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GEOPROCESSAMENTO
i
5.3.1. Imagens orbitais ......................................................................................................... 35
5.3.1.1. Processamento de imagens .................................................................................... 37
5.3.1.2. Operações necessárias para uso de imagens em SIG............................................. 38
5.3.1.2.1 Importação ........................................................................................................ 38
5.3.1.2.2 Georreferenciamento ........................................................................................ 38
5.3.1.2.3 Extração de informações .................................................................................. 38
5.3.2. Imagens aéreas ........................................................................................................... 40
5.4. GPS .................................................................................................................................... 42
5.4.1. Segmento espacial - os satélites ................................................................................. 43
5.4.2. Segmento de controle – as estações ........................................................................... 43
5.4.3. Segmento usuários - os receptores ............................................................................. 44
5.4.4. Tipos de dados em GPS.............................................................................................. 46
5.5. Topografia ......................................................................................................................... 47
6. ANÁLISE EM SIG ............................................................................................................... 49
6.1. Funções e operações de análise espacial em SIG .............................................................. 49
6.2. Abordagem didática........................................................................................................... 51
6.2.1. Visualização e consultas à base de dados ................................................................... 51
6.2.2. Análises de distância .................................................................................................. 52
6.2.3. Análises de contexto/vizinhança ................................................................................ 53
6.2.4. Cruzamentos e álgebra de mapas ............................................................................... 53
7. ASPECTOS INSTITUCIONAIS DE UM SIG .................................................................. 54
7.1. Uma nova forma de pensar e agir ...................................................................................... 54
7.2. Principais passos na implementação de um SIG ............................................................... 55
8. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 56
ii
Lista de figuras
Figura 1. Componentes de um SIG do ponto de vista de sistema. .................................................. 5
Figura 2. Esquema dos meridianos e paralelos e a gradícula formada pela sua intersecção. ........ 8
Figura 3. Latitude e longitude do prédio 14 da ULBRA Canoas, obtidas no Google Earth. .......... 9
Figura 4. Esquema da medição da latitude () e da longitude () de um ponto. ............................ 9
Figura 5. Diferença entre a superfície topográfica da Terra, o elipsóide e o geóide..................... 11
Figura 6. (a) Posicionamento de um ponto através de um sistema geodésico de referência e (b)
ilustração da diferença de origem e dimensões do elipsóide entre dois sistemas
geodésicos de referência. .............................................................................................. 11
Figura 7. Exemplo de desencontro de projeto executado em duas partes (a) com sistemas
geodésicos de referência diferentes e (b) com o mesmo sistema geodésico de
referência. ..................................................................................................................... 12
Figura 8. Exemplos de diferentes projeções cartográficas e deformações resultantes de seu uso.
...................................................................................................................................... 13
Figura 9. Tipos de superfícies de projeção e diferentes posições em relação ao Globo. .............. 14
Figura 10. Ilustração do desenvolvimento (a) de um cilindro e (b) de um cone, para o plano. .... 15
Figura 11. Esquema da projeção Universal Transversa de Mercator (UTM): (a) Posição do
cilindro, com eixo perpendicular ao meridiano de tangência; (b) Divisão do Globo em
fusos de 6º de longitude. ............................................................................................... 17
Figura 12. Coordenadas planas no sistema UTM: (a) Origem das coordenadas no Equador e
Meridiano Central em um fuso; (b) Esquema de um sistema de coordenadas cartesiano
e métrico associado ao fuso, em cuja origem são adicionadas as constantes em X e Y
para evitar valores negativos. ....................................................................................... 18
Figura 13. Articulação das folhas UTM na escala 1:1.000.000 (divisão ao milionésimo). .......... 19
Figura 14. Esquema da divisão de folhas na projeção UTM, da escala 1:1.000.000 até a escala
1:25.000. ....................................................................................................................... 20
Figura 15. Esquema das três indicações de Norte existentes em cartas na projeção UTM. ......... 21
Figura 16. Aparência de uma carta UTM na escala 1:50.000 (essa é a escala original, aqui a carta
foi reduzida para caber na folha A4). ........................................................................... 22
Figura 17. Representação de um objeto nos modelos matricial e vetorial. ................................... 23
Figura 18. Esquema de dados vetoriais nas estruturas Spaghetti e Topológica. ........................... 24
Figura 19. Ilustração das diferenças de representação entre os modelos raster e vetorial. .......... 25
Figura 20. Representação da realidade através de camadas, ou planos de informação. ............... 26
Figura 21. Digitalização manual em mesa digitalizadora ............................................................. 29
Figura 22. Ilustração do processo de georreferenciamento. .......................................................... 31
Figura 23. Ilustração do processo de vetorização em tela: (a) vetorização de um curso d’água
sobre uma carta escaneada; (b) camada, ou plano de informação, com o resultado da
vetorização. ................................................................................................................... 32
Figura 24. O espectro eletromagnético (Lillesand & Kiefer, 1987, adaptado). ............................ 34
Figura 25. Comportamento espectral de alguns elementos (Lillesand & Kiefer, 1987, adaptado).
...................................................................................................................................... 35
iii
Figura 26. Representação do processo de aquisição de uma imagem de satélite e geração de
mapas temáticos (Lahm, 1999). .................................................................................... 36
Figura 27. Exemplo de uma imagem de satélite, com ampliação de uma porção que evidencia os
pixels do modelo matricial. ........................................................................................... 36
Figura 28. Exemplo de fotografia aérea e de camadas vetoriais geradas por restituição
aerofotogramétrica. ....................................................................................................... 41
Figura 29. Exemplo de (a) VANT de asa fixa (Rock et al., 2011) e (b) de um modelo digital de
elevação (altitude) produzido a partir de fotografias obtidas com um VANT (D’Oleire-
Oltmanns et al., 2012). .................................................................................................. 42
Figura 30. Esquema dos três segmentos do sistema GPS. ............................................................ 42
Figura 31: A constelação de satélites GPS. ................................................................................... 43
Figura 32. Distribuição das estações e antenas do segmento de controle. .................................... 44
Figura 33. Exemplos de receptores GPS. ...................................................................................... 44
Figura 34. Ilustração do cálculo de uma coordenada pelos receptores. ........................................ 45
Figura 35. (a) Posicionamento geométrico dos vértices de uma área em um levantamento
topográfico e (b) projeção do terreno no plano para obtenção das medidas. ............... 47
Figura 36. Exemplo de cruzamento de camadas ou planos de informação................................... 54
iv
1. INTRODUÇÃO
1
1.2. Geoprocessamento e Sistemas de Informação Geográfica (SIG)
Apesar de tecnologias de localização geográfica acessíveis ao público, como o Google Earth,
serem muito recentes, a base científica por trás delas remonta a vários séculos, e os próprios
recursos tecnológicos que as suportam também já tem décadas de desenvolvimento. Foi nos anos
1960 que a ciência da informação geográfica e a tecnologia da computação foram reunidas pela
primeira vez para resolver um problema prático, originando uma área mais tarde denominada
geoprocessamento. Atualmente, o geoprocessamento pode ser definido como um conjunto de
tecnologias voltadas à coleta e ao tratamento de informações espaciais. Leia-se aqui
informações espaciais como sinônimo de informações geográficas, ou seja, informações cuja
localização geográfica é uma característica inerente e importante para o propósito pretendido.
A principal tecnologia no geoprocessamento são os programas (softwares) denominados
Sistemas de Informação Geográfica (SIG), uma classe especial de sistemas de informação que
representa uma poderosa ferramenta para a análise digital de dados localizados geograficamente.
Portanto, o geoprocessamento é um conceito mais abrangente e representa qualquer tipo de
processamento de dados georreferenciados, enquanto um SIG é uma ferramenta para isso e
processa dados espaciais gráficos e não gráficos (alfanuméricos), com ênfase na análise (Câmara
et al., 1996). Durante certo período no Brasil, geoprocessamento e SIG foram usados como
sinônimos. O termo SIG, originado do inglês GIS – Geografic Information System, chegou a ter
várias traduções: sistema de informação geográfica, sistema de informações geográficas e até
mesmo sistema geográfico de informação. Nesta apostila, optamos pela primeira.
Em uma definição mais ampla, um SIG poderia ser entendido como qualquer conjunto de
procedimentos utilizados para armazenar e manipular dados geograficamente referenciados,
inclusive procedimentos manuais. O avanço da informática nas atividades de mapeamento e
análise geográfica nas últimas décadas, entretanto, acabou restringindo a definição de SIG a
sistemas na forma de programas de computador (Aronoff, 1991).
Conforme Burrough (1992), por exemplo, um SIG constitui um poderoso conjunto de
ferramentas computacionais para a coleta, armazenamento, recuperação, transformação e
representação de dados espaciais do mundo real para um conjunto particular de propósitos. Para
Jackson (1992), um SIG também pode ser considerado um sistema computacional projetado para
a entrada, armazenamento, manipulação, análise, representação e recuperação eficientes de todas
as formas de dados geograficamente indexados e de dados descritivos a eles relacionados.
2
O CGIS foi o primeiro sistema digital operacional definitivamente considerado como um SIG.
Foi desenvolvido em 1964 pelo Departamento de Agricultura do Canadá em conjunto com a
IBM para o programa de planejamento da reabilitação das terras agrícolas do país. Seu
desenvolvimento fez parte de um plano estratégico governamental de longo prazo para criar um
inventário automatizado de recursos naturais, voltado ao planejamento de recursos naturais e do
uso do solo (Câmara et al., 1996). Outros programas de SIG foram concebidos nos Estados
Unidos e Europa logo em seguida, resultado de pesquisas conduzidas por universidades e órgãos
governamentais (Jackson, 1992).
A década de 70 foi o período de difusão dos SIG, com crescente interesse por parte de órgãos
governamentais. Desenvolveram-se fundamentos matemáticos voltados para a cartografia,
permitindo análises espaciais entre elementos cartográficos. Até então, apenas grandes
organizações utilizavam SIG em sistemas de grande porte. Projetos para aplicações bastante
variadas foram desenvolvidos, abarcando desde o uso de SIG para a manipulação e análise de
dados censitários e de cadastro até estudos em planejamento territorial e controle ambiental
(Johnston, 1988). Segundo Tom (1994), a maioria das aplicações estava voltada ao mapeamento
digital, com funções analíticas.
Avanços na capacidade de memória e de processamento dos equipamentos propiciaram alguns
impulsos na capacidade de análise dos sistemas, resultado de experiências da década anterior, e
foram responsáveis por uma redução de custos do hardware. Também surgiram interfaces para
os usuários, possibilitando uma maior interatividade e facilitando a operação dos sistemas, mas
os bancos de dados ainda permaneciam limitados (Teixeira et al., 1995).
Segundo Ehlers et al. (1989), nessa época o processamento dos dados espaciais e dos atributos
era feito separadamente, algumas vezes até em máquinas distintas. Geralmente um programa
(software) de processamento cartográfico manipulava a informação espacial e um Sistema
Gerenciador de Bancos de Dados (SGBD) era empregado para a manipulação dos dados
alfanuméricos (quando existissem) referentes às propriedades dos objetos geográficos.
Os anos 80 foram marcados por uma acentuada evolução tecnológica, possibilitando maior
rapidez, facilidade e flexibilidade na manipulação dos dados geográficos. Em função de seu
potencial, os SIG passaram a despertar maior interesse comercial, verificando-se a participação
crescente de empresas no seu desenvolvimento. A produção de novos sistemas cresceu tanto que
um levantamento realizado nos Estados Unidos no final da década de 80 contabilizou nada
menos que 62 SIG diferentes, embora poucos fossem realmente completos (Parker, 1989).
Com a popularização e barateamento das estações de trabalho, computadores pessoais e bancos
de dados, o uso de SIG foi difundido com a incorporação de muitas funções de análise espacial.
Surgiram periféricos gráficos de alta qualidade para entrada e saída de dados e o expressivo
aumento na capacidade dos dispositivos de armazenamento (Teixeira et al., 1995). Foram
registrados importantes progressos conceituais, como a ligação entre o banco de dados gráfico e
o alfanumérico, o que constitui um marco para o SIG. O processamento cartográfico e SGBD
interligados numa interface única ainda representa o padrão em muitos dos SIG atuais (Ehlers et
al., 1989).
Ao mesmo tempo ocorreram também grandes avanços na tecnologia de processamento de
imagens digitais, principalmente dos satélites de recursos naturais. A necessidade de resolver os
problemas ambientais decorrentes da intensa e crescente exploração econômica exigia cada vez
mais o cuidadoso planejamento do uso dos recursos naturais. As imagens orbitais, em função de
suas características espaciais, espectrais e de repetibilidade, tornaram-se elemento indispensável
na maioria dos estudos relacionados ao meio ambiente em grandes extensões (Zhou, 1989;
Fabbri,1992).
O aprimoramento dos SIG, anexando funções para dados no modelo raster, possibilitou a
inclusão direta dos produtos de sensoriamento remoto orbital como fonte de informação para as
3
análises neles conduzidas. A importância das imagens de satélite para o mapeamento e o
monitoramento alcançou um nível tal que, para melhor aproveitar suas características, diversos
sistemas para geoprocessamento baseados exclusivamente no modelo de dados raster foram
desenvolvidos.
No final da década de 80 também se tornaram públicas as primeiras iniciativas de
desenvolvimento tecnológico relacionado a SIG no Brasil, com o lançamento dos programas
SITM/SGI, desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e do SAGA,
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Na década de 90 houve grande disseminação de várias tecnologias relacionadas à coleta,
armazenamento e tratamento de dados espaciais, incluindo os SIG. O volume de dados tratados e
a complexidade das análises evoluíram significativamente e novos algoritmos para modelagem e
simulação de processos e aplicativos de apoio à tomada de decisão foram desenvolvidos. No
Brasil houve intensa proliferação de aplicações regionais, locais e em pequenos projetos,
gerando grandes quantidades de dados em posse de empresas, instituições e indivíduos.
Atualmente, as aplicações de SIG variam na extensão da área geográfica considerada (que pode
abranger desde um quarteirão em uma cidade até o globo terrestre), equipamento utilizado
(desde um computador pessoal até supercomputadores) e abrangência (de interesse particular até
patrocínio de agências governamentais abrangendo diferentes países) (Câmara et al., 1996).
Se o progresso tecnológico, por um lado, facilitou o desenvolvimento de programas de SIG,
possibilitou também o aperfeiçoamento das formas de aquisição de dados georreferenciados.
Com isto, aumentou a complexidade de coleta, armazenamento, manipulação e visualização dos
dados, em função do seu volume, variedade e heterogeneidade. Com a possibilidade de
intercâmbio desses dados, tanto em nível mundial e de Brasil, iniciaram-se discussões e
estabelecimento de padrões para o georreferenciamento e para a documentação da informação
espacial (Maguire et al., 1992; Wheeler, 1993; Rodrigues & Vilaça, 1994).
Nesse sentido, recentemente o Brasil criou a Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais (INDE),
que procura estabelecer padrões para a organização e descrição de dados geoespaciais
produzidos por instituições públicas nos diversos níveis de governo (federal, estadual e
municipal). A INDE também estabelece protocolos e programas para facilitar a documentação de
dados geoespaciais e um mecanismo para a publicação dos mesmos em um portal na Internet.
Um dos seus objetivos é permitir que pessoas ou instituições que buscam dados geospaciais de
uma determinada área possam descobri-los e obtê-los mais fácil e rapidamente, agilizando
processos, evitando a repetição de levantamentos e consequentemente reduzindo custos.
Pessoas
Metodologias Dados
Hardware Software
Figura 1. Componentes de um SIG do ponto de vista de sistema.
1.4.1. Hardware
O hardware é o conjunto de equipamentos necessários para que o software escolhido possa
desempenhar suas funções, tais como computadores e periféricos, como impressora, plotter,
scanner, unidades de armazenamento e infraestrutura de rede para comunicação entre
computadores. Além dos equipamentos tradicionais, dispositivos móveis para coleta de dados
5
georreferenciados, como receptores GPS (Global Position System), tablets e smartphones
também podem ser considerados como parte do hardware.
1.4.2. Software
O software é o conjunto de programas com as ferramentas computacionais para tratar os dados
georreferenciados. Existem inúmeras alternativas no mercado, incluindo programas livres, com
código-fonte aberto e licença gratuita, e outros cuja licença pode chegar a valores
significativamente elevados. Também há variações muito grandes com relação ao ambiente
funcional (mono ou multiusuário), à forma de armazenamento e de acesso aos dados (local ou
distribuída) e às funcionalidades analíticas, além de vários outros aspectos. O software pode ser
um componente crítico porque determina o potencial de uso e as capacidades analíticas do SIG,
por isso é necessário um bom estudo comparativo entre as opções disponíveis no mercado para
fazer uma escolha adequada.
1.4.3. Dados
Atualmente os dados espaciais são um dos itens mais importantes de um SIG, pois sem eles
todos os equipamentos e as funções dos programas perdem a utilidade. Conforme Longley et al
(2011), os dados também são críticos à medida que constituem uma das inúmeras possíveis
representações da realidade, ou seja, eles são um modelo digital de algum aspecto da superfície
terrestre. Em termos geográficos, o mundo é extremamente complexo, revelando mais detalhes à
medida que se olha mais de perto, tendendo ao infinito. Para construir uma representação de
qualquer de uma de suas partes, é necessário fazer escolhas sobre o que se deseja representar,
como fazê-lo, em que nível de detalhe e para que período de tempo.
1.4.4. Pessoas
As pessoas são importantes porque são elas que vão definir demandas e usar os resultados
obtidos com as análises espaciais efetuadas em SIG. Por isso, quando falamos em pessoas
incluímos vários grupos, desde aqueles que fazem a coleta de informação até os especialistas que
operam os programas de SIG e os que utilizarão os resultados finais para tomar decisões. Isso
envolve setores de praticamente toda a sociedade, já que todos podem se beneficiar de
informações localizadas geograficamente, como mostra o Google Earth, por exemplo. Isso
requer que os profissionais de diversas áreas se familiarizem, dominem e incorporem a
informação geográfica nas suas atividades rotineiras.
1.4.5. Metodologias
As metodologias são importantes porque envolvem todas as transformações, manipulações e
métodos que podem ser aplicados para adicionar valor aos dados geográficos, com vistas a gerar
resultados analíticos úteis a fim de apoiar decisões e revelar padrões e anomalias que não são
óbvios à primeira vista (Longley et al, 2011). O sucesso em transformar dados espaciais brutos
em informação útil depende essencialmente de metodologias adequadas, o que inclui
obrigatoriamente padrões para a coleta e estruturação dos dados, sua documentação e
apresentação dos resultados analíticos obtidos.
6
fornecendo a base espacial à qual as demais informações da área de interesse podem ser
relacionadas;
2. Geografia: é por excelência a ciência da informação geográfica, e contribui com técnicas de
levantamento e organização de dados espaciais, métodos de análise, elaboração de mapas e
interpretação de resultados;
3. Informática: contribui com desenvolvimento de programas, tecnologia de hardware para
suportar grandes cargas de processamentos de dados e tecnologia de redes de computadores
para a troca de informações entre equipamentos, de forma local ou remota. Os principais
tipos de programas úteis ao geoprocessamento são:
a) Sistemas de Informação Geográfica (SIG): uma família de programas desenvolvida
especificamente para organizar, manusear e analisar dados espaciais. Os SIG constituem
a principal ferramenta de software para o geoprocessamento;
b) CAD (Computer-Aided Drawing ou Computer-Aided Design) e computação gráfica:
contribui com software, hardware, técnicas para entrada de dados, exibição, visualização
representação em 2D e 3D, manipulação e representação de objetos gráficos, etc.
c) Sistemas de Gerenciamento de Banco de Dados – SGBD (Database Management
Systems - DBMS): modelos de dados, estrutura de dados, segurança e processos de
manipulação de grandes volumes de dados;
4. Sensoriamento Remoto: contribui com técnicas de aquisição e processamento de imagens,
facilidades para obtenção de dados sobre qualquer lugar do globo terrestre, através de
sensores orbitais (satélites) ou sensores aerotransportados;
5. Matemática e estatística: fornecem modelos e métodos de análise dos dados, sejam gráficos
ou não gráficos. As técnicas de estatística são utilizadas para verificação da qualidade
durante o pré-processamento, para resumir um arquivo como um relatório de gerência dos
dados, para criar dados derivados durante análises, etc.
7
2.1. Determinação de coordenadas
+
Me r idi an o p r inc i pal
0°
Eq u ad o r
-
- 0° +
Figura 2. Esquema dos meridianos e paralelos e a gradícula formada pela sua intersecção.
Os meridianos são círculos máximos que cortam a Terra em duas partes iguais de polo a polo.
Sendo assim, todos os meridianos se cortam entre si, em ambos os polos. O meridiano de origem
ou de referência é, por convenção, o meridiano de Greenwich (0º). Os paralelos são círculos que
cruzam os meridianos perpendicularmente, isto é, em ângulos retos. Apenas um é o círculo
máximo, o Equador (0º). Os outros vão diminuindo de tamanho à medida que se afastam do
Equador para o sul e para o norte, até se transformarem em cada polo, num ponto (90º).
A intersecção dos meridianos e dos paralelos forma uma “gradícula”, que permite tanto a
representação de coordenadas quanto sua interpolação aproximada. O uso de meridianos e
paralelos é a forma mais comum de representar e visualizar o conceito de latitude e longitude,
mas ela não explica como essas coordenadas são determinadas de fato. Na verdade, obter a
latitude e longitude de determinado local é algo bem mais complexo e necessita ser bem
compreendido para que essas coordenadas sejam corretamente coletadas e utilizadas.
8
Figura 3. Latitude e longitude do prédio 14 da ULBRA Canoas, obtidas no Google Earth.
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A longitude () é medida pelo arco formado entre a projeção do ponto “P” a ser determinado até
o eixo de rotação da Terra (meridiano que passa pelo ponto, chamado meridiano do lugar) e o
meridiano de Greenwich. A longitude quando é medida no sentido oeste é chamada longitude
oeste ou negativa, e é representada pela letra O ou pela letra W (de West). Quando é medida no
sentido leste é chamada de longitude leste ou positiva, e é representada pela letra L ou pela letra
E (de East, ou Este). A longitude varia de 0º a 180ºO (ou 0º a -180º) e de 0º a 180ºL (ou 0º a
+180º)
A latitude () é medida pelo arco formado entre a projeção do ponto “P” até o centro da Terra e
o Equador. A latitude quando é medida no sentido norte é chamada latitude norte ou positiva, e é
representada pela letra N. Quando medida no sentido sul, é chamada latitude sul ou negativa, e é
representada pela letra S. Sua variação é de 0º a 90ºN (ou 0º a +90º) e de 0º a 90ºS (ou 0º a -90º).
Os valores de latitude e longitude são expressos em graus, minutos e segundos de grau, mas é
necessário tomar cuidado com o uso desses valores em calculadoras ou em softwares de
computador, pois a maioria opera com o sistema numérico decimal. Nesses casos, os valores de
minutos (´) e de segundos (”) precisam ser convertidos para décimos de grau e depois somados
ao valor em graus.
Como um grau possui 60 minutos, o valor em minutos deve ser dividido por 60. No caso dos
segundos, a relação é de um grau para 3.600 segundos, de forma que o valor em segundos deve
ser dividido por 3.600. Em outras palavras, um grau é igual a 60 minutos ou a 3.600 segundos.
A conversão das coordenadas do exemplo da Figura 3 (29º53’18,78”S e 51º9’27,18”O) seria
realizada então da seguinte forma:
Latitude: 29º53’18,78”S = 29 + 53/60 + 18,78/3600 = 29,88855°S
Longitude: 51º9’27,18”O = 51 + 9/60 + 27,18/3600 = 51,15755°O
Além da conversão para valores decimais, ainda pode ser necessário indicar o quadrante das
coordenadas, substituindo respectivamente as letras referentes a Norte (N), Sul (S), Leste (L ou
E) e Oeste (O ou W) pelos sinais “+” (N), “-” (S), “+” (L ou E) e “-” (O ou W). Assim, as
coordenadas, depois de devidamente convertidas, ficariam com os seguintes valores numéricos:
Latitude: -29,88855°
Longitude: -51,15755°
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Figura 5. Diferença entre a superfície topográfica da Terra, o elipsóide e o geóide.
(a) (b)
Figura 6. (a) Posicionamento de um ponto através de um sistema geodésico de referência e (b) ilustração
da diferença de origem e dimensões do elipsóide entre dois sistemas geodésicos de referência.
Assim, um sistema geodésico de referência, também denominado de Datum, estabelece uma
origem e está associado a uma superfície teórica que se aproxima da forma da Terra, sobre a
qual são desenvolvidos todos os cálculos das coordenadas atualmente. Vários sistemas
geodésicos de referência são utilizados para descrever as posições de objetos na superfície
terrestre em diferentes regiões do Globo, conforme as normas cartográficas vigentes em cada
país.
No Brasil, ao longo do tempo já foram empregados vários sistemas geodésicos de referência.
Uma boa parte das cartas do levantamento sistemático do território brasileiro foi elaborada com
um sistema chamado Córrego Alegre, utilizado até meados da década de 1980. Posteriormente, a
11
partir de 1986, passou-se a adotar o sistema SAD69 (South American Datum, de 1969), que em
1996 sofreu algumas atualizações pelo IBGE. A partir do ano de 2014 tornou-se obrigatório em
todos os trabalhos técnicos o uso do SIRGAS2000 (Sistema de Referência Geocêntrico para as
Américas). O SIRGAS2000 tem a missão de melhorar a qualidade dos levantamentos no país e
de reduzir os problemas de compatibilidade de coordenadas coletadas em diferentes sistemas.
Além dos sistemas oficiais adotados no Brasil ao longo do tempo, existe ainda outro sistema
geodésico de referência que é usado quotidianamente por usuários de GPS e de programas como
o Google Earth, na maioria das vezes sem que eles saibam. Essas tecnologias usam o sistema
WGS84 (World Geodetic System 1984 – Sistema Geodésico Mundial de 1984), que é
geocêntrico, ou seja, seu centro coincide com o centro da Terra, e possui um ajuste médio para
todo o Globo. Na prática ele é equivalente ao SIRGAS2000, o que facilitará a vida de usuários
de GPS, pois para a maioria dos casos no Brasil não será mais necessário fazer a conversão de
coordenadas como ocorria anteriormente com o Sad69, por exemplo.
O problema de existirem vários sistemas geodésicos de referência é que um mesmo local pode
ter valores diferentes de latitude e longitude, dependendo do sistema de referência utilizado para
calculá-las. Isso pode resultar em deslocamentos de feições quando dois mapeamentos diferentes
são confrontados, e já causou inúmeros problemas em obras devido ao desencontro dos projetos,
especialmente aqueles que são executados em lotes, por mais de uma empresa (Figura 7).
(a) (b)
Figura 7. Exemplo de desencontro de projeto executado em duas partes (a) com sistemas geodésicos de
referência diferentes e (b) com o mesmo sistema geodésico de referência.
12
é feito com o uso de um conjunto de técnicas e transformações denominadas de projeções
cartográficas.
13
2.2.2.2. Quanto à superfície de projeção
O desenvolvimento da superfície curva do elipsóide para o plano usa diferentes superfícies de
projeção como apoio (Figura 9 e Figura 10). Em função da(s) superfície(s) utilizada(s), as
projeções cartográficas são classificadas em:
a) Planas ou azimutais: usam uma superfície de projeção plana, que pode assumir três posições
básicas em relação à superfície de referência: polar, equatorial e oblíqua.
b) Cônicas: usam uma superfície de projeção cônica que pode ser desenvolvida em um plano
sem que haja distorções. A sua posição em relação à superfície de referência pode ser
normal, transversal e oblíqua.
c) Cilíndricas: usam uma superfície de projeção cilíndrica que também pode ser desenvolvida
em um plano. Sua posição em relação à superfície de referência pode ser equatorial,
transversal e oblíqua (O mapeamento sistemático brasileiro utiliza uma superfície cilíndrica
transversal).
d) Poli-superficiais: usam mais do que uma superfície de projeção (do mesmo tipo) para
aumentar o contato com a superfície de referência e, assim, diminuir as deformações. Quando
usam várias superfícies planas, cônicas ou cilíndricas são denominadas, respectivamente, de
poliédricas, policônicas e policilíndricas.
14
(a)
(b)
Figura 10. Ilustração do desenvolvimento (a) de um cilindro e (b) de um cone, para o plano.
15
d) Afiláticas: não possuem nenhuma propriedade dos outros tipos, ou seja, as projeções em que
as áreas, os ângulos e os comprimentos não são conservados.
Felizmente, dados espaciais podem ser facilmente convertidos de uma projeção cartográfica para
outra em programas de SIG, possibilitando que o usuário opte pela projeção cartográfica mais
conveniente para o propósito em questão. Isso também é importante quando houver a
necessidade de juntar dados espaciais produzidos em diferentes projeções cartográficas, pois eles
devem ser transformados previamente para uma única. Por isso, assim como no caso dos
sistemas geodésicos de referência, é importante que o usuário de SIG sempre saiba a projeção
cartográfica de todos os seus dados.
2.3. Escala
A escala é a relação entre as dimensões dos elementos representados em um mapa e as
dimensões reais medidas diretamente sobre a superfície da Terra. A escala deve estar presente
em qualquer planta, carta ou mapa impresso, e pode ser apresentada de três formas: escala
gráfica, numérica ou nominal.
Escala Gráfica Escala numérica Escala nominal
A escala numérica é a mais importante para a conversão direta de medidas, pois indica no
denominador o valor que deve ser usado para multiplicar uma medida feita sobre o mapa e
transformá-la em um valor correspondente sobre a superfície terrestre. O inverso deve ser feito
quando se deseja transferir uma medida real para o mapa, ou seja, deve-se dividir o valor da
medida real pelo denominador da escala para encontrar o tamanho em centímetros ou milímetros
que esta medida terá no mapa.
16
indicada para o mapeamento topográfico em grande escala em regiões com extensão
predominante no sentido Norte-Sul, mas também pode ser empregada na representação de áreas
com grande extensão em longitude. Suas principais características são detalhadas a seguir.
(a) (b)
Figura 11. Esquema da projeção Universal Transversa de Mercator (UTM): (a) Posição do cilindro, com
eixo perpendicular ao meridiano de tangência; (b) Divisão do Globo em fusos de 6º de longitude.
d) Apesar dos fusos se estenderem de polo a polo, a projeção UTM é empregada apenas entre as
latitudes 84º N e 80º S (Figura 12a).
e) O quadriculado UTM está associado a um sistema de coordenadas plano-retangulares, tal que
um eixo coincide com a projeção do Meridiano Central do fuso e o outro eixo com o Equador
(Figura 12a). Assim cada ponto do elipsóide de referência (descrito por latitude e longitude)
estará biunivocamente associado ao termo de valores Meridiano Central, coordenada no eixo
x (ou coordenada E, já que o eixo horizontal aponta para o leste) e coordenada no eixo y (ou
coordenada N, já que o eixo vertical aponta para o norte).
17
X = 500.000 m
Y = 10.000.000 m
(a) (b)
Figura 12. Coordenadas planas no sistema UTM: (a) Origem das coordenadas no Equador e Meridiano
Central em um fuso; (b) Esquema de um sistema de coordenadas cartesiano e métrico associado ao fuso,
em cuja origem são adicionadas as constantes em X e Y para evitar valores negativos.
18
2.4.1.2. Divisão sistemática do mapeamento na projeção UTM
O caráter “Universal” da projeção UTM deve-se principalmente ao fato de estabelecer uma
sistemática completa para divisão do território e produção de cartas impressas em diversas
escalas, incluindo ainda uma nomenclatura hierárquica que identifica a cobertura e escala de
cada folha. Os limites das cartas nas diversas escalas são geradas por subdivisões sucessivas de
uma articulação inicial, definida pela largura dos fusos UTM, com 6º de longitude, e por faixas
no sentido Norte-Sul chamadas de zonas UTM, com 4º de latitude cada uma (Figura 13). Essa
divisão inicial do território define os retângulos para elaboração das cartas na escala 1:1.000.000,
e por isso é chamada de divisão ao milionésimo. A partir dela são feitas as subdivisões para a
geração das cartas nas demais escalas previstas no mapeamento sistemático, que no Brasil vai até
a escala 1:25.000.
Observe na Figura 13 a folha correspondente ao retângulo que abrange os municípios da Grande
Porto Alegre e veja que ela corresponde a uma zona UTM identificada pelas letras SH (lado
esquerdo da figura) e a um fuso identificado pelo número 22 (base da figura). A junção destes
dois códigos forma a nomenclatura internacional das folhas no sistema UTM, iniciando pelas
letras SH (Hemisfério Sul, faixa H), seguidas de um ponto (“.”) e do número do fuso (22).
Assim, o nome internacional desta folha no sistema UTM seria “SH.22”.
Figura 13. Articulação das folhas UTM na escala 1:1.000.000 (divisão ao milionésimo).
A Figura 14 mostra um esquema das subdivisões dessa folha e dos caracteres que são
acrescentados para identificar as folhas a cada subdivisão sucessiva, mas as subdivisões não
estão representadas em todos os retângulos para evitar o excesso de quadriculados. Vamos supor
19
que o ponto vermelho na Figura 14 é a localização aproximada de Canoas nessa folha UTM. A
Tabela 2 mostra a divisão sucessiva e relaciona escala, número de subdivisões, ampliação e
nomenclatura internacional das folhas que envolvem este ponto em cada uma das escalas do
mapeamento.
Partindo-se da folha ao milionésimo, a carta na escala seguinte é obtida por duas subdivisões no
eixo X e duas subdivisões no eixo Y, formando assim quatro novos retângulos que são
ampliados duas vezes para gerar quatro cartas na escala 1:500.000. Cada novo retângulo nessa
escala recebe um caractere adicional na sua nomenclatura internacional, na sequência V X Y Z
(da esquerda para a direita e de cima para baixo). Assim, o nome internacional da folha
1:500.000 onde se situa o ponto vermelho seria SH.22-V. Essa lógica se repete em todas as
subdivisões das escalas subsequentes, podendo chegar a escalas bastante detalhadas como
1:2.000 ou 1:1.000. Entretanto, o mapeamento sistemático realizado pelo IBGE e pela DSG vai
apenas até a escala 1:25.000.
Figura 14. Esquema da divisão de folhas na projeção UTM, da escala 1:1.000.000 até a escala 1:25.000.
Tabela 2. Exemplo de subdivisões, fator de ampliação e nome internacional das folhas na projeção UTM,
da escala 1:1.000.000 até a escala 1:25.000, partindo da folha SH.22.
Escala Subdivisões Ampliação Nome Internacional
1:1.000.000 SH.22
1:500.000 2 2 vezes SH.22-V
1:250.000 2 2 vezes SH.22-V-D
1:100.000 3 em X e 2 em Y 2,5 vezes SH.22-V-D-VI
1:50.000 2 2 vezes SH.22-V-D-VI-4
1:25.000 2 2 vezes SH.22-V-D-VI-4-NE
20
A Figura 16 mostra a aparência de uma carta UTM na escala 1:50.000, na região indicada pelo
ponto vermelho da Figura 14. Observe que ela apresenta uma área útil onde aparecem os
elementos mapeados e várias informações auxiliares em torno dessa área útil.
No canto superior esquerdo consta o órgão responsável pela produção da carta, a região à qual a
carta pertence e a escala da mesma. Um pouco mais à direita, no centro da folha, encontra-se o
seu nome regional, geralmente o nome de uma cidade ou de uma localidade importante incluída
na mesma. Por exemplo, esta folha se chama São Leopoldo, mas ela inclui também parte de
outros municípios, como Canoas, Esteio e Sapucaia. Ainda no topo da folha, no canto superior
direito está a nomenclatura internacional da folha e o número do mapa-índice (MI), de acordo
com a articulação das cartas do mapeamento sistemático brasileiro.
Na base da carta consta o maior conjunto de informações auxiliares. No canto inferior esquerdo
constam o número da edição e a data da impressão, logo abaixo das quais estão as convenções
cartográficas utilizadas, fundamentais para a interpretação e compreensão do mapa.
Na porção central da base da carta ainda estão relacionadas a escala numérica, a escala gráfica, a
escala de declividades, a equidistância das curvas de nível, o Datum vertical (usado para
determinação das altitudes), a projeção cartográfica (UTM), o Datum horizontal (sistema
geodésico de referência), a origem da quilometragem UTM, o valor das constantes acrescentadas
no eixo X e no eixo Y, entre outras. Pode-se ver também a orientação da folha, indicando três
indicações de Norte (Figura 15): Norte magnético (NM), Norte geográfico ou verdadeiro (NG) e
Norte das quadrículas UTM (NQ). Nesse gráfico também aparece o valor da declinação
magnética na época de confecção da carta, para atualizar o Norte magnético quando necessário,
já que ele varia.
Figura 15. Esquema das três indicações de Norte existentes em cartas na projeção UTM.
Por último, no canto inferior direito consta a data das fotografias aéreas usadas como base do
mapeamento e a data dos trabalhos de campo, além da situação da folha no estado do Rio Grande
do Sul e da articulação com as cartas vizinhas. Essa articulação facilita a identificação das folhas
necessárias para cobrir uma área quando ela exceder a superfície de uma carta.
A área mapeada ocupa a maior parte da superfície da carta. Entre as principais informações
pode-se destacar a rede hidrográfica, o sistema viário, as manchas urbanas e a topografia. A rede
hidrográfica é representada por linhas e polígonos em cor azul, sugerindo a presença de água. As
estradas são representadas por linhas de diferentes cores, estilos e espessuras, conforme a
categoria (federal, estadual, municipal, caminhos, ferrovias, etc.). As manchas urbanas estão
21
preenchidas em rosa, acompanhadas do nome da cidade em preto. A topografia é representada
por curvas de nível (linhas marrons) e por pontos cotados (indicados por um “x” ou um pequeno
triângulo com um ponto dentro, acompanhados do valor da cota). Constam também banhados,
cultivos, manchas de vegetação mais significativas, pontos notáveis (hospitais, fábricas, antenas,
etc.) e a toponímia (nomes de localidades, estradas, rios e outros acidentes geográficos).
Figura 16. Aparência de uma carta UTM na escala 1:50.000 (essa é a escala original, aqui a carta
foi reduzida para caber na folha A4).
22
Em torno do retângulo que contém a área mapeada estão inseridas referências de coordenadas
planas na projeção UTM, em quilômetros, e de coordenadas geodésicas (latitude e longitude),
em graus e minutos. Nas cartas em escala 1:50.000, as coordenadas UTM possuem referências
espaçadas de 2 quilômetros, formando uma grade que permite a interpolação de posições em
qualquer ponto da área mapeada. Já as coordenadas geodésicas (latitudes e longitudes)
encontram-se indicadas em intervalos de 5 minutos de grau e sua principal função é dar uma
noção da localização e da extensão geográfica do mapeamento.
Para compreender melhor as características e as propriedades da projeção UTM vamos executar
cálculos manuais na atividade semipresencial n° 1, envolvendo a localização de coordenadas e
a obtenção de medidas diversas sobre mapas em papel.
23
preenche-se o interior dos mesmos, ficando seus limites implicitamente representados na
imagem formada com o agrupamento de pixels de valor igual. Para formar uma imagem visível,
os valores das células são usados para regular diretamente sua aparência no dispositivo de
visualização.
No modelo matricial, portanto, a representação gráfica das feições e os atributos que elas
possuem estão fundidos no mesmo arquivo. Para representar vários aspectos de uma mesma área
é necessário fazer uso de diferentes camadas matriciais, onde as células de cada camada
armazenam os valores associados a uma única variável ou tema. A cada célula de uma camada é
dado um valor numérico que pode representar tanto um identificador da feição quanto um valor
de atributo qualitativo ou quantitativo. Por exemplo, uma célula pode ter o valor “6” para indicar
que ela pertence ao distrito 6 (identificador de feição), que é coberta por tipo de solo 6 (atributo
qualitativo) ou que está 6 metros acima do nível do mar (valor de atributo quantitativo).
Por essas características, o modelo matricial é mais adequado para a representação de dados que
apresentam variação contínua no espaço, como altimetria, unidades geológicas, teor de minerais
ou propriedades do solo ou subsolo (como aeromagnetismo). Pela simplicidade de sua estrutura,
entretanto, vários softwares utilizam este modelo também para representação e análise de dados
com distribuição espacial de natureza discreta.
24
de ter um ponto inicial e de término confere um sentido para a linha. Quando o mapa a ser
representado possui apenas feições do tipo linha a topologia é chamada arco-nó, e quando
existem polígonos a topologia é do tipo arco-nó-polígono. Neste caso ela é um pouco mais
complexa pois, além de armazenar o início e término das linhas, também precisa identificar as
linhas que constituem os limites de cada polígono e quem são os vizinhos em cada arco
compartilhado por dois polígonos (NCGIA, 1990).
Outra diferença em relação ao modelo matricial é que no modelo vetorial as características
descritivas (atributos) das feições podem ser armazenadas em um banco de dados relacional
vinculado ao gráfico, utilizando recursos de sistemas de gerenciamento de bancos de dados
(SGBD). Dessa forma, é possível armazenar simultaneamente várias características para um
objeto sem ter de repetir esse objeto em vários mapas, utilizando-se tabelas. Por exemplo, um
mapa vetorial de lotes urbanos pode ser vinculado a uma tabela de atributos contendo o
endereço, o nome do proprietário, tamanho da área construída e uso do terreno, entre outras
informações. A ligação entre a informação espacial (polígonos dos lotes) e sua tabela de
atributos é feita por um número identificador único dado a cada feição no mapa e constante
também na tabela.
802 812
3
801 810
806
803 809
804 2
1
808 805
807
+
ID Uso Área 0 0 0 0 0 3 3 3
0 0 0 0 3 3 3 0
801 201 6305 0 0 2 3 3 3 3 0
802 202 6412
0 0 2 2 3 3 0 0
803 112 7221
1 0 0 2 2 0 0 0
804 201 12532
805 312 14638 1 1 1 2 2 2 0 0
806 201 6120 1 1 2 2 2 0 0 0
807 111 8914 1 1 0 0 2 0 0 0
Vetorial Raster
Figura 19. Ilustração das diferenças de representação entre os modelos raster e vetorial.
25
Tabela 3. Comparação entre os modelos matricial e vetorial.
26
e origens diversas, possam ser convertidas a um sistema de coordenadas comum e possam ser
integradas.
Assim, os SIG provavelmente constituem a categoria de software com a mais ampla capacidade
de integração de dados de diferentes fontes. Eles tornam possível integrar em uma única base
dados tão diversos quanto mapas analógicos (em papel), mapas digitais, fotografias aéreas,
imagens de satélite, levantamentos topográficos, levantamentos com GPS (Global Positioning
System) e dados tabulares.
É importante observar, entretanto, que o detalhamento da informação nas diferentes camadas
depende da escala do mapa original, ou seja, o nível de exatidão e detalhe do dado digital pode
ser apenas tão bom quanto o dos mapas originais. O mesmo acontece com imagens de satélite ou
fotografias aéreas, que possuem uma resolução espacial além da qual é impossível obter mais
detalhes. Ao utilizar um SIG deve-se, portanto, ter muito cuidado para não combinar
informações com detalhamento incompatível, a fim de evitar a obtenção de resultados
inconsistentes e inválidos nas análises.
27
À medida que ambas as tecnologias evoluíram em funcionalidade e sofisticação, a "distância"
entre suas respectivas especialidades diminui. Embora existam algumas similaridades entre os
programas de SIG e de CAD, ainda há importantes diferenças que devem ser entendidas a fim de
selecionar a ferramenta mais adequada para um determinado propósito.
Os programas de CAD foram projetados para gerar desenhos digitais de objetos (geográficos ou
não), com potentes recursos de desenho e edição que impulsionaram a área de desenho e projeto
em engenharia e arquitetura, bem como no mapeamento digital. Os programas de SIG, por outro
lado, foram concebidos para representar e modelar o mundo, com a finalidade de entender,
analisar e gerenciar recursos e infraestrutura. Como resultado, os SIG manipulam um volume e
uma diversidade de informações muito maior que programas de CAD e empregam métodos de
análise de natureza altamente especializada (Burrough, 1992). Podemos dizer que programas de
CAD permitem representar como o mundo é, enquanto programas de SIG permitem representar
como o mundo é e como ele funciona.
Conforme Aronoff (1991) e Almorox et al. (1994), a diferença fundamental entre as duas
categorias de programas é a habilidade dos SIG para integrar dados georreferenciados de
natureza diversa e gerar nova informação a partir de um conjunto de dados previamente
existentes, mediante sua manipulação, reelaboração e análise. Outra característica importante,
segundo Assad & Sano (1993), é a capacidade de um SIG de tratar eficientemente a topologia,
ou seja, as relações espaciais entre os objetos geográficos (conectividade, contigüidade,
pertinência) e as diversas escalas e projeções cartográficas existentes. Para Cowen (1988), a
distinção entre um verdadeiro SIG e um desenho ou mapa digital em CAD somente existe se
dois elementos importantes estiverem presentes: um banco de dados de atributos vinculado aos
objetos e a topologia espacial.
Em um SIG, cada entidade ou feição que faz parte de um mapa pode possuir um registro
correspondente em um banco de dados relacional, ou seja, existe algum tipo de informação
associada a cada feição do mapa. Isso possibilita ao usuário realizar consultas sobre o mapa e
obter respostas relativas às suas características rapidamente. A resposta pode ser retornada
visualmente no mapa e/ou na forma de um relatório textual, tabelas ou gráficos. O uso de bancos
de dados em programas de CAD é possível, mas é frequentemente periférico à tarefa principal de
desenhar. Em um programa de SIG, o banco de dados frequentemente é o aspecto mais
importante do sistema.
O conceito de topologia espacial também é crucial em um SIG. A topologia possibilita que o SIG
"saiba" como todas as várias feições de um mapa se relacionam umas às outras. Um mapa de
rodovias, por exemplo, pode ser produzido por um CAD com excelente qualidade visual, mas
sem topologia espacial o que teremos é apenas uma coleção de segmentos de linhas e de texto
que representam visualmente as rodovias. Para executar algum tipo de análise, como encontrar o
caminho mais curto ou mais rápido entre dois pontos, o sistema precisa conhecer quais
segmentos de linhas estão conectados entre si, o sentido do tráfego em cada segmento, os limites
de velocidade, os semáforos nas intersecções, etc. A combinação da topologia espacial e com um
banco de dados relacional em um SIG permite a realização de análises complexas como essa, de
forma rápida e simples. É esse tipo de análise que ocorre quando você tenta encontrar um
caminho para ligar dois pontos no Google Earth, por exemplo.
O intercâmbio de dados entre os dois tipos de programas, SIG e CAD, está sendo facilitado
continuamente, apesar da sua natureza diferente. Essa possibilidade é extremamente importante
para facilitar o uso dos dados espaciais digitais já disponíveis. Existe uma infinidade de arquivos
de desenhos digitais em CAD que podem ser utilizados para alimentar bases de dados em SIG.
Muitas prefeituras, por exemplo, possuem plantas digitais da sua cidade em formatos de CAD, e
elas podem ser plenamente aproveitadas em programas de SIG.
28
Por último, cabe lembrar que cada tecnologia tem algo específico a oferecer para auxiliar a
resolver as necessidades dos usuários de dados espaciais. Convém escolher aquela que melhor
satisfaz cada caso.
29
A digitalização manual é muito lenta e trabalhosa e seus resultados geralmente possuem baixa
qualidade quando comparados a outros métodos de digitalização porque a escala do mapa não
pode ser aumentada durante o processo. Há ainda a necessidade de se adquirir uma mesa
digitalizadora, cujo custo pode superar o valor de um bom computador, e o rendimento do
trabalho é baixo porque apenas uma pessoa pode utilizar a mesa de cada vez.
Em função do método de coleta registrar os vértices das feições, o produto resultante deste tipo
de digitalização é tipicamente um arquivo vetorial. Se a vetorização for feita com bom
planejamento, as camadas de interesse já podem ser geradas de forma individualizada,
facilitando assim seu uso posterior.
5.1.2.1. Importação
A importação de um arquivo digital gerado com scanner é uma operação simples, sendo que
praticamente qualquer software de SIG possui as ferramentas necessárias para converter os
diferentes formatos. Alguns softwares inclusive são capazes de ler diretamente os arquivos
produzidos por scanners, não necessitando realizar a conversão.
5.1.2.2. Georreferenciamento
O georreferenciamento ou registro consiste em um conjunto de operações numéricas para
modificar a geometria de um mapa ou de uma imagem para ajustá-los a um sistema de
coordenadas considerado como referência (Phillips & Swain, 1988). Nesse processo de
transformação geométrica as coordenadas arbitrárias do mapa escaneado (linha, coluna) são
relacionadas com coordenadas conhecidas (coordenadas UTM, latitude e longitude, etc.). A
Figura 22 ilustra as alterações ocorridas em um processo de georreferenciamento.
Este procedimento pode ser realizado por uma equação polinomial, cujos coeficientes são
calculados a partir de um conjunto de pontos identificáveis tanto no mapa ou imagem a ajustar
quanto no sistema de referência desejado. Esses pontos são chamados de pontos de controle e
devem ter uma distribuição espacial uniforme por toda a área de interesse (Richards, 1986;
30
Mather, 1999). A partir deles, a equação estabelece a rotação, a translação e as deformações
necessárias para transpor as coordenadas arbitrárias do mapa ou da imagem em questão para
coordenadas do sistema de referência cartográfica definido.
Na maior parte dos casos o georreferenciamento de mapas obtém bons resultados com uma
transformação polinomial de primeiro grau, visto que o material já é um produto plano,
necessitando basicamente de uma rotação e de uma translação para ajustar-se ao sistema de
referência cartográfica desejado.
Orientação do novo
sistema de referência
Pontos de Transformação
controle (Rotação/translação)
Ao aplicar uma função polinomial para transformar a geometria de um mapa ou de uma imagem
para um sistema de coordenadas planas e/ou geográficas, podem ser introduzidos erros de vários
tipos. Os erros são mensurados através da seguinte equação:
onde, EMQ é o erro médio quadrado, também chamado de Erro RMS (Root Mean Square
Error); pt é a diferença entre as posições (x e y) do ponto de controle de referência e do ponto no
mapa ou na imagem após a transformação; os subscritos 1, 2...n denotam os diferentes pontos de
controle.
O erro médio quadrado não é uma medida de posicionamento absoluto de um mapa ou imagem,
mas um indicador de consistência na distribuição dos pontos. Por exemplo, se um erro
sistemático de vários pixels for cometido sempre na mesma direção durante a coleta dos pontos
ele não será evidenciado no erro RMS. Os valores do erro RMS podem variar bastante em
função da escala ou acurácia da base usada como referência e em função do cuidado na coleta
dos pontos de controle. Como regra geral, é recomendável que o erro permaneça com valores
inferiores à medida de 1 pixel do mapa ou da imagem que estão sendo georreferenciados.
Além da indicação do erro RMS, a qualidade do georreferenciamento pode também ser
verificada pela sobreposição de elementos vetorizados de uma base cartográfica ou de elementos
coletados em campo com receptores GPS, caso se disponha desse tipo de material. Neste caso,
não deve haver desvios significativos das feições observadas nas imagens em relação aos
mesmos elementos presentes nas cartas usadas como referência.
31
Durante o georreferenciamento é necessário também fornecer os metadados, um conjunto de
informações descritivas básicas necessárias para o correto uso futuro do arquivo
georreferenciado. Os principais metadados incluem a projeção cartográfica e o sistema geodésico
de referência, a resolução espacial (tamanho dos pixels), o retângulo envolvente (dimensões do
arquivo no eixo X e no eixo Y: X mínimo, X máximo, Y mínimo e Y máximo), as unidades dos
dados contidos no arquivo, entre outros.
5.1.2.3. Vetorização
A vetorização é a última etapa para que se obtenham as camadas digitais individuais necessárias
para uso em SIG. Pode ser automática ou manual.
A vetorização automática, embora possibilite diversos graus de intervenção por parte do usuário,
funciona melhor quando se dispõe dos originais cartográficos, ou seja, de mapas individuais das
diferentes camadas, em preto e branco. Com essa condição, os algoritmos de vetorização
conseguem facilmente reconhecer as feições lineares no mapa escaneado (preto e branco) e
extraem as respectivas coordenadas para gerar as camadas digitais vetoriais correspondentes.
A vetorização manual é praticamente idêntica à digitalização em mesa, com a diferença de que
ela é feita diretamente na tela (monitor) do computador. Nesse caso a escala não é mais fixa,
tornando-se possível ampliar o mapa escaneado para facilitar a visualização dos elementos a
vetorizar e melhorar a qualidade do resultado.
Assim como na mesa, a captura das coordenadas que constituem os diferentes elementos do
mapa é feita percorrendo-se cada feição com o mouse e clicando-se em diversos pontos ao longo
da mesma (Figura 23). Os pares de coordenadas X e Y desses pontos são registrados como
vértices da feição e a coleta pode ser feita ponto a ponto ou de forma contínua, sendo que nesta
deverá ser especificado um intervalo a ser mantido entre os pontos. Durante a digitalização,
operações de edição podem ser facilmente realizadas.
Figura 23. Ilustração do processo de vetorização em tela: (a) vetorização de um curso d’água sobre uma
carta escaneada; (b) camada, ou plano de informação, com o resultado da vetorização.
32
Em comparação com a mesa, a vetorização em tela apresenta algumas vantagens. A qualidade do
produto é superior, pois a escala de visualização do mapa pode ser ampliada para facilitar a
reprodução dos elementos de interesse. Além disso, depois de georreferenciado o mapa não
sofrerá mais nenhuma deformação, enquanto o mapa em papel usado na mesa digitalizadora
sofre os efeitos da temperatura e umidade e deforma-se de um dia para o outro. O custo da
vetorização em tela é mais baixo, pois dispensa o investimento na mesa, podendo-se aplciar este
valor na aquisição de um computador. O tempo necessário para concluir a vetorização é maior,
pois pode-se distribuir o trabalho para várias pessoas, uma vez que o arquivo digital pode ser
facilmente copiado.
Para compreender melhor o processo de estruturação de dados espaciais em SIG a partir de
mapas analógicos (em papel) vamos executar no Labin o Exercício prático n° 2 - Importação e
georreferenciamento de um mapa escaneado e o Exercício prático n° 3 - Vetorização
manual de um mapa raster georreferenciado.
33
dentre as quais o formato DXF (Drawing Exchange Format), criado originalmente pela
empresa Autodesk para exportar desenhos do Autocad.
b) Formatos proprietários: são formatos próprios de determinados programas de SIG que
outros programas são capazes de importar ou abrir diretamente. Devido à simplicidade de sua
estrutura, arquivos raster geralmente podem transferidos sem problema usando formatos de
intercâmbio. Os formatos proprietários são utilizados com mais frequência para camadas
vetoriais, sendo que um dos mais comuns e bem conhecidos é o formato Shape file,
desenvolvido pela empresa ESRI.
Para compreender melhor o processo de estruturação de dados espaciais em SIG a partir de
mapas digitais disponíveis vamos executar no Labin o Exercício prático n° 4 - Importação de
formatos de transferência e de formatos proprietários.
34
d) Alvo: é o objeto ou a superfície que representa o elemento do qual se pretende extrair
informação. Cada tipo de material responde à radiação incidente através de três fenômenos:
absorção, transmissão e reflexão. As propriedades de reflexão dos alvos são as mais
abordadas no estudo de recursos naturais e no mapeamento de usos do solo porque a maioria
dos sensores atualmente disponíveis trabalha com a energia refletida. Essas propriedades são
caracterizadas pela reflectância, que constitui a proporção da energia total incidente que é
refletida pelos alvos. Quando a reflectância é caracterizada em diferentes comprimentos de
onda obtêm-se o que é chamado de comportamento espectral dos alvos (Figura 25).
Figura 25. Comportamento espectral de alguns elementos (Lillesand & Kiefer, 1987, adaptado).
35
adquirida por qualquer usuário e utilizada para a geração de diferentes mapas temáticos, como
ilustra a Figura 26.
Figura 26. Representação do processo de aquisição de uma imagem de satélite e geração de mapas
temáticos (Lahm, 1999).
Dessa forma, uma imagem de satélite constitui uma matriz, de dimensões "X" colunas por "Y"
linhas, com cada célula (pixel) possuindo um atributo "Z" que representa a intensidade da
radiação eletromagnética medida pelo sensor em um determinado intervalo de comprimentos de
onda (banda), para a área da superfície terrestre correspondente (Figura 27). Portanto, uma
imagem de sensoriamento remoto é, por definição, uma representação do espaço no modelo
raster e pode ser facilmente integrada ao ambiente de um SIG.
Figura 27. Exemplo de uma imagem de satélite, com ampliação de uma porção que evidencia os pixels do
modelo matricial.
As características das imagens de sensoriamento remoto dependem do sensor, e podem ser
resumidas em quatro tipos de resolução.
d) Resolução espacial: pode ser definida como a menor área possível de ser captada pelo
sensor e determina o menor objeto possível de ser distinguido em uma imagem. A resolução
é dada pelo tamanho da célula, denominada pixel, termo proveniente do inglês picture cell.
36
e) Resolução temporal: é a frequência com que o satélite passa sobre a mesma porção da
superfície terrestre, está relacionada com a repetitividade de observação do sensor numa
mesma área da superfície terrestre. A resolução temporal é uma característica inerente às
imagens orbitais e é extremamente importante para propósitos de monitoramento, onde
necessita-se visualizar uma determinada área repetidamente, em intervalos de tempo
definidos.
f) Resolução espectral: refere-se à possibilidade de obter o valor da energia refletida pela
superfície terrestre em diferentes porções do espectro eletromagnético, chamadas bandas. A
resolução espectral é definida pelo número de bandas espectrais de um sistema sensor e pela
largura do intervalo de comprimentos de onda coberto por cada banda.
g) Resolução radiométrica: é o número de níveis digitais usados para expressar os dados
coletados pelo sensor, podendo ser comparada a uma escala de mensuração da intensidade da
radiação eletromagnética. Cada pixel contém o registro da radiação eletromagnética refletida
ou emitida pela superfície terrestre, que é armazenado como um valor digital possível de ser
processado em computador. O intervalo e o número de níveis entre o valor digital mínimo e o
máximo que pode ser mensurado e armazenado constitui a resolução radiométrica.
Atualmente existe um grande número de satélites disponíveis, cujas imagens apresentam
diferenças significativas com relação às características acima. Essas diferenças determinam o
potencial de aplicação das imagens e também seu custo de aquisição por parte do usuário. É
importante estar atento ao fato de que não existem imagens melhores ou piores que outras, mas
sim mais ou menos adequadas a um determinado propósito.
37
5.3.1.2. Operações necessárias para uso de imagens em SIG
5.3.1.2.1 Importação
A maior parte das imagens comerciais é distribuída atualmente no formato GEOTIFF, o que
torna sua introdução no software desejado uma tarefa relativamente simples. Praticamente
qualquer software de SIG possui as ferramentas necessárias para a importação de arquivos
GEOTIFF, sendo que alguns também são capazes ler diretamente esses arquivos, não
necessitando realizar a conversão.
5.3.1.2.2 Georreferenciamento
O georreferenciamento é uma etapa indispensável ao uso das imagens de satélite, pois somente
após serem georreferenciadas será possível integrá-las com outros dados e mapas da área de
interesse. O processo é exatamente igual ao já descrito anteriormente no item 5.1.2.2 para o
georreferenciamento de mapas escaneados, mas georreferenciar imagens orbitais é mais
trabalhoso em virtude da dificuldade de identificar visualmente pontos notáveis que possam ser
relacionados a coordenadas conhecidas (Figura 22).
Os critérios para avaliação de erros no georreferenciamento de imagens também são os mesmos
que para mapas escaneados. Os erros são mensurados pelo Erro RMS (Root Mean Square
Error), que deve permanecer preferencialmente com valores inferiores à medida de 1 pixel da
imagem bruta que está sendo georreferenciada. Também é possível avaliar os erros através da
sobreposição de mapas vetorizados ou de elementos coletados em campo com receptores GPS,
que não devem apresentar desvios significativos das feições observadas nas imagens
Durante o georreferenciamento é necessário especificar os metadados, um conjunto de
informações descritivas básicas necessárias para o correto uso futuro da imagem
georreferenciada. Os principais metadados incluem a projeção cartográfica e o sistema geodésico
de referência, a resolução espacial (tamanho dos pixels), o número de bandas, o retângulo
envolvente (dimensões do arquivo no eixo X e no eixo Y: X mínimo, X máximo, Y mínimo e Y
máximo), entre outros.
38
ecológico) e um plantio de eucalipto como reflorestamento (tema específico de uso e cobertura
da terra).
Uma vez definida a legenda e a escala de trabalho, segue-se uma definição da metodologia a ser
empregada na elaboração do mapa e de procedimentos para garantir homogeneidade e
confiabilidade, especialmente quando a área a ser mapeada for muito extensa e necessitar de
vários intérpretes. A elaboração de uma chave de interpretação relacionando os elementos a
serem mapeados com a descrição de suas características visuais nas imagens auxilia a esclarecer
duvidas e a manter uma maior uniformidade na interpretação.
Independentemente do procedimento a ser adotado, a interpretação visual propriamente dita
consiste na inspeção visual das imagens procurando identificar e delimitar toda a extensão dos
ítens da legenda, o que vai originar os elementos gráficos mencionados anteriormente. A
identificação é feita segundo o conhecimento do comportamento espectral desses ítens e dos
consequentes padrões de cor, tonalidade, textura, tamanho, forma, contexto e sombra que estes
assumem nas imagens.
39
5.3.1.2.3.2.2 Classificação não supervisionada
A classificação não supervisionada não requer informação prévia sobre as classes de interesse.
Ela examina os dados e os divide nos agrupamentos espectrais naturais predominantes presentes
na imagem. A lógica com a qual a classificação não supervisionada trabalha é conhecida como
análise de agrupamento (ou cluster), que avalia o espaço multiespectral e acomoda
iterativamente os pixels agrupando-os em torno das médias das classes espectrais, a partir de um
número de classes e de um número de ciclos pré-definidos pelo usuário.
É importante reconhecer, entretanto, que os agrupamentos que a classificação não supervisionada
produz não são classes de informação, mas categorias espectrais (isto é, eles agrupam pixels com
padrões de comportamento espectral similares). O número de classes para cada imagem é
definido arbitrariamente e depende um pouco do conhecimento do usuário sobre os diferentes
temas presentes na região de estudo e das suas variações. Uma vez individualizadas as classes
espectrais, o analista pode então relacionar os agrupamentos de pixels a classes de cobertura do
solo, com base na sua familiaridade com a região estudada e em visitas para levantamento de
verdade de campo. Geralmente é necessário efetuar um agrupamento de várias classes espectrais
para obter cada classe de informação (classe temática) desejada.
40
Figura 28. Exemplo de fotografia aérea e de camadas vetoriais geradas por restituição aerofotogramétrica.
Dessa forma, em geral não são as imagens aéreas que servem de fonte de informação para uso
em SIG, mas sim os produtos resultantes do seu processamento por métodos e técnicas próprios
da aerofotogrametria. O aproveitamento dos produtos de restituição fotogramétrica para
geoprocessamento segue a mesma lógica de outros arquivos digitais, conforme descrito no item
5.2, ou seja, seu uso depende da importação dos arquivos de CAD para o SIG em uso.
Dependendo do caso, a importação pode ser feita via formatos de intercâmbio, tal como o
formato DXF (Drawing Exchange Format), ou via formatos proprietários.
Independente da opção escolhida, a importação para o SIG somente será bem sucedida se as
informações no arquivo CAD estiverem organizadas em camadas individualizadas, e os objetos
em cada camada estiverem corretamente estruturados. Se os cuidados básicos neste sentido não
forem seguidos durante a restituição fotogramétrica, a separação das camadas e a estruturação da
topologia e dos atributos dos objetos terão que ser feitas manualmente depois da importação, em
uma etapa de edição bastante trabalhosa no SIG
A restituição fotogramétrica ainda é o método mais utilizado para a geração de bases
cartográficas, especialmente em escalas grandes (1:5.000 a 1:1.000), e atualmente um grande
número de bases urbanas está sendo gerado em vários municípios do Brasil. Isso torna as
imagens aéreas uma fonte de informação muito importante para uso em SIG, especialmente para
aplicações voltadas a meio ambiente, planejamento e projetos nas cidades.
Mais recentemente, novos sensores tem sido usados para adquirir imagens da superfície terrestre
a partir de aeronaves, tais como radares e perfiladores a laser. Eles não produzem imagens de
qualidade visual como as câmeras, mas possibilitam a obtenção de determinadas medidas físicas,
tal como a altitude, de forma mais fácil e rápida que aquelas.
A evolução tecnológica também tem possibilitado a instalação de câmeras e sensores em
veículos aéreos não tripulados (VANT), e já existem inclusive soluções comerciais completas,
com aeronave, câmeras/sensores e softwares para o processamento das imagens e extração de
informações. Embora a precisão seja inferior à obtida nos produtos fotogramétricos de aeronaves
tradicionais, o baixo custo dos VANT possibilita que praticamente qualquer pessoa possa
adquirir e processar suas próprias imagens georreferenciadas de qualquer área e a qualquer
momento. Sem dúvida, esses equipamentos serão responsáveis por uma revolução na forma de se
adquirir informações sobre a superfície terrestre num futuro próximo.
41
(a) (b)
Figura 29. Exemplo de (a) VANT de asa fixa (Rock et al., 2011) e (b) de um modelo digital de elevação
(altitude) produzido a partir de fotografias obtidas com um VANT (D’Oleire-Oltmanns et al., 2012).
5.4. GPS
O GPS (Global Positioning System), também conhecido como Sistema de Posicionamento
Global ou Sistema de Posicionamento por Satélite, é um sistema de rádio-navegação por satélite
que possibilita, a usuários que possuam equipamento apropriado, obter as coordenadas de
posicionamento tridimensional em qualquer ponto da Terra. Seu desenvolvimento iniciou em
1978, tendo sido projetado inicialmente para uso militar dos EUA. Durante vários anos houve a
introdução proposital de ruídos no sinal do GPS, que resultavam em erros de 100 m ou mais,
evitando assim que usuários civis pudessem obter posicionamento preciso. Há poucos anos,
entretanto, o ruído foi retirado, possibilitando o cálculo instantâneo de coordenadas com erros de
15 metros ou menos.
Basicamente, o sistema GPS é composto de três partes principais, denominadas de segmento
espacial, segmento de controle e segmento usuários. A Figura 30 ilustra a participação desses
três segmentos no funcionamento do sistema.
42
5.4.1. Segmento espacial - os satélites
Os satélites da constelação GPS orbitam a Terra a cerca de 20.000 km de altitude, em grupos de
6 planos orbitais espaçados de 55 graus entre si (Figura 31). A posição de cada satélite é
conhecida e continuamente atualizada a partir do monitoramento de sua trajetória por um
conjunto de estações rastreadoras. Cada satélite tem um período útil de doze horas sobre o
horizonte, o que garante que a qualquer momento do dia ou da noite pelo menos 5 satélites
estejam sobre o horizonte do receptor de um usuário em qualquer parte do mundo.
43
Figura 32. Distribuição das estações e antenas do segmento de controle.
44
O posicionamento (cálculo das coordenadas do receptor) necessita da recepção simultânea de
pelo menos quatro satélites, de cujos sinais e mensagens serão obtidos os parâmetros e as
equações que permitem resolver as incógnitas X, Y, Z e T, ou seja, as três coordenadas espaciais
(local da antena do usuário) e mais o Tempo (ou instante do sinal recebido).
O ponto de partida para o posicionamento é o conhecimento preciso da distância que separa o
receptor de cada um dos satélites em órbita, que é obtida pela mensuração do tempo gasto pelo
sinal para viajar do satélite até receptor. Isto é possível graças aos relógios atômicos existentes
em cada satélite, que emitem apurados sinais de tempo, e aos relógios de quartzo embutidos nos
receptores.
Em outras palavras, conhecendo-se o momento exato em que o sinal foi emitido pelo satélite e o
momento em que ele chegou ao receptor, pode-se calcular o tempo de viajem do sinal.
Assumindo que o sinal viaja à velocidade da luz, de aproximadamente 300.000 km/s, pode-se
então calcular a distância do satélite ao receptor.
Sabendo a distância do receptor a um único satélite, e sabendo a posição exata do satélite, que é
enviada no sinal GPS, o conjunto de possíveis localizações do receptor em torno do satélite
descreve uma esfera no espaço (Figura 34a).
(a)
(b)
(c)
(d)
Figura 34. Ilustração do cálculo de uma coordenada pelos receptores.
45
Conhecendo a distância do receptor a um segundo satélite, as possibilidades de localização do
receptor se restringem a uma circunferência, que é a intersecção das duas esferas que possuem,
cada uma, um satélite em seu centro (Figura 34b).
Já com um terceiro satélite, é possível restringir a possibilidade de localização do receptor a
apenas dois pontos, sendo um deles a localização correta do receptor e o outro um ponto fora da
superfície da Terra (Figura 34c). É necessário um quarto satélite para confirmar a posição do
receptor, já que a intersecção entre quatro esferas secantes define um único ponto (Figura 34d).
O calculo da posição é realizada automaticamente pelos processadores e softwares dos
receptores, de forma que o usuário recebe diretamente a sua posição em coordenadas.
Os receptores GPS só operam adequadamente a céu aberto, apresentando problemas quando
houver obstrução do sinal por obstáculos. Telhados, prédios, montanhas, árvores e até mesmo o
teto do automóvel comprometem a recepção do sinal dos satélites e induzem a grandes erros ou
até na impossibilidade de calcular as coordenadas. No caso de uso em automóvel deve-se
posicionar o receptor no painel ou prendê-lo ao pára-brisa com um suporte apropriado, pois o
sinal não consegue atravessar o teto metálico, mas atravessa o vidro. Pode-se também adquirir
antenas externas para fixação no teto do automóvel, que melhoram a qualidade da recepção e
consequentemente a precisão no cálculo das coordenadas.
A possibilidade de determinar diretamente as coordenadas de um local tornou o GPS um recurso
inestimável para a obtenção de dados para uso em SIG, pois os dados são automaticamente
georreferenciados. Suas aplicações são intensas nos serviços monitoramento de veículos,
cadastro e manutenção de cartas temáticas, na captura de dados para monitoramento ambiental,
na prevenção de acidentes ou ajuste de bases cartográficas. Como os dados GPS são obtidos já
em meio digital, podem ser facilmente transferidos para computador. Existem inúmeros
softwares para descarregar dados de receptores GPS. A transferência para o ambiente de um SIG
é fácil e rápida, através de importação ou em alguns casos captura instantânea. Vários softwares
de SIG possuem interfaces para receptores GPS a fim de possibilitar a aquisição direta de dados
em tempo real.
Cabe ressaltar que existem várias categorias de receptores, com diferenças enormes relativas à
precisão do cálculo das coordenadas. Os receptores de navegação são os equipamentos mais
simples e de menor precisão, projetados para fácil operação e sem a necessidade de
conhecimentos técnicos aprofundados. Com erro nominal de 15 metros, mas os erros reais são
geralmente menores e suprem satisfatoriamente as necessidades de coleta de dados em campo
para auxiliar para aplicações em planejamento e meio-ambiente.
46
Rota: é um conjunto de waypoints em uma sequência determinada, ao qual pode-se atribuir um
nome. Os waypoints continuarão a existir independentes da rota, eles apenas serão referidos por
ela para definir a ordem de interesse. A rota geralmente é utilizada para auxiliar a fazer um
percurso entre determinados pontos com coordenadas já conhecidas em uma ordem determinada.
Todos esses tipos de dados são largamente utilizados em navegação e levantamentos. Pode-se
“navegar” até um ponto, percorrer uma rota ou voltar por uma trilha (Track) exatamente pelo
mesmo caminho da ida, mesmo que ele tenha sido armazenado anos antes.
Uma área pode ser representada por um conjunto de linhas, mas a maioria dos receptores simples
não tem recursos para trabalhar com este tipo de informação. Alguns até calculam áreas baseado-
se no contorno armazenado na forma de Tracklog. Neste caso, devemos ter o cuidado de limpar a
memória reservada para Track antes de iniciar o levantamento da área.
Para compreender melhor o funcionamento e a operação de receptores GPS, vamos realizar uma
atividade prática de coleta de coordenadas no pátio do campus da ULBRA em Canoas. Os
pontos coletados serão usados posteriormente para georreferenciar um levantamento topográfico
do campus em outro exercício no Labin.
5.5. Topografia
A topografia ainda é um dos métodos mais conhecidos e utilizados para a obtenção de dados em
campo. Sua maior utilidade para SIG reside na coleta de dados com grande acurácia espacial,
tipicamente utilizados em aplicações de geoprocessamento com escalas grandes (aplicações de
SIG urbanas, como cadastro, por exemplo).
A topografia é uma ciência aplicada, com técnicas e métodos próprios, baseada na geometria e
na trigonometria. Ela determina o contorno, a dimensão e a posição relativa de uma porção
limitada da superfície terrestre (Figura 35a), sem levar em conta a esfericidade da Terra. A
topografia se incumbe da representação, por uma projeção ortogonal cotada, de todos os detalhes
da configuração do terreno, incluindo o relevo. Esta projeção se faz sobre uma superfície de
nível perpendicular à direção da gravidade (Figura 35b), tendo-se como resultado um produto
gráfico chamado de planta topográfica.
(a) (b)
Figura 35. (a) Posicionamento geométrico dos vértices de uma área em um levantamento topográfico e
(b) projeção do terreno no plano para obtenção das medidas.
47
A importância da topografia está muito ligada a obras de Engenharia, Arquitetura ou Agronomia,
onde o levantamento ou medição deve ser preciso e adaptado ao terreno. Apenas a Topografia
pode medir ou calcular distâncias horizontais e verticais, calcular ângulos horizontais e verticais
com alta ou altíssima precisão, como medir distâncias horizontais com erro provável de 1 para
100.000, calcular altitudes com precisão de um décimo de milímetro ou ainda medir ângulos
horizontais e verticais com precisão de um segundo sexagesimal.
Como a topografia determina a posição dos vértices dos elementos a serem representados,
através de coordenadas, o produto resultante de um levantamento topográfico é tipicamente um
arquivo vetorial. Os equipamentos topográficos modernos já armazenam diretamente em meio
digital os dados coletados em campo, sendo que a representação gráfica do levantamento
geralmente é feita através de softwares de CAD (Computer-Aided Drawing ou Computer-Aided
Design). Assim, o aproveitamento de dados de levantamentos topográficos segue a mesma lógica
que o de outros mapas digitais, conforme já descrito no item 5.2, ou seja, seu uso em um SIG
passa pela importação dos arquivos digitais para o software de SIG escolhido.
Uma vez que o material encontra-se geralmente armazenado em softwares de CAD, a
importação frequentemente necessita utilizar formatos de intercâmbio para que a transferência de
dados seja bem sucedida, sendo o formato DXF (Drawing Exchange Format) um dos mais
comuns. A importação correta para um SIG depende muito de uma adequada organização prévia,
em camadas individuais, dos elementos levantados. Caso contrário, será necessária uma etapa de
edição bastante trabalhosa no SIG para estruturar adequadamente a topologia e os atributos dos
objetos do levantamento.
Levantamentos topográficos antigos ou realizados com equipamentos convencionais podem ser
introduzidos em um SIG de duas formas. Uma é através da digitalização de uma planta
topográfica, processo semelhante ao descrito no item 5.1 para a digitalização de mapas em papel
(digitalização manual ou digitalização ótica). A outra é entrar os dados manualmente através de
um recurso chamado COGO (Coordinate Geometry), digitando-se via teclado os ângulos e
comprimentos de cada linha a ser representada, usando os valores da planilha de cálculo do
levantamento.
Independente da forma do levantamento, em meio digital ou em papel, uma ressalva a fazer é
que as coordenadas de um levantamento topográfico frequentemente são arbitrárias, com a
origem em um ponto conhecido nas imediações do levantamento (um poste, uma esquina, etc.).
Isso não prejudica a precisão das medidas de ângulos, distâncias e áreas, mas impede sua
integração/sobreposição com outras informações georreferenciadas, que é propósito do
geoprocessamento. O uso de coordenadas arbitrárias ainda é uma prática bastante comum nos
levantamentos topográficos, em parte pela tradição dos topógrafos e em parte pela pressa em
concluir o trabalho. Em levantamentos desse tipo, após a importação será necessária ainda uma
etapa de georreferenciamento da planta, da mesma forma já descrita no item 5.1.2.2 para o
georreferenciamento de mapas escaneados. As coordenadas de referência para os pontos de
controle podem se basear em coordenadas de mapa ou em coordenadas coletadas em campo com
GPS (Global Posiotioning System), na mesma área do levantamento topográfico.
A Topografia encontra-se atualmente em fase de transição quanto ao uso de equipamentos e
técnicas de operação. O advento do sistema GPS vem proporcionando verdadeiras revoluções
nos métodos tradicionais de levantamento mas, apesar dos grandes avanços tecnológicos
proporcionados, nem todas as atividades podem se valer exclusivamente do sistema GPS.
Existem situações em que as técnicas da topografia estão e serão ainda por muito tempo
preservadas e seu uso conjunto com o GPS proporcionará resultados de grande valor.
Para compreender melhor a estruturação de dados espaciais em SIG a partir de levantamentos
topográficos vamos executar no Labin o Exercício prático n° 7 - Importação e
georreferenciamento de um levantamento topográfico.
48
6. ANÁLISE EM SIG
A razão de ser de um SIG é prover um instrumento para a análise geográfica, sendo capaz de
transformar os dados existentes a fim de obter respostas para questões em particular. A maior
parte das pessoas quando inicia o contato com um SIG tem a noção de que ele é apenas um
software para visualizar e sobrepor mapas. Entretanto, a organização dos dados em camadas não
é feita simplesmente por razões de clareza organizacional, mas também para permitir acesso
rápido aos elementos de dados requeridos para uma análise geográfica. Os SIG podem auxiliar a
responder uma infinidade de questões relacionadas ao espaço, empregando recursos que em
grande parte das vezes vão muito além da simples visualização e sobreposição de camadas
digitais de dados.
Os tipos de questões que um SIG pode auxiliar a responder podem ser agrupados basicamente
em cinco categorias, quais sejam:
a) Localização
O que existe aqui? O que existe em um determinado local? (Exemplo: Quem é o proprietário
deste imóvel?)
b) Condição
Onde ocorrem determinadas condições? (Exemplo: Onde chove 800 mm/ano? Onde estão todos
os imóveis do proprietário X? Onde situam-se as indústrias do tipo Y?)
c) Tendências
O que mudou (ao longo do tempo e/ou do espaço) em um determinado local?
d) Identificação de padrões
Como os padrões estão relacionados? (como a proximidade de avenidas afeta o nível ruído ao
qual as residências estão expostas?)
e) Modelagem
O que acontece se... (Exemplos: O que acontece se o clima aquecer 2 graus? (efeito sobre
habitats) O que ocorre se um deslizamento destruir parte de uma estrada? (efeito na rede de
rodovias).
50
que foi colocado nele. Apesar de se poder extrair combinações nunca examinadas antes, o
sistema não fornece nova informação, o que se faz é simplesmente uma retirada de um banco
de dados previamente construído. Uma das principais atividades na consulta ao banco de
dados é a procura de padrões nos dados que podem auxiliar a criar hipóteses sobre
relacionamentos entre variáveis.
1. Mapeamento derivativo: consiste em combinar componentes selecionados do banco de dados
para construir novas camadas derivadas. Por exemplo, é possível tomar dados de elevação
digital para derivar gradientes de declividade, e então combiná-los com informação do tipo
de solo e regime pluviométrico para produzir um novo mapa de potencial de erosão. Esse
novo mapa se torna um acréscimo ao banco de dados. Assim, o mapeamento derivativo
permite adicionar algo novo à informação existente, o conhecimento de relacionamentos
entre elementos do banco de dados. Esses relacionamentos podem ser especificados em
termos lógicos ou em termos matemáticos, através de álgebra de mapas.
2. Modelagem de processos e simulação: a modelagem de processos também permite agregar
algo novo para ao banco de dados, o conhecimento de processos. O termo processo refere-se
à corrente causal pela qual algum evento acontece. A modelagem de processos se baseia na
noção de que num SIG o banco de dados não apenas representa um ambiente, ele é de fato
um ambiente, possível de ser medido, manipulado e sobre o qual agem processos espaciais e
temporais. Entre os processos passíveis de modelagem encontra-se o processo de tomada de
decisão, no qual frequentemente é necessário utilizar critérios múltiplos, limites relativos
(não Booleano) e definir níveis de risco aceitáveis.
Apesar das muitas possibilidades de agrupamento ou classificação das funções ou de operações
de análise em SIG, o importante é saber que existem infinitas de possibilidades. Na maior parte
dos casos, o sucesso em obter uma resposta a um problema que envolve análise espacial depende
mais do perfeito conhecimento desse problema, dos fatores envolvidos e de como ele pode ser
traduzido para um SIG do que dos recursos oferecidos por um determinado software. O
conhecimento e a formação dos profissionais é mais importante que as ferramentas que eles irão
utilizar. É fundamental que os diferentes profissionais dominem primeiro os conceitos
relacionados à informação espacial para depois se preocuparem com o software pois, a rigor,
todos os SIG podem desempenhar a maior parte das análises possíveis, o que os diferencia é a
forma como cada um as executa.
51
Pode-se dizer que há basicamente duas perguntas que esse tipo de análise pode responder:
a) O que existe em um determinado local? (consulta por localização)
b) Onde se encontram os locais com determinadas características? (consulta por atributos)
A forma com que essas duas questões são implementadas é bastante diferente para arquivos
raster e para arquivos vetoriais, em função das diferenças de estrutura entre estes dois modelos.
A visualização e a consulta a camadas raster é mais simples em função da sua estrutura também
simples, pois ele só pode armazenar um valor em cada célula, ou seja, só pode representar um
único atributo. Assim, as consultas podem ser feitas sobre um valor ou característica única.
Camadas de dados vetoriais, por outro lado, apresentam mais possibilidades, dependendo de
como estiverem estruturados. Se tiverem sido criados apenas com um único atributo,
correspondente a um código de identificação, as opções serão similares ao que ocorre em um
arquivo raster. Entretanto, se a camada vetorial estiver vinculada a tabelas de bancos de dados
com múltiplos atributos, as consultas poderão ser mais complexas e envolver várias condições
em uma única operação com o emprego de fórmulas e filtros.
Em qualquer um dos casos, a visualização do resultado será sempre na forma de um mapa de um
mapa que mostrará os locais que atendem a condição(ões) desejada(s).
Para compreender melhor a lógica e as funcionalidades das operações básicas de análise espacial
em SIG vamos executar no Labin o Exercício prático n° 8 - Análise em SIG: visualização e
consultas à base de dados.
52
As análises de distância podem ser realizadas sobre camadas digitais raster e vetoriais. As
análises de distância são mais facilmente executadas em camadas no modelo raster, pois cada
pixel pode assumir o valor do seu afastamento do ponto de interesse, constituindo assim uma
superfície de distâncias.
Para compreender melhor a lógica e as funcionalidades das operações de análise espacial em SIG
que trabalham com medidas de afastamento vamos executar no Labin o Exercício prático n° 9 –
operações com distâncias.
53
Figura 36. Exemplo de cruzamento de camadas ou planos de informação.
Em alguns casos, as condições devem ser especificadas em termos lógicos empregando camadas
que mostram apenas aquelas áreas que preenchem a condição (1 = verdadeiro) e aquelas que não
preenchem (0 = falso). Essas são conhecidas como camadas Booleanas e são também chamadas
camadas ou planos lógicos, uma vez que mostram apenas a relação verdadeiro/falso. Algumas
vezes eles são chamados também de binários, mas é melhor evitaremos usar este termo porque
ele também descreve um tipo particular de formato armazenamento de dados. Para combinar
camadas deste tipo são utilizadas operações lógicas, as principais são a intersecção (AND) e a
união (OR).
Em outros casos as combinações são especificadas em termos matemáticos, o que constitui a
álgebra de mapas. A álgebra de mapas envolve o uso de camadas de dados como variáveis
numéricas em operações aritméticas, oferecendo muitas possibilidades para modelagem e
análises em gradientes. Ela é simplesmente outra forma de sobreposição ou cruzamento, é uma
sobreposição matemática. As ferramentas de álgebra de mapas geralmente envolvem três
diferentes tipos de operações:
1. Modificar aritmeticamente valores de dados sobre o espaço por uma constante (isto é,
aritmética escalar);
2. Transformar matematicamente valores de dados por uma operação padrão (funções
trigonométricas, transformações logarítmicas, etc.);
3. Combinar matematicamente (adicionar, subtrair, multiplicar, dividir) diferentes camadas para
produzir um resultado composto.
Para compreender melhor a lógica e as funcionalidades das operações de análise espacial em SIG
que trabalham com medidas de afastamento vamos executar no Labin o Exercício prático n° 11
– cruzamentos.
54
Convém ressaltar que introduzir uma nova tecnologia, no caso o SIG, implica na adoção de
novos e mais eficazes métodos para satisfazer as mesmas necessidades, mas as organizações
normalmente tendem a reagir lenta e relutantemente à pressões por mudanças. Numa primeira
fase, é comum o entendimento de que o SIG servirá para substituir parcial ou totalmente algumas
tarefas rotineiras. Todavia, embora essa abordagem provoque uma menor interferência nos
procedimentos que a organização adaptou durante anos ela também conserva as limitações
implícitas na tecnologia anterior.
Para que todas as potencialidades oferecidas pelo sistema possam ser efetivamente desfrutadas
torna-se necessária uma nova compreensão de todo o processo de produção da informação
geográfica. Um novo posicionamento deve ser adotado, onde o objeto principal do trabalho passe
a ser o produto final, aquele que constitui a resposta a um determinado questionamento ou a
solução de um problema, esquecendo-se os passos intermediários convencionais e substituindo-
os por formas mais eficientes de chegar ao mesmo resultado. Com essa postura ganhos reais em
relação aos métodos tradicionais, no que se refere a precisão, rapidez e disponibilidade da
informação geográfica para a tomada de decisão, podem ser obtidos e muitas vezes trabalhos
antes impossíveis de serem realizados ou impraticáveis podem tornar-se factíveis (Frank et al.,
1991).
Essa mudança conceitual deve abarcar todas as partes envolvidas, desde os técnicos das mais
diversas áreas de conhecimento até a estrutura funcional da organização e suas relações
comerciais ou de cooperação com outras organizações. O treinamento dos planejadores e dos
diversos profissionais que de alguma forma estarão relacionados à operacionalização do SIG é de
importância estratégica para o aproveitamento integral da sua capacidade de processamento
(Burrough, 1992).
Um dos fatores mais importantes no êxito ou insucesso de um sistema dessa natureza é o
ambiente gerencial em que o SIG irá operar. É o que determina se o conjunto de equipamentos e
recursos humanos envolvidos vai funcionar efetivamente como um sistema de informações ou
apenas como um programa para realizar tarefas antes executadas por outros meios. Um ambiente
gerencial adequado habilita a instituição a ser flexível o suficiente para adaptar-se às novas
metodologias sem deixar de satisfazer suas principais necessidades e metas (Aronoff, 1991).
55
5. Aquisição do sistema e inicialização: o sistema é adquirido e instalado, o pessoal treinado, a
criação da base de dados iniciada e os procedimentos de operação começam a ser
estabelecidos. Atenção considerável é necessária para estabelecer controle de qualidade dos
dados a fim de assegurar que atendam aos padrões estabelecidos. Procedimentos de
atualização devem ser previstos para manter atualidade e integridade da base de dados.
6. Fase operacional: procedimentos devem ser desenvolvidos para manter a estrutura do SIG e
os serviços de melhoria do hardware e software, para dar suporte às necessidades de
informação da organização. Questões operacionais, relativas às responsabilidades de prover
serviços e garantir padrões de desempenho, tornam-se mais proeminentes.
Em todas essas fases, atenção especial deve ser focalizada no componente mais oneroso de
implementação do SIG, a base de dados, que representa 75% ou mais do montante total. A
construção da base de dados comumente custa de 5 a 10 vezes o preço de hardware e do
software somados.
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