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Qual a importância da atividade piscatória em Portugal?

Portugal tem uma longa tradição da pesca, o que se deve, entre outros fatores, à sua posição
geográfica e à sua extensa linha de costa.

Apesar de economicamente pouco relevante na economia nacional (fig. 10), a atividade da


pesca representa, no setor primário, um papel importante a nível socioeconómico, sobretudo
nas áreas costeiras, contribuindo para o desenvolvimento local, para a criação e manutenção
do emprego e de outras atividades económicas complementares e para a preservação da
tradição e da cultura locais. Assim, esta atividade:

• é uma fonte de subsistência da população ribeirinha, que, na sua maioria, depende,


quase na totalidade, da pesca e de outras atividades associadas;

• tem efeitos multiplicadores, que se traduzem na dinamização de outras atividades,


geradoras de emprego e de dinamismo económico, como a indústria de transformação de
pescado, as atividades de fabrico de redes e apetrechos de pesca, a indústria de construção
naval e o turismo, muito associado à restauração.

Contudo, os condicionalismos físicos desfavoráveis da costa portuguesa, sobretudo os


relacionados com a estreita plataforma continental, têm-se refletido na fraca diversidade das
espécies piscícolas das águas nacionais e, consequentemente, na evolução do setor nacional
das pescas, que tem evidenciado:

• a considerável dependência em relação a pesqueiros externos;

• o elevado esforço exercido nas águas nacionais.

Como se distinguem os tipos de pesca?

A pesca e respetiva frota pesqueira podem subdividisse em duas categorias, de acordo com a
área onde operam e de acordo com a tecnologia utilizada.

Quanto às áreas de pesca...

Pesca local

Caracteriza-se, no geral:

• por ser praticada em águas interiores (rios, estuários dos rios e lagunas) ou perto da
costa (praias e orlas marítimas junto à terra):

• por utilizar artes de pesca diversificadas, polivalentes, e maioritária mente artesanais,


como os aparelhos de anzol e a armadilha

• pelo pouco tempo de permanência das embarcações no mar, devido à sua pouca
autonomia, dado que não possuem meios de transformação e conservação do pescado;

• pelo elevado número de embarcações de pequenas dimensões (inferior a 9 metros) e,


na sua maioria, de madeira;
• por criar um maior número de postos de trabalho, empregando muitos pescadores;

• por capturar pescado fresco de maior valor comercial, como a pescada, o robalo, o
pargo, a xaputa e a lampreia.

Pesca costeira

Caracteriza-se, no geral:

• por ser praticada em áreas mais afastadas da costa, podendo as embarcações operar
para além da ZEE nacional;

• por utilizar embarcações dotadas

• de alguns meios mais modernos de deteção de cardumes, de utilização de técnicas de


captura como o cerco e o arrasto e de melhores condições de conservação do pescado a
bordo;

• de maior dimensão, entre os 9 metros e os 33 metros;

• de maior autonomia, tendo as embarcações capacidade para permanecerem no mar


entre duas a três semana.

Pesca de largo ou longínqua

Caracteriza-se, no geral:

• por ser praticada para lá das 12 milhas da linha de costa, em águas internacionais ou
nas ZEE estrangeiras;

• por utilizar técnicas modernas e diversificadas de deteção (como sondas, meios


aéreos e satélites artificiais) e de captura de cardumes (como o arrasto e o cerco);

• por utilizar navios:

• equipados com tecnologias que permitem a preparação, a transformação, o


acondicionamento e a congelação do pescado a bordo;

• com grande autonomia, de 15 dias, o que lhes permite uma permanência no mar de
semanas ou meses.

Quanto à tecnologia utilizada...

Pesca artesanal

Caracteriza-se, no geral:

• por utilizar meios e técnicas tradicionais e pouco evoluídas, como a linha ou os anzóis;

• pelas embarcações serem de pequena tonelagem e muitas vezes desprovidas de


motor, o que leva a que, por um lado, seja praticada em áreas próximas da costa e, por outro,
a que a permanência no mar seja curta;

• pela tripulação e capturas por embarcação serem reduzidas, apesar de o pescado ter,
muitas vezes, um elevado valor unitário;

• por estar, no geral, associada à pesca local.


Pesca industrial

Caracteriza-se, no geral:

• por utilizar técnicas avançadas e eficazes na captura dos cardumes, como o cerco, o
arrasto e a aspiração, que permitem a captura de elevadas quantidades de pescado;

• pela captura dos cardumes ser facilitada pelo apoio de meios tecnologicamente
avançados como as sondas, os meios aéreos e o GPS;

• por integrar embarcações de grande autonomia, de grande tonelagem e bem


equipadas a nível de meios de conservação e congelação do pescado, o que lhes permite
permanecerem no mar durante muitos dias, semanas ou meses, sem o risco de deterioração
do pescado;

• por estar associada à pesca de largo ou longínqua.

A evolução da frota de pesca nacional acompanha as normas estabelecidas pela Política


Comum das Pescas (PCP), baseadas numa política de exploração sustentável dos recursos, de
forma a que se consiga conciliar os recursos existentes com uma gestão equilibrada da
capacidade da frota de pesca nacional, isto é, que se consiga equilibrar as suas capacidades de
pesca com as suas possibilidades de pesca.

Assim, as normas estabelecidas pela PCP têm refletido

• o decréscimo do número de embarcações licenciadas, apesar de também ser um


reflexo da diminuição do número de pescadores, devido à maior parte destes se terem
reformado ou terem abandonado a atividade por outro motivo;

• a reconversão das embarcações, através da aquisição de novas unidades, em


substituição das mais envelhecidas e desajustadas (que constituem ainda a maior parte da
nossa frota) e da modernização de outras, que têm vindo a ser equipadas com tecnologias
mais recentes de navegação, deteção e captura.

Quais as principais espécies capturadas?

Nos últimos anos, assistiu-se a um aumento das capturas de pescado por parte da frota de
pesca nacional.

Este acréscimo resultou, quer da maior quantidade de pescado disponível, quer do aumento
da procura, onde se destaca o aumento da venda a compradores estrangeiros nas lotas .

Em 2019, as espécies com maior peso no total de capturas nacionais foram (fig. 16):

• cavala, carapau, biqueirão e atuns, no caso dos peixes;

• polvos e berbigão, no caso dos moluscos;

• gambas, no caso dos crustáceos.


Quais as principais áreas de pesca?

Os pescadores portugueses efetuam as capturas de pescado, sobretudo, em águas nacionais,


embora também recorram a pesqueiros externos, em águas internacionais, ou de soberania
de outros países.

Apesar de se ter vindo a registar um aumento do número de capturas em águas nacionais, é


também um facto o aumento de capturas em pesqueiros externos pelas frotas pesqueiras
nacionais, como resultado de Portugal beneficiar de diversos acordos de pesca com países
terceiros, no âmbito da Política Comum das Pescas (PCP), que têm permitido maiores
oportunidades de pesca, numa perspetiva sustentável.

São exemplos os acordos:

• entre Portugal e Espanha para o exercício da frota de pesca artesanal nas Canárias e
na Madeira.

• no âmbito de Organizações Regionais de Pesca para águas internacionais (como os


estabelecidos tradicionalmente nas áreas doAtlântico Noroeste (NAFO) e do Atlântico
Nordeste (ICES).

• de parcerias de pesca celebrados entre a União Europeia e países terceiros, dos quais
se destacam os referentes às capturas nas principais zonas de pesca procuradas pelas frotas de
largo nacionais (como os acordos com Marrocos, Mauritânia e Guiné-Bissau).

Quais as características da mão de obra?

Os pescadores nacionais são cada vez menos e estão cada vez mais envelhecidos.

A nível da estrutura etária , constata-se que os pescadores nacionais:

• tinham maioritariamente idades compreendidas entre os 35 e os 54 anos;

• eram mais jovens na região autónoma dos

• Açores e no Centro: 34,5% e 28,6%, respetivamente, tinha menos de 35 anos;

• eram mais idosos no Alentejo e na AML: 43,2% e 34,8%, respetivamente, tinha 55 ou


mais anos.

As características da mão de obra afetam negativamente o setor das pescas, na medida em


que se verifica:

• uma população ativa marcada pelo peso de idades mais elevadas;

• um baixo nível de instrução, que corresponde, na maioria, à escolaridade obrigatória.


Contudo, existe também um elevado número de pescadores que não tem sequer a
escolaridade obrigatória, e em muitos casos, que são mesmo analfabetos.
A valorização da mão de obra

O atraso de Portugal relativamente aos países comunitários pode ser atenuado com o
investimento na instrução e qualificação da população que se dedica a esta atividade, pois
permite

• o rejuvenescimento da população pesqueira;

• a maior capacidade para compreender a necessidade de preservar os recursos


existentes, através da prática de uma pesca seletiva que respeite as normas comunitárias;

• o aumento da produtividade.

Assim, no âmbito da Política Comum das Pescas, nos finais dos anos 80 e início dos anos 90 do
século XX, assistiu-se ao investimento na formação de pescadores, independentemente da
idade ou anos de experiência. Contudo, apesar do aumento da procura por oferta formativa
em 2019, os resultados do investimento na formação profissional dos pescadores não têm sido
muito animadores, dado:

• o fraco interesse pela pesca por parte da população ativa mais jovem;

• as condições pouco aliciantes oferecidas aos jovens em termos de trabalho e vida a


bordo;

• os pescadores considerarem insuficientes os apoios concedidos à frequência das


ações de formação;

• a recessão do mercado de emprego.

Aquicultura

O que é a aquicultura?

A aquicultura consiste na criação ou cultura de organismos aquáticos, aplicando técnicas


concebidas para aumentar, para além das capacidades naturais do meio, a produção desses
organismos

A aquicultura é uma das soluções para o repovoamento dos mares e para o setor das pescas,
sobretudo numa altura em que cresce a consciência de uma exploração sustentável dos
recursos, dado que estes não são inesgotáveis e que a sobre-exploração dos stocks pode pôr
em causa a manutenção e reprodução das espécies e a viabilidade económica das pescas.

Quais os regimes de exploração?

Os regimes de exploração aquícola podem classificar-se em extensivo, intensivo e semi-


intensivo.

O regime de exploração aquícola predominante, em 2018, foi o extensivo.

Nas águas interiores, a totalidade da produção ocorreu no regime intensivo, enquanto nas
águas de transição e marinhas a maior parte da produção ocorreu em regime extensivo.
Quais as espécies produzidas?

Em 2018, os moluscos e os crustáceos foram predominantes na produção aquícola,


representando 67,2% da produção nacional. A piscicultura representou 27,6% da producão
total.

Dos condicionalismos à gestão integrada e sustentada do espaço marítimo e do litoral

As áreas costeiras e marítimas têm sofrido uma crescente procura por parte da população e
das atividades económicas, com destaque, mais re-centemente, para as atividades ligadas ao
turismo e ao lazer.

Como consequência, estas áreas sofrem pressões crescentes a nível ambiental, destacando-
se:

• a sobre-exploração de recursos e a ameaça à conservação da natureza;

• a poluição das águas nacionais;

• a degradação do litoral (erosão e pressão urbanística).

Neste contexto, emerge a necessidade crescente de ordenamento das áreas costeiras, para
que se consiga, de forma integrada, não só combater os condicionalismos que têm surgido,
como valorizar as suas potencialidades e potenciar a sua utilização sustentável.

A sobre-exploração dos recursos e a necessidade de uma exploração sustentável dos


mesmos...

A atividade piscatória tem-se revelado, como referido anteriormente, uma ameaça para as
espécies piscícolas. Muitas espécies têm sofrido uma diminuição das suas populações,
atingindo já o limiar de extinção, devido a capturas acidentais e à prática de uma pesca
descontrolada, sobretudo quando a atividade piscatória incide sobre pesqueiros próximos da
costa, num número reduzido de espécies e na captura ilegal de juvenis.

A conservação e a exploração sustentável das pescas, como referindo anteriormente, é um


objetivo da Politica Comum de Pescas (PCP).
O controlo dos stocks piscícolas...

Portugal, no âmbito da Política Comum das Pescas, está sujeito a medidas de controlo e
redução da pesca, através de licenças de pesca, quotas e de medidas técnicas, como os
tamanhos mínimos de desembarque, as malhagens mínimas de rede e as medidas para
prevenir os danos para o ambiente marinho, de forma a que haja uma gestão dos stocks e o
desenvolvimento de uma atividade sustentável do ponto de vista ambiental, económico e
social.

Apesar das medidas de controlo dos stocks piscícolas impostas pela PCP, Portugal tem
beneficiado, no âmbito desta política, de um conjunto de medidas que visam o crescimento e
desenvolvimento da atividade piscatória, o que tem permitido atenuar o desajustamento da
frota portuguesa em comparação com a maioria das frotas comunitárias. De entre essas
medidas, destacam-se:

• o incentivo à construção ou modernização da frota;

• a adaptação das capacidades da frota, considerando o princípio de não aumentar as


capacidades de uma frota já excessiva;

• o incentivo ao desenvolvimento da aquicultura;

• o incentivo às indústrias e à comercialização dos produtos de pesca;

• a promoção do desenvolvimento de projetos de prospeção e investigação;

• a constituição de sociedades mistas com países terceiros.

A poluição das águas nacionais e a necessidade de fiscalização....

A poluição das águas nacionais é um problema crescente e tem consequências catastróficas


ao nível.

• da pesca e da aquicultura, uma vez que tem contribuído para a redução dos stocks
piscícolas;

• do turismo e dos desportos náuticos, pois contribui para destruição das áreas costeiras
enquanto áreas de lazer.

A poluição das águas nacionais deve-se, por exemplo:

• ao derrame de petróleo ou outras substâncias por petroleiros acidentados (Portugal é


atravessado por algumas das principais e mais movimentadas rotas de tráfego de navios para o
Mediterrâneo, Norte da Europa, Africa e América, incluindo muito do tráfego de petróleo
mundial) ou pela lavagem de tanques (de onde provém a grande maioria dos hidrocarbonetos
derramados), o que provoca as chamadas marés negras;

• às descargas, efetuadas pelas indústrias, nos rios, que acabam por desaguar nas áreas
costeiras. Assim, quer essas áreas, quer as margens dos rios, encontram-se muito poluídas, o
que se reflete na mortalidade das espécies piscícolas;
• à contaminação das águas fluviais e, consequentemente, das marítimas, devido ao
lançamento das águas provenientes da atividade agrícola, que têm na sua constituição
pesticidas e fertilizantes;

• às águas residuais e dos esgotos oriundos das atividades domésticas e hoteleiras.

A fiscalização das águas nacionais...

Em 1997, Portugal ratificou a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM)
de 1982, o que lhe permitiu ter:

• o direito soberano para a prospeção e exploração económica dos recursos naturais da sua
plataforma continental

• o direito exclusivo de autorizar as sondagens na plataforma continental;

• a obrigação de gerir os seus recursos de uma forma sustentável.

De acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, e ainda de acordo
com as Diretivas Comunitárias, Portugal tem a responsabilidade de:

• vigiar e controlar as atividades da frota nacional e da frota estrangeira que opera nas
águas nacionais, que estão sob soberania ou jurisdição nacional, nomeadamente as águas
interiores marítimas, mar territorial, a zona contígua, a ZEE e a plataforma continental;

• investigar todo o seu potencial piscícola;

• fiscalizar os recursos e o espaço marítimo, de forma a cumprir as normas comunitárias


de conservação e de gestão dos recursos de pesca, no âmbito da Política Comum das Pescas,
como por exemplo:

-a verificação dos registos da atividade de pesca;

-a malhagem das redes, devido ao estabelecimento de malhas mínimas das redes, com o
objetivo de proteger os peixes jovens;

-o tamanho e peso do pescado, devido ao estabelecimento de tamanhos e pesos mínimos por


espécie a capturar,.

-as quotas de pesca e TAC, devido à fixação anual das quantidades máximas de captura para
as espécies sobre exploradas;

-as espécies protegidas, havendo mesmo a determinação de limitações das atividades de


pesca em determinadas áreas e também, em alguns casos, em determinadas épocas do ano
(períodos de defeso);

-as artes de pesca;

-a poluição do mar e a segurança.

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