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Resumo

Este conto traz uma história de uma jovem que é admitida à universidade onde terá que
estudar longe de casa deixando sua família e começando uma vida acadêmica vivendo
sozinha em uma outra província muito distante dos seus pais. Quando ela chega a
universidade é influenciada por um jovem estudante do 4º ano do mesmo curso que jugava
ser um amigo e um explicador para ela. No fim ela se apercebe que já estava se afastando da
sua trajetória acadêmica e que na verdade ela estava sendo influenciada, mas já era tarde
demais pois ela já tinha prejudicado a sua faculdade excluindo seis cadeiras com precedência.
Ela decide tentar contra a sua própria vida por não conseguir aguentar o peso em sua
consciência e por não poder suportar a dor dos pais quando eles tiverem o conhecimento da
situação, pois ela se sentia inútil na vida deles.

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O QUE O SUICIDIO QUASE TIRAVA DE MIM

Eu já não me recordo mais que dia era, ou a data em que ocorreu, talvez tenha sido em
novembro, ou início de dezembro, não sei, não me lembro. Lembro que era final do meu
segundo semestre da faculdade de Educação (irônico não?), e me lembro de como foi o dia.
Foi um dia muito diferente como um outro qualquer, acordei triste, desanimada até. Lembro
me de não ter brincado, conversado e nem de ter cozinhado nada.

Na época morava em um condomínio com mais quatro meninas e a dona do condomínio. Na


tarde tirei um tempo eu fui para a minha aula de piano, pra ser sincera eu não gostava da aula
de piano, eu mais faltava do que ia, juro que a culpa não era do instrumento, eu apenas não
me adaptei ao método da escola. De qualquer forma aquele era só mais um fracasso, para
uma extensa lista de desistências, as quais eram compostas em sua maior parte por academias
e esportes, sim eu não sou muito o tipo que gosta de malhar.

Quando saí da aula, dei uma volta pela cidade, apreciei a caminhada pelo centro, eu amo
aquela cidade “Quelimane”, sempre vou amar, mesmo que não a chame mais de lar. Lembro
de ter comprado algumas coisas, não me lembro de tudo, mas lembro de ter comprado uma
quantidade de comprimidos, só queria aliviar o estresse, Ou pelo menos eu tentava ver dessa
forma, mantendo afastado da mente tudo que eu havia feito.

Por favor não se preocupem, não fiz nada ilegal ou perigoso, não prejudiquei a ninguém e
nem a integridade física de ninguém. Eu não matei, eu não roubei, eu nem mesmo ofendi
ninguém, e para ser sincera eu nem mesmo fiz nada por querer. Tudo que eu fiz foi
decepcionar meus pais por ter excluído todas as cadeiras do segundo semestre e ter me
tornado uma filha de grande vergonha para eles.

Tudo começou quando fui admitida a universidade e tive que deixar minha família para ir
viver sozinha começando uma vida acadêmica em Quelimane longe do lugar onde cresci e
longe dos meus pais. Quando cheguei a universidade alcancei muito sucesso pois tinha
dispensado todas as cadeiras do 1 semestre e isso foi um motivo de orgulho para minha
família e principalmente para os meus pais. O tempo foi passando até que no segundo
semestre conheci um jovem estudante do 4º ano do mesmo curso que eu. Ele demostrava
interesse em querer me ajudar a melhorar o meu desempenho acadêmico uma vez que
frequentávamos o mesmo curso, mas ao andar do tempo fui descobrindo que ele consumia
drogas e álcool, mas por ele ter um papel muito importante na minha vida acadêmica não me

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importava com os seus vícios pois o importante era o conhecimento. O tempo foi cada vez
mais passando e por sempre estarmos juntos ele acabava me convidando para discotecas,
bares e festas, aquilo foi se tornando uma rotina para me e daí que também um tornei uma
delas, uma viciada. Já não ia com muita frequência a faculdade e não participava mais em
trabalhos em grupo, e foi assim que exclui todas as cadeiras do segundo semestre. Não
suportava imaginar a cara decepcionada dos meus pais e a dor que sentiriam quando tivesse o
conhecimento daquela situação, daí que pensei em cada erro que eu já tinha cometido na
vida, e por fim decidi que a minha punição deveria ser a morte...

A minha criação fez com que eu aprendesse a avaliar, julgar, exigir e punir a mim mesma,
sem nem mesmo precisar da opinião alheia. Embora, não se engane, eu ainda me importasse
muito com a opinião alheia. Tanto que eu a antecipava, na minha cabeça eu já sabia o que
cada pessoa acharia, antes mesmo de as pessoas terem conhecimento do que seria julgado.

Me sentia muito sem nenhum valor no mundo e concluí que ele não foi construído para me, a
minha consciência não parava de me perturbar fazendo me imaginar a cara decepcionada dos
meus pais olhando para o tipo de filha que eu me tornei. As vozes que cesuravam no meu
ouvido não paravam, “saia desse mundo” assim elas cesuravam enquanto caminha de volta à
casa. A vontade era de não ter existido no mundo, não ter nascido, não ter deixado o mundo
me conduzir aos patamares do prazer carnal, assim, eu não teria trago decepções a minha
família e principalmente aos meus pais que tanto depositaram sua confiança em me e que
sempre se orgulharam de todo sucesso acadêmico que conquistei.

Lembro de chegar em casa.

Lembro de pensar que a minha família seria mais feliz sem mim.

Lembro de chorar, porque eu sentiria muita falta de tudo e todos.

Lembro que na verdade eu não queria morrer, só não queria ter que enfrentar mais um olhar
de decepção dos meus pais.

Lembro de desejar que meus pais fossem felizes. E lembro de acreditar que a minha morte os
faria mais felizes.

Pra mim, tudo me pareceu muito rápido. Eu tomei quase todos os remédios da minha caixa de
remédios, que não era pequena, e enquanto eu ia tomando, ia escrevendo a minha carta de
despedida.

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Lembro de pedir que doassem minhas coisas, de pedir que me perdoassem e seguissem em
frente.

Lembro de pedir aos meus pais para adotarem uma criança, que pudesse se tornar um filho
melhor do que eu. Lembro...

Lembro de pedir desculpas aos meus pais, por tudo que eu havia feito que os tinha deixados
tristes ou decepcionados, e de dizer a eles que a minha decisão não era culpa deles.

Vocês devem estar se perguntando, o que deu errado, ou o que deu de certo, para que hoje eu
esteja tendo a oportunidade de vos contar essa história. Bom, eu tenho uma amiga, que na
época tinha uma opinião muito dura a respeito de pessoas que tentavam contra a própria vida.
Eu a amava muito na época, e a amo muito até hoje, então depois de escrever minha carta,
resolvi mandar mensagem para ela tentando explicar o porquê da minha decisão, para que ela
não ficasse com raiva de mim.

Logo que ela visualizou a mensagem ligou para a Dona Acijaina que era a dona do
condomínio onde morava e rapidamente ela pediu ajuda a vizinhança e juntamente com as
quatro meninas que arrendavam no mesmo condomínio arrobaram a minha porta e
encontraram me já nos berros da morte e saindo espuma da boca, levantaram me e
desmancharam me a acorda que quase levava me embora e permiti que me levassem para o
hospital.

Lembro que alguns profissionais, me olhavam e perguntavam “Você é tão linda porque você
fez isso com você?”. Lembro de passar uma noite difícil no hospital, passando mal, sozinha e
com frio.

Lembro do olhar de desamparo e confusão do meu pai, quando chegou pra me buscar no
Hospital, e do silêncio no carro na volta pra minha cidade natal.

Lembro que ironicamente, minha mãe disse ficar decepcionada por eu tentar me matar, e do
bolo com cobertura de brigadeiro que ela fez quando cheguei em casa.

Lembro de fechar os olhos e agradecer mais uma vez a minha amiga Azera, que me salvou e
me deu a oportunidade de lembrar, e mais do que isso, me deu a possibilidade de sonhar com
um futuro.

FIM

Afonso Jaime Cumbane,(2023)

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