo de tem- KENT, D. R.; AURBRY, M. P.; HARDENBOL, J. (Ed.).
po de 10 Ma, é caracterizada pelo avanço da plataforma Geochronology time scale and global
carbonática, que ultrapassa os limites da bacia se con- stratigraphic correlations. Tulsa, Okla.: Society for
fundindo com a sedimentação de mesma característica Sedimentary Geology, 1995. p. 213-274. (SSG. Special
da Bacia de Barreirinhas. Puvlications, 54).
No intervalo dessa seqüência também ocorre uma
importante progradação dos sistemas deposicionais cos- BRANDÃO, J. A. S. L.; FEIJÓ F. J. Bacia do Pará-
teiros. Com abrangência em toda a Margem Equatorial, Maranhão. Boletim de Geociências da Petrobras,
esta litofácies é conhecida como Formação Barreiras Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 101-102, jan./mar. 1994
(Rossetti, 2001).

CAINELLI, C.; MORAES JUNIOR, J. J. Preenchimento


Seqüência N60 sedimentar da Bacia de Pará-Maranhão. In: CON-
GRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 34., 1986,
A sedimentação pleistocênica é constituída por se- Goiânia. Anais do... São Paulo: Sociedade Brasileira
dimentos arenosos e argilosos depositados em cordões de Geologia, 1986. p. 131-144.
litorâneos ao longo da costa e pelo extravasamento, lo-
calmente, da rede de drenagem sobre a plataforma car- FEIJÓ, F. J. Bacia de Barreirinhas. Boletim de
bonática. Na porção offshore da bacia, esta seqüência é Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1,

326 | Bacia do Pará-Maranhão - Soares et al.


p. 103-105, jan./mar. 1994. WESCOTT W. A.; KREBS W. N.; SIKORA P. J.; BOUCHER,
P. J.; STEIN, J. A. Modern application of biostratigraphy
FEIJÓ, F. J. Bacia do Pará Maranhão. Boletim de in exploration and production. The Leading Edge, Tulsa,
Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. v. 17, n. 9, p. 1204-1210, 1998.
1, p. 101-102, jan./mar. 1994.
ZALÁN P. V. Evolução Fanerozóica das bacias sedimen-
GRADSTEIN, F. M.; OGG, J. G.; SMITH, A. G. A tares brasileiras. In: MANTESSO-NETO, V.; BARTORELLI,
geologic time scale. Cambridge: Cambridge A.; CARNEIRO, C. D. R.; BRITO-NEVES, B. B. (Org.). Geo-
University Press, 2004. 610 p. logia do continente sul-americano: evolução da obra
de Fernando Flávio Marques de Almeida. São Paulo:
Beca, 2004. p. 595-612.
HAQ, B. U.; HARDENBOL, J.; VAIL, P. R. Mesozoic and
Cenozoic cronostratigraphy abd cycles of sea-level change.
In: WILGUES, C. K.; HASTINGS, B. S.; POSAMENTIER, H. ZANOTTO, O.; SZATMARI, P. Mecanismo de rifteamento
W.; VAN WAGONER, J. C.; ROSS, C. A.; KENDALL, C. G. da porção ocidental da margem norte brasileira, Bacia
S. G. (Ed.). Sea-level: an integrated approach. Houston: do Pará-Maranhão. Revista Brasileira de Geociências,
Society of Economic Paleontologists and Mineralogists, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 189-195, 1987.
1988. p. 71-108. (SEPM. Special Publication, 42).

MIZUSAKI, A. M. P.; THOMAZ-FILHO, A.; MILANI,


E. J.; CÉSERO, P. Mesozoic and Cenozoic igneous
activity and its tectonic control in northeastern Brazil.
bibliografia
Journal fo South American Earth Sciences, v. 15,
n. 2, p. 183-198, June 2002. SOARES JUNIOR, A. V. Paleografia e evolução da paisa-
gem do nordeste do estado do Pará e noroeste do
MITCHUM JUNIOR, R. M.; VAN WAGONER J. C. High- Maranhão: cretáceo ao holoceno. 2002. 118 p. Tese
frequency sequences and their stacking patterns: (Mestrado) - Universidade Federal do Pará, Belém, 2002.
sequence-stratigraphic evidence of high-frequency eustatic
cycles. Sedimentary Geology, v. 70, p. 131-160, 1991. SZATMARI, P.; ZANOTTO, O.; FRANÇOLIN, J. B. L.;
WOLFF, S. Rifting and Early Tectonic Evolution of the Equa-
NEAL, J. E.; STEIN, J. A.; GAMBER, J. H. Wested torial Atlantic. In: GEOLOGICAL SOCIETY OF AMERICA:
stratigraphic cycles and depositional systems of the Annual Meeting, 98., 1985, Orlando. Abstracts. Orlando:
Paleogene Central North Sea. In: GRACIANSKY, P. Boulder, 1985. p. 731.
C.; HARDENBOL, J.; JACQUIN, T.; VAIL, P. R. (Ed.).
Mesozoic and Cenozoic sequence stratigraphy SZATMARI, P.; ZANOTTO, O.; FRANÇOLIN, J. B. L.; WOLFF,
of european basins. Tulsa, Okla.: Society for S. Evolução tectônica da margem equatorial brasileira.
Sedimentary Geology, 1998. p. 261-288. (SSG. Special Revista Brasileira de Geociências, São Paulo, v. 17, n.
Publication, 60). 2, p. 180-188, 1987.

ROSSETTI, D. F. Late cenozoic sedimentary evolution TANAKA, A. Interação entre os processos gravitacio-
in northeastern Pará, Brazil, within the context of sea nais e a ação das correntes de fundo no Talude Con-
level changes. Journal of South American Earth tinental da Bacia do Pará-Maranhão dentro do
Science, Oxford, v. 14, n. 1, p. 77-89, Apr. 2001. Neogeno. 2006. Tese (Mestrado) – Universidade Fede-
ral Fluminense, Niterói, 2006.
SILVA, C. P. Estudo sobre foraminíferos e
radiolários do Cretáceo, Bacia Pará-Maranhão,
Margem Equatorial Brasileira. 2007. 127 p. Tese
(Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, 2007.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 321-329, maio/nov. 2007 | 327


BACIA DO PARÁ-MARANHÃO

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0
N60

N40 - N50
EO ZAN C LE AN O
M E S S I N I AN O
NEÓGENO

MARINHO AGRADACIONAL
NEO

TALUDE / PROFUNDO
TORT ONIANO
10

HUMBERTO DE CAMPOS

N20-
S E R R AVAL IA N O

PLATA FORMA

N30
MESO
LAN G H I AN O

ILHA DE SANTANA

TRAVOSSAS
B U R D I GAL IA N O

AREINHAS

E80 - N10
EO
20
AQ U I TAN IA N O

566
COSTE IRO

NEO C HAT T IAN O

30
EO R U P E L IA N O

E60 - E70
4348
NEO P R I AB O N I AN O
PALE Ó G E NO

BAR T O N I AN O
40
EOCENO

E40 - E50
MESO
CO ST EIR O

L UT E T I AN O

3500
50
MAR. REGRESSIVO

EO Y P R E S I AN O
E30
RM A
PALEOCENO

T HAN E T I AN O
NEO
60
PL ATAFO

S E LAN D I AN O

K130 - E20
PROFUNDO

EO DAN I AN O
TALUDE /

70
(S EN ON IAN O )

K100-
K120
CAM PA N IAN O

80
NEO

K88-K90
MAR. TRANSG.

PROFUNDO
OR MA

SAN T O N I AN O
TALUDE /

C O N I AC I AN O
90
CRETÁCEO

PL ATA F

T UR O N I AN O
COS TE IR

C E N O MA N IA N O

K70-
K82
100 CAJU
BREAK-UP
MARINHO
( G ÁLI CO )

2200

AL B I AN O
PLATAFORMA INDIVISO K60
110

230
EO

CODÓ K50

APTIANO ALAGOAS
CONT.

3000

120 INOMINADO K40

JIQUIÁ
BARRE-
MIANO BURACICA

350

PLATAFORMA CABEÇAS
PALEOZÓICA
CANINDÉ

400

PROFUNDO / PIMENTEIRAS
400 PLATAFORMA
ITAÍM

542
PRÉ - CAMBRIANO EM BASAME NTO

328 | Bacia do Pará-Maranhão - Soares et al.


B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 321-329, maio/nov. 2007 | 329

View publication stats

Você também pode gostar