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Saudade, 

é uma palavra forte e que carrega toda a emoção do povo português ao longo da
História., No entanto, muitas pessoas  utilizam-na de uma forma desinteressante e a
banalizam-na, pois é uma forma simpática de mostrar afeto. Mas , em boa verdade, a saudade
é muito mais do que uma palavra, é um sentimento profundo  da falta de alguém ou de algo
de grande importância para nós. 

De certa forma, não há melhor exemplo do que a fase que atravessamos, no dramático ano


de 2020. Fomos obrigados a deixar de ter contacto físico com os amigos, os colegas
e, principalmente, a família, mesmo que a saudade nos mate por dentro e, tendo cada vez
mais lembrança deles, o medo sobrepõe- se a tudo, pois, mais do que saudade do
toque, temos receio de os perder. 

Por outro lado, nem sempre as saudades são de pessoas. Podem também ser de vivências,


de objetos, de sentimentos e muito mais e hoje tenho  uma experiência que gostaria de
partilhar convosco. 

Em toda a minha infância, sempre brinquei com bonecas, e com casinhas, e


ou às profissões, mas também adorava andar de bicicleta. Bom, naquela idade, não
era exatamente uma bicicleta, mas, sim, um triciclo. Sentia-ma mais amparada com
as rodinhas para me segurar.  

À medida que fui crescendo, os meus pais deram- me uma bicicleta que também tinha
rodinhas atrás, pois eu gostava de saber andar, mas ou ninguém tinha tempo para me ensinar,
ou o tempo não era o mais favorável, ou seja, havia sempre algum contratempo. Muitas
vezes, ficava triste, dado que  pois todos os meus colegas sabiam andar, todos os meus primos
sabiam andar, todos, todos, todos, menos eu... Isso ora me entristecia, ora me revoltava  um
pouco. Depois, com a entrada no 1.º ano, a dificuldade começava a aumentar e nunca voltei a
ter a essa oportunidade.  Eis-nos, então, anos mais tarde, em pleno confinamento.  Como
sabemos, o mundo  entrou em quarentena  e o nosso tempo de lazer foi alargado.
Tínhamos mais horas de tarde para ver filmes, ouvir música, continuar a estudar e 
quiçá, andar de bicicleta. Foi neste contexto  que decidi que ia aprender a fazê-lo sem
rodinhas. Todas as noites, depois de fazer as tarefas e de jantar, ia para rua perto da casa da
minha avó aprender e, como não tinha nenhuma bicicleta para o meu tamanho, tive de
pedir uma emprestada e, finalmente, consegui. Já sei pedalar e não ando nada mal. 

Ainda assim, a bicicleta não era minha e, naquele momento, pois o tempo estava agradável e
estávamos em pleno Verão, o dono precisou dela.  Fiquei mais deque três meses sem andar.
Aquele ritual fazia-me mesmo falta, fiquei tão triste, pois acabava as tarefas e não podia sentir
essa liberdade única que permitia sentir a brisa na cara! que Constatei que estava
com saudades de o fazer  .

Entretanto, tive uma surpresa totalmente inesperada! Recebi uma bicicleta nova,  muito


bonita, o que mitigou imediatamente tal sensação. Fiquei tão feliz que  não há noite  nenhuma
em que dispense  andar de bicicleta. 

Portanto, a saudade não só se aplica meramente a pessoas. Há experiências e objetos  que


também o podem suscitar, e quando, um dia, sentirem saudade de alguém ou de alguma
coisa, mostrem- no escrevendo uma carta, fazendo um vídeo, ou fazendo um , desabafo como
este, pois se na verdade sentem mesmos saudades, referir a palavra não basta.

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