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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CAMPUS “PROFESSOR ALBERTO CARVALHO” - ITABAIANA

GRUPO DE PESQUISA CLÍNICA DA ATIVIDADE E TRABALHO DOCENTE


DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO (DEDI)
SUBJETIVIDADE E TRABALHO DOCENTE

Pesquisa:
• Entrevista centralizada;
• Narração de história de Vida.

Orientadora: Isabela Rosália Lima de Araujo.


Aluna: Thainá Campos Teixeira.
SUJEITO DA PESQUISA

Minha pesquisa teve como sujeito a professora Lívia (nome fictício) de 53


anos. Formou-se há 30 anos no ensino médio técnico pelo curso pró-formação
no município de Lagarto e está concluindo o ensino superior no curso de
pedagogia (à distância), trabalha em uma escola da rede municipal de ensino
(concursada) no município de Frei Paulo – SE, onde leciona para uma turma
de 2° ano. Possui mais ou menos 30 anos de trabalho, católica, divorciada e
tem dois filhos.
HISTÓRIA DE VIDA

1.Infância, família e escola (recordações):


Foram momentos que deixaram bastante saudade, boas lembranças, porque eu vim de uma família muito humilde, porém, cheia de fé que me
conduzia sempre à religião, sempre me deu força para que eu estudasse, como diziam meus pais: para ser alguém na vida. E eles sempre foram pais
muito atenciosos, carinhosos e batalhadores. Eu tenho recordações que poderiam me fazer chorar mas não choro porque faz parte de minha história.
Lembro de minha mãe chegando num dia de sábado e falando que não tinha nem um real pra fazer a feira, lembro dela pegando um pedacinho de carne,
dividindo para os filhos e comendo feijão puro. Lembro do meu pai carregando um monte de sapato – ele era sapateiro -, chegando da feira e dizendo:
olha, hoje eu não vendi nada, não tive dinheiro nem pra comer. Então isso, para mim, vai servir de quê? Pra eu chorar? Não. Para eu tentar fazer um
presente junto com meus filhos pra que essas lembranças não sejam as mesmas lembranças deles, como isso? Através dos meus estudos, porque naquela
época eles não tinham estudos, então era tudo muito limitado, era em roça, as dificuldades eram muitas e hoje com os estudos a gente sabe que alcança
esse emprego, hoje sou professora, minha filha já está terminando o nível médio e próximo ano fará faculdade se Deus quiser e tem um filhinho pequeno
que também já está estudando. As lembranças que tenho do passado em relação à minha família constam disso, mas também constam de muitas
brincadeiras. Eu sendo filha caçula era uma pessoa muito mimada e tinha, dentro do possível, o que eles podiam me dar. Lembro com alegria de muitos
momentos de brincadeira, brincava de queimado, adorava jogar bola, parecia um molequinho jogando com os meninos da rua, e nem por isso me tornei
mulher macho nem nada, eram brincadeiras. Eu brincava de bola de gude, futebol, bola pra mim era um brinquedo muito melhor que boneca, então eu
brinquei, tive uma infância legal. Tenho lembranças de professores que hoje, os que ainda estão vivos, tenho o maior carinho, lembro da minha
professora do 2° ano e, por incrível que pareça, minha professora do 2° ano primário é uma das minhas convidadas pra minha formatura.
HISTÓRIA DE VIDA

Naquela época o primário era muito bem feito, sem desmerecer os professores de hoje, eu também sou professora, não estou
desmerecendo nenhum ensinamento, mas, naquela época, não sei; havia uma maior dedicação da parte dos alunos e a gente tinha
um respeito maior, os valores eram outros e isso ajudava muito para a formação do aluno. Eu fiz um primário muito bem feito e
agora, como já falei, estou concluindo a faculdade. Então as lembranças tanto da minha família quanto da escola sempre foram
lembranças que me marcaram. As que me marcaram com tristeza mas fez parte da minha vida, aquelas que não gostei de ter ouvido
ou visto serviram pra hoje eu nem fazer nem ensinar coisas erradas, por isso foi sempre tudo muito válido.
HISTÓRIA DE VIDA

2. Adolescência (onde morava, escola, família e amigos):


A minha adolescência foi complicada como a de todo adolescente e não gosto nem de lembrar porque é uma coisa assim, como sinônimo de
“aborrescência”. Eu era uma pessoa muito calada, inclusive minha filha às vezes eu até me estranho com ela porque ela se parece muito comigo, muito
calada, muito introspectiva. Eu vivia dentro do quarto, mas muito estudiosa, sempre fui, mas tinham muitos complexos, eu achava que todo mundo era
melhor que eu, que eu era feia; e hoje eu sei que isso eram coisas da adolescência. Então foi uma fase turbulenta, não fui aquelas de sair, vivia sempre
dentro de casa, sempre morei na mesma casa e depois casei, separei e voltei pra mesma casa. Minha infância, minha adolescência, minha fase adulta,
sempre foi no mesmo espaço, mas minha adolescência foi uma coisa chata, poderia ter sido melhor mas eu era chata porque tinha tanta coisa pra viver e
eu era tímida que dava nojo. Graças a Deus superei isso tudo e acho que minha adolescência foi igual a maioria dos adolescentes.
HISTÓRIA DE VIDA

3. Escolha da profissão / Se teve influências:


Eu não vou mentir, eu não escolhi, escolheram pra mim. Quando eu era criança eu desejava ser professora mas depois que
cresci, aos 17 anos, passei a tomar conta do escritório de contabilidade, trabalhei muitos anos nesse escritório e tive afinidade total.
Fiz o curso de técnico em contabilidade aí depois saí do escritório e surgiu um emprego na prefeitura, comecei a trabalhar lá e mais
na frente, anos depois, surgiu o concurso. Eu ia fazer pra auxiliar administrativo porque eu não queria ser professora de jeito
nenhum, quando criança eu queria mas depois não quis mais. Aí alguém me aconselhou por causa da remuneração, a pessoa me
disse que pra ser professora pela prefeitura eu iria ganhar mais e foi o que aconteceu, eu fiz por fazer, tanto é que fiz, passei, mas
não fui ser professora. Fiquei sendo auxiliar administrativa, anos depois foi que eu comecei a dar aula e hoje eu posso dizer que
estou feliz nessa área que escolheram pra mim, ser professora realmente era o que tinha tudo a ver comigo.
HISTÓRIA DE VIDA

4 .Fase adulta e acontecimentos (se casou, teve filhos, etc):

Essa parte é recente porque me casei com mais de 30 anos. Depois que deixei de ser “aborrecente” eu me descobri uma pessoa
muito alegre, passei a ser mais comunicativa, a ter muitas amizades, minha casa era cheia de amigos. Festa? Lembro que eu
chegava em casa 5 horas da manhã e minha mãe dizendo: chegou o homem da casa. Eu fumava, eu bebia, eu fiz tudo de bom sem
excessos, porque hoje a gente vê uma coisa muito agitada, com drogas, prostituição e na minha época não tinha isso, era curtição
mesmo e quando eu chegava 4 ou 5 da manhã eu estava com minhas amigas sentada no banco da praça fumando e batendo papo e
isso, na época, era muito bom. Eu era um pouco avançada pra época e eu não estava nem aí pra ninguém, só queria ser feliz. Mas
aí, depois dos 30 anos, eu casei com um homem muito mais jovem do que eu. Eu sempre fui assim, nunca fui muito igual, sempre
fui diferente, até na hora de casar casei com um homem mais novo que eu 13 anos. Era um garoto muito bonito, muito desejado, a
gente se apaixonou. Tive uma filha e foi uma realização total porque se você me perguntar quais as coisas mais inesquecíveis da
minha vida eu vou dizer que é o nascimento dos meus filhos. Mas esse casamento, depois de 4 anos, ele desandou. Ele se
apaixonou por uma menina mais jovem que ele, se encantou, chegou pra mim e disse que não dava mais. Eu entrei em depressão
profunda porque não esperava nada disso, minha mãe tinha morrido pouco tempo atrás, eu já estava abalada e depois veio a
separação. Não era a perda do homem, eu estou falando de família desfeita, de criar, filho sem pai, minha filha era muito apegada
a ele, dormia chorando, chamando por ele.
HISTÓRIA DE VIDA

Passei algum tempo em depressão, me tratei, fui lá no fundo do poço, me lamiei toda e quando a gente vai para o fundo do poço é como uma
amiga minha costuma dizer, só tem duas saídas: ou você fica ou você sai. Eu optei por sair e hoje estou falando nesse fato porque você me
perguntou mas eu nem me lembro mais. Hoje sou amiga dele, da esposa dele, dos filhos, eles frequentam minha casa, meus filhos frequentam a
casa dele, está tudo bem. Então na minha fase adulta veio o casamento depois o divórcio. No meu divórcio, tanto a juíza quanto a promotora
falaram pra mim que de todos os anos que elas trabalharam nunca viram um divórcio daquele, porque a gente era rindo, brincando, conversando,
era um caso realmente inédito. A gente tem que resolver bem as coisas que nos machucam, a gente não tem que guardar, é importante a gente
viver a dor até o final, viva a sua dor, não bote sua dor dentro de uma mala e guarde porque a qualquer momento ela vai surgir, você vai abrir e ela
estará lá. Então eu acho que o que aconteceu comigo foi que eu vivi com intensidade aquilo que me magoou, que me feriu. Eu vivi tudo, sofri,
chorei que só uma condenada e quando eu ressurgi, pra finalizar, eu reencontrei o meu primeiro amor depois de tantos anos que eu não o bia.
Reencontrei, estou com ele, tenho um filho de 7 anos só que a gente não divide o mesmo espaço, ele mora em Aracaju, eu moro aqui e a gente se
vê no final de semana, até agora está dando certo; já vivi essa experiência e pra eu viver outra, eu não sei, acho muito difícil. Eu sou uma pessoa
independente e eu vi que pra gente conviver com um homem a gente tem que se anular um pouco e eu não estou aqui pra me anular mais. Já vivi,
já passou, agora eu tenho um “namorido”. Estou terminando minha faculdade, estou com planos para o futuro, tenho uma filha de 17 anos, um
filho de 7 e tento viver ao máximo. Quanto à festa, hoje eu não vou mais, já não curto, parece que eu vivi tudo na época certa. Eu vou a um
casamento quando sou convidada, aniversário, mas essas festas que existem, festa de rua, já não é maia minha praia. E assim é minha vida,
trabalho, cuido dos meus filhos, da minha casa, me tornei uma excelente dona de casa, modéstia parte. Então a minha vida hoje se resume nisso:
casa, escola, filhos, minha família, aquela vidinha normal.
ENTREVISTA CENTRALIZADA

• Gosta de ser professora?

Amo! Ser professora é ter dom, se você não gosta não siga. Para estar na sala de aula você tem que gostar, ao contrário, você será
uma péssima professora, porque você lida com muitas coisas, altos e baixos, e você lida com crianças. É uma formadora de opiniões.

• Sempre quis ser professora?

Não, quando me perguntavam eu dizia: Deus me livre! Quando surgiu o concurso para professora eu ia fazer para auxiliar
administrativo, até que uma colega me convenceu a fazer para professora dizendo que eu não precisaria atuar na sala de aula,
ou seja, eu ia fazer e continuar sendo auxiliar. Então eu fiz mas não fui para a sala de aula até que uma época começou a
aparecer uns abonos salariais no fim de ano (muito bons) destinados a cada professor (a) e eu ficava de fora por não estar
atuando. Então uma pessoa que trabalhava na secretaria de educação começou a me questionar porque eu não ia para a sala de
aula dizendo que eu tinha “jeito pra coisa”, assim, eu entrei na sala de aula pela primeira vez por causa do abono salarial, não
nego. Depois que me deparei com alunos eu vi que tinha jeito e nos fins de ano me emocionava muito quando ia me despedir
deles, porém, não ficava permanentemente como professora, sempre ia para outras funções. Agora sim, me dedico somente a
isso e da sala de aula só saio quando me aposentar.
ENTREVISTA CENTRALIZADA

•Gosta do local de trabalho?


Amo, porque é uma escola que tenho uma história, fui vice diretora, secretária por duas vezes, sempre trabalhei lá. Então eu a vi crescer, vi as
dificuldades, vi soluções, etc.
•O coordenador (a) da escola Trabalha de forma democrática e coletiva?
Sim, e trabalha de uma maneira que não faz para agradar, faz o certo. É uma pessoa que trata todos com humildade, jamais chega se impondo
nem querendo ser melhor. Ela senta, conversa, quando temos dúvidas vamos até ela e ela tenta resolver com a gente, sempre disposta a ajudar e
acho que posso falar isso em nome de todos os professores porque ela me orienta tanto quanto eles.
•Na Escola que trabalha os professores realizam trabalhos ou projetos juntos? Compartilham de matérias e ideias? Trocam
experiência?
Eles interagem entre eles, é um ambiente familiar. Os problemas que existem são os mesmos de todos os lugares, onde há pessoas às vezes
existe um mal estar, mas nada que não se resolva, e nos eventos você vê todo mundo junto, se abraçando, felizes. Eu estou chegando agora e
eles já tem uma experiência vasta como professores. Portanto, eles não precisam ficar chegando uns para os outros para saber como se faz.
Existem professores lá com 10, 12 anos de trabalho com a mesma rotina todo ano, por isso quem mais procura os colegas de trabalho para
pedir opinião sou eu.

 
ENTREVISTA CENTRALIZADA

• A direção da escola divide decisão ou concentra poderes? A gestão democrática é exercida?


Não há concentração de poderes, a gestão é democrática e eu costumo dizer à diretora que não mude, porque ela está fazendo o
certo, e ela costuma dizer assim: Eu estou diretora, mas sou professora.
• Como é realizado o planejamento escolar?
É feito em reuniões, fazemos parte da escolha dos livros, os conteúdos já existem, os básicos (do 1° ao 5° ano), e através dos
conteúdos são colocados livros pra gente escolher quais serão trabalhados no ano seguinte, é tudo trabalhado em conjunto. São
passadas as ideias e acrescentadas quando necessário.
• A escola disponibiliza materiais necessários para atividades diversas?
Sim, só no fim de ano que vai esgotando, mas particularmente sempre que precisei estava a disposição.
• A rede de ensino onde trabalha disponibiliza formação continuada?
Ainda não, pode ser que venha a acontecer.

 
ENTREVISTA CENTRALIZADA

• Para você o que é ser professor(a)?

Eu respondo isso com um sorriso, e talvez eu não tenha nem palavras certas, só a sensação. É você estar presente na vida de
alguém, eu estou no fundamental menor, sou professora de 15 alunos e para sempre vou estar com eles, na formação deles, ou seja,
daqui a 10, 15, 20 anos eles vão lembrar que fui professora deles, é onde vai entrar a sensação.

• O que você mudaria na escola em que trabalha?

Fisicamente, colocaria ela no chão e faria outra porque a escola em que trabalho tem uma infraestrutura que fica a desejar, não tem
um espaço para os alunos, não tem uma quadra. Fizeram as salas nas laterais, um corredor no meio e no fundo tem terreno. A
escola é muito organizada, muito limpa, ótima merenda mas falta estrutura para terem uma melhor recreação.

• Você sabe dizer se sua escola participa de algum programa do governo? Recebe verbas?

Recebe, para material, etc. Só não sei dizer o nome dos programas, mas existem sim programas destinados à escola.
ENTREVISTA CENTRALIZADA

• O que você acha das políticas públicas atuais para a educação?

Está sempre a desejar, as benfeitorias são poucas. Fazem uma coisinha aqui, uma coisinha ali sempre podendo ter feitos mais.

• Como você costuma avaliar seus alunos (as)?

Costumo avaliar de uma maneira muito vasta, porque eu acho que a avaliação escrita, teórica, é sem fundamento. Acho muito injusto o
professor pegar uma prova e dar uma nota vermelha, as vezes o aluno sabe e tira nota vermelha por ficar nervoso(a). Então, a gente faz
a prova (tem que ter ne), avalio os alunos como eles interagem, participam das aulas, dá pra ver o quanto eles absorveram dos
ensinamentos. É uma série de coisas pra chegar até a nota, não mais como antigamente.

• Você utiliza livros didáticos nas suas aulas? Faz cópia no quadro? Passa diariamente tarefas para casa?

Eu aboli cópia, meu foco é fazer com que eles leiam e escrevam muito bem e aprendam as 4 operações matemáticas porque a partir dai
ninguém segura eles. Eu falo para eles que estou lá para orientá-los, passar o alfabeto para que eles juntem as letrinhas, vejam a família
silábica e formem palavras. Eu digo que quando eles saírem e verem um carro, que não olhem só a cor desse carro, que vejam a placa,
de onde é, para onde vai se for uma topique, despertem a curiosidade, pratiquem o que aprenderam e que não decorem, tem que ler e
entender, interpretar. Eu sempre busco na internet atividades que ajudem eles a usarem a mente, a desenvolverem a criatividade.
ENTREVISTA CENTRALIZADA

• O que você faz quando os objetivos de aula não são atingidos?

Fico muito frustrada, eu tento mudar as tarefas, dou uma pesquisada para obter uma ajuda e até eu mesma me questiono se não poderia ter feito melhor aquilo que
desenvolvi ou porque eu passei uma atividade muito além do ritmo deles e eles não conseguiram acompanhar e eu precise ir mais devagar, tento modificar no dia
seguinte.

• Quantos alunos tem na sua turma?

15 alunos.

• Fale um pouco dos seus alunos.

Meus alunos são meus filhos. Hoje tenho 7 meninos e 7 meninas, um foi embora para o Rio Grande do Sul, chorava eu e ele agarrados. Então se chegarem na minha
sala e perguntarem o que tem nela, eles vão responder que tem amor. Meus alunos são muito carentes financeiramente e afetivamente, 70% deles estão
correspondendo aos meus objetivos, quanto a minoria estou lutando para ver no que é que dá, porém nunca disse a eles que não vão conseguir, eles vão conseguir
sim, sempre incentivo e digo que são capazes.

 
ENTREVISTA CENTRALIZADA

• A comunidade escolar costuma participar das atividades na escola?

Participam de eventos ou quando são convidados para reuniões, dia das mães, dia dos pais, datas comemorativas.

• Você já participou de discussões sobre o PPP (projeto político pedagógico) da escola?

Não.

• Você costuma levar trabalho para realizar em casa?

Todo professor faz isso, quando chego do trabalho já tenho que pensar no dia seguinte, todo plano de aula é maleável, você faz um plano
de aula e quando chega na hora percebe que não é o planejado e temos que dar uma modificada, ou seja, sempre há atividades para fazer
em casa.

• Na escola você tem algum tempo de descanso?

Não, porque os 15 minutos que são destinados ao recreio tenho que ficar de olho neles. Eles gritam, pulam, correm e tem dias que nem
levanto do birô porque tem atividade, alguma coisa pra fazer e eles ficam interagindo comigo, então não tenho descanso.

 
ENTREVISTA CENTRALIZADA

• Como é a relação dos docentes na sala dos professores? Vocês costumam conversar sobre o trabalho?

Ninguém tem tempo, é incrível. Tem colegas meus que as vezes passo 2, 3 dias sem vê-los porque quando chegamos vai cada um pra sua
sala, os 15 minutos que temos é no recreio e as vezes quando vou na secretaria pegar alguma coisa encontro um no corredor, dou um
abraço, um xero, pronto. Não existe aquele tempo de sentar pra bater papo porque cada um tá lá com sua sala, seus alunos e nossa
preocupação maior é justamente no recreio. Ficamos com o coração na mão com medo de acontecer alguma coisa, então não temos
tempo, a não ser quando tem reunião no sábado letivo, ai eu encontro todos. Mas isso é uma vez por mês.

• A escola tem espaços suficientes para atividades diversas e recreação?

Não tem, é uma fartura, “farta” tudo ! Rsrs

• Vocês fazem atividades com os alunos (as) fora da escola?


ENTREVISTA CENTRALIZADA

Sim, pego minha reca e digo: vamos dar uma volta na cidade. Nós temos alunos (os meus alunos) que não conhecem determinadas coisas da nossa
cidade, recentemente peguei eles e comecei a mostrar as ruas, pedia para eles lerem as placas com os nomes das ruas, passei em alguns prédios
públicos (prefeitura, fórum, câmara , banco) e eles sempre muito curiosos. Foi um dia muito produtivo, eles olhavam e ficavam sabendo para que
servem esses lugares e sempre que posso saio com eles, toda semana vamos à igreja, tem uns que são evangélicos e eu levo na igreja católica.
Então converso com os pais e explico que estou os levando não para indicar uma religião mas mostrar que Jesus em todas as religiões, é assim que
eu creio. Uma coisa que costumo fazer é essa parceria dos pais comigo, converso com eles toda semana e graças a Deus eles estão contentes e eu
também, tenho o telefone de todos. Se o aluno falta num dia no outro já ligo e pergunto o que está acontecendo. Se os pais não vem, você chama.

• Você coloca regras em sala de aula?

Sim. Veja bem, nós temos a equipe dos eventos, são alunos que a cada semana tem uma função (ouvir música, ver tv, fazer uma dança). Temos a
equipe da limpeza que é pra não deixar a sala suja, não Jogar papel no chão, e Temos a da organização. E assim implanto para eles que não pode
Ter bagunça na sala, nem mal comportamento e eles se sentem muito orgulhosos por fazerem parte de Cada equipe. Com isso tento discipliná-los,
tem que realmente ter disciplina, apesar de que você não pode estar dentro de um espaço que exista aquela coisa militar. Tem dias que eles pulam,
gritam, reviram a Sala e eu deixo pra ver até onde eles vão. Até quando digo: pronto, parou.

 
ENTREVISTA CENTRALIZADA

• Qual a maior dificuldade dos alunos atualmente? Como você faz para tentar resolver?

A maior dificuldade que eles tem no momento são com as provas, eu já vi aluno tremer, aluno que sabe ler, que escreve, porque dá
um branco mesmo, por isso acho que prova tinha que ser abolida das escolas. Então tento passar pra eles que aquilo é passageiro,
não é definitivo, que não é só a prova que é importante pois a participação também conta muito e eles fazendo isso podem se
importar menos com a prova.
NÚCLEOS DE SIGNIFICADO

 Demonstrou ser bem afetiva como professora;

 Tem amor pela sua profissão;

 Gosta do local de trabalho e tem uma boa convivência com os colegas;

 O coordenador(a) da escola trabalha coletivamente;

 O planejamento escolar é trabalhado em conjunto;

 A escola é organizada e disponibiliza material necessário às aulas;

 O método de avaliação da professora não se limita à provas;

 Falta espaço na escola para recreação;

 Há planejamento de atividades fora da escola;

 Há uma boa parceria com os pais dos alunos;

 A professora não participa de discussões sobre o PPP;


NÚCLEOS DE SIGNIFICADO

 A professora não tem um tempo para descanso na escola;

 Os alunos tem muita dificuldade com as provas;

 A professora é de uma família muito humilde;

 Aproveitou bem sua infância, fazia o que gostava e brincava muito;

 Tem uma boa relação com seus primeiros professores;

 Na sua adolescência era muito tímida e insegura;

 Sempre foi muito estudiosa;

 Com 17 anos tomava conta de um escritório de contabilidade;

 Fez o concurso por causa da remuneração (não pretendia ser professora);

 Casou-se depois dos 30 anos, teve uma filha e se separou 4 anos depois de casada;

 Entrou em depressão porque tinha perdido a mãe e o marido;


NÚCLEOS DE SIGNIFICADO

 Acredita que ser professora é um dom;

 Reencontrou seu primeiro amor e teve um filho com ele;

 Está terminando o curso de pedagogia e tem planos para o futuro.


Fim da Apresentação!

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