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Relatório de Prática de Produção I

I. ARTES DE PESCA E IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES


II. INTRODUÇÃO

Segundo a história da humanidade a pesca teve início nos primórdios dos tempos primitivos,
ainda no período do paleolítico. A cerca de 50 mil anos atrás existiam vestígios de arqueologia
oriunda da pesca podendo se acreditar que ela já era praticada anteriormente (FAO, 1994).

Em primeiro veio à colheita ou apanha, que consistia em cada indivíduo a pé nos lagos, ribeiros e
mares colhendo o que encontrava pelo caminho, como moluscos e peixes etc. Em seguida vieram
as lanças, os arpões e as flechas, tudo feito de forma bastante rústica, porém, já foi uma evolução
por utilizar um instrumento para a obtenção do pescado (FAO, 1994).

A Revolução Industrial proporcionou uma modernização das artes de pesca e principalmente das
embarcações, permitindo que as mesmas pudessem se deslocar mais rápido com o uso de
motores e percorressem maiores distâncias sem tanto desgaste da tripulação. Com o crescente
desenvolvimento surgiram os artefactos feitos a partir de produtos sintéticos mais leves, mais
fáceis de manusear, que ocupam menos espaço a bordo das embarcações e com diferentes formas
de aplicabilidades (FARIAS, 2016).

A pesca artesanal é considerada uma das actividades mais antigas exercidas pelo homem em
período anterior ao Neolítico, esta por sua vez proporcionou aos pescadores adquirir um vasto
conhecimento ao longo de vários séculos sobre os aspectos relacionados ao ciclo de vida das
espécies capturadas, a época de sua reprodução e a concentração de cardumes (DIEGUES,
2012).

Essa actividade representa mais de 90% da pesca de captura do mundo e dos trabalhadores do
sector pesqueiro, cerca da metade dos quais são mulheres e fornecem ao redor de 50% das
capturas mundiais de peixes. É uma valiosa fonte de proteína animal para bilhões de pessoas em
todo o mundo e frequentemente sustenta as economias locais nas comunidades costeiras e nas
que vivem nas margens de lagos e rios (GAMBA, 1994).

Em Moçambique essa actividade se desenvolve ao longo dos rios, lagos, lagoas, no interior e na
costa (Oceano Índico) com cerca de 222 mil toneladas de pescados diversos, representou cerca
de 87% da produção pesqueira global alcançada em 2013. Esta actividade é praticada ao longo

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da costa nas baías de Pemba, Beira, Inhassoro, Inhambane, Quissico e Maputo. Também é
desenvolvida nos lagos Niassa, Chiúta, na albulfeira de Cahora-Bassa, Corumana e Massingir
(MANHIQUE, 2013).

A pesca artesanal utiliza meios técnicos rudimentares, pequenas embarcações e a produção


destina-se para o consumo e o excedente é vendido no mercado local e a maior parte dos
pescadores artesanais é do sector familiar. Os equipamentos usados variam de acordo com a
espécie a se capturar, destacam-se a rede de cerco, emalhe, arrasto simples, arrasto duplo, tarrafa,
linha e anzol, armadilhas e outras (FAO, 1990).

Segundo DIEGUES (2012), apesar dos esforços para registar os pescadores artesanais, a
ilegalidade nas pescarias dificultam o manejo do pescado, que pode tornar-se alvo da sobrepesca
(pesca exploratória acima da capacidade e recuperação das espécies, afectando a manutenção do
recurso pesqueiro).

A pesca artesanal é frequentemente apresentada como uma actividade caracterizada pela baixa
produtividade e taxa de rendimento. Um factor adicional de complexidades nesta categoria de
pesca são os diferentes tipos de usuários, com diferentes estratégias e conhecimentos de pesca,
bem como diferentes comportamentos sobre os locais e espécies frente aos recursos e ao
ambiente. Mais recentemente esta categoria de pesca foi ampliada não sendo empregada somente
para questões de subsistência mas também para comercialização então é necessário artes e
técnicas que serão usadas para pescar e iscas para o caso de pesca a linha e anzol (FAO, 1975)

Esta pesca utiliza meios técnicos rudimentares; é praticada na costa, nos rios e lagos. Utiliza
pequenas embarcações. O tempo de actividade pesqueira é inferior a um dia para evitar a
deterioração do pescado (MANHIQUE, 2013).

O presente relatório é a síntese de uma aula de campo realizado no dia 24 de Setembro de 2018,
na associação dos pescadores de Vilankulo, a fim de se conhecer as principais artes e técnicas de
pesca utilizadas pelos pescadores artesanais de Vilankulo, os recursos pesqueiros mais
capturados e fazer a identificação e das espécies.

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2.1.Objectivos
2.1.1. Geral
 Estudar as principais artes e técnicas usadas no distrito de Vilankulo.
2.1.2. Específicos
 Identificar as principais artes de pesca usadas no distrito Vilankulo;
 Identificar os recursos mais capturados no distrito de Vilankulo.
 Identificar e classificar as principais espécies capturadas no distrito de Vilankulo.

III. METODOLOGIA DA ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO

Para a elaboração do presente relatório usou-se a seguinte metodologia:

 Contacto directo com os membros da Associação dos Pescadores de Vilankulo, onde fez-
se uma entrevista aos membros, esteve presente o presidente da associação, o técnico
mecânico, e alguns pescadores, a entrevista foi baseada em questões aleatórias.
 Fotografaram-se algumas espécies capturadas pelos pescadores e foram identificadas com
auxílio do guia de campo;
 Faz-se uma observação directa da rede e do barco de pesca usados pelos associados;
 Como forma de compilar uma informação sólida foram feitas consultas de obras
relacionadas à pesca artesanal e as artes de pesca.

3.1.Material usado
 Bloco de nota;
 Caneta;
 Máquina fotográfica.

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IV. RESULTADOS
4.1.Pesca no distrito de Vilankulo

De acordo com o presidente da associação dos pescadores, Sr. Rui Filipe, a pesca no distrito de
Vilankulo é vista como uma profissão, nem todos os pescadores do distrito estão associados,
porém dos anos passados para cá o número dos associados tende a aumentar, como profissão, na
associação os salários dos pescadores é dado em valor monetário. O presidente afirma ainda que
a pesca influencia na compra de todos os bens do distrito, uma vez que a maior parte dos
moradores vive na base desta e depende da pesca para gerar renda.

4.2.Principais artes de pesca usadas no distrito de Vilankulo

Segundo o presidente da associação e o técnico mecânico, as artes são geralmente


confeccionadas pelos pescadores, no distrito de Vilankulo, as artes usadas para a prática da pesca
são:

 Rede de arrasto;
 Arpão;
 Linha e anzol;
 Rede de emalhe;
 Gaiolas;
 Gamboa;
 Covo.

Também é usada a técnica de mergulho com ou sem uso de artes auxiliares para captura dos
organismos.

4.2.1. Rede de arrasto

A rede de arrasto é a arte mais usada nas actividades pesqueiras no distrito, é constituída
basicamente por uma rede rectangular onde no centro encontra-se o saco no qual são retidos os
organismos capturados, duas cordas, uma que leva as bóias (16mm e outra corda leva os
chumbos (leva de 14/16mm) que podem pesar de 350g até 0.5kg em redes grandes. São usados

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dois tipos de bóias, bóias de cortiça para facilitar a flutuabilidade da rede e a plástica para
sinalização. A malhagem das redes normalmente usada é de 3 a 6 mm.

Para ser lançada, a rede é posta num barco que parte do ponto A, onde fica o pescador, que
segura a extremidade de um dos cabos da rede. O barco descreve um arco de círculo imergindo
pouco a pouco a rede na água. Volta à margem no ponto B com a extremidade de um outro cabo
da rede. Os pescadores puxam os cabos em A e B caminhando ao encontro uns dos outros ao
longo da margem. Quando as extremidades da rede chegam à margem, um dos pescadores puxa
a linha inferior enquanto os outros seguram a linha superior, prestando atenção para não puxarem
mais depressa de um lado que do outro, a rede vai sempre um pouco a favor da corrente para
evitar o escape dos peixes.

4.2.2. Linhas e anzóis

É comum em Vilankulo os pescadores usarem a linha (mica) solta, com um anzol iscado, o
tamanho da linha depende da espécie que se pretende capturar, e outra modalidade também que é
o caniço, o qual consta de uma simples estrutura (vara) de bambu e/ou outro material que em
uma de sua extremidade tem uma linha, com um pequeno chumbo e com o anzol iscado para
atrair os peixes. Esta arte é usada tanto em embarcações como nas margens, a pé. Geralmente se
emprega este tipo de arte para captura de espécies de fundo, que vivem sobre as rochas ou em
bancos de corais.

4.2.3. Rede de emalhar

A rede de emalhar consiste basicamente em uma rede rectangular, sem saco, cujo comprimento
pode variar de 20 a 100 metros e cuja altura é de 1 a 3 metros. A rede é estendida entre duas
cordas: uma corda superior munida de flutuadores e uma inferior com os chumbos. Graças aos
flutuadores e aos chumbos, a rede mantém-se verticalmente na água. Os peixes ficam emalhados
pelo opérculo e sem possibilidade de escapar. Não obstante, muitos peixes são capturados por
ficar emalhados pela parte central do corpo e outros porque o fio da rede se envolve com osso
maxilar ou com os dentes. O tamanho da malha varia segundo a classe de peixe que se quer
capturar.

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4.2.4. Gaiola

A gaiola é comummente usada nas zonas com pedras ou algas, por ser fácil a fixação desta
nesses locais, para mais estabilidade são colocados dois paus em cada lado que seguram a gaiola.
As gaiolas são estruturadas de tal maneira que facilite a entrada dos peixes e impossibilite a
saída, coloca-se uma isca dentro da gaiola para atrair os peixes.

4.2.5. Arpão

No distrito de Vilankulo esta arte é mais usada para capturar crustáceos (caranguejo), peixe
sapateiro, linguado e chocos, estes organismos são atravessados por uma ponta aguçada, feitas na
base de ferro. Esta arte é empregue somente quando os organismos pretendidos sejam
perfeitamente visíveis. O Arpão é constituído por uma cabeça de metal com uma ou várias
pontas geralmente bem afiadas e um cabo que varia de 1 a 2 metros de comprimento. Quando
usado no fundo, a cabeça deve estar unida ao cabo por uma pequena corda, cuja extremidade
deve ser mantida em mãos do pescador e serve para puxar o pescado capturado.

4.2.6. Gamboa

A gamboa é considerada uma arte de espera, é instalada em bancos de areia e ocupam grandes
áreas, são estruturas em forma de U, feita na base material local (paus), são consideradas artes de
espera pois, quando há enchente espera-se que a maré baixe para recolher os organismos que
ficam retidos numa espécie de reservatório.

4.2.7. Técnica de mergulho

Na técnica de mergulho usa-se mascaras, respiradores e barbatanas. Nesta técnica usa-se o arpão
para espectar os organismos pretendidos, esta técnica é usada em capturas feitas no fundo do
mar.

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4.3.Recursos capturados no distrito de Vilankulo

Segundo o presidente da associação dos pescadores os recursos capturados no distrito são:

Peixes Crustáceos Moluscos

 Carapau pelágico;  Caranguejo  Lulas;


 Choco;
 Sardinha;
 Polvo.
 Pargo curvado;
 Garoupa;
 Peixe papagaio;
 Xaréu;
 Peixe sapateiro.

As holutúrias e os horiços também eram capturados, porém estes organismos estão em via de
extinção devido a sob-exploração.

4.4.Identificação das espécies capturadas

Foram identificadas 6 espécies de peixe, uma espécie de polvo e uma de choco. A seguir estão
apresentadas as imagens dos organismos, a classificação taxionómica (nome científico a família
e o Género) e uma breve descrição de aspectos importantes para cada espécie e as artes
comummente usadas para sua captura de acordo som o guia de campo.

4.4.1. Pargo de raios azuis

Taxonomia

 Família: Lutjanidae
 Género: Lutjanus
 Espécie: Lutjanus kasmira

O pargo de raios azuis habita em corais, muitas vezes em grandes agregações, alimenta-se de
peixes e crustáceos. As artes de pesca que podem ser utilizadas podem ser linha e anzol,
armadilhas e redes de emalhe. É uma espécie de cor amarela caracterizada por possuir quatro
fiadas azuis, conjunto de dentes no céu-da-boca sem extensão posterior.

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Figura 1: Pargo de raios azuis (Fonte: autores).

4.4.2. Pargo de mancha preta

Taxonomia

 Família: Lutjanidae
 Género: Lutjanus
 Espécie: Lutjanus monostigma

O pargo de mancha habita em corais, até 40 m


de profundidade, solitários ou em pequenos
grupos, alimenta-se de peixes e crustáceos. É
caracterizado por possuir uma coloração
amarelo-rosado, muitas vezes uma mancha preta
sobre a linha lateral e um conjunto de dentes no
céu-da-boca sem extensão posterior. As artes de
pesca utilizadas são linha e anzol, armadilhas e
Figura 2: Pargo de mancha preta
redes de emalhe.
(Fonte: autores).

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4.4.3. Pargo curvado

Taxonomia

 Família: Lutjanidae
 Genero: Lutjanus
 Espécie: Lutjanus gibbus

O pargo curvado apresenta uma cor


avermelhado e habita em águas costeiras,
sobre corais e fundos rochosos, até 120 m
de profundidade, juvenis ocorrem em
mangais, alimenta-se de invertebrados de
fundo e peixes. As artes de pesca utilizadas
são linha e anzol, armadilha e redes de
arrasto. Figura 3: Pargo curvado (Fonte: Autores).

4.4.4. Garoupa papagaio

Taxonomia

 Família: Serranidae
 Género: Variola
 Nome científico: Variola lout

Essa espécie habita em recifes de corais, em


águas limpas com profundidade superior a
15m. é carnívora, alimenta-se de pequenos
peixes e crustáceos (camarão e caranguejo).

Figura 4: garoupa papagaio (Fonte: Autores).

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4.4.5. Pargo maori

Taxonomia

 Família: Lutjanidae
 Género: Lutjanus
 Espécie: Lutjanus rivulatus

O pargo maori habita em corais e rochas, de 3-


150 m de profundidade, adultos solitários, em
águas profundas, alimenta-se de peixes e
crustáceos. Atinge até 65 cm, pode ser pesca
utilizando linha e anzol, armadilhas, redes de
emalhe e redes de arrasto. Figura 5: Pargo maori (Fonte: Autores).

4.4.6. Garoupa de rabo cortado

Taxonomia

 Família: Serranidae
 Género: Pletropomos
 Nome científico: Pletropomos
areolatus

A garoupa de rabo cortado cresce até um


tamanho de 53 cm, habita em corais de
10 a 30 m de profundidade. As artes de
pesca utilizadas para pescar são a linha e
anzol e redes de emalhar. Figura 6: Garoupa de rabo cortado.
(Fonte: Autores).

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4.4.7. Pescadinha pateta

Taxonomia

 Família: Sillaginidae
 Género: Sillago
 Nome científico: Sillago chondropos

A pescadinha pateta apresenta uma cor


cinzenta, cresce até um tamanho de 36 cm.
Habita em águas costeiras, fundos arenosoas da
costa e baias. Alimentam-se de pequenos
animais invertebrados, as artes utlizadas para a
sua captura são linha e anzol. Figura 7: Pescadinha pateta (Fonte: Autores).

4.4.8. Polvo do índico

Taxonomia

 Família: Octopidiae
 Género: Cistopus
 Espécie: Cistopus indicus

O polvo do índico é uma espécie betónica ocorrendo dos 10 aos


50m de profundidade. Atinge 18 cm do manto (comprimento
total).

Figura 7: Polvo do índico.


(Fonte: Autores)

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4.4.9. Choco de mão grande

Taxonomia

 Família: Sepioidae
 Género: Sepia
 Espécie: Sepia rappiana

Os chocos de mão grande apresentam uma concha


interna largo branco como giz, rígido, 8 braços e
dois retrates. Habitam em pequenas profundidades
de até 30 m de profundidade e pode até atingir 50
cm de comprimento de manto. A arte de pesca
usada para capturar é a rede de arrasto.
Figura 7: Choco de mão grande.

(Fonte: Autores).

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V. CONCLUSÃO

As principais artes de pesca usadas no distrito de Vilankulo para a prática da pesca são: rede de
arrasto, arpão, Linha e anzol, rede de emalhe, gaiolas, gamboa e covo.

Os principais recursos capturados no distrito de Vilankulo são: carapau pelágico, sardinha,


pargos curvado, caranguejos, peixe sapateiro, linguado, lulas, chocos, Xaréu, polvo.

As espécies identificadas foram: Pargo de raios azuis, Pargo de mancha preta, Pargo curvado,
Garoupa papagaio, Pargo maori, Garoupa de rabo cortado, Pescadinha pateta, Polvo do índico e
Choco de mão grande.

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VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


 FAO. (1990). Guia Prático do Pescador. Edições Marítimas. Lisboa, Portugal.
 FAO. (2014). Fish capture tecnhnology. Acessado aos: 10 de Novembro de 2018.
Disponível em: http://www.fao.org/fishery/topic
 FARIAS, J. O. (2016). Artes de Pesca e Tecnologia de Captura. Brasil
 GAMBA, M. Rocha. (1994). Artes de Pesca; Itajaí, Brasil.
 MANHIQUE, H. (2013). A pesca em Moçambique. Maputo, Mocambique.
 FAO. (1975). Expert consultation on small-scalle fisheries development. FAO Fisheries
Report, Rome. pp. 169
 DIEGUES, A. C. (2012). A Pesca Construindo Sociedades: Leituras Em Antropologia
Marítima E Pesqueira. São Paulo, Brasil: Nupaub-Usp. Dois:333,9560981.

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I. MONTAGEM E POVOAMENTO DE HAPAS


II. INTRODUÇÃO

Desde o início da humanidade, os produtos provenientes do mar fazem parte da dieta humana,
sendo inclusive a principal fonte de proteína de origem animal em alguns países. Actualmente é
cada vez maior o número de pessoas que prefere a proteína proveniente do peixe como
alternativa saudável à da carne (HUSS, 1993).

O constante aumento do consumo de produtos marinhos, os constrangimentos dos recursos


naturais e ambientais, contribuíram para que o sector das pescas atingisse o seu limite
sustentável, sendo esperado que a aquacultura tenha um papel importante na resposta a esta
procura (BYOD, 2003). Tendo todos estes factores em conta, a aquacultura é um dos sectores de
produção alimentar que mais tem crescido, sendo necessário uma regulamentação e gestão
eficazes para que este continue a crescer de uma forma sustentável e possa responder às
exigências, cada vez maiores, da população humana (FAO, 2009).

De acordo com a FAO (2009), aquacultura é entendida como o cultivo e produção de organismos
aquáticos, incluindo peixes, moluscos, crustáceos e plantas aquáticas, através de algum tipo de
intervenção no processo de criação, aumentando a sua produção, como por exemplo, protecção
de predadores, alimentação, entre outros.

Perante um estado de sobre exploração dos recursos, a aquacultura surge como uma alternativa
para obtenção de proteína animal de qualidade e a baixo custo, tanto para o consumo humano
como para a restauração dos mananciais (repovoamento). Esta prática vem sendo implementada,
não para substituir a pesca tradicional, mas como forma de a complementar em duas grandes
vertentes: diminuir a escassez de alimento a nível mundial e diminuir a pressão sobre os recursos
naturais (MESTRE, 2008).

De acordo com CYRINO et al., (2004), a prática da aquacultura de espécies de água doce em
tanques-rede ou gaiolas pode ser realizada em ambientes como rios, reservatórios de usinas,
lagoas e açudes, e mais recentemente temos visto o cultivo da tilápia em áreas estuarinas como
podemos, cuja água chega a apresentar uma salinidade de até 25 ‰, ou seja, cerca de 70% do
teor de sal encontrado na água do mar.

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O cultivo de peixe em gaiola se originou no Delta do Rio Yangtze, a aproximadamente 750 anos,
porém, o cultivo de tilápia em gaiola tem relativamente uma história curta, começando por volta
de 1970 nos Estados Unidos com a produção de Oreochromis aureus e na Costa do Marfim com
a produção de Oreochromis niloticus. Desde então, a técnica tem-se espalhado progressivamente
por várias regiões do mundo (THOMAZI, 2011).

O sistema de cultivo em gaiola é um método comumente usado na Ásia e América Latina. As


gaiolas flutuantes ou simplesmente tanques-rede têm recebido grande atenção nos açudes e
regiões estuarinas, especialmente como uma alternativa para os pescadores, ocupando parte do
período de seu trabalho (ALCESTE, 2000).

A criação de peixes em tanques-rede e gaiolas é uma das formas mais intensivas de criação
actualmente praticadas e tem-se tornado popular devido ao fácil maneio e rápido retorno do
investimento, é uma alternativa de investimento de relativo baixo custo e maior rapidez de
implantação em relação ao sistema convencional (viveiros escavados), e este sistema de
produção possibilita um adequado aproveitamento dos recursos hídricos e a rápida expansão da
piscicultura industrial no país (THOMAZI, 2011).

O cultivo em tanques-rede ou gaiolas é um sistema com renovação de água contínua, sendo


considerado como uma das formas mais intensivas de criação actualmente praticadas. A alta taxa
de renovação de água visa manter a qualidade da água dentro dos tanques-rede e remover os
metabólitos e dejetos produzidos pelos peixes (BOYD, 1998).

Segundo MESTRE (2008), o sistema de criação de peixes em tanque-rede e gaiolas apresenta as


seguintes vantagens: aproveitamento de grandes corpos de água como rios, lagoas, reservatórios,
açudes e estuários menor investimento inicial (50 a 70% em relação a viveiros escavados),
praticidade e rapidez em sua implantação, produtividade elevada; permite a produção escalonada
num mesmo corpo de água, dificulta a acção de predadores, permitindo maior controle da
população, menor variação dos parâmetros físico-químicos da água durante a criação, facilidade
de observação dos peixes, possibilita a separação em lotes homogêneos, facilidade na captura
dos peixes para monitoramento e despesca e facilita o controle da alimentação, minimizando
perdas e melhorando o aproveitamento da ração.

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Apesar de este sistema apresentar suas vantagens, exige acompanhamento diário e rigor na
alimentação, que deve ser de qualidade e fornecido na quantidade ideal, pois os peixes dependem
exclusivamente da ração, apesar de existir raras situações de açudes e reservatórios em que haja
disponibilidade de água rica em alimento natural (fito e zooplâncton) (MAINARDES, 2003).

2.1.Objectivos
2.1.1. Geral
 Montar e povoar de hapas.
2.1.2. Específicos
 Identificar os instrumentos usados para montagem de hapas;
 Explicar o processo de montagem e povoamento das hapas.

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III. METODOLOGIA

O presente relatório foi elaborado com base na aula prática realizada no dia 26 de Setembro de
2018, na qual foi usada a seguinte metodologia:

 Contacto directo com técnicos do SDAE e moradores da baixa de Nhadjuce


 Montagem e povoamento das hapas;

3.1.Instrumentos usados para a montagem das hapas

Para a montagem das hapas foram usados os seguintes instrumentos:

 Hapas;
 Estacas;
 Corda poliamida;
 Rede;
 Pedras; e
 Faca.

3.2.Procedimentos usados para a montagem de hapas

Para a montagem das hapas a turma dividiu-se em dois grupos, e tendo cada um dos mesmos a
responsabilidade de montar uma hapa e colocar na lagoa, sob supervisão dos docentes regentes
da cadeira, dos técnicos do SDAE e dos moradores locais. Os procedimentos usados para a
montagem das hapas, consistiram-se em:

As hapas foram montadas na lagoa de Nhadjuce, Antes da montagem foi feita uma pequena
entrevista aos técnicos no que tange a construção de hapas, a quantidade de alevinos por hapa, e
outras questões aleatórias que surgiam ao decorrer da actividade.

As hapas foram montadas e povoadas. A seguir estão apresentadas imagens que foram
capturadas durante a montagem das hapas com a sua devida descrição, desde a chegada ao lago
até o povoamento.

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Relatório de Prática de Produção I

3.2.1. Procedimentos da montagem das


hapas
1. A figura 1 ilustra estudantes abrindo a
hapa. Foram montadas duas hapas e
para cada hapa 6 estudantes eram
responsáveis por abrir e organizar.

Figura 1: Abertura das hapas (Fonte: Autores).

2. De seguida, colocaram-se seis estacas em


cada hapa, quatro nas laterais e duas nos
centros e amarraram-se as mesmas usando
cordas poliamidas (Figura 2) devidamente
cortada (Figura 3, 4 e 5).

Figura 2: Corda poliamida.


(Fonte: Autores).

Figura 3: Estacas amarradas com corda


poliamida (Fonte: Autores).

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Figura 4: estudantes amarrando as estacas na Figura 5: Estudantes amarrando estacas


hapa (Fonte: Autores). na hapa (Fonte: Autores).

3. As hapas foram levadas para a lagoa e


com as estacas fizeram-se aberturas
no solo de modo a fixa-las, em cada
hapa foram colocadas pedras nas
laterais com o objectivo de
proporcionar estabilidade (figura 6, 7).

Figura 6: fixação das hapas.

(Fonte: Autores).

Figura 7: Pedras usadas nas hapas.


(Fonte: Autores).

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4. De seguida, as hapas foram povoadas,


cada uma contendo 2400 alevinos de
Tilápia Nilótica e Tilápia Moçambicana,
para povoar levou-se o plástico de
alevinos e colou-se na água enquanto os
alevinos saiam paulatinamente de forma
a não criar stresse e colocou-se uma
rede por cima de cada hapa para
proteger os peixes de ataques por
pássaros e para impedir com que os
mesmos saltem para a lagoa (figura 8).
Figura 8: Povoamento da hapa.
(Fonte: Autores).

5. Por fim as hapas foram


cobertas usando uma rede
para evitar a invasão das aves
(figura 9 e 10).

Figura 9: cobertura das hapas.


(Fonte: Autores).

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Figura 10: cobertura da hapa.


(Fonte: Autores).

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IV. RESULTADOS

O objectivo era de montar hapas e povoar, as imagens que se seguem ilustram os resultados
obtidos.

Figura 11: hapa povoada e coberta.


(Fonte: Autores).

Figura 12: hapas povoadas e cobertas.

(Fonte: Autores).

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V. CONCLUSÃO

Os instrumentos que foram usados para a montagem das hapas são hapa, estacas, corda
poliamida, rede, pedras e faca.

A montagem de hapas é feita esticando as hapas e amarrando-as com cordas poliamidas nas
estacas nas laterais e nos centros e fixa-se as estacas no solo, usaram-se pedras para dar
estabilidade as hapas, para povoa-las os plásticos de alevinos foram levados as foram abertos e
colocados na água enquanto os alevinos saiam paulatinamente para evitar stressa-los.

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Relatório de Prática de Produção I

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


 ALCESTE, C. C. (2000). Status of Tilapia aquaculture, 29th Annual Edition,
magazine, Jan/Feb. p. 43-48.
 BOYD, C. E. (1998). Water and bottom soil quality management in freshwater
aquaculture ponds. In: Aqüicultura Brasil, pp. 303 – 311.
 BOYD, C. E. (2003). Guidelines for aquacultue efluente management at the farm-level.
Department of Fisheries and Allied Aquacultures, Auburn University, Auburn, AL 36849
5419, USA- Aquaculture, 226: 101-112.
 CYRINO, J. E. P.; URBINATI, E. C.; FRACALOSSI, D. M.; CASTAGNOLLI, N.
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